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Elipse - continuação

MÓDULO 1 - AULA 19

Aula 19 – Elipse - continuação

Objetivos
• Desenhar a elipse com compasso e régua com escala.
Conceitos:
• Determinar a equação reduzida da elipse no sistema de coordenadas Sistemas de coordenadas e
distâncias no plano.
com origem no ponto médio entre os focos e eixo y como o eixo focal.
• Esboçar o gráfico da elipse, fazer translações e identificar os parâmetros
Referências:
a, b, c e também a excentricidade, a partir da equação reduzida. Aulas 13 e 14.

• Determinar as coordenadas dos focos e vértices, a partir da equação


reduzida.
• Localizar pontos do plano com respeito a elipses.
• Aprender a propriedade reflexiva da elipse.

Vimos na Aula 17 que equações do 2o grau nas variáveis x e y, com os


coeficientes de x2 e y 2 números reais não-nulos e iguais, nem sempre eram
cı́rculos. No exemplo abaixo, veremos que equações do 2o grau nas variáveis
x e y, com os coeficientes de x2 e y 2 números reais não-nulos, de mesmo sinal
e valor absoluto distinto, nem sempre são elipses.
Exemplo 19.1
Determinando os subconjuntos do plano definidos pelas equações
4x2 − 8x + 9y 2 + 36y = −40 e 4x2 − 8x + 9y 2 + 36y = −50,
veremos que estes conjuntos não são elipses.
De fato, as duas equações diferem da equação 4x2 − 8x + 9y 2 + 36y = −4
apenas no termo independente de x e y, isto é, a constante.
Procedendo de maneira análoga ao exemplo da elipse de equação
4x2 − 8x + 9y 2 + 36y = −4,
completamos os quadrados em ambas as equações, olhando para os po-
linômios em x e y:
4x2 − 8x + 9y 2 + 36y = −40 ⇐⇒
4(x2 − 2x + 1 − 1) + 9(y 2 + 4y + 4 − 4) = −40 ⇐⇒
4(x − 1)2 − 4 + 9(y + 2)2 − 36 = −40 ⇐⇒
4(x − 1)2 + 9(y + 2)2 − 40 = −40 ⇐⇒
4(x − 1)2 + 9(y + 2)2 = 0,
como a soma de quadrados de números reais é sempre um número real maior
ou igual a zero, temos que a única solução da primeira equação é x − 1 = 0
e y + 2 = 0;

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4x2 − 8x + 9y 2 + 36y = −50 ⇐⇒


4(x2 − 2x + 1 − 1) + 9(y 2 + 4y + 4 − 4) = −50 ⇐⇒
4(x − 1)2 − 4 + 9(y + 2)2 − 36 = −50 ⇐⇒
4(x − 1)2 + 9(y + 2)2 − 40 = −50 ⇐⇒
4(x − 1)2 + 9(y + 2)2 = −10,
como as parcelas do lado esquerdo desta equação são maiores ou iguais a
zero, não existem números reais x e y que a satisfaçam.
Portanto, apenas o ponto (1, −2) é solução da primeira equação e o conjunto
solução da segunda equação é o conjunto vazio.

Cuidado!
Como acabamos de verificar, a equação
b2 x2 + a2 y 2 + dx + f y + g = 0, 0 < b < a,
nem sempre representa uma elipse, podendo ter como solução um único ponto
ou o conjunto vazio.
Geralmente, para determinar o conjunto solução desta equação, você
deve completar os quadrados na equação, repetindo o que foi feito no exem-
plo anterior.
Exemplo 19.2
Vamos descrever um procedimento para construir, usando compasso e régua
com escala, a elipse de equação
x2 y 2
+ 2 = 1, onde b < a.
a2 b
Cı́rculos concêntricos são (1) Construa dois cı́rculos concêntricos na origem, C e C 0 , de raios a e b,
cı́rculos com o mesmo centro.
respectivamente. Veja a Figura 19.1.
(2) Marque um ângulo θ com 0o ≤ θ ≤ 360o , a partir do eixo x no sentido
anti-horário, definindo um segmento de reta começando na origem.
(3) Este segmento de reta intersecta C em A e intersecta C 0 em B. Veja a
Figura 19.2.

