10.1 PMT Propriedade Mecânica II Exercicios

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PMT3100 – Exercícios 2017

UNIDADE 10 Propriedades Mecânicas II


1. Considere duas discordâncias em cunha no mesmo plano de deslizamento e separadas por
algumas distâncias interatômicas. O que pode ocorrer se devido a tensões aplicadas ao
material essas discordâncias forem forçadas a se aproximar?

2. Considere as figuras dadas a seguir. Uma barra cilíndrica de latão de diâmetro


inicial igual a 30,0 mm sofreu uma deformação plástica a frio, sendo o diâmetro final
depois da deformação igual a 26,8 mm.

a) Determine o grau de deformação, em % de redução de área (percent cold work).


b) Estime, utilizando os gráficos, o limite de escoamento e a ductilidade dessa liga
depois da deformação a frio.

Variação do limite de escoamento (yield strength) Variação da ductilidade (%EL) com o grau de
com o grau de deformação, em % de redução de deformação, em % de redução de área, %CW,
área, %CW (cold work), para aço 1040, latão e para aço 1040, latão e cobre trabalhados a frio.
cobre trabalhados a frio.

1
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3. Considere o diagrama Cu-Ni


dado ao lado.

É possível endurecer por


precipitação uma liga Cu-10%Ni?

Justifique a sua resposta.

4. Considere a figura dada ao lado


[limite de escoamento yield strength] x
[inverso da raiz quadrada do diâmetro
médio de grão d-1/2], dada ao lado, válida
para uma liga 70 Cu-30 Zn.

(a) Determine os valores das constantes


0 e ky da relação de Hall-Petch.

(b) Utilizando a relação de Hall-Petch,


calcule o limite de escoamento para
essa liga quando o diâmetro médio
de grão for igual a 1,0 x 10-3 mm.

Dado: relação de Hall-Petch :

1

 y   o  kyd 2 Limite de escoamento (“yield strength”) x (diâmetro médio de grão)
-1/2

para uma liga 70 Cu-30 Zn

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5. Dois corpos de prova cilíndricos, não deformados, de uma mesma liga devem ser
encruados pela redução de suas áreas de seção transversal, mantendo seus perfis
cilíndricos (e, portanto, mantendo suas seções transversais circulares). Para um dos
corpos de prova, os raios inicial e final (após deformação) são, respectivamente, 16mm
e 11mm. O segundo corpo de prova, que tem um raio inicial de 12mm, deve
apresentar a mesma dureza após a deformação que o primeiro corpo de prova. Calcule
o raio do segundo corpo de prova após a deformação.

6. Dois corpos de prova, não deformados, de uma mesma liga devem ser submetidos à
deformação plástica com a consequente redução de suas áreas de seção transversal. Um dos
corpos possui seção transversal cilíndrica, enquanto o outro possui seção transversal
retangular. Durante a deformação, ambas as seções transversais permanecem,
respectivamente, circular e retangular. A dimensão original e aquela depois da deformação
para os dois corpos são as seguintes:

Circular (raio, mm) Retangular (mm X mm)

Dimensões originais 15,2 125 x 175

Dimensões após a deformação 11,4 75 x 200

Qual dos corpos de prova será o mais duro após a deformação plástica, e por quê?

7. Um corpo de prova cilíndrico de cobre, que foi trabalhado a frio, possui uma ductilidade
(AL%) de 25%. Se o seu raio depois do trabalho a frio é de 10 mm, qual era o seu raio antes da
deformação?

