A Doença Como Linguagem Da Alma Na Criança
A Doença Como Linguagem Da Alma Na Criança
A Doença Como Linguagem Da Alma Na Criança
LINGUAGEM DA
ALMA NA CRIANÇA
Rüdiger Dahlke
Vera Kaesemann
A DOENÇA COMO
LINGUAGEM DA
ALMA NA CRIANÇA
Interpretação e significado de quadros
clínicos
em crianças e seu tratamento holístico
Tradução
KARINA JANNINI
Título original: Krankheit als Sprache der Kinderseele.
Copyright © 2009 C. Bertelsmann Verlag, uma divisão da Verlagsgruppe Random
House GmbH, Munique, Alemanha.
Copyright da edição brasileira © 2014 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
Texto de acordo com as novas regras ortográficas da língua portuguesa.
1ª edição 2014.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
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Editor: Adilson Silva Ramachandra
Editora de texto: Denise de C. Rocha Delela
Coordenação editorial: Roseli de S. Ferraz
Produção editorial: Indiara Faria Kayo
Assistente de produção editorial: Estela A. Minas
Editoração Eletrônica: Join Bureau
Revisão: Liliane S. M. Cajado e Nilza Agua
Produção de ebook: S2 Books
Capa
Folha de rosto
Ficha catalográfica
Dedicatória
1 Introdução
1.1 Como surgiu este livro
1.2 Como usar este livro
1.3 A utilização de medicamentos homeopáticos
1.4 Sobre “os riscos e os efeitos colaterais” deste
livro!
2 Fundamentos gerais
2.1 Amor como fundamento da vida
2.2 Critérios da infância
2.2.1 O afeto dos pais
2.2.2 Critérios da puberdade e da
juventude como marcos deste livro
2.2.3 Problemas sociais
2.3 Três pilares da saúde
2.3.1 Alimentação
2.3.1.1 Leite materno como alimento e
remédio
2.3.1.2 A alimentação infantil
2.3.1.3 Outras dicas de alimentação para
uma vida saudável
2.3.1.4 A alimentação da criança doente
2.3.2 Movimento
2.3.3 Relaxamento
2.4 Contato físico como base da vida
2.4.1 Desenvolvimento da inteligência e
contato físico
2.4.2 A criança imatura
2.4.3 Contato físico e amamentação
2.4.4 Terapia através da pele
2.4.5 O “método canguru”
2.4.6 Do Reiki ao Deeksha – imposição das
mãos e bênção
2.4.7 Moderna magia por contato
2.5 Pais e filhos no espelho da alma
2.6 Filhos e sugestão ou A história da verruga-mãe
2.7 Proibições e o desenvolvimento cerebral
2.8 A Lua – o princípio primário da infância e do
aspecto materno
2.9 Educação
2.9.1 Campos que geram formas
2.9.2 Formação do caráter através de
exemplos
2.10 Ferramentas para os pais entenderem melhor
os filhos
2.10.1 A família representada em figuras de
animais
2.10.2 Desenhando a figura de uma ilha
2.10.3 Colocando ou desenhando a família
em figuras
2.11 Conversando com Deus ou rezando antes de
dormir
2.12 Meditações induzidas
2.13 Ritmos e rituais
2.14 Confiança no reino mágico-mítico
2.15 As regras do jogo da vida
2.16 Exercícios para o crescimento, o
desenvolvimento e o bem-estar
2.16.1 Riso
2.16.2 Exercícios de confiança
2.16.3 Todo dia uma boa ação ou espírito
de equipe para iniciantes
2.16.4 Animais como companheiros de vida
2.16.4.1 Os animais e o sétimo sentido
2.16.4.2 Animais como terapeutas
2.16.5 Encontrando o próprio animal totem
2.17 Terapias especiais para crianças
2.17.1 Constelação familiar sistêmica
segundo Hellinger
2.17.2 Essências florais para crianças
2.17.3 Superando o trauma por meio dos
movimentos oculares
2.17.4 Outros exercícios fáceis e eficazes
3 Febre
3.1 A febre pode ser tolerada sem problemas?
3.2 Argumentos contra a diminuição da febre
3.3 Auxílio homeopático e médico em caso de
febre?
3.4 Remédios homeopáticos para a febre
3.5 Convulsões febris
3.5.1 O que é uma convulsão febril?
3.5.2 Quais crianças correm esse risco?
3.5.3 Sinais perigosos e esclarecimento
médico
4 Doenças infecciosas
4.1 Doenças infantis – o pequeno ser humano no
grande mundo
4.1.1 Doenças infantis fortalecem
4.1.2 História da vida e da humanidade
4.2 Lidando, na prática, com as doenças infantis
4.3 Sarampo
4.4 Caxumba
4.5 Rubéola
4.6 Coqueluche
4.7 Catapora
4.8 Febre dos três dias
4.9 Escarlatina
5 Vacinas
5.1 Vacinar ou lavar? Erro de pensamento no
exemplo da vacina do câncer de colo do útero
5.2 Verdadeira prevenção em vez de diagnóstico
precoce
6 Cefaleias e enxaquecas
6.1 Cefaleias
6.1.1 A corrida cabeça com cabeça
6.1.2 O local do acontecimento (da dor)
6.2 Enxaqueca
11 Doenças alergênicas
11.1 Alergias
11.1.1 Guerras de fronteiras
11.1.2 Jogos de poder
11.1.3 O estranho e o próprio
11.1.4 A alergia e a reconciliação com a
mãe (natureza)
11.1.5 Prevenindo-se contra as alergias
11.1.6 Possibilidades e oportunidades
terapêuticas
11.1.7 A simbologia dos alérgenos na
infância ou uma interpretação dos objetivos
da guerra
11.1.7.1 Alérgenos do grande círculo (a
simbologia da sujeira)
11.1.7.2 Alérgenos do pequeno círculo (da
simbologia da fertilidade e da
sensualidade)
11.2 Dermatite atópica e crosta láctea
13 Doenças de pele
13.1 Piolho
13.2 Verrugas
16 Temas especiais
16.1 Autismo
16.1.1 Conhecendo outros mundos
16.1.2 Possibilidades e limites da terapia do
abraço para autistas
16.2 Síndrome de Down ou deficiência mental
como oportunidade?
16.2.1 Naomi
16.2.2 Tornem-se como as crianças
16.2.3 Dúvidas a respeito da sociedade
meritocrática
17 Epílogo
18 Agradecimentos
19 Anexos
19.1 Farmácia homeopática de emergência
19.1.1 Eritema alérgico
19.1.2 Feridas por mordidas
19.1.3 Hematoma
19.1.4 Hemorragias
19.1.5 Intoxicação sanguínea
19.1.6 Concussão cerebral
19.1.7 Picadas de insetos
19.1.8 Fraturas
19.1.9 Distúrbios circulatórios
19.1.10 Intoxicação alimentar
19.1.11 Desmaio
19.1.12 Lacerações (na cabeça)
19.1.13 Contusões
19.1.14 Enjoo em viagens
19.1.15 Cortes
19.1.16 Escoriações
19.1.17 Queimadura de sol
19.1.18 Insolação
19.1.19 Lascas, farpas, estilhaços
19.1.20 Choque elétrico
19.1.21 Torções em geral, torção do pé
19.1.22 Choque traumático
19.1.23 Queimaduras
19.1.24 Luxação
19.1.25 Constipação em viagens
19.2 Bibliografia
19.3 Publicações de Rüdiger Dahlke
Próximos lançamentos
1 Introdução
2.9 Educação
Depois de trinta anos de aconselhamento e psicoterapia, por
um lado, e um longo trabalho com imagens internas e a
interpretação de quadros clínicos, por outro, minha confiança
em conceitos pedagógicos e diretrizes educativas já não é
tão marcada. Ainda me parece muito pouco conhecido o fato
de que as crianças passam seus primeiros anos inteiramente
no mundo de suas imagens internas e externas e, assim, no
início, não têm condição – e mais tarde a têm apenas
lentamente – de compreender abstrações intelectuais.
Nestas repousa, porém, a maioria das medidas educativas.
Como já foi dito, toda recusa e toda proibição constituem
uma abstração. Se pensarmos na quantidade de proibições e
recusas com que nós adultos do mundo ocidental
confrontamos nossas crianças, os problemas delas
resultantes se tornarão claros.
No ramo publicitário, o segredo das imagens é algo há
muito tempo evidente para os especialistas; nele, os erros
que ainda caracterizam a educação não aconteceriam.
Nunca os produtos da concorrência seriam rebaixados; ao
contrário, os próprios é que são enaltecidos com imagens e
cores reluzentes, de uma maneira da qual o inconsciente
dificilmente consegue escapar.
Em relação ao treinamento descrito, a educação através
do próprio modelo tem muitas vantagens. Nesse caso, é a
imagem que se torna imprinting. O poder desse imprinting já
foi demonstrado por Konrad Lorenz em seus famosos
experimentos com gansos. Depois de mostrar a gansos
recém-saídos do ovo seu próprio retrato, e não o da mãe,
eles o tomaram como pessoa de referência e,
evidentemente, passaram a segui-lo até o escritório e
quando nadava no lago. De uma dessas idas ao lago provém
a famosa imagem com o bando de gansos que, nadando,
segue o velho mestre da pesquisa comportamental. Desde
então, sabemos que também no reino animal tudo reside no
começo. Por isso, é muito importante que, logo após o
nascimento, a criança possa ver os próprios pais ou, pelo
menos, a mãe. Esse primeiro imprinting seria, portanto, o
passo mais importante para uma educação na primeira
infância. Obviamente, somos pessoas, e não gansos; no
entanto, se observarmos melhor, perceberemos cada vez
mais como a primeira impressão e, com ela, o primeiro
imprinting são importantes também para nós.
A linguagem popular já está familiarizada com a
importância dessa temática e sabe avaliar a função dos
modelos: por isso se diz que é importante dar um bom
exemplo. Também por causa do efeito no exemplo negativo,
já sabemos há muito tempo como esses princípios atuam. É
muito provável que pais fumantes tenham filhos fumantes.
Médicos fumantes são tão eficazes como exemplo negativo
que, na prática, dificilmente conseguem fazer seus pacientes
parar de fumar. Também no que se refere às chamadas
TPMs, as tensões pré-menstruais, sabemos hoje que não são
herdadas geneticamente, mas transmitidas de geração a
geração através dos efeitos de exemplos negativos. Durante
muito tempo se pensou em herança, pois, na prática,
sempre se encontrava uma mãe que sofria dessa síndrome.
Entretanto, podemos partir do princípio de que uma moça
que tenha passado a infância e a adolescência vendo a
própria mãe sofrer por sua condição de mulher assume
inconscientemente esse modelo e se torna, ela própria,
paciente.
2.9.1 Campos que geram formas
“Estou cozinhando.”
“Dai-me o poder de criar a febre, e eu curarei toda doença”,
já sabia o filósofo grego Parmênides muito antes de nossa
época. Febre não é doença, embora todo o organismo seja
acometido e prejudicado. A criança está preparada para
combatê-la e quer colocar à prova as próprias capacidades
(de defesa), confrontando-se com a ameaça vinda do mundo
exterior (bactérias, vírus, etc.). Em princípio, esse calor do
combate é bom e somente possível em um organismo
saudável, que ainda pode ter febre e está pronto para
assumir a luta pela vida em sentido figurado. O objetivo
ansiado é lutar contra agentes patogênicos, aniquilá-los,
cozinhar por dentro, queimar esses perturbadores da paz e,
assim, restaurar o equilíbrio no corpo. Na maior parte dos
casos, já não encontramos febre nos antecedentes de
doentes crônicos, como os alérgicos, os imunodeficientes ou
os pacientes que sofrem de câncer. As crianças modernas,
que hoje são tratadas praticamente desde o nascimento com
vacinas, antibióticos e outras medidas repressoras, muitas
vezes já carecem logo cedo desse sinal de uma defesa
saudável. Falta-lhes essa reação vital e, com ela, o
amadurecimento do sistema imunológico, a disposição para
o combate, bem como a proteção natural a partir de suas
próprias forças.
A cada grau de febre duplica-se o desempenho do sistema
imunológico, e toda febre o treina para ações posteriores.
Assim, a disposição ativa de defesa do corpo contra agentes
patogênicos torna-se uma formação rumo a uma
personalidade independente e apta para a vida. Muitos pais
vivenciam isso na autoconsciência reforçada da criança após
uma crise de febre. Realizou-se um processo de
amadurecimento. Essas crianças podem assumir sua vida de
forma totalmente diferente, testar seus limites ou também
protestar e brigar. Têm respostas prontas, são cheias de
entusiasmo e conseguem tomar decisões com coragem,
seguindo perfeitamente o lema “desde cedo se exercita
quem pretende se tornar mestre”. Pré-requisito para isso é
que a criança possa ter febre – eventualmente alta – e,
assim, superar o problema de base. Nesse processo, ela
precisa lidar com sua capacidade de sofrer e com seus
próprios limites. Tal como os adultos, as crianças aprendem
não quando todas as dificuldades são retiradas do seu
caminho. Ao contrário, elas precisam ser acompanhadas e
apoiadas com amor e total confiança enquanto passam por
suas crises e as dominam. Assim, conseguem sair
amadurecidas e fortalecidas das doenças infecciosas
superadas com seus acessos de febre.
Expressões como “ansiar febrilmente por alguma coisa”
deixam muito claro o tema agressivo da febre, a mobilização
geral do corpo como uma preparação para uma grande
insurgência. Na prática, é relativamente frequente encontrar
crianças que adoecem em datas como Natal ou aniversário,
porque aguardaram a festa ou a comemoração com tanta
ansiedade que literalmente ficaram febris. Não viam a hora
de convidar os amigos e comemorar, mas não conseguiram
expressar essa alegria adequadamente. Assim, o tema se
personifica como febre no palco que é o corpo.
4.3 Sarampo
Além da pele como órgão limítrofe e de contato, no sarampo
também entram em jogo os olhos, que não raro ficam
inchados e lacrimejam. Com eles, toca-se não apenas nos
temas “visão” e “revisão”, mas, como espelhos e janelas da
alma, eles possuem uma relação abrangente com a visão de
mundo, bem como com a impressionabilidade psíquica. A
conjuntivite, que é frequente no caso do sarampo, mostra o
conflito que se trava com a nova visão de mundo. Toda
conjuntivite ilustra o desejo de fechar os olhos e não ter de
ver mais nada. Durante toda a fase do sarampo, essa
tendência ao recuo torna-se extremamente clara.
No total, o decurso da doença segue o ritmo de 28 dias do
ciclo da Lua, cujo arquétipo também imprime sua imagem
externa nos olhos inchados e lacrimejantes. Após o período
de incubação, que é de dez a onze dias, durante o qual a
criança não se sente nem totalmente enferma, nem
totalmente saudável na terra de ninguém da crise,
manifesta-se um forte resfriado: ela perde o apetite, seu
nariz fica bastante congestionado, não responde quando
solicitada e, assim, descarrega sua agressividade. Com os
olhos inchados e fechados, já não quer ouvir nem ver e, com
muito sofrimento, busca refúgio na escuridão. Quartos
escurecidos reduzem os estímulos externos e possibilitam
novas experiências, sonhos e fantasias.
O todo pode ser facilmente interpretado como uma
regressão no sentido do retorno ao ventre materno. Por puro
medo da irrupção incontrolável do novo, a criança retira-se
em um nível em que tudo se dá facilmente e como que por si
mesmo – a saber, no reino composto pelo líquido amniótico e
que pertence ao arquétipo da Lua. As pessoas sempre
sentem fotofobia quando estão incubando alguma coisa, e
este é o caso aqui. Todo o efeito submergiu, irrompeu e foi
repelido (para si mesmo). A isso sobrevêm a tosse e, não
raro, dores de cabeça.
Enquanto isso, interiormente, inicia-se a guerra total, que
se manifesta em forma de febre alta. O corpo inteiro está
preparado para o conflito, e a febre indica a mobilização
geral de todas as forças para a vitória. Inchada pelo choro e
pela constipação nasal, a criança expressa todo o seu
desânimo com os excessos da nova tarefa.
Somente quando as eflorescências aparecem nos limites,
inicia-se um novo período. As chamadas manchas de Koplik
na mucosa interna das bochechas, na altura dos molares, e
que se originam a partir de depósitos calcários, são os
arautos da erupção cutânea, que na parte externa da pele se
inicia com pontinhos avermelhados atrás das orelhas e se
alastram pelo tronco de cima para baixo, para depois
desaparecerem também pelas extremidades. No ápice da
doença, as erupções cutâneas confluem, provocando um
leve inchaço na pele até sua parte interna e, no final,
causam o efeito de um manto vermelho, que ilustra a
energia escondida por trás de todo o acontecimento. O novo
manto, a nova pele da criança cresce sob dores debilitantes.
Por fim, depois de passada a erupção cutânea, não raro
sobrevém a descamação das mãos e dos pés.
Aparentemente, trata-se de uma mudança de pele, uma
espécie de muda. A criança trocou de roupa; ela pode e quer
recomeçar como se tivesse renascido.
De fato, o que se vê aqui é quase a imagem de um
processo de nascimento. A incubação em forma de dores da
dilatação é seguida pelas dores da expulsão, com as
eflorescências que fazem pressão para sair. Portanto, as
doenças da infância poderiam ser uma repetição e uma
renovação simbólicas do processo de nascimento. A única
coisa trágica é quando as crianças modernas, nascidas de
cesariana, têm o desdobramento de sua força vital interior
impedido pelos diversos tipos de vacinas.
Do ponto de vista homeopático, trata-se de um típico
estado de Pulsatilla, que, não por acaso, também é um
oxitócico clássico usado antes do parto. A criança fica mal-
humorada, se lamenta, pendura-se na mãe e não quer ficar
sozinha de modo algum. Seu humor varia e se alterna como
o tempo na primavera, ou seja, do excessivo entusiasmo à
desolação total. Quando se encontram sob forte estresse
psicológico, as crianças necessitam manifestamente de
atenção, embora ao mesmo tempo chorem e sejam
afetuosas quando nada as satisfaz. Em um completo
regresso, querem colo e ser protegidas. Às vezes, renunciam
a tudo que aprenderam antes, precisam de ajuda para tudo
e em toda parte e tornam-se totalmente dependentes –
como no ventre materno. Naturalmente, a Pulsatilla pode
auxiliar e melhorar muitos quadros de sarampo.
Quanto aos pais, muito de sua sensibilidade é exigida para
ajudar a criança. Eles têm de se abrir com espontaneidade
para o próximo passo – mesmo quando a criança manifesta
claramente seu desânimo – e de restabelecer os limites
quando ela já está farta do velho, mas ainda não
(re)conhecer o novo.
Medidas de apoio:
►
Repouso na cama: enquanto houver febre, nada
de tomar banho de chuveiro ou banheira nem
sair de casa.
►
Atenda às necessidades individuais de seu filho
quanto a escurecer o quarto, proteger de
estímulos externos, ingerir algum líquido e
alimento de sua preferência, proximidade,
repouso e cuidados.
►
Arejamento: os cômodos devem ser sempre bem
arejados.
►
Não utilize antipiréticos da medicina tradicional,
a fim de evitar complicações!
►
Em caso de erupções cutâneas mal
desenvolvidas, lavar todo o corpo com água
morna e salgada. Logo em seguida, cobrir bem a
criança.
►
Clister: a cada dois dias, proceder ao clister
como medida de alívio (conforme descrito no
capítulo sobre a febre) e acompanhar a
evacuação.
►
Apoio fitoterápico e tratamento homeopático em
caso de tosse, conjuntivite, otite e febre (ver os
respectivos capítulos).
►
Reconvalescença: depois de superada a doença,
são aconselháveis de duas a três semanas de
reconvalescença, nas quais a criança não deve ir
ao jardim de infância ou à escola e, aos poucos,
acostumar-se novamente com o dia a dia.
4.4 Caxumba
O quadro clínico também conhecido como papeira ou
parotidite epidêmica manifesta-se através do inchaço das
parótidas, levando à deformação do local, com inchaço do
rosto, que às vezes pode ficar desfigurado. Uma
característica dessa desfiguração é a saliência dos lobos da
orelha. Ambos os lados podem ser alternadamente atingidos.
Junto com a coqueluche, trata-se da única doença infantil
sem manifestações cutâneas.
O rosto inchado realmente impressiona. Do ponto de vista
simbólico, trata-se, evidentemente, de mostrar mais e inchar
as próprias bochechas – a criança está treinando gestos
ameaçadores. Nesse sentido, trata-se de uma tentativa de
desenvolver uma personalidade mais poderosa. Em casos
normais, o inchaço do rosto deve-se a uma mastigação
intensa ou à compressão crônica dos maxilares. O tema por
trás disso seria “praticar bhoga” ou, como dizem os budistas,
“digerir o mundo”. No entanto, justamente isso lhes é
negado. O apetite desaparece, as bochechas incham até
ficarem doloridas e apenas simulam a boa mordida. Na
verdade, a criança acabou de perder toda capacidade de
morder e não consegue reduzir sua vida a pequenos pedaços
adequados à digestão.
Por trás de tudo isso há uma inflamação, portanto, um
conflito. A tarefa das parótidas tem menos a ver com as
orelhas, sob as quais se localiza, do que com a produção do
líquido viscoso, arquetipicamente feminino, da glândula
salivar. Também é possível que o conflito se alastre para as
outras glândulas salivares, até mesmo ao pâncreas, o que
pode levar a fortes dores abdominais. Nesse sentido, trata-
se aqui realmente de um conflito que diz respeito à digestão
da vida. A função da saliva é fazer com que tudo deslize
corretamente, o que deixa de acontecer na caxumba, para
não falar da falta de apetite condicionada pela doença.
Outras glândulas também podem ser acometidas. Nesse
caso, a temática se estende aos problemas de coordenação,
direção e transmissão de informações relativas a toda a área
do corpo. Nos homens em idade adulta, algumas vezes os
testículos são atingidos, o que pode gerar infertilidade.
Portanto, nesse caso, trata-se de uma extensão do conflito
para os temas “fertilidade” e “masculinidade”. Muitas vezes,
nos adultos, a caxumba se expande até as meninges. O
conflito atinge, portanto, o sistema nervoso central. Segundo
Friedrich Graf, isso ocorre em uma a cada duas crianças,
mas é “normal” e benigno. Nesse caso, fica claro o quão
importante é ter esse quadro clínico como doença da
infância em suas variantes inofensivas e que estimulam o
crescimento, e não, por exemplo, após a puberdade.
Como doença infantil, a caxumba geralmente decorre sem
problemas. O perigo de esterilidade por meio da inflamação
dos testículos não existe antes da puberdade. Desde a
introdução da vacina contra a caxumba, nos anos 1980,
observou-se um aumento dos casos de orquite, mas que, de
modo geral, permanece muito raro. Isso provavelmente se
explica pelo fato de que a média de idade de pessoas
acometidas pela caxumba agora é maior do que
antigamente.[18] Quem pensa em vacinar meninos, primeiro
deveria pensar bem em determinar o título, como se faz com
a rubéola no início da puberdade. Do nosso ponto de vista,
as meninas não devem absolutamente ser vacinadas contra
a caxumba. Segundo Friedrich Graf, seus ovários também
podem adoecer, embora com menor frequência.
Como em todas as doenças da infância, os pais podem
estimular a futura etapa de crescimento da personalidade
infantil. Ao que parece, seu filho quer ter mais controle sobre
seu próprio eu e infla as bochechas. Como a saliva, o
lubrificante no mecanismo da digestão, tornou-se um
problema, nessa fase, é difícil para a criança digerir sua
própria vida. Nem tudo desliza como desejado. Se o
pâncreas for atingido, é importante não subestimar uma
dificuldade maior na digestão das impressões materiais. Nos
adultos, o envolvimento do cérebro também pode indicar
problemas com a digestão imaterial.
A pergunta que se impõe é a seguinte: “Em que contextos
(familiares) fico com o pescoço tão inchado?” Às vezes, os
animais se eriçam para impressionar ou sobretudo assustar
os adversários. Por conseguinte, a pergunta seria: “Quem
meu gesto ameaçador deve assustar?” Ou então: “Quem
deve impressionar?”
Com efeito, em sentido figurado, trata-se de lutar com
coragem para dar outro passo e se desvencilhar da infância,
devendo-se aceitar conflitos com o polo feminino e materno,
como ocorre claramente na mucosa. O quadro clínico
também poderia ser entendido como um passo da
apoderação de si mesmo. Ainda que no início apenas
simbolicamente e sob o efeito das dores, a criança mostra
seu poder de vencer as dificuldades e assumir um aspecto
feroz.
Como terapia concreta, devem ser levados em
consideração o repouso na cama – caso desejado – e uma
alimentação leve. Se as crianças não demonstrarem apetite,
é melhor não insistir. Seja como for, a alimentação deve ser
sem gordura nem proteína. Se o pâncreas tiver sido afetado
e provocar dores abdominais, esquentar o centro do corpo
costuma fazer bem.
Medidas de apoio:
►
O repouso na cama deve ser absolutamente
mantido, mesmo na ausência de febre.
►
Não fazer a febre baixar; do contrário, podem
surgir complicações, como otite, etc.
►
Tratamento externo do inchaço: unguento de
Archangelica compositum (da Weleda).
►
Compressa com queijo quark: colocar 0,5
centímetro de queijo quark magro em uma
toalha limpa e aplicá-la na face acometida de
inchaço. Fixar com uma faixa. Tirar depois de
meia hora e, se necessário, repetir o
procedimento.
►
Bochecho ou chá: o bochecho com essência de
calêndula (dez gotas para um copo d’água) ou o
chá de sálvia têm efeito anti-inflamatório.
►
Renunciar a alimentos e bebidas ácidos, a fim de
não estimular a salivação desnecessariamente e,
assim, aliviar as parótidas.
4.5 Rubéola
A rubéola apresenta um quadro clínico inofensivo, pelo
menos se comparada ao sarampo. Após duas ou três
semanas de incubação, ela geralmente decorre sem
complicações, de forma atenuada, com um pouco de mal-
estar e sintomas não específicos, semelhantes aos da gripe.
Algumas vezes, notam-se inchaços nos gânglios linfáticos do
pescoço, atrás do esternoclidomastoídeo, músculo
responsável pelo movimento rotatório da cabeça. Mais
raramente ocorrem inchaços na região inguinal. Contudo, de
modo geral, esse fenômeno também é irrelevante e não
necessita de terapia. A temperatura do corpo eleva-se um
pouco, sempre abaixo dos 39°C. A leve erupção cutânea
inicia-se quase sempre atrás das orelhas, com pequenas
manchas, e, na maioria das vezes, desaparece em algumas
horas.
Embora geralmente não precise de tratamento, a rubéola
é uma doença necessária, pelo menos para as meninas, uma
vez que, durante a gravidez, pode causar doenças
devastadoras para o embrião. O perigo dessa embriopatia
torna necessário determinar o título nas meninas antes da
puberdade, e nunca ministrar diretamente a vacina. Como
em geral a rubéola transcorre de forma tão atenuada que
pode passar totalmente despercebida, pode acontecer que já
haja anticorpos suficientes que protegem mais do que uma
vacina. Qualquer médico pode realizar a determinação do
título. Em vez disso, muitos médicos tradicionais que não
levam em conta os perigos da vacina costumam aconselhar
logo a vacinação. Nesse caso, é recomendável procurar
outro médico.
Medidas de apoio:
►
Nenhum tratamento: na maioria das vezes, a
rubéola não necessita de tratamento.
►
Nenhuma vacina: apenas se não houver nenhum
anticorpo, para as meninas é fundamental a
vacinação ainda antes da puberdade. Para os
meninos, a vacinação é irrelevante.
4.6 Coqueluche
A coqueluche ou pertussis é desencadeada pela bactéria
Bordella pertussis. Além do pulmão, são tratados os temas
“contato”, “comunicação” e a necessidade nascente de
liberdade, sentida pela criança. Especialmente à noite – e
por isso se enfatiza o mundo do inconsciente –, surge a tosse
seca, incessante e, portanto, não libertadora. A criança ainda
não quer nem pode trazer para fora a agressividade que se
impõe a partir do reino inconsciente da alma. Desse modo,
no início, a tosse é improdutiva, ou seja, quase não promove
a expectoração.