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Figura 19.1: Cı́rculos centrados na origem Figura 19.2: Semi-reta determinada


de raios a e b. por θ.

(4) Construa as retas r vertical passando por A e s horizontal passando por


B.
Os pontos P da elipse são determinados por (veja a Figura 19.3)
{ P } = r ∩ s.

x2 y2
Figura 19.3: Construção da elipse a2 + b2 = 1 com compasso e régua com escala.

Seguindo o roteiro anterior, faça a construção, com compasso e régua com


x2 y2
escala, da elipse de equação + = 1. Neste caso, a = 3 e b = 2.
9 4
Por que esta construção funciona?
Lembre que...
x2 y2 cos2 θ + sen2 θ = 1 ,
Observe que P = (x, y) está na elipse de equação 2 + 2 = 1
a b para todo θ.
 x 2  y 2
⇐⇒ + =1
a b
x y
⇐⇒ = cos θ e = sen θ, para algum θ com 0 ≤ θ ≤ 360o
a b
⇐⇒ x = a cos θ e y = b sen θ, para algum θ com 0 ≤ θ ≤ 360o
⇐⇒ {P = (x, y)} = r ∩ s, onde r tem equação x = a cos θ e s tem
equação y = b sen θ, para algum θ com 0 ≤ θ ≤ 360o .

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Observação:
Para escrevermos uma equação, em primeiro lugar, fixamos um sis-
tema de coordenadas. Sabemos esboçar o gráfico da parábola quando a sua
equação é obtida nos sistemas de coordenadas com os eixos coordenados esco-
lhidos paralelos ao eixo focal e à diretriz. No caso da elipse, sabemos esboçar
o seu gráfico quando a sua equação é obtida nos sistemas de coordenadas com
eixos paralelos aos seus eixos de simetria. Nosso estudo da elipse levou em
conta a escolha do sistema de coordenadas, onde a origem é o ponto médio
entre os focos, situados no eixo x a uma distância 2c, e a medida do eixo
maior é 2a, determinado pelos vértices, situados também no eixo x.
Poderı́amos ter escolhido o sistema de coordenadas com a origem no
ponto médio entre F1 e F2 , o eixo y como o eixo focal, orientado de O para
F2 , e o eixo x perpendicular ao eixo focal com uma orientação conveniente.
Neste caso, há uma reversão dos papéis das variáveis x e y (verifique), dando
lugar à equação reduzida
x2 y 2
+ 2 = 1, onde b < a,
b2 a

pois b2 = a2 − c2 , sendo os focos F1 = (0, −c) e F2 = (0, c), os vértices


A1 = (0, −a) e A2 = (0, a) e as extremidades do eixo menor B1 = (−b, 0)
e B2 = (b, 0). Veja a Figura 19.4, onde à direita está o gráfico da elipse
2
x2
b2
+ ya2 = 1, com b < a.

x2 y2 x2 y2
Figura 19.4: Gráficos das elipses a2 + b2 =1e b2 + a2 = 1, com b < a.

Exemplo 19.3
Determinemos a excentricidade da elipse de equação
16x2 − 96x + 9y 2 − 36y + 36 = 0.

Para isto, precisamos de c e a, onde 2c é a distância focal, 2a é o compri-


mento do eixo maior, 2b é o comprimento do eixo menor e b2 = a2 − c2 . Para

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acharmos a equação reduzida da elipse dada, reescrevemos a sua equação


como
16(x2 − 6x) + 9(y 2 − 4y) + 36 = 0.
Completando os quadrados, temos
16(x2 − 6x + 9 − 9) + 9(y 2 − 4y + 4 − 4) + 36 = 0,
que é equivalente a
16(x2 − 6x + 9) − 16 · 9 + 9(y 2 − 4y + 4) − 9 · 4 + 36 = 0.
Escrevendo os quadrados, obtemos
16(x − 3)2 − 144 + 9(y − 2)2 − 36 + 36 = 0.
Assim,
16(x − 3)2 + 9(y − 2)2 = 144.
Dividindo por 144, temos a equação reduzida
(x − 3)2 (y − 2)2
+ = 1.
9 16
√ √ √
Portanto, a = 16√ = 4, b = 9 = 3, c2 = a2 − b2 = 16 − 9 = 7 e c = 7.
c 7
Logo, e = = . Observe que o centro desta elipse é C = (3, 2), os
a 4 √ √
focos são os pontos F1 = (3, 2 − 7) e F2 = (3, 2 + 7) e os vértices são
A1 = (3, −2) e A2 = (3, 6). Além disso, as extremidades do eixo menor
são os pontos B1 = (0, 2) e B2 = (6, 2). Basta transladar de 3 unidades as
abcissas e de 2 unidades as ordenadas dos focos, vértices e extremidades do
x2 y2
eixo menor da elipse + = 1.
9 16

