Farmacoterapia Da Dor
Farmacoterapia Da Dor
Farmacoterapia Da Dor
DA DOR E INFLAMAÇÃO
POR EGLE LEONARDI. POSTADO EM VAREJO FARMACÊUTICO - 15347
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A dor é conceituada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) como uma
experiência sensorial, emocional e subjetiva, que está ligada a um dano real ou potencial.
Seu conhecimento teórico e prático aprofundado se faz necessário, pelo fato de a dor
constituir um dos principais sintomas de uma desordem orgânica, sendo assim, uma
queixa muito frequente de pacientes que buscam assistência e cuidado no ambiente de
saúde.
Já a inflamação pode ser definida como uma reação circulatória induzida por uma injúria
aos tecidos, com o consequente extravasamento de fluidos, células e moléculas, para o
espaço extravascular. Ela é caracterizada pela vasodilatação, com consequente aumento
do fluxo sanguíneo, acarretando aumento da permeabilidade vascular e saída de células e
moléculas dos vasos para os tecidos e migração de leucócitos, onde ocorreu a injúria.
“Destaca-se que o processo inflamatório apresenta cinco sinais cardinais importantes, sao
eles: edema, calor, rubor, dor e perda de função. A agressão tecidual é o agente
desencadeador da resposta inflamatória, podendo ser de origem biológica (induzida por
microrganismos), física ou química”, ressalta o professor de Farmacoterapia e
Fisiopatologia da Dor e Inflamação do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para
o Mercado Farmacêutico, Matheus Tavares.
Fatores críticos
“Estudos recentes apontam a dor crônica como um dos fatores críticos na determinação
de patologias como depressão e ansiedade, e sua coexistência tende a agravar ainda mais
tais transtornos. Nos últimos anos, os estudos encontraram consideráveis sobreposições
entre a dor e as alterações de neuroplasticidade, que resultaram em alterações
neurobiológicas”, menciona Tavares.
Sendo assim, Tavares conclui que o estudo contínuo das bases fisiopatológicas da dor
constitui um constante desafio e pode contribuir de forma direta para o melhor
entendimento das alterações neuropsíquicas observadas no contexto da dor, bem como
favorecer a descoberta de novas abordagens terapêuticas.
Classificação da dor
Dor Nociceptiva - Compreende dor somática (que se origina da pele, dos ossos, das
articulações, dos músculos ou do tecido conectivo) e visceral (que surge de orgãos
internos, como intestino e outras vísceras). Tem como característica ocorrer diretamente
por estimulação de terminações nervosas livres (nociceptores), encontradas em estruturas
somáticas e viscerais, por estímulos de origem mecânica, térmica ou química.
Dor Aguda - Apresenta como característica o início súbito, estando relacionada a injúrias
de origem traumáticas, infecciosas ou inflamatórias. Quanto à sua duração, ela tende a
desaparecer com a intervenção na causa – resposta à terapia medicamentosa, cura da
lesão ou ainda a imobilização. “A dor aguda pode levar a manifestações como aumento da
pressão arterial, crise de ansiedade, alteração da frequência cardíaca, taquipnéia (elevação
da frequência respiratória) e agitação psicomotora. Geralmente é relatado pelo paciente
ser de intensidade forte, impactando diretamente nas atividades laborais e sociais”, explica
Tavares.
Dor crônica - É marcada por estímulos nociceptivos repetidos que determinam uma
variedade de modificações no SNC. Enquanto dor aguda é marcada por alterações que
cursam com resposta do sistema nervoso autônomo simpático, com taquicardia,
hipertensão e midríase, a dor crônica permite uma adaptação a esta condição. Apresenta-
se mal delimitada no tempo e no espaço, tem carater persistente e recorrente. A despeito
da ausência de respostas neurovegetativas associadas, observa-se respostas emocionais
e afetivas (ansiedade e depressão) frequentes.
Protocolo de atendimento
Por meio dele, o farmacêutico deve fazer o acompanhamento da dor do paciente e realizar
a prescrição de MIPs, quando necessário. Além disso, pode realizar o encaminhamento do
paciente fora de condições autolimitadas, cujo diagnóstico e prescrição médica de
medicamentos (não MIPs) são necessários.
Desafio de Caso 1
À medida que as queimaduras foram cicatrizando, a dose de morfina foi reduzida de modo
gradual e, por fim, substituída por um comprimido oral contendo a associação de
codeína/paracetamol. Três meses depois, J.D. queixou-se de acentuada perda da
sensação ao toque na área do enxerto cutâneo. Descreveu também uma sensação de
formigamento persistente nessa área, com surtos ocasionais de dor aguda em facada.
