Fonetica Articulatoria e Aparelho Fonador

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Fonética Portuguesa – T.S.C. - Prof.: María Jesús García – Instituto Sup. “Prof. Carmelo H.

de Biasi” | 2022

Fonética Articulatória

A Fonética Articulatória é definida como o estudo dos sons da fala na


perspectiva de suas características fisiológicas e articulatórias. Para se entender
os mecanismos de articulação desses sons, precisa-se inicialmente conhecer os
diferentes órgãos responsáveis pela realização dos sons das línguas naturais, ou
melhor, o aparelho fonador humano.
Aparelho Fonador
Fonador quer dizer aquele que produz voz. A voz pode ser definida como o som
produzido a partir da vibração das pregas vocais. Não confunda voz com fala.
A fala é o resultado da articulação desse som. Os órgãos que utilizamos para
produzir os sons da fala não têm como função principal a articulação dos sons.
Eles servem primeiramente para respirar, mastigar, engolir, cheirar. A partir
desses atos, já se pode ter ideia de quais são os órgãos envolvidos na fala. O
conjunto desses órgãos é chamado de aparelho fonador. Vejamos uma
ilustração do aparato que é utilizado para a fala na Fig. 1:

Figura 1. Aparelho fonador humano (PARKER, 2007, p.137)

Pela Fig. 1, vemos o aparelho fonador dividido nas regiões subglótica e


supraglótica. Essa divisão acontece a partir da glote, em função de ser acima
dela que se encontram as cavidades responsáveis pelas ressonâncias vocais. A
glote é o espaço entre as pregas vocais localizadas na laringe (ver Fig. 3).
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Abaixo da glote, encontram-se a traqueia, dois pulmões e o diafragma,


responsáveis pelo suprimento da fonte de energia que gera os sons da fala. O
diafragma constitui-se em uma estrutura em forma de abóbada que separa a
cavidade torácica da abdominal. Acima do diafragma, estão dois pulmões que
acompanham os movimentos da caixa torácica. Quando ela se expande, os
pulmões fazem o mesmo, enchendo-se de ar —a inspiração. No movimento
contrário, de saída de ar —a expiração —o ar pulmonar nunca é totalmente
expelido. Sua capacidade pulmonar em silêncio ou repouso varia de 40 a 60%. A
traqueia é um tubo de estrutura fibrocartilaginosa que vai da cavidade torácica
à laringe.
Acima da glote, localizam-se as cavidades faríngea, oral e nasal. A cavidade
faríngea é constituída da faringe, que é dividida em três porções: nasofaringe,
orofaringe, laringofaringe. Essa cavidade pode ter seu tamanho modificado a
partir do levantamento ou abaixamento da laringe. A cavidade oral é composta
pela boca, na qual estão localizados a língua, o palato duro e mole (ou véu
palatino), a úvula, os alvéolos, os dentes e os lábios. Na cavidade nasal,
encontram-se as narinas.
Os órgãos articuladores envolvidos na produção da fala dividem-se em ativos e
passivos (Ver imagem 2). Os articuladores ativos, aqueles que se movimentam
para a realização dos diferentes sons da fala, são constituídos: pela língua (que
se divide em ápice (ponta), lâmina e dorso) e lábio inferior, que alteram a
cavidade oral; pelo véu do palato, que é responsável pela abertura e fechamento
da cavidade nasal; e pelas pregas vocais. Os articuladores passivos
compreendem o lábio superior, os dentes superiores, os alvéolos (região crespa,
logo atrás dos dentes superiores), o palato duro (região central do céu da boca)
e o palato mole (final do céu da boca)

Figura 2. Esquema detalhado dos órgãos articulatórios ativos e passivos do aparelho fonador humano.
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Os sons do PB e de grande parte das línguas naturais são produzidos com fluxo
de ar egressivo, ou seja, nós emitimos os sons do português quando o ar se
dirige para fora dos pulmões. Para que haja a fala, primeiro é preciso que o ar
entre nos pulmões (inspiração). Para que ocorra a inspiração, é necessário
que o volume dos pulmões aumente. Esse aumento de volume faz com
que a pressão do ar dentro dos pulmões diminua, ficando menor do que a
pressão atmosférica, o que permite a entrada do fluxo de ar vindo das cavidades
superiores. O movimento de deslocamento do ar é de regiões de alta pressão
para regiões de baixa pressão. Em seguida, a pressão do ar passa a ser igual à da
pressão atmosférica e o fluxo de ar para. Quando o volume dos pulmões diminui,
na fase de expulsão do ar, há um aumento da pressão de ar dentro dos pulmões.
Assim, a pressão atmosférica torna-se menor do que a pressão pulmonar e o ar
se desloca para fora dos pulmões, ocorrendo a expiração. É nesse momento
que a fala geralmente ocorre. Esse controle da pressão nos pulmões é atingido
pelas crianças entre 6 e 7 meses de idade, quando elas começam os seus
primeiros balbucios.
Na produção da fala, a expiração dura em média de 4 a 20 segundos, sendo
significativamente mais longa do que a inspiração. Na respiração em silêncio, a
fase expiratória é relativamente constante com duração média de cerca de 2
segundos.
Na respiração normal, o ar passa livremente pelas cavidades supralaríngeas.
Na fala, ocorrem resistências ao fluxo de ar vindas das constrições na
laringe (pela vibração das pregas vocais, ver Fig. 3) e nas cavidades acima da
laringe.

Figura 3. Glote e pregas vocais na respiração, na produção de sons vozeados e não-vozeados (PARKER, 2007, p.137).
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Ocorre ainda que, quando falamos, as pregas vocais podem estar aproximadas
(fechadas), bloqueando o ar que sai dos pulmões. Com esse bloqueio, a
pressão abaixo das pregas aumenta, fazendo com que elas se separem. O ar
passa e a pressão diminui, fechando-as novamente. O ar é, então, solto em curtas
lufadas de ar. É o chamado ciclo vibratório (ver Fig. 4). Quando há vibração das
pregas, são produzidos os sons chamados vozeados ou sonoros. As pregas
vocais podem, ainda, estar afastadas parcialmente, com o ar passando sem
restrições pela laringe, produzindo os sons chamados de não-vozeados ou
surdos (ver Fig. 3).

Figura 4. Configuração dos movimentos das pregas vocais em um ciclo vibratório (MATEUS, 1990, p.89)

Outro movimento necessário à classificação dos sons da fala é o do véu do palato


(a chamada campainha). Quando está levantado, ele bloqueia o ar para as
cavidades nasais e os sons produzidos são chamados de orais. No entanto,
quando um som da fala é produzido com o véu do palato abaixado, permitindo
a saída do ar também pelas narinas, têm-se os chamados sons nasais. Assim, a
nomenclatura dos sons da fala é estabelecida a partir dos lugares em que os
articuladores ativos tocam os passivos, como também da forma como o ar sai
do trato oral e/ou nasal.

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