Por um período que pode durar de uma a mais de três
semanas, uma luta crescente, muitas vezes intensa e
desesperada, é conduzida por ímpetos de agressividade
incontroláveis. Acessos de tosse que mais parecem latidos e
são exaustivos – interrompidos por uma inspiração
tipicamente ofegante – costumam desencadear outros
acessos mais fortes ainda. A criança oferece um quadro
agressivo, rumoroso; ela tosse alguma coisa ao mundo (ao
ambiente) e até cuspindo e vomitando nele quando a tosse é
muito forte. Assim, ela logo se torna o centro de atenção da
vida em família. Mesmo um pai que, em outras
circunstâncias, é menos afetuoso não consegue ficar alheio a
essa saraivada de tosse vinda de pulmões esgotados. A
verdadeira guerra no âmbito da comunicação também pode
ser sentida na família, na qual tudo se torna mais difícil
quando um membro luta no campo mais externo. De acordo
com sua ressonância, obviamente todos se lembrarão de
algum problema de agressividade ou liberdade não
resolvido.
O que acontece nos pulmões, muitas vezes acompanhado
de convulsões, também atinge a região do estômago e do
esôfago, causando ânsia de vômito e sensação de
sufocamento. É como se a alma da criança quisesse expelir
pela tosse e pelo vômito tudo que é estranho a seu interior,
promovendo, assim, uma limpeza abrangente. Em casos
extremos, até mesmo o ar respirado com tanto esforço é
vomitado junto com o muco ou expelido com os acessos de
tosse.
A criança expõe claramente sua agressividade represada e
concentrada e pratica a revolta, quando não a guerra. Ela
luta por sua própria expressão e liberdade, conquista com
muito barulho o centro do interesse e, durante semanas, não
o abandona. Desse modo, não poupa nem os pais nem a si
mesma, menos ainda seus pulmões, que sofrem grave falta
de ar com as contrações e os acessos de tosse. Por
conseguinte, esses testes de resistência para os nervos de
todos os envolvidos podem levar ao rompimento de tecidos
e à bronquiectasia, ou seja, à dilatação dos brônquios
através do rompimento de estruturas internas dos pulmões.
Contudo, em geral, nas crianças essas estruturas também
voltam a se refazer. Em contrapartida, a febre no sentido da
mobilização geral só aparece raramente. Ao que parece, a
temática da agressividade é revelada por acessos de tosse.
O fator mais tranquilizador nesse período de acirrada luta
é saber que, na maioria das vezes, a doença tem um
decurso típico, que prevê uma piora nas três primeiras
semanas e, por fim, atenua-se lentamente. Com o
tratamento homeopático nunca presenciamos os terríveis
efeitos colaterais acima mencionados.
Do ponto de vista da homeopatia, a coqueluche é uma
doença infantil importante, que não apenas ajuda as forças
de agressividade em sua manifestação final – forças essas
que, de maneira igualmente “incômoda”, começaram com o
nascimento dos dentes –, mas também compõe um quadro
clínico que pode levar a uma mudança de constituição. Não
raro, crianças que tiveram coqueluche tornam-se
nitidamente mais vivazes e aptas para a vida. Em termos
homeopáticos, a herança tuberculínica costuma enfraquecer-
se posteriormente.
De modo geral, trata-se de uma manifestação
acompanhada por intensas explosões de agressividade em
um novo estágio do desenvolvimento – a criança tem de
lutar para dar esse passo rumo a si mesma e à sua nova
liberdade. Obviamente de forma inconsciente, ela quer
conquistar uma nova posição na família e na vida,
colocando-se no centro através da dura decorrência de sua
doença. Assim, de maneira igualmente inconsciente, ela
reivindica o tempo integral dos pais ou, pelo menos, da mãe.
Nessa fase do desenvolvimento, os pais podem
reconhecer, em si mesmos e na vida do filho, a
agressividade como princípio (primordial) vital e ajudá-la
ativamente a se manifestar. Obviamente, acessos de tosse
que duram semanas também podem provocar toda a
agressividade represada da mãe, especialmente quando ela
está por conta própria em períodos de luta tão acirrada. O
ideal seria resolver com igual coragem os próprios conflitos
interpessoais. Isso esclareceria indiretamente às crianças
que elas podem iniciar sua vida com engajamento e luta e
devem aprender a se impor.
Como geralmente, no período de doenças infantis graves,
as mães têm de lutar com a escassez de sono e o
esgotamento e ficam cronicamente sobrecarregadas, esses
conflitos interpessoais precisam ser adiados para depois da
doença. Do pai se exige uma grande porção de tolerância,
bem como a disposição emocional ativa para ajudar a
resolver esse conflito. Se o tema for tratado de modo
construtivo na família, para todos ele proporcionará um
passo rumo à união.
Seria importante fazer com que crianças que não
demonstram (ou não conseguem demonstrar) nenhuma
agressividade conhecessem esportes adequados. Estes
podem ir do rugby e do futebol, passando pelo hóquei no
gelo, até um saco de boxe pendurado em casa. Em princípio,
todos são esportes ligados à ideia de agressividade, mas
também, e sobretudo, esportes de luta, que cada vez mais
são praticados também pelas meninas.
Em todo caso, o tema básico nesse período exige muita
força e coragem. Ele gravita em torno de uma educação que
visa um uso corajoso da energia, bem como em torno da
ideia de arriscar a vida para enfrentar incisivamente seus
desafios e lançar os alicerces para aquela preciosa atitude
que se mostra mais tarde na vida como coragem civil.
A coqueluche é realmente perigosa para lactentes nos seis
primeiros meses de vida. Na visão da maioria dos
terapeutas, nesse caso deve-se rapidamente fazer uso de
um antibiótico. Em contrapartida, o pediatra Martin Hirte
trata também os lactentes que sofrem de coqueluche sem
antibiótico, pois o único efeito desse medicamento seria
abreviar a fase contagiosa. Depois da primeira semana da
doença, os antibióticos já não fazem sentido, uma vez que a
tosse é desencadeada não pelas bactérias, mas pelos danos
já causados aos brônquios.
A vacina contra coqueluche – assim como todas as vacinas
que sempre pressupõem um sistema de defesa específico –
desenvolve tarde, a saber, um ano depois, sua total eficácia.
Aos lactentes, que ainda não produzem anticorpos, as
vacinas não podem trazer nenhum benefício. Com essas
vacinas duplamente perigosas em uma fase precoce em que
o cérebro ainda está se desenvolvendo, alguns médicos
transmitem aos pais uma suposta segurança que falta até
mesmo aos fundamentos da medicina tradicional. Por essa
razão, no primeiro ano de vida, as vacinas não deveriam ser
aplicadas simplesmente por serem perigosas. Todo o
restante que se diz a respeito é ilusão de quem as produz.
Nesse sentido, é imprescindível e necessário manter os
lactentes afastados de crianças com tosse. Uma distância de
cinco metros seria aconselhável como precaução. Medidas
como cobrir a cabeça com fraldas de pano são bem menos
seguras.
Medidas naturopáticas de acompanhamento seriam, por
exemplo, as compressas feitas com queijo quark. De resto, o
repouso, quando possível entre os acessos de tosse, é
decisivo. Também tem efeito benéfico a mudança de ares,
que geralmente é muito bem aceita pelas crianças, como
férias na praia ou nas montanhas, visitas a grutas
impressionantes (com estalactites e estalagmites) ou ainda
estábulos com vacas e cavalos. Nesse caso, pouco importa
se o que predomina é a atmosfera especial ou a mudança de
humor. Mesmo alterações abruptas de pressão atmosférica
podem ter um efeito benéfico, por exemplo, a decolagem ou
o pouso rápido de um avião.
Do ponto de vista psicológico, é útil transigir
excepcionalmente com a criança em questões conflituosas,
ou melhor, sempre que possível, não deixar que surjam
diferenças nem lutas pelo poder, uma vez que os conflitos
aumentam a disposição para a tosse ou os “ataques”, o que
evidencia a relação com o tema da agressividade ou de
Marte. Depois de longos períodos de reconvalescença, é
sempre recomendável planejar uma mudança de clima.
Medidas de apoio:
►
Repouso e relaxamento: em geral, os ataques
ocorrem de maneira mais atenuada quando os
pais proporcionam um ambiente tranquilo e
relaxado. Eles não devem transmitir nenhuma
ansiedade à criança, uma vez que isso poderia
piorar consideravelmente os acessos de tosse.
►
Postura positiva e confiante: os pais devem
adotar uma postura positiva e confiante, a fim de
apoiar a criança em seu processo de
amadurecimento.
►
Alimentação: oferecer com frequência refeições
leves e em pequenas porções, como frutas,
verduras e arroz.
4.7 Catapora
A catapora é uma doença infantil inofensiva, que só quando
adiada para a idade adulta pode assumir uma decorrência
difícil, como muitas outras doenças da infância. Por isso, os
pais devem resistir à tentação da nova vacina, que é
completamente desnecessária. Conforme já descrito, ela
simplesmente põe em risco os adultos.
Nomen est omen.[19] Os agentes patogênicos chegam a
ser carregados pelo vento, alastrando-se rapidamente e de
maneira incontrolável. O vento, como criança celestial, é
capaz de transportá-los a todos os lugares, no verdadeiro
sentido da palavra, e não pode ser detido. Ainda que
inofensiva na infância, a catapora é incômoda e deixa as
crianças inquietas, agitadas e algumas vezes realmente
histéricas. Pois, além dos poucos sintomas genéricos, a
erupção cutânea que causa prurido e se alastra por todo o
corpo provoca uma intensa vontade de se coçar, que,
embora momentaneamente ofereça algum alívio, a longo
prazo só piora e favorece a formação de cicatrizes devido a
superinfecções bacterianas. Nesse sentido, a difícil tarefa
dos pais é impedir que as crianças se cocem, o que, por
outro lado, estimula reações histéricas por parte delas.
Simbolicamente, é compreensível que elas cocem as
bolhas, pois desejam abrir seus limites e, para tanto,
chegam a rasgar a pele com o que resta de suas unhas. A
solução está apenas em plano metafórico, em que se trata
de abrir os limites para deixar que saia o velho (e venenoso)
e entre o novo, que promove o desenvolvimento.
Aos poucos, as pápulas convertem-se em bolhas, que, por
fim, se transformam em crostas. Estas, por sua vez,
geralmente saram sem formar cicatrizes. Medidas prévias
para reprimir a defesa, como tratamentos à base de
cortisona, estimulam a infecção secundária das bolhas.
Na tradução simbólica, a criança se aproxima aos poucos
do novo, que nela provoca coceira, ou seja, a excita
consideravelmente. Além da pele, são tratados os temas
“descoberta do limite”, “disposição para o contato” e,
sobretudo, “carinho”, em cujo campo são exigidos os passos
a serem dados para o crescimento.
Os pais são convocados a ajudar a criança a se posicionar
positivamente em relação aos novos impulsos, que já
provocam coceira e estimulam, a ajudá-la a ousar
ultrapassar os próprios limites de maneira corajosa, aberta e
decidida.
Medidas de apoio:
►
Repouso na cama somente se a criança tiver
febre.
►
Manter as unhas curtas.
►
Não se coçar: estimular a criança a apertar as
pústulas em vez de coçá-las.
►
Aplicações externas: talco Wecesin e
Combudoron líquido da Weleda.
Essência de calêndula (dez gotas em um copo
d’água para passar levemente nas feridas).
Aspergir chá de folhas frescas de hortelã-pimenta
com um spray sobre as partes da pele afetadas.
Não fazer aplicações que contenham zinco, cortisona
e antibióticos.
►
Uso interno: auto-hematoterapia potencializada
(ver a seção “11.2 Dermatite atópica e crosta
láctea”).
►
Tratamento homeopático: Rhus toxicodendron
C30, dois glóbulos uma vez ao dia. Os sintomas
do Rhus toxicodendron são grande inquietação,
inclusive à noite na cama, bolhas que causam
forte coceira, ardência após a coceira e desejo
de movimentar-se.
4.9 Escarlatina
Esse quadro clínico já não pertence às doenças infantis
clássicas e só aparece de forma variada depois que a criança
passa a frequentar a escola. Dos mais de cem tipos do
estreptococo beta-hemolítico do grupo A, apenas três
produzem a toxina que desencadeia a verdadeira
escarlatina. Por essa razão, quando se colhe material da
garganta e se encontram estreptococos desse grupo, não faz
sentido falar de escarlatina. Não obstante, com frequência, é
exatamente o que ocorre. A diferença é importante, pois,
quando se trata da verdadeira escarlatina, a criança precisa
ser mantida afastada da escola ou do jardim de infância por
pelo menos três e, de preferência, por quatro semanas. Em
caso de febre, o repouso na cama é obrigatório! Quando não
há febre, basta que ela fique em casa. Naturalmente, tanto
tempo de recuperação não é necessário em caso de
amigdalite.
As três cepas mencionadas, ou melhor, sua toxina, levam
ao exantema pouco extenso por todo o corpo, que começa
no pescoço ou na região inguinal, fazendo com que a pele
seja afetada como órgão de limite e de contato. A língua
com aspecto de framboesa e a conhecida erupção cutânea
de cor vermelho-escarlate, com inúmeras manchas
vermelho-escuras em todo o corpo, revelam a energia de
agressividade vital e fortemente avermelhada que irrompe
para fora e se descarrega por todo o limite do corpo.
Contudo, em primeira instância vem a garganta
avermelhada e inflamada, com inchaço das tonsilas
palatinas e dos gânglios linfáticos do pescoço.
Simbolicamente, exprime-se aqui um difícil conflito no portão
de entrada para o mundo físico interior. Dor de garganta e
dificuldade para engolir são as consequências dessa
inflamação. A criança engoliu o suficiente, e toda tentativa
ulterior de engolir dói terrivelmente.
A isso se acrescentam o inchaço dos gânglios linfáticos
localizados e a vermelhidão intensa do palato posterior e da
garganta, bem como o triângulo descorado na boca, com
vermelhidão intensa nas bochechas e dor de garganta. A
febre alta revela o estado genérico de ameaça no sentido de
uma mobilização geral do organismo em vista da etapa do
desenvolvimento a ser controlada. De modo geral, a pele
fica seca e, no final, descama na palma das mãos e na sola
dos pés. Depois de vencida essa etapa, a criança terá se
desenvolvido, o que se vê claramente em seu corpo.
Em todos os outros casos em que a cultura de material da
garganta revela a presença de estreptococos, tem-se
simplesmente uma amigdalite, mas não a escarlatina! Se em
todas as vezes utilizarem-se antibióticos, a melhora até pode
ser rápida, mas, por outro lado, haverá recidivas, conforme a
medicina tradicional vergonhosamente nomeia o
recrudescimento da doença em recaídas constantes.
Teoricamente, uma criança pode ter a verdadeira
escarlatina três vezes, pois existem três diferentes agentes
patogênicos, que deixam de herança sua respectiva
imunidade. Em geral, porém, a criança já desenvolve uma
imunidade para a vida toda quando vive e supera a doença
corretamente pela primeira vez, sem o auxílio de
antibióticos.
No período que antecede a escarlatina, geralmente o
desenvolvimento mental da criança é antecipado, e o
intelecto domina sua vida. Durante a doença, o rosto adquire
uma aparência séria e com traços fortes, ao contrário do que
ocorre durante o sarampo, em que o semblante da criança
fica um pouco inchado, diluído, como o de um bebê.
Crianças com escarlatina geralmente são sobrecarregadas
com as exigências do ambiente, como a escola, o que, antes
do adoecimento, pode ser notado por meio de uma
intelectualidade aguçada, de quem tudo sabe, ou de um
abatimento. A doença surge com especial frequência quando
as crianças que estão no terceiro e no quarto ano escolares
são distribuídas entre outras escolas, onde continuarão seus
estudos e terão seu desempenho avaliado.
Nesse sentido, o pescoço é o ponto de ligação entre a
desorientada central nervosa e sensorial da cabeça e a
região torácica, responsável pela sensibilidade psíquica, que
tem o coração como órgão central do cenário predestinado
desse drama. A criança se agarra a esse ponto de
intersecção entre o intelecto e o sentimento e nele
experimenta seu principal conflito.
Depois de superada a doença, muitas vezes o lado cordial
da criança se fortalece e pode se abrir para o entendimento.
Quando bem-sucedido, esse equilíbrio se mostra até mesmo
nas pinturas infantis, que com frequência passam a ser
feitas de outra forma. Podemos partir do princípio de que
essas imagens externas são um bom espelho das imagens
anímicas internas, conforme comprovou claramente
Elisabeth Kübler-Ross. A mudança pode ir tão longe que,
depois de superada a escarlatina, meninos malcriados, com
tendência a maltratar animais, passam a ter compaixão e
amor pelos bichos.
O perigo da propagação dos conflitos inflamados para
outras regiões praticamente não existe com o tratamento
homeopático. Entretanto, no caso da inibição exercida pela
medicina tradicional, pode ocorrer um desvio da
problemática para palcos secundários. Inflamações nas
articulações anunciam dificuldades para articular-se; o
envolvimento dos rins indicam problemas de relacionamento
e harmonia. A febre reumática evidencia a batalha geral de
defesa que pode afetar todas as articulações. Inflamações
nas válvulas cardíacas, com as respectivas anomalias
cardíacas resultantes, mostram o quanto o mundo dos
sentimentos foi afetado, enquanto o envolvimento das
meninges indica problemas centrais de regulação e deixa
claro o já mencionado campo de tensão desse quadro clínico
entre o cérebro e o coração. Não é à toa que a medicina
tradicional conhece a expressão “a escarlatina lambe as
articulações e morde o coração”.
Também cabe aos pais a tarefa essencial de estimular e
auxiliar no controle desse equilíbrio entre cabeça e coração.
Muitas vezes, não é fácil assistir à luta solitária dos próprios
filhos. A melhor terapia é conseguir por si mesmo, ter
segurança ao ficar em pé nas próprias “pernas de adulto” e
atravessar a vida. Obviamente, é muito mais fácil dar-lhes a
mão e aquele afeto que também ajuda a atravessar
situações difíceis e permite se livrar de antigos modelos e do
estilo de vida já superado.
Quando os temas correspondentes são trabalhados do
ponto de vista psíquico e, sobretudo, levados em
consideração, o perigo de que haja um desvio para os palcos
secundários e extremamente problemáticos reduz-se
bastante. Nesse sentido, vale a pena encorajar a criança a
travar a luta que, externamente, se torna visível na pele e,
internamente, se enfurece na alma até a descamação da
epiderme, estimular sua capacidade infantil de articulação,
satisfazer suas necessidades de amor e harmonia, bem
como prestar atenção em questões centrais que regulam sua
vida. Especialmente desafiador para a vida da classe média,
mas absolutamente necessário, é o estímulo para
desenvolver a agressividade saudável, incentivando uma
vida com coragem, pensamento incisivo e sentimentos
inabituais ou até mesmo críticos.
Medidas de apoio:
►
É indispensável manter o repouso na cama!
►
Não fazer a febre baixar: ver Capítulo 3 “Febre”.
►
Limpar a pele com água e sal: diariamente, duas
colheres cheias de sopa de sal para um litro de
água.
►
Outras medidas: ver a seção “8.5 Dor de
garganta”.
►
Tratamento homeopático: Belladonna C30 (dois
glóbulos, três vezes ao dia) é o primeiro
medicamento caso a criança sinta dor de
garganta repentina e forte. Outros sintomas:
vermelhidão intensa e inchaço das tonsilas
palatinas, muita dor para engolir, sintomas
frequentes do lado direito, inchaço dos gânglios
linfáticos do pescoço, febre alta com olhos
vítreos, braços e pernas frios, eventual falta de
sede, hipersensibilidade de todos os sentidos
(luz, ruído, toque).
5 Vacinas
6.1 Cefaleias
“O principal, a cabeça, dói.”
Quando têm dor de cabeça ou, na maioria das vezes, dor de
barriga, crianças com menos de 6 anos declaram sintomas
que não facilitam o diagnóstico. Somente aos 6 anos as
queixas de dores de cabeça são precisas. Ou, em outras
palavras, os excessos que até os 6 anos dão dor de barriga
causam dor de cabeça em crianças maiores. Até os 6 anos,
tudo afeta a barriga se os pequenos não conseguem digerir
sua própria vida. Em seguida, as coisas sobem mais
rapidamente à cabeça ou até mesmo disparam nela. A
cabeça fica sobrecarregada e causa problemas. Crianças em
idade escolar têm dificuldade para digerir a vida
intelectualmente. Nesse contexto, a semelhança entre as
circunvoluções cerebrais e aquelas do intestino delgado se
destaca: as primeiras digerem o mundo imaterial, as
segundas, o mundo material.
Quase tudo pode causar dor de cabeça. A vida começa a
passar cada vez mais pela cabeça a partir da inscrição na
escola. Até então, a sensação e a percepção estavam em
primeiro plano, mas agora são suplantadas pelo
pensamento. Ficar quebrando a cabeça sem chegar a
nenhuma solução é uma ocupação típica do período que
antecede a puberdade e ao longo dela. O que prejudica
alguém pode mostrar-se na cabeça e junto a ela, que agora
se tornou decididamente a principal parte do corpo, como
antes era a barriga. Do ponto de vista primário, crianças são
“seres ventrais”, e, em todos os aspectos, o ventre, que
pertence ao princípio da Lua, encontra-se no centro,
enquanto a cabeça segue, antes, princípios como Mercúrio
ou Marte e, a partir do período escolar, assume os papéis de
liderança para não abandoná-los mais ao longo da vida. A
cabeça se torna a capital do país que é o corpo e defende
essa posição obstinadamente contra o coração e o ventre,
que, em geral, com sua sensação de ventre e de Lua, já não
recebe nenhuma oportunidade, com exceção de uma
eventual gravidez em um período posterior. Com o coração,
que está submetido ao princípio do Sol, a cabeça ainda tem
problemas na fase do enamoramento e, sobretudo, naquela
do amor, mas, em geral, em tempos modernos, a cabeça
(intelectualmente) fria também tem a primazia sobre um
coração quente ou a reconquista com rapidez.
Expressões como “manter a cabeça erguida”, “ser cabeça-
dura”, “quebrar a cabeça”, “dar tratos à bola” ou “espremer
a cabeça” evidenciam o quanto essa parte do corpo está no
centro de esforços agressivos, que sempre sobrecarregam o
indivíduo. Expressões como “cabeças vão rolar”, “estar sem
cabeça”, ou também “meter uma coisa na cabeça”, “tirar
uma ideia da cabeça”, “enfiar a cabeça na areia” ou
simplesmente “estar com a espada na cabeça” mostram os
perigos que a cabeça vive em tempos em que dela tanto se
exige.
Se tudo passa por essa parte do corpo e a criança precisa
constantemente “oferecer a própria cabeça em sacrifício”,
“tomando na cabeça” a cada ocasião, pode acontecer de a
cabeça sofrer todo tipo de dor que se pode imaginar. É de
“arrancar os cabelos”.
Com tudo isso, não se pode absolutamente “deixá-la na
mão”. Ao contrário, deve-se sempre levar em conta o lema:
“Cabeça erguida!” Se não houver alternativa, vale embelezar
um pouco, como no exemplo: “Cabeça erguida, mesmo que
o pescoço esteja um horror” – ou seja, mesmo que a base
não seja sólida, a cabeça deve permanecer erguida. Isso
pode ser difícil, mas é o mais certo a fazer.
Felizmente, também se pode “perder” a cabeça por amor
ou, o que é lamentável, arriscar o próprio pescoço por
alguma coisa que se diz em juízo. Seja como for, a cabeça
vive perigosa e marcialmente de acordo com seu princípio
primordial. Nesse sentido, não é de admirar que ela tenda a
ter dores que, de igual modo, pertencem ao princípio de
agressividade.
Atualmente, toda criança quer e precisa ter uma cabeça
esclarecida, ou seja, não pode ter ideias tolas nem
mirabolantes, mas também não pode ser cabeça-dura nem
cabeça-oca. Ao contrário, tem de afirmar-se e, se possível,
impor sua vontade.
Quando a nova fase da vida e as novas liberdades a ela
relacionadas sobem à cabeça das crianças, elas podem se
tornar bastante maduras, arrogantes, presunçosas,
superiores e, atualmente, até megalomaníacas, sobretudo
quando estão sob pressão. Nesse caso, parecem “não estar
com a cabeça no lugar” ou “não ser muito boas da cabeça”.
Na adolescência, os jovens quebram a cabeça, sem
sucesso, para dominar questões emocionais e sentimentais.
Nessa fase, não sabem “onde estão com a cabeça” e tudo
lhes parece “sem pé nem cabeça”; só “têm uma coisa na
cabeça” e sempre querem “virar a cabeça de alguém”. Em
pouco tempo, tudo parece ser questão de vida ou morte e
até custar a própria vida. Sua mente vibra de ideias e
pensamentos que não encontram o caminho para a
realidade, mas nem por isso lhes “saem da cabeça”. Uma
cabeça tão pesada de preocupações pode culminar em
um(a) “cabeça-dura”, que relega o coração ao segundo
plano, driblando-o, superando-o e fazendo com que o polo
material da vida, que é o corpo, não seja levado em conta,
para que a cabeça possa permanecer no alto, o que também
repercute na situação social alterada.
Se a vida na infância foi dominada pelas brincadeiras, a
inversão de polaridade, em que a cabeça passa a ser o
centro, começa a se desenvolver com o ingresso na escola.
Geralmente, ela se completa aos 10 anos. Os programas de
ensino de nossas escolas refletem esse deslocamento para a
cabeça e sua sobrecarga de maneira dramática. Oitenta por
cento das aulas destinam-se à cabeça e ao intelecto. Para o
programa, duas horas de ginástica têm como que o efeito de
inimigas do corpo.
Não obstante, nesse período favorável à cabeça, mas que
ao mesmo tempo a sobrecarrega, é difícil “manter a cabeça
fria e esclarecida”, pois ela será cobrada sem piedade.
Diante de todas essas circunstâncias, muitas vezes o ego
alcança precocemente seu melhor desempenho e começa a
proteger sua posição. “Hoje, mais do que nunca, uma cabeça
brilhante é bastante requisitada”, mas “o sucesso também
pode subir à cabeça”.
Quando os primeiros impulsos de pensamento deparam
com um obstáculo que impede sua concreta realização,
obrigando o indivíduo a quebrar a cabeça; quando as
pessoas querem impor sua vontade, seguindo o lema
“querer é poder”, e a cabeça se torna um aríete para a
imposição impiedosa do ego, a fim de que tudo corra de
acordo com a própria vontade, as dores de cabeça
originadas pela tensão ameaçam se manifestar já na
infância. Quando os impulsos (do pensamento) permanecem
presos na cabeça, vive-se forçosamente nela o que pertence
a outro lugar. Nesses “cabeças-duras”, que se
superestimam, “metem coisas na cabeça” que os
sobrecarregam, uma forte força de vontade, aliada a uma
excessiva reivindicação de poder, leva à dor de cabeça no
sentido de uma advertência de que eles estão no caminho
errado com um pensamento errado. Não é nada fácil “tirar a
cabeça dessa corda que eles mesmos fabricaram” e “salvá-
la”. Se crianças já “quebram constantemente a cabeça”,
obviamente terão cefaleia. Do mesmo modo, um cérebro em
contínuo esforço também é passível de dor e conduz à
respectiva “cabeça pesada”.
6.1.1 A corrida cabeça com cabeça
6.2 Enxaqueca
“Tenho de ser perfeito.”
A enxaqueca sempre foi um sintoma de adultos; porém,
como muitas outras dores, agora irrompe cada vez mais
cedo na vida. Como muitos colegas, o médico homeopata
Friedrich Graf acha que a razão é gerada por nós mesmos, e
diz: “As anamneses de pacientes jovens que sofrem de dor
de cabeça sempre mostram o início de uma autêntica
enxaqueca após revacinações no início da puberdade”. Em
grande parte, o problema das vacinações reside na
supressão de impulsos vitais.
Muitas vezes, crianças com enxaqueca estão submetidas a
uma exigência manifestamente alta em relação si próprias e,
por essa razão, têm uma imagem perfeccionista de si
mesmas. Com frequência, as exigências dos pais também
vão de altas a muito altas. Quando não há uma
transformação das próprias exigências ou das alheias, pode
surgir o medo de errar, que faz com que as crianças se
torturem em grande medida para cumpri-las.
A enxaqueca também parece surgir com mais frequência
em crianças que não se sentem amadas ou que obedecem
ao lema “(só) serei amado se trouxer notas boas para casa”.
De fato, “amor (apenas) em troca de desempenho” parece
ser um conceito que adoece.
Nas pessoas acometidas, também se nota uma grande
sensibilidade em relação aos estímulos externos. Luz,
barulho, contato e toda forma de (excesso de) estímulos são
pouco tolerados. A criança se fecha totalmente e procede
segundo o lema “não me toque”. A cabeça, que abriga todos
os sentidos, é sensorialmente vedada – a criança não quer
ver, ouvir, cheirar nem sentir o gosto de nada. O apetite
desaparece, os odores provocam náusea, sentir e ser tocado
são tabus. As aberturas do corpo são vedadas como se
fossem anteparas. O enjoo e o vômito mostram que a pessoa
acometida está “insuportável”. Nada consegue digerir nem
ingerir; ao contrário, tudo faz força para sair.
