TCC - Ensino de Física para Autistas
TCC - Ensino de Física para Autistas
TCC - Ensino de Física para Autistas
Florianópolis
2021
Lauren dos Santos da Costa
Florianópolis
2021
Ficha de identificação da obra
Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
“Licenciado em Física” e aprovado em sua forma final pelo Curso de Licenciatura em Física
________________________
Prof.ª Marinês Domingues Cordeiro, Dra
Coordenadora do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Henrique César da Silva, Dr.
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof.ª Renata Gomes Camargo, Dra.
Coorientadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof.ª Tatiana da Silva, Dra.
Avaliadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof.ª Luana Zimmer Sarzi, MSc.
Avaliadora
Universidade Federal de Santa Catarina
Este trabalho é dedicado aos alunos com deficiência que
conheci ao longo dos estágios na UFSC.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente à minha avó, Jupira, e minha mãe, Claciara que
foram as maiores incentivadoras da minha educação desde o momento em que nasci. Mãe,
obrigada pelos gibis da turma da Mônica desde quando eu nem sabia ler e pelo cursinho de
inglês que no começo eu ia contra minha vontade. Vó, obrigada por todas as aulas de reforço
que você dava para mim e minhas amigas no pátio da sua casa no ensino fundamental e por
me cobrar todos esses anos para que eu nunca parasse de estudar. Agradeço também a minha
bisa avó Porfiria (in memorian) que nos deixou neste ano, mas que se interessava em saber de
meus estudos mesmo com sua memória afetada pela idade. Certamente vocês são/foram as
mulheres mais importantes e influentes da minha vida.
Agradeço também a meu pai, por todo suporte nestes anos na universidade e ao
restante dos meus familiares que de uma forma sempre apoiaram a minha caminhada. Aos
meus amigos, principalmente Amanda, minha roommate e melhor amiga que eu poderia ter
nessa vida. Minhas amigas distantes em quilometragens, porém perto no coração, Eduarda e
Juliane, que sempre pude contar nas batalhas que enfrentei durante a graduação. Alexandre,
meu grande amigo e colega de curso, sem você, chegar até aqui seria muito mais difícil.
Um agradecimento especial a minha amada Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), por proporcionar um ensino da melhor qualidade de forma gratuita. Aos
profissionais e professores que conheci nesta jornada que me impulsionaram a buscar
conhecimento. Em especial, meu professor e orientador Henrique, por aceitar este desafio
comigo. E também a professora Renata, por se juntar neste trabalho e compartilhar de seu
conhecimento sobre Educação Especial comigo.
Por fim, agradeço a todos que de alguma forma estiveram comigo ao longo de todas
as batalhas que enfrentei na graduação. Minha eterna gratidão.
RESUMO
Para que o ensino de física seja acessível a estudantes com necessidades educacionais
especiais (NEE), como alunos com transtorno do espectro autista (TEA), o currículo, a
maneira de ensinar e a comunicação devem passar por uma nova configuração. É desta forma
que a flexibilização curricular se torna necessária quando o intuito é trabalhar conhecimento
científico a estudantes com deficiência. Com este ideal, este trabalho foi desenvolvido a partir
de uma série de etapas que serviram para auxiliar na elaboração de uma proposta final de
atividade para o ensino de termodinâmica a um estudante com TEA em uma disciplina de
estágio. Primeiramente foi observada uma sequência de encontros no atendimento
educacional especializado (AEE), onde pode conhecer mais sobre a realidade do professor de
educação especial, assim como sobre aluno com TEA. Com isso, começou-se a pensar em
formas de se ensinar física para este estudante e foi elaborada uma proposta inicial. A partir
desta proposta, surgiram sugestões da professora de educação especial, da professora da
disciplina e do orientador do estágio. Com a nova atividade revisada elaborada, notou-se a
necessidade de detalhar a proposta em um plano de aula com uma atividade flexibilizada. Ao
longo das modificações e alterações de planejamento, ficam cada vez mais claro os desafios e
possibilidades no ensino de física para estudantes com TEA não verbais. Com isso, também
foi percebido que a carência de material didático, a comunicação e a pouca experiência com
alunos com NEE são fatores que dificultam a vida do professor quando se planeja uma aula
inclusiva. Porém, estas dificuldades são contornadas devido ao trabalho em conjunto e a troca
entre o professor de física e o professor de educação especial.
In order for the teaching of physics to be accessible to students with special educational needs
(SEN), such as students with autism spectrum disorder (ASD), the curriculum, the way of
teaching and communication must undergo a new configuration. It is in this way that the
curricular flexibility becomes necessary when the intention is to work scientific knowledge to
students with disabilities. With this ideal, this work was developed from a series of steps that
served to assist in the elaboration of a final activity proposal for the teaching of
thermodynamics to a student with ASD in an internship subject. First, a sequence of meetings
was observed in the specialized educational service (SES), where was known more about the
reality of the special education teacher, as well as about students with ASD. With that, start up
to think about ways to teach physics to this student and an initial proposal was elaborated.
From this proposal, suggestions came from the special education teacher, the subject teacher
and the internship supervisor. With the new revised activity developed, it was noted the need
to detail the proposal in a lesson plan with a flexible activity. Throughout the planning
changes, the challenges and possibilities in teaching physics for students with non-verbalized
ASD become increasingly clear. With this, it was also noticed that the lack of teaching
material, communication and little experience with students with SEN are factors that make
life difficult for teachers when planning an inclusive class. However, these difficulties are
overcome by working together and the exchange between the physics teacher and the special
education teacher.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 15
1.1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 17
2 DESENVOLVIMENTO ...................................................................................... 18
2.1 A inclusão de pessoas com tea na educação .......................................................... 18
2.1.2 Direito ao conhecimento e a inclusão escolar dos estudantes com TEA ......... 23
3 METODOLOGIA ................................................................................................ 29
3.1 CARACTERIZAÇÃO ........................................................................................... 29
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS................................................................................................... 44
1 INTRODUÇÃO
educacional especializado (AEE), jovens com deficiência tiveram mais acesso a ensino de
qualidade nas escolas públicas. Pois como reiterado por Araújo, Oliveira e Lima (2017, p. 4):
todas as crianças e jovens com necessidades especiais devem estudar na escola regular. Até
então, muitos estudantes se limitavam à aprendizagem que recebiam nas APAEs, a qual é de
suma importância para o aumento da sua qualidade e vida. Porém, atualmente é indiscutível o
fato de que a população juvenil deve estar incluída no ambiente escolar.
