Desigualdade Social

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Introdução:

A desigualdade social é elemento cada vez mais presente no cotidiano das grandes cidades
brasileiras. Este fenômeno tem se caracterizado como marca dos grandes centros urbanos, que
são capazes de congregar, em uma mesma localidade, diferentes grupos sociais com interesses
econômicos, políticos e sociais antagônicos.

Este trabalho analisa o fenômeno da desigualdade social no Brasil e no mundo e tem como principal
função a conscientização e informação dos envolvidos e da turma.

O que é:
Desigualdade social é a diferença entre classes sociais. Para entender esse conceito,
precisamos levar em consideração que uma classe social é um grupo de pessoas com status
social similar, sendo que esse status pode ser definido por distintas variáveis que abarcam
aspectos econômicos, educacionais, culturais, de gênero, raça e crença.

Assim, a desigualdade social está diretamente relacionada a fatores que tornam alguns
indivíduos menos favorecidos do que outros dentro de uma sociedade hierarquizada. Isso dá
origem também à desigualdade econômica, de gênero e racial, que veremos logo depois.

Origem:
Desde a antiguidade, a desigualdade social está presente, no cotidiano das sociedades humanas.
Encontram-se, exemplos claros deste fenômeno, seja na Roma antiga, ou na Idade Média. Com
acontecimentos históricos, como a Revolução Industrial, êxodo rural e consequente urbanização
desordenada. E com a solidificação do capitalismo, vê-se um agravo das disparidades sociais.
Evidentemente que a participação do indivíduo na sociedade e cultura é influenciada pela posição
que este ocupa na estrutura social e pelo seu status. Porém vê-se que historicamente as elites
sempre buscaram oportunidades para alimentar o abismo existente entre as camadas sociais.
Fato este que visivelmente, gera sentimentos de desconforto e sofrimento, nos desprovidos,
muitas vezes direta ou indiretamente tendo afetada, sua saúde.

Para historiadores, a desigualdade no Brasil é herança do período colonial e se deve a fatores


como a influência ibérica, os padrões e posses de latifúndios e a escravidão. Todos esses fatores
colaboraram para a formação de uma sociedade muito desigual nos quesitos social e econômico

Os países que foram sumariamente explorados, durante séculos, são os que apresentam, hoje, os
maiores índices de desigualdade social, além da miséria, que geralmente os acompanha.
Cada classe social possui o seu próprio modo de vida. Isso se reflete em um padrão de consumo
próprio e, principalmente, na diferença de acesso a direitos fundamentais, como: alimentação,
saúde, segurança, moradia e educação.
O primeiro intelectual a falar sobre a desigualdade entre as classes foi o alemão Karl Marx. Para
ele, a desigualdade social era um fenômeno causado pela divisão de classes. Por haver as classes
dominantes, estas se utilizavam da miséria gerada pela desigualdade social, graças ao lucro e
acúmulo de propriedades, para dominar as classes dominadas, numa espécie de ciclo.

Há uma ideologização antiga da desigualdade social que, em geral, tenta justificar ou explicar o
domínio de certas classes sobre outras. No século XVII, Jacques Bossuet afirmava que os reis
tinham o direito divino de governar. Isso implicava aceitar como divina também a existência de uma
aristocracia que vivia um padrão de vida infinitamente superior ao padrão enfrentado pelos servos,
plebeus e camponeses europeus da época. Um detalhe importante é que o que mantinha o luxo da
aristocracia eram os impostos pagos pelos pobres.

Causas da desigualdade social


Assim como a biomedicina busca explicações e soluções para as doenças, devemos entender o
conceito de desigualdade e encontrar as raízes do problema. Partindo dessa premissa,
trouxemos abaixo as principais causas da desigualdade social, especialmente na perspectiva da

A globalização também incrementa a desigualdade social, uma vez que um dos seus
aspectos é a imigração em massa. Conforme as pessoas se deslocam em busca
de oportunidades de trabalho e renda, as desigualdades são acentuadas.
Isso acontece por vários motivos, mas, principalmente, pela diferença de idiomas, que limita as
chances de emprego e, assim, de receber um salário digno.

