Apostila - CHO 2016 - Direito Penal Militar

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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE

Curso de Habilitação de Oficiais Policiais Militares – CHO/PM


DIREITO PENAL MILITAR

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS

DELCI Carlos TEIXEIRA


SECRETÁRIO DA SSPDS

POLÍCIA MILITAR DO CEARÁ - PMCE

Geovani PINHEIRO da SIlva - Cel PM


COMANDANTE-GERAL DA PMCE

ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE

José Herlínio DUTRA – Cel PM


DIRETOR-GERAL DA AESP|CE

Lucio Ponte Torres DPC


SECRETÁRIO EXECUTIVO DA AESP|CE

Antonio CLAIRTON Alves de Abreu – Ten Cel PM


COORDENADOR GERAL DE ENSINO DA AESP|CE

Amarílio LOPES Rebouças – Cel BM


COORDENADOR PEDAGÓGICO

Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – Cap PM


SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE

HELANA Paula Nascimento do Carmo


ORIENTADORA DA CÉLULA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA DA AESP|CE

CURSO DE HABILITAÇÃO DE OFICIAIS POLICIAIS MILITARES – CHO/PM

DISCIPLINA
Direito Penal Militar

CONTEUDISTA
Arlindo Medina - Cel PM

REVISÃO DE COERÊNCIA DIDÁTICA


Francisco MATIAS Filho – ST PM
Jose Walter ANDRADE JUNIOR – CAD PM
Leandro Gomes PIRES – SD PM
MARCOS Aurélio Costa GOMES – IPC
VIRGINIA Magda Alexandre Munhoz – IPC

FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva – 3º Sgt PM

• 2016 •
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
Curso de Habilitação de Oficiais Policiais Militares – CHO/PM
DIREITO PENAL MILITAR

SUMÁRIO

1. FONTES DO DIREITO PENAL MILITAR .......................................................................................................................7


1) Materiais (de produção ou substanciais): ...........................................................................................................7
2) Formais (de conhecimento): ................................................................................................................................7
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL MILITAR..................................................................................................................7
2.1 Princípio da Legalidade (ou da Reserva Legal) ...................................................................................................7
2.2 Irretroatividade...................................................................................................................................................7
3. CRIME MILITAR .........................................................................................................................................................8
3.1 Sujeitos Ativos do Crime Militar .........................................................................................................................9
3.2 Elementos Constitutivos do Crime Militar........................................................................................................10
3.3 Elementos não Constitutivos do Crime Militar.................................................................................................11
3.4 Circunstâncias necessárias para a ocorrência do Crime Militar.......................................................................11
3.5 Circunstâncias previstas no CPM que não são considerados crimes militares ................................................14
3.6 Casos Especiais .................................................................................................................................................15
4. CRIME MILITAR PRÓPRIO E IMPRÓPRIO.................................................................................................................18
4.1 Crime Militar Próprio........................................................................................................................................18
4.2 Crime Militar Impróprio....................................................................................................................................19
4.3 O Crime Militar e a Transgressão Disciplinar....................................................................................................20
4.4 O Controle Jurisdicional da Sanção Disciplinar.................................................................................................21
5. PRINCIPAIS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ...............................................................................................21
5.1 Contra a Autoridade ou a Disciplina .................................................................................................................22
5.2 Contra o Serviço e o Dever Militar ...................................................................................................................32
5.3 Contra a Pessoa ................................................................................................................................................37
5.4 Contra o Patrimônio .........................................................................................................................................44
5.5 Contra a Saúde..................................................................................................................................................49
5.6 Contra a Administração Militar ........................................................................................................................51
5.7 Contra o Dever Funcional .................................................................................................................................58
5.8 Contra a Administração da Justiça Militar........................................................................................................61
6. PENAS .....................................................................................................................................................................61
6.1 Legitimidade .....................................................................................................................................................62
6.2 Espécies de Pena ..............................................................................................................................................62
O CPM divide as penas em: Penas Principais e Penas Acessórias. .........................................................................62
6.2.1 Penas Principais .............................................................................................................................................62
6.2.2 Penas Acessórias............................................................................................................................................65
7. ELEMENTOS ACIDENTAIS DO CRIME ......................................................................................................................67
7.1 Circunstâncias Atenuantes ...............................................................................................................................67
7.2 Circunstâncias Agravantes................................................................................................................................68
8. JUSTIÇA MILITAR.....................................................................................................................................................70
8.1 Justiça Militar Federal.......................................................................................................................................70
8.2 Justiça Militar Estadual .....................................................................................................................................71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:..................................................................................................................................73
FIGURAS:.....................................................................................................................................................................74
ANEXOS.......................................................................................................................................................................75

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1. FONTES DO DIREITO PENAL MILITAR


CÓDIGO PENAL MILITAR (CPM): Divide-se em
Há determinadas fontes que são instrumentos gerais, duas partes:
aplicam-se igualmente em todas as esferas. A primeira
- Parte Geral: Estabelece normas não
é a Constituição Federal, sendo a vigente nos dias incriminadoras, explicativas e permissivas
atuais a de 1998 (CF/1998). Em seguida, há os (Art. 1º ao 135); e
princípios gerais de direito, que são modelos
- Parte Especial: Estabelece as normas
doutrinários estabelecidos basicamente em
incriminadoras, descrevendo condutas
decorrência de exigências de ordem ética ou política. puníveis e cominando as respectivas sanções
(Art. 136 ao 354 - Crimes Militares em Tempo
Entretanto, em cada ramo especializado do direito de Paz; e 355 ao 408 - Crimes Militares em
existem outras fontes com sua bagagem jurídica Tempo de Guerra).
exclusiva. Na Justiça Penal Militar destacam-se a lei
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL MILITAR
penal substantiva, o Decreto-Lei nº 1.001, de 21/10/69,
que é o Código Penal Militar (CPM), e a lei penal O Direito Penal Militar (DPM) possui diversos princípios
adjetiva, o Decreto-Lei nº 1.002, de 21/10/69, que é o e regras semelhantes ao Direito Penal comum,
Código de Processo Penal Militar (CPPM). valendo-se o operador do Direito Castrense da
doutrina e jurisprudência desses institutos comuns.
Assim, existe um Direito Penal Militar (DPM), que é um Contudo, há inúmeras normas gerais e incriminadoras
ramo específico do Direito Penal, e um Direito que são diversas ou previstas exclusivamente no
Processual Penal Militar que, por sua vez, é um ramo Direito Penal Militar.
específico do Direito Processual Penal, que são os
instrumentos essenciais que o Poder Judiciário dispõe Dos mesmos princípios que regem o Direito Penal
para o controle da conduta penal do Militares das comum e aplicam-se ao Direito Penal Militar ressaltam-
Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e se:
das Forças Auxiliares (Policiais Militares e Corpos de
2.1 Princípio da Legalidade (ou da Reserva
Bombeiros Militares). Legal)
As fontes do DPM podem ser classificadas em Constitui a limitação básica do poder estatal,
materiais ou formais. consagrado de que não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal, com
1) Materiais (de produção ou substanciais): idêntica redação ao estabelecido no art. 5°, inciso
XXXIX1, da CF/1988, e no art. 1º do CPM2.
Referem-se ao órgão incumbido de sua elaboração.
Competência privativa da União (Art. 22, inciso I, da Somente a lei em sentido formal pode
CF/1988). taxativamente estabelecer o que é crime e cominar as
respectivas sanções (Reserva Legal).
2) Formais (de conhecimento):
2.2 Irretroatividade
As fontes formais são aquelas que se distinguem pelos
Ninguém pode ser punido por fato que a lei posterior
modos pelo qual se exteriorizam, dividindo-se em
deixa de considerar crime (abolitio criminis), cessando,
diretas ou indiretas.
em virtude dela, a própria vigência de sentença
a) Diretas (ou imediatas): A lei, no caso o CPM.

b) Indiretas (ou mediatas): Usos e costumes militares


1
(conduta reiterada, constante, notória e uniforme, na CF/1988 - Art. 5º, XXXIX: não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal.
convicção de ser obrigatória), jurisprudência (decisões
2
reiteradas dos tribunais), princípios gerais do direito e Art. 1º: Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal.
analogia
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condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de 2º lugar: Caso haja previsão, é preciso se verificar se
natureza civil. o fato criminoso enquadra-se em uma das hipóteses
dos arts. 9º e 10º, do CPM.
Assim, igualmente ao CPB, o art. 2°3 do CPM contempla
Ao sistematizar tais crimes, o CPM classifica os delitos
os princípios da anterioridade e da retroatividade da lei
em razão do bem jurídico protegido, e o faz em 08
mais benigna, não podendo a Lei Penal Militar, como
(oito) Títulos:
regra, ser aplicada aos fatos ocorridos antes de sua
vigência ou após sua revogação. Título I: Trata dos Crimes contra a Segurança Externa
do País (art. 136 a 148);
No entanto, a lei posterior que, de qualquer modo,
favorecer o agente aplica-se retroativamente, ainda Título II: Trata dos crimes contra a Autoridade ou
que já tenha sobrevindo sentença condenatória Disciplina Militar (art. 149 a 182);

irrecorrível (Retroatividade benigna - Art. 2º, § 1º, do Título III: Trata dos crimes contra o Serviço Militar e
CPM4). o Dever Militar (art. 183 a 204);

3. CRIME MILITAR Título IV: Trata dos Crimes contra a Pessoa (art. 205
a 239);
O crime é definido como toda a ação ou omissão,
típica, antijurídica e culpável, e o crime militar é aquele Título V: Trata dos Crimes contra o Patrimônio (art.
que está previsto na legislação penal militar. 240 a 267);

Em sendo assim, um fato é considerado crime militar Título VI: Trata dos Crimes contra a Incolumidade
Pública (art. 268 a 297);
quando corresponder a alguma conduta taxativamente
prevista no Código Penal Militar (CPM). Título VII: Trata dos Crimes contra a Administração
Militar (art. 298 a 339); e
Nos crimes militares haverá sempre uma lesão de um
bem ou interesse jurídico tutelado pelo ordenamento Título VIII: Trata dos Crimes contra a Administração
da Justiça Militar (art. 340 a 354).
penal militar. Os crimes militares visam à defesa de
tudo aquilo que consubstancia a razão de ser das Alguns tipos penais do Título I, do Capítulo
instituições militares, dessa forma, qualquer conduta concernentes à Violência contra Superior ou Militar de
que atente contra a ordem militar será uma infração Serviço, ao Desrespeito a Superior, à Insubordinação e
penal militar, seja o agente militar ou civil (Este último ao Abuso de Autoridade; e do Título III, quase todos
na esfera Federal). propriamente militares: da Insubmissão; da Deserção;
do Abandono de Posto e de outros Crimes em Serviço;
Para se verificar a existência de um crime militar é
do Exercício de Comércio, envolvem crimes de
necessária uma análise da sistematização dos crimes
ocorrência mais freqüente.
militares em tempo de paz:

1º lugar: É preciso encontrar a previsão do fato na PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL


parte especial do CPM. Se não houver previsão, o fato HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE LATROCÍNIO.
COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. CRIME DE LATROCÍNIO
não se configura crime militar.
PRATICADO POR POLICIAL MILITAR, DE FOLGA, DURANTE O
COMETIMENTO DE UM ROUBO A UMA AGÊNCIA BANCÁRIA,
CULMINANDO COM A MORTE DE UM POLICIAL MILITAR, EM SERVIÇO,
QUE FAZIA PATRULHAMENTO DO LOCAL. PRECEDENTES DO STJ. 1. O
3 simples fato de o agente do delito ser policial militar não atrai a
Art. 2°: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de competência da justiça castrense, pois, como restou evidenciado na
sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de instância ordinária, estava fora do serviço. Nesse particular, encontram-
natureza civil. se, portanto, ausentes os requisitos do art. 9.º, do Código Penal Militar.
2. A circunstância de ter o co-réu, policial militar, utilizado revólver de
4
Art. 2º, § 1º: A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o propriedade da corporação militar para matar a vítima e, assim,
agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo assegurar o sucesso do delito de roubo, tornou-se irrelevante em razão
sentença condenatória irrecorrível. da vigência da Lei n.º 9.299/96, que revogou o disposto no art. 9.º, inc.

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II, alínea f, do Código Penal Militar. 3. Embora a vítima do crime de 6.880/1980) para os Militares da União, e de modo
latrocínio tenha sido policial militar em serviço, não houve agressão às
semelhante, decorre do disposto no art. 7º9 do
funções ou interesses da instituição militar, pois ele estava no local,
para garantir a ordem pública, realizando patrulhamento ostensivo, Estatuto dos Militares Estaduais do Ceará (Lei nº
função tipicamente de policial civil. Nesse contexto, incide sobre a 13.729/2006) para os integrantes da PMCE e do
espécie o enunciado da Súmula n.º 297, do Supremo Tribunal Federal.
4. Ordem denegada. (STJ - HABEAS CORPUS: HC 59489 MG
CBMCE.
2006/0109528-2).
De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal
Militar (STM), por militar em situação de atividade
3.1 Sujeitos Ativos do Crime Militar compreende-se o militar da ativa, ainda que de licença,
O Crime Militar pode ter como sujeito ativo o militar de folga, à paisana ou em local não sujeito à
(estadual ou federal) e o civil. A figura do assemelhado administração militar.
expressa no CPM não mais existe. Vejamos a seguir
Considera-se, ainda, militar em situação de atividade,
seus conceitos:
para efeitos penais militares, por equiparação, o militar
Militar: O conceito de militar está previsto no art. 22 da reserva ou reformado que esteja trabalhando na
do CPM5, que, em síntese, diz ser qualquer pessoa que, Administração Militar (Art. 1210 do CPM).
em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às
Assemelhado: Seria aquele servidor, efetivo ou não,
Forças Armadas.
dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da
Os integrantes das Forças Auxiliares (policiais militares Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar,
e bombeiros militares) são incluídos nesse conceito, em virtude de lei ou regulamento (que inclusive, para
após uma interpretação sistêmica do art. 22 do CPM os efeitos da lei penal militar, recebia o mesmo
c/o art. 426 e 125, § 4º7, da CF/1988, que ampliou o tratamento de um militar da ativa), conforme a
conceito de militar. previsão do art. 2111 do CPM, reproduzido pelo art. 84
do CPPM.
O conceito de militar em situação de atividade decorre
do disposto no art. 6°8 do Estatuto dos Militares (Lei nº A questão do assemelhado veio da Constituição de
1934, que determinou foro especial para o servidor
5
Art. 22. É considerado militar, para efeito da aplicação deste
considerado assemelhado nos delitos militares,
Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja prolongando-se até a Constituição de 1969. Contudo,
incorporada às forças armadas, para nelas servir em posto, apesar de existirem servidores civis ligados a
graduação, ou sujeição à disciplina militar.
corporações militares, a figura do assemelhado não
6
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e
disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Defesa e nos demais órgãos quando previsto em lei, ou quando
Territórios. (Redação dada pela EC nº 18, de 1998). incorporados às Forças Armadas.

7 9
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os Art. 7º São equivalentes as expressões “na ativa”, “da ativa”, “em
princípios estabelecidos nesta Constituição. serviço ativo”, “em serviço na ativa”, “em serviço”, “em atividade” ou
“em atividade militar”, conferida aos militares estaduais no
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares desempenho de cargo, comissão, encargo, incumbência ou missão
dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações militar, serviço ou atividade militar ou considerada de natureza ou
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência interesse militar, nas respectivas Corporações Militares estaduais,
do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente bem como em outros órgãos do Estado, da União ou dos Municípios,
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da quando previsto em lei ou regulamento.
graduação das praças. (Redação dada pela EC nº 45, de 2004)
10
Art. 12. O militar da reserva ou reformado, empregado na
8
Art. 6° São equivalentes as expressões "na ativa", "da ativa", "em administração militar, equipara-se ao militar em situação de atividade,
serviço ativo", "em serviço na ativa", "em serviço", "em atividade" ou para o efeito da aplicação da lei penal militar.
"em atividade militar", conferidas aos militares no desempenho de
11
cargo, comissão, encargo, incumbência ou missão, serviço ou Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos
atividade militar ou considerada de natureza militar nas organizações Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetido a
militares das Forças Armadas, bem como na Presidência da preceito de disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento.
República, na Vice-Presidência da República, no Ministério da
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existe mais, pois o Decreto nº 23.203, de 18/06/4712, 3.2 Elementos Constitutivos do Crime Militar
excluiu o conceito de assemelhado da legislação Segundo a doutrina prevalente, os Elementos
militar, não estando mais os servidores sujeitos à Constitutivos do Crime Militar são: Ação; Tipicidade;
disciplina militar, mas recebendo o mesmo tratamento Antijuricidade; e Culpabilidade.
dispensado aos demais servidores civis da União e dos
Estados.
3.2.1 Ação:
Para que se configure o crime militar é necessário que
haja uma ação, que pode ser uma conduta positiva
(comissiva), ou uma conduta negativa (omissiva), que é
o não fazer, a inércia. É crime tanto o fato do sujeito
esfaquear uma pessoa até a morte (ação), como o fato
de uma mãe deixar um veneno de rato em cima da
mesa, por preguiça ou comodidade, que
posteriormente é ingerido por um filho menor,
provocando-lhe a morte, enquanto assistia televisão.

- Relevância da Omissão:
FIGURA 01 - Militares Estaduais.
A omissão é relevante desde que o sujeito que deixa de
O civil não responde na JME (Art. 125, § 4º13, da
CF/1988), que tem competência apenas julgar o agir, tinha obrigação e condição de agir para evitar o
militar estadual, entretanto ele pode responder
resultado. Então, se tivesse o dever de agir e de fato
na JMF, que tem competência ampla, podendo
processar e julgar os crimes militares definidos pudesse agir, estando presentes e inafastáveis a
em lei praticados por militar federal e civil (Art.
12414 da CF/1988).
obrigação de agir e a possibilidade real de fazê-lo, ao
ter se omitido poderá ser responsabilizado pelo
Civil: É a pessoa física civil (e não a jurídica), que não se resultado criminoso.
enquadra nas situações descritas como militar ou
assemelhado.
3.2.2 Tipicidade:
“O legislador ordinário só pode sujeitar civis à A tipicidade consiste na previsão legal da
Justiça Militar, em tempo de paz, nos crimes conduta criminosa (art. 9º, I, do CPM15), isto é, só pode
contra a segurança externa do país ou as
instituições militares”. (Súmula nº 298 do STF).
haver crime militar quando está previsto na legislação
penal militar.
Ex: Militares reunidos agindo contra ordem
recebida de superior constitui um crime militar, pois
está previsto no art. 149 do CPM (Crime de Motim).
12
Revogado pelo Decreto nº 79.985, de 19/06/77 - Regulamento
Disciplinar do Exército (R-4), que atualmente é regulado pelo Decreto
Já o fato de não prestar continência a superior
nº 4.346, de 26/08/02. não constitui crime militar, pois não há previsão legal
13
no CPM, sendo uma transgressão disciplinar.
Art. 125. (...). § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e
julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei
e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e
da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
15
Art. 9º: Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os
14
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso
militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o
organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. agente, salvo disposição especial.

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 A qualidade de superior ou a de inferior, a de


oficial do dia, de serviço ou de quarto, ou a de
sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada
em repulsa a agressão.
Ex: Se um Capitão esbofeteia um Major, está
praticando, em tese, o crime de “violência contra
superior” (Art. 157 do CPM), desde que, é claro, o
agressor saiba que a vítima é seu superior.
Pode ocorrer, no entanto, que ambos, em trajes civis, e
após breve discussão, o capitão termina por agredir
seu antagonista, desconhecendo a sua qualidade de
major, portanto de superior. À luz da evidência não
poderá responder pelo crime em tela (violência contra
FIGURA 02 - Continência Militar.
superior), mas pelo art. 209 do CPM, se resultar
3.2.3 Antijuricidade: agressão lesões corporais.
A antijuridicidade é tudo o que for contrário ao direito. Se, embora sabendo tratar-se de um superior, o
Existem situações de excludente de ilicitude, como por capitão tenha apenas reagido à agressão do major, nos
exemplo: Estado de Necessidade; Legítima defesa; limites da legítima defesa, nenhum crime terá
Estrito cumprimento do dever legal; e Exercício regular cometido, desde que não se exceda causando-lhe
do direito. lesões corporais.
3.2.4 Culpabilidade:
A culpabilidade é o elemento subjetivo do autor 3.4 Circunstâncias necessárias para a ocorrência
do crime. É aquilo que se passa na mente daquela do Crime Militar
pessoa que praticou um delito. Vários são os critérios para a ocorrência do crime
A culpabilidade, portanto, é a culpa em sentido amplo, militar:
que abrange o dolo (Art. 33, inciso I, do CPM16) e a
culpa em sentido estrito (Art. 33, inciso II, do CPM17).  “RATIONE PERSONAE” (Em razão da pessoa):
Leva em conta a condição de militares dos envolvidos
e dos deveres que lhe são inerentes.
3.3 Elementos não Constitutivos do Crime
Militar  RATIONE LOCI (Em razão do lugar do
Não são elementos constitutivos do crime (Art. 47 do cometimento do crime): Leva em consideração o lugar
em que o delito ocorreu (Se em lugar sujeito a
CPM18): Administração Militar);

 A qualidade de superior ou de subordinado,  RATIONE LEGIS (Em razão da lei): São crimes
quando não conhecida do agente; militares aqueles que a lei assim define.
 RATIONE MATERIAE (Em razão da matéria):
Exige que se verifique a dupla qualidade, no ato e no
agente.
16
Art. 33, inciso I: Doloso, quando o agente quis o resultado ou
assumiu o risco de produzi-lo.  RATIONE TEMPORIS (Em razão do tempo):
São crimes militares aqueles praticados em
17
Art. 33, II: Culposo, quando o agente, deixando de empregar a determinado tempo (tempo de paz ou tempo de
cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava guerra).
obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que
podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se Assim, a CF/1988, ao definir que compete a Justiça
realizaria ou que poderia evitá-lo. Militar processar e julgar os crimes militares definidos
18
Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime: I - a
qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhecida do
agente; II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de
dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão,
quando a ação é praticada em repulsa a agressão.

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em lei (Art. 125, § 4º19, da CF/1988), adotou o critério Ex: Um militar estadual da ativa que agride um
do ratione legis (Em razão da lei). colega de farda com um soco no olho dentro de um
quartel, deixando-lhe uma roncha no local agredido.
Não obstante, os demais critérios não foram Não obstante o entendimento tradicional e
abandonados pela visto que, além da ação ou omissão, predominante da doutrina de que no crime praticado
tipicidade, antijuricidade e culpabilidade, para a por militar da ativa contra militar da ativa, havendo
existência do crime militar, é necessário, ainda, a previsão no CPM, será sempre considerado crime
conjugação de uma das hipóteses previstas no art. 9º20 militar, independente de estar de serviço, do local e
do CPM: motivação do crime, existem decisões recentes do STF
em sentido contrário.
 Militar da ativa em serviço ou atuando em razão da
função, ainda que fora da administração militar, contra PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
militar da reserva, reformado, ou civil; 1. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. 2. HOMICÍDIO
QUALIFICADO PRATICADO POR MILITAR DA ATIVA CONTRA MILITAR DO
 Militar da ativa contra patrimônio sob CORPO DE BOMBEIROS DA ATIVA. DELITO PRATICADO FORA DO LUGAR
administração militar, ou a ordem administrativa; SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR E POR MOTIVOS PESSOAIS. 3.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. TRIBUNAL DO JÚRI. 4. RECURSO A
 Militar da reserva ou reformado, ou civil tenha
QUE SE NEGA PROVIMENTO. Negado provimento ao recurso ordinário,
praticado o crime contra as instituições militares,
nos termos do voto do Relator. Decisão unânime. Ausente,
patrimônio sob administração militar, ordem
justificadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello. 2ª Turma,
administrativa.
10.04.2012. Neste recurso ordinário em habeas corpus, reitera os
fundamentos submetidos a exame da Corte estadual e do Superior
Tribunal de Justiça, sustentando, em síntese, a incompetência da
 Vide ANEXO A - STJ decide que crimes da Justiça comum, por meio do tribunal do júri, para julgamento do delito
greve da PM serão processados nas Justiças de homicídio praticado por policial militar contra bombeiro militar,
Militar Estadual e Federal. ainda que cometido por razões estranhas ao serviço. Na espécie, não
obstante a condição de militar da ativa tanto do recorrente quanto da
vítima, verifico que o delito foi praticado em uma universidade,
portanto fora de lugar sujeito à administração militar. Além disso,
3.4.1 Militar da ativa contra militar da ativa: segundo consta da denúncia, a motivação do crime (cobrança de dívida
particular) não estaria relacionada com as atividades militares, não
Art. 9º (...) vislumbrando qualquer agressão aos bens jurídicos tipicamente
associados à função castrense. Desse modo, não há como acolher o
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam pleito da defesa para que seja determinada a incompetência da Justiça
com igual definição na lei penal comum, quando praticados: comum, porquanto a competência do Tribunal do Júri para o
julgamento dos crimes contra a vida prevalece sobre a da Justiça Militar
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em se tratando de fato circunscrito ao âmbito privado, sem nexo
contra militar na mesma situação ou assemelhado; relevante com as atividades castrenses. (HC 103812, Min. Cármen
Lúcia, redator p/acórdão: Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em
29/11/2011, DJ 17.2.2012)

Para a caracterização do crime militar quando o


fato se der entre 02 (dois) militares da ativa (Art. 9º,
3.4.2 Militar da ativa em lugar sujeito a administração
inciso II, alínea “a”, do CPM), também se faz necessário
militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou
que o fato esteja previsto na Lei Penal Militar e que
civil:
não tenha ocorrido nenhuma circunstância excludente
de ilicitude. Art. 9º (...)

II - (...)

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em


19
Art. 125, § 4º: Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva,
os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e
da graduação das praças.
Para a caracterização do Crime Militar na
20
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: conformidade dessa alínea (Art. 9º, II, alínea “b”, do
CPM), se prevê como sujeito passivo qualquer pessoa
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que não seja militar da ativa, e é necessário que o fato Segundo a jurisprudência, não é exigido o
esteja previsto na Lei Penal Militar, que não tenha exercício de função militar por parte dos militares
ocorrido nenhuma excludente de ilicitude e que o fato estaduais, mas tão somente que estejam em serviço,
tenha ocorrido em lugar sujeito a administração inclusive o de policiamento ostensivo e de trânsito,
militar. para a configuração do Crime Militar.
LOBÃO (1999) conceitua o lugar sujeito à No caso do militar estadual que está de serviço e
administração militar como aquele “que pertence ao deixa o seu posto sem ordem ou autorização incide na
patrimônio das Forças Armadas, da Polícia Militar ou infração penal militar de abandono de posto.
do Corpo de Bombeiros Militares ou encontra-se sob a Entretanto, caso ele venha a cometer um crime após o
administração dessas instituições militares, por abandono do posto, não será considerado como
disposição legal ou ordem igualmente legal de “estando de serviço”, razão pela qual o crime será
autoridade competente”. Acrescenta que o local pode comum, ressalvada a hipótese de configurar outro
ser imóvel ou móvel, como veículo, embarcação, crime militar que não exija como circunstância
aeronave, etc. configuradora o “estar de serviço”.
Vale salientar que a residência do militar não é
Ex: Um militar estadual da ativa, que em serviço
considerada local sob a administração militar, mesmo
cause lesão corporal contra um militar da reserva.
que se encontre em áreas militares, como é o caso das
vilas residenciais, muito comum nas Forças Armadas. “Compete à Justiça Comum Estadual processar e
julgar o delito decorrente de acidente de trânsito
Ex: Um militar estadual no seu quartel de envolvendo viatura da Polícia Militar, salvo se
origem resolve agredir um civil que foi pedir autor e vítima forem policiais militares em
informações sobre o policiamento na sua comunidade, situação de atividade”. (Súmula nº 06 do STJ).

causando-lhe lesão corporal.

3.4.4 Militar da ativa contra patrimônio sob


3.4.3 Militar da ativa em serviço ou atuando em razão administração militar, ou a ordem administrativa:
da função, ainda que fora da administração militar,
Art. 9º (...)
contra militar da reserva, reformado, ou civil:
II - (...)
Art. 9º (...)
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado,
II - (...)
contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em administrativa militar;
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora
do lugar sujeito à administração militar contra militar da
reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº Para a caracterização do Crime Militar na
9.299, de 08/08/96) conformidade dessa alínea (Art. 9º, II, alínea “e”, do
CPM), temos como sujeito ativo o militar da ativa e
d) por militar durante o período de manobras ou exercício,
como sujeito passivo a Administração Militar, sendo
contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
civil;
necessário que o fato esteja previsto na Lei Penal
Militar, que não tenha ocorrido nenhuma excludente
de ilicitude.
Resta conceituar o patrimônio sob a
O fato delitivo que ocorrer quando o militar administração militar e a ordem administrativa militar
estiver de serviço ou atuando em razão da função, seja para melhor compreensão dessa hipótese.
policial ou bomberística, hipótese muito comum nas Os autores NEVES e STREIFINGER (2005)
forças auxiliares, em razão dos deveres legais, ocorrerá lecionam que o patrimônio sob a Administração Militar
Crime Militar (Art. 9º, II, alínea “c” e “d”, do CPM). abrange, além dos bens pertencentes à Força Militar,
Exemplifica ASSIS (2005) a atuação em razão do os de propriedade de pessoas naturais e jurídicas que,
dever jurídico de agir, quando um policial militar, à por alguma razão, encontram-se sob responsabilidade
paisana, de folga e com armamento particular, comete da Administração Militar. Acrescentam que não fazem
fato delituoso por ter se colocado em serviço, parte do patrimônio sob a administração militar os
intervindo numa situação de flagrância. bens de entidades civis, ainda que compostas por

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militares, como, por exemplo, clubes, associações, PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL


cooperativas, etc.
A ordem administrativa militar, de acordo com a POLICIAL MILITAR DA RESERVA. DENÚNCIA. REJEIÇÃO. COMPETÊNCIA.
doutrina e jurisprudência dominantes, trata da RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PROVIMENTO. 1. É competente a
Justiça Militar Estadual para processar e julgar policial militar da
organização, existência e finalidade das instituições
reserva, quando pratica crime previsto no Código Penal Militar, contra
militares, assim como o seu prestígio moral. policiais militares do serviço ativo, no exercício do policiamento
Ex: Um policial militar que se apropria para uso ostensivo e na preservação da ordem pública (arts. 9º, inc. III, letra “d”,
e 13, ambos do CPM). 2. Recurso em sentido estrito do Ministério
próprio de um revólver 38 carga da PMCE, entregue a Público provido. Decisão unânime. (Recurso em sentido estrito -
ele para tirar policiamento ostensivo. Acórdão nº 1367-2012 Juiz Relator: Antonio Carlos Maciel Rodrigues -
TJM/RS, julgado em 04/07/12)

3.4.5 Militar da reserva ou reformado, ou civil tenha


praticado o crime contra as instituições militares, 3.5 Circunstâncias previstas no CPM que não
patrimônio sob administração militar, ordem são considerados crimes militares
administrativa: Existem ainda algumas circunstâncias previstas no art.
9º do CPM que não são considerados crimes militares:
Art. 9º (...)
 Crimes Dolosos contra a Vida praticados contra Civil;
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado,
 Crime de Fuga de Preso em Estabelecimento Penal da
ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se
Justiça Comum;
como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do
inciso II, nos seguintes casos:  Crimes de Abuso de Autoridade e de Aborto.

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a


3.5.1 Crimes Dolosos contra a Vida praticados contra
ordem administrativa militar;
Civil:
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em
Art. 9º (...)
situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário
de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando
função inerente ao seu cargo; dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da
competência da justiça comum, salvo quando praticados no
c) contra militar em formatura, ou durante o período de
contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei
prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício,
no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
acampamento, acantonamento ou manobras;
Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011)
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar,
contra militar em função de natureza militar, ou no
desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação
da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando
Após a edição da Lei nº 9.299, de 07/08/96, (que
legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a incluiu o parágrafo único no art. 9º, do CPM, e alterou
determinação legal superior. o Art. 82 do CPPM21) os crimes dolosos contra a vida de
um civil (Homicídio - Art. 205; e Genocídio - Art. 208 do
CPM), quer o militar esteja de serviço ou não; quer o
O militar da inatividade (Reserva ou Reforma) utilize ou não armamento da Corporação Militar, são
também pode ser sujeito ativo do Crime Militar (Art. processados e julgados pelo Tribunal do Juri.
9º, inciso III, do CPM).
Ex: Um soldado da reserva foi acusado da Interessante ressaltar, que a própria Lei nº 9.299/1996
prática dos crimes de desobediência e desacato contra prevê que o fato continuará sendo apurado por
um cabo do serviço ativo da polícia militar.
21
Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos
contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos em tempo de
paz. § 2º. Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a
Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à
justiça comum.

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inquérito policial militar (IPM) e posteriormente


“Compete à Justiça Comum Estadual processar e
encaminhado à justiça comum, pela justiça militar. Por julgar o policial militar por crime de promover ou
conseguinte, o crime não deixou de ser militar, já que facilitar a fuga de preso de Estabelecimento
Penal”. (Súmula nº 75 do STJ).
investigado por IPM.

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
Crimes dolosos contra a vida. Inquérito. Julgada medida cautelar em 3.5.3 Crimes de Abuso de Autoridade e de Aborto:
ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Associação dos
Delegados de Polícia do Brasil - ADEPOL, contra a Lei 9.299/96 que, ao O Crime de Abuso de Autoridade e o Crime de Aborto
dar nova redação ao art. 82 do Código de Processo Penal Militar
determina que “nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra são crimes previstos apenas na lei penal comum, sem
civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito à Justiça previsão legal no CPM e, assim, de competência da
comum.” Afastando a tese da autora de que a apuração dos referidos
crimes deveria ser feita em inquérito policial civil e não em inquérito Justiça Comum.
policial militar, o Tribunal, por maioria, indeferiu a liminar por ausência
de relevância na argüição de ofensa ao inciso IV, do §1º ao §4º do art.
144, da CF, que atribuem às polícias federal e civil o exercício das “Compete a Justiça Comum processar e julgar
funções de polícia judiciária e a apuração das infrações penais, exceto militar por crime de abuso de autoridade, ainda
as militares. Considerou-se que o dispositivo impugnado não impede a que praticado em serviço”. (Súmula nº 172 do
instauração paralela de inquérito pela polícia civil. Vencidos os STJ).
Ministros Celso de Mello, Relator, Maurício Corrêa, Ilmar Galvão e
Sepúlveda Pertence. (STF - Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.494-
DF-Rel. p/o acórdão Min. Marco Aurélio, DJU, 20.04.97).
3.6 Casos Especiais

3.5.2 Crime de Fuga de Preso em Estabelecimento A caracterização do Crime Militar não é tarefa fácil,
Penal da Justiça Comum: pois a subsunção do fato concreto ao delito castrense,
por se tratar de norma penal de tipicidade indireta,
Compete ainda, à Justiça Comum processar e julgar
exige a presença de vários requisitos ligados à
crimes de facilitação de fuga de preso praticado por
adequação típica na Parte Especial e Parte Geral do
policiais militares em estabelecimento penal da Justiça
CPM.
Comum, conforme a jurisprudência predominante e a
Súmula nº 75 do STJ. Neste tópico trataremos de alguns assuntos especiais,
que cada vez mais vêm se verificando no âmbito militar
estadual.
3.6.1 O Advogado Militar:
Apesar da CF/1988 prescrever, em seu art. 13322, que o
advogado é indispensável à administração da justiça, o
STF editou a Súmula Vinculante nº 05, que diz que “a
falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição”.

“A falta de defesa técnica por advogado no


processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição”. (Súmula Vinculante nº 05 do STF).

FIGURA 03 - Rebelião em presídio no Ceará.


Por sua vez, a Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Ordem dos
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
Advogados do Brasil - OAB), estabelece em seu art. 7º,
COMPETÊNCIA. FUGA DE PRESOS. GUARDA E VIGILÂNCIA DE POLICIAIS
MILITARES. DETENTOS QUE SE ENCONTRAVAM À DISPOSIÇÃO DA
JUSTIÇA COMUM, E NÃO DA MILITAR. COMPETÊNCIA REPELIDA.
IMPROVIMENTO. O crime de fuga de presos atribuído a policiais
militares, encarregados de sua guarda e custódia, é da competência da 22
justiça comum, uma vez que não se enquadra em nenhuma Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça,
modalidades do CPM, art. 9º, e incisos. (TJMS, Confl. de Comp. 67/87, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da
MS, Rel: Des. Rui Garcia Dias, Fonte) profissão, nos limites da lei.