O trabalho dos professores de Educação Especial dentro dos AEEs é de fato o pilar
para que o aluno com TEA adquira conhecimento. Este profissional trabalha
colaborativamente com os demais professores do ensino regular para ceder ajuda com
diferentes propostas e materiais que auxiliem na compreensão do aluno com deficiência
(Araújo, Oliveira e Lima, 2017). O professor de física deve ter contato direto com este
educador para desenvolver suas aulas visando à inclusão de seu aluno com TEA. É ele quem
saberá a melhor forma de trabalhar determinada temática dentro das limitações do estudante.
“A adaptação curricular é um instrumento útil que auxilia o trabalho docente e sua prática
pedagógica diária, ajustando o currículo oficial da escola às peculiaridades dos alunos,
beneficiando seu desenvolvimento pessoal e social” (BERETA e GELLER, 2019, p. 3).
A comunicação entre o professor e o aluno com TEA muitas vezes se torna uma
barreira para a transmissão de conhecimento. Para que a acessibilidade ao conhecimento se
concretize para estes estudantes, muitos precisam contar com outra forma de se expressar.
Desta maneira que são utilizadas as Tecnologias Assistivas (TA), como e a Comunicação
Aumentativa e Alternativa (CAA). Para Moreira (2009, p. 20): “o conhecimento acerca de tais
recursos e a capacitação de docentes para utilização pedagógica dos mesmos é imprescindível
aos processos de inclusão escolar”. Pois essas tecnologias tendem a definir as diferentes
formas de comunicação conforme as necessidades do estudante (Avila, 2011).
Deste modo, levando em consideração todas as barreiras e etapas mencionadas para
se ensinar um estudante com TEA, este trabalho buscou refletir sobre e propor uma atividade
de física inclusiva para um aluno com TEA não verbal. Espera-se que os resultados obtidos
contribuam para que o estudante aprenda sobre fenômenos físicos efetivamente, além de
favorecer professores de física em formação.
17
1.1 OBJETIVOS
2 DESENVOLVIMENTO
1
Kanner, L. (1943). Autistic disturbances of affective contact. Nervous Child.
2
Rutter, M. (1978). Diagnosis and definitions of childhood autism.
19
desenvolvimento;
- Incapacidade de demonstrar prazer em determinado fato ou objeto para terceiros;
- Deficiência em reciprocidade social ou emocional.
Comunicação
- Carência no desenvolvimento da fala ou incapacidade na linguagem oral (sem levar em
consideração gestos expressivos);
- No caso de pessoas em que a fala foi desenvolvida, incapacidade de manter uma
conversação;
- Uso estereotipado e repetitivo de linguagem que de distingue da considerada “normal”;
- Ausência de atividades imaginárias como brincadeiras e jogos.
Padrões de comportamento
- Insistência em certos padrões estereotipados e restritivos de interesses que resultam
anormais, tanto em intensidade quanto objetivo;
- Forte tendência a manter rotinas ou rituais determinados sem muita funcionalidade;
- Maneirismos corporais típicos e frequentes (como mexer muito com as mãos, dedos e
outros movimentos complexos);
- Preocupação persistente com partes de objetos.
Fonte: APA (2003)
que vão crescendo, as diferenças se tornam casa vez mais aparentes. (BARCELAR;
NASCIMENTO, 2018)3.
Com isto, é visto que indivíduos com TEA não verbais se tornam um grande desafio
quando o assunto é comunicação, sendo o não desenvolvimento da habilidade da fala uma das
dificuldades. Assim como a presença ou não de deficiência intelectual.
O estudante com TEA para o qual se elaborou o plano de aula analisado neste
trabalho de conclusão de curso utiliza a CAA no celular, por meio do aplicativo gratuito Let
3
Disponível em: <https://www.eumed.net/rev/atlante/2018/04/linguagem-criancas-autista.html>.
Acesso em: 5 out. 2021.
4
Disponível em: https://www.ufrgs.br/ciencia/tecnologias-assistivas-utilizam-realidade-aumentada-
para-comunicacao-com-criancas-autistas/>. Último acesso: 6 out. 2021.
23
me talk. Neste aplicativo contém imagens as quais são utilizadas pelo discente para se
comunicar e realizar atividades.
A partir destas imagens pode-se personalizar a CAA para os usuários. Além disso, é
possível incluir novas imagens e/ou fotos para compor a CAA da pessoa que a utilizará.
Ainda são muito recentes as conquistas aos direitos conquistados pelas pessoas com
TEA. Foi somente com Lei Nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012 (Brasil, 2012), mais
conhecida como Lei Berenice Piana, que o autismo foi reconhecido como uma deficiência e
com isso instituiu-se a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA. Essa
lei, além de firmar o indivíduo com TEA como uma PcD para todos os efeitos legais, garante
o acesso à educação e ao ensino profissionalizante, à moradia, ao mercado de trabalho e à
previdência e assistência social (BRASIL, 2012).
É importante destacar que Berenice Piana é mãe de uma pessoa com TEA e teve que
lutar sozinha por muito tempo para que seu filho tivesse acesso a todos direitos como
qualquer outra criança e adolescente. Na década de 1990, quando seu filho ainda estava se
desenvolvendo, não havia acesso ao diagnóstico para autismo como temos hoje. Dessa forma,
5
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=pLIzvZAs2HY>. Último acesso: 8 out. 2021.