O distúrbio de visão conhecido como escotoma cintilante
(ponto cego), que costuma acompanhar a enxaqueca e com
o qual se anunciavam as enxaquecas desenfreadas, ou
melhor, as visões de Hildegard von Bingen, indica que a
pessoa acometida já não consegue enxergar nem controlar
sua vida normal nesse momento. A visão exterior lhe é
tirada, e a atenção é desviada para uma luz interior
imaginária. De fato, veem uma luz, mas no plano errado. A
luz do conhecimento seria tarefa de uma luz interior, que
ilumina a vida e poderia desencadear sensações totalmente
diferentes, ou seja, sensações extáticas, segundo o lema:
“Quando já não se consegue enxergar, sentir não é nenhuma
vergonha”. A enxaqueca, que nos adultos costuma imitar um
orgasmo, só que no plano inábil da cabeça, dirigiria a
atenção para dentro, razão pela qual todos os estímulos
externos precisam ser evitados e o corpo entra em
imobilismo. Assim, assimila o alívio e a regeneração de que
precisa. Na infância ou, em todo caso, na puberdade, a
enxaqueca seria uma indicação dramática para que se
integrem aspectos extáticos e prazerosos à vida e se dê
menos importância ao tema do desempenho.
Perguntas para os pais:
►
Como nosso filho pode aprender a confiar em
voos do pensamento ou da imaginação?
►
Como integrar à vida sentimentos e experiências
extáticos?
Medidas de apoio:
►
Evitar ou, pelo menos, reduzir o excesso de
estímulo, a pressão pelo desempenho e a
alimentação errada.
►
Chás que promovem o metabolismo do ferro:
rosa-canina, urtiga.
►
Tomar bastante líquido.
►
Usar fontes externas de calor ou frio,
dependendo das necessidades da criança.
►
Fazer com que a criança durma o suficiente.
►
Fazer com que a criança se movimente o
suficiente ao ar fresco.
►
Fitoterapia: aos primeiros sintomas, massagear
as têmporas com óleo de lavanda (dez gotas de
óleo de lavanda com 25 mililitros de óleo
neutro).
7 Doenças oculares e distúrbios da visão
7.1 Conjuntivite
“Já não consigo abrir os olhos!”
A conjuntivite é comum em crianças, o que não nos
surpreende, pois, até 1986, a vida sempre começava com
uma conjuntivite prescrita por lei que, com o nome de
“profilaxia de Credé”, era um direito civil de todo novo
cidadão alemão. Para evitar uma infecção dos olhos da
criança ao passar pela vagina, caso a mãe sofresse de
gonorreia, por lei os olhos do recém-nascido eram corroídos
com uma solução contendo de 1 a 2% de nitrato de prata. O
nitrato de prata é a pedra-infernal. Nos olhos, esse
medicamento realmente arde como o inferno. Como tudo já
se encontra no início, segundo a concepção da filosofia
hermética, com essa primeira conjuntivite programada se
criou um campo para esse quadro clínico. Seja como for,
todos aqueles que, no momento da impressão deste livro,
tinham mais de 23 anos iniciaram sua vida com um conflito
pela visão de mundo, ou seja, com uma conjuntivite.
A saudação infernal neste mundo por meio do batismo
com o nitrato de prata chega a ser (mito)lógica; afinal, Cristo
designa o diabo como o senhor deste mundo. Com “sua
substância”, as crianças são recebidas sentindo dores. O que
originariamente parecia fazer sentido, do ponto de vista
médico já era irrelevante há muito tempo. Com gotas de
antibiótico, teria sido possível obter o mesmo efeito sem dor.
Um teste prévio de gonorreia na mãe, e todo esse teatro
teria sido banido do mundo.
Entretanto, os médicos acadêmicos preferiam partir do
princípio de que os recém-nascidos não têm muita
sensibilidade. Seria porque eles próprios não têm
sensibilidade? Hoje, continuam partindo do princípio de que
o feto no ventre materno nada sente, ainda que
ginecologistas ingleses tenham exigido há duas décadas a
anestesia para embriões antes do aborto. Porém, mesmo
seguindo esse tipo de conhecimento, não se poderia
simplesmente continuar a proceder como até agora, sem
nenhuma crítica. Por isso, até hoje e enquanto for possível,
essas vozes serão reprimidas. Esta é uma das principais
razões pelas quais os médicos acadêmicos se queixam tanto
da migração em massa de pacientes para os chamados
charlatães sem estudo que, no entanto, costumam dispor de
mais sensibilidade, compreensão e tempo.
A maioria das crianças reagia de modo espontâneo e
assustado, fechando as pálpebras para as boas-vindas
“infernais” e, posteriormente, sofrendo uma inflamação nos
olhos e nas pálpebras. Primeiro, devido à dor infernal,
perdiam a vontade de ver este mundo; em seguida, surgia
um conflito para reabrir os olhos.
Tanto na primeira quanto em todas as conjuntivites
subsequentes, os sintomas são marcados por ardência nos
olhos, lacrimejamento e vermelhidão visível no branco dos
olhos. Com frequência, as pálpebras também incham e se
grudam devido à formação de pus, de maneira que, às
vezes, crianças pequenas não conseguem abri-las.
Do ponto de vista simbólico, os olhos grudados e sensíveis
à luz têm um significado extremamente claro. De fato, como
espelhos e janelas da alma, responsáveis pela visão e pela
compreensão, na conjuntivite são completamente privados
de sua tarefa. As pessoas acometidas já não querem ver
nem olhar. Fecham os olhos para o mundo e retiram-se atrás
de suas persianas. A sensibilidade à luz indica que não
querem ver a claridade nem deixá-la entrar. Assim, limitam-
se à escuridão em seu interior, atrás de cortinas que cobrem
as janelas da alma. Os olhos já não irradiam nada nem
querem permitir que a alma seja vista. Simplesmente se
fecham e interrompem a comunicação em ambas as
direções. “Fechado por conflito!”
Nessa circunstância, também é possível reconhecer logo a
tarefa de vedar-se para o que vem de fora e dedicar-se aos
próprios interesses, ou seja, àquela área que, quando
adultos, chamamos de “sombras”. Nas crianças, trata-se,
antes, de preocupações e medos ocultos.
Tive uma luz a respeito dessa doença depois de observar,
em um seminário, nove dentre oitenta participantes
desenvolverem conjuntivite ao mesmo tempo. A razão não
foi a contaminação através do agente patogênico. As
pessoas acometidas se fechavam inconscientemente para o
tema a ser tratado, oferecendo, assim, um solo fértil para a
doença e para seus agentes patogênicos.
Trata-se de um conflito altamente infeccioso, que afeta a
visão e o modo de lidar com o mundo; um conflito também
entre olhar e desviar o olhar. Quem costuma fechar os olhos
para discussões e, assim, não encarar o conflito, e busca sua
salvação (ou desgraça) bancando o avestruz e enfiando a
cabeça na areia precisa contar com o fato de que o
organismo, versado em honestidade, escolhe representar o
problema através de uma conjuntivite.
Nos adultos e, às vezes, também nas crianças, a
conjuntivite costuma incorporar uma tensão tão
inconfessada quanto insuportável entre as próprias opiniões
e a visão de mundo alheia; uma tensão que se inflama nos
olhos e fica claramente escrita no rosto de quem por ela é
acometido. Nas crianças, muitas vezes essa circunstância
ainda esconde pouca confiança na visão própria das coisas.
Conflitos sobre a visão de mundo logo se espalham, ou
melhor, são facilmente contagiosos. As crianças não podem
ir ao jardim de infância devido ao risco de contaminação. A
medicina acadêmica emprega antibióticos, a fim de ajudar o
organismo em seus esforços de guerra.
A tarefa que “salta aos olhos” é a de fazer com que os
olhos exteriores repousem, sejam poupados e não fiquem
simplesmente olhando tudo que há para ser visto no mundo.
Enquanto isso, deve-se abrir mais os olhos interiores,
tornando-os mais corajosos e até aptos ao conflito. Nesse
período em que as janelas exteriores da alma permanecem
fechadas, os sentidos também podem aguçar-se.
Em sentido figurado, trata-se de revelar com coragem as
estratégias infantis e até pueris segundo o lema “se não o
vejo, você não me vê” ou justamente o “comportamento do
avestruz”, contemplá-las e, por fim, praticar uma observação
corajosa e uma confrontação incisiva. Uma vez que, como
pais, temos poucas possibilidades de ensinar a crianças
pequenas esse posicionamento e essa disposição ao
confronto de maneira pedagógica, resta, sobretudo, a opção
de nós mesmos encararmos os fatos com coragem, o que
nunca faz mal e acaba transmitindo nossa ação por
ressonância às crianças. Quem olha de frente para a vida
interior da própria alma com seus conflitos ardentes e nela
toma conhecimento dos próprios padrões evita a
conjuntivite. Contudo, ao fazer isso, terá de encontrar tanto
seus lados iluminados quanto aqueles sombrios, o que
também é difícil para as crianças. É preciso ter uma coragem
especial para lutar contra o hábito de desviar o olhar ou não
ver, até de maneira consciente, e, em vez disso, posicionar-
se ofensivamente perante as imagens e os conflitos.
Perguntas para os pais:
►
O que nosso filho já não quer ver? O que ele não
consegue discernir?
►
Podemos ajudá-lo a lidar de modo consciente
com os conflitos?
►
Neste momento, qual o nosso problema?
►
O que nosso filho está querendo esconder de nós
e do mundo? Devemos respeitar esse segredo ou
observá-lo para ajudar?
►
Diante de qual conflito (não vivido) ele fecha os
olhos?
Medidas de apoio:
►
Proteção contra estímulos externos, como luz,
sol, frio, ar empoeirado, corrente de ar,
computador e televisão.
►
Escurecer os cômodos.
►
Fazer usar óculos escuros.
►
Melhor ler ou contar histórias do que deixar ver
televisão.
►
Tratamento homeopático (uso externo): colírio
Euphrasia, da Wala: pingar uma gota, de uma a
duas vezes ao dia, no saco conjuntival superior e
inferior; se necessário, aumentar a frequência
para três a cinco vezes ao dia.
►
Fitoterapia (uso externo): deixar esfriar dois
saquinhos de chá-preto depois da infusão e
colocá-los sobre os olhos fechados por 15
minutos.
Para lactentes: usar o efeito antisséptico do leite
materno pingando-o com um conta-gotas comprado
em farmácia no olho afetado.
►
Uso interno: chá de eufrásia (Herba Euphrasia):
verter uma xícara de água quente em meia
colher (de chá) desse chá, deixar em infusão por
dez minutos, coar e fazer beber três xícaras ao
longo do dia.
7.2 Terçol
“Não consigo enxergar direito.”
A primeira sensação é apenas a de ter areia nos olhos, um
grão de areia que incomoda e é desagradável – quase como
o grão de areia no molusco que, com dor, gera uma pérola.
O grão de areia é algo que não pertence àquele lugar, coloca
a pessoa acometida sob pressão, provoca-a, tende a
deslocar sua visão e a estimular um conflito inflamado, que
força uma explosão para fora. O que isso exprime? Afinal,
todo movimento ocular causa dor e evidencia um conflito
pelo olhar e não olhar. Sem nenhuma dúvida, uma questão
relativa à alma enrijeceu-se ao redor dos olhos. Estes
representam, ao mesmo tempo, o espelho e a janela da alma
e, naturalmente, também remetem à perspectiva, ao
discernimento e à introspecção. A inflamação na borda da
pálpebra leva a um enrijecimento isolado, que inicialmente
cresce até formar o terçol e passa a ser sentido como
enrijecimento e corpo estranho na totalidade da região
branca do olho. Por trás do grão esconde-se o germe de um
conflito junto ao portão de entrada e saída da alma. Além
disso, o olho também é parte do cérebro, a única parte que
conseguimos ver. Nesse sentido, o terçol desloca o olhar
para dentro da alma e do cérebro como central de nosso
modo de agir. Ele mostra um conflito de mediação entre a
alma e a central, por um lado, e o mundo exterior, por outro.
As pessoas acometidas não querem ser vistas em sua alma
nem em sua central. Quando o terçol se desenvolve, logo
todo o olho fica irritado. Entretanto, o conflito tem
claramente seu ponto central e de partida no enrijecimento,
o chamado grão.
Somente a imobilidade do olho traz algum alívio. De
preferência, a criança deve manter o olho fechado. Por
conseguinte, a tarefa reside na introspecção. Especialmente
de manhã cedo isso se torna evidente quando ela sente
dificuldade para abrir o olho, pois as pálpebras estão
realmente grudadas. Portanto, algo nas pessoas acometidas
não quer abrir os olhos, mas continuar a dormir e sonhar.
Essas pessoas colam as pálpebras de um olho para não ver
nem ter de enxergar em ocasiões que as colocam em
situações de conflito. Por outro lado, às vezes também se
trata de desviar o olhar e não reparar em coisas que não
interessam, ou seja, trata-se de “fechar um olho” para algo.
Com frequência, isso se refere a crianças que são muito
curiosas e metem o nariz em tudo, mesmo em questões
alheias que (ainda) não lhes fazem bem.
Por outro lado, a inflamação indica que, no fundo, também
se trata de se inquietar e ousar o conflito, a fim de usar o
“olho ardente” em interesse próprio. Os pequenos conflitos
na borda da pálpebra, à margem da área de percepção,
reproduzem o acontecimento psíquico com muita precisão e
revelam certa agressividade no olhar, que às vezes causa o
efeito quase de um olhar malvado.
A região bastante delimitada da inflamação aponta para
uma “mancha cega” bem definida, que antes não era
notada, uma barreira, que a criança não abrange com o
olhar. Mas o terçol também poderia representar um conflito
enclausurado que ameaça explodir. Por conseguinte, o
inchaço das inflamações seria uma fortificação que tira algo
do olhar. Nesse caso, seria conveniente que o medicamento
homeopático Staphisagria, muitas vezes útil, fosse usado
como uma espécie de “armamento” que auxilia nas
agressões reprimidas atrás da muralha.
No nível corporal, o conflito encontra alívio quando o grão,
o nó ou o germe do conflito irrompe e o pus, ou melhor, a
sucata de guerra pode ser descarregada para fora.
Obviamente, essas descargas em sentido figurado também
se dariam no sentido da solução psíquica.
A pálpebra superior representa simbolicamente o fecho do
olho, e a inferior torna o conflito bastante visível. O olho
esquerdo evidencia o polo feminino e a visão feminina de
mundo; o direito, o masculino. Assim, por exemplo, temas
relacionados às imagens anímicas encontram expressão no
olho esquerdo, e aqueles ligados à razão, mais no olho
direito.
A Staphisagria, medicamento homeopático mais
importante para esse sintoma, pode contribuir para
compreendermos a situação fundamental de aspectos
subsequentes. É indicada para crianças que abrem
precocemente os olhos e captam temas que ainda não são
adequados para sua idade. Muitas vezes, trata-se de
crianças mortificadas e humilhadas, que tiveram de passar
por experiências horríveis e até por abusos nas mais
diversas formas, a fim de preservar a harmonia em família
ou apaziguar conflitos. Tendem a emudecer e a aprisionar
agressividade dentro de si. Essa agressividade vem
isoladamente à tona por intermédio do terçol, lembrando o
germe do conflito que sobrecarrega a alma da criança. Com
frequência, o terçol mostra que agora o “ponto crucial” foi
alcançado e a criança precisa de uma conversa “de adulto”,
a fim de ampliar sua visão de mundo. Quem põe de lado
suas próprias necessidades pelo bem comum reprime
facilmente conflitos, que, mais tarde, recrudescem como
pequenas guerras circunscritas quando se trata da visão de
mundo da criança. Apenas isoladamente a criança consegue
ousar expressar as questões reprimidas; já o todo, ela nunca
consegue questionar.
Perguntas para os pais:
►
O que nosso filho já não consegue ou já não quer
ver?
►
A partir de agora, o que ele consegue ver de
modo diferente? Ele precisa de nossa ajuda para
isso ou apenas de tempo para si mesmo?
►
A que ele fecha os olhos?
►
Como podemos instruí-lo a respeito da dura
realidade de uma maneira adequada e sensível
para crianças?
►
Existem conflitos não manifestados que o
ocupam?
►
Quais preocupações ele não consegue
expressar?
►
Como podemos apoiá-lo para expressar de outra
maneira os conflitos ou as preocupações de sua
alma?
Medidas de apoio:
►
Exposição à luz vermelha: algumas crianças
gostam do calor da luz vermelha, o que provoca
o amadurecimento do terçol e, possivelmente, a
diminuição do inchaço, proporcionando alívio.
Sente ou deite seu filho com os olhos fechados a
uma distância de cinquenta centímetros de uma
lâmpada de luz vermelha, três vezes ao dia por
15 minutos. O mais adequado é segurá-lo no
colo e conversar com ele ou ler alguma coisa
para ele durante a aplicação da luz. Além disso,
o calor dos pais auxilia no processo de cura.
►
Compressas nos olhos com eufrásia: faça infusão
com um saquinho ou meia colher de chá de
eufrásia (comprado em farmácias ou em lojas de
produtos naturais) em água fervente por cinco a
sete minutos. Em seguida, embeba um lenço
macio de pano ou uma gaze com a infusão e
torça-o. Coloque-o se possível quente sobre o
olho afetado e fixe-o com uma faixa, um lenço ou
um tapa-olho. Se seu filho achar essa medida
desagradável porque não consegue enxergar
com um olho, sugiro que você relacione esse
tratamento a uma “brincadeira de pirata”, o que
geralmente faz com que o tapa-olho seja
tolerado pelo tempo necessário. Esfriada a
compressa, troque por outra quente ou deixe o
olho sem nada. Se a criança sentir alívio, você
pode repetir o tratamento três vezes ao dia.
►
Anel de ouro: um recurso oriundo da crença
popular e preservado de vários modos é passar
um anel de ouro de quilate elevado no terçol.
Antes disso, a criança deve lambê-lo e passá-lo
ela própria no terçol. Contudo, isso ajuda apenas
no começo. Se o terçol já estiver bem formado,
será tarde demais “para essa magia”. As
crianças também gostam do ritual porque
excepcionalmente podem usar a aliança valiosa
da mãe ou do pai.
Esses métodos não apenas parecem, mas são
superstição; contudo, costumam funcionar bem. Pelo
menos, os especialistas em princípios primitivos
notam que o valioso, o nobre é unido ao que é sujo,
escuro e doente. Tanto o reino da terra, as pedras
preciosas e os metais quanto as verrugas do reino
das bruxas e os segredos obscuros por trás do terçol
pertencem ao arquétipo de Plutão.
►
Tratamento homeopático: a Staphisagria C30 é o
medicamento mais eficaz. A criança sente dores
como se tivesse algo duro embaixo da pálpebra
(geralmente na superior esquerda). Tocar o local
é insuportável; o terçol não supura e não irrompe
direito. O agente desencadeador é uma briga ou
uma preocupação reprimida. A criança fica
taciturna e internamente irritada. Mostra-se
muito sensível a críticas e a conversas.
Hepar sulfuris C30: a inflamação já está avançada, e
o terçol começa a supurar. As crianças ficam muito
sensíveis à luz e a correntes de ar.
Importante! Em caso de terçol reincidente, é
aconselhável um tratamento homeopático
constitucional com um homeopata experiente.
7.4 Estrabismo
“Não quero olhar os fatos nos olhos.”
Com o estrabismo abordam-se temas como “visão” e
“compreensão”. Como nossos olhos também são espelhos e
janelas da alma, esse sintoma nos atinge com muito mais
profundidade do que se supõe à primeira vista. De fato, os
estrábicos não conseguem olhar para ninguém diretamente.
Expressões como “não ter visão das coisas” ou “ter de olhar
duas vezes” mostram como é decisivo ter uma visão clara
nos dois olhos. Os estrábicos não conseguem ver nada “à
primeira vista”. Muito mais do que os outros, eles precisam
calcular tudo com a ajuda de seu cérebro para assim
conseguirem adquirir certa visão geral das coisas.
O momento em que ambos os olhos “se direcionam”, ou
seja, se colocam em determinada direção e se ajustam a
essa perspectiva, reside na primeira infância. Nesse período,
traumas psíquicos podem limitar ou, pelo menos, perturbar o
“ajuste” a um objetivo e, com ele, a orientação na direção de
um modo de ver claramente tridimensional. Esses olhos
ficam “desorientados” e desajustados, e a visão,
discrepante. Mais tarde, quando esse tema for tratado, a
criança precisa posicionar-se frente ao trauma de base e
olhá-lo com a máxima precisão, a fim de encontrar uma
visão adequada.
Provavelmente, não conseguir olhar ninguém nos olhos
está relacionado ao fato de que as pessoas acometidas de
estrabismo têm medo de terem sua alma reconhecida
(internamente) e serem punidas por alguma coisa. Nesse
sentido, com esse sintoma, tentam desviar-se dos erros e da
consciência pesada. Entre elas também há muitos daqueles
que encontram pretextos e que têm medo de que suas
desculpas e mentiras venham à tona. Suspeita-se que, em
sua educação, os padrões de duplo vínculo foram eficazes,
ou seja, aqueles duplos vínculos que não deixaram às
crianças nenhuma oportunidade de decidir direito; portanto,
situações em que tudo só podia dar errado para elas. Por
conseguinte, essas situações não lhes permitiram
estabelecer pontos de vista fixos. O olhar que é arrebatado
para direções diferentes e que não consegue se fixar em
nada é o que lhes dá expressão.
Por fim, revela-se no estrabismo certa busca insatisfeita,
pois constantemente um olho se volta para algo ausente,
que está isolado ou faltando.
Fisiologicamente, o estrabismo é um circuito de proteção
no cérebro em virtude da ametropia, ou melhor, da
incapacidade de coordenar os dois lados da realidade. Ele
conduz à visão monocular funcional, pois as imagens do olho
desviante são reprimidas. Precisamos dos dois olhos para ver
em perspectiva; somente com imagens a partir de dois
ângulos de visão diferentes é que se produz a ideia de
espaço. Os dois olhos um pouco separados um do outro
asseguram essa informação, e o córtex visual no cérebro
calcula a partir das imagens das duas câmeras oculares uma
única imagem plástica, que permite perceber o espaço.
No estrabismo, o cérebro rejeita as informações de um dos
olhos devido ao seu problema, o que faz com que a visão
perca a terceira dimensão e a segunda se torne plana.
Assim, perdem-se também a profundidade e, naturalmente,
a profundidade de campo. Portanto, os estrábicos veem um
mundo plano, sem relevo, e já não conseguem avaliar
nenhuma distância. Por assim dizer, resvalam em uma
regressão, pois o mundo lhes parece mais um disco do que
uma esfera; até mesmo uma bola lhes parece plana. Quando
se tira a profundidade de uma esfera, obtém-se um círculo.
Isso já pode atrapalhar as crianças em seus primeiros jogos
com bola e fazê-las parecer desastradas.
Com o tempo, contudo, o cérebro consegue compensar
algumas coisas, de maneira que, aos poucos, os estrábicos
aprendem a avaliar corretamente as distâncias. O cérebro é
tão hábil que, gradualmente, consegue, por exemplo, medir
cada vez melhor as distâncias a partir do número indicado
nas sinalizações pelo caminho, do intervalo entre as árvores
de uma alameda ou da quantidade de linhas tracejadas no
asfalto das vias públicas. Entretanto, no deserto, onde falta
tudo, essas compensações voltam à tona, conforme observei
certa vez em uma viagem que fiz em companhia de uma
pessoa estrábica. Contudo, mesmo nesse caso, depois de
algum tempo o cérebro é capaz de tirar conclusões a
respeito das distâncias a partir do tamanho do rastro de
poeira, entre outras coisas. Portanto, os estrábicos são
totalmente capazes de aprender a dirigir.
Embora os romanos já conhecessem procedimentos para
reproduzir situações espaciais, não deram continuidade a
esse conhecimento. Somente no Renascimento é que a
perspectiva central foi (re)descoberta. Talvez somente a
partir desse período é que as pessoas realmente passaram a
ter consciência de sua visão tridimensional. Com ambos os
olhos, nossos antepassados podiam até dispor de tudo que
era necessário para ter uma visão do espaço, mas
eventualmente utilizavam muito menos essas possibilidades.
Uma vez que levavam uma vida ainda muito lenta em um
mundo muito mais simples, também conseguiam proceder
sem a grande perspectiva, mesmo que, obviamente, já
tivessem de fazer estimativas de distância nas caçadas ou
nas fugas.
Isso significa que, possivelmente, nesse aspecto os
estrábicos regridem à situação daquela época, quando as
pessoas ainda tinham menos perspectivas e, em todo caso,
não conseguiam reproduzi-la na pintura. Bebês estrábicos
também estão aquém desse estágio do desenvolvimento. É
possível igualmente supor que, “ao verem a luz do mundo”,
os bebês ainda sejam seres tão celestiais que ainda não se
incomodem com a polaridade “e ainda não tenham de ver a
realidade de frente”. De fato, ainda não têm de “lançar
nenhum olhar a algo determinado ou concreto”. Tão logo se
cansam, recaem no nível anterior e mais relaxado, em que
os olhos ainda não precisam se coordenar. Até o quarto mês
de vida, isso é normal, pois somente o desenvolvimento
incipiente no nível do cérebro torna possível a coordenação
dos olhos. Posteriormente, só há reincidências em caso de
cansaço. Mais tarde, o estrabismo ainda pode voltar raras
vezes em períodos de fraqueza, sobretudo em situações em
que “resta apenas um olhar fugaz” e não há energia nem
força suficientes para manter a coordenação dos olhos e
sincronizá-los. Esse tipo de estrabismo permanece na
respectiva temática fundamental.
Analogamente, o estado de pessoas alcoolizadas pode
ajudar nossa compreensão. Muitas vezes, elas veem as
coisas duplicadas, pois, devido à intoxicação de seu cérebro
pelo álcool, ambos os lados da realidade já não se
combinam. Elas também perdem em outros níveis a
capacidade de coordenação, por exemplo, ao caminhar ou
falar. Se esse estado permanecesse por muito tempo, o
cérebro teria de desligar um olho, pois não conseguiria ir
adiante com imagens duplicadas.
7.4.1 Falta de capacidade de coordenação
No nível do significado, a falta de capacidade de
coordenação permite concluir que os estrábicos já não
conseguem harmonizar nem conciliar ambos os lados de sua
personalidade, o emocional e o racional, o coração e a razão.
Analogias correspondentes revelam que o lado materno e o
paterno ou justamente o Yin e o Yang também se
desintegram. Caso outros problemas venham a se
acrescentar, isso pode produzir o risco de um
desenvolvimento assimétrico da personalidade.
Muitas vezes, o estrabismo conduz a um olhar não
direcionado e à dificuldade de conferir uma direção clara à
própria vida. A criança é impedida de desenvolver um olhar
crítico. Por outro lado, quem sempre exclui um polo e
enxerga a realidade com um só olho facilmente adquirirá a
unilateralidade em vez do discernimento. Crianças que já
não conseguem conciliar imagens e percepções
experimentadas acabam por retirar-se a um único polo. Por
exemplo, se a discrepância entre a imagem materna e a
paterna for muito grande e as crianças forem
constantemente atraídas por uma e outra, sem conseguirem
se decidir, os olhos manifestam essa condição no nível do
corpo, e cada um segue seu próprio caminho. Então, com
base na alma, o cérebro decide qual olho se tornará
determinante para a vida e qual será desconsiderado.
Quando é o olho direito a sofrer de estrabismo, o pai, suas
opiniões e visões de mundo são excluídos, e o olho
esquerdo, voltado ao arquétipo do feminino, torna-se aquele
que conduzirá a vida. Quando o estrabismo se dá no olho
esquerdo, a visão materna cai para segundo plano, e o olho
direito, comprometido com o arquétipo do masculino, torna-
se aquele que conduzirá e determinará a vida. O resultado é
uma percepção unilateral sem perspectiva. Ambos os lados
da realidade já não podem ser mantidos ao mesmo tempo, e
as contradições se tornam insuportáveis. Inconscientemente,
essas crianças não querem enxergar um dos pais; por isso,
desviaram o olhar para o outro. Desse modo, o pai ou a mãe
que não é visto “fica com cara de bobo”. É sempre melhor
do que dirigir-lhe um “olhar fulminante”, “pungente” ou
“aniquilador”, ou até desenvolver em relação a ele um “olhar
de maldade”. “Simplesmente já não ocorre a troca de
olhares.” Isso permite “ver com profundidade” como é o
relacionamento com o pai ou a mãe que não é olhado, o que
certamente não ocorre “por descuido”. Muito poucas coisas
na vida acontecem “inadvertidamente”. Nesse caso, a língua
mostra-se em uma combinação extremamente clara com a
linguagem corporal.
