Interrogatório, Confissão, Oitiva Do Ofendido

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Do interrogatório do réu

O interrogatório do réu (interrogatório na fase judicial) é o ato mediante o qual o Juiz


procede à oitiva do acusado acerca do fato que lhe é imputado. O interrogatório,
modernamente, é considerado como UM DIREITO SUBJETIVO DO ACUSADO1 (previsto,
inclusive, no art. 5°, LXIII), pois se entende que faz parte do seu direito à defesa pessoal
(subdivisão da ampla defesa, que conta, também com a defesa técnica, patrocinada por
profissional habilitado).

Assim, atualmente, se entende que o interrogatório é meio de prova e meio de defesa do


2
réu.

Com a reforma realizada em 2008, o interrogatório passou a ser o último ato da instrução
processual. Todavia, algumas leis especiais possuem disposições diversas, estabelecendo que o
interrogatório deva ser realizado em outro momento, como acontece na Lei de Drogas, que
prevê o interrogatório como primeiro ato da instrução.

Mas isso não seria violação ao direito à ampla defesa e ao contraditório? Sim, e em razão
disso o STF3 passou a entender que mesmo nos casos de procedimentos especiais, que
estabeleçam de forma diversa, o interrogatório do acusado deve sempre ser o último ato da
instrução.

O Plenário do STF, porém, para evitar um caos jurídico, com eventual reconhecimento de
nulidade de diversos interrogatórios, realizou o que se chama de “modulação de efeitos”,
estabelecendo que tal entendimento só teria aplicabilidade a partir da publicação da ata do
referido julgamento (11.03.2016), sendo válidos os interrogatórios realizados até esta data.

Assim, não há como reconhecer a nulidade em processos nos quais o interrogatório foi o
primeiro ato da instrução, se o ato foi realizado de acordo com o que preconizava a lei especial
de regência e se ocorreu até 11.03.2016.

O réu pode ser interrogado, ainda, nos Tribunais (nos termos do art. 616 do CPP).

O interrogatório do réu possui algumas características. São elas:

1) Obrigatoriedade – Tratando-se de direito do réu, em razão do subprincípio da


autodefesa, deverá ser aprazado seu interrogatório, na forma da lei processual, sob pena de
nulidade, nos termos do art. 564, III, e do CPP:

1
Negar este direito ao acusado é causa de nulidade absoluta. PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 392
2
Existem quatro posições doutrinárias a respeito: a) trata-se de meio de prova; b) trata-se de meio de defesa; c) trata-
se de meio de prova e meio de defesa; d) trata-se de meio de defesa e, em segundo plano, meio de prova. A primeiro
é corrente isolada. As demais possuem bons adeptos. Contudo, prevalece a tese de que se trata de meio de prova
e meio de defesa (embora a corrente que sustente tratar-se apenas de meio de defesa também possua bons
defensores). NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 369/370
3
HC 127.900/AM
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
(...)
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
(...)
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e
os prazos concedidos à acusação e à defesa;

Mas e se o réu, mesmo intimado, não comparece ao interrogatório? E se ele estiver


foragido? Há nulidade? A questão não é pacífica, sendo divididos os entendimentos na Doutrina
e na Jurisprudência. Entretanto, vem se formando o entendimento de que, nestes casos, tendo o
réu sido intimado para seu interrogatório, caso não compareça, estaria suprida a
obrigatoriedade com a sua mera intimação4, pois o exercício de sua autodefesa seria facultativo
(o que seria obrigatório seria a apresentação da defesa técnica, pelo profissional habilitado).

Quando o réu está foragido e vem a ser preso, a Doutrina e a Jurisprudência vêm
entendendo que ele deve ser imediatamente ouvido, sob pena de nulidade absoluta.

2) Ato personalíssimo do réu - Somente o réu pode prestar seu depoimento, não podendo
ser tomado seu interrogatório mediante procuração.

E se o réu não possuir condições de se submeter ao interrogatório? Nesse caso, das duas
uma: se ele se tornou inimputável após cometer o crime, o processo deve ficar suspenso (nos
termos do art. 152 do CPP). Se ele já era inimputável à época do fato, o processo segue com
curador (art. 151 do CPP), não sendo exigível o interrogatório (Posição adotada pelo STF).