24
ela buscou por conta própria o tratamento e os direitos de seu filho. Reforçando assim, a
importância da figura materna no apoio ao crescimento da pessoa com TEA.
A importância dos pais e familiares na vida da PcD já é notável desde meados do
século passado no Brasil. Um forte exemplo disso foi o surgimento da primeira APAE em
dezembro de 1954, com o objetivo de ser uma instituição que prestasse apoio clínico e
terapêutico à deficientes intelectuais no país. No caso do TEA, a figura familiar é ainda mais
importante, pois a intervenção precoce (nos primeiros anos de vida) pode fazer toda diferença
no desenvolvimento global do autista (SILVA, p. 15, 2018).
No ponto de vista da educação, foram muitos os políticos, educadores, pais,
personalidades brasileiras que se identificaram com a educação de pessoas com deficiência e
que protagonizaram a história dessa modalidade de ensino (COLAÇO, p. 15, 2018). A
chamada “Educação Especial” se desenvolveu ao longo de diversas etapas ao longo dos anos
até chegar ao ponto da Educação Inclusiva que temos conhecimento hoje.
Com a Lei Nº 9.394, de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996) foram estabelecidas as
diretrizes e bases da educação nacional. O Art. 58 traz a Educação Especial como a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação (BRASIL, 1996). Os quais até 2013 eram considerados estudantes “portadores
de necessidades especiais”.
Apesar de esta Lei ter se tornado um marco na Educação Especial, conquistando
diversos significados dentro do ensino para PcD, na época ainda se pensava no conceito de
integração escolar. Esse termo trazia a ideia de que crianças e jovens com deficiência deviam
ser integrados no mesmo ambiente escolar que crianças sem NEE (Colaço, 2018). Dessa
forma, trouxeram-se estudantes deficientes para dentro do ensino regular (não
necessariamente a sala de aula comum), sem muito planejamento e a adaptação curricular
para se transmitir conhecimento a estes alunos.
Mesmo com a Declaração de Salamanca (1994), ainda antes em 1994, a inclusão
social e principalmente educacional estava longe ser o que conhecemos hoje (embora ainda
não seja o ideal). Apesar de ter servido de base para criação da LDB (1996) e diversos outros
documentos que asseguram o ensino inclusivo para crianças e jovens com NEE e leve em
consideração os diferentes tipos de inteligências, a educação especial ainda precisava se
consolidar no país.
25
Assim, Camargo e Bosa (2007), ressaltam que se a escola não atender com qualidade
os estudantes público-alvo da Educação Especial, de forma a exercer a sua inclusão, há um
desrespeito aos direitos legais de todas as pessoas. Pois a vida em sociedade acaba se
tornando limitada, uma vez que um grupo de indivíduos possui mais privilégios que outro
grupo no corpo social.
singularidades do espectro autista do seu aluno para desenvolver suas propostas de atividades.
Buscando assim, metodologias de ensino que favoreçam o aprendizado do estudante com
TEA. Segundo Camargo e da Silva (2020, p. 8):
atividades em grupo, se comunicar na linguagem acessível a ele e é claro fazer tudo isso
demonstrando paixão pela profissão e empatia por PcDs.
3 METODOLOGIA
3.1 CARACTERIZAÇÃO
presencial. No caso deste trabalho, a escola em que se desenvolveu o estágio foi o Colégio de
Aplicação (CA) da UFSC. De início foram observadas as aulas do segundo ano do ensino
médio, e decidimos acompanhar as atividades e o estudante com TEA no AEE para
enriquecer a experiência de realização do estágio.
Os AEEs realizados em forma de atividade pedagógica não presencial síncrona na
plataforma Moodle ocorriam todas as quintas-feiras às 13 horas e possuíam uma duração de
uma hora e meia. Nos encontros, a professora de Educação Especial realizava exercícios e
atividades de variadas disciplinas com o aluno. Houve tarefas em que contaram com a
presença do professor da disciplina e até mesmo colegas de turma. As práticas também
incluíam o acompanhamento da estagiária de acessibilidade que fazia a mediação das
atividades em conjunto com essa professora.
O estudante com TEA possuía 17 anos e frequentava o segundo ano do ensino
médio, mas desenvolvia maior parte de suas habilidades no AEE. Como já relatado, o aluno
utiliza apenas da linguagem não verbal para se comunicar, por meio do aplicativo para celular
Let Me Talk para responder com afirmação ou negação, através da CAA. Dessa forma, notou-
se uma barreira para o ensino-aprendizagem de conteúdos de física, se estes não fossem
adaptados. Porém, ao longo das observações e também participações nas aulas, foram
identificadas as diversas capacidades e inteligências que o aluno possuía e que deveriam ser
trabalhadas para uma aprendizagem efetiva.
Ao longo das diversas atividades observadas no AEE, verificou-se que o estudante
se identificava com tarefas manuais, com objetos que ele poderia manusear e também se
movimentar. Propostas que não exigiam muito movimento, costumavam a dispersar a atenção
do estudante, que acabava até perdendo o foco na aula. Quando desenvolvidos trabalhos em
que exigiam respostas como “sim” ou “não”, embora o aluno estivesse distraído muitas vezes,
quando chamado sua atenção ele voltava a responder as perguntas que a professora de
Educação Especial elaborava.
Ainda referente às interações de comunicação e expressão que o aluno possuía, era
notável que ele era capaz de compreender tudo que lhe era dito, se falado de forma acessível a
ele, por exemplo, utilizando frases curtas. Acredita-se que uma das barreiras para a
comunicação professor-aluno seja a questão da educação à distância em ambientes virtuais.
