Psicologia Analítica

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SEMINÁRIO ARQUIDIOCESANO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Rua João Paulo II Nº 12

Caixa Postal 6684 Luanda, Angola tel. 222326969

Curso superior de filosofia

A Psicologia Analítica de Carl Jung

Grupo: Caxito

II Ano de Filosofia

Cadeira: Psicologia

Docente: Ir. Linda Sissimo

Luanda, 2021
A Psicologia Analítica de Carl Jung

Seminaristas da diocese de Caxito:

Jesus da Cruz Neto

Miguel Felizardo Clementino Nguevengue

Luanda, 2021

ÍNDICE
2
Introdução………………………………………………………………………………4

Introdução sobre a teoria da personalidade…………………………………………..5

Génese da Psicologia Analítica…………………………………..…………………….5

Definição da Teoria…………………………………………….………………………5

A psique…………………………………………………………………….……6

Estrutura da Psique: Consciência, Inconsciente pessoal, Inconsciente


colectivo………………………………………………………………………………….6

Os arquétipos: Persona, Sombra, Animus e Anima, O self……………….……..8

Tipos Psicológicos………………………………………………………………………9

As Atitudes: Introversão e Extroversão………………………………………....9

As funções: Pensamento Sentimento, Sensação e Intuição………………….….9

Factores que Influenciam na Formação e Desenvolvimento da


Personalidade………………………………………………………………….………10

Estruturas e Dinâmicas da Personalidade Segundo Carl Jung………………..…..10

Crescimento Psicológico………….………………………………………….…10

Passos no processo de individuação…………..…………………………….….10

Função Transcendente……………………………………………………….…11

Obstáculos ao crescimento……………………………………………………..11

Patologia da Personalidade segundo Carl Gustav Jung

O patológico na dimensão da psique…………………………………….……..12

Conclusão…………………………………………………………………..…...13

BIBLIOGRAFIA

INTRODUÇÃO

3
Neste trabalho de Psicologia vamos, de modo perspicaz e sistemático, abordar
sobre a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, um dos grandes génios da sua época
qual mesmo primeiro psicólogo da famosíssima Nova Era. Iniciando por uma
introdução geral sobre a teoria da personalidade, vamos apresentar aqui a concepção do
nosso autor que a define como “um todo vivo e individual, único e autómato, que se vai
construindo a partir do nascimento, por uma integração dinâmica de factores orgânicos,
intelectuais, éticos, afectivos e sociais”. Nestas riquíssimas páginas que se vão seguir,
dispomos as diferentes nuances que toma o pensamento do nosso autor, desde a
teorização geral da Psicologia Analítica aos factores que influenciam na formação da
mesma personalidade, das estruturas e dinâmicas às diversas patologias que se lhes
juntam, num todo sistemático e bem apetrechado.

Ademais, sublinhamos desde já que Psicologia Analítica baseia-se sobre o


conceito de individuação e ajustamento dos opostos; e Jung utilizou este nome para o
seu método de interpretação da psique humana. A teoria junguiana é vastíssima, e neste
nosso trabalho estão delineados os conceitos principais, como o processo de
Individuação, o  Eu ou ego, a Sombra, a Anima ou Animus, tipos psicológicos, os
opostos consciente e inconsciente, obstáculos ao Crescimento, etc. Outrossim, deve-se
dizer já que a individuação não deve ser confundida com individualismo,
individualidade ou excentricidade porquanto, para Jung, é um termo muito caro,
significando algo muito mais profundo,  com a intenção de trazer factores, tanto
pessoais quanto colectivos, à consciência, permitindo que o indivíduo veja com mais
clareza quais forças estão em acção em sua vida.