3) Oralidade - Em regra, o interrogatório deve se dar mediante formulação de perguntas e


apresentação de respostais orais. No entanto, isso sofre mitigação no caso de surdos, mudos,
surdos-mudos e estrangeiros.

O CPP regulamenta estas hipóteses nos arts. 192 e 193. Vejamos:

Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela


forma seguinte: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá
oralmente; (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito;
(Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo
dará as respostas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

4
Há quem sustente, ainda, que a possibilidade de condução coercitiva do acusado (art. 260) só será possível quando
o Juiz tiver dúvida sobre a perfeita qualificação do acusado. NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 371
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato,
como intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo. (Redação
dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório será
feito por meio de intérprete. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

4) Publicidade - O interrogatório, como todo e qualquer ato processual, em regra é público,


até por força do que dispõe o art. 93, IX da Constituição da República. No entanto, em
determinados casos, pode o Juiz determinar a limitação da publicidade do ato. Essa decisão
pode ser a requerimento da parte, do MP ou, até mesmo, de ofício.

O Juiz limitará a publicidade do ato sempre que isso puder implicar em prejuízo ao
processo ou perturbação da ordem pública.

5) Individualidade - Se existirem dois ou mais réus, o CPP determina que cada um seja
ouvido individualmente (art. 191 do CPP), não podendo, inclusive, que um presencie o
interrogatório do outro.

6) Faculdade de formulação de perguntas pela acusação e pela defesa - Antes do advento


da Lei 10.792/03, que alterou o CPP, o interrogatório era ato privativo do Juiz, pois só a ele cabia
fazer perguntas ao réu.

Atualmente, com a nova redação do art. 188 do CPP, o Juiz deve permitir que, após a
realização de suas perguntas, cada parte (primeiro a acusação, depois a defesa), formulem
perguntas ao interrogando, caso queiram:

Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou
algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinente e relevante. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

Além disso, a alteração promovida foi bastante salutar, eis que modernamente, como disse,
o interrogatório é meio de defesa do réu e, assim, nada mais justo que permitir ao advogado da
defesa interrogar o acusado de forma a fazer constar nos autos alguma declaração sua que
repute pertinente!

Apesar das alterações, o sistema presidencialista permanece. Mas o que é o sistema


presidencialista? Esse sistema significa que as perguntas são formuladas ao Juiz, que as direciona
ao interrogando, podendo, inclusive, indeferir as perguntas que forem irrelevantes ou
impertinentes, ou, ainda, aquelas que já tenham eventualmente sido respondidas.

No julgamento dos processos do Júri, as perguntas serão realizadas diretamente pela


acusação e pela defesa ao interrogando – sistema do cross examination (art. 474, § 1° do CPP).
Já as perguntas feitas eventualmente pelos jurados seguem o sistema presidencialista (art. 474, §
2° do CPP).

7) Procedimento - O interrogatório do réu será realizado obrigatoriamente na presença de


seu advogado, sendo-lhe assegurado o direito de entrevista prévia e reservada com este. Nos
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do
processo penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor,
constituído ou nomeado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
(...)
§ 5º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito
de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por
videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados
para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado
presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso. (Incluído pela Lei
nº 11.900, de 2009)

ATENÇÃO! Esta garantia (imprescindibilidade do advogado no interrogatório) é restrita ao


interrogatório judicial, não sendo aplicável ao interrogatório em sede policial. Por dois motivos:

1) O §5° do art. 185 fala em “Juiz” e “réu”. No interrogatório quem preside o interrogatório é o
Delegado, e não há réu, mas apenas indiciado.

2) A presença do advogado é corolário do contraditório e da ampla defesa, princípios que não


incidem, em regra, na investigação policial.