x2 y2 (x−3)2 (y−2)2
Figura 19.5: Gráficos das elipses 9 + 16 =1e 9 + 16 = 1.

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2 2
De modo geral, a elipse xb2 + ay2 = 1, com b < a, tem centro (0, 0) e eixos
de simetria x = 0 e y = 0. Quando esta elipse é transladada de h unidades,
horizontalmente, e de k unidades verticalmente, uma elipse congruente é
obtida tendo equação
(x − h)2 (y − k)2
+ = 1.
b2 a2
O centro (0, 0) é transladado para (h, k) e os focos, os vértices, as
extremidades do eixo menor e os eixos de simetria são transladados como
indicado a seguir:
x2 y2 (x − h)2 (y − k)2
+ =1 + =1
b2 a2 b2 a2
centro: (0, 0) −→ (h, k)
focos: (0, c) e (0, −c) −→ (h, c + k) e (h, −c + k)
vértices: (0, a) e (0, −a) −→ (h, a + k) e (h, −a + k)
extremidades
do eixo menor : (b, 0) e (−b, 0) −→ (b + h, k) e (−b + h, k)
eixos de simetria: x = 0 e y = 0 −→ x=hey=k
Note que a translação não afeta a excentricidade, porque a translação
não deforma a figura.

A elipse também tem uma propriedade


reflexiva interessante: se uma fonte, de luz ou
som, está em um dos focos, as ondas de luz
ou sonoras se refletirão na elipse e incidirão
no outro foco, conforme ilustrado na figura ao
lado. Figura 19.6: Numa elipse, raios
que saem de um foco incidem,
Exemplo 19.4 após refletidos, no outro foco.
De modo análogo ao cı́rculo, toda elipse divide
o plano em dois subconjuntos disjuntos. Fixe-
(x − 1)2 (y − 2)2
mos a elipse E com equação + = 1.
1 4

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Os pontos P = (u, v) que não estão na elipse E


(u − 1)2 (v − 2)2
satisfazem + 6= 1. Por exemplo,
1 4
os pontos A = (1, 3) e B = (2, 5). Já que
(
1
(u − 1)2 (v − 2)2 4
, se (u, v) = (1, 3),
+ = 13
1 4 , se (u, v) = (2, 5).
4

Observe que A está no interior de E e que B está


no exterior de E. Os pontos P = (u, v) tais que
(u − 1)2 (v − 2)2
+ < 1 são ditos pontos interiores
1 4
à elipse E. Por outro lado, os pontos P = (u, v)
Figura 19.7: Pontos interior
2 (u − 1)2 (v − 2)2
e exterior à elipse (x−1)
1 + tais que + > 1 são ditos pontos
(y−2)2
1 4
4 = 1. exteriores à elipse E.

A elipse divide o plano em dois subconjuntos disjuntos, chamados in-


terior e exterior da elipse.
(x − h)2 (y − k)2
Considere a elipse com equação + = 1, onde a e b são
a2 b2
números reais distintos não-negativos. Se P = (u, v) é um ponto qualquer
do plano, então

(u − h)2 (v − k)2
P está no interior da elipse ⇐⇒ + < 1.
a2 b2
(u − h)2 (v − k)2
P está na elipse ⇐⇒ + = 1.
a2 b2
(u − h)2 (v − k)2
P está no exterior da elipse ⇐⇒ + > 1.
a2 b2

Resumo
Você aprendeu a desenhar a elipse com compasso e régua com escala; a
determinar os parâmetros a, b e c da elipse, com a equação reduzida obtida no
sistema de coordenadas, onde o eixo y é o eixo focal e a origem é o seu centro
de simetria; a esboçar o gráfico da elipse e a fazer translações; a determinar
as coordenadas dos focos, dos vértices e do eixo menor; o significado da
excentricidade e a determiná-la; a localizar pontos do plano com respeito a
elipses; além disso, agora sabe a propriedade reflexiva da elipse.

