Betão Pesado ASIC

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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012

FEUP, 24-26 de outubro de 2012

Estudo de um betão pesado com agregado ASIC

Luís Filipe Ana Maria Alexandre


Pereira Juvandes1 Proença Queirós2 Emanuel Pacheco3

RESUMO

O presente artigo expõe os resultados e as conclusões sobre o programa de investigação desenvolvido


na FEUP com o fim de estudar a utilização do ASIC (agregado siderúrgico inerte para construção)
como um agregado alternativo para betões de ligantes hidráulicos. Visando o aproveitamento de
subprodutos industriais de elevada massa volúmica para a confeção de betão pesado, o estudo incide
sobre, primeiro, a caracterização do ASIC como um agregado, posteriormente, o estudo de uma
composição de um betão pesado, com atributos de durabilidade, ambos obedecendo aos requisitos
definidos nas normas NP EN 12620, LNEC E 467 e NP EN 206-1 em vigor. Por último, é realizada
uma comparação de parâmetros de durabilidade com uma publicação sobre a experiência da EDP.

Palavras-chave: agregados para betão, ASIC, valorização de resíduos, betão pesado, betão com ASIC

1. BETÃO PESADO

No mercado, o betão de elevada massa volúmica superior a 2600 kg/m3 (betão pesado, segundo norma
NP EN 206-1 [1]), exigido para obras como muros de suporte, barragens gravíticas, antiferes, perfis
New Jersey, ensoleiramentos gerais de fundações, edifícios de segurança e isolamentos de radiações,
entre outras, poderá implicar um orçamento na ordem de 500 a 700 €/m3 face a um betão corrente cujo
valor oscila entre 60 a 70 €/m3. O agregado pesa no orçamento porque recorre à barite, à magnetite e à
hematite [2], materiais com massa volúmica superior a 3000 kg/m3, de difícil exploração, escassos
(importados), alguns com alto nível de magnetismo, por isso, de custo elevado em Portugal.

Uma alternativa é a reciclagem e/ou valorização dos resíduos industriais pesados, desde que verificada
a não perigosidade dos produtos resultantes e que sejam satisfeitos os requisitos mínimos exigidos
para a utilização em betões de ligantes hidráulicos. A indústria de produção de aço é geradora de
grandes quantidades de resíduos, designados de escórias. Um dos tipos de escória gerada é a escória
de forno elétrico de arco que, após processada, origina o agregado siderúrgico inerte para construção

1
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Departamento de Engenharia Civil, Porto, [email protected]
2
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Departamento de Engenharia Civil, Porto, [email protected]
3
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Departamento de Engenharia Civil, Porto, [email protected]
Estudo de um betão pesado com agregado ASIC

(ASIC), de elevada massa volúmica (≥3500 kg/m3) e de custo, na origem, reduzido relativamente aos
materiais referidos anteriormente [3].

Neste âmbito, foi iniciado um programa de investigação de colaboração dos Laboratório de Ensaio de
Materiais de Construção (LEMC), do Laboratório da Tecnologia do Betão e do Comportamento
Estrutural (LABEST), ambos da FEUP, da empresa HARSCO Metals CTS e da Siderurgia Nacional
SA com vista a estudar a viabilidade do uso do ASIC como um agregado para betões de ligantes
hidráulicos. Desse programa resultaram dois trabalhos, um na perspectiva de avaliar a exequibilidade
de um betão com substituição parcial do agregado por ASIC (investigação de Ramos [4]) e outro, o do
presente artigo, orientado para um programa experimental com o objetivo de estudar a viabilidade do
uso do ASIC em betões densos (investigação de Pacheco [5]). Este programa de investigação vai ao
encontro dos novos desafios colocados à engenharia civil de investir em novas soluções construtivas,
sustentáveis e económicas com reutilização de subprodutos da indústria. No caso particular, o
agregado ASIC, é uma preocupação da Industria Siderúrgica da Maia devido ao volume de produção,
critério de armazenamento e necessidade de escoamento no mercado.

Este artigo está organizado pelos dois pontos fundamentais do trabalho. Primeiro, é exposto a
caracterização do ASIC de acordo com a norma NP EN 12620 e especificação LNEC E 467
(incluindo análise química), de forma a avaliar o cumprimento dos requisitos para ser classificado
como um agregado para betão pesado. Seguidamente, é detalhado o resultado do estudo de uma
composição para um betão pesado, com requisitos de durabilidade, aliada a outros aspectos criteriosos
como a combinação de 4 fracções do agregado (0/4, 4/8, 8/16 e 16/32 mm), de uma areia fina, de
cinzas volantes, de adjuvante e de cimento CEM I 42,5 R.

