Memorização Sem Segredos (William Walker Atkinson)

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William Walker Atkinson

Memorização sem Segredos

São Paulo
2008
Universo dos Livros Editora Ltda.
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Diretor Editorial
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Editor
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Coordenação Editorial
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Projeto Gráfico
Fabiana Pedrozo

Preparação dos Originais


Viviam Silva Moreira

Revisão
Shirley Figueireido Ayres

Diagramação
Rogério Chagas Lima

Capa
Sérgio Bergocce

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
A878m Atkinson, William Walker.
    Memorização sem Segredos / William Walker
Atkinson; tradução de Carla Montagner. – São
Paulo : Digerati Books, 2008.
    128 p.

    ISBN: 978-85-99187-87-6

    1. Técnicas de auto-ajuda. I. Montagner, Carla,


trad. II. Título.

CDD 158.1
CAPÍTULO 1
MEMÓRIA: SUA
IMPORTÂNCIA

É necessária pouca argumentação para convencer uma pessoa comum da


grande importância da memória, embora poucos compreendam como é
importante a função da mente relacionada à retenção das impressões
mentais. O primeiro pensamento de uma pessoa comum, ao ser indagada
sobre a importância da memória, é sobre seu uso nos assuntos da vida
cotidiana, juntamente com linhas desenvolvidas e cultivadas, em contraste
com graus inferiores de seu desenvolvimento. Em resumo, pensa-se
geralmente sobre a memória em sua fase de “boa memória”, e não na fase
oposta de “memória fraca”. Há um significado mais amplo e completo desta
designação até mesmo além dessa importante fase.
É verdade que o sucesso do indivíduo em seus assuntos diários, profissão
e negócios, ou em outras ocupações, depende consideravelmente de possuir
uma boa memória. Seu valor em qualquer parte da vida depende em grande
escala do grau de memória que conseguiu desenvolver. Sua memória de
rostos, nomes, fatos, eventos, circunstâncias e outras coisas relacionadas ao
trabalho diário é a medida de sua capacidade de realizar suas tarefas. Nas
relações sociais entre homens e mulheres ter uma memória retentiva, bem
armazenada com fatos disponíveis, rende a seu possuidor ser um membro
desejável na sociedade. Nas atividades mais elevadas do raciocínio, a
memória é um auxílio inestimável para o indivíduo ao ordenar os
fragmentos e as partes do conhecimento que pode ter adquirido, revendo-os
antes de suas faculdades cognitivas – assim como a alma revê suas posses
mentais. Alexander Smith1 disse:

“A verdadeira posse de um homem é sua memória; em nada mais é rico;


em nada mais é pobre.”
Richter2 afirmou:

“A memória é o único paraíso do qual não se pode escapar. Conceda-nos a


memória e não poderemos perder nada além da morte.”

Lactâncio3 salientou:

“A memória prepara a prosperidade, ameniza a adversidade, controla a


juventude e diverte a idade avançada.”

Porém, mesmo as fases da memória mencionadas representam um


pequeno segmento de um círculo completo. A memória é mais que “uma
boa memória” – é o meio pelo qual realizamos a maior parte de nosso
trabalho mental. Bacon4 comentou:

“Todo conhecimento não passa de lembrança.”

Emerson5 também disse:

“A memória é uma faculdade primária e fundamental, sem a qual ninguém


pode trabalhar: o cimento, o betume, a matriz na qual outras faculdades
estão inseridas. Sem ela nossa vida e pensamento são uma sucessão não-
relacionada.”

Burke6 salientou:

“Não há faculdade da mente que possa fazer funcionar sua energia sem
que a memória esteja armazenada com idéias para serem buscadas.”
Citando Basile7:

“A memória é o armário da imaginação, o tesouro da razão, o registro da


consciência e a câmara de conselho do pensamento.”

Kant8 declarou a memória como sendo “a mais maravilhosa das


faculdades”. Kay, uma das principais autoridades no assunto, afirmou que:

“A menos que a mente tenha o poder de conservar na memória e relembrar


suas experiências passadas, nenhum tipo de conhecimento pode ser
adquirido.”

Se cada sensação, pensamento ou emoção passou completamente pela


mente no momento em que cessou de estar presente, então seria como se ele
nunca tivesse estado lá; e não pode ser reconhecido ou designado caso volte
a acontecer. O indivíduo não apenas não teria conhecimento, experiência
acumulada do passado, mas também propósito, objetivo ou plano para o
futuro, pois isso implica conhecimento e requer memória. Até mesmo o
movimento voluntário, ou para um propósito, poderia não existir sem a
memória, pois a memória está envolvida em cada propósito. Não apenas o
aprendizado do literato, mas a inspiração do poeta, o gênio do pintor, o
heroísmo do guerreiro, tudo enfim depende da memória. Não, até a
consciência em si não poderia existir sem a memória, pois cada ato da
consciência envolve a mudança de um estado passado para o presente, e se
o estado passado desaparece no momento em que passou, não pode haver
consciência da mudança. Podemos dizer que a memória, portanto, está
envolvida em toda consciência da existência – uma propriedade de todo ser
consciente!
A memória tem uma parte importante na construção do caráter e da
individualidade, e é devido ao poder das impressões recebidas e à firmeza
com a qual reagimos a elas que depende a fibra do caráter e da
individualidade. Nossas experiências são o caminho para obtermos grandes
objetivos e, ao mesmo tempo, nossos guias e protetores contra o perigo. Se
a memória nos serve quanto a isso, nós nos poupamos de repetir erros do
passado e podemos tirar proveito também ao nos lembrar e evitar os erros
dos outros. Como Beattie9 afirma:

“Quando a memória é defeituosa de maneira sobrenatural, a experiência e


o conhecimento serão deficientes na mesma proporção, e a conduta
imprudente e a opinião absurda são as conseqüências necessárias.”

Bain10 salienta:

“O caráter fraco que guarda experiências amargas ou de genuíno prazer, e


é incapaz de reviver mais tarde a impressão do tempo, é na realidade vítima
de uma fraqueza intelectual sob o pretexto de uma fraqueza moral. Ter
diante de nós uma estimativa das coisas que nos afetam, que sejam reais, é
uma condição preciosa para que nossa vontade seja sempre estimulada
com uma referência precisa de nossa felicidade. O homem totalmente
educado, a esse respeito, é aquele que pode levar consigo, o tempo todo, a
estimativa exata do que ele aproveitou ou sofreu com todo objeto que o
afetou, e se encontrar um inimigo pode enfrentá-lo tão fortemente como se
estivesse diante de uma impressão genuína. Uma memória completa e
precisa, para o prazer ou para a dor, é a base intelectual da prudência no
tocante a si mesmo, e empatia no tocante aos outros.”

Vemos então que o cultivo da memória é muito mais que o cultivo e o


desenvolvimento de uma faculdade mental única – é o cultivo e o
desenvolvimento de nosso ser mental total –, o desenvolvimento de nós
mesmos.
Para muitos, as palavras memória, recordação e lembrança possuem o
mesmo significado, mas há uma grande diferença na exata nuance do
significado de cada termo. O leitor deste livro deve fazer distinção entre
elas, pois, assim, estará mais bem preparado para compreender os vários
pontos de conselho e instrução dados. Vamos examinar esses termos.
Locke11, em seu célebre trabalho Ensaio sobre o entendimento humano,
estabeleceu claramente a diferença entre os significados daqueles termos.
Ele afirma:
“A memória é o poder de reviver em nossa mente as idéias que, depois de
impressas, desaparecem ou são colocadas de lado – quando uma idéia
retorna sem a operação do mesmo objeto no nível sensorial externo é a
lembrança; se é buscada depois pela mente, e com dor e esforço é
encontrada e trazida novamente para a visão, é a recordação.”

Em cima disto, Fuller12 comenta que:

“A memória é o poder de reproduzir na mente impressões ou preceitos


antigos. Lembrança e Recordação são o exercício deste poder, a primeira
sendo involuntária ou espontânea, a segunda, volitiva. Lembramos porque
não podemos evitar, mas recordamos apenas por meio de um esforço
positivo. O ato de lembrar, em si, é involuntário. Em outras palavras,
quando a mente lembra sem ter tentado lembrar, age espontaneamente.
Podemos dizer, em termos restritos quanto aos sentidos contrastados desses
dois termos, que lembramos por acaso, mas recordamos por intenção, e se
o esforço tiver êxito, o que for reproduzido torna-se, pelo próprio esforço
de fazê-lo surgir, mais firmemente entrincheirado em nossa mente do que
antes.”

Segundo A Nova Psicologia, há uma pequena distinção daquela


apresentada por Locke. Ela usa a palavra memória não apenas no sentido de
“O poder de reviver etc.”, mas no sentido das atividades da mente que
tendem a receber e armazenar as várias impressões dos sentidos, e as idéias
concebidas pela mente, até poderem ser reproduzidas voluntária ou
involuntariamente, depois. A distinção entre lembrança e recordação, como
a feita por Locke, é adotada como correta por A Nova Psicologia.
Há muito é reconhecido que a memória, em todas as suas fases, é capaz
de desenvolvimento, cultivo, treinamento e orientação por meio de
exercício inteligente. Como qualquer outra faculdade da mente, ou parte
física, muscular, ela pode ser melhorada e fortalecida. Tempos atrás, todos
os esforços desses desenvolvedores de memória eram direcionados para o
fortalecimento da fase de memória conhecida como “recordação”, que você
lembrará que Locke a definiu como uma idéia ou impressão “buscada
depois pela mente, e com dor e esforço é encontrada e trazida novamente
para a visão”. A Nova Psicologia vai mais adiante. Enquanto aponta os
métodos mais aperfeiçoados e científicos para “recordar” as impressões e as
idéias da memória, instrui também o aluno quanto ao uso de métodos
apropriados nos quais a memória pode ser armazenada com impressões
claras e distintas que, depois, fluirão de maneira natural e involuntária para
o campo da consciência, quando o cérebro está pensando assuntos
associados ou linhas de pensamento, e que podem ser “recordadas” por
esforço voluntário com bem menos gasto de energia que em métodos e
sistemas anteriores.
Você verá essa idéia em detalhes ao passarmos os vários estágios do
assunto, nesta obra. A primeira coisa a ser feita é encontrar algo para ser
lembrado; depois imprimir essa coisa de maneira clara e distinta em
“tabuletas receptivas” da memória; em seguida, exercícios para lembrar os
fatos armazenados na memória; posteriormente, adquirir métodos
científicos de recordar itens especiais da memória que podem ser
necessários em algum momento particular. Este é o método natural no
cultivo da memória, em oposição aos sistemas artificiais que encontrará em
outro capítulo. Não é apenas desenvolvimento da memória, mas também da
mente em si, em várias regiões e fases de atividade. Não é um mero método
de recordar, mas um método de ver, pensar e lembrar corretamente. Este
método reconhece a verdade nos versos do poeta Pope, que dizia:

“Lembrança e reflexão, quão aliadas! Que partes pequenas sentidas pelo


pensamento divididas.”

Alexander Smith (1830 -1867), poeta e ensaísta escocês.

Jean Paul Ritcher (1763 - 1825), escritor alemão.

Lactâncio (240 - 320), antigo escritor cristão nativo do norte da África.

Francis Bacon (1561 – 1626), escritor e filósofo inglês.

Ralph Waldo Emerson (1803 – 1882), ensaísta, filósofo e poeta norte-


americano.
Edmund Burke (1729 – 1797), estadista, autor, orador, teorista político e
filósofo anglo-irlandês.

Giambattista Basile (1566 ou 1575 – 1632), poeta e cortesão italiano.

Immanuel Kant (1724 – 1804), filósofo alemão.

Professor James Beattie (1735 – 1803), acadêmico e escritor escocês.

Alexander Bain (1818 – 1903), filósofo escocês.

John Locke (1632 – 1704), filósofo inglês.

Thomas Fuller (1608 – 1661), reverendo e historiador inglês.


CAPÍTULO 2
CULTIVO DA MEMÓRIA

Este livro foi escrito com a intenção e a idéia fundamentais de destacar


um método racional e possível no qual a memória pode ser desenvolvida,
treinada e cultivada. Muitas pessoas parecem ter a impressão de que a
memória é doada pela natureza, em um grau ou com possibilidades fixas, e
que pouco pode ser feito – em resumo, as memórias nascem conosco e não
são construídas. A falácia de tal idéia é demonstrada por pesquisadores e
experimentos de todas as principais autoridades, e por resultados obtidos de
pessoas que desenvolveram e cultivaram suas próprias memórias por um
esforço individual, sem a assistência de um instrutor. Tal aperfeiçoamento,
para ser real, deve apresentar determinadas linhas naturais e estar de acordo
com leis estabelecidas de psicologia, e não linhas artificiais e desafiar os
princípios psicológicos. O cultivo da memória é bem diferente de “truques
de memória”, ou proezas de prestidigitação mental, se o termo é permitido.
Kay afirma:

“A memória é capaz de aperfeiçoamentos ilimitados, sem sombra de


dúvida; mas, no que diz respeito aos meios pelos quais essa melhoria
torna-se efetiva, a humanidade ainda é ignorante.”

O Dr. Noah Porter coloca:

“A memória natural em oposição à artificial depende das relações do


sentido e do pensamento – a memória espontânea visual e o par disponível
do conjunto óbvio dos objetos fornecidos pelo espaço e tempo, e a memória
racional dessas elevadas combinações que as faculdades racionais
superiores induzem às inferiores. A memória artificial propõe substituir as
relações naturais e necessárias que todos os objetos devem apresentar e
arranjá-las em um conjunto totalmente novo de relações, que são
puramente arbitrárias e mecânicas, que instigam pouco ou nenhum outro
interesse além de estarem lá para nos ajudar a lembrar. Se a mente coloca
a tarefa de um esforço especial para considerar os objetos sob essas
relações artificiais, ela dará menos atenção para aquelas com um interesse
direto e legítimo em si.”

Granville salienta:

“Os defeitos da maioria dos métodos que foram projetados e empregados


para a melhoria da memória estão no fato de que, apesar de servirem para
imprimir determinados assuntos na mente, não tornam a memória pronta
ou atenta, como um todo.”

Fuller comenta:

“É claro que a arte da memória pode ser mais destrutiva para a memória
natural do que os óculos são para nossos olhos.”

Essas opiniões das principais autoridades podem ser multiplicadas


indefinidamente – o consenso da melhor opinião é decididamente contra os
sistemas artificiais e a favor dos naturais.
Os sistemas naturais da cultura da memória estão baseados no conceito
fundamental muito bem expressado por Helvetius1, vários séculos atrás, ao
dizer:

“A extensão da memória depende, primeiro, do uso diário que fazemos


dela; segundo, da atenção que damos aos objetos que desejamos imprimir
na memória, e, terceiro, da ordem na qual organizamos nossas idéias.”

Esta é a lista dos três elementos essenciais no cultivo da memória: (1) uso
e exercício, revisão e prática; (2) atenção e interesse; e (3) associação
inteligente.
Você descobrirá que, em muitos capítulos deste livro que lidam com as
várias fases da memória, enfatizamos, agora e sempre, a importância do uso
e emprego da memória, na forma de aplicação, exercício, prática e revisão.
Como qualquer outra função de faculdade mental, ou física, a memória
tenderá a atrofiar pelo desuso, mas, pelo contrário, será aumentada se
fortalecida e desenvolvida com exercício racional e emprego dentro dos
limites da moderação. Você desenvolve os músculos pelo exercício; da
mesma maneira que treina qualquer faculdade especial da mente, você deve
buscar o mesmo método no caso da memória, se quiser desenvolvê-la. As
leis da natureza são constantes e apresentam uma certa analogia entre si.
Você perceberá também a grande ênfase que colocamos no uso da faculdade
da atenção, acompanhada pelo interesse. Com atenção você adquire
impressões que guardará em seu arquivo-registro mental da memória. E o
grau de atenção regula a profundidade, clareza e poder da impressão. Sem
um bom registro, você não pode esperar obter uma boa reprodução dela.
Um registro fonográfico ruim resulta em uma reprodução ruim, e a regra se
aplica no caso da memória também. Você observará, ainda, que explicamos
as leis da associação e os princípios que governam o tema, assim como os
métodos por meio dos quais as associações apropriadas podem ser feitas.
Cada associação que você mescla a uma idéia ou impressão serve como
uma referência cruzada no índice, no qual a coisa é encontrada por
lembrança ou recordação, quando necessário. Chamamos sua atenção para o
fato que toda a educação do indivíduo depende de sua eficiência quanto a
esta lei de associação. É o aspecto mais importante no cultivo racional da
memória, sendo ao mesmo tempo a maldição dos sistemas artificiais. As
associações naturais educam, enquanto as artificiais tendem a enfraquecer
os poderes da mente, se levados muito adiante.
Não há um caminho florido para a memória. O cultivo da memória
depende da prática e de certas linhas científicas de acordo com leis
psicológicas bem estabelecidas. Aqueles que esperam um “atalho” ficarão
desapontados, pois ele não existe. Como Halleck2 afirma:

“O aluno não deve ficar desapontado ao descobrir que a memória não é


exceção à regra da melhora por meio de exercício metódico apropriado e
continuado. Não há um caminho florido, nem atalhos, para o
aperfeiçoamento do cérebro ou do músculo. O aluno que segue as regras
que a psicologia estabeleceu pode entender que está trilhando o caminho
mais curto e não ficar vagando perdidamente. Ao usar essas regras, ele
avançará mais rapidamente que aquele sem mapa, bússola ou piloto. Ele
encontrará exercícios mnemônicos de uso muito limitado. A melhoria vem
com as etapas ordenadas. Os métodos que atordoam no início nunca
apresentam sólidos resultados.”

Pede-se que o aluno atente para o que dissemos em outros capítulos do


livro sobre os temas atenção e associação. Não é necessário citar aqui os
particulares que mencionamos lá. O cultivo da atenção é um pré-requisito
para a boa memória, e a deficiência quanto a este respeito significa
deficiência não apenas no campo da memória mas no campo geral do
trabalho mental. Em todos os ramos de A Nova Psicologia há uma
constante repetição da injunção do cultivo da faculdade da atenção e
concentração. Halleck afirma:

“O atordoamento da percepção está na raiz da memória ruim. Se a


percepção está definida, foi dado o primeiro passo para garantir uma boa
memória. Se a primeira percepção está vívida, seu efeito nas células
cerebrais é mais duradouro. Todas as pessoas devem praticar seus poderes
de visualização. Isto reagirá na percepção e a tornará mais definida. A
visualização formará também um hábito cerebral de lembrar
pictoricamente as coisas, e da maneira mais exata.”

O tema da associação deve receber atenção adequada, pois é por meio da


associação que armazenamos registros da memória que podem ser
recuperados ou recordados. Como Blackie salienta:

“Nada ajuda mais a mente que a ordem e a classificação. As classes são


poucas, os indivíduos, muitos: conhecer bem a classe é saber o que é mais
essencial no caráter do indivíduo, e o que onera a memória.”

E segundo Halleck, quanto ao assunto da associação por relação:

“Quando podemos encontrar qualquer relação entre os fatos, é mais fácil


lembrá-los. A lei da memória inteligente pode ser resumida assim: esforço
para vincular por meio de alguma relação de pensamento cada nova
aquisição mental a uma antiga. Associar novos fatos a outros por meio de
relações de similaridade causa e efeito, no todo e em parte, ou por meio de
qualquer relação lógica, e assim encontraremos que, quando nos ocorre
uma idéia, um conjunto de idéias relacionadas fluirá para nossa mente. Se
desejarmos preparar um discurso ou escrever um artigo sobre qualquer
tema, ilustrações pertinentes se sugerirão por si mesmas. A pessoa cuja
memória é meramente contígua imaginará como pensamos nelas.”

Em seu estudo sobre o cultivo da memória, neste livro, você leu o


primeiro capítulo e soube da importância da memória para o indivíduo,
além da grande parte que tem em todo trabalho da mente. Leia atentamente
o terceiro capítulo e saiba das possibilidades quanto ao cultivo da memória
a um grau mais elevado, como evidenciado pelas situações relacionadas ao
caso extremo do desenvolvimento aqui observado. Estude depois o capítulo
sobre os sistemas da memória e descubra que o único e verdadeiro método é
o método natural, que requer trabalho, paciência e prática – aceite seguir
este plano. Descubra o segredo da memória – a região subconsciente do
cérebro, no qual os registros da memória são guardados, armazenados e
indexados, local em que pequenos office-boys mentais estão trabalhando
duramente. Isso lhe dará a chave para o método. Leia os dois capítulos com
atenção e associação, respectivamente, e entenda esses princípios
importantes. Estude o capítulo sobre as fases da memória e faça um estoque
mental, determinando em qual fase da memória é mais forte e qual precisa
de mais desenvolvimento. Leia os dois capítulos sobre treinamento visual e
auditivo, respectivamente – você precisa desta instrução. Leia os vários
capítulos sobre treinamento das fases especiais da memória, quer precise
delas, quer não – poderá encontrar algo importante nelas. Leia depois o
último capítulo, no qual há alguns conselhos e instrução. Volte para os
capítulos sobre as fases particulares da memória, quais decidiu melhorar,
estude os detalhes da instrução até saber cada ponto. E o mais importante:
comece a trabalhar. O restante é só uma questão de prática, prática, prática e
ensaio. Reveja os capítulos de tempos em tempos, relembre os detalhes.
Releia cada capítulo em intervalos regulares. Faça deste livro o seu guia,
em todos os sentidos da palavra, absorvendo seu conteúdo.

Claude Adrien Helvétius (1715 – 1771), filósofo e literato francês.