8. O limite de escoamento de uma amostra de metal com diâmetro médio de grão de 5 x 10 -2

mm é de 135 MPa. O limite de escoamento desse mesmo metal com diâmetro médio de grão
de 8 x 10-3 mm aumenta para 260 MPa. Para qual diâmetro médio de grão o limite de
escoamento será de 205 MPa

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9. Você trabalha numa empresa que produz peças de uma liga de Al-4%Cu. Essas
peças são recebidas de um fornecedor no estado solubilizado – ou seja, elas foram
aquecidos por um tempo suficientemente longo a 530oC, de modo a apresentarem
uma única fase (veja o diagrama de fases dado a seguir), sendo rapidamente resfriadas
até a temperatura ambiente depois desse aquecimento, mantendo na temperatura
ambiente uma microestrutura com única fase (que está supersaturada nessa
condição). Dentro da sua empresa, as peças passam por um processo de
endurecimento por precipitação. Esse processo envolve um tratamento térmico, e o
parâmetro de controle de qualidade para aprovação das peças é o limite de
escoamento (yield strenght) que elas apresentam depois desse tratamento térmico – o
valor do limite de escoamento deve ser de, no mínimo, 300 MPa. Sua empresa possui
três fornos nos quais são feitos os tratamentos térmicos, podendo, dessa forma,
trabalhar com diferentes temperaturas de tratamento. Num determinado dia, os
fornos 1 e 2 operavam na mesma temperatura, 190oC, enquanto o outro forno, o forno
3 , estava a 260oC. Dois lotes de peças deveriam ser tratados nesse dia (chamaremos
esses lotes de lotes A e B), entrando o lote A no forno 1 e o lote B no forno 2, sendo
que para os dois lotes o tempo de tratamento térmico deveria ser de uma hora. No
entanto, naquele dia houve um treinamento de simulação de incêndio, do qual todos
deveriam participar, e foi cometido um engano na escala de programação, sendo o
lote B colocado por engano no forno 3. Além disso, o treinamento foi mais longo que o
previsto, e os operadores só puderam retornar ao trabalho com uma hora de atraso.
Logo que reassumiram seus postos, os operadores comunicaram ao engenheiro
responsável – que por acaso é você... – o que havia ocorrido: a temperatura de
tratamento do lote B foi diferente da especificada (260 oC ao invés de 190oC), e o
tempo de tratamento para ambos os lotes, ao invés do tempo especificado (1h), foi de
duas horas. Tendo por base os dois gráficos a seguir (diagrama de fases do sistema Al-
Cu e curvas de envelhecimento da liga Al-4%Cu), qual dos procedimentos sugeridos
abaixo deveria ser executado para aproveitar os dois lotes de peças ?

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a) Não fazer nada com nenhum dos dois lotes, pois ambos, apesar do tratamento térmico
feito por engano – o lote A foi aquecido por duas horas ao invés de uma hora, e o lote B foi
o o
tratado a 260 C ao invés de 190 C – continuam a atender a especificação.
o
b) Não fazer nada com o lote B, pois ele atende a especificação; aquecer o lote A a 530 C por
um tempo suficiente para solubilizar a fase  precipitada; esfriar rapidamente até a
o
temperatura ambiente e, a seguir, aquecer esse lote por uma hora a 190 C para precipitar
a fase .
c) Aquecer ambos os lotes a 530 C por um tempo suficiente para solubilizar a fase 
o

precipitada; esfriar lentamente até temperatura que permita a manipulação (algo em torno
o o
de 100 C) e, a seguir, aquecer ambos os lotes por uma hora a 190 C para precipitar a fase
.
o
d) Não fazer nada com o lote A, pois ele atende a especificação; aquecer o lote B a 530 C por
um tempo suficiente para solubilizar a fase  precipitada; esfriar rapidamente até a
o
temperatura ambiente e, a seguir, aquecer esse lote por uma hora a 190 C para precipitar
a fase .
e) Não é possível fazer nada com nenhum dos dois lotes – ambos estão perdidos.

10. A figura ao lado


apresenta a evolução do
limite de escoamento (e),
determinado por ensaios
de tração, para ligas de
ferro com três elementos
de liga (= solutos : C, Ti e
Ni; o solvente da liga é o
ferro), em função da
porcentagem de cada um
desses elementos.
Explique esses resultados,
levando em conta a tabela
abaixo, que apresenta os
raios atômicos dos quatro
elementos (dados em
picometros = 10-12m).

