Aula 29 de Soldagem - Comportamento em Serviço de Juntas Soldadas

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Soldagem

Prof. Me Carlos Eduardo Reis de Carvalho


Descontinuidades comuns em soldas.
Tipos de descontinuidades

Descontinuidade é considerada como uma interrupção ou uma violação da estrutura


típica ou esperada de uma junta soldada.

Descontinuidades Descontinuidades
dimensionais Propriedades
estruturais
inadequadas
• Distorção • Porosidades
• Dimensões incorretas • Propriedades
• Inclusões de mecânicas
da solda
• Perfil incorreto da
tungstênio • Propriedades
solda • Falta de fusão químicas e
• Falta de penetração • Outras
• Mordedura
• Trincas e
• Outras
Descontinuidades dimensionais

São inconformidades nas dimensões ou forma dos cordões de solda. Sua gravidade varia
com a magnitude e a aplicação, ou processamento posterior que a peça soldada vai ser
submetida.

Distorção

Distorções básicas: (a) Contração transversal, (b) contração longitudinal e (c) distorção
angular.
Dimensão incorreta da solda

No projeto de uma estrutura, as dimensões das soldas são especificadas de modo a atender a
algum requisito, por exemplo, resistência mecânica à tração. Dimensões fora das tolerâncias
admissíveis configuram defeitos de soldagem, uma vez que a solda deixa de atender a esses
requisitos. As dimensões de uma solda são verificadas, em geral, numa inspeção visual, com o
auxílio de gabaritos.

Cálibre de solda.
Perfil incorreto de solda.

Exemplos de perfis de soldas inadequados


(esquemático).

Formato incorreto da junta

Desalinhamento em junta de topo.


Descontinuidades estruturais

São descontinuidades na micro ou macroestrutura na região da solda, associadas à falta


de material ou à presença de material estranho em quantidades apreciáveis. Sua
gravidade depende do tipo de descontinuidade, sua extensão e geometria.

Porosidades

Formas de porosidade: (a) distribuída, (b) agrupada, (c) alinhada e (d) vermicular
(esquemática).
Inclusões de escória

Inclusão de tungstênio

Este tipo de inclusão ocorre na soldagem com o processo TIG, quando a ponta do
eletrodo toca o metal de base ou a poça de fusão, em especial, na abertura do arco sem
ignitor de alta frequência, ocorrendo a transferência de partículas de tungstênio para a
solda.
Falta de fusão
Falta de penetração

Mordeduras
Trincas

Classificação do tipo de fissuração de acordo com a localização da trinca: (1)


Fissuração na cratera, (2) fissuração transversal na ZF, (3) fissuração transversal
na ZTA, (4) fissuração longitudinal na ZF, (5) fissuração na margem da solda, (6)
fissuração sob o cordão, (7) fissuração na linha de fusão e (8) fissuração na raiz
da solda.
Trinca no centro do cordão
formada entre uma chapa
de aço baixo carbono de
9mm de espessura e um
pino de aço SAE 1045.
Ataque: Nital 10%.

Microtrincas de solidificação na ZF de
uma liga Fe-Mn-Al-Si-C. 200x.

Formação de trincas de solidificação


em (a) cordões côncavos em soldas de
filete, (b) cordões côncavos em passe
de raiz, (c) soldas de topo com elevada
razão penetração/largura e (d) em
cordões em forma de sino.
Outras descontinuidades estruturais

Citam-se, ainda, como descontinuidades estruturais: furos na junta, cordões de


aspecto irregular etc.

Propriedades inadequadas

As soldas pertencentes a um dado equipamento ou estrutura soldada devem


possuir propriedades mecânicas (e, em alguns casos, propriedades químicas,
elétricas etc.) bem determinadas.

Propriedades mecânicas

Entre as propriedades mecânicas que podem ser avaliadas incluem-se: resistência à


tração, limite de escoamento, ductilidade, dureza e resistência ao impacto.
Propriedades químicas

A resistência à corrosão da solda deve ser avaliada para as aplicações em que esta
característica é indispensável.

Exemplo de um problema de
corrosão preferencial da solda
observado em uma tubulação de
aço baixo carbono. (a) Esquema e
(b) micrografia com 100x de
aumento.
Efeitos mecânicos do ciclo térmico

A soldagem, particularmente nos processos por fusão, é caracterizada por um


aquecimento localizado das peças, permanecendo o restante destas em temperaturas
muito inferiores. Ex.: tensões residuais.

