Ind 1
Ind 1
Boa Governação-Transparência-Integridade
Good Governance-Transparency-Integrity
Esboço Final
2
INDÍCE
1 – Introdução e contexto
2 – Objectivos do relatório e metodologia
3 – História e situação actual da Indústria Extractiva em Moçambique
3.1-Geral
3.2-Hidrocarbonetos
3.2.1-Gás Natural
3.2.2-Pesquisa de Petróleo
3.3 Industria Mineira
3.3.1-Carvão
3.3.2-Areias Pesadas
4 – Utilização dos Recursos Minerais em Moçambique e desenvolvimento da Indústria
Nacional.
5 – Licenciamento para a exploração de Recursos Minerais.
5.1-Títulos Mineiros
5.2-Operações Petrolíferas
7 – Regime fiscal. Legislação.
8 – Contribuição actual e futura dos Recursos Minerais para a economia de Moçambique
9 – EITI: “Extractive Industries Transparency Initiative”
8.1-Princípios da EITI
8.2-Critérios da EITI
8.3-Adesão à EITI
8.4-As percepções sobre a EITI em MOÇAMBIQUE
8.4.1- Governo
8.4.2- Sociedade Civil
8.4.3- Parlamentares
8.4.4- Empresas
8.5- Acesso público à informação
8.6-Orçamento do Estado
8.7-Garantias de Integridade
8.8-Benefícios de adesão
10 – Considerações Finais
3
LISTA DE ABREVIATURAS
AMOPROC - Associação Moçambicana para Promoção da Cidadania
BM - Banco Mundial
CIP - Centro de Integridade Pública
CMG - Companhia Moçambicana de Gasoduto
CMH - Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos
CNG - Compressed Natural Gas
CPF - Estação Central de Processamento
CJE - Coligação para Justiça Económica
CVRD - Companhia Vale do Rio Doce
EITI - Iniciativa de Transparência nas Indústrias Extractivas
ENH - Empresa Moçambicana de Hidrocarbonetos
FDC - Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade
FMI - Fundo Monetário Internacional
GMD - Grupo Moçambicano da Dívida
INP - Instituto Nacional do Petróleo
IRPC - Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas
IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado
MGC - Matola Gas Company
MIREM -Ministério dos Recursos Minerais
MPD - Ministério da Planificação e Desenvoolvimento
OSC - Organizações da Sociedade Civil
PWYP -Publique o Que Paga
TA - Tribunal Administrativo
TPU – Transportes Públicos Urbanos
4
1 – Introdução e contexto
Nos últimos anos, a economia moçambicana tem registado desenvolvimentos signi-
ficativos na área dos recursos minerais. Em 2004, iniciou-se a produção e exportação de
gás natural em Pande e Temane. Em 2007 arrancou em Moma, província de Nampula, a
exportação de minérios produzidos a partir de areias pesadas. Em 2007, o Governo
assinou com a brasileira Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD) um contrato mineiro
para a exploração de grandes quantidades de carvão de Moatize. Ainda em 2007, o
governo rubricou com várias companhias multinacionais contratos de pesquisa e
produção de petróleo, com particular destaque para a zona da Bacia do Rovuma. O
quadro legislativo do sector também tem vindo a melhorar, dado que em 2007 a
Assembleia da República (AR) aprovou nova legislação fiscal para as áreas mineira e de
petróleos.
5
quadro regulatório e institucional é favorável a um cenário de transparência? Até que
ponto a actual exploração contribui para a riqueza do país? Até que ponto estamos
preparados no sentido de termos um quadro de gestão transparente em que as
multinacionais pagam o que realmente devem, o Governo colecta o que realmente deve e
utilize as receitas para investir em projectos duradoiros que possam vir a beneficiar as
gerações vindouras?
Este relatório tenta responder a estas questões. Não se trata de uma pesquisa aprofundada
sobre o actual regime jurídico aplicável, nem estamos perante uma abordagem definitiva
sobre a matéria. O que se pretendeu foi apenas elaborar um perfil da situação tendo em
conta os mais recentes desenvolvimentos ao nível da pesquia e da exploração e o actual
quadro legal.
6
• chamar a atenção dos partido políticos, da sociedade civil, do sector privado e dos
investidores dos riscos que poderão advir no futuro de uma eventual má
governação na exploração dos recursos minerais;
• chamar a atenção para um maior envolvimento da Assembleia da República no
sector, através da tomada de medidas legislativa que aumente a transparência e
que façam com que parte das receitas sejam consignadas às comunidades locais e
a projectos duradoiros que beneficiem as geração vindouras;
• realçar as vantagens da adesão por parte de Moçambique à Iniciativa de
Transparência nas Indústrias Extractivas.