Se apenas o pai ou a mãe recebe o olhar do filho, isso
aponta para um tema que requer especial atenção e
consciência. A direção do olhar da criança revela a que parte
da polaridade ela dirige seu olhar “orientado” e de que parte
se ocupa, sem se deixar desviar de sua tarefa pelo outro
polo.
Como crianças estrábicas realmente não conseguem ver
uma das duas pessoas, o pai ou a mãe sente-se relegado por
elas e não confrontado pelo contato visual que falta. Assim,
também surge um sentimento de uma ligação pessoal
menor. O fato de que, por sua vez, o pai ou a mãe também
não se deixam olhar nos olhos, pois sempre os desviam,
também é sentido pelos outros como algo incômodo: “Eles
não permitem ser olhados”.
Por que para nós é tão importante que, em um encontro ou
em uma conversa, alguém nos olhe com ambos os olhos?
Provavelmente porque, do contrário, não nos sentimos
realmente considerados quando o outro olha em outra
direção e talvez “apanhe” outros olhares. Queremos estar no
centro de seu interesse, e o estrábico já não obtém esse tipo
de centro.
Quem desvia o olhar ou simplesmente olha em outra
direção não está concentrado, não está “no momento”, como
dificilmente consegue estar, do ponto de vista técnico do
olhar, junto de alguém. Através das orientações divergentes
do olhar, voltadas para fora, produz-se uma espécie de
multitasking corporal, que, no entanto, é menos eficaz do
que o multitasking social, pois o cérebro simplesmente
desliga as imagens do olho desviante, a fim de evitar tontura
e mal-estar.
Quem enxerga o mundo como um disco plano, quem não
consegue reconhecer o que vem em sua direção e em que
momento nem é capaz de avaliar as distâncias
provavelmente tampouco conseguirá “prever” alguma coisa.
Sua relação com o mundo permanece vaga e unilateral – tal
como sua visão. Ele terá dificuldades para ver ambos os
lados de um problema e, sobretudo, de uma questão e,
desse modo, também para “discernir alguma coisa”.
Nossa visão do mundo corresponde às nossas próprias
convicções. Em uma situação ideal, pode-se ver o mundo e
comparar a realidade com as próprias convicções, a fim de
conciliar ambos. Assim, a observação do mundo sempre
corrigirá as próprias convicções. Este deveria ser o ponto
sobre o qual Alexander von Humboldt dizia que a pior visão
do mundo é aquela das pessoas que não viram o mundo.
Assim, do ponto de vista (fisio)lógico, aos estrábicos resta
apenas uma visão de mundo unilateral e, respectivamente,
convicções unilaterais. Em todo caso, é alta a probabilidade
de que, a partir disso, se desenvolvam, também em sentido
figurado, convicções unilaterais que levem a uma imagem
unilateral do mundo. Em geral, resta-nos apenas a seguinte
esperança: “Cada um vê um pedacinho do mundo; juntos,
vemos o todo”. Os estrábicos precisam ter claro em mente
que, para eles, isso tem peso ainda maior e que seu
pedacinho de mundo necessita absolutamente de
complementação através de outras visões. Em seu caso,
poder-se-ia falar até mesmo de vistas, visões e perspectivas
“desviantes”. Desse modo, os estrábicos ficam com a pior
parte.
O estrabismo é uma espécie de caricatura da visão ou uma
visão da espécie irremissível. Por sua natureza, os estrábicos
têm dificuldade para reconhecer a profundidade das coisas e
dos sentimentos, por exemplo, a profundidade do amor.
Como não conseguem ver o mundo em sua profundidade,
precisam confiar em outros níveis de percepção, como seu
sentimento. No amor, este poderia até mesmo ser o melhor
caminho.
De modo geral, porém, dificilmente encontram
perspectivas concordantes e honestas para sua vida. Em um
mundo plano, sem profundidade, muitas vezes a visão
estrábica se estrutura sobre dúvidas, pois lhe falta a outra
metade. Entretanto, quem não tem nenhuma dúvida a
respeito de suas perspectivas unilaterais acaba se
transformando facilmente em um problema para si mesmo e
seu ambiente. Hoje, o estrabismo é reconhecido e corrigido a
tempo em quase todas as crianças, o que, no entanto, em
nada muda a tarefa fundamental do aprendizado.
De fato, também existe uma interpretação remissível, que
permite “ver algo bom na situação”. Visões e perspectivas
unilaterais também poderiam visar à unidade. Muitas vezes,
as crianças olham apenas para os anjos e seu reino, por
exemplo, quando seus olhos se orientam para o ponto do
sexto chakra (Ajna), do terceiro olho, aquele centro etéreo
de energia que, segundo a concepção hinduísta, reside na
raiz do nariz. Na Baviera, os mais sensitivos dizem: “Eles
olharam para os anjos”; e os mais grosseiros falam de
“castelos de loucos”. Em todo caso, esta seria uma
“perspectiva bem-vinda” em outra dimensão.
Para as crianças, o estrabismo poderia indicar que elas
devem reaprender justamente o seguinte: a olhar nessas
esferas e desfrutar de sua respectiva visão interior. Nesse
sentido, é conveniente que, do ponto de vista (fisio)lógico,
elas tenham estrabismo nos primeiros meses – afinal, elas
ainda são elementares e, à sua maneira, perceptivas.
Quem atrela sua felicidade a este mundo sempre corre o
risco de permanecer unilateral. No entanto, quem desde o
princípio consegue perscrutar o mundo como Maya, ou seja,
como reflexo plano da verdadeira realidade, sempre vendo a
unidade por trás do mundo da dualidade polar e permitindo
que a verdadeira visão cresça a partir da visão unilateral,
poderia desenvolver a experiência da unidade através de
certa simplicidade. Esta seria a grande missão por trás do
estrabismo.
7.4.2 Tipos de estrabismo
8.3 Otite
“Não quero ouvir!”
A otite é uma das doenças agudas mais comuns em crianças
pequenas, e sua difusão continua a crescer. Isso certamente
se deve a problemas ligados ao nosso tempo e que não são
resolvidos.
Em geral, essa doença vem acompanhada de dores
extremas no ouvido e febre alta, o que, por um lado, indica o
conflito interno em relação ao tema “ouvir”, “escutar” e
“obedecer” e, por outro, aponta para a mobilização geral do
organismo.
O principal período das otites é, de fato, aquela fase da
infância em que se trata dos temas “escutar” e “obedecer”.
O ouvido pertence ao princípio saturnino da redução ao
essencial, às regras e proibições, bem como aos limites e à
imposição de limites. Assim, é evidente que as dores de
ouvido reflitam problemas de educação e reproduzam a
revolta contra o excesso de “Você tem de!”, “Você não
pode!”. Na linguagem do livro A Doença como Símbolo, as
dores são gritos de ajuda, e as inflamações são conflitos.
Muitas vezes, as otites também coincidem com os
períodos de dentição, que, de certo modo, são marcados por
problemas que detonam agressividade. A criança, por assim
dizer, põe pra quebrar, à medida que seu médico interno
encena uma guerra na cavidade timpânica como se fosse
uma ação desesperada, pois o tema, no sentido figurado, foi
ignorado. Uma criança, cujas necessidades foram ignoradas,
com frequência as grita, incitada pela dor, talvez no sentido
de “Não aguento mais ouvir isso” – por exemplo, brigas
contínuas. Esse é o difícil período em que a criança aprende
a ouvir para fora e para dentro. Ela precisa aprender a
obedecer aos outros, mas também à própria voz interior.
Desse modo, o respeito tanto em relação às necessidades do
mundo exterior quanto em relação a si mesma é anunciado.
A este último cabe aprender a se delimitar de maneira
sensata (por exemplo, em relação aos pais e educadores).
Se os conflitos dos pais desencadeiam uma otite ou outra
doença na criança, a tentativa de ter esse tipo de discussão
na ausência do filho ajuda menos do que os pais imaginam,
pois, com sua sensibilidade e sua capacidade de
ressonância, a criança não deixa de perceber a desarmonia e
de se sentir ainda mais excluída. Mais importante do que
isso é dar ao filho o exemplo de um domínio construtivo dos
conflitos. Problemas são parte deste mundo e pertencem à
nossa vida. No entanto, podemos evitar ficarmos entregues
a eles, sem nenhum amparo, e deixar a criança sozinha com
seus temores. Conversas adequadas à idade são
importantes nesse caso para que a criança sinta que
continua ligada aos pais e que não precisa atribuir-se
nenhuma culpa. Quando ela percebe que os pais voltam a
fazer as pazes depois de uma briga, é de esperar que ela
perca o medo das discussões e se torne mais preparada para
os conflitos. No entanto, obviamente, o domínio construtivo
dos conflitos não significa estressar as crianças com temas
adultos e envolvê-las em toda sorte de situações.
Em todo caso, quando a criança está com otite, ela não
pode ser ignorada; é preciso ouvi-la. Nesses períodos,
quando os dentes irrompem ameaçando os tímpanos, as
defesas estão enfraquecidas. O represamento da linfa, bem
como inchaços e inflamações na região da boca, favorece a
propagação da inflamação e do conflito no ouvido médio,
comprometendo, assim, a audição.
8.3.1 O que acontece na otite?
8.6 Resfriado
“Estou com o nariz muito entupido.”
Quem tem o nariz congestionado fica indiferente à vida e
não encontra gosto em mais nada, pois está “constipado”. A
ansiada fuga da situação de crise ocorre com a “vedação” de
todas as entradas, para “nada mais ouvir nem ver”. Nos
bebês, acrescenta-se o agravante de que, com o resfriado e
o nariz constipado, eles não conseguem mamar direito no
seio materno. Com a mamadeira é um pouco mais fácil.
Antigamente, as crianças emagreciam visivelmente por
causa disso; hoje, as gotas para o nariz costumam impedir
seu emagrecimento.
Identificar um conflito no lactente não é tão fácil. Às vezes,
ocorre uma perturbação da simbiose com a mãe. O mais
provável é que o bebê esteja farto da mãe, pois ainda nada é
muito importante para ele. Possivelmente, ele já não
consegue sentir o cheiro nem o gosto da mãe (do seu leite).
Ao contrário do que acontece com os adultos, ele só
consegue expressar essa repugnância ou até aversão
através do corpo. Só que isso aumenta a dramaticidade
daquela que talvez seja a primeira doença em sua vida.
Quando o bebê não se desenvolve, geralmente a relação
com a mãe tampouco é bem desenvolvida, e ele só
consegue expressar isso se fechando, uma vez que não
consegue articular-se de outra forma.
A limitação da comunicação é evidente. O nariz está
tampado, os brônquios também tendem a se fechar, a
garganta está cheia. Igualmente nesse caso, a recusa é
clara. Quando um bebê, cujas principais ocupações na vida
são dormir e mamar, “já não quer engolir”, a profundidade
do distúrbio não deixa dúvidas.
Quando essa situação vem acompanhada de tosse, a
resistência agressiva é ainda mais clara. O bebê “tosse”
alguma coisa para seu ambiente, ou seja, para a mãe. O
resfriado obstrui o olfato; a amigdalite obstrui a deglutição; o
catarro auricular, ao fechar a tuba auditiva, bloqueia a
audição. Quando a criança ainda é acometida pelo calor da
febre, tudo volta a fluir mais rapidamente, e o nariz que
estava constipado passa a escorrer continuamente. Assim, a
vida da criança também pode voltar a fluir.
Os bebês encontram-se em elevada ressonância com a
mãe e, muitas vezes, por meio dessa proximidade,
vivenciam coisas de que mães exaustas não conseguem dar
conta – por exemplo, quando se retraem devido ao excesso
de exigência e às poucas horas de sono. Esse “isolamento
espontâneo” logo preenche dois critérios: ele reflete a
problemática da mãe e garante sua preocupação e sua
atenção redobradas, que, nessa idade, são uma questão de
sobrevivência. Nesse caso, é importante não confundir trocar
a quantidade de tempo com a qualidade emocional, ou seja,
por um lado, a mãe deve dedicar-se de fato, mas, por outro,
não deve sentir a consciência pesada ao deixá-lo com
alguém para cuidar de si própria por um tempo.
A tarefa dos pais consiste em fazer a vida da criança e sua
própria fluir novamente e perceber os conflitos que a criança
só consegue expressar por meio de sua linguagem de
sintomas. O nariz escorrendo e a expectoração devem ser
entendidas e estimuladas como formas de limpeza, e não
impedidas. Os bebês normalmente espirram muito, a fim de
liberar o nariz, o que deve ser entendido como um reflexo
fisiológico, uma vez que ainda não conseguem assoar. As
gotículas saem do nariz com a velocidade de projéteis, o que
enfatiza o efeito de alívio do espirro. Uma indicação tão
banal quanto importante é a de aquecer os pés da criança.
Outra dica ainda mais importante é pingar leite materno
(ou Symbioflor) no nariz do bebê para normalizar a situação
no que diz respeito aos vírus envolvidos ou restabelecer a
simbiose em nível microbiológico. Obviamente, é decisivo
que essa simbiose seja restaurada do ponto de vista
psíquico.
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
►
Ver a seção “8.7 Sinusite”.
8.7 Sinusite
“Continuo com o nariz entupido!”
Os seios paranasais são câmaras de ar que fazem parte do
crânio e que, ao permitirem a entrada do ar, tornam-no mais
leve e o arejam. Se não existisse e seu lugar fosse ocupado
por ossos maciços, a cabeça seria insuportavelmente
pesada. Com os seios nasais livres e arejados, a percepção
da vida também fica mais leve. A boa circulação de ar traz
vitalidade e leveza para a vida. Se, ao contrário, estiverem
cheios de secreção e permanecerem muito tempo
constipados, a vida fica pesada e nos “puxa para baixo”.
Friedrich Graf descreve os seios paranasais como os
porões da alma para as lágrimas contidas. Quando a criança
chora, é natural que seu nariz fique constipado. Quando seu
nariz se mantém constipado no sentido de uma sinusite
crônica, ele também se fecha para um represamento de
lágrimas, especialmente na fase em que nada flui ainda. A
sensação é de estar “tampado”. Quando o nariz volta a
funcionar, ou seja, quando as secreções voltam a fluir, a
pressão nos seios paranasais também cede. Nesse
momento, o represamento psíquico também deve escoar.
Naturalmente, é muito mais difícil descobrir na criança
pequena por que o nariz fica sempre constipado. A esse
respeito, remetemos ao capítulo sobre a predisposição a
infecções. Também trato esse tema com mais detalhes no
livro A Agressão como Oportunidade.
O importante é ter claro em mente que o resfriado em
bebês ainda pode não ser uma sinusite, pois, geralmente,
neles os seios paranasais não são arejados. Como esses
seios se desenvolvem apenas no decorrer da infância, uma
sinusite maxilar, por exemplo, só é possível a partir do
quarto ano de vida. As células do etmoide já existem no
nascimento e, a partir do segundo ano de vida, podem ser
acometidas por agentes patogênicos. No entanto, uma
sinusite frontal só é possível a partir do sexto ano de vida, e
uma infecção do seio esfenoide, dos 8 aos 10 anos. Por
conseguinte, uma criança com menos de 2 anos ainda não
pode ter uma verdadeira sinusite. Portanto, nariz constipado
em recém-nascidos e bebês corresponde a um resfriado
“banal”.
Perguntas para os pais, especialmente para a mãe (de
crianças acima de 1 ano):
►
O que meu filho (ou eu mesma) já não aguenta?
►
O que faz com que ele se feche em tantos
níveis?
►
Por que ele demonstra essa agressividade
(contra mim)?
►
Quando reprimo minha agressividade?
►
Para o que ele quer ser fechar? Para o que eu
quero me fechar?
►
O que perturba nossa ligação?
Medidas de apoio:
►
São eficazes as mesmas medidas mencionadas
nos temas “predisposição a infecções” (8.1),
“tosse e bronquite” (9.1), “otite” (8.3) e “dor de
garganta” (8.5).
9.3 Pneumonia
“Minhas asas estão doendo muito.”
Nas dez luas da gestação, os pulmões do feto ainda não
estão desenvolvidos. Ainda não precisam participar dos
eventos do metabolismo, uma vez que a mãe assume a
respiração e transmite oxigênio à criança através da troca de
sangue na placenta. Com o nascimento e a primeira
respiração por conta própria, os pulmões são inflados, e o
elemento ar entra na vida jovem. Este é o passo dado pelo
ser na passagem da vida na água para a vida no ar,
superado ao longo da história evolutiva e novamente exigido
de toda criança ao final da gestação. Os “anjinhos” precisam
desdobrar suas asas por iniciativa própria. Nesse sentido, o
auxílio vindo “de cima” não deve ser subestimado. Até
mesmo a Adão, o primeiro ser humano, Deus enviou seu
sopro. A partir de então, a criança torna-se, ainda mais, um
ser anímico. É significativo que o termo grego psyché para
“alma” também seja “sopro (de vento)”.
Na pneumonia, há uma inversão no sentido do
desenvolvimento. As asas internas que, desde a primeira
respiração por conta própria, ficam comprometidas com o
elemento ar, voltam a se encher parcialmente com água e
matéria, sofrendo uma recaída, uma regressão ao período
anterior ao nascimento, quando toda a responsabilidade
ainda era da mãe e o feto podia permanecer em uma
situação de unicidade paradisíaca. Tudo de que precisasse
recebia em abundância sem ter de fazer nada. Unido à mãe,
podia abastecer-se de confiança primária e assegurar-se de
si mesmo e do mundo.
Portanto, a tarefa da pneumonia seria garantir à criança
um período de retrocesso, para que ela novamente atinja
sua força primordial, volte-se para dentro e (na unidade)
experimente a confiança primária. A ocorrência da doença
impõe isso de maneira muito evidente por meio de sua
gravidade.
Segundo o livro A Doença como Símbolo, trata-se de tirar o
encargo da doença física no nível psíquico para que o corpo
seja aliviado desse trabalho de representação. Na
pneumonia – ocasião em que, na região dos alvéolos,
preenchida por ar, penetram fluidos e células –, isso
significaria, em sentido figurado, arraigar-se mais no campo
da comunicação e lançar raízes na matéria, isto é, vivenciar
uma comunicação mais substancial. Na prática, isso poderia
significar, por exemplo, apostar mais em intercâmbios
autênticos do que assistir à televisão e a DVDs. Os meios
modernos de comunicação de massa já são, em grande
medida, vias de mão única, mas a verdadeira comunicação
também sempre precisa do tráfego oposto, ou seja, do
intercâmbio com as outras pessoas.
O que há por trás da recaída física da pneumonia? Como
os pulmões são um local de intercâmbio entre o mundo
exterior e o interior e, por conseguinte, junto com a pele,
nosso segundo órgão de contato, possivelmente há um
conflito insolúvel no plano da comunicação e que passou
para o corpo. Na pneumonia, a troca sofre um distúrbio não
apenas no nível dos gases oxigênio e carbono. Na batalha
realizada pelos agentes patogênicos contra as células de
defesa, os alvéolos, que podem ser imaginados como
pequenos balões de ar, enchem-se de líquido e se inflamam.
Além disso, na pior das hipóteses, podem ficar tão
preenchidos com a sucata de guerra que a troca de gases é
bloqueada por mais tempo.
A mobilização geral da febre mostra que a guerra nos
alvéolos ameaça todo o organismo, e todo o restante que
não for decisivo deve ser adiado. Naturalmente, isso
também vale no sentido figurado. Nesse momento, no
ambiente da criança, tudo deve ser colocado a serviço da
solução desse problema.
Pouco importa qual agente patogênico é o causador. A luta
impiedosa com as defesas do corpo revela que, para ambos
os lados, o todo é que está em jogo. Quando as defesas e,
portanto, a criança, vencem pelas próprias forças, conquista-
se uma grande vitória e dá-se um claro passo na direção do
desenvolvimento, enquanto os agentes patogênicos são
derrotados e aniquilados. Se a batalha for vencida com o
auxílio de antibióticos, como hoje é tão comum, a vitória é
reduzida, e o passo rumo ao desenvolvimento, menos
impressionante. Muitas vezes, ele terá de ser repetido. No
consultório pediátrico isso se mostra nas chamadas
recidivas. É assim que os médicos nomeiam o
reaparecimento de sintomas que acreditavam superados e,
com ele, seus fracassos. É lamentável que, na maioria das
vezes, os pais não tenham como mensurar o quanto eles
poupam a si mesmos e a seus filhos com lutas autênticas e
honestas de longo prazo, que podem ser amparadas pela
homeopatia ou, no melhor dos casos, pela naturopatia.
A longo prazo, o resultado é uma determinação do
caminho a ser trilhado. Crianças que aprenderam a confiar
em sua própria força (de defesa) se comportarão de um
modo totalmente diferente na vida e disporão de reservas
seguras. Por outro lado, se forem constantemente
amparadas por antibióticos, suas defesas se adaptarão a
eles e permanecerão dependentes de auxílio externo –
infelizmente, os “donos” desses sistemas de defesa
também. Ao mesmo tempo, já são maioria as pessoas que
pedem formulários em caso de problemas e necessidade de
ajuda. Todavia, também as sociedades modernas vivem
daqueles que sabem se ajudar e tomar as rédeas da situação
e, assim, enfrentar a vida.
Dores no peito indicam que algo no centro (energético) – o
local para onde o ser humano aponta quando diz “eu” – grita
por socorro. Nesse centro da condição humana encontra-se a
atenção, e é para ele que as dores se dirigem.
Às vezes, depois de superada a pneumonia, as crianças
dizem “eu” pela primeira vez, o que, obviamente, também
depende da idade. De modo geral, uma pneumonia superada
com êxito traz consigo um reforço do eu, como ocorre com
toda doença superada com sucesso e pelas próprias forças.
O centro do tórax também poderia ser chamado de “centro
da comunicação”. Em vez de despejar sua agressividade no
ambiente, a criança a vivencia com a pneumonia em
ataques incisivos de tosse e em seus respectivos acessos.
No nível físico, a tosse faz com que o material que obstrui os
alvéolos seja transportado para fora; no nível figurado, trata-
se de uma expressão vital. As crianças precisam aprender a
lutar para se libertar e a fazer alguma coisa para conseguir
expandir novamente suas asas (seus pulmões).
A respiração curta revela quão ameaçadora é essa
situação de bloqueio no âmbito da comunicação para todo o
organismo e para a vida. A dilatação das narinas, devido ao
esforço para respirar, mostra que aqui é preciso chegar ao
limite das próprias possibilidades. Quando se chega a uma
cianose, ou seja, quando a criança começa a ficar roxa, a
todos fica claro que se trata de uma luta pela vida.
O conflito subjacente de comunicação pode ter muitas
razões. Possivelmente, também é um problema de
comunicação entre os pais, que, em sua situação de ameaça
e em sua sinceridade ainda presente, a criança percebe
como um problema seu e o reflete do ponto de vista físico.
Todavia, também se pode tratar da sensação de estar
isolada e de já não ter contato com os pais, os amigos,
consigo mesma ou com a vida.
A linguagem é uma válvula que ainda não está à
disposição das crianças pequenas, mas que muitas vezes
também não é suficiente para crianças mais velhas,
adolescentes nem para adultos, pois o conflito de base é
inconsciente. Nesse caso, os sintomas, entendidos como
linguagem da alma da criança, poderiam exprimir o
seguinte: “Estou quase sufocando porque não consigo me
comunicar!”, “... porque não consigo dizer o que está
acontecendo comigo e me atormentando!” Antroposofistas
partem do princípio de que à pneumonia sempre precede
uma friagem. Contudo, não se deve interpretar isso na
prática, e a criança não precisa estar fisicamente com frio ou
molhada para pegar pneumonia. Ela pode perfeitamente
sentir-se “abandonada” ou sentir a frieza ou ainda uma falta
de calor anímico. Na febre, como em uma resposta ao nível
físico de substituição, ela mobiliza o próprio calor interno
contra o frio que sente.
Tanto entre crianças quanto entre adultos, o frio “interno”
também pode ser o problema. Quando uma pessoa, em
razão de sobrecargas, frustrações, solidão ou tristeza,
constrói uma distância interna em relação a si mesma e ao
ambiente e, por isso, mobiliza pouca energia interior de vida,
ou seja, calor físico e emocional, deve-se oferecer-lhe a
oportunidade terapêutica de refletir sobre si mesma e de
buscar força, energia e calor em seu próprio interior. A febre
também cumpre esse sentido, pois, ao aumentar a força de
defesa, faz com que, no âmbito de uma mobilização geral,
um novo nascimento, ou melhor, um renascimento possa ser
realizado na recente batalha pela vida. Os nascimentos
também sempre precisam do calor da energia do fogo, para
que a irrupção no novo mundo seja bem-sucedida. Assim
como a água dos primórdios, que nas clínicas modernas de
obstetrícia é aspirada, o exsudato também precisa ser
retirado dos pulmões. Para tanto, eles precisam da tosse e
do calor da febre.
Obviamente, não é por acaso que o fósforo, medicamento
homeopático mais usado para a pneumonia infantil, encobre
muitos desses sintomas. Muitas vezes, o tipo fosfórico já não
consegue se comunicar com o mundo porque não teve calor,
dedicação e carinho suficientes. Ele tem de ser obrigado a
retirar-se em si mesmo, tal como faz quando tem
pneumonia. Pois, de fato, é muito voltado para fora e muito
extrovertido para satisfazer as necessidades da própria
alma. Do ponto de vista psíquico, como passa muito tempo
com os outros, é muito compassivo, gosta de estar em
contato com as outras pessoas, é entusiasmado e atento
apenas ao que ocorre do lado de fora, ele busca amor.
Quando decepcionados, não raro os tipos fosfóricos
refugiam-se em regressões que, como na recaída dos
pulmões, podem exprimir-se em um estágio anterior ao
nascimento. Na pneumonia, o tipo fosfórico faz entrar o
elemento anímico água no nível físico, e não no figurado. A
adoção do medicamento pode ajudá-lo a recriar esse
elemento também no sentido anímico.
O quadro orgânico da pneumonia evidencia com clareza e
honestidade a situação do tipo fosfórico. Antes de
adoecerem, os afetados se extenuam exteriormente;
sentem-se muito pouco inspirados e assimilam poucas
coisas. Isso chega a ser audível através do rumor que
produzem ao inspirar.
Como asas internas, os pulmões realmente nos tornam
seres inspiradores, semelhantes a anjos. Crianças com
pneumonia perdem esse aspecto de leveza (como pluma),
bem como a possibilidade de uma inspiração leve e livre.
Outro medicamento homeopático típico para casos de
pneumonia, a Bryonia ou norça, pode contribuir para
entendermos a situação psíquica. Nesse quadro, as causas
são o frio (de isolamento ou sensação) ou a irritação. Ambos
podem deixar a pessoa insegura ou fazê-la adoecer. Nesse
caso, o problema de comunicação é tão evidente que os
tipos Bryonia não suportam a menor pressão em sua pele,
nosso primeiro órgão de comunicação. Por outro lado,
sentem muita sede e bebem muita água, o elemento
anímico que lhes falta. Depois da ingestão do medicamento
– contanto, é claro, que tenha sido apropriado –, não raro se
observa que as crianças voltam a se comunicar, a se
movimentar e até a entrar espontaneamente em contato
com o ambiente.
Por fim, na pneumonia, como dizem os indianos, trata-se
de desenvolver asas e raízes de maneira corajosa e
batalhadora nos momentos de desafio da crise. O tipo
fosfórico ainda não está enraizado o suficiente em seu
próprio território (anímico) e, com a pneumonia, recebe essa
oportunidade de trabalhar novamente nessas raízes. Se isso
não der certo de imediato, sabe-se que esse quadro
sintomático pode ressurgir. Contudo, se a criança já dominou
essa tarefa uma vez, ela não precisa que o destino lhe envie
novamente a salvação. Uma criança que, desde o início,
pode formar raízes confiáveis poderá mais tarde ousar
expandir suas asas e, com coragem, sair voando pela vida.
Ela sempre pousará com segurança e encontrará terra firme.