As tensões residuais podem provocar: flambagem, falha por fadiga, corrosão sob
tensão, fratura frágil formação de trincas em soldas e/ou instabilidade dimensional.
O nível de tensões residuais em uma junta soldada pode ser diminuído reduzindo-se a
quantidade de calor fornecido à junta ou a quantidade de metal depositado.

(a) Conjunto de barras presas nas


extremidades. (b) Barra central sendo Distorção localizada causada por uma pequena solda
aquecida. entre chapas de aço inoxidável.
Efeitos metalúrgicos do ciclo térmico

A solda e as regiões adjacentes a esta são submetidas a variações de temperatura cujos valores de
pico variam desde a temperatura ambiente até níveis próximos da temperatura de ebulição do
material. A soldagem apresenta peculiaridades como:
temperaturas elevadas,
curto tempo de duração,
elevada interação do metal fundido com suas vizinhanças,
presença de fluxos ou escórias complexas, etc.

Comparação entre as condições em um forno elétrico e a região do arco de soldagem. Adaptado.


Interação metal-gás

Gases monoatômicos ou inertes (argônio e hélio): São insolúveis e não reagem com os
metais líquidos. Não serão, portanto, considerados aqui.
• Gases diatômicos simples (N2, O2, H2, etc.): Em condições usuais podem se
dissociar na forma atômica na superfície do metal líquido e ser dissolvidos neste.
• Gases complexos (CO, CO2, H2O, SO2, etc.): São formados por espécies atômicas
diferentes, também podem se dissociar e ser incorporados na poça de fusão.

Interações metal-escória

Na soldagem a arco, os principais processos que utilizam escória são: SAW (arco
submerso), SMAW (eletrodo revestido) e FCAW (arame tubular). Além disso, existe
uma variante do processo GTAW (processo TIG ativado, ATIG) que utiliza uma fina
camada de um formado de escória colocado na superfície do metal base com o
objetivo de controlar a penetração do cordão de solda.

Seção transversal de cordões


depositados com a soldagem
GTAW convencional (a) e com
fluxo (b) em chapas de aço
inoxidável AISI304 de 5,0 mm
de espessura.
Formação da zona termicamente afetada

A formação desta região é influenciada basicamente pelas características do metal base e


pelos fatores que determinam o ciclo térmico de soldagem.

Influência do procedimento de soldagem

A energia de soldagem e a temperatura de pré-aquecimento são as variáveis do


procedimento de soldagem que mais facilmente podem ser alteradas para se controlar o
fluxo de calor em soldagem.

Efeito da energia de soldagem na


microestrutura (200x) da GGZTA
de um aço estrutural de baixo
carbono. (a) H = 10 kJ/mm,
microestrutura: martensita e
bainita e (b) H = 25 kJ/mm,
microestrutura: bainita.
Fragilização da zona soldada

A ZTA sofre alterações microestruturais mais ou menos pronunciadas que mudam a


sua microestrutura original. Estas alterações são relativamente descontroladas
podendo, portanto, prejudicar as propriedades no material nesta região.
FALHAS

O projeto de um componente ou estrutura exige, com frequência, que o engenheiro


minimize a possibilidade de ocorrer uma falha. Nesse contexto, é importante
compreender a mecânica das diferentes modalidades de falha - isto é, a fratura, a fadiga e
a fluência - além de se estar familiarizado com os princípios apropriados de projeto que
podem ser empregados para a prevenção de falhas durante o serviço.

Existem três maneiras genéricas segundo as quais um componente estrutural, ou


elemento de uma máquina pode deixar de cumprir as funções para as quais foi projetado:

1.Deformação elástica excessiva


2.Escoamento ou deformação plástica excessiva
3.Fratura

Para que se faça um bom projeto é importante ter-se conhecimento dos tipos mais
comuns de falhas possíveis de ocorrer, porque é sempre necessário relacionar as
cargas e dimensões do componente com alguns parâmetros de significância para o
material, que limita a capacidade do componente de suportar uma carga. A cada tipo
de falha associam-se parâmetros específicos de expressiva importância.
Em geral, dois tipos de deformação elástica excessiva podem ocorrer:
1.deflexão demasiada sob condições de equilíbrio estável, como no caso de uma viga sendo
gradualmente carregada;
2.deflexão ou flambagem repentinas, sob condições de equilíbrio estável.

