O Teste Sociométrico Como Meio Proativo de Melhorar As Relações Interpessoais Na Sala de Aula

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O TESTE SOCIOMÉTRICO COMO MEIO PROATIVO DE

MELHORAR AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA SALA DE AULA

CERQUEIRA, Edenir Christine- UCB1

LIRA, Adriana -UCB2

Grupo de Trabalho – Violências nas Escolas


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Para compreender a origem da violência no âmbito escolar, este artigo buscou averiguar, por
meio do teste sociométrico, como as relações interpessoais entre estudantes do 6º ano do
ensino fundamental de uma escola pública de Brasília. A pesquisa se caracteriza como um
estudo de caso. Para coleta de dados, foi aplicado o teste sociométrico, composto de quatro
questões, que permitiu fazer um mapeamento das relações estabelecidas na sala de aula.
Realizou-se ainda um grupo focal com os estudantes e conversas individuais com alguns
deles. A professora regente contribuiu com a aplicação de um questionário que continha
questões objetivas e subjetivas. Concomitante a estes instrumentos, foram realizadas a
observação in loco (sala de aula e intervalo) e a análise documental (ficha individual dos
estudantes e o Projeto Político Pedagógico da escola). Os resultados evidenciaram que o
professor não conhecia muito bem as relações estabelecidas pelos estudantes, surpreendendo-
se, pois, com as constatações do teste sociométrico. Em síntese, o resultado da investigação
confirma a validade do referido teste, hoje retomado na literatura sobre violências como meio
proativo de melhorar as relações interpessoais na sala de aula, uma vez que ele subsidia o
trabalho do professor no conhecimento de seus estudantes e no encaminhamento dos conflitos
entre eles, ensinando-os a conviver, conforme recomenda o relatório de Delors et al. (1998).

Palavras-chave: Relações interpessoais. Sociometria. Ensino Fundamental.

Introdução

O Art. 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (cf. Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO do Brasil, 1998) prevê a

1
Pedagoga pela Universidade Católica de Brasília. E-mail: [email protected]
2
Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Católica de Brasília. Professora adjunta e Secretária
Executiva da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma Universidade. E-mail:
[email protected]
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educação como um direito fundamental do indivíduo para o desenvolvimento pleno de sua


personalidade humana. Para tanto, o mesmo documento prevê que a instrução deve promover
a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Assim,
compreende-se que a escola tem entre outras tarefas um papel importante para a consecução
desses objetivos que se resume no preparo dos indivíduos para o convívio social.
Todavia, verifica-se nos dias atuais que a convivência entre os estudantes é um desafio
para os professores e adultos em geral já que os conflitos não resolvidos entre os pares,
conforme sugere Jares (2002), resultam em violências ainda maiores dentro e fora da escola,
impedindo, conforme sugere Sifuentes (2008), que se efetive o direito pleno à educação,
constituindo, pois, um desafio à escola compreender seu aluno e melhor assisti-lo. Portanto, a
escola aparece como espaço privilegiado para a preparação da cidadania e para o pleno
desenvolvimento humano do educando (FÁVERO, 2004).
Já em décadas anteriores, o princípio da convivência era uma das preocupações da
literatura no que se refere ao papel da escola. Delors et al. (1998), por exemplo, estabelecem
como um dos pilares da educação para o século XXI aprender a conviver. Todavia, mais de
uma década se passou e este ainda constitui um desafio para o professor e para a escola
comprometida com o desenvolvimento da sociedade, considerando que a escola, juntamente
com a família, tem essa responsabilidade de preparar a criança e o adolescente para o
convívio em grupo.
Não pretendemos explorar o conceito de violência, mas destacar que esse fenômeno
entre os seus vários motivos, se dá pela indisciplina dos estudantes (cf. ESTRELA, 2002) e
pela dificuldade de convivência entre eles. Inúmeras pesquisas registram a dificuldade de os
estudantes conviverem, tornando a escola um cenário de violências (cf., p. ex.,
ABRAMOVAY; RUA, 2002; ABRAMOVAY, 2005; IRELAND, 2007; LIRA, 2010). Assim,
preocupada com o insucesso de parte das escolas em suas ações para prevenção e superação
das violências no espaço sala de aula, as autoras, em suas experiências têm verificado certo
despreparo por parte do estabelecimento no que se refere à atuação de seus professores e
gestores, ao se mostrarem a espera de uma solução vinda de fora, conforme constatou Lira
(2010), ou ainda por deixar passar as ocorrências despercebidas.
Todavia, tendo conhecido a sociometria, as autoras notaram que ela é meio possível de
otimizar a relação entre os estudantes, buscou apoio na literatura, ratificando que ela (a
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sociometria) constitui meio eficaz para o professor no que se refere a uma ferramenta capaz
de subsidiá-lo na promoção da convivência entre os estudantes. Por meio de Comellas (2007,
2008), por exemplo, verificou que a adoção de qualquer medida para prevenção e superação
dos conflitos entre os estudantes requer que os educadores os conheçam, isto é, tenham o
mapeamento de sua turma, conheçam as preferências dos estudantes para formar seus grupos
e, assim, compreender como se relacionam. É preciso identificar a existência de preconceitos
e ainda a origem dos conflitos entre eles para encaminhar de maneira proativa os problemas
advindos da dificuldade de convivência e ainda promover um relacionamento de modo a
educar os estudantes para o respeito às diferenças, fatores esses favorecidos pelo teste
sociométrico. Por meio dele, este estudo objetivou compreender as relações interpessoais
entre os estudantes de uma sala de aula de uma escola com histórico de violências. Mais
precisamente, objetivou-se averiguar a dimensão da aceitação e não aceitação entre os
mesmos. Aspectos estes que devem ser cuidados pelos adultos para evitar que as crianças e
pré-adolescentes tenham dificuldade de viver em grupo e se transformarem em seres isolados
do restante da turma. Nesse sentido, o referido teste permite conhecer como se dá a relação
entre as crianças ou o porquê de suas aceitações ou rejeições. O que faz com que as crianças e
adolescentes queiram estar juntos? Sendo assim, o professor, de posse desses dados, pode
buscar o entrosamento dos alunos em sala de aula.
Para Rocha et al. (2003), o relacionamento interpessoal pode tornar-se e manter-se
harmônico e prazeroso, permitindo um trabalho cooperativo, em equipe, com integração de
esforços, conjugando energias, conhecimento e experiências para se alcançar um produto um
produto maior que a soma das partes, ou seja, de plena sinergia. Ou então, tenderá a tornar-se
tenso, conflitante, levando à desintegração de esforços, à divisão de estado de energias e à
crescente deterioração do desempenho grupal, tendendo para um estado de entropia do
sistema e, finalmente, para a dissolução do grupo.
De acordo com Pimentel e Sigrist (1976), os estudantes podem aprender muito no que
se refere às relações humanas e podem ser levados a adquirir a maturidade social desejada:
saber conviver com os outros, saber dar e receber, saber falar e ouvir, sentir sua
responsabilidade perante o grupo e atuar no sentido de resolver os conflitos, entender as
outras pessoas e os seus comportamentos e adequar suas atitudes em função do bem social.
Portanto, a escola é, segundo Kauark e Silva (2008), um dos agentes responsáveis pela
integração da criança na sociedade, além da família. É um componente capaz de contribuir
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para o bom desenvolvimento de uma socialização adequada da criança, por meio de


