Cartilha Orientação e Mobilidade
Cartilha Orientação e Mobilidade
Cartilha Orientação e Mobilidade
E MOBILIDADE
EDUARDO DREZZA
ORIENTAÇÃO
E MOBILIDADE
O que é?
A pessoa com deficiência visual necessita adquirir novas habilidades
para que consiga se deslocar com autonomia, independência e
principalmente com segurança, e isso se dá através da orientação e
mobilidade que eu exprimo em um conceito simples e até primitivo:
Orientar-se para movimentar-se.
Para que você tenha um norte a seguir é necessário saber onde está,
para onde quer ir e por qual caminho. Isso é orientação e mobilidade, um
conjunto de técnicas e orientações que contribuirão para a habilitação
ou reabilitação da pessoa com deficiência visual, utilizando todos seus
sentidos remanescentes.
2
Utilização do Guia Vidente
.
3
Técnica Básica
• O guia vidente entra em contato com a pessoa com deficiência
visual tocando seu antebraço levemente no antebraço da pessoa a
ser guiada.
• A pessoa com deficiência visual localiza o cotovelo do guia, segura
seu braço (logo acima do cotovelo) colocando o polegar do lado
externo e os outros dedos na parte interna do braço em forma de
pinça, de maneira firme e segura.
• A pessoa com deficiência visual deverá permanecer meio passo
atrás do guia, com o seu ombro na mesma posição que a dele,
fornecendo maior proteção e segurança em termos de reação.
• A pessoa com deficiência visual deverá acompanhar o ritmo da
marcha do guia vidente de forma sincronizada, evitando tornar-se
um peso para o guia.
• A pessoa guiada deverá manter seu braço junto ao seu corpo com o
cotovelo flexionado num ângulo de 90°
• As crianças ou pessoas de baixa estatura poderão usar o pulso do
guia como referência para compensar a diferença de altura
4
Passagem estreita
• Permitir a passagem da pessoa com deficiência visual de forma
segura em locais estreitos quando não é possível ao guia e
acompanhante se posicionarem normalmente (portas estreitas,
corredores estreitos, entre peças de móveis, objetos e outros).
O guia se posiciona lateralmente, oferece o antebraço para contato
e desloca-se em passos laterais com orientação verbal à pessoa
guiada, que o segue também em passos laterais.
5
Subir escadas com guia
• Técnica para subida de escadas
com segurança e eficiência:
• O guia se aproximará da borda
do primeiro degrau da escada
e fará uma pequena pausa,
descrevendo as características
da mesma, altura, largura dos
degraus, patamares;
• O guia iniciará a subida
permitindo que a pessoa com
deficiência visual permaneça
um degrau atrás dele;
• O guia deverá segurar no corrimão para poder proteger a pessoa
com deficiência visual caso haja algo inesperado. Porém essa
posição pode se inverter quando este apresentar, além da cegueira,
outros comprometimentos.
• No fim da escada o guia fará uma pausa para indicar o topo da
mesma, evitando que o aluno dê um passo em falso;
• No topo da escada o nível do braço do guia indicará o fim da mesma
(através da estabilização da altura do braço)
• Aqui cabe uma ressalva: existem pessoas que se sentem mais
seguras subindo sozinhas as escadas sem o auxílio do guia, que
deverá retornar ao seu lugar ao término da escada.
6
Descer escadas com guia
• A técnica para descida deverá ser mais criteriosa, já que o corpo
da pessoa com deficiência visual já não traciona como na subida,
ficando literalmente mais “solto”:
• O guia vidente se aproximará da borda da escada, fará uma pausa e
descreverá, para a pessoa com deficiência visual, as características
da mesma, altura, largura dos degraus, se tem patamares,
posicionando-se para a descida;
• A pessoa com deficiência visual deverá manter o centro de gravidade
sobre os calcanhares;
• O guia iniciará a descida, permitindo que o aluno permaneça um
degrau atrás dele;
• No final da escada o movimento natural do braço do guia permitirá
a pessoa com deficiência visual perceber que acabou a descida.
7
Ultrapassagem de portas
• O guia basicamente utilizará os mesmos movimentos indicados
para conduzir a pessoa com deficiência visual, com a diferença
de descrição do tipo de porta e para que lado abre e durante a
passagem pela mesma.
O guia leva seu braço para trás do corpo, fazendo com que
automaticamente a pessoa guiada siga o movimento do braço e
se posicione na mesma direção, levando sua mão à porta. E ao
terminar a passagem, a fecha.