Henry Wager Halleck (1811 – 1872), acadêmico, advogado e oficial do
exército norte-americano.
CAPÍTULO 3
CASOS CONHECIDOS DA
MEMÓRIA

Para que o aluno possa compreender a maravilhosa extensão do possível


desenvolvimento da memória, consideramos aconselhável citar alguns
casos conhecidos, passados e presentes. Ao fazer isso, não queremos
enfatizar a imitação, apenas são excepcionais e não são necessários no dia-
a-dia. Nós os citamos para mostrar até que ponto maravilhoso o
desenvolvimento mental é possível.
Na Índia, antigamente, os livros sagrados eram memorizados e passados
de mestre para pupilo, através dos anos. Mesmo hoje não é incomum o
aluno poder repetir palavra por palavra de alguma obra religiosa volumosa
equivalente, em extensão, ao Novo Testamento. Max Muller1 afirma que o
texto integral e o glossário da gramática sânscrita de Panini, equivalente em
extensão à Bíblia, foram passados oralmente pelos séculos antes de serem
escritos. Há brâmanes, hoje, que memorizaram, e podem repetir, a coleção
completa dos poemas religiosos conhecidos como Mahabarata, que
consistem em mais de 300.000 slokas ou versos. Leland salienta que “os
menestréis eslavônios2 de hoje sabem de cor, com notável precisão, poemas
épicos imensos. Encontrei o mesmo entre os índios algonquinos cujas sagas
ou lendas míticas são intermináveis, e mesmo assim sabem palavra por
palavra. Soube que na Inglaterra há uma senhora de 90 anos com uma
memória miraculosa, e seus amigos comentam fatos extraordinários. Ela
atribuiu isso ao fato de na sua juventude ter aprendido um versículo da
Bíblia por dia e repeti-lo constantemente. Com o aumento de sua memória,
ela aprendeu mais, e o resultado foi que pôde repetir de memória qualquer
versículo ou capítulo das Escrituras.”
Comenta-se que Mitrídates, um antigo rei guerreiro, sabia o nome de
todos os soldados de seu grande exército e podia conversar fluentemente em
22 dialetos. Plínio comenta que Cármides podia repetir o conteúdo de cada
livro de sua grande biblioteca. Hortêncio, o orador romano, possuía uma
incrível memória, o que lhe permitia reter e recordar as exatas palavras dos
argumentos de seu oponente, sem ter nenhuma anotação. Em uma aposta,
ele compareceu a um leilão que durou o dia todo e depois disse na ordem
cada objeto vendido, o nome do comprador e o preço. Sêneca adquiriu a
habilidade de memorizar milhares de nomes próprios e os repetia na ordem
na qual lhe era dado, além de reverter a ordem e começar do último para o
primeiro. Conseguiu também a proeza de ouvir várias centenas de pessoas,
cada uma delas dizendo um verso; ele os memorizou e repetiu palavra por
palavra na exata ordem que lhe foi dada – e reverteu o processo, com total
sucesso. Eusébio disse que só a memória de Esdras salvou as escrituras
judaicas para o mundo, pois quando os caldeus destruíram os manuscritos
Esdras foi capaz de repeti-las, palavra por palavra, para os escribas, que as
reproduziram. Os estudiosos maometanos puderam repetir todo o texto do
Alcorão, perfeitamente. Sealiger memorizou o texto inteiro da Ilíada e da
Odisséia, em três semanas. Comenta-se que Ben Jonson conseguiu repetir
todas as suas obras de memória, facilmente. Bulwer podia repetir as odes de
Horácio de memória. Pascal podia repetir a Bíblia inteira, do início ao fim,
assim como recordar qualquer parágrafo, versículo, verso ou capítulo.
Landor lia um livro uma única vez, guardava-o, tendo-o memorizado, e o
recordava anos depois, se necessário. Byron podia recitar todos os seus
poemas. Buffon podia repetir suas obras do início ao fim. Bryant possuía a
mesma habilidade de repetir suas próprias obras. O bispo Saunderson podia
repetir a maior parte de Juvenal e Perseu, tudo de Tílio e de Horácio.
Fedosova, um agricultor russo, podia repetir mais de 25 mil poemas,
músicas folclóricas, lendas, contos, histórias de guerra etc., quando ela tinha
mais de 70 anos. O conhecido “Blind Alick”, um velho mendigo escocês,
podia repetir qualquer versículo da Bíblia, assim como o texto integral de
todos os capítulos e livros. Há algum tempo, os jornais citavam um homem
chamado Clark, que vivia na cidade de Nova Iorque. Ele dizia poder dar o
exato voto presidencial em cada estado da União, desde a primeira eleição.
Ele podia dizer a população em cada cidade de qualquer tamanho no
mundo, tanto no presente quanto no passado, contanto que houvesse um
registro. Ele podia citar Shakespeare por horas, a qualquer momento e
qualquer ponto de qualquer peça. Ele podia recitar o texto completo de
Ilíada, no original grego.
O caso histórico de um anônimo holandês é conhecido por todos os
alunos de memória. Diziam que esse homem podia pegar um jornal recém-
impresso, lê-lo inteiro, incluindo os anúncios, e depois repetir seu conteúdo,
palavra por palavra, do início ao fim. Em uma ocasião, ele teria realizado a
façanha de repetir o conteúdo do jornal de trás para a frente, começando
com a última palavra e terminando com a primeira. Comenta-se que Lyon, o
ator inglês, duplicou a proeza usando um grande jornal londrino e incluindo
as cotações do mercado, os relatórios dos debates no Parlamento, os
horários dos trens e os anúncios. Um garçom de Londres realizou uma
proeza similar, em uma aposta, e ele memorizou e repetiu corretamente o
conteúdo de um jornal de oito páginas. Um dos casos mais notáveis e
conhecidos de uma extraordinária memória na História é da criança
Christian Meinecken. Com menos de quatro anos ele podia repetir toda a
Bíblia, duzentos hinos, cinco mil palavras latinas e muita história, teoria,
dogmas e argumentos eclesiásticos, além de uma quantidade enciclopédica
de literatura teológica. Ele guardou, praticamente, cada palavra que lhe foi
lida. Seu caso foi anormal, mas ele morreu muito jovem.
Comenta-se que John Stuart Mill havia adquirido um enorme
conhecimento de grego, aos três anos, e havia memorizado Hume, Gibbon e
outros historiadores aos oito anos, logo após ter estudado e memorizado
Heródoto, Xenofonte, algo de Sócrates e seis dos Diálogos de Platão.
Richard Porson havia memorizado o texto inteiro de Homero, Horácio,
Cícero, Virgílio, Livy, Shakespeare, Milton e Gibbon. Ele podia memorizar
qualquer romance comum com uma leitura cuidadosa; além de ter realizado
várias vezes a façanha de memorizar o conteúdo integral de algumas
resenhas mensais inglesas. De Rossi podia repetir centenas de versos de
qualquer um dos quatro grandes poetas italianos, desde que lhe fosse dado
um verso aleatório de suas obras – ele citava centenas de versos
imediatamente após o verso dado. É claro que essa façanha exigiu a
memorização de toda a obra desses poetas e a habilidade de repetir de
qualquer ponto dado, ambas notáveis. Houve casos de editores poderem
repetir, palavra por palavra, livros que haviam sido impressos. O Professor
Lawson foi capaz de ensinar a seus alunos as Escrituras sem usar o Livro.
Ele afirmava que se todo o estoque de Bíblias fosse destruído, ele podia
restaurar o Livro por meio de sua memória.
O rev. Thomas Fuller podia andar por uma longa rua de Londres lendo o
nome das placas nos dois lados da rua, e recordá-los na ordem na qual os
havia visto, e na ordem inversa. Há muitos casos registrados de pessoas que
memorizaram as palavras de cada idioma conhecido da civilização, assim
como um grande número de dialetos de raças selvagens. Bossuet
memorizou a Bíblia inteira e também Homero, Horácio e Virgílio. Niebuhr,
o historiador, empregou-se em um escritório do governo, cujos registros
foram destruídos. Ele restaurou o conteúdo completo do livro dos registros
que havia escrito – por meio de sua memória. Asa Gray sabia os nomes de
10 mil plantas. Milton possuía um vocabulário de 20 mil palavras;
Shakespeare, um de 25 mil. Dizia-se que Cuvier e Agassiz haviam
memorizado listas de milhares de espécies e variedades de animais.
Magliabechi, o bibliotecário de Florência, sabia a localização de cada
volume na grande biblioteca, a seu cargo, e a lista completa das obras de
acordo com certas linhas em outras grandes bibliotecas. Ele afirmou que
podia repetir os títulos de mais de 500 mil livros em muitos idiomas e sobre
muitos temas. Podem-se encontrar em qualquer lugar pessoas com
memórias maravilhosamente desenvolvidas em suas ocupações. Os
bibliotecários possuem essa faculdade a um grau incomum. Trabalhadores
qualificados nas melhores linhas de produção também manifestam uma
maravilhosa memória para as pequenas peças dos artigos manufaturados
etc. Os bancários possuem uma maravilhosa memória para nomes e rostos.
Alguns advogados podem recordar casos citados anos depois de tê-los lidos.
Talvez o mais comum e mais notável caso de memorização no trabalho
diário seja na profissão teatral. Em alguns casos, os membros das
companhias devem não só repetir as falas de seu personagem atual, mas
também as daquele que estão ensaiando para a próxima semana, e
possivelmente para a segunda semana. No repertório das companhias, os
atores devem ser “perfeitos” em uma dúzia ou mais peças – uma façanha
tão comum que ninguém nota.
Em alguns casos conhecidos, o grau de recordação manifestado é sem
dúvida anormal, e na maioria deles pode ser visto que o resultado foi obtido
apenas com o uso de métodos naturais e exercício persistente. Esta
maravilhosa memória pode ser adquirida por qualquer um que devotar
paciência, tempo e trabalho à tarefa, é um fato conhecido de todos os alunos
do tema. Não é um dom, mas algo conseguido pelo esforço e trabalho de
linhas científicas.

Friedrich Max Müller (1823 – 1900), filólogo e orientalista alemão.


A Eslavônia ou Eslavónia (em Croata, Slavonija) é uma região geográfica e
histórica da Croácia oriental.
CAPÍTULO 4
SISTEMAS DE MEMÓRIA

O assunto de desenvolvimento de memória não é novo. Por mais de


duzentos anos, tem-se pensado sobre o assunto; muitos livros foram escritos
e muitos métodos ou “sistemas” foram inventados, e o propósito tem sido o
treinamento artificial da memória. Em vez dos esforços de desenvolver a
memória por treinamento científico, prática e exercício racional por linhas
naturais, parece que sempre houve a idéia de que os métodos da natureza
podem ser melhorados, que um plano deve ser concebido com o uso de
algum “truque’” e a memória pode ser ensinada a mostrar seus tesouros
escondidos. A lei da associação foi usada na maioria desses sistemas, com
uma certa freqüência. Sistemas fantasiosos foram criados, tão artificiais em
sua característica e natureza, e o uso é calculado para se obter uma
diminuição dos poderes naturais da lembrança e recordação, assim como no
caso de “ajudas” naturais ao sistema físico, sempre encontramos uma
redução dos poderes naturais. A natureza prefere fazer a seu próprio modo,
sem ajuda. Ela pode ser treinada, guiada, direcionada e trabalhada, porém,
insiste em fazer o trabalho sozinha ou recusar a tarefa. O princípio da
associação é importante e forma uma parte do treinamento natural da
memória, devendo ser usado assim. Quando colocado em serviço em
muitos dos sistemas artificiais, o resultado é a criação de um mecanismo
mental complexo e inatural, que não é mais uma melhoria em relação aos
métodos naturais, é como uma perna de madeira em um membro original.
Há muitos pontos em alguns desses “sistemas” que podem ser empregados
para tirar vantagem no treinamento natural da memória, separando-os de
seus papéis fantásticos e arranjos complexos. Nós o convidamos a ler a lista
dos principais “sistemas”, sendo que você pode descartar o material inútil
ao reconhecê-lo e guardar o valioso para seu uso.
Os antigos gregos gostavam de sistemas de memória. Simônides, o poeta
grego que viveu cerca de 500 a.C., foi uma das primeiras autoridades e sua
obra influenciou quase todos os sistemas de memória que se proliferaram
desde aquela época. Há uma história romântica ligada à fundação do seu
sistema. Dizem que o poeta estava em um grande banquete no qual havia
alguns dos principais homens do local. Ele recebeu uma mensagem de casa
e saiu. Logo após sua saída, o teto caiu sobre os convidados, matando todos
que estavam presentes e mutilando os corpos tão terrivelmente que seus
amigos não conseguiam reconhecê-los. Simônides, tendo uma memória
bem desenvolvida para lugares e posição, foi capaz de recordar a exata
ordem na qual cada convidado estava sentado e pôde ajudar na identificação
dos restos mortais. Esse fato o impressionou tanto que ele projetou um
sistema de memória baseado na idéia de posição, que obteve grande
popularidade na Grécia e conduziu os principais autores a recomendá-lo.
O sistema de Simônides era baseado na idéia de posição, sendo
conhecido como “o sistema de tópicos”. Seus alunos eram ensinados a
imaginar um grande palácio e dividi-lo em seções, e depois em salas, halls
etc. O que devia ser lembrado era “visualizado”, ocupando um certo espaço
ou lugar naquele palácio, sendo o agrupamento feito de acordo com a
associação e lembrança. Quando se desejava recordar as coisas, era
necessário apenas visualizar o palácio mental e fazer uma viagem
imaginária de sala em sala, cancelando as várias coisas colocadas. Os
gregos consideravam muito este plano, sendo empregadas muitas variações
posteriormente. Cícero1 disse:

“Para aqueles que desejam melhorar a memória, certos lugares devem ser
fixados, e para as coisas que desejam manter na memória, devem ser
usados símbolos na mente e dispostos, como estavam, naqueles lugares;
assim, a ordem dos lugares preservaria a ordem das coisas, e os símbolos
das coisas denotariam as próprias coisas; assim devemos usar os lugares
como tabuletas de cera e os símbolos como letras.”

Quintiliano2 aconselhava os alunos a “fixarem em suas mentes os


maiores lugares possíveis, diversificados por uma considerável variedade,
como, por exemplo, uma grande casa dividida em muitos quartos. O que for
digno de nota deve ser cuidadosamente impresso no cérebro, pois assim o
pensamento pode percorrer cada parte dele sem hesitação ou demora…
Lugares que devemos ter imaginado ou selecionado, e imagens ou símbolos
que podemos inventar a nosso bel-prazer. Esses símbolos são marcas com
as quais podemos distinguir os particulares que devemos decorar.”
Muitos sistemas modernos foram criados com os fundamentos de
Simônides e em alguns casos os alunos foram obrigados a pagar altos
preços “pelo segredo”. A descrição a seguir, dada por Kay, apresenta o
“segredo” de um sistema de alto preço desta classe:

“Selecione algumas salas e divida as paredes e o chão de cada uma, na sua


imaginação, em nove partes ou quadrados iguais, três em uma coluna. Na
parede da frente – oposta à entrada – da primeira sala estão as unidades;
na parede à direita as de dez; à esquerda as de vinte; na quarta parede as
de trinta; no chão as de quarenta. Os números 10, 20, 30 e 40 encontram
um lugar no teto acima das respectivas paredes, o 50 ocupa o centro da
sala. Uma sala fornecerá 50 lugares, e dez salas, 500. Fixe isto claramente
na mente, para poder dizer de imediato a posição exata de cada lugar ou
número, é então necessário associar cada um a um objeto (ou símbolo)
familiar, de tal forma que, ao ser sugerido o objeto, seu lugar possa ser
lembrado de imediato, ou o lugar apareça na mente assim que ele surgir.
Ao ter feito isso exaustivamente, os objetos podem aparecer em qualquer
ordem, do início ao fim, ou do fim ao início, ou o lugar de qualquer coisa
em particular pode ser dito de imediato. Tudo o que é necessário é associar
idéias que desejamos lembrar a objetos em vários lugares, de maneira que
possam ser facilmente lembrados e em qualquer ordem. Dessa maneira
pode-se aprender a repetir várias centenas de palavras ou idéias
desconectadas, em qualquer ordem, após ouvi-las uma vez.” Não
consideramos necessário discutir o fato de este sistema ser artificial e
limitador. Embora a idéia de “posição” possa ser empregada para
obtermos alguma vantagem no agrupamento na memória de vários fatos,
idéias, ou palavras associadas, a idéia de empregar um processo como o
mostrado em assuntos comuns da vida é ridícula, e qualquer sistema
baseado tem como valor apenas a curiosidade, ou a façanha acrobática
mental.

Semelhante ao exposto está a idéia destacando muitos outros “sistemas e


métodos secretos” – a idéia de Contigüidade, na qual as palavras são
reunidas por elos fantasiosos. Feinagle3 descreve essa idéia ou princípio
subjacente assim:

“A recordação delas é assistida ao associar alguma idéia de relação entre


as duas; como descobrimos por experiência que o absurdo tem uma forte
impressão no cérebro, quanto mais ridícula a associação melhor.”

Os sistemas fundamentados nesta idéia podem ser empregados para


repetir uma longa cadeia de palavras e coisas similares desconexas, porém,
apresentam pouco valor prático, sem contar o alto preço que se paga. Eles
servem apenas como curiosidades, ou métodos de realizar “truques” para
entreter os amigos. Dr. Kothe, um professor alemão da metade do século
XIX, fundou essa escola de treinamento da memória, onde suas idéias
serviram como fundamento para muitos professores de caros “sistemas” ou
“métodos secretos”. A descrição de Feinagle apresenta a chave para o
princípio empregado. O trabalho do princípio é acompanhado pelo emprego
de “intermediários” ou “correlativos”, como são chamados; por exemplo, as
palavras “chaminé” e “folha” seriam ligadas assim: “Chaminé–fumaça–
madeira–folha.”
Há sistemas ou métodos baseados no antigo princípio da “Figura
Alfabeto”, no qual se ensina a lembrar datas associando-as a letras ou
palavras. Por exemplo, um professor da classe desses sistemas desejou que
seus alunos se lembrassem do ano de 1480 pela palavra “BiG RaT”, sendo
as maiúsculas que representam as figuras na data. É desnecessário mais
comentários! O aluno descobrirá que quase todos os “sistemas” ou
“métodos secretos” à venda em “cursos”, a preços bem altos, são apenas
variações, aperfeiçoamentos ou combinações das três formas dos métodos
artificiais citados. Novas alterações são sempre apresentadas a velhos
planos; novos acordes tocados nos mesmos velhos instrumentos; novas
badaladas nos mesmos velhos sinos. O resultado é sempre o mesmo, nesses
casos – desapontamento e repulsa. Há poucos sistemas naturais no mercado,
quase todos contêm informações e instruções que fazem valer o preço pago.
Quanto aos outros, bem, julgue por si mesmo depois de comprá-los, se
quiser.
Quanto aos sistemas artificiais e fantasiosos, Kay comenta:
“Todos os sistemas para aperfeiçoamento da memória pertencem ao que
consideramos a primeira ou inferior forma. Em sua maior parte é baseada
em associações simples ou tolas com pouco fundamento na natureza,
portanto de utilidade prática; e não tendem a melhorar ou reforçar a
memória como um todo.”

Bacon afirma que esses sistemas são “improdutivos e inúteis”, e


acrescenta:

“De imediato repetir uma variedade de nomes ou palavras depois de ouvi-


las repetidamente, considero funambulismo, cambalhotas e façanhas de
atividade; de fato, são quase as mesmas, uma sendo o abuso do corpo e a
outra do poder mental, embora possam causar admiração, não de grande
valor.”

Outra autoridade comentou:

“Os sistemas de mnemônica ensinados não são melhores que muletas, úteis
para quem não pode andar, mas impedem quem tem o uso dos membros e
quem apenas precisa exercitá-los adequadamente para poder usá-los por
completo.”

Neste livro, não queremos ensinar esses “sistemas de truques” que o


aluno pode realizar por diversão com os amigos. Apenas desejamos ajudá-
lo no desenvolvimento do poder de receber impressões, registrá-las na
memória e rapidamente reproduzi-las quando desejar, de maneira natural e
fácil. Serão seguidas as linhas de ação mental natural. A idéia deste trabalho
não é ensinar como realizar “façanhas” de memória, mas instruir quanto ao
uso inteligente e prático da memória nos assuntos diários da vida e do
trabalho.

Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.), filósofo, orador, escritor,


advogado e político romano.

Marcus Fabius Quintilianus (35 – 100), retórico romano.


Gregor von Feinagle (? – 1765), alemão, inventor do sistema mnemônico.
CAPÍTULO 5
O ARQUIVO-REGISTRO
SUBCONSCIENTE

Os antigos escritores do assunto não quiseram considerar a memória


como uma faculdade separada da mente, e essa idéia desapareceu antes do
avanço do conhecimento que resultou na aceitação do conceito conhecido
como A Nova Psicologia. Este novo conceito reconhece a existência de
uma vasta região da mente “fora da consciência”, uma fase conhecida como
mente subconsciente, ou o campo subconsciente das atividades mentais.
Neste campo de mentalização as atividades da memória têm seu lugar. Uma
análise cuidadosa do assunto traz a certeza de que todo o trabalho da
memória é realizado na região subconsciente do cérebro. Somente quando o
registro subconsciente é representado no campo consciente e a recordação
ou lembrança é o resultado, a idéia ou impressão memorizada surge da
região subconsciente. A compreensão deste fato simplifica o assunto da
memória e nos permite aperfeiçoar planos e métodos, onde quer que ela
possa ser desenvolvida, melhorada e treinada por meio da direção de
atividades subconscientes com o uso das faculdades conscientes e da
vontade.
Hering1 afirma:

“A memória é uma faculdade não apenas para nossos estados conscientes,


mas também para os inconscientes.”

Kay salienta:

“É impossível compreender a verdadeira natureza da memória, ou como


treiná-la bem, a menos que tenhamos um claro conceito do fato de que há
muito na mente do qual estamos inconscientes… A melhor forma de
memória, como de todos os poderes mentais, é a inconsciência – quando o
que desejamos recordar nos vem espontaneamente, sem qualquer
pensamento ou busca consciente. Freqüentemente, quando desejamos
recordar algo que antes estava na mente, não conseguimos fazê-lo por meio
de qualquer esforço consciente da vontade; voltamos nossa atenção para
outra coisa e depois de algum tempo a informação desejada surge
espontaneamente, no momento em que não estamos conscientemente
pensando nela.”

Carpenter2 diz:

“Há o trabalho de um mecanismo sub-reptício da consciência que, quando


colocado em funcionamento, trabalha por si mesmo e mais provavelmente
envolve o resultado desejado quando a atividade consciente da mente é
exercida em uma direção diferente.”

Essa região subconsciente do cérebro é o maior arquivo-registro de tudo


que já vivenciamos, pensamos ou sabemos. Tudo está registrado lá. As
principais autoridades geralmente concordam que não há algo como um
esquecimento absoluto até mesmo da menor impressão, mas podem ocorrer
casos em que podemos ser incapazes de recordá-la ou lembrá-la, devido a
sua tenuidade, ou falta de “indexação” associada. Se conseguirmos
encontrar seu lugar, tudo deve ser buscado naquele arquivo-registro
subconsciente. Kay comenta:

“Em uma maneira semelhante acreditamos que toda impressão ou


pensamento que esteve uma vez antes na consciência permanece impressa
no cérebro. Pode nunca mais surgir antes na consciência, mas sem dúvida
permanecerá naquela vasta região ultraconsciente da mente,
inconscientemente moldando e adequando nossos pensamentos
subseqüentes e ações. Temos consciência de apenas uma pequena parte do
que existe na mente. Sempre há muito do que se sabe e conhece e que existe
na mente de forma inconsciente, e deve estar armazenado em algum lugar.
Podemos nos recordar conscientemente quando desejamos, mas outras
vezes a mente está inconsciente de sua existência. Além disso, a experiência
de cada um deve lhe dizer que há muito em sua mente que nem sempre pode
ser recordado quando se quer – muito pode ser recuperado apenas depois
de uma busca laboriosa, ou pode ser buscado em vão, e pode ainda
ocorrer-lhe depois quando nem estava pensando sobre o assunto.
Repetindo: muito do que provavelmente nunca somos capazes de recordar,
ou que não nos ocorreria em circunstâncias normais, podemos lembrar que
estava em nossa mente quando outros nos mencionam. Em tal caso deve
haver ainda algum traço ou vestígio dele na mente antes de podermos
reconhecer que estava lá antes.”

Morell3 coloca:

“Temos toda razão para acreditar que o poder mental, quando acionado,
segue uma analogia de tudo o que vemos no universo material quanto a sua
perpetuação. Cada simples esforço da mente é uma criação que nunca
pode voltar para a inexistência. Pode dormir nas profundezas do
esquecimento como a luz e o calor, no veio carbonífero, mas lá está, pronto
para voltar da escuridão para a luz da consciência por um estímulo
apropriado.”

Beattie afirma:

“Aquilo que está esquecido há muito, aquilo que com freqüência em vão
nos esforçamos para recordar, às vezes, nos ocorrerá de repente sem
esforço, e, se posso dizer, segundo seu dispor.”