atividades em grupo, de forma que capacite o relacionamento e participação ativa destas,
caracterizando em cada criança o sentimento de ser social. Portanto, não deve ignorar a
convivência entre os estudantes.
De acordo com Comellas (2007), numa sociedade com mudanças tão profundas e
aceleradas como a nossa, a educação deve ser aquela capaz de construir a convivência entre
os estudantes. Portanto, o papel da instituição deve ser o de reforçar a coesão social e a
compreensão dos povos tendo em vista a heterogeneidade que compõe a sala de aula. A
mesma autora alerta que você só pode aprender a viver dentro do grupo para entender os
limites do próprio espaço, os espaços dos outros, partilhar os desejos e necessidades
individuais e coletivas, o que se trata de um processo longo e importante meio de preparo para
viver em sociedade.

As relações interpessoais, a sociometria, o teste sociométrico e a escola

Miranda (1984) considera que o processo de socialização da criança é concretamente


determinado pela sua condição histórico - social. Além disso, enquanto sujeito da história a
criança tem a possibilidade de recriar seu processo de socialização e através dele interferir na
realidade social.
Para Comellas (2012), é, sobretudo, nesta fase escolar que as crianças e os
adolescentes buscam a satisfação de suas necessidades emocionais (afetividade, intimidade,
confiança, lealdade, aceitação e reciprocidade). Relações essas que vão compor a sua
identidade pessoal e social, assim experimentando papéis e situações permitidas ou proibidas,
bem como a submissão às regras impostas no pequeno grupo.
De acordo Abramovay, Cunha e Calaf (2009), é a partir das reflexões acerca das
percepções e das relações estabelecidas nas escolas que é possível melhor entender as diversas
violências que podem acontecer nos estabelecimentos de ensino, além de construir estratégias
mais eficazes para uma boa convivência escolar, já que as relações e interações que
acontecem no ambiente escolar não são, em absoluto, inteiramente classificáveis como
conflituosas ou harmoniosas. São, ao contrário, múltiplas e multifacetadas: uma mesma
relação pode ter aspectos de conflito e amizade, ser negativa e positiva. Para Abramovay,
Cunha e Calaf (2009), a escola é um espaço de socialização onde os estudantes gostam de
estar com os amigos que estabelecem relações marcadas pela necessidade de confiar no outro,
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de encontrar interesses semelhantes aos seus, de forma que o colega possa vir a se tornar, de
fato, um amigo. Esses fatores, para os alunos, contribuem para que a escola seja percebida
como um espaço agradável. Os motivos pelas quais os alunos gostam da escola podem,
também, ter ligação com os professores e com a direção, que aparecem como referências.
Neste sentido, a escola cumpre importante papel na construção de capital social (cf.
ABRAMOVAY; CUNHA; CALAF, 2009).
Verifica-se em Comellas (2007, 2008) que o teste sociométrico é recurso capaz de
mapear as relações entre as pessoas, portanto, excelente ferramenta que subsidiará o trabalho
do professor comprometido com o seu papel na formação integral de seus estudantes. Porém,
esse recurso atualmente ainda não é muito conhecido, embora explorado em décadas
anteriores, quando Bastin (1966), Alves (1974), Bustos (1979) e outros já destacavam sua
importância para o estudo das relações humanas, principalmente, pelos profissionais da
Psicologia.
Rocha et al (2003), por exemplo, por meio do teste sociométrico, buscou compreender
como se processa a relação de amizade entre as crianças, identificando aspectos dessa relação
e possíveis interferências do professor na mesma. Os resultados apontaram que, na
perspectiva dos professores, os grupos são formados por afinidade, o que envolve
preconceitos entre os alunos, competições, aspectos para os quais devem estar atentos os
professores. Esses e diversos estudos realizados, não apenas na área educacional, mas
também em terapia familiar já resultaram em recomendações importantes (cf. ROCHA et al.
2003; COMELLAS, 2007, 2008; MARTINELLI, SCHIAVONI, 2009; MOLINA; VALERO;
CANALES, 2011.
Em síntese Moreno vem mostrar que a sociometria é um meio de descobrir as
indiferenças, as aceitações, e rejeições de um grupo em si (cf. ALVES, 1974). É, portanto
uma ferramenta a mais, mas não somente para os professores usarem em sala de aula, pois,
ainda conforme Alves (1974) o teste sociométrico é uma ferramenta que pode contribuir para