2. CARACTERIZAÇÃO DO ASIC

Como o ASIC é um subproduto industrial, a sua aplicação na substituição do agregado natural para a
confeção de betão de ligantes hidráulicos impõe o cumprimento de vários requisitos especificados em
normas nacionais e europeias.

Como o presente trabalho enquadra-se num estudo mais alargado, desenvolvido na FEUP e referido
anteriormente, sempre que se achar adequado serão referidos os resultados da publicação de Ramos,
quer como dados quer como informação comparativa com os resultados obtidos no presente trabalho.
Na generalidade, o programa experimental foi desenvolvido no Laboratório de Ensaio de Materiais de
Construção da FEUP (LEMC) e o material ASIC usado foi obtido de uma série de produção da
Siderurgia Nacional da Maia, gentilmente cedida pela empresa HARSCO Metals CTS, Lda [3][4][5].

2.1 Requisitos para agregados

A avaliação do ASIC (Fig. 1) como um agregado para betões de ligantes hidráulicos conduziu à
análise de diversas propriedades, algumas obrigatórias (com requisitos mínimos) e outras facultativas,
dependendo da utilização pretendida para este agregado. As propriedades obrigatórias em análise
foram estabelecidas, segundo a actual legislação, com base no cumprimento das normas NP EN 12620
[6] e LNEC E 467 [7] que estabelecem requisitos mínimos para o uso de agregados em Portugal.

Figura 1. Aspeto geral do Agregado Siderúrgico Inerte para Construção (ASIC).

2
Juvandes, Queirós e Pacheco

No Quadro 1 resumem-se as propriedades, as normas e os requisitos de conformidade considerados na


caracterização geométrica, física, mecânica e química do material.

Quadro 1. Propriedades vs requisitos dos agregados para betões de ligantes hidráulicos.


Propriedades Norma de ensaio Requisitos de conformidade
Índice de forma NP EN 933-4:2002 a declarar
Índice de achatamento NP EN 933-3:2002 Fl50 (≤ 50%)
Massa volúmica das partículas NP EN 1097-6:2003 A declarar
Absorção de água (em % da massa seca) NP EN 1097-6:2003 ≤ 5%
Baridade e volume de vazios NP EN 1097-3:2002 a declarar (Mg/m3)
Resistência á fragmentação - Ensaio de Los Angeles NP EN 1097-2:2002 ≤ LA50 (50%)
Resistência ao esmagamento NP 1039:1974 ≤ 45%
Teor de sulfatos solúveis em ácido NP EN 1744-1:2010 AS ≤ 1,0%
Teor de cloretos NP EN 1744-1:2010 a declarar (%)
S ≤ 2,0% s/pirrutite
Teor de enxofre total NP EN 1744-1:2010
S ≤ 1,0% c/pirrutite
Reactividade Alcalis-Silica ASTM C1260-07:2008 avaliar a reactividade

2.2 Caracterização geométrica, física, mecânica e química

A partir do material fornecido pela HARSCO, Ramos [4] determinou a densidade do ASIC (na ordem
de 3580kg/m3), o índice de forma (SI), o índice de achatamento (FI) e, em termos de propriedades
mecânicas, avaliou a resistência à fragmentação do agregado grosso pelo ensaio de Los Angeles (LA).

A análise granulométrica do agregado em estudo foi efectuada de acordo com a norma


NP EN 933-1:2000. Visando boa trabalhabilidade, maior compacidade e a maior qualidade possível
para o betão pesado, no trabalho de Pacheco [5] o ASIC foi dividido em quatro frações: 0/4mm,
4/8mm, 8/16mm e 16/32mm. Para a construção das curvas granulométricas, foram retiradas amostras
representativas de cada fracção de modo a dar uma representação da amostra total do ASIC (norma
NP EN 932-2: 2002). O resultado das curvas granulométricas de cada fracção pode ser consultado na
publicação de Pacheco, concluindo-se que o ASIC apresenta pouca quantidade de material com
granulometria fina, isto é, fração 0/4mm.