Porém, embora os encontros fossem todos virtuais, ficou evidente a forma como o estudante
interage com outras pessoas e sua própria família. Gestos, gritos, gemidos, posturas e olhares
eram uma das formas da comunicação não verbal realizada pelo aluno.
31
A atividade sugerida teve por objetivo que o aluno pudesse manusear e interagir com
o material para despertasse o seu interesse e curiosidade. Foi desenvolvida para que o fizesse
refletir sobre as questões que lhe seriam perguntadas através de seus sentidos. Pois como foi
observado, o aluno tem preferências por tarefas em que ele possa interagir.
Para que o aluno com TEA estivesse apto a desenvolver as tarefas propostas pela
atividade, foi necessária uma adaptação curricular. Porém, é importante ressaltar que a
adaptação curricular não quer dizer substituir uma tarefa por outra mais simples que não tenha
relação com o conteúdo, mas sim, torna-la acessível aos saberes do estudante com deficiência
(TRUDA, 2012). Dessa forma, o desenvolvimento inteiro das propostas de atividades foi
pensado inteiramente nessa ideia de adequação de currículo. Assim, a adaptação curricular
busca abranger todos os estudantes com deficiência, de acordo com sua individualidade em
questão de tempo, gostos e velocidade na aprendizagem (SILVA e KUHLKAMP, 2020, p.
168).
Outra metodologia de ensino que foi inserida na última versão da proposta de
atividade foi o uso de simulações computacionais. Esta surgiu com o intuito de ensinar
conteúdos específicos de termodinâmica que causam muitas dúvidas aos estudantes em geral
e levam a uma compreensão equivocada do conhecimento científico em termodinâmica.
Conforme Carraro e Pereira (2014, p. 10):
Muitas vezes em nosso trabalho docente, nos deparamos com situações em que é
difícil ou até mesmo impossível representarmos os fenômenos abordados quando
trabalhamos alguns conteúdos da Física [...] os simuladores possibilitam aos
estudantes vivenciarem essas diferentes representações dos fenômenos físicos,
confrontando com a teoria estudada. (CARRARO e PEREIRA, 2014, p. 10).
É importante entender que no caso do estudante com TEA a simulação serviria para
ilustração e visualização do conteúdo de física. Seria com a mediação da professora de
Educação Especial e/ou estagiária que ele seria capaz de usufruir a simulação computacional,
uma vez que se tornaria muito difícil e inacessível que ele mesmo interagisse com o
simulador. Assim, mais uma vez, foi flexibilizada outra metodologia de ensino para que o
aluno com TEA consiga se aproximar do conhecimento científico.
O planejamento de aula surgiu com intuito de concretizar todo desenvolvimento e as
modificações realizadas ao longo das três versões de propostas de atividade feitas no decorrer
33
da experiência. Ele se tornou a versão final, qualificada e acessível de uma aula de física
planejada para um estudante com TEA não verbal.
34
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta sessão do trabalho apresento uma reflexão de forma detalhada das diversas
etapas e mudanças feitas na proposta de atividade, até se chegar ao plano de aula final. Dessa
forma, as fases em que se desenvolveram as atividades flexibilizadas para o aluno com TEA,
foram:
• A primeira versão de uma proposta de atividade sobre grandezas físicas
(apêndice A);
• A primeira versão de uma proposta de atividade sobre termodinâmica
(apêndice B);
• As sugestões da professora de Educação Especial referente à atividade de
termodinâmica (apêndice C);
• As sugestões e comentários da professora de física da escola referente à
atividade de termodinâmica e ainda comentários da professora de Educação
Especial (apêndice D);
• O plano de aula para o ensino de termodinâmica a um aluno com TEA não
verbal, desenvolvido pela autora (apêndice E).
Como os fenômenos térmicos são frequentes na vida dos humanos, é esperado que
as representações construídas pelos estudantes estejam carregadas por um
componente empírico muito forte. Portanto, ao trabalhar os conceitos de calor e
temperatura em sala de aula, com a realização de experimentos, teremos que lidar
com atitudes empíricas já estabelecidas (FARIAS, 2013, p.42).
Elaborar uma aula ou uma atividade sobre calor, temperatura e sensação térmica é
um desafio a qualquer professor que queira romper com senso comum dos seus estudantes.
Agora, considerando o seu estudante um aluno com TEA e não verbal, o desafio se torna
ainda maior se não se pensar e analisar com cuidado o método de ensino. Com isso, é visto
que desenvolver uma aula expositiva sobre o conteúdo não iria agregar conhecimento
científico ao estudante. Dessa forma, a atividade experimental se tornou uma alternativa de
flexibilização curricular.
A ideia da atividade da primeira versão da proposta foi retirada de um site do
Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (Figura 3) em que
se expõe o conteúdo sobre temperatura e sensação térmica para público em geral. É
apresentado um texto explicando sobre os dois conceitos e também duas sugestões de
atividades experimentais simples. Para o experimento sobre sensação térmica é pedido o uso
de três recipientes com água em temperatura fria, quente e ambiente. Dessa forma, o estudante
deveria colocar uma mão na água fria, outra na quente e depois colocar as duas no recipiente
de água a temperatura ambiente para verificar a sensação térmica que o nosso corpo tem e que
não condiz com a realidade.
6
Disponível em:
<http://www.if.ufrgs.br/cref/leila/temp.htm#:~:text=Corpos%20mais%20quentes%20apresentam%20maior,e%2
0da%20nossa%20sensibilidade%20individual.>. Último acesso em: 6 out. 2021.
37
7
Disponível em: < http://www.if.usp.br/gref/termo/termo1.pdf>. Último acesso em: 8 out. 2021.
38
8
Disponível em: < https://phet.colorado.edu/sims/html/states-of-matter-basics/latest/states-of-matter-
basics_pt_BR.html>. Último acesso em: 6 out. 2021.