• Quando se depararem com portas que abrem para os dois lados,
cabe ao guia segurá-la até que a pessoa com deficiência visual
possa fazê-lo, para que a mesma não venha atingir a pessoa guiada.
8
Portas giratórias
• Nas portas giratórias, principalmente em bancos, não será possível a
passagem com o guia, portanto a pessoa com deficiência visual deverá
ser posicionada na abertura da porta e manter uma mão no suporte da
porta, empurrando a mesma e mantendo a ponta da bengala apoiada
na lateral interna até a abertura do banco se apresentar.
9
Aproximação pelo encosto da cadeira
• A aproximação da cadeira ocorre como descrito anteriormente.
• A pessoa com deficiência visual estende seu braço para frente para
entrar em contato com o encosto da cadeira.
10
Auditórios
• O guia para na fileira desejada e fornece orientação verbal ao aluno,
que se posicionará ao lado do guia e com passos laterais alcançará
o assento desejado.
• A pessoa com deficiência visual dever tocar com uma das mãos o
braço do guia e evitar tocar com a outra as costas dos encostos da
cadeiras, pois poderá tocar nas pessoas ali sentadas.
11
TÉCNICAS DE PROTEÇÃO
São técnicas que a pessoa com deficiência visual utilizará para
movimentar-se com independência e segurança, em ambientes
internos e familiares, quue não lhe ofereçam riscos.
12
Exploração de ambientes internos
• A pessoa com deficiência visual localizará a
parede e se posicionará paralelamente à ela,
e rastreando a parede com o dorso da mão,
e mantendo o cotovelo levemente flexionado.
• É desejável que a técnica de proteção superior
seja utilizada durante essa exploração, para
que não haja possibilidade de choque com
obstáculos altos, armários por exemplo.
• Antes da exploração é importante que seja descrita para a
pessoa com deficiência visual a configuração dos móveis e/ou
características do ambiente, mantendo como ponto de partida e
referência a porta principal.
Localização de objetos
• Recuperar de forma segura e rápida objetos que venham ao solo.
• A audição é a chave para esse exercício, já que o som causado pelo
objeto caído irá nortear o início da procura pelo mesmo.
• A pessoa com deficiência visual deverá
se deslocar o mais próximo possível do
som que o objeto fez ao cair e abaixar-
se com o tronco reto e com uma das
mãos na posição de proteção superior,
enquanto que com a mão livre faz
movimentos circulares para tentar
detectar o objeto, levantando-se ainda
com a proteção superior para evitar
choques com mesas e ou armários.
13
Técnica de Hoover
Em 1945, um Primeiro Tenente Oftalmologista do exército americano
sentia-se passivo e inoperante diante dos soldados que ficaram cegos
na guerra, pessoas que serviram seu país e agora mal conseguiam
se locomover por estar com a sua mobilidade comprometida. Richard
Hoover, junto com a sua equipe, propôs estudar e tratar o problema
da cegueira e o mecanismo da marcha. Hoover criou um método
revolucionário de locomoção usando um instrumento que lembrava
um bastão. Através do toque desse bastão no solo o soldado podia
perceber as irregularidades do terreno e caminhar em segurança,
assim foi consagrada essa técnica que perdura até os dias de hoje.
A BENGALA E
SUAS PECULIARIDADES
Hoje temos vários tipos de bengalas, sendo as mais comuns as com
o corpo em alumínio, fixas ou desmontáveis, tendo em suas pontas
ponteiras fixas ou deslizáveis.
14
Técnicas com a bengala longa
A bengala longa é uma ferramenta que possui uma importância
muito grande na vida de uma pessoa com deficiência visual, é ela quem
vai proteger de obstáculos, degraus, buracos, e facilitar:
15
Técnica do toque
Consiste em andar utilizando a bengala realizando um arco suspenso
e finalizando com um toque seco em cada lateral com largura maior
que a dos ombros do usuário, para que ele possa se proteger dos
obstáculos à sua volta.
Técnica de deslize
Utilizar a bengala com ponteira fixa ou ponteira deslizável (roller) em
contato permanente com o chão, realizando o arco de forma a cobrir
área superior a largura dos ombros da pessoa com deficiência visual.
A bengala de ponteira fixa só poderá servir para essa técnica em
ambientes internos ou suficientemente lisos para que ocorra o deslize.
16
E daí por diante, cada vez que a pessoa com deficiência visual for
iniciar qualquer deslocamento por mais curto que seja, ela deverá
antes colocar a bengala no seu comprimento à frente do corpo e trazê-
la para si, deslizando no solo enquanto faz um movimento de zig zag
até seus pés, assegurando que não tenha nenhum obstáculo ou objeto
à sua frente.