o trabalho dos orientadores educacionais, professores, psicólogos e, de forma geral, por todos
aqueles que tenham responsabilidade de trabalho e/ ou assistência a grupos humanos.
A literatura sobre a sociometria converge para a constatação de que se trata de um
teste versátil e universal. Teoricamente não existe grupo no qual o teste não possa ser
utilizado para fornecer preciosas informações sobre sua estrutura psicossocial, desde que haja
uma adequada verificação das técnicas. Partindo desse contexto é necessário ressaltar que no
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Brasil o teste sociométrico foi aplicado pela primeira vez pelo professor Danny José Alves,
sendo seu trabalho publicado pela Fundação Getúlio Vargas em 1964. Posteriormente,
diversos outros trabalhos foram realizados com o teste sociométrico, evidenciando a sua
eficácia na análise das relações interpessoais, como Monteiro e Carvalho (2008), Rocha et al.
(2003) e outros.
De acordo com Comellas (2007, 2008), o teste sociométrico é capaz de detectar a
dificuldade de conviver entre os estudantes o que exigirá atenção do professor e uma análise
aprofundada do que acontece, das razões por motivo pelos quais essas reações ocorrem para
buscar alternativas educacionais para ajudar os estudantes a viver em meio à diversidade.
Para Pimentel e Sigrist (1976), a técnica sociométrica consiste em apresentar aos
alunos de determinado grupo, a uma classe, por exemplo, a questão: “Com quem você
gostaria de trabalhar?” Essa questão pode variar, conforme a finalidade a que se destina e
deve ser bem objetiva. Pede-se ao aluno que escolha, entre os colegas da classe, três com os
quais gostaria de formar uma equipe, devendo ser atendida, pelo menos, uma das escolhas
formuladas. O aluno deve estar seguro de que suas escolhas serão bem recebidas pelo
professor, sejam quais forem.
Com a ajuda do teste sociométrico pode se mostrar a importância dada ao
relacionamento interpessoal e também a necessidade de se identificar o ser complexo que
somos e que, necessariamente, passa pela emocionalidade das relações sociais e suas trocas
intersubjetivas. Pois, em uma relação de afeto, encontramos talvez as formas adequadas de
lidar com o outro no processo de comunicação. A comunicação entre as mentes (razão) é
apenas o meio do caminho. É na comunicação entre os corações (afeto) que se dá a
reconstrução do ser. Compreender é insuficiente para se empreender a reconstrução do
comportamento.
Verifica-se que a falta de recursos não pode ser justificativa para o não alcance de
resultados para o problema das violências que atinge a escola, pois a sociométria constitui um
recurso barato de subsidiar o trabalho do professor no que se refere à promoção da
convivência em sala de aula. Todavia, lembra Comellas (2008) que o uso deste recurso pelo
professor exige conhecimento do teste, sua função e ainda sobre a popularidade, rejeição,
expansividade positiva e negativa dos indivíduos para entender as atitudes individuais e de
grupo, ações, bem-estar, satisfação. Assim, poderá intervir pedagogicamente no grupo, que é
onde construir estas ligações a nível pessoal para, desta forma, pode responder e melhorar o
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processo de socialização e interação. É, pois, uma técnica simples, de fácil aplicação e análise
que precisa ser, segundo Rocha et al. (2003), utilizada na avaliação das relações interpessoais
que ocorrem durante os trabalhos de desenvolvimento de grupo, ou seja, pode ser aplicada no
início e no final desses trabalhos, possibilitando analisar de que modo se encontra o
relacionamento entre os envolvidos em um grupo através da aplicação de questionários e
ainda como os sujeitos atuam dentro de um contexto grupal, de modo que se perceba o grau
de interferência que cada um exercer sobre o grupo e as consequências dessa influência para a
interação no ambiente.
A concepção do conhecimento ocorre no ser humano através de experiências e
interações entre as pessoas. Portanto, este é o momento que nos faz perceber um novo tempo
para conhecer técnicas simples para os educadores identificarem as relações interpessoais com
maiores possibilidade de participação de todos em sala de aula. Aqui começamos a vislumbrar
um novo modo de pensar, de atuar junto aos alunos isolados da turma com olhos
democráticos, que buscam garantir a melhoria do rendimento escolar dessa sala de aula.

