A Memória Da Religiosidade Afro-Brasileira - Dine Estela
A Memória Da Religiosidade Afro-Brasileira - Dine Estela
A Memória Da Religiosidade Afro-Brasileira - Dine Estela
LINHA DE PESQUISA
Sociedade e Cultura
MESTRADO
2019
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RESUMO
Quem são, de onde vêm, o que querem e para onde vão. Estes são alguns dos
questionamentos levantados por esse trabalho dissertativo que se propõe a trazer à luz a
ritualística da umbanda africanista praticada por Pai Fabrício, escravo que viveu em uma
fazenda no Brasil nos anos de 1800, segundo registros obtidos nos anais do arquivo
nacional e nos registros de batismo da igreja católica de Vassouras, onde está localizada
a fazenda,
Segundos relatos históricos passados através da oralidade da família Caravana, o
escravo Fabrício passou seus conhecimentos de cura através das ervas para Custódio de
Souza Caravana. Estes conhecimentos são mantidos pela família por mais de um século
no Brasil através de que pode ser uma nova segmentação religiosa: A umbanda de Pai
Fabrício com traços do Omolokô, inicialmente conhecido no Brasil como Calundu.
Segundos relatos da família, a missão foi passada posteriormente ao Deawe, filho
da africana Maria de Batayo, para que este, continuasse os ensinamentos à Custódio. Estes
traços do culto africanista com raízes do Omoloko foram mantidos nas casas que
funcionam até os dias atuais no Rio de Janeiro. A mais antiga, completou 105 anos em
2019 e se chama: Cabana Espírita de Pai Fabrício, em Queimados, RJ, dirigida por
Fabrícius Custódio Caravana (neto).
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INTRODUÇÃO
Natalie Zemon Davis, Carlo Ginzburg, Robert Darnton, Roger Chartier, Peter
Burke, entre outros autores que serão estudados nesta nesta linha de pesquisa, formam
um grupo que apesar das diferenças de abordagem muitas vezes controversas, são todos
praticantes da história cultural. Em comum, todos tiveram o interesse de pesquisar fatos
históricos até então sem relevância para a maior parte dos historiadores (SERNA; PONS,
2005).
O diálogo com a antropologia como meio de renovação da história social, ajuda o
historiador a entender e compreender o simbolismo derivado do sistema cognitivo oculto
pertencente a uma comunidade (THOMPSON, 2001). Ele destaca ainda que a
antropologia pode oferecer mais do que uma comparação teórica, mas ferramentas
metodológicas.
Natalie também escreveu sobre as potencialidades do diálogo entre a história e a
antropologia em seu livro – Cultura do povo, a partir da temática dos rituais, ponto de
suma importância nesta pesquisa que nos levará a entender como os rituais se perpetuaram
nesta religião fundada por Custódio de Souza Caravana e como manutenção destes rituais
serviram como uma identidade social. A autora destaca as situações de comunetas como
um instrumento necessário à estrutura social e que na medida que se negue estas
organizações sociais, acaba-se por fortalece-las, citando os casos das festas populares.
Ela destaca ainda que os rituais podem renovar os sistemas, mas não mudá-los,
evidenciando a importância destes pequenos eventos dando-lhes importância
antropológica e valorizando estes procedimentos como próprios à história social.
Em seus estudos Memória esquecimento e silêncio, Michael Pollak, ressalta a
importância da memória coletiva para a manutenção da história de um povo ou grupo
social. Entre estes pontos que devem ser observados segundo o autor, estão o patrimônio
arquitetônico e seus estilos, paisagens, datas e personagens históricos, folclore, música,
vestimenta, tradições culinárias, o que os tornam, também segundo a metodológica
durkheimiana indicadores empíricos da memória coletiva na qual pretendemos estudar
como corpus documental.
1 OBJETIVOS
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Tata N'Kisi David de Xangô - Apostila do Centro Espírita Irmãos do Carco-Iris.