O escoamento ou deformação plástica de um metal ocorre quando seu limite elástico é


ultrapassado. O escoamento causa uma mudança de forma permanente, fazendo com que o
elemento não funcione mais adequadamente.

A formação de uma trinca que pode ocasionar o rompimento completo da continuidade do


componente caracteriza a fratura. os metais falham por fratura de três maneiras:
(1) fratura frágil repentina;
(2) fadiga ou fratura progressiva;
(3) fratura retardada.
Fratura

A fratura simples é a separação de um corpo em duas ou mais partes em resposta à


imposição de uma tensão de natureza estática (i.e., que é constante ou que varia lentamente
ao longo do tempo) e em temperaturas que são baixas relativamente à temperatura de fusão
do material.

"Dúctil" e "frágil" são termos relativos: se uma fratura específica é de uma modalidade ou de
outra depende da situação. A ductilidade pode ser quantificada em termos do alongamento
percentual e da redução percentual na área. Adicionalmente, a ductilidade é função da
temperatura do material, da taxa de deformação e do estado de tensão.

Qualquer processo de fratura envolve duas etapas - formação e propagação de trincas em


resposta à imposição de uma tensão. O modo da fratura é altamente dependente do
mecanismo de propagação da trinca. A fratura dúctil é caracterizada por uma extensa
deformação plástica na vizinhança de uma trinca que está avançando. Para a fratura frágil,
as trincas podem se propagar de uma maneira extremamente rápida, acompanhadas de
muito pouca deformação plástica.
Figura 2 Estágios de uma fratura tipo taça e cone. (a)
Figura 1 (a) Fratura altamente dúctil onde a Empescoçamento inicial. (b) Formação de cavidades
amostra tem estricção até um único ponto. (b) pequenas. (c) Coalescência de cavidades para formar uma
Fratura moderadamente dúctil após alguma trinca. (d) Propagação da trinca. (e) Fratura final por
cisalhamento segundo um ângulo de 45º em relação à
estricção. (c) Fratura frágil sem qualquer
direção da tração.
deformação plástica.
Figura 4 (a) Fotografia mostrando
"marcas de sargento" em forma
de "V" que são características de
uma fratura frágil. As setas
indicam a origem da trinca.
Aproximadamente em tamanho
real. (b) Fotografia de uma
superfície de fratura frágil que
mostra nervuras radiais em
formato de leque. A seta indica a
origem da trinca. Ampliação de
Figura 3 (a) Fratura do tipo taça e cone no alumínio. aproximadamente 2X.
(b) Fratura frágil em um aço doce.
Figura 6 (a) Perfil esquemático de uma seção transversal
mostrando a propagação de uma trinca ao longo dos contornos
Figura 5 (a) Perfil esquemático de uma seção transversal de grãos em uma fratura intergranular. (b) Fractografia eletrônica
mostrando a propagação de uma trinca pelo interior dos por varredura mostrando uma superfície de fratura intergranular.
grãos em uma fratura transgranular, (b) Fractografia Ampliação de 50x.
eletrônica por varredura de um ferro fundido dúctil
mostrando uma superfície de fratura transgranular.
Ampliação desconhecida.

Figura 7 (a) Fractografia eletrônica por varredura mostrando


microcavidade esféricas, as quais são características de uma
fratura dúctil resultante de cargas de tração uniaxiais.
Ampliação de 3300x. (b) Fractografia eletrônica por varredura
mostrando microcavidades com formato parabólico, que são
características de uma fratura dúctil resultante da aplicação de
uma carga de cisalhamento. Ampliação de 5000x.
Mecânica da Fratura

A mecânica da fratura é a disciplina que trata do comportamento dos materiais que


contêm trincas e outras pequenas descontinuidades.