Metodologia

A pesquisa, que se caracteriza como um estudo de caso de caráter exploratório, foi


realizada no âmbito da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da
Universidade Católica de Brasília. Os dados foram coletados ao longo de três meses do
segundo semestre de 2012 por meio do teste sociométrico, que foi composto de quatro
questões que permitiram analisar as relações entre os estudantes, desde as aceitações e
rejeições e ainda o perfil dos líderes e colíderes: a) quais os dois colegas com quem você mais
gosta de se sentar junto? b) Quais os dois colegas com quem você menos gosta de se sentar
junto? c) quais os dois colegas que você acha que mais gostam de se sentar com você? d)
quais os dois colegas que você acha que mais gosta de sentar com você? Além dessas
questões, as primeiras indagações do questionário eram compostas de alguns dados sobre o
perfil dos estudantes e sua relação fora do ambiente escolar.
Além da aplicação do questionário e do teste sociométrico em sala, foram realizadas
quatro observações in loco, totalizando 12 horas, de modo a averiguar como é a relação entre
os estudantes.
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Foi feita ainda uma análise documental, uma vez que se fez necessário obter dados
junto à secretaria escolar quanto ao perfil dos estudantes (idade, religião, situação escolar...) e
ainda junto ao professor, para conhecer a sua percepção sobre determinados estudantes e as
relações estabelecidas entre eles.

O contexto

O teste foi realizado numa turma do 6º ano do turno matutino de uma escola da rede
pública, localizada na periferia do Distrito Federal numa cidade com 22 anos de fundação.
Segundo a gestora, a escola que atende aproximadamente 2000 (dois mil) alunos provenientes
das adjacências, cuja população é de baixa renda já foi destaque nos jornais pelo alto nível de
violência.
A turma foi escolhida por ser considerada a mais difícil, tanto pelo gestor como pelos
professores e ainda por outras turmas da escola. A escolha desta escola se deu pelo fato de
oferecer os anos posteriores 7º, 8º e 9º ano, possibilitando, assim, que as autoras dessem o
retorno dos resultados da pesquisa, de modo a subsidiar o trabalho dos professores nos anos
posteriores no que se refere à realidade mapeada pelo teste sociométrico.

A população

A população reuniu 34 estudantes do 6º ano do ensino fundamental e um professor de


Língua Portuguesa que acompanhou a pesquisa e dispôs tempo da sua aula para o
desenvolvimento da mesma. Trata-se de uma professora com contratação efetiva, visto que as
escolas de Brasília também recebem professores em regime temporário. A professora, entre
31 e 40 anos de idade, tinha a formação de especialista, declarou residir no bairro onde está
situada a escola e ter mais11 anos como educadora. Estava a atuar na escola pesquisada por
mais de seis anos, com carga horária de 40 horas semanais.
A pesquisa contou ainda com a participação de 27 estudantes, entretanto, faz-se
necessário considerar na realização do teste sociométrico, os estudantes ausentes (07),
ouvidos posteriormente, totalizando, pois 34 estudantes.
No que se refere ao sexo, 41,1% eram meninas e 58,9% eram meninos. Os estudantes
tinham entre 12 e14 anos. Fazendo uma breve análise desta informação, pode-se dizer que os
estudantes entre 12 e 14 anos comprovavam os déficits de aprendizagem, isto é, estavam fora
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da faixa etária que deveriam para cursar o 6º ano (11 anos de idade). Além disso, verificou-se
que 23,5% deles declararam-se repetentes e 74,1% estavam na turma desde o início do ano
letivo.
Quanto aos aspectos familiares, a turma era composta de estudantes com família
monoparentais e seus responsáveis (em maioria) tinham o ensino fundamental incompleto.
Um percentual de 14,0% declarou morar com o pai e a mãe, entretanto, mais da metade deles
(55,0%) declarou que seus pais eram separados e, ainda, 29,0% declararam morar com outras
pessoas que não o pai e mãe, isto é, avós, tios e /ou irmãos (29,0%), aspectos estes
importantes a ser considerados pela escola, isto é, perfil familiar e sua realidade (baixa
escolaridade).