Devemos reconhecer que este relatório apresenta grandes limitações em virtude das
dificuldades encontradas no acesso à informação, seja de fonte oficiais como de empresas
multinacionais que operam no sector. A busca de informação oficial sobre qual é
actualmente o perfil de receitas no sector, como no caso da Sasol, que explora as reservas
de gás de Pande e Temane, revelou-se infrutífera. Boa parte do dados que conseguimos
coligir foram fornecidos por via informal e sobre estrito anonimato por fontes
conhecedoras de alguns dossiers. As barreiras formais e informais na disponibilização de
informação são, pois, um dos principais desafios que o sector apresenta e que se espera a
adesão ao EITI venha colmatar.
7
relativamente baixo. Existe potencial, conhecido através de trabalhos de pesquisa, para a
ocorrência de outros jazigos minerais, ou de petróleo, que possam dar lugar ao
desenvolvimento de grandes projectos.
3.2 – Hidrocarbonetos
A exploração do gás descoberto foi impossível nos anos setenta - como se pretendia -
devido, entre outros factores, à instabilidade política e à falta de mercado. As pretensões
voltariam à tona nos anos oitenta, altura em que foi aprovada a Lei dos Petróleos ( Lei nº
3/81) e criada a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH). Nos anos seguintes, um
trabalho extenso foi levado a cabo com vista a delinear e avaliar o campo de Pande,
incluindo a realização de trabalhos de prospecção sísmica e furos de sondagem. Ainda na
década de 80, as Companhias Esso, Shell, Amoco e BP (British Petroleum) estiveram
activas na pesquisa de petróleo em Moçambique, tendo sido realizados um furo de
pesquisa em Mocímboa da Praia, na Bacia do Rovuma, e um outro off shore próximo de
Xai-Xai.
Recentemente, o quadro legal evoluíu com a aprovação de uma nova Lei de Petróleo (a
Lei nº 3/2001), ao que se seguiu a aprovação do respectivo regulamento. Esta lei retirou à
ENH o monopólio da realização de trabalhos de pesquisa, passando a empresa a
participar como associada e representando o interesse comercial do Estado em vários
projectos. Em 2004 foi criado, pelo Decreto N.º 25/2004, o Instituto Nacional de Petróleo
(INP) como entidade reguladora das operações petrolíferas em Moçambique. As
alterações na legislação, a estabilidade política instaurada em Moçambique com o fim da
guerra e o contínuo aumento dos preços de petróleo no mercado internacional,
contribuíram para o elevado interesse manifestado por parte de companhias petrolíferas
em trabalhos de pesquisa em Moçambique.
8
exportar gás moçambicano em Fevereiro de 2004 tendo como destino a vizinha África do
Sul.
Para além do contrato para a exploração dos campos de Pande e Temane, a SASOL,
através das suas subsidiárias, tem dois contratos de pesquisa e produção de
hidrocarbonetos em áreas próximas dos jazigos agora em exploração. A companhia
pretende, desta forma, pesquisar áreas adicionais para fazer face à demanda de novos
mercados de gás natural em Moçambique, na África do Sul e no mundo em geral. A
Sasol, de acordo com o seu Director Executivo, Pieter Cox 1 , está particularmente
satisfeita com o relacionamento que tem com o governo moçambicano.
9
até Secunda na África do Sul, assinado entre a Sasol Gas (expedidor) a empresa de
gasoduto ROMPCO.
O gás produzido dos furos é processado na Estação Central de Processamento (CPF) antes
da sua entrada no gasoduto. Nesta estação faz-se a separação da água com um conjunto de
hidrocarbonetos designado por condensado. O condensado é um combustível líquido com
especificações diferentes das dos produtos petrolíferos normalmente comercializados.
Presentemente são produzidos e exportados cerca de 1.600 barris por dia de condensado.
No ano de 2007, o consumo de gás natural em Moçambique foi de cerca de 1,5 milhões de
gigajoules. Uma parte desta quantidade de gás natural é utilizada na produção de
electricidade nos distritos do norte da Província de Inhambane e outra parte distribuída e
comercializada pela MGC (Matola Gas Company) a diversos consumidores na zona
industrial da Matola e Machava. O acordo define 5 possibilidades de take off points (pontos
de distribuição), através dos quais Moçambique pode começar a usar o gas para uso
doméstico, mas até agora o único ponto a funcionar é o de Ressano Garcia, havendo, no
entanto, planos para se estabelecer uma pequena central de electricidade movida à gás em
Chókwè.