Hamilton4 salienta:

“A mente contém completos sistemas de conhecimento que, embora em


nosso estado normal tenham desaparecido para o esquecimento absoluto,
podem em certos estados anormais, como loucura, delírio, sonambulismo,
catalepsia etc., surgir na consciência iluminada… Por exemplo, há casos
nos quais a memória extinta de linguagens inteiras foi repentinamente
restaurada.”
Lecky5 diz:

“Está estabelecido que há uma variedade de eventos completamente


esquecidos, que nenhum esforço da vontade consegue fazê-los reviver, e que
a sua menção não desperta reminiscências, e pode estar, digamos,
embutidos na memória e ser reproduzidos com intenso vigor em
determinadas condições físicas.”

Como prova disso, as autoridades apresentam muitos casos registrados


em anais científicos. Coleridge relata o conhecido caso de uma senhora que
não sabia ler nem escrever e que em um delírio febril recitou, em tom
pomposo, incessantemente longas passagens latinas, gregas e hebraicas,
com pronúncia distinta e expressão precisa. Foram tomadas notas de seus
delírios, e o fato causou espanto até que depois se descobriu que, em sua
juventude, ela trabalhara como empregada na casa de um clérigo que tinha
o hábito de fazer seus estudos e enquanto ele andava, ocasião em que lia em
voz alta seus escritores clássicos e religiosos favoritos. Em seus livros
foram encontradas passagens marcadas que correspondiam às notas dos
delírios. Sua memória subconsciente havia armazenado o som dessas
passagens ouvidas em sua juventude, mas das quais não havia recordação
em seu estado normal. Beaufort, descrevendo suas sensações logo antes de
ser salvo de afogamento, comenta:

“Cada incidente de minha vida pregressa parecia fazer alusão a minha


recordação em um processo retrógrado, não uma mera descrição, mas uma
imagem cheia de cada minuto e aspecto colateral, formando uma visão
panorâmica de toda a minha existência.”

Kay observa:

“Ao adotarmos a opinião que cada pensamento ou impressão que foi retido
pelo cérebro uma vez de forma consciente, obtemos luz em muitos
fenômenos mentais obscuros; em especial, chegamos à conclusão da
perfeição da memória a uma extensão quase ilimitada. Não podemos
duvidar que, se pudermos penetrar nos níveis profundos da nossa natureza
mental, devemos encontrar lá traços de cada impressão que recebemos,
cada pensamento, cada ato feito em nossa vida passada, cada qual
influenciando a maneira como construímos nosso conhecimento presente,
ou direcionando nossas ações diárias; e se eles persistem na mente, não
seria possível recordar a maioria, senão todos, para a consciência quando
desejamos, se nossas memórias ou poderes de recordação fossem o que
deveriam ser?”

Como dissemos, esta grande região subconsciente do cérebro – esta


região da memória – pode ser pensada como um grande arquivo de
registros, com um intricado sistema de índices e office-boys cuja função é
arquivar os registros, indexá-los e encontrá-los quando necessário. Os
registros guardam apenas o que imprimimos neles com atenção,
dependendo do grau de profundidade e de clareza que damos quando da
impressão original. Nunca podemos esperar que os office-boys da memória
tragam algo que não lhes foi dado para arquivar. A indexação e a referência
cruzada são fornecidas pela associação existente entre as várias impressões.
Quanto mais referências cruzadas, ou associações ligadas com a idéia,
pensamento ou impressão arquivado na memória, maiores são as chances
daquilo ser encontrado rapidamente quando quisermos. Esses dois aspectos,
da atenção e associação, e as partes que desempenham nos fenômenos da
memória são mencionados em detalhes em outros capítulos.
Esses pequenos office-boys da memória são um seleto grupo de
companheiros trabalhadores mas, como os outros, fazem o trabalho melhor
quando praticam. O ócio e a falta de exercício fazem com que fiquem
preguiçosos e descuidados, esquecendo-se assim dos registros sob sua
responsabilidade. Um pequeno exercício e trabalho fazem desaparecer as
teias de aranha de seus cérebros e eles voltam a suas tarefas. Eles ficam
familiarizados com suas tarefas quando exercitados adequadamente e
tornam-se muito expertos. Têm a tendência de lembrar, por contra própria, e
quando um determinado registro é chamado, e estando eles acostumados a
seu lugar, podem encontrá-lo sem procurar nos índices. Porém, o problema
surge com registros vagos e quase ilegíveis, causados por pouca atenção –
esses registros não são bem decifrados quando se consegue encontrá-los. A
falta de indexação apropriada por associações os deixa muito preocupados,
causando trabalho extra, e devido a essa negligência, às vezes, eles não
conseguem encontrar os registros. Portanto, em geral, depois de lhe dizer
que não conseguem encontrar a coisa, ficando você desgostoso, continuarão
a procurá-la por horas até surpreendê-lo, encontrando a idéia ou impressão
desejada em um arquivo indexado sem cuidado ou guardado
inapropriadamente. Nesses capítulos você será auxiliado se levar em sua
mente esses pequenos office-boys do arquivo de registro da memória; muito
do trabalho pesado que eles fazem para você é, sem dúvida, devido a sua
própria negligência e descuido. Trate bem esses pequenos companheiros e
eles trabalharão para você com vontade e alegria. Eles precisam, contudo,
de sua assistência e encorajamento, além de um elogio ou aprovação
ocasional.

Karl Ewald Konstantin Hering (1834 – 1918), fisiologista alemão.

William Benjamin Carpenter (1813 – 1885), médico britânico.

Sir Morell Mackenzie (1837 – 1892), médico britânico.

Sir William Hamilton (1788 – 1856), metafísico escocês.

William Edward Hartpole Lecky (1838 – 1903), jornalista e historiador


irlandês.
CAPÍTULO 6
ATENÇÃO

Como vimos nos capítulos anteriores, antes que você possa recordar ou
lembrar uma coisa, ela deve estar impressa nos registros da sua
subconsciência de maneira distinta e clara. O fator principal para se
registrar impressões é a qualidade da mente que chamamos de atenção.
Todas as maiores autoridades no assunto de memória reconhecem e
ensinam o valor da atenção no cultivo e desenvolvimento da memória.
Tupper1 diz:

“A memória, a filha da atenção, é a mãe fértil da sabedoria.”

Lowell2 comenta:

“Atenção é a matéria da qual provém a memória, e a memória é o gênio


acumulado.”

Hall salienta:

“No poder de fixar a atenção está o mais precioso dos hábitos


intelectuais.”

Locke afirma:

“Quando as idéias que se oferecem são notadas, e como tal registradas na


memória, esta é a atenção.”

Stewart3 coloca:
“A permanência da impressão que qualquer coisa deixa na memória é
proporcional ao grau de atenção dado originalmente.”

Thompson afirma:

“As experiências que ficam mais permanentemente impressas na


consciência são aquelas que receberam maior quantidade de atenção.”

Beattie diz:

“O poder com o qual qualquer coisa atinge a mente é em geral


proporcional ao grau de atenção dado. A grande arte da memória é a
atenção… Pessoas inativas sempre têm memória fraca.”

Kay retruca:

“Os filósofos sustentam que sem qualquer grau de atenção nenhuma


impressão, de qualquer duração, pode ficar na mente ou na memória.”

Hamilton comenta:

“É uma lei da mente que a intensidade da consciência presente determina a


vivacidade da memória futura; memória e consciência estão em relação
direta entre si. Consciência vívida, memória longa; consciência vaga,
memória curta; sem consciência, sem memória… O ato de atenção, que é
um ato de concentração, parece ser necessário para cada aplicação da
consciência, assim como uma certa contração da pupila é necessária para
o emprego da visão. A atenção, portanto, é para a consciência o que a
contração da pupila é para a visão, ou para o olho da mente o que o
microscópio ou telescópio é para o olho físico. Ela constitui a melhor
metade de todo o poder intelectual.”

Citamos essas autoridades com o propósito de causar a impressão da


importância do tema atenção. As regiões subconscientes do cérebro são o
maior depósito de registros mentais de impressões interior e exterior. Seus
grandes sistemas de preenchimento, registro e indexação dos registros
constituem o que chamamos de memória. Mas antes que qualquer trabalho
seja possível, as impressões devem ser recebidas primeiro. E, como se pode
observar pelas citações, essas impressões dependem do poder da atenção
dada às coisas que vemos. Se foi dada grande atenção, haverá impressões
claras e profundas; se foi dada atenção média, haverá impressões médias; se
foi dada atenção vaga, haverá impressões vagas; se não foi dada atenção,
não haverá registros.
Uma das causas mais comuns da pouca atenção é encontrada na falta de
interesse. Podemos nos lembrar das coisas que temos mais interesse, pois
nessa avalanche de interesse houve um alto grau de atenção manifestado.
Um homem pode ter memória fraca para muitas coisas, porém, quando
surgem coisas que envolvem seu interesse, ele em geral se lembra dos
mínimos detalhes. O que é chamado de atenção involuntária é a forma de
atenção que segue o interesse, a curiosidade ou o desejo – não há esforço
especial da vontade para tal. O que é chamado de atenção voluntária é a
forma de atenção dada a objetos não necessariamente interessantes,
curiosos ou atrativos – que exigem a aplicação da vontade e é uma marca de
um caráter desenvolvido. Toda pessoa tem mais ou menos atenção
involuntária, e poucos possuem atenção voluntária desenvolvida. Aquela é
instintiva, esta vem apenas com a prática e o treinamento.
Há um ponto importante para ser lembrado: o interesse deve ser
desenvolvido pela atenção voluntária dada e mantida no objeto. As coisas
que originalmente não despertam suficiente interesse para atrair a atenção
involuntária podem desenvolver um interesse secundário se atenção
voluntária for dada e mantida. Halleck comenta sobre isso:

“Quando é dito que a atenção não será firmemente mantida em uma coisa
desinteressante, não devemos nos esquecer que qualquer pessoa que não
seja banal e volúvel pode descobrir algo interessante em muitos objetos.
Mentes cultivadas mostram superioridade especial, pois a atenção que
podem dar em geral termina ao encontrar uma pérola na ostra mais
desinteressante. Quando, de um ponto de vista, um objeto perde
necessariamente o interesse, essas mentes descobrem novos atributos nele.
A essência do gênio é apresentar uma coisa velha de uma maneira nova,
seja algum poder na natureza ou um aspecto da humanidade.”
É muito difícil ensinar outra pessoa a cultivar a atenção, pois a coisa toda
consiste, em grande parte, no uso da vontade, na prática e na aplicação
persistente. O primeiro requisito é a determinação em usar a vontade.
Discuta consigo mesmo até se convencer de que é necessário e desejável
adquirir a arte da atenção voluntária – você precisa se convencer, sem
dúvidas racionais. Este é o primeiro passo e o mais difícil, à primeira vista.
A principal dificuldade está no fato de que para fazer a coisa é necessário
algum pensamento ativo, e a maioria das pessoas é preguiçosa demais para
realizar tal esforço mental. Após este primeiro passo, você precisa criar um
enorme desejo de adquirir a arte da atenção voluntária, ou seja, aprender a
desejar muito. Dessa maneira, induz a condição de interesse e atração onde
antes estava faltando. Por último, você deve persistir na tarefa e praticar
com afinco.
Comece voltando sua atenção para alguma coisa desinteressante e estude
seus detalhes, até poder descrevê-los. Isto será muito cansativo no início,
mas não desista. Não pratique demais no início; descanse e tente novamente
depois. Logo descobrirá que ficará mais fácil, pois um novo interesse está
começando a se manifestar na tarefa. Examine este livro, como prática,
aprenda quantas páginas há nele; quantos capítulos; quantas páginas há em
cada capítulo; os detalhes do tipo, impressão e encadernação – todos os
pormenores –, de modo a dar a outra pessoa um relato completo do livro.
Isto pode parecer desinteressante – e será no início –, mas com um pouco de
prática você criará novo interesse nos detalhes e ficará surpreso com a
quantidade de pequenas coisas que observará. Esse plano, praticado em
muitas coisas, nas horas vagas, desenvolverá o poder de atenção voluntária
e a percepção em qualquer um, independentemente de sua deficiência
inicial. Se tiver mais alguém para se unir ao jogo-tarefa, se esforce a
encontrar mais detalhes que o outro, ficando a tarefa mais fácil e o resultado
do trabalho melhor. Comece tomando ciência das coisas sobre você; os
lugares que visita; as coisas nas salas etc. Dessa maneira iniciará o hábito
de “notar as coisas”, que é o primeiro requisito para o desenvolvimento da
memória.
Halleck dá o seguinte, e excelente, conselho:

“Olhar para uma coisa com inteligência é a mais difícil das artes. A
primeira regra para o cultivo da percepção acurada é: não tente perceber o
total do objeto complexo de uma vez. Vejamos o rosto humano, por
exemplo. Um homem, em uma posição importante para a qual foi eleito,
ofendeu muitas pessoas, pois não se lembrava de seus rostos, nem
conseguiu reconhecê-las na segunda vez que as encontrou. Seu problema
era olhar para as feições como um todo. Ao mudar seu método de
observação e notar com cuidado o nariz, a boca, os olhos, o queixo e a cor
do cabelo, ele de imediato começou a achar fácil reconhecer as pessoas.
Ele não mais teve dificuldade de trocar A por B, pois lembrava que o
formato do nariz de B era diferente, ou a cor do cabelo era três tons mais
claro. Este exemplo mostra que outra regra pode ser formulada: dê atenção
especial aos detalhes. Talvez sejamos solicitados a fornecer uma descrição
minuciosa do exterior de uma casa na periferia que vimos recentemente.
Nós respondemos em termos gerais, descrevendo o tamanho e a cor da
casa. Talvez também tenhamos uma idéia de parte do material usado no
exterior da construção. Pedem-nos para que sejamos exatos sobre o
formato da porta, da varanda, do telhado, das chaminés e janelas; se as
janelas são quadradas ou redondas, se há cornijas, ou se a guarnição ao
redor é do mesmo material que o restante da casa. Um amigo, que não
pôde ver a casa, quer saber sobre a angulação do teto e o modo como as
janelas estão dispostas em relação a ele. A menos que possamos responder
a essas questões com exatidão, apenas o torturaremos dizendo que vimos a
casa. Ver um objeto meramente como uma massa indiscriminada de algo
em um certo lugar é o mesmo que passar diante de algo sem ver nada.”

Há três regras gerais que podem ser apresentadas quanto a dar atenção
voluntária na direção de realmente ver as coisas, e não apenas olhar para
elas.
A primeira é: tenha interesse na coisa.

A segunda: veja-a como se estivesse tomando nota para repetir os


detalhes para um amigo – isso o obriga a “notar”.

A terceira: dê à sua subconsciência o comando mental de notar o que


está olhando e diga: “Ei, note isto e se lembre por mim!”

Esta última consiste em um “jeito” peculiar que pode ser conseguido


com um pouco de prática e ela “virá” de repente depois de algumas
tentativas.
Quanto à terceira regra na qual a sua subconsciência trabalha, Charles
Leland4, embora ele a use para ilustrar outro ponto, disse:

“Para mim, é um tipo de impulso ou projeção da vontade para o futuro


trabalho. Posso ilustrar com um fato curioso na física. Se o leitor quiser
soar o sino para produzir o máximo de som possível, ele, provavelmente,
puxaria a corda do sino com toda a força e depois a soltaria. Mas e se
desse um simples empurrão com o dedo, ao soltar a corda, ele de fato
redobraria o som. Ou, para atirar uma flecha o mais distante possível, não
basta tencionar o arco ao máximo. Você dará um impulso rápido no arco,
com um esforço insignificante, e a flecha voará tão rápido, como se você
não tivesse feito nada. Ou, como no manuseio de um sabre afiado, nós
fazemos um corte; ou seja, para golpear ou cortar, como um machado,
adicionando um leve puxão, simultaneamente, podemos cortar um lenço de
seda ou uma ovelha. A reflexão (comando para a subconsciência) é o bater
no sino; o impulso no arco; o corte no sabre. É a ação deliberada e rápida
do cérebro, antes de esquecermos o pensamento, quando fazemos o cérebro
nos responder. É mais do que meramente pensar no que devemos fazer, é
pedir ou ordenar o Eu para fazer uma tarefa antes de querermos fazê-la.”

Lembre-se agora e sempre que antes que possa memorar, ou recordar,


você precisa primeiro perceber; a percepção é possível apenas por meio da
atenção, e responde no mesmo grau a ela. Portanto, é verdade quando
dizemos que:

“A grande arte da Memória é a Atenção”.

Martin Farquhar Tupper (1810 – 1889), escritor e poeta inglês.

James Russell Lowell (1819 – 1891), diplomata, crítico, editor e poeta


norte-americano.

Dugald Stewart (1753 – 1828), filósofo escocês, líder da escola escocesa de


filosofia.
Charles Leland (1824 – 1903), folclorista e acadêmico norte-americano.
CAPÍTULO 7
ASSOCIAÇÃO

Nos capítulos anteriores vimos que, para que uma coisa seja lembrada ela
precisa estar impressa claramente no cérebro, em primeiro lugar; e para
termos uma clara impressão, deve haver a manifestação da atenção. Porém,
quando devemos lembrar e recordar as impressões, nos deparamos com
outra importante lei da memória – a lei da associação. A associação tem
uma parte análoga a indexação e indexação-cruzada de um livro de uma
biblioteca ou de outro sistema no qual o objetivo é encontrar rapidamente
algo arquivado, ou que está contido de alguma maneira em um conjunto de
coisas similares. Kay comenta:

“Para que possa ser lembrado o que está na memória ou trazido


novamente para a consciência, é necessário que seja visto em conexão, ou
em associação a uma ou mais coisas ou idéias, assim como regra: quanto
mais coisas pudermos associar a ela, maior a probabilidade de ser
lembrada. Os dois processos estão envolvidos em cada ato da memória.
Devemos primeiro imprimir e depois associar. Sem uma clara impressão
formada, sua lembrança será indistinta e imprecisa, e a menos que
associada a algo mais no cérebro, ela não pode ser lembrada. Seria
impossível recordar uma idéia na mente sem supô-la por si em conexão
com uma outra.”

Todas as principais autoridades reconhecem, e ensinam, a importância


dessa lei de associação em conexão com a memória. Abercombie1 diz:

“Próximo ao efeito da atenção está a notável influência produzida na


memória pela associação.”
Carpenter afirma:

“O poder de recordar da memória depende sobretudo do grau de atenção


que damos à idéia a ser lembrada. O poder de reproduzir novamente
depende da natureza das associações por meio das quais a nova idéia foi
vinculada a outras que foram previamente registradas.”

Ribot2 salienta:

“A lei mais fundamental que regula os fenômenos psicológicos é a lei da


associação. Em sua característica abrangente compara-se à lei da atração
no mundo físico.”

Mill3 estabelece:

“A lei da gravidade está para a astronomia como as propriedades


elementares dos tecidos estão para a fisiologia, e a lei da associação de
idéias está para a psicologia.”

Stewart comenta:

“A conexão entre a memória e a associação de idéias é tão impressionante


que alguns supuseram que todos os fenômenos pudessem ser resolvidos
com este princípio. A associação de idéias conecta nossos vários
pensamentos entre si, de modo que os apresenta à mente em uma certa
ordem, porém pressupõe a existência desses pensamentos na mente – em
outras palavras: pressupõe a faculdade de reter o conhecimento adquirido.
Por sua vez, é evidente que sem o princípio associado, o poder de reter
nossos pensamentos e reconhecê-los quando surgem teria pouco uso, pois
os artigos mais importantes de nosso conhecimento devem permanecer
latentes em nossa mente, mesmo quando essas ocasiões se apresentem para
serem imediatamente aplicadas.”
A associação de idéias depende de dois princípios conhecidos,
respectivamente: (1) a lei da contigüidade; e (2) a lei da similaridade. A
associação por contigüidade é a forma de associação pela qual a idéia está
vinculada, conectada ou associada a uma sensação, pensamento ou idéia
imediatamente anterior, e diretamente posterior. Cada idéia, ou pensamento,
é um elo de uma grande cadeia de pensamentos ligados ao elo anterior e ao
sucessor. A associação por similaridade é a forma de associação pela qual
uma idéia, pensamento ou sensação está vinculado, conectado ou associado
a idéias, pensamentos ou sensações de um tipo similar, que ocorreu antes ou
depois. A primeira forma de associação é a relação de seqüência, e a
segunda, de tipo.
A associação por contigüidade é a maior lei do pensamento e da
memória. Kay afirma:

“A grande lei da associação mental é a da contigüidade, por meio da qual


as sensações e idéias que estavam na mente ou em sucessão próxima
tendem a se unir, ou combinar de tal forma que uma pode posteriormente
recordar a outra. A conexão que subsiste naturalmente entre a sensação ou
idéia na mente, e que imediatamente precede ou sucede, é de natureza mais
forte e íntima. Em termos específicos, as duas são na verdade uma que
formam um pensamento completo.”

Taine4 salienta:

“Para falar corretamente, não há sensação isolada ou separada. A


sensação é um estado que se inicia como a continuação do anterior e
termina perdendo-se no seguinte; é por uma separação arbitrária, e por
conveniência de linguagem, que colocado de lado ao fazê-la; seu início é o
fim da outra, e seu fim é o início da outra.”

Eibot afirma:

“Quando lemos ou ouvimos uma sentença, por exemplo, no começo da


quinta palavra algo da quarta ainda permanece. A associação por
contigüidade pode ser separada em duas subclasses – contigüidade no
tempo e contigüidade no espaço. Na contigüidade no tempo, há uma
tendência manifestada da memória de recordar as impressões na mesma
ordem na qual as recebemos – a primeira impressão sugerindo a segunda, e
esta a terceira e assim por diante. Dessa maneira, a criança aprende ao
repetir o alfabeto; o adulto, os versos de um poema.”

Priestly retruca:

“Em um poema, o final de cada palavra anterior está ligado ao início da


posterior, e podemos facilmente repeti-las nessa ordem, mas não somos
capazes de repeti-las de trás para a frente até serem ditas nessa ordem. A
memória de palavras, ou grupos de palavras, depende desta forma de
associação contígua. Algumas pessoas são capazes de repetir longos
poemas do início ao fim com perfeição, mas não conseguem repetir um
verso particular, sem começar do início. Contigüidade no espaço é
manifestada na forma de recordação ou lembrança por ‘posição’.”

Ao se recordar das coisas ligadas à posição de uma coisa particular,


podemos nos lembrar da própria coisa. Como vimos no capítulo anterior,
algumas formas de sistemas de memória foram baseadas nesta lei. Se
lembrar de uma casa ou sala na qual esteve, descobrirá que também se
lembrará de um objeto, depois de outro, na ordem das posições relativas, ou
contigüidade no espaço ou posição. Começando com o hall de entrada, você
pode viajar na memória de uma sala para outra, lembrando de cada objeto
que ela contém, de acordo com o grau de atenção dado originalmente. Kay
disse da associação por contigüidade:

“É neste princípio de contigüidade que os sistemas mnemônicos são


construídos, como quando desejamos lembrar algo associado na mente a
um certo objeto ou localidade, as idéias associadas surgirão de imediato;
ou quando cada palavra ou idéia está associada à imediatamente anterior,
assim quando uma é lembrada, as outras vêm, e assim longas listas de
nomes ou passagens de livros podem ser rapidamente decoradas.”