A sala de aula e o espaço físico da escola

A disposição dos alunos em sala de aula era sempre de dois em dois. Só se sentavam
separados em dia de provas. Eles constantemente se misturavam, principalmente quando
alguns deles esquecem o livro de alguma disciplina. Algumas meninas se sentavam junto de
outras meninas e meninos sentavam com meninos. Não havia lugar marcado na sala de aula.
Também, não se presenciou nos dias das visitas a organização em círculo ou em grupos, como
mencionou a professora. “Estar em grupo torna a aula um pouco mais complicada já que é
mais difícil controlá-los”, afirmou a professora. Um percentual de 37,0% dos estudantes
confirmou a fala da professora. No questionário, esses estudantes escreveram na questão
aberta as seguintes considerações: “Não é muito bom fazer trabalho em grupo, porque às
vezes tem integrante que não se compromete com o trabalho e só atrapalha o grupo e vira
aquela bagunça” (Estudante, menino, 13 anos). Porém, ao se verificar a folha das posições
sociométricas feita para a análise do teste sociométrico, verificou-se que esta fala é de um dos
estudantes mais tímidos da sala, entretanto, não revelado pelo teste. Já no grupo focal, quando
perguntado aos estudantes sobre a dinâmica do trabalho em grupo, alguns também afirmaram
que não gostavam por causa da bagunça, entretanto, a maioria preferiu estar em grupo para o
desenvolvimento das atividades: “Tipo assim, é melhor porque um estudante ajuda o outro e
a aula é mais agradável” (Estudante, masculino, 13 anos). Esta fala foi confirmada pelos
questionários, já que 63,0% consideraram gostar de trabalhar em grupo com as seguintes
justificativas “É bom estar entre os amigos”; “por ser divertido fazer trabalhos juntos”;
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“porque é melhor, mais interessante, é bom trocar ideias sobre o trabalho, fica mais fácil e
mais rápido de fazer”.
Além da falta de dinamismo das aulas, queixa dos estudantes, foi confirmado pela
observação in loco, que os estudantes eram mais ouvintes que participantes, verificou-se que a
escola não era muito apresentável. A observação in loco foi importante para perceber que o
espaço físico da escola poda ser um espaço mais atrativo para os estudantes. Ainda no que se
refere aos atrativos e à organização do espaço, Aquino (1998) destaca que essas condições
acabam por contribuir para a indisciplina dos estudantes.

Os resultados do teste sociométrico

Observou-se que os meninos eram os mais preferidos em sala de aula (55,9%),


sugerindo, pois, maior popularidade. Entretanto, eles também ocupavam lugar de destaque
quando analisada a posição de rejeição (58,1%).
Quem era o (a) líder da sala? Com quase 20,0% dos votos, a estudante N.K.P.N foi a
preferida dos colegas. Em grupo focal, os estudantes informaram que ela é uma pessoa gentil,
alegre e educada com todos: “Ela demonstra gostar de estar com a gente. Mesmo sendo
patricinha, ela não faz acepção de pessoas. Ela é educada, alegre e gentil com todos”
(Menino, 13anos). Quando lhes perguntado o que é ser patricinha, um dos estudantes afirmou:
“É estar sempre arrumadinha, acompanhando a moda, mas geralmente é metida e não se
mistura com ninguém, tem nariz empinado”. A professora ficou surpresa, pois achava que o
escolhido como o mais querido ou popular da turma seria o M.E.S.P pelo fato de ele ser muito
esforçado, responsável e ajudar todo mundo. Comparando estas informações da professora
com o resultado do teste sociométrico, buscaram-se outras informações da líder. N.K.P.N teve
exatamente 18,5% dos votos de um total de 27 alunos presentes. Ela votou e foi votada
mutuamente duas vezes. Ela era branca, tinha doze anos era católica. Morava com a mãe e o
padrasto. Tinha um ótimo comportamento em sala de aula conforme relatou a professora.
Nunca repetiu série. Quando tinha problemas em sala de aula tentava resolver com
cordialidade. Compreendia que os problemas surgiam por causa das “gracinhas” dos alunos e
gostava de fazer trabalhos em grupo. Ela declarou que gostava da turma porque os colegas
eram divertidos e “legais”. Gostava da escola por causa dos alunos. Depreendeu-se do grupo
focal que o fato de a estudante se “misturar” aos colegas era aspecto bastante valorizado pelos
colegas da turma. Era brincalhona, amiga de todos, educada e tratava todos sem diferença.
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Características estas também do M. E. S. P., educado, responsável, entretanto, “sempre na