Introdução à Teoria da Personalidade

4
À guisa de introdução estamos em crer que a personalidade é a parte do campo da
Psicologia que mais considera as pessoas em sua totalidade, como indivíduos e seres
complexos. A personalidade tem que ver com aquilo que é geralmente verdadeiro das
pessoas, a natureza humana, assim como as diferenças individuais. As noções de
temperamento, de carácter e de traços da personalidade são importantíssimas, pelo que se
define “traços inatos” da personalidade, cuja origem é iminentemente genética,
sobrelevando-se o facto de os temperamentos poderem ser modificados pela experiência,
independentemente da base hereditária que apresentam.1
Entre nós humanos há diferentes formas de ser; somos quietos e introvertidos,
outros anseiam por contacto e estimulação social; alguns de nós somos calmos e
equilibrados, enquanto outros mostram-se excitados e persistentemente ansiosos, entre
fleumáticos, coléricos, sanguíneos, etc. A maioria concorda que a palavra “personalidade”
se originou do latim persona, que se referia a uma máscara teatral usada pelos atores
romanos nos dramas gregos. Esses atores romanos antigos usavam uma máscara (persona)
para projectar um papel ou uma falsa aparência. Apesar de não haver unanimidade na
definição que seja aceita por todos os teóricos da personalidade, pode-se dizer que ela é
“um padrão de traços relativamente permanentes e características únicas que dão
consistência e individualidade ao comportamento de uma pessoa.”

Uma teoria é um conjunto de pressupostos relacionados que permite aos cientistas


formularem hipóteses verificáveis. Para Jung, o desenvolvimento da personalidade é
encarado em 4 fases: a infância, a juventude, meia-idade e a velhice.

Génese da Psicologia Analítica


Psicologia analítica é a designação dada pelo psicólogo e psiquiatra suíço Carl
Gustav Jung (1875-1961) ao seu método de interpretação da psique humana, distinguindo-
se assim da Psicanálise de Sigmund Freud. Embora o termo tenha sido utilizado
oficialmente em 1913 com publicação do livro “Metamorfoses e símbolos da libido”
(1913), tem a sua base na teoria da psicanálise desenvolvida por Freud, porém, com alguns
contrastes em seus fundamentos. Uma das diferenças entre essas abordagens está
relacionada sobretudo com o inconsciente
Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicanalista suíço, foi fundador da Psicologia
Analítica. Jung nasceu em 26 de Julho de 1875, na cidade de Kresswil, Suíça. Formou-se
em Medicina pela Universidade da Basileia, Suíça. Foi assistente e colaborador de Eugen
Beuler na Clínica Psiquiátrica de Zurique. Foi colaborador próximo de Sigmund Freud, de
quem se afastou anos mais tarde. Teve uma brilhante carreira intelectual, com escritos de
grande labor e engenho sapiencial, sendo considerado o primeiro psicólogo da New Age
(Nova Era) e um dos maiores intelectuais do século XX. Jung morreu a 6 de Julho de 1961,
na cidade de Kusnacht.

Definição da Teoria
A psicologia analítica é um conjunto de conhecimentos (teorias) que procura
investigar e explicar a estrutura e o funcionamento da psique e uma categoria de
psicoterapia (prática). A psicologia analítica engloba todo arcabouço teórico criado por
Carl Jung, um trabalho denso e essencial para a compreensão da mente humana.

1
BAPTISTA, Nuno j. Mesquita, Teorias da Personalidade, p. 2.
5
O conceito central da psicologia analítica é a individuação. Trata-se da busca do ser
humano pelo conhecimento de si mesmo, pelo autoconhecimento, pela integração com os
demais homens, pela vivência espiritual, pela integração com Deus. O processo de
individuação ocorre através do fluxo dialéctico (permuta e transformações) da energia
psíquica (libido2) que corre entre o consciente, inconsciente pessoal e inconsciente
colectivo.

Apesar do processo de Individuação ser o tema principal da psicologia junguiana,


seu estudo mais conhecido trata dos tipos psicológicos – tipos de personalidade.