Elemento Fe C Ti Ni

Raio atômico 156 67 176 149


calculado (pm)

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GABARITO
UNIDADE 10 Propriedades Mecânicas II

1. Considere duas discordâncias em cunha no mesmo plano de deslizamento e separadas


por algumas distâncias interatômicas. O que pode ocorrer se devido a tensões
aplicadas ao material essas discordâncias forem forçadas a se aproximar?

Foi visto na aula teórica que existem zonas ou campos de tensão em torno das
discordâncias em cunha, e que essas tensões são de compressão em torno do plano extra da
discordância, e de tração na região oposta (Figura A). Essas zonas de tensão em torno das
discordâncias podem interagir entre si, quando as discordâncias estão próximas umas das
outras (Figura B).

Quando duas discordâncias em cunha de mesmo sinal, distantes entre si de algumas


distâncias interatômicas e localizadas no mesmo plano de deslizamento são forçadas a se
aproximar pelo efeito de uma exigência externa (por exemplo, por uma tensão externa
aplicada), as zonas de tração e de compressão estão do mesmo lado das discordâncias. Esses
campos de tensões que existem em torno de cada discordância individual tendem a se repelir
mutuamente, e, dessa forma, forçar a separação dessas duas discordâncias. Essa seria uma
situação que dificultaria a mobilidade dessas duas discordâncias, dificultando também a
deformação plástica do material que as contém.

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PMT3100 – Exercícios 2017
Quando duas discordâncias em cunha de sinais contrários, distantes entre si de
algumas distâncias interatômicas e localizadas no mesmo plano de deslizamento são forçadas
a se aproximar pelo efeito de uma exigência externa (por exemplo, por uma tensão externa
aplicada), as zonas de tração e de compressão estão em lados opostos das discordâncias. Esses
campos de tensões que existem em torno de cada discordância individual tendem a se atrair
mutuamente, e, dessa forma, aproximar essas duas discordâncias. Essa seria uma situação que
facilitaria a mobilidade dessas duas discordâncias, facilitando também a deformação plástica
do material que as contém.

O caso analisado neste exercício - discordâncias em cunha no mesmo plano de


deslizamento - é bastante simples. Na verdade, as situações reais são bem mais complexas,
porque existem interações entre discordâncias em cunha, em hélice e mistas, movimentando-se
nos mais diversos planos e orientações de deslizamento. As interações entre todas essas
discordâncias, com todos os campos de tensões a elas associadas, são fundamentais para o
desenvolvimento das propriedades mecânicas dos metais e de suas ligas.

2. Considere as figuras dadas a seguir. Uma barra cilíndrica de latão de diâmetro


inicial igual a 30,0 mm sofreu uma deformação plástica a frio, sendo o diâmetro final
depois da deformação igual a 26,8 mm.

a) Determine o grau de deformação, em % de redução de área (percent cold work).

O grau de deformação, em % de redução de área, pode ser calculado através da fórmula:

𝐴0 − 𝐴𝑓
%𝐶𝑊 = ( ) × 100
𝐴0
onde A0 é a área da seção transversal antes da deformação a frio, e Af é a área da seção
transversal depois da deformação a frio.

Para as condições do exercício, % CW = 20,2 %.

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b) Estime, utilizando os gráficos, o limite de escoamento e a ductilidade dessa liga


depois da deformação a frio.

Os valores estimados através das figuras são de  = 346 MPa e %EL = 23,7 % .

3. Considere o diagrama Cu-Ni dado ao lado. É possível endurecer por precipitação uma liga
Cu-10%Ni? Justifique a sua resposta.

Não, não é possível endurecer por precipitação uma liga Cu-10%Ni, porque uma condição
necessária para endurecimento por precipitação é que haja diminuição de solubilidade sólida
com a diminuição de temperatura. Um exemplo de um sistema onde isso ocorre é o Mg-Al, do
qual uma parte do diagrama de fases é apresentada abaixo.