Ou, para citar os indianos mais uma vez: “Somente quem se
encontra profundamente enraizado na mãe Terra pode ousar
erguer a cabeça para o pai Céu”. Isso não quer dizer, porém,
que as crianças que atravessam a vida de cabeça erguida se
tornarão arrogantes e presunçosas. Estas são, antes,
tentativas de compensação de crianças modernas, às quais
muitas vezes falta a confiança primária. Quem se sente
considerado pela vida e nela entra com segurança se sentirá
honrado pela criação e, evidentemente, também a honrará –
de cabeça erguida, essa criança se comunicará com a vida
com muito amor. Os casos de pneumonia poderão prepará-la
para isso se forem compreendidos e tiverem suas exigências
levadas em conta.
Perguntas para os pais:
►
Como transmitir ao nosso filho mais daquela
confiança primordial que, aparentemente, lhe
faltou na gestação?
►
Como podemos ajudá-lo a encontrar a si mesmo
e a desenvolver a autoconfiança?
►
Onde falta comunicação? O que não é
manifestado (entre nós)? Como fazer com que
nosso filho diga abertamente o que o atormenta?
Estamos ouvindo o suficiente o que ele tem a
dizer?
►
Em que nível não conseguimos nos comunicar e
nos entender corretamente?
►
Pelo que luta nosso filho?
►
Em que situações temos um tema semelhante e
como podemos acompanhá-lo?
►
Em que circunstância ele está travando, talvez
em nosso lugar, uma batalha que não vivemos?
Como podemos encorajá-lo a reconhecer seus
desejos com mais liberdade?
Medidas de apoio:
►
Ver seção “4.6 Coqueluche”.
9.4 Pseudocrupe
“Estou sem ar e sem voz.”
O palco dessa doença angustiante é a laringe, órgão de
expressão da voz e do estado de espírito (da vida) na região
do pescoço e local de ligação, comunicação e incorporação.
Na infância, a voz aguda demonstra falta de ligação com a
terra, bem como sonhos e ideias que voam alto, típicos da
idade, mas também uma disposição de vida que é tudo,
menos firme; por isso, a criança parece muito frágil.
Somente na puberdade é que, com a laringe, se desenvolve
o sentido da realidade e de ligação com a terra; depois de
algumas escapadas, a voz desce e encontra sua
profundidade – nos meninos, isso fica bastante claro com a
mudança de voz.
Se a voz falha por completo, como em casos extremos de
rouquidão no (pseudo)crupe, quando nem o mais ínfimo som
sai da boca, isso significa um esgotamento do estado de
espírito. A criança já não pede para falar e, por assim dizer,
não tem voz em seu ambiente nem encontra quem lhe dê
atenção, correndo o risco de não ser notada.
Porém, mais do que a falta de voz da rouquidão, o medo
de sufocamento, que se desenvolve com a falta de ar,
mostra-se em primeiro plano. Na prática, ele só ocorre à
noite, no ápice da inconsciência, da sombra. Durante o sono,
vigiado pelo deus Hipnos da Antiguidade, seu irmão,
Tânatos, a morte, também entra em jogo, pois, de fato,
crianças que sofrem de crupe podem morrer sufocadas.
Contudo, o verdadeiro crupe tornou-se tão raro quanto a
difteria, quadro sintomático correspondente. Hoje, quase
sempre o tratamento é voltado para o chamado
pseudocrupe, que, embora imite o crupe autêntico,
normalmente não decorre de modo tão explosivo e
ameaçador.
Em geral, são acometidas crianças entre 2 e 6 anos,
quando também ganham irmãos; um período em que a
expressão verbal ainda é difícil, em que as necessidades
psíquicas podem ser vivenciadas, mas ainda não formuladas.
Uma tosse rouca, seca e dolorida revela a agressividade que,
normalmente, não chega a se manifestar e nada tem a
liberar. Durante o dia, as crianças mal conseguem falar e não
encontram quem lhes dê atenção; à noite, porém, pode-se
ver que querem expressar alguma coisa, que estão em
dificuldade e correm o risco de sufocar por causa de sua
situação.
A respiração convulsiva que ocorre à noite é desencadeada
por um inchaço na mucosa sob as cordas vocais. Esse
inchaço conflituoso na mucosa da laringe, que na difteria é
chamado de “crupe” e, em outras inflamações, de
“pseudocrupe”, representa a batalha pela vida que as
crianças acometidas travam na garganta.
Todo conflito agressivo no campo da voz e da deglutição
pode ameaçar a vida em razão de sua localização,
provocando o risco de sufocamento. Nesse caso, a garganta
se fecha a ponto de as crianças já não conseguirem gritar
por causa do inchaço e da rouquidão. Queixar-se “em alto e
bom som” não é possível, mas engolir também se torna
difícil devido às dores na região inchada. A única coisa que
conseguem pôr para fora são as descargas agressivas na
tosse tipicamente rouca do crupe. A garganta da criança
estreita-se demais para que ela consiga respirar, o que, do
ponto de vista da linguagem, soa como a problemática
psíquica correspondente. A ligação entre a cabeça e o
pescoço corre o risco de ser interrompida – uma verdadeira
ameaça de morte. As crianças realmente estão “fartas até o
pescoço”.
O inchaço, que se intensifica durante o sono e as acorda
com a sensação de falta de ar, ocorre de modo tão abrupto
e, muitas vezes, tão agudo e perigoso, que as crianças nem
sequer conseguem gritar por socorro. Os sinais de alarme
provêm, sem exceção, do campo psíquico e social e, com
muita frequência, são ignorados.
Especialmente traiçoeira é a maneira como o ataque
extremamente agudo e ameaçador surge sem nenhum aviso
prévio, fazendo com que os pais sejam confrontados
inesperadamente com o medo da morte. A pergunta “E se
nosso filho deixar de viver?” invoca o maior medo dos pais
que é o de perder seu filho.
Nesse caso, tornam-se evidentes, com toda dramaticidade,
as tendências infantis à fuga. As crianças poderiam fugir
clandestinamente. Assim, o acesso de crupe deve ser
entendido como um tiro de advertência, que à noite
surpreende os pais, de modo inesperado e brutal, em uma
fase sensível. À noite, também os pais modernos têm tempo
para observar como seu filho é ameaçado pela falta de ar –
e, felizmente, nada de ruim acontece. É o momento em que
já não têm tantos afazeres e podem cuidar dele.
Entre as causas, devem-se mencionar coisas concretas,
como a poluição nas grandes cidades, mas também a
dificuldade de expressar a agressividade e de dizer de uma
vez por todas a própria opinião aos pais. Em geral, mudar
para o campo resolve de imediato os problemas do
pseudocrupe. Desse modo, com o sintoma, as crianças
afetadas também transmitem aos pais o sentimento de
culpa, pois, com um ar e uma atmosfera apropriados a elas e
aos adultos, o problema logo desapareceria. Mas poucos pais
podem recorrer a essa solução de mudar para o campo, caso
de fato o queiram.
Seja como for, em diversos aspectos as crianças se sentem
no lugar errado, onde não conseguem respirar, e recebem
pouquíssima energia boa. Correm o risco de sufocar em uma
atmosfera abafada, apertada e seca do ponto de vista
psíquico. Na rouquidão, elas se sentem como se tivessem
gritado por horas, quando, na verdade, não emitiram
nenhum som. Isso mostra que a medida de emergência
precisa ser aplicada urgentemente ao corpo. Na maioria das
vezes, os interesses da alma são ignorados por muito tempo.
Possivelmente, as crianças também receberam cedo demais
muitas responsabilidades e se fecham de maneira
impressionante.
Ar poluído e, em sentido figurado, pensamentos sujos
pioram sua condição; ar fresco e pensamentos limpos a
melhoram. Ar úmido também a alivia rapidamente. Em
sentido figurado, a isso corresponderiam os pensamentos
ligados à energia da alma, que fazem “o coração da criança
bater na garganta”.
Um esclarecimento antroposófico da doença parte do
princípio de que, à noite, a atividade dos rins diminui e a do
fígado aumenta. A primeira lava, e a segunda promove a
retenção de líquido. Durante o dia, o escoamento da alma
pode fluir perfeitamente; à noite, ao contrário, não. De fato,
à noite passamos um longo tempo sem eliminar nada. Nesse
represamento, o problema se torna evidente. Sensações de
sufocamento, medo, aperto e o respectivo pavor se
expandem.
Essa teoria é asseverada pelo fato de que um
fortalecimento na função dos rins realmente melhora o
quadro clínico da criança. No sentido de uma “medicina
arquetípica”, isso aponta para um problema de Vênus já
existente e, portanto, a uma temática de relacionamento ou
parceria, muito provavelmente com a mãe.
Quem nunca está satisfeito nesse caso? Será que a criança
não está querendo comunicar à mãe que esta não deve
importuná-la nem sufocá-la (mãe superprotetora)? Por
conseguinte, o despertar noturno seria uma medida de
legítima defesa da criança, pois, assim, seus rins podem
funcionar melhor e, no nível psíquico, a relação com a mãe
poderia melhorar: a mãe poderia saber dos problemas do
filho e compreender seu próprio comportamento
problemático.
Uma medida bastante simples, porém insuficiente, seria
arejar bem o quarto em que a criança dorme, permitindo a
entrada de ar fresco e usando umidificadores e ionizadores
de ar. Contudo, essa é apenas uma primeira medida
emergencial, que reage superficialmente à necessidade da
criança. Auxílios mais substanciais, cujos efeitos cheguem ao
nível psíquico, são necessários e urgentes.
Com frequência, há situações em que as crianças
pequenas têm medo à noite porque se sentem entregues a
poderes obscuros, que, porém, elas não conseguem
expressar. Nesse caso, às vezes ajuda deixar que durmam
em um ambiente em que elas possam estar “presentes”.
Mesmo a sala, com sua atmosfera menos tranquila, pode ser
um “quarto” melhor para elas, pois nela se sentem parte da
família, em vez de serem empurradas para a escuridão.
O fator decisivo é que (a longo prazo) as pessoas afetadas
aprendem a lidar de maneira aberta com os conflitos, a se
defender conscientemente e a lutar pela sobrevivência. As
lutas iminentes poderiam ser resolvidas com mais eficácia
através da linguagem no campo da voz e da deglutição,
assim que as crianças começassem a expressar sua opinião
e a se impor. De preferência, a criança deveria liberar-se da
agressividade, colocando-a para fora, o que, no entanto,
pode ser uma iniciativa “ousada”. Entretanto, a longo prazo,
ela estaria arriscando a própria vida se não reunisse a mente
e o corpo em suas necessidades e só continuasse
ameaçando com sua interrupção duradoura. Como tanto os
órgãos respiratórios quanto os rins estão envolvidos, em
ambos os órgãos, que em essência têm a ver com o tema
“eu – você”, trata-se, em última instância, do equilíbrio entre
“O que quero e como digo isso?” e “O que o outro quer e
como lido com isso?”
Perguntas para os pais:
►
O que nosso filho está querendo expressar e
talvez ainda não consiga? Estaríamos dando-lhe
pouca oportunidade para tomar a palavra?
Estaríamos prestando pouca atenção a seus
sinais?
►
Em que circunstâncias o restringimos demais,
talvez porque nos preocupemos em demasia?
►
Que perguntas podemos fazer para que nosso
filho aprenda a refletir sobre si mesmo e a se
expressar (a partir dos 5 anos)?
►
Do que ele tem medo?
►
Do que quer fugir?
►
Como podemos ajudar nosso filho a se impor e a
se aproximar dos outros?
Medidas de apoio:
►
Acalmar a criança.
►
Respirar junto com a criança, tranquilamente e
devagar.
►
Providenciar ar úmido (abrindo a torneira ou
ligando o chuveiro no banheiro) ou fresco.
►
Florais de Bach: pingar diretamente na língua da
criança e dos pais algumas gotas do Rescue
Remedy do doutor Bach.
►
Tratamento homeopático: em casos agudos, a
seguinte mistura mostrou-se eficaz: Aconitum
D6, Hepar sulfuris D6, Spongia D6. Quebrar as
ampolas, inserir seu conteúdo em uma seringa e
espirrá-lo de duas a três vezes diretamente na
boca da criança.
Aconitum C30, dois glóbulos: se as dores
aparecerem repentinamente durante o sono, sem
pré-aviso. A criança fica ansiosa e inquieta. A tosse
torna-se rouca, seca, como um latido, e violenta.
10.2 Gases
“Estou fedendo!”
A criança que sente seu próprio mau cheiro libera sua
agressividade indiretamente. Ela se opõe a alguém,
descarrega sua raiva (por trás) e, “empesteando o ar”,
procura manter afastadas pessoas desagradáveis, o que não
raro ofende a própria mãe. Quem afugenta os outros com
bombas caseiras de mau cheiro recorre a uma retórica
fétida, bastante repugnante e desrespeitosa no verdadeiro
sentido do termo. A causa física superficial reside com
frequência em um meteorismo bem desenvolvido, que
desafoga a tensão e a pressão sofrida pelo abdômen. Por
trás desse sintoma estão um intestino grosso
sobrecarregado e um inconsciente que lhe corresponde,
sendo que o intestino grosso representa o inferno, o Hades
ou o reino dos mortos no corpo. Muitas vezes, uma flora
intestinal danificada é a base física mais profunda do
sofrimento, cuja causa nos tempos modernos não raro são os
tratamentos à base de antibióticos. Só o termo já revela que
são voltados contra (anti) a vida (bios) – do ponto de vista da
medicina acadêmica, é claro que se destinam a combater a
vida de bactérias; porém, na prática, muitas vezes
combatem a vida do indivíduo, que sai prejudicado com o
enfraquecimento das próprias defesas.
Por meio dos gases, a criança se expressa por trás, porque,
pela frente, (ainda) não consegue ou não é ouvida. Com os
gases, a energia desaparece pela saída dos fundos. Isso é
sinal de uma força de integração anímica insuficiente e de
que a criança incorpora coisas que não lhe são salutares e
que, ao contrário, cheiram mal. Nesse caso, o alimento não é
digerido, e sim gaseificado, o que o torna menos proveitoso
e extremamente problemático.
A tarefa estaria em encontrar caminhos mais produtivos
para que a criança possa se expressar. Ela precisa e deve
mostrar quando sente que alguma coisa está cheirando mal,
pois isso melhora toda a situação. Na prática, embora a
saída dos gases seja desagradável para o indivíduo em seu
ambiente mais imediato, para a criança é um alívio. Desse
modo, ela deixa escapar o excesso de pressão do centro do
seu mundo e, com o consequente alívio, passa a sentir-se
melhor. Em contrapartida, quem segura os gases sempre
acaba sofrendo mais pressão e corre o risco de explodir
como uma panela de pressão com a válvula entupida.
As dores sentidas por causa dos gases devem ser
interpretadas como um grito de socorro da criança que
perdeu seu centro. A inquietação que acompanha o
meteorismo na criança demonstra sua vontade de tornar-se
mais ativa e, em última instância, de conhecer a vida. Os
distúrbios do sono, também frequentes, representam o
desejo de acordar para este mundo, mesmo que ela exprima
isso de modo ainda muito contido.
Em geral, em todas as idades, os gases pressupõem o
aprendizado de soltar oportunamente a pressão que surge e
também de se exprimir de maneira agressiva, direta e
frontal, a fim de não apenas empestear o ar e ser obrigado a
agir apenas por trás. Quem desenvolve a coragem para um
confronto direto pode poupar-se dos desvios e transmitir, de
maneira igualmente direta, até mesmo os conteúdos mais
sombrios de seu inferno. Em última instância, como dizem os
budistas, trata-se de exercer o bhoga, ou seja, de aprender a
“comer o mundo”, o que nada mais significa além de digerir,
ou melhor, elaborar a vida que cabe a cada um – tudo a seu
tempo e em seu lugar. Portanto, as crianças que sofrem de
excesso de gases e de agressividade represada precisam
entrar em contato com a vida e com o mundo. Assim, é
aconselhável oferecer-lhes estímulos de acordo com a idade,
torná-las curiosas e sempre proporcionar espaço para que
possam espernear e dar chutes, sem com isso provocar uma
avalanche de agressividade contra os pais.
Para a maioria dos pais, os gases dos filhos não são
nenhum problema. Na amamentação, chegam a ser vistos
como muito agradáveis. É uma questão de empatia de
quanto a criança é amada ou, ao contrário, desperta
repugnância. De acordo com o caráter deste livro, temos
aqui de nos ocupar mais dos “problemas”, mas também
queremos dar espaço às oportunidades. Assim, até mesmo
os gases fortes das crianças, sobretudo quando elas os
seguram por muito tempo, podem transformar-se na máxima
forma de amor.
No entanto, para muitos pais, a situação também pode
significar um desafio, submetendo seu amor a uma dura
prova, pois, nesses casos de excesso de gases, eles se veem
muitas vezes sob pressão. Desse modo, são desafiados a
despertar para seu filho e seu papel como pais, justamente
em uma situação em que ele causa repugnância a eles
próprios e a todos, talvez de modo constrangedor. O amor da
mãe ou dos pais (livre de expectativas e exigências) é a
forma mais desenvolvida de amor na Terra e o campo de
treinamento ideal para o amor celestial (a Deus), que
também é incondicional. Assim, os próprios filhos se tornam
uma grande prova, um desafio e uma oportunidade, pois
justamente nas dificuldades embaraçosas que os pais têm
com eles é que se poderia desenvolver a forma especial e
incondicional do amor. Nesse caso, a criança tornaria
fecundo o amor dos pais e, com ele, a união de que é fruto,
em vez de colocar esse amor à prova.
No entanto, com muito mais frequência, a gravidez
sobrecarrega e prejudica o relacionamento, e crianças que
sofrem de flatulência crônica mais ainda, pois essa
oportunidade de crescer dentro de um amor abnegado é
desperdiçada, e os nervos dos pais, sobretudo os da mãe,
sofrem muita pressão e são expostos a verdadeiras provas
de resistência. Porém, quando ela consome todos os seus
nervos com seu filho que sofre de flatulência, que incha e
empesteia o ar, eles lhe faltam no relacionamento com seu
parceiro. Ela chega a se irritar com ele e também consegue
mostrar-lhe o que reprime com a criança, tal como os
adultos reprimem seus próprios gases, em geral em
detrimento próprio e por consideração ao ambiente.
Todavia, não raro o parceiro se irrita com a situação de
viver com uma criança que cheira mal em vez de sorrir e que
absorve a mãe por completo, fazendo com que ela cumpra
apenas secundariamente seu papel de esposa, para não
falar naquele de amante. Assim, muitas vezes ele foge para
outro quarto, para o esporte ou para o trabalho, em vez de
estar presente como pai. Essa função exigiria dele
amadurecer emocionalmente como pai, em vez de
permanecer dependente da mãe nesse campo, queixando-se
de ser deixado de lado e afastando-se.
Muitas vezes, apenas a mãe se familiariza com essa forma
elevada de amor, apesar ou justamente por causa de todos
os desafios, que não apenas podem ser exigidos, mas
também estimulados do ponto de vista da alma. Depois,
pode acontecer de seus desejos mais profanos de amor a
irritarem porque, cansada e esgotada, já não lhe resta
energia. Para o parceiro, que, aparentemente, nada recebe
porque nada tem e não está pronto para receber esse vazio
como aprendizado, esse amor de mãe, que lhe dá a
impressão de ser provocador e justamente atua como uma
demonstração, pode lhe dar literalmente o que sobra. Assim,
para ele, não apenas a criança cheira mal, mas também toda
a situação, a tal ponto que, não raro, ele a questiona.
Nesse caso, caberia aos pais a tarefa de deixar ao critério
da criança a necessidade e a expectativa, sem dirigir
cobranças um ao outro, e sim, se possível, desenvolver
juntos uma autonomia no amor: uma tarefa que muitas
vezes supera as forças dos pais modernos, que também são
sobrecarregados, embora de maneira diferente.
Perguntas para os pais:
►
Como reagimos ao cheiro dos gases do nosso
filho?
►
Como podemos possibilitar ao nosso filho
experiências adequadas à sua idade?
►
De que outro modo ele pode descarregar sua
raiva?
►
O que ele está reprimindo? Como pode
conquistar o mundo?
►
Contra quem ele está se opondo? O que eleva
sua alegria de viver?
►
O que ele não consegue digerir no sentido
concreto e naquele figurado?
►
Como podemos ajudá-lo, para que ele aprenda a
enfrentar esse conflito com coragem?
►
O que nos revolta? O que nosso filho demonstra
por trás porque ainda não consegue demonstrar
pela frente?
►
Sentimos seus odores como sinais ou
perturbação?
►
Esses odores alteram a atmosfera de modo
agradável ou sentimos esses gases como
“bombas pérfidas de mau cheiro”?
►
Que tipo de ar fresco gostaríamos de ter em vez
de seus gases? O que esperamos das crianças
como contribuição para o “clima” familiar?
Medidas de apoio:
►
Exame de fezes: em casos de gases recorrentes
ou duradouros, é aconselhável fazer um exame
de fezes, a fim de se obter um quadro da flora
intestinal e dos resíduos da digestão.
Dependendo do diagnóstico, deve-se realizar
uma limpeza do cólon.
►
Todas as medidas apresentadas nas seções
sobre dores abdominais (10.1) e cólica dos três
meses (10.1.1) também devem ser consideradas
aqui.
10.3 Vômito
“Estou enojado.”
Há que se distinguir aqui entre o vômito ocasional e o
frequente, bem como aquele causado pelo leite materno,
que acaba por perturbar a simbiose entre a mãe e o filho.
Em si, o vômito é uma reação saudável e, como evento
isolado, não necessita de tratamento. Com ele, o organismo
expulsa aquilo que não suporta e que deixou penetrá-lo
erroneamente devido a uma falha da visão e do olfato. O
vômito chegava a ser um método da medicina antiga, com o
qual não raro se visava ao alívio. De fato, depois de vomitar,
sentimo-nos nitidamente bem melhor do que antes. Nesse
sentido, não se trata aqui de uma doença nem de um
sintoma, mas de uma reação natural e importante de
autodefesa. Melhor ainda seria não ingerir algo que não
poderemos suportar, pois uma sensação oportuna de
repugnância já seria um aviso suficiente. Por isso, o vômito
precoce é a segunda melhor reação e deve ser preferida à
possibilidade posterior da diarreia.
Vomitar também significa “entregar-se”, “deixar
acontecer” e “confiar em um acontecimento mais poderoso”.
Em um navio, o indivíduo pode entregar-se à situação do
mar com suas ondas e seus altos e baixos, ou então tentar
resistir e vomitar por cima da balaustrada. Quando o
estômago está revirado, o indivíduo vomita porque não se
sente livre. O estômago revira-se porque quer livrar-se a
tempo de um conteúdo inadequado, antes de causar danos
maiores. Também é possível querer devolver desse modo
alguma coisa que se tomou e com a qual não se consegue
ficar, como no caso da bulimia, que antigamente era
chamada de “mania de ingerir e vomitar”.
Vomitar significa expulsar uma matéria de dentro de si,
esvaziar-se, talvez para conseguir entregar-se melhor à vida.
A experiência mostra que pessoas que praticam o jejum – ou
seja, que estão acostumadas com esse vazio – familiarizam-
se melhor com novas situações, encontram muito mais
facilmente seu próprio ritmo e entram em sintonia.
Muitas vezes, o vômito infantil também tem como
fundamento o excesso de agitação. Quando uma criança não
está absolutamente preparada para a digestão, mas, apesar
disso, é alimentada, ela acaba caindo em um vínculo duplo,
pois pode apresentar uma reação nervosa. Ela se encontra
em uma situação dominada pelo sistema nervoso simpático,
que é o pedal do acelerador do organismo, em vez de estar
naquele do sistema nervoso parassimpático, necessário para
a digestão e que atua como um freio no organismo. Ou, em
outras palavras, a atmosfera não é propícia para a criança,
pois a mãe está agitada, inquieta e não consegue se dedicar
a ela. Há muita agitação em torno da refeição, o que,
obviamente, é problemático no momento da amamentação.
Nesse caso, o vômito resulta da excitação que se reflete no
estômago.
O enjoo também denota que o processo do vômito em si é
algo saudável. Quem sente náusea traz algo ruim dentro de
si, e quando isso é posto para fora, o indivíduo sente alívio e,
geralmente, bem melhor do que mantendo o conteúdo em
seu organismo. Por certo, seria mais habilidoso livrar-se do
mal-estar em sentido figurado, por exemplo, “vangloriando-
se” ou até “estragando os planos de alguém” do que cuspir
verdadeiramente no mundo. Mesmo quando se expele pela
boca alguma coisa com dificuldade, ela sempre é revelada.
Quem se encheu de coisas inapropriadas e indigeríveis
tem de contar com o fato de que as colocará para fora
novamente. Porém, o indivíduo também sente repugnância
quando absorve muitas impressões errôneas e experiências
indigeríveis. Em seguida, tudo vem à tona e evidencia a
revolta: “A situação é insuportável”. Quando um problema
vai parar no estômago como se fosse uma pedra, arruinando
o apetite, é melhor para a saúde que tudo seja posto para
fora – em caso de necessidade, também no nível físico. Do
contrário, é possível que ocorra uma irrupção em outros
níveis. Quem sente muita raiva e destila seu fel também
consegue ter alívio, uma vez que libera o que o oprime.
Outra possibilidade, que não é melhor, é quebrar a cabeça
até sentir dor.
Obviamente, melhor seria perceber em tempo a
incapacidade de assimilar o que está por vir e, assim,
poupar-se do vômito. A tarefa consistiria em reconhecer
conscientemente a resistência e a aversão ao que é sentido
como indigerível. Portanto, é preferível aprender a revoltar-
se no campo social e não aceitar tudo que lhe oferecem, ou
seja, é melhor interromper alguém a tempo, a fazer o corpo
vir em seu auxílio através do vômito. Quem reconhece a
própria raiva e a própria maldade consegue liberar com mais
facilidade a agressividade represada e reprimida. É
importante aprender, desde criança, que não faz sentido
engolir e digerir tudo que lhe apresentam sob todas as
condições. Quando a pessoa se engana e permite que temas
e objetos a penetrem mais profundamente, como se fossem
lhe fazer bem, vomitar no sentido concreto e figurado é a
melhor alternativa.
10.3.1 Vomitando o leite materno
10.4 Diarreia
“Estou me borrando todo.”
Na diarreia, o problema é alguma coisa inadequada ou até
perigosa ter entrado no organismo e passado para um nível
mais profundo do corpo do que no caso do vômito. Aqui
também se trata de uma reação importante do organismo,
que, por assim dizer, prescreve a si mesmo um clister. Como
no jejum, este serve para limpar o intestino. O corpo se
defende da absorção de alimentos inadequados recusando-
os e expulsando-os.
No nível imunológico – ou seja, no que diz respeito ao
sistema de defesa – o intestino é nosso maior órgão. Oitenta
por cento do sistema imunológico se encontra nos infernos
do corpo. Na diarreia também está envolvida uma
problemática da defesa. Talvez o corpo esteja precisando do
seu sistema imunológico para outra tarefa, não possa
ocupar-se da digestão (da vida) e, por isso, faz com que tudo
simplesmente saia de dentro dele. Nesse processo, ele pode
perder muito do sal da vida em forma de eletrólitos e do
elemento anímico água, o que, para as crianças, pode se
tornar perigoso – quanto mais novas, tanto mais rápida é a
perda.
Um organismo sobrecarregado em defender-se das
infecções pode depois não dar conta do trabalho dispendioso
da digestão, que também sempre conduz à chamada
leucocitose. Na ingestão de alimentos, esse aumento dos
glóbulos brancos, especializados em medidas de defesa não
específicas, revela o quanto o organismo é requisitado do
ponto de vista imunológico. Digerir significa integrar o que é
estranho, e isso sempre requer um aumento dos esforços de
defesa.
Em situações de estresse que usam toda a energia do
organismo, como ocorre no caso de exames em contexto
social ou de ataques por bactérias ou vírus em âmbito
imunológico, a diarreia pode ocorrer devido à não ingestão
de alimentos. Do ponto de vista físico, o problema se instala
no intestino delgado, causando evacuação em quantidade,
pois nenhuma matéria é absorvida. Nessas situações, o
organismo não pode permitir sua própria reconstrução e seu
próprio crescimento, pois precisa defender-se.
O segundo e mais frequente tipo de diarreia surge devido
à não reabsorção da água nos infernos do intestino grosso.
Quando o elemento anímico água não é recuperado pelo
organismo, os infernos são esvaziados, e o intestino,
totalmente limpo – exatamente como quando se usa um
clister.
O outro grande tema no caso da diarreia é o medo, que
muitas vezes chega a antecedê-la e impede a absorção do
alimento ingerido. Quem sente muito medo revela ter medo
de viver. Quem “se borra de medo” poderia sofrer de medo
existencial. Medo de expectativas, de exames, de
competições ou de viagens importantes transforma as
crianças em “cagonas”. O chamado “cagão” é um medroso.