39
constante com o mesmo, devido as suas características do TEA. Dessa forma, propor um
experimento em que o estudante não pudesse se comunicar com “sim” ou “não”, não terá o
mesmo rendimento que uma atividade flexibilizada acessível a ele.
A adição de uma pergunta e conteúdo sobre o termômetro se fez necessária, pois na
proposta anterior ele foi mencionado como um material da aula, porém não foi utilizado no
decorrer da atividade. A questão surge com o objetivo de que o aluno associe o termômetro
que é utilizado quando ele está com febre a se medir temperatura do corpo. Dessa forma,
quando o estudante estivesse manipulando objeto, espera-se que ele indique o local que
costuma colocar o termômetro em baixo do braço por conta própria. Assim, seria necessário
somente frisar como o utensílio afere a sua temperatura.
acessível ao mesmo tempo em que apresenta a simulação, para que o conhecimento se torne
efetivo. Assim, professor que possui entendimento sobre as condições do estudante e domine
as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) fazem um pilar para construção do
conhecimento do aluno com TEA.
41
5 CONCLUSÃO
Com a proposta de atividade finalizada para logo ser efetuada e colocada neste
trabalho, notou-se que ainda era necessário incrementar e transformar em um plano de aula
detalhado e organizado. Desta forma, surgiu o plano de ensino de física flexibilizado,
desenvolvido a partir de um longo processo de observação, orientação e adaptação para se
trabalhar com o discente com TEA.
Com esta experiência, ficou ainda mais evidente o quanto o ensino de física precisa
melhorar para que atinja estudantes em todos as suas diversidades. A educação inclusiva
precisa ser colocada em prática para que o conhecimento científico chegue aos estudantes
público-alvo da Educação Especial. A acessibilidade educacional deve ser trabalhada por
professores de física que desejam que todos os seus estudantes aprendam de forma efetiva.
Outra questão tão importante quanto o professor de física repensar a forma que está
ensinando para que atinja o conhecimento de todos seus alunos é o trabalho desenvolvido pelo
professor de Educação Especial nos AEE. Este profissional é o grande pilar para que a
aprendizagem efetiva ocorra com os estudantes público-alvo desta modalidade educacional. É
este educador que mostrará formas de se trabalhar com o estudante com TEA dentro das suas
condições. O professor de Educação Especial auxiliará o professor de física na flexibilização
do currículo, nas propostas de atividades e da comunicação com o aluno.
É importante mencionar que o planejamento desenvolvido neste trabalho poderia ser
facilmente utilizado uma aula com outros estudantes público-alvo da Educação Especial,
como a deficiência intelectual. Mostrando assim que a flexibilização curricular pode facilitar
não só a aprendizagem do estudante com deficiência, mas também a do professor que pode
utilizar o seu trabalho em outras ocasiões com diferentes estudantes.
Estudantes com TEA podem aprender a física nas mesmas proporções que um
estudante de classe comum sem deficiência. Porém, ambos possuem formas diferentes de
atingir o conhecimento, o que é totalmente comum para todas as pessoas. O aluno com TEA
precisa que o conteúdo chegue a ele de forma acessível, dentro do que é entendido por ele. A
disciplina em si é considerada difícil por todas as pessoas, mas o que torna ela mais
inalcançável pode ser o que o professor transmite aos seus estudantes e a forma com que
trabalha.
Dentro das universidades se buscam maneiras de melhorar o ensino de física, de se
mostrar o quanto a ciência pode ser interessante e animadora. Estas melhorias são voltadas na
maior parte para estudantes neurotípicos, que estão dentro dos padrões, pois conseguem ver,
ouvir, falar, caminhar. Em contrapartida, está mais do que na hora de incentivar professores
43
em formação a repensar a forma de lecionar quando se tem um aluno com deficiência em sala
de aula. Não haverá mudanças se não for estudando dentro dos cursos de licenciatura como
trabalhar com as os estudantes público-alvo da Educação Especial.
Espera-se que este trabalho tenha somado na vida do estudante com TEA o tanto
quanto soma na vida de um professor em formação. Não há experiência que substitua poder
trabalhar com o aluno com deficiência diretamente, planejar tudo voltado ao seu estudante.
Repensar cada momento da aula para que promova o conhecimento científico de formar
efetiva. Com este trabalho, ficou evidente a importância do professor de física se aproximar
do aluno com TEA, conhecer a realidade do professor de Educação Especial, participar
ativamente dos AEEs, flexibilizar o currículo e buscar novas metodologias de ensino
adaptadas.
44
REFERÊNCIAS
SILVA, B. S. O papel dos pais frente à criança com autismo: a importância da intervenção
precoce. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO, Miracatu, v. 2, n. 3, p. 336 – 351, 2018.
Materiais:
• Três recipientes de tamanhos iguais (potes de sorvete, por exemplo);
• Água gelada, água aquecida e água a temperatura ambiente;
• Termômetro;
• 03 colheres de cozinha (uma de madeira, uma de metal e outra de plástico).
Procedimento:
Figura 1 – Sensação térmica.
Podem-se marcar os potes de sorvete com alguma caneta ou adesivo, de forma que o
pote com água fria seja destacado em azul, o pote com água quente em vermelho e o pote com
água da temperatura ambiente em verde. Colocar o material em uma mesa em frente ao aluno
para que sejam elaboradas algumas questões sobre o tema.
Serão feitas as questões sugeridas de forma adaptada para que o estudante possa
responder com afirmação, negação ou ainda apontando e mostrando o objeto. Com o
andamento das perguntas, podem-se esclarecer alguns conceitos que estão envolvidos no
fenômeno físico presente (temas detalhados em "conteúdo").
Relatório:
1) A água do pote azul é mais fria que o vermelho?
2) A água do pote verde é mais quente que o vermelho?
3) A água do pote vermelho é mais quente que a do verde?
4) Qual temperatura se assemelha à da água que você toma banho?
