A Elite Do Atraso Jesse de Souza
A Elite Do Atraso Jesse de Souza
A Elite Do Atraso Jesse de Souza
DO ATRASO
A ELITE
DO ATRASO
DA E S C R AV I DÃO À L AVA J AT O
Preparação de originais
Maria Clara Antonio Jeronimo
Revisão
Bárbara Anaissi
Diagramação
Filigrana
S715e
Souza, Jessé
A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato / Jessé Souza. - Rio de
Janeiro: Leya, 2017.
Notas de fim
ISBN 978-85-441-0537-5
PREFÁCIO 7
NOTAS 235
E
ste livro foi pensado para ser uma leitura historicamente
informada da conjuntura recente brasileira. A crise brasileira
atual é também e antes de tudo uma crise de ideias. Existem
ideias velhas que nos legaram o tema da corrupção na política
como nosso grande problema nacional. Isso é falso, embora, como
em toda mentira e em toda fraude, tenha seu pequeno grão de
verdade. Nossa corrupção real, a grande fraude que impossibilita
o resgate do Brasil esquecido e humilhado, está em outro lugar e é
construída por outras forças. São essas forças, tornadas invisíveis
para melhor exercerem o poder real, que o livro pretende desvelar.
Essa é a nossa elite do atraso.
Para melhor cumprir meu objetivo, construí este livro sob a
forma de uma resposta crítica ao clássico Raízes do Brasil, de Sérgio
Buarque de Holanda, publicado em 1936. Como veremos, o livro
de Sérgio Buarque é, ainda hoje, a leitura dominante do Brasil,
seja na sua modernização em seus epígonos mais famosos, como
Raymundo Faoro, Fernando Henrique Cardoso ou Roberto DaMatta,
seja na sua influência ampla e difusa nos intelectuais de direita e
de esquerda do Brasil de hoje em dia. É a influência continuada
dessa leitura na cabeça das pessoas que nos faz de tolos.
O sucesso da empreitada de Sérgio Buarque se deve ao fato
de ele ter logrado, ao modo dos profetas das grandes religiões
A
primeira coisa a se fazer quando se reflete sobre um objeto
confuso e multifacetado como o mundo social é perceber
as hierarquias de questões mais importantes a serem
esclarecidas. Sem isso, nos perdemos na confusão. A questão do
poder é a questão central de toda sociedade. A razão é simples. É
ela que nos irá dizer quem manda e quem obedece, quem fica com
os privilégios e quem é abandonado e excluído. O dinheiro, que
é uma mera convenção, só pode exercer seus efeitos porque está
ancorado em acordos políticos e jurídicos que refletem o poder
relativo de certos estratos sociais. Assim, para se conhecer uma
sociedade, é necessário reconstruir os meandros do processo que
permite a reprodução do poder social real.
O exercício do poder social real tem de ser legitimado. Ninguém
obedece sem razão. No mundo moderno, quem cria a legitimação do
poder social que será a chave de acesso a todos os privilégios são os
intelectuais. Pensemos na Lava Jato e em sua avassaladora influência
na vida do país. A “limpeza da política” que o procurador Deltan
Dallagnol, o intelectual da operação, preconiza para o país é uma
mera continuidade da reflexão de Sérgio Buarque e Raymundo Faoro,
como veremos em detalhe mais adiante. Certamente Faoro não seria