Após encaminhamento a uma clínica especializada em dor, J.D. recebeu gabapentina oral,
que reduziu parcialmente os sintomas. Entretanto, retornou à clínica dois meses depois,
ainda com dor intensa.
A sensação inicial de dor foi mediada pelo calor por meio da ativação de neurônios
periféricos de alto limiar termossensíveis que expressam nociceptores (receptores de dor).
Tal estímulo nocivo (queimadura) levou à formação de mediadores inflamatórios como
bradicinina, prostaglandina E2/I2 e outros agentes pró-inflamatórios, que contribuíram para
a manutenção e amplificação da resposta inflamatória.
A percepção desse processo, por parte do farmacêutico, é de suma importância, uma vez
que diversos pacientes acometidos por essa complicação tardia se automedicam com
MIPs, analgésicos (dipirona e paracetamol) e AINEs (Ibuprofeno e naproxeno). Assim, não
conseguem obter êxito em sua terapia, se expondo a efeitos adversos e complicações
associadas à terapia com AINEs (gastrite, úlceras gastroduodenais, distúrbios renais e
complicações cardiovasculares).
“Por que a morfina teve sua dose reduzida gradualmente e foi substituída por um
comprimido com associação de codeína e paracetamol?”, indagou o professor, que lança
esse desafio para os profissionais farmacêuticos afetos da atuação clínica.
Ele mesmo explica que o uso de analgésicos opioides está frequentemente associado ao
desenvolvimento de tolerância, em que o uso repetido de uma dose constante do fármaco
resulta em diminuição do efeito terapêutico, requerendo aumento da dose ou frequência
para manutenção da analgesia.
Prince - Cantor e compositor - Um dos reis do pop mundial, Prince foi encontrado morto
em sua mansão em Minneapolis, estado de Minnesota, em 2016. A causa foi overdose
de Fentanil, um analgésico opioide potente de efeito narcótico.
Elvis Presley – Cantor - A causa oficial da morte de Elvis foi arritmia cardíaca, mas o
exame toxicológico comprovou a existência de 14 outras substâncias prescritas em seu
corpo, incluindo morfina, barbitúricos, codeína e diazepam.
Anna Nicole Smith - Modelo e estrela de reality show - A polêmica ex-Playboy foi
encontrada morta em um quarto de hotel na Flórida, em 2007. A causa foi uma mistura
explosiva de remédios para dormir e metadona (opioide).
Philip Seymour Hoffman – Ator - Ele estava em filmagem de Jogos Vorazes e foi
encontrado morto em seu apartamento em Manhattan, em 2014, devido a um coquetel
letal de drogas legais e ilegais, que incluía heroína, cocaína, anfetaminas e tranquilizantes.
Desafio de Caso 2
A jovem, F.M.S., de 16 anos, foi recebida em consultório devido a cólicas menstruais. Sua
menarca ocorreu aos 13 anos. Sua menstruação dura quatro a cinco dias, e ela tem ciclos
de 28 dias.
Durante os primeiros dois a três dias de sua menstruação, ela afirma ter cólicas muito
fortes. As cólicas têm ocorrido desde a menarca e parecem ter piorado no último ano. Elas
são tão fortes, às vezes, que F.M.S. perde suas atividades de rotina.
Ela toma, por conta própria, parecetamol para cólica menstrual, sem alívio adequado. A
jovem não tem nenhuma história clínica significativa de cirurgia prévia, uso de DIU, não
toma medicamentos regularmente e não é sexualmente ativa. O problema foi avaliado
como dismenorreia primária e foi prescrito Ibuprofeno pelo farmacêutico para o manejo
dessa condição, o que resultou em controle das dores reportadas pela paciente.
Modelos de documentação
PRONTUÁRIO: a documentação do processo de cuidado deve ser feita em prontuário
próprio para cada paciente, organizado de forma a manter o registro dos atendimentos e,
portanto, a história farmacoterapêutica e clínica do paciente. Uma das formas mais
comuns de registro, adotada por diferentes profissionais da saúde, é o modelo SOAP (do
inglês subjective, objective, assessment, plan), que organiza as informações em dados
subjetivos (S), objetivos (O), avaliação (A) e plano (P). O CFF (Conselho Federal de
Farmácia) apresenta um modelo que permite a organização das informações dos
pacientes e o registro de evolução.