CUIDADO! O STJ entende que se o interrogatório foi realizado antes da entrada em vigor da Lei
12.792/03 (que passou a exigir a presença do advogado no interrogatório judicial), a eventual
ausência do defensor não caracteriza nenhuma nulidade.5

Mas e se não for assegurada ao réu a entrevista prévia com seu defensor? A Doutrina se
divide. Uns entendem que a nulidade é relativa (só se declarará a nulidade caso seja comprovado
o prejuízo), outros entendem que se trata de nulidade absoluta (deve ser realizado novamente).

No interrogatório o réu terá direito, ainda, a ficar em silêncio. Este direito decorre do
princípio de índole constitucional do Nemo tenetur se detegere. Por este princípio, ninguém é
obrigado a produzir prova contra si mesmo. Nos termos da Constituição Federal:

Art. 5º (...)
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Essa garantia deve ser informada ao acusado antes do seu interrogatório, nos termos do art.
186 do CPP:

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da


acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório,
do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe
forem formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
E se, por acaso, o Juiz não informar o acusado de seu direito de ficar calado? O STJ
entende que se trata de nulidade relativa, ou seja, deve ser comprovado o efetivo prejuízo que
decorreu desta irregularidade processual. Se não houver prejuízo, não será reconhecida a
nulidade.6

Essa garantia também se aplica no interrogatório em sede policial!

O § único do art. 186 estabelece, ainda, que o exercício do direito ao silêncio não poderá
ser interpretado em prejuízo à defesa:

Art. 186 (...)


Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

5
(...)5. A jurisprudência deste Superior Tribunal firmou-se no sentido de que o interrogatório do réu, antes do
advento da Lei n. 10.792/2003, era ato personalíssimo do juiz, não estando sujeito ao contraditório, razão pela qual
a ausência de defensor, à época, não caracteriza nulidade. Precedentes.
(...)

(HC 186.918/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 07/02/2013, DJe 22/02/2013)
6
HC 66298
Porém, o legislador esqueceu-se de revogar expressamente o art. 198 do CPP, que se
encontra TACITAMENTE REVOGADO:

Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir
elemento para a formação do convencimento do juiz.

ATENÇÃO! Lembrem-se: o silêncio é direito do acusado e não pode ser utilizado


pelo Juiz para fundamentar eventual condenação!

O interrogatório possui duas fases. Na primeira o réu responde às perguntas sobre sua
pessoa7 (art. 187, § 1° do CPP). Na segunda parte, responde às perguntas acerca do fato (art.
187, § 2° do CPP). Antes disso, porém, existe a etapa de QUALIFICAÇÃO do acusado.

A Doutrina majoritária entende que o direito ao silêncio NÃO se aplica às perguntas sobre a
qualificação do acusado, apenas ao interrogatório propriamente dito8!

Assim:

Mas, professor, é possível que haja um segundo interrogatório no curso do processo? Sim, é
possível, podendo o Juiz determinar novo interrogatório a qualquer tempo, de ofício ou a
requerimento das partes, não importando se se trata do mesmo Juiz que anteriormente
interrogou o réu. Nos termos do art. 196 do CPP:

Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício ou
a pedido fundamentado de qualquer das partes. (Redação dada pela Lei nº
10.792, de 1º.12.2003)

Se o réu estiver preso, o interrogatório será feito em sala própria, onde estiver recolhido,
nos termos do art. 185, § 1° do CPP. AQUI TAMBÉM É NECESSÁRIA A PRESENÇA DO
DEFENSOR (ADVOGADO OU DEFENSOR PÚBLICO).

7
Atualmente, inclusive, deve constar EXPRESSAMENTE a informação a respeito da existência de filhos, suas idades,
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa (art. 185, §10 do CPP, incluído pela LEI 13.257/16). Isso nos leva à conclusão de que só se aplica
tal exigência em se tratando de interrogatório de réu preso.
8
O interrogatório propriamente dito englobaria as duas fases previstas no art. 187 do CPP, e em relação a ambas
poderia haver exercício do direito ao silêncio. Não há direito ao silêncio, porém, em relação à etapa do art. 186
(perguntas de qualificação do acusado). NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 381/382
8) O interrogatório por meio de Videoconferência - A Lei 11.900/09, alterando a redação do
§ 2° do art. 185 do CPP, abriu a possibilidade de realização do interrogatório (e oitiva de
testemunhas) do réu mediante o recurso tecnológico da videoconferência.