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§§ 2º e 3º23, que não constitui injúria ou difamação emprego de linguagem correta e educada (art. 4425 e
punível qualquer manifestação de sua parte, no 4526).
exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem
prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB pelos O militar do serviço ativo é incompatível com o
excessos que cometer, permitindo a sua prisão em exercício da advocacia (Art. 28, inciso VI27, do Estatuto
flagrante, por motivo do exercício da profissão, apenas da OAB). Assim, se o desejar, só poderá exercê-lo na
nos casos de crimes inafiançáveis. inatividade (reserva ou reforma).

O Código de Ética e Disciplina da OAB, por sua vez, em Analisando-se as disposições legais, doutrinárias e
seu art. 2º, parágrafo único24, elenca como deveres do jurisprudenciais, chega-se a conclusão que o advogado
advogado, entre outros, a atuação com destemor, militar e o advogado civil estão sujeitos ao
independência, honestidade, decoro e veracidade, de cometimento de crime militar, mesmo no exercício da
forma a contribuir com o aprimoramento das profissão, logicamente desde que se excedam nas
Instituições, do Direito e das leis. Aponta, igualmente, prerrogativas advocatícias, e sujeitam-se a serem
que em suas relações profissionais deve preponderar o processados e julgados pela JMF. Já no âmbito
respeito, a discrição e a independência, impondo-lhe estadual, apenas o advogado militar pode responder
atuar com simplicidade, sem ser pretensioso, e perante à JME, devendo o advogado civil ser
processado e julgado na Justiça Estadual Comum.

3.6.2 O Parlamentar Militar:


Os membros do Congresso Nacional gozam de
imunidades, a fim de que possam exercer com a
23
Art. 7º São direitos do advogado: (...) § 2º O advogado tem
necessária independência as atividades para as quais
imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou
desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício foram eleitos, assim, são invioláveis, civil e penalmente
de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções (Art. 5328 da CF/1988), por quaisquer de suas opiniões,
disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer. (Vide
ADIN 1.127-8) § 3º O advogado somente poderá ser preso em palavras e votos, sujeitando-se, desde a expedição do
flagrante, por motivo de exercício da profissão, em caso de crime diploma, a julgamento perante o STF e prisão em
inafiançável, observado o disposto no inciso IV deste artigo.
flagrante apenas nos casos de crime inafiançável. De
24
Art. 2º (...). Parágrafo único. São deveres do advogado: I - forma semelhante, também gozam dessas mesmas
preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da imunidades os Deputados Estaduais (Art. 27, § 1º29, da
profissão, zelando pelo seu caráter de essencialidade e
indispensabilidade; II - atuar com destemor, independência, CF/1988). Já os Vereadores, gozam apenas de
honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé; III -
velar por sua reputação pessoal e profissional; IV - empenhar-se, 25
Art. 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as
permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal e profissional; V
autoridades e os funcionários do Juízo com respeito, discrição e
- contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das
leis; VI - estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, independência, exigindo igual tratamento e zelando pelas
sempre que possível, a instauração de litígios; VII - aconselhar o prerrogativas a que tem direito.
cliente a não ingressar em aventura judicial; VIII - abster-se de: a) 26
utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente; b) Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem
patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à escorreita e polida, esmero e disciplina na execução dos serviços.
advocacia, em que também atue; c) vincular o seu nome a
27
empreendimentos de cunho manifestamente duvidoso; d) emprestar Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria,
concurso aos que atentem contra a ética, a moral, a honestidade e a com as seguintes atividades: VI - militares de qualquer natureza, na
dignidade da pessoa humana; e) entender-se diretamente com a ativa;
parte adversa que tenha patrono constituído, sem o assentimento
deste. IX - pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela 28
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e
efetivação dos seus direitos individuais, coletivos e difusos, no âmbito penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
da comunidade. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)

29
Art. 27. (...). § 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados
Estaduais, aplicando-sê-lhes as regras desta Constituição sobre
sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de
mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

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inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no irreparáveis à regularidade da família. Além dos crimes
exercício do mandato e na circunscrição do Município. militares, estaria também sujeito às transgressões
(Art. 29, inciso VIII30, da CF/1988). disciplinares, que são bem rígidas, pois também visam
à regularidade militar. Como exemplo, um homem,
Os autores NEVES e STREIFINGER (2005) concluem ser Soldado PM/BM, casado com uma mulher, Capitã
perfeitamente possível o cometimento de crime militar PM/BM, teria que tratá-la sempre como sua superior,
por militares detentores de cargos eletivos, desde que
mesmo na intimidade do casal, pois caso contrário
observada a incidência ou não das imunidades
poderia responder disciplinarmente ou criminalmente.
parlamentares.
Segundo FREUA (2014), o CPM não pode invadir a
3.6.3 Casal de Militares: intimidade do casal de militares a pretexto de garantir
A edição da Lei nº 11.340/06, denominada de Maria da a regularidade das Corporações Militares, pois estaria
Penha, trouxe ao ordenamento jurídico, ultrapassando os limites impostos pela CF/1988,
acertadamente, uma série de mecanismos destinados violando direitos fundamentais à intimidade e à vida
a coibir a violência doméstica e familiar contra a privada (Artigo 5º, inciso X31, da CF/1988), bem como o
mulher. Todavia, a questão do cometimento de lesão direito de formar uma família com a especial proteção
corporal, em decorrência de desavença entre um casal do Estado (Art. 22632 da CF/1988).
de militares, ainda é um tema delicado e não está
pacificado no Direito. Nesse mesmo sentido, LOBÃO (1999) esclarece a
hipótese definindo que se a ocorrência diz respeito à
Com o acesso das mulheres aos quadros das vida em comum, permanecendo nos limites da relação
Instituições Militares, tornou-se comum o casamento conjugal ou de companheiros, sem reflexos na
entre militares e, daí decorrente, a questão de disciplina e na hierarquia militar; permanecerá no
agressões entre os conviventes e subsunção dos âmbito da jurisdição comum.
eventuais delitos ao CPM.
Por outro lado, alguns juristas entendem que o crime
Apesar de, em principio, o cerne da questão estar em nessas circunstâncias deve ser de competência da
responder a seguinte questão: Caso uma mulher, Justiça Militar, pois assim determina a legislação penal
militar e superior hierárquico, sofra agressão do seu militar (Art. 9º, inciso II, alínea “a”, do CPM).
marido, também militar hierarquicamente inferior,
essa conduta seria um crime militar ou um crime O CPM, ainda que proteja outros bens, sempre
comum? O desdobramento da questão vai além, protegerá direta ou indiretamente a disciplina e a
havendo mesmo um embate na doutrina e hierarquia, ou seja, visa proteger a regularidade das
jurisprudência entre a regularidade da instituição forças militares. Nesse sentido, interessante lembrar as
militar e a regularidade da instituição familiar. palavras do ilustre mestre ASSIS (2002): “Vale trazer a
lume, que a vida militar é repleta de situações
Alguns doutrinadores questionam a intromissão do peculiares. À Justiça Militar cabe não só o processar e
Estado na relação familiar como sendo indevida, pois julgar os crimes militares, mas também velar pela
aquele fato havido no asilo inviolável do lar tratar-se-ia integridade das instituições militares, cujas vigas
de crime comum. Assim, caso o CPM passe a ser mestras são a disciplina e a hierarquia”.
aplicado na resolução dos problemas da intimidade e
da vida privada do militar, sem nenhuma relação com a
regularidade militar, pode-se acarretar prejuízos 31
Art. 5º (...). X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
30
Art. 29. (...). VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas dano material ou moral decorrente de sua violação;
opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na
32
circunscrição do Município; (Renumerado do inciso VI, pela Emenda Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Constitucional nº 1, de 1992). Estado.

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Entretanto, fora da intimidade doméstica, caso a CRIME MILITAR


conduta delitiva do militar em relação ao seu cônjuge, PRÓPRIO IMPRÓPRIO
também militar, ocorra em local público e estando
Essencialmente militar Acidentalmente militar
ambos fardados, ou venha a ocorrer no interior da OM,
Previsto igualmente no
parece evidente que a competência seja da Justiça Previsto somente no CPM
CPM e no CPB
Militar, em virtude da prevalência da função pública Só pode ser praticado por
Pode ser praticado por militar
(ativo e inativo) ou civil (na
exercida pelos militares no momento do fato. militar da ativa
esfera federal)

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
Crime praticado por militar em residência localizada em prédio sob 4.1 Crime Militar Próprio
administração Militar. I- Incompetência da Justiça Militar. Local sujeito a Os crimes propriamente militares, também conhecidos
administração militar não inclui o interior do apartamento onde reside
o militar com sua família, em face do preceito constitucional que como essencialmente militares, são aqueles definidos
assegura a inviolabilidade do lar - art. quinto, XV da Constituição. II-
Desavenças conjugais terminando em agressões físicas do marido
de modo diverso na Lei Penal comum (Art. 9º, inciso
(Oficial) a esposa não descaracterizam o lar como bem particularmente I34, do CPM).
tutelado pela Constituição Federal. III- Conflito negativo de
competência entre Tribunal Superior e Juiz Federal. Remessa dos autos Ex: A Covardia, o Motim, a Revolta, a Violência contra
ao Excelso Pretório em razão do art. 27 parágrafo primeiro das
Disposições Transitórias da Constituição Federal em vigor, combinado Superior e o Desrespeito a Superior.
com o art. 119, inciso I letra 'e', da Carta de 1967. IV- Decisão unânime.
(RC 1989.01.005859-7-STM.). Não existe previsão de tais fatos no CPB ou em
qualquer outra lei de caráter penal, pois só podem, em
4. CRIME MILITAR PRÓPRIO E IMPRÓPRIO principio, ser praticados por militares. Todavia na
esfera federal o civil pode ser o sujeito ativo de crime
A CF/1988, em seu art. 5°, inc. LXI33 referiu-se apenas a
militar.
uma espécie de crime militar, o crime propriamente
militar, dando-lhe efeitos relevantes (como a dispensa CPM CPB
de ordem escrita e fundamentada para a prisão de Motim
seus autores).
Art. 149. Reunirem-se militares ou
Segundo os ensinamentos de LOBÃO (1999), em seu assemelhados: I - agindo contra a ordem
recebida de superior, ou negando-se a cumpri-
festejado livro Direito Penal Militar:
la; II - recusando obediência a superior, quando
“Crime Militar é a infração penal prevista na estejam agindo sem ordem ou praticando
lei penal militar que lesiona bens ou violência; III - assentindo em recusa conjunta de
interesses vinculados à destinação obediência, ou em resistência ou violência, em Não há tipo
constitucional das instituições militares, às
comum, contra superior; IV - ocupando quartel, penal igual.
suas atribuições legais, ao seu
funcionamento, à sua própria existência, no
fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento
aspecto particular da disciplina, da militar, ou dependência de qualquer dêles,
hierarquia, da proteção à autoridade militar hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou
e ao serviço militar”. viatura militar, ou utilizando-se de qualquer
daqueles locais ou meios de transporte, para
Então como não existe uma definição legal do que
ação militar, ou prática de violência, em
venha a ser crime propriamente militar, a doutrina se desobediência a ordem superior ou em
incumbiu de defini-la, dividindo o Crime Militar em detrimento da ordem ou da disciplina militar:
Próprio e Impróprio.
Violência contra superior
Não há tipo
penal igual.
Art. 157. Praticar violência contra superior:

33 34
Art. 5º (...); LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o
propriamente militar, definidos em lei; agente, salvo disposição especial;

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Desrespeito a superior Art. 305. Exigir, para si ou Art. 316. Exigir, para si ou para
Não há tipo para outrem, direta ou outrem, direta ou
Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro penal igual. indiretamente, ainda que fora indiretamente, ainda que fora
militar: da função ou antes de assumi- da função ou antes de assumi-
la, mas em razão dela, la, mas em razão dela,
vantagem indevida vantagem indevida
4.2 Crime Militar Impróprio
A doutrina conceitua o crime impropriamente militar, Para se identificar o Crime Impropriamente Militar
também chamado de acidentalmente militar, como deve-se analisar o preceito secundário do tipo penal,
sendo um crime comum em sua natureza, cuja prática ou seja, o enquadramento da conduta em uma das
é possível a qualquer cidadão (civil ou militar), mas hipóteses do art. 9º, inciso II36 ou III, do CPM.
que, pela condição militar do culpado, ou pela espécie
militar do fato, ou pela natureza militar do lugar, ou, O crime impropriamente militar pode ser cometido por
finalmente, pela anormalidade do tempo em que é militar da reserva ou reformado, desde que sua
praticado, acarreta dano à segurança ou à economia, conduta se enquadre em uma das hipóteses previstas
ao serviço ou à disciplina das instituições militares, e no art. 9º, inciso III37, do CPM.
estão previstos no art. 9º, inciso II35, do CPM.
Segundo ASSIS (2002), os crimes militares em razão do
Pode-se dizer que o crime impropriamente militar é a
dever jurídico de agir, embora não elencados
conduta delituosa que está definida tanto no CPM
expressamente nas alíneas do art. 9° do CPM,
como no CPB e leis esparsas, necessitando que lhe seja
representam uma espécie de crime militar. Trata-se de
agregada uma nova circunstância, para que passe a
situações em que o militar estadual, à paisana ou de
constituir-lhe o elemento como do tipo penal militar.
folga, e mesmo com armamento particular, vem a
Ex: Homicídio simples (Art. 205 do CPM e 121 do CPB),
36
Lesão Corporal (Art. 209 do CPM e 129 do CPB), Furto Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II - os
(Art. 240 do CPM e 155 do CPB) e concussão (Art. 305 crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual
definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em
do CPM e 316 do CPB).
situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
CPM CPB situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou
Art. 205. Matar alguém Art. 121. Matar alguém assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar
da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em
serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
Art. 209. Ofender a
Art. 129. Ofender a integridade militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à
integridade corporal ou a administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
corporal ou a saúde de outrem
saúde de outrem (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 08/08/96) d) por militar durante
o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou
Art. 240. Subtrair, para si ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de
Art. 155. Subtrair, para si ou atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração
para outrem, coisa alheia
para outrem, coisa alheia móvel militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada. (Vide Lei nº
móvel
9.299, de 08/08/96)

37
Art. 9º (...): III - os crimes praticados por militar da reserva, ou
reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-
35
Art. 9º (...): II - os crimes previstos neste Código, embora também se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso
o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar
na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério Militar ou da
contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c)
por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,
de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito a vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento,
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da
militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente
patrimônio sob a administração, ou a ordem administrativa militar; f) requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal
(Revogado pela Lei 9.299/96); superior.

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cometer fato delituoso diante de ocorrência policial ou Art. 12. Transgressão disciplinar é a infração
bombeirística em que se colocou em serviço. administrativa caracterizada pela violação dos deveres
militares, cominando ao infrator as sanções previstas neste
A expressão “atuando em razão da função”, Código, sem prejuízo das responsabilidades penal e civil.
acrescentada pela Lei nº 9.299/1996, na alínea “c” do
§ 1º As transgressões disciplinares compreendem:
art. 9º do CPM, serviu para dar mais relevância jurídica
a ação do militar estadual, mesmo de folga, diante de I - todas as ações ou omissões contrárias à disciplina
uma situação de risco da Segurança Pública, em militar, especificadas no artigo seguinte, inclusive os crimes
previstos nos Códigos Penal ou Penal Militar;
consonância com o dever de agir.
II - todas as ações ou omissões não especificadas no
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL artigo seguinte, mas que também violem os valores e deveres
Se o Policial Militar que interfere em ocorrência policial cumprindo
militares.
normas e deveres profissionais, se envolver em circunstância delituosa,
esta é considerada de natureza militar, ainda que o miliciano esteja de
folga, em trajes civis e faça uso de arma própria (STF-HC 6.558-3-MG-RT
578/418)
Pela leitura do artigo percebe-se que no regramento
A novidade no dispositivo é que se o militar estadual disciplinar do Ceará o conceito de transgressão
ativo estiver de folga, mas passe a atuar em razão da disciplinar foi ampliado de tal forma que também
função, pode responder perante o foro castrense, caso passou a compreender os crimes capitulados no CPM e
venha a praticar algum ilícito. CPB. Assim, uma mesma conduta violadora poderá
configurar simultaneamente um crime e uma
O policial militar, mesmo de folga, é obrigado a atuar,
transgressão disciplinar. Como também, obviamente,
sob o ponto de vista legal, em qualquer lugar que
em alguns casos, conduta poderá configurar apenas
estiver, a fim de prevenir ou reprimir a prática de
um crime ou apenas uma infração administrativa.
delito e, desde que já não haja aparato estatal
suficiente em ação. A intervenção policial é dever, Conforme ensina o mestre ASSIS (2005), o crime militar
constituindo ato de serviço, e a omissão é crime. é toda violação acentuada ao dever militar e aos
Portanto, uma conduta ilícita praticada em tais valores das instituições militares, e se distingue da
circunstâncias deve ser considerada crime militar. transgressão disciplinar, porque apesar de serem a
Por óbvio, esse mesmo entendimento também é mesma violação, esta última é sua manifestação
aplicável ao bombeiro militar nas circunstâncias de elementar e simples. Portanto, concluiu o referido
incêndio, busca e salvamento. autor que a diferença entre crime militar e
transgressão disciplinar reside apenas da intensidade
4.3 O Crime Militar e a Transgressão Disciplinar da referida violação das obrigações e deveres.
A compreensão da diferença entre o crime militar e a
transgressão disciplinar é extremamente importante Neste diapasão, NEVES e STREIFINGER (2005)
ao militar, no exercício do poder de polícia judiciária discorrem sobre a intervenção administrativa e penal,
militar ou no exercício do poder disciplinar, no afirmando que o Direito Administrativo Disciplinar
enquadramento de determinado fato, pois a sanção da Militar é suficiente para resolver boa parte das
Administração Pública difere do poder punitivo Justiça condutas indisciplinadas. Entretanto, nos casos em que
Penal Militar. seja necessária uma intervenção mais rígida, tendo
havido a turbação de um bem jurídico-penal, deve
A transgressão disciplinar é definida nos mais diversos desencadear-se a persecução criminal militar.
regulamentos disciplinares das Forças Armadas e
Auxiliares, sendo que a Lei nº 13.407/2003 Ex: O Abandono de Posto de Serviço. Na hipótese do
(CDPM/BM), em seu art. 12, define a transgressão militar ter se ausentado, contudo ter mantido o tempo
disciplinar para os militares estaduais do Ceará. todo vigilância visual sobre o local que deveria
permanecer, não houve lesão ao bem jurídico imediato

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tutelado, a segurança da OPM/OBM, devendo direito contra lesão iminente ou que recomponha o
prevalecer nesse caso apenas o enquadramento comno direito efetivamente lesado. Sua limitação é apenas
transgressão disciplinar. quanto ao objeto do controle, que há de ser
unicamente a legalidade, sendo-lhe vedado
Daí, a importância da apreciação do caso concreto pelo
pronunciar-se sobre conveniência, oportunidade ou
Oficial PM/BM para avaliar o grau de violação do bem
eficiência do ato em exame, ou seja, sobre o mérito
jurídico tutelado, a intensidade da lesão provocada, e a
administrativo, segundo parte da doutrina nacional.
partir daí definir se o fato constitui um crime ou uma
transgressão disciplinar, visto que ambos resultam em Entretanto, caso falte à punição disciplinar
violação de um dever. razoabilidade ou haja desproporcionalidade, o Poder
Judiciário poderá anulá-la, sem que necessariamente
O regramento penal militar não enquadra as
isso signifique uma invasão do mérito administrativo.
transgressões disciplinares (Art. 1938 do CPM). Todavia,
Isso só poderá ocorrer em situações em que a decisão
o CDPM/BM do Ceará consubstancia as condutas
tomada pela autoridade militar se mostre de plano
delitivas também como transgressões disciplinares.
incabível ao caso concreto, por ser evidente a sua
Ainda, vale frisar que em razão da independência da inadequação àquela situação de fato.
esfera administrativa da penal, conforme a previsão do
A competência para as ações judiciais contra atos
art. 2º39 da CF/1988, se um fato criminoso está em
disciplinares militares foi atribuída à JME, pela EC nº
apuração ou foi apurado, estando em fase de
45/2004, sendo que a JMF, aguarda a PEC nº 358/2005,
persecução criminal ou julgamento judicial, ou seja,
que está tramitando no Congresso Nacional, e
sem haver trânsito em julgado, a Administração poderá
pretende ampliar atribuir competência similar à JMF,
apreciar o aspecto disciplinar do referido fato
para conhecimento das ações para impugnação de
independente da decisão judicial, no caso de entender
punições disciplinares dos militares federais.
pela existência de elementos suficientes que permitam
a avaliação administrativa.
5. PRINCIPAIS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ
4.4 O Controle Jurisdicional da Sanção
Os crimes militares em razão do tempo (ratione
Disciplinar
temporis) dividem-se em crimes militares em tempo de
Parte da doutrina entende que quando o Poder paz e crimes militares em tempo de Guerra.
Judiciário examinar uma punição administrativa, que
nada mais é do que um ato administrativo punitivo, Por questões óbvias, neste curso só estudaremos os
sua atuação deverá estar adstrita à legalidade do ato crimes militares em tempo de paz de maior relevância
disciplinar, excluindo-se da apreciação o denominado para a atividade constitucional das Forças Militares
mérito administrativo. Estaduais.

De acordo o Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, O CPM classifica os delitos em razão do bem jurídico
com fundamento na própria CF/1988, em seu art. 5º, protegido, sendo que nesse curso os crimes militares:
XXXV40, garante à pessoa o direito de acesso ao Poder Contra a Autoridade ou a Disciplina; Contra o Serviço e
Judiciário para obter decisão judicial que assegure o o Dever Militar; Contra a Pessoa; Contra o Patrimônio;
Contra a Saúde; Contra a Administração Militar; Contra
38
Art. 19. Êste Código não compreende as infrações dos
o Dever Funcional; e Contra a Administração da Justiça
regulamentos disciplinares. Militar.
39
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre Nem todo crime cometido pelo militar é um
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. delito militar, porque ele também atua como
cidadão, e assim, dependendo da conduta e da
40
Art. 5º (...); XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder situação, ele pode cometer um delito penal
Judiciário lesão ou ameaça a direito; comum.

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a) Ajam contra ordem recebida de superior ou


5.1 Contra a Autoridade ou a Disciplina neguem-se a seu cumprimento.

5.1.1 Motim: Nesse primeiro comportamento, os agentes fazem o


oposto do que lhes foi devidamente ordenado ou
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados: I - criam obstáculos reais à sua execução, enquanto que
agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a
no segundo comportamento eles optam por deixar de
cumpri-la; II - recusando obediência a superior, quando
estejam agindo sem ordem ou praticando violência; III - cumprir a tarefa que lhes foi atribuída pelo superior
assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em hierárquico.
resistência ou violência, em comum, contra superior; IV -
ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou b) Recusem obediência a superior, quando estejam
estabelecimento militar, ou dependência de qualquer dêles, agindo sem ordem ou praticando violência.
hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou
utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de Se no inciso anterior a desobediência é precedida de
transporte, para ação militar, ou prática de violência, em
uma ordem do superior, aqui ocorre o contrário
desobediência a ordem superior ou em detrimento da ordem
ou da disciplina militar: Pena - reclusão, de quatro a oito anos,
Nessa hipótese, os agentes estão agindo por vontade
com aumento de um têrço para os cabeças.
própria ou praticando violência e recebem uma ordem
do superior, por exemplo, para cessarem o
comportamento livre, e recusam o seu cumprimento.

c) Assintam em recusa conjunta de obediência, ou em


resistência ou violência, em comum, contra superior.

Já nesse caso, os agentes concordam com uma recusa


conjunta ou resistência ou, ainda, violência contra o
superior. Portanto, se antes se punia a insurreição
espontânea, nesta situação a lei reprime o acordo de
vontades originador da múltipla desobediência,
independente de ordem antecedente à conduta, pois,
por certo, devido a somatória de pessoas, devem os
FIGURA 04 - Mensagem dos grevistas em carro do RONDA.
agentes insurretos sentirem-se mais fortes e
O motim é um crime militar próprio que se traduz em audaciosos à prática do motim.
uma manifestação da insurreição de militares contra
autoridade hierarquicamente superior, caracterizando- d) Ocupem quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou
se por demonstrações inequívocas de desobediência e estabelecimento militar, ou dependência de qualquer
ocupação indevida de instalações e equipamentos deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou
militares. viatura militar, ou utilizem qualquer destes locais ou
meios de transporte, para ação militar, ou prática de
A conduta inicial do crime de motim prevista pela lei, violência, em desobediência a ordem superior ou em
de reunirem-se os militares, é categorizada como detrimento da ordem ou da disciplina militares.
plurisubjetivo (concurso necessário de agentes). Sendo
assim, até mesmo apenas dois militares podem ensejar Finalmente, a reunião de militares deve ocorrer com a
o crime militar de motim. ocupação de organizações ou equipamentos militares
ou com a utilização destes meios para ação militar ou
Todavia, não é suficiente a simples reunião dos prática de violência, sendo tal conduta descompassada
militares, é preciso que o façam e: com as ordens superiores ou ofensiva a organização e
a disciplina militar.

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Sujeito ativo: Crime plurissubjetivo, sendo delito utilização das armas, basta que as tenham ao seu
de concurso necessário, devendo existir pelo menos 02 dispor.
(dois) militares (estadual ou federal).
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da Ambos, portanto, o Motim e a Revolta, são
Administração Militar (Estadual ou Federal). manifestações da insurreição de militares contra
Elemento objetivo: A reunião de militares, com autoridade hierarquicamente superior, caracterizando-
ou sem acerto prévio, para que, unidos pelos mesmos
se por demonstrações inequívocas de desobediência e
propósitos, pratiquem atos típicos, seja pelo
descumprimento de ordens dadas, seja pela prática de ocupação indevida de instalações e equipamentos
atos sem ordem, seja com a ocupação de instalações militares.
ou o uso de viaturas para essa finalidade.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. Segundo NEVES e STREIFINGER (2005), como o verbo
nuclear do tipo está utilizado no plural (“estavam”),
Ex: Um grupo de militares estaduais que se reúne nos
pressupõe-se que, se apenas um dos agentes estiver
portões de acesso de determinada OPM/OBM e fica
armado, o delito de motim não se qualificará como
impedindo a saída das viaturas e dos militares de
revolta, portanto, sendo necessários pelo menos dois
serviço.
militares armados.
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO. DEFESA. CRIME DE MOTIM. PARALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
Sujeito ativo: Crime plurissubjetivo, sendo delito
DO ACC-CW - CURITIBA/PR. CONTROLADORES DO TRAFEGO AÉREO DO de concurso necessário, devendo existir pelo menos 02
CINDACTA II. CAOS AÉREO. PENA ACESSÓRIA DE EXCLUSÃO DAS FORÇAS (dois) militares (Estadual ou Federal).
ARMADAS. 1. O Juiz deve vincular a sua decisão às provas produzidas na
instrução processual penal; as provas produzidas na fase inquisitorial Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
servem para convicção do Ministério Público Militar oferecer denúncia. Administração Militar (Estadual ou Federal).
2. Inexiste nulidade da sentença quando as condutas imputadas aos Elemento objetivo: Idem ao do motim, só que
acusados, pelo Ministério Público Militar, são aptas e suficientes para
proporcionar a apresentação plena de suas defesas. 3. Ocorre preclusão com pelo menos 02 (dois) militares (estadual ou
quando a parte deixa de opor recurso do indeferimento da oitiva de federal) armados.
testemunhas por ela indicada. Nulidade não verificada, em especial,
quando não demonstrado o prejuízo à Defesa. 4. A leitura e publicação
Elemento subjetivo: Idem ao do motim.
da sentença, logo após a Sessão de Julgamento, é medida que atende a
todos os requisitos processuais e princípios, em especial de celeridade, Ex: Mesmo exemplo anterior, desde que os militares
inexistindo nulidade da sentença por esse motivo. 5. Configura o crime
de motim o fato de graduados impedirem o Comandante de exercer sua estaduais agrupados estejam portando armas.
autoridade, em recusa conjunta à obediência, após acordo prévio entre
eles estabelecido, com o objetivo de fazer cessar as atividades de PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
controle do tráfego aéreo, em visível afronta aos pilares da hierarquia e
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. GREVE DOS POLICIAIS
da disciplina. 6. Ausente qualquer inconstitucionalidade na aplicação da
MILITARES DABAHIA. CARACTERIZAÇÃO DE CRIMES DE MOTIM,
pena acessória de exclusão das Forças Armadas por expressa imposição
REVOLTA E CONSPIRAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR.
legal, ex vi do art. 102 do CPM, quando devidamente fundamentada em
POSSÍVEL OCORRÊNCIA DE DELITOSPREVISTOS NA LEI DE SEGURANÇA
Sentença e que se afigura em consonância com o grave delito praticado.
NACIONAL (LEI N. 7.170/1983).INQUÉRITO POLICIAL JÁ INSTAURADO.
Preliminares rejeitadas. Decisão unânime. Recurso conhecido e não
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL (ART. 109, INCISO IV, DA CF/88).
provido. Decisão unânime. (STM - Apelação. 0000013-
UNIDADE DOS PROCESSOS. IMPOSSIBILIDADE. ART. 79, I, DO CPP E ART.
12.2007.7.05.0005 (1) UF: PR Decisão: 19/03/2014 Rel. Min. Artur
102, A, DO CPPM. 1. Constatada a prática, em tese, de crimes de motim,
Vidigal de Oliveira. Decisão: 03/04/2004. Publicação DJE 18/10/2004).
revolta econspiração, previstos no art. 149, parágrafo único, e art. 152,
ambos do CPM, capitulados na denúncia oferecida contra 84 policiais
militares que participaram da greve ocorrida na Bahia, nos meses de
5.1.2 Revolta: janeiro e fevereiro de 2012, a competência para processar e julgar tais
delitos é da Justiça Militar. 2. Na eventualidade de se comprovar a
Art. 149. (...). Parágrafo único. Se os agentes estavam ocorrência de crimes previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei
7.170/1983) valendo ressaltarque já existe inquérito policial instaurado
armados: Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento para esse fim, nos termos do que dispõe o art. 109, inciso IV, da CF/88, a
de um têrço para os cabeças. competência será da Justiça Federal. Precedentes do STJ e do STF. 3.
Não se mostra possível o julgamento de todas as condutasdelitivas no
Juízo Federal, em razão do que dispõem os arts. 79, I, do CPP, e 102,
alínea a, do CPPM. A conexão e a continência importamna unidade de
processo e julgamento, salvo no concurso entre a jurisdição comum e a
A revolta nada mais é do que uma forma qualificada de militar. 4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Auditor
motim. Distingue-se do crime de motim unicamente da Auditoria Militar da Bahia, o suscitado, para processar e julgar os
crimes militares capitulados na denúncia, consistentes em motim,
pelo fato dos militares amotinados utilizarem revolta e conspiração, reservando-se a competência da Justiça Federal
para o processamento de possíveis crimes tipificados na Lei de
armamento. Aliás, não é preciso sequer a efetiva Segurança Nacional, eventualmente praticados pelos denunciados ou
por terceiros. (STJ - CC 124133 BA 2012/0179810-4. Min. Rel. Marco
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Aurélio Bellizze. Julgamento: 10/04/2013, S3 - Terceira Seção. empurrar à prática que caracterize desobediência,
Publicação: DJE 17/04/2013).
indisciplina ou crime militar.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
5.1.3 Incitamento: Ex: Um militar estadual que provoca, que grita,
com os seus companheiro, a fim de que eles
Art. 155. Incitar à desobediência, à indisciplina ou à desobedeçam uma ordem de superior, ou para
prática de crime militar: provocar desordens, indisciplinas, ou prática de
Pena - reclusão, de dois a quatro anos.
qualquer crime militar.

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
Rejeição de denúncia. Incitamento. Atipicidade. A publicação de
O Incitamento é crime impropriamente militar, queixas, denúncias e críticas a oficial superior em site da internet do
denunciado, não importando a veracidade dessas, fere os pilares das
pois também está previsto de modo semelhante no Forças Armadas: hierarquia e disciplina. Porém, não tipifica o delito de
art. 28641 do CPB. Por este tipo penal militar é crime incitamento, previsto no art. 155, do caput, do CPM, pelo qual foi
incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de denunciado. Despacho do Juízo a quo, rejeitando a denúncia, por
ausência de tipicidade, encontra-se correto. Recurso do MPM
crime militar, sujeitando o autor do delito à pena de improvido. Decisão Unânime. (STM - Rec. Crim. 2004.01.007177-1-CE -
reclusão, de dois a quatro anos. Rel. Min. José Luiz Lopes da Silva - J. Em 02.09.2004 - DJU 18.10.2004)
Assim, também incorrendo aquele que introduz, afixa
ou distribui, em lugar sujeito à administração militar, 5.1.4 Apologia de fato criminoso ou de seu autor:
impressos, manuscritos ou material mimeografado,
fotocopiado ou gravado, em que se contenha Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera
incitamento à prática dos atos previstos no (Art. 155, crime, ou do autor do mesmo, em lugar sujeito à
administração militar:
Parágrafo único42, do CPM).
Pena - detenção, de seis meses a um ano.
O STF já firmou o entendimento, conforme precedente
jurisprudencial a seguir, de que o site da internet não é
lugar sujeito à administração militar e, assim, Fazer apologia significa elogiar, louvar defender.
publicação de queixas, denúncias ou críticas a superior Para que se consume tal crime esta apologia tem que
hierárquico na internet, não importando a veracidade ocorrer em local sujeito a administração militar (Na
dessas, é fato atípico, pois não tipifica o delito de esfera estadual, a OPM ou OBM).
incitamento, mesmo que tenha havido o ferimento da Sujeito ativo: Qualquer pessoa - militar (Estadual ou
Federal) e Civil (Este só no âmbito Federal).
hierarquia e disciplina.
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
Por fim, importante ressaltar que o crime de Administração Militar (Estadual ou Federal).
incitamento não é material, e sim formal, não exigindo Elemento objetivo: Fazer apologia é exaltar, elogiar,
enaltecer, engrandecer a conduta tipificada como
para a sua concretização do resultado.
crime militar ou o seu autor pelo delito cometido
Sujeito ativo: Somente o militar (Estadual ou Federal). Elemento subjetivo: Só admite o dolo genérico.
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da Ex: Um PM/BM, que estando em lugar sujeito à
Administração Militar (Estadual ou Federal). administração militar elogia o fato de um militar
Elemento objetivo: É a conduta de incitar, que significa estadual ter se insubordinado com um superior
impelir, estimular, mover alguém a realizar algo, hierárquico, seja através de palavras, gestos, escritos
ou qualquer outro meio de comunicação.
41
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena -
detenção, de três a seis meses, ou multa.

42
Art. 155. (...). Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
introduz, afixa ou distribui, em lugar sujeito à administração militar,
impressos, manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou
gravado, em que se contenha incitamento à prática dos atos
previstos no artigo.

