Interrogatório, Confissão, Oitiva Do Ofendido
Interrogatório, Confissão, Oitiva Do Ofendido
Interrogatório, Confissão, Oitiva Do Ofendido
Com a reforma realizada em 2008, o interrogatório passou a ser o último ato da instrução
processual. Todavia, algumas leis especiais possuem disposições diversas, estabelecendo que o
interrogatório deva ser realizado em outro momento, como acontece na Lei de Drogas, que
prevê o interrogatório como primeiro ato da instrução.
Mas isso não seria violação ao direito à ampla defesa e ao contraditório? Sim, e em razão
disso o STF3 passou a entender que mesmo nos casos de procedimentos especiais, que
estabeleçam de forma diversa, o interrogatório do acusado deve sempre ser o último ato da
instrução.
O Plenário do STF, porém, para evitar um caos jurídico, com eventual reconhecimento de
nulidade de diversos interrogatórios, realizou o que se chama de “modulação de efeitos”,
estabelecendo que tal entendimento só teria aplicabilidade a partir da publicação da ata do
referido julgamento (11.03.2016), sendo válidos os interrogatórios realizados até esta data.
Assim, não há como reconhecer a nulidade em processos nos quais o interrogatório foi o
primeiro ato da instrução, se o ato foi realizado de acordo com o que preconizava a lei especial
de regência e se ocorreu até 11.03.2016.
O réu pode ser interrogado, ainda, nos Tribunais (nos termos do art. 616 do CPP).
1
Negar este direito ao acusado é causa de nulidade absoluta. PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 392
2
Existem quatro posições doutrinárias a respeito: a) trata-se de meio de prova; b) trata-se de meio de defesa; c) trata-
se de meio de prova e meio de defesa; d) trata-se de meio de defesa e, em segundo plano, meio de prova. A primeiro
é corrente isolada. As demais possuem bons adeptos. Contudo, prevalece a tese de que se trata de meio de prova
e meio de defesa (embora a corrente que sustente tratar-se apenas de meio de defesa também possua bons
defensores). NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 369/370
3
HC 127.900/AM
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
(...)
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
(...)
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e
os prazos concedidos à acusação e à defesa;
Quando o réu está foragido e vem a ser preso, a Doutrina e a Jurisprudência vêm
entendendo que ele deve ser imediatamente ouvido, sob pena de nulidade absoluta.
2) Ato personalíssimo do réu - Somente o réu pode prestar seu depoimento, não podendo
ser tomado seu interrogatório mediante procuração.
E se o réu não possuir condições de se submeter ao interrogatório? Nesse caso, das duas
uma: se ele se tornou inimputável após cometer o crime, o processo deve ficar suspenso (nos
termos do art. 152 do CPP). Se ele já era inimputável à época do fato, o processo segue com
curador (art. 151 do CPP), não sendo exigível o interrogatório (Posição adotada pelo STF).
4
Há quem sustente, ainda, que a possibilidade de condução coercitiva do acusado (art. 260) só será possível quando
o Juiz tiver dúvida sobre a perfeita qualificação do acusado. NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 371
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato,
como intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo. (Redação
dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório será
feito por meio de intérprete. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
O Juiz limitará a publicidade do ato sempre que isso puder implicar em prejuízo ao
processo ou perturbação da ordem pública.
5) Individualidade - Se existirem dois ou mais réus, o CPP determina que cada um seja
ouvido individualmente (art. 191 do CPP), não podendo, inclusive, que um presencie o
interrogatório do outro.
Atualmente, com a nova redação do art. 188 do CPP, o Juiz deve permitir que, após a
realização de suas perguntas, cada parte (primeiro a acusação, depois a defesa), formulem
perguntas ao interrogando, caso queiram:
Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou
algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinente e relevante. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)
Além disso, a alteração promovida foi bastante salutar, eis que modernamente, como disse,
o interrogatório é meio de defesa do réu e, assim, nada mais justo que permitir ao advogado da
defesa interrogar o acusado de forma a fazer constar nos autos alguma declaração sua que
repute pertinente!
1) O §5° do art. 185 fala em “Juiz” e “réu”. No interrogatório quem preside o interrogatório é o
Delegado, e não há réu, mas apenas indiciado.