A psique
A personalidade como um todo é denominada psique. O termo “psique” é de
origem grega, indica o “sopro” que torna vivo um corpo, que o anima. Posteriormente, foi
traduzido como “alma ou “espírito”; nos tempos modernos, venho a significar “mente”. A
psique, essencialmente simbólica, reúne todos os aspectos da personalidade, os
sentimentos, pensamentos e comportamentos, tanto consciente quanto inconsciente. 3 Sua
função consiste em harmonizar e regular internamente o indivíduo, orientando-o para o
convívio social, além do que ela tem uma função teleológica, ou seja, possui um objectivo
e direcciona o indivíduo para a realização de um propósito relacionado a essência de cada
um.
O conceito de psique sustenta a ideia primordial de Jung de que uma pessoa, em
primeiro lugar, é um todo. Não uma reunião de partes onde cada uma das quais foi sendo
acrescentada pela experiência e pelo aprendizado, do mesmo modo como poderíamos
mobilizar um carro peça por peça. Jung rejeita, de modo explícito, a concepção de muitas
teorias psicológicas de que a personalidade do homem vai sendo adquirida aos poucos e
que somente mais tarde, quando isso acontecer, aparece um tipo qualquer de unidade
coerente e organizada.

A psique compõe-se de numerosos sistemas e níveis diversificados, porém


interactuastes. Neste caso, é possível distinguir três níveis da psique: Consciência,
inconsciente pessoal e inconsciente colectivo.

Estrutura da Psique
Consciência
A consciência é a única parte da mente conhecida directamente pelo indivíduo. A
pessoa logo ao nascer, provavelmente já nasce com ela. Observando uma criança, pode-se
notar uma percepção consciente a operar enquanto a criança reconhece e identifica os pais,
os brinquedos os demais objectos que o cercam. Esta percepção consciente cresce
diariamente pela força da aplicação das quatro funções mentais que Jung denominou
pensamento, sentimento, sensação e intuição. Além destas quatros funções mentais,
existem duas atitudes que determinam a orientação da mente consciente. Estas atitudes são:
extroversão e introversão.

2
O conceito junguiano de libido difere do conceito freudiano: para Jung a libido compreende não só a
energia sexual, mas, também, energias associadas ao instinto de sobrevivência (fome, sede,
agressividade, necessidade de protecção física, etc.), à motivação, às relações afectivas, desejos de auto-
realização, auto-conhecimento, vivências espirituais e, enfim, ao Processo de individuação.
3
Arnaldo da Motta. Psicologia Analítica no Brasil: Contribuições para a sua história. Universidade2005
6
O processo graças ao qual a consciência de uma pessoa se individualiza ou se diferencia
uma da de outras é conhecido pelo nome de individuação.

O “Eu” ou “ego” é o nome dado por Jung à organização da mente consciente e um


dos maiores arquétipos da personalidade; compõe-se de percepções consciente, de
recordações, pensamento e sentimentos centro organizador do consciente. Embora ocupe
uma pequena parte da psique total, o ego desempenha a função de vigia consciência pois
nada pode chegar nela sem que seja reconhecido pelo ego e tenta convencer-nos de que
sempre devemos planejar e analisar conscientemente a nossa experiência.4

Inconsciente pessoal
Uma vez que nada que foi experimentado deixa de existir, o inconsciente pessoal é
a camada mais superficial do inconsciente onde ficam armazenadas as experiências que
não obtêm a aceitação do ego. Este nível da mente é contíguo ao ego. É o receptáculo que
contém todas as actividades e os conteúdos que não se harmonizam com a individuação ou
função consciente. Ou então foram experiências antes conscientes que passaram a ser
reprimidas ou desconsideradas por diversos motivos, como por exemplo um pensamento
entristecedor, um problema não resolvido, um conflito pessoal ou um problema moral e,
principalmente, grupos de representações carregados de forte carga emocional e
incompatíveis com atitude consciente (complexos 5, cujas bases são os arquétipos –
localizados no inconsciente colectivo).
Alguns de seus conteúdos podem adquirir energia psíquica suficiente para
imergirem na consciência na forma de lembranças, sonhos e fantasias, devaneios e
comportamentos. O inconsciente expressa-se por meio de símbolos, dos quais nosso
mundo interior está repleto, e que se manifestam sob a forma de imagens.6