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5.1.5 Violência contra Superior: a) Imediato: O próprio Estado, através da


Administração Militar (Estadual ou Federal).
Art. 157. Praticar violência contra superior: Pena -
b) Mediato: O militar ofendido (superior
detenção, de três meses a dois anos.
hierárquico).
§ 1º Se o superior é comandante da unidade a que Elemento objetivo: A violência que consiste no uso de
pertence o agente, ou oficial general: força física que o agente faz para atuar em desfavor do
superior hierárquico ou na modalidade qualificada,
Pena - reclusão, de três a nove anos.
contra seu comandante ou oficial general ou
§ 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é executado por meio de instrumento.
aumentada de um têrço.
Elemento subjetivo: Só admite o dolo genérico.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se,
além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. Ex (1): Um Soldado da ativa da PM/BM que, de
folga e à paisana, adentra em um quartel da sua
Corporação e investe fisicamente, a socos e pontapés,
contra o Comandante da Guarda em razão de
problemas pessoais.
Ex (2): Um Coronel PM/BM que agride outro
Coronel mais moderno, mas que está na função de
Comandante Geral da Corporação, comete o crime de
violência contra superior, pois apesar de ser mais
antigo que o ofendido, em razão de possuir maior
FIGURA 05 - Violência contra Superior. tempo no posto, a superioridade funcional sobrepõe-se
Crime militar próprio que consiste em uma à antiguidade.
agressão física contra superior hierárquico, podendo
haver empurrões, tapas, puxões de orelha, pontapés, OBSERVAÇÃO: 1) Se o agente desconhecia a
qualidade do ofendido ou se a violência é
etc. A violência pode resultar também do arremesso de praticada em repulsa a agressão não se
um objeto, de ordem para um animal atacar ou caracteriza esse crime.
investidas similares, em que o autor apesar de não 2) Toda vez que o CPM definir que
atingir o ofendido diretamente, mas foi o responsável o crime será cometido mediante “violência”, esta
deve ser física - não existe violência verbal.
pela conduta e pelo resultado.
A violência contra superior é considerada grave
e as conseqüências penais independem do resultado
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
da ação (pode ou não causar lesão corporal). Nesse a
APELAÇÃO. DEFESA. VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR. AMEAÇA. TEORIA
pena vai variar de acordo com a gravidade do DA REPRESENTAÇÃO DO PROCESSO PENAL COMUM. AÇÃO PENAL
resultado e com a função exercida pelo ofendido PÚBLICA INCONDICIONADA. ATENUANTE GENÉRICA E CAUSA ESPECIAL
DE AUMENTO DE PENA. COMPENSAÇÃO. 1. Configura o delito de
(superior). Quanto mais deve ser respeitado o violência contra superior o ato de o militar, dolosamente, agredir
ofendido (superior), maior é o crime e, portanto, mais superior hierárquico, sem estar amparado em causa excludente de
grave a pena cominada. culpabilidade. 2. A ação penal pública incondicionada é a regra no
Direito Processual Penal Militar, não sendo cabível, no crime de ameaça
É suficiente que o corpo do superior seja tocado, praticado entre integrantes das Forças Armadas, a aplicação da Teoria
não alcança a violência moral nem aquela praticada da Representação do Processo Penal comum. 3. A compensação, na
contra a coisa. dosimetria de pena, só pode ser feita entre elementos de uma mesma
fase, não sendo possível entre circunstância atenuante genérica e causa
Sujeito ativo: O inferior hierárquico ou funcional especial de aumento de pena. Recurso conhecido e não provido.
(este por compreensão do art. 2443 do CPM), o que Decisão unânime. (STM - Apelação 00000061820147030203 UF: RS. Rel.
Min. Artur Vidigal de Oliveira. Julgamento: 22/09/2015. Publicação DJE
restringe o cometimento ao militar (estadual ou 06/10/2015).
federal).
Sujeito passivo:

43
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade
sôbre outro de igual pôsto ou graduação, considera-se superior, para
efeito da aplicação da lei penal militar.

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5.1.6 Violência contra Militar de Serviço: dotadas de certa autoridade, uma vez que tem o
escopo justamente de proteger a autoridade militar.
Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de
Sentinela: É o militar que guarda determinado
serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão:
local com ou sem arma, em posto fixo ou móvel, tendo
Pena - reclusão, de três a oito anos.
suas atribuições normatizadas em regulamentos e
§ 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é instruções, principalmente no art. 221 do RISG. Diz-se
aumentada de um têrço. que: “A sentinela é, por todos os títulos, respeitável e
inviolável, sendo, por lei, punido com severidade quem
§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, atentar contra a sua autoridade” (Art. 220 do RISG).
além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. Vigia: De modo similar, o militar na função de
vigia exerce uma função de proteção, porém não de
§ 3º Se da violência resulta morte:
um local específico, podendo ser fixo ou móvel e de
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. uma situação que pode desdobrar-se em mais de um
ambiente, como por exemplo, a vigilância de um
militar recolhido disciplinarmente no interior de um
quartel.
Plantão: Compõem a guarda da OPM/OBM, que
tem por principal função manter a ordem, a disciplina e
o asseio no alojamento e demais dependências do
quartel.
Este crime não exige a qualidade de militar do
sujeito ativo (agente), podendo até mesmo ser
cometido um militar superior hierárquico do ofendido,
quando investido das funções referidas.
FIGURA 06 - Militar de Serviço. Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou
A conduta violenta é direcionada contra o militar o civil (este somente na esfera federal).
de serviço, nas funções grafadas no tipo penal, ou seja, Sujeito passivo:
contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou a) Imediato: O próprio Estado, através da
contra sentinela, vigia ou plantão. Administração Militar (Estadual ou Federal).
Para melhor compreensão deste tipo penal b) Mediato: O Oficial ou a sentinela em
militar é interessante o conhecimento dos seguintes serviço ou de plantão.
conceitos: Elemento objetivo: A violência contra militar de
Oficial de Dia: Suas funções estão previstas no serviço, que atenta contra a autoridade e a disciplina
RISG44 e compreende o Oficial que está militar.
desempenhando a função de gerenciamento de uma Ex: Um militar estadual de folga que em uma
Unidade militar, mormente fora de horários de ocorrência empurra o patrulheiro de uma guarnição
expediente, em que dito Oficial personifica o próprio que estava detendo um infrator amigo seu.
Comandante da Unidade. É ele, em suma, responsável
pela manutenção das atividades cotidianas de um PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
quartel no que concerne à segurança, arranchamento, APELAÇÃO. ART. 158 DO CPM. VIOLÊNCIA CONTRA MILITAR EM
SERVIÇO. 'SOCO' DESFERIDO CONTRA SENTINELA DA GUARDA. RÉU
recebimento de gêneros, controle de acesso de REVEL. CONDENAÇÃO MANTIDA. Comete o crime capitulado no art. 158
pessoas à Unidade etc. do CPM. Soldado que, cumprindo punição disciplinar, tenta evadir-se do
aquartelamento mediante força física e desfere soco na face de colega
Oficial de Serviço: Compreende-se toda e de farda em serviço. O Acusado agrediu o Ofendido conscientemente
qualquer função de serviço conferida a um Oficial, mesmo sabendo que existiam outras formas de resolver a situação.
como por exemplo, Comandante de Área no serviço de Tinha conhecimento de que poderia sair do quartel com a autorização
de um superior, caso fosse, de fato, necessário. No caso, o bem jurídico
policiamento ostensivo, na PMCE, ou Comandante de tutelado é a disciplina militar, a fim de resguardar a relação de
Área na atividade de extinção de incêndios, no CBM. subordinação e de hierarquia necessárias e preceitos básicos da vida
O CPM buscou também tutelar algumas funções militar. As provas carreadas aos autos, depoimentos testemunhais e
laudo pericial são suficientes para manter a condenação. Apelo
desempenhadas por praças, especificamente aquelas defensivo desprovido à unanimidade. (STM - Apelação
00000202720137030303 UF: RS. Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos
44 Santos. Julgamento: 31/03/2015. Publicação DJE 20/04/2015).
Regulamento Interno e dos Serviços Gerais - RISG (R1), aprovado
pela Portaria nº 816, de 19/12/03, do Comandante do EB.

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5.1.7 Desrespeito a Superior: Ex: Um Soldado PM/BM que responde as


perguntas feitas por um Tenente de forma irônica e
Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:
sarcástica. Uma resposta crítica ou com menosprezo
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não pode configurar ofensa a autoridade superior.
constitui crime mais grave.
OBSERVAÇÃO: Se a intenção da conduta é de
deprimir ou ofender a dignidade do superior, se
Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o
configurará o crime de desacato a superior (Art.
comandante da unidade a que pertence o agente, oficial- 298 do CPM).
general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é
aumentada da metade.

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
DESRESPEITO SUPERIOR. Oficial subalterno que discute com Oficial
superior no interior do cassino de oficiais, na presença de outros
militares, de forma exaltada, em tom de voz elevado e de forma
descortês. Delito configurado. Recurso improvido. Decisão majoritária.
(STM - Apelação Apelfo 49844 RJ 2005.01.049844-3 UF: RJ. Rel. Min.
Henrique Marini e Souza. Julgamento: 16/08/2005. Publicação DJ
11/10/2005).

5.1.8 Recusa de Obediência:


Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sôbre
assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever
FIGURA 07 - Desrespeito a Superior.
impôsto em lei, regulamento ou instrução:
Desrespeito a superior é a falta de consideração
e educação para com o superior hierárquico. Para sua Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não
constitui crime mais grave.
configuração é necessário que os sujeitos, passivo e
ativo, sejam militares, sendo indispensável que o
ofensor saiba da condição hierárquica do ofendido. Se
o autor desconhece a condição de superior do
ofendido, sua conduta não pode ser considerada crime
militar.
Todavia, para a verificação desse crime militar
não é necessário que a conduta tenha sido cometida
dentro de um quartel, mas se o ofendido for o
Comandante da OPM/OBM ou Oficial de Serviço o
crime militar será considerado na forma agravada.
Sujeito ativo: É o inferior hierárquico ou
funcional (este por compreensão do art. 2445 do CPM),
o que restringe o cometimento do delito por militar
(estadual ou federal). FIGURA 08 - Recusa de Obediência.
Sujeito passivo: O Crime de Recusa de Obediência é um crime militar
a) Imediato: O próprio Estado, através da próprio que tem a intenção de punir o comportamento
Administração Militar (Estadual ou Federal).
rebelde do subordinado ao não cumprir ordem
b) Mediato: O militar desrespeitado (superior
emanada de uma autoridade superior, vez que
hierárquico).
Elemento objetivo: A falta de respeito para com o atentatório à essência da vida em caserna, pois um dos
superior hierárquico. preceitos fundadores da ética militar é justamente o de
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. cumprimento das leis, dos regulamentos, das
instruções e das ordens das autoridades competentes.
45
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade O conceito de superior para efeito penal militar
sôbre outro de igual pôsto ou graduação, considera-se superior, para
efeito da aplicação da lei penal militar.
prestigia a autoridade funcional, onde a estrutura

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hierárquica se escalona pelo grau hierárquico, pela OBSERVAÇÃO: O Crime de Recusa de Obediência
antigüidade e pela precedência funcional. (Art. 163 do CPM), crime militar próprio,
distingue-se do Crime de Desobediência (Art. 301
do CPM), crime militar impróprio, pois o primeiro
A recusa, verbo que constitui o núcleo do tipo penal é um crime mais gravoso, já que é comissivo e
militar, implica negativa direta e inequívoca à desafia a autoridade ou disciplina militar e está
previsto no capítulo que trata da insubordinação,
determinação, que precisa ser individualizada e com pena de detenção de um a dois anos, se o
transmitida diretamente ao militar desobediente, fato não constituir crime mais grave, enquanto
que o segundo é um crime omissivo e é contra a
podendo ser consubstanciada das mais variadas Administração Militar, com pena de detenção de
até seis meses.
formas (ordens verbais, por escrito, gestos, etc.).

A conduta criminosa poderá abranger tanto o


comportamento comissivo como o omissivo, pois é PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÕES. MPM. DEFESA. ART. 163 DO CPM. RECUSA DE OBEDIÊNCIA.
perfeitamente possível que o autor se negue a agir ALEGAÇÃO DE ORDEM ILEGAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O ARTIGO 301
quando impelido a tanto ou recuse o cumprimento de DO CPM OPERADA PELO JUÍZO "A QUO". APELOS NÃO PROVIDOS. 1.
Militar que desobedece, livre e conscientemente, a ordem legal de
dever imposto em lei, regulamento ou instrução. autoridade militar incide na conduta típica do art. 301 do CPM. O dever
de obediência hierárquica é peculiar no âmbito castrense e não exime o
Para a configuração desse crime é necessário, ainda, militar do cumprimento de uma determinação, salvo se
manifestamente criminosa. Apelo da Defesa não provido. 2. A conduta
que a ordem verse sobre assunto ou matéria de de não entregar o celular ao superior não é matéria de serviço e, por
isso, não configura recusa de obediência ínsita no artigo 163 do CPM.
serviço, devendo ser revestida de clareza e efetividade. Pleito ministerial não procedente. Apelo defensivo não provido. Decisão
unânime. Apelo do MPM não provido. Decisão majoritária. (STM -
Não há crime quando o militar deixa de cumprir uma Apelação 00000737720137010201 UF: RJ. Rel. Min. Cleonilson Nicácio
Silva. Julgamento: 30/04/2015. Publicação DJE 28/05/2015).
ordem ambígua ou que esteja fora de suas atribuições,
aptidões ou competências. Assim, por exemplo, um
soldado mecânico de viaturas que recusa cumprir a 5.1.9 Oposição a Ordem de Sentinela:
determinação de seu superior para suturar o ferimento
de um colega ferido, obviamente que não comete o Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela:

crime, como também, o soldado que se recusar a Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não
realizar serviços particulares de seu comandante. constitui crime mais grave.

A tentativa somente é possível na forma


comissiva do crime. A Sentinela, que compõe a Guarda do Quartel, é
Sujeito ativo: É necessariamente um militar respeitável e inviolável, conforme previsto no art. 220
subordinado, que se nega a cumprir determinação do RISG46, sendo, por lei, punido com severidade quem
legal de um superior hierárquico. atentar contra a sua autoridade.
Sujeito passivo: Portanto, em razão da Sentinela possuir tão
a) Imediato: O próprio Estado, através da importante função, sendo o responsável pela
Administração Militar (Estadual ou Federal).
manutenção da integridade física dos militares e pela
b) Mediato: O militar ofendido (superior
hierárquico). salvaguarda das instalações e dos equipamentos, a
Elemento objetivo: É a conduta de recusar conduta de opor-se às suas ordens foi tipificada pela
obedecer à ordem do superior sobre assunto ou legislação penal militar.
matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto
em lei, regulamento ou instrução. Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. o civil (este somente na esfera federal), inclusive
superior hierárquico do sujeito passivo mediato.
Ex: Um militar estadual que se recusa a obedecer à
ordem do Comandante da Área para assumir o serviço 46
RISG - Art. 220: A sentinela é, por todos os títulos, respeitável e
em viatura diversa da prevista em escala, em razão de inviolável, sendo, por lei, punido com severidade quem atentar contra
a sua autoridade; por isso e pela responsabilidade que lhe incumbe,
problemas mecânicos desta, alegando não ter amizade o soldado investido de tão nobre função portar-se-á com zelo,
com a composição da viatura designada. serenidade e energia, próprios à autoridade que lhe foi atribuída.

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Sujeito passivo: questões internas seriam externadas para discussão


a) Imediato: O próprio Estado, através da externa, por pessoas que não possuem conhecimento
Administração Militar (Estadual ou Federal). sobre as peculiaridades da vida castrense e sequer do
b) Mediato: A sentinela ofendida.
contexto em que foi praticado o ato do superior.
Elemento objetivo: É a conduta de opor-se às
ordens da sentinela. O militar que se julgar prejudicado por ato de superior
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
hierárquico seu dispõe de caminhos delineados na
Ex: Um militar estadual que quer adentrar na legislação vigente para restauração de possíveis
OPM/OBM à noite sem autorização e não aceita ser direitos violados, não sendo razoável que lhe exija
barrado pela sentinela.
apenas resignar-se e deixar de buscar reparação.
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO. OPOSIÇÃO A ORDEM DE SENTINELA. CONDUTA Contudo, manifestações públicas não são facultadas
DELITIVA.RECONHECIMENTO. DESOBEDIÊNCIA. INSUBORDINAÇÃO. aos militares estaduais para se buscar a satisfação
Autoria e materialidade comprovadas. Não restaram dúvidas quanto à
autoridademilitar da sentinela no desempenho de sua missão. A pretendida, mas sim através de tutela administrativa
segurança da unidade militar e a disciplina e o prestígio da ou jurisdicional.
autoridadecastrense ficam expostos com a oposição às ordens do
militar que tem por missãoguardar determinado local sujeito à
administração militar. Impossível admitir desobediência às ordens Além do que, é dever dos militares se tratar com
emanadas da autoridade militarcompetente, transmitida por quem se
encontra em serviço de sentinela. Inteligência do art. 164, c/c o art. 72,
camaradagem e respeito mútuo, não sendo ético que
inciso I, do CPM. Recurso não provido. Decisão unânime. (STM - subordinados passem a criticar em redes sociais, blogs
Apelação 2008010512250 UF: RJ. Relª. Minª. Maria Elizabeth Guimarães
Teixeira Rocha. Julgamento: 28/05/2009. Publicação DJE 02/07/2009). ou qualquer outro meio de comunicação público as
ações dos seus superiores hierárquicos ou assuntos
atinentes à disciplina militar.
5.1.10 Publicação ou Crítica Indevida:
Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, Dessa forma, o crime militar em comento em nada
ato ou documento oficial, ou criticar públicamente ato de seu afronta aos direitos e garantias fundamentais previstos
superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer na CF/1988, pois o militar não é frustrado do seu
resolução do Govêrno:
direito à liberdade de expressão e manifestação do
Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato não pensamento. Embora o militar possa se manifestar
constitui crime mais grave. publicamente sobre qualquer matéria que lhe convier,
no ambiente real ou virtual, não pode tecer críticas a
ato de seu superior hierárquico ou sobre a disciplina
A publicação, sem licença, pelo militar estadual de ato
militar, ou ainda contra resolução do seu governador,
ou documento oficial, ou fazer criticas em público de
pois embora civil, é considerado o comandante maior
ato de seu superior ou assunto atinente à disciplina
das Corporações Militares estaduais, pois nesse caso
militar, ou a qualquer resolução do Governo se
sua conduta se subsumirá ao preceito do tipo penal
configura crime militar.
militar em questão, estando sujeito, portanto, à
A hierarquia e disciplina impõem aos militares reprimenda prevista no CPM.
estaduais o dever de acatamento ao seu superior
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) que
hierárquico e obediência aos regulamentos que regem
faz a publicação imprópria ou exterioriza a crítica
a vida na sua respectiva Corporação. indevida.
Sujeito passivo:
Por certo, não é aceitável que um militar, a) Imediato: O Estado, através da própria
independente de seu posto ou graduação, venha a Administração Militar (Estadual ou Federal);
criticar publicamente atos ou fatos praticados por seus b) Mediato: O militar superior hierárquico
superiores hierárquicos, pois tal conduta representaria que recebeu as críticas públicas ao seu ato.
um risco para os próprios princípios basilares da Polícia Elemento objetivo: É a conduta de publicar, o
Militar e Corpo de Bombeiros Militar. Além do que, militar ou assemelhado, sem licença, ato ou
documento oficial, ou criticar publicamente ato de seu
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superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a insígnia de posto ou graduação superior, comete o
qualquer resolução do Governo. crime de Uso Indevido por Militar de Uniforme,
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. Distintivo ou Insígnia.
Ex: Um militar estadual que distribui panfletos Sujeito ativo: Somente o militar que tiver usado
em frente a uma OPM/OBM que faz críticas ao indevidamente uniforme, distintivo ou insígnia.
militarismo das Corporações Militares Estaduais. Sujeito passivo: O Estado, através da própria
Administração Militar (Estadual ou Federal).
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL Elemento objetivo: É a conduta de usar indevidamente
APELAÇÃO. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME. DESACATO A SUPERIOR. uniforme, distintivo ou insígnia.
PUBLICAÇÃO DE CRÍTICA INDEVIDA. 1. PRELIMINAR DE NULIDADE.
ALEGAÇÃO DE VÍCIOS EM IPM. INDEFERIMENTO. Não encontra amparo Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
legal arguição de nulidade do feito aventada pelo agente, uma vez que
eventuais vícios ocorridos no IPM não refletem na ação penal que Ex: Um Cabo PM/BM que estiver usando a camisa do
possui instrução probatória independente da colheita de elementos uniforme de instrução ou de serviço (gandola) com as
realizada no inquérito e, que serve apenas como subsídio para a
propositura da ação penal. 2. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME. luvas do posto de Capitão PM/BM (insígnias) apostas
REPRESENTAÇÃO INDEVIDA CONTRA SUPERIOR. DOLO. DELITO
CONFIGURADO. Inadmissível alegação do Apelante, Bacharel e Mestre
nos ombros.
em Direito que, declarando-se achar vítima de atos ilegais, representou
indevidamente contra superior imputando-lhe a ocorrência de crime
que sabia não ter se verificado. Presença da vontade livre e consciente “Militar inativo não tem direito ao uso do
em incriminar indevidamente. Dolo caracterizado. 3. DESACATO. uniforme fora dos casos previstos em lei ou
ATITUDE REFLETIDA. MENOSPREZO CONTRA SUPERIOR. CONDENAÇÃO. regulamento”. (Súmula nº 57 do STF).
Diante das provas colhidas nos autos, não há que se falar em mera
descompostura ou arrogância do agente que em atitude refletida
menosprezou superior proferindo palavras injuriosas. Induvidosa a
prática do delito do art. 298, parágrafo único do CPM. 4. PUBLICAÇÃO
DE CRÍTICA INDEVIDA. CONFISSÃO DO ACUSADO. Comprovada a
incidência do agente no tipo previsto no artigo 166 do CPM, que PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
confessou ter veiculado em blog pessoal e sites da internet matérias EMENTA: APELAÇÃO. USO INDEVIDO DE UNIFORME MILITAR.
com conteúdo crítico a superior hierárquico e à disciplina da CONCURSO DE PESSOAS. PROVA TESTEMUNHAL INDUVIDOSA. Crime
organização militar. (STM - Apelação 1258120117030203 UF: RS. Rel. consumado com o simples uso, independentemente da motivação que
Min. Artur Vidigal de Oliveira. Julgamento: 02/06/2013. Publicação DJE levou o agente a envergar uniforme que não tinha direito.A peça
06/08/2013). flagrancial é dispensável para a propositura da ação penal no crime de
uso indevido de uniforme, distintivos ou insígnia militar. É suficiente,
para comprovar a autoria e materialidade, fartas provas testemunhais
harmônicas e sem contradições.Apelos defensivos não providos.
5.1.11 Uso Indevido por Militar de Uniforme, Decisão unânime. (STM - AP 391520117100010 CE 0000039-
15.2011.7.10.0010. Rel. Min. Francisco José da Silva Fernandes.
Distintivo ou Insígnia: Julgamento: 25/09/2012. Publicação DJE 11/10/2012).

Art. 171. Usar o militar ou assemelhado, indevidamente,


uniforme, distintivo ou insígnia de pôsto ou graduação
5.1.12 Rigor excessivo:
superior:
Art. 174. Exceder a faculdade de punir o subordinado,
Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não fazendo-o com rigor não permitido, ou ofendendo-o por
constitui crime mais grave. palavra, ato ou escrito:

Pena - suspensão do exercício do pôsto, por dois a seis


meses, se o fato não constitui crime mais grave.
Para melhor compreensão deste tipo penal militar, é
interessante o conhecimento dos seguintes conceitos:
O Rigor Excessivo é crime propriamente militar
Distintivos: São os emblemas referentes aos cursos,
em que um superior comete excesso de poder quando
autoridades militares, etc. vai punir um subordinado seu, punindo-o com rigor
não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou
Insígnias: São referentes aos postos e graduações escrito. Cabe a tentativa.
(estrelas e divisas). Sujeito ativo: Militar superior hierárquico ao
ofendido.
Uniforme: É a farda militar.

O militar (Estadual ou Federal, da Ativa ou Inatividade),


que usar indevidamente, uniforme, distintivo ou
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Sujeito passivo:
Art. 175. Praticar violência contra inferior:
a) Imediato: O próprio Estado, através da
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Administração Militar (Estadual ou Federal).
Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou
b) Mediato: O militar punido com excesso. morte é também aplicada a pena do crime contra a pessoa,
Elemento objetivo: É a conduta de exceder a atendendo-se, quando fôr o caso, ao disposto no art. 159.
faculdade de punir o subordinado, fazendo-o com rigor
não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou
escrito.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Ex: Um superior que pune um subordinado com
35 (trinta e cinco) dias de permanência disciplinar. Tal
punição não é possível, pois o máximo de dias previstos
no Código Disciplinar dos Militares Estaduais do Ceará
(Lei nº 13.407, de 21/11/03), em seu art. 42, inciso III47,
é de até 20 (dias) dias, somente no caso de reincidência
e desde que não caiba demissão ou expulsão, podendo
FIGURA 09 - Violência contra Inferior.
ser aplicadas apenas por Oficiais do posto de Coronel e
Tenente-Coronel PM, conforme o art. 32, inciso III e A Violência contra Inferior é um crime
IV48, do mesmo códex. propriamente militar, que se caracteriza pelo abuso de
poder do superior. O que se protege é a disciplina
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL militar, uma vez que, é um dos alicerces fundamentais
APELAÇÃO. DEFESA E MPM. RIGOR EXCESSIVO. LEGITIMIDADE LEGAL da instituição militar.
PARA PUNIR SUBORDINADOS. EXERCÍCIO E LIMITES DAS FUNÇÕES
MILITARES. 1. O crime de rigor excessivo - art. 174 do CPM - é exclusivo A exemplo do crime de Violência contra
da autoridade que exerce a faculdade de punir subordinado. 2. O Militar Superior, previsto no art. 157 do CPM, a violência tem
que, exercendo a função de Oficial-de-Dia no quartel, venha cometer que ser física, não sendo necessário que resulte em
qualquer tipo de agressão a um subordinado, a despeito da atitude
altamente reprovável, não comete esse delito específico de rigor lesão corporal, muito menos o motivo de tal atitude
excessivo, haja vista que a funçãodesempenhada não está elencada nos para que seja considerado crime.
regulamentos disciplinares como competente para sancionar
disciplinarmente qualquer subordinado. 3. O delito de rigor excessivo
Neste delito o subordinado recebe proteção
impõe a conexão entre a competência para punir e o ato contra qualquer tipo e forma de violência física que o
praticado.Recurso conhecido e não provido, decisão unânime. (STM - superior possa praticar. Contudo, é importante
Apelação 353520097030303 UF: RS. Rel. Min. Artur Vidigal de Oliveira.
Julgamento: 18/11/2011. Publicação DJE 13/01/2012). ressaltar que o superior deve ter vontade livre e
consciente de praticar o delito, além de saber que o
ofendido é seu inferior hierárquico.
5.1.13 Violência contra Inferior: Sujeito ativo: Militar (estadual ou federal) superior
hierárquico (podendo ser oficial ou praça).
Sujeito passivo:

a) Imediato: O próprio Estado, através da


47
Art. 42. (...). III - as faltas graves são puníveis com permanência
Administração Militar (Estadual ou Federal).
disciplinar de até 10 (dez) dias ou custódia disciplinar de até 8 (oito)
dias e, na reincidência, com permanência de até 20 (vinte) dias ou b) Mediato: O militar subordinado (inferior)
custódia disciplinar de até 15 (quinze) dias, desde que não caiba
que sofreu a violência.
demissão ou expulsão.

48
Art. 32. O Governador do Estado é competente para aplicar todas Elemento objetivo: É a conduta de praticar violência
as sanções disciplinares previstas neste Código, cabendo às demais contra outro militar de patente (posto ou graduação)
autoridades as seguintes competências: III - aos oficiais do posto de inferior hierarquicamente.
coronel: as sanções disciplinares de advertência, repreensão,
permanência disciplinar de até 20 (vinte) dias e custódia disciplinar
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
de até 15 (quinze) dias; IV - aos oficiais do posto de tenente-coronel: Ex: Um Sargento PM/BM que desfere uma
as sanções disciplinares de advertência, repreensão e permanência
disciplinar de até 20 (vinte) dias;
bofetada em um Cabo PM/BM, em razão deste haver
chegado atrasado para assumir o serviço.
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PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL “Compete à Justiça Comum Estadual processar e


APELAÇÃO. DEFESA E MPM. RIGOR EXCESSIVO. LEGITIMIDADE LEGAL julgar o policial militar por crime de promover ou
PARA PUNIR SUBORDINADOS. EXERCÍCIO E LIMITES DAS FUNÇÕES facilitar a fuga de preso de estabelecimento
MILITARES. 1. O crime de rigor excessivo - art. 174 do CPM - é exclusivo penal”. (Súmula nº 75 do STJ).
da autoridade que exerce a faculdade de punir subordinado. 2. O Militar
que, exercendo a função de Oficial-de-Dia no quartel, venha cometer
qualquer tipo de agressão a um subordinado, a despeito da atitude
altamente reprovável, não comete esse delito específico de rigor
excessivo, haja vista que a funçãodesempenhada não está elencada nos
regulamentos disciplinares como competente para sancionar PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
disciplinarmente qualquer subordinado. 3. O delito de rigor excessivo FUGA DE PRESO DURANTE TRASLADO. MODALIDADE CULPOSA. ART.
impõe a conexão entre a competência para punir e o ato 179 DO CPM. MANTIDA CONDENAÇÃO. UNANIME. Militar que,
praticado.Recurso conhecido e não provido, decisão unânime. (STM - escalado para realizar o traslado de preso, descumpre ordem emanada
Apelação 353520097030303 UF: RS. Rel. Min. Artur Vidigal de Oliveira. de superior hierárquico e dispensa escolta armada, resultando em fuga
Julgamento: 18/11/2011. Publicação DJE 13/01/2012). de desertor, comete o crime de facilitação de fuga de preso,
modalidade culposa, previsto no artigo 179 do CPM. A inexistência de
material de higiene para presos na OM ocasionou a parada durante o
traslado em drogaria civil. Por inobservância das normas de segurança,
5.1.14 Fuga de Preso ou Internado: o preso evadiu-se da viatura e, de posse da documentação relativa a sua
prisão, empreendeu fuga. Teses defensivas de ausência de dolo e
transferência de responsabilidade não acolhidas. Provas testemunhais e
Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa
confissão do réu suficientes para manutenção na íntegra da condenação
legalmente prêsa ou submetida a medida de segurança operada no Juízo a quo. Unânime. (STM - Apelação
detentiva: 00000320420137110211 UF: DF. Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos
Santos. Julgamento: 02/10/2014. Publicação DJE 10/10/2014).
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

5.2 Contra o Serviço e o Dever Militar


Para a caracterização desse tipo penal militar é
necessário que a fuga ocorra de estabelecimento 5.2.1 Deserção:
prisional sob a guarda e responsabilidade da Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em
administração militar, assim, a prisão deve ser militar que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de
(presídio militar) e pode ser qualquer tipo de prisão oito dias:

(prisão provisória ou pena de prisão). Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é
agravada.
Portanto, caso a fuga tenha ocorrida de carceragem de
delegacia da Polícia Civil, Cadeia Pública ou
penitenciária a conduta do militar estadual indiciado
poderá se enquadrar, em tese, no art. 35149 do CPB
“Fuga de pessoa presa ou submetida à medida de
segurança”.

Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou o civil


(este somente na Esfera Federal) que promova ou
facilite a fuga.
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal).
Elemento objetivo: É a conduta de promover ou FIGURA 10 - Deserção.
facilitar a fuga. Ao ingressar na Polícia Militar ou no Corpo de
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. Bombeiros Militar do Estado do Ceará, a pessoa,
homem ou mulher, assume obrigações que devem ser
cumpridas sob pena de reprimenda administrativa ou
penal militar. Dentre as obrigações assumidas pelos
militares, uma delas é a de comparecer regularmente a
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Art. 351. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa OPM/OBM onde se está classificado, e também
ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de cumprir as escalas ordinárias e extraordinárias. O
seis meses a dois anos.
militar estadual somente não tem a obrigação de
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comparecer a sua OPM/OBM se estiver dispensado,


 Vide ANEXO B - Status de Militar do
com licença médica ou no gozo de férias. Desertor para se ver processar e seus
O legislador entendeu que o militar que fique reflexos para o Serviço Militar.
ausente por um período superior a 08 (oito) dias de sua
unidade comete o crime de deserção (Art. 187 do
CPM). Portanto, protege-se o serviço militar diante da
5.2.2 Abandono de Posto:
conduta do militar estadual que se afasta da sua
respectiva Corporação depois de ter sido nomeado
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou
para um cargo sem lhe prestar a mínima satisfação,
lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço
porque ele poderia sair dela legalmente em qualquer
que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
tempo.
O acusado de deserção não tem direito à Pena - detenção, de três meses a um ano.
liberdade provisória, assim como não é concedida a
suspensão condicional da pena ao condenado por esse
crime.
Sujeito ativo: Somente o militar (estadual ou
federal) do serviço ativo.
Sujeito passivo: O Estado, através da própria
Administração Militar (Estadual ou Federal).
Elemento objetivo: É a conduta de se ausentar, sem a
devida autorização, da OPM/OBM em que trabalha ou
do local onde deveria permanecer.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Ex: Um militar estadual que fica ausente por FIGURA 11 - Abandono de Posto.
mais de 08 (oito) dias do serviço.
Na seara militar, a ordem recebida desde que
“Não constituem excludentes de culpabilidade, seja legal deve ser cumprida e, muitas vezes, até
nos crimes de deserção e insubmissão, alegações
de ordem particular ou familiar mesmo com o sacrifício da própria vida. Dessa forma,
desacompanhadas de provas”. (Súmula nº 03 do aquele que não cumpre a ordem recebida e resolve por
STM).
conta própria abandonar o local para onde se encontra
“Não se concede liberdade provisória a preso por regularmente escalado ficará sujeito às consequências
deserção antes de decorrido o prazo previsto no
art. 453 do CPPM”. (Súmula nº 10 do STM). legais que foram estabelecidas pelo legislador.
A consumação do crime de Abandono de Posto
(Art. 195 do CPM) ocorre no exato momento em que o
militar se afasta de seu posto e o deixa sem vigilância,
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL não importando o tempo que fica ausente.
APELAÇÃO. DEFESA. DESERÇÃO. NOVA DESERÇÃO NO CURSO DO Nesse tipo penal o que se incrimina é o
PROCESSO. PROSSEGUIMENTO DO FEITO. INEXIGIBILIDADE DE
CONDUTA DIVERSA. ESTADO DE NECESSIDADE EXCULPANTE.
abandonar, afastar-se sem ordem superior do posto ou
CONCESSÃO DO SURSIS. CONDIÇÃO DE CIVIL. 1. A deserção posterior lugar de serviço que lhe foi designado, quer definitiva
não tem o condão de sobrestar o processo de deserção anterior, em ou temporariamente, bem como abandonar o serviço
observância à Teoria da Atividade, adotada pelo Código Penal Militar. 2.
Alegação de que o delito de deserção se deu por razões de ordem que deveria exercer sem terminá-lo. A tentativa não é
financeira, sem comprovação nos autos, é incapaz de afastar a admitida.
condenação pelo crime de Deserção. Incidência da Súmula nº 3 desta Importante destacar, que a jurisprudência vem
Corte. 3. O instituto do sursis decorre de opção político-criminal, sendo
que a vedação contida no inciso II do art. 88 do CPM não alcança a entendendo que o militar que se afasta do local de
situação do desertor que não é reincluído ao Serviço Ativo, após ser
considerado incapaz definitivamente. Preliminar de ausência de
serviço, mantendo vigilância sobre o mesmo, afasta o
condição de prosseguibilidade não acolhida. Decisão por maioria. crime, porque não se configura o elemento subjetivo
Recurso conhecido e provido parcialmente. Decisão por maioria. (STM -
Apelação 00000902820147030103 UF: RS. Rel. Min. Artur Vidigal de do tipo. Entende-se que aquele que se afasta do seu
Oliveira. Julgamento: 02/02/2016. Publicação DJE 29/02/2016). posto se manteve contato visual com o local e
permaneceu em distância hábil a reagir diante de
qualquer eventualidade, não está procurando ferir o
dever e o serviço militar, não havendo, portanto, o
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delito militar, embora dessa conduta possa resultar Os militares estaduais no exercício de suas atividades e
elementos transgressivos disciplinares. de suas atribuições, devem cumprir as ordens e
também as missões que lhe foram confiadas pelas
Sujeito ativo: Somente o militar (estadual ou federal) autoridades superiores ou mesmo pelas autoridades
do serviço ativo.
civis as quais estiverem subordinados. O cumprimento
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal). de ordens e também das missões não é uma faculdade,
Elemento objetivo: É a conduta de se desincumbir do mas uma obrigação decorrente do dever militar e dos
posto ou lugar de serviço o qual estava designado, ou regulamentos disciplinares. Somente quando as ordens
do serviço para o qual estava regularmente escalado, forem manifestamente ilegais, e o mesmo se aplica à
antes de terminado seu turno de serviço, sem a devida missão, é que o militar não estará obrigado a cumpri-
autorização. las. Contudo, mesmo se existir alguma dúvida quanto à
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. legalidade da ordem, o militar está obrigado a cumpri-
Ex: Um militar estadual que escalado de la, e, neste caso, se houverem responsabilidades
sentinela na Guarda do Quartel, no seu quarto de hora, subseqüentes, penal, civil e administrativa, elas
vai para o alojamento assistir na televisão o jogo da recairão sobre aquele que deu a ordem, ou seja, o
seleção do Brasil contra o México.
superior hierárquico.
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL Este crime está previsto no art. 196 do CPM e trata-se
APELAÇÃO. ABANDONO DE POSTO (CPM, ART 195). PRELIMINARES de delito omissivo próprio.
ARGUIDAS PELA DPU DE FORMA EXTEMPORÂNEA. NÃO
CONHECIMENTO. TIPICIDADE DA CONDUTA COPROVADA. AUSÊNCIA DE
CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE E DE CULPABILIDADE. Por missão entende-se uma atividade específica, certa,
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME PARA INFRAÇÃO DISCIPLINAR. NÃO definida e inequívoca, evidentemente legal, atribuída
CABÍVEL. REFORMA DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. A DPU, por ocasião
em que foi intimada de que o Feito foi posto em mesa para julgamento, por um superior a um subordinado.
por meio de manifestação judicial, apresentou teses não trazidas
inicialmente no recurso examinado, revestindo-se de indevida inovação
recursal, não sendo viável a sua análise, porquanto imprescindível à
Não é possível a tentativa, tendo em vista que a
prévia irresignação no momento oportuno e o efetivo debate sobre os conduta deste tipo penal militar é omissiva.
temas. Tem-se, dessa forma, por ocorrido o fenômeno processual da
preclusão consumativa, considerando que o direito de a Defesa
argumentar se exauriu quando apresentou suas Razões de Apelação, Sujeito ativo: Somente o militar (estadual ou federal)
sendo-lhe vedado exercê-lo outra vez. In casu, trata-se de militar que, do serviço ativo.
escalado regularmente para o Serviço de Ronda em sua Organização
Militar, de forma livre e consciente, se afastou, sem autorização, do
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
lugar em que deveria permanecer, sendo encontrado em sua residência Administração Militar (Estadual ou Federal).
dormindo, incidindo, dessa forma, no delito tipificado no art. 195 do
CPM. O crime de Abandono de Posto ou Lugar de Serviço consuma-se
Elemento objetivo: É a conduta do militar em não
no momento em que o Militar se afasta, sem autorização superior, do cumprir, injustificadamente, a missão recebida.
local de serviço para o qual estava escalado, independentemente do
tempo de duração da ausência, concorrendo toda a Guarnição de
Serviço para a segurança da Organização Militar. Por se tratar de crime Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
de perigo abstrato, não exige, no resultado, o efetivo prejuízo à
segurança da Unidade Militar para a sua consumação. Na hipótese de Ex: O militar estadual que viaja ao interior do Estado,
concorrência entre o preceito disciplinar militar e o preceito penal
militar, este último deve prevalecer. Preliminares não conhecidas, por inclusive recebendo diárias, para reforçar o
unanimidade. (STM - Apelação 0000072-40.2014.7.01.0401 UF: RJ. Rel.
Min. Lúcio Mário de Barros Góes. Julgamento: 13/10/2015. Publicação
policiamente de determinada cidade que sofreu
DJE 27/10/2015). recente ação delituosa intensa e, injustificadamente,
5.2.3 Descumprimento de Missão: deixa de fazê-lo.

Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL


lhe foi confiada: PENAL MILITAR. RECURSO ESPECIAL. ART. 435 DO CPPM. ORDEM DE
VOTAÇÃO DO CONSELHO DE JUSTIÇA MILITAR. ENFOQUE
CONSTITUCIONAL DO ACÓRDÃO RECORRIDO. ARTIGO 196 DO CPM.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não
DESCUMPRIMENTO DE INCUMBÊNCIA ESPECÍFICA. TIPICIDADE DA
constitui crime mais grave. CONDUTA. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTA
PARTE, NÃO PROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça não é
competente para, na via do recurso especial, analisar ofensa a
dispositivo constitucional, a teor do art. 105, III, da Constituição
Federal. 2. O crime de descumprimento de missão está previsto no
capítulo de crimes em serviço e a missão, aqui, deve ser entendida
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como incumbência, tarefa designada ao militar. 3. No caso concreto, Não é possível a tentativa, tendo em vista que a
está configurado o crime do art. 196 do CPM, pois o recorrente,
deliberadamente, descumpriu missão previamente estabelecida para os conduta deste tipo penal militar é omissiva.
dias de serviço que faltou, consistente no comando de patrulhas. 4.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não provido. Sujeito ativo: Somente o oficial.
(STJ - REsp 1301155 SP 2011/0310093-5. Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz -
T6 - Sexta Turma. Julgamento: 22/04/2014. Publicação DJE 02/05/2014). Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal).
Elemento objetivo: É a conduta realizada pelo oficial
5.2.4 Retenção Indevida: ao deixar de proceder à devolução, por ocasião da
Art. 197. Deixar o oficial de restituir, por ocasião da passagem de função, ou quando lhe for exigido, de
passagem de função ou quando lhe é exigido, objeto, plano, qualquer material inerente à função, que até então
carta, cifra, código ou documento que lhe haja sido confiado: ocupava e que de fato não pertença a ele, mas à
Administração Militar.
Pena - suspensão do exercício do posto, de três a seis
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
meses, se o fato não constitui crime mais grave.
Ex: O Oficial que retém sem autorização viatura de sua
unidade anterior ao assumir o comando de nova
O oficial ao deixar uma função ou quando lhe for OPM/OBM que não dispõe de viatura.
requisitado determinado material ou documento do PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
patrimônio da Administração Militar deve entregá-lo RECURSO CRIMINAL. Tipo penal ínsito no artigo 197 do CPM exige que a
retenção de objeto, plano, carta, cifra, código ou documento, seja
prontamente, pois a conduta do oficial que não quando da passagem de função, no momento em que esses bens são
exigidos do Oficial e ainda que, pela retenção indevida cause prejuízo
cumpre uma ordem recebida para restituir um objeto, real à Administração Militar, como também é necessário que no crime
um plano, uma carta, uma cifra, um código ou mesmo previsto pelo artigo 324 do CPM, o agente, inobservando lei,
regulamento ou instrução, dê causa direta a ato prejudicial à
um documento que lhe tenha sido confiado é Administração Militar, visto que a inobservância, por si só, extingue-se
sancionada pelo Direito Penal Militar (Art. 197 do na esfera da transgressão militar. É mansa e pacífica a jurisprudência, no
sentido de exigir, para a configuração dos crimes culposos, o fator da
CPM). previsibilidade inexistindo, dessa forma, a culpa se o resultado
antijurídico exorbita da previsão e diligência do homem médio. Decisão
Para melhor compreensão da conduta delineada neste unânime. (STM - Rcrimfo 6402 PE 1997.01.006402-3. Rel. Min. Olympio
Pereira da Silva Junior. Julgamento: 09/09/1997. Publicação DJ
tipo penal militar, interessante o conhecimento dos 22/10/1997).
seguintes conceitos:

- Objeto: Traduz-se por qualquer coisa móvel, 5.2.5 Embriaguez em Serviço:


obviamente atrelada à função deixada pelo sujeito
ativo; Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou
apresentar-se embriagado para prestá-lo:
- Plano: Todo e qualquer registro gráfico (escrito ou
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
por gravuras) que define, evidencia uma estratégia de
emprego militar;

- Carta: Abrange toda representação gráfica (por


gravuras, curvas de elevações geográficas, etc.) que
busque reproduzir um sítio geográfico;

- Cifra: É o caractere, sinal ou palavra convencional


de uma escrita que não deve ser compreendida por
todos;

- Código: É a legenda ou instrução para se


descriptografar uma informação, geralmente em forma
de mensagem codificada; e

- Documento: É qualquer escrito, instrumento ou


papel, público ou privado, que possua relevância FIGURA 12 - Embriaguez em Serviço.
jurídica e possa servir como prova.

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Obviamente que para se caracterizar o Crime de Elemento subjetivo: É o dolo genérico.


Embriagues em Serviço (Art. 202 do CPM) é necessário Ex: Um militar estadual que de serviço passa a
a constatação dessa embriaguês. A embriaguês poderá ingerir cachaça, tendo colocado-a em uma garrafa de
ser comprovada com exame de dosagem alcoólica refrigerante para disfarçar o ato, mas mesmo assim,
(exame de alcoolemia, exame de sangue) ou pelo vem a embriagar-se.
exame clínico (exame de embriaguez, “exame visual”),
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
realizado por médico perito oficial e, na ausência APELAÇÃO. DEFESA. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. AUSÊNCIA DE LAUDO
deste, por médico a ser designado pela autoridade DE DOSAGEM ETÍLICA. O Laudo de dosagem etílica é prescindível,
havendo outros meios para se atestar o estado de embriaguez do
militar. Não obstante, também se admite como acusado. A alegação de que o militar não mais se encontrava em serviço
não é acolhida quando demonstra que se encontrava cumprindo serviço
elemento de comprovação o resultado do teste do de Cabo da Guarda e abandonou o serviço antes da parada diária,
bafômetro, prova testemunhal e imagens que quando se dá a passagem do turno de serviço. A conduta de militar que
consome bebida alcoólica, embriagando-se no interior do quartel, não
evidenciem de modo preciso o estado do acusado na pode ser considerada insignificante, já que é extremamente perigosa,
ocasião do fato, com todas as circunstâncias colocando em risco a incolumidade física de outros militares e até
mesmo a si próprio, vez que presta serviço armado. Apelo desprovido.
demonstrativas da situação em que o mesmo se Unânime. (STM - AP 371520117110011 DF 0000037-15.2011.7.11.0011.
encontrava. Rel. Min. Marcos Martins Torres. Julgamento: 14/02/2013. Publicação
DJE 08/03/2013).

Não se admite o militar embriagado de serviço,


porque, no mínimo, ele apresentará falta de atenção e 5.2.6 Dormir em Serviço:
prejuízo ao desempenho do serviço que está
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como
realizando. Essa falta de atenção pode evoluir até oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou,
mesmo para a incapacidade total para a continuação e não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às
realização do serviço, quando quem ingeriu bebida máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de
natureza semelhante:
alcoólica pode vir a perde a coordenação motora,
predominando a confusão psíquica, apresentando-se Pena - detenção, de três meses a um ano.
perturbações sensoriais como a visão dupla, zumbido
de ouvido, ilusões (percepções erradas), palavras
difíceis e pastosas e atitudes inconvenientes.

Esse delito divide-se em 02 (duas) modalidades:

1º Modalidade: O militar já se encontra de serviço e


embriaga-se (se após a ingestão de bebida alcoólica o
agente não ficar embriagado não existe crime e
responderá disciplinarmente).
2º Modalidade: O militar apresenta-se embriagado
para prestar o serviço o qual estava devidamente
escalado e tinha ciência prévia da escala de serviço.
Importante lembrar, que o dolo eventual existe e se FIGURA 13 - Dormir em Serviço.
mostra claramente possível no caso do militar que diz
É imprescindível que o militar estadual se utilize de
saber “beber socialmente” ou daquele que, sabendo
que estará de serviço no dia seguinte, bebe além da todos os meios necessários para manter-se acordado e
conta, e se apresenta para início do serviço ainda no atento durante o seu serviço, pois deve sempre estar
estado de embriaguez. consciente de sua responsabilidade para cumprir da
Sujeito ativo: Somente o militar (Estadual ou Federal) melhor forma possível o que lhe for confiado, sob a
do serviço ativo. pena de além de ser considerado um criminoso (Art.
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
203 do CPM), perder sua própria vida e ainda colocar
Administração Militar (Estadual ou Federal).
em risco a vida de seus companheiros, instalações e
Elemento objetivo: É a conduta de se embriagar, que
poderá ocorrer durante, ou antes, do serviço. operações.

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Existe uma diferença entre a transgressão e o crime de livre e consciente de os militares praticarem a conduta típica de dormir,
quando em serviço, consoante o ilícito descrito no art. 203 do
dormir em serviço, que decorre da intensidade da CPM.Materialidade, autoria e culpabilidade comprovadas, pelas
prática do ato. Por exemplo, se o militar estadual está confissões, em juízo, dos Apelantes, bem como pelas provas
testemunhais e pelo documento que atesta estarem os militares
de pé, na condição de sentinela, mas vem a fechar os designados para o serviço de sentinela, no dia dos fatos.A conduta dos
olhos, mas permanece ainda de pé, não há que se falar Apelantes importou em prejuízo significativo para o dever militar e
colocou em risco a segurança do Quartel, devido ao fato de vários
em crime militar, mas em uma transgressão de postos terem ficado desguarnecidos.O elemento subjetivo do tipo foi
evidenciado pelo animus livre e consciente dos Apelantes ao assumirem
natureza disciplinar. Mas, se a mesma sentinela, deixa o risco de dormir em serviço ao invés de buscarem proporcionar meios
o seu posto, e se dirige a um local reservado, onde de evitar a sonolênciaApelo desprovido.Decisão unânime. (STM - AP
925720097070007 PE 0000092-57.2009.7.07.0007. Rel. Min. Raymundo
retira o cinto de guarnição, a cobertura, para que Nonato de Cerqueira Filho. Julgamento: 23/06/2011. Publicação DJE
possa dormir teremos neste caso o crime militar e não 23/08/2011).

a transgressão.
5.3 Contra a Pessoa
Alguns infratores que incidem neste tipo penal alegam
que o fato teria ocorrido em razão do uso de 5.3.1 Homicídio Simples:
medicamento controlado, ou ainda, por stress, ou
Art. 205. Matar alguém:
qualquer outra situação que no entender do militar
possa afastar a prática do delito, para tentarem se Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
justificar quando flagrados.

Neste curso já foi falado sobre os conceitos de oficial


de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente,
ou, não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia,
plantão, no estudo do delito militar do art. 158 do CPM
(“Violência contra militar de serviço”). Podendo-se
sintetizar que a compreensão do serviço do oficial é
aquele de ronda e de fiscalização do efetivo sob seu
comando e o serviço da praça todas as atividades
relacionadas à vigilância.
FIGURA 14 - Homicídio Simples.
Sujeito ativo: Somente o militar (estadual ou federal)
O sujeito ativo deste crime (Art. 205 do CPM)
do serviço ativo. que é um crime impropriamente militar, uma vez que
se encontra prevista também no art. 121 do CPB, é o
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
militar que venha a praticar o crime de tirar a vida de
Administração Militar (Estadual ou Federal). outra pessoa.
Quando o homicídio é cometido por motivo fútil,
Elemento objetivo: É a conduta de dormir em serviço
mediante paga ou promessa de recompensa, por
nas condições estabelecidas pelo artigo.
cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou por
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. outro motivo torpe, com emprego de veneno, asfixia,
tortura, fogo, explosivo, ou qualquer outro meio
A conduta culposa não caracteriza este crime militar, dissimulado ou cruel, ou de que possa resultar perigo
podendo configurar transgressão disciplinar. comum, à traição, de emboscada, com surpresa ou
mediante outro recurso insidioso, que dificultou ou
Ex: Um militar estadual que passa a dormir no horário
tornou impossível a defesa da vítima, para assegurar a
do serviço na cabine em que está escalado.
execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL outro crime, prevalecendo-se o agente da situação de
APELAÇÃO. DORMIR EM SERVIÇO. DOLO CARACTERIZADO. Dormir em
serviço. Crime de mera conduta, cuja consumação reside na própria
execução da conduta, segundo a doutrina.Os autos atestam a vontade

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serviço, se verifica o Homicídio Qualificado (Art. 205, §


2°, do CPM50).

Sujeito ativo: Somente o militar (estadual ou federal)


do serviço ativo.
Sujeito passivo:

a) Imediato: O próprio Estado, através da


Administração Militar (Estadual ou Federal).

b) Mediato: A vítima homicidada pode ser FIGURA 15 - Lesão Corporal.

qualquer pessoa (militar ou civil), sendo que caso a A tipificação desta conduta no CPM (Art. 209 do
vítima seja civil o militar será processado e julgado no CPM) procura proteger a integridade corporal (física e
Tribunal do Júri. psíquica) contra toda e qualquer forma de lesão. As
lesões podem ser as resultantes, por exemplo, de
Elemento objetivo: É a conduta de matar. arranhões, esfoladuras, ferimentos dilacerantes e
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. contusões variadas. A ofensa à saúde compreende
também a convulsão, choque nervoso e alteração
Ex: Um militar estadual que mata outro militar psíquica resultantes de coação e ou ameaça de
estadual. qualquer tipo.
A lesão pode ser leve ou grave. Na primeira hipótese se
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO. HOMICÍDIO SIMPLES. Apelo defensivo baseado na resultou consequências mais sérias para a vítima,
inexistência de provas suficientes para a condenação. "In casu",
podendo ser considerada como infração disciplinar
confirmou-se no cotejo probatório que os restos mortais encontrados
nos fundos da casa do Réu pertenciam ao Soldado desaparecido. O pelo juiz. (Art. 209, § 6º51, do CPM), e na segunda
Apelante baleou seu colega de farda e enterrou-o no quintal da
residência. Autoria e materialidade comprovadas. Condenação que se hipótese se foi provocada dolosamente e produziu
mantém. Apelação improvida. Unânime. (STM - Apelfo 48654 MS perigo de vida, debilidade permanente de membro,
2000.01.048654-2. Rel. Min. José Julio Pedrosa. Julgamento: 08/03/2001.
Publicação DJE 09/04/2001). sentido ou função, ou incapacidade para as ocupações
habituais, por mais de 30 (trinta) dias (Art. 209, §1º52,
do CPM).
EXCEÇÃO: O militar que, no exercício de suas
funções, matar um civil não será processado e A 1ª Turma do STF entendeu que não cabe à Justiça
julgado na JM, mas sim no Tribunal do Júri. (Art. Militar julgar o crime de lesão corporal cometido por
9º, Parágrafo único, do CPM).
um militar em face de outro militar, fora do serviço, e
sem que eles soubessem da condição de militar de
5.3.2 Lesão Corporal:
cada um, conforme precedente jurisprudencial
Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de transcrito adiante.
outrem:
Por fim, cabe destacar que no caso de civil que sofre
Pena - detenção, de três meses a um ano.
lesão corporal praticada por policial-militar em co-
autoria com um policial-civil, o primeiro responderá na
justiça especializada e o segundo na justiça comum,
50
conforme a Súmula nº 90 do STJ, transcrita no
Art. 205, § 2°: Se o homicídio é cometido: I - por motivo fútil; II -
mediante paga ou promessa de recompensa, por cupidez, para precedente jurisprudencial adiante.
excitar ou saciar desejos sexuais, ou por outro motivo torpe; III - com
51
emprêgo de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo, ou qualquer Art. 209. (...) § 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode
outro meio dissimulado ou cruel, ou de que possa resultar perigo considerar a infração como disciplinar.
comum; IV - à traição, de emboscada, com surprêsa ou mediante
52
outro recurso insidioso, que dificultou ou tornou impossível a defesa Art. 209. (...) § 1°: Se se produz, dolosamente, perigo de vida,
da vítima; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou
ou vantagem de outro crime; VI - prevalecendo-se o agente da incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias:
situação de serviço: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Pena - reclusão, até cinco anos.

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Sujeito ativo: O militar (Estadual ou Federal) e o civil (Este


somente na esfera federal).
Sujeito passivo:

a) Imediato: O próprio Estado, através da


Administração Militar (Estadual ou Federal).

b) Mediato: A vítima lesionada pode ser


qualquer pessoa (militar ou civil).
FIGURA 16 - Maus-tratos.
Elemento objetivo: É a conduta de ofender fisicamente
alguém. O Crime de Maus-tratos (Art. 213 do CPM)
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. consiste em expor a perigo a vida ou a saúde de
A Lesão Corporal culposa está capitulada no art. 21053 pessoa, que esteja sob cuidado ou guarda, privando-a
do CPM. de condições essenciais para a vida ou sujeitando-a a
tratamento desumano, com a intenção de educá-la ou
Ex: Um militar estadual que ao efetuar a prisão
discipliná-la.
de um desertor, espanca-o deixando hematomas no
Este crime deve ser praticado em lugar sujeito à
corpo do preso.
administração militar ou no exercício de função militar,
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
nesse segundo caso, independente do lugar em que se
APELAÇÃO. DEFESA. LESÃO CORPORAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. dê e somente possível para o militar da ativa ou a ele
CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA. INJUSTA PROVOCAÇAO equiparado.
PRÉVIA. DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO. LESÕES RECÍPROCAS. 1.
Lesão corporal, praticada dentro de organização militar, resultando em
O sujeito passivo do delito deve estar sob
edema e contusão no lábio superior, não pode ser considerada ínfima, autoridade (comandado, subordinado), guarda ou
sendo inaplicável, portanto, o Princípio da Insignificância. 2. Não vigilância (sob escolta ou em cárcere) do autor, isso
restando comprovada a reciprocidade das lesões, nem a injusta
provocação prévia ou domínio de violenta emoção por parte do agente, com o fim de educação (escola de formação para novos
impossível aplicar a redução da pena prevista no art. 209, §§ 4º e 5º do militares), instrução (cursos e estágios de
CPM. Recurso conhecido e não provido. Decisão unânime. (STM - AP
especialização e aperfeiçoamento de militares já
00001311520137070007 PE. Rel. Min. Artur Vidigal de Oliveira.
Julgamento: 04/11/2015. Publicação DJE 19/11/2015). formados), tratamento (daquele que enfrenta
problemas médicos) ou custódia (preso ou internado).
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
“Compete à justiça estadual militar processar e
(este somente na esfera federal), desde que esteja
julgar o policial militar pela pratica do crime investido de autoridade ou que exerça guarda ou
militar, e a comum pela pratica do crime comum vigilância sobre o sujeito passivo.
simultâneo aquele”. (Súmula nº 90 do STJ).
Sujeito passivo:

5.3.3 Maus-tratos: a) Imediato: O próprio Estado, através da


Administração Militar (Estadual ou Federal).
Art. 213. Expor a perigo a vida ou saúde, em lugar sujeito
à administração militar ou no exercício de função militar, de b) Mediato: A vítima maltratada pode ser
pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para o fim de qualquer pessoa (militar ou civil).
educação, instrução, tratamento ou custódia, quer privando-a
de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a Elemento objetivo: É a conduta de trazer risco, por
a trabalhos excessivos ou inadequados, quer abusando de
ação ou omissão, à vida ou saúde de uma pessoa.
meios de correção ou disciplina:
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Pena - detenção, de dois meses a um ano. Ex: Um militar estadual instrutor que durante um
curso de manutenção obriga o aluno a passar 01 (um)
dia inteiro (24 horas) sem se alimentar ou beber água,
a fim de ensiná-lo a tirar o serviço sem se distrair.
53
Art. 210. Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a
um ano.

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PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL


APELAÇÃO. VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR E LESÃO CORPORAL (CPM; APELOS DA DEFESA E DO MPM. CRIMES CAPITULADOS NOS ARTS. 214 E
ARTS 175 E 209). DESCLASSIFICAÇÃO. MAUS-TRATOS (CPM; ART.213). 240 DO CPM. TESE ABSOLUTÓRIA FUNDADA NO PRINCÍPIO DA
Oficial que, durante instrução de recrutas em acampamento, a pretexto INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE
de correção por desleixo em exercícios de campo, excede na forma de CALÚNIA. 1. Princípio da Insignificância. Pequeno valor da res furtiva.
punir um dos soldados, ordenando que a vítima se submetesse a Para aplicação do princípio da insignificância faz-se necessária a
exercícios aos quais já não tinha condições de fazê-los, provocando-lhe presença dos pressupostos exigidos, quais sejam, a mínima
um mal súbito que o levou a ser socorrido. Conduta que mais se amolda ofensividade da conduta do agente, a ausência depericulosidade social
ao tipo penal capitulado no art. 213 do CPM, cujas elementares da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e
encontram-se presentes na descrição fática. Apelo parcialmente provido a inexpressividade da lesão jurídica provocada. Ademais, não basta
para condenar o réu, por desclassificação, nas penas do art. 213 do apenas analisar o valor do bem, mas é necessário observar o prejuízo
CPM. Decisão Majoritária. (STM - Acórdão 0000004-12.2008.7.01.0301 causado à vitima, assimcomo sua condição financeira. 2. Configuração
(2008.01.051192-0) UF: RJ. Min. Rel. Francisco José da Silva Fernandes. do crime de Calúnia. Soldado que durante o depoimento do IPM imputa
Decisão: 19/02/2009. Publicação DJE 07/04/2009). a conduta delituosa a outrem incorre no crime descrito no art. 214 do
CPM. Ausência do "animus defendendi", tendo em vista que o
depoente foi inquirido apenas nacondição de testemunha e não de
acusado. Apelo defensivo desprovido e Apelo ministerial provido.
5.3.4 Calúnia: Decisão unânime. (STM - AP 438320097080008 PA 0000043-
83.2009.7.08.0008. Min. Rel. José Coêlho Ferreira. Julgamento:
Art. 214. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente 10/05/2011. Publicação 01/07/2011 DJE).
fato definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.


5.3.5 Difamação:

Art. 215. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à


Crime impropriamente militar, pois também está sua reputação:
previsto no CPB no art. 138, a Calúnia (Art. 214 do
CPM) consiste em atribuir, falsamente a alguém a Pena - detenção, de três meses a um ano.
responsabilidade pela prática de um determinado fato
definido como crime.
Por óbvio, que a pessoa contra a qual se faz a
Crime impropriamente militar, pois também está
atribuição não pode realmente ter praticado aquele
previsto no CPB no art. 139, a Difamação (Art. 215 do
crime, como por exemplo, um homem condenado em
CPM) consiste em atribuir à alguém fato determinado
última instância na justiça por roubo for chamado de
ofensivo à sua reputação.
ladrão.
Para efeitos deste delito militar, deve-se compreender
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
a reputação como o conceito profissional do militar na
(Este somente na esfera federal).
Sujeito passivo: sua corporação, perante o público e a sociedade em
que vive.
a) Imediato: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal). Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
(este somente na esfera federal).
b) Mediato: A vítima da calúnia pode ser Sujeito passivo:
qualquer pessoa (militar ou civil).
a) Imediato: O próprio Estado, através da
Elemento objetivo: É a conduta de caluniar, ou seja, Administração Militar (Estadual ou Federal).
ofender alguém imputando-lhe, falsamente, uma
conduta tipificada como crime. b) Mediato: A vítima da difamação pode ser
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. qualquer pessoa (militar ou civil).
Ex: Um militar estadual que acusa falsamente Elemento objetivo: É a conduta de difamar, ou seja,
um colega de serviço de ter roubado um aparelho de imputar ao sujeito passivo fato que ofende a sua
som de um veículo furtado recuperado. reputação.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Ex: Um militar estadual que acusa indevidamente que
um colega seu de farda de sempre trabalhar de forma
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relaxada, não cumprindo com zelo suas atribuições Diferentemente dos crimes de calúnia e de
específicas. difamação, a injúria não admite a exceção da verdade.
Essa impossibilidade é evidente porque a injúria
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL repousa sobre a emissão de um conceito depreciativo
APELAÇÃO. DIFAMAÇÃO (CPM, art. 215). Hipótese em que civil, durante da pessoa, e não, como na calúnia ou na difamação, na
o Inquérito em que patrocinava a defesa de um militar, embora
imputação de um fato que pode ser demonstrado.
advertido, passa a se comportar de modo pouco adequado e a
tumultuar o andamento da audiência de inquirição, culminando com a Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
entrega de requerimento cujo conteúdo registrava afirmações maldosas (Este somente na esfera federal).
sobre o desempeno funcional do Encarregado do IPM, ofensivas a sua
reputação. Conduta que se revela moralmente censurável e Sujeito passivo:
incompatível coma categoria profissional que o Acusado representa,
repercutindo negativamenteperante os militares que acompanhavam a
a) Imediato: O próprio Estado, através da
audiência. Entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de
que a imunidade profissional garantida pelo Estatuto da Advocacia não Administração Militar (Estadual ou Federal).
protege o advogado que se excede nos autos e ataca a honra de
qualquer dos envolvidos no processo. Provas documentais e
testemunhais esclarecedoras a confirmar a conduta delitiva. Por b) Mediato: A vítima da injúria pode ser
maioria, provido parcialmenteo apelo defensivo, reduzindo-se a pena qualquer pessoa (militar ou civil).
imposta ao Acusado, com a concessão do sursis. (STM - AP
214020077030103 RS 0000021-40.2007.7.03.0103. Min. Rel. Francisco
José da Silva Fernandes. Julgamento: 28/04/2010. Publicação: 13/08/2010 Elemento objetivo: É a conduta de injuriar, ou seja,
DJE). ofender alguém, atingindo a sua dignidade ou o seu
decoro.
5.3.6 Injúria: Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Ex: Um militar estadual que acusa indevidamente
Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
colega de farda de praticar prostituição nos momentos
decôro:
de folga do serviço.
Pena - detenção, até seis meses.
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO DA DEFESA. DESACATO A SUPERIOR (ART. 298 DO CPM).
INJÚRIA A SUPERIOR (ART. 216 C/C O ART. 218, II, AMBOS DO CPM).
Crime impropriamente militar, pois também está AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO. DISCUSSÃO. ANIMOSIDADE PRÉ-
previsto no CPB no art. 140, a Injúria (Art. 216 do CPM) EXISTENTE. I - O crime de desacato a superior, art. 298 do CPM, está
entre os crimes onde o sujeito passivo primário é a própria
consiste em atribuir a alguém qualidade negativa, que administração militar, e, apenas secundariamente, o militar ofendido.
ofenda sua dignidade ou decoro. Fere-se o decoro Assim, há que se observar na conduta ofensiva a finalidade de
quando se critica o conjunto de atributos físicos desprestigiar a função pública do ofendido. II - A desclassificação para o
crime de injúria a superior, art. 216 c/c o art. 218, inciso II, ambos do
(“cabeção”, “pescoção”, “monstro”, etc.), intelectuais CPM, não deve ser feita na medida em que exsurge dos autos que as
(“animal”, “jumento”, “retardado”, etc.) e sociais palavras ofensivas foram precedidas de assomo emocional proveniente
(“vagabundo”, “almofadinha”, “arruaceiro”, etc.). de discussão e exaltação de ânimos decorrentes de injusta recusa do
superior e comprovada animosidade preexistente entre ambos. III - Não
Portanto, o sujeito pretende atingir o conceito basta, portanto, para tais crimes, a mera enunciação de palavras
que a pessoa possui de si própria, a sua auto-valoração, ofensivas, decorrentes de desabafo ou revolta momentânea, por faltar-
lhes os desígnios dolosos indispensáveis. IV - Apelo improvido. Decisão
querendo afetar a sua honra subjetiva, que inclusive é unânime. (STM - Apelação 2007.01.050747-7 UF: DF. Min. Rel. José
tutelada pelo art. 5º, inciso X54, da CF/1988. Coêlho Ferreira. Decisão: 27/05/2008. Publicação: 21/08/2008 DJE).
Se a injúria vier a consistir em violência ou outro
ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo
meio empregado, for considerada aviltante, será 5.3.7 Constrangimento Ilegal:
considerada Injúria Real (Art. 217 do CPM55).
Art. 222. Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer
outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei
54 permite, ou a fazer ou a tolerar que se faça, o que ela não
Art. 5º. (...). X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo manda:
dano material ou moral decorrente de sua violação;
Pena - detenção, até um ano, se o fato não constitui
55
Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato que atinja crime mais grave.
a pessoa, e, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considera
aviltante: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena
correspondente à violência.

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Crime impropriamente militar, pois também está PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL


previsto no CPB no art. 146, o Constrangimento Ilegal APELAÇÃO DA DEFESA. DESACATO A SUPERIOR (ART. 298 DO CPM).
INJÚRIA A SUPERIOR (ART. 216 C/C O ART. 218, II, AMBOS DO CPM).
(Art. 222 do CPM) consiste em forçar alguém a fazer AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO. DISCUSSÃO. ANIMOSIDADE PRÉ-
algo que ele não quer, sendo passível de punição pelo EXISTENTE. I - O crime de desacato a superior, art. 298 do CPM, está
entre os crimes onde o sujeito passivo primário é a própria
Direito Penal Militar, por violar o direito à liberdade administração militar, e, apenas secundariamente, o militar ofendido.
individual. Assim, há que se observar na conduta ofensiva a finalidade de
desprestigiar a função pública do ofendido. II - A desclassificação para o
crime de injúria a superior, art. 216 c/c o art. 218, inciso II, ambos do
O constrangimento pode ser realizado de forma direta CPM, não deve ser feita na medida em que exsurge dos autos que as
palavras ofensivas foram precedidas de assomo emocional proveniente
(impondo diretamente o comportamento ao sujeito
de discussão e exaltação de ânimos decorrentes de injusta recusa do
passivo, como a violência) ou indireta (não agindo superior e comprovada animosidade preexistente entre ambos. III - Não
basta, portanto, para tais crimes, a mera enunciação de palavras
diretamente sobre a pessoa constrangida, mas ofensivas, decorrentes de desabafo ou revolta momentânea, por faltar-
chegando até ela por outro meio, como, por exemplo, lhes os desígnios dolosos indispensáveis. IV - Apelo improvido. Decisão
unânime. (STM - Apelação 2007.01.050747-7 UF: DF. Min. Rel. José
o uso de um animal para o emprego da violência). Coêlho Ferreira. Decisão: 27/05/2008. Publicação: 21/08/2008 DJE).

O direcionamento do constrangimento deve ser de tal


sorte ao constrangido que tenha a sua liberdade de 5.3.8 Ameaça:
agir turbada, para fazer o que a lei não manda; deixar Art. 223. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto,
de fazer o que a lei permite ou tolerar que se faça o ou qualquer outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto e
que a lei não manda. grave:

Pena - detenção, até seis meses, se o fato não constitui


Para efeito deste tipo penal militar, a violência é a
crime mais grave.
física, podendo ser caracterizada pela conduta
comissiva ou omissiva, e a ameaça, como exige o
próprio tipo, deve ser grave, ou seja, uma promessa de Crime impropriamente militar, pois possui igual
mal futuro, apta a causar temor na vítima. Todavia, tipificação que o art. 147 do CPB, o Crime de Ameaça
não se exige que o mal versado seja injusto, sob pena (Art. 223 do CPM) consiste na conduta de ameaçar por
de se configurar o delito de ameaça (Art. 223 do CPM). uma pessoa qualquer meio podendo chegar a causar-
lhe mal injusto e grave.
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
(este somente na esfera federal). Como mal injusto pode se citar a ameaça de
seqüestro, uma vez que o mal anunciado é injusto, pois
Sujeito passivo: ninguém tem o direito de seqüestrar alguém. Quanto
ao fato de ser grave, trata-se da extensão do dano,
a) Imediato: O próprio Estado, através da
devendo o mal anunciado ser de importância capital
Administração Militar (Estadual ou Federal).
para a vítima, seja no âmbito econômico, físico ou
b) Mediato: A vítima do constrangimento ilegal moral, de modo que seja capaz de intimidá-la.
pode ser qualquer pessoa (militar ou civil).
Não configura o delito quando a ameaça não é possível
Elemento objetivo: É a conduta de constranger, ou de ser realizada, não é idônea ou crível, sendo apenas
seja, forçar, coagir, obrigar, alguém a fazer algo que não por brincadeira, ou não causa temor, não levando o
tem a intenção de fazer. sujeito passivo a dar crédito à ameaça.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
Ex: Um superior hierárquico que obriga
(Este somente na esfera federal).
subordinado seu, mediante ameaça, a participar de
uma barreira não autorizada a fim de extorquir Sujeito passivo:
caminhoneiros.
a) Imediato: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal).

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b) Mediato: A vítima da ameaça pode ser Elemento objetivo: É a conduta de praticar ou permitir
qualquer pessoa (militar ou civil). que se pratique ato libidinoso, homossexual ou não,
em lugar sujeito a Administração Militar.
Elemento objetivo: É a conduta de ameaçar.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Ex: Um militar estadual que ameaça outro de
Exemplo (1): Um militar estadual que durante o
morte, mostrando-lhe sua arma apontada para ele,
porque o mesmo comunicou a superior hierárquico expediente na OPM/OBM chama outro militar estadual
irregularidade que aquele praticou em serviço. para lhe fazer um “boquete” no banheiro.