dele”, mais contido, não se “misturava” muito com os colegas, não gostava de bagunça e era
mais reservado.
Ao se analisar aqueles estudantes que não foram escolhidos como líderes, foi possível
perceber que os estudantes não elegidos foram aqueles estudantes pouco comunicativos, que
não gostavam de fazer parte da bagunça, isto é, eram pouco populares. Quem foi o
estudante mais rejeitado da sala? O resultado do teste revelou o estudante B. C. Q como o
mais preterido da turma, com igual quantidade de votos que a N.K.P.N na questão anterior
(18,5%). B. C. Q era moreno, tinha 14 anos, era católico e morava com os pais. Tinha um
bom comportamento. Gostava da turma por causa dos amigos e da escola por considerá-la
boa. Era repetente, foi votado quatro vezes em segundo lugar e uma vez em primeiro lugar. O
grupo focal sugeriu o porquê de ele não ser bem querido pelos colegas: “Ele é até gente boa,
mas ninguém gosta muito das brincadeiras sem graça dele e ele atrapalha o desenvolvimento
das tarefas” (Menina, 13 anos). Para a professora, a exclusão de alguns estudantes, como no
caso do K.L.S está associada à timidez e a problemas familiares: “K.L.S é tímido, parece
deprimido com os problemas de sua casa, fica isolado em sala e pouco se comunica com os
colegas”.
Quanto às percepções da atração, ficaram em primeiro lugar a B., em segundo lugar o
B. Q. C e R. A.J e em terceiro lugar a A. P. S. A. e B. S. A. Já no que se refere às percepções
das rejeições, ficaram em primeiro lugar a B.V.C.V e o E.R.A.J e em segundo lugar o K.L.S e
a N.K.P.N. Ou seja, verificou que as percepções dos adolescentes principalmente no que se
refere às rejeições foram mais frequentes do que a verdadeira rejeição apresentada no teste.
Isto é, os adolescentes tiveram uma visão um pouco mais pessimista do que a revelada pelo
teste.
Comellas (2012) considera que as percepções dos estudantes estão estreitamente
relacionadas com o que eles esperam das demais pessoas, condicionando em grande parte a
maneira de situar-se no grupo e na classe. Todavia, lembra que o indivíduo com a percepção
incompatíveis da sua situação será menos receptivo às respostas do grupo e atividades que
podem ser propostas, dificultando, pois, o processo de socialização no espaço da sala de aula.
Ainda de acordo com Comellas (2012), no grupo os indivíduos se organizam de forma
espontânea e as simpatias e antipatias emergem com certa rapidez, fruto das preferências,
experiências e empatia entre os seus membros. No entanto, o professor não pode em nenhum
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caso forçar ou dificultar as relação, mas sim favorecer as oportunidades de interação e


aprendizagem de habilidades relacionais, evitando as atitudes excludentes. Desta forma, estará
suavizando a antipatia entre os membros do grupo, especialmente quando fundamentada em
estereótipos. Sendo a socialização um aspecto importante ao longo da vida dos indivíduos,
especialmente na infância e na adolescência, a família e a escola exercem papel importante na
socialização primária e secundária, respectivamente.
Em síntese, o teste revelou que a professora não conhecia bem os seus estudantes. Para
ela, o líder da sala era o M. E. Talvez, pelas características que ela mesma apresentou, que ele
procura ajudar a turma e é esforçado e responsável. E foi contrário: a turma escolheu N. K. P.
N., por ser educada com todos, cortês, ajudar a todos e ser sempre gentil, mesmo sendo
considerada “patricinha”. A professora esperava que a turma excluísse o K.L.S, por ele ser
tímido, ter pouca comunicação com os colegas e talvez por fazer tratamento psicológico. Para
sua surpresa foi o B. C. Q, ele pelas brincadeiras sem graça e pelas piadas de mau gosto, mas
não pela pessoa dele, pois a turma, mesmo sendo “bagunçada”, era bem unida, não excluía
ninguém. Podiam até ter mais afinidade um ou outro, mas não, uma coisa que afetasse muito a
turma, conforme o grupo focal. Verifica-se a necessidade e importância dos os professores
utilizarem o teste sociométrico, aplicá-lo duas vezes à turma em cada um dos semestres, de
modo a identificar as crianças tímidas, isoladas e excluídas, para se relacionarem melhor com
a turma toda.

