Eclesiologia - Aluízio Silva

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Eclesiologia

Base na Vinha

O Governo da Igreja

Aluízio A. Silva
Editado e publicado no Brasil por:
VINHA Editora
Av T-3, S/N, Qd. 43 Lt. 20, 3º Andar
Edifícil Vaz, Setor Bueno CEP: 74.215-110
Goiânia – GO – Brasil
Telefone: (62) 3251-0440
[email protected]

Direção Geral Aluízio A. Silva


Direção Executiva Radamés Adão
Gerente de Produção Robson Pires G. Júnior
Produção Gráfica Fábyo Costa

Revisão de texto Maria A. de Oliveira


Projeto gráfico e diagramação Uilker Riccelli Nunes Costa

Curso Pastoral Vinha – Sistema Vinha de Ensino


Direção Geral Marcos Nogueira de Almeida
Direção Acadêmica Cláudio Lísias

Exceto as de outra forma indicadas, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada, Edição Revista e Atualizada
(RA), trad. João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), São Paulo, SP, 1993.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem
a autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo
artigo 48 do Código Penal.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2014
Sumário

Introdução 05

Cap 1 – Tipos de governo da igreja 13

Cap 2 – Princípios de governo no Velho Testamento 21

Cap 3 – Princípios de governo no Novo Testamento 25

Cap 4 – A liderança no mover de Deus 33

Cap 5 – Os benefícios de uma equipe ministerial 37

Cap 6 – O propósito de uma equipe ministerial 43

Cap 7 – O espírito da equipe 47

Cap 8 – A mulher e o governo da igreja 57

Cap 9 – A disciplina na igreja 61

Cap 10 – O perfil de um líder aprovado 69

Cap 11 – O uso da autoridade 75


Eclesiologia
Na Perspectiva da Videira e da Vinha

Definindo Eclesiologia
Eclesiologia (do grego ekklesia) é o ramo da teologia cristã que trata da doutrina da Igreja:
seu papel na salvação, sua origem, sua disciplina, sua forma de se relacionar com o mundo, seu
papel social, as mudanças ocorridas, as crises enfrentadas, seus ensinamentos, a relação com
outras denominações e sua forma de governo.

Nosso estudo, porém, se aterá a enfocar a forma de organização e governo da Igreja, o que
define uma Igreja e a forma como ela se relaciona com outros grupos cristãos.

Introdução
O que é a Igreja? Essa é uma pergunta tão simples quanto profunda, e tem implicações
imensas. Nossa definição de Igreja determinará a forma como vivemos a vida cristã no dia a dia
e trará grandes consequências sobre a maneira como edificamos.

Infelizmente, no decorrer dos séculos, a Igreja foi se tornando cada vez mais sufocada, ritu-
alizada e entulhada por tradições humanas, superstições e puro folclore. Igreja, atualmente, é
sinônimo de um templo, um sacerdote, uma religião, um estatuto com registro em cartório,
uma diretoria, conta bancária, uma confissão de fé e um nome. Mas, foi isso o que Jesus e os
apóstolos do primeiro século nos legaram? Não! Igreja, no conceito puro e simples do Novo
Testamento, é onde dois ou três se reúnem debaixo do Nome do Senhor para adorar, cumprir
a grande comissão de evangelizar e aprender Seu ensino. Nada mais, nada menos.

Esse conceito de Ekklesia, isto é, um grupo de pessoas que se desligou do resto do mundo
para viver outra proposta de vida e prática, revolucionou a império Romano em pouco mais
de duzentos e cinquenta anos. Igreja era algo leve, simples e facilmente transferível – qual-
quer um podia plantar uma igreja ao se mudar de cidade, qualquer crente podia convidar os
vizinhos para se reunirem em Nome de Jesus. Cada cristão era um ministro ativo que pre-
gava, expulsava demônios, curava os enfermos e fazia discípulos. Havia, por outro lado, um
profundo respeito e honra para com seus líderes e para com aqueles que eram a suas “fontes
no Senhor”, os irmãos investidos de autoridade de governo. Desse modo, não havia conflito
entre a função de governar a Igreja e as funções do Corpo de Cristo na vida da Igreja. Isto é,
o pastor era respeitado na sua função de presbítero, mas também estimulava a iniciativa de
cada crente em pregar, liderar e fazer discípulos.
6 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Uma Igreja é, portanto, um pequeno grupo de irmãos em determinada localidade que se


reúnem debaixo do Nome de Jesus. Para efeito prático, na Vinha, chamamos de “micro-igreja”
um novo grupo de irmãos que começa a se reunir numa nova cidade. Não é necessário templo,
pastor ordenado e todo o arcabouço pesado convencional. Esse grupo certamente crescerá e
terá a necessidade de um local para reunião e todos os outros detalhes. Porém, desde o primeiro
momento de reunião, ali está a Igreja viva e atuante de Jesus Cristo! O potencial de uma igreja
assim é revolucionário e, na graça do Senhor, veremos dezenas de milhares delas sendo plan-
tadas nos quatro cantos do mundo como resultado da restauração desse conceito tão simples.

Igreja segundo o conceito da Restauração


A Videira e a Vinha estão dentro do Movimento de Restauração. Isto é, fazemos parte do
que Deus tem feito ao longo dos séculos para trazer Sua Igreja de volta ao modelo da igreja
primitiva. Ele tem restaurado a Verdade da Palavra, Seu mover, Seu derramar, a visão, e tam-
bém a forma de organização e governo de Sua casa. Esse Movimento de Restauração começou
antes da Reforma Protestante e avançou em cada novo mover de Deus até os nossos dias. A
prática de uma Igreja que se livrou de todo o folclore e da superstição medieval foi impactada
pela verdade da salvação pela fé, defendida na Reforma do século XVI, pelo movimento de
santidade Metodista e pela sede Batista de conhecer profundamente a Palavra Escrita. Foi tam-
bém afetada pelo avivamento pentecostal e carismático do século XX, e, entre outros aspectos
práticos, pela visão e a prática das células.

Historicamente, esse movimento foi estruturado pelos irmãos da Igreja de Cristo no final
do século XIX, pelo movimento dos irmãos, ou “Brethren”, cujo membro de maior destaque
foi John Nelson Derby. No século XX, Watchman Nee também se destacou como colaborador
deste movimento. Contudo, algumas opiniões controversas surgiram, como veremos a seguir.

1. Opiniões controversas:
a) A ideia exclusivista do que é Igreja dos irmãos chineses de Witness Lee
Infelizmente, Witness Lee, colaborador de Watchman Nee, estruturou um ramo exclusivis-
ta, sectário e que terrível dano tem causado até hoje a toda a Igreja. Recentemente, os irmãos
que sucederam Lee após sua morte têm sido julgados pelo Senhor com inúmeras divisões por
causa do seu pecado contra o Corpo de Cristo. Em seu extremismo, definem como Igreja ape-
nas seu grupo em cada cidade. Nós, os demais, somos “filhos da Grande Babilônia”. Praticam
um nefasto aliciamento de crentes das diversas denominações sob o argumento de que eles são
a Restauração, e nós, o governo do homem. Infelizmente, não se pode ter comunhão alguma
com esses irmãos. No início de nosso ministério, nos anos 80, tentamos nos aproximar e
chegamos a convidar sua Editora a expor livros em nossas conferências, mas o que fizeram foi
desrespeitar nossa autoridade e aliciar nossos membros, chamando-os para se reunirem com
eles. Com sua doutrina introspectiva e incapacidade de evangelizar, geralmente são grupos ul-
tra-fechados e condenados a não crescer. Preferem universitários, pois usam uma terminologia
muito rebuscada e incompreensível para pessoas comuns.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 7

b) A Restauração no Brasil durante a década de 1980


Nos Estados Unidos, surgiu o “Movimento da Chuva Serôdia” que afetou profundamente a
Igreja em seu caminho de Restauração e influenciou a Igreja no Brasil. Esses irmãos ensinavam
sobre a Unidade da Igreja, o amor a todo o Corpo de Cristo e o serviço a toda a Igreja. Eles nos
instruíram sobre a restauração dos cinco ministérios citados em Efésios 4.11, e a restauração do
louvor e da presença de Deus manifesta na Igreja. O apóstolo norte-americano Jack Schisler,
Moisés Cavalheiro (Comunidade de Porto Alegre), Carlos Alberto Bezerra (Comunidade da
Graça de São Paulo), Robson Rodovalho e César Augusto (Comunidade de Goiânia), Miguel
Piper (Curitiba), Jorge Himitian (Argentina) e Dick Iverson, entre muitos outros, foram expo-
entes desse movimento no Brasil. Somos fruto direto desse mover genuíno de Deus.

Porém, infelizmente, parte desse grupo se desiludiu com a falta de impacto do movimento
e acabou por negar tudo o que ensinou e viveu. Ao invés de manter sua ênfase de Restauração,
alguns líderes se inspiraram na Igreja Universal do Reino de Deus e estruturaram denomi-
nações-empresa. Numa roupagem apostólica, criaram algo que reflete o pior do clericalismo:
um conceito personalista, autoritário, sufocador de potenciais e divisivo até a essência. Usam
sua estrutura para viabilizar o sonho de uma pessoa só: o apóstolo! Para nossa tristeza, alguns
desses “pais da restauração” entraram numa espiral de busca de poder a qualquer custo.
Fazem de tudo e violam leis e princípios da ética para viabilizar seus projetos políticos e de
influência. Veja como a Eclesiologia que praticamos traz consequências! Na Videira e na
Vinha, procuramos manter e seguir o mesmo caminho de restauração original. Queremos
fazer a via inversa: ser instrumentos para nutrir, mentorear e viabilizar os sonhos de milhares
de crentes, obreiros e pastores locais. À medida que a Igreja viva cresce, naturalmente cres-
cerá também sua influência e seu poder de transformação social. Somos pela Restauração do
Senhor, pois isso afeta profundamente o tipo de Igreja que estamos construindo. Lembre-se
de que nenhum ensino e nenhuma ênfase são neutros, mas pedirão uma prática, produzirão
um perfil e trarão uma consequência.

c) A ideia católica do que é a Igreja através da “autoridade de São Pedro”


A visão católica romana sobre a Igreja se mistura com a instituição em si. Segundo ela, a
“organização” chamada Igreja Católica, com suas propriedades, tradição, herança e hierarquia,
é que é a Igreja. Nessa visão, só há uma Igreja que detém a propriedade da autoridade original
apostólica de São Pedro: ela mesma! Mesmo diante de evidencias históricas gritantes mostran-
do que, na Igreja dos primeiros séculos, o bispo de Roma não tinha proeminência alguma sobre
as demais igrejas, seus líderes continuam reafirmando essa reivindicação de monopólio – igno-
ram os Coptas como uma das mais antigas igrejas, desconhecem o direito da Igreja Ortodoxa
oriental de ser Igreja e de todos os grupos protestantes, reformados e evangélicos.

2. O conceito e suas implicações


Assim, a definição de Igreja é profundamente afetada por esse mover de restauração. Os chi-
neses usam o termo “Igreja” somente para eles mesmos. Pejorativamente se referem aos outros
como “os irmãos do cristianismo”. Os irmãos das “Comunidades” não usavam o termo “Igreja”,
pois consideravam que isso feria o Corpo de Cristo, uma vez que, em seu entendimento, só
8 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

há uma Igreja. Desse modo, se algum grupo se autodenominasse “Igreja”, estaria automati-
camente excluindo os demais irmãos. Assim, para não ferir ninguém, chamavam seus grupos
de “Comunidade”, isto é, uma parte da Igreja e não “A IGREJA”. Bonita motivação desses ir-
mãos, mas que não produz unidade prática. Por outro lado, para a hierarquia católica, estamos
fora da base de autoridade de Pedro, e por isso não somos Igreja.

Vemos claramente que o conceito de Igreja que temos traz consequências muito práticas
sobre o que somos, como nos organizamos e como nos relacionamos com a Igreja Cristã de to-
das as vertentes. Na Videira e na Vinha, somos pelo Corpo de Cristo, reconhecemos os irmãos
que em qualquer lugar amam o Senhor e o servem em singeleza de coração. Não somos uma
denominação, mas uma Família de Igrejas a serviço de “toda a Igreja”. Assim, para nós, o termo
Igreja pode ser aplicado e usado quando ao mesmo tempo amamos, servimos e reconhecemos
toda a Igreja, convencidos de que somos apenas uma parcela desse multiforme mover de Deus.

O desenvolvimento da Eclesiologia na história da Igreja


A eclesiologia vem se desenvolvendo ao longo de muitos séculos, definindo a liturgia da
Igreja, isto é, a maneira como fazemos o culto, a ordem e como o louvor, a oferta e a pregação
acontecem; as ênfases e preferências culturais, o jeito de cantar e a maneira mais aberta e espon-
tânea ou o modo mais conservador e rígido de se fazer culto a Deus; como a Igreja é governada,
quem a governa, como treina seus líderes, como é sua estrutura e como se expande. Esse pro-
cesso é lento e longo e, em algumas épocas, produziu crises, confrontos e muita contradição. A
seguir, analisaremos vários modelos eclesiológicos.

1. A Eclesiologia Católica
A igreja romana tem uma longa história que remonta ao tempo do Império Romano. Em
seus primeiros séculos, a Igreja não tinha uma sede nem um único governante. O que havia
eram centros e influência, onde vários bispos exerciam autoridade conjunta sobre toda a igre-
ja. Daí a origem de vários concílios que se reuniram para resolver controvérsias doutrinárias.
Lentamente, a Igreja de Roma foi crescendo em proeminência por ser a capital do império,
por ser a Igreja mais influente, rica e numerosa. A queda do poder imperial com as invasões
bárbaras mudou tudo, pois a Igreja tornou-se o único fator aglutinante que restou. Deste
modo, a Igreja assumiu o lugar do Império em muitos aspectos, e o bispo de Roma, o lugar do
imperador. Assim, a figura de um “papa” foi resultado de um processo histórico.

A igreja romana é organizada sobre uma hierarquia clara. Partindo da base, há uma Paróquia,
isto é, um grupo de fiéis localizados em dada região geográfica sob autoridade de um sacerdote,
o padre. Esse clérigo treinado e ordenado para tal é quem oficia a Missa (repetição incruenta
– sem sangue – da morte de Cristo) e está autorizado a praticar todos os sacramentos católi-
cos: batismo, crisma, eucaristia, unção dos enfermos, casamento, ordem, que é o exercício do
ministério e a penitência.

De modo geral, a missa dura uma hora. Na entrada do templo, as pessoas recebem um bole-
tim com todo o roteiro da celebração, onde está escrito o que devem repetir em coro. Às vezes,
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 9

algum “leigo” participa da celebração, lendo um ou mais versículos de uma Bíblia que está à
frente. Em seguida, acontece a homilia, isto é, o sermão onde o padre prega alguma mensagem
curta. Na época da Teologia da Libertação, inúmeros padres faziam o papel de despertar os
católicos para uma militância política de esquerda, contra o governo. Olhando um pouco para
trás, antes do Concílio Vaticano II que modernizou a Igreja Romana, as missas eram ministra-
das em latim e o padre ficava de costas para o povo.

Ao longo dos séculos, o clericalismo e o templismo na liturgia Católica foram levados ao


extremo. Uma fé exterior e visual atrai seus fiéis a uma arquitetura super rebuscada, com uma
decoração carregada onde imagens, pinturas, mosaicos, esculturas, tetos, colunas, entalhes satu-
ram os olhos. Em muitos casos, são obras maravilhosas aos olhos, mas, infelizmente, distrações
para algo que deveria ser espiritual, profundo e simples. Tradição, ritual e folclore predominam
hoje no culto católico.

Acima do padre local que pratica os ofícios na Paróquia, há o bispo de uma Diocese que
governa várias paróquias. Acima desse, há uma Arquidiocese, onde um cardeal governa sobre
um grupo de bispos. Tanto o cardeal quanto o bispos são apontados pelo papa no Vaticano.
Eles exercem suas funções até se aposentarem com setenta e cinco anos. Já o papa católico é
eleito para um mandato vitalício, isto é, até a morte, por um colégio de cardeais reunidos em
Roma. Cardeais, portanto, votam e são votados.

O papa exerce o governo da Igreja e, por causa do tamanho da Instituição, foi assinando
protocolos com os governos dos países. Dessa forma, a Igreja romana é vista como um país e
o papa como um chefe de Estado que tem embaixadas e embaixadores – o anúncio apostólico
– em diversos países. O peso da tradição, do patrimônio e do pesado ritual católico a impede
de ser reformada ou sofrer mudanças. Sua pesadíssima organização sufoca qualquer lampejo de
vida ou de mudança. Mesmo assim, há entre os católicos alguns moveres de Deus que tentam
trazer vida à sua tradição morta, como o surpreendente movimento da “Canção Nova” que
acontece no Brasil, sediado no interior do Estado de São Paulo. É um movimento que adotou
a influência carismática evangélica, mas, infelizmente, são grupos segregados e isolados que
acabam por expor, com desconforto, o ritualismo frio e superficial do restante do clero católico.
Basta ver como uma missa na basílica de Aparecida é brutalmente diferente de uma celebração
em Cachoeira Paulista, onde está a sede da Canção Nova. Quando da visita do papa Benedito
XVI ao Brasil, nem ao menos recebidos pelo pontífice esses irmãos conseguiram ser.

A estrutura católica segrega, cerca e sufoca qualquer tentativa de mudar o que quer que seja.
Na Eclesiologia católica, tudo já está pronto, feito e perfeito. Não há espaço para mudança de
natureza alguma, o que é totalmente oposto ao movimento da restauração. Queremos mudar
e continuar mudando até sermos canais plenos da Glória de Deus e causadores do mesmo
impacto da Igreja apostólica primitiva.

2. A Eclesiologia Presbiteriana
Na reforma protestante, onde surgiram as Igrejas Luterana, Anglicana e outras, destacamos
o modelo presbiteriano. Para João Calvino, fundador da Igreja Presbiteriana, a Igreja deveria ser
governada por um grupo de homens, os presbíteros, líderes escolhidos entre os mais maduros
10 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

e influentes irmãos para formarem uma “mesa administrativa” que efetivamente é responsável
pelos destinos e pela rotina da Igreja. O pastor é um mero funcionário da Igreja, responsável
por realizar atividades do dia a dia, limitando-se a exercer o papel dos ofícios espirituais da
Igreja. Por um lado, tal estrutura é boa por filtrar pastores desequilibrados, mas por outro, im-
pede que qualquer potencial de liderança desponte nesse tipo de organização tão rígida. Outro
problema é que, via de regra, os presbíteros não são pessoas vocacionadas para o ministério e
nem mesmo possuem tal encargo. São homens de negócios, com dons naturais, que exercem
proeminência sobre os pastores que são obrigados a se sujeitarem a tais presbitérios.

Os presbíteros de cada Igreja escolhem os representantes que formam o Presbitério Regional


que, por sua vez, nomeia o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana. Assim, a denominação
é rígida, fechada para qualquer avanço ou alteração, do mesmo modo que a super estrutura
católica. Como uma Igreja Protestante clássica, seu corpo doutrinário e liturgia são rígidos e de
pouca participação por parte dos “leigos”.

