152-Texto Do Artigo-284-1-10-20180301
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Transição de governo na
administração pública municipal:
Descrição e análise dos resultados de
uma pesquisa aplicada em municípios
paulistas nas eleições de 2012
Mayoral transition in the municipal government:
Description and analysis of the results of an
applied research in municipalities of the state of
São Paulo in the 2012 elections
Maria do Carmo M. Toledo Cruz1
Fernando de Souza Coelho2
Silvia Maura Trazzi Seixas3
Celso Torquato Junqueira Franco4
1. Introdução
A temática da transição é comumente tratada pela Ciência Política
brasileira a partir das alternâncias de regime político no país, com destaque
para a análise da experiência de transição da ditadura militar para o processo
de redemocratização entre o final dos anos 1970 e a instauração da Nova
República em meados da década de oitenta. Neste sentido, a transição, de
conotação política, se posta como uma etapa não permanente entre duas ordens
– ou seja, o processo de mudança do autoritarismo para a democracia.
Não obstante, a transição, na acepção de governo, é um objeto de estudo
inexplorado pela área de administração/gestão/políticas pública(s) no Brasil –
5Um livro publicado anteriormente e bastante divulgado por entidades ligadas à gestão pública
municipal (associações de municípios e frente de prefeitos) é o de Pereira (2004), intitulado
Governar o município: antes e depois da posse.
6 O Cepam – Fundação Prefeito Faria Lima –, criado em 1967 e instalado em 1968, foi um centro
de estudos e pesquisas de administração municipal que integrou o sistema de planejamento e
gestão pública do governo do Estado de São Paulo por 47 anos. Neste período, apoiou os
municípios paulistas na gestão e políticas públicas locais com pesquisas aplicadas, pareceres
técnicos, assessorias e treinamento/desenvolvimento de agentes políticos e funcionários
públicos. Foi extinto em 2015, sob a alegação de redução de custos do governo estadual.
consolidada. O artigo de Spicer e Graham (2016) afirma que, no caso canadense, “ at the
municipal level, the use of transition teams is relatively new” (p. 1). O relatório de Riddell e
Haddon (2009) apresenta – brevemente – alguns casos de transição de prefeitos em cidades de
países anglo-saxônicos e mostra que o processo é bem menos estruturado do que nos governos
centrais.
9 Por exemplo, as dissertações em desenvolvimento dos mestrandos em Administração Pública
10Uma tecnologia de gestão pública é um método, técnica ou ferramenta criada para solucionar
algum problema macrogovernamental ou organizacional no setor público. Considerando a
heterogeneidade da administração pública municipal e a prevalência de municípios de pequeno
porte no país, deve ser, preferencialmente, um processo simples, de baixo custo e fácil
aplicabilidade (e replicabilidade) e que pode gerar resultados (impactos/efeitos) políticos,
sociais, administrativos e/ou econômicos positivos.
12Na acepção lato sensu de uma forma de investigação-ação, e no caso deste projeto de pesquisa
como uma tentativa continuada, sistemática e empiricamente fundamentada de aprimorar a
prática da transição de governo nos municípios paulistas. Para um compêndio sobre a pesquisa-
ação como tipo de pesquisa social, ver Tripp (2005).
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados do Diagnóstico Cepam 2011
com população até 15 mil habitantes e 64% dos municípios de 15.001 a 40 mil
habitantes não responderam a survey e, portanto, o diagnóstico trabalhou com
um percentual menor de municípios de pequeno e médio porte. Ademais, não
foi possível inferir se as prefeituras que não responderam o questionário não
dispunham de instrumento de transição de governo.
cada faixa
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados do Diagnóstico Cepam 2011
bem como os programas e projetos eram caracterizados por função, com seus
valores (orçamento) e contrapartida municipal. Na gestão de pessoas buscou-se
mapear a quantidade de funcionários (efetivos, em comissão e terceirizados)
por área e setor. Na gestão financeira era detalhada a evolução das receitas e
dos gastos públicos no decorrer dos quatro anos. Outro grupo de informações
objeto de bastante atenção da equipe de transição refere-se aos convênios e
parcerias (termo de parceria, contrato de gestão, subsídios, etc.) e os contratos
administrativos; vale destacar que no período que precede a posse, baseadas
nessas informações, medidas poderiam ser tomadas em relação aos contratos
que findavam nas últimas semanas (ou nos últimos dias) do mandato e que,
indubitavelmente, comprometeriam a continuidade da prestação de serviços.
