Jazigos Hidrotermais-1

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 7

Jazigos Hidrotermais

Jazigos Hidrotermais

Os depósitos originados a partir de soluções quentes são muito abundantes,


mineralizações desse tipo normalmente ocorrem a grandes profundidades, seja
na crosta continental ou no fundo do mar. Milhões de anos depois de formados,
quando as rochas são expostas a superfície pela ação dos processos de
soerguimento do terreno e erosão, as soluções hidrotermais responsáveis pela
formação e deposição dos metais deixam de existir.

Os depósitos hidrotermais são classificados em:

(i) singenéticos, são formados ao mesmo tempo que as rochas hospedeiras;

(ii) epigenéticos, o minério é depositado após a formação das rochas


hospedeiras ou após outros eventos mineralizantes.

O principal componente de uma solução hidrotermal é a água, porém a água por


si só não é capaz de dissolver metais, por isso normalmente ela é saturada em
gases e contem sais dissolvidos como NaCl, KCl, CaSO4 e CaCl2.

A concentração de sais é variável, podendo ser igual a da água do mar (em


torno de 3,5%) até cerca de 35%. Tais salmouras, quando aquecidas, são
capazes de dissolver pequenas quantidades de elementos químicos, tais como
Au, Ag, Cu, Pb, Zn entre outros.
 

Origens dessas águas


 

As águas que constituem os principais solventes das soluções hidrotermais


podem ser derivadas de:

(i) sistemas magmáticos que se estabelecem a pequenas, médias e grandes


profundidades na crosta;

(ii) de fontes meteóricas (água da chuva, neve, gelo etc.); e

(iii) do próprio oceano (água do mar).

Causas da Precipitação de Metais


Essas águas ricas em sais e gases, quando quentes, tem maior capacidade de
dissolver metais do que quando estão frias.

A medida que esse líquido percorre seu caminho até níveis superiores da crosta,
vai perdendo calor e ocorre a precipitação do metais que passam a fazer parte
das rochas encaixantes ali presentes. Esse processo gera um corpo de minério,
porém para que ele seja efetivo deve ocorrer continuamente por longos anos.

Depositos de Au, Ag e Sulfetos em Veios de Quartzo


 

Os corpos de minério que ocorrem sob forma de veios contem normalmente


excesso de quartzo em suas partes centrais e zonas de alteração hidrotermal em
arranjos laterais simétricos, que foram gerados pela interação fluido-rocha
(Figura 1).
Figura 1: Representação esquemática de um veio de quartzo contendo minério do
tipo maciço e disseminado. Essa é a principal forma de ocorrência de mineralizações
epigenéticas de origem hidrotermal como, por exemplo, os depósitos de
ouro+sulfetos. Notar os padrões de alteração hidrotermal de intensidades diferentes
que se desenvolvem de modo simétrico em relação à zona do veio central, que
corresponde ao canal principal do fluido mineralizante. A alteração hidrotermal é
resultante da interação entre o fluido hidrotermal e a rocha encaixante, e sua
intensidade decresce do centro para as bordas.

Os depósitos minerais em veios de quartzo são epigenéticos e apresentam


geometrias complexas e distribuição errática de teores. Incluem a maioria dos
depósitos de ouro e de prata do mundo e alguns depósitos de cobre e zinco. Os
minerais de minério são Au e Ag nativos, sempre acompanhados de sulfetos
(pirita, calcopirita, arsenopirita, bismutinita, molibdenita) e teluretos (calaverita –
AuTe2 e silvanita – Ag, Au Te2).

O maior sistema de veios auríferos conhecido é o complexo de Golden Mile,


localizado em Kalgoorlie, Austrália, que contém mais de 1.820 toneladas de ouro
metálico. O deposito de Hollinger-McIntyre, localizado em Timmins, Ontario,
Canadá, e o segundo maior sistema de veios auríferos do mundo, com cerca de
990 toneladas de ouro metálico (Dube e Gosselin 2005).

Existem em Mozambique vários depósitos minerais em veios de quartzo, dentre


os quais se destacam as minas de ouro de Manica, ouro no Niassa nas zonas
Lupilichi, Mpapa.
 

Depositos de Cu, Pb e Zn em Sulfetos Macicos Vulcanogênicos (SMV)


 

Concentrações de sulfetos de metais-base (cobre, chumbo e zinco) que se


formam no fundo oceânico em decorrência da mistura de soluções
mineralizantes quentes (350°C) com a água do mar (4°C) são chamados
depósitos de sulfetos macicos vulcanogênicos.

A água se infiltra na crosta oceânica, assim ela começa a ser aquecida pelas
câmaras magmáticas o que ocasiona em um movimento de convecção que faz a
água quente reagir com as rochas percoladas, extraindo assim os metais das
encaixantes. Com o contínuo movimento de convecção os metais são levados
até a superfície e ao entrar em contato com a água do mar tendem a diminuir
sua temperatura e precipitar em forma de sedimentos químicos (Figura 2).

Figura 2: Modelo teórico de um sistema convectivo de circulação de fluidos


hidrotermais operando ao redor de uma dorsal meso-oceânica. A água do mar se
infiltra na crosta e é aquecida pelo calor emanado da câmara magmática. Uma
célula de convecção é criada, dentro da qual a água quente reage com as rochas
profundas extraindo metais. Os metais dissolvidos são transportados para cima. O
decréscimo súbito de temperatura causado pela mistura da solução mineralizante
com a água do mar causa a precipitação dos minerais de minério e de ganga.
Depósitos de sulfetos maciços vulcanogênicos de metais-base (cobre, chumbo e zinco)
podem se formar nas zonas de descarga
hidrotermal, chamadas fumarolas negras (black smokers).