17
Técnica de bengala para escada
Subir:
Ao iniciar a subida, a pessoa com deficiência visual deverá manter
a bengala reta com a mão oposta à do corrimão da direita e tocar
no degrau da frente um por um até o término da escada, o que será
sinalizado pelo movimento livre da bengala à frente, em conjunto com
a mudança da posição do corrimão.
18
Descer:
A pessoa com deficiência visual deverá se aproximar da escada em
ritmo normal de marcha usando a bengala de forma correta.
Quando a ponta da bengala tocar no primeiro degrau, o aluno deverá
fazer uma exploração com a mesma no sentido horizontal, para ter
certeza de que ele se encontra na posição perpendicular à escada.
Aproveitando esse momento para verificar com a bengala em riste a
altura e largura do primeiro degrau, se assim ele desejar.
Nesse momento deve-se ficar
à direita da escada e procurar o
corrimão, segurando a bengala
com outra mão.
A pessoa com deficiência
visual pode optar por tocar
com a ponta da bengala degrau
por degrau, ou simplesmente
elevar a ponta da bengala e
descer até que a ponta toque o
final da escada.
Na descida a pessoa deve
manter o seu peso concentrado
nos calcanhares para manter
seu centro de equilíbrio.
19
Orientação e mobilidade para crianças
Ainda se questiona a idade ideal para início de OM para crianças,
e através do tempo percebo que a partir do momento em que a
criança tem consciência corporal e se desloca sozinha já podemos
iniciar o treinamento.
20
Transportes públicos
Se torna imprescindível o treinamento da pessoa com deficiência
visual em transportes públicos, com e sem acompanhante.
Já que principalmente os ônibus apresentam configurações
estruturais diferentes, causando muitas dúvidas em seus usuários,
recomendo estudar as linhas
que serão utilizadas pela
pessoa com deficiência visual,
detectando assim o tipo de
ônibus e pedir autorização à
empresa para um treinamento
em ônibus estacionado em
pátio, o que será muito rico.
Já para o trem e metrô, recomendo a mesma coisa: entrar em contato
com as companhias e marcar um treinamento com carros parados na
plataforma. Esse tipo de treinamento causa um efeito também nos
funcionários desses serviços, que entrarão em contato com as reais
necessidades da pessoa com deficiência visual.
Para o cego congênito essa possibilidade de exploração interna e
externa tanto de ônibus como de trens é única, já que no dia a dia das
estações torna-se impossível esse tipo de exercício.
O treinamento de embarque e desembarque nesses transportes
fará a diferença para a autonomia da pessoa com deficiência visual ao
utilizar os serviços.
21
Treinamento em área comercial
Esse treinamento, apesar de simples, é mais um tijolo na construção
da autonomia e independência da pessoa com deficiência visual,
oportunizando a ela a possibilidade de realizar qualquer tipo de compra,
desde que siga as orientações apresentadas.
A orientação básica para esse exercício é chegar ao comércio e
solicitar que seja conduzido até o balcão, onde fará seu pedido.
Dali para o caixa e desse para a calçada, minimizando riscos, inclusive
nos supermercados onde deverá ser acompanhado durante toda a compra.
Drop off
Esse exercício marca o encerramento do programa de orientação e
mobilidade e deverá ser executado com todas as pessoas, independente
de seu resíduo visual, já que põe em prática uma gama de aprendizados
recebidos pela mesma. A pessoa com deficiência visual deverá ser
conduzida pelo especialista, que utilizará meios de distração para
provocar o máximo de desorientação possível, usando os meios de
transporte disponíveis, e deverá ser deixado em ponto desconhecido,
de onde se orientará e voltará para seu ponto de partida sozinho.
Obs: O especialista deverá retornar para o ponto de partida assim
que deixar o aluno, sem nenhum tipo de contato com o mesmo, esse é
o exercício real.
O objetivo é fazer com que a pessoa com deficiência visual utilize tudo
aquilo que aprendeu para realizar essa última proposta, e relatar ao final
suas percepções, dificuldades, facilidades, dúvidas, etc.
Quando realizar esse exercício? A orientação e mobilidade é um
programa sem tempo pré-determinado, portanto deverá ser realizado
quando a pessoa com deficiência visual se mostrar apta para tal.
22
Cão Guia
Essa ferramenta é muito utilizada em todos os países do mundo,
porém devido à complexidade do adestramento do animal, atualmente
no Brasil temos cerca de 100 (cem) cães de trabalho com essa
finalidade, em sua maioria oriundos do exterior.