A falta de acesso aos serviços públicos e incentivos do governo também reforça esse cenário. Já
a discriminação e a violência sofridas pelos imigrantes minimizam ainda mais suas expectativas
de ascensão social.

Outra causa da desigualdade social é a estratificação da sociedade por classes. Isso


determina o nível de poder e liberdade de cada grupo, especialmente porque o bem-estar
econômico também influi nas decisões políticas.
O financiamento de campanhas políticas por entidades e indivíduos, por exemplo, gera uma co-
dependência que dificilmente leva a decisões em prol de indivíduos menos favorecidos.
O gênero também pode influenciar na desigualdade social. O patriarcado e a distribuição histórica
de papéis na sociedade tendem a condicionar as oportunidades das mulheres: elas ingressaram
no mercado de trabalho tardiamente, e por isso são subjugadas.

Embora sejam muitas vezes mais qualificadas que os homens, sofrem várias formas de assédio
desde o momento que deixam suas casas para chegar ao trabalho até a execução de sua rotina
laboral.

O racismo estrutural

O racismo estrutural é evidente em nossas relações sociais. Após a abolição, os escravos libertos
e seus filhos foram “empurrados” para áreas urbanas periféricas (desigualdade espacial). Essas
áreas são caracterizadas pela falta de infraestrutura e poucas oportunidades de ascensão
econômica, social e política.
A desigualdade de oportunidades perpetua as divisões, o descuido e a redução de expectativas
dos negros, que ainda sofrem várias formas de violência em seu dia a dia simplesmente pela
sua cor.

Má distribuição de renda
Levando em consideração que 10% dos brasileiros mais ricos abrangem 43% da renda no
país, claramente há uma concentração de poder que agrava a desigualdade social.
Esse desnível faz com que a população mais pobre tenha condições precárias, sendo o dinheiro
apenas fonte de sobrevivência.

Além disso, as diferenças salariais de acordo com determinadas profissões exercidas também
impactam nesse processo, tendo em vista a percepção de valor por poder.

Acesso à educação deficitário


A falta de acesso à educação é uma das principais causas da desigualdade. Isso ocorre porque
a qualidade do ensino oferecido e a capacidade de aprendizagem dos alunos está condicionado a
vários fatores. Contexto escolar, localização e interesse de seus membros são apenas alguns dos
exemplos.
A educação influencia o capital social de uma pessoa, ou seja, o potencial de se reconhecer e
ser reconhecido em um grupo. Esses agrupamentos são formados, principalmente, baseados em
objetivos comuns. Por isso, é habitual que seus integrantes compartilhem das mesmas
impressões e oportunidades.
Dessa forma, com direitos e oportunidades semelhantes, os integrantes de um mesmo grupo
têm carreiras e empregos que os distinguem em relação aos demais estratos sociais. Essa distinção
reforça a diferença salarial e consequentemente, a desigualdade econômica e social

Quanto menor o nível educacional de um país, consequentemente, maior será a tendência de


desigualdade social, que influencia na formação profissional das pessoas.
Com vagas que exigem competências cada vez mais específicas, fica difícil concorrer de forma
justa tendo um histórico curricular deficitário e inferior ao dos concorrentes. A baixa qualidade do
ensino, insuficiência de vagas nas escolas, má conservação do ambiente estudantil, pouco
investimento, entre outros pontos são razões relevantes.

Administração ruim dos recursos públicos


Muito antes de presenciarmos o impacto da crise do coronavírus, a má gestão dos recursos
públicos já era um fato bem recorrente da história brasileira.
Quando as decisões em relação à verba pública são equivocadas e incoerentes, a população
sente o baque e os serviços básicos se tornam fracos diante da demanda. A existência da
corrupção é um dos malefícios para a distribuição de recursos, porque o que seria direcionado à
população carente acaba enriquecendo outras classes.