O símbolo: termo de origem grega (Symbolon, colocar junto), segundo Jung, é uma
produção espontânea da psique, podendo ser de natureza pessoal ou colectiva, comum a
toda humanidade, ou característico de uma determinada cultura. Portanto, o símbolo, para
Jung, representa a situação psíquica do indivíduo e ele é essa situação num dado momento.
Esses símbolos e imagens são representados através de sonhos ou fantasia de um
indivíduo, não de forma disfarçada ou reprimida, mas sim porque é a única maneira que o
inconsciente tem de se manifestar.7

Inconsciente colectivo
É a parte da psique formada pelas camadas mais profundas do inconsciente. Pode
ser entendida como o depósito das “imagens primordiais”, que nos remetem ao mais
primitivo desenvolvimento da psique e é formado por um conjunto de aspectos colectivos.
O homem herda tais imagens do passado ancestral, passado que inclui todos os
antecessores humanos.8 Essas imagens étnicas não são herdadas no sentido de uma pessoa
de uma pessoa lembrar-se delas conscientemente. São antes predisposições ou
potencialidades no experimentar e no responder ao mundo tal como os antepassados como

4
Cfr. FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teoria da Personalidade. HARBRA: São Paulo. 1986. P. 53-54
5
Agrupamento de conteúdos psíquicos carregados de afectividade, ou grupo de sentimentos,
pensamentos e lembrança no inconsciente. Podem actuar de modo intenso no controlo de nossos
pensamentos e comportamentos
6
Ibidem P. 67
7
Ibidem P. 53-54
8
Cfr. Jung, apud, Calvin Hall; Vernon Nordby. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix.
2005. P. 32
7
por exemplo o medo das serpentes. Herdamos o as predispões de temer as serpentes porque
os nossos ancestrais experimentaram este medo ao longo de um sem-número de gerações.
O desenvolvimento das predisposições ou imagens primordiais herdadas pelo homem dos
seus antepassados dependem inteiramente das experiências do indivíduo.
Os conteúdos do inconsciente colectivo são denominados arquétipos. Jung definia
arquétipos como formas sem conteúdos que representam apenas uma possibilidade de um
certo tipo de percepção e acção9 - a génese do inconsciente colectivo é, portanto, a priori
ao nascimento. São universais, isto é, todos herdam as mesmas imagens arquetípicas
básicas.

Os arquétipos10 constituem a base dos complexos situados no Inconsciente


pessoal. São inúmeros, porém alguns têm uma importância tão grande na formação da
personalidade e de nosso comportamento que Jung dedicou-lhes uma especial atenção. São
os arquétipos de persona, anima e animus, sombra e o self

A persona: A palavra persona significava inicialmente originalmente uma máscara


usada por ator e que lhe permitia interpretar uma determinada personagem numa peça. Na
psicologia junguiana, o arquétipo atende a um objectivo semelhante: dá ao indivíduo a
possibilidade de compor uma personagem que necessariamente não seja ele mesmo.
Persona é a mascara ou fachada ostentada publicamente com a intenção de provocar uma
impressão favorável a fim de que a sociedade o aceite, ou seja, corresponde a forma pela
qual nos apresentamos ao mundo. Ela nos torna capazes de conviver com as pessoas,
inclusive com as que nos degradaram, de maneira amistosa; é base da vida social e
comunitária.

Animus e anima: qualificada a persona como a “face externa” da psique por esta
ser a face vista pelo, à “face interna” Jung deu o nome de anima nos homens e de animus
nas mulheres. O arquétipo de anima constitui o lado feminino da psique masculina; o
arquétipo de animus compõe o lado masculino da psique feminina. Toda pessoa possui
qualidades do sexo oposto, não somente no sentido biológico, mas também no sentido
psicológico das atitudes e sentimentos.