3. A Eclesiologia Metodista
Duzentos anos após a Reforma, no século XVIII, surge dentro da Igreja Anglicana o movi-
mento Metodista como um renovo espiritual maravilhoso. A Eclesiologia metodista é também
chamada de “episcopal”, isto é, governada por bispos. Assim, na Igreja Metodista fundada por
John Wesley, filho de um pastor protestante anglicano, cada Igreja tem um pastor local, respon-
sável pelos cultos e ofícios do dia a dia da Igreja. Esse pastor e sua congregação estão sujeitos a
um bispo eleito para um mandato limitado a alguns anos. O bispo tem autoridade para intervir
na localidade, tirar ou transferir o pastor sem que a congregação possa fazer algo a respeito. Do
mesmo modo que na estrutura Presbiteriana, esse modelo eclesiológico protestante tem o lado
positivo de proteger a congregação dos maus pastores, mas, infelizmente, também traz consigo
a mesma consequência negativa: nenhuma liderança terá espaço para florescer nesse ambiente.
Conheço pessoalmente muitos pastores metodistas que anelam por um poderoso mover de
Deus, por treinar líderes e ter igrejas fortes, mas nunca podem alterar nada na pesada tradição
organizacional metodista.

4. A Eclesiologia Congregacional
O modelo congregacional é o modelo eclesiológico Batista e da Igreja Cristã Evangélica,
muito influenciado pelo ambiente democrático norte-americano. Nesse sistema, cada congre-
gação governa seus próprios destinos. Assim, a democracia, onde pretensamente “a voz do povo
é a voz e Deus”, determina os destinos de cada Igreja local. Em assembléias de membros, tudo é
decidido: o que se compra, o que se vende; se constroem um novo templo ou reformam o anti-
go; se demitem o pastor e arranjam outro ou se renovam o mandato do que ainda está à frente
da Igreja. Na assembléia ordinária também se escolhe os diáconos que administrarão a Igreja.

Na igreja congregacional, o pastor é mero responsável pelo dia a dia dos ofícios da Igreja,
mas são os diáconos que realmente lideram a Igreja. Do mesmo modo que nas demais Igrejas
protestantes, o pastor não tem a liberdade de tomar qualquer iniciativa, mas tem o encargo
de manter e reproduzir toda a tradição Batista. Assim, protege-se a Igreja de maus pastores,
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 11

hereges e líderes desequilibrados, mas, por outro lado, dificilmente um líder bem intencionado
terá a liberdade de ação para conduzir a Igreja em qualquer direção diferente do que tem sido
feito há quinhentos anos.

Os Batistas são associados em convenções que intermediam questões que vão além de cada
localidade. Dentre todos os grupos que citamos, é entre os Batistas que pode haver um pouco
mais de liberdade de ação por parte do pastor local caso ele saiba mobilizar, negociar e envolver
o corpo diaconal num projeto relevante para a Igreja. Porém, infelizmente, não é o que aconte-
ce normalmente. Na realidade, há uma imensa contradição entre o desejo sincero do pastor de
fazer algo e o poder real do conselho diaconal. Outro detalhe em todos esses modelos é que o
pastor é mero funcionário e não pode nem tem autoridade para implementar algo que vá além
de poucos anos. Assim, em vinte anos, a direção dada em cada igreja é algo errático onde, por
uns anos, se faz determinadas coisas e se segue uma direção; após a demissão do pastor e eleição
de um novo profissional, a Igreja toma outro rumo onde nada iniciado anteriormente pode
ter prosseguimento. É uma tragédia de desperdício de tempo, recursos e do potencial de cada
crente que acaba não indo para lado algum.
12 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja
Capítulo

1
Tipos de Governo da Igreja

Todos nós sabemos que precisamos de uma equipe se queremos ser bem-sucedidos. Até
mesmo a unidade mais básica da sociedade demanda um marido que ame sua esposa e uma
esposa que seja auxiliadora idônea do seu marido.

Espero viver mais vinte ou trinta anos antes de partir deste planeta. Quando esse tempo che-
gar, eu gostaria de pensar que minha vida não foi vivida em vão. Espero deixar algo edificado
para a próxima geração. Não gostaria de deixar apenas um monumento para lembrar os outros
do tempo em que fui pastor. Meu desejo é edificar o corpo de Cristo, que efetua o seu próprio
crescimento por meio de cada membro. Gostaria que a próxima geração testemunhasse no
futuro que esses foram bons dias, mas que possam dizer que os seus dias serão ainda melhores.

O governo da igreja é um assunto de suma importância. Toda a edificação da igreja depende


do seu tipo de governo. Portanto, precisamos ter clareza dos princípios que a Palavra de Deus
estabelece sobre esse assunto. Quando lidamos com o assunto do ministério na igreja local,
precisamos ter uma abordagem de absoluta sinceridade.

Não podemos ser superficiais, mas precisamos investigar a Palavra de Deus a fim de conhe-
cer o seu padrão para nós. Também precisamos ter temor, porque o avanço da obra de Deus
depende de igrejas locais que possuam um governo bíblico. Devemos deixar de lado nossa
perspectiva pessoal e nossas preferências humanas e nos submeter ao plano do Senhor.
14 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Basicamente, há cinco formas de governo da igreja. Deve haver pequenas variações desses
cinco tipos. Todavia, para o nosso entendimento, vamos nos deter numa breve explicação de
cada um deles.

1. O governo de um único homem ou episcopal

Esse tipo de governo é também conhecido como governo episcopal. Essa é a forma de gover-
no que encontramos na maioria das igrejas independentes. Nessa forma de governo, o pastor
é o supremo governante que toma todas as decisões. Ele estabelece os alvos sozinho e encoraja
as pessoas a aceitarem sua autoridade indispensável. Ele é a fonte de entusiasmo, energia, novas
ideias e programas da igreja.
Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados
governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem auto-
ridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será
esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos (Mc 10.42-44).

Certamente, essa é a forma de governo mais fraca e mais perigosa. Existem legiões de tenta-
ções acompanhando esse tipo de governo. Essa posição de proeminência, com poder autocrá-
tico para definir todas as práticas da igreja e uma liberdade sem restrição alguma, pode causar
prejuízos imensos à igreja. A mentalidade de chefe pode trazer consequências desastrosas. E
quando o pastor naufraga, toda a congregação se vê jogada no mar da decepção, cheia de ago-
nia e tristeza. Muitos não sobrevivem às águas de amargura em que são jogados.

Nestes dias, deveríamos mudar a expressão “igrejas independentes” para “igrejas particu-
lares”. A verdade é que muitas igrejas se tornaram propriedade particular de seus pastores.
Creio que muitas igrejas têm experimentado um mover de Deus em nosso país, mas, in-
felizmente, por causa de métodos humanos, práticas mundanas, extremos, desequilíbrios
e uso inadequado do dinheiro, essas igrejas caíram na reprovação do Senhor. E tudo isso
aconteceu, em grande medida, por causa do governo de um homem só.

Normalmente, esses pastores são intocáveis, agem sozinhos, mas nunca sofrem sozinhos.
Muita confusão e pessoas feridas são deixadas no caminho. O pior é que todas as igrejas locais
sofrem por causa do erro de uma que se tornou proeminente.

Nesse tipo de governo, todas as coisas estão muito bem quando não há problemas, ou seja,
qualquer sistema pode ser bom em tempos de paz simplesmente porque o governo não é tão
fundamental em tempos de paz. Todavia, quando a tempestade vem – e acredite, ela vem –,
então descobrimos se a casa foi edificada sobre a rocha. Esta é a razão por que precisamos defi-
nir a visão bíblica do governo da igreja.

Pontos positivos
 É o modelo de governo que dá mais agilidade à igreja. Tudo só depende da aprovação
de uma pessoa. Assim, não existe burocracia.O pastor decide fazer, quem vai fazer
e o que vai ser feito. Tudo é resolvido de forma rápida e ágil.
 Os casos de disciplina também são rapidamente resolvidos, trazendo a devida
ordem à comunidade.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 15

Pontos negativos

 É desnecessário dizer que a concentração de poder na mão de uma única pessoa é algo
muito perigoso.
 Os erros do pastor podem desviar para sempre sua igreja, uma vez que não há uma
autoridade superior para trazer o equilíbrio.
 Em caso de desvio de conduta pessoal do pastor, não haverá ninguém para exortá-lo.
 Nos casos de haver injustiças na aplicação da disciplina, o membro da igreja ficará sem
ter a quem recorrer, prejudicado.
 Esse modelo também dá margem para perseguições de oponentes, ainda que esses
estejam com a razão, bem como o beneficiamento e falta de disciplina para aliados.
Todos esses problemas são decorrentes do poder absoluto de um pastor ou líder.

2. O governo congregacional ou democrático

Essa segunda forma de governo é também conhecida como governo democrático da igreja.
Em igrejas assim, todas as coisas são decididas pelo voto da congregação. As pessoas votam para
decidir a cor da pintura do prédio e até para contratar ou demitir pastores.

O pastor não tem um poder maior do que um membro comum da igreja. Ele é simplesmente
contratado pela igreja para ensinar, pregar e administrar os rituais religiosos e sacramentos. Esse
tipo de governo faz o ministro completamente dependente da vontade e ação dos membros.

O perigo dessa forma de governo é que o pastor tem a tendência de pregar para agradar a
maioria. Ele faz uma enquete antes de pregar, em vez de buscar ouvir a voz de Deus e falar a
Sua palavra. Evidentemente, isso não acontece com toda congregação que possui esse tipo de
governo, mas é preciso dizer que essa é uma possibilidade assustadora.

A história secular mostra as limitações desse tipo de democracia direta e absoluta. Não é por
acaso que quase todas as nações adotaram um tipo de governo republicano, onde a democracia
é representativa, e não direta. A história de Israel mostra como a voz do povo e a voz dos pro-
fetas levantados por Deus estiveram quase sempre em desacordo. Isso culminou na decisão do
povo de ter uma monarquia em vez de uma teocracia.

Disse o SENHOR a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te
rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele. Segundo todas as obras que fez desde
o dia em que o tirei do Egito até hoje, pois a mim me deixou, e a outros deuses serviu, assim
também o faz a ti. Agora, pois, atende à sua voz, porém adverte-o solenemente e explica-lhe
qual será o direito do rei que houver de reinar sobre ele (1 Sm 8.7-9).

No decorrer dos anos, temos visto pastores feridos que investiram anos de suas vidas
em igrejas assim para serem despedidos no fim, numa assembleia de gente desamorosa.
Quantos pastores vivem mudando de uma cidade para outra simplesmente porque congre-
gações se cansaram deles. O resultado é que os filhos desses pastores se tornam amargos e
distantes do evangelho. Também é terrível a tristeza de muitos pastores que foram votados
para fora do ministério.
16 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

No entanto, há um aspecto positivo nesse tipo de governo: sua dedicação à autonomia da


igreja local se opondo ao controle externo e centralizado.

Pontos positivos
 Ninguém pode reclamar por não ter sido consultado ou ouvido.
 Todos os membros têm direito a voto e a opinar sobre os mais diversos assuntos da
igreja. Isso acaba diminuindo o grau de insatisfação da comunidade.

Pontos negativos
 Em qualquer igreja, há pessoas maduras e pessoas imaturas, mas, nesse tipo de
governo, todas podem votar. A palavra de um novo convertido tem o mesmo valor
da palavra de um ancião. Esta é uma das maiores dificuldades desse regime de
governo da igreja.
 A situação é muito constrangedora no caso de disciplina de um membro. Nesse caso,
não é raro a assembleia cair no confronto direto entre pessoas e grupos.
 A morosidade na tomada de decisão complica muito o processo de liderança.
 Como qualquer membro pode ser eleito, a liderança pode tornar-se frágil e inexperiente.

3. O governo representativo ou presbiteriano

Esse tipo de governo tem sido também chamado de governo presbiteriano. No entanto,
o governo presbiteriano não é realmente um governo de presbíteros, mas o governo de uma
diretoria que se qualifica como tal. Em geral, tais conselhos são constituídos de um grupo
de membros proeminentes de homens de negócio que, entre outras coisas, é responsável por
contratar e demitir o pastor.

Normalmente, essa diretoria é eleita pelos membros da igreja. Uma vez que uma de suas
funções é manter o pastor em linha, eles seguem uma série de normas e práticas que visam
proteger a igreja de uma liderança pastoral muito forte. A diretoria é responsável por tomar a
maior parte das decisões da igreja, gerir as finanças e viabilizar os projetos da congregação. O
trabalho do pastor se limita a pregar aos domingos e dirigir os sacramentos e rituais religiosos.

Algumas vezes, os membros dessa diretoria são chamados de presbíteros, mas a verdade é
que são apenas homens de negócio, e não presbíteros espirituais ou ministros ordenados.

Pontos positivos
 Esse tipo de governo está livre tanto dos perigos do poder concentrado nas mãos
de apenas uma pessoa quanto da participação de pessoas imaturas numa decisão
democrática.
 Ele pressupõe que os homens mais preparados da igreja são eleitos pelos membros em
assembleia para governá-la.
 A igreja é autônoma e livre para escolher seus representantes, baseada nas condições
pré-estabelecidas na Bíblia para a ordenação de um presbítero (o problema é que só os
mais proeminentes são eleitos).
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 17

 Em casos de disciplina de um membro, o conselho da igreja tem condições de tratar


o faltoso e aplicar-lhe a pena necessária para trazê-lo de volta aos caminhos da Palavra
de Deus.
 Em caso de problemas com o conselho da igreja local, um membro sempre pode re-
correr a outro conselho superior.
 Isso diminui bastante a possibilidade de injustiças e erros na condução da igreja local.

Pontos negativos
 Como a congregação não participa das decisões, isso acaba dando margem para críti-
cas ao conselho.
 Nesse tipo de governo, os processos se desenrolam de forma muito lenta. Existe uma
grande burocracia e o pastor fica limitado pela diretoria.
 Normalmente, esses conselhos debatem os assuntos por muito tempo até chegarem a
um acordo. Existe muita política entre grupos que compõem a diretoria.
 O pastor não pode tomar as decisões sozinho, e algumas vezes é difícil conseguir reunir
os membros da diretoria.
 Essa demora nas decisões poder dar uma impressão de desgoverno e abandono da
igreja, uma vez que somente os membros da diretoria podem decidir os rumos a serem
tomados e quase nunca o fazem com a agilidade necessária.
 Os membros da diretoria comumente não são homens conhecedores da Palavra e nem
cheios do Espírito o que gera uma grande perda para a obra de Deus.

4. O governo central

Nessa forma de governo, a igreja é controlada externamente por uma diretoria regional ou
nacional, ou por alguma organização externa. Esse controle externo pode ser feito pelo Estado
– como em alguns países europeus –, por uma diretoria denominacional, por um bispo ou por
um supremo pontífice.

Nesse tipo de governo, não podemos dizer que existe uma igreja local autônoma como esta-
mos acostumados a ver nos outros tipos de governo. O pastor local é apenas um administrador
dos programas, que são decididos e administrados por uma diretoria externa.

Quando há um problema na igreja local, a diretoria regional ou nacional tem autoridade


sobre a igreja local. Normalmente, essa autoridade acontece porque é dona do prédio da igreja.
Podem também remover o pastor e destituir a diretoria da igreja de acordo com suas diretrizes.

Creio que podemos dizer que as denominações neopentecostais brasileiras possuem um


sistema de governo central (Universal do Reino de Deus, Igreja do Poder de Deus e Igreja da
Graça). O pastor local não possui autonomia para fazer coisa alguma e se trata mais de um fun-
cionário do escritório central. A igreja local não possui vida própria porque os membros apenas
participam de cultos e campanhas e não produzem nenhuma atividade de forma independente.

Nesse tipo de governo, não existe o conceito de igreja local autônoma, portanto não vamos
nos deter estudando suas características.
18 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

5. O governo de uma equipe ministerial

Esse tipo de governo também pode ser chamado de governo dos anciãos ou presbíteros. A
maneira bíblica de governar a igreja sempre envolve mais de um presbítero. O governo nunca
deveria ser de um homem ou de uma equipe, mas liderado por alguém reconhecido pelos
demais e indicado pelo conselho apostólico.

Nesse tipo de governo, há muitos ministros trabalhando no apascentamento da congrega-


ção. Juntos, como uma equipe, eles ministram à igreja local para a qual foram chamados. Essa
forma de governo poderia ser chamada também de equipe ministerial. A maneira mais bíblica
é o governo representativo, desde que os representantes não sejam escolhidos pelo povo.

Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu
próprio trabalho. Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois
vós. Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente constru-
tor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar
outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo (1 Co 3.8-11).

Há certa semelhança com o governo representativo, com a diferença de que não há eleição
de presbíteros pela congregação. O pastor é colocado pelo conselho apostólico e os presbíteros
são discipulados e treinados pelo pastor. Uma vez constituídos os presbíteros, juntamente com
o pastor, eles formam o presbitério da igreja.

Apesar de não haver uma eleição em assembleia, isso não significa que a congregação não
seja ouvida. Quando um presbítero é indicado pelo pastor, qualquer membro pode apresentar
particularmente sua opinião sobre o candidato. Quando as opiniões negativas são muitas, o
pastor deve rejeitar o candidato. A democracia não é bíblica, mas devemos estar atentos à con-
gregação. A sua concordância é vital para o avanço da obra.

Acima do presbitério local, existe um conselho apostólico que serve de recurso para qualquer
conflito que acontecer na igreja local. Ele funciona também como uma espécie de recurso supe-
rior no caso de algum membro insatisfeito com alguma decisão ou risco de ensino errado. No
Novo Testamento, a igreja local é autônoma, mas os apóstolos tinham autoridade para ordenar
presbíteros e corrigir problemas doutrinários.

Cremos que essa é a forma de governo mais bíblica. Não é uma forma de governo perfeita,
mas é a que dá mais segurança e permite um crescimento saudável da igreja.

Ponto positivos

 O presbítero não é eleito, mas é discipulado pelo pastor.


 Como não há eleição, não há o risco de pessoas imaturas serem colocadas no presbitério.
 Somente são aceitos como presbíteros homens que possuem um chamado e encargo
ministerial.
 Todas as decisões são tomadas a partir de um consenso de todos os presbíteros.
Portanto, não existe o risco representando pelo governo de um só homem.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 19

 Existe uma autoridade superior fora da igreja local que pode corrigir eventuais
desequilíbrios.
 Existe uma pluralidade na liderança de todas as áreas da igreja local.
 Não há presbítero nominal que apenas toma decisões, mas todos possuem encargo
pelo apascentamento.