Em 2003, a Sasol realizou furos de pesquisa nas áreas adjacentes aos jazigos de Pande e
Temane, conduzindo a novas descobertas de gás natural. Os resultados desta pesquisa,
assim como o melhor conhecimento do jazigo de Temane após a sua entrada em produção
em 2004, levaram a um aumento das reservas de gás natural calculadas como provadas,
prováveis e possíveis. Estima-se presentemente que as reservas possíveis de gás natural
sejam de 5,5 TCF 5 .
Prevê-se que tais reservas sejam aumentadas num futuro próximo com a realização de mais
trabalhos de pesquisa, em particular nos blocos 16 e 19, localizados no mar, em que a Sasol
está presentemente activa. Com base no aumento das reservas provadas de gás natural,
assim como da crescente procura de gás natural pelo mercado, tanto em Moçambique como
na África do Sul, estão já a decorrer trabalhos para a expansão da capacidade das
instalações de produção e do gasoduto em cerca de 50%.
5
TCF, trilião de pés cúbicos
10
Existe pouca informação no domínio público quanto às receitas geradas pelo
empreendimento de gás natural. Os valores referidos neste trabalho são baseados em
alguma informação contida no trabalho Bucane e Muelder 6 (2007) e de alguma informação
obtida dos contactos que efectuámos com fontes não oficiais. O valor das vendas de gás
natural e condensado em 2007 é estimado em cerca de 160 milhões de dólares. Se for
acrescido do custo de transporte de gás natural no gasoduto, o valor de exportação
correspondente é de cerca de 240 milhões de dólares. A indústria de gás natural tem,
portanto, já um papel de relevo nas exportações de Moçambique. O gás natural é um
recurso energético importante, com uma crescente procura no mercado internacional, que
poderá e deverá dar uma contribuição importante na satisfação das necessidades
energéticas de Moçambique e no desenvolvimento da indústria nacional.
Para além da Sasol, activa em dois blocos de pesquisa, com perspectivas prioritariamente
para gás natural, são actualmente concessionárias no âmbito de Contratos de Pesquisa e
Produção de Petróleo, as seguintes companhias:
6
Aurélio Bucane e Peter Mulder, MPD, (2007). “Exploring Natural Resources in Mozambique: will it be a
blessing or a curse”, discussion paper.
11
Moçambique. A maioria das companhias acima mencionadas são das maiores
presentemente activas na arena internacional.
Por sua vez, a canadiana Artumas anunciou que vai investir 170 milhões de dólares na
exploração e petróleo em Moçambique, onde é concessionária numa das áreas na bacia
do Rovuma, e também na Tanzania. Este investimento será suportado por uma operação
de emissão de títulos no mercado de capitais norueguês, no referido montante e
integralmente realizada. Nas palavras de Steve Mason, sócio-pessoa da Artumas
Moçambique-Petróleo e Presidente Executivo da Artumas Group, "os resultados desta
oferta de títulos serão usados para aumentar o conhecimento da Artumas sobre o
potencial da exploração de crude na Bacia do Rovuma, em Moçambique, e também na
Tanzania, nomeadamente nos campos gasíferos de Mnazi Bay e Msimbati”.
Outra região considerada com elevado potencial é a área do “off shore” do Zambeze,
onde opera a Petronas. A Petronas é uma empresa pública petrolífera malaia, com 33
944 8 empregados e que opera em 31 países. Segundo dados disponíveis na enciclopédia
wikipedia, a Petronas teve no ano de 2007 um rendimento líquido de 12,9 biliões de
dólares.
3.3.1. – Carvão
7
www.gulfoilandgas.com
8
www.petronas.com
12
Moçambique dispõe de vastas reservas de carvão mineral, com particular destaque para
as localizadas nas províncias de Tete e Niassa. O valor de reservas consideradas como
provadas é de 6 biliões de toneladas. Para além da área de Moatize, cujo projecto
mencionaremos a seguir, existem diversas outras áreas em que decorrem trabalhos de
pesquisa ou de avaliação de reservas.
13
com potenciais investidores. O escoamento do carvão será feito através da linha férrea de
Sena e a sua exportação através de uma terminal de carvão a ser construída no porto da
Beira. Os investimentos previstos para a implementação do projecto de carvão
ultrapassam os 1,2 biliões de dólares. Os investimentos requeridos para a Central Térmica
são superiores a 2 biliões de dólares.