Investimentos governamentais insuficientes


Por conta de decisões como o novo piso orçamentário, percebemos que os investimentos
governamentais são irrisórios no que tange às necessidades básicas.
A falta de recursos para a educação, saúde, áreas sociais, cultura e demais vertentes faz com
que o problema da desigualdade aumente, prejudicando a massa trabalhadora.
Independentemente de ideologias ou modelos econômicos, os governos devem ter um
planejamento para garantir o que é direito da população pela lei.
Não garantia de serviços básicos
Sendo consequência dos demais fatores levantados, a não garantia de serviços básicos permite
que os índices de desenvolvimento humano sejam os piores possíveis. É direito da população ter
acesso à educação, alimentação, moradia, segurança, saúde e oportunidades de trabalho de
qualidade, caso contrário, a disparidade será maior.

Nem todos têm condições ou privilégios para usufruir de serviços privados, portanto, uma
sociedade justa deve priorizar o equilíbrio e estruturar os recursos públicos.

Tipos:
Desigualdade econômica
Desigualdade econômica é a disparidade de renda e riqueza distribuída entre classes sociais.
Ela fica bem nítida ao observar que uma pequena parcela da população concentra a maior parte
do dinheiro, enquanto boa parte da sociedade é pobre e passa por diversas consequências
advindas da instabilidade financeira. Suas causas e consequências são diversas, incluindo uma
relação com gênero e raça.

Desigualdade racial
Desigualdade racial é o resultado de uma estrutura de poder que coloca uma etnia ou raça
acima das outras de forma hierárquica, sendo uma parte do problema da desigualdade
social como um todo. No Brasil, país marcado por quase 400 anos de escravidão e o último do
mundo a aboli-la, a desigualdade racial é reflexo do racismo estrutural e traz consequências
diversas aos grupos sociais (negro, branco, amarelo, pardo).

Desigualdade regional
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um indicador para medir as condições de vida das
pessoas de uma determinada localidade. Devido aos fatores históricos, é comum acontecer que
pessoas de uma determinada localidade tenham mais privilégios do que em outra região. No
Brasil, podemos ver essa diferença entre as condições da população do Nordeste em relação à
população das regiões Sul ou Sudeste.

Ainda é possível perceber essa faceta da desigualdade social no mundo observando o abismo
existente entre as possibilidades de uma pessoa que vive em grandes centros urbanos, em
relação a quem está na zona rural. Além das dificuldades de um sistema de saúde eficaz, as
possibilidades de uma educação de qualidade que vá até formações superiores são, também,
escassas.