Será visto adiante que é de grande importância que correlacionemos


nossas impressões com as anteriores e posteriores. Quanto mais ligadas
nossas impressões, mais estarão combinadas e maior a facilidade de lembrá-
las ou recordálas. Devemos nos esforçar para formar nossas impressões das
coisas, pois assim estarão associadas a outras impressões, no tempo e no
espaço. Cada coisa que está associada a uma outra serve como “fio solto”
da memória, que se apanhado e seguido nos levará para aquilo que
desejamos recordar.
A associação por similaridade é o vínculo das impressões de um tipo
similar, sem relação com tempo e lugar. Carpenter expressa:

“A lei da similaridade expressa o fato geral que qualquer estado presente


de consciência tende a reviver os anteriores que são similares a ele. (…) A
associação racional ou filosófica é quando o fato ou afirmação na qual a
atenção está fixada está associado a um fato previamente conhecido, com o
qual tem relação, ou com algum assunto que deve ilustrar.”

Kay comenta:

“Os similares podem estar bem distante no espaço ou tempo, mas são
reunidos e associados pela semelhança entre si, e uma circunstância de
hoje pode recordar uma circunstância de natureza similar que ocorreu em
tempos diferentes, pois elas estarão associadas na mente, e posteriormente
a presença de uma tenderá a recordar as outras.”

Abercrombie comenta sobre a fase de associação:

“O hábito de associação correta – isto é, conexão de fatos na mente de


acordo com suas verdadeiras relações e a maneira na qual tendem a
ilustrar cada uma – é um dos principais significados de melhoria da
memória, particularmente do tipo de memória que é uma qualidade
essencial de uma mente cultivada – ou seja, aquela que é encontrada com
conexões incidentais, mas com relações verdadeiras e importantes.”

Beattie afirma:
“Quanto mais encontrarmos relações ou semelhanças, ou pudermos
estabelecer objetos, mais facilmente a visão de uma nos levará a
recordarmos do restante.”

Kay salienta:

“A fim de fixar uma coisa na memória, devemos associá-la a algo que já


está na mente, e quanto mais próximo quisermos nos lembrar da
semelhança associada, melhor será para fixá-la na memória, e mais
rapidamente nos lembraremos dela. Se as duas se assemelharem, ou não se
distinguirem uma da outra, então a associação é do tipo forte… A memória
pode reter e substituir um vasto número de idéias, se elas estão mais
associadas ou dispostas em algum princípio de similaridade, do que se
estão apresentadas apenas como fatos isolados. Não é pela variedade de
idéias, mas pela disposição, que a memória é limitada e seus poderes são
enfraquecidos.”

Arnott5 afirma:

“O homem ignorante pode segurar centenas de ‘ganchos’ de conhecimento


(para usar um exemplo simples), com objetos simples, enquanto o homem
informado faz com que o ‘gancho’ suporte uma longa cadeia de milhares
de coisas aparentadas e úteis.”

Pedimos a cada aluno que conheça a idéia geral de aspectos da lei de


associação dada neste capítulo, assim, muitas das instruções dadas por
várias fases e classes de memória são baseadas na aplicação da lei de
associação, em conexão com a lei da atenção. Esses princípios
fundamentais devem ser aprendidos antes de seguir adiante nos detalhes de
prática e exercício. Devemos saber não apenas “como” usar a mente e a
memória de certas maneiras, mas o “porquê” de ser usada naquele caso
particular. Ao entender a “razão”, ficará mais fácil seguir as direções.

John Abercrombie (1780 – 1844), médico e filósofo escocês.


Théodule Ribot (1839 – 1916), psicólogo francês.

John Stuart Mill (1806 – 1873), filósofo e economista inglês, foi um dos
pensadores liberais mais influentes do século 19.

Hippolyte Adolphe Taine (1828 – 1893), crítico e historiador francês.

Neil Arnott (1788 – 1874), médico escocês.


CAPÍTULO 8
FASES DA MEMÓRIA

Uma das primeiras coisas que deve ser notada pelo aluno de memória é o
fato de que há várias fases diferentes da manifestação da memória, ou seja,
há várias classes gerais nas quais os fenômenos de memória podem ser
agrupados. Encontramos algumas pessoas bem desenvolvidas em certas
fases da memória e bem deficientes em outras. Se houvesse apenas uma
fase ou classe de memória, a pessoa que desenvolveu sua memória em
qualquer linha particular a teria desenvolvido, ao mesmo tempo, em todas
as outras linhas. Isto está longe da verdade. Encontramos homens
proficientes em recordar impressão de rostos, e consideram muito difícil
recordar nomes de pessoas cujos rostos lembram. Outros lembram rostos,
mas não nomes. Outros têm uma excelente recordação de localidades, e
outros estão constantemente se perdendo. Outros lembram datas, preços,
números em geral, e são deficientes em outras formas de recordação. Outros
lembram contos, incidentes, casos etc., e esquecem outras coisas. Cada
pessoa pode possuir uma memória boa em algumas fases e deficiente em
outras.
As fases da memória podem ser divididas em duas classes: (1) Memória
de Impressões de Sentido e (2) Memória de Idéias. Esta classificação é
arbitrária pelo fato de impressões de sentido desenvolverem-se em idéias, e
idéias são compostas de uma grande quantidade de impressões de sentido,
mas, de um modo geral, a classificação serve a seu propósito, que é agrupar
certas fases de fenômenos de memória – Memória de Impressões de Sentido
inclui as impressões recebidas dos cinco sentidos: visão, audição, paladar,
tato e olfato. Quando analisamos um exame prático das impressões de
sentido retidas na memória, encontramos que a maioria delas é obtida pelos
dois sentidos, respectivamente, da visão e audição. As impressões recebidas
pelo sentido do paladar, tato e olfato, são comparativamente menores,
exceto nos casos de certos peritos em linhas especiais, cuja ocupação
consiste em adquirir um delicado sentido do paladar, olfato ou tato, e um
fino sentido da memória nessas linhas particulares. Por exemplo, um
degustador de vinho e chá, que pode distinguir entre os vários tipos de
mercadoria, desenvolveu não apenas finos sentidos de paladar e olfato, mas
também uma notável memória das impressões previamente recebidas,
porque o poder de discriminação depende tanto da memória quanto do
sentido especial. Da mesma maneira um cirurgião e um mecânico
qualificados adquirem um fino sentido de tato e uma memória de
impressões táteis também altamente desenvolvida.
Como dissemos, grande parte das impressões de sentido armazenadas em
nossas memórias são as previamente recebidas pelos sentidos da visão e
audição, respectivamente. A maioria das impressões de sentido,
armazenadas na memória, foi recebida mais ou menos involuntariamente,
ou seja, com a aplicação de um leve grau de atenção. São mais ou menos
indistintas e confusas, e são lembradas com dificuldade, sendo que sua
lembrança vem, em geral, sem esforço consciente, segundo a lei de
associação. Elas surgem principalmente quando estamos pensando ou
dando atenção a outra coisa, e com a qual havia uma associação. Há uma
grande diferença entre a lembrança de impressões de sentido recebida dessa
maneira e aquelas que lembramos quando damos atenção, temos interesse e
concentração.
As impressões de sentido da visão são mais numerosas em nosso
depósito subconsciente. Estamos constantemente exercitando nosso sentido
da visão, recebendo milhares de impressões visuais diferentes por hora.
Porém, a maioria dessas impressões está vagamente registrada na memória,
porque nós lhe damos pouca atenção ou interesse. É surpreendente, às
vezes, quando descobrimos que recordamos algum evento ou incidente
importante e muitas impressões visuais vagas que nem sonhamos ter
qualquer registro. Perceber a parte importante das impressões visuais nos
fenômenos da memória, recordar algum tempo ou evento particular em
nossa vida, observar quantas coisas que nos lembramos, em comparação
com a quantidade de coisas que ouvimos, degustamos, sentimos ou
cheiramos.
A seguir, no entanto, estão as impressões recebidas pelo sentido da
audição, portanto a memória armazena um grande número de impressões
sonoras. Em alguns casos as impressões visuais e sonoras estão juntas,
como, por exemplo, no caso de palavras, no qual não apenas o som, mas a
forma das letras que a compõem, ou mesmo a forma em si da palavra, estão
armazenadas juntas, conseqüentemente são mais rápidas de lembrar ou
recordar que as coisas que uma impressão de sentido registrou. Professores
de memória usam este fato como meio de ajudar seus alunos a memorizar
palavras ao pronunciá-las em voz alta, depois as escrevendo. Muitos
memorizam nomes assim, com a impressão da palavra escrita adicionada à
impressão sonora, duplicando o registro. Quanto mais impressões puder
fazer para uma coisa, maiores as chances de recordá-la facilmente. É
também importante anexar a impressão de um sentido fraco ao de um forte,
para que o primeiro seja memorizado. Por exemplo, se você tem uma boa
memória visual e uma memória auditiva fraca é bom anexar suas
impressões sonoras às impressões visuais. Se você tem uma memória visual
fraca e uma memória auditiva boa é importante anexar suas impressões
visuais a suas impressões sonoras. Dessa maneira, tirará vantagem da lei da
associação, que já mencionamos.
Na subclasse das impressões visuais estão divisões menores da memória,
conhecidas como memória da localidade, memória de figuras, memória de
forma, memória de cor e memória de palavras escritas ou impressas. Na
subclasse das impressões sonoras estão divisões menores da memória
conhecidas como memória de palavras faladas, memória de nomes,
memória de histórias, memória de músicas etc. Devemos prestar atenção
especial a estas formas de memória nos próximos capítulos.
A segunda classe de memória geral – memória de idéias – inclui a
memória de fatos, eventos, pensamentos, linhas de raciocínio etc., e é tida
como alta escala, como a memória de impressões de sentido, embora não
seja mais necessária nem útil para a pessoa comum. Esta forma de memória
acompanha as altas linhas de esforço e de atividades intelectuais e constitui
uma grande parte do que é conhecido como verdadeira educação, a
educação que ensina a pensar e não apenas a memorizar certas coisas
ensinadas em livros ou aulas.
O homem bem constituído mentalmente é o que desenvolveu todos os
lados de sua memória, e não aquele que desenvolveu uma fase especial da
faculdade. É verdade que o interesse e ocupação do homem certamente
tende a desenvolver sua memória de acordo com suas necessidades diárias,
mas é bom que ele exercite as outras partes do seu campo de memória, para
que não tenha apenas um lado. Halleck comentou:
“Muitos pensam que a memória é devida principalmente à visão, mas
temos muitos tipos de memórias diferentes, como nossos sentidos. Para a
visão, a melancia é um corpo grande e esverdeado, mas esta é sua
qualidade menos importante. A visão sozinha apresenta a pior idéia da
melancia. Quando chegamos ao pomar no qual a fruta está crescendo, para
decidir qual está madura, damos um tapa na casca e julgamos o som.
Devemos nos lembrar que a melancia madura apresenta uma certa
ressonância. Ao passarmos as mãos pelo melão, aprendemos certas
características de tato. Cortamos o fruto e aprendemos as qualidades do
paladar e olfato. Todo este conhecimento fornecido por diferentes sentidos
deve entrar em uma perfeita imagem da memória. Observamos que muitos
processos complexos formam uma idéia de uma coisa. Napoleão não ficava
contente em apenas ouvir um nome. Ele o escrevia e, tendo satisfeito sua
memória visual e memória auditiva, jogava fora o papel.”

Este livro aponta os métodos e processos calculados para aperfeiçoar a


memória do aluno. Como regra, suas fases de memória forte precisam
apenas de um pouco de atenção, embora algo de conhecimento científico
seja útil. Nas etapas mais fracas, nas quais as fases da memória são “ruins”,
ele deve exercer nova energia e atividade, assim no final essas regiões de
memória fracas poderão ser cultivadas e fertilizadas, bem armazenadas,
com impressões semeadas, que dão bons frutos com o tempo. Não há fase,
campo ou classe de memória que não seja capaz de ficar altamente
desenvolvido com uma aplicação inteligente. É necessário prática, exercício
e trabalho, pois a recompensa é enorme. Muitos têm limitações devido à
deficiência em certas fases da memória, ao passo que são proficientes em
outras. O remédio está em suas mãos, e acreditamos que este livro lhe dê os
meios pelos quais adquirir uma “boa” memória em qualquer ou em todas as
linhas.
CAPÍTULO 9
TREINAMENTO VISUAL

Antes que a memória possa armazenar as impressões visuais – antes que


a mente possa recordar ou lembrar essas impressões –, o olho deve ser
usado na direção da atenção. Acreditamos que vemos as coisas quando
olhamos para elas, mas, na realidade, vemos poucas coisas, no sentido de
registrar impressões claras e distintas em tabuletas na mente subconsciente.
Olhamos para elas e não as vemos.
Halleck afirma sobre essa idéia de “visão sem ver”:

“Um corpo pode ser imaginado na retina sem assegurar a percepção. Deve
haver um esforço para concentrar a atenção sobre muitas coisas que o
mundo apresenta para nossos sentidos. Um homem disse uma vez para os
alunos de uma grande escola que havia visto vacas: ‘Gostaria de descobrir
quantos de vocês sabem se as orelhas das vacas estão acima, abaixo, atrás
ou na frente dos chifres. Quero só que levantem a mão aqueles que têm
certeza da posição e que prometam dar um dólar para a caridade se
errarem.’ Apenas duas mãos se levantaram. Eles haviam desenhado as
vacas para concentrar sua atenção no animal. Havia 15 alunos certos de
terem visto gatos subirem em árvores e descido. Havia unanimidade de
opinião que os gatos elevavam primeiro a cabeça. Quando perguntados se
os gatos desciam primeiro com a cabeça ou o rabo, a maioria estava certa
que os gatos desciam sem saberem como. Qualquer um que já notou a
forma de uma mandíbula de qualquer animal de caça poderia ter
respondido a pergunta sem ter visto a descida. Os filhos de fazendeiros que
com freqüência viram vacas e cavalos deitados ou se levantando raramente
têm certeza se os animais sobem apoiando primeiro as patas dianteiras ou
as traseiras, ou se o hábito do cavalo é o mesmo da vaca. O olmo tem uma
peculiaridade quanto a sua folha que todos devem notar a primeira vez que
a vêem, e mesmo assim apenas 5% dos alunos de uma certa escola
puderam incorporar esta peculiaridade no desenho, embora estivesse
destacado no papel. A percepção deve reunir a vontade à concentração da
atenção para atingir resultados satisfatórios. Apenas uma pequena parte do
que vai para nossos sentidos é percebida.”

A maneira para treinar o cérebro para receber claras impressões visuais e


retê-las na memória é simplesmente concentrar a vontade e a atenção nos
objetos da visão, esforçando-se para vê-los plena e distintamente, e praticar
recordando os detalhes do objeto algum tempo depois. É surpreendente a
rapidez com que se pode melhorar isso com um pouco de prática, e o alto
grau de proficiência desta prática obtido em pouco tempo. Sem dúvida você
já deve ter ouvido as histórias de Houdini, o mágico francês que cultivava
sua memória de impressões visuais seguindo um plano simples. Ele iniciava
a prática observando vários pequenos objetos nas vitrines de lojas em Paris
e os lembrava com um rápido olhar ao passar rapidamente pela vitrine. Ele
seguia o plano escrevendo as coisas que via no papel e se lembrava. No
início podia se lembrar de dois ou três artigos na vitrine. Depois começou a
ver e a se lembrar de mais, cada dia adicionando ao seu poder de percepção
e memória, até que finalmente conseguiu ver e se lembrar de quase todos os
pequenos artigos na grande vitrine da loja, depois de dar uma rápida olhada.
Outras pessoas consideraram este plano excelente e desenvolveram muito
seu poder de percepção e, ao mesmo tempo, cultivaram uma surpreendente
memória retentiva de objetos assim que os viam. Tudo depende de uso e
prática. O experimento de Houdini tem infinitas variações, com excelentes
resultados.
Os hindus treinavam seus filhos nessa linha, jogando o “jogo da visão”.
Este jogo consistia em expor vários objetos pequenos à visão das crianças,
os quais deviam olhar intensamente e depois eram retirados de sua visão.
As crianças esforçavam-se para vencer umas às outras ao escrever os nomes
dos objetos que haviam visto. O número de objetos é pequeno no início e
aumenta todo dia, até que um número surpreendente é percebido e
lembrado.
Rudyard Kipling1, em seu livro Kim, apresenta um exemplo desse
entretenimento jogado por “Kim” e um jovem nativo treinado. Lurgan
Sahib expõe para a visão de dois garotos uma bandeja com jóias e gemas,
permitindo a eles ver apenas alguns momentos antes que seja retirada de
sua visão. A competição começa assim:
“‘Há sob aquele papel cinco pedras azuis, uma grande, uma menor e três
pequenas’, disse Kim com pressa. Há quatro pedras verdes e uma tem um
buraco nela; há uma pedra amarela que posso ver por ela e uma como uma
haste de cachimbo. Há duas pedras vermelhas e… e… um momento.’” Kim
chegou ao limite de seus poderes. Agora é a vez do nativo. “‘Ouçamos a
minha contagem’, diz. ‘Primeiro há duas safiras com falha, uma com duas
ruttees2 e uma com quatro, segundo meu julgamento. As quatro safiras com
falhas estão lascadas na borda. Há uma turquesa do Turquistão, lisa com
veias verdes, e há duas escritas – uma com o nome de Deus em ouro e a
outra com uma falha, por onde saiu um anel antigo, não consigo ler. Temos
cinco pedras azuis; quatro esmeraldas fulgurantes, mas uma tem um furo
em dois lugares, e uma é um pouco entalhada.’ ‘Seu peso?’, disse Lurgan
Sahib, impassivelmente. ‘Três-cinco-cinco e quatro ruttees, julgo. Há uma
peça de um âmbar esverdeado antigo e um topázio de corte barato da
Europa. Há um rubi de Burma, uma das duas ruttees, sem falha. Há um
rubi ballas, com falha e dois ruttees. Há um marfim entalhado da China,
representando um rato sugando um ovo; e há por último… Ah…ha!… uma
bola de cristal grande como um feijão disposto em uma folha de ouro.’”

Kim está desapontado por sua derrota e pede o segredo. A resposta é:

“Repita várias vezes, até fazer perfeitamente, pois vale a pena fazer.”

Muitos professores seguiram planos similares ao relatado. Vários


pequenos artigos são expostos e os alunos são treinados para vê-los e
lembrá-los, tornando-se o processo gradualmente mais difícil. Um
conhecido professor norte-americano tinha o hábito de fazer rapidamente
vários pontos na lousa e apagá-los antes que os alunos pudessem contá-los
de uma maneira comum. As crianças esforçavam-se para contar suas
impressões mentais, antes de poder dizer os números até dez ou mais com
facilidade. Elas diziam que podiam “ver seis” ou “ver dez”, conforme o
caso, de maneira automática e aparentemente sem o trabalho de contá-los
conscientemente. Isto está relatado em trabalhos sobre a detecção de crime,
em “escolas de ladrões” conhecidas na Europa, onde os jovens ladrões são
treinados; os velhos patifes agindo como professores ao expor vários
pequenos artigos a jovens e exigindo que repitam exatamente o que viram.
Em seguida os jovens ladrões devem memorizar os objetos em uma sala; a
planta de casas etc. São enviados para “explorar o terreno” para futuros
roubos, vestidos como mendigos, pedindo esmolas, pois podem dar uma
rápida olhada em casas, escritórios e lojas. Comenta-se que em uma rápida
olhada podem perceber a localização de todas as portas, janelas, fechaduras
etc. Muitas nações têm jogos infantis nos quais as crianças devem ver e se
lembrar depois de darem uma olhada. Os italianos têm um jogo chamado
“morro”, no qual um menino lança vários dedos, outro menino deve
instantaneamente dizer o nome, e a falha resulta em penalidade. Os jovens
chineses têm um jogo similar; os japoneses reduziram isso a uma ciência.
Um jovem japonês bem treinado será capaz de lembrar todo o conteúdo de
uma sala depois de uma rápida olhada ao redor. Muitos orientais
desenvolveram esta faculdade a um grau inimaginável. Mas o princípio é o
mesmo – prática e exercício graduais, começando com um pequeno número
de coisas simples, aumentando o número e a complexidade dos objetos.
A faculdade não é tão rara como se poderia pensar. Leve um homem para
pequenos negócios e deixe-o entrar na loja de um concorrente, então veja
quantas coisas ele observará e lembrará depois de alguns minutos no lugar.
Leve um ator para assistir uma peça em outro teatro e veja quantos detalhes
de atuação ele observará e lembrará. Leve algumas mulheres para visitar
um novo vizinho e então notará quantas coisas sobre a casa verão e
lembrarão para contar a suas amigas íntimas depois. É a velha história da
atenção seguindo o interesse, e a memória seguindo a atenção. Um expert
jogador de uíste verá e lembrará cada carta jogada na partida e quem as
tinha. Um jogador de xadrez verá e se lembrará das jogadas anteriores, e se
for expert, poderá relatá-las depois. Uma mulher fará compras, verá e se
lembrará de milhares de coisas que um homem nunca teria visto, quem dirá
se lembrado. Houdini comentou:

“Por exemplo, seguramente posso afirmar que uma mulher vendo outra
passar por ela rapidamente em uma carruagem terá tempo de analisar sua
toilette, do chapéu aos sapatos, poderá descrever não apenas a roupa e a
qualidade das roupas, mas também se o cordão é real ou feito à máquina.
Conheci mulheres que fazem isso.”
Mas é importante lembrar que: o que quer que possa ser feito nesta
direção por meio da atenção, inspirado pelo interesse, pode ser duplicado
pela atenção direcionada pela vontade. Em outras palavras, o desejo de
realizar a tarefa adiciona e cria um interesse artificial tão eficaz quanto um
sentimento natural. Com o progresso, o sucesso no jogo-tarefa acrescentará
novo interesse e você estará apto a duplicar qualquer façanha já
mencionada. Tudo depende de atenção, interesse (natural ou induzido) e
prática. Comece com o dominó, se gostar, e tente lembrar os pontos de uma
pedra vista rapidamente, depois duas e três. Aumente aos poucos, e você
conseguirá o poder de percepção e uma memória das impressões visuais
maravilhosa. Você não apenas começará a se lembrar dos dominós, mas
perceberá e se lembrará de milhares de detalhes de interesse, pois nada
escapará à sua observação. O princípio é muito simples, e os resultados que
podem ser conseguidos com a prática são maravilhosos.
O problema de muitos é que estão olhando sem ver – fitando, mas não
observando. Os objetos ao seu redor estão fora do seu foco mental. Se
mudar seu foco mental, por meio da vontade e da atenção, você poderá se
curar dos métodos descuidados de ver e observar que o afastaram do
sucesso. Você culpou sua memória, mas a culpa é da sua percepção. Como a
memória pode lembrar quando nada foi dado com claras impressões? É
hora de começar a “sentar e notar”, independentemente da sua idade. A
coisa toda é: a fim de se lembrar de coisas que passarão diante da sua visão,
você deve começar a ver com sua mente e não com a sua retina. Deixe a
impressão ir além da retina para seu cérebro. Se fizer isso, verá que sua
memória “fará o resto”.

Joseph Rudyard Kipling (1865 – 1936), autor e poeta inglês.

Unidade de peso no Paquistão, que corresponde a 0,1215 gramas.


