E-Book - 10 Monólogos Originais
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E-BOOK
10 MONÓLOGOS
ORIGINAIS
PARA TESTES DE
INTERPRETAÇÃO
A você que baixou esse e-book,
Ana Rosa
O MENSAGEIRO DO CAOS
Eu já nem sei mais o que falar pro meu pai. A gente não consegue
mais conversar... Ele me quer sentado do lado dele, de terno, todo
engomadinho, no escritório. Mas essa não é a minha vibe, saca? Sem
chance disso acontecer agora. Talvez daqui a uns 10 anos, quem sabe?
Mas, hoje? Hoje eu quero botar uma mochila nas costas e meter o pé
na estrada. Ir na direção que o vento estiver soprando...
Eu sei que isso vai criar uma crise lá em casa. Minha mãe vai quase
enfartar e meu pai vai se perguntar onde ele errou, vai dizer que eu
sou um millenial prepotente e que não quero nada da vida. Que seja!
Que eu seja mais uma vez o mensageiro do caos! Não vai ser fácil,
mas eu preciso dar esse passo pra me sentir vivo de novo. E vai ser
hoje... é, tem que ser! Não vou nem esperar pra ouvir o mimimi.
Depois do jantar, dou um beijo nos velhos, pego a minha mochila e
parto pra ganhar o mundo.
TEXTO 3
Não tem aquela frase lá, da gente ser a transformação que quer ver
no mundo. Então... eu to tentando ir por aí, mas é aos poucos, sem
exagero porque ninguém é de ferro. A questão da alimentação, por
exemplo. Tá difícil largar a carne vermelha! Ao menos eu já restringi,
só duas vezes por semana. Agora essa parada de leite vegetal pra mim
não dá, ainda. E a minha cervejinha de sábado eu ainda não vou
conseguir desapegar, não...
Não dá! Eu não trabalho mais nem um dia naquela espelunca! O cara
é um babaca, machista, racista, assediador e ainda por cima tem um
mau hálito que a gente sente quando ele entra no escritório. Minha
vontade era olhar na cara dele e dizer tudo que eu penso sobre ele!
Vomitar toda a minha repulsa a tudo o que ele representa! Mas, não.
Eu sou obrigada a rir daquelas piadas idiotas e ainda tenho que
almoçar todo dia com aquele miserável.
Até quando? Até quando eu vou ter que ficar passando pano pra esses
comportamentos que eu abomino? Às vezes eu acho que me falta um
pouco de ousadia. (PAUSA) Não, pra ser bem honesta, às vezes eu me
acho bem covarde mesmo, sabe? Pois é... eu sou uma cagona, não
tem outra explicação.
Tô levando, sim... de boa... não dava pra segurar mais. A gente já não
conseguia mais conversar direito, não estava se entendendo. Foi a
melhor coisa a fazer pra nós e pro Zé. Agora é bola pra frente,
reconstruir a vida, voltar pro mercado... ahahahah. Voltar pro
mercado... até parece.
Antes eu tenho que descobrir quem é esse cara. Pode parecer besteira
o que eu vou te falar, mas eu já não sei direito quais são os meus
gostos, quais são as minhas manias, os meus hábitos. Tudo se
mistura, sabe? Há tantos anos eu dormia com os pés enroscados nos
pés dela. A primeira noite em que dormi sozinho eu não sabia nem
em que posição ficar, você acredita? Acordar sem ter meu filho
pulando no meu pescoço e me chamando pra ir jogar bola... eu abri
os olhos e só conseguia chorar.
Quando meu filho mais novo saiu por essa porta com as malas na
mão, eu só conseguia pensar em uma coisa: eu vou passar os
próximos anos da minha vida em algum bingo decadente, vou me
inscrever em uma excursão para Foz do Iguaçu ou vou reservar uma
mesa nos jantares dançantes promovidos pela associação de
moradores do condomínio.