Em termos de propriedades físicas e mecânicas, para cada uma das quatro frações em estudo, foram
medidas as massas volúmicas do material impermeável das partículas (ρa), das partículas secas em
estufa (ρrd) e das partículas saturadas com superfície seca (ρssd). Foram, igualmente, determinadas o
valor da absorção de água após a imersão durante 24 h (WA24), a baridade (ρb) e a percentagem do
volume de vazios (ν). Por último, a partir de uma mostra representativa do material, foi avaliada a
resistência ao esmagamento do ASIC.

Em consequência dos recursos disponíveis nos laboratórios LEMC/LABEST e do tempo aceitável


para o trabalho, foram realizados alguns ensaios químicos, impostos pela norma e que visam a
compatibilidade entre materiais e a durabilidade no tempo, no Centro Tecnológico da Cerâmica e do
Vidro de Coimbra (CTVC). Destacam-se a avaliação do teor de sulfato solúvel em ácido, que para
escórias arrefecidas ao ar tem o limite de 1,0%, do teor de cloretos (C) e do teor de enxofre total (S),
que por regra geral tem o valor limite de 2,0%. Contudo, a norma NP EN 1744-1:2010 indica que
detetada a presença de pirrutite na amostra, esse limite diminui para 1,0%, facto esse constatado pela
CTVC para a amostra de ASIC, através do espectrómetro por difracção de raio x [5].

O comportamento relativamente à reactividade alcalis-silica foi analisado para a fracção 0/4,75 mm do


ASIC segundo o procedimento especificado na norma ASTM C 1260-07: 2008, mas utilizando como
ligante uma mistura CEM I 42,5 R e cinzas volantes, essas com 30% do total do ligante hidráulico (em
conformidade com a dosagem utilizada na composição do betão). A análise foi realizada para dois
grupos de amassaduras. Uma, apresenta uma razão de A/C = 0,47 de acordo com a norma citada e a
outra, realizada com uma razão A/C = 0,52, de modo a averiguar se essas reacções se dariam de

3
Estudo de um betão pesado com agregado ASIC

maneira mais agressiva havendo mais água na composição. Em termos de resultados globais
verificou-se que não houve diferenças assinaláveis entre os dois casos de razão A/C e que a extensão
obtida após catorze dias da leitura inicial é inferior a 0,1% [5], isto é, o comportamento foi “não
reactivo”.

Em resumo, todas as propriedades foram determinadas experimentalmente de acordo com as normas


especificadas no Quadro 1 e cujos seus valores estão compilados no Quadro 2 [5].

Quadro 2. Resultados da caracterização física, geométrica, mecânica e química do ASIC.


Propriedades Sigla Norma Material Resultados Requisitos
Caracterização geométrica
ASIC fino 0/4 mm
Análise granulométrica - NP EN 933 - 1 s/r
ASIC grosso 4/32 mm
Índice de forma Sl NP EN 933 - 4 ASIC 0,4% (Sl15) s/r
Índice de achatamento Fl NP EN 933 - 3 ASIC 2% (Fl15) Fl50 (≤ 50%)
Caracterização física e mecânica
ASIC 0/4 3,77 Mg/m3
Massa volúmica do material
ASIC 4/8 3,55 Mg/m3
impermeável das partículas ρa NP EN 1097 - 6 s/r
ASIC 8/16 3,50 Mg/m3
3
ASIC 16/32 3,45 Mg/m
ASIC 0/4 3,59 Mg/m3
Massa volúmica das partículas
ASIC 4/8 3,22 Mg/m3
secas em estufa ρrd NP EN 1097 - 6 s/r
ASIC 8/16 3,19 Mg/m3
ASIC 16/32 3,19 Mg/m3
ASIC 0/4 3,64 Mg/m3
Massa volúmica das partículas ASIC 4/8 3,31 Mg/m3
ρssd NP EN 1097 - 6 s/r
saturadas c/ superfície seca ASIC 8/16 3,28 Mg/m3
3
ASIC 16/32 3,27 Mg/m
ASIC 0/4 1,31 %
Absorção de água (em ASIC 4/8 2,89 %
WA24 NP EN 1097 - 6 ≤ 5%
percentagem da massa seca) ASIC 8/16 2,80 %
ASIC 16/32 2,34 %
ASIC 0/4 1,76 Mg/m3
ASIC 4/8 1,73 Mg/m3
Baridade ρb NP EN 1097 - 3 s/r
ASIC 8/16 1,84 Mg/m3
3
ASIC 16/32 1,55 Mg/m
ASIC 0/4 50,9 %
ASIC 4/8 46,3 %
Percentagem de vazios ν NP EN 1097 - 3 s/r
ASIC 8/16 42,3 %
ASIC 16/32 51,4 %
Resistência à fragmentação de
LA NP EN 1097 - 2 ASIC 25 % LA50 (≤50%)
Los Angeles
Resistência ao esmagamento R NP 1039 ASIC 20,46 ± 1,09 % ≤ 45%
Caracterização Química
Teor de sulfatos solúveis em
- NP EN 1744 - 1 ASIC 0,08 % AS ≤ 1,0 %
ácido
Teor de cloretos C NP EN 1744 - 1 ASIC 0,0014 % s/r
S ≤ 1,0%
Teor de enxofre total S NP EN 1744 - 1 ASIC 0,05%
c/pirrutite
Reactividade Alcalis-Silica εASR ASTM C 1260 - 7 ASIC[i] 0,03% Não reativo [i]
[i]
– De acordo com as condições realizadas neste estudo; s/r – sem referência e a declarar em cada caso de obra.