CAPÍTULO 10
TREINAMENTO AUDITIVO

A audição é um dos maiores sentidos ou canais pelos quais recebemos as


impressões do mundo exterior. De fato, está colocado tão alto quanto o
sentido da visão. Nos sentidos do paladar, tato e olfato há um contato direto
entre a substância do nervo do recipiente sensitivo e as partículas do objeto
sentido, enquanto no sentido da visão e da audição a impressão é recebida
por meio de ondas no éter (no caso da visão), ou ondas no ar (no sentido da
audição). Mais do que no paladar, olfato e tato os objetos sentidos são
trazidos para contato direto com o aparato do nervo terminal, enquanto na
visão e audição os nervos terminam em sacos peculiares e delicados que
contêm substâncias fluidas pelas quais a impressão é levada para o nervo
apropriado. A perda dessa substância fluida destrói a faculdade de receber
impressões, e assegura a surdez ou a cegueira. Foster salienta:

“As ondas sonoras entrando no nervo auditivo não produzem nenhum


efeito; somente quando, por meio da endolinfa, são levadas para as células
epiteliais delicadas e peculiares que constituem as terminações periféricas
do nervo, que as sensações sonoras aumentam.”

Assim, é verdade que é o cérebro e não o olho que realmente vê; assim
também é o cérebro e não o ouvido que realmente ouve. Muitos sons que
chegam ao ouvido não são registrados pelo cérebro. Passamos por suas
apinhadas, as ondas de muitos sons atingem os nervos do ouvido e o
cérebro aceita aqueles de algumas poucas coisas, particularmente quando a
novidade dos sons passou. É uma questão de interesse e atenção neste caso,
como no caso da audição. Halleck comenta:
“Se nos sentarmos perto de uma janela aberta no campo, em um dia de
verão, poderemos ter muitos estímulos batendo na porta da atenção: o
tiquetaquear do relógio, o som do vento, o cacarejar das galinhas, o
grasnido dos patos, o latido dos cães, o mugido das vacas, os gritos das
crianças brincando, o chilrear das folhas, os sons das aves, o ribombar dos
vagões etc. Se a atenção está centrada em algum desses, com o tempo
adquire a importância de um rei no trono de nosso mundo mental.”

Muitas pessoas se queixam que não conseguem se lembrar de sons, ou


coisas que chegam ao cérebro pelo sentido da audição, e atribuem o
problema a algum defeito nos órgãos auditivos. Ao fazerem isso, perdem a
real causa do problema, considerando cientificamente que muitas dessas
pessoas têm o aparelho da audição perfeitamente desenvolvido e em ótimo
funcionamento – o problema surge da falta de treinamento da faculdade
mental da audição. Em outras palavras, o problema está em seu cérebro e
não nos órgãos da audição. Para uma faculdade de audição e memorização
correta das coisas ouvidas, a faculdade mental da audição deve ser
exercitada, treinada e desenvolvida. Dado que, em várias pessoas cujo
aparelho de audição é igualmente perfeito, encontraremos que alguns
“ouvem” muito melhor que outros; alguns ouvem certas coisas melhor que
certas outras; e há uma grande diferença no grau e níveis de memória das
coisas ouvidas. Kay comenta:

“Existem grandes diferenças entre os indivíduos com relação à agudez


deste sentido (audição) e alguns possuem grande perfeição em certas
direções que outros. Alguém cuja audição é boa para o som em geral pode
ter pouco ouvido para os acordes musicais, e quem tem bom ouvido para
música pode ser deficiente quanto à audição em geral.”

O segredo é encontrar grau de interesse e atenção dado para a coisa


particular e para o som.
É fato que o cérebro ouvirá os mais vagos sons das coisas nas quais estão
centrados interesse e atenção, e, ao mesmo tempo, ignorará coisas nas quais
não há interesse e para as quais a atenção não está voltada. Uma mãe
adormecida despertará ao menor rumor de seu filho, enquanto o ribombar
de um caminhão pesado na rua, ou o disparo de uma arma na vizinhança
pode não ser notado por ela. Um engenheiro detectará a menor diferença no
giro de um motor, enquanto não notará um alto ruído na rua. Um músico
notará uma leve dissonância no concerto com vários instrumentos sendo
tocados, onde há um grande volume de sons chegando ao ouvido, e outros
sons podem não ser ouvidos por ele. O homem que dá um tapa nas rodas de
seu carro é capaz de detectar a menor diferença no tom e informará que há
uma rachadura ou furo na roda. Quem lida com grandes quantidades de
moedas terá sua atenção despertada para a menor diferença no “som” da
moeda de outro ou prata, o que lhe informa que há algo errado com a
moeda. Um maquinista distinguirá o zumbido de algo errado no trem,
apesar dos ribombos. O mestre duma oficina mecânica, da mesma maneira,
detecta o menor ruído estranho que o informa que algo está errado e desliga
a energia. Os telegrafistas são capazes de detectar as quase imperceptíveis
diferenças no som de seus instrumentos que os informa que um novo
operador está trabalhando; ou quem está enviando a mensagem; em alguns
casos, o humor ou temperamento da pessoa transmitindo. Ferroviários e
navegadores reconhecem as diferenças entre os motores ou barcos na linha,
no rio, conforme o caso. O médico qualificado detectará o vago som que
denota um problema respiratório ou o “sopro do coração” em pacientes.
Essas mesmas pessoas que detectam as menores diferenças no som são com
freqüência conhecidas como “surdas” para outras coisas. Por quê?
Simplesmente porque ouvem apenas o que lhes interessa e para o que sua
atenção está direcionada. Este é o segredo e nele também encontraremos o
segredo do treinamento da percepção do ouvido. Tudo é uma questão de
interesse e atenção – os detalhes dependem desses princípios.
Segundo os fatos mostrados, o remédio para a “má audição” e pouca
memória das coisas ouvidas está no uso da vontade direcionada para a
atenção e interesse voluntários. Isto é tão verdadeiro que algumas
autoridades vão além e afirmam que muitos casos de suposta surdez leve é
apenas o resultado da falta de atenção e concentração por parte da pessoa
com o problema. Kay afirma:

“O que é comumente chamado de surdez não é uma causa infreqüente


atribuída a esta causa – os sons são ouvidos, não são interpretados ou
reconhecidos… sons podem ser distintamente ouvidos quando a atenção é
direcionada para eles, que em circunstâncias comuns seriam
imperceptíveis; as pessoas em geral não ouvem o que lhes é dito por que
não estão prestando atenção.”

Harvey salienta:

“Metade da surdez que existe é o resultado da desatenção.”

Há poucas pessoas que não tiveram a experiência de ouvir uma pessoa


chata, cujas palavras eram distintamente ouvidas, porém o significado foi
totalmente perdido pela desatenção e falta de interesse. Kirkes resume
assim:

“Na audição devemos distinguir dois pontos diferentes – a sensação


audível desenvolvida sem qualquer interferência intelectual e a concepção
que formamos em conseqüência daquela sensação.”

A razão pela qual muitas pessoas não se lembram das coisas que ouviram
é simplesmente porque não escutaram de maneira adequada. Ouvir mal é
mais comum do que se supõe. Um pequeno auto-exame revelará o fato de
que você tem o mau hábito da desatenção. Não podemos ouvir tudo, é claro
– não seria aconselhável. Porém, devemos adquirir o hábito de realmente
ouvir ou se recusar a ouvir tudo. O compromisso de ouvir atentamente traz
resultados deploráveis, e é realmente a razão pela qual muitos “não
conseguem lembrar” o que ouviram. Tudo é questão de hábito. Pessoas com
memórias fracas de impressões auditivas devem começar com “ouvir” com
atenção. Para readquirir o hábito perdido de ouvir apropriadamente, as
pessoas devem exercitar a atenção voluntária e desenvolver o interesse. As
seguintes sugestões podem ser úteis nesta direção.
Tente memorizar palavras que lhe foram ditas em conversas – algumas
sentenças, ou mesmo uma por vez. Você descobrirá que o esforço de manter
a sentença em sua memória resultará na concentração da atenção nas
palavras do falante. Faça o mesmo quando ouvir um palestrante ou ator.
Memorize a primeira sentença e decida que sua memória será como uma
cera que recebe a impressão e a molda para retê-la. Ouça as frases
entrecortadas da conversação que chega a seus ouvidos enquanto caminha
pela rua e esforce-se para memorizar uma sentença ou duas, como se
devesse repeti-las no final do dia. Estude os vários tons, expressões e
inflexões nas vozes das pessoas que falam com você – descobrirá que é
muito interessante e útil. Você ficará surpreso com os detalhes que tal
análise revelará. Ouça os passos de diferentes pessoas e esforce-se para
distinguir entre elas – cada uma tem sua peculiaridade. Peça para alguém ler
uma ou duas linhas de uma prosa ou poema e esforce-se para lembrá-las.
Esta pequena prática desenvolverá muito o poder da atenção voluntária para
sons e palavras faladas. Acima de tudo, pratique a repetição de palavras e
sons que memorizou, até o máximo possível – ao fazer isso, você fará seu
cérebro criar o hábito de se interessar por impressões sonoras. Assim, você
não apenas melhorará o sentido da audição, mas também a faculdade da
lembrar.
Se analisar e resumir as observações e direções, descobrirá que o cerne
da questão é que a pessoa deve de fato usar, empregar e exercitar a
faculdade mental da audição, de maneira ativa e inteligente. A natureza
possui uma maneira de adormecer ou atrofiar qualquer faculdade que não é
usada ou exercitada, além de encorajar, desenvolver e fortalecer qualquer
faculdade que é adequadamente empregada e exercitada. Aqui você tem o
segredo. Use-o. Se ouvir com atenção, ouvirá bem e lembrará bem o que
ouviu.
CAPÍTULO 11
COMO SE LEMBRAR DE
NOMES

A fase da memória ligada à lembrança ou recordação de nomes


provavelmente é de grande interesse para a maioria das pessoas, até mais
que qualquer outra das fases associadas. Encontramos pessoas que ficam
embaraçadas por não recordarem nome de alguém que acham que
conhecem. Não se lembrar dos nomes sem dúvida interfere nos negócios e
no sucesso profissional de muitos, assim como a capacidade de recordar de
imediato ajudou muitas pessoas a ter sucesso. Parece que há um grande
número de pessoas deficientes nesta fase da memória. Holbrook1 comentou:

“A memória dos nomes é um assunto que muitas pessoas devem ter um


interesse mais que passageiro. (…) A quantidade de pessoas que nunca ou
quase nunca esquece um nome é muito pequena, já as que têm memória
fraca para eles é muito grande. A razão para isso é, em parte, um defeito
do desenvolvimento mental e também uma questão de hábito. Isso pode, nos
dois casos, ser resolvido com esforço… Satisfiz a mim mesmo com a
experiência e observação que a memória para nomes pode ser aumentada
não apenas duas, mas centenas de vezes.”

Você descobrirá que a maioria dos homens de sucesso foi capaz de


recordar rostos e nomes das pessoas com as quais entraram em contato, e
este é um assunto interessante para especular o quanto do seu sucesso foi
devido a esta faculdade. Comenta-se que Sócrates lembrava facilmente dos
nomes de todos os seus alunos, sendo milhares por ano. Diz-se que
Xenofonte sabia o nome de cada um de seus soldados, faculdade esta
compartilhada por Washington e Napoleão. Trajano podia dizer os nomes
de todos os guardas pretorianos, cerca de 12 mil. Péricles conhecia o rosto e
o nome de todos os cidadãos de Atenas. Cíneas sabia os nomes de todos os
cidadãos de Roma. Temístocles, o nome de 20 mil atenienses. Lucius Scipio
podia repetir o nome de cada cidadão de Roma. John Wesley, os nomes de
milhares de pessoas que encontrara em suas viagens. Henry Clay tinha esta
fase da memória especialmente desenvolvida e havia uma tradição entre
seus seguidores de que ele lembrava cada um que encontrava. Blaine
possuía uma reputação similar.
Há muitas teorias e explicações sobre o fato de que recordar nomes é
mais difícil do que qualquer outra atividade da memória. Não vamos nos
dedicar a analisar essas teorias, mas sim nos debruçar sobre as que são
atualmente aceitas pelas melhores autoridades; de outro modo, que a
dificuldade em recordar os nomes é causada pelo fato de os nomes em si
serem sem interesse e, portanto, não atraem ou mantêm a atenção como os
outros objetos presentes na mente. É claro que devemos lembrar o fato de
as impressões sonoras serem mais difíceis de recordar que as impressões
visuais, mas se acredita que a falta de qualidades interessantes nos nomes
seja o principal obstáculo e dificuldade. Fuller afirma:

“Um nome próprio, quando considerado independentemente de aspectos


acidentais de coincidência e com algo que é familiar, não significa nada, e
por esta razão uma imagem mental não é formada facilmente, o que resulta
do fato de uma maneira primitiva, tediosa de repetição ser empregada
comumente para imprimir um nome próprio na memória, enquanto um
nome comum, representado pelo mesmo objeto em formato, ou aparência,
na percepção física ou mental, pode ser visto ou imaginado; em outras
palavras, uma imagem mental pode ser formada e o nome identificado
depois, por associação a esta imagem mental.”

Acreditamos que a questão está bem representada nessa citação.


Apesar dessa dificuldade, as pessoas podem e têm melhorado sua
memória de nomes. Muitos que eram originalmente deficientes não só
melhoraram a sua faculdade, mas também desenvolveram uma habilidade
excepcional nesta fase de memória especial e por isso foram notadas, por
recordar os nomes de quem entravam em contato.
Talvez a melhor maneira de imprimir em sua mente os vários métodos
que podem ser usados para este propósito seria relacionar com uma
experiência real de um cavalheiro que trabalhava em um banco, em uma
grande cidade, que fizera um estudo minucioso do assunto e desenvolvido a
si mesmo além do comum. Começando com uma fraquíssima memória para
nomes, ele agora é conhecido por seus associados como “o homem que
nunca esquece um nome”. Ele primeiro fez vários “cursos” sobre
“métodos” secretos de desenvolver a memória, mas depois de gastar muito
dinheiro ficou desgostoso com a idéia do treinamento da memória artificial.
Iniciou um estudo sobre o tema do ponto de vista de A Nova Psicologia,
realizando todos os princípios testados, e melhorou alguns de seus detalhes.
Conversamos algumas vezes e descobri que sua experiência confirma
muitas de nossas próprias idéias e teorias, e o fato de ele ter demonstrando a
certeza dos princípios a tal grau mostra o valor de seu caso na obtenção de
um guia e “método” para outros que desejam desenvolver sua memória de
nomes.
O cavalheiro, que chamaremos de “Sr. X”, decidiu que a primeira coisa a
fazer era desenvolver sua faculdade de receber impressões sonoras claras e
distintas. Fazendo assim, ele seguiu o plano traçado por nós no capítulo
“Treinamento Auditivo”. Ele perseverou e praticou essas linhas até sua
“audição” se tornar mais aguda. Realizou um estudo das vozes e pôde
classificar e analisar suas características. Descobriu que podia ouvir nomes
de uma maneira antes impossível para ele, ou seja, em vez de apenas pegar
um vago som de um nome, ele o ouvia com tanta clareza e distinção que um
forte registro era obtido em sua memória. Pela primeira vez em sua vida os
nomes começaram a fazer algum sentido para ele. Ele prestava atenção a
cada nome que ouvia, como cada nota que dava. Ele repetia o nome para si
mesmo, depois de ouvi-lo, o que reforçaria a impressão. Quando encontrava
um nome incomum, ele o escrevia várias vezes, na primeira oportunidade,
obtendo o benefício de duplicar a impressão de sentido, adicionando
impressão visual à auditiva. É claro que tudo isso aumentou seu interesse no
tema dos nomes em geral, que o levou para o próximo passo.
O Sr. X começou a estudar nomes, sua origem, peculiaridades,
diferenças, pontos de semelhança etc. Fez disso um hobby e desfrutou da
alegria de um colecionador ao poder colocar atenção em um tipo de espécie
nova e desconhecida de nome. Começou a colecionar nomes, como outros
colecionam borboletas, selos etc., e ficou orgulhoso de sua coleção e seu
conhecimento do assunto. Ele leu livros sobre nomes que davam a
etimologia, foi a bibliotecas etc. Ele tinha o prazer de Dickens em nomes
“estranhos” e entretinha amigos ao relatar nomes engraçados vistos em
sinalizações. Ele pegou uma pequena lista telefônica e lia as páginas à
noite, procurando por novos nomes e classificando os antigos em grupos.
Ele descobriu que alguns nomes derivavam de animais e os colocava em
classes – Lyons, Wolfs, Foxes, Lambs, Hares etc. Outros eram colocados em
grupos de cor – Blacks, Greens, Whites, Greys, Blues etc. Outros
pertenciam à família de aves – Crows, Hawks, Birds, Drakes, Cranes,
Doves, Jays etc. Outros pertenciam a comércio – Millers, Smiths, Coopers,
Maltsters, Carpenters, Bakers, Painters etc. Outros, a árvores – Chestnuts,
Oakleys, Walnuts, Cherrys, Pines etc. Havia Hills e Dales; Fields e
Mountains; Lanes e Brooks. Alguns eram Strong; outros eram Gay; outros
eram Savage; outros, Noble e assim por diante. Precisaria de outro livro
para mencionar o que ele encontrou sobre nomes. Ele ficou “craque” no
assunto. Porém, seu hobby começou a manifestar excelentes resultados,
pois seu interesse fora despertado em um grau incomum e tornou-se
proficiente em recordar nomes; agora eles significavam algo para ele.
Lembrava facilmente todos os clientes no banco – um número extenso, já
que o banco é grande –, e muitos clientes ocasionais ficavam felizes por
serem chamados pelo nome por nosso amigo. Às vezes encontrava um
nome que o frustrava, e em tal caso ele o repetia para si mesmo e o escrevia
várias vezes até decorar – depois disso não esquecia mais.
O Sr. X sempre repetiria um nome quando falado e olharia intensamente
para a pessoa, ao mesmo tempo encararia e fixaria os dois juntos em sua
mente – quando os queria, seriam encontrados um em companhia do outro.
Adquiriu o hábito de visualizar o nome – ou seja, ele via as letras em seu
olho mental como uma imagem. Considerava isso como o ponto mais
importante, e nisso concordamos com ele. Ele usou a lei da associação na
direção de associar um novo homem a um homem bem lembrado com
mesmo nome. Um novo Sr. Schmidtzenberger era associado a um antigo
cliente com o mesmo nome – quando ele visse o novo homem, pensaria no
antigo e o nome surgiria em sua mente. Resumindo o método, pode-se dizer
que o ponto principal da coisa era tomar interesse em nomes em geral.
Dessa maneira um assunto desinteressante tornou-se interessante – e um
homem sempre tem boa memória para coisas nas quais tem interesse.
O caso do Sr. X é extremo – e os resultados obtidos foram além do
comum. Se você utilizar este livro, poderá obter os mesmos resultados no
grau em que trabalhar. Estude os nomes – comece uma coleção – e não terá
trabalho para desenvolver a memória para eles. É basicamente isso.

John Edwards Holbrook (1794 – 1871), zoólogo, médico e naturalista


norte-americano.
CAPÍTULO 12
COMO SE LEMBRAR DE
ROSTOS

A memória de rostos está intimamente ligada à memória de nomes mas,


apesar de ambos nem sempre estarem associados, há muitas pessoas que
lembram facilmente de rostos e esquecem nomes e vice-versa. No entanto, a
memória de rostos é um precedente necessário para recordar os nomes das
pessoas. A menos que lembremos do rosto, não somos capazes de fazer a
associação necessária do nome da pessoa. Apresentamos vários exemplos
de memória de rosto, no capítulo sobre memória de nome, no qual são
dados casos de maravilhosas memórias de célebres indivíduos que
adquiriram o conhecimento e a memória de milhares de cidadãos de uma
cidade, ou de soldados de um exército. Neste capítulo, daremos atenção só
ao tema de recordar os aspectos de pessoas, independentemente de seus
nomes. Todas as pessoas possuem esta faculdade, em graus variados. Há
aqueles que parecem reconhecer o rosto de pessoas que encontraram anos
antes e as associam a circunstâncias nas quais as encontraram, mesmo
quando o nome foge da memória. Outros parecem esquecer o rosto logo
após o terem visto e não reconhecem a pessoa que conheceram horas atrás,
para sua vergonha.
Detetives, repórteres de jornais e outros que entram em contato com
muitas pessoas, em geral, apresentam essa faculdade bem desenvolvida,
pelo fato de ser esta uma necessidade de trabalho e seu interesse e atenção
ficarem ativados. Homens públicos, em geral, têm esta faculdade bem
desenvolvida por necessidade de suas vidas. Dizem que James G. Blaine
nunca esqueceu o rosto de ninguém com quem conversou alguns minutos.
Esta faculdade o tornou muito popular na vida política. Ele assemelhava-se
a Henry Clay, que era conhecido por sua memória de rostos. Dizem que
Clay fez uma visita de algumas horas a uma pequena cidade do Mississipi,
em campanha eleitoral. Na multidão ao seu redor havia um homem idoso e
caolho. Ele afirmou que Henry Clay certamente se lembraria dele. Clay
olhou-o e disse:

“‘Nos encontramos em Kentucky vários anos atrás, não foi?’ ‘Sim’,


retrucou o homem. ‘Você perdeu o olho?’, indagou Clay. ‘Sim, vários anos
depois’, respondeu o homem. ‘Fique de perfil, por favor’, disse Clay. O
homem assim o fez. Clay sorriu, triunfante, e disse: ‘Agora lembro… não
era você no júri no caso Innes em Frankfurt, na Corte dos Estados Unidos
mais de 20 anos atrás?’ ‘Sim, senhor!’, confirmou o homem, ‘Eu sabia que
você me conhecia, não disse.’ A multidão exultou e Clay soube que estava a
salvo naquela cidade.”

Vidocq, o famoso detetive francês, era conhecido por nunca esquecer o


rosto de um criminoso que vira antes. Um exemplo célebre de seu poder é o
caso de Delafranche, o falsificador que escapou da prisão e se escondeu em
terras estrangeiras por mais de 20 anos. Depois desse período, ele voltou a
Paris sentindo-se seguro, pois estava calvo, perdera um olho e o nariz
estava mutilado. Ele disfarçara-se e estava barbado, para evitar ser
reconhecido. Um dia Vidocq o encontrou na rua, o reconheceu de imediato
e o prendeu. Exemplos assim podem ser multiplicados indefinidamente,
mas o aluno terá de conhecer bastante bem as pessoas que possuem
desenvolvida esta faculdade em um alto grau, assim não é necessária muita
ilustração.
A maneira de desenvolver esta fase da memória é o desenvolvimento de
outras fases – o cultivo do interesse e atenção. Rostos, em geral, não são
muito interessantes. É apenas por sua análise e classificação que o estudo
começa a criar interesse em nós. Recomenda-se o estudo de um bom
trabalho elementar em fisionomia para aqueles que desejam desenvolver a
faculdade de lembrar rostos; nesse trabalho o aluno deve notar os diferentes
tipos de nariz, orelha, olho, queixo, testa etc., pois essa observação e
reconhecimento tende a induzir um interesse no tema dos aspectos. Um
curso rudimentar de estudo de desenhar rostos, particularmente perfis,
também fará a pessoa “notar” e despertará seu interesse. Se pedirem para
você desenhar um nariz, em especial de memória, você estará apto a dar
atenção a interessada. O tema do interesse é vital. Se lhe mostrarem um
homem e disserem que na próxima vez que o encontrar e o reconhecer, ele
lhe dará $500, você estaria apto a estudar seu rosto com cuidado para
reconhecê-lo depois; assim o mesmo homem, se lhe apresentado
casualmente como “Sr. Jones”, não criaria nenhum interesse e as chances de
reconhecimento seriam poucas.
Halleck afirma:

“Toda vez que entramos em um ônibus, vemos diferentes tipos de pessoas e


há muito para ser notado sobre cada tipo. Toda fisionomia humana mostra
uma história passada para quem sabe como olhar… Jogadores de sucesso
tornam-se tão peritos em notar a menor mudança na expressão facial do
oponente que estimarão o poder de sua mão pelos sinais involuntários que
surgem no rosto e são freqüentemente verificados no instante que
aparecem.”