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL Exemplo (2): Um militar estadual que leva sua


APELAÇÃO. MPM. ART. 223 DO CPM (AMEAÇA). CÓLERA, REVOLTA OU namorada para o quartel e com ela pratica sexo no
IRA. ESTADO DE EMBRIAGUEZ. NÃO CONFIGURADO. ART. 224 DO CPM
(DESAFIO PARA DUELO). DESAFIO PARA LUTA CORPORAL SEM ARMAS. alojamento.
NÃO CONFIGURADO. APELO IMPROVIDO. I - O crime do art. 223 do
CPM requer que a ameaça seja idônea e séria, não se configurando se
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
feita em momento de cólera, revolta ou ira e em momento de
embriaguez, mormente quando a vítima não lhe dá maior crédito. O APELAÇÃO. PEDERASTIA OU OUTRO ATO DE LIBIDINAGEM (ART. 235 DO
delito exige ânimo calmo e refletido. II - Para se configurar o desafio CPM). Militar que se encontrava de serviço e é flagrado nas
para duelo faz-se necessário que o autor, de forma direta e consciente, dependências de um banheiro praticando ato libidinoso com outro
e por meio de palavra, proponha o duelo, o qual se caracteriza pelo indivíduo, incorre no delito previsto no art. 235 do CPM. Negado
emprego de arma. III - Recurso ministerial improvido. Decisão unânime. provimento ao Apelo. Decisão Unânime. (STM - AP(FO)
(STM - Apelação. 2008.01.050953-4 UF: PE. Rel. Min. José Coêlho 111720077020202 SP 0000011-17.2007.7.02.0202. Min. Rel. Olympio
Ferreira. Decisão: 30/09/2008. Publicação: 09/02/2009 DJE). Pereira da Silva Junior. Julgamento: 11/02/2010. Publicação: 31/05/2010
DJE).

5.3.9 Pederastia ou Outro Ato de Libidinagem: 5.3.10 Ato Obsceno:


Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com êle se Art. 238. Praticar ato obsceno em lugar sujeito à
pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito administração militar:
a administração militar:
Pena - detenção de três meses a um ano.
Pena - detenção, de seis meses a um ano.

O Crime de Ato Obsceno (Art. 238 do CPM)


Crime propriamente militar, o Crime de Pederastia caracteriza-se pela prática de uma ação de cunho
(Art. 235 do CPM) proíbe o sexo, homossexual ou não, sexual que ofende o pudor (a moral), podendo ser a
dentro das dependências militares. simples exposição em público do órgão genital, a
nudez, a masturbação, a micção, gestos ou sinais com a
Este tipo penal militar reprime o ato sexual dentro dos intenção de ofender o pudor público, no interior de
quartéis, seja ele homossexual (feminino ou masculino) local sob a Administração Militar.
ou heterossexual, não se distinguindo a liberdade A obscenidade não é apenas vinculada à nudez, e nem
sexual do militar. tudo que envolve nudez é obsceno. Obsceno é aquilo
que ofende o padrão médio da moralidade social, ou
Para efeitos deste crime, o ato libidinoso deve ser seja, aquilo que ofende alguém que não é
compreendido como todo aquele dirigido para a especialmente sensível ou pudico.
satisfação de um impulso de luxúria, de lascívia, e que
visa ao prazer sexual. Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
(este somente na esfera federal).
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) do serviço Sujeito passivo:
ativo.
a) Imediato: O próprio Estado, através da
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da Administração Militar (Estadual ou Federal).
Administração Militar (Estadual ou Federal).

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b) Mediato: A Sociedade, representada pelas


pessoas que assistiram ao ato obsceno no local sujeito
à Administração Militar.

Elemento objetivo: É a conduta de praticar, executar,


realizar o ato obsceno.

Elemento subjetivo: É o dolo genérico.

Ex (1): Uma militar estadual feminina que durante o


expediente no QCG tira a roupa na repartição, ficando
nua diante de seus colegas de trabalho.
FIGURA 17 - Furto Simples.

Ex (2): Um militar estadual que urina no pátio interno Crime impropriamente militar, pois possui igual
do quartel diante da vista de outros militares que tipificação que o art. 155 do CPB, o Crime de Furto
chegavam para o serviço. (Art. 240 do CPM) se caracteriza pela subtração de
qualquer tipo ou forma de objeto para si ou outra
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
pessoa, diferenciando-se do roubo pelo uso de
ATO OBSCENO. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. Ficou comprovado, tanto pela
confissão no Inquérito e em Juízo, como pela prova testemunhal, que o intimação, violência ou grave ameaça contra a vítima.
Réu estava despido nas dependências do Hospital Naval Marcílio Dias e,
ainda nu, desceu as escadas do 14º andar, onde foi encontrado, até o 1º
subsolo, onde fica o alojamento dos marinheiros, local em que se
Classifica-se como Furto Simples (Art. 240 do CPM) e
vestiu. O crime do art. 238 do CPM pressupõe que o lugar sujeito à Furto Qualificado (Art. 240, §§ 4º, 5º e 6º, do CPM56),
administração militar seja público, aberto ao público ou exposto ao
público. Trata-se de crime de perigo, não há necessidade de que seja se for praticado à noite, se o bem for da Fazenda
visto por alguém, bastando tal possibilidade. Doutrina e jurisprudência Nacional ou se o furto tiver sido praticado com
pátrias são pacíficas no entendimento de que ato obsceno é a
manifestação corpórea, de cunho sexual, que ofende o pudor; que destruição ou rompimento de obstáculo, com abuso da
causa vergonha a quem venha a presenciá-lo. Um nosocômio militar é
lugar potencialmente exposto ao público. Ainda que num dia fora do
confiança ou mediante fraude, escalada ou destreza,
expediente normal por tratar-se de feriado é, sem dúvida, um lugar com emprego de chave falsa, por duas ou mais
onde transitam várias pessoas, sejam médicos, funcionários, pacientes
e familiares. Não há dúvida, portanto, de que a conduta do Réu teve pessoas.
capacidade de ofender o pudor público, caracterizando o referido tipo
penal. Autoria e materialidade do delito encontram-se devidamente Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
comprovadas nos autos, não havendo qualquer excludente de culpa ou
de crime. Apelo ministerial provido. Unânime. (STM - AP(FO) (Este somente na esfera federal).
2009010514147 RJ 2009.01.051414-7. Min. Rel. Rayder Alencar da Sujeito passivo:
Silveira. Julgamento: 26/11/2009. Publicação: 16/12/2009 DJE).

a) Imediato: O próprio Estado, através da


Administração Militar (Estadual ou Federal).
5.4 Contra o Patrimônio
b) Mediato: A vítima do furto pode ser
5.4.1 Furto Simples:
qualquer pessoa (militar ou civil), e ainda, pessoa
Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia natural ou jurídica.
móvel:

Pena - reclusão, até seis anos.

56
Art. 240, 4º: Se o furto é praticado durante a noite: Pena reclusão,
de dois a oito anos. 5º Se a coisa furtada pertence à Fazenda
Nacional: Pena - reclusão, de dois a seis anos. 6º Se o furto é
praticado: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
subtração da coisa; II - com abuso de confiança ou mediante fraude,
escalada ou destreza; III - com emprêgo de chave falsa; IV -
mediante concurso de duas ou mais pessoas: Pena - reclusão, de
três a dez anos.

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Elemento objetivo: É a conduta de subtrair, tirar, químico ou biológico, dissimulado, como alucinógenos,
tomar, sacar sem o conhecimento e consentimento da soníferos, etc., para que a vítima não resista à
vítima, a posse da coisa. subtração.

Elemento subjetivo: É o dolo genérico. Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
(este somente na esfera federal).
Ex (1): Um PM que subtrai para si munição da Sujeito passivo:
Reserva de Armamento.
Ex (2): Um BM que subtrai para um amigo a) Imediato: O próprio Estado, através da
machado da viatura de Resgate e Salvamento. Administração Militar (Estadual ou Federal).

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL b) Mediato: A vítima do roubo pode ser


Furto de aparelho de som nas dependências de administração qualquer pessoa (militar ou civil).
militar - bem de propriedade privada - STJ - não é crime militar -
“não se apura a invasão do local da unidade militar, apura-se
Elemento objetivo: É a conduta de subtrair, tirar,
tão somente o furto do aparelho de som praticado por civil,
sendo que o bem furtado também não pertence ao patrimônio tomar, sacar sem o conhecimento e consentimento da
público sob administração militar, mas a particular; assim, vítima, a posse da coisa, diferindo do furto porque há o
embora a vítima seja militar, não houve crime militar, visto que
o delito não atingiu as instituições militares, única hipótese apta emprego de violência ou grave ameaça.
a caracterizar o crime militar no caso concreto”. (CC 115.311-PA,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/03/11). Elemento subjetivo: É o dolo genérico.

Ex (1): Um PM que subtrai um aparelho de MP3 do


5.4.2 Roubo Simples: interior de um veículo recuperado após ter sido furtado
dias antes.
Art. 242. Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para
outrem, mediante emprêgo ou ameaça de emprêgo de
Ex (2): Um BM que subtrai um cordão de ouro que
violência contra pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer
modo, reduzido à impossibilidade de resistência: estava sobre uma mesa de residência que entrou para
combater princípio de incêndio.
Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO. ROUBO DE ARMAMENTO BÉLICO. Apelo interposto pela
Crime impropriamente militar, pois possui igual defesa em face de condenação por roubo de Fuzil FAL 7.62, três
carregadores e sessenta munições avaliadas em R$ 2.402,40, sob
tipificação que o art. 157 do CPB, o Roubo Simples (Art. administração do Exército Brasileiro.Preliminar de nulidade em razão da
242 do CPM), se caracteriza pela a subtração de não suspensão do processo rejeitada por maioria. A não aplicação do
disposto no art. 366 do CPP comum ao processo penal militar não fere a
qualquer tipo ou forma de objeto para si ou outra
constituição, nem, muito menos, tratado de Direitos Humanos dos
pessoa, de forma diferente do furto, com o emprego de quais o Brasilseja signatário.No mérito, recurso desprovido haja vista
violência ou ameaça ou depois de haver reduzido a que as testemunhas em juízo confirmaram, de forma severa e
convincente, o reconhecimento fotográfico do acusado, realizado
possibilidade de resistência da vítima. quando do IPM.Condenação mantinha como forma de coibir que ex-
A subtração referida neste tipo penal militar deve ter o militares sucumbam ao crime organizado atacando, arma em punho,
unidades para, subtraindo armamento bélico, municiar quadrilhas de
propósito de permanecer com a coisa, ainda que traficantes e "milicianos" do Rio de Janeiro.Pena inalterada diante do
temporariamente, ou entregá-la a outra pessoa, que princípio do "non reformatio in pejus" em recurso exclusivo da
defesa.Unânime. (STM - AP(FO) 80920047010101 RJ 0000008-
não a própria pessoa que foi roubada. 09.2004.7.01.0101. Min. Rel. Marcos Martins Torres. Julgamento:
03/03/2011. Publicação: 28/04/2011 DJE).
Ainda, a violência pode ser física, não sendo
considerada para a configuração deste crime a
violência leve empregada apenas para distração, como
por exemplo, empurrão ou trombada, caracterizando o
crime de furto, e pode se constituir no meio
empregado para a redução da possibilidade de
resistência da vítima, como por exemplo, uso de meio

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5.4.3 Extorsão Simples: Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil


(Este somente na esfera federal).
Art. 243. Obter para si ou para outrem indevida
Sujeito passivo:
vantagem econômica, constrangendo alguém, mediante
violência ou grave ameaça:
a) Imediato: O próprio Estado, através da
a) a praticar ou tolerar que se pratique ato lesivo do seu Administração Militar (Estadual ou Federal).
patrimônio, ou de terceiro;
b) Mediato: A vítima da extorsão pode ser
b) a omitir ato de interêsse do seu patrimônio, ou de
qualquer pessoa (militar ou civil).
terceiro:

Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.


Elemento objetivo: É a conduta de obter a vantagem
pecuniária indevida, com o emprego de violência ou
grave ameaça, para si ou para outra pessoa.
Crime impropriamente militar, embora possua Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
descrição típica diferente do art. 15857 do CPB, a
Extorsão Simples (Art. 243 do CPM) é idêntica àquela Ex (1): Um PM que faz um dono de mercadinho
trazida pelo art. 169 do Código Penal comum anterior depositar dinheiro em sua conta corrente, mediante
(Dec.-Lei nº 1.004, de 21/10/69), revogado antes de ameaça que se não fizesse tal depósito seu
sua entrada em vigor, se caracteriza pela obtenção estabelecimento seria roubado.
indevida de vantagem econômica de alguma pessoa,
Ex (2): Um BM que exige de um proprietário de casa de
mediante constrangimento, violência ou grave ameaça
show certa quantia em espécie, afirmando que caso
(Art. 243 do CPM).
não pague o valor exigido não seria realizada a vistoria
Para a configuração deste crime militar, o sujeito ativo de funcionamento pelo CBMCE, para verificação dos
deve obter vantagem econômica indevida, ou seja, sistemas e dispositivos de segurança contra incêndio,
obter dinheiro, bem, etc., ao qual não possui direito, documento o qual é imprescindível para a concessão do
que não lhe é devido, pois caso contrário, poderá devido Alvará de Funcionamento pela Prefeitura
configurar outro crime, como por exemplo, ameaça Municipal.
(Art. 223 do CPM), constrangimento ilegal (art. 222 do
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
CPM), ou até, em alguns casos pontuais, o delito de
APELAÇÃO. DEFESA. EXTORSÃO. PROMESSA DE PAGAMENTO POR
concussão (Art. 305 do CPM). PARTE DO OFENDIDO. VANTAGEM INDEVIDA NÃO CONFIGURADA PARA
FINS PENAIS. AMEAÇA NÃO COMPROVADA. EXCESSO DE PRESSÃO POR
PARTE DOS AUTORES. DESCLASSIFICAÇÃO. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS
Diferencia-se do roubo, porque naquele crime o autor PRÓPRIAS RAZÕES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. ABSOLVIÇÃO
pode lograr conseguir seu objetivo QUE SE IMPÕE NO QUE TANGE AO DELITO MILITAR. APELO PROVIDO. I -
Militar que, de forma acintosa e com pressão excessiva, cobra dívida de
independentemente do comportamento do sujeito ofendido não pratica o crime de extorsão, mas sim de exercício
passivo, isto é, a vítima apenas entrega a coisa em arbitrário das próprias razões, cuja previsão está no CPB e, por
consequência, a competência pertence à Justiça Comum. Impõe-se a
razão da violência ou ameaça sofrida ou, então, facilita absolvição, em face da ausência do elemento indevida vantagem
econômica, essencial ao tipo em que foram denunciados. II - Evidente
o arrebatamento da coisa diante da surpresa da
fragilidade das provas atinentes à grave ameaça, uma vez que a palavra
conduta criminosa, enquanto que na extorsão o sujeito do ofendido pode ser considerada suspeita ante o objetivo de recuperar
os valores repassados ao primeiro Apelante. Apelo provido. Decisão
ativo só alcança seu intento necessariamente com a unânime. (STM - AP: 1133520087010201 RJ 0000113-
ação da vítima, que ameaçada, se despoja em favor do 35.2008.7.01.0201. Min. Rel. José Coêlho Ferreira. Julgamento:
27/06/2012. Publicação: 12/09/2012 DJE).
agente do delito criminal.

57
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer
alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

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5.4.4 Apropriação Indébita Simples: Ex (2): Um BM que vendeu aparelho de


musculação que havia sido colocado sob sua guarda,
Art. 248. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem
em razão do pouco espaço disponível no quartel central
a posse ou detenção:
dessa Corporação, até que fosse providenciada sua
Pena - reclusão, até seis anos. venda em haste pública (leilão público).

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
EMBARGOS INFRINGENTES DO JULGADO. ART. 248 DO CPM.
Crime impropriamente militar, pois possui igual APROPRIAÇÃO INDÉBITA SIMPLES. O ora Embargante, após passagem
de serviço, dirigiu-se à Armaria para devolver os itens bélicos que
tipificação que o art. 168 do CPB, a Apropriação
encontravam-se em sua posse, juntamente a um colete balístico. Ao
Indébita Simples (Art. 248 do CPM), ocorre quando o entregar os materiais ao Armeiro-de-dia, não restituiu o referido colete.
A Defesa sustenta que inexistem provas suficientes para confirmar a
autor dispõe da coisa móvel que lhe estava confiada autoria e justificar a condenação. Os elementos de provas coligidos aos
(dá, vende, destrói, etc.) em dissenso com o dono ou autos demonstram que o ex-militar foi o autor do desaparecimento do
colete, em especial o depoimento das testemunhas e a imagem de
lhe nega a devolução da mesma. vídeo que não registra a devolução. Embargos rejeitados. Maioria. (STM
- EMB 1237820107020202 SP 0000123-78.2010.7.02.0202. Min. Rel.
A coisa móvel alheia apropriada já deve estar Carlos Alberto Marques Soares. Julgamento: 04/06/2013).

previamente e legitimamente na posse ou detenção do


agente, ou seja, a obtenção da posse ou detenção tem 5.4.5 Estelionato:
que ter se verificado de maneira lícita e possuindo o
Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita,
agente certa liberdade sobre a coisa antes da em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em êrro,
apropriação. mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento:

Caso a posse ou detenção tenha sido obtida de forma Pena - reclusão, de dois a sete anos.
fraudulenta ou por subtração, com ou sem emprego de
violência, não se caracterizará o crime de apropriação
Crime impropriamente militar, pois possui igual
indébita, mas outro delito penal militar, como, por tipificação que o art. 171 do CPB, o delito militar de
exemplo, o furto (Art. 240 do CPM), o roubo (Art. 242 Estelionato (Art. 251 do CPM), caracteriza-se pelo
do CPM) ou o estelionato (Art. 251 do CPM). agente obter uma vantagem em prejuízo a outra
pessoa, mediante um esquema fraudulento que instiga
Sujeito ativo: O militar (Estadual ou Federal) e o civil a vítima ao erro.
(Este somente na esfera federal). Para efeitos deste tipo penal militar, induzir alguém em
Sujeito passivo: erro significa gerar no sujeito passivo o
comportamento desejado, pela crença em uma
a) Imediato: O próprio Estado, através da
realidade inexistente, apenas ocorrida na mente da
Administração Militar (Estadual ou Federal).
pessoa induzida. Além do que, a vantagem ilícita não
b) Mediato: A vítima da apropriação indébita precisa ser de natureza econômica, mas o prejuízo
simples pode ser qualquer pessoa (militar ou civil). alheio sim.

Elemento objetivo: É a conduta de apropriar-se, ou O meio fraudulento que gera a conduta eivada pelo
seja, assenhorar-se, colocar-se como dono, tomar para erro ou sua manutenção deve ser um ardil ou artifício
si, tomar como dono, que pode configurar-se com o apto a ludibriar alguém, isto é, não pode ser grosseiro,
ato intencional de ir além das possibilidades inerentes sob pena da hipótese de crime impossível.
à posse ou detenção.
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. (Este somente na esfera federal).
Sujeito passivo:
Ex (1): Um PM que se apodera indevidamente de
aparelho celular funcional o qual lhe havia sido a) Imediato: O próprio Estado, através da
confiado para a realização de determinada missão. Administração Militar (Estadual ou Federal).

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b) Mediato: A vítima do furto pode ser Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
qualquer pessoa (militar ou civil), e ainda, pessoa (Este somente na esfera federal).
natural ou jurídica. Sujeito passivo:

Elemento objetivo: É a conduta de obter, ou seja, a) Imediato: O próprio Estado, através da


alcançar, conseguir vantagem ilícita, induzindo ou Administração Militar (Estadual ou Federal).
mantendo alguém em erro, pelo emprego de meio
b) Mediato: A vítima do crime precedente a
fraudulento, causando prejuízo alheio.
receptação pode ser qualquer pessoa (militar ou civil).
Ex (1): Um PM que vende a um colega um veículo
Elemento objetivo: É a conduta de adquirir, receber ou
inexistente, afirmando que estava refinanciando-o para
ocultar coisa que sabe ser proveniente de crime, ou a
o mesmo não ser leiloado.
conduta de influir para que um terceiro de boa-fé
Ex (2): Um BM da ativa que dá como garantia de
adquira, receba ou oculte coisa que sabe proveniente
um empréstimo a um colega de farda, uma moto
fazendo-o acreditar mediante engodo que é de sua de crime.
propriedade, no entanto é emprestada de um familiar.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
COMPETÊNCIA - POLICIAL MILITAR - ESTELIONATO CONTRA CIVIL - Ex (1): Um PM do serviço ativo compra de um
JUSTIÇA COMUM. A conduta do policial militar que procura obter colega de farda uma pistola que contém o brasão da
vantagem ilícita em prejuízo de civil, não tendo sido atingido o PMCE. Evidentemente sabe-se que a arma
patrimônio militar, tipifica a prática de estelionato inserida no art. 171
do Código Penal, não havendo, portanto, que avocar-se a Justiça “brasionada” pertence ao acervo da Corporação,
Castrense para o feito. (STJ - 3ª Seção - Conflito de Competência nº portanto não poderia ser vendido dessa forma.
2.528-0/SP - Relator: Min. Flaquer Scartezzini - DJU 17/08/92)
Ex (2): Um Sd BM que compra um aparelho
celular “smartphone” novo e de última geração de
5.4.6 Receptação: outro militar estadual por preço abaixo do mercado,
Art. 254. Adquirir, receber ou ocultar em proveito
sabendo ser ele de uma carga roubada, enquanto
próprio ou alheio, coisa proveniente de crime, ou influir para ambos estavam de serviço.
que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
Pena - reclusão, até cinco anos. APELAÇÃO. DEFESA. RECEPTAÇÃO DE ARMA DE USO EXCLUSIVO DAS
FORÇAS ARMADAS. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS.
REDUÇÃO DA PENA. PRIMARIEDADE. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO
DA PENA. O crime de receptação configura-se com a ocorrência, ao
menos, de uma das condutas previstas no art. 254 do CPM , e é preciso
Crime impropriamente militar, pois possui igual que o produto seja de origem criminosa e que o agente tenha ciência
tipificação que o art. 180 do CPB, o delito de disso. A prova produzida em juízo, consubstanciada no depoimento
Receptação (Art. 254 do CPM) caracteriza-se pelo prestado pelo policial, é firme no sentido de que a metralhadora
apreendida com o número de inscrição do Exército Brasileiro,
recebimento da coisa, que pelas condições do negócio, juntamente a três carregadores, foi encontrada em poder dos acusados.
características do produto ou preço acordado, o sujeito O fato de uma condenação criminal basear-se em depoimento policial
ativo deveria saber tratar-se de produto de origem não a torna suspeita ou ilegítima. O STF já decidiu que o depoimento
testemunhal de servidores policiais - especialmente quando prestado
ilícita, ou pelo menos deveria suspeitar, mas mesmo em juízo, sob a garantia do contraditório - reveste-se de inquestionável
assim ele adquire-o, ou influencia outra pessoa, que eficácia probatória, não se podendo desqualificá-lo pelo só fato de
emanar de agentes estatais incumbidos, por dever de ofício, de
pensa ser legítima a procedência, a adquiri-lo. repressão penal. Em que pese a gravidade das condutas, deve-se
A receptação pode ser distinguida em duas reduzir a pena dos acusados considerados tecnicamente primários uma
vez que não se pode apená-los de maneira igual ao do acusado
possibilidades: reincidente, sob pena de violação do princípio da individualização da
pena. Apelo parcialmente provido. Unânime. (STM - AP
1ª Possibilidade (Receptação própria): O agente 168320047010101 RJ 0000016-83.2004.7.01.0101. Min. Rel. Marcos
adquire, recebe ou oculta coisa que sabe ser Martins Torres. Julgamento: 22/05/2013. Publicação: 13/06/2013 DJE).
proveniente de crime;

2ª Possibilidade (Receptação imprópria): O agente


influi para que um terceiro de boa-fé adquira, receba
ou oculte coisa que sabe proveniente de crime.

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5.4.7 Dano: a) Imediato: O próprio Estado, através da


Administração Militar (Estadual ou Federal).
Art. 262. Praticar dano em material ou aparelhamento
de guerra ou de utilidade militar, ainda que em construção ou
b) Mediato: A vítima do crime de dano pode
fabricação, ou em efeitos recolhidos a depósito, pertencentes
ou não às fôrças armadas: ser qualquer pessoa (militar ou civil), e ainda, pessoa
natural ou jurídica.
Pena - reclusão, até seis anos.
Elemento objetivo: É a conduta de destruir, inutilizar,
deteriorar ou fazer desaparecer coisa alheia.

Elemento subjetivo: É o dolo genérico.


Ex (1): O PM que deliberadamente joga o
computador da Sargenteação no chão, vindo a
espatifar-se, por estar insatisfeito com sua escala de
serviço.
Ex (2): O BM que faz furos numa mangueira da
viatura ABT por pirraça com seus colegas de serviço.

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO. DANO. PRINCÍPIO DA LESIVIDADE. AUSENCIA DE
SUBSTANCIAL AVARIA. FRAGILIDADE PROBATÓRIA. ABSOLVIÇÃO. O
princípio da lesividade ou ofensividade ganha prevalência, visto que o
FIGURA 18 - Viaturas com os pneus esvaziados. jus puniendi estatal somente será acionado se a conduta lesionar ou
expuser à lesão um bem jurídico penalmente tutelado, hipótese não
Diferentemente do Crime de Dano previsto no ocorrida in casu, já que o suposto dano não teve a aptidão de alterar a
substância do objeto material tutelado. O esvaziamento do pneu não
Direito Penal comum (Art. 16358 do CPB), a tipificação consubstancia crime de dano, pois não configura avaria no veículo ou
do Dano Militar visa proteger os bens que pertencem fato que diminuía o valor econômico do bem. Quanto ao dano causado
ao patrimônio militar (armamentos, equipamentos em na lataria do automóvel, há que se aplicar o in dubio pro reo, tendo em
vista a fragilidade probatória e ausência de elementos capazes de
geral, viaturas, utensílios, instalações, etc.), excluindo- imputar, cabalmente, ao agente a conduta apontada na Denúncia.
se os bens particulares que são protegidos pela Justiça Recurso provido. Decisão unânime. (STM - AP 309320117010401 RJ
Comum. Este tipo penal (Art. 262 do CPM) protege os 0000030-93.2011.7.01.0401. Minª. Relª. Maria Elizabeth Guimarães
Teixeira Rocha. Julgamento: 23/04/2013. Publicação: 22/05/2013 DJE).
bens da Fazenda Pública (Estadual ou Nacional) para
que não sejam depredados ou destruídos.
Para efeitos deste crime militar: destruir significa 5.5 Contra a Saúde
quebrar totalmente, fazer em pedaços, desfazer ou
subverter a coisa; inutilizar significa alterar as 5.5.1 Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou
substância de efeito similar:
características da coisa de forma que ela não se preste
mais a consecução do fim para o qual foi produzida; Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer,
deteriorar significa fazer com que a coisa se desgaste ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer
consigo, ainda que para uso próprio, guardar, ministrar ou
mais do que seria normal pela ação do tempo ou fazer
entregar de qualquer forma a consumo substância
com que a coisa perca parte de sua utilidade; e fazer entorpecente, ou que determine dependência física ou
desaparecer significa sumir com a coisa, tornar-la psíquica, em lugar sujeito à administração militar, sem
inalcançável. autorização ou em desacôrdo com determinação legal ou
regulamentar:
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
(Este somente na esfera federal), salvo o proprietário Pena - reclusão, até cinco anos.
do bem danificado.
Sujeito passivo:

58
Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena -
detenção, de um a seis meses, ou multa.

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próprio corpo como no corpo de outrem; e entregar de


qualquer forma a consumo é uma expressão ampla
que significa qualquer modalidade de traficância que
não tenha sido mencionada anteriormente no tipo
penal militar em questão.
No Direito Penal comum essa questão é tratada na Lei
nº 11.343, de 23/08/06, que instituiu o Sistema
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad)
prescreveu medidas para prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes
de drogas; estabelece normas para repressão à
FIGURA 19 - Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas;
de efeito similar.
e definiu crimes.
Este tipo penal militar (Art. 290 do CPM) ao tratar da
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
posse ou uso de entorpecente por militar, dentre (Este somente na esfera federal).
outras ações ali definidas, tem especial relevância uma Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
vez que um eventual uso de substância entorpecente Administração Militar (Estadual ou Federal).
por um militar estadual durante o exercício de sua
atividade pode resultar em consequências Elemento objetivo: É a conduta de realizar todos os
imprevisíveis para a população em geral. Deve-se levar verbos previstos no tipo penal militar quanto a
em consideração a potencialidade do risco para o substância entorpecente ou viciante para uso próprio
cidadão, diante da possibilidade de utilização de arma ou de terceiro, sem a devida autorização e em local
de fogo no atendimento de uma ocorrência ou o sujeito à Administração Militar.
perigo decorrente da condução de uma viatura policial
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
ou bomberística sob os efeitos mesmo de uma
pequena quantidade de droga ilícita. Ex (1): Um PM que é flagrado no interior do quartel do
5ºBPM com uma porção de cocaína em sua mochila
Para efeitos deste crime militar têm-se 11 (onze)
condutas nucleares: receber significa adquirir, obter a pessoal.
propriedade da substância entorpecente, a título
Ex (2): Um BM que transporta maconha no porta-
oneroso ou gratuito; preparar significa adotar as ações
necessárias como, por exemplo, a junção de malas de viatura de representação (administrativa) do
componentes, para deixar a substância apta para o quartel.
consumo; produzir significa cultivar e extrair a
substância ou elementos componentes dela; vender PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. ENTORPECENTE. POSSE
significa alienar a substância mediante uma EM LUGAR SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR. FLAGRANTE DELITO.
contraprestação, que pode ser o dinheiro; fornecer, CONSTATAÇÃO DE RESINAS E DE CANABINOIS. LAUDO TOXICOLÓGICO.
ainda que gratuitamente, importa a entrega, a dação, PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE NO ÂMBITO DA
JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO. AUTORIA E MATERIALIDADE
não havendo necessidade de contraprestação, mesmo DEMONSTRADAS. REFORMA DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. A autoria
porque, se assim fosse, poderia configurar a venda; ter delitiva é inferida da própria situação de flagrância em que se deu a
em depósito refere-se ao agente que está guardando a apreensão de maconha (Cannabis sativa Lineu) na entrada do quartel. A
ausência de constatação da presença do princípio ativo
temporariamente a substância; transportar significa tetrahidrocanabinol (THC) não afasta a materialidade delitiva quando o
levar de um lugar a outro, mas de modo não pessoal, laudo oficial identificar a presença de substância entorpecente
contendo resinas e canabinóis. A constatação de pequena quantidade
caso contrário configurar-se-ia a forma de trazer da maconha apreendida em poder do acusado não descaracteriza a
consigo; trazer consigo, ainda que para uso próprio tipicidade da ação delitiva. É inviável a absolvição com base na tese da
significa tanto o tráfico como o porte para uso próprio; insignificância ou da subsidiariedade do Direito Penal, porque a
tipicidade da conduta se dessume do desvalor da conduta que atinge,
guardar significa ter a substância sob sua vigilância; gravemente, bens jurídicos de relevo para a vida militar, e não apenas a
ministrar significa introduzir a substância no organismo saúde do infrator. Apelo ministerial provido. Decisão por maioria. (STJ -
de alguém, tanto o agente pode introduzir em seu AP 0000082-84.2014.7.01.0401 UF: RJ- Relator: Min. Rel. Francisco

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Joseli Parente Camelo. Decisão: 08/06/2016. Publicação: 20/06/2016 DJE) A distinção entre a dignidade e o decoro é
tênue. A dignidade é empregada como indicativa das
qualidades morais (honestidade, bravura, correção
5.6 Contra a Administração Militar
etc.), enquanto que o decoro refere-se ao valor social
de um indivíduo (vigor físico, capacidade laborativa,
5.6.1 Desacato a Superior:
etc.). Já a autoridade vem do Poder Hierárquico do
Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade Estado e é conferida ao militar pela lei, portanto é
ou o decôro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: irrenunciável e indisponível, e deve ser respeitada.
Ainda, para melhor enquadramento deste delito
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui se faz necessário o nexo funcional, pois apesar de não
crime mais grave. estar expresso no tipo penal militar, se não houver
esse nexo a conduta deverá ser compreendida como
crime de desrespeito a superior (Art. 161 do CPM), que
consiste numa falta de consideração mais branda.
Assim, pode-se dizer, que o desacato a superior é um
desrespeito a superior praticado no desempenho da
função ou em razão dela.
Sujeito ativo: Necessariamente é um militar de
condição hierárquica inferior à do ofendido.
Sujeito passivo:
a) Imediato: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal).
b) Mediato: O superior hierárquico ofendido.
FIGURA 20 - Desacato a Superior. Elemento objetivo: É a conduta de desacatar, que
significa ofender, desprestigiar, menoscabar, causar
O Desacato a Superior (Art. 298 do CPM) é um vexame ou humilhação à dignidade, ao decoro ou à
crime propriamente militar, em que se protege a autoridade do superior hierárquico.
autoridade, disciplina e a hierarquia militar. Consiste Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
na ofensa lançada contra a dignidade, o decoro ou a
Ex (1): Um PM de dedo em riste no rosto de
autoridade do superior hierárquico.
superior hierárquico, com acinte e desrespeito,
Entende-se por superior o militar que ocupa posto ou
buscando satisfações sobre uma ordem dada.
graduação em nível mais elevado ou aquele que, em
virtude da função, exerce autoridade sobre outro de Ex (2): Um Sd BM que chama um Cb BM de
“burro”.
igual posto ou graduação.
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
Trata-se de delito subsidiário, isto é, o autor só APELAÇÃO DA DEFESA. DESACATO A SUPERIOR (ART. 298 DO CPM).
responderá por ele quando sua conduta não se INJÚRIA A SUPERIOR (ART. 216 C/C O ART. 218, II, AMBOS DO CPM).
AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO. DISCUSSÃO. ANIMOSIDADE PRÉ-
subsumir em tipo penal de maior gravidade. EXISTENTE. I - O crime de desacato a superior, art. 298 do CPM, está
entre os crimes onde o sujeito passivo primário é a própria
A consumação ocorre no momento em que o administração militar, e, apenas secundariamente, o militar ofendido.
Assim, há que se observar na conduta ofensiva a finalidade de
desacato é cometido na presença do superior, mesmo desprestigiar a função pública do ofendido. II - A desclassificação para o
que o ofendido não perceba a ofensa, bastando a crime de injúria a superior, art. 216 c/c o art. 218, inciso II, ambos do
CPM, não deve ser feita na medida em que exsurge dos autos que as
possibilidade de tomar conhecimento. O CPM não palavras ofensivas foram precedidas de assomo emocional proveniente
admite a forma tentada do crime se ele for cometido de discussão e exaltação de ânimos decorrentes de injusta recusa do
contra Comandante da OPM ou OBM a que pertence o superior e comprovada animosidade preexistente entre ambos. III - Não
basta, portanto, para tais crimes, a mera enunciação de palavras
autor, sendo assim considerado praticado o crime na ofensivas, decorrentes de desabafo ou revolta momentânea, por faltar-
sua forma qualificada. lhes os desígnios dolosos indispensáveis. IV - Apelo improvido. Decisão
Por outro lado, é necessário que o sujeito ativo unânime. (STM - Apelação. 2007.01.050747-7 UF: DF. Rel. Min. José
Coêlho Ferreira. Decisão: 27/05/2008. Publicação em 21/08/2008 DJE).
saiba que está se dirigindo a um superior hierárquico,
condição elementar do tipo, pois a ignorância ou o erro
sobre essa circunstância exclui a culpabilidade.