A BHP Billiton é a maior empresa de mineração do mundo. Foi criada em 2001, a partir
da fusão da Broken Hill Proprietary Company (BHP), empresa australiana, com a
Billiton, empresa inglesa muito activa em operações na vizinha África do Sul 9 . Além dos
interesses na indústria extractiva, esta companhia está presente na indústria
transformadora, nomeadamente na MOZAL, onde é a accionista maioritária. A empresa
Rio Tinto detém presentemente licenças de pesquisa, estando actualmente em curso
trabalhos na província de Inhambane
14
publica registada na Irlanda e cotada na bolsa de Londres, que investiu cerca de 460
milhões de dólares na implementação do projecto. As instalações têm a capacidade de
produzir anualmente 800.000 toneladas de ilmenite, 56.000 toneladas de zircão e 21.000
toneladas de rútilo. Está já planeada a expansão das instalações para aumentar o nível
total de produção anual para 1,2 milhões de toneladas em finais de 2009.
Os produtos são transportados em barcaça para o alto mar e transferidos para navios para
exportação. A primeira exportação teve lugar em 14 de Dezembro de 2007. Em Fevereiro
de 2002 haviam já sido exportadas 23.000 toneladas para a Europa e 16.000 toneladas
para os Estados Unidos da América.
Embora não haja dúvida quanto o seu impacto nas exportações de Moçambique,
frequentemente se questiona qual é impacto dos grandes projectos, designados por “mega
projectos”, na economia do país e a sua contribuição para a melhoria do nível de vida da
população. Em particular, no caso da Mozal, qual o impacto nas receitas fiscais
arrecadadas pelo Estado por este se situar numa zona franca industrial? Parece ser o
sentimento geral de que, apesar das taxas positivas de crescimento económico em
Moçambique, ainda não é visível uma melhoria no poder de compra e do bem estar das
populações em geral.
No que respeita ao gás natural, embora tenha sido necessário um grande mercado de
exportação para viabilizar inicialmente o empreendimento, desde alguns anos que se tem
mencionado algumas oportunidades e planos para a sua utilização no país, como por
exemplo:
15
Em 2004, a ECON elaborou um estudo 10 financiado pelo IFC, em que se faz uma
análise detalhada quanto à viabilidade do uso de gás natural em transportes
públicos na área de Maputo. O estudo menciona que, em 2004, cerca de 33.000
pessoas se deslocavam diariamente da periferia para a cidade de Maputo, de entre
os quais 60% utilizavam transportes semi-colectivos de passageiros, vulgarmente
designados por “chapas”. Na altura da elaboração do estudo estimava-se existir
entre 2.500 a 3.000 “chapas”. O estudo concluíu que seria possível vender gás
natural aos taxistas a um preço correspondente a 56% do preço da gasolina (o
preço médio da gasolina em 2003 era de 11,7 MT/Lt.). Com a poupança no preço
da gasolina cada “chapa”, decorridos 8 meses após recuperarem os custos de
conversão da viatura teria um ganho anual de 2.150 dólares.
10
ECON Analysis: “ The Potential for Carbon Finance to Support the introduction of Natural Gas into
Mozambique”
16
Algumas actividades em Moçambique estão sujeitas a licenciamento ou a concessões de
exploração, nalguns casos com carácter de exclusividade: licenças para pesquisa mineira,
concessões para a pesquisa e produção de petróleo, concessões para a distribuição e
comercialização de gás natural, concessões de produção de electricidade etc. Ao atribuir
tais licenças ou concessões, o Estado concede direitos aos seus titulares. Será que em
alguns dos casos acima mencionados (exemplo: fornecimento de gás a veículos) não
foram exigidas obrigações a tais titulares?
Como foi referido, em poucos anos poderá estar disponível carvão em grandes
quantidades para ser consumido no país e ser utilizado como combustível ou como
matéria primas para novas indústrias a instalar. A componente de exportação é sem
dúvida importante para a economia do país. Quando tal seja possível, é igualmente
importante que os recursos minerais sejam processados ou utilizados localmente, o que
poderá contribuir para a satisfação nas necessidades do país em produtos acabados,
necessidades energéticas, ou dar mais valia às nossas exportações. Os recursos minerais
são recursos não renováveis. Numa altura em que se esgotarem, é importante que algo
fique no país, quer sejam infraestruturas ou um desenvolvimento industrial.