De todas as classes, talvez os artistas são os mais aptos a formar um


nítida imagem dos aspectos das pessoas que encontram – particularmente se
forem pintores. Há exemplo de pintores retratistas célebres que podem
executar um bom retrato depois de terem estudado cuidadosamente o rosto
do modelo a ser pintado, pois sua memória lhes permite visualizar os
aspectos. Alguns professores conhecidos de desenho instruíram seus alunos
a darem uma olhada profunda no nariz, no olho, na orelha, no queixo e
visualizá-lo claramente para poderem desenhar perfeitamente. Tudo é uma
questão de interesse, atenção e prática. Sir Francis Galton1 cita o exemplo
do professor francês que treinou seus alunos nesta direção e depois de
alguns meses de prática, eles não tinham dificuldade de representar
imagens; mantendo-os firmes e desenhando-os corretamente. Ele afirma
que a faculdade de visualização é usada assim:

“Uma faculdade importante em todas as ocupações técnicas e artísticas,


que dá precisão para nossas percepções e justiça para nossas
generalizações, está faminta pelo desuso, em vez de ser cultivada de tal
modo que ‘como a vontade, traz o melhor retorno’. Creio que um sério
estudo dos melhores meios de desenvolver e utilizar esta faculdade, sem
prejudicar a prática do pensamento abstrato em símbolos, é um dos muitos
desejados na ainda não formada ciência da educação.”
Fuller relata o método de um conhecido pintor, que foi ensinado por
muitos professores de desenho e memória. Segundo seu relato:

“O conhecido pintor Leonardo da Vinci inventou o mais engenhoso método


para identificar rostos; dizem que conseguia reproduzir de memória
qualquer rosto que tenha analisado cuidadosamente apenas uma vez. Ele
desenhou todas as formas possíveis de nariz, boca, queixo, olhos, orelhas e
testa, numerou-as de 1, 2, 3, 4 etc., e as memorizou; assim, toda vez que vê
um rosto que deseja desenhar ou pintar de memória, ele anota em sua
mente que era queixo 4, olhos 2, nariz 5, orelhas 6 – ou outra combinação
– e retendo a análise na memória, pode reconstruir o rosto quando quiser.”

Não podemos pedir que o aluno tente um sistema tão complicado e ainda
assim uma modificação seria útil, ou seja, se começar a formar uma
classificação de vários tipos de narizes, digamos sete, o romano, judeu,
grego, dando-lhe a classe geral, como reto, arqueado, achatado e todas as
outras variedades, logo reconheceria narizes quando os veria. O mesmo
para as bocas, umas poucas classes para cobrir a maioria dos casos. Porém,
de todos os aspectos, o olho é o mais expressivo e o mais fácil de lembrar,
quando claramente notado. Os detetives confiam muito na expressão do
olho. Se alguma vez você pegou completamente a expressão do olho de
uma pessoa, então estará apto a reconhecê-la depois. Portanto, concentre-se
nos olhos ao estudar rostos.
Um bom plano para desenvolver esta faculdade é visualizar à noite os
rostos de pessoas que encontrou durante o dia. Tente desenvolver a
faculdade de visualizar os aspectos daqueles que conhece – isto o fará
iniciar direito. Desenhe-os na mente – veja-os com seu olho da mente, até
poder visualizar os aspectos de cada velho amigo; faça o mesmo com os
conhecidos, até poder visualizar os aspectos de todos que “conhece”. Então
comece a acrescentar a sua lista ao recordar na imaginação, os aspectos de
estranhos que encontrou. Com um pouco de prática você desenvolverá um
grande interesse em rostos e sua memória em relação a eles e o poder de
recordá-los aumentarão rapidamente. O segredo é estudar rostos –
interessar-se por eles. Dessa maneira adicionará gosto à tarefa e prazer ao
enfado. O estudo de fotografias também ajuda muito nesse trabalho – mas,
estude-as em detalhe, não como um todo. Se conseguir criar suficiente
interesse nos aspectos e rostos, não terá problema em lembrá-los e recordá-
los. As duas coisas caminham juntas.

Sir Francis Galton (1822 – 1911), antropólogo, meteorologista, matemático


e estatístico inglês.
CAPÍTULO 13
COMO SE LEMBRAR DE
LUGARES

Há uma grande diferença nos vários graus de desenvolvimento do


“sentido de localidade” em pessoas diferentes. Essas diferenças podem ser
traçadas diretamente ao grau de memória de uma fase ou faculdade da
mente particular, que por sua vez depende do grau de atenção, interesse e
uso dado na faculdade em questão. As autoridades em frenologia definem a
faculdade de “localidade” assim:

“Percepção do lugar; recordação das visões dos lugares, estradas,


cenários e a localização de objetos; em uma página idéias podem ser
encontradas e posição em geral; a faculdade geográfica; o desejo de ver
lugares e ter a habilidade de encontrá-los.”

Pessoas nas quais esta faculdade é desenvolvida a um alto grau parecem


ter quase uma idéia intuitiva da direção, lugar e posição. Nunca se perdem
ou se “confundem” quanto a direção ou lugar. Elas lembram de lugares que
visitaram e sua relação no espaço entre si. Suas mentes são como mapas
onde estão gravados várias estradas, ruas e objetos de visão em cada
direção. Quando essas pessoas pensam em China, Labrador, Terra do Fogo,
Noruega, Cabo da Boa Esperança, Tibete, ou outro lugar, parecem pensar
“esta direção ou aquela direção” e não um vago lugar situado em uma vaga
direção. Suas mentes pensam “Norte, Sul, Leste ou Oeste”, conforme
consideram um dado lugar. Protegidos por graus encontramos pessoas no
outro pólo da faculdade, que parecem considerar impossível lembrar
qualquer direção ou localidade ou relação no espaço. Essas pessoas estão
constantemente se perdendo em suas próprias cidades, temerosas de confiar
em si mesma em um lugar estranho. Não têm sentido de direção ou lugar, e
não reconhecem uma rua ou cena que visitaram recentemente, sem falar nos
que viajam pelo tempo. Entre esses dois pólos ou graus há uma vasta
diferença, e é difícil entender que tudo é uma questão de uso, interesse e
atenção. Isto pode ser provado por qualquer um que se der ao trabalho de
desenvolver a faculdade e a memória de localidade em sua mente. Muitos o
fizeram e qualquer um pode fazer o mesmo empregando os métodos
apropriados.
O segredo do desenvolvimento da faculdade e memória de lugar e
localidade foi mencionado no capítulo anterior, em conexão com o
desenvolvimento da memória para nomes. A primeira coisa necessária é
desenvolver interesse pelo tema. Comece “notando” a direção das ruas ou
estradas nas quais viaja; os pontos de referência; as voltas da estrada; os
objetos naturais no caminho. Estude mapas até despertar um novo interesse
por eles, assim como o homem que usou a lista telefônica para se interessar
por nomes. Procure um pequeno mapa e estude direção, distâncias,
localização, formato de países etc., não como uma coisa mecânica, mas com
vivo interesse no assunto. Se houvesse uma grande soma de dinheiro
esperando por você em certas partes do globo, você manifestaria um
decidido interesse na direção, localidade e posição desses lugares, além do
melhor modo de chegar lá. Em pouco tempo você seria um livro de
referência sobre esses lugares especiais. Ou se seu amor está esperando por
você em algum lugar, faria o mesmo. A coisa toda está no grau de “querer”
sobre o assunto. O desejo desperta interesse; interesse emprega atenção; e
atenção traz uso, desenvolvimento e memória. Portanto, você deve primeiro
querer desenvolver a faculdade da localidade – e querer “bastante”. O resto
é uma questão de detalhe. Uma das primeiras coisas a fazer, depois de
despertar o interesse, é observar com cuidado os pontos de referência e as
posições relativas de ruas ou estradas nas quais anda. Muitas pessoas andam
por uma nova rua ou estrada de uma maneira desligada, não notando o tipo
de terra por onde passam. Isto é fatal para a memória de lugar. Você deve
notar as vias públicas e as coisas pelo caminho. Pare nas estradas que se
cruzam, ou esquinas e observe os pontos de referência, as direções gerais e
posições relativas, até estarem fortemente impressas em seu cérebro.
Comece vendo quantas coisas você pode lembrar mesmo em uma pequena
caminhada de exercício. Quando retornar para casa, refaça o caminho
mentalmente, e veja quanto de direção e de pontos de referência você pode
lembrar. Pegue um lápis e esforce-se para fazer um mapa da sua rota, dando
direções gerais e notando os nomes de ruas e objetos de interesse principais.
Fixe a idéia de “Norte” em sua mente quando começar e mantenha suas
marcações durante toda a viagem ao fazer o mapa. Você ficará surpreso de
quanto interesse desenvolverá em sua confecção. Será um ótimo jogo, além
de fazê-lo sentir prazer em aumentar sua própria proficiência. Quando sair
para caminhar, faça um círculo, dê quantas voltas for possível, a fim de
exercitar sua faculdade de localidade e direção – mas sempre notando com
cuidado direção e curso geral, para poder reproduzi-las corretamente no seu
mapa quando voltar. Se você possui um mapa da cidade, compare-o com o
seu pequeno mapa, refaça sua rota imaginando-a no mapa. Com um mapa
da cidade ou rodoviário, você pode se divertir muito viajando novamente
pela rota de suas pequenas jornadas.
Sempre anote os nomes das várias ruas pelas quais passa, assim como as
que você cruza. Anote-as no mapa, e descobrirá que desenvolverá
rapidamente a memória nesta direção – pois despertou o interesse e deu
atenção. Fique orgulhoso de fazer o mapa. Se tiver um(a) companheiro(a),
esforce-se para vencer o jogo – ambos irão pela mesma rota juntos e verão
quem consegue lembrar o maior número de detalhes da jornada.
De valor igual e complementar é o plano de selecionar a rota a ser
seguida no mapa, esforçando-se para fixar em sua mente as direções gerais,
os nomes de ruas, retornos etc., antes de começar. Comece por mapear uma
viagem curta, vá aumentando dia após dia. Depois de mapear a viagem,
deixe o mapa de lado e faça a viagem em pessoa. Se quiser, leve o mapa e
faça variações, de tempos em tempos. Saiba cada variação e forma possível
do mapa, mas não dependa só dele; esforce-se para correlacionar o mapa
impresso com o mental que está construindo em sua mente.
Se vai viajar para um lugar estranho, estude os mapas com cuidado antes
de ir e exercite sua memória ao reproduzi-los com o lápis. Ao fazer a
viagem, compare os lugares com seu mapa, e assim você descobrirá que
está tendo um interesse inteiramente novo na viagem: ela começará
significando algo para você. Se você vai viajar para uma cidade
desconhecida, procure um mapa antes de começar, anote os pontos cardiais
com a bússola, estude o mapa – as direções das ruas principais e as posições
relativas dos principais pontos de interesse, construções etc. Assim, você
não apenas desenvolverá sua memória de lugares e provará para si mesmo
que não está perdido, mas também fornecerá uma fonte de um novo e
grande interesse em sua visita.
As sugestões anteriores podem causar grande expansão e variação por
parte de quem está praticando. A coisa toda depende de “notar” e usar a
atenção, essas coisas, por sua vez, dependem de criar interesse no assunto.
Se alguém “despertar e se interessar” sobre o assunto de localidade e
direção pode se desenvolver nas linhas de memória de lugar a um grau
quase inacreditável, em um curto período em comparação. Não há outra
fase de memória que responde tão rapidamente ao uso e exercício como
esta. Lembramos de uma senhora que era notoriamente deficiente na
memória de lugar e se perdia depois de alguns quarteirões de seu lugar de
chegada, onde quer que estivesse. Ela parecia sem qualquer sentido de
direção ou localidade e se perdia em corredores de hotel, apesar de ter
viajado o mundo todo, com seu marido, por anos. Em virtude de o casal ser
inseparável, sem dúvida, o problema aumentou com o fato de ela depender
de seu marido como piloto. Bem, a senhora perdeu seu piloto quando o
marido morreu. Em vez de ficar desesperada, ela começou a aproveitar a
ocasião – sem piloto, ela tinha de pilotar por si mesma.
Ela sentiu-se forçada a “despertar e notar”. Dedicou-se a viajar por
alguns anos para terminar alguns assuntos de negócios do marido – como
era boa mulher de negócios apesar da falta de desenvolvimento nessa linha
– e para ficar segura, ela se forçou a se interessar para onde estava indo.
Antes de os dois anos de viagem terminar, era tão boa viajante quanto seu
marido tinha sido e era freqüentemente chamada como guia para outras
pessoas que conhecia. Ela explicou assim:

“Não sei como fiz isso – apenas tinha de fazer, só isso… assim eu fiz.”

Outro exemplo de um “porque” de mulher. O que esta boa senhora “fez”


foi conseguido por um acompanhamento instintivo do plano que sugerimos.
Ela “apenas tinha de” usar mapas e “notar”. E essa é toda a história.
Assim, também verdadeiros são os princípios por traz deste método de
desenvolvimento de memória de lugar, aquela deficiente, desde que crie
intenso interesse, e você fique firme, pode desenvolver a faculdade a tal
ponto que conseguirá quase rivalizar com o gato que “sempre volta”, ou o
cão que “você não pode perder”. Os índios, árabes, ciganos e outras pessoas
das planícies, florestas, desertos e montanhas têm a faculdade tão altamente
desenvolvida que parece um sentido extra. A questão é “notar” agudo pela
necessidade, uso e exercício contínuos, a um alto grau. O cérebro
responderá à necessidade se uma pessoa como a senhora “apenas tinha de”.
As leis da Atenção e Associação trabalharão as mil maravilhas quando
postas para trabalhar por Interesse ou necessidade, seguido por exercício e
uso. Não há magia no processo – apenas “quero” e “mantenha-se”, é só.
Você é persistente o bastante – é determinado?
CAPÍTULO 14
COMO SE LEMBRAR DE
NÚMEROS

A faculdade do número – isto é, a faculdade de saber, reconhecer e


lembrar números na relação abstrata e entre si difere muito materialmente
entre os indivíduos. Para alguns, números são apreendidos e lembrados com
facilidade, já para outros que não possuem interesse, atração ou afinidade,
conseqüentemente não estão aptos a lembrá-los. As principais autoridades
admitem que a memorização de datas, números etc. é a mais difícil das
fases da memória. Porém, todos concordam que a faculdade pode ser
desenvolvida por prática e interesse. Houve exemplos de pessoas que
desenvolveram esta faculdade da mente a grau quase inacreditável; outras
começaram com uma aversão a número e desenvolveram interesse que
resultou na aquisição de um notável grau de proficiência nessas linhas.
Muitos matemáticos e astrônomos famosos desenvolveram maravilhosas
memórias para números. Dizem que Herschel podia lembrar todos os
detalhes de intricadas operações em seus cálculos astronômicos, até mesmo
frações. Ele era capaz de realizar cálculos mentalmente, sem o uso de
caneta ou lápis e ditava para seu assistente todos os detalhes do processo,
incluindo os resultados finais. Tycho Brahe, o astrônomo, possuía também
uma memória similar. Comenta-se que ele se opôs a consultar tabelas
impressas de raízes quadradas e cúbicas, e assim memorizou todas,
realizando esta incrível tarefa em metade de um dia – isto exigiu a
memorização de mais de 75.000 relações de números. Euler, o matemático
que ficou cego com a idade, não podendo mais consultar suas tabelas,
também as memorizou. Dizem que ele podia repetir por recordação as
primeiras seis potências de todos os números de um a 100.
Wallis, outro matemático, era um prodígio a esse respeito. Comenta-se
que ele podia extrair, mentalmente, a raiz quadrada de um número com 40
casas decimais, e em uma ocasião extraiu dessa forma a raiz cúbica de um
número com 30 dígitos. Dizem que Dase multiplicava mentalmente dois
números de 100 dígitos cada. Um jovem chamado Mangiamele podia
realizar façanhas aritméticas mentais. Os relatos mostram que num teste
diante de membros da Academia de Ciências francesa, ele extraiu a raiz
cúbica de 3.796.416 em 30 segundos; a raiz décima de 282.475.289 em três
minutos. Resolveu também de imediato a seguinte questão feita por Arago:
“Qual número tem a seguinte proporção: se cinco vezes o número é
subtraído do cubo mais cinco vezes o quadrado do número, e nove vezes o
quadrado do número subtraído do resultado, o resto será 0?” A resposta,
“5”, foi dada de imediato, sem precisar escrever o número no papel ou
lousa. Um caixa de um banco de Chicago pôde refazer mentalmente as
contas da instituição financeira, que foram destruídas em um grande
incêndio, e seus cálculos, aprovados pelo banco e correntistas, estavam em
perfeito acordo com outros memorandos, e, no caso, o trabalho realizado
por ele foi só de sua memória.
Bidder podia contar instantaneamente o número de moedas na soma de
£868.42s.121d. Buxton calculou mentalmente o número de oitavos cúbicos
de uma polegada que havia na massa quadrangular de 23.145.789 jardas de
comprimento, 2.642.732 jardas de largura e 54.965 jardas de espessura.
Calculou também mentalmente as dimensões de um estado irregular de
cerca de 1.000 acres, com o conteúdo em acres e jardas quadradas,
reduzindo depois para polegadas quadradas e posteriormente para
infinitésimos quadrados, estimando 2.304 para polegada quadrada, 48 para
cada lado. O matemático prodígio, Zerah Colburn, foi talvez o mais notável
de todos. Quando criança começou a desenvolver as mais incríveis
qualidades mentais quanto a números. Ele podia de imediato fazer cálculos
mentais do exato número de segundos ou minutos que havia em um dado
tempo. Em uma ocasião, ele calculou o número de minutos e segundos
contidos em 48 anos, e a resposta “25.228.800 minutos e 1.513.728.000
segundos” foi dada quase instantaneamente. Ele podia multiplicar de
imediato qualquer número de um a três dígitos por outro número com o
mesmo número de dígitos; os fatores de qualquer número com seis ou sete
dígitos; as raízes quadrada e cúbica e os números primos de qualquer
número dado. Ele elevou mentalmente à potência de oito,
progressivamente, para à de 16, e o resultado começa com
281.474.976.710.656; a raiz quadrada de 106.929, que era 5. Ele extraiu
mentalmente a raiz cúbica de 268.336.125; as quadradas de 244.999.755 e
1.224.998.155. Em cinco segundos calculou a raiz cúbica de
413.993.348.677. Também encontrou os fatores de 4.294.967.297, que antes
havia sido considerado um número primo. Ainda calculou mentalmente a
raiz quadrada de 999.999, que é 999.998.000.001, e multiplicou o número
por 49, o produto pelo mesmo número, e o total por 25 – este uma medida
extra.
A grande dificuldade em lembrar números para a maioria das pessoas é o
fato de eles “não significarem nada para elas” – isto é, os números são
pensados apenas em sua fase e natureza abstrata, como resultado muito
mais difícil de lembrar que as impressões recebidas dos sentidos da visão
ou som. O remédio, portanto, fica aparente quando reconhecemos a fonte da
dificuldade, que é: torne o número tema de impressões sonoras e visuais.
Anexe a idéia abstrata de números ao sentido de impressões visuais e
auditivas, ou ambas, de acordo com o que é o mais bem desenvolvido no
seu caso particular. Pode ser difícil lembrar “1848” como uma coisa
abstrata, mas é comparativamente fácil lembrar o som de “mil oitocentos e
quarenta e oito”, ou o formato de “1848”. Se repetir o número para si
mesmo até pegar a impressão sonora, ou visualizar com facilidade a fim de
lembrar tê-lo visto, então, estará apto a lembrar melhor do que apenas
pensar sem uma referência de som ou forma. Pode esquecer que o número
de uma certa loja ou casa é 3.948, mas vai lembrar facilmente o som das
palavras faladas “três mil novecentos e quarenta e oito”, ou a forma de
“3.948” que aparece em sua visão da porta do lugar. Neste caso, você
associa o número à porta, assim quando visualiza a porta, visualiza o
número.
Kay, quando fala de visualização, ou reprodução de imagens mentais de
coisas para serem lembradas, afirma:

“Aqueles que se distinguiram por seu poder de realizar longos e intricados


processos de cálculos mentais devem o fato à mesma causa.”

Taine comenta:

“Crianças acostumadas a calcular de cabeça escrevem mentalmente com


giz em lousas imaginárias os números em questão, todas as operações
parciais e a soma final, assim vêem internamente as linhas diferentes de
números brancos com os quais estão preocupadas. Young Colburn, que
nunca foi à escola e não sabia nem ler nem escrever, dizia que, quando
fazia os cálculos, ‘os via claramente diante dele’. Outra pessoa afirmou
que ele ‘via os números em que estava trabalhando como se estivessem
escritos na lousa’.’”

Bidder salienta:

“Se faço somas mentalmente, isso se processa em uma forma visual em meu
cérebro, de fato não posso conceber outra maneira possível de fazer
aritmética mental.”