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5.6.2 Desacato a Militar: estaduais quando em policiamento podem ser vítimas


(mediatas ou secundárias) do crime militar em apreço.
Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de
natureza militar ou em razão dela:
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não (este somente na esfera federal).
constitui outro crime.
Sujeito passivo:
a) Imediato: O próprio Estado, através da
O Crime de Desacato a Militar (Art. 299 do CPM) Administração Militar (Estadual ou Federal).
consiste na ofensa lançada contra a dignidade, o b) Mediato: O militar em exercício de função
decoro ou a autoridade do militar no exercício de de natureza militar que foi desacatado.
função de natureza militar ou em razão dela e atinge o Elemento objetivo: É a conduta de desacatar, ou seja,
faltar com o devido respeito ou com o acatamento,
prestígio, o respeito devido à função pública, ou seja,
desmerecer, menoscabar, afrontar a autoridade do
atinge o próprio Estado.
militar em função de natureza militar.
Para a configuração do delito se faz necessário o nexo Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
funcional, ou seja, que a ofensa seja proferida no Exemplo (1): Um ST PM RR que dirige ofensas
exercício da função ou que seja perpetrada em razão verbais a Sgt PM durante regular apreensão de veículo.
dela. O nexo funcional pode ocorrer ocasionalmente, Exemplo (2): Um Sgt BM que, de folga,
quando a ofensa ocorrer onde e quando o militar civilmente trajado, no interior de casa noturna, agride
estiver exercendo as funções de seu cargo, ou Cb BM, em serviço, com palavras de baixo calão.
causalmente, quando, o militar ainda que não esteja
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
no regular exercício de suas atribuições, tenha sido REJEIÇÃO DE DENÚNCIA. DESACATO A MILITAR. Oficial que, ao chegar à
ofendido em razão de sua condição funcional. guarda da Base Aérea, mesmo estando uniformizado e com o selo de
identificação no veículo, teve contra si apontado um fuzil, e excedeu-se
no linguajar ao dirigir-se à sentinela. Atipicidade da conduta. Para
A injúria (Art. 216 do CPM) se diferencia basicamente caracterização do crime do art. 299 do CPM é necessário que o agente
tenha o propósito de ofender ou desrespeitar o militar no exercício de
do desacato em razão da condição funcional do militar, função de natureza militar ou em razão dela. Não se confunde com o
sendo que o bem jurídico tutelado deste é a vocábulo grosseiro uo injurioso proferido em desabafo ou revolta
momentânea que, por óbvio, não tem por finalidade desprestigiar a
Administração Militar. função militar da sentinela e atingir a Administração Militar, da qual o
próprio Oficial faz parte. Recurso ministerial improvido, mantendo-se a
A maior parte da jurisprudência e doutrina entende rejeição da denúncia. Unânime. (STM - RSE 2006.01.007368-5 UF: AM.
Min. Rel. Rayder Alencar da Silveira. Decisão: 07/11/2006. Publicação:
que o policiamento ostensivo desempenhado pelas DJE 12/01/2007).
Polícias Militares é de natureza civil, e não militar,
operações policiais de preservação da ordem pública
deveriam ser entendidas como de natureza civil, não  Vide ANEXO C - Soldados do Ronda do
militar, o que afasta a incidência do tipo penal em Quarteirão são condenados por desacato.

estudo, sobrando às Polícias Militares, como de


natureza militar. Segundo lecionam NEVES e
5.6.3 Desobediência:
STREIFINGER (2005), esse não seria o entendimento
mais acertado, visto que por essa vertente, todas as Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade
militar:
operações policiais de preservação da ordem pública
deveriam ser entendidas como de natureza civil, não Pena - detenção, até seis meses.
militar, sobrando às Polícias Militares apenas as
atividades relacionadas à guarda dos quartéis, às
manobras e acantonamentos como de natureza O Crime de Desobediência (Art. 301 do CPM) é crime
militar, sendo que recentemente parte da militar impróprio, diferenciando-se do Crime de Recusa
jurisprudência passou a aceitar que os militares de Obediência (Art. 163 do CPM) que é crime militar
próprio, sendo a Administração Militar, e não a
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Autoridade e a Disciplina Militar, o bem jurídico atipicidade da conduta, não pode prosperar. Não restam dúvidas da
cogência da ordem, ao utilizar o comando "deverá" comparecer para
tutelado por esse tipo penal. submissão de inspeção de saúde, por determinação do Comandante da
Região Militar, numa clara hipótese de delegação de competência para
Para configuração desse delito é necessário que a o ato. Como a peça acusatória narra, em tese, possível ocorrência de
ilícito penal, bem como sua autoria, e estando presentes os requisitos
ordem desobedecida seja legal e seja emanada de dos artigos 77 e 78 do CPPM, deve-se prestigiar a instrução criminal
para o deslinde dos fatos. Desconstituída a decisão de primeiro grau,
autoridade militar, podendo ter sido dada de forma
para receber a peça exordial, com baixa dos autos para o regular
direta ou indireta. Devendo, ainda, a desobediência prosseguimento do feito. Decisão unânime. (STM - RSE
00000782220157110211 DF. Min. Rel. Francisco Joseli Parente Camelo.
resultar de uma conduta comissiva, por se fazer algo Decisão: 28/10/2015. Publicação: 13/11/2015 DJE).
diverso do que foi determinado, ou de uma conduta
omissiva, por ter simplesmente se negado a fazer o
5.6.4 Peculato:
que foi determinado, sem adotar outra ação.
Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer
Enquanto o sujeito ativo do delito de Recusa de outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse
Obediência somente poderá ser o subordinado ou detenção, em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo em
hierárquico diante de um superior, no de proveito próprio ou alheio:
Desobediência poderá ser o superior hierárquico, e até
Pena - reclusão, de três a quinze anos.
mesmo o civil, perante a Justiça Militar da União.
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) e o civil
(Este somente na esfera federal).
Sujeito passivo:
a) Imediato: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal).
b) Mediato: A autoridade militar que emanou
a ordem.
Elemento objetivo: É a conduta de desobedecer, ou
seja, não obedecer, não acatar, não atender à ordem de
autoridade militar.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Ex (1): Um PM que não obedece à ordem para
parar seu veículo numa blitz policial militar de
desarmamento. FIGURA 21 - Peculato.

Ex (2): Um Sgt BM que mesmo escalado de Crime impropriamente militar, pois também é previsto
Serviço de Busca e Salvamento na 1ª Seção de com definição semelhante no art. 31259 do CPB, o
Salvamento Marítimo (1ª SSMAR), no Quartel do Crime de Peculato (Art. 303 do CPM) ocorre quando o
Mucuripe, comparece à solenidade no Quartel Central
sujeito arbitrariamente faz seu ou desvia bem que
do CBMCE.
detém a posse em razão do cargo, seja ele pertencente
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL à Fazenda Pública ou a particular, ou esteja sob guarda
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DENÚNCIA. CRIMES DE
ou vigilância, para proveito próprio ou de terceiro.
DESOBEDIÊNCIA E RECUSA DE OBEDIÊNCIA. ARTIGOS 301 E 163 DO
CPM. REJEIÇÃO. AUSÊNCIA DE ORDEM EXPRESSA DE AUTORIDADE
MILITAR AO SEU COMANDADO PARA SUBMETER-SE A INSPEÇÃO DE Neste tipo penal militar o objeto material deve ser
SAÚDE EM GRAU DE REVISÃO. IMPROCEDÊNCIA. DETERMINAÇÃO
EMANADA DO COMANDO E DELEGAÇÃO AOS ÓRGÃOS COMPENTENTES dinheiro, valor ou qualquer outro bem material e deve
PARA CUMPRIMENTO. CASSADA A DECISÃO. RECEBIMENTO DA ser coisa corpórea.
DENÚNCIA. UNANIMIDADE. Sabe-se que para uma ordem ser cumprida
impende que ela se dê de forma direta pelo superior ou mediante
outros militares. Contudo, exige-se que seja imperativa, importando
numa exigência para o inferior e, também, pessoal, dirigida a um ou
mais inferiores determinados. Na espécie, houve determinação do 59
Comando para que militar se submetesse a inspeção de saúde. Na Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou
mesma ordem, delegou-se a setores da Administração que qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse
providenciassem seu cumprimento. A alegação de que a ordem em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena
emanada não ocorreu de forma expressa, pois fora apenas informada - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
ao comandado através órgãos administrativos, o que configuraria a

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A obtenção da posse deve necessariamente ter 5.6.5 Concussão:


ocorrida em razão do cargo, ou seja, deve haver uma
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou
íntima relação de causa e efeito entre o cargo e a indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-
posse. la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou o Pena - reclusão, de dois a oito anos.
servidor público civil trabalhando na Corporação
Militar (este na esfera federal).
Crime impropriamente militar, pois igualmente
Sujeito passivo: previsto no art. 316 do CPB, a Concussão (Art. 305 do
CPM) caracteriza-se pelo abuso da função exercida, por
a) Imediato: O próprio Estado, através da isso só pode ser praticado por servidor público ou
Administração Militar (Estadual ou Federal). militar da ativa, ainda que não tenha assumido, mas aja
em razão da função, exigindo vantagem indevida.
b) Mediato: A pessoa natural ou jurídica Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) do serviço
diretamente prejudicada. ativo ou o servidor público civil trabalhando na
Corporação Militar (este na esfera federal).
Elemento objetivo: É a conduta de se apropriar ou
desviar bem móvel ou qualquer outro valor, público ou Sujeito passivo:
particular, de que o agente detenha a posse, em razão
a) Imediato: O próprio Estado, através da
do cargo ou comissão.
Administração Militar (Estadual ou Federal).
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
b) Mediato: A pessoa diretamente prejudicada.
Ex (1): Um Ten PM que se apropria de uma arma de
Elemento objetivo: É a conduta de exigir a vantagem
fogo apreendida por ocasião do atendimento de uma
indevida.
ocorrência policial.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
Ex (2): Um Ten BM que na Chefia do Setor de
Motomecanização de uma OBM que autoriza a Ex (1): Um PM que, no serviço de patrulhamento
retirada do motor de viatura em benefício de outro ostensivo, exige vantagem indevida de um criminoso
militar estadual. que acaba de prender em flagrante delito, sob a
ameaça de levá-lo para a delegacia para a lavratura do
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL devido procedimento policial.
EMBARGOS INFRINGENTES. DEFESA. PECULATO. DESCLASSIFICAÇÃO. 1.
Impõe-se a manutenção da decisão que entendeu pela pratica de crime
Ex (2): Um BM que, no serviço de vistoria de
de peculato, previsto no art. 303 do CPM, o militar que, no exercício de funcionamento, exige vantagem indevida do
sua função, deixa de recolher à União os valores referentes ao proprietário de um estabelecimento comercial por
ressarcimento de despesas com os serviços de água, luz e gás, recebidos
de usuários de imóveis pertencentes à União. 2. A gravidade e o terem sido constatadas irregularidade nas medidas de
desvalor da conduta praticada, frente aos princípios basilares segurança contra incêndio, sob ameaça de lavrar multa
preservados pela caserna e pela probidade administrativa, impedem a
e cassar o auto de vistoria em vigência.
desclassificação do delito sob a justificativa de política criminal.
Preliminar rejeitada. Decisão unânime. Embargos Infringentes
conhecidos e rejeitados. Decisão por maioria. (STM - EMB PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
173220097030103 RS 0000017-32.2009.7.03.0103. Min. Rel. Artur EMBARGOS INFRINGENTES OPOSTOS PELA DEFESA. PREVALÊNCIA DOS
Vidigal de Oliveira. Julgamento: 04/09/2013. Publicação: 19/09/2013 VOTOS DIVERGENTES QUE DESCLASSIFICAVAM O DELITO DE
DJE). CORRUPÇÃO PASSIVA (ART. 308 DO CPM) PRATICADO PELO OFICIAL
PARA O DELITO DE CONCUSSÃO (ART. 305 DO CPM), RESULTADO DO
QUE SUBSISTIRIA A ABSOLVIÇÃO DO EMBARGANTE. REJEITADOS OS
EMBARGOS. 1. A Defesa buscou a prevalência dos votos vencidos que
consideraram o delito praticado por um dos acusados como sendo
 Vide ANEXO D - STM nega Habeas Corpus a aquele descrito no art. 305 do CPM, ao argumento de que o Oficial teria
tenente flagrado com fardamentos e exigido para si vantagem indevida. Como consequência, os votos
equipamentos furtados do Exército. vencidos davam provimento ao recurso do embargante para absolvê-lo
do tipo descrito no art. 308 do CPM. 2. As provas carreadas nos autos
não deixam margem a dúvidas quanto à verificação de que a conduta

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praticada pelo Oficial amolda-se ao tipo descrito no art. 308 do CPM, Elemento objetivo: É a conduta de receber a vantagem
tendo em vista o efetivo recebimento da vantagem indevida, não se
afigurando comprovado o núcleo do crime de concussão, qual seja, indevida ou aceitar a promessa de tal vantagem, em
exigir a vantagem indevida. Rejeitados os Embargos. Decisão razão da função.
majoritária. (EMB 222220067110011 DF 0000022-22.2006.7.11.0011.
Min. Rel. Cleonilson Nicácio Silva. Julgamento: 29/08/2011. Publicação:
11/10/2011 DJE). Elemento subjetivo: É o dolo genérico.

Ex (1): Um militar estadual de serviço de trânsito que


5.6.6 Corrupção Passiva:
recebe certa quantia em dinheiro (“propina”) de
Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou condutor de automóvel, quando viajava pela CE-025,
indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi- passando por Eusébio/CE, para não lavrar auto de
la, mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa
infração de trânsito.
de tal vantagem:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.


Ex (2): Um Sgt BM que, na função de escalante, recebe
certa quantia em dinheiro de um Sd BM para não ser
escalado por ocasião do Natal e do Ano Novo.
Crime impropriamente militar, pois também é
previsto com definição semelhante no art. 31760 do PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
CPB, contudo não possui a conduta nuclear “solicitar”, CORRUPÇÃO ATIVA PASSIVA. Graduado que, na condição de
Sargenteante, privilegia Soldado com escala de serviço mais amena,
o Crime de Corrupção Passiva (Art. 308 do CPM) se recebendo em troca um aparelho de telefone celular, incidindo nas
caracteriza pelo recebimento de vantagem indevida ou penas do art. 308 do CPM (corrupção passiva). De outra parte, o
Soldado que deu o telefone está incurso nas penas do art. 309 do
aceitamento de promessa dela sempre em razão da mesmo Diploma Sancionador, pela prática de corrupção ativa. Aflora-se
função (violação ao dever funcional), todavia não patente a prescrição da pretensão punitiva, em relação ao segundo
sendo imprescindível que o militar estadual ou o denunciado. Recursos improvidos. Decisão uniforme. (STM - Apelfo
49310 PE 2003.01.049310-7. Min. Rel. Henrique Marini e Souza.
servidor público esteja no exercício dela, já que a lei Julgamento: 22/06/2004. Publicação: 25/08/2004 DJE).
ressalva a hipótese de se aceitar promessa de
vantagem.
Importante destacar que diferencia-se do Crime 5.6.7 Corrupção Ativa:
de Concussão porque naquele a conduta nuclear do
Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou
tipo é exigir, que implica obrigar a alguma coisa, sob vantagem indevida para a prática, omissão ou retardamento
certa pena, enquanto que na corrupção passiva é de ato funcional:
apenas receber, decorrente pois de um simples pedido.
Sujeito ativo: O militar (Estadual ou Federal) ou o Pena - reclusão, até oito anos.
servidor público civil trabalhando na Corporação
Militar (Este na esfera federal).
A materialidade desse crime (Art. 309 do CPM)
Sujeito passivo: consiste em dar, oferecer (exibir ou propor para que
seja aceita), ou prometer (obrigar-se a dar) vantagem
a) Imediato: O próprio Estado, através da indevida a servidor público ou militar, para levá-lo a
Administração Militar (Estadual ou Federal). praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
b) Mediato: A pessoa que entregou a vantagem Assim, o agente ativo dá deste tipo penal militar,
indevida ou que a prometeu. oferece ou promete vantagem indevida como forma de
convencer o militar ou servidor público trabalhando na
Administração Militar Federal a cometer infração
funcional, caracterizada, nos termos do tipo penal
militar, pela prática, omissão ou retardamento de ato
60
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
funcional.
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Para efeitos deste tipo penal militar: ato funcional
(Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12/11/03) significa aquele ato decorrente das atribuições
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funcionais do agente captado pela corrupção; dar 5.6.8 Falsificação de Documento:


significa entregar, fornecer, ou seja, transferir a posse
Art. 311. Falsificar, no todo ou em parte, documento
da vantagem indevida; oferecer significa propor com público ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde
entrega imediata, apresentar algo com o fito de que que o fato atente contra a administração ou o serviço militar:
seja aceito; e prometer significa propor uma entrega
Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a seis
futura, ou seja, o agente dentro de algum tempo fará a anos; sendo documento particular, reclusão, até cinco anos.
entrega da vantagem indevida.

Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou o civil


(este na esfera federal).

Sujeito passivo:

a) Imediato: O próprio Estado, através da


Administração Militar (Estadual ou Federal).

b) Mediato: O militar (estadual ou federal) ou o


servidor público civil trabalhando na Corporação
Militar (este na esfera federal), desde que, FIGURA 22 - Falsificação de Documento.
obviamente, não tenha recebido a vantagem indevida
ou a sua promessa. Crime impropriamente militar, pois também é
previsto com definição semelhante nos arts. 29761 e
Elemento objetivo: É a conduta de dar, oferecer ou 29862 do CPB, tendo-se condensado os dois tipos
prometer dinheiro ou vantagem indevida, com o fim penais comuns em um só tipo penal militar, a
específico de que aquele a quem se oferece, promete Falsificação de Documento (Art. 311, do CPM) se
caracteriza pela falsificação ou alteração de documento
ou dê, atue com lesão ao seu dever de ofício.
público ou particular que afete à Administração Militar.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. É imprescindível que a falsificação ou alteração seja
idônea, isto é, apta a causar erro naquele a que se
Ex (1): Um Sgt PM que envolvido em crime militar faz destina o documento, caso contrário, se for grosseira e
contato telefônico com o Encarregado do IPM, facilmente perceptível, inexiste o delito em face da
oferecendo-lhe quantia em dinheiro para que deixasse ausência de potencialidade lesiva, ocorrendo, assim,
de intimá-lo para ser qualificado e interrogado e para crime impossível, hipótese em que restará apenas
que não figurassem em qualquer documentação responsabilização disciplinar ao agente, se ele for
referente ao procedimento em curso. militar ou servidor público civil trabalhando em
Corporação Militar.
Ex (2): Um Sd BM que oferece certa quantia em
dinheiro ao Sgt BM, que exerce a função de escalante Para fins deste crime militar, o CPM adotou a teoria
na sua OBM, para livrá-lo do serviço em algumas datas ampla, como se denota pelo disposto no § 2º63 do art.
festivas.
61
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou
EMBARGOS INFRINGENTES DO JULGADO. CORRUPÇÃO ATIVA E alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis
CORRUPÇÃO PASSIVA. Prática de trocar o serviço nas Unidades Militares anos, e multa.
mediante paga em dinheiro é deletéria para a disciplina e a ordem
administrativa militar. Compromete a compreensão do dever militar por 62
Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou
parte daqueles que precisam nele pautar sua conduta e a lealdade
devida às regras que disciplinam as relações desenvolvidas no âmbito alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a
da caserna, atributos que dizem respeito à própria coesão dos corpos cinco anos, e multa.
militares. Nada há a ser reparado no Acórdão embargado que recebeu a
63
denúncia e determinou o prosseguimento do feito no Juízo "a quo". Art. 311. (...) § 2º Equipara-se a documento, para os efeitos
Embargos Infringentes do Julgado rejeitados. Maioria. (STM - Embfo penais, o disco fonográfico ou a fita ou fio de aparelho
6891 RJ 2002.01.006891-4. Min. Rel. José Julio Pedrosa. Julgamento: eletromagnético a que se incorpore declaração destinada à prova de
29/10/2002. Publicação: 11/12/2002 DJE). fato jurìdicamente relevante.

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311 do CPM, devendo o termo documento ser talonário de atestados e os subscreve, apondo dados e assinaturas
falsas, com propósito de obter licença médica indevida. O dolo reside
compreendido como qualquer superfície apta a na fraude alcançada por meio da violação do teor e da autencidade de
condensar, por escrito ou qualquer outra forma documento público, em flagrante atentado contra a credibilidade da
Administração Militar e a continuidade do Serviço Militar. Não prospera
(imagem, sinais, códigos, disco fonográfico, fita de a tese defensiva de "crime impossível", nos moldes do art. 32 do Código
aparelho eletromagnético, etc.), o pensamento Repressivo Castrense, uma vez que o meio empregado para a
consecução da fraude revelou-se idôneo e eficaz ao fim almejado.
humano, que tenha relevância no meio jurídico. Tipicidade material configurada ante a reunião de todos os elementos
integrantes da figura típica prevista no art. 311 do CPM. Apelo
defensivo desprovido para manter íntegra a sentença condenatória
Ainda, deve-se compreender o documento público atacada. Decisão unânime. (STM - AP 154320127070007 PE 0000015-
como aquele elaborado na forma prescrita em lei, por 43.2012.7.07.000. Min. Rel. José Américo dos Santos. Julgamento:
24/06/2013. Publicação: 03/07/2013 DJE).
servidor público, no exercício de suas atribuições, e o
documento particular como aquele que não se
enquadrado como documento público, ou seja, 5.6.9 Falsidade Ideológica:
elaborado sem a intervenção de servidor público ou de Art. 312. Omitir, em documento público ou particular,
pessoa que tenha fé pública. declaração que dêle devia constar, ou nêle inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou o civil com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
(este na esfera federal). verdade sôbre fato jurìdicamente relevante, desde que o fato
atente contra a administração ou o serviço militar:
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é
Administração Militar (Estadual ou Federal). público; reclusão, até três anos, se o documento é particular.

Elemento objetivo: É a conduta de falsificar, ou seja,


criar, fabricar um documento que se passe por Crime impropriamente militar, pois também é previsto
verdadeiro, ou então alterar, ou seja, modificar um com definição semelhante no art. 29964 do CPB,
documento verdadeiro, transformando contudo com o acréscimo da condicionante que atente
relevantemente, assim, a informação nele constante. contra a administração ou o serviço militar, o crime de
Falsidade Ideológico (Art. 312 do CPM) se caracteriza
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
pela adulteração de documento, público ou particular,
Ex (1): Um PM que trabalha na parte administrativa com o objetivo de obter vantagem ou para prejudicar
falsifica certidão de tempo de serviço de um colega de terceiro. Para que se configure é necessário que a
farda com tempo superior ao efetivamente trabalhado falsidade documental atente contra a administração ou
para fins de ingresso na Reserva Remunerada. serviço militar.

Ex (2): Um BM falsifica atestado médico com intuito de Para os efeitos deste tipo penal militar: omitir significa
se favorecer e justificar sua falta ao serviço. não mencionar, não registrar, não acrescentar
declaração em um documento, público ou particular;
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL inserir significa o ato do próprio agente registrar, fazer
APELAÇÃO. FALSIDADE DOCUMENTAL. CONFECÇÃO DE ATESTADOS
MÉDICOS FALSOS. OBTENÇÃO DE LICENÇA MÉDICA IRREGULAR. constar, consignar a informação (declaração) diversa
PRELIMINAR. NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. da que deveria, no documento, público ou particular; e
DESCLASSIFICAÇÃO TIPOLÓGICA DA CONDUTA CRIMINOSA. ARTIGOS
311 E 315 DO CPM. COMINAÇÃO DE PENAS IDÊNTICAS. AUSÊNCIA DE fazer inserir significa que o agente insere de forma
PREJUÍZO. PRELIMINAR REJEITADA. MÉRITO. TESE DE ATIPICIDADE.
FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA. CRIME IMPOSSÍVEL. INEFICÁCIA ABSOLUTA
DO MEIO EMPREGADO. NÃO CONFIGURAÇÃO. CONDENAÇÃO
MANTIDA. Não caracteriza ofensa à ampla defesa a emendatio libelli 64
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração
operada pelo juízo a quo, ao transmudar o enquadramento típico da
conduta apurada, de "uso de documento falso" (art. 315 do CPM) para que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração
"falsidade documental" (art. 311 do CPM), uma vez que as penas falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
cominadas para ambos os casos são idênticas e, portanto, não importa direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
agravamento da resposta penal dada ao acusado. Rejeição da relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
preliminar de nulidade ante a não ocorrência de cerceamento ao documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o
exercício da defesa. Decisão unânime. Configura "falsidade documental" documento é particular.
a conduta de ex-Soldado que, durante consulta médica, subtrai
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indireta, ou seja, utiliza-se de alguém que para inserir a 5.7 Contra o Dever Funcional
falsa informação.
5.7.1 Prevaricação:
Diferentemente da Falsificação de Documento (Art.
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
311 do CPM), neste tipo penal militar o documento, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei,
público ou particular, não é em todo falso, mas apenas para satisfazer interêsse ou sentimento pessoal:
o que ele indica, isto é, a sua indicação não condiz com
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
a verdade, em decorrência da alteração implementada
pela omissão de inserir declaração real ou inserção de
declaração inverídica. Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação ao art. 319 do CPB, o Crime de Prevaricação
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou o civil (Art. 319 do CPM) caracteriza-se pelo não
(este na esfera federal). cumprimento ou protelamento no cumprimento de ato
inerente as funções do militar ou servidor público civil
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da trabalhando na Corporação Militar (Este somente na
Administração Militar (Estadual ou Federal). esfera civil) para satisfação própria.
Se consuma de três maneiras:
Elemento objetivo: É a conduta de omitir declaração
que deveria constar ou inserir ou fazer inserir uma 1ªManeira: O agente retarda, posterga, delonga;
falsa declaração em documento público ou particular.
2ªManeira: O agente deixa de praticar (omissão) e;
Elemento subjetivo: É o dolo genérico. 3ªManeira: O agente pratica (ação) contra disposição
legal o ato de ofício, compreendido dentro das suas
Ex (1): Sd PM que, na função de motorista de viatura,
atribuições funcionais.
informa falsamente à CIOPS que estava em
perseguição a veículo suspeito a fim de se eximir de Para efeitos deste tipo penal militar: retardar significa
multa decorrente de infração de trânsito por transitar postergar, prolongar, estender a prática de ato que
na via em velocidade acima do permitido. compete ao agente além do necessário; deixar de
praticar significa abster-se de praticar o ato de ofício,
Ex (2): Cb BM que trabalha na parte administrativa consubstanciando-se em conduta omissiva própria;
financeira e altera intencionalmente dados financeiros praticar significa atuar, fazer, executar, colocar em
no sistema de informação com a finalidade de permitir marcha o ato de ofício, porém com lesão à previsão
o aumento da margem consignável do contracheque e legal; interesse pessoal significa a vantagem
lesar o erário público com o recolhimento a menos do pretendida pelo agente, seja moral ou material; e o
imposto de renda. sentimento pessoal significa um estado afetivo ou
emocional, decorrente de uma paixão ou emoção
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
APELAÇÃO. MPM E DEFESA. FALSIDADE IDEOLÓGICA. ESCALA DE (amor, ódio, piedade, avareza, cupidez, despeito,
RONDA. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. APLICAÇÃO DA desejo de vingança, subserviência, animosidade,
EXCLUDENTE DE OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA. ORDEM NÃO
MANIFESTAMENTE ILEGAL. 1. Comete o crime de falsidade ideológica simpatia, benevolência, caridade etc.), sendo
(Art. 312 do CPM) o superior hierárquico que determina ao indiferente a natureza do sentimento, que pode ser
subordinado que confeccione nova escala de ronda, inserindo
caracterizado como social ou anti-social, imoral ou
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com a finalidade de
alterar a verdadesobre fato juridicamente relevante. 2. O moral, nobre ou torpe, etc.
reconhecimento da excludente de culpabilidade de obediência
hierárquica deve ser utilizado para absolver o subordinado corréu Embora a prevaricação seja de conduta essencialmente
quando a ordem superior não é manifestamente ilegal. Recurso
dolosa, além do fim que se pretende alcançar requer
conhecido e não provido. Decisão unânime. (STM – AP
301820107020202 SP 0000030-18.2010.7.02.0202. Min. Rel. Artur também um elemento subjetivo que é a satisfação de
Vidigal de Oliveira. Julgamento: 07/03/2013. Publicação: 22/03/2013 interesse ou sentimento pessoal.
DJE).

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Por óbvio que se o agente não pratica ato de sua interferir. Dever funcional violado. Sentimento de corporativismo ilegal.
Proteção que não seria estendida ao criminoso comum. Conduta que
função ou o atrasa por impossibilidade de praticá-lo, fere o dever legal de proteção da incolumidade pública. Conduta que
não ocorre o crime. viola o que dispõe a norma do art. 144, § 5º da Constituição Federal, ao
dispor que “às polícias militares cabem à polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública;”. Violação do Estatuto dos Policiais
Não pratica Prevaricação o superior hierárquico que Militares do Distrito Federal. (TJDF - APR 3225920078070016 DF
0000322-59.2007.807.0016. Rel. Alfeu Machado. Julgamento:
deixa de responsabilizar subordinado sem que almeje
17/02/2011, 2ªTC. Publicação: 23/02/2011 DJ-e Pág. 303).
satisfação de interesse ou sentimento pessoal, mas
pode ter praticado o crime de Condescendência
Criminosa (Art. 322 do CPM). 5.7.2 Condescendência Criminosa:

Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) do serviço Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que
comete infração no exercício do cargo, ou, quando lhe falte
ativo ou o servidor público civil trabalhando na
competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
Corporação Militar (este somente na esfera federal). competente:

Sujeito passivo: O próprio Estado, através da Pena - se o fato foi praticado por indulgência, detenção
Administração Militar (Estadual ou Federal). até seis meses; se por negligência, detenção até três meses.

Elemento objetivo: É a conduta de retardar, deixar de


praticar, praticar ato de ofício, por questão de foro Crime impropriamente militar, pois também é previsto
íntimo. com definição semelhante no art. 320 do CPB, a
Condescendência Criminosa (Art. 322 do CPM) só pode
Elemento subjetivo: É o dolo genérico.
ser cometida pelo superior hierárquico em relação ao
Ex (1): Um PM que, após desarmar e prender seu subordinado infrator. Nesse caso o superior, por
contraventor, ao conduzi-lo à autoridade competente, indulgência, benevolência ou tolerância, deixa de
movido por sentimento pessoal, liberta-o e devolve-lhe responsabilizar subordinado hierárquico que tenha
a arma portada ilegalmente. cometido crime, contravenção penal ou qualquer falta
disciplinar, sendo que quando não tem competência
Ex (2): Um Sgt BM, que de folga e a paisana, dispensa disciplinar sobre ele, deve informar imediatamente à
viatura de trânsito, alegando que as partes envolvidas autoridade competente para que sejam adotadas as
em um abalroamento entraram em acordo, fazendo providências cabíveis.
com que não tenha sido lavrado o competente B.O.,
vindo, posteriormente, a ser constatado que um dos Sujeito ativo: Somente militar (estadual ou federal), do
veículos envolvidos apresentava irregularidades quanto serviço ativo, superior hierárquico e com competência
à sua documentação e o seu motorista também não sobre o subordinado.
possuía habilitação e era irmão da esposa do referido
Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
graduado.
Administração Militar (Estadual ou Federal).
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
PREVARICAÇÃO COMETIDA POR POLICIAIS MILITARES. NORMA DO ART.
Elemento objetivo: É a conduta de deixar de
319 DO CÓDIGO PENAL MILITAR. MILITARES QUE DEIXAM DE PRENDER responsabilizar subordinado por falta ou de comunicar
COLEGA QUE SE ENCONTRAVA BÊBADO E QUE, SOB SUA VIGILÂNCIA,
APONTOU ARMA, AMEAÇOU E LESIONOU OS DEMAIS PARTICIPANTES essa falta à autoridade competente.
DA CONFUSÃO INSTAURADA PELO PRIMEIRO. SENTIMENTO DE
CORPORATIVISO. DEPOIMENTOS DOS RÉUS QUE NÃO SE COADUNAM Elemento subjetivo: Pode ser o dolo, pela referência à
COM AS DEMAIS PROVAS DOS AUTOS. TENTATIVA FRUSTRADA, EM
AMBOS OS APELOS, DE DIMINUIÇÃO DO VALOR PROBANTE DO RELATO indulgência (clemência, misericórdia, tolerância
DAS TESTEMUNHAS. CONFIRMAÇÃO, PELO PRÓPRIO OFENSOR, DO
OCORRIDO. IMPOSITIVIDADE DA CONDENAÇÃO. Cometem crime de
demasiada, benevolência), ou a culpa, pela referência à
prevaricação (art. 319 do Código Penal Militar) policiais militares que, negligência (desleixo, descuido, incúria, desatenção,
sendo chamados a atender suposta ocorrência de roubo por colega
nitidamente embriagado e que ameaça pessoas ao redor, e além de não menosprezo, preguiça).
dissiparem a confusão e conduzir os envolvidos ao DP, deixam o colega
lesionar uma das pessoas ali presentes, só quando então resolvem

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A tentativa não é possível porque o delito é omissivo contrário, quando no exercício de função e que haja
próprio, isto é, a sua consumação se verifica com a prejuízo à Administração Militar, incidirá neste delito
omissão. militar.

Ex (1): Um Ten PM que nada faz ao flagrar uma É imprescindível que o preceito legal desconsiderado
guarnição que deixou de prender um criminoso que esteja contido em lei, regulamento ou instrução e a
estava na flagrância de um crime. conduta omissiva, obrigatoriamente, deve prejudicar a
Ex (2): Um Maj BM, Comandante da 1ªSSM (1ª Administração Militar.
Seção se Salvamento Marítimo), sediada no Quartel do
Mucuripe, que deixa de determinar a abertura de Importante destacar que NEVES e STREIFINGER (2012),
sindicância ao tomar conhecimento de fatos cometidos em seu livro, Manual de Direito Penal Militar,
por subordinados sob seu comando, que poderiam vir a defendem que “o tipo penal em questão é
ser classificados como crime ou infração disciplinar. Inconstitucional”, por tratar-se de norma penal muito
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
aberta, quase configurando um crime vago, em que
RECURSO CRIMINAL. FURTO PRATICADO POR MILITAR E CONFESSADO qualquer conduta pode amoldar-se, circunstância que
A UM COLEGA DE CASERNA. DENÚNCIA ADITADA PARA INCLUIR O
fere o princípio da legalidade, por não haver um
COLEGA COMO INCURSO NO DELITO DE CONDESCENDÊNCIA
CRIMINOSA, SENDO REJEITADA PELO JUIZ "A QUO". MANUTENÇÃO DA mínimo de exatidão na descrição típica. Assim, por
DECISÃO RECORRIDA. Não incorre na conduta típica de exemplo, na transgressão disciplinar de chegar
condescendência criminosa o militar que, sem guardar relação de
autoridade com o outro militar, ouve por parte deste a confissão de um
atrasado, ocorre a inobservância do Código Disciplinar,
crime, e deixa de comunicar o fato às instâncias competentes. Para a que no Estado do Ceará está corporificado através da
caracterização do delito do art. 322 do CPM é necessária a existência de Lei nº 13.407/2003, portanto, a aplicação desmedida
subordinação entre aquele que pratica a infração e aquele que tem a
obrigação de responsabilizar o infrator. Se o superior hierárquico não do tipo deste penal militar poderia ganhar contornos
tem competência para responsabilizá-lo, deve levar o fato ao penais militar, o que os citados autores asseveram ser
conhecimento da autoridade competente, sob pena de responder pela
um absurdo.
indulgência ou negligência, conforme o caso. Improvido o recurso
ministerial. Unânime. (STM - Rcrimfo 7327 RJ 2006.01.007327-8. Min.
Rel. Rayder Alencar da Silveira. Julgamento: 02/03/2006. Publicação: Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou o
24/03/2006 DJE). servidor público civil trabalhando na Corporação
Militar (este somente na esfera federal).