9
Disponível em:
<http://www.if.ufrgs.br/cref/leila/temp.htm#:~:text=Corpos%20mais%20quentes%20apresentam%20maior,e%2
0da%20nossa%20sensibilidade%20individual.>. Último acesso: 6 out. 2021.
51
Conteúdo:
Temperatura
De forma qualitativa, podemos descrevê-la de um objeto como aquela que determina
a sensação de quanto ele está quente ou frio quando entramos em contato com ele (a medida
do calor ou do frio).
É fácil mostrar que quando dois objetos são postos em contato (dizemos que eles
estão em contato térmico), o objeto que possui temperatura maior esfria, enquanto que o
objeto que possui temperatura menor esquenta, até um ponto em que não ocorrem mais
mudanças e, para os nossos sentidos, eles parecem possuir a mesma temperatura. Quando as
mudanças térmicas terminam, dizemos que os dois objetos (sistemas) estão em equilíbrio
térmico.
Podemos então definir temperatura como uma quantidade que é a mesma para ambos
os sistemas, se eles estão em equilíbrio térmico. Assim, é uma propriedade física que indica o
quanto um objeto é quente ou frio em relação a um outro objeto tomado como padrão.
Calor
É a energia transferida entre dois ou mais sistemas devido a uma diferença de
temperatura entre eles. Por exemplo, quando pegamos um copo com chá quente a energia é
transferida do copo para nossa mão e, quando pegamos um copo de água com gelo, a energia
é transferida da nossa mão para o copo. Ou seja, quando dois corpos estão em contato, a
transferência de energia ocorre do mais quente para o mais frio.
O calor é espontaneamente transferido do corpo que possui temperatura mais alta
para o que possui temperatura mais baixa, e o calor só é transferido enquanto os corpos
possuírem temperaturas diferentes entre si, isso porque uma vez que é atingido o equilíbrio
térmico, os corpos adquirem a mesma temperatura e deixa de ocorrer o fluxo de energia, ou
seja, calor.
52
Sensação Térmica
Como mencionado, percebemos o quanto um objeto está quente ou frio através do
simples contato com ele e, dependendo do caso, basta nos aproximarmos dele. Esta sensação
de frio e quente está relacionada com o que denominamos temperatura. Corpos mais quentes
apresentam maior temperatura do que corpos mais frios. Porém, precisamos salientar que essa
sensação térmica é relativa, pois depende da situação e da nossa sensibilidade individual.
Por exemplo, todos os objetos ao nosso redor provavelmente estão a uma mesma
temperatura, porém, se colocarmos a mão na maçaneta da porta e, logo depois, sobre a
madeira, nossa sensação será de que a maçaneta está mais fria, ou ainda, não conseguimos
diferenciar uma água quente a 70°C de uma água a 90°C com o tato. Assim, observamos que
a sensação térmica não é uma boa medida para quente e frio e por isso é necessário um
instrumento que meça temperatura.
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Materiais:
• Três recipientes de tamanhos iguais (potes de sorvete, por exemplo);
• Água gelada, água aquecida e água a temperatura ambiente;
• Termômetro; não foi utilizado na proposta. Se ele tem termômetro em casa, talvez
no final, possa ser conversado sobre a forma de medir a temperatura quando há suspeita de
doença (acrescentei a questão no final da atividade).
• 03 colheres de cozinha (uma de madeira, uma de metal e outra de plástico).
Procedimento:
Figura 2 - Sensação térmica.
Pode-se marcar os potes de sorvete com alguma caneta ou adesivo, de forma que o
pote com água fria seja destacado em azul, o pote com água quente em vermelho e o pote com
água da temperatura ambiente em verde. Colocar o material em uma mesa em frente ao aluno
para que sejam elaboradas algumas questões sobre o tema.
Serão feitas as questões sugeridas de forma adaptada para que o estudante possa
responder com afirmação, negação ou ainda apontando e mostrando o objeto. Com o
andamento das perguntas, pode-se esclarecer alguns conceitos que estão envolvidos no
fenômeno físico presente (temas detalhados em "conteúdo").
10
Disponível em:
<http://www.if.ufrgs.br/cref/leila/temp.htm#:~:text=Corpos%20mais%20quentes%20apresentam%20maior,e%2
0da%20nossa%20sensibilidade%20individual.>. Último acesso: 6 out. 2021.
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Relatório:
1) A água do pote azul é mais fria que o vermelho?
2) A água do pote verde é mais quente que o vermelho?
3) A água do pote vermelho é mais quente que a do verde?
4) Qual temperatura é parecida com à da água que você toma banho?
Se pensarmos no nosso banho é complicada .... a quente estará mais quente ou não e
a da torneira mais fria .... na verdade serve qualquer resposta (Uma possibilidade: qual a
temperatura que você prefere tomar banho? Toque os potes com água e mostre aquele que
representa a resposta) OK o que está em amarelo
5) Qual temperatura se assemelha à da água da praia? Você tem sempre a mesma
sensação na praia (igual a desta água)?
Ele costuma ir a praia? Também serve qualquer resposta pois depende da sensação
térmica da pessoa a sensação (penso que podemos deixar a pergunta para continuar a
experimentação com as temperaturas, mas se achar melhor, podemos retirar, sem problema)
OK ... Sugiro que depois de responder possa perguntar se ele tem sempre a mesma sensação
(inclui a pergunta)
6) Qual das colheres parece ser a mais fria para você?
7) Qual das colheres parece ser a mais quente para você?
8) No verão, você sente mais frio ou calor? E no inverno?
9) No inverno, você consegue ficar só de bermuda e chinelo?
10) No verão, você dorme de meia e com várias cobertas?