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Ora, o sistema Cu-Ni é um sistema binário isomórfico, onde o Ni e o Cu formam soluções


sólidas em todas as faixas de concentrações. Portanto, no sistema Ni-Cu não ocorre a
diminuição de solubilidade sólida requerida para que aconteça a precipitação de uma fase no
interior da matriz metálica.

4. Considere a figura dada ao lado [limite de escoamento yield strength] x [inverso da


raiz quadrada do diâmetro médio de grão d-1/2], dada ao lado, válida para uma liga 70
Cu-30 Zn.
(a) Determine os valores das constantes 0 e ky da relação de Hall-Petch.
(b) Utilizando a relação de Hall-Petch, calcule o limite de escoamento para essa liga
quando o diâmetro médio de grão for igual a 1,0 x 10 -3 mm.
1

Dado: relação de Hall-Petch :  y   o  kyd 2

4a

A constante 0 vale 25 MPa, como


mostra a figura.
A contante ky é a inclinação da curva,
e vale :
ky = (200-25)/13,7 = 12,8 MPa . mm1/2

4b
Com as constantes calculadas no item 4a, a equação é a seguinte :

 = 25 + 12,8 d-1/2

Dessa forma, para d = 1,0 x 10-3 mm, temos  = 430 MPa .

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5. Dois corpos de prova cilíndricos, não deformados, de uma mesma liga devem ser
encruados pela redução de suas áreas de seção transversal, mantendo seus perfis cilíndricos
(e, portanto, mantendo suas seções transversais circulares). Para um dos corpos de prova, os
raios inicial e final (após deformação) são, respectivamente, 16mm e 11mm. O segundo corpo
de prova, que tem um raio inicial de 12mm, deve apresentar a mesma dureza após a
deformação que o primeiro corpo de prova. Calcule o raio do segundo corpo de prova após a
deformação.

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6. Dois corpos de prova, não deformados, de uma mesma liga devem ser submetidos à
deformação plástica com a consequente redução de suas áreas de seção transversal. Um dos
corpos possui seção transversal cilíndrica, enquanto o outro possui seção transversal
retangular. Durante a deformação, ambas as seções transversais permanecem,
respectivamente, circular e retangular. As dimensões original e depois da deformação dos dois
corpos são as seguintes:

Circular (raio, mm) Retangular (mm X mm)

Dimensões originais 15,2 125 x 175

Dimensões após a deformação 11,4 75 x 200

Qual dos corpos de prova será o mais duro após a deformação plástica, e por quê?

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7. Um corpo de prova cilíndrico de cobre, que foi trabalhado a frio, possui uma ductilidade
(AL%) de 25%. Se o seu raio depois do trabalho a frio é de 10 mm, qual era o seu raio antes da
deformação?

Utilizando o gráfico
dado na questão 2 desta
lista, sabendo que a %
de alongamento é de
25%, chegamos a um
valor da % de trabalho a
frio (%CW) de
aproximadamente 11%.

Chamaremos o raio
antes da deformação de
r0 .

Dessa forma:
𝜋𝑟0 2 − 𝜋 × 102
%𝐶𝑊 = 11 = × 100
𝜋𝑟0 2
𝑟0 2 − 100
0,11 =
𝑟0 2
100
𝑟0 2 =
0,89
𝒓𝟎 = 𝟏𝟎, 𝟔 𝒎𝒎

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8. O limite de escoamento de uma amostra de metal com diâmetro médio de grão de 5 x 10 -2

mm é de 135 MPa. O limite de escoamento desse mesmo metal com diâmetro médio de grão
de 8 x 10-3 mm aumenta para 260 MPa. Para qual diâmetro médio de grão o limite de
escoamento será de 205 MPa?

A resolução desse exercício faz uso da relação de Hall-Petch:

𝜎𝑒 = 𝜎0 + 𝑘𝑒 𝑑−1⁄2
onde e é o limite de escoamento, 0 e ke são constantes específicas para cada material e d é o
diâmetro médio de grão.
Para a resolução do problema, a primeira etapa é fazer um gráfico de d-1/2 versus limite de
escoamento, para poder determinar os valores das constantes 0 e ke .