Desigualdade de gênero
A desigualdade de gênero ocorre quando há privilégio de um gênero em detrimento de outro, ou
outros. Historicamente, os direitos e vontades do homem se sobrepuseram aos das mulheres e
pessoas não-binárias.
Essa diferença está enraizada em nossa sociedade sob a forma do machismo, muito em função
de uma cultura patriarcal ultrapassada. Isso porque a estrutura familiar e as relações sociais
antigas colocavam o gênero masculino no lugar mais elevado da pirâmide social.
Os homens trabalhavam fora, tomavam as decisões e impunham suas vontades às suas esposas
e filhos. Entretanto, desde crianças, também fomos ensinados a diferenciar as pessoas pelo
gênero, o que reforça o preceito de que é preciso rotular as pessoas e, consequentemente,
prejulgá-las.
Violência contra a mulher
A desigualdade de gênero é um dos principais motivos da banalização de situações atrozes,
como o estupro. Desde o Brasil colonial, índias, escravas e muitas mulheres em vários
segmentos da pirâmide social sofreram — e ainda sofrem — com esse tipo de violência.
Essa característica, herdada do patriarcado, é justificativa para a violência contra a mulher.
Violência física, psicológica ou patrimonial, que se estabelece pelo silêncio e não é praticada
apenas por estranhos, mas, principalmente, por familiares.
A violência contra a mulher pode ser percebida de várias maneiras, desde o prejulgamento por
uma forma se vestir até a imposição do isolamento social em favor do relacionamento. Sofremos
constantes humilhações, por meio de críticas e ofensas disfarçadas de brincadeiras.
Falta de representatividade
A falta de representatividade nos espaços é mais uma forma de reforçar a ideia da inferioridade
feminina e impedir a mudança do contexto discriminatório em função do gênero.
Atualmente, vivemos um retrocesso que ameaça as conquistas das mulheres até aqui. Ora, se
prezamos por uma construção democrática, quais seriam os motivos para não ocuparmos mais
lugares na política?
Conforme dito anteriormente, a representatividade é essencial para o reconhecimento do
verdadeiro papel da mulher na sociedade: mantenedora, mãe ou líder social, não importa a
classificação, as pessoas precisam compreender que a garantia de direitos começa e termina
com a liberdade de escolha.
Entretanto, as mulheres ocupam menos de 15% das cadeiras das câmaras do Legislativo em
70 países. No Brasil, mesmo com as cotas partidárias obrigatórias — a lei estabelece que cada
partido deve ter no mínimo 30% e no máximo 70% de candidatos por gênero —, a aplicação da
proporção fica limitada ao voto público e com o machismo estrutural, muitas mulheres não são
eleitas.
Desigualdade no mercado de trabalho
No mercado de trabalho, a desigualdade mais uma vez é experimentada pelas mulheres. A
situação fica evidente principalmente pela inferioridade salarial — mesmo sendo a maioria no
mercado de trabalho com curso superior, as mulheres recebem salários menores que homens
que atuam com os mesmos cargos — mas também acontece por meio de assédio sexual, moral
e pressão por parte de colegas de trabalho homens.
Além disso, as mulheres ocupam poucos cargos de liderança, precisam trabalhar menos horas
para dividir a rotina profissional com a doméstica e encontram dificuldade para atuar
em múltiplas jornadas, que inclui o direito aos estudos e à capacitação.
A desigualdade de gênero reforça uma situação de violência, que pode ser física, sexual,
psicológica, social, patrimonial ou moral. Muitas vezes, as mulheres não encontram apoio social
ou do Estado para desfazer esse ciclo.

Coeficiente de Gini:
O estatístico italiano Corrado Gini criou, em 1912, o índice ou coeficiente de Gini, uma fórmula que
permite a classificação da desigualdade social. O índice varia de 0 a 1, sendo 0 a condição perfeita,
onde não há desigualdade social, e 1 o maior índice possível de desigualdade. O índice de Gini é
medido com base na renda, pobreza e educação

Consequências:
A desigualdade social pode ser determinante para a saúde. Isso ocorre principalmente porque
ela reforça a diferença no acesso e na qualidade dos recursos disponíveis, mas não só isso. Ela
pode ser determinante para a diminuição da expectativa de vida, aumento do risco de
doenças cardíacas e de outras relacionadas ao estilo de vida do indivíduo.
Com a pandemia causada pela Covid-19, ficou evidente que um sistema público de saúde, como
o SUS, é essencial para mitigar essa falta de acesso da população mais pobre à saúde básica.
Esse é um direito que jamais deveria ser discutido, mas o que vemos é a tentativa constante de
sucateamento do sistema.
A desigualdade social também reduz a solidariedade entre grupos participantes de diferentes
estratos, mas uma causa extremamente cruel é a sua íntima ligação com o aumento da
violência. Para efeito ilustrativo, basta compararmos a diferença de tratamento da força policial
em ações na favela e em bairros nobres.
Outra consequência dessa diferenciação na sociedade é a desigualdade salarial. Ela reduz a
expectativa de renda futura do trabalhador e a ocupação em cargos formais, com estabilidade e
possibilidade de ascensão profissional.
Muitos estudos como os de Carles Boix (2009) indicam que a desigualdade de renda e riqueza
dificultam o crescimento econômico de uma nação. Seria preciso a proposição da
redistribuição de renda, com a aplicação de cargas tributárias mais pesadas para as classes mais
ricas, como o Imposto Sobre Grandes Fortunas.
A instabilidade do sistema político é outro efeito da desigualdade, e ela gera consequências
que reforçam ainda mais as diferenças em uma sociedade. Por exemplo, desencoraja os
investimentos e mergulha a nação em uma situação econômica ainda mais crítica —
intensificando novamente as diferenças sociais, educacionais, salariais e de oportunidades.
Estudiosos afirmam que, se não houvesse desigualdades, também não existiria motivação para a
ascensão social, financeira e profissional. No entanto, ainda que ela seja um fator motivador para
algumas pessoas, suas consequências são desumanas e indignas — e isso jamais deveria
ser tolerado.