Segundo Jung, o homem desenvolveu o seu arquétipo de anima pelo


relacionamento com mulheres durante muitas gerações; o animus a mulher desenvolveu-o
pelo relacionamento com os homens. Essa imagem do sexo oposto, a pessoa herda-a
inconscientemente e estabelece certos padrões que lhe influenciarão poderosamente a
aceitação ou a rejeição de qualquer de uma pessoa do sexo oposto.11
Sombra: é o centro do inconsciente pessoal, o núcleo do material que foi reprimido
da consciência. Ela inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiencias que são
rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a persona e contrárias aos padrões e
ideais sociais. À medida que ela se faz mais consciente, recuperamos partes de nós mesmos
previamente reprimidas. É fonte de tudo o que há de melhor e pior no homem,
particularmente em suas relações com as outras pessoas do mesmo sexo.

9
C. G. Jung. Os arquétipos e inconsciente colectivo. Rio de Janeiro: ed. Vozes. 2000. P. 48
10
Significa um modelo original que conforma outras coisas do mesmo tipo. Tem como sinónimo
protótipo
11
Cfr. Jung, apud, Calvin Hall; Vernon Nordby. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix.
2005 p.38
8
O self: é o princípio organizador da personalidade. O self é o principal arquétipo do
inconsciente colectivo assim como o sol é o centro sistema solar. O self é o arquétipo da
ordem, da organização e da unificação; atrai a si e harmoniza os demais arquétipos e suas
actuações nos complexos e na consciência, une a personalidade, conferindo-lhe um senso
de “unidade” e firmeza. A meta final de qualquer personalidade é chegar a um estado de
auto-realização e de conhecimento do próprio self.

Para Jung, “ consciente e inconsciente não estão necessariamente em oposição um


ao outro, porém se complementam mutuamente para formar uma totalidade: o self.12Sendo
o self a circunferência que abarca tanto o inconsciente quanto o inconsciente, é o centro
desta totalidade.

Tipos Psicológicos
Tipos psicológicos na psicologia de Jung referem-se à identidade e a descrição de
um certo número de processos básicos ou a um padrão estável de traços de personalidade.
Tratando sobre os tipos psicológicos, Jung mostrou de que maneira esses processos se
ligam em várias combinações para determinar o carácter de um indivíduo.13
A personalidade diz-nos Jung: «é um todo vivo e individual, único e autónomo, que
se vai construindo a partir do nascimento». A personalidade é composta por duas atitudes –
introvertida e extrovertida – e por quatro funções psíquicas de adaptação, espécie de quatro
pontos cardeais que a consciência usa para fazer reconhecimento do mundo exterior e
orientar-se: Pensamento e sentimento, consideradas funções racionais (Julgamento), e
Sensação e Intuição, as funções irracionais (Percepção).

As Atitudes: Introversão e Extroversão


O introvertido se interessa pela exploração e análise do seu mudo interior; é
introspectivo, é retraído e muito preocupado com os próprios assuntos internos. Pode
parecer aos outros distantes e reservado. O extrovertido se preocupa com as interacções
com as pessoas e as coisas. Dá impressão de ser mais activo e amistoso e de se interessar
pelas coisas que o cercam.

As Funções: Pensamento, Sentimento, Sensação, Intuição

Segundo Jung, esses quatro tipos funcionais correspondem aos recursos óbvios
através dos quais a consciência obtém sua orientação para a experiência. A sensação
(percepção sensorial) nos diz que uma coisa existe; o pensamento nos diz o que é uma
coisa; o sentimento nos informa se essa coisa é agradável ou não; a intuição nos diz de
onde ela vem e para onde vai.14

Factores que influenciam na Formação e Desenvolvimento da Personalidade

Para Jung, são vários os factores que influenciam na formação da personalidade. Na


formação da personalidade entretecem-se duas correntes: a individuação das diversas
estruturas que compõem a totalidade da psique e a integração num todo unificado (o eu).