Em termos gerais, parece ser viável que o ASIC possa ser usado como uma alternativa aos agregados
naturais na produção de betão de ligantes hidráulicos.

4
Juvandes, Queirós e Pacheco

3. CARACTERIZAÇÃO DO BETÃO COM ASIC

A segunda etapa, após a caracterização do ASIC, foi obter o perfil da composição de um betão pesado
com integração do ASIC, como agregado. Nesta fase, foi concebida e estudada uma composição para
um betão pesado e, posteriormente, foi desenvolvido um programa experimental, realizado nos
laboratórios da FEUP, com vista a avaliar as principais características do betão com ASIC aos 28, 61 e
90 dias de idade.

As principais propriedades a exigir ao betão devem cumprir os requisitos designados nas normas para
betões de ligantes hidráulicos [1], passando pela identificação das especificações dos materiais a usar
na composição, pela caracterização do betão enquanto massa fresca, pela avaliação das propriedades
físicas e mecânicas do betão endurecido e, por fim, pela realização de ensaios de controlo antecipados
da durabilidade e espectável para o betão no futuro.

3.1 Materiais e composição do betão

Foi produzido um betão com o intuito de ter a máxima quantidade possível de ASIC que, devido à
pouca quantidade de partículas finas, fez com que se recorresse a uma areia fina para dar
trabalhabilidade ao betão fresco. No Quadro 3 expõe-se os materiais constituintes e a composição do
betão em kg/m3 (para agregados secos) estabelecido para a produção da amassadura.

Quadro 3. Materiais e composição do betão pesado.


Materiais Características Quantidade (kg/m3)
Cimento CEM I 42,5 R 310
Finura N/15; perda por calcinação B; massa
Cinzas volantes (Espanha) 140
volúmica de 2,42 Mg/m3; marcação CE
ρa= 2,66 Mg/m3; ρrd= 2,64 Mg/m3;
Areia fina natural 320
ρssd= 2,63 Mg/m3; WA24= 0,4 %
0/4 mm 485
4/8 mm 240
ASIC
8/16 mm 485
16/32 mm 720
Superplastificante de referência
Adjuvantes 3,89
TECHNIFLOW 91
Água total Corrente do LEMC 164

3.2 Caracterização do betão fresco

As propriedades do betão fresco foram avaliadas segundo um programa experimental estabelecido no


trabalho, cujos resultados dos ensaios estão resumidos no Quadro 4. Os detalhados sobre este
programa experimental podem ser consultados no documento [5].

Quadro 4. Resultados da caracterização do betão fresco.


Provetes
Propriedades Norma Requisitos
Produzido Fabrico Resultados
Grau de compactabilidade (C) NP EN 12350-4 1 9/11/11 1,39 (classe C1) 1,04≤C1≤1,46[i]
Massa volúmica (ρ) NP EN 12350-6 1 9/11/11 2867 kg/m3 s/r
Teor de ar (Ac) NP EN 12350-7 1 9/11/11 2,20 % s/r
[i]
– Objetivo do trabalho; s/r – sem referência e a declarar em cada caso de obra.

3.3 Caracterização do betão endurecido

As propriedades do betão endurecido foram estimadas segundo o programa experimental exposto no


Quadro 5, cujos resultados estão igualmente resumidos no mesmo. Os detalhes sobre este programa

5
Estudo de um betão pesado com agregado ASIC

experimental podem ser consultados no documento [5]. Observe-se que, as principais propriedades em
análise são a massa volúmica, as resistências mecânicas, sobretudo, as resistências à compressão, à
tracção e à flexão, a absorção de água por capilaridade e por imersão atmosférica, a penetração de
água sobre pressão e propriedades de durabilidade, nomeadamente, o ensaio de retracção por secagem
e de permeabilidade ao oxigénio.