Através do gasoduto existente, o gás natural pode facilmente ser colocado quer no
mercado nacional quer no mercado sul-africano e assim contribuir para o
desenvolvimento de novas indústrias em qualquer desses países. Aqui poderão surgir
situações de conflito de interesses. Caso haja gás natural disponível e seja
economicamente viável a construção de um complexo de fertilizantes a partir do gás
natural, será interesse da Sasol construir tal complexo em Moçambique ou na África do
Sul? Terá o Governo moçambicano ou o empresariado nacional força ou capacidade para
determinar que tal complexo seja implementado em Moçambique?
Dos contactos que efectuámos, existe a opinião de que a Sasol, embora séria e de
reconhecida capacidade técnica e financeira, é uma empresa do tipo “monopolista”
pretendendo normalmente ser determinante nas decisões que são tomadas nas parcerias
com outras entidades. Tem uma “agenda”própria que nem sempre é do conhecimento dos
seus parceiros. Assim, o nosso Governo tem um papel fundamental para evitar que o gás
natural produzido em Moçambique venha a competir com o desenvolvimento industrial
do nosso país, evitando que Moçambique continue a ser um exportador de matérias
primas e importador de produtos acabados.
17
5.1 – Títulos Mineiros
Para o obtenção da concessão mineira que pode ou não ser emergente de uma licença de
prospecção e pesquisa, o requerente deverá, para além do acima indicado, apresentar o
estudo de viabilidade técnica e económica, o plano de lavra e a data prevista para o
arranque da extracção. O certificado mineiro é atribuído unicamente a pessoas singulares
ou colectivas moçambicanas, e atribuído para explorações mineiras de escala
relativamente pequena. A senha mineira é atribuída a operadores artesanais nacionais, em
áreas de senha mineira, residentes nessa zona. Os títulos mineiros são atribuídos segundo
a sua ordem de entrada no cadastro mineiro, portanto numa base “first come, first
served”.
Para além dos títulos acima mencionados é da competência do Ministério dos Recursos
Minerais a atribuição de licenças de comercialização. Estes títulos conferem aos seus
titulares o direito de comprar os produtos minerais aos operadores artesanais e
comercializá-lo, internamente ou para exportação.
18
5.2 – Operações Petrolíferas
De acordo com a Lei do Petróleo, Lei n.º 3/2001 e respectivo regulamento, os Contratos
de Pesquisa e Produção são atribuídos mediante concurso público. Existem casos em que
se pode admitir negociação directa, como por exemplo numa determinada área já
submetida a concurso público e em que não houve nenhuma proposta em termos
aceitáveis.
A partir de 2005 houve um grande interesse por parte de diversas companhias de petróleo
em realizar pesquisa de petróleo em Moçambique. Dado o sucesso do concurso para
pesquisa na Bacia do Rovuma, em que concorreram 7 companhias e em que foram
atribuídas as 4 áreas disponíveis, o Governo determinou que as restantes áreas ainda
disponíveis apenas seriam atribuídas mediante concurso internacional. Em princípios de
Dezembro 2007 foi aberto um novo concurso internacional e as propostas deverão ser
submetidas em Junho de 2008. Mas deve-se registar que a norueguesa Hydro Statoil ja
obteve uma licença mesmo antes de o novo concurso internacional ter sido concluído,
através de negociação directa com o Instituto Nacional de Petróleos.
Mas um dos grandes problemas em Moçambique é que os contratos que o Estado tem
vindo a rubricar nesta área não são público, não sendo publicados em Boletim da
República. Por outro lado, ha, na relação entre o Governo e os investidores, muitos
aspectos de natureza técnica ou tecnológica que são sujeitos a negociações com os
investidores, sendo este um dos pretextos usados para que os acordos não sejam
revelados.
Uma das questões recentemente mais levantada pelo Fundo Monetário Internacional nas
suas discussões com o Governo foi a falta de informação sobre os mega-projectos e a sua
pouca contribuição para as receitas fiscais arrecadadas pelo Estado. Em relação ao sector
de minas e petróleo, insistia-se que os incentivos fiscais até agora concedidos deveriam
19
ser removidos nos contratos com novos investidores. Considerava-se que, no futuro, não
seriam necessários incentivos fiscais pois havia já uma grande apetência das empresas
mineiras e companhias de petróleo pelo investimento em Moçambique. O FMI insistiu
também na introdução de contratos modelo para as concessões a serem atribuídas na área
mineira e petrolífera e de reduzir ao mínimo os item que seriam sujeitos a negociações
com os investidores.