12
Ibidem p. 56
13
Cfr. Calvin Hall; Vernon Nordby. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix.2005. p.84
14
Carl Jung, O homem e os seus símbolos. 5ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1964. P. 61
9
Estes processos de crescimento são influenciados tanto positivamente como negativamente
por um certo número de condições, nelas incluídas a hereditariedade, as experiências
das crianças com os pais, a educação, a religião, a sociedade e a idade. Opera-se uma
mudança radical no desenvolvimento durante a maturidade. Esta mudança constitui uma
transição das adaptações ao mundo exterior para as adaptações ao próprio ser interior.

Estruturas e Dinâmicas da Personalidade segundo Carl Jung


Para falar sobre as estruturas e dinâmicas da Personalidade na Psicologia Analítica
de Carl Jung, devemos sobressaltar que ele traz à tona certos conceitos que acabam
complementando e, muitas vezes, contrapondo a teoria psicanalítica freudiana. O nosso
autor descreve uma dinâmica entre a consciência e inconsciente encontrando padrões
específicos que nos fazem perceber e agir de certas maneiras atemporais, os quais chamou
de arquétipos.15

Crescimento psicológico

Segundo Jung, todo indivíduo possui uma tendência para a individuação ou


autodesenvolvimento. “Individuação significa tornar-se um ser único e homogéneo, na
medida em que por “individualidade” entendemos «nossa singularidade mais íntima,
última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si mesmo.
Podemos, pois, traduzir “individuação” como “tornar-se si mesmo” ou “realização do si
mesmo”.

Individuação é um processo de desenvolvimento da totalidade e, portanto, de


movimento em direcção a uma maior liberdade. Isto inclui o desenvolvimento do eixo ego-
self, além da integração de várias partes da psique: ego, persona, sombra, anima ou
animus e outros arquétipos inconscientes.

Neste diapasão, vale dizer que o processo de individuação é o tema principal da


obra junguiana. A busca do ser humano pela individuação - e não individualismo -, pelo
autoconhecimento, pela integração com os demais homens e com a natureza, pela vivência
espiritual e pelo sentido da vida e da morte. Trata-se de uma busca instintiva e herdada de
nossos ancestrais, desde o início da humanidade. 16 Uma das conquistas de grande valor da
psicologia analítica é sem dúvida o conhecimento da estrutura biológica da alma. 17 É na
criança que se dá esse desenvolvimento da consciência.
Passos no processo de individuação18

1. O desnudamento da persona. Embora esta tenha funções protectoras importantes,


ela é também uma máscara que esconde o self e o inconsciente.
2. O confronto com a sombra. Na medida em que nós aceitamos a realidade da
sombra e dela nos distinguimos podemos ficar livres de sua influência.
3. O confronto com a anima ou animus. Este arquétipo deve ser encarado como uma
pessoa real, uma entidade com quem se pode comunicar e de quem se pode
aprender.

15
LÜDTKE, Lucas; MEDEIROS, Mauricio Zeferino Krauspenha, A Estrututra psíquica segundo Carl Gustav
Jung, p. 1.
16
RAMOS, Luís Marcelo Alves, Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung: Apontamentos de aulas, p. 202
17
JUNG, Carl Gustav, O desenvolvimento da Personalidade, p. 45.
18
FADIMAN, James; FRAGER, Robert, Teorias da Personalidade, p. 57-58.
10
4. O estágio final do processo de individuação é o desenvolvimento do self. O si
mesmo é a nossa meta de vida, pois é a mais completa expressão daquela
combinação do destino a que chamamos de indivíduo”.