Conhecemos office-boys que nunca lembravam o número do endereço até


repetirem para si mesmos várias vezes – eles memorizavam o som e não
esqueciam mais. Outros esqueciam o som, ou não conseguiam registrá-los
na mente, mas depois de ver o número na porta de um escritório ou loja,
podiam repeti-lo no momento que o viam, dizendo mentalmente “posso ver
os números na porta”. Você encontrará pessoas que lembram números ou
dígitos assim, e poucos podem lembrá-los com coisas abstratas. Quanto a
este assunto, é difícil para a maioria das pessoas pensar em um número,
abstratamente. Tente e assegure-se se não pode se lembrar do número ou do
som das palavras, ou como uma imagem mental ou a visualização da forma
dos números. A propósito, ou a visão ou o som, o tipo particular de
lembrança é o seu melhor modo de lembrar números, e conseqüentemente
lhe dará as linhas nas quais prosseguir para desenvolver a fase da memória.
A lei da associação pode ser usada com vantagem na memorização de
números; por exemplo, sabemos de uma pessoa que lembrava o número
186.000 (o número de milhas por segundo que viajava as ondas de luz)
associado ao número do antigo local onde o pai trabalhava, “186”. Outro
lembrava o número do telefone “1876” ao recordar a Declaração da
Independência. Outro, o número de estados na União ao associá-lo aos dois
últimos números de seu local de trabalho. Mas o melhor modo de
memorizar datas, números especiais ligados a eventos etc. é visualizar uma
imagem do evento com a imagem da data ou número, combinando as duas
coisas em uma imagem mental, e assim a associação será preservada
quando a imagem for recordada. Recite, por exemplo, “Em mil
quatrocentos e noventa e dois, Colombo viajava pelo oceano azul”, ou “Em
mil oitocentos e sessenta e um, a guerra Civil começou” etc., de lugares e
usos associados. É melhor cultivar “visão ou som” de um número que
depender de métodos associativos limitantes baseados em vínculos
artificiais.
Finalmente, como dissemos nos capítulos anteriores, antes que possa
desenvolver uma boa memória de um assunto, cultive primeiro um interesse
sobre ele. Mantenha vivo seu interesse em números trabalhando alguns
problemas matemáticos de vez em quando e descobrirá que os números
começarão a despertar novo interesse em você. Um problema elementar de
aritmética, usado com interesse, o iniciará na estrada de “Como se Lembrar
de Números” mais que uma dezena de livros sobre o assunto. Tenha na
memória as três regras: “Interesse, Atenção e Exercício” – a última é a mais
importante, pois sem esta as outras não funcionam. Você ficará surpreso ao
ver quantas coisas interessantes pode fazer com os números. A tarefa de
fazer aritmética elementar não é tão “árida” como quando era criança. Você
descobrirá todo tipo de coisas “estranhas” em relação aos números.
Apresentamos uma “amostra” para chamar a sua atenção:
O número “1” e as casas atrás com vários “zeros”, assim:
1.000.000.000.000 – quantos “zeros” ou cifras quiser. Divida o número por
“7”. Encontrará que o resultado é sempre “142.857”, e então outro
“142.857”, infinitamente, se deseja calcular o máximo que puder. Esses seis
números se repetirão. Multiplique “142.857” por “7” e seu produto será
vários “9”.
Pegue qualquer número, escreva seu inverso e subtraia o último do
primeiro, assim:

e descobrirá que o resultado sempre se reduzirá a “9”, e sempre será


múltiplo de 9. Tome qualquer número composto de dois ou mais números, e
subtraia da soma adicionada dos números separados, e o resultado sempre
será um múltiplo de 9, assim:
Comentamos exemplos familiares apenas para lembrá-lo que há muito
mais coisas interessantes em meros números que se supõe. Se puder criar
interesse neles, estará no início da estrada da memorização de números.
Faça com que os números “signifiquem algo” para você, e o resto é uma
questão de detalhes.
CAPÍTULO 15
COMO SE LEMBRAR DE
MÚSICA

Como todas as outras faculdades da mente, a da música, ou tom,


manifesta-se em vários graus em cada indivíduo. Para alguns, a música
parece ser agarrada quase instintivamente, enquanto outros a adquirem
apenas com grande esforço e trabalho. Para alguns, a harmonia é natural, e
outros, por questão de repulsa, não reconhecem a diferença entre duas
harmonias a não ser em casos extremos. Alguns parecem ter a alma da
música, outros não têm a concepção do que possa ser alma da música. As
diferentes fases do conhecimento de música estão manifestadas. Alguns
tocam corretamente só de ouvir, mas são ineficientes quando devem tocar
as notas. Outros tocam corretamente de uma maneira mecânica, mas não
retêm na memória da música o que ouviram. De fato, há bons músicos que
combinam as duas faculdades – a percepção de ouvido para música e a
habilidade de executar corretamente as notas.
Há muitos casos de registros nos quais poderes extraordinários de
memória referentes à música foram manifestados. Fuller relata os seguintes
exemplos desta particular fase de memória: Carolan, o maior poeta irlandês,
encontrou certa vez um conhecido músico e o desafiou a testar suas
respectivas habilidades musicais. O desafio foi aceito e o rival de Carolan
tocou em seu violino um dos mais difíceis concertos de Vivaldi. Ao final da
performance, Carolan, que nunca ouvira a peça antes, tomou sua harpa e
tocou o concerto do começo ao fim sem cometer um único erro. Seu rival
aplaudiu, satisfeito pela superioridade de Carolan. Beethoven podia reter
em sua memória qualquer composição musical que ouvia, apesar da
complexidade, e podia reproduzir a maior parte. Ele podia tocar de memória
qualquer uma das composições em Cravo bem afinado de Bach, com 48
prelúdios e o mesmo número de fugas cuja complexidade de movimento e
dificuldade de execução são quase inigualáveis, pois cada composição é
escrita no estilo de contraponto mais obscuro.

“Mozart, aos quatro anos, podia lembrar nota por nota, elaborar solos em
concertos que ouvira; podia aprender um minueto em meia hora e compor
peças curtas nessa idade. Aos seis anos, foi capaz de compor sem a ajuda
de um instrumento e continuou progredindo o conhecimento musical
rapidamente na memória. Aos 14 anos, ele foi para Roma, na Semana
Santa. Na Capela Sistina, realizava-se a apresentação diária do Miserere
de Allegri, a partitura que Mozart queria obter, e da qual descobriu que
não podia fazer cópias. Ele ouviu atentamente a performance, e no final
escreveu a partitura de memória sem um erro. Outra vez, pediram que
Mozart contribuísse com uma composição original a ser realizada por um
conhecido violinista e ele mesmo em Viena para o imperador Joseph. Ao
chegar ao local designado Mozart descobriu que esquecera de trazer uma
parte. Ele colocou um papel em branco em sua frente e tocou sua parte de
memória sem um erro. Quando a ópera Don Giovanni foi realizada pela
primeira vez, não houve tempo para copiar a partitura para o cravista,
então Mozart fez a mesma coisa, regeu toda a ópera e tocou o
acompanhamento das canções e coros ao cravo, sem nenhuma anotação
diante dele. Há também muitos exemplos da notável memória musical de
Mendelssohn. Ele certa vez deu um grande concerto em Londres, no qual
foi produzida a sua Abertura de Sonhos de uma noite de verão. Havia
apenas uma cópia da partitura completa, de responsabilidade do organista
da Catedral de St. Paul, que infelizmente a deixara na carruagem.
Mendelssohn escreveu outra de memória, sem um erro. Outra vez, quando
estava pronto para dirigir a performance pública de da Paixão segundo
São Mateus Bach, descobriu, ao subir na plataforma do regente, que havia
ali a partitura de outra composição, trazida por engano. Sem hesitar,
Mendelssohn regeu com sucesso a complicada obra de memória, virando
automaticamente as páginas da partitura diante dele, de modo que
nenhuma sensação de desconforto pudesse entrar na mente dos músicos e
cantores. Dizem que Gottschalk podia tocar de memória milhares de
composições, incluindo muitas de Bach. O conhecido regente Vianesi
raramente tinha a partitura diante de si ao reger uma ópera, sabia cada
nota de muitas óperas de memória.”
Há duas fases da memória que devem entrar na “memória de música” – a
memória de tom e a memória de notas. A memória de tom, é claro, está na
classe de impressões auditivas, e o que foi dito quanto a elas também se
aplica a este caso. A memória de notas está na classificação das impressões
visuais, e as regras desta classe de memória aplicam-se a este caso. Para o
cultivo da memória de tom, o principal conselho é que o aluno crie interesse
ativo em tudo o que diz respeito ao som da música e aproveite toda
oportunidade para ouvir boa música, esforçando-se para reproduzi-la na
imaginação ou memória. Faça esforço para entrar no espírito da música até
ele se tornar parte de você. Não basta apenas ouvir, sinta seu significado.
Quanto mais a música “significar para você”, mais facilmente se lembrará
dela. O plano seguido por muitos alunos, particularmente os de música
vocal, é ter cada compasso de uma peça tocado várias vezes até poderem
cantarolá-lo corretamente, adicionando mais alguns, depois mais alguns e
assim por diante. Cada adição deve ser revista em conexão com a aprendida
antes, assim a cadeia de associação pode permanecer inteira. O princípio é o
mesmo da criança aprendendo o bê-á-bá, ou seja, “B” depois de “A”. Com
a constante adição de “só mais um” acompanhada de freqüentes revisões,
peças longas e difíceis podem ser memorizadas.
A memória das notas pode ser desenvolvida pelo método citado – o
método do aprendizado de alguns compassos, a adição de mais alguns e a
freqüente revisão do que aprendeu formam vínculos de associação com a
prática contínua. Sendo o método de impressão visual e o tema de suas
regras, observe a idéia da visualização – que é aprender cada compasso até
poder vê-lo com o “olho da mente”. Nest,a como em outras impressões
visuais, você será muito ajudado por sua memória de som de notas, além de
sua aparência. Tente associar os dois, assim, quando ver uma nota, ouvirá
seu som; e quando ouvir o som, verá como aparece na partitura. Esta
combinação de impressões visual e sonora lhe dará o benefício de dupla
impressão de sentido, que resulta na duplicação da eficiência da memória.
Além de visualizar as notas, o aluno deve adicionar a aparência dos vários
símbolos que denotam a chave, o tempo, o movimento, a expressão etc.,
assim pode cantarolar as notas visualizadas, com expressão e interpretação
corretas. Mudanças de chave, tempo ou movimento devem ser
cuidadosamente anotadas na memorização das notas. Acima de tudo,
memorize o sentimento daquela particular parte da partitura, assim você
pode não apenas ver e ouvir, mas sentir o que está recordando.
Devemos aconselhar o aluno a praticar a memorização de músicas
simples no início, por várias razões. Uma delas é que essas músicas são
facilmente memorizadas em si e a cadeia de fácil associação é geralmente
mantida.
Nesta fase da memória, como nas outras, aconselhamos: crie interesse; dê
atenção; pratique e exercite. Você já deve estar cansado dessas palavras –
elas constituem os princípios do desenvolvimento da memória retentiva. As
coisas devem estar impressas na memória, antes de poderem ser recordadas.
Isto deve ser lembrado em cada consideração sobre o assunto.
CAPÍTULO 16
COMO SE LEMBRAR DE
OCORRÊNCIAS

A fase da memória que se manifesta na recordação de ocorrências e


detalhes da vida diária é a mais importante que pereceria no início. A
pessoa comum tem a impressão que se lembra muito bem das ocorrências
diárias em sua vida profissional ou social, por isso ficará surpresa com a
afirmação de que de fato se lembra muito pouco do que acontece ao longo
do dia. Para provar quão pouco esse tipo é de fato lembrado, o aluno deve
deixar o livro de lado, forçando a mente recordar os incidentes do mesmo
dia da semana anterior. Ele ficará surpreso ao ver quão pouco do que
aconteceu naquele dia será de fato capaz de recordar. Tente o mesmo
experimento com as ocorrências de ontem – o resultado será uma surpresa.
É verdade que se ele for lembrado de alguma ocorrência particular, a
recordará, mais ou menos distintamente, mas fora disso não se lembrará de
nada. Imagine-se testemunhando no tribunal, sobre os acontecimentos do
dia anterior, ou do dia da semana anterior?
A razão para ele não se lembrar dos eventos mencionados está no fato de
não ter se esforçado no momento para imprimir esses acontecimentos na
mentalidade subconsciente. Ele permite que os eventos passem por sua
atenção, como o proverbial “sem efeito algum”. Ele não quer ser
incomodado com a recordação de bagatelas e o esforço de escapar delas,
assim ele cometeu o erro de não as guardar. Há uma enorme diferença entre
viver no passado e guardar registros do passado para possível referência
futura. Permitir que os registros de cada dia sejam destruídos é como rasgar
papéis comerciais importantes no escritório a fim de abrir espaço nos
arquivos.
Se alguém se der ao trabalho de ir nessa direção, não é aconselhável
gastar muito esforço mental em guardar cada detalhe importante do dia na
mente, pois há uma maneira mais fácil para tal. Referimo-nos à prática de
rever as ocorrências de cada dia, quando terminar o dia de trabalho. Se
reviver mentalmente as ocorrências de cada dia à noite, descobrirá que o ato
de rever empregará a atenção até registrar os eventos de tal maneira que
estarão à disposição, se forem necessários. É como preencher os papéis
comerciais do dia, para possíveis referências futuras. Além da vantagem,
essas revisões servirão para você também se lembrar de muitas pequenas
coisas de importância imediata e que fugiram de sua recordação pela razão
que algo as seguiu no campo de atenção.
Você descobrirá que um pouco de prática permitirá rever os eventos do
dia, em um curto espaço de tempo, com um surpreendente grau de precisão
de detalhe. Parece que o cérebro responderá de imediato à sua demanda. O
processo parece uma digestão mental, ou melhor, uma ruminação mental,
semelhante ao que a vaca faz ao “mastigar o capim”. A coisa é o “jeito”
adquirido facilmente com um pouco de prática. Você será recompensado
pelo tempo e trabalho gastos. Como dissemos, não apenas tem a vantagem
de guardar esses registros do dia para uso futuro, como também terá a
atenção despertada para muitos detalhes importantes que lhe escapavam e
muitas idéias importantes surgirão nos momento de “ruminação” ociosa.
Faça essa tarefa à noite, quando se sentir à vontade – não faça isso depois
que se deitar. A cama é feita para dormir, não para pensar. Descobrirá que o
subconsciente ficará desperto para o fato que deve lembrar, depois para os
registros do dia, “notando” o que acontece, de uma maneira mais diligente.
O subconsciente responde ao chamado de uma maneira surpreendente,
quando compreende o que é necessário. Você verá que muito da virtude do
plano recomendado consiste no fato de na revisão haver o emprego da
atenção em uma maneira impossível durante o corrido dia de trabalho. As
vagas impressões são examinadas, e a atenção do exame e a revisão
aprofundam a impressão em cada caso, e assim podem ser reproduzidas
depois. Em uma frase: é o aprofundamento das impressões vagas do dia.
Thurlow Weed, um político conhecido, de séculos atrás, testemunhou a
eficácia do método, em suas Memórias. Seu plano era um pouco diferente
do que nós mencionamos, porém, verá que envolve os mesmos princípios –
a mesma psicologia. O sr. Weed comenta:

“Alguns de meus velhos amigos costumavam pensar que eu era ‘talhado’


para a política, mas vi de imediato uma fraqueza fatal. Minha memória era
uma peneira. Não conseguia me lembrar de nada. Datas, nomes,
compromissos, rostos – tudo sumia. Disse para minha esposa, ‘Catherine,
nunca serei um político de sucesso, pois não consigo me lembrar, uma
necessidade primordial para um político. Um político que vê alguém uma
vez nunca deve esquecê-lo.’ Minha esposa respondeu que eu devia treinar
minha memória. Quando cheguei em casa aquela noite, fiquei sozinho e
empreguei 15 minutos tentando recordar em silêncio e com precisão os
principais eventos do dia. No início, eu me lembrava de pouco – recordo-
me que mal podia lembrar o meu café-da-manhã. Depois de alguns dias de
prática, descobri que eu podia me lembrar mais. Os eventos voltavam em
minutos, com precisão, mais vívidos que da primeira vez. Quinze dias
depois, Catherine comentou ‘por que não me relata os eventos do dia em
vez de lembrar para si mesmo? Seria mais interessante e meu interesse
seria um estímulo para você.’ Por ter muito respeito pela opinião de minha
esposa, comecei o hábito da confissão oral, que continuei por quase 50
anos. Toda noite, antes de ir dormir, contava a ela tudo que podia me
lembrar que me acontecera, ou sobre mim, durante o dia. Lembrava
geralmente os pratos do café-da-manhã, do jantar e chá; as pessoas que
vira, o que elas disseram; os editoriais que lera no jornal, fazendo um
resumo; mencionava todas as cartas que lera e recebera e a linguagem
usada, o mais próximo possível; quando havia caminhado ou cavalgado –
contava-lhe tudo o que vira. Descobri que podia fazer melhor minhas lições
a cada ano, e em vez de a prática ficar enfadonha, tornou-se um prazer.
Estou em dívida com esta disciplina para uma memória de tenacidade
incomum, e recomendo a prática a todos que desejam guardar os fatos, ou
esperam ter muito o que fazer com homens influentes.”

O aluno cuidadoso, depois de ler as palavras de Thurlow Weed, verá


nelas o método de recordar a classe de ocorrências particulares
mencionadas nesta lição, e também uma maneira de como todo o campo da
memória pode ser treinado e desenvolvido. O hábito de rever e “dizer” as
coisas que percebe, que faz e pensa durante o dia forma naturalmente os
poderes de futura observação, atenção e percepção. Se está testemunhando
uma coisa que sabe que deverá descrever para outra pessoa, aplique
instintivamente sua atenção nisso. O conhecimento que usará para
descrever a coisa acionará o interesse ou necessidade, que poderá estar
faltando. Se “sentir” coisas com o conhecimento que deverá contar depois,
dará interesse e atenção para fazer impressões agudas, claras e profundas na
memória. Neste caso, ver e ouvir tem “um significado” e um propósito para
você. Além disso, o trabalho de rever estabelece um hábito de mente
desejável. Se não quer relatar as ocorrências para outra pessoa, aprenda a
contá-las para si mesmo à noite. Faça você mesmo. Há um segredo valioso
da memória neste capítulo – se for esperto para aplicá-lo.
CAPÍTULO 17
COMO SE LEMBRAR DE
FATOS

Falando desta fase da memória, usamos a palavra “fato” no sentido de


“um item de conhecimento incerto”, e não no sentido de “um
acontecimento” etc. Neste sentido, a Memória de Fatos é a habilidade para
armazenar e recordar os itens de conhecimento com alguma coisa particular
a considerar. Se estamos considerando o tema “Cavalo”, os “fatos” que
desejamos lembrar são os vários itens de informação e conhecimento com
relação a cavalo, que adquirimos durante nossa experiência – fatos que
vimos, ouvimos ou lemos quanto ao animal em questão. Estamos
continuamente adquirindo informação sobre todos os tipos de assuntos e
quando desejamos coletá-los, geralmente descobrimos que a tarefa é difícil,
mesmo que as impressões originais eram bem claras. A dificuldade é em
razão de vários fatos estarem associados em nossas mentes apenas por
contigüidade no tempo ou lugar, as associações de relação sendo perdidas.
Em outras palavras, não classificamos e indexamos adequadamente partes
das informações e não sabemos onde começar a procurá-las. É como a
confusão do homem de negócios que mantém seus papéis em um barril,
sem índice ou ordem. Ele sabia que “estava tudo lá”, mas era difícil
encontrar quando precisava. Ou somos como o tipógrafo cujo tipo ficou
“manchado” e foi jogado em uma grande caixa, sendo que, toda vez que
tentar preparar a página de um livro, será difícil para ele, se não impossível,
realizar a tarefa ao passo que, cada letra estivesse na “caixa” apropriada, ele
comporia a página em um curto espaço de tempo.
O tema de associação por relação é uma das coisas mais importantes no
assunto do raciocínio, e o grau de pensamento correto e eficiente depende
materialmente disso. Não é suficiente para nós apenas “saber” uma coisa –
precisamos saber onde encontrá-la quando desejamos. Como o juiz
Sharswood, da Pensilvânia, disse:

“Não basta saber a lei, é preciso saber onde ela está.”

Kay comenta:

“Com as associações formadas por contigüidade no tempo ou espaço


temos pouco controle. Elas são acidentais, dependendo da ordem na qual
os objetos estão presentes na mente. Por sua vez, a associação por
similaridade está mais em seu poder, pois nós, de certa forma,
selecionamos esses objetos que devem ser associados e os reunimos na
mente. No entanto, devemos ter cuidado ao associar essas coisas que
desejamos e recordar outras; as associações formadas devem ser baseadas
em semelhanças fundamentais e essenciais, e não apenas nas superficiais
ou casuais. Quando coisas são associadas por suas qualidades acidentais e
não essenciais, por suas relações superficiais e não fundamentais, não
estarão disponíveis quando desejarmos e serão de pouco uso real. Quando
associamos o que é novo com o que mais se parece na mente, o colocamos
no lugar apropriado em nossa fábrica de pensamentos. Por meio da
associação por similaridade, reunimos nossas idéias em grupos separados,
e é de importância fundamental que todas que mais se parecem entre si
estejam em um mesmo grupo.”

A melhor maneira de adquirir associações corretas, e muitas, para um


fato separado que deseja guardar para poder recordar quando necessário –
alguma informação útil ou conhecimento interessante, que “pode estar à
mão” – é analisá-lo, bem como suas relações. Isso pode ser feito
perguntando-se – cada coisa que associa a ele em suas respostas é uma
“referência cruzada” adicional, que pode encontrar rapidamente quando
desejar. Kay afirma:

“Pode-se dizer que o princípio de fazer perguntas e obter resposta


caracteriza todo o esforço intelectual.”
Esse é o método pelo qual Sócrates e Platão ampliavam o conhecimento
de seus alunos, preenchendo as lacunas e incorporando novos fatos aos já
conhecidos. Quando quiser considerar um fato, faça as seguintes questões:

1. De onde vem ou qual a sua origem?


2. O que o causou?
3. Qual é seu histórico ou registro?
4. Quais são seus atributos, qualidades e características?
5. A quais coisas eu posso associá-lo rapidamente? Como é?
6. Para que serve, como pode ser usado, o que posso fazer com ele?
7. O que prova, o que posso deduzir?
8. Quais são os resultados naturais, o que acontece por causa dele?
9. Qual o seu futuro; e seu fim ou finalidade natural ou provável?
10. O que penso dele, quais são minhas impressões gerais?
11. O que sei disso, sua informação geral?
12. O que ouvi sobre isso, de quem e quando?

Caso se dê ao trabalho de examinar qualquer “fato” por esse rígido


exame, não apenas ligará centenas de outros fatos convenientes e
familiares, como se lembrará de imediato da ocasião, mas também criará
um novo tema de informação geral em sua mente, e este fato particular será
o pensamento central. Sistemas similares de análises foram publicados e
vendidos por vários professores, por altos preços – e muitas pessoas
consideraram que os resultados justificaram os gastos. Não aja com
superficialidade.
Com quanto mais outros fatos conseguir fazer associação, mais
“ganchos” terá para colocar fatos – mais “fios soltos” para puxar o fato para
o campo da consciência –, mais referências cruzadas com o fato. Quanto
mais associações você fizer ao fato, mais “significado” ele terá para você,
mais interesse será criado em sua mente. Além disso, será mais provável a
recordação “automática” ou involuntária do fato quando pensar em algum
assunto associado, ou seja, ele virá à sua mente naturalmente em conexão
com algo – de uma maneira “isso me lembra”. E, quanto mais
freqüentemente se “lembrar” involuntariamente, mais clara e profunda a
impressão se torna nos registros de sua memória. Quanto maior a
freqüência de uso do fato, mais fácil será lembrar quando necessário. A
caneta favorita do homem sempre está em sua mão em uma posição
lembrada, enquanto o apagador ou coisa similar menos usada tem de ser
procurada, em geral sem sucesso. Quanto mais associações você fizer ao
fato, maior a probabilidade de usar a freqüência.
Outro ponto a ser lembrado é que a futura associação de um fato depende
muito do seu sistema de arquivar ocorrências. Se pensar nisso quando se
esforçar para guardar um episódio para referência futura, estará apto a
encontrar o melhor lugar mental para ele. Arquive-o junto à coisa com a
qual mais se parece, ou com a qual tem a relação mais familiar. A criança
faz assim, involuntariamente – é um modo natural. Por exemplo, ela vê uma
zebra, arquiva o animal como “burro com listras”, uma girafa como “cavalo
de pescoço comprido”, um camelo como “cavalo com pernas muito longas,
dobradas, pescoço comprido e montes nas costas”. A criança sempre
associa seu novo conhecimento ou fato a algum fato ou conhecimento
familiar – às vezes, o resultado é surpreendente, mas ela lembra assim. A
criança crescida fará melhor se criar elos similares da memória. Associa
uma nova coisa a alguma coisa antiga e familiar. É fácil quando se “pega o
jeito”. A lista de questões dadas apresenta muitos vínculos para seu cérebro.
Use-os.
Se precisar de qualquer prova da associação por relação e das leis que
governam sua ação terá apenas de recordar a “cadeia de pensamento” ou a
“cadeia de imagens” comuns na mente, que nos torna conscientes quando
estamos divagando ou fantasiando, ou mesmo com o pensamento geral
sobre qualquer tema. Verá que toda imagem, idéia mental ou recordação
está associada e ligada ao pensamento anterior e posterior. É uma cadeia
sem fim, até algo quebrá-la. Um fato surge na mente, aparentemente do
espaço e sem qualquer referência com nada. Em tais casos, descobrirá que
isso ocorre ou porque estabeleceu previamente sua mentalidade
subconsciente para trabalhar em algum problema, ou recordação, e o flash
era o resultado atrasado; ou o fato surgiu em sua mente por uma associação
a outro fato, que por sua vez provém do fato precedente e assim por diante.
Você ouve um apito distante e pensa em um trem, depois na jornada, depois
em algum lugar distante, depois em alguém naquele lugar, depois em algum
evento na vida daquela pessoa, depois em um evento similar na vida de
outra pessoa, depois em outra pessoa, depois no irmão ou irmã dela, depois
na última empreitada do irmão, depois no negócio, depois em outro negócio
parecido, depois em alguém nesse outro negócio, depois em quando lidou
com um homem que conhece, depois no fato de outro homem com nome
similar ao último homem lhe dever dinheiro, depois na sua determinação de
ter o dinheiro, depois em fazer um pedido para o advogado ver se não
consegue o dinheiro, apesar de o homem ter sido “executado” no ano
passado, do apito da locomotiva distante para uma possível cobrança.
Esquecidos os vínculos, o homem dirá que “de repente pensou” no devedor,
ou que “surgiu de repente” etc. Isso não é nada senão a lei da associação.
Além disso, descobrirá que toda vez que ouvir a designação “associação de
idéias mental” se lembrará do que acabamos de mostrar. Criamos um novo
vínculo na cadeia de associação para você, que daqui a alguns anos surgirá
em sua mente.
CAPÍTULO 18
COMO SE LEMBRAR DE
PALAVRAS ETC.