Existe também o imposto sobre o de rendimento corporativo (corporate income tax rate)
que é 32% dos proveitos das empresas. O que quer dizer que o nível de todas as rendas
que o Governo pode recolher situa-se em cerca de 35%, mas isto só depois de as
multinacionais terem recuperado o seu investimento, o que leva entre 5 a 10 anos de
exploração. Contrariamente a outros países, há quem pense que este quadro de partilha
das rendas entre as multinacionais e os Governos é teoricamente bom. Por exemplo, o
Chade arrecada 28% das rendas e o Uganda perto de 20%. Mas, em contrapartida, a
Nigeria e Angola ganham mais ou menos 90% e 60%, respectivamente, de todas as
rendas de petróleo produzido nestes países.
Parece hoje claro que, com os actuas preços de mais de 100 Usd/barril, as multinacionais
vão investir em qualquer contexto fiscal pois elas podem inflaccionar os custos de
produção para reduzirem o que efectivamente devem pagar aos Governos. Um recente
exemplo que confirma a importância da transpârencia da parte das multinacionais é que o
11
De acordo com o Presidente do Fundo de Fomento Mineiro, Atanásio M’tumuke, citado pela AIM a 3 de
Abril de 2008.
20
governo de Nigéria parece estar hoje com dificuldades de saber se as multinacionais que
lá opera estão a produzir 2 milhões de barris/dia ou 3 milhões de barris.
Ainda em 2007 foi aprovada a Lei n.º 13/2007 atinente à revisão do regime dos
incentivos fiscais das áreas mineiras e petrolífera. Os incentivos do Código de Benefícios
Fiscais deixaram de ser aplicáveis às áreas mineira e petrolífera. O único benefício que
agora é concedido é a isenção de direitos aduaneiros e IVA sobre a importação de bens e
equipamento, por um período limitado de 5 anos.
ARTIGO 11
(desenvolvimento local)
A questão dos fundos sociais é central para este debate. O artigo 11 da Lei 12/2007 tem
boas intenções, mas o seu regulamento não tem descrições específicas sobre quem
tem responsibilidades e autoridade para implementar projectos que sejam financiados por
estes fundos. Presentemente, o INP e as multinacionais estão a decidir, isoladamente,
como gastar estes fundos e que projectos podem ser apoiados. Por isso, a Statoil-Hydro
gastou menos de 80,000 USD na compra de um frigórifico para peixes em Quissanga e
Anadarko gastou mais ou menos 200,000 USD para estender o sinal da Radio
Moçambique entre Macomia e Palma. Mas estes investimentos foram feitos sem a
participação e consulta às comunidades locais.
21
Governo deverá submeter a este órgão uma proposta de consignação de uma parte das
receitas fiscais previstas de serem obtidas das actividades mineira e petrolífera.
No ano de 2006, Moçambique teve um PIB nominal de US$ 7,3 biliões e exportações no
valor de US$ 2,4 biliões. Deste valor US$ 1,4 foram resultantes da exportação de
produtos da Mozal. Excluindo a Mozal, a presente exportação de produtos de
Moçambique é de cerca de US$ 1 bilião por ano.
Prevê-se presentemente a contribuição dos recursos minerais para o PIB seja de cerca de
5%. A contribuição deste sector para as exportações começa a ter significado devido ao
gás natural e condensado (valor estimado de US$ 240 milhões em 2007). Como foi
referido, existem já programas concretos a serem implementados nos próximos anos, os
quais assegurarão um desenvolvimento da indústria extractiva no país. Como exercício,
apresentamos a seguir uma estimativa das receitas que serão geradas no sector em 2012,
após a implementação dos projectos já mencionados e ainda em curso:
22
Carvão 12 milhões de tons a US$ 60/ton 700
Areias pesadas 1,2 milhões a US$ a US$90/ton 100
de Moma
Areias pesadas 0,5 milhões de toneladas a US$ 500/ton 12 250
de Chibuto
Total 1.450
Os valores acima mencionados referem-se aos obtidos com a venda do recurso extraído e
não contempla a sua transformação (por exemplo, a produção de electricidade). A
contribuição dos empreendimentos acima mencionados para as receitas fiscais para o
Estado é referida 13 como sendo modesta devido aos incentivos fiscais que foram
concedidos ao investidores. A fonte menciona para o ano de 2012 uma estimativa de US$
51 milhões (sem considerar a expansão do empreendimento em 50%) para o gás natural e
US$ 24 milhões para o carvão. Os valores para os restantes empreendimentos na áreas
dos recursos minerais e de energia eléctrica são consideravelmente inferiores.