A convivência em sala de aula e na escola

Foi significativo o número de estudantes que declarou gostar da escola (88,9%) apesar
dos conflitos em seu interior. O principal motivo foi estar com os colegas e por esta mesma
razão em geral gosta da escola (55,9%). Fato este comprovado também por Abramovay,
Cunha e Calaf (2009) que consideram possível notar que as percepções dos atores (estudantes,
docentes e membros da direção) sobre as escolas estão intimamente vinculadas às interações
que conseguem estabelecer nesse ambiente. Também houve aqueles que não gostavam de sua
escola (11,1%) pelos seguintes motivos “é feia, perigosa, bagunçada e é um lixo”.
Os estudantes consideraram a sala de aula um local bastante conflituoso. Foram
unânimes em considerar que a origem dos conflitos entre eles era principalmente as
“gracinhas” ou “brincadeiras de mau gosto”, “sem noção e fora de hora”, “brincadeiras de
luta”, por motivo de ciúmes, disputas amorosas, conversas paralelas etc. Uma das estudantes
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do grupo focal informou “É assim, as brigas acontecem por qualquer coisa, por exemplo, é só
passa no corredor sem encarar as pessoas, assim não tem problemas com ninguém, mas se
você encarar, já era” (Menina, 13 anos).
Apesar dos conflitos em sala e na escola, os estudantes no grupo focal se mostraram
bem unidos, estavam sempre juntos em sala e no intervalo. Verifica-se nas opiniões entre
estudantes e professores divergências de opiniões, sobretudo, sobre a relação entre os
estudantes, que tentam explicar que a divergência entre eles é coisa comum deles e que eles se
entendem. Eles tinham consciência de que o comportamento difícil deles e ou a indisciplina
dificultavam o trabalho do professor, que passava a ter preferência pelos estudantes
“bonzinhos e obedientes”: “Tipo assim, tem professores que têm preferências pelos alunos
(confirmaram 70,3% dos estudantes no questionário), os professores gostam mais dos alunos
que são bonzinhos, estudiosos, obedientes e que não dão trabalho para eles” (Estudante,
menino, 13 anos). Para os estudantes, os mais queridos dos professores eram M. M. S, por ser
uma “nerd” e M. E. P., por ele ser legal com os professores, entretanto, estes não são os
preferidos dos estudantes.
Para resolução dos conflitos, os estudantes disseram que geralmente revidavam e
guardavam rancor: “Tipo assim, eu chamo o bonde e desço o coro” (Menino, 14 anos). No
grupo focal, informaram que “os professores não sabem resolver nada, encaminham para a
direção ou chama a direção, depois encaminha para o SOE – Serviço de Orientação ao
Estudante chamam o Silvio que é o vice-diretor (...) Os professores separam ou dão
advertências, brigam com os alunos e também põem para fora da sala de aula” (Menino, 12
anos).
De acordo com a professora, os conflitos não têm momento certo para acontecer, eles
acontecem na ausência e presença dos professores. A própria professora reconhece que não
exercem sua autoridade como deveriam. Tal justificativa se dá, segundo ela, pelo desafio de
querer que os estudantes sejam disciplinados, entretanto, os pais não conseguem hoje
disciplinar os seus filhos.
Quanto à resolução dos conflitos em sala de aula, verificou-se contradição de
informações entre os estudantes e a professora, que afirmou em primeiro lugar recorrer ao
diálogo, tal qual registram outras pesquisas (cf., p.ex., CARREIRA, 2005; LIRA, 2010)
“Converso com o aluno, Encaminho para a direção e entro em contato com os pais”. Já os
estudantes prestaram outras informações: “Os professores se metem na vida dos estudantes”
28437

(Estudante, menino, 13 anos). Outra estudante afirmou: “Os professores nunca resolvem
nada. Só pede para a gente ficar quieto e muda a gente de lugar” (Estudante, menino, 14
anos).
Vale à pena destacar uma observação de Pimentel e Sigrist (1976) no que se refere à
importância do professor no encaminhamento dos conflitos e na promoção da convivência
entre os estudantes: deve ter uma postura firme para que os estudantes sejam levados a uma
verdadeira vivência grupal que lhes permita um grande avanço em sua socialização e que não
se limite às situações escolares, mas que possa ser transferida para todas as circunstâncias de
vida. Ainda de acordo com Pimentel e Sigrist (1976, p. 38), o professor exerce papel
importante no acompanhamento dos estudantes para encaminhar os conflitos entre eles:
O professor mais do que ninguém, pelo contato prolongado que tem com os alunos
em situação de grupo, é quem pode perceber os problemas de um aluno, que uma
situação grupal pode revelar. O professor, atuando de forma indireta sobre o grupo,
pode levar cada membro à formação das atitudes convenientes para a vida de grupo,
que a escola, a família e a sociedade em geral tanto exigem.

Todavia, verifica-se na fala da professora uma preocupação com as questões de


ensino-aprendizagem: “A maior dificuldade está na realização de tarefas para fixar o
conteúdo; participação das aulas (esclarecimento de dúvidas); pontualidade na entrega de
trabalhos e responsabilidade”. Quando lhe indagamos o que fazia para promover a
convivência em sala de aula, a professora respondeu: “Converso com a turma sobre respeito,
disciplina, responsabilidade, pontualidade nos prazos estabelecidos. Trabalho com textos que
abordam valores”. Entretanto, essas ações, embora importantes, mostram-se fragilizadas se
os professores deixam que os estudantes resolvam seus conflitos ou fingem não perceber as
ocorrências, como revelou o grupo focal com os estudantes.
Verificou-se certo desestímulo da professora no que se refere à sua profissão, tendo
em vista os desafios da sala de aula e da escola, já que próprios estudantes não omitem a
informação de que a sua “escola é o caldeirão do inferno”. A professora afirmou ter apoio da
direção, do Orientador pedagógico, do psicólogo social e do serviço de orientação
educacional – SOE:
O SOE e a direção, quando solicitados conversam com o aluno e com sua família
(...) A maior dificuldade em está em manter a disciplina, promover a interação
família x escola e o uso de aparelhos eletrônicos durante a aula (...) Outra
dificuldade é o fato de os pais só comparecem à escola quando solicitados por mim,
pelo SOE ou pela direção e, na entrega das notas bimestrais, os pais esperam que a
escola dê conta de seus filhos, transferindo para nós a sua responsabilidade.

A professora ainda acrescentou:


28438

As maiores dificuldades enfrentadas são a falta de comprometimento,


responsabilidade com os estudos e a disciplina em sala de aula (conversas paralelas/
desatenção e a não conclusão das tarefas de sala ou de casa). Outra situação que
afeta diretamente o rendimento dos alunos é a ausência dos pais (família) no
acompanhamento escolar dos seus filhos.