Desigualdade presente em obras cinematográficas


Coringa (2019)

Arthur Fleck é vítima de um sistema falho: com uma doença mental, tem dificuldades em achar
emprego, sofre bullying no trabalho, cuida da mãe doente e mora num cortiço, ainda assim, tenta
perseguir seu sonho de ser comediante.

Para mim, o maior mérito de Joker é a forma complexa e irônica que fala sobre política. Arthur
vive numa Gotham (Nova York prfvr) colapsada: greve de lixeiros, cidade imunda, violenta, sem
recursos, sem emprego. A desigualdade social é gritante e, enquanto ele é agredido na rua e
tem o tratamento médico suspenso por falta de recursos públicos, um cara rico e poderoso
aparece na TV com um discurso meritocrático revoltante. Os dois habitam a mesma cidade, mas
parecem ser de mundos diferentes. A fotografia faz um excelente trabalho em retratar isso: o tom
amarelado, de sujo, encardido, que domina as cenas, o sombrio de Arthur contraposto com a luz
clara e límpida dos Waynes.

Arthur nasceu em uma família desestruturada, nunca conhece o pai, cuida da mãe doente, que
é cheia de segredos, e basicamente não tem amigos. A falta de estabilidade e apoio (já que a
mãe não acredita no seu sonho de ser comediante) junto com a depressão profunda sem
tratamento que vive o personagem despertam o pior nele. Arthur não tem onde se apoiar. E é
nesse ponto que o filme exige discernimento e empatia do público.

Desigualdade no mundo e no brasil:


Em 2015, o coeficiente de Gini brasileiro foi marcado em 0,515, deixando o nosso país no 10º lugar
do ranking dos mais desiguais do mundo, sendo que o 1º lugar é ocupado pela África do Sul.

A desigualdade social existe em todos os continentes. Há lugares em que os problemas são mais
evidentes, por exemplo, nos países africanos, os quais estão entre os mais desiguais do mundo.

Por sua parte, nos países escandinavos, quase não há diferença entre as classes sociais devido
ao estabelecimento do Estado de Bem-Estar Social após a Segunda Guerra Mundial.
Sem condições de ter acesso saúde e educação, dificilmente uma pessoa terá as melhores
oportunidades no mercado de trabalho. Também a dificuldade de acesso aos bens culturais e
históricos pela maior parte da população inibe suas oportunidades.

Como acabar com a desigualdade social?


A educação é vista como um forte equalizador, permitindo que as classes desfavorecidas
ascendam na sociedade. Um estudo publicado no The Journal of Higher Education, no entanto,
trouxe evidências de que ela não funciona tão bem como costumávamos pensar.

Manzoni, autora do estudo, examinou dados de mais de 56 mil indivíduos e descobriu que, se um
filho obtiver um diploma semelhante ao de um pai, ele ganhará mais dinheiro do que se o pai não
tivesse o mesmo nível de educação. Ou seja, um filho formado em medicina que tem o pai
médico provavelmente ganhará mais do que um filho formado em medicina que não tinha um pai
com o mesmo nível de educação.