5.7.3 Inobservância de Lei, Regulamento ou Instrução: Sujeito passivo: O próprio Estado, através da
Administração Militar (Estadual ou Federal).
Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei,
regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato
Elemento objetivo: É a conduta de deixar de observar,
prejudicial à administração militar:
de cumprir, quando investido de função decorrente de
Pena - se o fato foi praticado por tolerância, detenção cargo público, preceito legal.
até seis meses; se por negligência, suspensão do exercício do
pôsto, graduação, cargo ou função, de três meses a um ano. Elemento subjetivo: Pode ser o dolo, pela referência à
tolerância (condescendência, aceitação, mesmo que
não querida), ou a culpa, pela referência à negligência
Crime propriamente militar, pois não há previsão (desleixo, descuido, incúria, desatenção, menosprezo,
semelhante no CPB, o Crime de Inobservância de Lei, preguiça).
Regulamento ou Instrução (Art. 324 do CPM) se
caracteriza pelo não atendimento do preceito legal em Ex (1): Um Oficial PM Comandante de OPM que ao
prejuízo à Administração Militar. efetuar prisão de acusados de arrombamento no
comércio local, ao invés de encaminhá-los à Delegacia
Evidentemente o militar estadual deve observar a lei, competente, leva-os ao Quartel, a pretexto de mostrá-
as instruções e os regulamentos afetos ao los à imprensa, deixando de observar os ditames do
cumprimento do seu mister constitucional, caso

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CPP de apresentação imediata do preso a autoridade A ofensa constitutiva do desacato é a grosseira falta de
policial competente. acatamento, podendo consistir em palavras injuriosas,
difamatórias ou caluniosas, agressão física, ameaças,
Ex (2): Um BM que em inspeção feita em boate não gestos obscenos e gritos, enfim, qualquer palavra ou
registra a necessidade de instalação de uma central de ato que redunde em vexame, humilhação, desprestígio
gás, deixando de observar as normas da Associação ou irreverência ao desacatado.
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Sujeito ativo: O militar (estadual ou federal) ou o civil
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL trabalhando (este na esfera federal), desde que agindo
INOBSERVÂNCIA DE LEI, REGULAMENTO OU INSTRUÇÃO. Requerente
exercia a função de Almoxarife da Coudelaria de Rincão e Campo de
como particular.
Instrucao de Rincão, sendo detentor direto do armamento em carga na Sujeito passivo:
Sala das Armas naquela Coudelaria, na forma do art. 136, do a) Imediato: O próprio Estado, através da
Regulamento de Administração do Exército, conforme afirmação Administração Militar (Estadual ou Federal).
expressa do Diretor daquela Organização Militar. II - O Peticionário foi
negligente no exercício de suas funções, por não fiscalizar o b) Mediato: A autoridade judiciária no
cumprimento das Normas Gerais de Ação (NGA), relativas à segurança exercício da função ou em razão dela.
do Armamento e Munição, dos Comandados da 1ª Brigada de Cavalaria Elemento objetivo: É a vantagem indevida.
Mecanizada e da 3ª Divisão de Exército e não fornecer os meios para
Elemento subjetivo: É o dolo, ou seja, a vontade
sua exata observação, subsumindo-se, assim, ao tipo penal inscrito no
art. 324, do CPM. III - Preliminar de não admissibilidade do Pedido específica de ofender.
Revisional, rejeitada na forma do art. 67, parágrafo único, I, do RISTM.
IV - No mérito, por decisão majoritária, foi indeferido o pedido de Esse crime não admite a forma culposa.
Revisão Criminal. (STM - Rvcrfo 1306 RS 2005.01.001306-3. Min. Rel.
Sergio Ernesto Alves Conforto. Julgamento: 26/09/2006. Publicação: Ex: Um militar estadual que em audiência na Vara
31/10/2006 DJE).
Única da Justiça Militar Estadual (Auditoria Miulitar)
manda o juiz de direito calar a boca.
5.8 Contra a Administração da Justiça Militar
PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL
5.8.1 Desacato: CRIME DE DESACATO PRATICADO POR POLICIAL MILITAR CONTRA
PROMOTOR DE JUSTIÇA DO ESTADO JUNTO À JUSTIÇA MILITAR - AÇÃO
Art. 341. Desacatar autoridade judiciária militar no PENAL - TRANCAMENTO - Constitui crime, previsto no artigo 341 do
exercício da função ou em razão dela: Código Penal Militar, desacatar autoridade judiciária militar no
exercício da função ou em razão dela. Promotor de Justiça do Estado
Pena - reclusão, até quatro anos. junto à Justiça Militar, por não ser autoridade judiciária militar, não
pode ser tido como vítima daquele crime militar. Sendo atípica a
conduta do policial militar acusado, cabível, no caso, o trancamento da
ação penal.Recurso conhecido e provido. (STM - Rcrimfo 7327 RJ
Crime impropriamente militar, pois também é previsto 2006.01.007327-8. Min. Rel. Rayder Alencar da Silveira. Julgamento:
com definição semelhante no art. 331 do CPB, mas 02/03/2006. Publicação: 24/03/2006 DJE).

com definição do sujeito passivo diversa.


6. PENAS
As autoridades judiciárias militar são os Ministros do
Superior Tribunal Militar e o Juiz-Auditor Corregedor Segundo as teorias absolutas, a pena é um resultado
na esfera federal e, os juízes dos Tribunais Militares da exigência de justiça, ou seja, pune-se alguém
dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas porque cometeu um crime, sem que haja a
Gerais, bem como, o Juiz-Corregedor da Justiça Militar preocupação com o fim utilitário da pena. É pura
Estadual e os Juízes-Militares que compõem o retribuição, consequência do delito que se caracteriza
Conselho de Justiça, Especial ou Permanente. por um mal justo em face do mal injusto do crime.

Para a configuração deste tipo penal militar a Em suma, conforme afirma NEVES e STREIFINGER
autoridade judiciária desacatada deve estar no (2005), com fulcro nas idéias das teorias absolutas da
exercício da função ou em razão dela. pena, pode-se conceituar pena como “um mal que
aflige o sujeito que causa um mal”.

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DIREITO PENAL MILITAR

As teorias relativas da pena, que também consideram a b) Justa: A pena deve ser aplicável a todos que incidem
pena um mal necessário, contudo tem que o objetivo na sanção penal;
maior da sanção não é retribuir, mas prevenir a prática
c) Necessária: A pena é necessária quando for o meio
de outro delito semelhante.
indispensável para a prevenção e a repressão da
A prevenção preconizada pelas teorias relativas criminalidade;
expressava-se em prevenção geral e prevenção
especial. d) Proporcional: A pena deve ser aplicada de acordo
com o delito e nunca excessivamente;
A prevenção geral, pretensamente, atua sobre a
coletividade, de modo a prevenir que as demais e) Divisível: A pena deve guardar a relação necessária
pessoas não cometam a mesma ação delituosa que o entre a gravidade do crime e a repressão;
apenado, enquanto que a prevenção especial atua f) Individual: Na aplicação da pena, o juiz deve ter
sobre o próprio apenado, transformando a pena em amplo arbítrio, entre o mínimo e o máximo, em vista
meio de se evitar a reincidência pelo mesmo. das circunstâncias do agente e do fato criminoso;
Já as teorias unificadoras ou mistas, conciliam, em g) Pessoal: A pena é personalíssima, só atingindo o
estágio inicial, os postulados das teorias precedentes. autor do crime (Art. 5º, XLV65, da CF/1988);
Afirmam, pois, o caráter de retribuição da pena, mas
exaltam sua função utilitária na correção do apenado. h) Reparável: Como a justiça humana não é infalível e
está sujeita a erros, a pena, sempre que injustamente
Na verdade, a pena deve perseguir um fim condizente aplicada, deve ser reparada.
com a democracia e os ditames constitucionais. O mais
importante é perceber que o Estado só deverá recorrer 6.2 Espécies de Pena
à pena quando a conservação da ordem jurídica não O CPM divide as penas em: Penas Principais e Penas
possa ser obtida com outros meios de reação, isto é, Acessórias.
com os meios próprios do direito civil (ou de outros
ramos do direito que não o penal). 6.2.1 Penas Principais:

Art. 55. As penas principais são:


De qualquer sorte, no Direito Penal Militar, a pena
pode ser definida como a sanção imposta pelo Estado a) morte;
contra a pessoa (militar e, em alguns casos, civil) que
b) reclusão;
praticou alguma infração penal militar.
c) detenção;
O CPM fixa as espécies de pena em pena principal e
pena acessória, com todos os aspectos que lhes são d) prisão;
inerentes, até a extinção da punibilidade, destacando- e) impedimento;
se, dentre as primeiras, a pena de morte cominada
para alguns crimes militares em tempo de guerra. f) suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou
função;
6.1 Legitimidade
g) reforma.
A pena só será legítima quando for:

a) Legal: A pena só pode ser determinada quando


disciplinada em uma lei pré-existente ao delito penal 65
Art. 5º (...). XLV - nenhuma pena passará da pessoa do
militar (“não há pena sem lei anterior que a defina”) e condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
só pode ser aplicada pelos órgãos competentes do do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
Poder Judiciário; patrimônio transferido;

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DIREITO PENAL MILITAR

As penas principais estão previstas no art. 55 do CPM e execução, salvo se não desejar essa vendagem (Art.
são: morte; reclusão; detenção; prisão; impedimento; 707 do CPPM69).
suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
b) Pena de Reclusão:
função; e reforma.
A Reclusão é o cumprimento da pena em regime
Importante destacar que existe ainda a menagem que
pode ser considerada uma espécie de prisão cautelar, fechado, semiaberto ou aberto.
concedida pelo Juiz ao militar ou civil que tenha O mínimo e máximo genérico da pena de reclusão é de
praticado um crime militar cuja pena privativa de um ano e trinta anos, respectivamente (Art. 5870 do
liberdade, em abstrato, não exceda a 04 (quatro) anos. CPM).
O benefício da menagem tem como objetivo evitar que c) Pena de Detenção:
o acusado permaneça em um estabelecimento
prisional até o julgamento em 1ª instância, sendo que A Detenção é o cumprimento da pena em regime
segundo o art. 26466 do CPPM poderá se efetuar, em semiaberto ou aberto, exceto quando houver
princípio, no lugar em que residia o militar quando necessidade de transferência a regime fechado.
ocorreu o crime.
O mínimo e máximo genérico da pena de detenção é
a) Pena de Morte: de trinta dias e de dez anos respectivamente (Art. 58
do CPM).
A Pena de Morte é uma exceção no Direito Brasileiro e
ela só ocorre em caso de guerra declarada (Art. 5º d) Pena de Prisão:
XLVII, alínea “a”67, da CF/1988).
A pena de reclusão ou de detenção até 02 (dois) anos
A sentença definitiva de condenação à morte é aplicada a um militar é convertida em pena de prisão e,
comunicada, logo que passe em julgado, ao Presidente quando não cabível a suspensão condicional, cumprida
da República, e não pode ser executada senão depois pelo oficial em um recinto de estabelecimento militar e
de sete dias após a comunicação. Se a pena é imposta cumprida pela praça, em estabelecimento militar, onde
em zona de operação de guerra, poderá ser executada ficará separada de presos que estejam cumprindo pena
imediatamente, quando o interesse da ordem e da privativa de liberdade superior a dois anos (Art. 59 do
disciplina exigir. CPM71).

O condenado a pena de morte será executada por A pena privativa de liberdade em tempo superior a 2
fuzilamento (Art. 5668 do CPM) e caso o condenado (dois) anos aplicada a militar será cumprida em
seja militar, ele deverá usar uniforme comum e sem
insígnias e ter os olhos vendados no momento da 69
Art. 707. O militar que tiver de ser fuzilado sairá da prisão com
uniforme comum e sem insígnias, e terá os olhos vendados, salvo se
o recusar, no momento em que tiver de receber as descargas. As
vozes de fogo serão substituídas por sinais.
66 70
Art. 264. A menagem a militar poderá efetuar-se no lugar em que Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo
residia quando ocorreu o crime ou seja sede do juízo que o estiver de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o
apurando, ou, atendido o seu pôsto ou graduação, em quartel, navio, máximo de dez anos.
acampamento, ou em estabelecimento ou sede de órgão militar. A
menagem a civil será no lugar da sede do juízo, ou em lugar sujeito à 71
Art. 59 - A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos,
administração militar, se assim o entender necessário a autoridade
aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e cumprida,
que a conceder.
quando não cabível a suspensão condicional: (Redação dada pela
67 Lei nº 6.544, de 30/06/78) I - pelo oficial, em recinto de
Art. 5º (...) - XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso estabelecimento militar; II - pela praça, em estabelecimento penal
de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; militar, onde ficará separada de presos que estejam cumprindo pena
disciplinar ou pena privativa de liberdade por tempo superior a dois
68
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento. anos.

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estabelecimento penitenciário militar e, na falta desse, A Pena de Suspensão do Exercício do Posto,


em estabelecimento prisional comum (Art. 61 do Graduação, Cargo ou Função consiste na agregação, no
CPM72). afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade
do condenado, por tempo fixado na sentença, sem
e) Pena de Impedimento: prejuízo do seu comparecimento regular à sede do
A pena de impedimento sujeita o condenado a serviço, conforme disposto no art. 64 do CPM76, sendo
permanecer no recinto da unidade, não importando que o tempo do cumprimento da pena não será
em encarceramento, recolhendo-se após a sua contado como tempo de serviço, para qualquer efeito.
instrução militar diária (Art. 6373 do CPM). Para melhor compreensão deste tipo penal é
Aplica-se, especialmente ao insubmisso, aquele que interessante o conhecimento dos seguintes conceitos:
não se apresenta para a incorporação (Art. 18374 do Agregação: é o afastamento temporário do militar do
CPM). serviço ativo, ficando adido ao corpo ou repartição a
Em regra goza o condenado do benefício da menagem que pertence;
que será no próprio quartel, independentemente de Afastamento: é a retirada do condenado de cargo ou
decisão judicial, podendo, entretanto, ser cassada pela
função;
autoridade militar, por conveniência da disciplina (Art.
266 do CPPM75). Licenciamento: pode importar em dispensa definitiva
do cargo ou função exercida pelo militar; e
Interessante ressaltar que o Crime de Insubmissão só
se verifica nas Forças Armadas (Marinha, Exército e Disponibilidade: é o desemprego temporário na
Aeronáutica), que tem o serviço militar obrigatório a expectativa de reintegração, ao mesmo ou em outro
todo jovem brasileiro do sexo masculino que completa cargo de igual categoria.
18 (dezoito) anos de idade. Enquanto que nas Forças
Caso o condenado, quando proferida a sentença, já
Auxiliares (Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares) seus integrantes só ingressam na Corporação estiver na reserva, reforma ou aposentadoria, essa
pena será convertida em detenção, de 03 (três) meses
voluntariamente mediante concurso público.
a 01 (um) ano.
f) Pena de Suspensão do Exercício do Pôsto,
Essa pena pode ser aplicada nos casos dos crimes de
Graduação, Cargo ou Função:
“exercício de comércio por oficial” (Art. 20477 do CPM);
ou ao crime de “inobservância da lei, regulamentação
ou instrução” (Art. 32478 do CPM).
72
Art. 61 - A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos,
aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar e, na falta
dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o recluso ou
76
detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de Art. 64. A pena de suspensão do exercício do pôsto, graduação,
cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. (Redação cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no
dada pela Lei nº 6.544, de 30/06/78) licenciamento ou na disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado
na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do
73
Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer serviço. Não será contado como tempo de serviço, para qualquer
no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar. efeito, o do cumprimento da pena.

74 77
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na
dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar- administração ou gerência de sociedade comercial, ou dela ser sócio
se antes do ato oficial de incorporação: Pena - impedimento, de três ou participar, exceto como acionista ou cotista em sociedade
meses a um ano. anônima, ou por cotas de responsabilidade limitada:

75 78
Art. 266. O insubmisso terá o quartel por menagem, Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei,
independentemente de decisão judicial, podendo, entretanto, ser regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato
cassada pela autoridade militar, por conveniência de disciplina. prejudicial à administração militar:

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g) Pena de Reforma: Em regra, as penas acessórias se apresentam anexadas


a uma pena principal, muito embora possam ocorrer as
O CPM permite que o Juiz de Direito do Juízo Militar, o hipóteses de o oficial perder o posto e a patente sem
Conselho de Justiça, Permanente ou Especial, em razão
que tenha cometido crime ao ser submetido a
do ato ilícito praticado pelo infrator possa lhe impor Conselho de Justificação. Assim, seu fundamento pode
após um devido processo judicial a pena de reforma. ser a natureza do crime cometido ou a falta do
Esta pena só pode ser imposta se houver previsão
cumprimento de certos deveres. Normalmente, a
expressa no tipo penal militar em tese praticado pelo imposição da pena acessória deve constar
infrator. expressamente da sentença, salvo as hipóteses
Por força da norma penal militar, o militar que tenha previstas no art. 10780 do CPM.
sido apenado com a sanção de reforma passará
a) Pena de Perda de Posto e Patente:
imediatamente para a situação de inatividade, com os
proventos restritos até vinte e cinco avos do soldo, por No caso de condenação à pena privativa de liberdade
ano de serviço, e em razão da natureza da sanção por tempo superior a dois anos, o apenado perderá o
aplicada não poderá mais ser revertido ao serviço ativo posto e a patente e, ainda, perderá as condecorações
79
(Art. 65 do CPM ). que possuir (Art. 99 do CPM81).

6.2.2 Penas Acessórias: b) Pena de Indignidade para o Oficialato:


Art. 98. São penas acessórias: O militar condenado, qualquer que seja a pena, nos
I - a perda de pôsto e patente; crimes de traição, espionagem ou cobardia,
desrespeito a símbolo nacional (art. 161 do CPM),
II - a indignidade para o oficialato; pederastia ou outro ato de libidinagem (art. 235 do
III - a incompatibilidade com o oficialato; CPM), furto (art. 240 do CPM), roubo (art. 242 do
CPM), extorsão (art. 243 do CPM), extorsão mediante
IV - a exclusão das fôrças armadas;
seqüestro (art. 244 do CPM), chantagem (art. 245 do
V - a perda da função pública, ainda que eletiva; CPM), estelionato (art. 251 do CPM), abuso de pessoa
(art. 252 do CPM), peculato (art. 303 do CPM),
VI - a inabilitação para o exercício de função pública;
peculato mediante aproveitamento do erro de outrem
VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela; (art. 304 do CPM), falsificação de documento (art. 311
do CPM) e falsidade ideológica (art. 312 do CPM), fica
VIII - a suspensão dos direitos políticos.
sujeito à declaração de indignidade para o oficialato,
conforme disposto no art. 10082 do CPM.

As penas principais estão previstas no art. 55 do CPM e Indigno, no sentido léxico, é aquele que praticou a
são: a perda de posto e patente; a indignidade para o indignidade: baixo, ordinário, inconveniente. Portanto,
oficialato; a incompatibilidade com o oficialato; a independentemente da pena aplicada ao oficial, este
exclusão das forças armadas; a perda da função
pública, ainda que eletiva; a inabilitação para o 80
Art. 107. Salvo os casos dos arts. 99, 103, nº II, e 106, a imposição
exercício de função pública; a suspensão do pátrio da pena acessória deve constar expressamente da sentença.
poder, tutela ou curatela; e a suspensão dos direitos 81
Art. 99. A perda de pôsto e patente resulta da condenação a pena
políticos. privativa de liberdade por tempo superior a dois anos, e importa a
perda das condecorações.

79 82
Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à situação de Art. 100. Fica sujeito à declaração de indignidade para o oficialato
inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do o militar condenado, qualquer que seja a pena, nos crimes de traição,
sôldo, por ano de serviço, nem receber importância superior à do espionagem ou cobardia, ou em qualquer dos definidos nos arts. 161,
sôldo. 235, 240, 242, 243, 244, 245, 251, 252, 303, 304, 311 e 312.

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não será digno da farda se cometer quaisquer dos pelo art. 125, § 4º87, da CF/1988, que é de eficácia
crimes enumerados pelo legislador, reveladores da sua plena e imediata.
indignidade, e perderá o posto e a patente, após ser
submetido ao Conselho de Justificação e julgado pelo f) Pena de Perda da Função Pública, ainda que eletiva:
tribunal competente. Em suma, nos termos do art. 10388 do CPM, perde a
função pública o civil condenado a pena privativa de
c) Pena de Incompatibilidade com o Oficialato:
liberdade por crime militar em que se houve com
Esta pena trata agora da incompatibilidade do oficial abuso de poder ou violação de dever inerente à
com sua profissão. Equivale a dizer que o legislador referida função pública.
entendeu que os crimes de Entendimento para gerar
conflito ou divergência com o Brasil (Art. 14183 do Esse princípio estende-se ao militar da reserva, ou
CPM) ou Tentativa contra a soberania do Brasil (Art. reformado, se estiver no exercício da função pública de
qualquer natureza, nos termos do parágrafo único do
14284 do CPM), cometidos pelo oficial evidenciam sua
incompatibilidade com a profissão que abraçou. Não se mesmo dispositivo legal e sua conduta se enquadrar
trata aqui de aferir de sua indignidade e sim da em uma das hipóteses contidas no inciso III89, do art. 9º
inconciliação entre o crime praticado com o oficialato, do CPM.
conforme preconiza o art. 10185 do CPM. Para sua Se o civil for condenado por qualquer crime militar a
aplicação também necessita da instauração do uma pena, seja de reclusão ou de detenção, superior a
Conselho de Justificação para apuração de sua 02 anos, perderá a função pública que exercer. O
incompatibilidade, que será julgado pelo tribunal inciso II dispõe a respeito do civil perder a função
competente. pública em virtude de condenação por outro
d) Pena de Exclusão das Forças Armadas: 87
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os
princípios estabelecidos nesta Constituição. § 4º Compete à Justiça
Essa pena acessória diz que a praça que tiver Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
condenação penal irrecorrível, superior a dois anos, crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a
será excluída das Forças Armadas (Art. 102 do CPM86), vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda
ou da PM ou CBM, no caso do militar estadual. do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
(Redação dada pela EC nº 45/2004)

Contudo, tal pena foi fulminada pela caducidade, visto 88


Art. 103. Incorre na perda da função pública o assemelhado ou o
que sua aplicação automática, não foi recepcionada civil: I - condenado a pena privativa de liberdade por crime cometido
com abuso de poder ou violação de dever inerente à função pública;
II - condenado, por outro crime, a pena privativa de liberdade por
mais de dois anos. Parágrafo único. O disposto no artigo aplica-se ao
83 militar da reserva, ou reformado, se estiver no exercício de função
Art. 141. Entrar em entendimento com país estrangeiro, ou
pública de qualquer natureza.
organização nêle existente, para gerar conflito ou divergência de
caráter internacional entre o Brasil e qualquer outro país, ou para 89
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: III - os
lhes perturbar as relações diplomáticas:
crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil,
84 contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os
Art. 142. Tentar: I - submeter o território nacional, ou parte dêle, à
compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
soberania de país estrangeiro; II - desmembrar, por meio de
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
movimento armado ou tumultos planejados, o território nacional,
administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar
desde que o fato atente contra a segurança externa do Brasil ou a
contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra
sua soberania; III - internacionalizar, por qualquer meio, região ou
funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de
parte do território nacional:
função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou
85 durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração,
Art. 101. Fica sujeito à declaração de incompatibilidade com o exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que
oficialato o militar condenado nos crimes dos arts. 141 e 142. fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância,
86
Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária,
tempo superior a dois anos, importa sua exclusão das fôrças quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a
armadas. determinação legal superior.

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g) Pena de Inabilitação para o Exercício de Função outros filhos, tutelados ou curatelados, não se
Pública: estendendo àquele contra o qual o crime foi cometido.

Aqui não se trata mais de perda da função pública, mas i) Pena de Suspensão dos Direitos Políticos:
sim de sua inabilitação, ou falta de habilitação, para
A CF/1988, ao proibir a cassação de direitos políticos,
que o condenado possa exercer a função pública, por
um período determinado pelo Conselho de Justiça que trata dos casos de perda e suspensão desses direitos,
varia de 02 até 20 anos, desde que a pena aplicada seja em seu art. 15, inciso III92, que dispõe a respeito da
de reclusão por mais de 04 (quatro) anos, em virtude suspensão por “condenação criminal transitada em
de crime praticado com abuso de poder ou violação do julgado, enquanto durarem seus efeitos”. Trata-se de
dever militar ou inerente à função pública (Art. 10490 uma verdadeira interdição de direito e uma das mais
graves, pois importa na suspensão dos direitos
do CPM).
políticos que compreende, sobretudo, o direito de
h) Pena de Suspensão do Pátrio Poder, Tutela ou votar e ser votado (Art. 10693 do CPM).
Curatela:
7. ELEMENTOS ACIDENTAIS DO CRIME
A Pena de Suspensão do Pátrio Poder, Tutela ou Os Elementos do crime são os elementos essenciais e
Curatela (Art. 10591 do CPM) constitui verdadeira os elementos acidentais.
interdição de direitos. É uma interdição temporária,
pois subsiste enquanto durar a execução da pena, pois Já estudamos anteriormente no nosso curso os
nesse período o preso não poderá desempenhar elementos essenciais do crime no item 3.2, que são: a
funções pertinentes. ação, tipicidade, antijuricidade, e a culpabilidade.

O pátrio poder pode ser conceituado como o conjunto Portanto, agora estudaremos apenas os elementos
de obrigações, a cargo dos pais, no tocante à pessoa e acidentais do crime, que são aqueles que podem
bens dos filhos menores. Contudo, se não existe quem deixar de existir, porém, quando não se verificam na
o exerça, ou porque faleceram ambos os genitores, ou conduta delitiva, modificam os elementos essenciais,
porque foram estes suspensos ou destituídos do pátrio alterando a responsabilidade do agente (agravando ou
poder, ou ainda porque julgados ausentes, os filhos atenuando a pena).
menores são postos em tutela. Por sua vez, a curatela
Essas circunstâncias apesar de serem verificadas no
constitui encargo deferido por lei a alguém para reger
fato, não contribuem para sua existência. Assim, as
a pessoa e administrar os bens de outrem, que não
circunstâncias juntam-se ao fato, acrescentando-lhe
pode fazê-lo por si mesmo
uma maior ou menor reprovabilidade e, por
Verifica-se nos casos de crimes dolosos, apenados com conseguinte, um aumento ou diminuição da pena.
reclusão, praticados contra filho, tutelado ou
7.1 Circunstâncias Atenuantes
curatelado. Essa incapacidade poderá ser eliminada
pela reabilitação, contudo esta somente atinge os São circunstâncias que sempre atenuam a pena,
ficando a dosimetria dela a critério do juiz. Quando a
pena-base for fixada no mínimo legal as circunstâncias

90
Art. 104. Incorre na inabilitação para o exercício de função pública,
92
pelo prazo de dois até vinte anos, o condenado a reclusão por mais Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
de quatro anos, em virtude de crime praticado com abuso de poder suspensão só se dará nos casos de: III - condenação criminal
ou violação do dever militar ou inerente à função pública. transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

91 93
Art. 105. O condenado a pena privativa de liberdade por mais de Art. 106. Durante a execução da pena privativa de liberdade ou da
dois anos, seja qual fôr o crime praticado, fica suspenso do exercício medida de segurança ìmposta em substituição, ou enquanto perdura
do pátrio poder, tutela ou curatela, enquanto dura a execução da a inabilitação para função pública, o condenado não pode votar, nem
pena, ou da medida de segurança imposta em substituição (art. 113). ser votado.

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atenuantes não terão incidência, pois elas não podem Faz-se interessante a diferenciação do relevante valor
atenuar a pena aquém do mínimo abstrato. social do relevante valor moral. O primeiro é aquele
que se verifica quando a causa do delito diz respeito a
As Circunstâncias Atenuantes estão previstas no art.
um interesse coletivo.
7294 do CPM e são:
Ex: O agente pratica violação de domicílio contra o
 Ser o agente menor de vinte e um ou maior de
setenta anos; traidor da pátria.

 Ser meritório o comportamento anterior do agente; Enquanto que o motivo de relevante valor moral é
 Ter o agente: cometido o crime por motivo de aquele que diz respeito a um interesse particular.
relevante valor social ou moral; procurado, por sua
espontânea vontade e com eficiência, logo após o Ex: O sujeito pratica seqüestro contra o estuprador de
crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou sua filha.
ter, antes do julgamento, reparado o dano; cometido o
crime sob a influência de violenta emoção, provocada
por ato injusto da vítima; confessado
“A incidência da circunstância atenuante não
espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do pode conduzir à redução da pena abaixo do
crime, ignorada ou imputada a outrem; e sofrido mínimo legal”. (Súmula nº 231 do STJ).
tratamento com rigor não permitido em lei.
Das circunstâncias atenuantes destacamos:
7.2 Circunstâncias Agravantes
a) Ser o agente menor de 21 (vinte e um) anos ou
Na pretensão de se ajustar a medida da pena à real
maior de 70 (setenta) anos:
gravidade do fato e a culpabilidade acrescida do
A incidência desta atenuante (Art. 72, I95) é de critério agente no seu crime, leva-se em consideração algumas
biológico, isto é da idade, independendo se o agente circunstâncias que acompanham a conduta punível e
tenha sido emancipado ou esteja casado. Se o crime determinam o aumento da sua reprovabilidade na
for praticado no tempo compreendido entre a data de consciência comum, com conseqüente exasperação da
aniversário de 18 (dezoito) anos do agente e até o dia sanção penal.
anterior àquele em que fizer 21 (vinte e um) anos, ele
As circunstâncias agravantes estão previstas no art. 70
será beneficiado, mesmo se, ao tempo da sentença, já
do CPM e são: a reincidência; e ter o agente cometido
tiver completado idade acima a esta.
o crime: por motivo fútil ou torpe; para facilitar ou
O sujeito ativo com idade superior há 70 (setenta) anos assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
de idade será beneficiado pela atenuante se, ao tempo vantagem de outro crime; depois de embriagar-se,
da sentença, já possuir referida idade. salvo se a embriaguez decorre de caso fortuito, engano
ou força maior; à traição, de emboscada, com
b) Ter o agente cometido o crime por motivo de surpresa, ou mediante outro recurso insidioso que
relevante valor social ou moral: dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima; com
94 o emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo,
Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o
agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos; II - ser ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de
meritório seu comportamento anterior; III - ter o agente: a) cometido o que podia resultar perigo comum; contra ascendente,
crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por
sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar- descendente, irmão ou cônjuge; com abuso de poder
lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, ou violação de dever inerente a cargo, ofício,
reparado o dano; c) cometido o crime sob a influência de violenta
emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado
ministério ou profissão; contra criança, velho ou
espontâneamente, perante a autoridade, a autoria do crime, ignorada enfermo; quando o ofendido estava sob a imediata
ou imputada a outrem; e) sofrido tratamento com rigor não permitido
em lei. Não atendimento de atenuantes.
proteção da autoridade; em ocasião de incêndio,
naufrágio, encalhe, alagamento, inundação, ou
95
Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular
agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos;
do ofendido; estando de serviço; com emprego de
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arma, material ou instrumento de serviço, para esse penal militar e, assim, não podem se prestarem a
fim procurado; em auditório da Justiça Militar ou local qualificar a conduta delitiva, pois correspondem aos
onde tenha sede a sua administração; e em país elementos específicos do crime.
estrangeiro.
Assim, quando uma das circunstâncias agravantes
a) Reincidência: funciona como elementar ou como circunstância
qualificadora, não se aplica como agravante, porque
Dentre todas as circunstâncias agravantes, a mais senão haveria o “bis in idem”, isto é, o sujeito teria a
grave é a reincidência, porque o agente revela pena aumentada em duas vezes diante das mesmas
periculosidade, uma confirmação da tendência circunstâncias.
criminosa.
Para um melhor entendimento dessa diferença,
A reincidência somente se verifica quando o agente vejamos alguns exemplos:
pratica novo crime, depois de transitado em julgado
sentença que o tenha condenado por crime anterior, Ex (1): Na prática do Crime de Homicídio Qualificado,
no Brasil ou estrangeiro. previsto no art. 205, § 2º, inciso I, do CPM, que diz:
“Art. 205. Matar alguém: (...) § 2° Se o homicídio é
Diferentemente do art. 64, II96, do CPB, que cometido: (...) I - por motivo fútil;”, não poderá incidir a
estabeleceu que os crimes militares próprios não são agravante do art. 70, II, “a” (“ter o agente cometido o
considerados para efeitos de reincidência, no Direito crime por motivo fútil”), pois a circunstância genérica
Penal Militar a prática de 02 (dois) crimes militares, está qualificando a conduta delitiva do homicídio.
próprios ou impróprios, podem gerar reincidência,
assim, como também a prática de um crime comum e Ex (2): No Crime de Incêndio, previsto no art. 268 do
outro posterior militar, visto que o CPM, em seu art. CPM, que diz: “Art. 268. Causar incêndio em lugar
71, § 2º97, só ressalvou os crimes anistiados, estando sujeito à administração militar, expondo a perigo a
estipulado também no § 1º98 desse mesmo artigo uma vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:”,
espécie de temporariedade da reincidência, em que a a palavra “incêndio” é integrante ou qualificativa deste
sentença condenatória deixa de gerar efeitos de crime, isto é, se referida palavra for retirada, deixa de
reincidência após o decurso do prazo de 05 (cinco existir tal crime “causar incêndio”. Se o sujeito
anos) da data do cumprimento ou extinção da pena. enquadrar-se na conduta tipificada neste artigo, não
poderá ter a pena agravada na forma do art. 70, II “e”
Ainda, é importante se diferenciar as circunstâncias (“ter o agente cometido o crime com o emprego de
agravantes das integrantes ou qualificativas do crime.
fogo”).
As primeiras, quando verificadas, sempre agravam a
pena, são circunstâncias legais especiais do crime, b) Ter o agente cometido o crime em outras
previstas na parte especial do CPM, enquanto que as circunstâncias agravantes:
segundas estão enraizadas no próprio conceito do tipo
Das outras circunstâncias agravantes destacamos:
96
Art. 64 - Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) (...) II - não se consideram os crimes militares I - Ter o agente cometido o crime por motivo fútil ou
próprios e políticos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) torpe (Art. 70, II, “a”99):
97
Art. 71. Verifica-se a reincidência quando o agente comete nôvo
Motivo fútil ou frívolo é o de nenhum valor, revelando
crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no
estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. § 2º Para efeito perversidade do agente e apresentando desproporção
da reincidência, não se consideram os crimes anistiados. entre o crime e sua causa moral.
98
Art. 71. (...) § 1º Não se toma em conta, para efeito da
99
reincidência, a condenação anterior, se, entre a data do cumprimento Art. 70. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando
ou extinção da pena e o crime posterior, decorreu período de tempo não integrantes ou qualificativas do crime: (...) II - ter o agente
superior a cinco anos. cometido o crime: a) por motivo fútil ou torpe;

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Ex: Agredir a esposa porque deixou queimar o 8. JUSTIÇA MILITAR


alimento.
Já o motivo torpe é o tido como repugnante e que A competência da Justiça Militar encontra-se prevista
ofende gravemente a moralidade média ou os na CF/1988 e pertence ao Poder Judiciário.
princípios éticos dominantes em determinado meio
social. Como os militares dividem em duas categorias:
militares federais e militares estaduais, igualmente a
Ex: Matar alguém por dinheiro que um terceiro Justiça Militar divide-se em: Justiça Militar Federal
promete. (JMF) e Justiça Militar Estadual (JME).
II - Ter o agente cometido o crime: depois de
embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre de caso 8.1 Justiça Militar Federal
fortuito, engano ou força maior (Art. 70, II, “c”100):
A JMF tem competência para processar e julgar os
Interessante ressaltar que a embriaguez é mais grave crimes militares (Art. 124103 da CF/1988) praticados
no CPM do que no CPB. Neste último somente a pelos militares federais, que são os integrantes das
embriaguez pré-ordenada, isto é, aquela em que o Forças Armadas: Marinha, Exército e Força Aérea, e,
agente se embriaga (deliberadamente) para praticar ainda, pelos civis.
um crime, é agravante.
A JMF tem como órgãos o Superior Tribunal Militar e as
A gravidade da embriaguês para os militares vai ser Auditorias de Justiça Militar, estas formadas pelos
aferida conforme cada caso: Conselhos de Justiça (órgãos de 1º grau de jurisdição).

a) Se a embriaguez, apesar de ser completa, for O Superior Tribunal Militar (STM), com sede no Distrito
proveniente de caso fortuito ou força maior o agente é Federal, tem competência sobre todo o território
inimputável (Art. 49 do CPM101); nacional; compõe-se de quinze ministros vitalícios,
todos brasileiros (natos ou naturalizados), nomeados
b) Se a embriaguez é voluntária ou culposa, não exclui pelo Presidente da República, depois de aprovada a
a responsabilidade; é irrelevante; indicação pelo Senado Federal, sendo dez militares
(das três armas) e cinco civis (dois dos quais escolhidos
c) Se a embriaguez é pré-ordenada, constitui agravante
entre Juízes-Auditores e membros do Ministério
(como já visto anteriormente);
Público da JM e três dentre advogados de notório
d) Se a embriaguez ocorre em serviço ou para este se saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos
apresenta o militar embriagado, trata-se de crime (Art. de efetiva atividade profissional). Está localizado no
202 do CPM102); Setor de Autarquias Sul. Praça dos Tribunais
Superiores. Cep: 70.098-900. Telefone Geral: (061)
e) Finalmente, se a embriaguez se dá fora do serviço, 3313-9292. Brasília/DF, Brasil.
pode ser transgressão disciplinar.
A jurisdição inferior (1º grau) é exercida pelos
100
Art. 70. (...). II - (...). c) depois de embriagar-se, salvo se a Conselhos de Justiça Militar (órgãos colegiados), que
embriaguez decorre de caso fortuito, engano ou fôrça maior;
são de duas categorias: Conselho Especial de Justiça
101
Art. 49. Não é igualmente imputável o agente que, por (para julgar oficiais) e o Conselho Permanente de
embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fôrça maior, Justiça (para julgar as praças). São compostos por um
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acôrdo Juiz Togado e quatro Juízes Militares (sorteados).
com êsse entendimento.