Os valores determinados para as constantes são os seguintes :


0 = 51,7 e ke = 18,6 .

Dessa forma, utilizando a relação de Hall-Petch:


𝜎𝑒 = 205 = 51,7 + 18,6 𝑑 −1⁄2
18,6
205 − 51,7 =
√𝑑
18,6
√𝑑 = = 0,121
205 − 51,7
𝒅 = 𝟏, 𝟒𝟕 × 𝟏𝟎−𝟐 𝒎𝒎

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9. Você trabalha numa empresa que produz peças de uma liga de Al-4%Cu. Essas peças são
recebidas de um fornecedor no estado solubilizado – ou seja, elas foram aquecidos por um
tempo suficientemente longo a 530oC, de modo a apresentarem uma única fase (veja o
diagrama de fases dado a seguir), sendo rapidamente resfriadas até a temperatura ambiente
depois desse aquecimento, mantendo na temperatura ambiente uma microestrutura com
única fase (que está supersaturada nessa condição). Dentro da sua empresa, as peças passam
por um processo de endurecimento por precipitação. Esse processo envolve um tratamento
térmico, e o parâmetro de controle de qualidade para aprovação das peças é o limite de
escoamento (yield strenght) que elas apresentam depois desse tratamento térmico – o valor
do limite de escoamento deve ser de, no mínimo, 300 MPa. Sua empresa possui três fornos
nos quais são feitos os tratamentos térmicos, podendo, dessa forma, trabalhar com diferentes
temperaturas de tratamento. Num determinado dia, os fornos 1 e 2 operavam na mesma
temperatura, 190oC, enquanto o outro forno, o forno 3 , estava a 260oC. Dois lotes de peças
deveriam ser tratados nesse dia (chamaremos esses lotes de lotes A e B), entrando o lote A no
forno 1 e o lote B no forno 2, sendo que para os dois lotes o tempo de tratamento térmico
deveria ser de uma hora. No entanto, naquele dia houve um treinamento de simulação de
incêndio, do qual todos deveriam participar, e foi cometido um engano na escala de
programação, sendo o lote B colocado por engano no forno 3. Além disso, o treinamento foi
mais longo que o previsto, e os operadores só puderam retornar ao trabalho com uma hora de
atraso. Logo que reassumiram seus postos, os operadores comunicaram ao engenheiro
responsável – que por acaso é você... – o que havia ocorrido: a temperatura de tratamento do
lote B foi diferente da especificada (260oC ao invés de 190oC), e o tempo de tratamento para
ambos os lotes, ao invés do tempo especificado (1h), foi de duas horas. Tendo por base os dois
gráficos a seguir (diagrama de fases do sistema Al-Cu e curvas de envelhecimento da liga Al-
4%Cu), qual dos procedimentos sugeridos abaixo deveria ser executado para aproveitar os dois
lotes de peças ?

Vamos começar analisando a situação a partir do diagrama de fases e das curvas de


envelhecimento.

Você recebeu as peças com uma microestrutura que pode ser representada como na figura
abaixo. No estado solubilizado (530oC, ponto 1 no diagrama de fases), o material apresenta
apenas a fase , estável. Quando o material é resfriado rapidamente de 530oC até a
temperatura ambiente (“quench”, ponto 2), o sistema apresenta apenas a fase , mas ela não
está em equilíbrio – ela está supersaturada. O tratamento de precipitação (também chamado
de envelhecimento), que deveria ser realizado (segundo o enunciado do problema) a 190oC
(ponto 3) irá levar à precipitação da fase  na forma de precipitados finamente dispersos na
matriz de , como mostrado na figura.

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Considerando agora as curvas de envelhecimento da liga Al-4%Cu, para a temperatura de


envelhecimento de 190oC, com o tempo de envelhecimento de 1h, teríamos um limite de
escoamento de aproximadamente 392 MPa, o que atende às especificações necessárias.