Essa possibilidade só existe no caso de se tratar de réu preso e somente poderá ser
realizada EXCEPCIONALMENTE.

A realização de interrogatório por videoconferência deve assegurar, no que for compatível,


todas as garantias do interrogatório presencial, só podendo ser realizada quando o Juiz não
puder comparecer ao local onde o preso se encontra, e para atender às finalidades previstas no §
2° do art. 185 do CPP:

§ 2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a


requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por
sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons
e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a
uma das seguintes finalidades: (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009)
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o
preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir
durante o deslocamento; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja
relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou
outra circunstância pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que
não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos
do art. 217 deste Código; (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. (Incluído pela Lei nº
11.900, de 2009)

A constitucionalidade do interrogatório por videoconferência foi questionada pela comunidade


jurídica, mas ainda não se teve um posicionamento firmado. Muitos Doutrinadores
(ERRADAMENTE) afirmam que o STF entendeu inconstitucional o interrogatório por
videoconferência. ISTO ESTÁ ERRADO.

O STF entendeu, apenas, que o interrogatório por videoconferência é INCONSTITUCIONAL


QUANDO PREVISTO EM LEGISLAÇÃO ESTADUAL, por violar a prerrogativa da União de legislar
sobre direito processual, nos termos do art. 22, I da Constituição. Entretanto, acerca da Lei
11.900/09, que alterou o CPP, não houve pronunciamento do STF nesse sentido.9

9
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 374/376
Apenas um último registro: No interrogatório por videoconferência, para que seja
assegurado o direito do acusado de ter o advogado presente, deve haver um advogado junto ao
preso e outro junto ao Juiz. 10

10
§ 5º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada
com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos
reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência
do Fórum, e entre este e o preso. (Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
Confissão

A confissão é um meio de prova através do qual o acusado reconhece a prática do fato que
lhe é imputado.

Para a validade da confissão, é necessário que ela preencha requisitos intrínsecos (ligados
ao conteúdo da confissão) e extrínsecos (ou formais, ligados à forma de sua realização).

Os requisitos intrínsecos são, basicamente, a verossimilhança das alegações do réu aos


fatos, a clareza do réu na exposição dos motivos, a coincidência com o que apontam os demais
meios de prova, etc.

Os requisitos extrínsecos, ou formais, são a pessoalidade (não se pode ser feita por
procurador), o caráter expresso (não se admite confissão tácita no Processo Penal, devendo ser
manifestada e reduzida a termo), o oferecimento perante o Juiz COMPETENTE, a
espontaneidade (não pode ser realizada sob coação) e a capacidade do acusado para confessar
(deve estar no pleno gozo das faculdades mentais).

Por adotarmos o princípio do livre convencimento motivado, e não o da prova tarifada, a


confissão não possui valor absoluto1, devendo ser valorada pelo Juiz da maneira que reputar
pertinente.2

Como disse a vocês, o silêncio do acusado não importa em confissão (daí o seu caráter
expresso), e NÃO IMPORTA EM PREJUÍZO À DEFESA, estando revogado tacitamente o art. 198
do CPP.

A confissão pode ser classificada em:

● Quanto ao momento – Pode ser extrajudicial, se prestada fora de Juízo, ou Judicial, se


prestada em Juízo. A primeira, por não ter sido realizada sob o crivo do contraditório,
possui pouco valor probante.
● Quanto à natureza – Pode ser real, que é aquela efetivamente realizada pelo réu,
perante a autoridade, ou ficta, que é aquela que não foi realizada pelo réu, sendo
presumida pela Lei em razão de alguma atitude sua (deixar de se defender, por
exemplo). Esta última não é possível no processo penal, sendo admissível, no entanto,
no processo civil.
● Quanto à forma – Pode ser escrita, quando o réu a realiza mediante escritos (cartas,
bilhetes ou qualquer outro), ou oral, que é a mais tradicional, realizada verbalmente
perante o Juiz da causa;
● Quanto ao conteúdo – Pode ser simples, quando o réu se limita a reconhecer o fato
que lhe é imputado, ou qualificada, que é aquela na qual o réu reconhece o fato, mas
alega tê-lo praticado sob determinadas circunstâncias que excluem o crime ou o

1
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 393
2
Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe
compatibilidade ou concordância.
isentam de pena. EXEMPLO: Imagine que o réu reconheça o crime de homicídio, mas
alegue que o praticou em legítima defesa.3

A confissão é, ainda, retratável e divisível, nos termos do art. 200 do CPP:

Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre


convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto.