Além disso, a grande perda de líquido revela uma falta de
flexibilidade autoconsciente, uma vez que, no estado de
desidratação, tudo que se encontra rígido e solidificado
perde toda capacidade de adaptação.
Diarreia crônica, “borrar-se” todo e “morrer de medo” são
sinônimos para medo crônico e incessante. O resultado é
uma fraqueza crescente, pois, por um lado, a criança não
consegue retirar dos alimentos a energia necessária e, por
outro, ainda perde o sal da vida e muito líquido da alma em
forma de água. Além disso, a simbiose é prejudicada por
muitos bilhões de bactérias intestinais. Resta saber até que
ponto a convivência com a mãe é atingida por isso e reflete
esse problema no nível do intestino. Todo passo fora da
simbiose com a mãe pode evocar medo, que se mostra na
diarreia. O importante é simplesmente aceitar o medo e
reforçar a autoconsciência da criança até ela conseguir
entregar-se com confiança ao novo trecho da vida a ser
percorrido.
A diarreia faz sentido como possibilidade de livrar-se do
lastro, para que o indivíduo consiga escapar melhor. A
condição da inervação simpática antes de um exame ou
teste sugere uma evacuação, pois, assim, tanto um eventual
comportamento agressivo quanto um comportamento de
fuga são aliviados. Nesse caso, a ligação com o medo é
evidente; ela também se faz sentir nos chamados tenesmos
espasmódicos, que põem o intestino em movimentos
peristálticos excessivos, causando cólicas. No estreitamento
do intestino, que surge durante esse processo, também se
torna evidente a vontade, em vão, de querer conter a
diarreia.
Quando estão com medo, quase todas as pessoas se
contraem e querem fugir; obviamente, com as crianças não
é diferente. Quem não consegue escapar tem diarreia. As
crianças estão sempre à mercê dela. Sozinhas, não
conseguem escapar, e precisam encontrar outros caminhos
para evitá-la, o que elas não querem ou sentem medo de
fazer. A diarreia é um desses caminhos. Por certo, seria
melhor não comer inicialmente, e sim recusar desde o
princípio o que não se recebe. O vômito é a segunda melhor
resposta, e a diarreia, a terceira. Embora as pessoas
afetadas deixem entrar o que é duvidoso, dele nada aceitam
na realidade. A percepção das crianças em relação aos
alimentos corretos também precisa ser inicialmente
sensibilizada. Elas têm de aprender a perceber e a levar a
sério o que é verdadeiro, a distingui-lo e, eventualmente, a
recusá-lo, não abrindo a boca, vomitando ou desenvolvendo
a diarreia. Esta última é uma solução por meio da qual elas
fazem sair – muitas vezes de modo turbulento – o que lhes é
adverso.
Geralmente, a primeira diarreia costuma ocorrer com a
dentição; a agressividade irrompe (“bronca”) e causa medo.
Mais tarde, pode-se perder o controle – até aquele do
esfíncter. Assim, volta-se à situação anterior ao treinamento;
a criança regride ao nível natural e original, no qual podia
dar livre curso às coisas. O bebê volta a ser amplo e
permeável. Desse modo, no período da diarreia, a situação
de medo, junto com a evacuação que provoca, estimula o
colapso da educação e do treinamento.
Os pediatras antroposóficos Georg Soldner e Hermann
Michael Stellmann partem do princípio de que uma infecção
intestinal ou uma colite sempre é precedida por uma
experiência de perda. Na dentição, seria a perda da infância
inocente. Com os dentes, as crianças devem superar as
dificuldades sozinhas, e outro corte do cordão umbilical se
faz necessário. Nesse momento, delineia-se o final da
amamentação, pois, por um lado, a criança pode começar a
receber outro tipo de alimento e, por outro, a mãe corre o
risco de ser mordida.
A diarreia mostra uma exigência excessiva. A criança se
defende e “passa uma descompostura em todo mundo”.
Agora, ela quer e precisa aprender a selecionar as ofertas da
vida e a aproveitar as ocasiões e as oportunidades. Talvez
não queira aceitar nada, pois nada lhe convém do ponto de
vista psíquico. Muitas vezes, entre as crianças mais velhas
se percebe um excesso de análise (detalhada) e de crítica,
que as transforma em pequenos ranzinzas que de nada
gostam. Assim, já não aceitam nada, e a assimilação não
tem vez, conforme mostra o intestino. Quem encontra
defeito em tudo e já não quer aceitar nada não digere as
impressões da vida. Talvez não reconheça seu medo
subjacente, e só volta a ser honesto no lugarzinho tranquilo,
onde é obrigado a “dar livre curso às coisas”, onde quase se
borra de medo. Seria uma oportunidade reconhecer a
extensão das possibilidades, desde “estou com medo” até
“não estou nem aí” e já não tenho medo. Antes de
conseguirem chegar a tanta honestidade, muitos preferem
sacrificar o sal da vida e muito líquido da alma.
Na diarreia, a tarefa reside claramente em fazer com que o
corpo se livre da matéria, não absorva mais ou muito mais
alimento e dê livre curso às coisas. Do ponto de vista
psíquico, a criança deveria dispor-se a deixar passar o que
vier, sem intervir muito e deixando a vida fluir.
O corpo mostra enfaticamente que, nesse momento, dar é
mais ditoso do que tomar. As pessoas dão generosamente o
sal e a água da vida. É claro que seria melhor fazer essa
contribuição para a vida em sentido figurado.
Outra tarefa é confrontar-se com tudo, sem por isso abrir-
se logo a tudo. Dar uma trégua, deixar a vida transcorrer e
não intervir não são atividades difíceis nessa situação, pois o
corpo quase obriga a essa postura.
Uma boa reação no caso da diarreia seria o jejum, que
aprofunda ainda mais o processo de depuração e apresenta
uma espécie de resposta homeopática para o evento. Quem
segue o jejum e, de maneira espontânea e consciente, já não
ingere nada material aprende a observar o mundo e seus
fenômenos com imparcialidade e a deixar passar muita coisa
sem verificação. Nesse caso, a própria mania de criticar
poderia ser submetida a um exame e, assim, ser
relativizada. A disposição consciente para fazer sacrifícios
poderia se desenvolver. Quem aprende espontaneamente a
dar e presentear não precisa ser obrigado a fazê-lo. Contudo,
o jejum mais prolongado no sentido de um tratamento para
crianças não é ideal, a não ser que, por razões de doença,
elas o façam espontaneamente, como no caso de infecções
com febre.
Um jejum espontâneo que se desenvolva a partir da
diarreia também seria uma boa oportunidade para a criança
se colocar na profundidade psíquica do seu medo e, assim,
convertê-lo em amplidão e abertura. Quem dá espaço
suficiente à sua criança interior no nível da consciência e
evita exigências e provas de coragem exageradas poupa a si
mesmo e à sua criança não apenas diarreias de viagem, que
costumam atormentar aqueles que dão a volta ao mundo,
mas também lhe permite crescer e expandir-se, tornar-se
flexível e deixar que aconteça o que a vida traz consigo.
Desse modo, é possível tornar-se honesto sem ter de
“abaixar as calças”.
Perguntas para os pais:
►
Do que nosso filho tem medo? Como podemos
encorajá-lo a envolver-se com o novo/o
diferente?
►
Do que ele se defende? Como podemos ajudá-lo
a se defender de maneira mais simples e
saudável?
►
Como podemos ajudá-lo a desenvolver uma
autoconsciência saudável?
►
De que lastro ele quer se liberar?
►
Como ele pode ficar mais sereno?
Medidas de acompanhamento:
►
Para lactentes e bebês, sempre consultar um
terapeuta experiente.
►
Evacuação do leite: geralmente, a evacuação de
lactentes é de fina a líquida. Isso não é diarreia,
mas a consistência normal da evacuação do leite
ou da amamentação.
►
Ingestão de líquido: devido à grande perda de
líquido, a criança precisa beber muita água e/ou
chá. Podem ser oferecidos chás que contenham
muito tanino, que acalma a mucosa intestinal.
Chá de mirtilo, feito a partir de mirtilos secos,
chá de folhas de amora silvestre ou de pé-de-
lebre. Suco quente de abrunho também é
adequado. De uma a três xícaras por dia,
eventualmente adoçado com um pouco de mel
ou suco concentrado de pera.
Com frequência, os lactentes bebem muito pouco e
correm o risco de se desidratarem rapidamente. Isso
é claramente visível quando a moleira está
afundada. A pele nessa região, que costuma ser
tesa, passa a ficar seca e enrugada; a criança torna-
se descorada e muito pálida, seus olhos ficam
fundos, com olheiras. Em pouco tempo, esse estado
pode ameaçar a vida, ou seja, é preciso remediar de
imediato a situação e, caso necessário, realizar as
infusões adequadas também no hospital. O clister,
conforme descrito no Capítulo 3 “Febre”, pode ser
usado como prevenção. Com ele, a criança absorve
líquido pelo intestino (de três a quatro vezes por
dia).
►
Raspar uma maçã e deixar que escureça durante
uma hora. Dar às crianças às colheradas em
caso de diarreia.
►
Jejum: não forçar a criança a comer caso ela não
queira. Nesse caso, frases do tipo “filho, você
precisa comer alguma coisa...” são
absolutamente contraproducentes. O intestino
precisa acalmar-se, e nenhuma criança morre de
fome tão rapidamente. Depois de superada a
doença, o apetite costuma voltar sozinho, e a
criança passa a consumir o que necessita. A não
ser que ela peça expressamente para comer.
Nesse caso, evite dar produtos lácteos, açúcar,
doces e alimentos gordurosos. São permitidos
alimentos leves, como batata, arroz, legumes no
vapor, sopa ou caldo de cenoura, maçã raspada
(ver acima), torradas ou palitinhos de pretzel.
Para o caldo de cenoura, descasque quatro cenouras
grandes e cozinhe-as por cerca de uma hora em
meio litro de água. Bebês e crianças pequenas
também podem tomá-lo com a colher. Uma
alternativa a esse caldo é a papinha de cenoura da
marca Hipp, diluída em água, em uma proporção de
1:1.
►
Não interromper a amamentação: de acordo com
a necessidade, continuar amamentando os
lactentes!
►
Solução eletrolítica: para compensar a perda de
líquido e de sal, pode-se recorrer a preparados
prontos ou produzir uma solução própria: para
um litro de água mineral, três quartos de colher
de chá de sal, uma colher de chá de cremor de
tártaro, uma xícara de suco de laranja e quatro
colheres de sopa de açúcar.
►
Terra medicamentosa (Luvos ultra): apropriada
para crianças mais velhas, em colheres de chá
ou dissolvida na água.
►
Glóbulos de genciana para o estômago, da Wala.
►
Calor: uma bolsa de água quente ou um
travesseiro quente de sementes de cereja
podem trazer alívio e são aceitos pela maioria
das crianças.
10.7 Constipação
“Não dou mais nada!”
No intestino grosso, que representa o inconsciente e os
infernos, ocorre uma greve. As pessoas afetadas não querem
dar mais nada; querem ficar com tudo para si. As fezes
simbolizam o dinheiro, já lembrando o tema principal
“economia até a avareza”. Devido ao perfeccionismo que
costuma ser encontrado nesse caso, a criança não consegue
assimilar nem digerir os alimentos até o fim. A expressão
“não faça merda” é levada ao pé da letra.
Quanto aos aspectos especificamente infantis da
constipação, há que se pensar inicialmente sobretudo na
conversão do leite materno em alimento normal. Os
lactentes podem ficar até 14 dias sem evacuar, sem que isso
caracterize uma doença. Portanto, mantenha a calma
durante o período de conversão e aguarde. Depois de duas
semanas, as dicas mencionadas a seguir poderão ajudá-lo.
Somente se elas não surtirem nenhum efeito – o que, na
verdade, é extremamente raro – é que se deve pensar em
recorrer aos esclarecimentos da medicina acadêmica, por
exemplo em relação a distúrbios muito raros, como a doença
de Hirschsprung, que afeta o intestino grosso.
A maior parte dos problemas provavelmente tem suas
causas nos esforços precoces de limpeza. Tanto um estilo
autoritário quanto um estilo extremamente cuidadoso de
educação, no sentido de uma síndrome de superproteção,
são prejudiciais e, nesse caso, acabam levando ao beco sem
saída da constipação. No entanto, rituais bem-intencionados
podem “sair pela culatra” – nesse caso, não de modo
concreto nas crianças, mas metaforicamente contra os
próprios pais. Quando a criança é treinada cedo demais a
ficar limpa, são programadas irritações também no sentido
de constipações maciças. Quando toda a família se agacha
ao redor do penico e espera pelo “grande desejo”, a
pequena princesa ou o pequeno príncipe pode refletir se o
grupo realmente merece receber tão rico presente todos os
dias. De acordo com a compreensão simbólica dos princípios
primários, mas também segundo a concepção psicanalítica,
a evacuação é o primeiro presente da criança ao mundo.
Sabemos disso graças aos contos de fadas do asno de ouro,
do homem que evacuava ducados, etc.
Uma razão ainda mais dramática para não presentear mais
nada a este mundo pode ser o abuso sexual, que
infelizmente é mais frequente do que a sociedade que o
produz consegue admitir. Por certo, nesse caso é necessário
mais do que nossas dicas ao final do capítulo para, de certo
modo, recolocar a criança “na linha” e “na pista (de sua
vida)”.
Mesmo a chegada de um irmão ou irmã, ou a volta da mãe
ao trabalho, pode ser sentida pela criança como uma
rejeição. Como consequência, ela pode ficar mais econômica
com seus presentes e preferir guardar para si o que já tem.
Por assim dizer, como acontece com os adultos quando
viajam, ela “estranha” o ambiente e passa a sofrer de
constipação. Quase nada muda no ritual, a não ser o trono
habitual, que é substituído por um buraco no chão, mas isso
já é suficiente para se reter, como que por ofensa, o que se
tinha para dar. Com as crianças ocorre algo muito
semelhante, só que as razões são diferentes, como as
alterações na rotina, mas também no ambiente comum. A
transição do penico para o vaso sanitário já pode ser um
agente desencadeador. Nesse caso, um novo ritual
sofisticado poderia ajudar. Se os pais fizerem desse passo,
que para eles representa um grande alívio, um ato maior,
que recebe muita atenção e reconhecimento, esse tipo de
transição se tornará mais fácil e será realizada sem
problemas. Entretanto, nunca se deve iniciar uma luta pelo
poder, pois nela os pais só teriam a perder, o que agravaria
o problema.
Muitas vezes, a constipação também é uma compensação
da insegurança, segundo o lema “seguro morreu de velho; é
melhor ficar com o que tenho”. Assim, o início na escola, a
mudança de residência ou de escola podem se transformar
em agentes desencadeadores da retenção das fezes. Em
toda situação nova, é perfeitamente natural que haja certa
retenção. A das fezes é corrente em certas pessoas quando
sua alma se sente rejeitada, ofendida ou até enganada.
Nesse sentido, seria ideal se os pais percebessem essas
transições com antecedência e se preparassem com rituais
ou, pelo menos, muita consciência, sem permitir que as
crianças resvalem nesse sentimento de não serem aceitas.
No entanto, também a posteriori é possível melhorar. Às
vezes, torna-se necessário revogar a inovação e, em
seguida, introduzi-la de novo, com mais cuidado.
Jirina Prekop observou em primogênitos a tendência
espasmódica, muitas vezes dolorosa, de reter as fezes
quando já não ousam ter um acesso de fúria depois de
concluído o período em que receberam as instruções de
higiene pessoal. De fato, temem perder ainda mais o amor
dos pais do que sentem que já perderam com a chegada dos
irmãos. Acabam expressando sua raiva inconscientemente,
reagindo por meio da defecação. Não por acaso, a
agressividade expressa pela saída do intestino é chamada de
agressividade anal. Nesses casos, a terapia do abraço
(segundo Prekop) mostrou-se muito libertadora para a
criança, permitindo-lhe a agressividade canalizada através
da boca com toda a força e, ao mesmo tempo, dando-lhe a
prova do amor incondicional dos pais. Além disso, ao ser
carregada no colo, a criança volta a sentir-se novamente
como filha única – pelo menos como a única primogênita. E
isso lhe faz bem.
Por fim, como nos adultos, naturalmente uma alimentação
errada, ou seja, inadequada e pobre em fibras, e pouco
exercício físico também podem estimular a constipação. A
variante Aminas de vegetais crus, que, no entanto, como
toda alimentação à base de vegetais crus, só deve ser
levada em conta a partir do segundo ano de vida, pode não
apenas levantar o ânimo ao fornecer reservas de serotonina,
mas também melhorar o sono e a pele. Além disso, como
alimento à base de vegetais crus e graças às suas fibras,
pode influir positivamente na constipação, sobretudo quando
ingerida de manhã, em jejum. Todas as crianças deveriam
alimentar-se sempre de produtos integrais e ser encorajadas
a fazer exercícios físicos de acordo com sua idade. Crianças
“sapecas” são sinal de um desenvolvimento saudável e vital.
Por outro lado, se as crianças ficam desanimadas diante de
uma mesa “saudável”, não se obtém nenhuma vantagem e
tampouco haverá algo saudável na comida ou na atmosfera,
para não falar do convívio em família. Segundo a lei da
polaridade, a vida saudável cobrada pelos pais transforma-se
no contrário, e especialmente crianças independentes e
rebeldes se contrapõem a ela. A história de Adão e Eva no
paraíso já nos mostra o quanto as proibições nos “atraem”...
Perguntas para os pais:
►
O que nosso filho retém?
►
O que ele não consegue digerir?
►
Em que circunstâncias lhe falta segurança? Onde
e como ele pode encontrar a segurança interior?
►
Por que nosso filho não consegue dar nada de si
mesmo?
►
Ao que ele poderia se apegar em vez disso?
►
Em que circunstâncias ele se exprime muito
pouco?
►
Do que ele tem mais necessidade ou quando
sente medo da perda?
►
Teríamos também algum problema para nos
desprendermos do que é material ou do nosso
filho?
►
Como nosso filho pode encontrar um novo
equilíbrio entre reter e liberar?
►
Quão segura é a situação familiar?
Medidas de apoio:
►
De manhã, logo depois de se levantar, tomar um
copo de água morna para estimular natural e
suavemente a digestão.
►
Adições de lactose ou de papa de aveia: para
crianças que já tomam mamadeira.
►
Dar tempo: permitir conscientemente que a
criança tenha tempo para usar o banheiro.
►
Ingestão de líquido: oferecer líquido suficiente.
►
Torrar o pão: antes de ser consumido, o pão deve
ser torrado, para facilitar a digestão.
►
Evitar gases: além disso, é aconselhável evitar o
máximo possível alimentos que provocam gases,
como alho-poró e cebola, a fim de não
sobrecarregar desnecessariamente o trato
digestório.
►
Exercício: dependendo da sensação causada
pela doença, seria aconselhável o máximo
possível de exercício, a fim de estimular a
digestão por essa via mecânica. Também seria
uma boa ideia prestar atenção na respiração,
uma vez que, como músculo respiratório, o
diafragma também massageia os intestinos.
►
Massagem: em sentido horário, massagear
suavemente o abdômen com óleo específico.
►
A bolsa de água quente relaxa a musculatura em
caso de contrações.
►
Clister: conforme descrito no Capítulo 3 “Febre”.
►
Em lactentes e crianças pequenas, a evacuação
só pode ser desencadeada pela introdução de
um termômetro.
►
Fazer a postura da vela: crianças maiores podem
fazer a “postura da vela”. Quando o trato
digestório fica invertido por um instante,
geralmente entra em movimento e libera os
gases.
►
Medidas gerais de alimentação: alimentos ricos
em fibras, com líquido suficiente; ameixa seca
amolecida, semente de linhaça, farelo; evitar
leite de vaca.
10.8 Fungos
“Quem está morando em mim?”
As micoses, que geralmente aparecem na forma de
candidíase, também chamada de “sapinho”, acometem
sobretudo a epiderme, o órgão limítrofe, mas também de
contato e, de certo modo, “campo” de defesa e de recepção
de carinho. Também podem afetar as mucosas, que reforçam
nossas fronteiras internas e, portanto, atuam sobretudo
como barreiras.
Os fungos são saprófitos, ou seja, seres que vivem de
matéria orgânica morta. Nesse sentido, tudo que não tem
vida corre o risco de ser atacado por fungos. Estes são
favorecidos em locais escuros e úmidos, ou seja, em locais
pouco iluminados. Para prosperarem, dependem, sobretudo,
do ambiente. Louis Pasteur, em cujo nome até hoje
estragamos o leite de vaca, descobriu no leito de morte que
decisivos não são os germes nem os agentes patogênicos, e
sim o solo fértil em que se encontram. Nos lactentes e nas
crianças pequenas, por trás dessa patologia geralmente há
um distúrbio na simbiose com a mãe, do ponto de vista
psíquico, e, no nível físico, com frequência terapias
anteriores à base de antibióticos, que prejudicam o ambiente
interno por um longo tempo.
Entre os fungos intestinais, o conflito começa tarde e já
bem no interior do corpo. Quando a pele é afetada, as
próprias fortificações de fronteira são ocupadas por tropas
estranhas que se espalham impunemente, como
excrescências fúngicas que se ramificam, apesar do escudo
de proteção feito de invólucro ácido e da defesa realizada
pelas células. Isso significa que a criança está muito fraca
para se defender ou – no caso dos fungos intestinais – digerir
com vitalidade as impressões vindas de fora. Trata-se,
portanto, de uma espécie de fragilidade de defesa. Eis por
que é compreensível que os fungos se espalhem com
especial êxito e agressividade em situações em que órgãos
inteiros se enfraquecem tanto que já não são capazes de se
defender dos seus ataques. É o que acontece, por exemplo,
com a Aids ou em terapias que usam antibióticos por muito
tempo.
Além disso, quando as crianças são muito pequenas, os
pais podem se questionar quanto de morte em forma de
rotina e dogmas sem vida eles arrastam consigo para dentro
da família. E se não seria melhor abrir as fronteiras dos
pontos de vista espiritual e psíquico, e não no nível físico,
que é mais difícil de defender quando existem temas
psíquicos que requerem manifestação. Há que se descobrir
campos inanimados e mortos da vida e preenchê-los com
novos impulsos.
Sobretudo, seria necessário ingerir alimentos vitais, que o
corpo possa converter em estruturas vitais, não atacáveis
pelos fungos. Quando amamenta, a mãe produz grande
parte do seu leite com o alimento que consome; por
conseguinte, deveria ingerir para si mesma e para seu filho
alimentos integrais e vitais. Quer as crianças sejam
alimentadas, quer já comam sozinhas, também é importante
que consumam alimentos integrais. Caso se opte por
refeições prontas, recomendam-se os produtos da empresa
Hipp, que, muito antes desse tipo de refeição se tornar
moderno, por princípio e de acordo com uma filosofia
compatível já as preparava com produtos orgânicos em que
a alimentação sempre esteve relacionada à filosofia
antroposófica.
Por fim, tudo conflui para que, antes da compra, nos
perguntemos: “Quero alimentar meu filho e a mim ou nossos
fungos?” No primeiro caso, tudo se mostra favorável à
alimentação orgânica e integral; no segundo, bastam as
seções de descontos dos supermercados ou os mercados
mais baratos. Neles, de forma bem semelhante à lei da
polaridade, encontram-se os alimentos mais caros e de
maior duração, o que se torna claro não no caixa, mas
apenas ao longo da vida.
Obviamente, uma alimentação e um modo de vida que não
dão chance aos fungos desde o começo são muito melhores
do que as problemáticas orgias de medicamentos
antimicóticos, para os quais valem as mesmas
considerações reservadas aos antibióticos, seus parentes
espirituais. Por exemplo, a prescrição de nistatina é mais
uma declaração de impotência do que uma receita segura,
mesmo que os médicos acadêmicos, por falta de alternativa,
pratiquem esse reflexo incondicionado sem más intenções.
Novamente, vale aqui o lema de Bertolt Brecht, ou seja, o de
que o contrário do “bom” não é o “ruim”, e sim a “boa
intenção”.
Perguntas para os pais:
►
Como podemos ajudar nosso filho a defender-se
de maneira mais eficaz quando sua pele é
acometida por alguma micose?
►
Como a vida atual e suas impressões podem ser
mais bem digeridas (no caso de fungos
intestinais)?
►
Por que ele permite que intrusos se alimentem
de sua comida?
►
Como podemos encorajar nosso filho a
desvencilhar-se do que é velho e dedicar-se ao
que é novo e vivaz?
►
Como ele próprio pode se tornar mais vivaz?
►
Quais lastros de longa data precisam ser
descartados (pela família)?
Medidas de apoio:
►
Limpeza individual do cólon.
►
Tropaeolum majus (folha de capuchinha), da
Ceres: tomar de duas a cinco gotas de duas a
quatro vezes ao dia em um pouco de suco ou no
chá.
►
Alimentação integral: tanto para a criança
afetada quanto para a mãe que está
amamentando.
►
Renunciar ao açúcar refinado (mudar para
estévia).
►
Em caso de micose cutânea e assaduras:
aplicações externas de calêndula (dez gotas da
tintura-mãe em meio copo d’água). Aplicar
levemente na pele.
Envolver várias vezes o local com materiais de
algodão que deixem a pele respirar. Nessa fase, não
utilizar fraldas descartáveis.
Deixar o bebê nu o máximo de tempo possível e,
sobretudo, deixar suas nádegas livres para que ele
mova as perninhas.
Evitar pomadas muito gordurosas.
Dar banhos regulares em soro de leite. Aplicar
compressas de soro de leite.
O óleo da árvore-do-chá também é muito eficaz
contra doenças fúngicas externas.
►
Em caso de sapinho: Borax C6, três glóbulos três
vezes ao dia.
Dar um copo d’água com uma pitada de bicarbonato
de sódio, a fim de limpar a boca.
Mandar preparar na farmácia um composto à base
de tintura de ratânia e mirra em iguais proporções.
Pingar dez gotas do preparado em um copo de água,
embeber um cotonete no líquido e passá-lo na boca
da criança.
(Na maioria das vezes, o sapinho é inofensivo e dura
até três semanas, uma vez que percorre todo o trato
digestório de cima para baixo.)
10.9 Vermes
“Tem alguma coisa errada dentro de mim.”
Para os vermes, a situação em nossos dias não é nada
favorável. Em épocas de condições piores de higiene, eles
eram muito mais numerosos – mas, em compensação, havia
muito menos alergias, razão pela qual hoje já existem
terapias com ovos de vermes... Obviamente, trata-se de uma
questão de ambiente. Os vermes precisam de condições de
sujeira e de certa falta de higiene como base.
Ainda não se sabe se o argumento em contrário, ou seja,
tratar alergias com ovos de vermes, é consistente. Dizem os
inventores dos tratamentos que as respectivas medidas,
pelas quais se devem pagar até 3 mil euros, são eficazes e,
pelo menos, apresentam algumas provas de seu sucesso.
Porém, talvez a superação psíquica de dar espaço a algo tão
imundo quanto os vermes já seja um passo decisivo. Se as
alergias têm sua origem no medo psíquico da sujeira,
poderiam ser encontradas terapias muito mais elegantes
para tratar dos vermes.
Em todo caso, esse fato mostra que hoje permitimos que
nossas crianças “comam” sujeira cara em forma de ovos de
vermes; eis até onde a mania de higiene nos levou.
Especialmente para as crianças, ela cria uma atmosfera
hostil à vida e portadora de alergias – entretanto, nenhum
verme se arrisca nesse terreno.
Muito do que é “bom” também poderia ser ruim. Crianças
com vermes não se desenvolvem direito, permanecem
pálidas, inquietas e perdem toda concentração. A razão para
tanto estaria no fato de que os vermes consomem e, por
conseguinte, despendem a energia vital, de certo modo
como passageiros clandestinos. Eles as acompanham em
sua viagem pela vida e não contribuem com o êxito do todo;
ao contrário. Não se chega a uma simbiose como aquela
com as bactérias intestinais, e sim a uma recepção das
vantagens apenas por uma das partes. Por outro lado, a
presença de vermes no organismo mostra que há algo
errado dentro dele.
Em crianças mais velhas, a repugnância e o medo de ter o
corpo vivo devorado por vermes, e com eles a lembrança do
fim inexorável do corpo, podem desempenhar determinado
papel, assim como a sensação de serem contaminadas por
dentro. Quando a contaminação ocorre no intestino, a
sensação de uma espécie repugnante de coabitação ou até
mesmo de “possessão” no nível dos infernos pode dar
calafrios. Quem alimenta hóspedes que não foram
convidados, logo se sentirá vítima de exploração. Nesse
caso, seria útil ter claro em mente que esses hóspedes
sentiram-se totalmente convidados pelas condições ruins
para os portadores, mas favoráveis para eles.