CUIDADO! O STJ entende que se o interrogatório foi realizado antes da entrada em vigor da Lei
12.792/03 (que passou a exigir a presença do advogado no interrogatório judicial), a eventual
ausência do defensor não caracteriza nenhuma nulidade.5
Mas e se não for assegurada ao réu a entrevista prévia com seu defensor? A Doutrina se
divide. Uns entendem que a nulidade é relativa (só se declarará a nulidade caso seja comprovado
o prejuízo), outros entendem que se trata de nulidade absoluta (deve ser realizado novamente).
No interrogatório o réu terá direito, ainda, a ficar em silêncio. Este direito decorre do
princípio de índole constitucional do Nemo tenetur se detegere. Por este princípio, ninguém é
obrigado a produzir prova contra si mesmo. Nos termos da Constituição Federal:
Art. 5º (...)
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
Essa garantia deve ser informada ao acusado antes do seu interrogatório, nos termos do art.
186 do CPP:
O § único do art. 186 estabelece, ainda, que o exercício do direito ao silêncio não poderá
ser interpretado em prejuízo à defesa:
5
(...)5. A jurisprudência deste Superior Tribunal firmou-se no sentido de que o interrogatório do réu, antes do
advento da Lei n. 10.792/2003, era ato personalíssimo do juiz, não estando sujeito ao contraditório, razão pela qual
a ausência de defensor, à época, não caracteriza nulidade. Precedentes.
(...)
(HC 186.918/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 07/02/2013, DJe 22/02/2013)
6
HC 66298
Porém, o legislador esqueceu-se de revogar expressamente o art. 198 do CPP, que se
encontra TACITAMENTE REVOGADO:
Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir
elemento para a formação do convencimento do juiz.
O interrogatório possui duas fases. Na primeira o réu responde às perguntas sobre sua
pessoa7 (art. 187, § 1° do CPP). Na segunda parte, responde às perguntas acerca do fato (art.
187, § 2° do CPP). Antes disso, porém, existe a etapa de QUALIFICAÇÃO do acusado.
A Doutrina majoritária entende que o direito ao silêncio NÃO se aplica às perguntas sobre a
qualificação do acusado, apenas ao interrogatório propriamente dito8!
Assim:
Mas, professor, é possível que haja um segundo interrogatório no curso do processo? Sim, é
possível, podendo o Juiz determinar novo interrogatório a qualquer tempo, de ofício ou a
requerimento das partes, não importando se se trata do mesmo Juiz que anteriormente
interrogou o réu. Nos termos do art. 196 do CPP:
Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício ou
a pedido fundamentado de qualquer das partes. (Redação dada pela Lei nº
10.792, de 1º.12.2003)
Se o réu estiver preso, o interrogatório será feito em sala própria, onde estiver recolhido,
nos termos do art. 185, § 1° do CPP. AQUI TAMBÉM É NECESSÁRIA A PRESENÇA DO
DEFENSOR (ADVOGADO OU DEFENSOR PÚBLICO).
7
Atualmente, inclusive, deve constar EXPRESSAMENTE a informação a respeito da existência de filhos, suas idades,
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa (art. 185, §10 do CPP, incluído pela LEI 13.257/16). Isso nos leva à conclusão de que só se aplica
tal exigência em se tratando de interrogatório de réu preso.
8
O interrogatório propriamente dito englobaria as duas fases previstas no art. 187 do CPP, e em relação a ambas
poderia haver exercício do direito ao silêncio. Não há direito ao silêncio, porém, em relação à etapa do art. 186
(perguntas de qualificação do acusado). NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 381/382
8) O interrogatório por meio de Videoconferência - A Lei 11.900/09, alterando a redação do
§ 2° do art. 185 do CPP, abriu a possibilidade de realização do interrogatório (e oitiva de
testemunhas) do réu mediante o recurso tecnológico da videoconferência.
Essa possibilidade só existe no caso de se tratar de réu preso e somente poderá ser
realizada EXCEPCIONALMENTE.
9
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 374/376
Apenas um último registro: No interrogatório por videoconferência, para que seja
assegurado o direito do acusado de ter o advogado presente, deve haver um advogado junto ao
preso e outro junto ao Juiz. 10
10
§ 5º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada
com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos
reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência
do Fórum, e entre este e o preso. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
Confissão
A confissão é um meio de prova através do qual o acusado reconhece a prática do fato que
lhe é imputado.
Para a validade da confissão, é necessário que ela preencha requisitos intrínsecos (ligados
ao conteúdo da confissão) e extrínsecos (ou formais, ligados à forma de sua realização).