É importante que ele perceba que quando vai para cama ela parece fria e que as
cobertas servem para manter o calor liberado por ele próximo dele. As cobertas são feitas de
materiais “isolantes térmicos”. Nas paredes dos fogões tem lã de vidro para evitar que o calor
saia. (Muito interessante esta explicação podemos conversar com o aluno, por exemplo, "as
cobertas te deixam quentinho no inverno, pois mantem o calor do teu corpo perto de você",
algo neste sentido).
11) Solicitar a mãe um exemplar de roupa de inverno (moletom escuro) e outro de
verão, conversar que roupas escuras não são recomendadas no verão pois absorvem mais
energia térmica do que as claras que refletem.
12) Experiência: pedir que coloque a mão que está na água fria na que está a
temperatura ambiente e depois a que está na água quente colocar na mesma água. A sensação
térmica é bem diferente.
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Conteúdo:
Temperatura
De forma qualitativa, podemos descrevê-la de um objeto como aquela que determina
a sensação de quanto ele está quente ou frio quando entramos em contato com ele (a medida
do calor ou do frio). Frio não é uma grandeza física. Não temos como medir.
É fácil mostrar que quando dois objetos são postos em contato (dizemos que eles
estão em contato térmico), o objeto que possui temperatura maior esfria, enquanto que o
objeto que possui temperatura menor esquenta, até um ponto em que não ocorrem mais
mudanças e, para os nossos sentidos, eles parecem possuir a mesma temperatura. Quando as
mudanças térmicas terminam, dizemos que os dois objetos (sistemas) estão em equilíbrio
térmico.
Ao tocar em uma xícara que está no armário temos uma sensação. Se colocarmos
água quente e deixarmos um tempinho e retirar a água e tocarmos novamente teremos a
sensação que está quente (transferência de calor da água para a xícara). Se deixarmos tempo
suficiente ocorrerá o equilíbrio térmico (mesma temperatura na parte interna).
Podemos então definir temperatura como uma quantidade que é a mesma para ambos
os sistemas, se eles estão em equilíbrio térmico. Assim, é uma propriedade física que indica o
quanto um objeto é quente ou frio em relação a um outro objeto tomado como padrão.
Calor
É a energia transferida entre dois ou mais sistemas devido a uma diferença de
temperatura entre eles. Por exemplo, quando pegamos um copo com chá quente a energia é
transferida do copo para nossa mão e, quando pegamos um copo de água com gelo, a energia
é transferida da nossa mão para o copo. Ou seja, quando dois corpos estão em contato, a
transferência de energia ocorre do mais quente para o mais frio.
O calor é espontaneamente transferido do corpo que possui temperatura mais alta
para o que possui temperatura mais baixa, e o calor só é transferido enquanto os corpos
possuírem temperaturas diferentes entre si, isso porque uma vez que é atingido o equilíbrio
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Materiais:
•Três recipientes de tamanhos iguais (potes de sorvete, por exemplo);
•Água gelada, água aquecida e água a temperatura ambiente;
•Termômetro;
•03 colheres de cozinha (uma de madeira, uma de metal e outra de plástico).
Procedimento:
Figura 3 - Sensação térmica.
Podem-se marcar os potes de sorvete com alguma caneta ou adesivo, de forma que o
pote com água fria seja destacado em azul, o pote com água quente em vermelho e o pote com
água da temperatura ambiente em verde. Colocar o material em uma mesa em frente ao aluno
para que sejam elaboradas algumas questões sobre o tema.
Serão feitas as questões sugeridas de forma adaptada para que o estudante possa
responder com afirmação, negação ou ainda apontando e mostrando o objeto. Com o
andamento das perguntas, pode-se esclarecer alguns conceitos que estão envolvidos no
fenômeno físico presente (temas detalhados em "conteúdo").
Roteiro:
1) A água do pote azul é mais fria que o vermelho?
2) A água do pote verde é mais quente que o vermelho?
3) A água do pote vermelho é mais quente que a do verde?
4) Qual temperatura você preferiria toma banho?
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Disponível em:
<http://www.if.ufrgs.br/cref/leila/temp.htm#:~:text=Corpos%20mais%20quentes%20apresentam%20maior,e%2
0da%20nossa%20sensibilidade%20individual>. Último acesso em: 6 out. 2021.
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Experimento: coloque durante alguns minutos sua mão direita em um recipiente com
água fria e sua mão esquerda em um com água quente. Depois coloque as duas mãos em um
mesmo recipiente com água morna e observe o que acontece. (A sensação térmica sobre a
mão direita e a esquerda não é a mesma)
Conteúdo:
As palavras calor e temperatura fazem parte de nosso vocabulário, da nossa língua e
vamos encontrá-las em muitas expressões como “Que dia frio, não?”, “Vou pegar um cobertor
para me aquecer...”. Quando colocamos a mão num objeto de metal, podemos ter a sensação
de que ele é mais frio do que os outros objetos. Essas palavras muitas vezes se misturam em
frases com contextos diferentes e podem ser utilizadas de forma errada se for considerado o
sentido físico delas. Quando dizemos que sentimos algo “frio” ou “quente”, numa
interpretação pela física, seria na verdade a sensação térmica a qual depende da relação entre
a temperatura da nossa pele e da temperatura do objeto que tocamos. Podemos afirmar que o
significado de calor e temperatura na física não é bem o significado cotidiano desses termos.
Calor
Quando pegamos um copo com chá quente a energia é transferida do copo para nossa
mão e, quando pegamos um copo de água com gelo, a energia é transferida da nossa mão para
o copo. Ou seja, quando dois corpos estão em contato, a transferência de energia ocorre do de
maior energia interna para o de menor energia interna. Assim, se as temperaturas do chá ou da
água não forem igual a da nossa mão, ela irá mudar até que se igualem. Tal mudança de
temperatura se deve exatamente à essa troca de energia interna (que é a soma das energias
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cinéticas e potencial, associadas aos movimento aleatórios dos átomos e moléculas que fazer
parte do objeto).