Retratável porque o réu pode, a qualquer momento, voltar atrás e retirar a confissão.
Entretanto, a confissão retratada não perde o seu valor automaticamente, podendo o Juiz
considerar sem valor algum a retratação e considerar como digna de valor a confissão.

Divisível porque o Juiz pode considerar válida a confissão em relação a apenas algumas de
suas partes, e falsa em relação a outras.
==182d36==

O STF entende que se o réu se retrata em Juízo da confissão feita em sede policial, não
será aplicada a atenuante prevista no art. 65, III, d do CP (confissão), salvo se, mesmo
diante da retratação, a confissão em sede policial foi levada em consideração para a sua
condenação.
A delação premiada é o benefício concedido ao infrator que denunciar outros envolvidos
no crime. Está prevista em diversas leis especiais, como a Lei dos crimes contra o sistema
financeiro (Lei 7.429/92) e na lei dos crimes contra a ordem tributária (Lei 8.137/90).

Importante ressaltar que a jurisprudência entendia que a confissão qualificada não gerava a
aplicação da atenuante genérica do art. 65, III, d do CP. Contudo, atualmente este entendimento
mudou. O STJ passou a entender que mesmo a confissão qualificada gera a atenuante de pena
prevista no CP.4

3
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 390
4
2. A invocação de causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade não obsta reconhecimento da incidência da
atenuante da confissão espontânea de que cuida o art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal. Precedentes.
(...)

(HC 283.620/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 20/02/2014, DJe
27/02/2014)
Oitiva do ofendido

A oitiva do ofendido permite ao magistrado ter contato efetivo com a pessoa que mais
sofreu as consequências do delito, de forma a possibilitar o mais preciso alcance de sua
extensão.

A primeira coisa que devemos saber é que o ofendido NÃO É TESTEMUNHA1, pois
testemunha é um terceiro que não participa do fato. O ofendido participa do fato, na qualidade
de sujeito passivo.

O ofendido, caso seja determinada sua oitiva, DEVE comparecer e responder às perguntas,
podendo ser conduzido coercitivamente2 (mediante força policial). Isso decorre do art. 201 do
CPP, que diz que o ofendido SERÁ (cogência, obrigação) ouvido:

Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre
as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas
que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. (Redação dada
pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o
ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)

Se o ofendido mentir em seu depoimento, não responderá pelo crime de falso testemunho 3 (art.
342 do CP), pois não é testemunha, podendo, entretanto, responder pelo crime de denunciação
caluniosa, a depender do caso (STJ - AgRg no REsp 1125145/RJ)

A vítima tem direito ao silêncio? Prevalece que sim 4, mas é controvertido.5

1
PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 425. No mesmo sentido: NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 401
2
NUCCI sustenta, porém, que o ofendido, apesar de poder ser conduzido coercitivamente, não poderá responder
pelo delito de desobediência caso deixe de comparecer espontaneamente em Juízo. NUCCI, Guilherme de Souza.
Op. Cit., p. 404/405
3
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 404
4
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 404
5
Sustentando que a vítima não tem direito ao silêncio, Eugênio Pacelli. PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 425
A Lei 11.690/08 acrescentou diversos parágrafos ao art. 201 (§§ 2° ao 6°), de forma que
agora é dever do Juiz comunicar o ofendido de diversos atos processuais, notadamente aqueles
que importem na decretação da prisão e da liberdade do acusado, de forma a manter o ofendido
a par do que ocorre no processo. Esta regulamentação independe de o ofendido estar ou não na
qualidade de assistente de acusação!

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