Quadro 5. Resultados da caracterização do betão endurecido.


Idade Provetes
Propriedades Norma Requisitos
(dias) Tipo (cm) Prod Ens Resultados
1 3 3 49,5
7 3 3 65,3
Resistência à compressão NP EN 12390-3 Cubos
28 3 6 [i] 79,2 s/r
(fcm,j) (MPa) 61
15x15x15 3 3 87,3
90 3 [i] - 106,5 [ii]
Resistência à tracção por
NP EN 12390-6 28 Cilindros 4,80
compressão diametral 4 s/r
(MPa) 61 ø15 e h=30 4,43
(fctm,sp,j)
Resistência à flexão NP EN 12390-5 28 Prismas 8,38
6 s/r
(fctm,fl,j) (MPa) 61 15x15x60 8,87
Retracção por secagem LNEC E 398 Prismas
Até 28 3 0,276±0,006 s/r
(εm) (‰) 10x10x50
-3
Absorção de água por LNEC E 393 28 2 1,87 a 1,97 x10
s/r
capilaridade às 72 horas (g/mm2) 61 2 1,39 a 1,40 x10-3
Coef. de absorção de Segundo [8] 28 Cilindros 2 2,549 x10-4±1,690x10-5
4 s/r
água (0 a 4 horas) (S) (g/mm2.h.-0,5) 61 ø15 e h=30 2 2,193 x10-4±1,235x10-5
Altura de água LNEC E 393 28 2 14,31 a 16,17
s/r
capilaridade às 72 horas (mm) 61 2 9,28 a 10,15
[iii]
Absorção de água por LNEC E 394 28 Cubos 2 10,3±0,65
4 s/r
imersão atmosférica (At) (%) 61 15x15x15 2 6,92±0,03
Médio 6,5±1,5
28 2
Prof. de penetração da NP EN 12390-8 Cubos Máximo 25,5±7,5
4 s/r
água sob pressão (mm) 15x15x15 Médio 12,5±7,5
61 2
Máximo 33,0±8,0
Permeabilidade ao LNEC E 392 Cilindros
56 1 1 1,7481x10-18 10-19≤K.≤10-14
oxigénio (Koxigénio) (m) ø15 e h=30
Massa volúmica NP EN 12390-7 Cubos
28 2 [iii] 2 2891±0,75 s/r
(ρ) (kg/m3) 15x15x15
[i] [ii] [iii]
– Por lapso do LEMC, estes provetes foram ensaiados aos 28 dias; – Valor estimado a partir de cilindros; – Foram usados os provetes
da absorção de água por imersão à pressão atmosférica para avaliar a massa volúmica; s/r – sem referência e a declarar em cada caso de obra.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Neste item, são analisados e discutidos os resultados obtidos nos ensaios de caracterização do ASIC e
do betão pesado expostos nos Quadros 4 e 5. Face à deficiente informação técnica sobre o tema em
análise, sempre que possível e limitado ao número de ensaios realizados no período disponível para
este trabalho, os resultados foram comparados com alguns trabalhos considerados como referência.

4.1 ASIC como um agregado

Dos dois trabalhos desenvolvidos na FEUP, constatou-se que o ASIC é um material que apresenta
alguma deficiência em partículas finas, de dimensões inferiores a 4 mm. A percentagem de finos de
um agregado é importante para a trabalhabilidade do betão, pelo que, deve ser controlada de acordo o
tipo de obra a que se destina. A opção de uma areia fina complementar na composição do betão é
indispensável.

6
Juvandes, Queirós e Pacheco

Em termos gerais, observou-se que a massa volúmica média é bastante superior que a do agregado
natural e os seus valores oscilam entre os valores seguintes: 3,45Mg/m3≤ρa≤3,77Mg/m3;
3,25Mg/m3≤ρssd≤3,64Mg/m3; 3,17Mg/m3≤ ρrd≤3,59Mg/m3.

Em termos de absorção de água, os valores de WA24 (%) obtidos na FEUP, e por outros autores, são
ligeiramente superiores aos observados em agregados naturais [4], satisfazendo, contudo, o critério de
ser inferior a 5%.