Alguns candidatos, como os oxiúros, também provocam
coceira no ânus, pois ali depositam seus ovos, o que poderia
estimular a higiene anal. Ao que parece, crianças com
vermes também enfiam mais o dedo no nariz, talvez porque,
representativamente, queiram limpar a entrada, pois à saída
não têm acesso fácil – ou simplesmente porque, de outra
forma, não encontram prazer sensorial na vida.
Como no caso de todas as infecções, existe uma
problemática da defesa no campo da agressividade. O
organismo oferece um lar aos parasitas, pois está muito
fraco para proteger seu reino dos invasores. Ele não domina
seu mundo.
A tarefa consiste em aprender conscientemente a dividir e
a ceder espaço (de vida) a outros seres. “Viver e deixar
viver” poderia ser o mote. Nesse sentido, há que se
considerar a possibilidade de permitir às pessoas afetadas
que escolham seus animais de estimação e impor uma
higiene moderada no espaço doméstico, enquanto passar
um período fora de casa, em um ambiente “selvagem”, em
meio à natureza, pode ser vantajoso.
Quem permite conscientemente que outros (seres)
convivam consigo mesmo acaba cultivando o amor pelo
próximo. Quem exprime conscientemente esse convite está
mais protegido de ataques e, ao mesmo tempo, desenvolve
a sensibilidade para as necessidades próprias e as alheias.
Por sua vez, a longo prazo, isso pode conduzir à
reconciliação com os próprios infernos e o próprio ambiente.
Mesmo para crianças pequenas, essas possibilidades já
existem nos aniversários e em ocasiões semelhantes.
Com crianças mais velhas, também pode valer a pena, do
ponto de vista espiritual e psíquico, discutir a respeito de
temas relacionados ao reino das sombras e fazer da morte o
objeto da conversa, talvez até chamando a atenção para o
fato de que a alma é imortal e nunca poderá ser atacada de
forma concreta por vermes, mas que, após a morte, o corpo
torna-se seu alimento. Durante a vida, é a vitalidade da alma
que protege o corpo dos vermes. Para as crianças mais
velhas, este poderia ser um forte estímulo para preencher
todos os campos (da vida) e ousar viver. Quando há alguma
coisa errada dentro do ser humano, falta justamente a
vitalidade!
Também se deveria falar, sobretudo, de como a vida deve
ser digerida e onde o verme ou os outros “hóspedes” e
convivas suspeitos poderiam se esconder. O tema
“exploração” ou “ser explorado” também pode ser
trabalhado desde cedo com proveito, o que transmite à
criança as primeiras impressões das leis da vida.
Perguntas para os pais:
►
Como nosso filho pode avivar melhor o que não
tem vida ou se ver livre dele?
►
Por que ele se deixa explorar?
►
Como ele pode se proteger melhor?
►
Em que circunstâncias ele explora os outros?
►
Como ele pode aprender a dividir?
►
O que isso reflete para nós dois?
►
Que sentimentos os vermes desencadeiam em
nós?
Medidas de apoio:
►
Medidas oportunas de higiene: trocar
frequentemente a roupa de cama, as toalhas e
as roupas e, se possível, lavá-las com água
quente.
►
Procurar manter as unhas curtas: quando a
criança coça as nádegas e depois leva a mão à
boca, ela pode contaminar-se.
►
Alimentação: evitar produtos com farinha branca
e açúcar. Devem-se preferir alimentos com muito
tanino: alho, alho de urso (para crianças
menores, pois é mais suave que o alho normal),
cebola, cenoura crua, repolho.
►
Chá de folha de nogueira: ferver duas colheres
de chá das folhas em um quarto de litro de água;
deixar repousar por dez minutos. Dar em
pequenas quantidades ao longo do dia.
►
Tratamento homeopático: o tratamento ocorre
com vermífugos especiais ou com medicamentos
homeopáticos individuais. Em casos
reincidentes, a criança precisa passar por um
acompanhamento homeopático constitucional.
11 Doenças alergênicas
11.1 Alergias
“Estou recebendo muita coisa, não estou bem regulado e
reajo com hipersensibilidade.”
11.1.1 Guerras de fronteiras
12.3 Escoliose
“Estou em uma posição crítica.”
Com essa deformação da coluna vertebral, o eixo do mundo,
cuja tarefa seria, por um lado, dar-nos apoio e dinâmica e,
por outro, representar nossa retidão, não consegue
desempenhar sua função. Em vez disso, ele expõe
abertamente como a criança se encontra em uma posição
complicada na vida e como ela se desvia da linha reta do
desenvolvimento. Essa posição desviante faz com que o
desenvolvimento se dê no caminho errado e a criança
afetada “perca o rumo”. (O adjetivo grego skoliós significa
“torto, desviado”.)
Em um âmbito central de sua vida, ela acaba se desviando
justamente do centro. Trata-se de um desvio rumo ao polo
feminino (esquerdo) ou masculino (direito). Por sua vez,
nesse desvio pode ocorrer um recuo em relação ao polo da
realidade, como um decrescimento de um lado ou uma
extrema atração para o outro.
Em uma terapia para tratar um caso grave de escoliose em
uma menina, concluiu-se que, ao sentar-se à mesa entre a
mãe e o pai, ela se sentia terrivelmente rejeitada por ele,
mas não podia demonstrá-lo em família. Durante anos, ela
cresceu tentando afastar-se dele e aproximar-se da mãe, e
sua coluna vertebral reproduziu esse drama. Em vez de
crescer fisicamente na direção da mãe, obviamente seria
mais saudável mostrar sua entrega com outros meios, como
o afeto, mas também expressar a rejeição em relação ao pai.
Às vezes, um leve desvio na postura também tem a ver
com a puberdade, ou melhor, com o desenvolvimento, na
medida em que se trata de testar inteiramente ambos os
polos, debruçando-se ora para um lado, ora para o outro,
não ser uma coisa nem outra, nem criança nem adulto e,
sobretudo, nem mulher nem homem. Isso pode evoluir até
consolidar-se em problemas de orientação sexual.
Ao que parece, é muito mais fácil para alguns
ziguezaguear pela vida, evitando obstáculos, para escapar
de uma retidão cansativa em vez de reconhecer e expressar,
tanto positiva quanto negativamente, seus próprios
sentimentos.
Nos casos extremos, os percursos sinuosos da psique
tornam-se não apenas evidentes, mas também relevantes
para a medicina, pois um desvio para a esquerda prejudica o
coração, limitando seu espaço vital, enquanto um desvio
para a direita comprime o respectivo lado do pulmão.
Graças à coluna vertebral, todos nós podemos girar e nos
voltar como bem entendermos, e isso, naturalmente,
também em sentido figurado. Essas ações só se tornam um
problema quando, ao mesmo tempo, a honestidade e a
retidão psíquica ficam pelo caminho, sobretudo em relação
às expectativas da alma dessas crianças. Como a escoliose
ocorre com muito mais frequência entre as meninas, elas
acabam sendo desviadas da linha reta do desenvolvimento.
Em contrapartida, geralmente o “vira-casaca” não parece
ter problemas visíveis, uma vez que se trata de um
oportunista consciente, que sabe muito bem que penderá
para o lado que lhe trouxer mais vantagens. Deformações de
caráter só se tornam visíveis nas costas quando são
inconscientes para a criança.
A tarefa psíquica consistiria em adaptar-se de maneira
flexível às necessidades da vida. Quando as crianças
aprendem logo cedo a se sentir conscientemente à vontade
tanto nos caminhos retos quanto naqueles sinuosos e a
manter seu equilíbrio interior, não há por que se preocupar
com seu eixo vital. No entanto, quando a vida perde o
equilíbrio, também é bom que isso possa ser visto e
corrigido.
Quando o desvio do próprio centro já ocorreu, trata-se de
posicionar-se conscientemente no lado preferido e liberar
esse polo. Mesmo as tendências familiares (transmitidas pelo
patrimônio genético) a realizar “desvios sinuosos” podem ser
identificadas conscientemente. Nesse caso, é sempre melhor
fazer desvios (físicos) conscientes e serpear pela vida como
uma espécie de “homem-cobra” ou um espeleólogo do que
fazer com que a coluna vertebral sofra as consequências
desse tema. Mesmo quem aprende a evitar os obstáculos
com atenção e consciência e mantém em vista o caminho
rumo ao centro ameaça menos sua coluna.
Nos desvios para a esquerda, trata-se, sobretudo, de
dedicar-se com mais intensidade ou abertura às próprias
questões do coração e da anima, que constituem a porção
feminina da alma. Por outro lado, desvios para a direita
requerem que o indivíduo se preocupe mais com o lado
arquetipicamente masculino e com o animus, a porção
masculina da alma que inclui temas como a “capacidade de
impor-se”, a “coragem”, a “facilidade para tomar decisões”,
etc.
Terapeutas infantis que seguem o antroposofismo chegam
a partir do pressuposto de que, pela situação dos maxilares
superior e inferior, é possível interpretar claramente a
relação entre a “pessoa superior” e a “inferior”, o que, por
sua vez, pode indicar um distúrbio no equilíbrio, na
mediação entre a parte superior e a inferior, entre a anterior
e a posterior e entre a esquerda e a direita. Tudo isso é
realizado, sobretudo, pela coluna vertebral, nosso “órgão
rítmico”.
Nesse contexto, parece interessante observar que hoje
muitas crianças usam aparelho dentário e que, em muitas
delas, os dentes voltam para a posição inicial quando a
“postura interna” não acompanha seu crescimento. Nesse
sentido, a coluna vertebral realmente é uma espécie de
régua de nível que nos permite ler se o desenvolvimento da
criança está em ordem.
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
►
Ver a seção “12.4 Doença de Scheuermann”.
13.1 Piolho
“Que péssima surpresa!”
Nesse caso, a mãe, que nos dias de hoje já cuida de quase
tudo, tem de fazer alguma coisa. Entre os macacos, por
exemplo, os piolhos exercem uma função realmente social,
entre as crianças eles levam ao isolamento. Contudo, o
aspecto social entre mãe e filho não deve, absolutamente,
ser ignorado. A mãe é até obrigada a prestar esse serviço
social ao filho. Quando se trata então de uma menina com
irrenunciáveis cabelos longos e cacheados, a mãe precisará
de mais tempo para tratá-los com alguma técnica. Entre as
meninas, o que muitas vezes espalha os piolhos é a troca de
gorros elegantes, o que, naturalmente, indica um
componente social.
Em nossa época tão limpa e organizada, os piolhos são
considerados uma catástrofe. São importunos e repugnantes
para as crianças, mas não perigosos. Entretanto, crianças
com piolhos representam uma exigência terrível e um
desafio para os pais, e sobretudo as mães ficam
profundamente abaladas em sua autoconsciência. Desde
sempre, “com piolho” significa “sujo”, “malcuidado” e
“imundo”. De fato, os vizinhos evitam a criança tão logo a
notícia de infestação por piolhos se espalha, a fim de
escaparem do contágio, tanto físico quanto psíquico e social.
“Não brinque com crianças porcalhonas”, eis o bordão
imediato das mães da vizinhança, e um espantoso programa
de boicote ganha fôlego. Crianças com piolhos são quase
uma possibilidade perfeita do isolamento social e da
marginalização. Cria-se uma espécie de apartheid que se
alastra. A criança é exposta com todo o seu clã, como
ocorria antigamente com os leprosos.
As crianças infestadas já não podem ir ao jardim de
infância nem à escola, que são os locais onde normalmente
se pegam lêndeas de outras crianças, e as mães acabam
tendo mais trabalho do que de costume. Não apenas a
guerra aos piolhos, em todos os níveis, está declarada, mas
também o programa de compensação das horas perdidas na
escola e no jardim de infância. Além disso, os pequenos
parasitas na cabeça dos rebentos criam para as mães um
memorável programa especial, que elas são obrigadas a
dominar quase sozinhas devido ao isolamento social.
Só as atribuições relativas à desinfestação de piolhos
exigem enormes esforços. Os cabelos devem ser penteados,
madeixa por madeixa, com pentes finos em busca das
horríveis lêndeas; além disso, devem ser constantemente
lavados com xampus especiais, e, por fim, a busca por
lêndeas sobreviventes deve ser refeita.
Os xampus-inseticidas são caros e podem ser substituídos
por cerveja normal (com álcool), que, obviamente, embriaga
os filhotes dos piolhos, mas, por outro lado, poupa o couro
cabeludo e a carteira. Lavar os cabelos das crianças duas
vezes por dia com cerveja lhes deixa um odor levemente
primitivo, mas acaba com as lêndeas.
Mas o trabalho extra não para aí: é preciso lavar todos os
possíveis focos de piolhos, como lençóis, toalhas, roupas,
bem como, obviamente, os bichos de pelúcia – e isso deve
ser feito por um bom tempo, pois o ciclo das lêndeas é
bastante longo. Infelizmente, muitas vezes alguns bichos de
pelúcia não podem ser lavados, pois acabam perdendo seu
“cheiro característico”. Nesse caso, a saída é envolvê-los em
um saco plástico e colocá-los no congelador, onde terão de
permanecer por 48 horas, para desespero das lêndeas. Por
sua vez, isso poderá dificultar o ritual do sono, causando
ainda mais irritação às mães.
Justamente nessa situação tensa, as meninas costumam
não querer renunciar aos longos e lindos cabelos e, sem
dúvida, ficam muito tristes só de pensar em cortá-los. Quem
se atreveria a roubar-lhes o símbolo de liberdade e beleza?
Por isso, não raro, são as mães que saem perdendo, não a
garotada com piolhos.
Quando o pai volta para casa à noite, basta ele querer
saber das causas da epidemia doméstica para causar mais
aborrecimento. O dia foi tenso, e, dependendo das
circunstâncias, a mãe ainda terá de se ocupar de outra
criança, o que já era esperado, mas não justamente em meio
a essa difícil situação. Para poupar os filhos, que foram todos
infestados, da perda de seu símbolo de liberdade, ela
prescreve uma rigorosa quarentena e faz tudo que pode, às
vezes até mais. Seja como for, nesse momento ela não
poderia se expor em ambiente social, pois dificilmente
suportaria os olhares dos outros, que a veem como “mãe dos
piolhentos”.
Quando finalmente, depois de longa luta contra os
inúmeros, pequenos e quase invisíveis inimigos, pode sair da
quarentena, ela nem sequer pode esperar algum
reconhecimento por seu martírio; ao contrário, pode se dar
por feliz por ser novamente aceita no círculo das pessoas
limpas, com a esperança de, no futuro, manter a si mesma e
seu lar em ordem e de não voltar a confrontar a vizinhança
com esse tipo de ameaça. Se de fato acontecer uma recaída
ou se o exército de piolhos voltar a atacar, para muitas mães
isso significará um problema psicoterapêutico.
Os próprios piolhos, como causadores primários de todo o
sofrimento, provêm da mesma família dos percevejos, dos
mosquitos e das moscas. Como parasitas hematófagos,
estabelecem-se nos pelos de outros seres e, no caso dos
seres humanos, na falta de pelos no corpo, instalam-se na
cabeça, em busca de sua seiva. Com sua picada, provocam
uma coceira horrível.
Essa coceira não apenas é infernal, mas também estimula
as crianças a arranhar os próprios limites, ou seja, a pele,
muitas vezes deixando marcas, o que é mais um motivo de
preocupação para a mãe, que vê os filhos tão pouco
apresentáveis. A coceira quase enlouquece quem está
infestado. As razões disso são mais de ordem psíquica do
que de ordem objetivamente médica.
Até mesmo a inofensiva mosca doméstica pode evocar
esse item do programa, uma vez que, com intenções ainda
mais inofensivas, passeia por um rosto estranho. Sobretudo
pessoas com grandes problemas de ego e outros a eles
relacionados estão sujeitas a isso. Enquanto os negros
costumam ter poucos problemas com “flanadores de asas”,
mesmo quando estes entram em suas narinas ou,
eventualmente, se aproximam de seus olhos, em situações
semelhantes os brancos quase sempre se irritam e não
hesitam em dar tapas em si próprios, na esperança irreal de
matá-los.
De maneira geral, para as pessoas brancas, com seu ego
representativo, as doenças causadas por parasitas são
inconcebíveis em comparação com os negros, cujo ego é
menos estruturado. Desse modo, parasitas e insetos em
geral oferecem um teste de ego bastante confiável. Esta
também é a razão pela qual normalmente mães de crianças
com piolhos sofrem mais do que os próprios filhos.
A sensação de que diretamente sobre meu couro cabeludo
ou, pior ainda, embaixo dele se aninha alguma coisa que se
prolifera costuma desencadear uma repugnância
considerável, que, em termos dramáticos, supera em muito
a coceira. Especialmente as meninas podem sofrer muito
com ambas.
Sobretudo nos meses de inverno em que a resistência cai,
a invasão dos piolhos ameaça os rebentos do mundo
burguês, em geral extremamente limpo. As crianças
oferecem aos parasitas um lar e vitalidade, à medida que
lhes abastecem de sangue em vários locais ao mesmo
tempo.
Obviamente, as crianças com piolhos não têm como
proteger sua pele nem defender seu território com sucesso.
Permitem que a colonização ocorra justamente em sua
cabeça – por um lado, em razão de uma mistura de
desamparo e fraqueza e, por outro, pela vontade de se
aproximar de outras crianças ou também pela disposição
para brigar, pois, de alguma maneira, os companheiros com
piolhos devem ter se pegado pelos cabelos.
Assim, na maioria das vezes, as crianças – que são
isoladas e constantemente atormentadas pela coceira e pelo
pente fino – não ficam muito satisfeitas com a grande e
inabitual dedicação das mães, que estão sempre querendo
vasculhar seus cabelos em busca de piolhos.
A tarefa para as crianças afetadas é investir mais energia,
esforçar-se até o fim de suas forças, cuidar melhor da própria
cabeça e dos cabelos, que são símbolo de liberdade, carisma
e poder. E, sobretudo, seria importante cuidar da própria
higiene, penteando-se realmente com a intenção de
vasculhar e arrumar os cabelos. “Pentear os cabelos”
significa arrumá-los, e quem está bem penteado parece bem
cuidado. Portanto, no âmbito da liberdade simbólica, do
poder, da beleza e do carisma, a obrigação constante de ter
os cabelos penteados significa cuidar, com ênfase e
precisão, de relações limpas e ordenadas. Tudo que for
estranho a elas deve ser excluído e eliminado.
A solução mais simples seria, obviamente, renunciar
radicalmente aos cabelos, o que geralmente, em razão de
sua clara simbologia, nem sequer chega a ser cogitado.
Uma suspeita em relação à infestação por piolhos também
segue na direção de que a invasão de parasitas estranhos
acomete principalmente crianças que desenvolveram
bastante sua cabeça e, por isso, precisam aprender a
permitir e a suportar a influência ordenadora da mãe,
mesmo quando ela machucar e incomodar. Em sua busca
pelo inimigo em comum, a mamãe precisa sempre passar o
pente por todo o cabelo e verificar se novas lêndeas ou
ideias absurdas se aninharam na cabeça.
Se as crianças oferecem um lar aos parasitas e
disponibilizam para eles sua vitalidade e seu sangue, seria o
caso de perguntarmos em que condições estão sua energia e
sua liberdade. Teriam elas de se tornar mais abertas e
generosas com sua energia vital e colocar sua liberdade à
disposição de outras pessoas?
Em todo caso, elas têm de aprender a permitir a
aproximação de energias estranhas, mesmo que sejam
excessivas; precisam aprender a dividir e a dar sem
renunciarem a si próprias.
A longo prazo, também precisam aprender a lutar em seus
limites, responder por seus atos e defender a própria pele.
Ou então, aprender a fazer sacrifícios no que se refere aos
símbolos de liberdade e beleza. Como já foi dito, raspar os
cabelos seria, de longe, a solução mais simples e o fim dos
piolhos e lêndeas. Por fim, não se deve delegar a
preocupação com a própria cabeleira: segundo o lema
“quem quer ser bem servido que sirva a si mesmo”, as
crianças precisam virar-se por conta própria.
Elas pegam fora de casa essas desgraças vampirescas,
depois são obrigadas a ficar fechadas em casa. Passam por
um regresso, e a mãe tem de cuidar delas novamente,
penteando sua cabeleira que se tornou palco de suas futuras
lutas pela liberdade, bem como da encenação do carisma e
da beleza.
Por outro lado, algumas crianças chegam a tirar vantagem
da situação. Quem não se sente tão motivado a ir para a
escola acha cômodo poder ficar em casa, e até é obrigado a
ficar, senão é expulso. Muitas crianças, especialmente os
meninos, também sentem claramente menos repugnância
do que as mães, que não possuem a mesma disposição das
crianças para lutar. Elas sentem uma repugnância muito
forte e se empenham em exterminar o que as enoja.
Outras crianças até gostam e aproveitam quando as mães
passam a cuidar mais delas. Para alguns meninos não há
problema nenhum em ter os cabelos raspados, ganhar uma
careca que pode parecer da moda e livrar-se do incômodo. O
sofrimento das meninas é mais demorado e se resolve com
um corte mais curto dos cabelos e com uma ação profunda
de lavagem, que, obviamente, não vem nem um pouco a
calhar para os piolhos e sua prole.
A terapia é feita pela necessidade de se livrar, o mais
rápido possível, dos parasitas e de toda a sua ninhada, o que
supõe o uso dos já mencionados xampus-inseticidas.
A partir da naturopatia, há que se considerar o óleo de
nim, há séculos usado na Ásia contra os parasitas, pois inibe
a síntese de quitina. Desse modo, é um “pesticida” biológico
e totalmente natural, pois não mata os insetos, mas apenas
impede que se multipliquem, agindo, portanto, como um
anticoncepcional.
Perguntas para os pais:
►
Como nosso filho pode aprender a se defender
melhor?
►
Contra o que ele não consegue se defender?
►
O que fazer para que ele assuma sua vida de
maneira mais corajosa e engajada?
►
Em que situações devemos cuidar da limpeza e
da ordem?
►
Nosso filho está autorizado a pensar com a
própria cabeça e a afirmar-se?
►
Como lidamos com o tema “liberdade”?
►
Como lidamos com nossa energia vital?
Medidas de apoio:
►
As lêndeas precisam ser diariamente eliminadas
com um pente apropriado.
►
Bichos de pelúcia, gorros, roupas de cama, etc.,
devem ser regularmente lavados.
►
Utensílios não laváveis também podem ser
desimpiolhados, desde que permaneçam 48
horas no congelador.
►
Sauna: crianças maiores podem frequentar a
sauna duas vezes por semana, uma vez que os
piolhos não sobrevivem a temperaturas
superiores a 50 graus. Caso se disponha de uma
touca térmica elétrica em casa, seria uma boa
alternativa.
►
Gel Aesculo (extrato de óleo de coco): aplicar na
cabeça seguindo as instruções do fabricante.
►
Xampu de nim: para uso diário.
►
Óleo de árvore-do-chá: misturar no xampu.
►
Vinagre de frutas ou cerveja: para enxaguar os
cabelos.
►
Óleo de lavanda: para enxaguar os cabelos.
►
Tratamento homeopático: em caso de
infestações frequentes por piolhos, a criança
apresenta uma fraqueza constitucional que deve
ser tratada individualmente.
13.2 Verrugas
“Sou um diabrete.”
Verrugas são excrescências disformes da pele, o órgão
limítrofe e de contato, mas também o órgão do carinho. Elas
simplesmente são consideradas o símbolo da feiura. Algo
escuro irrompe à luz e escurece a bela pele branca,
tornando-se uma mancha e incomodando como uma mácula.
Entretanto, como grande mácula as verrugas são associadas
às bruxas. Simbolicamente, representam as mensagens do
reino das sombras e pertencem às bruxas, tal como a falta
de dentes, o gato preto e o corvo sobre os ombros. Trata-se,
portanto de um confronto – inofensivo do ponto de vista
médico, mas horrível do ponto de vista psicológico – com o
próprio lado sombrio. Geralmente, os pais o sentem como
um ataque ao caráter imaculado das crianças. Os pequenos,
que parecem anjos inocentes, são “maculados”, e as
verrugas incomodam quando se quer apresentar os filhos a
alguém. Por isso, na maioria das vezes os pais e, sobretudo,
as mães se irritam mais com isso do que as próprias
crianças.
As verrugas expõem o polo oposto aos anjos. O que seria
dos contos de fadas sem as bruxas? E do paraíso sem a
serpente? As verrugas permitem que se entreveja a fera –
especialmente nas crianças, que são divinizadas em seu
caráter angelical. Desse modo, os pais acabam pensando
apenas no próprio lado sombrio, o que não é nada
agradável. Ao mesmo tempo, porém, as verrugas também
são uma lembrança das raízes mágicas da própria infância.
Causadas por vírus, as verrugas são totalmente
inofensivas do ponto de vista médico, e somente as
associações mencionadas com o reino das sombras as
tornam tão desagradáveis e difíceis de suportar. É
interessante notar que, às vezes, a relação mágico-simbólica
em casos extremos é levada em conta até mesmo por
médicos acadêmicos e explorada por terapeutas.
Normalmente, porém, são cauterizadas ou extirpadas, ou
ainda arrancadas. Não se quer saber de nenhum reino das
sombras, só de bani-lo deste mundo.
Essa maneira violenta de lidar com as sombras é tão típica
quanto inábil e, se nada mais acontecer, geralmente leva ao
reaparecimento do que causa inquietação e perturba a paz.
O princípio de Plutão por trás delas é manifestamente
persistente. Na maioria das vezes, os adultos vivenciam
sozinhos seu lado sombrio, ainda que de modo inconsciente,
e, por isso, não precisam da franqueza de tantas verrugas –
embora a solução mais elegante consista em lidar
conscientemente com o próprio reino das sombras. Quanto
às crianças, seria muito útil familiarizá-las com as raízes
mágicas da própria vida e com as forças encantadas da
imaginação, conforme ilustrado em contos de fadas e
histórias ao estilo “Harry Potter”.
Na seção sobre a sugestão (2.6), descrevi como
“desencantei” centenas de verrugas, seguindo a instrução
de um médico-chefe do departamento de dermatologia,
utilizando um truque (mágico-psicológico). Levei algum
tempo até me conscientizar do efeito duradouro dessa
mágica. O médico-chefe sorriu ao perceber que, a partir
daquele dia, seríamos muito mais reconhecidos como
médicos. Ele me aconselhou a não falar daquelas
experiências na clínica. E foram essas experiências que
mudaram para sempre minha maneira de ver a medicina.
Conforme descrito na mesma seção, nesse plano também
é possível “comprar” as verrugas das crianças quando elas
já têm uma noção das relações com o dinheiro e de sua força
mágica.
As excrescências das verrugas mostram que a criança
precisa ousar mais e confiar mais em si mesma, além de ter
a chance de crescer mais interna e externamente. O que
brotou na pele tinha apenas um caráter representativo. Se
as próprias fantasias em desenvolvimento recebessem mais
espaço e pudessem viver, a pele seria desonerada dessa
tarefa de representação. Também desse modo, algumas
manchas pretas e certas “mágicas” duvidosas não se
manifestariam fisicamente na pele.
O fato de que sobretudo as crianças e as pessoas de idade
são afetadas por essas excrescências pode indicar que o
início e o fim da vida para o homem moderno são fases
difíceis, nas quais nem sempre dá certo expressar
adequadamente todas as fantasias, as ideias e todos os
desejos. Assim, a pele entraria como representante e
mostraria o que, geralmente, fica à sombra: as
excrescências do princípio de Plutão (“morrer e se
transformar”, metamorfose e todas as mudanças radicais).
Do ponto de vista médico, fala-se em “verruga d’água” ou
“molusco contagioso”. Por trás dela escondem-se os
patógenos humanos papiloma-vírus (HPV), que com
frequência são “pegos” em piscinas, mas somente quando
as tarefas de representação correspondentes não podem ser
dominadas de outra maneira.
Um caso especial é o das verrugas plantares. Nelas se
trata de um verdadeiro espinho na (própria) carne, que
pressionam e doem, além de fazerem com que as crianças
não consigam caminhar e, metaforicamente, a avançar.
Quem é impedido de caminhar mal consegue sair daquele
período de culto da própria imagem. Com uma estaca como
essa fincada na própria carne, a escuridão requer atenção.
As crianças afetadas são obrigadas a pisar com cuidado e a
ser menos impositivas. Além disso, o sintoma as impede de,
inconscientemente, bater o pé ao longo da vida. A tarefa
seria aprender a resistir mesmo em situações dolorosas e
difíceis e perguntar-se onde “o sapato aperta”.
Conscientemente e de maneira espontânea, elas teriam de
se deixar impressionar também por efeitos dolorosos.