O calor é negativo quando a energia interna é transferida de um sistema para seu
ambiente (dizemos que o calor é liberado ou perdido).
Quando ocorre uma variação da energia interna de um corpo ao ser colocado em
contato com outro, exclusivamente porque há uma diferença de temperatura entre ambos,
dizemos que esta variação de energia interna acontece porque o corpo recebe ou cede calor.
Se você quiser saber se o calor está sendo absorvido ou perdido, a pergunta chave é: “Qual a
diferença de temperatura?”.
CALOR é a energia transferida entre dois ou mais sistemas devido a uma diferença de
temperatura entre eles.
12
Disponível em: < https://phet.colorado.edu/sims/html/states-of-matter-basics/latest/states-of-matter-
basics_pt_BR.html>. Último acesso em: 6 out. 2021.
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Temperatura
De forma qualitativa, podemos descrevê-la de um objeto como aquela que determina
a sensação de quanto ele está quente ou frio quando entramos em contato com ele. A
temperatura de um corpo nos diz, então, se esse corpo, quando colocado em contato com
outro corpo de temperatura diferente, poderá ceder ou receber calor.
13
Disponível em: < https://phet.colorado.edu/sims/html/states-of-matter-basics/latest/states-of-matter-
basics_pt_BR.html>. Último acesso em: 6 out. 2021.
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TEMPERATURA é uma medida da energia cinética média (grau de agitação) das moléculas
ou átomos individuais.
É fácil mostrar que quando dois objetos são postos em contato, o objeto que possui
temperatura maior esfria, enquanto que o objeto que possui temperatura menor esquenta, até
um ponto em que não ocorrem mais mudanças e, para os nossos sentidos, eles parecem
possuir a mesma temperatura. Quando as mudanças térmicas terminam, dizemos que os dois
objetos estão em equilíbrio térmico.
A temperatura não é uma medida de calor, mas a diferença de temperaturas é a
responsável pela transferência da energia térmica na forma de calor entre dois ou mais
sistemas. Quando dois sistemas estão à mesma temperatura diz-se que estão em equilíbrio
térmico e neste caso não há calor. Quando existe uma diferença de temperatura, há calor do
sistema em temperatura maior para o sistema em temperatura menor até atingir-se o equilíbrio
térmico.
Podemos então definir temperatura como uma quantidade que é a mesma para ambos
os sistemas, se eles estão em equilíbrio térmico. Assim, é uma propriedade física que indica o
quanto um objeto é quente ou frio em relação a outro objeto tomado como padrão.
O que é um termômetro?
Ao aquecer um corpo qualquer, suas moléculas aumentam a vibração e tendem a se
afastar umas das outras, ocorrendo a chamada dilatação térmica dos materiais. Se o corpo for
resfriado, ocorrerá a contração térmica. A forma mais simples de medir a temperatura é
aproveitar o comportamento da dilatação térmica e construir, a partir disso, uma escala
termométrica.
Um termômetro é um instrumento que mede quantitativamente a temperatura de um
sistema. Quando um termômetro calibrado é posto em contato com um sistema e alcança
equilíbrio térmico, temos então uma medida quantitativa da temperatura do sistema.
Figura 6 – Termômetro.
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Sensação Térmica
Como mencionado, percebemos o quanto um objeto está quente ou frio através do
simples contato com ele e, dependendo do caso, basta nos aproximarmos dele. Esta sensação
de frio e quente está relacionada com o que denominamos temperatura. Corpos mais quentes
apresentam maior temperatura do que corpos mais frios. Porém, precisamos salientar que essa
sensação térmica é relativa, pois depende da situação e da nossa sensibilidade individual.
Por exemplo, todos os objetos ao nosso redor provavelmente estão a uma mesma
temperatura, porém, se colocarmos a mão na maçaneta da porta e, logo depois, sobre a
madeira, nossa sensação será de que a maçaneta está mais fria, ou ainda, não conseguimos
diferenciar uma água quente a 70°C de uma água a 90°C com o tato. Assim, observamos que
a sensação térmica não é uma boa medida para quente e frio e por isso é necessário um
instrumento que meça temperatura.
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Disponível em: https://www.vidaeacao.com.br/termometro-de-mercurio-tem-venda-proibida-no-
brasil/>. Último acesso: 5 out. 2021.
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Plano de Aula Nº 01
Objetivos:
• Explicar os conceitos de calor, temperatura e sensação térmica;
• Evidenciar as diferenças entre calor e temperatura;
• Discutir conceitos físicos presentes no cotidiano do estudante como forma de
analogias;
• Mostrar a importância da acessibilidade e da flexibilização curricular para se
atingir o conhecimento científico;
• Utilizar a experimentação e a simulação como uma metodologia de ensino
alternativa para o ensino de estudantes com TEA;
Conteúdo:
• Calor;
• Temperatura;
• Sensação térmica.
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Materiais:
•Três recipientes de tamanhos iguais (potes de sorvete, por exemplo);
•Água gelada, água aquecida e água a temperatura ambiente;
•Termômetro;
•03 colheres de cozinha (uma de madeira, uma de metal e outra de plástico);
•Computador com acesso à internet;
•Simulador Estados da Matéria: Básico 15.
Procedimento Didático:
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Disponível em: < https://phet.colorado.edu/sims/html/states-of-matter-basics/latest/states-of-matter-
basics_pt_BR.html>. Último acesso em: 6 out. 2021.
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interagir com a água ele não queira secar as mãos para pegar no celular, é melhor que ele
indique com as mãos qual recipiente ele considera o correto.
4) Qual temperatura você (preferiria) toma banho?
Espera-se que ele indique com as mãos o pote vermelho.
5) Qual temperatura se assemelha à da água da praia?
Espera-se que ele indique com as mãos o pote azul.
Observação: Nesse momento será retirado o material do experimento com água para
que o aluno não se distraia com os objetos.