Ponto negativos

 O maior risco desse tipo de governo é o presbitério se tornar subserviente ao pastor e


não participar ativamente das decisões. Como são discípulos, podem se sentir cons-
trangidos em discordar de alguma posição do pastor.
 O pastor pode eventualmente pensar que sua autoridade é maior que a do presbitério.
20 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja
Capítulo

2
Princípios de governo no Velho
Testamento
A unidade da família

No princípio, Deus estabeleceu a família como unidade básica, quando criou Adão e Eva.
Hoje, é possível um solteiro constituir uma família, mas, no plano de Deus, isso somente
acontece com a união de um homem e uma mulher.

A ideia de Deus é que os filhos fossem criados por uma equipe, o pai e a mãe. Parece razoável
dizer que, se Deus ordenou uma equipe para uma unidade tão pequena como a família, na qual
as decisões envolvem um número pequeno de pessoas, então Ele certamente estabeleceu que
também uma equipe governasse a Sua casa. Apesar de ser uma equipe, a mulher reconhece a
liderança do marido, tornando-se uma colíder na família. Os presbíteros também funcionam
da mesma forma com o pastor sênior.

O exemplo de Moisés

Podemos encontrar na vida de Moisés três exemplos do princípio da equipe ministerial. O


primeiro é quando o Senhor o envia a Faraó junto com Arão.
Ele falará por ti ao povo; ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus (Êx 4.16).

Moisés reconheceu sua limitada capacidade natural, por isso o Senhor mandou que Arão
fosse com ele. Arão supriria Moisés naquilo que ele era mais fraco ou que lhe faltava. Paulo e
Barnabé são um exemplo desse mesmo princípio no Novo Testamento (At 13.1-5).
22 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

O segundo exemplo na vida de Moisés acontece quando ele segue o conselho de Jetro, que
aponta outros para ajudá-lo a carregar o peso da obra.

Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que
fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a
manhã até ao pôr-do-sol? Respondeu Moisés a seu sogro: É porque o povo me vem
a mim para consultar a Deus; quando tem alguma questão, vem a mim, para que eu
julgue entre um e outro e lhes declare os estatutos de Deus e as suas leis. O sogro
de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes. Sem dúvida, desfalecerás, tanto
tu como este povo que está contigo; pois isto é pesado demais para ti; tu só não o
podes fazer. Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei, e Deus seja contigo;
representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus, ensina-lhes os estatutos
e as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem fazer.
Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que
aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de
cinqüenta e chefes de dez (Êx 18.14-21).

O terceiro exemplo está registrado no livro de Números. Moisés se sentiu tão sobrecarregado
com a obra que ele pediu para que o Senhor o levasse. A resposta do Senhor foi levantar setenta
anciãos para ajudar a levar a obra.

Eu sozinho não posso levar todo este povo, pois me é pesado demais. Se assim
me tratas, mata-me de uma vez, eu te peço, se tenho achado favor aos teus olhos; e
não me deixes ver a minha miséria. Disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta
homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos e superintendentes do povo;
e os trarás perante a tenda da congregação, para que assistam ali contigo. Então,
descerei e ali falarei contigo; tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles;
e contigo levarão a carga do povo, para que não a leves tu somente (Nm 11.14-17).

A situação de esgotamento de Moisés tem sido a história de muitos pastores. Precisamos


entender e praticar o princípio da equipe ministerial. Se Moisés, que falava com Deus face a
face, precisou de outros para ajudar, precisamos admitir que também necessitamos.

É tolice tentar levar a igreja sozinho. A promessa de Deus é de tirar do espírito que está
sobre nós e colocar sobre nossa equipe. A maneira como o Senhor faz isso é pelo discipulado.
Quando investimos em nossos discípulos, eles herdam da unção que nós mesmos possuímos.

Foram, certa vez, as árvores ungir para si um rei e disseram à oliveira: Reina sobre
nós. Porém, a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens
em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à figueira:
Vem tu e reina sobre nós. Porém, a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçu-
ra, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à videira:
Vem tu e reina sobre nós. Porém, a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu vinho,
que agrada a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores? Então, todas as árvores
disseram ao espinheiro: Vem tu e reina sobre nós. Respondeu o espinheiro às árvores:
Se, deveras, me ungis rei sobre vós, vinde e refugiai-vos debaixo de minha sombra; mas,
se não, saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano (Jz 9.8-15).

Vou tomar a liberdade de tirar essa parábola fora do seu contexto e usá-la para ilustrar um
ponto importante. A liderança é algo vital para a edificação do corpo de Cristo. Muitos não
gostam da ideia de ter alguém acima de si, mas a Bíblia diz que temos de obedecer aos nossos
líderes, pois eles velam sobre nossa alma (Hb 13.17). As árvores dessa parábola estavam procu-
rando alguém que as liderasse. Elas desejavam ungir um rei sobre elas.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 23

A oliveira
Primeiramente, eles procuraram a oliveira, mas ela se recusou a aceitar. A oliveira fala de
unção, e poderíamos dizer que ela representa o ministério do grande pregador.

A figueira
A figueira também recusou o convite. Alguns ministérios estão tão envolvidos com a tran-
quilidade e a doçura de seus estudos que se recusam se envolver na turbulência de liderar
outros. Creio que a figueira aponta para o ministério do mestre.

A videira
A videira também recusou o convite por causa do seu vinho, que traz alegria. Este é aquele
tipo de ministério focado na alegria do Senhor. Talvez sejam grandes ministros de louvor.

O espinheiro
O espinheiro rapidamente aceitou liderar as árvores. Nos dias do Velho Testamento, o es-
pinheiro era usado para construir cercas para proteção contra animais selvagens. Essas cercas
eram particularmente usadas ao redor de apriscos para proteger as ovelhas. Muitos pastores
possuem o ministério de proteger o rebanho.

O ponto central que quero enfatizar nessa parábola é que diferentes indivíduos possuem
diferentes ministérios necessários na igreja local. Ter a igreja governada por apenas um homem
pode resultar em desequilíbrios.

A multidão de conselheiros
Três vezes se menciona a multidão de conselheiros no livro de Provérbios.
Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segu-
rança (Pv 11.14).

Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há


bom êxito (Pv 15.22).

Com medidas de prudência farás a guerra; na multidão de conselheiros está a vitó-


ria (Pv 24.6).

Salomão, o homem mais sábio, considerou isso de extrema importância, por isso repetiu o
princípio três vezes. Só há segurança no trabalho de uma equipe, porque somente numa equipe
temos uma multidão de conselheiros.

O cordão de três dobras


Salomão também mostrou a enorme vantagem de um cordão de três dobras.

Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque
se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não
haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um
só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o
cordão de três dobras não se rebenta com facilidade (Ec 4.9-12).
24 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

A mensagem do Velho Testamento é bem clara: o melhor caminho é a equipe ministerial.


Algumas pessoas olham superficialmente para a monarquia do Velho Testamento e presumem
que ali existia o governo de um homem só, mas isso é um equívoco. Mesmo nos dias da mo-
narquia, nunca deixou de haver um conselho de anciãos em Israel.
Tomou o rei Roboão conselho com os homens idosos que estiveram na presença de
Salomão, seu pai, quando este ainda vivia, dizendo: Como aconselhais que se responda
a este povo? Eles lhe disseram: Se, hoje, te tornares servo deste povo, e o servires, e,
atendendo, falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre (1 Rs 12.6-7).

Além disso, um rei nunca poderia ser um sacerdote, pois o sumo sacerdote era um con-
trapeso para o excesso de autoridade do rei. Quando o sacerdócio tornou-se corrompido, o
Senhor levantou o ministério dos profetas. Estes eram apenas uma continuação do ministério
sacerdotal e serviram sempre de limite para o rei.
Cremos que há a necessidade de haver um pastor sênior numa igreja local, mas sua au-
toridade precisa ser equilibrada com presbíteros maduros que possam trazer a Palavra de
Deus no tempo oportuno. Não podemos admitir em nosso meio um pastor que rejeita a
autoridade do presbitério da igreja local. O presbitério ou equipe ministerial são uma grande
proteção para o corpo local.
Evidentemente, não queremos basear esse princípio numa alegoria do Velho Testamento,
por isso vamos ver o padrão claro do Novo Testamento.
Capítulo

Princípios de governo no Novo


Testamento
A Palavra de Deus nos mostra claramente que o padrão de Deus é a equipe ministerial.
Não o governo de um só homem e nem o governo da maioria, mas a liderança comparti-
lhada de uma equipe.

Três grupos de pessoas

Na saudação de sua carta aos filipenses, Paulo escreve para três grupos de pessoas: os santos,
os bispos e os diáconos.

Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive
bispos e diáconos que vivem em Filipos (Fp 1.1).

Observe que todos eles são mencionados no plural.

Os santos

Os santos são todos os crentes da igreja de Filipos. Não são apenas um grupo selecionado,
mas todos os irmãos que compõem a casa de Deus.
26 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Os diáconos
São aqueles encarregados de suprir as necessidades naturais dos santos e trazer ordem para
a casa de Deus. Como não é nossa intenção tratar do trabalho dos diáconos hoje, não vamos
nos deter no seu ministério.

Os presbíteros ou bispos
Um dos problemas que temos hoje é a quantidade de títulos entre os cristãos usados para
descrever o ministério: cardeais, arcebispos, bispos, presbíteros, pastores, superintendentes,
supervisores, anciãos, papas, vigários, sacerdotes e reverendos. Como resultado, existem uma
variedade de posições e um número de hierarquias que foram desenvolvidas.

Na Bíblia, Deus usa muitas palavras diferentes para descrever a mesma coisa. Por exemplo,
Ele usa cerca de setenta palavras para descrever a igreja. A mesma coisa acontece com os mi-
nistros da igreja. Há diferentes palavras no grego, mas todas elas descrevem a mesma coisa.
Precisamos ser cuidadosos porque alguns tomam a palavra “bispo” e constroem uma hierarquia
de bispos na igreja. Outros tomam a palavra grega traduzida como “anciãos” ou “presbíteros”
e constroem uma hierarquia com base nessas palavras. E há ainda os que escolhem a palavra
“pastor” e estabelecem igrejas tendo pastores como líderes.

Vários nomes para descrever o ministério


No Novo Testamento, muitas palavras são usadas para descrever o ministério na igreja local.
Algumas dessas palavras eram também nomes comuns para ministros nas sinagogas e até para
funções do governo.

Ancião ou presbítero

A palavra “ancião” era uma palavra com a qual os primeiros cristãos estavam familiarizados
por causa da sua origem judaica. Anciãos eram usados desde os dias de Moisés (Nm 11.16).
Anciãos acompanharam Josué na conquista da terra (Js 7.6). O Sinédrio era constituído de
anciãos (Mt 26.3). E cada sinagoga era liderada por anciãos.

Quando os apóstolos escreviam para as igrejas locais, era-lhes natural escreverem para os
anciãos. Estes eram homens que tinham uma posição reconhecida e que eram encarregados de
supervisionar a cuidar dos demais irmãos da igreja. Os apóstolos não apenas escreveram para
os anciãos, mas eles mesmos se identificavam como tais.

Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos
sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada (1 Pe 5.1).

Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre
ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor (Tg 5.14).

O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade, e não somente
eu, mas também todos os que conhecem a verdade (2 Jo 1).

O presbítero ao amado Gaio, a quem eu amo na verdade (3 Jo 1).


Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 27

Nos escritos de Pedro e João, o ofício dos anciãos é tomado como algo já comum, que
já havia se tornado uma instituição aceita de maneira geral nas igrejas.
A palavra “presbítero” traduzida como “ancião” simplesmente significa “alguém mais
velho, maduro, idoso”. No primeiro século, era algo natural para a igreja manter os
mesmos títulos que lhes eram familiares no Velho Testamento e nas sinagogas.
Bispo
A palavra episkopoi é traduzida como “bispo” em nossas Bíblias (At 20.28; Fp 1.1; 1 Tm 3.2;
Tt 1.7; 1 Pe 2.25). Este era um título oficial entre os gregos que designava o governador de uma
nova colônia. Tinha a conotação de governo e supervisão.

Paulo usa esse termo quando escreve para as igrejas entre os gentios. Filipos ficava na Macedônia,
Timóteo estava em Éfeso e Tito ministrava em Creta. Ele parece ter adaptado sua comunicação para
a terminologia comum entre os gentios. Por isso, podemos dizer que era um sinônimo para ancião.
Pedro nos mostra que “ancião” e “bispo” eram palavras sinônimas que se aplicavam às
mesmas pessoas.
Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos
sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o
rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como
Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade (1 Pe 5.1-2).

Observe que Pedro era um apóstolo, mas aqui ele diz que também era um presbítero ou
ancião. A palavra “ancião” descreve o homem, mas “apóstolo” descreve seu trabalho no mi-
nistério. Pedro também se coloca na mesma posição dos demais presbíteros. Ele parece estar
escrevendo para iguais, e não como alguém superior.

Paulo deixa isso mais claro quando escreve para Tito para que ele constituísse presbíteros em
Creta. Ele mostra claramente que “presbítero” e “bispo” são a mesma coisa.
Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem
como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: alguém que seja irrepre-
ensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução,
nem são insubordinados. Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despen-
seiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de
torpe ganância; antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de
si, apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar
pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem (Tt 1.5-9).

Certamente, as palavras “bispo” e “presbítero” se referem ao mesmo ministério. Eles funcio-


navam como pastores do rebanho. Essa mesma ideia está em Atos 20. Paulo manda chamar os
presbíteros de Éfeso e, quando os exorta, diz que eles eram bispos. Isso mostra que “ancião”,
“presbítero” e “bispo” são todos a mesma pessoa. Ancião e presbítero descrevem a pessoa, e
bispo descreve sua função no ministério.
De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja (At 20.17).

Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos,
para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue (At 20.28).
28 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Pastor

A palavra “pastor” é a tradução da palavra grega poimen. Essa palavra é usada dezoito vezes
no Novo Testamento. Em quinze ocorrências, ela é traduzida como “pastor de rebanho”, es-
pecialmente nos evangelhos. Em duas vezes, refere-se ao Senhor Jesus (Hb 13.20; 1 Pe 2.25).
Somente uma vez é traduzida como pastor no sentido que usamos na igreja (Ef 4.11).

O verbo poimaino é traduzido como “pastorear” e aparece dez vezes em nossas Bíblias.
Dessas, três vezes tem o sentido de “pastorear o rebanho de Deus” (Jo 21.16; At 20.28; 1 Pe
2.5). A palavra que usamos para nos referir ao ministro como “pastor” era completamente des-
conhecida pela igreja primitiva. A palavra “pastor” nunca é usada para se referir a um ministro
no Novo Testamento, exceto quando se refere ao Senhor Jesus. No entanto, está claro que a
função de pastorear está sobre os ombros dos anciãos, presbíteros ou bispos. A palavra “pastor”
aponta para a função desses anciãos.

Quem eram os presbíteros

Apesar de a palavra “ancião” ter o sentido de idoso, eles não eram necessariamente idosos,
eram apenas mais experientes. Também é preciso enfatizar que os presbíteros eram homens
espirituais e ministros ordenados. Eles eram homens separados para a liderança espiritual no
corpo de Cristo. Eles não eram homens de negócio ou gente bem-sucedida que controlavam
a igreja, mas eram homens chamados por Deus. Talvez tivessem que trabalhar para se manter,
como Paulo fez, mas eles certamente tinham um encargo ministerial.

A pluralidade dos presbíteros

Um fato claro nas Escrituras é que havia mais de um presbítero em cada igreja local. Havia
uma pluralidade na liderança da igreja. Eles se constituíam numa equipe ministerial, na qual
cada um subordinava seu interesse pessoal e sua opinião à unidade e eficiência do grupo. Como
companheiros, cada um desempenhava sua função no cuidado do rebanho. Paulo diz clara-
mente que alguns anciãos se afadigavam no ensino e outros presidiam (1 Tm 5.17).

O presbitério de uma igreja local era um grupo de anciãos espirituais que supervisionavam a
casa de Deus. Apesar de não definir um número, o Novo Testamento sempre coloca a palavra
“presbítero” no plural.
Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que
moravam na Judéia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermé-
dio de Barnabé e de Saulo (At 11.29-30).

E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os


encomendaram ao Senhor em quem haviam crido (At 14.23).

Tendo eles chegado a Jerusalém, foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos
presbíteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles (At 15.4).

Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens
dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado
Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos (At 15.22).
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 29

Ao passar pelas cidades, entregavam aos irmãos, para que as observassem, as decisões toma-
das pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém (At 16.4).

De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja (At 20.17).

No dia seguinte, Paulo foi conosco encontrar-se com Tiago, e todos os presbíteros se
reuniram (At 21.18).

Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem


bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino (1 Tm 5.17).

Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele,
ungindo-o com óleo, em nome do Senhor (Tg 5.14).

Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos
sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada (1 Pe 5.1).

Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem
como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi (Tt 1.5).

Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando
atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram (Hb 13.7).

Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como
quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não
aproveita a vós outros (Hb 13.17).

Saudai todos os vossos guias, bem como todos os santos. Os da Itália vos saúdam (Hb 13.24).

Há somente duas exceções quando o plural não é usado. A primeira está em 1 Timóteo 3.2
e em Tito 1.7. Aqui Paulo está dando as qualificações de um ancião. A segunda exceção está em
2 João 1 e 3 João 1, onde João se apresenta como presbítero.

Atos 13.1 é um exemplo maravilhoso de uma equipe ministerial na igreja de Antioquia. Ali
vemos como o ministério de cada um era reconhecido. Entre os presbíteros de Antioquia, havia
alguns que eram profetas e outros que eram mestres.

A liderança do presbitério
A liderança do presbitério é uma questão que envolve dois aspectos. Em primeiro lugar, o
Senhor advertiu os discípulos a respeito de hierarquia e governo na igreja.
Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois
irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que
está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. Mas o maior
dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo
se humilhar será exaltado (Mt 23.8-11).

A vontade do Senhor é que, dentro da igreja, nenhuma pessoa dominaria as demais, mas
seríamos todos irmãos. Precisamos reconhecer que hierarquias estão fora da vontade de Deus
para nós. No entanto, isso não significa que não haja liderança. Na equipe de presbíteros, há
diferentes dons e habilidades que resultam em diferentes responsabilidades, mas todos os pres-
bíteros são iguais como cooperadores da obra.
30 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

O pastor presidente

O que podemos dizer da função de pastor presidente ou pastor sênior, como são chamados
hoje? Eles são realmente necessários? Eu creio que a resposta é sim. Eles são necessários e até
vitais para o bom andamento da obra. A ideia de pluralidade de presbíteros não retira a neces-
sidade do reconhecimento de um sênior.

A sabedoria nos ensina que toda discussão precisa de um moderador, de um líder. Em toda
família, há a necessidade de um pai para dar ordem dentro da casa. Assim, todo presbitério precisa
de um pastor para liderá-lo. Ele é o primeiro entre iguais. Sua função principal é fazer com que
tudo funcione apropriadamente. Isso, porém, não significa que o pastor deva dominar sobre a
equipe e sobre a igreja. João escreveu a respeito de alguém que amava a posição de proeminência.

Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles,
não nos dá acolhida (3 Jo 9).

Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras;
porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros
dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam, porém,
todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alon-
gam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas,
as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens (Mt 23.3-7).

O pastor presidente não é um chefe que dirige todos os outros com mão de ferro, dizendo como
cada coisa deve ser feita. Ele não é o técnico do time, mas o capitão que joga junto com os demais
jogadores. Ele deve servir a equipe moderando, equipando, coordenando, encorajando, avaliando,
motivando, exortando e fazendo tudo o que for preciso para que ela funcione em harmonia.

Precisamos avançar para acabar com qualquer ideia de hierarquia entre nós. Todavia, precisamos
ter sabedoria. Não podemos cair no extremo de pastores ditatoriais e intocáveis que tomam a igreja
como sua propriedade particular, mas devemos também evitar acabar com a função do pastor sê-
nior, o que significa que não haveria ninguém responsável pelo bom andamento do trabalho.

A igreja primitiva seguiu o mesmo padrão das sinagogas judaicas. Nas sinagogas, a autori-
dade nos casos normais estava nas mãos de um grupo de anciãos. O Salmo 107 menciona o
conselho dos anciãos.

Exaltem-no também na assembléia do povo e o glorifiquem no conselho dos anciãos


(Sl 107.32).

O número mínimo desse conselho era de três anciãos. Se não houvesse o número suficiente
de anciãos qualificados, então um mestre da sinagoga poderia presidi-la, mas não podia tomar
decisões que envolvesse doutrinas ou práticas, pois não havia outros anciãos com ele.

Cada conselho dos anciãos tinha um presidente vitalício, o qual poderia ser removido mo-
mentaneamente ou permanentemente em caso de pecado. Como presidente, ele estava sujeito
ao conselho dos anciãos, que poderiam removê-lo da sua função.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 31

No início da igreja, parecia normal aos irmãos seguir o sistema de governo das sinagogas:
pluralidade de anciãos com um presidente responsável. Tiago parece que era o sênior dos an-
ciãos de Jerusalém (At 15.13). Parece também que João era um ancião sênior na igreja da Ásia
menor (2 Jo 1). Mas o padrão era que eles não agiam de forma independente do conselho de
anciãos ou presbitério. No fim do concílio de Jerusalém, a carta enviada às igrejas foi feita em
nome dos apóstolos, presbíteros e irmãos.
Escrevendo, por mão deles: Os irmãos, tanto os apóstolos como os presbíteros, aos irmãos
de entre os gentios em Antioquia, Síria e Cilícia, saudações (At 15.23).

A equipe ministerial não é um novo esquema para que o pastor tradicional divida os traba-
lhos do ministério. Antes, é uma forma de governo bíblica que os apóstolos implementaram
em todas as igrejas, as quais, juntas, conquistaram o mundo daqueles dias. É a maneira mais
segura de termos uma edificação genuína da igreja local.
32 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja
Capítulo

4
A liderança no mover de Deus
Uma vez que estamos falando da necessidade de estabelecermos uma equipe ministerial, ou
seja, um presbitério de governo em cada igreja local, precisamos deixar claro alguns princípios
espirituais. Esses princípios se aplicam não somente ao presbitério, mas também à atuação dos
supervisores e do próprio conselho apostólico.

1. A liderança do Espírito pode fluir de diferentes membros da equipe


A liderança do Espírito não é permanente ou organizacional; antes, depende do fluir da
unção. Aquele com a maior capacidade espiritual é o líder em determinada situação. Em um
momento, essa capacidade pode estar com certo irmão, mas, em outro, pode estar com um
irmão diferente. A equipe precisa ser humilde e sensível para perceber quando o Espírito está
fluindo através de determinado membro da equipe.

No Dia de Pentecostes, a maior capacidade estava com Pedro, mas em Atos 15, ela estava
com Tiago. A relação entre Barnabé e Paulo ilustra esse princípio.
E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado (At 13.2).

Aqui, vemos que Barnabé é mencionado antes de Paulo (Saulo). Contudo, quando eles
estavam em sua missão, Paulo espontaneamente assumiu a liderança (At 13.9), pois ele tinha
maior capacidade espiritual. Foi Barnabé quem levou Paulo à Antioquia, e enquanto estavam
juntos em Antioquia, ele assumiu a liderança, mas Barnabé não discutiu com Paulo quando
este tomou a liderança na missão.
34 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

No entanto, quando houve uma discussão entre eles a respeito de João Marcos, lemos
que se separaram, mas a partir desse ponto, não se menciona mais Barnabé no livro de Atos.
Creio que o mover estava com Paulo, e quando Barnabé resolveu se separar, ele saiu desse
mover. A liderança da obra precisa estar sempre com aquele que possui a palavra e a direção
inspirada do Espírito de Deus.

2. O objetivo da equipe ministerial é ouvir o Espírito


Em Atos 16.9-10, Paulo e sua equipe procuraram juntos entender a direção do Espírito.
E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de
pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito
de Jesus não o permitiu. E, tendo contornado Mísia, desceram a Trôade. À noite,
sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava,
dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão, imediatamente, pro-
curamos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes
anunciar o evangelho (At 16.6-10).

Gosto desse texto porque ele mostra a necessidade de conhecer a direção do Espírito para
exercermos a liderança. Somos habituados a pensar que a liderança da obra é do líder, mas o
objetivo de toda equipe é ouvir o Espírito. Só há liderança quando o Espírito fala. Quando a
voz do Espírito é liberada, é preciso haver uma percepção de todo o grupo. Veja o exemplo de
Paulo que, mesmo tendo o sonho, foi necessário que o grupo concluísse que aquele era um
sonho dado por Deus.

Precisamos cuidar para sermos uma equipe espiritual capaz de perceber o fluir do Espírito
na vida uns dos outros. Muitas vezes, reunidos com o meu presbitério local, nós percebemos
quando alguém fala algo e aquilo é a voz de Deus. Imediatamente, nos submetemos, e por isso
temos prosperado.

O sucesso de qualquer equipe é justamente essa capacidade de ser liderado pelo Espírito.
O sucesso de uma igreja local não é fruto da capacidade natural de seus líderes. Algumas vez-
es, trata-se de homens simples e limitados, mas que foram capazes de perceber a direção do
Espírito. Esse é o segredo de todo sucesso.

3. O consenso e a unanimidade devem ser o padrão da equipe


A decisão do concílio de Jerusalém foi baseada na unanimidade de todos os apóstolos e pres-
bíteros. A decisão não foi tomada pela votação com maioria simples, mas tudo foi feito com a
unanimidade gerada pelo Espírito.
Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens
dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado
Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos, escrevendo, por mão deles: Os irmãos, tanto
os apóstolos como os presbíteros, aos irmãos de entre os gentios em Antioquia, Síria e Cilícia,
saudações. Visto sabermos que alguns que saíram de entre nós, sem nenhuma autorização, vos
têm perturbado com palavras, transtornando a vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a pleno
acordo, eleger alguns homens e enviá-los a vós outros com os nossos amados Barnabé e Paulo,
homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, portanto,
Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirão também estas coisas. Pois pareceu bem ao Espírito
Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais (At 15.22-28).
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 35

Evidentemente, devemos observar se há presbíteros entre nós que desejam apenas fazer
prevalecer a sua opinião por causa do seu orgulho e vaidade. Esse princípio somente pode ser
aplicado se o presbitério é espiritual. Assim, não devemos nos apressar a fazer algo enquanto
não houver unanimidade dentro do grupo.

4. Seguimos uma visão e um ensino, não um homem

A autoridade está na revelação da Palavra de Deus para o mover atual. Essa palavra sempre
estará de acordo com o ensino apostólico do Novo Testamento. Assim, a autoridade na igreja
é do ensino. Um membro do conselho apostólico possui apenas a autoridade do ensino apos-
tólico que ele sustenta.

A autoridade também vem da vida e da unção do Espírito. Sempre que há unção e há o


ensino apostólico do Novo Testamento, teremos autoridade à frente da obra de Deus. A lid-
erança é sempre de uma visão que define o ministério. Toda visão deve ser de acordo com o
ensinamento dos apóstolos.

5. A autoridade apostólica não é para controlar as igrejas

A palavra e a visão dos apóstolos é que possuem autoridade. Se as igrejas e os santos estão
caminhando de acordo com a palavra, então os apóstolos não têm autoridade para controlar
as igrejas. Mas, se uma igreja perde a visão ou é enganada, então os apóstolos têm a obrigação
e responsabilidade de tratar com a situação e trazer a igreja local de volta ao trilho do ensino
bíblico do Novo Testamento. A autoridade dos apóstolos é espiritual e está no seu ministério
da palavra.

6. A liderança apostólica não é para controlar os ministros

No Novo Testamento, algumas vezes Paulo disse aos seus cooperadores para irem a certos
lugares (1 Co 4.17) ou permanecer em outros (Tt 1.5). Ele fez isso apenas com aqueles minis-
tros que eram seus filhos espirituais.

Ninguém deve ter qualquer controle sobre a obra do Senhor e sobre seus ministros. Muitos
temem que o conselho apostólico comece a mexer com os pastores locais ignorando a direção
do Espírito na vida deles. Mas essa não é a nossa visão e nem a nossa prática.

A liderança no Novo Testamento reside principalmente nos ensinamentos dos ministros,


nunca numa posição organizacional. Em Atos e nas epístolas, Pedro e Paulo foram os líderes,
mas na maior parte, eles não enviaram ninguém a nenhum lugar para a obra. Todos os obreiros
que saíram foram enviados pelo Espírito Santo. Atos 13 nos diz que Barnabé e Saulo foram
enviados pelo Espírito Santo (v. 4) aos gentios.

Todavia, quando se tratava de sua equipe e de filhos espirituais, como Timóteo e Tito,
Paulo mandou que fossem a certos lugares fazer certas coisas (1 Co 4.17; Tt 1.5). Ele exortou
a ambos para virem até ele, e eles receberam essas ordens (2 Tm 4.9; Tt 3.12). No entanto, em
1 Coríntios 16.12, Paulo diz:
36 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Acerca do irmão Apolo, muito lhe tenho recomendado que fosse ter convosco em compa-
nhia dos irmãos, mas de modo algum era a vontade dele ir agora; irá, porém, quando se lhe
deparar boa oportunidade.

Paulo queria que Apolo fosse ver os coríntios pessoalmente. Ele não disse que enviou Apolo,
mas que estava recomendado. Apesar de Paulo tê-lo recomendado, Apolo ainda tinha a liber-
dade, a autonomia para não fazê-lo, e ele não fez o que Paulo queria. Esse versículo é uma prova
de que Paulo não exercitava qualquer controle sobre a obra do Senhor. Ele era o líder no mover
de Deus no Novo Testamento, mas não comandava os cooperadores para fazer as coisas.

Pedro e Paulo não eram tão exigentes na questão do movimento dos cooperadores. Se eles
recomendavam um obreiro para fazer algo e esse sentia que não deveria fazê-lo, não havia prob-
lema. Mas todos os apóstolos eram muito firmes no zelo do ensinamento apostólico.

Em 1 Timóteo 1.3-4, Paulo recomendou Timóteo para permanecer em Éfeso, a fim de exortar
alguns a não ensinarem diferentemente do ensino do Novo Testamento. O apóstolo João já idoso,
em sua segunda epístola, disse aos santos para não receber ninguém que trouxesse um ensina-
mento diferente de Cristo (vv. 9,10). Esses são alguns exemplos de que a autoridade apostólica é
principalmente para guardar o ensino bíblico. Se uma igreja se desvia, eles agem imediatamente.
Capítulo

5
Os benefícios de uma equipe
ministerial
1. Um ministério pleno
A plenitude do ministério está no corpo. Quando somos uma equipe, podemos ver a
beleza do corpo atuando. Quando temos ministérios diferentes trabalhando juntos, ali temos
um ministério completo.
E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo (Ef 4.7).

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do
seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4.11-12).

Em algumas ocasiões, apóstolos e profetas são mencionados juntos no Novo Testamento,


como em Efésios 2.20 e Apocalipse 18.20. Profetas tendem a ser mais visionários. Normalmente,
eles atuam nos lugares celestiais, apóstolos são mais práticos e lidam com os problemas com
direções pragmáticas. Mas, quando estão juntos, eles se completam.
Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus (1 Pe 4.10).
38 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

2. Um ministério variado
A liderança de Antioquia era múltipla, possuía diversos profetas e mestres que governa-
vam. O mesmo princípio pode ser visto no envio de Paulo e Barnabé, que foram enviados
em dupla, e ainda temos João Marcos, que foi adicionado à equipe apostólica. A liderança
em Antioquia era diversificada e heterogênea:
 Barnabé - Levita natural de Chipre. Provavelmente, era um homem rico e bem-sucedido.
 Simeão, o Níger - O sobrenome “Níger” significa “negro”. Provavelmente ele era afri-
cano. Seu nome era romano, o que indica que pertencia à sociedade romana. Alguns
acreditam que se trata de Simão, o cirineu, que carregou a cruz de Cristo (Mc 15.21).
 Lúcio de Cirene - Provavelmente havia fugido para Antioquia para se salvar da perse-
guição em Atos 11.19-20.
 Manaém - Era da classe alta e fora irmão de leite de Herodes, o tetrarca, aquele que
matou João Batista.
 Saulo de Tarso - É mencionado por último possivelmente por ser o menos importante
entre os líderes.

Creio que a parábola das árvores mencionada em Juízes 9.8-15 é também um bom exemplo
de um ministério variado. As árvores dessa parábola estavam procurando alguém que as lider-
asse. Desejavam ungir um rei sobre elas. Primeiramente, procuraram a oliveira. A oliveira fala
de unção, e poderíamos dizer que ela representa o ministério do grande pregador.

Como a oliveira recusou o convite, elas procuraram a figueira, que também recusou. Creio
que a figueira com os seus frutos doces simboliza o ministério do mestre. Depois disso, as ár-
vores convidaram a videira. Esse é aquele tipo de ministério focado na alegria do Senhor. Creio
que são os grandes ministros de louvor.

Por fim, elas procuraram o espinheiro. O espinheiro rapidamente aceitou liderar as árvores.
Eu gostaria de colocar um lado positivo do espinheiro. Nos dias do Velho Testamento, o espin-
heiro era usado para construir cercas para proteção contra animais selvagens. Essas cercas eram
particularmente usadas ao redor de apriscos para proteger as ovelhas. Creio que o espinheiro
aqui pode simbolizar o ministério do pastor que tem o trabalho de proteger o rebanho.

O ponto central que quero enfatizar nessa parábola é que diferentes indivíduos possuem dif-
erentes ministérios que são necessários na igreja local. Ter a igreja governada por apenas um
ministério pode resultar em desequilíbrios. Você pode achar que o pior desequilíbrio é ser liderado
por um espinheiro, mas qualquer das outras árvores sozinha poderia produzir grandes problemas.
3. Acelera o potencial
Evidentemente, uma equipe ministerial acelera a produtividade e produz sinergia. Mais tra-
balho pode ser feito quando temos um grupo trabalhando junto do que ter os membros desse
mesmo grupo trabalhando isoladamente. Uma corda sozinha pode levantar 100 Kg, mas duas
cordas tracionadas juntas podem levantar seis vezes mais. Isso é chamado de sinergia.
Perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós perseguirão a cem, e
cem dentre vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós (Lv 26.7-8).
Como poderia um só perseguir mil, e dois fazerem fugir dez mil, se a sua Rocha lhos não
vendera, e o SENHOR lhos não entregara? (Dt 32.30).

Creio que o Senhor estava falando também de uma equipe ministerial quando estabeleceu
o princípio da oração de concordância. Se formos genuinamente um presbitério unido, não
haverá restrição para o que intentarmos fazer.
Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito
de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus.
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles (Mt 18.19-20).

4. Reafirma a verdade
A verdade só é estabelecida quando ela é reiterada e reafirmada. Para que um ensino seja
firmado numa congregação, é preciso ter a confirmação e o amém de mais de um líder.
Uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniqüidade ou por qualquer
pecado, seja qual for que cometer; pelo depoimento de duas ou três testemunhas, se estabelecerá o
fato (Dt 19.15).

Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de
duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça (Mt 18.16).

Esta é a terceira vez que vou ter convosco. Por boca de duas ou três testemunhas, toda questão
será decidida (2 Co 13.1).

Sei que esses textos tratam de questões relacionadas à disciplina, mas o mesmo princípio
pode ser aplicado quanto ao ensino na igreja local. Quando duas ou três pessoas diferentes
falam a mesma verdade, ela tende a se estabelecer. Quando um presbitério unido reafirma o
mesmo ensino bíblico usando diferentes ilustrações, então aquele ensino é firmado no meio
dos irmãos.
5. Encoraja a renovação
Um grupo com pessoas diferentes e opiniões diferentes pode ter mais luz a respeito de qualquer
situação com a qual se deparar. Não precisamos ter receio de discutir coisa alguma, porque a ver-
dade é capaz de tolerar inspeção e questionamentos. Se uma afirmação caiu por terra por causa
do questionamento de alguém, então deveríamos agradecer essa pessoa por nos guardar do erro.
Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade (2 Co 13.8).

Nada pode contra a verdade. Se o pensamento não subsistiu, é porque não era verdade.
Tudo o que é falso se desvanece diante da verdade. Baseado em minha experiência, posso dizer
que é possível haver discordância e amor, é possível haver longas discussões, mas terminarmos
a reunião mantendo o mesmo afeto e respeito mútuo. Nem sempre conseguimos o consenso
numa reunião. Algumas vezes, demora meses, mas a verdade sempre prevalece no meio daque-
les que seguem o caminho da verdade e do amor.
6. Equilibra o ministério
Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofri-
mentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de
Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por
sórdida ganância, mas de boa vontade nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes,
tornando-vos modelos do rebanho (1 Pe 5.1-3).
40 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Precisamos ter cuidado para nunca abusar de nossa autoridade sobre os irmãos. E a melhor
maneira de sermos guardados desse erro é sendo um presbítero no meio de muitos dentro de
uma equipe ministerial amorosa, mas atuante.

As maiores tentações no ministério envolvem quatro áreas: dinheiro, moral, ressentimentos


e ambição. Quando assumimos um tipo de liderança individual, estamos muito mais sujeitos
a essas tentações malignas. Todas elas têm o poder de nos tornar cegos. Por isso, precisamos
de uma equipe que nos traga de volta para o equilíbrio. De todas, talvez a ambição por pro-
eminência, poder, fama e autoridade seja a origem dos demais problemas com dinheiro e queda
moral. Esse foi o primeiro pecado e é a fonte de todos os outros (Is 14.13-15).
Em dia designado, Herodes, vestido de trajo real, assentado no trono, dirigiu-lhes a palavra; e o
povo clamava: É voz de um deus, e não de homem! No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu,
por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou (At 12.21-23).

O pastor nunca deveria administrar as finanças da igreja sozinho. Ele sempre deve submeter-se ao
presbitério e fazer todas as coisas na luz do Senhor. Em nosso meio, o salário do pastor não é defini-
do pelo presbitério local, mas pelo conselho apostólico representado pelo supervisor de cada região.