A baridade do agregado depende do valor do seu volume de vazios, da granulometria, da forma e do


arranjo das partículas. Os valores da baridade e da percentagem do volume de vazios obtidos no
trabalho permitem afirmar que o material é classificado como extra denso.

Os valores da resistência à fragmentação pelo ensaio de Los Angeles do ASIC permitem afirmar que o
material está entre as categorias LA25 e LA30 (inferior ao máximo de 50%). Pode afirmar-se que a
resistência do ASIC situa-se na gama de valores que podem ser encontrados para os agregados
naturais correntes.

Em termos de análise química, apesar do ASIC ser de proveniência de sucata ferrosa, constatou-se que
os quatro principais requisitos químicos segundo a NP EN 1744-1: 2010 foram satisfeitos. O teor de
sulfatos solúveis em ácido foi de 0,08%, inferior ao imposto na norma que é de 1,0% (para escórias
arrefecidas ao ar). O teor de cloretos, segundo o relatório da CTVC [5], apresentou o valor de
0,0014%. Em termos de teor de enxofre total, igualmente segundo o relatório da CTVC, foi detectada
a presença de pirrutite na amostra e o teor de enxofre total foi avaliado em 0,05%, mesmo assim,
inferior ao limite máximo de 0,1% que condiciona a aceitabilidade do material como agregado.

O ensaio de reactividade alcalis-silica revelou que, para as condições de ensaio com o recurso a cinzas
volantes (30% do ligante hidráulico) em conformidade com a composição do betão estudado, a
expansão é inferior a 0,1%, obtida após catorze dias da leitura de referência. De acordo com a
especificação LNEC 461:2007 o material agregado teve um comportamento “não reactivo”. No
entanto, este resultado carece de um estudo mais dedicado e extensivo no futuro, para validar esta
conclusão.

4.2 Betão com ASIC

Em termos de betão enquanto “fresco”, foi efectuado o ensaio de compactabilidade para avaliar a
trabalhabilidade e a facilidade de compactação por vibração. O grau de compactabilidade obtido foi de
1,39, valor este dentro dos limites indicados na norma NP EN 12350-4:2009 para a Classe C1
sugerida no trabalho que são entre 1,04 e 1,46.

Tal como esperado, o betão com ASIC tem uma massa volúmica superior ao betão corrente por
incorporar agregados com maior massa volúmica. Este facto está expresso no valor médio obtido para
a massa volúmica, quer do betão fresco de 2867 kg/m3 quer do betão endurecido de 2890 kg/m3,
enquadramento nítido na classe dos betões densos.

De acordo a norma NP EN 206-1[1] e admitindo os critérios para aceitação dos ensaios iniciais, o
valor característico da resistência à compressão do betão aos 28 dias estimado a partir do valor médio
da resistência à compressão na mesma idade está compreendido entre: 68MPa ≤ fck ≤ 74MPa.
Admitindo as classes de resistência à compressão para betão pesado em cubos, o valor mínimo
compatível com este intervalo conduz à classe de resistência C55/67 (fck ≥ 67 MPa).

A partir dos resultados experimentais de propriedades do betão aos 28 dias foi possível estimar
algumas propriedades úteis para projecto a partir de expressões sugeridas no Eurocódigo 2 (EC2) [9].
No Quadro 6, resumem-se os valores da resistência à compressão (fcubcm,28, fcubck,28), da resistência à
tracção por compressão diametral (fctm,sp,28), da resistência à tracção por flexão (fctm,fl,28), da resistência
à tracção simples (fctm,,28) e do módulo de elasticidade do betão. Verifica-se que os valores da

7
Estudo de um betão pesado com agregado ASIC

resistência à tracção decrescem, os mais acentuados os por flexão, seguido dos por compressão
diametral e por último os por tracção axial. Saliente-se que os valores estimados pelo EC2 para a
tracção por flexão são inferiores aos obtidos experimentalmente.

Quadro 6. Propriedades do betão aos 28 dias (Experimental vs EC2) [5].