Esse efeito demonstra que a estratificação social é preservada, mas não fica claro o que
impulsiona essa desigualdade estrutural. A educação é essencial para mudar o problema, mas
não é suficiente para resolver os desafios da desigualdade. Estudiosos propõem outras soluções
que envolvem, por exemplo, investimentos em infraestrutura para reduzir a pobreza, fim de
abusos trabalhistas e até mesmo uma nova economia que funcione para melhorar a vida de
todos..

O que podemos fazer para diminuir a desigualdade?


1 – Estar sempre informado
Num primeiro momento esta ação pode até parecer clichê, rasa ou até mesmo indiferente, ainda
mais colocá-la como a primeira da lista. Mas na verdade não é. Sabemos que o conhecimento é o
que mais incomoda a quem quer nos manipular com dados distorcidos, estudos falsos, fakenews,
por exemplo. Por isso, faz diferença que todo mundo esteja informado sobre os fatos,
especialmente no nosso país, pois são eles que fazem parte da nossa realidade. E só somos
capazes de melhorar ou mudar uma realidade se tivermos conhecimento dela, incluindo o que
poderia ser feito para reduzir a desigualdade social no Brasil.

2 – Comprar do pequeno, das lojas do bairro, de mulheres


Em algum momento ou todos os dias, dependendo da realidade de cada um, somos
consumidores. Escolhemos o que e onde comprar nossos alimentos; de onde vêm e o que vamos
vestir; quais são os produtos essenciais para a nossa higiene, etc. E como consumidores temos
muito poder. Assim, diante dessas escolhas diárias, que tal contribuir para que os pequenos
negócios se fortaleçam e a economia seja descentralizada das mãos de poucos?

3 – Pressionar as políticas públicas (reforçando nosso papel como cidadãos)


Estar a par das propostas políticas e acompanhar os candidatos às eleições faz parte do nosso
papel como cidadãos. E tem entrado bastante em debate o tema de taxar as grandes fortunas no
Brasil e no mundo. No último mês, milionários de todo o planeta se uniram para assinar um
manifesto pedindo a taxação de grandes fortunas para auxiliar no combate à pandemia da Covid-
19. Foram 83 donos de grandes fortunas, nenhum deles brasileiro.
Mas segundo O Estado de Minas, o tema está em propostas no Congresso como em nenhum
outro momento da história, desde 1988, quando a Constituição foi promulgada.
5 – Apostar/investir mais em negócios sociais
Este tópico é mais voltado para o âmbito profissional, que pode servir tanto para investidores de
impacto quanto para empreendedores. Que tal levar para a sua corporação mais pautas ligadas à
igualdade social, apoiar projetos de equidade de gênero, levar em conta as questões ambientais?
Que tal, se for abrir um negócio, olhar para as necessidades da sociedade ao redor, buscar uma
oportunidade no que não está sendo feito? Que tal enxergar a “concorrência” como parceria de
caminhada para o fortalecimento em rede? Que tal ter atitudes mais colaborativas do que
competitivas e colocar o bem coletivo a frente dos interesses individuais?

Evidencias estatísticas:
Em matéria publicada no The Guardian, os pesquisadores citam diversas evidências estatísticas
que mostram que as sociedades desiguais são responsáveis por vidas pessoais menos
gratificantes, prejuízos à saúde pública e ao progresso educacional, aumento de crime e redução
da expectativa de vida.

A desigualdade também tem prejuízos econômicos. Um estudo, que cobriu dados de 30 anos dos
países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), acompanhou
o aumento da desigualdade nos 25 anos anteriores à crise econômica de 2008. Com base na
análise, os pesquisadores concluíram que a desigualdade de renda tem um impacto negativo e
estatisticamente significativo no crescimento subsequente.

1.Os 10% mais ricos no Brasil ganham quase 59% da renda nacional total
No Brasil, a renda média nacional da população adulta, em termos de paridade de poder de
compra (PPP, na sigla em inglês), é de 14 mil euros, o equivalente a R$ 43,7 mil, nos cálculos
dos autores do estudo. Os 10% mais ricos no Brasil, com renda de 81,9 mil euros (R$ 253,9 mil
em PPP), representam 58,6% da renda total do país. O estudo afirma que as estatísticas
disponíveis indicam que os 10% mais ricos no Brasil sempre ganharam mais da metade da renda
nacional.