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Exercı́cios

1. Esboce o gráfico das elipses:

x2 y2 (x − 1)2 (y + 2)2
(a) + =1 (d) + =1
9 16 4 9
x2 y2 (e) 16(x − 1)2 + 9(y − 2)2 = 144
(b) + =1
1 4 (f) 9(x + 2)2 + 4(y − 3)2 = 36
x2 y2
(c) + =1 (g) 25x2 + 9y 2 = 225
4 9

2. Considere as elipses do exercı́cio anterior. Determine:


(a) as coordenadas dos focos e dos vértices,
(b) a excentricidade,
(c) as coordenadas das extremidades do eixo menor.

3. Determine a equação reduzida da elipse, satisfazendo a propriedade


dada:
(a) Centro (0, 0), eixo maior vertical de comprimento 8 e eixo menor
de comprimento 6.
(b) Focos (0, ±3) e vértices (0, ±5).
(c) Os pontos limitantes dos eixos maior e menor são, respectivamente,
(1, 3), (1, 9) e (−1, 6) e (3, 6).
(d) Centro (2, −3), eixo menor de comprimento 6, eixo maior de com-
primento 10, sendo o eixo maior vertical.
(e) Focos (4, −2) e (4, 6), eixo menor de comprimento 8. 
√ 
3 3
(f) Centro (0, 0), um vértice em (0, −4) e passa pelo ponto 2
,2 .

4. Identifique os seguintes subconjuntos do plano e, no caso de ser uma


elipse, determine as coordenadas do centro, vértices e focos:
(a) A = { (x, y) | 16x2 + 64x + y 2 − 4y + 52 = 0 }.
(b) B = { (x, y) | 4x2 − 8x + 9y 2 − 36y + 4 = 0 }.
(c) C = { (x, y) | 16x2 + 64x + y 2 − 4y + 68 = 0 }.
(d) D = { (x, y) | 4x2 − 8x + 9y 2 − 36y + 44 = 0 }.

5. Construa a elipse 4x2 +16y 2 = 16, usando compasso e régua com escala
e seguindo o roteiro dado.

6. Escreva um roteiro para construir, com compasso e régua com escala,


x2 y2
a elipse com equação 2 + 2 = 1, com b < a.
b a
Sugestão: escolha o ângulo θ medido a partir do eixo y no sentido
anti-horário e se inspire no roteiro dado nesta aula.

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7. Usando o roteiro do exercı́cio anterior, esboce o gráfico da elipse com


equação 9x2 + y 2 = 9.

8. Sejam E = { (a, b) | (a, b) é ponto interior à elipse 4x2 + 9y 2 = 36 } e


E 0 = { (a, b) | (a, b) é ponto exterior à elipse 9x2 + y 2 = 9 }. Dados os
 
pontos A1 = 2, − 21 , A2 = (−1, 2), A3 = − 32 ,  − 21 , A4 = (−2, 3),
  √ √ 
A5 = 12 , − 23 , A6 = 23 , − 32 , A7 = 4 3 2 , 3 2 e A8 = − 65 , − 67
determine:
(a) Quais pertencem a E.
(b) Quais pertencem a E 0 .
(c) Quais pertencem a E ∪ E 0 .
(d) Quais pertencem a E ∩ E 0 .

9. Considere a elipse com equação 9x2 + 36x + 4y 2 − 24y + 36 = 0.


Determine a maior e a menor abcissa, assim como a maior e a menor
ordenada, entre todos os pontos desta elipse.
Sugestão: observe o gráfico da elipse e estude a equação da elipse.

Auto-avaliação
Se você sabe determinar a equação reduzida da elipse, a partir das
propriedades geométricas; esboçar o gráfico da elipse, usando a sua equação
reduzida; determinar as coordenadas dos vértices, dos focos e das extremi-
dades do eixo menor, a partir da equação reduzida, então pode passar para
a próxima aula. Vamos para a Aula 23 estudar a hipérbole, que também
satisfaz uma interessante propriedade reflexiva!

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