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Diante destes relatos, podemos acreditar que este tenha sido o início da prática dos
ensinamentos do culto Omolokô no Rio de Janeiro, passadas para o filho do dono da
fazenda (Custódio de Souza Caravana), inclusive com a incorporação do próprio escravo
nos descendentes da família Caravana até os dias atuais (2019). O escravo depois de
falecido, chegou a ser reconhecido como visitante de pessoas adoecidas como cita o
próprio Tatá Inkice Tancredo da Silva Pinto em uma publicação do Jornal O Dia, de maio
de 1968, citada pela Dr.ª Nilma Teixeira em sua Tese de Doutorado - Das casas de dar
fortuna ao Omolokô:
Todas as vezes que qualquer pessoa ficava muito doente em quaisquer fazendas e os
médicos já os consideravam incuráveis, apareciam pretos velhos (já falecidos) e nestas
aparições, nas horas sagradas da noite, iam à cabeceira de doentes que, ao amanhecer,
estavam plenamente curados. Estas aparições começaram com Pai Manoel da Luz, Pai
Tomás, João D'Angola, Pai Fabrício e Pai João da Costa. (ACCIOLI, 2017)
Com este trecho, a Dr.ª Nilma Teixeira, destaca que o depoimento de Tancredo,
relatando a aparição de Pai Fabrício entre os pretos velhos da época, pode sugerir que ele
já conhecia algum membro da família Caravana e que já tivesse contato com as
experiências religiosas dos africanos-centrais e seus descendentes vindos de Vassouras,
Rio de Janeiro, assim como a existência da negra Maria de Batayo. No entanto, nosso
estudo vai além ao revelar não somente a origem do culto Omolokô no Brasil, mas os
fundamentos utilizados pela Família Caravana para se manter viva até os dias atuais.
QUADRO TEÓRICO
HIPÓTESES
Quem são, de onde vêm, o que querem e para onde vão. Estes são alguns dos
questionamentos levantados por esse trabalho dissertativo que se propõe a trazer à luz a
ritualística da umbanda africanista praticada por Pai Fabrício, escravo que viveu em uma
fazenda no Brasil nos anos de 1800.
Será de suma importância dialogar com autores como Tancredo da Silva Pinto,
considerado o precursor do Omolokô no Brasil, assim como, Zélio de Morais, fundador
da Umbanda no Brasil e Alan Kardec, como o pai do espiritismo de mesa branca, entre
outros, para realizar uma análise histórica social das características das ritualísticas
tratadas por estes autores, para entendermos as origens africanistas da Umbanda de Pai
Fabrício, visto que, a ritualística de Pai Fabrício se utilizou, das características de várias
religiões, principalmente o catolicismo e o espiritismo de Kardec para se manter viva na
sociedade até os dias atuais.
Diante de todas estas influências históricas e religiosas, ainda há outra discussão
em voga no que tange à origem da umbanda no Brasil, o que para muitos autores, se trata
de uma religião brasileira com influencias internacional e para outros, uma religião
africana com influencias brasileira. Uma discussão que nos remete à necessidade de
descobrir se alguns traços da ritualística praticada por Pai Fabrício poderiam surgir como
uma nova vertente religiosa brasileira seguida de influências de outras religiões praticadas
tanto no continente africano quanto no Brasil e suas origens.
É importante destacar a importância das memórias coletivas do modo de vida dos
escravos que foram passadas para as próximas gerações e se mantém vivas até os dias
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atuais através da manutenção de cultura reprimida nas religiões de matriz africana para
entender como esta religião veio se modificando a cada século.
As pesquisas também irão abordar a importância dos discursos na vida social, a partir
de diversas perspectivas teóricas, de negociação de status, diferenciação social, produção
de hegemonias, promoção de identidades, dialogado com diferentes campos do
conhecimento, como a ciência política, antropologia, sociologia, arqueologia, ciência
da religião, teologia, linguística, literatura; visando colaborar para os estudos das
experiências históricas neste contexto social religioso de modo a revelar o quanto foram
e são importantes para a formação da sociedade tanto cultural quanto científica.
METODOLOGIAS E FONTES