A Iniciativa EITI foi anunciada pelo antigo Primeiro Ministro do Reino Unido, Tony
Blair, numa Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável Mundial decorrida em
Setembro de 2002 em Joanesburgo, e subsequentemente lançada em Conferência
Inaugural em Junho de 2003, em Londres. A Iniciativa tem suporte político da
12
Enquanto que em Moma a ilmenite é exportada, em Chibuto far-se-á dela a extracção de concentrado de
titânio.
13
Aurélio Bucane e Peter Mulder, MPD, (2007). “Exploring Natural Resources in Mozambique: will it be a
blessing or a curse”, discussion paper.
14
Quanto ao valor de $30 biliões, não é mais do que, de forma arredondada: 800.000 barris/dia x 365 dias
x $100/barril.
23
comunidade internacional e de organizações multilaterais como o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Fazendo coro com a EITI, o FMI publicou em
Junho de 2005 o “Guia para a Transparência da Receita dos Recursos Naturais”.
24
11. Convicção de que a divulgação de pagamentos num determinado país deveria
envolver todas as empresas do sector extractivo que operam nesse país.
12. Crença de que, ao procurar soluções, todas as partes interessadas têm contributos
importantes e relevantes a fazer – incluindo os governos e os seus órgãos,
empresas do sector extractivo, empresas de serviços, organizações multilaterais,
organizações financeiras, investidores e organizações não-governamentais.
8.4.1 – Governo
25
A recente adesaão do Governo à EITI mostra uma evolução positiva das percepções que
as entidades governamentais têm cultivado sobre a relevância da iniciativa. Ao nível do
Governo, dentre as entidades que têm lidado com o tema destacam-se o Ministério dos
Recursos Minerais (que é o principal ponto focal), o Ministério do Plano e
Desenvolvimento (MPD) e o Instituto Nacional de Petróleos (subordinado ao primeiro
minstério). A recente adesão de Moçambique vém na sequência de promessas inscritas no
Memorando de Entendimento que o Governo assina com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) sobre questões relativas à gestão macro-económica. Num desses
memorandos, datado de Outubro de 2006, o Governo ja fazia a promessa de adesão à
EITI e prometia também realizar um seminário de alto nível para discutir o assunto
internamente. Esse seminário, que devia ter acontecido em 2007, não foi realizado por
razões que não conseguimos apurar. Entretanto, antes de tomar a decisão de aderir à
iniciativa, o Governo, através do Departamento de Estudos do MPD elaborou, em 2007,
um estudo que visava comparar os princípios e critérios da EITI com os procedimentos
legais vigentes em Moçambique e identificar eventuais discrepâncias no quadro
moçambicano, para depois procurar-se conciliar e, assim, o país poder aderir à iniciativa.
O estudo ainda não foi publicado mas consta que serviu de base para o Conselho de
Ministro tomar a recente decisão de adesão à iniciativa. Note-se que ainda no ano
passado, aquando da realização das entrevistas para este relatório, o Vice-Ministro do
Plano e Desenvolvimento, Victor Bernardo, ja nos dizia que, mais do que o FMI, o
Governo estava interessado em gerir com transparência todos os recursos naturais deste
país, o que fazia pressupor que ao nível do executivo as percepções sobre a iniciativa
eram positivas.
8.4.3 – Parlamentares
Também entrevistamos deputados da Assembleia da República, designadamente um
deputados da Frelimo (António Niquice) e outro da Renamo-União Eleitoral (Eduardo
Namburete). Ambos os parlamentares disseram nunca terem ouvido falar da EITI.
8.4.4 – Empresas
No seio das companhias estrangeiras que ja operam em Moçambique, a Kenmare é uma
das poucas que empresa que tem conhecimentos sobre a EITI. De acordo com o seu
representante, Gareth Clifton, a Kenmare considera a EITI ”uma boa iniciativa” e que
traria vantagens ao povo moçambicano caso o Governo aderisse. Mas outras empresas
26
desconheciam a iniciativa. Por exemplo, na CVRD, a Directora de Comunicação e
Imagem em Maputo, Denise Chicalia, disse nunca ter ouvido falar da EITI.
27
disponível sobre esta cadeia de processos. É difícil ver se o Governo tem usado a receita
dos recursos para, efectivamente, cumprir metas das políticas sociais e económicas. Uma
exigência básica da boa prática é que o Governo enuncie de forma clara as suas políticas
a respeito do ritmo de exploração dos recursos e do uso da receita deles derivada, de
maneira que os gastos assim financiados sejam compatíveis com a política fiscal global.