7. Facilita a transição
É um fato que um pastor nem sempre ficará toda a sua vida numa mesma igreja local. Por
muitas razões, ele poderá mudar de congregação e continuar seu ministério em outra cidade.
Alguns se aposentam, outros sentem um chamado específico do Senhor, e outras vezes o pas-
tor precisa ser removido por causa de problemas morais. Essas mudanças podem ser muito
traumáticas para uma igreja local. Assim, a grande vantagem de ter uma equipe ministerial é
que ela permite que essa transição aconteça de forma tranquila e saudável.
Assim como numa família, os irmãos precisam sentir segurança em todo o processo. Um
presbitério maduro pode fazer essa transição de forma muito tranquila. Atos 13.2 nos dá um
exemplo de transição. Paulo e Barnabé foram enviados para o trabalho missionário, mas os
demais anciões continuaram tomando conta do trabalho da igreja.

8. Traz realização ministerial


Posso dizer, com absoluta certeza, que a maior satisfação e realização que encontro no
ministério é fazer parte de um presbitério composto de homens de Deus. Posso afirmar isso
tanto no nível local como no extralocal. Um pastor local somente sentirá essa alegria se investir
muito em seu presbitério. É na pluralidade do ministério que podemos perceber melhor a ação
do Espírito de Deus edificando Sua igreja.
A graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo (Ef 4.7).

O sentimento de autossuficiência é uma das maiores expressões de orgulho do ego. Precisamos


reconhecer nossa necessidade de uma equipe ao nosso lado.

9. Favorece o crescimento
Um dos fatos mais misteriosos do ministério é o fato de que alguns líderes somente con-
seguem frutificar plenamente se são parte de uma equipe. Já vi alguns líderes de célula e
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 41

discipuladores que nunca foram explosivos na liderança, mas quando se tornaram parte do
presbitério da igreja, manifestaram uma grande capacidade de liderança.

Creio que isso acontece porque a equipe torna-se um ambiente seguro para experimentações
práticas no ministério. Além disso, numa equipe, a pressão do ministério é distribuída a todos
e não se torna um jugo pesado para ninguém.

10. Preserva o ministério

Talvez essa seja a maior vantagem de o pastor ter uma equipe ministerial em sua igreja local. A
equipe preserva o pastor. Mesmo um grande profeta como Elias teve problemas por carregar todo
o peso sozinho. A vontade de Deus é que o peso do ministério seja compartilhado por muitos.
42 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja
Capítulo

6
O propósito de uma equipe
ministerial

Nesse estudo, vamos usar as expressões “presbitério” e “equipe ministerial” de maneira inter-
cambiável. Presbitério traz uma conotação mais religiosa e formal, por isso escolhemos usar a
expressão “equipe ministerial” como sinônimo.

Por que devemos nos esforçar para desenvolver uma equipe ministerial? Não há riscos em se
estabelecer irmãos para decidir as coisas da igreja como um presbitério? O ministério do pastor
não será limitado? Estas são perguntas que não podemos ignorar. Quando, porém, entendemos
o propósito de uma equipe ministerial, as dúvidas desaparecem.

1. Uma equipe ministerial é o ambiente ideal para treinar novos pastores

Todo pastor precisa ter consigo uma equipe forte de suporte. Alguns líderes serão enviados
para abrir novas igrejas, mas a maioria ficará na igreja local para serem suporte ao ministério local.

A equipe ministerial é um ambiente de discipulado, e aqueles que servirem bem como mem-
bros da equipe certamente estarão mais qualificados como pastores locais. Em Eclesiastes 4.9-12,
Salomão confirma o princípio da equipe ministerial.
44 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem,
um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante.
Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém qui-
ser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.

a. Recompensa por causa da maior frutificação


[...] porque têm melhor paga do seu trabalho (v. 9).

b. Segurança em tempos de adversidade


Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não
haverá quem o levante (v. 10).

c. Conforto na companhia da equipe


Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? (v. 11).

d. Proteção por meio de compromisso


Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se
rebenta com facilidade. (v. 12).

Assim, a liderança funciona de forma mais eficaz numa equipe em que um fortalece o outro.

2. Uma equipe ministerial oferece maior segurança e equilíbrio para a igreja local
Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança (Pv 11.14).

Nenhuma pessoa tem todas as respostas e nem possui uma perspectiva perfeita em cada questão.
A equipe ministerial fornece uma oportunidade para se trazer equilíbrio ao pastor. Precisamos
ter o cuidado para que o presbitério (ou equipe ministerial) não seja um mero ajuntamento de
homens que estão ali somente para dizerem “sim” ao pastor.

Uma equipe saudável sempre analisará as circunstâncias de maneira construtiva para apontar a
área fraca de uma decisão, sempre colocará em cheque decisões insensatas e promoverá equilíbrio
no ministério. O pastor, por outro lado, sempre deve avaliar o equilíbrio de toda a equipe. A
possibilidade de desequilíbrio é minimizada pela liderança de uma equipe ministerial. Deus odeia
o desequilíbrio. O desequilíbrio é uma abominação para o Senhor.
Balança enganosa é abominação para o SENHOR, mas o peso justo é o seu prazer (Pv 11.1).

Miquéias 6.11 descreve os sintomas de uma doença que surge entre o povo de Deus quando
o desequilíbrio não é corrigido.
Poderei eu inocentar balanças falsas e bolsas de pesos enganosos? Comerás e não te fartarás; a
fome estará nas tuas entranhas; removerás os teus bens, mas não os livrarás; e aquilo que livrares, eu
o entregarei à espada. Semearás; contudo, não segarás; pisarás a azeitona, porém não te ungirás com
azeite; pisarás a vindima; no entanto, não lhe beberás o vinho (Mq 6.11,14,15).

Nesse texto de Miquéias, podemos ver alguns sintomas de desequilíbrio:


Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 45

a. Insatisfação espiritual
Comerás e não te fartarás (v. 14a).

b. Falta de suprimento espiritual


A fome estará nas tuas entranhas (v. 14b).

c. Falta de suprimento financeiro


Removerás os teus bens, mas não os livrarás; e aquilo que livrares, eu o entregarei à
espada (v. 14c).

d. Falta de fruto
Semearás; contudo, não segarás (v. 15a).

e. Falta de unção
Pisarás a azeitona, porém não te ungirás com azeite (v. 15b).

f. Falta de alegria
Pisarás a vindima; no entanto, não lhe beberás o vinho (v. 15c).

Em uma igreja local, o desequilíbrio é uma doença que se espalha com facilidade. Ela pode
destruir a vida do corpo da igreja. Paulo disse que precisamos falar da sã doutrina (Tt 2.1). A
palavra “sã” significa “saudável”, um ensino equilibrado. Todo ensino equilibrado traz saúde para
a congregação, mas o desequilíbrio espiritual traz morte para dentro da igreja. Paulo diz que a
palavra de Himeneu e Fileto era como câncer.

Além disso, a linguagem deles corrói como câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto
(2 Tm 2.17).

A palavra “câncer” aqui é literalmente gangrena. Isso já diz tudo sobre o futuro de um corpo
adoecido. O desequilíbrio na igreja local pode causar os seguintes resultados negativos:

a. As pessoas perdem a confiança na liderança, pois se sentem inseguras por causa do dese-
quilíbrio dela.

b. O ministério na igreja local se torna instável e os irmãos se tornam inconstantes.

c. Um espírito crítico se desenvolve no meio da congregação. Esse espírito crítico pode even-
tualmente destruir a unidade da igreja local.

g. As pessoas ficam desiludidas e apáticas.

e. Muitos ficam “queimados” na liderança e têm medo de se comprometer com qualquer coisa
novamente.

f. As pessoas tornam-se descontentes, o que pode levar à divisão.

g. A igreja gradualmente perde sua influência na comunidade.


46 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

h. O desequilíbrio leva a uma visão estreita do ministério e impede os irmãos de terem capaci-
dade de discernimento.

i. Por causa da falta de discernimento, a igreja pode ser tomada por um espírito de engano.

Pessoas decepcionadas facilmente caem em extremos. A decepção é a verdade tomada sem


equilíbrio na doutrina ou na prática.

j. Em igrejas assim, cada ministério ou departamento passa a competir por recursos e atenção.
Cada líder considera sua área de trabalho como o mais importante ministério na igreja.

Somente uma equipe ministerial saudável pode aliviar a pressão sobre o pastor e trazer um
equilíbrio saudável à igreja.

3. Uma equipe ministerial é uma demonstração viva da vida do corpo


A equipe ministerial é uma miniatura da vida corpo da igreja. Todo líder no corpo de Cristo é
chamado para ser exemplo para o rebanho. Pedro disse que o presbítero precisa ser modelo para
o rebanho.
Nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do
rebanho (1 Pe 5.3).

Paulo exortou os irmãos para que fossem seus imitadores.


Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores (1 Co 4.16).

Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes
em nós (Fp 3.17).

Se uma equipe de presbíteros não consegue trabalhar juntos em unidade e harmonia, então
não pode esperar que a igreja faça isso.

4. Uma equipe ministerial é mais bem-sucedida no pastoreamento do rebanho do


que o pastor sozinho
Evidentemente, um homem sozinho é limitado em suas habilidades, dons e ministérios. Ele
não é capaz de, sozinho, atender a todas as necessidades da igreja. Isaías diz que um leão quando
ataca uma ovelha não se espanta, mesmo com muitos pastores vindo contra ele.
O SENHOR Deus falou comigo e disse: Um leão que pega e mata uma ovelha não se
assusta, nem foge quando os pastores vêm gritando, mesmo que sejam muitos e gritem bem
alto (Is 31.4b, NTLH).

Um pastor sem uma equipe ministerial pode sucumbir fisicamente, mentalmente e até espiri-
tualmente por causa da pressão da obra de Deus.

5. Somente uma equipe ministerial pode lidar com o crescimento de maneira contínua

Sabemos que a bênção de Deus está sobre Sua igreja, e uma equipe ministerial trabalhando
em harmonia e unidade inevitavelmente experimentará crescimento. O crescimento, por sua vez,
tornará ainda mais necessária uma equipe para lidar com o crescimento.
Capítulo

7
O espírito da equipe
Para que uma equipe ministerial possa funcionar apropriadamente, é preciso que cada mem-
bro cumpra algumas condições essenciais.

1. Todo membro deve ter um espírito de equipe


O apóstolo Paulo exortou os irmãos de Filipos para que tivessem um espírito de equipe.
Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-
vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito,
como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica (Fp 1.27).

A expressão “lutando juntos” é a palavra sunathleo. Essa palavra é composta pelo prefixo sun,
que significa juntos, e pela palavra athleo, de onde vem o nosso vocábulo “atleta”. Dessa maneira,
a expressão “lutando juntos” literalmente significa “trabalhar juntos como um time”.

Um time mediano que possui um espírito de equipe e trabalha junto pode vencer outra equipe
composta de estrelas, mas que não possui um espírito de equipe. Um espírito de equipe depende
de três características:

a. Um espírito de mansidão
Um espírito de mansidão não tenta se firmar diante dos outros. Ele flui em conjunto com os
outros. Mansidão não é fraqueza, mas é a força sob controle. A força é controlada pelo espírito da
pessoa, que busca o interesse da equipe, e não o reconhecimento pessoal.
48 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Uma pessoa mansa pode ser liderada e conduzida facilmente. Uma pessoa sem esse espírito de
mansidão, todavia, pode tornar-se um grande estorvo para a equipe. O contrário de mansidão
poderia ser um espírito de independência. Pessoas que nunca participaram de uma equipe costu-
mam ter uma atitude independente por causa de sua imaturidade. Outros, porém, possuem esse
traço presente em seu caráter.

A palavra grega traduzida como “mansidão” era usada também com o sentido de “amansar
ou domesticar”. Na Grécia antiga, existiam cavalos selvagens que eram capturados e domados
para serem usados no exército. A forma como domavam um cavalo era montando sobre ele e
enfrentando toda a sua resistência. Ele estava acostumado com uma vida independente e não
aceitava facilmente que alguém o conduzisse. Se o cavaleiro conseguisse ficar sobre o cavalo até
que ele ficasse exausto e seu espírito independente fosse quebrado, o cavalo poderia ser usado pelo
cavaleiro e, com mais treino, ele poderia vir a ser parte de uma cavalaria.

Um cavalo assim amansado não se tornava mais fraco, antes sua força estava sob controle e
poderia ser direcionada por uma liderança. O pastor não é esse cavaleiro, mas o Espírito Santo é.
Ele é quem tem o poder de nos fazer mansos.

b. Um espírito de submissão

Um espírito submisso é aquele que não tem demandas, mas se rende ao objetivo da equipe. Ele
não é dominador ou presunçoso, mas deseja que a equipe tenha sucesso. Aquele que tem um es-
pírito de submissão não se submete apenas ao pastor, mas aos demais membros da equipe também.

Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo (Ef 5.21).

Submissão não é suprimir-se. O estilo individual e a criatividade não devem ser eliminados.
Infelizmente, alguns pastores confundem ser filho com ser um clone. Filhos possuem a carga
genética dos pais, mas não são uma cópia. O Senhor tem filhos, e não clones.

c. Um espírito de humildade
Um espírito humilde reconhece a necessidade de suporte e força que se recebe dos demais
membros da equipe.
Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no tra-
to de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos,
contudo, aos humildes concede a sua graça (1 Pe 5.5).

Um espírito orgulhoso, por outro lado, promove-se a si mesmo em tudo o que faz. Ele está
constantemente tentando provar suas próprias habilidades e força. Ele destrói o espírito de equipe
quando presume que poderia alcançar o alvo sem a ajuda dos demais irmãos da equipe.

Características de um espírito de equipe


 Quando temos um espírito de equipe, não exigimos que nosso modo seja a única
maneira de fazer o trabalho.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 49

 Quando temos um espírito de equipe, nos dispomos a fazer sacrifícios pessoais por causa
dos objetivos da equipe.
 Quando temos um espírito de equipe, encontramos satisfação quando os alvos da igreja
são alcançados, e não somente quando os nossos alvos pessoais são atingidos.
 Quando temos um espírito de equipe, temos alegria em fazer com que o pastor seja
bem-sucedido.
 Quando temos um espírito de equipe, nos submetemos à equipe e buscamos sempre
manter a unidade.
 Quando temos um espírito de equipe, somos ferozmente leais em todos os momentos.
 Quando temos um espírito de equipe, não nos esforçamos para ter reconhecimento
pessoal.
 Quando temos um espírito de equipe, somos capazes de dizer “nós” na maior parte do
tempo, em vez de dizer “eu”.
 Quando temos um espírito de equipe, não ficamos ofendidos por questões pequenas,
mas superamos dificuldades por causa do propósito da equipe.

2. Todo membro da equipe deve ter um espírito de unidade


Em 1 Coríntios 1.10, Paulo orienta os coríntios dentro desse mesmo princípio de unidade.
Ele diz três coisas:
 que falassem a mesma coisa;
 que tivessem uma mesma disposição mental;
 que tivessem um mesmo parecer (v. 10).
Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma
coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma dispo-
sição mental e no mesmo parecer (1 Co 1.10).

O resultado disso é que seriam uma unidade, e não uma mera união de crentes. Há uma
diferença entre união e unidade. União é ter muitas batatas no mesmo saco, enquanto unidade
é quando as batatas são cozidas e amassadas, tornando-se um purê dentro do prato. A unidade
tem um preço de fogo e quebrantamento, ou seja, não há unidade sem o fogo do Espírito e sem
renúncia do ego. Só assim podemos falar a mesma coisa e ter a mesma disposição mental.

O Senhor Jesus disse que um reino dividido não pode subsistir. Se uma equipe vai prevalecer,
ela precisa caminhar em unidade.
Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mes-
mo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá (Mt 12.25).

Como é possível que um grupo de líderes de diversas origens possam se tornar uma equipe? A
resposta, evidentemente, não é o pastor rodear-se de homens que digam sempre “sim” e se sintam
sempre inseguros para expressar algum pensamento diferente. Isso seria apenas um grupo de
fantoches, o que se constituiria em um time fraco. Esse tipo de equipe é completamente inútil.
50 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Nas discussões da equipe, cada membro tem o direito e a responsabilidade de emitir seu pare-
cer a respeito de qualquer assunto. O pastor, por sua vez, deve dar espaço para que cada um possa
debater e discordar sobre qualquer questão tratada.
Uma vez, porém, que uma decisão é tomada pela equipe ou pelo pastor sobre uma determi-
nada direção que será seguida, então é responsabilidade de cada membro assumir a decisão como
sua própria. Ainda que um membro da equipe sinta que ele está certo, se a equipe decidiu tomar
uma direção diferente, ele deve aceitar sem reservas: “Tudo bem, se esta é a decisão da equipe,
então eu me submeto a isso e vou cooperar para fazê-la funcionar”.
Dessa maneira, quando saem da sala, são verdadeiramente uma equipe com um “mesmo es-
pírito”, possuindo um “mesmo parecer”. Um dos maiores testes para um membro da equipe que
não concorda com alguma decisão está em ser confrontado por outros, os quais perguntam: “O
que você acha da decisão da liderança? Você acha que esta é a melhor direção?”.
Mesmo que o membro da equipe sinta que a decisão não é a melhor, ele deve (por causa do
espírito de unidade) apoiar a decisão da equipe, dizendo: “Esta é a decisão da equipe e eu estou
100% com eles!”. Quando a liderança fala a mesma coisa, isso tem um impacto muito maior
sobre as pessoas. Elas sabem que criticar uma decisão é mais que criticar um membro da equipe
ou o pastor, é criticar toda a equipe.
A importância da unidade em uma equipe ministerial

a. A unidade é uma condição para termos a oração respondida


Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a res-
peito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está
nos céus (Mt 18.19).

A palavra “concordar” usada aqui é sinphoneo no grego. Você já deve ter percebido que ela
é a origem da nossa palavra “sinfonia”. Muitos instrumentos diferentes podem concordar ou
harmonizar-se tocando juntos. Concordar é tocar no mesmo tom e no mesmo andamento. Uma
equipe precisa estar na mesma sintonia para ver suas orações respondidas.

b. A unidade é uma condição para termos uma visitação de Deus


No livro de Atos, lemos que quando os 120 crentes estavam reunidos unânimes, o Espírito
Santo moveu-se sobre eles no derramamento do Pentecostes.
Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de
Jesus, e com os irmãos dele. Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no
mesmo lugar (At 1.14; 2.1).

A palavra “unânime” usada aqui é homothumadon, que literalmente significa “ter uma mesma
paixão”. Era usada para descrever quando as pessoas cantavam em uníssono. Eles estavam unidos
numa paixão e numa intensidade tal que o Espírito veio e se moveu sobre eles.

c. A unidade é uma condição da bênção de Deus


O Salmo 133 diz que, onde há unidade entre os irmãos, ali o Senhor ordena a Sua bênção (v. 3).
Esta bênção inclui três coisas:
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 51

 uma nova unção (v. 2);


 um liberar do Espírito novo e refrescante como o orvalho da manhã (v. 3a);
 o liberar de uma nova vida (v. 3b).

d. A unidade é um fator de segurança e proteção


Em Efésios 4.3, o apóstolo Paulo faz uma exortação: “[...] esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. A palavra “vínculo” significa “cordas” ou
“correntes” no grego. Assim, a unidade é como sermos acorrentados uns aos outros.