Figura 8. Um navio-tanque que fraturou de


maneira frágil pela propagação de uma
Figura 9 (a) A geometria de trincas superficiais e trincas
trinca ao redor do seu casco.
internas. (b) Perfil de tensões esquemático ao longo da
linha x-x em (a),. demonstrando o aumento da
extremidades da trinca.
Figura 11 Representações esquemáticas de
(a) uma trinca interna em uma placa com
largura infinita e (b) uma trinca na borda de
Figura 10 Ensaio de uma placa com largura-infinita.
tenacidade à fratura.

Figura 12 Os três modos de


deslocamento da superfície de uma
trinca. (a) modo I, modo de abertura
ou de tração; (b) modo II, modo de
cisalhamento e (c) modo III, modo de
rasgamento.
Figura 14 Dependência da energia de impacto Charpy com entalhe em "V"
(curva A) e da porcentagem de fratura por cisalhamento (curva B) em
relação à temperatura para um aço A283.

Figura 13 (a) Corpo-de-prova utilizado nos


ensaios de impacto Charpy e Izod. (b) Desenho
esquemático de um equipamento para ensaios
de impacto. O martelo é liberado de uma
altura determinada h e atinge o corpo-de-
prova; a energia consumida na fratura é
refletida na diferença entre h e a altura do
balanço h'. Também estão mostrados os Figura 15 Fotografia das superfícies de fratura de corpos-de-prova
posicionamentos dos corpos-de-prova para os Charpy com entalhe em "V" do aço A36 testados nas temperaturas
ensaios Charpy e Izod. indicadas (em °C).
Fadiga

A fadiga é a queda de resistência ou a fratura de um material devido a uma tensão


repetitiva, que pode ser inferior ou superior ao limite de escoamento. É um fenômeno
comum nos componentes sujeitos a carregamento dinâmico em automóveis, aviões, pás
de turbinas, molas, virabrequins e outros maquinários. Além desses, implantes
biomédicos, produtos de consumo como sapatos, que são constantemente submetidos a
tensões repetitivas sob a forma de tração, compressão, flexão, vibração e
dilatação/contração térmica, entre outros tipos de tensão, são suscetíveis a esse tipo de
fratura. Em geral, essas tensões estão abaixo do limite de escoamento do material.

Figura 16 A fadiga corresponde à fratura


frágil de uma liga após um total de N ciclos
sob uma tensão abaixo do limite de
resistência à tração.
Figura 17 Teste de fadiga.

Figura 18 Curva de fadiga típica. (Observe que é


preciso uma escala logarítmica para o eixo
horizontal).
Figura 19 Uma ilustração de como repetidas aplicações
de tensão podem gerar deformação plástica localizada
na superfície da liga, levando, por fim, a
descontinuidades agudas.

Figura 20 Superfície de fratura de uma falha por


fadiga que teve início num canto vivo de um rasgo
de chaveta de um eixo (1 X).
Figura 21 Superfície de fratura por fadiga. (a) Com
baixo aumento, as marcas de praia indicam fadiga
como o mecanismo de fratura. As setas indicam a
direção de propagação da trinca, cuja origem aparece
na parte inferior da fotografia. (b) Com grande
aumento, podem-se observar as estrias que se
formam durante cada ciclo do processo de fadiga
(aumento original de 1000x).

Figura 22 Representação de uma superfície de


fratura por fadiga em um eixo de aço, mostrando a
região de início, a região de propagação com marcas
de praia e a ruptura final monotônica que ocorre
quando o tamanho da trinca ultrapassa um valor
crítico para a tensão aplicada.
Figura 23 Superfície de fratura de um eixo rotativo
de aço que sofreu falha por fadiga. As nervuras de
marcas de praia são visíveis na fotografia.

Figura 24 Fractografia eletrônica por transmissão


mostrando estrias de fadiga no alumínio.
Ampliação desconhecida
Fluência

Figura 25 Cavidades de fluência formadas em


contornos de grãos de um aço inoxidável
austenítico (aumento original de 500x).

Corrosão sob tensão

Figura 26 Trincas intergranulares de


corrosão sob tensão, próximas à região
de fratura, como resultado do processo
de corrosão (aumento original de 200x).
Estudo de caso: MV Kurdistan

O MV Kurdistan após o
seu acidente. (a) Proa e
(b) popa.

(a) Popa do navio na doca


seca e (b) diagrama
esquemático do local em
que a falha se
iniciou. O círculo em (a)
indica a localização do
detalhe (b).
Até a próxima aula!

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