9 – Considerações Finais
Este relatório tenta fazer uma abordagem geral sobre os recentes desenvolvimento no
sector das indústrias extractivas em Moçambique, destacando-se a crescente importância
do gás, minerais e, possivelmente, do petróleo na economia. Apesar de a EITI ter sido
lançado em 2002, o nosso relatório demonstra que o nível de conhecimento do programa
28
por parte de alguns deputados da AR, da sociedade civil e da opinião pública é ainda
muito limitado.
Este aspecto é uma das questões centrais quanto falamos em transparência: a questão do
acesso à informação e à capacidade das entidades relevantes em sistematizarem e
fornecerem informação adequada sobre o nível de receitas no sector. No caso
moçambicano, a adesão à EITI vai implicar da parte do Governo e da Assembleia da
República um cometimento específico no que diz respeito à melhoria do quadro legal
relativo ao acesso à informação. Isto significa que terá de ser aprovada uma lei que
permita o acesso público facilitado à informação em posse das entidades do Estado. Na
verdade, um projecto lei neste sentido foi submetido à Assembleia da República pelo
capítulo moçambicano do MISA (Media Institute for Southern Africa), mas ele ainda não
foi debatido e nem sequer há indicações de que isso venha a ser feito.
Mas também existe a percepção de que não há ainda, da parte das instituições do
Governo, capacidade e disponilidade em fornecerem informação correcta e devidamente
harmonizada. Por outro lado, a implementação do EITI em Moçambique não pode apenas
ser vista pelo lado das receitas. Existem, no nosso entender, outros elementos importantes
a ter em conta, com destaque para capacidade das entidades do Estado em fazerem
análises de custo-benefício e serem mais exigentes relativamente aos planos de negócios
das empresas (do ponto de vista de gestão ambiental e de responsabilidade social), mas
também no que diz respeito aos tipos de contratos que são assinados, nos quais hoje as
elites podem ser sócias, mas as comunidades não – aqui nos referimos à questão da
titularidade dos mecanismos de rendimento de tal forma que as comunidades possam
beneficiar mais directamente da indústria extractiva.
Ou seja, não é automático que um país rico em recursos naturais acaba necessariamente
em recordes de crescimento lento e pobreza institucional. Casos como o do Botwsana,
Noruega e Malásia provaram o contrário. Até porque países com instituições pobres são
os que menos investimento atraem e, em função dos fracos níveis de crescimento
29
económico, acabam permanecendo dependentes da exportação de matéria prima. Por isso,
a questão central que se coloca para o nosso país não é apenas o de se descobrir mais e
mais recursos naturais, mas o de saber que sectores potencias e que indústrias podem
criar valores adicionais à economia moçambicana.
30
comunidades devem receber em termos de fixação das percentagens das rendas
sociais da exploração mineira, de gás e petrolífera a que as comunidades tem
direito.
o As organizações da sociedade civil podem começar a capacitar as comunidades
circunvizinhas dos projectos de explortação de minas, gás e petróleio para que
estas começam a obter as rendas sociais que a legislação prevê; isto implica
actividades de capacitação em gestão, facilitação para o associativismo, abertura
de contas bancárias, etc.
Lista de Entrevistados
31
Valério Leonardo, Associação Moçambicana para a Promoção da Cidadania, AMPROC
Víctor Bernardo, Vice-ministro do MPD
Viriato Tamele, Coligação para Justiça Económica, CJE
Páginas na internet
www.anadarko.com
www.artumas.com
www.bhpbilliton.com
www.eia.doe.gov
www.eni.it
www.eitransparency.org
www.inp.gov.mz
www.jornalnoticias.co.mz
www.govnet.gov.mz
www.govnet.gov.mz/servicos/licenciamento/sub_fo_minas
www.mireme.gov.mz/portugues/legislacao/l_minas.htm
www.tvm.co.mz
http://www.mpd.gov.mz/gest/documents/54E_Natural_Resource_Curse.pdf
www.wikipedia.org
32
Anexo 1
33
Grafite Ton 0 0 0 0 0.0
Ouro Kg 15 21 56 63 85.0
Bentonite Tratada Ton 580 684 578 547 692.0
Bentonite Bruta Ton 0 0 3,366 0 0.0
Águas marinhas Kg 3 15 18 16 5122.0
Turmalinas Kg 15 23 1,570 245 25138.0
Pedras lapidadas Cts 0 0 0 2,239 0.0
Gás natural GJ 2,423,065 2,522,897 49,739,070 88,907,651 102188825.0
Anexo 2
Mapa da divisão da Bacia do Rovuma por área e por empresa
34
35