102
Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou
103
apresentar-se embriagado para prestá-lo: Pena - detenção, de Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes
seis meses a dois anos. militares definidos em lei.

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CF/1988 para julgar os militares estaduais, nos crimes


militares definidos em lei, dizendo que serão
processados e julgados em primeira instância pelos
Juízes de Direito e Conselhos de Justiça e em segunda
instância pelo Tribunal de Justiça do Estado, enquanto
não for criado o Tribunal de Justiça Militar do Estado.

“Compete à Justiça Militar processar e julgar


policial de corporação estadual, ainda que o
FIGURA 23 - Brasão do Superior Tribunal Militar.
crime tenha sido praticado em outra unidade
federativa”. (Súmula nº 78 do STJ).

8.2 Justiça Militar Estadual No Ceará, a JME funciona com apenas uma vara única,
A JME tem competência para processar e julgar os que está localizada no Fórum Clóvis Beviláqua, situada
militares estaduais (PMCE e CBMCE), e as ações na Av. Desembargador Floriano Benevides, nº 220, no
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada bairro Edson Queiroz, em Fortaleza/CE.
a competência do júri quando a vítima for civil (Art.
A JME é composta pelo Juiz de Direito do Juízo Militar e
125, § 4º104, da CF/1988 e art. 82105 do CPPM).
pelos Conselhos de Justiça (Especial e Permanente),
que podem ser sorteados ou convocados (Art. 399107
do CPPM), com a competência:

a) Juiz de Direito do Juízo Militar: Processar e julgar,


singularmente, os crimes militares cometidos contra
civis e as ações judiciais contra atos disciplinares
militares;

b) Conselho Especial de Justiça: Processar e julgar os


Oficiais Estaduais (De Tenente à Coronel PM/BM) que
cometeram crimes militares, sendo formado pelo Juiz
Figura 24 - Vara Única da Auditoria Militar do Fórum Clóvis Beviláqua.
de Direito do Juízo Militar e mais 04 (quatro) Oficiais da
O art. 51106 da Lei nº 13.729/2006 (Estatuto dos PMCE ou CBMCE, chamados então de Juízes Militares
Militares Estaduais do Ceará) reproduziu a (sorteados para atuarem em todos os atos do
competência da Justiça Militar Estadual delineada na processo). É formado um conselho deste para cada
processo e o acompanha desde o início até o seu
104
Art. 125. (...). § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e término.
julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei
e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a c) Conselho Permanente de Justiça: Processar e julgar
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e
as Praças Estaduais pelo cometimento de crimes
da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda militares, sendo formado pelo Juiz de Direito do Juízo
Constitucional nº 45, de 2004)
Militar e mais 04 (quatro) Oficiais da PMCE ou CBMCE,
105
Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos chamados então de Juízes Militares (sorteados a cada
contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo três meses). É formado um conselho deste para cada
de paz: (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 7.8.1996)
período e acompanha os processos em andamento na
106
Art. 51. Os militares estaduais, nos crimes militares definidos em fase em que se encontram.
lei, serão processados e julgados perante a Justiça Militar do Estado,
em primeira instância exercitada pelos juízes de direito e Conselhos
107
de Justiça, e em segunda instância pelo Tribunal de Justiça do Art. 399. Recebida a denúncia, o auditor: a) providenciará,
Estado, enquanto não for criado o Tribunal de Justiça Militar do conforme o caso, o sorteio do Conselho Especial ou a convocação do
Estado. Conselho Permanente, de Justiça;

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Justiça Militar Acusado: Só pode julgar Militares


dos Estados (Excepcionalmente pode
Estadual Acusado: Pode julgar julgar civil, na hipótese do mesmo
Militares da União e Civis. ter cometido o crime militar quando
Juiz Direito Militar Conselho Perma- Conselho Especial era integrante de uma das
Corporações militar Estadual)
nente de Justiça de Justiça
(Togado) Não possui competência para
Competência para julgar Ações
julgar Ações Judiciais contra
Judiciais contra atos disciplinares
atos disciplinares militares
USO OBRIGATÓRIO DO UNIFORME EM AUDIÊNCIAS E JULGAMENTOS militares estaduais. (EC nº 45/2004)
federais*.
(Nota nº 1175/2011- GAB CMDº, publicada no BCG nº 230, de 05/12/11).
É uma competência “ratione É uma competência “ratione
O Cel PM Comandante Geral da Polícia Militar do Ceará, no uso materiae” (crimes militares) +
de suas atribuições legais, e considerando a necessidade de padronizar materiae”, pois julga crimes
“ratione personae” (só pode julgar
o uniforme adequado aos policiais militares que comparecem em militares. militares dos estados).
audiências judiciais; Considerando que o policial militar quando
regularmente requisitado a comparecer a qualquer ato judicial o faz, Órgão jurisdicional: São 02 (dois)
representando a Corporação; Considerando que na Justiça Militar do órgãos:
Estado já existe determinação para que os militares compareçam - Juiz de direito do Juízo Militar:
devidamente uniformizados às audiências e julgamentos ali realizados, Órgão Jurisdicional: Será julga singularmente crimes militares
RESOLVE DETERMINAR que os policiais militares do serviço ativo da sempre um Conselho de cometidos contra civis e ações
Corporação, quando regularmente requisitados a comparecerem à Justiça. judiciais contra atos disciplinares
audiências e demais atos judiciais, seja como acusado, vítima ou militares.
testemunha que o façam ostentando uniforme da Corporação. - Conselho de Justiça: Julga os
Os Comandantes de OPM, Diretores, Chefes de seções e demais crimes militares.
assessores cumpram e façam cumprir a presente determinação no (*) A PEC nº 358/2005, que trata da segunda parte da Reforma do Poder
âmbito de suas atribuições.
Judiciário, onde uma das mudanças é a ampliação da competência da
Justiça Militar da União, atribuindo-lhe o controle jurisdicional das punições
Não obstante, importante ressaltar nos Estados em disciplinares aplicadas aos membros das Forças Armadas, encontra-se em
que o efetivo dos militares estaduais seja superior a tramitação no Congresso Nacional.

20.000 (vinte mil) integrantes poderá ser criado um


Tribunal de Justiça Militar, para funcionar como 2º
grau da Justiça Militar Estadual, mediante proposta do
Tribunal de Justiça (Art. 125, § 3º108, da CF/1988).
Atualmente existem Tribunais de Justiça Militar nos
Estado do Rio Grande do Sul (RS), Minas Gerais (MG) e
São Paulo (SP).

Quadro Comparativo da Justiça Militar Federal (JMF)


e Justiça Militar Estadual (JME).
JMF JME
Competência criminal:
Competência criminal: Processar e
Processar e julgar os Militares
julgar os Militares dos Estados pela
da União ou Civis pela prática
prática dos Crimes Militares.
dos Crimes Militares. 110
(CF/1988 - Art. 125, §§ 4º e 5º110) Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os
(CF/1988 - Art. 124109)
princípios estabelecidos nesta Constituição.

108 § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares


Art. 125. (...). § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações
do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência
primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente
em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a graduação das praças. (Redação dada pela EC nº 45/2004)
vinte mil integrantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004) § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,
singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações
109
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os
organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. demais crimes militares. (Incluído pela EC nº 45/2004)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Complementar:

Básica:
BRASIL, Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, 1988.
ASSIS, Jorge César. Código Penal Militar, 5ª ed.
Curitiba: Juruá, 2005. ______. Decreto-Lei nº 2.848, de 0712/40 (Código
Penal).
______. Direito Militar: Aspectos Penais, Processuais
Penais e Administrativos. Curitiba: Juruá, 2002. ______. Decreto-Lei nº 1.001, de 21/10/69 (Código
Penal Militar).
______. Comentários ao Código Penal Militar. 6ª ed.
(2007), 1 reimp. Curitiba: Juruá, 2008. ______. Decreto-Lei nº 1.002, de 21/10/69 (Código de
Processo Penal Militar).
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das Penas. São Paulo:
Martin Claret, 2001. ______. Lei nº 7.210, de 11/07/84. (Lei de Execução
Penal).
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, vol. 1: parte
geral. 11 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. ______. Lei nº 8.072, de 25/07/90 (Lei dos Crimes
Hediondos).
FREUA, Murillo Salles. O Casal de Militares perante a
Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06). In Internet. ______. Lei nº 8.906, de 04/07/94 (Estatuto da OAB).
Disponível < www.jusmilitaris.com.br/novo/uploads
______. Lei nº 9.299, de 07/08/96 (Alterou
/docs/casalmilitares.pdf>. Acessado em 12/06/14.
dispositivos do CPM e CPPM, respectivamente).
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. Brasília: Brasília
______. Lei nº 9.455, de 07/04/97 (Lei da Tortura).
Jurídica, 1999.
______. Lei nº 9.714, de 25/11/98 (Alterou
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado.
dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848/40 - CPB).
São Paulo: Atlas, 2005.
______. Lei nº 11.343, de 23/08/06 (Lei de Drogas).
NEVES, Cícero Robson Coimbra; e STREIFINGER,
Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar - ______. Superior Tribunal Militar. Cartilha institucional
Vol. 1 - Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2005. da Justiça Militar da União. Brasília: STM, 2013.

______. Manual de Direito Penal Militar. 2ª ed. São CEARÁ, Constituição do Estado do Ceará. Fortaleza,
Paulo: Saraiva, 2012. 1989.

ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Ação Penal Militar. In ______. Lei nº 13.407, de 21/11/03, com as alterações
Internet, no sítio: < http://www.advogado. das Leis nº 14.933, de 08/06/11, 13.407, de 21/11/03,
adv.br/direitomilitar/ano2002/pthadeu/acaopenalmilit 13.768, de 04/05/06, e 15.051, de 06/12/11 (Código
ar.htm>. Acessado em 30/05/14. Disciplinar PM/BM).

SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Comentário à ______. Lei nº 13.729, de 11/01/06, com as alterações
Parte Geral do Código Penal Militar. Fortaleza: ABC das Leis nº 14.113, de 12/05/08, e 14.930, de 02/06/11
Editora, 2007. (Estatuto dos Militares do Estado do Ceará).

______. Crimes Militares - Vol. 01. Fortaleza: Relevo,


2010.

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FIGURAS: • FIGURA 13 - Dormir em Serviço (Extraída da


Cartilha institucional da JMF).
• FIGURA 14 - Homicídio Simples (Extraída da
• FIGURA 01 - Militares Estaduais (Disponível em: Cartilha institucional da JMF).
<http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadern • FIGURA 15 - Lesão Corporal (Extraída da Cartilha
os/empregos/confirmado-concurso-para-soldados-da- institucional da JMF).
pm-ce-1.1314957>. Acesso em 03 jul. 2016). • FIGURA 16 - Maus-tratos (Extraída da Cartilha
• FIGURA 02 - Continência Militar (Disponível em: institucional da JMF).
<http://flaviopintonews.blogspot.com.br/2015/10/sob • FIGURA 17 - Furto Simples (Extraída da Cartilha
ral-ganha-batalhao-do-raio.html288>. Acesso em 03 institucional da JMF).
jul. 2016). • FIGURA 18 - Viaturas com os pneus esvaziados.
• FIGURA 03 - Rebelião em presídio no Ceará (Disponível em:
(Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas- <http://g1.globo.com/ceara/fotos/2012/01/veja-
noticias/agencia-estado/2016/05/24/n-de-mortos-em- imagens-de-fortaleza-com-paralisacao-dos-
rebelioes-em-presidios-no-ceara-chega-a-18.htm>. pms.html#F335015>. Acesso em 13 jul. 2016).
Acesso em 13 jul. 2016). • FIGURA 19 - Tráfico, posse ou uso de entorpecente
• FIGURA 04 - Mensagem dos grevistas em carro do ou substância de efeito similar (Extraída da Cartilha
RONDA. (Disponível em: < http://veja.abril.com.br/ institucional da JMF).
noticia/brasil/chega-ao-fim-a-greve-da-pm-e-dos- • FIGURA 20 - Desacato a Superior (Extraída da
bombeiros-no-ceara>. Acesso em 03 jul. 2016). Cartilha institucional da JMF).
• FIGURA 05 - Violência contra Superior (Extraída da • FIGURA 21 - Peculato (Extraída da Cartilha
Cartilha institucional da JMF). institucional da JMF).
• FIGURA 06 - Militar de Serviço. (Disponível em: • FIGURA 22 - Falsificação de Documento (Extraída
<http://feldmann.adv.br/dispensa-servico-militar/>. da Cartilha institucional da JMF).
Acesso em 03 jul. 2016). • FIGURA 23 - Brasão do Superior Tribunal Militar
• FIGURA 07 - Desrespeito a Superior (Extraída da (Disponível em: <http://www.stm.jus.br/ institucional>
Cartilha institucional da JMF). Acesso em 13 jun. 2014).
• FIGURA 08 - Recusa de Obediência (Extraída da • FIGURA 24 - Vara Única da Auditoria Militar do
Cartilha institucional da JMF). Fórum Clóvis Beviláqua (Disponível em:
• FIGURA 09 - Violência contra Inferior (Extraída da http://www.tjce.jus.br/noticias/noticia-detalhe.asp?
Cartilha institucional da JMF). nr_ sqtex=21189>. Acesso em 06 jun. 2014).
• FIGURA 10 - Deserção (Extraída da Cartilha
institucional da JMF).
• FIGURA 11 - Abandono de Posto (Extraída da
Cartilha institucional da JMF).
• FIGURA 12 - Embriaguês em Serviço (Extraída da
Cartilha institucional da JMF).

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ANEXOS:

• ANEXO A - STJ decide que crimes da greve da PM


serão processados nas Justiças Militar Estadual e
Federal.
• ANEXO B - Status de Militar do Desertor para se ver
processar e seus reflexos para o Serviço Militar.
• ANEXO C - Soldados do Ronda do Quarteirão são
condenados por desacato.
• ANEXO D - STM nega Habeas Corpus a tenente
flagrado com fardamentos e equipamentos furtados do
Exército.

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ANEXO A - STJ decide que crimes da greve da PM Especializada, de onde se originou, devendo a Federal
serão processados nas JME e Federal. adotar as providências cabíveis quanto a possíveis
O Superior Tribunal de Justiça decidiu que crimes contra a
delitos previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei nº.
segurança nacional serão processados pela Justiça Federal e
delitos propriamente militares pela Justiça Militar Estadual. 7.170/83).

No entendimento do MPF, acolhido pela 17ª Vara


Federal e agora pelo STJ, no caso da greve da PM,
houve concurso entre delitos militares (motim, revolta
e conspiração) e crimes contra a segurança nacional.
De acordo com decisão proferida no último dia 4, pelo
Contudo, de acordo com o o art. 79, inc, I, do Código
Superior Tribunal de Justiça (STJ), no tocante aos
de Processo Penal e a Súmula nº. 90 do STJ, esse
crimes decorrentes da greve da Polícia Militar (PM),
concurso de crimes não justifica a unificação do
ocorrida entre 31 de janeiro e 10 de fevereiro de 2012,
processamento e julgamento na Justiça Federal. Por
na Bahia, a Justiça Federal é a instância competente
conta disso, a Justiça Estadual Militar deve processar e
para processar os crimes tipificados na Lei da
julgar o policial militar pela prática do crime militar e a
Segurança Nacional e a Justiça Militar Estadual é a
Federal pela prática do crime comum, previsto na Lei
responsável por processar e julgar os crimes militares
de Segurança Nacional, simultâneo àquele.
de motim, revolta e conspiração. O órgão acolheu
parecer do Ministério Público Federal (MPF), por meio Número do processo para consulta: 17417-
do subprocurador-geral da República, Eitel Santiago de 72.2012.4.01.3300.
Brito Pereira, que por sua vez confirmou
posicionamento do MPF na Bahia. Número do conflito de competência no STJ:
124133/BA.
A decisão encerra o conflito negativo de competência
suscitado pela Auditoria Militar antes de receber a Assessoria de Comunicação
denúncia do Ministério Público Estadual ajuizada
Ministério Público Federal na Bahia
contra 84 policiais militares envolvidos na greve por
motim, revolta e conspiração, crimes previstos no Tel.: (71) 3617- 2295/2296/2200
artigo 149 do Código Penal Militar. A Auditoria Militar
estadual declinou da competência para julgar a E-mail: [email protected]
denúncia ao entender que os crimes militares
www.twitter.com/mpf_ba
ocorreram em paralelo aos crimes contra a segurança
nacional, que afetariam um estado democrático de 16/04/2013
direito, atraindo, assim, a competência da Justiça
Federal para todos os casos.
ATIVIDADE PROPOSTA:
A 17ª Vara Federal, por sua vez, suscitou o conflito
Após a leitura do texto, discuta e responda em grupo:
negativo de competência, remetendo os autos ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que decidisse - Condutas delitivas que podem variar a natureza do
qual a instância judiciária competente para julgar o crime (comum ou militar), exemplificando e explicando
feito decorrente da instância militar e o que tramitava pelo menos 3 (tres) hipoteses.
na instância federal não especializada. Para o Tribunal
Superior, a denúncia contra os policiais militares
deveria prosseguir na própria Justiça Estadual
*** *** ***

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ANEXO B - Status de Militar do Desertor para se ver Serviço Militar, no sentido mais amplo, com reflexos na
processar e seus reflexos para o Serviço Militar. Mobilização.
(Artigo extraído da Revista de Doutrina e Jurisprudência do Superior
Tribunal Militar. - Vol. 24, n. 2 (jan./jun. 2015). - Brasília : Superior Tribunal
Contudo, em razão das especificidades que envolvem o
Militar, 2015).
111
delito de deserção, as quais permeiam a legislação do
Fernando Sérgio Galvão .
Serviço Militar, o Estatuto dos Militares e outras
normas, o CPPM não prevê o processo de deserção
como ordinário e sim como especial, sendo abordado
em três Capítulos distintos.

Como se sabe, a deserção é tão especial que há


aspectos processuais específicos para quando o agente
é oficial, praça estabilizada e praça sem estabilidade.
Em todos os casos se exige a condição de militar para o
acusado se ver processar.

Quando da consumação do delito, somente a praça


sem estabilidade é excluída do serviço ativo. O oficial e
a praça estabilizada são agregados, permanecendo na
CONSIDERAÇÕES FINAIS condição de militar durante o período de trânsfuga.

O delito da deserção é da mais alta gravidade por E nem o oficial, uma vez capturado ou apresentado
envolver afronta ao Serviço Militar e ao Dever Militar, voluntariamente, reverte imediatamente aos quadros
comprometendo os cânones de defesa da Pátria, as da respectiva Força. Somente após o trânsito em
quais dependem, estruturalmente, de cada cidadão. julgado, a Administração Militar poderá conhecer o
grau de ofensa perpetrado ao Dever Militar. E, nessa
O infrator acaba por ser infiel aos demais integrantes ocasião, analisará a possibilidade de esse oficial
da OM à qual pertence e, se considerarmos que as reassumir seus encargos de comando e de chefia.
Forças Armadas, na forma da Constituição
Portanto, como visto no desenvolvimento deste Artigo,
Federal, são o braço armado da nação, a deserção é, a condição de militar é questão sine qua non para o
por extensão, também traição à sociedade e ao Estado. acusado de deserção se ver processar, seja oficial ou
praça, conforme previsto em dispositivos legais112.
Nessa dimensão de ruptura provocada pelo desertor,
há descompromisso do agente delituoso com a ultima Com foco apenas na praça sem estabilidade e no
ratio do Estado, cujas obrigações envolvem a intuito de punir aquele que cometeu o delito da mais
Segurança e a Defesa Nacionais. alta gravidade para uma Força Militar, com base no
devido processo legal, repise-se de caráter especial,
O crime de deserção alinha-se entre os delitos
devem-se evitar soluções em desacordo com a lei,
propriamente militares, que somente podem ser
desconstruindo dispositivos perfeitamente harmônicos
cometidos pelos integrantes das Forças. É o mais
e com reflexos em Sistemas das Forças Armadas.
castrense dos crimes, pois é cometido quando o
agente rompe o seu dever e, no caso da praça sem Deve-se evitar a desproporção no trato entre oficiais e
estabilidade, fere o mandamento constitucional do praças desertores, pois aqueles nunca são julgados à

112
STF. HC nº 103.254. Relator Min. Celso de Mello. Segunda Turma, julgado
111
General de Exército. Ministro do Superior Tribunal Militar. em 29/6/2010, DJe-070 de 13/4/2011.

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revelia. Não se pode ser mais benevolente logo com tanto para o agente em potencial do delito, como para
quem tem maior responsabilidade. aqueles responsáveis pela Administração Militar.

Se o desertor incapaz ou licenciado pudesse ser E, por outro lado, verifica-se a


processado e julgado à revelia, então, por coerência, importância da JMU para o fiel
em relação ao crime de insubmissão, o agente civil e cumprimento do mandamento
ainda não incorporado também assim poderia, pois o constitucional do Serviço Militar,
bem tutelado em ambos os crimes é o mesmo - o bem como para o Sistema
Serviço Militar. Operacional e de Mobilização das
Forças, ao processar e julgar crimes de deserção com
Por vezes, foca-se na ânsia de condenar o agente. Mas, base nos vários aspectos sobre o assunto aqui
o escopo da Lei, o que interessa mesmo, apenas neste
abordados e assentados em coerente arcabouço legal,
crime, é ter um agente condenado, mas também apto
os quais nem sempre são assim interpretados.
a complementar o Serviço Militar para ser incluído na
Reserva com grau de instrução em condições de ser Para efeito processual, no tocante à deserção, não se
mobilizado. podem ignorar os ditames trazidos na legislação
pertinente ao Serviço Militar, pois seus dispositivos
E não apenas ser condenado. O condenado por também servirão de fundamentos para o processo e o
deserção e sem condições (inapto ou foragido) de
julgamento desse delito.
completar as mais diversas fases de instrução do
Serviço Militar não induz utilidade ao Estado. Portanto, diante da história da Justiça mais antiga do
País, desde 1808, impõe-se a sintonia entre a
O escopo do crime de deserção difere dos demais, pois
jurisprudência castrense e a legislação correlata ao
o Estado não se contenta com a retribuição moral da crime de deserção, ressaltando-se que no STF
condenação, mas sim, mais importante do que isso, há encontra-se consolidado o prestígio à tutela da
um plus, qual seja, ver o agente cumprindo
Mobilização Nacional.
integralmente o Serviço Militar e compondo a Reserva
Mobilizável. Vale, ainda, ressaltar que o Serviço Militar e a
Mobilização Militar não podem ser rotulados como
A aptidão na inspeção de saúde do desertor, praça sem assuntos de somenos importância ou de remota
estabilidade, após a captura ou a apresentação
realização. Para a efetiva tutela da ultima ratio do
voluntária, inexiste como mero requinte legal para o Estado, urge-se ressoar a base principiológica em que
recebimento da Denúncia. Isso não teria qualquer se assenta a Justiça Castrense, de indelével essência
sentido, a não ser, nessa visão de utilidade, tornar
constitucional.
possível o exercício do
Brasília-DF, 21 de maio de 2015.
Serviço Militar, alcançando a eficiência da Força,
inclusive na Reserva. Se fosse apenas para receber a General de Exército Fernando Sérgio Galvão
Denúncia, então inexistira razoabilidade em criar essa
norma tão diferente apenas para a deserção, sem Ministro do Superior Tribunal Militar
estendê-la para os demais crimes propriamente
militares. Nenhuma lógica resistira no mais superficial
estudo sobre o tema.

Diante do tipo penal da deserção, entende-se como


fundamental, por um lado, o papel educador,
orientador e preventivo a cargo das Forças Armadas,

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ATIVIDADE PROPOSTA: voluntariamente mediante aprovação em concurso


público em que o militar estadual possui uma carreira
Após a leitura do texto, discuta e responda em grupo: profissional, reesponda: O militar estadual deveria
1) O civil pode responder por crime militar de estar sujeito a responbder o crime militar de Deserção?
deserção? Explique justificando. Elabore uma opinião argumentativa a respeito.

2) Considerando que nas FFAA existe o serviço militar


obrigatório, mas nas forças auxiliares só se ingressa
*** *** ***

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ANEXO C - Soldados do Ronda do Quarteirão são O defensor público titular da Auditoria Militar, Luiz
condenados por desacato. Eduardo Lima Martins, e os advogados Messias Bezerra
e Eduardo Aires fizeram a defesa dos policiais do
Ronda do Quarteirão. Eles alegaram o estrito
cumprimento do dever legal por parte dos soldados. A
defesa do major, patrocinada pelo advogado Delano
Cruz, declarou a negativa de autoria do acusado.
Notícias 30/09/2010
O CASO

Segundo a denúncia, no dia 29 de agosto de 2008, os


soldados foram acionados por moradores da área para
atender a uma ocorrência por perturbação do sossego
alheio em um bar. Chegando ao local, os policiais
solicitaram a diminuição do volume do som daquele
estabelecimento. Diante da promessa do proprietário
de baixar o som, os soldados se retiraram. Entretanto,
retornaram em seguida após receberem um novo
chamado pelo mesmo motivo. Como era a segunda vez
O Conselho de Sentença Militar da Vara Única da que a equipe ia ao local, os militares determinaram o
Auditoria Militar do Fórum Clóvis Beviláqua condenou, fechamento do bar.
nesta quinta-feira (30/09), dois soldados do Ronda do Consta na denúncia que a abordagem aconteceu de
Quarteirão envolvidos em confusão ocorrida, em forma ríspida, o que fez o major Fenelon Ferreira
agosto de 2008, no interior de uma bar no bairro Pedreira, que estava no local em companhia do irmão,
Jóquei Clube, em Fortaleza. O julgamento, presidido também major, Fenesvaldo Pedreira, se irritar com os
pela juíza Antônia Dilce Rodrigues Feijó, começou às 9h soldados. Após uma discussão entre eles, o soldado
e terminou às 18h desta quinta-feira (30/09). Francisco Lula deu voz de prisão ao major Ferreira
João Pedreira Pedrosa foi condenado a cinco meses de Pedreira, por desacato.
detenção pelos crimes de injúria real praticada contra Quando o supervisor de policiamento da Capital
superior e inobservância à lei, regulamento ou chegou ao local, o major estava algemado. Os PMs do
instrução. Francisco Lula Cardoso pegou quatro meses Ronda foram presos. Segundo a defesa dos soldados,
de reclusão por injúria real. Eles cumprirão a pena em foi o próprio major que se algemou. Ele, no entanto,
regime aberto. nega o fato.
Já o soldado do Ronda Manoel Joaquim Portuga e o Disponível em: <http://www.tjce.jus.br/noticias/noticia-detalhe.
Major PM Fenelon Ferreira Pedreira, também asp?nr_sqtex=21189>. Acesso em 09 jun. 2014.
envolvidos no caso, foram absolvidos pelo Conselho de
Obs: O nome dos policiais militares envolvidos foram trocados para
Sentença, que entendeu não haver provas suficientes preserva-lhes a identidade.
contra eles.

No julgamento, os promotores de Justiça Militar


Joathan de Castro Machado e Sebastião Brasilino de
Freitas Filho sugeriram a absolvição do major e do
soldado Manoel Joaquim e sustentaram a acusação
descrita na denúncia contra os outros dois réus.

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ATIVIDADE PROPOSTA:

Após a leitura do texto discuta com os colegas e


responda:

1) Um Sd PM pode prender e conduzir um superior


hierárquico?

2) Na sua opinião o Sd PM João Pedreira Pedrosa


cometeu os crimes de injúria (Art. 216113 do CPM)
praticada contra superior e inobservância de lei,
regulamento ou instrução (Art. 324114 do CPM)?

3) E o Maj PM Ferreira Pedreira cometeu o crime de


desacato contra o Sd PM Francisco Lula?

*** *** ***

113
Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro:
Pena - detenção, até seis meses.

114
Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei,
regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato
prejudicial à administração militar: Pena - se o fato foi praticado por
tolerância, detenção até seis meses; se por negligência, suspensão
do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função, de três meses a
um ano.

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ANEXO D - STM nega Habeas Corpus a tenente O militar foi conduzido para a 17ª Delegacia de Polícia
flagrado com fardamentos e equipamentos furtados e depois para o 1º Batalhão de Polícia do Exército, que
do Exército. abriu uma investigação. Em perícia, identificou-se que
o tenente levava consigo 35 itens, como camisetas e
camisas camufladas, conjuntos de uniformes
Agência de Notícias camuflados, pares de coturnos, cantis, canecos,
lanterna, porta-carregadores de fuzil, suspensórios
operacionais, coldres, coletes balísticos e cassetete
elétrico.
Os materiais foram identificados como adquiridos pelo
Exército, através de contrato firmado pelo COLOG
(Comando Logístico), no período de 2009 a 2011, e
continham as inscrições “Exército Brasileiro, Uso
Exclusivo do Exército Brasileiro e Venda Proibida”, além
do Brasão do Exército Brasileiro.
Tanto na delegacia, como na sindicância e no inquérito
policial, o denunciado afirmou que os materiais e
equipamentos lhe pertenciam, pois foram adquiridos
Fardamento furtado pertencia ao 1º Depósito de Suprimento em lojas de artigos militares e outros recebidos quando
Imagem: Internet
foi cadete na AMAN (Academia Militar das Agulhas
01/07/2016 Negras), sendo que aproveitou que iria na
confraternização do 1º Depósito de Suprimento,
STM nega Habeas Corpus a tenente flagrado com
unidade militar que servira até alguns dias antes do
fardamentos e equipamentos furtados do Exército
fato, para buscar tais materiais.
O Superior Tribunal Militar (STM) negou pedido de As investigações descobriram que o tenente serviu no
Habeas Corpus a um tenente do Exército flagrado com 1º Depósito de Suprimento (1º D Sup), no período de
farta quantidade de equipamentos operacionais e março de 2009 a setembro de 2012, onde exerceu
fardamentos de uso exclusivo do Exército, durante atividades de aquisição, controle e distribuição de
uma patrulha da Polícia Militar, na cidade do Rio de peças de fardamento e equipamentos: Chefe e Gestor
Janeiro. da Seção e Depósito de Suprimento Classe II,
O militar responde a uma ação penal militar pelos Encarregado do Setor de Material e Auxiliar da Seção
crimes de peculato-furto e de receptação culposa na 2ª de Suprimento Classe II. E também que, no período em
Auditoria do Rio de Janeiro. Os equipamentos tinham que o denunciado exerceu as funções chaves, o 1º D
sido furtados de um quartel do Exército. Sup recebeu grande quantidade de materiais e
Segundo os autos, no dia 12 de abril de 2013, por volta equipamentos oriundos do Escalão Superior (COLOG),
das 19h, o 1º tenente do Exército foi abordado por para o fim de distribuição às unidades militares
policiais militares do estado do Rio de Janeiro, após ser vinculadas à 1ª Região Militar.
perseguido por estar dirigindo em zigue-zague, não
obedecendo os sinais sonoros e luminosos da viatura Acusação
da PM.
Na peça acusatória, os promotores denunciam que o
Durante a abordagem, os policiais militares
militar aproveitou-se dessa condição determinante
constataram que, no interior do veículo conduzido pelo
aliada ao fato de ser oriundo do Serviço de Intendência
oficial, havia grande quantidade peças de fardamento
(ou seja, tinha conhecimento técnico sobre o assunto),
e equipamentos operacionais de uso exclusivo do
teve acesso a tais materiais e subtraiu para si as peças
Exército, assim como um montante em dinheiro, que
de fardamento e equipamentos operacionais.
somou quase R$ 180 mil.

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Os advogados do militar impetraram o pedido de Ainda para o ministro, diferentemente do alegado do


Habeas Corpus junto ao STM com intuito de trancar a advogado, não se busca atribuir, gratuitamente,
ação penal, por supostamente não ter havido crime. responsabilidade criminal ao denunciado.
De acordo com a defesa, os fatos delitivos atribuídos “Com efeito, no bojo da formação do conjunto
ao oficial não contêm “os requisitos formais e materiais probatório será oportunizado o aprofundamento da
que legitimem a acusação”. análise do caso concreto, para ao fim, de forma isenta
A defesa dele cita que o militar paciente foi conduzido e imparcial, concluir pela culpabilidade do agente ou,
à Delegacia de Polícia, após ser abordado pela Polícia por outro lado, pela sua inocência. Dessa forma, a
Militar, em local fora da Administração Militar; que a circunstância de sujeitar o ora Paciente à APM não se
autoridade policial liberou o paciente, após constatar a coaduna com o pensamento de constituir a
atipicidade de sua conduta e apreendeu-se os concretização de um juízo antecipatório de
materiais em posse dele sem lavrar o respectivo termo condenação”.
de apreensão. “A denúncia é inepta, pois a descrição Ademais, continuou o relator, existe respaldo
dos fatos não retrata as condutas de peculato ou de suficiente para justificar a apuração dos fatos,
receptação, nem descreve claramente quem as teria mediante a instauração da comentada ação penal.
praticado, padecendo de nulidade absoluta”, Nesse compasso, esmaece o argumento relativo a
argumentou a defesa. estar o então Tenente submetido a constrangimento
ilegal perpetrado pela autoridade indigitada coatora.
Análise do Habeas Corpus “Nesta esteira, diante das circunstâncias, enfatizo que
a apuração dos fatos em apreço, mediante a
Ao analisar o pedido, o ministro relator Marco Antônio
instauração da citada APM, está sendo conduzida de
de Farias denegou a ordem.
forma isenta e imparcial, sobretudo, com observância
Segundo o magistrado, restou comprovado que o
dos Princípios Constitucionais regentes, medida que
denunciado aproveitou-se da condição de oficial de
perfaz o interesse legítimo do Estado”, fundamentou o
intendência e pelo exercício de funções atinentes ao
ministro Marco Antônio de Farias.
controle e distribuição de materiais e subtraiu para si,
Por unanimidade os demais ministros do STM
no período compreendido entre 2009 e 2013, as peças
acolheram o voto do relator e mandaram prosseguir a
de fardamento e equipamentos operacionais, de venda
ação penal contra o tenente na 2ª Auditoria Militar do
proibida e de uso exclusivo do Exército, pertencentes à
Rio de Janeiro.
Administração Militar. O ministro afirmou também que
Disponível em: <https://www.stm.jus.br/
elementos probatórios do Ministério Público Militar
informacao/agencia-de-noticias/item/6276-stm-nega-
sugere a ocorrência de crime militar, à qual a Justiça
habeas-corpus-a-tenente-flagrado-com-pecas-de-
Militar deve se debruçar.
fardamento-e-equipamentos-operacionais-furtados-
Ao contrário do que sustentam os Impetrantes, disse o
do-exercito>. Acesso em 04 jul. 2016.
relator, não se vislumbra tratar-se de denúncia inepta.
“Efetivamente, preencheu os requisitos estabelecidos
no art. 77 do CPPM, dando ensejo ao seu recebimento, ATIVIDADE PROPOSTA:
com a consequente instauração da APM. Convém
Após a leitura do texto, discuta e responda em grupo:
destacar, no tocante à origem dos fatos, ser altamente
suspeito possuir um oficial, no interior de seu veículo, 1) A conduta do tenente foi de peculato ou de
por ocasião de abordagem em averiguação receptação? Explique justificando a resposta.
empreendida por policiais militares, grande quantidade 2) Uma guarnição da PM poderia efetuar a prisão do
de material militar (fardamentos e equipamentos) e de tenente do EB?
considerável valor em moeda corrente (cerca de R$
3) A autoridade policial agiu corretamente ao liberar o
171.800). Do contexto emerge, a possibilidade de
tenente, alegando que a conduta do mesmo era
ilicitude da posse daqueles valores e bens, haja vista a
atipicica, limitando-se a apreender os materiais em sua
sua particular natureza e quantidade”, sustentou.
posse sem lavrar o respectivo termo de apreensão?

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ANOTAÇÕES

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