No capítulo anterior apresentamos vários exemplos de pessoas com uma


memória de palavras, sentenças etc. bem desenvolvida. A História está
repleta de casos. Os modernos estão além dos antigos a este respeito,
provavelmente porque não há a necessidade atual de façanhas de memória
que eram aceitas como lugar comum e dentro das expectativas. Entre os
antigos, quando a impressão era desconhecida e os manuscritos escassos e
valiosos, havia o costume de as pessoas aprenderem “de cor” os vários
ensinamentos sagrados de suas religiões. Os livros sagrados dos hindus
eram transmitidos desse modo, e era comum entre os judeus a recitação dos
livros de Moisés e os profetas, de memória. Até hoje são ensinados aos
muçulmanos fiéis o Alcorão de memória. A investigação revela que foram
usados processos de memorização idênticos a desses livros sagrados, além
da recordação – o método natural, diferentemente do artificial. Portanto,
devemos devotar este capítulo somente a esse método, no qual poemas ou
prosa podem ser aprendidos de memória e lembrados de imediato.
Esse natural método de memorização de palavras, sentenças ou versos
não é fácil. É um sistema que deve ser desenvolvido com trabalho constante
e revisão fiel. Deve-se começar e prosseguir. O resultado desse trabalho
surpreenderá quem não está familiarizado. É o mesmo método que hindus,
judeus, muçulmanos, nórdicos e outros memorizavam os milhares de versos
e centenas de capítulos de seus livros sagrados. É o método do ator de
sucesso, do popular orador, para não mencionar os oradores que
memorizam seus discursos “de improviso”.
O sistema de memorização natural é baseado no princípio, já aludido
neste livro, no qual a criança aprende o alfabeto e a multiplicação, a “peça”
que declama para o entretenimento dos queridos pais e enfadados amigos da
família. O princípio consiste no aprendizado de um verso/linha por vez,
revisão desse verso/linha; e aprendizado do segundo verso/linha e revisão
deste; então revisão dos dois versos e assim por diante, pois cada adição é
revista em conexão com as anteriores. A criança aprende o som de “A”,
depois de “B”, e associa os sons de “A, B” na primeira revisão, o “C” é
acrescentado e a revisão continua: “A, B, C”. Quando chega à letra “Z”, a
criança é capaz de rever toda a lista de “A a Z”, inclusive. A multiplicação
começa com “duas vezes um é dois”, “duas vezes dois é quatro” etc., até
que a tabuada do “dois” acabou e começa a do “três”. Este processo é
realizado pela constante adição e revisão, e até chegar a do “12”, a criança
será capaz de repetir a tabuada do primeiro ao último de memória.
Porém, há mais, no caso da criança, do que o mero aprendizado de repetir
o alfabeto ou a multiplicação – há o fortalecimento da memória como
resultado de exercício e uso. A memória, como qualquer faculdade da
mente ou músculo do corpo, melhora e desenvolve-se com o uso e exercício
inteligente e razoável. Não apenas o exercício e uso desenvolvem a
memória segundo uma particular linha de faculdade usada, mas também
segundo cada linha e faculdade. Isso ocorre porque o exercício desenvolve
o poder de concentração e o uso da atenção voluntária.
Sugerimos que o aluno que deseja ter boa memória para palavras,
sentenças etc., comece, agora, selecionando algum poema favorito para
demonstração. Memorize um verso e não quatro ou seis de uma vez.
Aprenda este verso perfeitamente, linha por linha, até poder repeti-lo sem
errar. Certifique-se de saber “perfeitamente” esse verso – tão perfeitamente
que “verá” as letras maiúsculas e a pontuação quando declamá-lo. Pare por
um dia. No próximo dia repita o verso aprendido e memorize o segundo
verso da mesma maneira, tão perfeitamente quanto o primeiro. Reveja o
primeiro e o segundo versos. A adição do segundo verso ao primeiro serve
para consolidar os dois por associação, cada revisão dos dois serve para
adicionar um pouco de “solda”, até ficarem unidos na mente como “A, B”.
No terceiro dia aprenda o terceiro verso, da mesma maneira e reveja os três.
Continue assim por um mês, adicionando um novo verso a cada dia e
acrescentando ao anterior. Revise constantemente todos os versos do início
ao fim. Não os reveja com muita freqüência. Poderá tê-los fluindo como as
letras do alfabeto, de “A” a “Z”, se rever apropriadamente e na devida
freqüência.
Se quiser poupar tempo, comece o segundo mês aprendendo dois versos
por dia, adicionando estes aos anteriores, fazendo revisões constantes e
fiéis. Descobrirá que pode memorizar dois versos, no segundo mês, tão
facilmente quanto no primeiro. Sua memória foi treinada para isso.
Continue mês a mês, adicionando um verso extra à sua tarefa diária, até não
poder poupar o tempo por todo o trabalho, ou se sentir satisfeito com o que
conseguiu. Use moderação e não tente ser um fenômeno. Evite o excesso de
treinamento. Depois de ter memorizado todo o poema, comece outro, mas
não esqueça de relembrar o anterior em intervalos freqüentes. Se considerar
impossível adicionar o necessário número de novos versos, por ter outra
ocupação etc., continue revendo o trabalho. Exercício e revisão são mais
importantes que a mera adição de muitos versos novos.
Varie os versos ou poemas em prosa. Verá que os versículos da Bíblia se
adaptam muito bem ao exercício, sendo fáceis de registrar na memória.
Shakespeare pode ser usado neste trabalho. O Rubaiyat de Omar Khayyam,
ou A dama do lago de Scott, ou Canção celestial ou Luz da Ásia de Edwin
Arnold são bons para este sistema de memorização, pois os versos de cada
um “fixarão na memória” e cada poema é longo o bastante para satisfazer as
exigências do aluno mais ambicioso. Ao olhar para todo o poema (algum
dos mencionados) parece quase impossível alguém ser capaz de memorizá-
lo e recitá-lo perfeitamente. Usando o princípio de “água mole em pedra
dura tanto bate até que fura” esta prática, do pouco ser associado ao que já
tem, logo permitirá que acumule um maravilhoso estoque de versos,
poemas, recitações memorizadas etc. É a demonstração do provérbio: “De
grão em grão a galinha enche o papo.”
Depois de ter adquirido uma grande seleção memorizada, descobrirá que
é impossível rever todos de uma vez. Deve ter certeza de rever todos em
intervalos, não importando quantos dias se passam entre cada revisão.
O aluno que está familiarizado com os princípios dos quais a memória
depende, como dito nos capítulos anteriores, verá que os três princípios de
atenção, associação e repetição são empregados no método natural
recomendado. Deve ser dada atenção para memorizar cada verso em
primeiro lugar; associação é empregada na relação criada entre os antigos
versos e os novos; e repetição é empregada pela revisão freqüente, que
serve para aprofundar a impressão da memória toda vez que o poema é
repetido. Além disso, o princípio do interesse é invocado no progresso
gradual, e a realização do que no início parecia uma tarefa impossível – o
elemento do jogo é fornecido – serve como um incentivo. Esses princípios
combinados tornam o método ideal, sendo reconhecido desde muito tempo.
CAPÍTULO 19
COMO SE LEMBRAR DE
LIVROS, PEÇAS, CONTOS
ETC.

Nos capítulos anteriores lhes demos sugestões para o desenvolvimento


das principais formas de memória. Há ainda outras fases ou formas de
memória, subdivisões da classificação geral, que podem ser consideradas.
Por exemplo, há sugestões sobre a memorização de conteúdos de livros que
leu, histórias que ouviu etc. Acreditamos, portanto, ser aconselhável devotar
um capítulo para a consideração dessas várias fases de memória “deixadas
fora” de outros capítulos.
Muitos de nós não nos lembramos de coisas importantes em livros que
lemos e ficamos mortificados por nossa ignorância quanto ao conteúdo de
obras de importantes autores, ou de romances populares, que, embora
tenhamos lido, não registramos em nossa memória. É claro que devemos
começar lembrando da sempre presente necessidade de interesse e atenção
– não podemos fugir desses princípios da memória. O problema é que a
maioria das pessoas lê livros “para matar o tempo”, um tipo de narcótico ou
anestesia mental, e não com o propósito de obter algo de interessante deles.
Fazendo assim, não apenas perdemos tudo de importante ou valioso do
livro, como adquirimos o hábito de ler sem cuidado e atenção. O
predomínio do hábito de ler muitos jornais e romances tolos é responsável
pela aparente incapacidade de muitas pessoas de absorver e se lembrar de
maneira inteligente o conteúdo de um livro “que vale a pena”, quando tem
um em suas mãos. Até mesmo o leitor mais cuidadoso pode melhorar e
curar o hábito da leitura sem atenção e cuidado.
Noah Porter afirma:
“Não lemos um autor até termos visto seu objeto, quer que seja, como ele o
vê.”

E também:

“Ler com atenção. Esta é a regra que precede as outras. Ela é melhor que
uma classificação de direções menores. Compreende todas, é a regra de
ouro… A página deve ser lida como se não houvesse uma segunda vez; o
olho mental deve estar fixado como se não houvesse outro objeto para
pensar; a memória deve se apegar aos fatos; as impressões devem ser
recebidas de maneira distinta e acentuada.”

Não é necessário, nem aconselhável, memorizar o texto de um livro,


exceto, talvez, algumas passagens que valham ser guardadas palavra por
palavra. A principal coisa a ser lembrada sobre um livro é seu significado –
do que se trata. Pode seguir a descrição geral, os detalhes da história,
ensaio, tratado etc. A questão, depois de terminar o livro ou alguma parte
particular, é: “Qual era a idéia do escritor, o que ele queria dizer?” Encontre
a idéia do autor. Ao tomar esta atitude mental, você praticamente se colocou
no lugar do escritor e toma parte na idéia do livro. Assim, tem uma visão de
dentro, e não de fora. Você se coloca no centro da coisa, e não à margem.
Se o livro é uma história, biografia, autobiografia, narrativa ou um fato
ou ficção, descobrirá o valor de visualizar suas ocorrências com o
desenrolar da história, ou seja, esforce-se para formar pelo menos uma vaga
imagem mental dos eventos relatados, assim poderá vê-los com o “olho da
mente” ou imaginação. Use sua imaginação em conexão com a leitura
mecânica. Dessa maneira criará uma série de imagens mentais, que ficarão
impressas em sua mente e serão lembradas como as cenas de uma peça ou
um evento real que assistiu, só que menos distinto. Particularmente deve se
esforçar para formar uma imagem mental clara de cada personagem, até
terem pelo menos uma semelhança com a sua realidade. Ao fazer isso, dará
naturalidade aos eventos da história e obterá novo prazer em sua leitura. É
claro que este plano fará com que você leia mais devagar e muitos contos
ruins não lhe darão interesse, pois não contêm os elementos de interesse
reais – mas isso não é uma perda, é um ganho. Ao final de cada história,
reveja mentalmente o seu desenrolar – deixe que os personagens e as cenas
passem pela sua visão mental como um filme. Quando terminar o livro,
reveja-o inteiro. Seguir este curso será útil não apenas para adquirir o hábito
de lembrar facilmente os contos e livros que leu, mas também para obter
mais prazer com a releitura de histórias favoritas em sua imaginação, daqui
a anos. Descobrirá que seus personagens favoritos terão uma nova realidade
para você, eles se tornarão velhos amigos em cuja companhia se divertirá a
qualquer momento, e poderá se livrar deles quando estiver cansado, sem
ofensa.
No caso de tratados, ensaios científicos etc., é possível seguir um plano
similar ao dividir o trabalho em partes menores e rever mentalmente o
pensamento (não as palavras) de cada parte até fazer a sua própria,
adicionando partes novas à sua revisão e aos poucos absorverá e fará todo o
trabalho. Tudo isso requer tempo, trabalho e paciência, mas será
recompensado. Descobrirá que este plano o deixará sem paciência para
livros de pouco impacto e o levará a obras melhores de qualquer tema.
Começará a conceder de má vontade seu tempo e atenção, hesitará a dá-los
se não forem os melhores livros. Nisto você ganha.
Para ficar familiarizado com o livro, antes de lê-lo, conheça os aspectos
gerais. Atente para o título completo e o subtítulo, se tiver; também para o
nome do autor e a lista de outros livros que escreveu, se estiverem
disponíveis. Leia o prefácio e estude cuidadosamente o índice, para
conhecer o campo ou assunto geral abordado no livro – em outras palavras,
consiga a descrição geral do livro e pode preencher os detalhes depois.
Ao ler um livro importante, deve entender o significado de cada
parágrafo antes de passar para o seguinte. Não deixe passar nada que não
entendeu, de uma maneira geral. Consulte o dicionário para palavras
desconhecidas, assim compreenderá a idéia completa que o autor pretendia
expressar. No final de cada capítulo e parte, reveja o que leu, até ser capaz
de formar uma imagem mental das idéias gerais contidas.
Para quem deseja se lembrar de produções dramáticas, os princípios
mencionados aplicados podem ser empregados nesta forma de memória
como na memória de livros. Ao criar um interesse em cada personagem que
surge, estude cada ação e cena, reveja cada ato em seus intervalos; no final
reveja toda a peça ao voltar para casa, e você a fixará por inteira como uma
imagem mental completa, nos registros da sua memória. Se está
familiarizado com o que dissemos quanto à recordação do conteúdo dos
livros, poderá modificá-los e adaptá-los segundo o propósito das peças e
produções dramáticas lembradas. Descobrirá que quanto mais rever uma
peça, mais claramente se lembrará. Muitos dos detalhes desprezados no
início entrarão no campo da consciência e serão colocados no local
apropriado.
Sermões, palestras e outros discursos podem ser lembrados dando
interesse e atenção ao tentar obter a idéia geral e notar a passagem de uma
idéia geral para outra. Se praticar um pouco, descobrirá que quando revir o
discurso (e deve fazer sempre – pois é a maneira natural de desenvolver a
memória), os detalhes surgirão e estarão no devido lugar. Nesta forma de
memória, a coisa mais importante é treiná-la com exercício e revisão.
Descobrirá que a cada revisão do discurso, você fará progressos. Com
prática e exercício, a mentalidade subconsciente fará um trabalho melhor e
mostrará que está aumentando suas novas responsabilidades. Você deixou
que ela perdesse o que ouviu em muitos discursos, mas pode aprender
novos hábitos. Espera-se que retenha o que foi ouvido e que o exercite
freqüentemente nas revisões de discursos, assim você ficará surpreso com o
grau de sucesso que obterá. Não só lembrará melhor, ouvirá melhor e de
maneira mais inteligente. O subconsciente, sabendo que será chamado
depois para recordar o que foi dito, dará a atenção necessária para fornecer
o material adequado.
Para aqueles que têm problema em lembrar discursos, aconselhamos que
comecem a comparecer a palestras e outras formas de discurso, com o
distinto propósito de desenvolver esta forma de memória. Dê à mentalidade
subconsciente o comando positivo que deve se concentrar e registrar o que
está sendo dito, assim, quando revir o discurso depois, será apresentado
com uma boa sinopse ou resumo. Evite a tentação de memorizar as palavras
do discurso – seu propósito é absorver e recordar as idéias e os pensamentos
gerais expressos. Interesse – Atenção – Prática – Revisão – estes são pontos
importantes na memória.
Para lembrar-se de histórias, casos, fábulas etc., basta empregar os
princípios dados. O fundamento principal na memorização de um caso é
poder pegar a idéia principal por trás e a sentença epigramática, ou frase
central que forma o “ponto” da história. Certifique-se de conseguir isso de
maneira perfeita e mande o “ponto” para a memória. Se necessário, faça um
memorando do ponto, até ter a oportunidade de rever a história em sua
mente. Reveja-o com cuidado em sua mente, permita que a imagem mental
da idéia passe diante de você na revisão, repita-o para si mesmo em suas
próprias palavras. Ao ensaiar e rever a história, você a torna sua e poderá
relatá-la depois como algo que de fato experimentou. Este princípio é tão
verdadeiro que, quando levado muito adiante, ele dá à história um falso
sentido de atualidade – quem nunca conheceu pessoas que contaram uma
história com tanta freqüência que acabaram por crer que era delas? Não
leve o princípio ao extremo, use-o com moderação. O problema é que
muitos tentam repetir a história, muito depois de tê-la ouvido, sem rever ou
ensaiar. Conseqüentemente omitem muitos pontos importantes, pois não
conseguiram imprimi-la como um todo na memória. Para saber um caso
corretamente, deve-se poder ver os personagens e os incidentes, como ao
ver uma piada ilustrada em um quadrinho de jornal. Se puder fazer uma
imagem mental de um caso, estará apto a vê-lo com facilidade. Os
conhecidos contadores de história revêem e ensaiam suas piadas, sabe-se
que as treinam com amigos para ter o benefício da prática antes de contar
para o público. Tem seus pontos e vantagens. Evita que alguém tenha de
terminar uma longa história com: “Ah…, hum… esqueci o final da história,
mas era boa!”
CAPÍTULO 20
INSTRUÇÕES GERAIS

Neste capítulo, devemos chamar sua atenção para certos princípios gerais
já mencionados em outros capítulos, pois o propósito é imprimi-los na
mente para poder pensar e considerá-los independentes dos detalhes das
fases de memória especiais. Este capítulo pode ser considerado uma revisão
geral de certos princípios fundamentais mencionados no trabalho.

PONTO 1. Dê ao que deseja memorizar tanta atenção concentrada


quanto for possível.
Explicamos a razão deste conselho em várias partes do livro. O grau de
atenção concentrada dada ao objeto em consideração determina a
força, clareza e profundidade da impressão recebida e guardada no
subconsciente. O caráter dessas impressões arquivadas determina o
grau de facilidade de lembrança e recordação.

PONTO 2. Ao considerar um objeto para ser memorizado, esforce-se


para obter as impressões por meio de tantas faculdades e sentidos
quanto possível.
Se você leu os capítulos anteriores, a razão deste conselho deve ser
clara. Uma impressão recebida pelo som e visão é duas vezes mais
forte que a recebida por um desses canais. Pode lembrar um nome ou
palavra, ou tê-lo visto escrito ou impresso, ou pelo fato de tê-lo
ouvido; mas se os viu e ouviu, tem dupla lembrança e possui dois
modos possíveis de rever a impressão. Você é capaz de se lembrar de
uma laranja pelo fato de tê-la visto, cheirado, sentido e saboreado,
além de ter ouvido seu nome ser pronunciado. Esforce-se para
conhecer uma coisa de tantas impressões de sentido quanto possível –
use as impressões visuais para assistir as auditivas; e as impressões
auditivas para assistir as visuais. Veja a coisa por todos os ângulos.
PONTO 3. Impressões de sentido podem reforçar o exercício de uma
faculdade particular por meio da qual impressões fracas são recebidas.
Descobrirá que sua memória visual é melhor que a auditiva, ou vice-
versa. O remédio está no exercício da faculdade mais fraca, então, a
equipare ao padrão da mais forte. Os capítulos de treinamento visual e
auditivo o ajudarão. As mesmas regras aplicam-se a várias fases da
memória – desenvolva as fracas, as fortes cuidarão de si mesmas. A
única maneira de desenvolver um sentido ou faculdade é com o
treinamento inteligente, exercício e uso. Uso, exercício e prática farão
milagres.

PONTO 4. A sua primeira impressão deve ser forte e firme para servir
de base para as subseqüentes.
Crie o hábito de fixar uma clara e forte impressão da coisa a ser
considerada, da primeira vez. Do contrário, tentará criar uma grande
estrutura sobre fundamentos fracos. Toda vez que reviver uma
impressão que aprofundou, mas tiver apenas uma leve impressão para
começar, nas impressões mais profundas não se incluirão os detalhes
omitidos na primeira vez. É como olhar um bom negativo de uma foto
que pretende ampliar depois. Os detalhes

que faltam na imagem pequena não aparecerão na ampliação, mas os


que aparecem na pequena, serão ampliados na foto.

PONTO 5. Reviver suas impressões sempre e aprofundá-las.

PONTO 6. Use sua memória e confie nela.


Uma das coisas importantes no cultivo da memória é seu uso real.
Comece confiando um pouco, depois mais um pouco, depois mais e
mais. Quem precisa marcar em algum lugar certas coisas para se
lembrar delas, começa a não usar sua memória e acaba por esquecer
onde marcou. Há muitos detalhes, e é claro que é loucura
sobrecarregar sua memória, mas não se deve

deixar sua memória em desuso. Caso sua ocupação tenha ajuda


mecânica, exercite a memória aprendendo versos, ou outras coisas,
para mantê-la uma prática ativa. Não permita que sua memória se
atrofie.

PONTO 7. Estabeleça quantas associações para uma impressão puder.


Se você estudou os capítulos anteriores, reconhecerá o valor deste
ponto. Associação é o método de indexação e referência cruzada da
memória. Cada associação facilita lembrar ou recordar a coisa. Cada
associação pressiona uma corda mental. Esforce-se para associar um
novo conhecimento a algo já conhecido. Dessa maneira, para evitar o
perigo de ter a coisa isolada em sua mente – sem um rótulo, ou um
número e nome – conecte seu objeto ou pensamento a ser lembrado a
outros objetos ou pensamentos por associação de contigüidade no
espaço e no tempo, pela relação de tipo, semelhança ou oposição. Às
vezes este último é muito útil, como no caso do homem que disse
“Fulano me lembra tanto

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