Por muito tempo isso foi tudo que eu quis. Que eles crescessem,
fossem independente. Que eu pudesse ter a minha vida, viajar,
encontrar meus amigos, tomar o meu vinho com tranquilidade sem
ouvir alguém gritar mãaaae a cada cinco minutos. Mas agora eu só
enxergo a solidão da casa vazia... e eu não sei o que fazer com essa
nova realidade. Eu não sei mais como me comportar como mulher
sozinha no mundo. Uma jovem senhora, uma jovem viúva...
Eu não quero ser daquelas sogras chatas que vivem pedindo pros
filhos darem logo um neto. Mas que alegria me daria ver essa casa
cheia de risadas de novo! Passar a manhã inteira preparando um
almoço pra família toda. Como é solitário cozinhar só pra mim.
Parece que a comida nem tem gosto de nada... tem hora que dá um
aperto no coração. Mas, olha, dá e passa, viu! Não é do meu feitio dar
espaço pra tristeza me pegar.
Eu criei esses dois moleques sozinha, passei muito aperto e eles hoje
são os meus maiores orgulhos! Mas é hora de buscar outros objetivos.
Eu vou sim jogar bingo com a mulherada do clube, vou amar
conhecer as Cataratas e já quero fazer umas aulinhas de dança pra
não ficar sentada nos bailinhos de dança. A vida é muito curta pra
ficar chorando pelos cantos. Eu quero é aproveitar o tempo que
ainda me resta. E eu vou fazer isso com muita disposição e um belo
sorriso no rosto.
TEXTO 8
Muita coisa me fazia ter medo de dar esse passo. O estereótipo todo
que existe, os julgamentos, medo da reação da família... até eu
começar a perceber que o preconceito estava dentro de mim. E
enquanto eu não lutasse pelo direito de ser quem eu sou de verdade,
de amar quem eu quiser, ninguém iria fazer isso por mim.
Sabe quem me salvou? A minha avó. Juro! Ela vinha aqui todo dia e
me contava as histórias do que ela passou quando saiu de casa com
três filhos pequenos porque não aguentava mais apanhar do meu
avô. Toda luta que ela travou pra criar três crianças sozinhas, pra
encontrar a felicidade de novo. Ela fala que se algum dia eu sossegar
com alguém, ela que vai levar as alianças no meu casamento. Ela me
dá esperança, me dá ânimo. Minha vozinha... foi ela que me pegou
pela mão e falou: "vamos! Eu tô do seu lado, sempre..."
TEXTO 9
Como assim, gente? Isso não pode estar acontecendo comigo! Não
pode! Eu tava vivendo meu sonho! Tava ganhando mais de 100
seguidores por dia, cada foto que eu postava dava pelo menos mil
likes em uma hora. Até publipost eu já tava sendo sondada pra fazer,
cara. Mais algumas lives e eu ia começar a ganhar dinheiro
real/oficial, você tem noção?!?
A net é cruel demais. Do mesmo jeito que te leva pro auge te joga na
lama de um segundo pro outro! Basta uma derrapada, uminha, e
puft! Seus fãs somem do dia pra noite e vem um monte de hater
destruir seu feed, cara! Destruir o trabalho de uma vida inteira.
Que sem noção esse povo! Eu preciso fazer alguma coisa urgente,
alguma ação pra lidar com a crise. Já sei! O clássico, vou gravar um
vídeo de camisa branca, básica, sem maquiagem pedindo desculpa e
dizendo que eu tô arrependida. Eu consigo chorar um pouquinho se
precisar. Depois eu preciso arrumar uma parada bombástica, pra
mudar o foco do assunto. Aí todo mundo vai esquecer o que eu fiz e
falar só do bafão.
Mas o quê, gente? O que que ninguém fez que possa fazer pra limpar
meu filme? Uma tatuagem nova com a frase de uma música em
inglês? Não, isso é muito básico. Uma jornada pelo mundo pra me
redescobrir? Seria lindo, hein... Mas só se for com Photoshop porque
eu ainda não tenho grana pra isso... (PAUSA) Já sei! Vou vazar uns
nudes. Funciona sempre. Claro! É assim que eu vou reconstruir
minha carreira de influenciadora digital e triplicar o número de
seguidores que eu perdi só hoje. Ai, gente! Como é que eu não pensei
nisso antes??
TEXTO 10