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PMT3100 – Exercícios 2017
Vamos agora examinar o que realmente aconteceu...
 O lote A, que deveria ter sido envelhecido por uma hora a 190oC, foi
envelhecido por duas horas nessa mesma temperatura.
Vamos observar a curva de envelhecimento a 190oC. O limite de escoamento para o
tratamento que efetivamente ocorreu é de aproximadamente 390 MPa, muito pouco
diferente daquele que seria obido com o tratamento de 1h. O tempo maior de
envelhecimento, nesse caso, não foi suficiente para levar a um crescimento excessivo
dos precipitados da fase  → os precipitados ainda estão com tamanhos pequenos e
são eficientes para dificultar/bloquear a movimentação das discordâncias e, portanto,
sua existência leva a um considerável aumento do limite de escoamento.
CONCLUSÃO: o lote A pode ser aprovado, pois atende a especificação.

 O lote B, que deveria ter sido envelhecido por uma hora a 190oC, foi
envelhecido por duas horas a 260oC.
Vamos observar a curva de envelhecimento a 260oC. Agora temos um problema...
porque o limite de escoamento não atinge o especificado, ficando em torno de 210
MPa (quando o especificado é no mínimo de 300 MPa).
CONCLUSÃO: o lote B, na forma em que se apresenta ao final do tratamento térmico a
260oC por 2h, não pode ser aprovado, pois não atende a especificação.
O que aconteceu nesse tratamento térmico? Os cristais da fase  cresceram demais, e
a sua presença não tem nenhum efeito prático no sentido de dificultar movimentação
de discordâncias, e, consequentemente, de aumentar o limite de escoamento. A
presença de cristais tão grandes pode inclusive ter um efeito indesejável, diminuindo o

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PMT3100 – Exercícios 2017
limite de escoamento em relação ao valor obervado para o material não envelhecido
termicamente (...e esse é o caso do sistema que estamos analisando agora...).

Existe um procedimento que permita utilizar esse lote de peças? Se existe, qual seria?
Uma solução para poder utilizar esse lote de peças passa por um tratamento térmico
que levasse à ressolubilização da fase  – isso envolve certamente um custo, mas
evitaria a perda desse lote. Uma opção seria a de mandar de volta o lote ao
fornecedor, pedindo que fizesse um novo tratamento de solubilização – por exemplo, à
mesma temperatura na qual as peças foram originalmente tratadas (530oC), seguido
de resfriamento rápido à temperatura ambiente. Após esse tratamento, as peças
voltariam a ter uma microestrutura constituída apenas por cristais de fase a,
supersaturada. Dessa forma, elas poderiam ser novamente envelhecidas a 190oC pelo
tempo correto de uma hora, atendendo a especificação.

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PMT3100 – Exercícios 2017

Agora, analisando as alternativas propostas pelo problema, concluímos que o


procedimento proposto na alternativa (d) é o correto.
a) Não fazer nada com nenhum dos dois lotes, pois ambos, apesar do tratamento térmico
feito por engano – o lote A foi aquecido por duas horas ao invés de uma hora, e o lote
o o
B foi tratado a 260 C ao invés de 190 C – continuam a atender a especificação.
Falso, o lote B não atende a especificação.
o
b) Não fazer nada com o lote B, pois ele atende a especificação; aquecer o lote A a 530 C
por um tempo suficiente para solubilizar a fase  precipitada; esfriar rapidamente até a
o
temperatura ambiente e, a seguir, aquecer esse lote por uma hora a 190 C para
precipitar a fase .
Falso, o lote B não atende a especificação.
c) Aquecer ambos os lotes a 530 C por um tempo suficiente para solubilizar a fase 
o

precipitada; esfriar lentamente até temperatura que permita a manipulação (algo em