Depósitos do tipo SMV são singenéticos e ocorrem em todos os domínios


tectônicos que contenham rochas vulcânicas como importantes constituintes.
Esses depósitos são algumas das principais fontes de Cu e Zn, contendo,
frequentemente, concentrações significativas de Au, Ag, Pb, Se, Cd, Bi, Sn e
alguns outros metais.
Aproximadamente 80% dos depósitos do tipo SMV do mundo ocorrem em arcos
vulcânicos e os 20% restantes em sucessões ofiolíticas, geralmente
representadas por riftes de retroarco ou riftes de bacias marginais.

Em termos de estatística mundial, os depósitos SMV tendem a ser pequenos,


variando de 8 a 10 milhões de toneladas (Mt), com teores no intervalo de 5% a
8% de Cu + Pb + Zn. Existem, porém, depósitos gigantes (> 50 Mt), a exemplo
de Kidd Creek, Flin Flon e New Brunswick, no Canadá, além dos distritos de Rio
Tinto, na Espanha, e Neves Corvo em Portugal.

Várias classificações foram propostas para depósitos do tipo SMV, dependendo


da composição litológica das rochas subjacentes (footwall) e do ambiente
geotectônico, porém estes não serão tratados com detalhes neste texto.

Depositos de Zn, Pb e Ag em Sedimentos Exalativos (SEDEX)


 

Os depósitos SEDEX constituem corpos tipicamente tabulares, compostos


principalmente por minérios de zinco, chumbo e prata contidos em esfalerita e
galena e intercalados com níveis de sulfetos de ferro e também com estratos de
rochas sedimentares.

As mineralizações são depositadas em fundos de mares, associadas com


complexos exalativos de fluidos hidrotermais liberados em bacias sedimentares
com ambiente redutor, dentro de riftes continentais.

A formação da maioria desse tipo de depósito concentrou- se no intervalo do


Mesoproterozoico até o Carbonífero.

Os exemplos mais importantes de depósitos Sedex são:

(i) depósitos de Red Dog, Alaska, EUA;

(ii) Rampura (India);

(iii) Changba (China);

(iv) Mount Isa, Century, McArthur River e Broken Hill, Austrália; e

(v) depósitos de Sullivan, Columbia Britânica, Canadá.

Depósitos de Zn e Pb do Tipo Vale do Mississipi (DVM)


 
Depósitos do tipo Vale do Mississipi constituem concentrações de zinco e
chumbo em rochas sedimentares carbonárias, normalmente calcários e
dolomitos. Os minerais de minério são esfalerita e galena, geralmente
associados com sulfetos de ferro (pirita e marcassita). Como acessórios,
ocorrem barita, gipsita e fluorita.

Os sulfetos normalmente são disseminados, ocorrendo preferencialmente em


poros abertos, cavidades (vugs) e em zonas de veios (Figura 3).

Figura 3: Compartimentação geotectônica de depósitos de sulfetos maciços


relacionados a sistemas hidrotermais submarinos (Depósitos de Sulfetos Maciços
Vulcanogênicos ‒ SMV e Depósitos em Sedimentos Exalativos ‒ SEDEX).

Os minérios econômicos são constituídos de sulfetos em camadas maciças a


semimaciças, substituindo calcita e dolomita.

Os maiores depósitos do tipo MVT formaram-se desde o Cambriano até o


Terciário. Antes da descoberta dos depósitos de Red Dog, no Alasca, e ao longo
dos últimos 100 anos, os depósitos tipo DVM foram as principais fontes de Pb e
Zn na América do Norte como, por exemplo, os distritos do sudoeste do
Wisconsin, Tri-State (Missouri-Oklahoma-Kansas), Old Lead Belt e Viburnum
Trend, Missouri (USA), distritos de Pine Point, no Território do Oeste do Canadá.

Um exemplo brasileiro de mineralização do tipo DVM e o deposito de Zn-Pb de


Morro Agudo (MG).

Depósitos de Zn do Tipo Irlandês (IRISH)


 

Os depósitos IRISH da área-tipo (Midlands da Irlanda) formam um dos maiores


distritos zincíferos do mundo. São depósitos que misturam características de
depósitos tipo MVT com as de depósitos do tipo SEDEX.
Individualmente, os depósitos IRISH são maiores do que os depósitos MVT, com
reservas de minério que variam entre 0,1 e 70 Mt como, por exemplo, o depósito
de Navan, na Irlanda. Os depósitos do tipo Irlandês compartilham das seguintes
características:

• Ocorrem preferencialmente nas unidades estratigráficas mais inferiores,


carbonáticas e não argilosas.

• Ocorrem ao longo de, ou imediatamente adjacentes a, falhas normais, as quais


formaram os condutos para
fluidos hidrotermais ascendentes. A mineralização se estende até a distância
máxima de 400 m a partir das falhas, distância essa que normalmente não
ultrapassa 200 m.

• Esfalerita e galena são os sulfetos principais. Os sulfetos de ferro ocorrem em


concentrações variáveis. A barita está presente em todos os depósitos, variando
desde a fase dominante até um constituinte menor. Muitos depósitos contêm
tenantita, calcopirita e/ou sulfossais de Pb-Cu-Ag-Ascomo constituintes menos
importantes.

• As mineralizações são estrato-controladas e muitas apresentam morfologias


estratiformes de larga escala.

• A textura da mineralização sulfetada é complexa, variando desde a substituição


da rocha encaixante por sulfetos anedrais e coloformes até o preenchimento de
cavidades por sulfetos coloformes ou cristalinos, de granulação média a grossa.

• A origem da mineralização está relacionada à mistura de fluidos metalíferos


moderadamente salinos, ligeiramente
ácidos e relativamente pobres em enxofre, com fluidos relativamente ricos em
enxofre, que parecem derivados da água do mar..

Você também pode gostar