Uma das coisas que nos chama a atenção nos alpinistas é que eles escalam a montanha ama-
rrados uns aos outros. Certamente, deve ser um grande conforto para um alpinista inexperiente
saber que, caso escorregue, ele estará preso a outro alpinista que o segurará. Porque está amarrado
ao outro, ele está protegido. Nós também, quando somos amarrados juntos em unidade, somos
guardados em segurança e proteção.

e. A unidade é uma condição para sermos bem-sucedidos


Gênesis 11.6 diz que o povo era um e tinha o mesmo falar, por isso não haveria restrição para
tudo que intentassem fazer.
E o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas
o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer (Gn 11.6).

Se aquele povo rebelde estava sendo bem-sucedido mesmo fazendo algo errado só porque
tinham unidade, muito mais nós prosperaremos se trabalharmos em unidade.

3. Todo membro da equipe deve se identificar com a visão da igreja


Um problema frequente que se desenvolve em uma equipe é a divergência entre a visão de um
membro da equipe e a visão corporativa da igreja. Ele pode ter certos sonhos e metas que não se
harmonizam com a visão da igreja. É absolutamente vital que todo membro se identifique com a
visão da igreja e trabalhe em harmonia com ela.

Antes de ser colocado como membro da equipe, o pastor precisa checar se aquele líder
realmente se alinha com a visão da igreja. Se alguém está vindo de outro ministério, o cuidado
precisa ser ainda maior.
Espero, porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível, a fim de
que eu me sinta animado também, tendo conhecimento da vossa situação. Porque a ninguém
tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses; pois todos eles
buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus (Fp 2.19-21).

Quando um membro da equipe trabalha para o cumprimento da visão da casa, em vez de co-
locar sua própria visão como prioridade, a seu tempo, o Senhor lhe dará espaço para desenvolver
seu próprio ministério. É muito comum os membros da equipe procurarem favorecer a área em
que atuam na igreja em detrimento das demais. O pastor precisa trabalhar para mostrar a visão
de toda a casa, a fim de que sejam equilibrados.
52 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

4. Todo membro da equipe deve ser flexível

Todo membro da equipe deve estar disposto a entender o ponto de vista dos outros. Uma
pessoa dogmática e cheia de opiniões rígidas não pode trabalhar em um relacionamento de
equipe. O resultado é que a equipe deve se render à opinião desse membro ou viver em con-
stante tensão e desarmonia.

Um espírito flexível demonstra um espírito de humildade. Uma pessoa humilde reconhece que
não possui todas as respostas e, portanto, está aberta para aprender com as demais. Um espírito
inflexível é um espírito obstinado, que Deus odeia. Em 1 Samuel 15.23, lemos que a obstinação
é como o pecado de idolatria.

A única causa adequada para termos um espírito inflexível é quando um princípio bíblico está
claramente sendo violado. Mesmo assim, ainda precisamos ser equilibrados pelos irmãos caso
tenhamos uma interpretação equivocada ou desequilibrada do texto em questão.

5. Todo membro da equipe deve se dispor a receber disciplina

Numa equipe ministerial, deve sempre haver prestação de contas. Às vezes, o pastor ou a
própria equipe deve trazer correção e ajuste a um membro individualmente. Não importa o
nível que tenhamos alcançado na liderança, ainda assim, precisamos nos submeter para receber
disciplina quando necessário. O grande sinal de que nos submetemos à autoridade é quando
aceitamos a correção. Tiago diz que a sabedoria do alto é tratável:

A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratá-


vel, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento (Tg 3.17).

Uma marca de maturidade espiritual e sabedoria é a capacidade de aceitar ajustes e correções.


Indisposição de aceitar disciplina geralmente é sinal de orgulho no coração. Uma pessoa que não
aceita disciplina não entende nem pratica o espírito de equipe. Todavia, o membro da equipe
deve dizer: “Deus nos colocou juntos nessa equipe. Portanto, se você vir qualquer coisa em minha
vida ou em meu trabalho que precisa ser ajustada, por favor, me fale”.

6. Todo membro da equipe deve amar as ovelhas


Para ser um membro de uma equipe eficaz na casa do Senhor, é preciso amar as pessoas, em
vez de amar a posição. Um membro da equipe que não tem um coração para as pessoas tende a
ser legalista e duro, e irá dirigir e manipular as pessoas em vez de conduzi-las.

O membro da equipe deve ter cheiro de ovelha. Ele deve ser uma pessoa que gosta de estar
rodeado de pessoas e envolvido com elas. Paulo disse aos coríntios que ele os amava muito e
desejava que soubessem disso.
Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas
lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos
consagro em grande medida (2 Co 2.4).

As ovelhas precisam perceber claramente esse amor em cada membro da equipe.


Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 53

7. Todo membro da equipe deve ser totalmente leal

A lealdade é baseada no caráter de uma pessoa, bem como no seu compromisso. Lealdade
significa ter força para se manter leal mesmo quando há divergências ou diferenças. Aquele que é
leal cobre as fraquezas do líder em vez de expô-las.

Em 1 Coríntios 13.7, lemos que o amor “tudo sofre”. A palavra “sofrer” aqui é stego no grego,
e tem o significado básico de “cobrir com silêncio”. Aquele que é leal amorosamente cobre com
silêncio as falhas dos outros membros da equipe.

Precisamos dizer também que lealdade não significa ser cego às imperfeições irritantes de um
membro da equipe, mas significa jogar um grande cobertor de silêncio sobre elas para que os de
fora não vejam. Pessoas imaturas gostam de expor os outros, porque isso faz com que se sintam
melhores consigo mesmas. Esse é o espírito de Absalão e é letal para a equipe. Se há pecados no
meio da equipe, é preciso agir de acordo com o que o Senhor nos ensinou em Mateus 18.15, no
mesmo espírito de Gálatas 6.1:

Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu
irmão (Mt 18.15).

Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com
espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado (Gl 6.1).

Dessa forma se alguém vem reclamar de um membro da equipe dizendo que ele foi duro
ou que perdeu o domínio próprio, não devemos concordar com a pessoa, mesmo que saiba-
mos que o membro da equipe realmente tem esse problema. Devemos defender o membro
da equipe, dizendo: “Talvez você não tenha entendido o que ele quis dizer. Ele realmente o
ama e não quer magoá-lo”. Depois disso, podemos procurar o membro da equipe e relatar
o que foi dito sobre ele. Isso deve ser um aviso para que ele supere as suas dificuldades de
temperamento. Lealdade significa que um membro da equipe nunca fala de forma negativa
de um companheiro para outras pessoas.

Como lidar com pessoas que têm reclamações sobre um membro da equipe

a. Não concorde com ele sobre a reclamação

Mesmo que você saiba que a reclamação é verdadeira em alguma medida, não deixe que o
outro perceba isso. É claro que lealdade não significa você é obrigado a mentir. Mas se você não
pode dizer nada de bom, então não diga nada.

b. Não dê qualquer credibilidade à queixa

Você deve se lembrar de que você não conhece ainda a perspectiva do membro da equipe a
respeito do assunto. Alguns pastores não aceitam reclamação a não ser que seja absolutamente
verdadeira. Mas isso é tolice.

c. Defenda o membro da equipe o máximo que puder


54 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Isso não significa, porém, que você deve dar ouvidos à reclamação que você nem mesmo
consegue acreditar. Defenda sempre o membro da equipe, dando-lhe o benefício da dúvida e fale
apenas coisas positivas ao seu respeito.

d. Aconselhe a pessoa a procurar o membro da equipe


A Palavra de Deus diz que a pessoa ofendida deve procurar o indivíduo que a ofendeu e tentar
uma reconciliação sobre o problema.

e. Oriente-a a não falar com ninguém


Queixar-se a qualquer pessoa que não tem autoridade direta para corrigir uma situação é
fofoca e maledicência. Isso desagrada ao Senhor. A maledicência é classificada junto com a pros-
tituição e o assassinato:

Cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, con-
tenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes,
soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem
afeição natural e sem misericórdia (Rm 1.29-30).

A lealdade também está baseada no compromisso. Aquele que é leal se recusa a negar o com-
promisso feito, independentemente do custo pessoal. A lealdade usa a adversidade para confirmar
o compromisso com os membros da equipe.

8. Todo membro da equipe deve manter as linhas de comunicação abertas

Algo vital para a saúde de uma equipe ministerial são as linhas de comunicação abertas. Em
todo relacionamento, é normal acontecerem mal-entendidos e ofensas involuntárias. Precisamos
estar sempre abertos para nos explicar melhor aos irmãos. A Palavra de Deus diz que isso pode
mesmo ser comparado a um sacrifício que agrada a Deus.

Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais
sacrifícios, Deus se compraz (Hb 13.16).

Todo membro deve buscar continuamente uma forma de se expressar melhor e ser conhecido, bus-
car esclarecimento do trabalho que ele deve fazer e trabalhar para restaurar eventuais relacionamentos
quebrados. Precisamos evitar toda possibilidade de confusão, suspeitas e questões não respondidas.
Tudo isso pode ser eliminado quando nos dispomos a nos comunicar com os demais sem restrições.

Um membro da equipe jamais deveria dar ultimatos ao pastor dizendo: “Se isso não mudar,
eu vou sair”. Isso é o mesmo que fazem crianças contrariadas. Elas dizem: “Também não vou
brincar mais!”. Esse tipo de ameaça é devastador em um relacionamento de equipe. Ele destrói a
confiança e impede uma comunhão genuína.

9. Todo membro da equipe deve ser coerente com sua função de líder
Comportamentos incoerentes e inconsistentes na liderança causam confusão e frustração en-
tre as ovelhas do rebanho. Um membro da equipe que tem oscilações de humor pode ser tremen-
damente prejudicial não só para a equipe, mas também para toda a igreja.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 55

Se não sabemos como será o comportamento de um companheiro de um dia para o outro,


ou se não podemos prever se o comportamento do pastor será gracioso ou muito duro, ficamos
ansiosos e inseguros. Um grande sinal de saúde é a previsibilidade. Mas a dureza e o mau humor
não podem ser aquilo que prevemos.

Se uma ovelha não sabe como a liderança vai responder, então ela terá receio de expressar suas
necessidades. Se consistentemente damos sempre a mesma resposta para uma mesma situação,
ganhamos a confiança da congregação.
56 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja
Capítulo

8
A mulher e o governo da igreja
O avanço da obra de Deus depende de como as mulheres se posicionam. Quando elas se posi-
cionam corretamente, a igreja se torna forte. A força de uma igreja depende muito das mulheres
que estão ali. Isso, porém, não significa que elas devem governar a igreja. A liderança da igreja foi
entregue pelo Senhor Jesus e por seus apóstolos a homens cristãos qualificados. Esse é o padrão
claramente encontrado na Bíblia.

1. No Velho Testamento, mulheres foram levantadas como juízas e profetisas (Jz


4.4; 2 Rs 22.14), mas nunca foram consagradas e ordenadas como sacerdotisas

O serviço dos sacerdotes era cuidar do serviço sagrado, das coisas de Deus, conduzir o culto no
templo e ensinar o povo de Deus (Ml 2.7). No Novo Testamento, as filhas de Felipe eram pro-
fetisas (At 21.9; 1 Co 11.5), mas não encontramos nenhuma mulher no governo da igreja como
presbítera, pastora, bispa ou apóstola. As pessoas gostam de apelar para o exemplo de Débora e
Hulda, mas ele somente prova que Deus pode usar mulheres para falar ao seu povo. Não prova
que elas tenham que ser ordenadas.

2. Alguns argumentam que Jesus não escolheu mulheres para apóstolas porque Ele
não queria escandalizar a sociedade machista de sua época
O Senhor Jesus rompeu com vários paradigmas culturais de sua época:
58 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

 Ele falou com mulheres (Jo 8.10-11), inclusive com samaritanas (Jo 4.7).
 Tocou em leprosos (Mt 8.2).
 Quebrou o sábado (Jo 5.18).
 Não seguiu as tradições da dieta religiosa dos judeus (Mc 7.2).
 Relacionou-se com gentios (Mt 4.15).
 Comeu com pecadores (Mt 9.11).

Se o Senhor achasse que essa era a coisa certa a fazer, certamente teria escolhido mulheres para
constar entre os doze apóstolos, mas não o fez, apesar de ter em sua companhia mulheres que O
seguiam e serviam, como Maria Madalena, Marta e Maria, sua irmã, Joana e Suzana (Lc 8.1-2).

3. Os apóstolos seguiram o mesmo padrão de Jesus


Quando os apóstolos tiveram a chance de incluir uma mulher no círculo apostólico em lugar
de Judas, escolheram um homem, Matias (At 1.26), mesmo que houvesse mulheres proeminen-
tes na assembleia, como a própria Maria, mãe de Jesus (At 1.14-15).

Quando os apóstolos resolveram criar um grupo que cuidasse das viúvas da igreja, determi-
naram que fossem escolhidos sete homens, quando o natural e cultural seria supor que as viúvas
seriam mais bem atendidas por outras mulheres (At 6.1-7).

4. As instruções sobre presbíteros e diáconos se referem apenas a homens


Os apóstolos determinaram que os presbíteros e diáconos deveriam ser maridos de uma só
mulher e deveriam governar bem sua casa – obviamente eles tinham em mente homens (1 Tm
3.2,12; Tt 1.6), e não mulheres. Mesmo reconhecendo o importante e crucial papel da mul-
her cristã no bom andamento das igrejas, não as colocaram na liderança de uma igreja local,
proibindo que elas ensinassem com a autoridade que era própria do homem (1 Tm 2.12), que
participassem na inquirição dos profetas, o que poderia levar à aparência de que estavam exer-
cendo autoridade sobre o homem (1 Co 14.29-35). Eles também estabeleceram que o homem
é o cabeça da mulher (1 Co 11.3; Ef 5.23).

5. Muitos argumentam que Paulo foi influenciado pela cultura machista de sua época
Muitos imaginam que Paulo era machista e que tinha problemas com mulheres. Mas se
ele fosse machista, não diria que as mulheres têm direito ao seu próprio marido, que elas têm
direitos sexuais iguais ao homem, bem como o direito de separar-se quando o marido resolve
abandoná-la (1 Co 7.2-4,15).

Se Paulo fosse machista, ele não determinaria que os homens deveriam amar a própria esposa
como amavam a si mesmos (Ef 5.28,33). Também não se referiria a uma mulher, admitindo que
ela tinha sido sua protetora e mantenedora, como o fez com Febe (Rm 16.1-2).

Precisamos ter cuidado com esse argumento cultural, pois se Paulo foi influenciado pela cul-
tura de sua época ao proibir as mulheres de assumir a liderança das igrejas, ele deve ter sido
influenciado quando ensinou que o homossexualismo é uma distorção da natureza acarretada
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 59

pelo abandono de Deus (Rm 1.24-28) e que os sodomitas e efeminados não herdarão o reino de
Deus (1 Co 6.9-11).

6. O argumento apostólico é sempre espiritual, nunca cultural


Paulo argumenta que o homem é o cabeça da mulher a partir de um encadeamento hierárqui-
co que tem início em Deus Pai, descendo pelo Filho, pelo homem e chegando até a mulher (1 Co
11.3). Paulo também é espiritual quando diz que “o marido é o cabeça da mulher como Cristo
é o cabeça da igreja” (Ef 5.23).

Quando Paulo restringe a participação da mulher no ensino autoritativo – que é próprio do


homem –, ele argumenta a partir do relato da criação e da queda (1 Tm 2.12-14).

7. A Bíblia ensina claramente que o governo da igreja é exclusivamente masculino


Infelizmente, o que muitos ensinam hoje é que a Bíblia é um livro culturalmente condiciona-
do e só devemos aplicar dele aquelas partes que estão em harmonia e consenso com nossa própria
cultura e época. Ao pensarem assim, estão considerando a Bíblia como retrógrada e ultrapassada
e que o modelo de liderança que ela ensina não serve de padrão para a liderança moderna da igreja
de Cristo.

Quando se chega a esse nível, então a porta está aberta para a entrada de qualquer coisa que
seja aceitável em nossa cultura, mesmo que seja condenada nas Escrituras.
 Como poderemos responder àqueles que consideram o casamento algo ultrapassado?
 Como dizer que é errado ter sexo antes do casamento?
 Como rejeitar o homossexualismo se é uma coisa moderna?

Quando a igreja relativiza o ensino das Escrituras considerando-o algo antigo e medieval,
ela perde o referencial, o parâmetro, o norte, o prumo – e como ninguém vive sem estas coisas,
elege-se a cultura como guia.
60 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja
Capítulo

A disciplina na igreja
I. Objetivos

Em Hebreus 12.5-11, observamos que Deus mesmo disciplina e corrige Seus filhos. Nesse sen-
tido, todos nós somos constantemente disciplinados por Deus. Todavia, Deus mesmo estabeleceu
um governo em Sua igreja, e é Sua vontade que esse governo também discipline o membro com
o fim de zelar pela vida da igreja.

Embora todo o nosso trabalho pastoral tenha como objetivo guardar o rebanho e conduzi-lo
ao crescimento em Deus, devemos ter em mente que quando aplicamos a disciplina, o alvo
primário não é a recuperação do faltoso, mas a preservação e proteção da igreja (1 Co 5.1-6).

Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo
entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai. E, contu-
do, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio
quem tamanho ultraje praticou? Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente
em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, em
nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor,
entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do
Senhor [Jesus]. Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda
a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato,
sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos
a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com
62 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

os asmos da sinceridade e da verdade. Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os
impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos,
ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo
que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idóla-
tra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que
direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus
os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor (1 Co 5.1-6).

Portanto, o objetivo principal da disciplina é a preservação da massa, que é a igreja. Isso pode
ser plenamente visto quando Paulo exorta a igreja a não permitir que o fermento – no caso, o
crente em pecado – venha a levedar toda a massa – a igreja. Em função disso, podemos afirmar
que a disciplina na igreja tem os seguintes objetivos em ordem de prioridade:
 Preservar a pureza da igreja;
 Preservar o testemunho da igreja;
 Preservar a fé e a unidade da igreja;
 Restaurar o crente faltoso.

Infelizmente, hoje as igrejas abriram mão da disciplina. Qualquer pessoa que tenha encargo
genuíno pela edificação da igreja sempre levará muito a sério esse assunto.

II. As faltas

Devemos rejeitar categoricamente a postura de disciplinar os crentes por comportamentos que


não passam de preconceitos humanos. Há lugares onde é proibido usar roupas coloridas, barba
ou até mesmo uma camiseta. Essas coisas surgem do legalismo e da tradição humana. Devemos
rejeitar tais coisas.