2.Os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais ricos
A metade da população brasileira mais pobre só ganha 10% do total da renda nacional. Na
prática, isso significa que os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que recebem os 10%
mais ricos no Brasil. Na França, essa proporção é de apenas 7 vezes.
"O Bolsa Família conseguiu reduzir uma parte das desigualdades nas camadas mais pobres da
população", diz Chancel. Mas em razão da falta de uma reforma tributária aprofundada, além da
agrária, a desigualdade de renda no Brasil "permaneceu virtualmente inalterada", já que a
discrepância se mantém em patamares muito elevados, aponta o estudo.
3. A metade mais pobre no Brasil possui menos de 1% da riqueza do país
As desigualdades patrimoniais são ainda maiores do que as de renda no Brasil e são uma das
mais altas do mundo. Em 2021, os 50% mais pobres possuem apenas 0,4% da riqueza brasileira
(ativos financeiros e não financeiros, como propriedades imobiliárias). Na Argentina, essa fatia da
população possui 5,7% da fortuna do país.
4. O 1% mais rico possui quase a metade da fortuna patrimonial brasileira
Os 10% mais ricos no Brasil possuem quase 80% do patrimônio privado do país. A concentração
de capital é ainda maior na faixa dos ultra-ricos, o 1% mais abastado da população, que possui,
em 2021, praticamente a metade (48,9%) da riqueza nacional. Nos Estados Unidos, o 1% mais
rico detém 35% da fortuna americana.
5. 1% da população mundial concentra metade de toda a riqueza do planeta
Alternativas para melhorar:
Políticas de combate à desigualdade utilizadas mundialmente

Combater a desigualdade exige uma abordagem nova. Primeiro, é preciso repensar as políticas
fiscais e a tributação progressiva .

A tributação progressiva é um componente essencial de uma política fiscal eficaz. Nossos


estudos mostram que é possível elevar as alíquotas tributárias marginais no topo da distribuição
de renda sem sacrificar o crescimento econômico.

O uso de ferramentas digitais na cobrança de impostos também pode ser um dos elementos de
uma estratégia global para reforçar a receita interna. Reduzir a corrupção pode tanto melhorar a
arrecadação como aumentar a confiança no governo. E, mais importante, tais estratégias podem
gerar os recursos necessários para investir na ampliação das oportunidades para as pessoas e
comunidades que estão ficando para trás.

A adoção de uma perspectiva de gênero na preparação do orçamento, conhecida como gender


budgeting , é outra ferramenta fiscal valiosa na luta para reduzir a desigualdade. Embora muitos
países reconheçam a necessidade de igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, os
governos poderiam usar essa ferramenta para estruturar os gastos e a tributação de modo a dar
novo ímpeto à igualdade de gênero, ampliando a participação das mulheres na força de trabalho
e, dessa forma, impulsionando o crescimento e a estabilidade.

Segundo, as políticas de gastos sociais são cada vez mais importantes para combater a
desigualdade. Quando bem aplicadas, conseguem cumprir um papel fundamental na mitigação
da desigualdade de renda e de seus efeitos nocivos sobre a igualdade de oportunidades e a
coesão social.

A educação, por exemplo, prepara os jovens para se tornarem adultos produtivos que contribuirão
para a sociedade. A saúde salva vidas e também pode melhorar a qualidade de vida. Os
programas de previdência social ajudam a preservar a dignidade dos idosos.

A capacidade de aumentar os gastos sociais também é essencial para cumprir os Objetivos de


Desenvolvimento Sustentável (ODS). Um novo estudo do FMI mostra que a elevação necessária
varia bastante entre os países.