Propriedades Experimental Estimado EC2
fcubck,28 (MPa) -
68,00 a 74,00
fcubcm,28 (MPa) 80,00 -
fctm,28 (MPa) - 4,32 a 4,66
fctm,sp,28 (MPa) 4,80 4,80 a 5,18
fctm,fl,28 (MPa) 8,38 6,26 a 6,76
Ecm,28 (GPa) - 41,05

Foram avaliadas algumas propriedades mecânicas aos 28, 61 e 90 dias, quer por via experimental quer
por estimativa via EC2 [9], designadamente, para a resistência à compressão (fcm,j), a resistência à
tracção por compressão diametral (fctm,sp,j) e a resistência à tracção por flexão (fctm,fl,j) (Quadro 7). Em
termos gerais, concluiu-se que as expressões do EC2 traduzem a evolução no tempo com boa
aproximação para a resistência à tracção por compressão diametral e por defeito para a resistência à
compressão. Esta análise é feita em termos de valores médios globais, dependendo de alguns factores
variáveis, o que confere à análise alguma variabilidade também. Este assunto merece mais detalhe no
futuro.

Quadro 7. Propriedades do betão aos “j” dias (Experimental vs EC2) [5].


j = 28 dias j = 61 dias j = 90 dias
Propriedades
Experimental EC2 Experimental EC2 Experimental EC2
fcubcm,j (MPa) 80,0 75 87,3 84,7 106,5 [i] 86,0
fctm,sp,j (MPa) 4,80 4,67 4,43 4,86 - -
fctm,j (MPa) - 4,20 - 4,38 - -
[i]
– Valor estimado a partir de cilindros

Foram estimadas curvas de absorção de água por capilaridade até às 72h para provete com 28 e 61
dias, constatando-se que a primeira quebra dá-se ao fim de 1 hora, traduzindo o enchimento dos poros
de maiores dimensões, livremente acessíveis, designado por porosidade aberta (absorção inicial).

A nível de absorção de água por imersão à pressão atmosférica, verificou-se que com a maturidade do
betão ao longo do tempo esta propriedade diminuiu. Nos ensaios de profundidade de penetração da
água sob pressão verificou-se existir um aumento da profundidade de penetração, quer média quer
máxima (picos), nos provetes de 61 dias relativamente aos provetes com 28 dias (Quadro 8). Este
aumento (ordem) dos valores observados nas duas datas não seria espetavel, pois admite-se estarem
condicionados pelo nº de provetes usados (dois/cada data) e pela variabilidade de resultados medidos.

Em termos de comportamento face à durabilidade, foi realizada uma análise de discussão dos
resultados para alguns parâmetros relativos à retracção por secagem, absorção de água por
capilaridade, absorção de água por imersão à pressão atmosférica, profundidade de penetração da água
sob pressão e permeabilidade ao oxigénio, nomeadamente, uma comparação desses com limites
divulgados numa publicação de Camelo [10], a respeito da experiencia da EDP na construção de
barragens.

No Quadro 8, expõe-se a análise comparativa possivel estabelecer entre valores das propriedades que
foram objeto de interpretação, nas condiçoes aproximadas entre a base do trabalho experimental
realizado na FEUP e as mencionadas na publicação de Camelo. Em termos gerais, o betão com ASIC
superou os critérios sugeridos na publicação referida.

8
Juvandes, Queirós e Pacheco

Quadro 8. Análise comparativa de resultados associados à durabilidade do betão.


Sigla Idade
Propriedades Betão ASIC Camelo (EDP) [10] Observações
(unidades) (dias)
εm 7 0,095 ≤ 0.15 satisfaz
Retracção por secagem
(‰) 28 0,276 ≤ 0.22 excede pouco
Coef. de absorção de água S 28 0,2549
≤ 0.20 excede pouco
(0 a 4 horas) (kg/m2.h.-0,5) 61 0,2193
28 10,3 ≤ 12 a 14
Absorção de água por imersão At
maior ou menor satisfaz
à pressão atmosférica (%) 61 6,92 exigência
6,5±1,5 (med) - ≤35mm zonas mais
28 agressivas.
Profundidade de penetração da 25,5±7,5 (max)
hmax - ≤50 mm zonas
água sob pressão correntes.
satisfaz
(media/máxima) (mm) 12,5±7,5 (med)
61 - ≤70mm zonas sem
33,0±8,0 (max)
armaduras.
- K60HR < 5 zonas
satisfaz, assim
não submersas e
Koxigénio como, os
Permeabilidade ao oxigénio 56 0,17481 com ciclos m/s.
(10-17xm2) - K60HR < 10 zonas
requisitos do
submersas. Quadro 5

CONCLUSÕES

Este trabalho pretende ser mais um contributo para a investigação do aproveitamento de resíduos
industriais na confecção de betões correntes e/ou especiais, concretamente, o betão pesado.
Introduziu-se um agregado alternativo ao natural, ASIC um subproduto da industria do aço, de forma
a tornar a produção de betão mais sustentável e económica.