O nosso autor estabeleceu para a sua prática psicoterápica quatro etapas de


fundamental importância:

a) Confissão -  nesta etapa, o paciente tem o seu espaço respeitado para a


revelação de sua angústia e de tudo aquilo que está lhe causando desconforto e
sofrimento dentro de si mesmo. Aqui cabe ao Terapeuta realizar um bom
acolhimento;
b) Esclarecimento – esta consiste no momento em que o paciente passa pela
percepção e pelo reconhecimento de seu sofrimento interno
c) Processo de Educação - é a etapa em que o paciente já começa a partir para a
acção. Nesta etapa do tratamento, o indivíduo entra em confronto com todos os
factores que originaram o sofrimento actual.
d) Transformação -  o Ego muda de atitude em relação ao Inconsciente. Trata-se
do ponto crucial do confronto.

Em geral Jung reafirmou a existência de dois estágios que resumem as quatro


etapas acima expostas, que são: o estágio analítico e o estágio sintético.19

Função transcendente

A função psicológica e "transcendente" resulta da união dos conteúdos conscientes


e inconscientes. A experiência no campo da psicologia analítica mostrou abundantemente
que o consciente e o inconsciente raramente estão de acordo no que se refere a seus
conteúdos e tendências.20 A psicologia analítica ou complexa distingue-se da psicologia
experimental “por não isolar as diversas funções (funções sensoriais, fenómenos psíquicos
etc.) e de não submetê-las aos condicionamentos experimentais a fim de explorá-las. Pelo
contrário, procura ocupar-se com a totalidade dos fenómenos psíquicos tal como ocorrem
naturalmente, o que constitui um conjunto extremamente complexo, se bem que possa ser
dividido em complexos parciais mais simples, por meio do estudo crítico.”21

Obstáculos ao crescimento

No processo que acima vimos, cada etapa é acompanhada de problemas e


dificuldades de vária ordem, que tem que ver, inicialmente, com o perigo de identificação
com a persona, contanto que todos aqueles que se identificam totalmente com a persona
tenderão a reprimir todas as outras tendência que não se ajustam e projectá-las nos outros.
A sombra também constitui obstáculo à individuação, pois as pessoas estão inconscientes
de suas sombras. Já o confronto com a anima ou o animus traz, em si, todo o problema do
relacionamento com o inconsciente e com a psique colectiva. A anima pode acarretar
súbitas mudanças emocionais ou instabilidade de humor no homem. Nas mulheres, o
animus frequentemente se manifesta sob a forma de opiniões irracionais, mantidas de
forma rígida.

19
Ibidem, p. 62.
20
JUNG, Carl Gustav, A natureza da psique, p. 6
21
Ibidem, p. 82.
11
Patologia da Personalidade segundo Carl Jung
 O patológico na dimensão da psique
Carl Jung reafirma a psicopatologia como sendo uma variante do desenvolvimento
normal do arquétipo. As enfermidades são distúrbios de processos normais, e nunca uma
entidade por si dotados de uma psicologia autônoma. Na Psicologia Analítica de Carl Jung,
apresenta-se-nos à primeira vista uma psicopatologia que se tornou insatisfatória, pelo fato
de o autor ter produzido o conceito de sombra ambiguamente, sendo espaço concomitante
do patológico e do normal.  Antes Jung situava o “mal” como sendo arquetípico. Esta
coexistência do patológico e do normal faz surgir nos estágios de desenvolvimento
do pathos da Psicologia Analítica quatro tipos fundamentais de defesas que estarão
relacionadas com determinados transtornos psíquicos:

a) Defesa neurótica - A sombra aqui se expressa de modo inconsciente, geralmente


os indivíduos que estão ao redor do sujeito acometido de uma actuação defensiva
desse porte, são os que percebem os primeiros vestígios e os sofrem, antes mesmo
do sujeito portador.