No entanto, a Bíblia nos ensina que devemos exercer a disciplina na igreja quando necessário.
Mas em que casos devemos aplicá-la? O Novo Testamento coloca pelo menos seis tipos de pessoas
que não devemos tolerar na comunhão da igreja.

1. Aquele que se recusa a ouvir a igreja


Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão.
Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento
de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja;
e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano (Mt 18.15-17).
No texto de Mateus, podemos ver a seriedade de se negligenciar ouvir a igreja. Pensamos
que se alguém é temperamental, isso é algo sério, ou se é imoral, mais grave ainda, mas não
achamos sério e reputamos como quase nada o não ouvir a igreja. Isso acontece porque não
temos revelação do que é a igreja. O Senhor Jesus, no entanto, nos advertiu a considerar tal
pessoa como sendo impura e publicana. Não devemos considerá-la como um tipo de irmão
fraco. Não ouvir a igreja é algo muito sério.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 63

Na época da reforma protestante, os reformadores queriam eliminar a autoridade excessiva


da Igreja Católica. Isso foi bom, mas nos levou a outro extremo: hoje ninguém liga para a
igreja. Exercer autoridade excessiva sobre os santos é algo errado, mas não exercer nenhuma
autoridade pode ser ainda pior.

Para que a igreja possa ser ouvida, a primeira condição é ter um presbitério que realmente
funcione. O presbitério certamente representa a igreja local. Deixar de ouvir o presbitério é deixar
de ouvir a igreja. Há muitas situações que são aceitáveis no mundo, mas não aceitamos no seio da
igreja. Temos, por exemplo, a visão da corte e a visão do divórcio e segundo casamento. O pres-
bitério local pode orientar, por exemplo, que os irmãos não se divorciem. Quando um membro
ignora a direção e se divorcia, ele está se recusando a ouvir a igreja.

2. Aquele que causa divisão

Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desa-
cordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles (Rm 16.17).

Evidentemente, esse versículo não pode ser aplicado em um lugar onde a igreja já é divisiva.
Para aplicar esse versículo, uma igreja local deve estar adequadamente equilibrada. De outra ma-
neira, o que ela ensina não será adequado e será muito difícil para um crente ouvir aquela igreja.
Toda igreja local deve ser muito cuidadosa em não enfatizar exageradamente nada que esteja fora
da esfera da fé.

Vamos tomar um exemplo. Se em algum momento um irmão resolve crer na predestinação


por decreto, não devemos excluí-lo por causa disso, devemos incluí-lo ainda que ele pense de
forma diferente. Há base bíblica para se crer dessa forma, ainda que não concordemos. Ou pode
ser ainda que uma irmã resolva usar o véu. Não podemos taxá-la de divisiva e excluí-la. Temos
base bíblica para usar e não usar o véu. Não é uma questão de fé. Consideramos questão de fé os
pontos elaborados em nossa confissão de fé.

Se, todavia, aquele irmão que passou a crer de forma diferente resolve criar divisão em nosso
meio fazendo de um ponto secundário algo fundamental para a fé, então não podemos tolerar
essa pessoa na comunhão da igreja. A unidade da igreja é algo que deve ser protegido a todo custo.

Há muito espaço para o pensamento diferente da vida da igreja, mas não podemos tolerar que
um irmão faça de determinada doutrina uma bandeira dentro da igreja.

3. Aquele que anda desordenadamente


Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo
irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes. Caso
alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos as-
socieis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas
adverti-o como irmão (2 Ts 3.6, 14-15).

Aqui nos referimos a certos tipos de pessoas que vivem uma vida de tal forma desordenada que
andam de casa em casa explorando a boa fé dos irmãos, não trabalhando e causando todo tipo
de problemas. Veja que esses que andam desordenadamente não guardam a Palavra de Deus. A
orientação bíblica é para que não andemos com tais pessoas nem nos associemos a elas.
64 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

4. Aquele que é pecaminoso


Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me com isto não
propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras,
pois neste caso teríeis de sair do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com
alguém que dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou
beberão, ou roubador, com esse tal nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de
julgar os de fora? Não julgais vós os dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai,
pois, de entre vós o malfeitor (1 Co 5. 9-13).

Deus é muito zeloso pela Sua santidade e também é muito zeloso pela santidade da igreja. Ele
não permitirá de forma alguma o pecado no meio do Seu povo. Precisamos, porém, entender
que nem todo pecado é passível de disciplina na igreja. Se uma irmã é insubmissa ao marido,
podemos exortá-la, mas não há como exercer disciplina. Um irmão que possui temperamento
explosivo é algo negativo, mas devemos tolerá-lo.

Existem, no entanto, outros pecados que não podemos tolerar de forma alguma dentro da
igreja, segundo a orientação bíblica em 1 Coríntios 5.11-13. São seis grupos de pecados:

Impureza - Inclui todos os pecados sexuais, como prostituição, adultério, sodomia, lesbianis-
mo, homossexualismo, fornicação, linguagem obscena, gestos obscenos, pornografia, etc.

Avareza - Sonegar o dízimo, sonegar oferta, deixar de atender às necessidades da família, ver
o irmão passar fome e ignorar, etc.

Idolatria - Feitiçaria, ídolos, todos os tipos de adivinhação, prognóstico, consulta de mortos, etc.

Maledicência - Falso testemunho, calúnia, difamação, infâmia, mexerico, fofoca, etc.

Bebedice - O que se embriaga com bebida alcoólica, drogas, remédios ou qualquer outro
tipo de narcótico.

Furto - Ladrão, assaltante, sonegador, chantagista, extorsão, etc.

Muitos, equivocadamente, dizem que na igreja sempre haverá o joio e o trigo. Essa, porém,
é uma interpretação equivocada. Em Mateus 13, o Senhor disse que o campo é o mundo, e no
mundo existe o joio e o trigo. A igreja, porém, é lavoura do Senhor, e nessa lavoura só pode haver
o trigo. Se porventura aparecer o joio no meio da igreja, ele precisa ser removido.

5. Aquele que é sectário


Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que
tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada (Tt 3.10-11).

O sectário é aquele que cria partidos dentro da igreja. Ele fica dentro, mas cria partidos es-
facelando o corpo. O divisivo enfatiza exageradamente uma doutrina e cria “outra igreja”. Deus é
zeloso pelo Seu corpo e a divisão danifica-o. A atitude bíblica é afastar-se do faccioso e separar-se
dele depois de tê-lo admoestado primeira e segunda vez.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 65

6. Aquele que vai além da doutrina de Cristo


Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o
que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho (2 Jo 1.9).

O divisivo enfatiza doutrinas bíblicas, o sectário procura dividir por preferências pessoais.
Nesse caso, temos aquele que fala heresia. Podemos citar como exemplo a atual teologia modern-
ista. Segundo esses teólogos, Jesus não morreu pelos pecados, mas apenas como mártir; Ele não
ressuscitou e a Bíblia não é completamente a Palavra de Deus, mas apenas algumas partes. Esses
homens são enviados do diabo e não podemos tolerá-los em nosso meio. Segundo a Bíblia, não
devemos nem mesmo saudá-los para que não nos tornemos participantes de sua maldade, nem
devemos recebê-los em nossa casa.

III. Como exercer a disciplina

A disciplina de um membro deve seguir três fases:

a) admoestação e repreensão;

b) afastamento da comunhão e ou destituição de cargo;

c) exclusão.

a) Admoestação

Primeiramente, o membro faltoso será exortado pelo líder da célula. Se o membro não
ouvi-lo, o líder deve comunicar o caso ao discipulador e juntos ambos farão uma segunda
exortação. Se ainda assim ele não mudar seu comportamento, então será conduzido para a
segunda fase da disciplina.

O Senhor Jesus ensinou que pelo menos três pessoas devem tentar dissuadir a pessoa do erro.
O membro faltoso deverá primeiro ser admoestado pelo irmão que testemunhou ou tomou con-
hecimento do erro. Se o faltoso ouvir e abandonar o erro, o pecado deve ser coberto.

Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão.
Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de
duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se
recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano (Mt 18.15-17).

b) Afastamento da comunhão

Essa segunda fase da disciplina só poderá ser exercida pelo presbitério. Se for o caso de dis-
ciplina de um membro da célula, ele deverá ser afastado da comunhão da célula e privado de
participar da Ceia do Senhor por um período de até três meses. Findado o prazo, ele será avaliado
para sua reintegração ou, se for o caso, terá sua disciplina prorrogada por mais três meses.

Durante todo período de disciplina, o membro deverá participar de todos os cul-


tos dominicais e ser acompanhado por um discipulador ou líder. Se ainda assim ele não
66 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

abandonar a prática pecaminosa, será conduzido para a terceira fase. Se for o caso da discipli-
na de um líder, discipulador ou pastor, além de seguir o procedimento acima, também será
afastado da sua função de liderança.

c) Exclusão da igreja

Se todos os recursos anteriores falharem, a pessoa será convidada a sair da igreja local e sua
exclusão deverá ser comunicada aos irmãos no nível de relacionamento que ela estiver inserida.

IV) Orientações gerais


Nunca devemos exercer a disciplina com parcialidade.
Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos,
sem prevenção, nada fazendo com parcialidade (1 Tm 5.21).

Nem todos os crentes devem ser disciplinados igualmente pelo mesmo pecado cometido.
Existem situações atenuantes e agravantes. São situações atenuantes:

a) pouco tempo de igreja;

b) pouco conhecimento da Bíblia;

c) sem antecedentes;

d) desejo expresso de se corrigir;

e) confissão voluntária.

Podemos considerar como situações agravantes:

a) muito tempo de igreja (mais de dois anos);

b) bom conhecimento bíblico;

c) ausência das reuniões da igreja;

d) arrogância e insubmissão;

e) ocultamento da falta.

As faltas públicas ou de conhecimento geral devem ser disciplinadas publicamente.

Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também
os demais temam (1 Tm 5.20).

Quando o pecado de um irmão for público, sua disciplina será comunicada no limite do seu
nível de influência. Se ele for um membro de célula, comunicaremos apenas à sua célula. Se ele
for um líder de célula, sua disciplina será comunicada aos demais membros do grupo de discip-
ulado do qual faça parte e também para a sua célula. Se for o caso de um discipulador, então sua
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 67

disciplina será comunicada a toda sua rede de células. No caso da disciplina de um pastor, mesmo
sendo um pastor de rede, toda a igreja local será comunicada.

Um líder de célula poderá exercer apenas o primeiro nível de disciplina, que é a admoestação
e exortação. Ele não poderá, em circunstância alguma, disciplinar um membro afastando-o da
comunhão ou excluindo-o da igreja.

Quando se esgotarem os recursos de exortação, o líder deverá levar o assunto para seu discip-
ulador, e esse, por sua vez, deverá informar o pastor para que o presbitério da igreja possa definir
a disciplina.

As faltas veladas devem ser disciplinadas pelo presbitério de forma discreta e prudente,
mas as públicas ou de conhecimento geral devem ser tratadas publicamente para que haja
temor no meio do povo.

Não se deve aceitar acusação contra obreiro sem pelo menos duas testemunhas.

Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de


duas ou três testemunhas (1 Tm 5.19).

Não devemos exercer disciplina sem que haja primeira e segunda advertência.

Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez (Tt 3.10).

Quando o pecado de um líder for público ou quando o pecado não for público, mas tiver
grande possibilidade de se tornar público, o pastor responsável deverá imediatamente destituí-lo
de sua posição e admoestá-lo. Caso não haja mudança, deverá ser levado ao presbitério para o
procedimento de afastamento da comunhão. Se ainda assim não houver mudança, o líder deverá
ser excluído.

Quando for pecado de um pastor ou presbítero, deverá se observar 1 Timóteo 5.19. Se for
pecado velado e confessado, a disciplina deverá se limitar a admoestação de forma absolutamente
discreta. Se não for confessado, mas denunciado, deverá haver destituição das atividades pastorais
pelo presbitério e ser comunicado à igreja.

Caso a disciplina seja apenas uma exortação e não envolva a destituição do cargo, não haverá
necessidade de comunicar publicamente à igreja. Se for falta denunciada e de conhecimento
público, deverá haver destituição pública do cargo e suspensão da comunhão da igreja. Se for de
conhecimento geral, sem arrependimento do faltoso, a pessoa deverá ser excluída.

Quando a disciplina tiver de ser exercida por um supervisor da Vinha, o Conselho Apostólico
deverá participar da decisão. Quando um supervisor esgotar todos os recursos de exortação na
tentativa de corrigir um pastor local, este será convocado para comparecer à reunião do Conselho
de Supervisores em Goiânia. Se tal pastor se recusar a ouvir o Conselho, ele será retirado da Vinha
e a exclusão comunicada a todos os demais pastores.
68 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

O presbitério da igreja local será a esfera máxima de decisão dentro da igreja local. Mas quando
um membro se sentir injustiçado, ele poderá recorrer ao supervisor da Vinha da sua região. Se for
necessário, o supervisor poderá levar o caso ao Conselho Apostólico.

V) A restauração do faltoso
A restauração da comunhão só poderá ser feita depois de cumprida a disciplina imposta pelo
presbitério. O crente faltoso deve manifestar mudança de vida e arrependimento genuíno.

Se tiver sido excluído, deverá ser recebido novamente como membro da igreja publicamente.
Se for caso de exclusão de presbíteros, pastores ou líderes, a restauração deve ser gradual até que
ele venha a ocupar a função anterior. O processo deverá ser definido pelo presbitério.
Capítulo

10
O perfil de um líder aprovado
Texto: Atos 20.17-38

No capítulo 19 de Atos, lemos que Éfeso passou por um verdadeiro avivamento.

 Todos os habitantes da Ásia ouvem a Palavra (At 19.10).

 Muitos sinais e maravilhas (At 19.11-12).

 O nome de Jesus é engrandecido (At 19.17).

 Confissão espontânea de pecado (At 19.18).

 As portas do inferno são saqueadas com a queima de livros mágicos (At 19.19).

 A Palavra de Deus crescia e prevalecia (At 19.20).

 Contra-ataque do inimigo (At 19.23-40).

 Uma igreja marcante cheia de fé e amor (Ef 1.15).

O avivamento foi o resultado do ministério de Paulo em Éfeso. Foram cerca de três


anos. Nesse tempo, todos os habitantes da Ásia ouviram a Palavra e uma grande igreja foi
estabelecida em Éfeso.
70 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

No capítulo 20, vemos Paulo falando à liderança, aos presbíteros da igreja em Éfeso. Ele
sabia que não os veria mais. Por isso, libera uma palavra de despedida profundamente to-
cante e espiritual. Nessa palavra, encontramos dez características de um líder aprovado. Ele
certamente está nos desvendando o segredo para sermos homens de avivamento que trazem
a glória de Deus nesta geração.

1. Bons líderes são transparentes

No verso 18, Paulo lhes disse:

Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro
dia em que entrei na Ásia (At 20.18).

Paulo esteve com eles por três anos, e nesse tempo ele não teve uma vida oculta. Ele não se dis-
tanciou de todos em nome da sua privacidade, mas deixou que sua própria vida fosse um exemplo
para a igreja. Os irmãos de Éfeso sabiam como era Paulo, porque sua vida havia sido compartil-
hada com eles. Infelizmente, há alguns que se escondem porque sabem que sua pregação não se
harmoniza com sua vida pessoal.

2. Bons líderes são humildes

No verso 19, Paulo diz que serviu ao Senhor com grande humildade e com lágrimas.

Servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos
judeus, me sobrevieram (At 20.19).

Quem é humilde não se considera melhor do que o rebanho, não se coloca acima dos outros
como aquele que sabe mais. Um sinal da sua humildade era que ele chorava enquanto ministrava
aos irmãos. Essas lágrimas certamente estão relacionadas à oração. Quem ora tem um coração
sensível, quebrantado com sua situação e com a situação do seu povo.

O próprio Senhor Jesus foi um líder de oração. Orava sozinho; de madrugada; passava noites
em oração; orava a noite toda antes das grandes decisões; orava na hora da dor, da tentação.
Quando Ele orou, o céu abriu e o Espírito Santo desceu sobre Ele.

Paulo foi um líder de oração. Nenhum líder pode ser forte se não ora. Sem oração, nossos
projetos fracassarão. Além disso, quem é humilde serve. Paulo diz que ele serviu ao Senhor. Servir
é trabalho, é empenho, é mão no arado, é esforço. Paulo prega na cadeia, nas estradas, no templo,
na sinagoga, na escola.

Quem serve ao Senhor não vive reclamando, não vive murmurando, não fica se lamentando
dos irmãos e da igreja onde está. Quem serve ao Senhor não vive procurando elogios, bajulação,
destaque; não vive correndo atrás de promoção.

Quem serve ao Senhor não vive querendo agradar a homens, fazendo da igreja de Deus
uma plataforma de relações públicas, de concessões, para agradar a gregos e troianos. Quem
serve ao Senhor não deve dar lugar para a vaidade, a autoprojeção e a soberba. “Quem é
Paulo? Quem é Apolo?” (1 Co 3).
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 71

Hoje, estamos precisando de homens que se comprometam mais com Jesus. Se a liderança não
andar com Deus, o rebanho não vai andar. A igreja é um reflexo da sua liderança. Se a liderança
falha, o povo falha. Se o líder não estiver na frente, o rebanho não terá ânimo.

3. Bons líderes são corajosos

Nos versos 19 a 21, Paulo diz que serviu ao Senhor com grande humildade e com lágrimas,
sendo severamente testado pelas ciladas dos judeus. Não é fácil continuar pregando e ensinando
quando a perseguição se levanta contra nós.

Servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos
judeus, me sobrevieram, jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de
vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a
gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo (At 20.19-21).

Paulo não teve receio de pregar o que precisava ser pregado. Ele não recuou com medo da
reação das pessoas. Ele não hesitou em dizer o que precisava ser dito, quer em púlpito quer
nas casas. Se havia algo que espiritualmente precisava ser dito, Paulo não hesitava em dizê-lo.
Precisamos de líderes que não têm medo de chamar os bois pelos nomes.

4. Bons líderes são sensíveis ao Espírito

E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me
acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam
cadeias e tribulações (At 20.22-23).

Só existe uma liderança espiritual quando somos sensíveis em nosso espírito à direção do
Espírito de Deus. Paulo diz que estava sendo impelido a ir a Jerusalém. Ele não tinha ideia do
que ia acontecer com ele lá, mas sabia que lutas e tribulações o aguardavam. Mesmo assim,
ele estava disposto a seguir a liderança do Espírito, não importando o que tivesse de enfrentar.

5. Bons líderes são focados

Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a
minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da
graça de Deus (At 20.24).

Paulo tinha um objetivo específico em sua vida e estava completamente focado nele. Ele
havia recebido um ministério da parte de Deus e seu objetivo era cumprir esse chamado.
Quando diz que não considera a sua vida como algo precioso, ele está dizendo que nada era
maior ou mais valioso que o chamado de Deus, nem mesmo sua vida.