Os requisitos extrínsecos, ou formais, são a pessoalidade (não se pode ser feita por
procurador), o caráter expresso (não se admite confissão tácita no Processo Penal, devendo ser
manifestada e reduzida a termo), o oferecimento perante o Juiz COMPETENTE, a
espontaneidade (não pode ser realizada sob coação) e a capacidade do acusado para confessar
(deve estar no pleno gozo das faculdades mentais).
Como disse a vocês, o silêncio do acusado não importa em confissão (daí o seu caráter
expresso), e NÃO IMPORTA EM PREJUÍZO À DEFESA, estando revogado tacitamente o art. 198
do CPP.
1
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 393
2
Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe
compatibilidade ou concordância.
isentam de pena. EXEMPLO: Imagine que o réu reconheça o crime de homicídio, mas
alegue que o praticou em legítima defesa.3
Retratável porque o réu pode, a qualquer momento, voltar atrás e retirar a confissão.
Entretanto, a confissão retratada não perde o seu valor automaticamente, podendo o Juiz
considerar sem valor algum a retratação e considerar como digna de valor a confissão.
Divisível porque o Juiz pode considerar válida a confissão em relação a apenas algumas de
suas partes, e falsa em relação a outras.
==182d36==
O STF entende que se o réu se retrata em Juízo da confissão feita em sede policial, não
será aplicada a atenuante prevista no art. 65, III, d do CP (confissão), salvo se, mesmo
diante da retratação, a confissão em sede policial foi levada em consideração para a sua
condenação.
A delação premiada é o benefício concedido ao infrator que denunciar outros envolvidos
no crime. Está prevista em diversas leis especiais, como a Lei dos crimes contra o sistema
financeiro (Lei 7.429/92) e na lei dos crimes contra a ordem tributária (Lei 8.137/90).
Importante ressaltar que a jurisprudência entendia que a confissão qualificada não gerava a
aplicação da atenuante genérica do art. 65, III, d do CP. Contudo, atualmente este entendimento
mudou. O STJ passou a entender que mesmo a confissão qualificada gera a atenuante de pena
prevista no CP.4
3
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 390
4
2. A invocação de causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade não obsta reconhecimento da incidência da
atenuante da confissão espontânea de que cuida o art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal. Precedentes.
(...)
(HC 283.620/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 20/02/2014, DJe
27/02/2014)
Oitiva do ofendido
A oitiva do ofendido permite ao magistrado ter contato efetivo com a pessoa que mais
sofreu as consequências do delito, de forma a possibilitar o mais preciso alcance de sua
extensão.
A primeira coisa que devemos saber é que o ofendido NÃO É TESTEMUNHA1, pois
testemunha é um terceiro que não participa do fato. O ofendido participa do fato, na qualidade
de sujeito passivo.
O ofendido, caso seja determinada sua oitiva, DEVE comparecer e responder às perguntas,
podendo ser conduzido coercitivamente2 (mediante força policial). Isso decorre do art. 201 do
CPP, que diz que o ofendido SERÁ (cogência, obrigação) ouvido:
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre
as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas
que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. (Redação dada
pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o
ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)
Se o ofendido mentir em seu depoimento, não responderá pelo crime de falso testemunho 3 (art.
342 do CP), pois não é testemunha, podendo, entretanto, responder pelo crime de denunciação
caluniosa, a depender do caso (STJ - AgRg no REsp 1125145/RJ)
1
PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 425. No mesmo sentido: NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 401
2
NUCCI sustenta, porém, que o ofendido, apesar de poder ser conduzido coercitivamente, não poderá responder
pelo delito de desobediência caso deixe de comparecer espontaneamente em Juízo. NUCCI, Guilherme de Souza.
Op. Cit., p. 404/405
3
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 404
4
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 404
5
Sustentando que a vítima não tem direito ao silêncio, Eugênio Pacelli. PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 425
A Lei 11.690/08 acrescentou diversos parágrafos ao art. 201 (§§ 2° ao 6°), de forma que
agora é dever do Juiz comunicar o ofendido de diversos atos processuais, notadamente aqueles
que importem na decretação da prisão e da liberdade do acusado, de forma a manter o ofendido
a par do que ocorre no processo. Esta regulamentação independe de o ofendido estar ou não na
qualidade de assistente de acusação!