Através dos ensaios de caracterização geométrica, física, mecânica e química conclui-se que o ASIC
satisfaz os requisitos analisados para ser admitido como agregado para betões de ligantes hidráulicos
segundo as NP EN 12620 e LNEC E 467. É um agregado bem graduado (0 a 32 mm), com
resistências à fragmentação e ao esmagamento inferiores aos limites máximos, quimicamente estável
(classificado como “não reactivo”), com valores de absorção de água e massa volúmica superiores aos
agregados correntes. Tem um valor da massa volúmica na ordem de 2870kg/m3, adequado para o
campo dos betões densos.

A massa volúmica do ASIC permitiu confeccionar um betão pesado (ρ=2891kg/m3). As propriedades


mecânicas do betão avaliadas aos 28, 61 e 90 dias permitiram concluir sobre a sua classe de
resistência de C55/67 e a evolução de algumas dessas propriedades relativamente aos valores
estimados pelas expressões analíticas propostas no EC2. Em termos gerais, concluiu-se que as
expressões do EC2 traduzem a evolução no tempo com boa aproximação para a resistência à tracção e
por defeito para a resistência à compressão.

Apesar de ser escassa a informação na literatura técnica, alguns dos parâmetros de referência relativos
à retracção por secagem, absorção de água por capilaridade, absorção de água por imersão à pressão
atmosférica, profundidade de penetração da água sob pressão e permeabilidade ao oxigénio foram
comparados com limites divulgados numa publicação a respeito da experiencia da EDP na construção
de barragens. Em termos gerais, o betão com ASIC superou satisfatoriamente os critérios exigidos
pela EDP.

Em termos finais, face ao estudo desenvolvido, à informação recolhida e ás limitações deste trabalho,
tudo leva a indicar que o ASIC possa ser usado como uma alternativa aos agregados naturais na
produção de betão pesados de ligantes hidráulicos.

9
Estudo de um betão pesado com agregado ASIC

No futuro, o uso generalizado de um betão com ASIC obrigará a estudos mais detalhados a longo
prazo, nomeadamente, a nível de reações alcális-silica e resistência aos sulfatos, além de, explorar
novas composições e execução de modelos á escala real e sujeitos à exposição ambiental.

AGRADECIMENTOS

Agradece-se às empresas HARSCO Metals CTS e à Siderurgia Nacional SA da Maia pela cedência do
material ASIC e elementos bibliográficos, à Secil pela disponibilidade do cimento e aos laboratórios
LEMC, LABEST e CTVC pela cedência de espaços, técnicos e realização dos ensaios.

REFERÊNCIAS

[1] NP EN 206-1 (2007). Betão, Parte 1:Especificação, desempenho, produção e conformidade.


Lisboa: IPQ. Junho.
[2] Klein, C.; Dutrow, B. (2000) (2007). The Manual of Mineral Science. 23rd ed. Brisbane: John
Wiley & Sons Ltd., New York.
[3] HARSCO (2011). ASIC Agregado Siderúrgico Inerte para Construção. Newsletter de HARSCO
Metals.
[4] Ramos, Telma J. (2011). Estudo da viabilidade da substituição do agregado natural por agregado
siderúrgico inerte para construção (ASIC) em betão. FEUP, Tese de Mestrado Integrado em
Engenharia Civil.
[5] Alexandre, Pacheco (2012). Estudo da Viabilidade da Utilização de Escórias de Aciaria (ASIC)
em Betão Denso. FEUP, Tese de Mestrado Integrado em Engenharia Civil.
[6] EN 12620:2002+A1 (2010), Agregados para betão. Lisboa: IPQ. Setembro. 61 p.
[7] LNEC E 467 (2006). Guia para a utilização de agregados em betões de ligantes hidráulicos.
Lisboa: especificação LNEC. 8 p.
[8] Coutinho, M. J. A. R. S. (1998). Melhoria da durabilidade dos betões por tratamento da cofragem.
FEUP, Tese de Doutoramento em Engenharia Civil.
[9] NP EN 1992-1-1 (2010). EUROCODIGO 2 - Projecto de estruturas de betão - Parte 1-1: Regras
gerais e regras para edifícios. EC2, Lisboa: IPQ. Março. 259 p.
[10] Camelo, A. (2011). Durabilidade e vida útil das estruturas hidráulicas de betão e de betão armado.
1ª Jornadas de Materiais de Construção, FEUP, pp. 149-169.

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