o o
torno de 100 C) e, a seguir, aquecer ambos os lotes por uma hora a 190 C para
precipitar a fase .
FALSO. Não é necessário reaquecer os dois lotes para solubilizá-los. Além disso, o
tratamento proposto para a sequência do aquecimento para a ressolubilização não é
adequado, pois um esfriamento lento depois do aquecimento a 530oC já levaria à
formação de cristais de q muito grandes, inviabilizando qualquer tratamento de
envelhecimento posterior.
o
d) Não fazer nada com o lote A, pois ele atende a especificação; aquecer o lote B a 530 C
por um tempo suficiente para solubilizar a fase  precipitada; esfriar rapidamente até a
o
temperatura ambiente e, a seguir, aquecer esse lote por uma hora a 190 C para
precipitar a fase .
e) Não é possível fazer nada com nenhum dos dois lotes – ambos estão perdidos.
FALSO. O lote A pode ser aproveitado tal qual está, e o lote B pode ser recuperado...

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PMT3100 – Exercícios 2017

10. A figura ao lado


apresenta a evolução do
limite de escoamento (e),
determinado por ensaios
de tração, para ligas de
ferro com três elementos
de liga (= solutos : C, Ti e
Ni; o solvente da liga é o
ferro), em função da
porcentagem de cada um
desses elementos.
Explique esses resultados,
levando em conta a tabela
abaixo, que apresenta os
raios atômicos dos quatro
elementos (dados em
picometros = 10-12m).

Elemento Fe C Ti Ni

Raio atômico 156 67 176 149


calculado (pm)

A intensidade do endurecimento em soluções sólidas depende de dois fatores.

1. Uma grande diferença de tamanho entre os átomos do metal de base (solvente) e os


átomos adicionados (soluto) aumenta o efeito do endurecimento. Uma grande diferença
de tamanho cria distorções elásticas na estrutura cristalina (em azul na figura abaixo) e
dificulta o movimento das discordâncias (ver figuras a seguir).

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2 Quanto maior a quantidade de elementos de liga adicionados, aumenta o efeito do


endurecimento, como pode ser visto na figura do enunciado do problema: uma liga Fe-
1%Ni é mecanicamente menos resistente do que uma liga Fe-2%Ni. Entretanto, se o soluto
for adicionado em excesso, o limite de solubilidade (caso exista um limite de solubilidade
para a liga em questão) pode ser ultrapassado, havendo a precipitação de uma segunda
fase – nesse caso, o endurecimento poderá ser conseguido por meio de um outro
mecanismo, chamado endurecimento por precipitação ou endurecimento por dispersão.

No caso dos sistemas propostos no exercício, o raio atômico do Ni é um pouco menor do que o
do Fe, e o raio atômico do Ti é um pouco maior do que o do Fe. Níquel e titânio entram na rede
cristalina do ferro, portanto, como elementos de liga SUBSTITUCIONAIS. Como a diferença
entre os raios é maior no caso do titânio, isso poderia explicar o seu maior efeito de
endurecimento quando adicionado ao ferro.
O raio atômico do carbono é muito menor do que o do ferro → ele é um elemento de liga
INTERSTICIAL. Como essa diferença entre os raios iônicos é muito grande, há uma distorção
considerável na rede cristalina do ferro nos pontos onde o carbono se encontra, o que dificulta
bastante a movimentação das discordâncias. Isso explicaria o grande efeito da adição de
carbono no aumento da resistência mecânica do ferro.
EM RESUMO, se nenhum outro mecanismo de endurecimento estiver em jogo – ou seja,
considerando apenas o efeito da solução sólida, pode-se dizer que:
 quando os raios atômicos dos elementos de liga forem MAIORES do que aquele do
metal de base, a solução é substitucional, e quanto maiores forem os raios atômicos
dos elementos de liga, maior será o seu efeito de endurecimento quando adicionados;
 quando os raios atômicos dos elementos de liga forem menores do que aquele do
metal de base, a solução é substitucionaL se a diferença entre os raios atômicos não

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PMT3100 – Exercícios 2017
for muito grande, e a solução é intersticial se a diferença for significativa(por
exemplo,acima de 10%). Nesse caso, quanto menores forem os raios atômicos dos
elementos de liga, maior será o seu efeito de endurecimento quando adicionados.

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