Além do mais, para facilitar o trabalho da futura equipe que assumiria a
prefeitura, também eram listadas as providências que deveriam ser tomadas
nos primeiros 90 dias de gestão do prefeito recém-eleito e outras informações
adicionais consideradas relevantes pela atual equipe.
Para aplicar/testar o instrumental desenvolvido pelo Cepam para a TGM
foi realizado um projeto-piloto nos municípios da Amensp, a partir do primeiro
semestre de 2012. Inicialmente, houve um processo de sensibilização dos
prefeitos e estruturou-se o trabalho com: a realização de oficinas regionais que
promoviam a cooperação entre os municípios, a revisão do material elaborado
(planilhas) e a troca de informações sobre o processo de levantamento dos
dados. Após as eleições, as oficinas focaram a integração das equipes de
transição de governo considerando as dificuldades de relacionamento pelas
adversidades políticas, bem como a elaboração do Relatório de Transição de
Governo (Junqueira Franco, 2013).
O projeto-piloto na Amensp, com a contribuição de prefeitos e burocratas
de alguns municípios dessa associação, foi fundamental para a adequação do
modelo de projeto de lei e das planilhas setoriais, permitindo que o
instrumental fosse ajustado e, então, disponibilizado pelo Cepam (e pela REDE
14Ordem de Serviço é um documento, tal como um manual, que formaliza como um serviço deve
ser executado, prevendo o fluxo de trabalho, os recursos do processo e as funções dos
servidores públicos. Entretanto, é um instrumento frágil se compara ao enforcement da lei
municipal.
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados do Diagnóstico Cepam 2011 e
Pesquisa 2013
6. Considerações Finais
O artigo desvela, a partir de uma pesquisa-ação realizada pelo Cepam
com municípios paulistas entre os anos de 2011 e 2013, que o processo de
transição de governo no poder local brasileiro é tenro e, portanto, incipiente,
carecendo de institucionalização no Poder Executivo municipal.
Diversos são os fatores que, hipoteticamente, podem explicar a ausência
ou insuficiência de transição de governo democrática nos municípios e reforçar
a autoimagem da alternância de poder como um processo de antigovernança
marcado pela tensão política, por descontinuidades administrativas e por
prejuízos sociais (como desperdícios econômico-financeiros e interrupções de
serviços públicos) nesse nível de governo. Características sociopolíticas e
culturais da politics brasileira permitem interpretar – conjecturalmente – a
intransição como resultado: (a) da recenticidade do regime democrático no
país; (b) da permanência do coronelismo e de disputas políticas entre famílias
no poder local, (c) do personalismo da gestão pública local ancorada no(a)
prefeito(a) e potencializada pela organização de diretórios de partidos políticos
nos municípios como legendas não programáticas; (d) da baixa capacidade
15 Cabe frisar que existem alguns casos de municípios paulistas – como Araraquara – que
realizaram processos de transição de governo bastante satisfatórios sem qualquer previsão
legal ou institucionalização de instrumento normativo.
16Foram 7.098 visualizações do texto Transição de Governo nos Municípios Paulistas – Projeto-
Piloto, publicado em março de 2012; 8.057 do documento Transição de Governo nos Municípios
Paulistas – volume 1, publicado em agosto de 2012; 7.995 do documento Transição de Governo
nos Municípios Paulistas – volume 2, publicado em agosto de 2012; e 2.483 da cartilha
Transição de Contas, publicado em novembro de 2012. Dados coletados em março de 2013.
Referências