b) Defesa psicopática – A defesa psicopática origina-se em contextos de abandono,


abuso, permissividade exagerada e faltas de limites, encontrando-se na maioria das
vezes em crianças de rua e em jovens de famílias abastadas com pais ausentes ou
que as mimam frequentemente.  
O que diferencia a defesa psicopática da neurótica é a intenção, pois tal defesa tem
como característica central a intencionalidade da execução do acto.
c) Defesa borderline – Nesta defesa, o paciente tem relações profundas com o estado
psicótico, não chegando a ser. Na verdade a defesa borderline é uma reacção a este,
isto é, o sujeito se defende do transtorno psicótico.

d) Defesa psicótica - tem como característica a irrupção da polaridade Ego-Outro da


Sombra, dominando em maior ou menor grau as funções estruturantes normais. Em
estado agudo e crônico, se manifesta como esquizofrenia, o tratamento pode ser
feito com psicofármacos, principalmente ansiolíticos.22
Neste ínterim, vale referir que a defesa é a dificuldade de o paciente perceber que
seus sintomas, seus complexos patológicos, aos quais ele e o terapeuta se referem,
funcionam na sua vida psíquica. O patológico é visto a partir dos processos normais,
tentando-se nessa via delimitar a normalidade a partir das observações, encontrando a lei
geral e não as excepções, para daí em diante situar o psicopatológico.

CONCLUSÃO

À guisa de conclusão, depois de lido e minuciosamente analisado o presente


trabalho, queremos dizer que a Psicologia Analítica de Carl Jung é deveras um grande
marco e valioso contributo ao pensamento psicológico moderno, pois ajuda-nos a
autoconhecermo-nos a fim de levarmos uma vida mais tranquila em todas as esferas
(pessoal, familiar, social, profissional), com uma terapia que também pode auxiliar-nos.
O enfoque é a personalidade e todos os seus factores circunstantes, constituindo uma
22
SANTOS, Alan Ferreira dos, A psicopatologia em Carl. G. Jung: Contribuições da psicopatologia
simbólica, p. 77-90.
12
óptima abordagem para identificar defeitos, qualidades e possíveis bloqueios
inconscientes que impedem as pessoas de conquistarem o que desejam. Ajuda-nos
também a lidarmos com o nosso lado sombrio, com o que nos atemoriza.

No fim deste proveitoso trabalho, podemos dizer que Jung faz-nos resgatar a
nossa essência para sermos o que realmente devemos ser, numa integração de aspectos
inconscientes à consciência, estabelecendo um equilíbrio entre o mundo interno e o
mundo externo. Em suma, o que Jung quis é compreender a mente humana em suas
complexidades e experiências pessoais, por meio de uma análise geral do indivíduo,
servindo de grande suporte para a saúde emocional das pessoas, livrando-as da
ansiedade e depressão e muitos mais males. Nisto e noutras coisas, Carl Jung é, sem
sombra de dúvidas, um grande remédio e mestre.

Bibliografia

JUNG, Carl Gustav, A natureza da psique, Editora Vozes, Petrópolis, 5ª ed,


Brasil, 2000.

________.O desenvolvimento da Personalidade, Editora Vozes, Brasil, 2013.

13
________. O homem e os seus símbolos, Editora Fronteira, 5ª ed, Brasil, 1964

________. Os arquétipos e inconsciente colectivo, Editora Vozes, Brasil, 2000

FADIMAN, James; FRAGER, Robert, Teorias da Personalidade, Editora


Harbra, Brasil, 2002.

RAMOS, Luís Marcelo Alves, Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung:


Apontamentos de aulas, ETD – Educação Temática Digital, vol. 4, 2002.

LÜDTKE, Lucas; MEDEIROS, Mauricio Zeferino Krauspenha, A Estrututra


psíquica segundo Carl Gustav Jung, artigo em pdf na internet.

BAPTISTA, Nuno j. Mesquita, Teorias da Personalidade, Trabalho de Curso,


2010.
HALL, Calvin; NORDBY, Vernon. Introdução à Psicologia Junguiana, Editora
Cultrix, Brasil, 2005

14

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