 Por exemplo: em áreas básicas como saúde, educação e infraestrutura prioritária, estimamos que
as economias de mercados emergentes teriam que elevar os gastos a cada ano até chegar a
cerca de 4 pontos percentuais do PIB em 2030, enquanto a média dos países em
desenvolvimento de baixa renda teria de despender o equivalente a 15 pontos percentuais do
PIB.

Terceiro, reformar a estrutura da economia poderia apoiar os esforços para combater a


desigualdade ao reduzir os custos do ajuste, minimizar as disparidades regionais e preparar os
trabalhadores para ocupar um número crescente de empregos verdes.

 Políticas ativas para o mercado de trabalho – como a assistência na procura de emprego, os


programas de capacitação e, em alguns casos, o salário-desemprego – podem melhorar a
qualificação dos trabalhadores e encurtar os períodos de desocupação.

 Facilitar a mobilidade dos trabalhadores entre empresas, setores e regiões minimiza os custos de
ajuste e promove uma recolocação rápida. Políticas de habitação, crédito e infraestrutura podem
ser úteis nesses sentido.
 Políticas e investimentos direcionados a determinadas áreas geográficas podem complementar
as transferências sociais já existentes.

Alternativas implementadas no Brasil:


O Plano Brasil Sem Miséria, criado em 2011, tem como principal objetivo retirar da situação de
pobreza extrema 16,2 milhões de pessoas que vivem com menos de R$ 70 por mês.

O Programa Bolsa Família é um programa que consiste na ajuda financeira às famílias pobres que
tenham em sua composição gestantes, crianças ou adolescentes extremamente pobres. A
contrapartida é que as famílias beneficiárias mantenham as crianças e os adolescentes entre 6 e
17 anos com frequência na escola.

Veja quais são as metas dos países signatários da ONU para fazer com que a desigualdade social
seja reduzida até 2030:

10.1 Progressivamente alcançar e sustentar o crescimento da renda dos 40% da população mais
pobre a uma taxa maior que a média nacional
10.2 Empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente
da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra
10.3 Garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades de resultados, inclusive
por meio da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e da promoção de legislação,
políticas e ações adequadas a este respeito
10.4 Adotar políticas, especialmente fiscal, salarial e de proteção social, e alcançar
progressivamente uma maior igualdade
10.5 Melhorar a regulamentação e monitoramento dos mercados e instituições financeiras globais
e fortalecer a implementação de tais regulamentações
10.6 Assegurar uma representação e voz mais forte dos países em desenvolvimento em tomadas
de decisão nas instituições econômicas e financeiras internacionais globais, a fim de produzir
instituições mais eficazes, críveis, responsáveis e legítimas
10.7 Facilitar a migração e a mobilidade ordenada, segura, regular e responsável das pessoas,
inclusive por meio da implementação de políticas de migração planejadas e bem geridas
10.a Implementar o princípio do tratamento especial e diferenciado para países em
desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, em conformidade com os
acordos da OMC
10.b Incentivar a assistência oficial ao desenvolvimento e fluxos financeiros, incluindo o
investimento externo direto, para os Estados onde a necessidade é maior, em particular os países
menos desenvolvidos, os países africanos, os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e
os países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus planos e programas nacionais

Curiosidades:
● Segundo a ONU, o Brasil é o oitavo país com o maior índice de desigualdade social e econômica
do mundo.
● Na União Europeia, o país que apresenta maior desigualdade social é Portugal.
● Os países com menor desigualdade social são: Noruega, Japão e Suécia.
● Os países que apresentam maiores desigualdades sociais são do continente africano: Namíbia,
Lesoto e Serra Leoa.

Conclusão:
Falar de desigualdade social é fazer uma viagem extremamente complexa pela História e pelas
ciências humanas, onde se pode ter um contato com um sistema perverso de injustiças e
crueldades, mas se percebe também que mesmo com todos estes obstáculos e empecilhos, há
uma superação e resiliência, e talvez seja aí que surja o espírito inovador, motor de tantas
revoluções.

VIDEO COMPLEMENTAR:

https://www.youtube.com/watch?v=h0ryyNb0vmI

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