Quando chegamos ao ponto de dizer: “Não tenho nada a perder porque já entreguei
tudo”, então teremos um ministério abundante e frutífero. Líderes que se preservam é porque
ainda possuem algo a perder. O alvo de Paulo era concluir um chamado, era chegar à linha
de chegada e terminar a corrida. Precisamos de líderes piedosos. cujo único propósito é viver
para espalhar o evangelho.
72 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

6. Bons líderes fazem o trabalho com zelo


Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o
meu rosto. Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos;
porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus (At 20.25-27).

Paulo diz que anunciou e ensinou aos presbíteros de Éfeso todo o conselho de Deus. Tudo o
que era necessário para que eles tivessem uma vida piedosa lhes foi passado por Paulo.

Precisamos servir a Deus com a consciência pura. Seria pavoroso se o sangue dos irmãos
clamassem contra nós por não lhes termos ensinado a Palavra de Deus apropriadamente. Paulo
disse que ele era inocente do sangue de todos aqueles homens. Se alguém fosse para o inferno,
não seria culpa dele, porque ele lhes havia transmitido todo o conselho de Deus.

Precisamos hoje de líderes piedosos que verdadeiramente se preocupam com o que nos leva a
avançar em Cristo.

7. Bons líderes são pastores


Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.
Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão
o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para
arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos,
noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um (At 20.28-31).

Paulo exortou os presbíteros sobre a importância de apascentar suas ovelhas que Deus confiou
em seus cuidados. Nesse texto, Paulo usa três palavras para definir o ministério: presbítero, bispo
e pastor. Paulo sabia que o sucesso da obra dependia daqueles líderes. Se o que fazemos morrer
conosco, então nossa missão falhou aqui na terra.

Sucesso não é o que você faz, mas quando você leva seus liderados ao sucesso. Na exortação aos
presbíteros, nos versos 28 a 31, encontramos algumas verdades fundamentais:
 Os pastores são constituídos pelo Espírito Santo. Possuem uma vocação celestial.
 Eles foram constituídos bispos, ou seja, guardiães do rebanho. Deveriam vigiar o reban-
ho contra os lobos de fora e de dentro (v. 29,30).
 Foram encarregados de pastorear, ou seja, cuidar, alimentar, curar, proteger, dar repouso,
segurança às ovelhas de Deus.
 Eram responsáveis por todo o rebanho, toda a igreja local, cada ovelha (Ez 34.1-6).]
 Não eram donos da igreja. Ela é de Deus. Eram apenas mordomos, não proprietários.
 Devem saber que cuidam de vidas muitos caras para Deus. Ele comprou cada ovelha
com o preço do sangue de Jesus.

8. Bons líderes direcionam as pessoas para a Palavra de Deus


Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos
edificar e dar herança entre todos os que são santificados (At 20.32).
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 73

Um dos sinais do mover de Deus em Éfeso era o crescimento da Palavra de Deus. Nós somos
ministros e servos da Palavra. Sem a Palavra, não podemos ter ministério. Os grandes desper-
tamentos começaram quando o povo voltou-se para a Palavra: Ezequias, Josias, Esdras, Atos 2,
Ezequiel 37, Éfeso, Tessalônica e a Reforma século XVI.

9. Bons líderes trabalham duro


De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos
serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostra-
do em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras
do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber (At 20.33-35).

O ensino de Paulo não é que o obreiro não possa receber um salário da igreja. Na verdade,
ele ensina enfaticamente que aqueles que pregam o evangelho devem viver do evangelho.
Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho
(1 Co 9.14).

O que Paulo está mostrando é que bons líderes trabalham duro e não usam do evangelho para
ganhar dinheiro. O trabalho ministerial não é como uma carreira profissional secular, nosso alvo
é cumprir uma missão dada por Deus, e não enriquecer.
Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que pre-
sidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino (1 Tm 5.17-18).

10. Bons líderes são compassivos


Tendo dito estas coisas, ajoelhando-se, orou com todos eles. Então, houve grande pran-
to entre todos, e, abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam, entristecidos especialmen-
te pela palavra que ele dissera: que não mais veriam o seu rosto. E acompanharam-no até
ao navio (At 20.36-38).

Observe a reação dos irmãos à palavra de Paulo. Paulo os amava e se preocupa com eles. Essas
pessoas eram amadas e cuidadas, por isso elas choraram, abraçaram e beijaram Paulo. Isso nos diz o
que o ministério de Paulo significava para essas pessoas. Precisamos de líderes que façam muita falta.
74 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja
Capítulo

11
O uso da autoridade

Quanta ferida tem sido feita ao corpo de Cristo nestes dias por causa de práticas não bíblicas
de autoridade e submissão ensinadas por alguns. Tais ensinos têm conduzido muitos a cometerem
abusos que têm causado uma tremenda perda para o povo de Deus.

Precisamos ter cuidado com extremos. Verdades bíblicas podem ser levadas a extremos, e
quando isso acontece, elas têm o poder de destruir vidas. Não fomos chamados para manipular
as ovelhas ou controlar suas vidas. Precisamos, sim, exercer autoridade, mas com amor e dentro
dos limites estabelecidos por Deus. Por causa da estrutura de células, tem-se exercido muita
autoridade e, associada à atual visão de discipulado, o que vemos são pastores que se tornaram
donos de seus discípulos.

Neste tempo de muitos bispos e apóstolos, alguns têm caído em erros que poderão ser fatais
para seus ministérios. O que vemos são líderes que buscam ser servidos e vêm de servir seus dis-
cípulos; líderes que manipulam e controlam a vida de seus liderados, atuando como autoridade
em áreas que Deus não lhes autorizou. É tempo de buscarmos equilíbrio. Não exercer autoridade
no corpo é pecado, mas exercê-la de forma extrema é um pecado maior ainda.

A palavra “autoridade” deriva de “autor”. Tem autoridade quem faz de acordo com o autor.
Sabemos que Deus é o autor de tudo. Assim, nossa autoridade procede d’Ele. Se a exercemos
erradamente, o autor poderá nos desautorizar.
76 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Ralph Mahoney menciona que existem sete níveis de autoridade na Palavra de Deus. Os três
primeiros são prerrogativas exclusivas de Deus e os outros quatro são exercidos pelos seus ministros:

a) autoridade soberana;

b) autoridade da Palavra de Deus;

c) autoridade da consciência;

d) autoridade delegada;

e) autoridade funcional;

f ) autoridade dos costumes e tradições;

g) autoridade dos contratos.

1. Autoridade soberana
É o maior nível de autoridade. É a autoridade imperial. Este nível nunca é questionado ou
desafiado. É absoluto e infalível. Essa autoridade pertence somente a Deus. Todavia, algumas
igrejas e denominações se apropriam dessa autoridade soberana, mas não há nenhuma base
bíblica para que qualquer ser humano exerça tal autoridade.

Isaías 14.12-14 nos mostra que essa era a ambição de Lúcifer, mas apenas Cristo recebeu a
autoridade soberana (Ef 1.16-22). Assim, qualquer pessoa que coloca sua unção no nível de
ser inquestionável e infalível está assumindo uma posição de anticristo. Ser anticristo não é ser
contra Cristo, mas tentar tomar o Seu lugar.

Jesus disse em Mateus 24.5 que “virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e
enganarão a muitos”. Observe que essas pessoas não virão dizendo que são o Cristo, elas não
são falsos Cristos. Na verdade, Jesus disse que elas viriam em Seu nome. Não haveria o menor
sentido alguém chegar e dizer: “Eu estou aqui em nome de Cristo para dizer que eu sou o
Cristo”. Não foi isso que Jesus disse. Ele disse que pessoas viriam dizendo: “Eu estou aqui em
nome de Crist, portanto, minha autoridade é igual à d’Ele, e tudo o que eu disser vocês devem
aceitar como se fosse o próprio Cristo falando”.

Pode parecer loucura, mas eu tenho ouvido pastores dizendo isso. Muitos dizem que aquilo
que eles pregam na unção tem uma autoridade inquestionável e final. Já ouvi pastores afirma-
rem que, por estarem ali em nome de Jesus, era como se o próprio Senhor estivesse falando. Por
mais unção que tenham, essas pessoas não possuem a autoridade soberana do Senhor. Não há
nenhuma autoridade na igreja a quem o cristão tenha que prestar obediência inquestionável.
Submissão inquestionável só a Deus.

2. Autoridade da Palavra de Deus


O segundo nível de autoridade é o da Palavra de Deus, a autoridade da verdade. Paulo disse
em 2 Coríntios 13.8 que “nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade. A
verdade é a Palavra de Deus e Sua Palavra expressa aquilo que Ele é e aquilo que Ele diz. Assim, a
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 77

Bíblia está colocada na terra com a autoridade da verdade. Ela é a verdade. Ela foi inspirada pelo
Espírito de Deus e é inerrante (2 Tm 3.16).

Precisamos sempre nos lembrar do que os pais da Reforma disseram. Primeiro, afirmaram que
nada contrário às Escrituras pode ser verdadeiro. Não podemos aceitar nada contrário à Palavra
de Deus, não importa quem esteja falando. Nessa época de tantos títulos e posições, ninguém tem
autoridade para falar algo diferente da Palavra de Deus e desejar ser reconhecido.

Ouvi outro dia um pastor (na verdade, ele foi promovido recentemente para outra função)
dizendo que Paulo havia dito algo, mas que ele discordava. Não há nenhum pastor (ou quem
quer que seja) que tem autoridade para discordar de Paulo ou de qualquer um dos apóstolos. Essa
situação é particularmente comum no meio pentecostal.

Certa vez, um profeta se levantou e disse que Deus iria mandar lepra sobre o seu povo infiel.
Lembrei-me do que Jesus dissera aos filhos do trovão que queriam mandar vir fogo do céu para
consumir os incrédulos. Ele disse: “Não sabeis de que espírito sois” (Lc 9.55). Na mesma hora,
confrontei o profeta e lhe disse que aquilo era contrário à Palavra de Deus, ao que ele simples-
mente retrucou: “Não sei se está escrito, mas Deus falou”. Para ele, a Palavra de Deus podia
simplesmente ser ignorada. Cuidado com os que assumem a posição de possuírem autoridade
igual à da Palavra de Deus.

A segunda coisa que os reformadores disseram foi que nada que seja acrescentado às Escrituras
pode ser obrigatório. Existem muitas tradições evangélicas até louváveis, mas por não estarem na
Palavra de Deus, não podem ter a mesma autoridade.

O terceiro princípio dos reformadores é que todo crente é livre para pesquisar as Escrituras e
checar a verdade. Os crentes de Beréia são um bom exemplo. Atos 17.10-11 diz que eles checa-
vam as Escrituras para ver se tudo o que os apóstolos estavam ensinando estava, de fato, escrito.
Eles reconheceram que as Escrituras tinham maior autoridade que os apóstolos. Precisamos sem-
pre nos lembrar de que a Bíblia é autoridade final de fé e prática (Gl 1.8).

3. Autoridade da consciência
Todo homem é capaz de distinguir entre o certo e o errado, mesmo os incrédulos e ímpios. A
base para tal conhecimento é que todos nós sabemos o que não queremos que os outros façam
contra nós. Assim, a conclusão óbvia é que sabemos o que não devemos fazer com os outros. Isso
é chamado de consciência.

Precisamos ter muito cuidado para não ferir a consciência dos outros, pois Paulo diz em 1
Coríntios 8:12 que “pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra
Cristo que pecais”. Todas as vezes que resolvemos ir contra a nossa consciência, a Palavra de Deus
nos diz que pecamos. A consciência, portanto, é um nível de autoridade sobre nós e não podemos
desodecer ou ignorá-la de forma alguma.

Homem algum, nem pastor ou apóstolo tem o direito de exigir de outro algo que vá
contra sua própria consciência. Um marido não pode forçar sua esposa a práticas sexuais que
ofendam a consciência dela. Um pastor não pode impor uma prática a uma ovelha se aquilo
vai contra a consciência daquela ovelha. Um governante não pode impor ao povo leis que
vão contra a consciência deles.
78 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Esses três tipos de autoridade são os mais elevados, e deles podemos concluir que nenhum
homem, seja a igreja ou o Estado, tem o direito de ordenar que você desobedeça a Deus, à Bíblia
e à sua própria consciência. Esses três níveis de autoridade são prerrogativas exclusivas de Deus.

4. Autoridade delegada
Os próximos quatro níveis de autoridade são reservados aos homens: a autoridade delegada, a
autoridade funcional, a autoridade dos costumes e a autoridade dos contratos.

A autoridade delegada é o nível da autoridade exercida pelos líderes da igreja, pelos gover-
nantes, pelos pais dentro da família e pelo marido sobre a esposa. Quando essa autoridade (ou
governo) é bem exercida, o resultado será o que está em Romanos 14.17: o governo de Deus
sempre traz justiça, paz e alegria no espírito.

Os líderes da igreja possuem autoridade delegada por Deus. Somos seus embaixadores, seus
representantes. Como tais, devemos exercer nossa autoridade não como dominadores do reban-
ho, mas nos tornando modelo (1 Pe 5.3).

Nossa autoridade pertence a Deus e por Ele nos foi delegada. Se esperamos submissão do
rebanho, precisamos ter a atitude de Cristo: a de dar a vida pelas ovelhas. Jesus disse que o bom
pastor dá a vida pelas ovelhas (Jo 10.11). Quando as ovelhas encontram pastores dispostos a dar
a vida por elas, naturalmente se disporão a obedecer-lhe.

A autoridade delegada não é igual à daquele que a delegou. Nossa autoridade é limitada.
Quando um governador manda alguém representá-lo em alguma cerimônia, tal represen-
tante é uma autoridade delegada, mas seria um absurdo pensar que tal pessoa agora pode
fazer tudo como se fosse o próprio governador. A autoridade dele é limitada à missão e à
responsabilidade que recebeu.

A autoridade delegada procede dessa responsabilidade. Pelo fato de ter responsabilidade pela
minha esposa e filhos, então tenho autoridade sobre eles. Eu não tenho autoridade na casa do
vizinho, porque não tenho responsabilidade por eles. Minha autoridade é circunscrita ao meu
chamado e àqueles por quem sou responsável diante de Deus.

A autoridade delegada nunca pode ir além de sua responsabilidade. O limite de nossa autori-
dade é, portanto, nossa responsabilidade. Nunca vai além dela. O inverso também é verdadeiro:
quando deixamos de assumir a responsabilidade, perdemos a autoridade.

5. Autoridade funcional
A autoridade funcional é, muitas vezes, a base para estabelecermos a autoridade delegada. A
autoridade funcional provém da habilidade, competência, experiência e treinamento.

No momento do ensaio, o líder de música é autoridade por causa de sua habilidade e trein-
amento. O pastor, mesmo sendo uma autoridade delegada e, portanto, estando em um nível
superior, precisa se submeter a ele nessa situação. O médico é autoridade dentro do seu con-
sultório. Se alguém não deseja obedecer à prescrição médica, não deveria fazer uma consulta.
O médico é uma autoridade funcional, e ignorá-lo poderia ser considerado rebeldia.
Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja 79

O pastor deveria se submeter dentro da igreja aos engenheiros na questão de construção, aos
médicos na questão de saúde, e assim por diante. Não que os pastores deixem de ser autoridade,
mas eles reconhecem a autoridade funcional. Da mesma forma, um marido deveria se submeter à
sua esposa naquilo em que ela possui mais habilidade, treinamento ou experiência que ele, ainda
que ele mesmo não deixe de ser autoridade sobre ela.

6. Autoridade dos costumes


A autoridade dos costumes e tradições se estabelece quando foi provado, através dos anos,
que certo costume é para o bem comum e é aceito por todos. Paulo apela para a autoridade dos
costumes em 1 Coríntios 11, quando fala da questão do véu.

Uma igreja ou liderança não pode ignorar os costumes de uma localidade ou comunidade. Se
foi provado que certo costume é um benéfico, então ele deve ser preservado. Todavia, a autoridade
dos costumes é sujeita a todos os níveis anteriores de autoridade. Se um costume anula a Palavra
de Deus, ele deve ser ignorado e até combatido. Jesus disse em Mateus 15.3 que os fariseus in-
validavam a Palavra de Deus por causa das tradições. Assim, é possível que existam tradições que
anulem a autoridade da Palavra de Deus, e, nesse caso, devem ser combatidas. Mas, na maioria
dos casos, costumes e tradições podem ser respeitados.

7. Autoridade dos contratos


Esta é a autoridade da lei. Ela pode ser observada nos contratos e acordos legais. A sociedade é
regida por esse nível de autoridade. Existem leis de todos os tipos para todo tipo de situação. Se
ignoramos as leis, estamos pecando contra Deus. Mas as leis precisam também estar sujeitas aos
níveis anteriores de autoridade.

Uma lei não pode proibir aquilo que Deus ordena. Os apóstolos foram proibidos de pregar o
nome de Jesus; eles, porém, desobedeceram. Fizeram isso porque a autoridade de Deus e da Sua
Palavra é superior às leis e contratos humanos.

Por outro lado, uma lei não pode autorizar aquilo que é contrário à Palavra de Deus. Por
exemplo, ainda que a lei autorize o aborto, nós não praticamos, porque primeiro obedecemos à
Palavra de Deus. Apesar de ser algo natural, a Lei Civil em sua origem é divina. Paulo disse, em
Romanos 13, que essa autoridade foi também constituída por Deus e procede d’Ele.

Para concluir, dizemos que uma igreja ou nação levanta-se ou cai com sua liderança. A lid-
erança que você seguir determinará o que ou quem você é. Assim, nosso cuidado como líderes,
pastores, bispos ou apóstolos precisa ser grande, pois nossa liderança sobre outros determinará
como eles serão e quem serão.

O povo pode sofrer consequências de nossos pecados e erros. Veja o exemplo de Davi em 1
Crônicas 21.1-8. Ele pecou fazendo o recenseamento da nação, mas todo o povo sofreu. O peca-
do foi dele sozinho, mas a disciplina veio sobre milhares. Por outro lado, por causa da fidelidade
do líder, todo o povo pode ser salvo. Veja o exemplo de Moisés em Êxodo 32.30-35. Todo o povo
havia pecado adorando o bezerro de ouro, mas, por causa de Moisés, todos eles foram salvos.
80 Eclesiologia – Base na V i n h a - O G o ve r n o da Igreja

Uma das coisas sérias a respeito de exercer autoridade é que o crescimento espiritual do povo
é limitado pela liderança. O líder é o limite do povo. Se estamos debaixo de uma liderança pobre
em Deus, teremos poucas chances de crescimento. A maioria das pessoas não irá além do nível do
seu líder. Para que a igreja possa crescer, o líder tem de crescer antes. Se a igreja precisa mudar, os
líderes devem mudar primeiro.

Israel foi condenado a vagar pelo deserto por causa da sua liderança, os doze espias. Por causa
daqueles dez homens incrédulos, todo o povo, cerca de 3 milhões, foi contaminado e condenado
a vagar pelo deserto. Por isso, a advertência da Palavra de Deus é muito séria aos líderes: “Não vos
torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo (Tg 3.1).

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