Entre as responsabilidades da escola, Garcia (1999) destaca que o papel da escola é


contribuir para o desenvolvimento afetivo e cognitivo dos alunos, bem como garantir as
condições apropriadas ao processo de ensino-aprendizagem. Assim, a escola como espaço
institucional responsável pela educação, deve interferir na indisciplina dos alunos de modo a
evitar o conflito entre eles e ainda para realizar os seus objetivos no que se refere ao ensino-
aprendizagem e à formação social dos estudantes, convidando os pais a reconhecerem o seu
papel na formação de seus filhos em apoio à escola.
Ainda no que ser se refere à indisciplina dos estudantes e à importância da família,
Aguiar e Almeida (2008) destacam a falta de compromisso das famílias na educação das
crianças e no ensino dos valores morais, pois poucos pais acompanham seus filhos pequenos
no processo escolar. No entanto, verifica-se um jogo de transferência de responsabilidades
entre os pais e a escola.

Considerações Finais

O teste não identificou estudantes totalmente excluídos, ou seja, que não receberam
sequer um voto em uma das questões. Verifica-se a relação interpessoal dos alunos em sala de
aula é um pouco mais positiva do que o esperado, em vista do contexto escolar e das
informações previamente oferecidas pela gestora e professores acerca da turma como a pior
da escola. Verificou-se que os estudantes, adolescentes entre 12 e 14 anos, queriam ser
adultos fortes, populares entre os amigos, com certa dificuldade de se adaptarem as normas
estabelecidas pela escola. Assim, apresentavam-se sempre bem agitados, conversavam muito,
mas mostravam unidos: “Alguns querem até passar nas brincadeiras a imagem de que são
violentos, mas não são” (Estudante, menina, vice-representante da turma). O excesso de
energia dos estudantes acabava sendo canalizada para indisciplina e os comportamentos
indesejados, tais como as brincadeiras de mau gosto, impaciência de uma das partes,
empurrões etc., que acabavam por gerar brigas entre eles, mas no outro dia aparentemente
estava tudo bem. Assim, também confirmou a professora: “Hoje eles brigam e amanhã está
tudo certo”.
28439

O cenário pesquisado remete à necessidade de espaços em que os estudantes possam


exercer seu protagonismo para liberar as energias, entretanto, verificou-se que a escola deixa a
desejar neste aspecto. Apesar dos conflitos e da falta de atrativos na escola, um aspecto
favorável era fato de os estudantes declararem gostar da escola para estar junto com os
colegas, o que deve ser usado como aspecto favorável para superação das violências.
Foi possível verificar, especificamente na turma estudada, que a indisciplina dos
estudantes é a causa das ocorrências de conflito entre os estudantes. Essa indisciplina faz com
que o professor se sinta sobrecarregado, uma vez que ele se mostra despreparado para lidar
com ela (cf., p. ex., GARCIA, 1999; ESTRELA, 2002), por isso, acabam por perder a
paciência, tomando atitudes que agravavam ainda mais o clima de conflito na sala de aula (cf.
LIRA, 2010). Havia um jogo de culpabilização entre professor e aluno para tratar da relação
entre eles. Os professores se queixavam da indisciplina dos estudantes e os alunos, por sua
vez, queixavam-se da falta de paciência de seus professores: “Os professores não têm
paciência com eles, e geralmente gritam muito, perdem a paciência, e que já teve professora
que em sala de aula já falou até palavrão. Perdem o domínio da turma e recorrem ao Sílvio,
que é o vice-diretor da escola”(Estudante, menino, 13 anos).
A falta dos professores contribuía para a indisciplina, pois os estudantes ficavam livres
até o horário seguinte. Verificou-se que os estudantes estavam expostos ao perigo, já que, sem
o acompanhamento mais de perto de um adulto, um estudante sobre a caixa de energia
conversando.
Observou-se na turma a dificuldade de conviver em grupo. Quando sentados sozinhos,
a professora disse conseguir manter a disciplina na aula, por isso, evitava as atividades em
grupos no afã de evitar os conflitos na sala de aula. Assim, pergunta-se: estará a escola
cumprindo o seu papel, que é o de ensinar a conviver?
Os resultados da pesquisa comprovam a importância do teste para subsidiar o trabalho
do professor para conhecer melhor as preferências de seus estudantes e promover a
convivência entre eles para que aprendam a trabalhar em grupos e a se respeitarem apesar de
suas preferências. Portanto, o teste socimétrico deve ser realizado pelo menos no início de
cada um dos semestres letivos, constituindo valiosa ferramenta aos professores. Por meio
dele, os professores podem identificar os estudantes mais tímidos e excluídos e integrá-los ao
grupo, bem como conquistar em favor dos objetivos aqueles estudantes considerados mais
populares e queridos pela turma, isto é, os líderes.
28440

Os resultados permitiram mapear as relações entre estudantes de modo a entender o


conflito entre eles. O estudo resultou em considerações importantes repassadas ao
estabelecimento. Assim, a escola precisa constantemente ouvir os estudantes e professores
para averiguar se está alcançando os seus objetivos.

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