É importante ressaltar que a condição básica para a aquisição de um
cão desses é ter terminado o programa de orientação e mobilidade com
aproveitamento, já que o animal deverá ser orientado pelo condutor cego.
No Brasil existe a lei federal 11.126/05, que garante ao proprietário de
cão guia legalmente adestrado livre acesso em ambientes de uso coletivo,
salvo áreas de alta assepsia como algumas alas de hospitais, por exemplo.
Não se deve brincar ou oferecer alimento para eles, e o contato
deverá ser feito somente com a autorização do usuário. Toda vez que o
cão guia estiver sem seu peitoral, ele volta a ser um cão normal.
Aí sim, com a anuência de deu dono, você
poderá fazer contato com o mesmo.
O cão guia é treinado para se comportar
em qualquer ambiente, como restaurantes,
transportes públicos, cinemas e etc,
estando sempre aos pés de seu dono.
Aliás, ele é o responsável pelo bem
estar, alimentação, hora do banheiro e
brincadeiras com seu cão de trabalho, que
geralmente após oito anos passa a ser
um cão doméstico, já que sua idade não permite guardar todos os
comandos aprendidos em seu adestramento, aposentando-se.
A maioria das escolas dá a escolha para o usuário manter juntos
esse e o outro cão que virá, depende do desejo de cada um.
23
LBI
Em 2015 foi sancionada no Brasil a Lei nº 13.146, conhecida como
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), ou,
simplesmente como Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Essa lei com 127 artigos contempla direitos para pessoas com
todo tipo de deficiência, se tornando um enorme ganho em sua luta
pela equidade.
A educação das pessoas com deficiência está assim garantida por
força das leis, já que infelizmente ainda nos dias de hoje encontramos
certa resistência por parte de algumas escolas em receber e manter
um aluno com deficiência entre seus discentes.
24
Modelos de documentos
TERMO DE RESPONSABILIDADE DE OM
Eu,________________________________________RG___________________
Registro___________,residente___________________declaro estar ciente
de que só poderei realizar deslocamentos com a bengala longa em ambiente
externo com autorização expressa do especialista em orientação e mobilidade.
Assumo a responsabilidade integral por quaisquer risco ou incidente que
por ventura possam ocorrer pelo descumprimento da orientação acima.
_______________________ _______________________________
Assinatura Cliente Assinatura Familiar / Responsável
AVALIAÇÃO GERAL DE OM
Nome: __________________________________________________________
Registro: ______________________________
1) Já fez OM anteriormente? ( ) Sim ( ) Não
2) Se sim, onde e por quanto tempo? _________________________________
3) Quais são as dificuldades práticas de sua falta / ou perda parcial de visão?
________________________________________________________________
4) Como se desloca atualmente?____________________________________
5) Quais são os medicamentos que utiliza?____________________________
6) Sofre desmaios ou ausências? ( ) Sim ( ) Não
7) Tem diabetes ou pressão alta? ( ) Sim ( ) Não
8) Se sim, estão controladas? ( ) Sim ( ) Não
9) Conhece a bengala longa e seus benefícios? ( ) Sim ( ) Não
10) Tem alguma restrição física para uso da mesma? ( ) Sim Não ( )
25
AVALIAÇÃO PRÁTICA PARA CLIENTES CEGOS
1) Girar o corpo no seu eixo e descrever posições em relação ao especialista.
( ) Realiza ( ) Realiza com dificuldades ( ) Não realiza
2) Caminhar dez passos apenas com referência de voz.
( ) Realiza ( ) Realiza com dificuldades ( ) Não realiza
3) Sentar e levantar-se sem auxílio.
( ) Realiza ( ) Realiza com dificuldades ( ) Não realiza
4) Aferir audição através de teste simples.
( ) Alta acuidade ( ) Média acuidade ( ) Baixa acuidade ( ) Ausência de acuidade
26
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.
Formação de Professor: orientação e mobilidade. Brasília: SEESP/MEC,
2002.
UNESCO and National Library Service for the Blind and Physically
Handicapped. World Braille Usage. Library of Congress, Washington, D.C.,
USA, 1990. 124 p.
Sites importantes
www.fundacaodorina.org.br
www.mec.gov.br
27
Fundação Dorina Nowill para Cegos
Rua Doutor Diogo de Faria, 558
CEP: 04037-001 - São Paulo - SP
Fone: (0xx11) 5087-0999
www.fundacaodorina.org.br
NOV/2018