Na homeopatia, o quadro medicamentoso da tuia está
estreitamente ligado ao tema “verrugas”. É adequada para
pessoas que tendem a esconder de si mesmas o que é
essencial e a ter dificuldade para revelar a verdade sobre si
próprias; ao contrário, preocupam-se em calar e encobrir seu
lado sombrio. Nelas existe algo misterioso como as verrugas,
que aparecem de repente e, de modo igualmente
surpreendente, voltam a desaparecer. A mudança e a
metamorfose, no sentido mais profundo dos termos, são o
ponto central nesse caso. Verrugas plantares também
desaparecem com o medicamento Antimonium crudum.
Seria o caso de perguntar às crianças afetadas em que as
verrugas as incomodam, o que elas as impedem de fazer, o
que foi escondido quando as verrugas apareceram. Às vezes,
também é útil examinar em que zonas de reflexo e
meridianos encontram-se as verrugas em questão. A
pergunta resultante seria: “Que temas a verruga quer
levantar?”
Para os pais, nessa temática trata-se de desenvolver um
olhar mais realista em relação aos próprios filhos, cujos lados
obscuros devem ser levados em conta; trata-se também de
reconhecer que a alma das crianças não é uma folha em
branco, e sim uma história geralmente muito particular e
longa. Do ponto de vista genético, as crianças também
herdam alguma coisa dos avós, que não necessariamente
desempenha uma função nos pais. Em constelações
familiares e, sobretudo, na terapia da reencarnação, todas
essas relações se destacam claramente.
As verrugas são, fundamentalmente, uma questão de
relaxamento, pois, do ponto de vista médico, trata-se de um
problema de natureza estética. Como terapia para as
crianças, além dos rituais mágicos já descritos, considera-se
a homeopatia clássica no âmbito de uma terapia
constitucional. Para pais intensamente afetados do ponto de
vista subjetivo, pode-se pensar em algum CD, como
“Schattenarbeit” [Trabalhando as Sombras].[29] Utilizado
diariamente durante um ciclo lunar, as respectivas
digressões no próprio reino das sombras trarão luz própria
para o inconsciente do mundo das sombras.
Também seria útil o reconhecimento das próprias raízes
mágicas no passado. Quase toda criança teve fantasias
mágicas e as afastou com maior ou menor sucesso. Contudo,
não são poucos os adultos que ainda sonham com uma terra
encantada sem o lado sombrio da moderna sociedade
repressora. Nesse caso, as verrugas seriam o convite ideal
para se reconciliar com os próprios lados sombrios, que
sempre podem se refletir externamente, bem como nos
próprios filhos.
A partir disso, já não estaria tão distante a possibilidade de
tratar esse tipo de excrescência do mundo interior sombrio
com métodos sombrios (e ocultos), ou seja, com
homeopatia. É o que os homeopatas clássicos podem pensar
ao analisarem a anamnese, que, naturalmente, também
precisa penetrar nos cantos escuros da alma. Mas isso
poderia até significar que as verrugas podem ser
“desencantadas” de maneira fisicamente indolor por um
feiticeiro ou outras bruxas, contudo, sem deixar de atentar
para a mudança de mentalidade, no sentido da metanoia, do
arrependimento e de conversão interior.
Obviamente, também seria necessário transmitir
compreensão à criança no que se refere a essa outra
realidade. Isso pode ser difícil para pais modernos, mas para
as crianças de hoje é muito importante e significativo como,
por exemplo, sucessos como a história de “Harry Potter”
repercutem nelas. Em uma época em que a crença na
ciência absorveu em grande medida o caráter religioso, a
alma das crianças necessita justamente dos vastos mundos
míticos e místicos à beira da imagem racional de mundo.
Perguntas para os pais:
►
Por que as aparências são tão importantes para
nós?
►
Que dinâmica interna está tentando se
manifestar? Podemos ajudar nesse processo ou
simplesmente não impedi-lo?
►
Nosso filho está diante de um recomeço?
►
Que lados obscuros querem tornar-se
conscientes no momento?
►
Em que situações nosso filho poderia sair mais
de si mesmo?
►
Como nos relacionamos com a visão mágica do
mundo e em que medida a transmitimos?
►
Somos capazes de reconhecer esse lado sombrio
da realidade ou nosso filho precisa nos estimular
a fazê-lo?
Outros problemas de pele também são descritos no
Capítulo 4 “Doenças infecciosas”, nas seções “Sarampo”,
“Rubéola”, “Catapora” e “Escarlatina”, na seção “11.2
Dermatite atópica e crosta láctea”, bem como em “19.1.17
Queimadura de sol”.
14 Problemas do metabolismo: Diabetes
mellitus
14.3 Tarefas
Outra tarefa seria sobrecarregar o fluxo vital com a energia
do amor, em sentido figurado, e deixar o amor e a energia
fluir, expelindo o excesso. O grande tema do amor na vida
de pequenos e grandes diabéticos de tipo I não poderia ser
expresso de modo simbolicamente mais belo.
A urina é o símbolo de todo o eflúvio da alma que é
liberado e, assim, permite que o amor continue a fluir. Por
sua vez, a tarefa consiste em passar do nível do corpo para
aquele da alma e fazer com que o excesso de amor
absorvido escoe.
Em sentido figurado, essa espécie de “diarreia do amor”
também fala pelo medo relacionado a ele. As pessoas
afetadas são pouco abertas nas questões amorosas e, como
suas células, são pouco receptivas e não se abrem ao doce
da vida, pois, para tanto, falta a poção mágica necessária. É
evidente a suspeita de que, quem não permite a entrada do
doce, o símbolo do amor, na própria vida, também não se
entrega ao amor.
As crianças que são “produto” e dádiva do amor devem
trazê-lo ao mundo; um amor incondicional, celestial e até
divino, que elas conseguem na forma do amor materno. O
ideal é que desencadeiem essa máxima forma de amor em
seus pais e o vivenciem através de ambos e de si mesma. O
amor materno corresponde ao amor divino, pois nada espera
nem exige, tampouco impõe condições, ou seja, é
incondicional e aberto para tudo. Ele aceita a criança tal
como ela é e, em sua amplidão e abertura de coração,
sente-se profundamente feliz com ela.
Como dádivas do amor, as crianças deveriam passá-lo
adiante. Falamos de nossos “anjinhos inocentes”, nossos
“docinhos”, “a pupila de nossos olhos”, que, no caso ideal,
semeiam o amor entre si próprios e os pais. Assim, o ágape
seria difundido por elas como a máxima forma de amor, o
aspecto inocente, o sincero desejo de união. Essa máxima
forma de amor também dispõe do amor erótico entre os pais
e aquele entre os amigos – na Antiguidade, o amor chamado
de philia.
Os avós e os pais retribuem, às vezes de maneira
exagerada, essa dádiva do amor que as crianças neles
desencadeiam. Contudo, no nível físico, que corresponde em
grande medida ao psíquico, as crianças diabéticas não
conseguem aceitar e absorver, de maneira suficiente, todo
esse amor, em razão de sua exigência e de sua extensão. A
difícil questão resultante desse fato seria: “Elas não
mereceriam receber todo esse amor em vez de logo passá-lo
todo adiante?” Para os pais, há uma pergunta ainda mais
extrema: “Elas não mereceriam receber dos pais o suficiente
desse amor, ou seja, a enorme quantidade que requerem,
em vez de se fecharem para ele ao pressenti-lo?”
As crianças diabéticas de tipo I trazem consigo uma
expectativa muito grande. Provavelmente, o tema de sua
vida é a energia mais importante de todas ou, como diz
Novalis: “O amor é o amém do universo”. Crianças
diabéticas vivem essa expectativa em relação ao amor
(naturalmente, também mais tarde, quando adultas) de
forma especialmente marcada e são muito carentes. Ao que
parece, cobra-se delas uma evolução bastante consciente
desse tema, e talvez também talento. Muitas vezes, elas
precisam ir muito cedo para a “escola especial da vida”.
Nela, espera-se que recebam o apoio e a experiência do
amor incondicional da mãe como capital de saída para a
exigente incumbência de viver.
Se o amor pode satisfazer essa expectativa, é uma
questão que permanece em aberto. Em todo caso, ainda não
se encontrou nenhuma cura para o diabete tipo I, que é
rotineiro em relação ao de tipo II: esse dado já indica a
diferença qualitativa entre os dois quadros clínicos.
Além do que já foi ilustrado, trata-se de ancorar o próprio
eu na vida, construir uma relação saudável consigo mesmo e
aprender a abrir os limites no sentido de uma educação para
o amor sem medo. Do contrário, justamente a grande
expectativa do amor poderia conduzir a uma abertura
indiscriminada dos limites e, com isso, também desencadear
pânico.
Nessas crianças, a acentuada vulnerabilidade para
infecções permite supor que os limites do corpo são muito
permeáveis, porque os da alma são mantidos muito
fechados. Desse modo, fica claro que a abertura insuficiente
no plano psíquico obriga o corpo a se abrir. Porém, se o
corpo vive a abertura no lugar da alma, acaba se expondo
ao contágio dos agentes patogênicos. Melhor e mais
saudável seria fazer a alma deixar-se “contagiar” pelo amor
e outros temas.
O comportamento muitas vezes dominante nas crianças
diabéticas de tipo I, caracterizado pela alternância entre a
intensa necessidade de amor e pela disponibilidade para
expressar afeto, mostra como elas se debatem entre os
extremos da máxima abertura, de um lado, e do limite
estável do eu, de outro, para usar as palavras com que Erich
Fromm descreve essa ambivalência.
As crianças diabéticas de tipo I requerem dos pais uma
atenção bastante concreta, dia e noite. O nível de açúcar no
sangue deve ser monitorado mesmo à noite, e o alimento
adequado deve estar sempre pontualmente à disposição.
Nesse cotidiano rigidamente regulado com o constante
monitoramento do açúcar e a alimentação também
constante talvez se reflita uma concepção pedagógica antiga
e sedimentada dos nossos antepassados, cujo polo oposto
seria “simplesmente viver e amar”. Em tempos remotos,
alguns diabéticos também conseguiram sobreviver
justamente desse modo. É conhecido o caso de um professor
de diabetologia que também sofria da doença desde criança
e, não podendo se tratar com insulina, viveu e até atingiu
idade avançada ao escolher instintivamente alimentos
simples e adequados. Portanto, é provável que, no passado,
nem todos os diabéticos tenham morrido, mas, ao contrário,
tenham encontrado o próprio caminho através de um estilo
de vida extremamente simples.
A partir disso, pode-se concluir o desafio de aprender a
viver e a alimentar-se com grande simplicidade e a ficar feliz
e satisfeito com pouco. O que seria uma saída possível para
o diabético de tipo I, para o de tipo II é uma certeza
comprovada.
15.1 Medo
“Tudo é muito apertado para mim.”
Muitas vezes, o fenômeno psíquico do medo determina
alterações também no nível físico. A tensão dos músculos
aumenta, e o tônus elevado provoca outras consequências,
que modificam todo o ritmo do corpo; isso significa que a
respiração, a pulsação, a pressão sanguínea e, em última
análise, toda a fisiologia são influenciados. As secreções
corpóreas também se alteram: desde a tendência a suar (de
medo), passando pela diarreia (“fazer nas calças”, “borrar-se
todo”), até chegar à necessidade de urinar. Muitas vezes, a
tudo isso se acrescentam distúrbios de concentração e
inquietação, certa vigilância ou tensão, bem como distúrbios
do sono, apesar do cansaço.
Em geral, os medos infantis nem chegam a se manifestar
tão diretamente, e sim, por exemplo, por meio do
retraimento, do emudecimento, de um aumento da
agressividade ou das mudanças de comportamento. Nesse
caso, é particularmente importante entender o problema
observando as alterações físicas. Infelizmente, sobretudo os
meninos aprendem e tendem a não demonstrar seus medos.
Comentários tolos, como “homem não sente dor”, “seja
valente!” ou, pior, “homem não chora”, intensificam ainda
mais o dilema, embora, felizmente, essas pretensões de não
experimentar certos sentimentos e menos ainda mostrá-los
vão se reduzindo com o tempo.
Os medos se manifestam sobretudo na garganta,
apertando-a, na nuca, onde residem, e na respiração, que
podem bloquear. Muitas vezes, o medo está ligado à
sensação de sufocamento em um espaço apertado, de estar
preso, de ter caído em uma armadilha, de estar impedido de
se movimentar ou de encontrar limitações nas necessidades
essenciais da vida.
Os antroposofistas partem do princípio de que o medo é
percebido como “ser lançado de volta à estreiteza do corpo”.
O aspecto psíquico permaneceria represado no corpo. A
maior parte de seus pediatras considera que, até os 3 anos,
as crianças reflitam apenas o medo de suas mães. Até
então, elas seriam interessadas, despreocupadas e curiosas.
Desse modo, o medo materno pelo filho durante a gestação
corre o risco de se tornar o medo da criança. Um campo de
medo precoce imprime-se de maneira particularmente
intensa; de modo geral, podemos afirmar que, quanto mais
precoce, tanto mais indelével é sua marca. Na realidade,
tudo isso é contradito pelas experiências de terapia de
reencarnação, durante as quais constatamos que as crianças
sofrem plenamente o medo da morte já durante as
tentativas de aborto. O medo é um tema primordial, um
arquétipo que se aproxima muito do princípio saturnino. E,
como todos os arquétipos, tem dois lados, evocados por
André Heller em sua canção sobre o medo: “Existe um medo
que nos torna pequenos, doentes e sozinhos. E existe outro
que nos torna sábios, mais corajosos e mais livres da
desilusão por nós mesmos”.
Essa desilusão é a principal estratégia da nossa
“sociedade de seguros” contra o medo. Por esse caminho,
produzimos constantemente uma segurança aparente em
vez de reconhecermos que a vida é muito perigosa. A única
coisa segura é a mudança. Mesmo a exclusão da morte e
seu “remanejamento” por meio de tentativas ridículas como
os seguros de vida ilustram claramente nosso dilema. O
medo é maior do que pensamos; e, como bem mostra a
terapia de reencarnação, a criança já o traz para a vida. Isso
é facilmente compreensível se pensarmos que, em geral,
trata-se de uma alma antiga, que já passou por muitas
experiências, das quais conserva muitas lembranças,
embora estas, com o passar do tempo durante a gestação,
se desvaneçam progressivamente. São apagadas para
deixar espaço para novas experiências. Contudo, não são
poucas as crianças que conservam essas experiências
também por mais tempo, algumas delas até bem depois do
nascimento.
Essas experiências, bem como os medos provenientes da
cadeia das vidas, passam para segundo plano à medida que
a alma se apropria do corpo. No estágio inicial, quando as
estruturas do corpo ainda são transparentes, a respectiva
percepção é transcendente e próxima da unidade; ela ainda
abrange as existências anteriores. Aos poucos, porém, as
experiências transcendentais regridem na mesma proporção
da transparência.
Portanto, o modelo fundamental do medo já existe e pode
ser revivido muito facilmente. Nesse sentido, dever-se-ia
chegar a um acordo entre as duas concepções. Geralmente,
a criança não é um “anjo inocente”, como gostamos tanto de
considerá-la, mas também é tão novo neste mundo que,
como uma esponja, absorve os condicionamentos
preexistentes e rapidamente se torna o espelho dos pais,
especialmente da mãe. Como a criança assimila suas
percepções essencialmente através da mãe e dela recebe
sua energia, ela também absorve os medos maternos sem
nenhum filtro.
Contudo, evitar o medo seria, basicamente, o caminho
errado, pois as crianças precisam ampliar seu horizonte de
experiências e, ao fazer isso, viver quase obrigatoriamente
situações difíceis e medos. Em sua obra clássica
Grundformen der Angst [Formas Básicas do Medo], Fritz
Riemann escreve como os medos assumem nas pessoas um
caráter bem mais fundamental do que nos animais. O animal
cresce dentro do seu hábitat, que se torna cada vez mais
familiar para ele. Ao mesmo tempo, ele se torna cada vez
mais parecido com seus pais. A criança, ao contrário, teria
de sair ativamente do seu hábitat originário. Nas bases do
desenvolvimento humano estaria o questionamento dos
vínculos naturais e das relações transmitidas, inclusive os
dos pais e dos parentes de sangue. A dinâmica decisiva
nesse processo é representada pelo desenvolvimento da
consciência, do horizonte espiritual e do pensamento
individual. Inicialmente, ela conduz à individuação autêntica
do ser humano e, assim, à sua capacidade de pensar, decidir
e agir de modo diferente de seus antepassados e de seus
pais, bem como à faculdade de romper velhas pontes para o
mundo e de percorrer novos caminhos. No entanto, ao agir
dessa maneira, o próprio eu do ser humano em formação
enfrenta a experiência psíquica do medo. Durante seu
desenvolvimento, toda criança mostra esse processo.
Nesse sentido, provas de coragem como os rituais da
puberdade pertencem, enquanto provas da alma, ao
desenvolvimento cultural do homem; portanto, é necessário
que as crianças e os adolescentes o vivam conscientemente
e, assim, aprendam desde o início a dominar as situações de
medo. Portanto, a ausência de medo, por exemplo no caso
das crianças que sofrem de TDAH, não é uma vantagem; ao
contrário, é um aspecto patológico. Essas crianças “não
entendem alguma coisa”, falta-lhes a completa percepção
psíquica de determinadas situações.
Por conseguinte, o medo é natural e pertence à vida. Com
efeito, uma criança na cidade, sem medo de automóveis,
estaria perdida. Todavia, é surpreendente que a maioria das
crianças sinta pouco medo de ameaças reais, como
automóveis, mas sofra de muitos outros medos à primeira
vista irracionais.
Normalmente, os pais desejam poupar os filhos de todo
tipo de medo. Contudo, a longo prazo, essa estratégia
enfraquece os pequenos, colocando-os na defensiva e
reduzindo seu êxito na batalha da vida. Muito melhor seria
se os acompanhassem em seus medos. Pais sábios não
acendem a luz, mas avançam no escuro com o filho.
Tampouco vão para o outro lado da rua quando um cão se
aproxima; em vez disso, pegam a mão do filho para que
enfrentem o perigo juntos e até o olhem nos olhos. Acender
a luz e atravessar a rua seriam o caminho alopático; o
homeopático consiste no acompanhamento solidário pela
escuridão e em lidar com o suposto perigo.
Portanto, as crianças trazem dentro de si certa
predisposição ao medo, que se atualiza novamente no
momento do nascimento. E refletem de modo surpreendente
os medos dos pais. A vida moderna, que, especialmente nas
cidades, procede com uma estreiteza crescente e, como se
não bastasse, traz consigo separações frequentes e muito
precoces entre mãe e filho, dá sua contribuição à avalanche
de medo que hoje encontramos na prática clínica.
15.1.1 A nova epidemia do medo: os ataques de pânico
15.2 Enurese
“Estou com vontade de chorar.”
15.2.1 Enurese noturna
15.2.1.1 Base evolutiva do “quadro clínico”
15.4 Sobrepeso
“Quero mais.” – “Estou farto de mim mesmo.” – “Não estou
recebendo o suficiente.”
15.4.1 A epidemia do futuro
15.6 Tiques
“Ajo de maneira diferente.”
15.6.1 Redimindo o princípio uraniano
16.1 Autismo
“Estou pouco me lixando para vocês...” – “Não quero ter
nada a ver com nada nem com ninguém.”
Do ponto de vista da medicina acadêmica, as causas do
número crescente de casos de autismo permanecem no
escuro. Entretanto, existem grupos de especialistas – por
exemplo, os epidemiologistas – indicam uma conexão
temporal entre o aparecimento maciço de autismo e a
vacinação extensa contra a coqueluche nos Estados Unidos.
Todavia, ninguém ainda ousou estabelecer uma conclusão
sobre essa relação causal, embora a correlação seja
ostensiva – razão suficiente para sermos mais cautelosos
com esta e, de preferência, com todas as vacinas.
Provavelmente, é correta a opinião de muitos homeopatas,
que partem do princípio de que as vacinas tornam a vida das
crianças desnecessariamente difícil. Talvez o organismo em
crescimento perceba as vacinas como um ataque à sua
incolumidade e às suas possibilidades de desenvolvimento,
como se lhe estivéssemos impondo uma hipoteca mais
pesada do que no momento podemos imaginar.
Em todo caso, Edward Jenner, descobridor da vacina
contra a varíola, reconheceu em seu leito de morte que
havia criado um monstro com sua descoberta. À sua própria
mulher, a vacina causara o nascimento de um filho morto,
coberto pelas cicatrizes da doença, e seu outro filho, após a
vacina, passou a vida no estágio mental de uma criança de 1
ano e morreu aos 21.
Como poucos outros quadros clínicos, o autismo é
adequado para nos ensinar o temor e o estupor ao mesmo
tempo. O total fechamento em relação ao mundo exterior,
tal como apresentado no impressionante filme O Enigma das
Cartas ou em Rainman, sucesso mundial de Hollywood, nos
deixa sem palavras. As pessoas afetadas vivem quase
inteiramente em seu próprio mundo interior. De certo modo,
buscam asilo no interior, enquanto o asilo externo para sua
proteção é apenas a resposta de uma sociedade incapaz de
ajudá-las e que, no fundo, mal suporta quando alguém lhe
vira as costas.
Por outro lado, os autistas nos espantam quando, com
extrema facilidade, fazem malabarismos dignos de virtuoses
no jardim do mundo dos números pitagóricos. O filme
Rainman nos mostra de maneira surpreendente um autista
quebrando a banca de um cassino com toda a tranquilidade,
pois conseguiu memorizar todas as cartas do jogo. Uma
caixa de fósforos, caída por acaso no chão, permite que ele
calcule na hora o número de palitos nela contida. Assim são
os autistas – do ponto de vista da sociedade – fracassados
no geral, mas, não raro, gênios nos pequenos nichos de seus
próprios mundos de números, formas ou também música.
Nesse sentido, não é de admirar quando as modernas
abordagens terapêuticas às vezes conseguem, por meio do
computador, restabelecer um nível de comunicação com
eles. Ainda não sabemos se é o mundo digital da magia
numérica nos PCs a instaurar uma ponte entre os autistas e
o nosso mundo ou a possibilidade de decompor regras e
palavras em letras individuais, para depois, ao contrário,
recompô-las.
Do ponto de vista da medicina acadêmica, nem chegam a
existir hipóteses de trabalho convincentes em relação ao
autismo. As poucas abordagens acadêmicas,
desconsiderando-se a que usa o computador, percorrem as
vias de comunicação alternativas, seguidas pelos pais ou por
terapeutas. Um exemplo bastante comovente a esse
respeito é dado pelo já mencionado filme O Enigma das
Cartas, em que a mãe consegue encontrar e abrir a porta
que dá acesso ao seu filho através de brincadeiras
fantasiosas concretas e insolitamente simbólicas.
Uma forma mais branda do mutismo pode indicar um
possível acesso. Nesse caso, trata-se, por assim dizer, de um
autismo reelaborado, que se refere, por exemplo, a uma
pessoa específica. A criança emudece em razão de
problemas psicológicos em relação a uma única pessoa ou a
um grupo. Essa recusa em falar pode ser facilmente
confundida com o autismo. Nesse caso, talvez ocorra o
mesmo que se dá com a depressão endógena, que por muito
tempo não recebeu explicação, até que alguns
pesquisadores sensíveis conseguiram encontrá-la.
16.1.1 Conhecendo outros mundos
Homeopatia:
Urtica urens
–
Dores e aspecto físico como de contato com urtiga.
–
Melhora com o frio.
Arsenicum album
–
Após excesso de proteína animal.
–
Melhora com o calor.
Cantharis
–
Vermelhidão intensa, forte queimação.
–
Com formação de bolhas.
Apis
–
Com inchaço aquoso, vermelho e quente.
–
Melhora com o frio.
Simbologia: perder a cabeça, ataque repentino de fúria ou
explosão agressiva na pele.
Tarefa: desabafar em vez de descontar na pele!
Primeiros socorros: em casos extremos de choque alérgico,
ministrar cortisona. Em hipótese alguma dar cálcio em casos
de alergia!
19.1.2 Feridas por mordidas
Homeopatia:
Ledum
–
Remédio principal.
–
Ferida profunda, com pouco ou nenhum sangramento.
Arnica
–
Com sangramento.
Hypericum
–
Em caso de dores fortes.
Simbologia: a agressão acomete a criança a partir de fora; a
criança deveria se tornar mais agressiva! O predador não
vivido vem de fora e ataca.
Tarefa: tirar o cacete do saco, desenvolver a mordida, para
não se tornar mordaz nem feroz.
Primeiros socorros: deixar sangrar, não fechar artificialmente
a ferida (perigo de tétano!). Desinfetar com água de
calêndula ou com a própria urina.
19.1.3 Hematoma
Homeopatia:
Arnica
–
Remédio principal.
Ledum
–
Se a arnica não for suficiente e em caso de um
hematoma grande, especialmente quando assumir uma
coloração preto-esverdeada.
Simbologia: receber uma pancada, um chute ou um golpe na
coxa. “Quem não quer ouvir deve sentir!” – “Quem não quer
ver será golpeado, ou melhor, se machucará no mundo.”
Tarefa: abrir-se mais para os impulsos e indicações
importantes, antes de chegar a sangrar; reconhecer os
obstáculos e utilizá-los em proveito do próprio fluxo da vida
em vez de combatê-los.
Primeiros socorros: não são necessários.
19.1.4 Hemorragias
Homeopatia:
Arnica
–
Remédio principal.
Hypericum
–
Em caso de dor.
Calendula
–
Para limpar externamente a ferida.
–
Dez gotas de tintura-mãe em um copo d’água para lavar
a ferida.
Simbologia: símbolo da vida, por isso, do ponto de vista da
pessoa afetada, toda hemorragia deve ser imediatamente
interrompida. Na verdade, feridas sujas deveriam sangrar
por mais tempo, para que assim ocorra uma limpeza de
dentro para fora.
Tarefa: deixar fluir voluntariamente a energia vital;
internamente, entrar no fluxo e no próprio ritmo.
Primeiros socorros: limpar a ferida e, em seguida, cobri-la ou
aplicar um curativo sobre ela.
19.1.5 Intoxicação sanguínea
Homeopatia:
Gunpowder
–
Remédio principal.
–
Cinco glóbulos D12, três vezes ao dia.
Pyrogenium
–
Especialmente em caso de picadas de insetos.
Simbologia: os agentes patogênicos penetraram no sangue,
ou melhor, na corrente linfática; o corpo não consegue se
liberar do ataque; a inflamação insinua-se ulteriormente na
direção do centro.
Tarefa: permitir que temas explosivos venham à tona;
conduzir a luta pela vida de maneira mais incisiva; colocar-se
de maneira mais ofensiva diante dos desafios; opor-se e
resistir.
Primeiros socorros: procurar um médico.
19.1.6 Concussão cerebral
Homeopatia:
Arnica
–
Remédio principal.
Hypericum
–
Posteriormente, em caso de dor.
Simbologia: receber um tiro na proa, uma pancada na
cabeça; ser sacudido; agir sem pensar.
Tarefa: perceber e levar a sério, oportunamente, os impulsos
mentais; permitir-se pensamentos inconvenientes. Estimular
novos pensamentos. Deixar a cabeça repousar fisicamente.
Primeiros socorros: Rescue Remedy.
19.1.7 Picadas de insetos
Homeopatia:
Apis
–
Inchaço quente, vermelho e aquoso.
–
Melhora com o frio.
Ledum
–
Picadas que custam a sarar, que adquirem coloração
escura ou de várias cores.
–
Inchaço frio e duro.
Staphisagria
–
Em caso de várias picadas de mosquito.
Vespa
–
Em caso de reação intensa, com distúrbios circulatórios.
Simbologia: pequenas picadas que “irritam”; o estranho
busca acesso sem ser notado e causa irritação (às vezes, até
sangrar). Alguma coisa provoca prurido e faz a pessoa se
coçar, ou melhor, a romper com violência as próprias
fronteiras.
Tarefa: deixar-se tocar pela vida; permitir voluntariamente
influências externas; praticar a abertura; permitir que os
outros compartilhem da própria energia; deixar-se estimular;
abrir voluntariamente as próprias fronteiras.
Primeiros socorros: creme Rescue Remedy.
19.1.8 Fraturas
Homeopatia:
Arnica
–
Para aliviar a dor.
Hypericum
–
Em casos de dor que percorre todo o nervo.
Simbologia: as próprias estruturas são questionadas; a
continuidade é interrompida.
Tarefa: abandonar a continuidade; sair dos trilhos habituais;
deixar a velha estabilidade em favor da nova mobilidade.
Tornar-se mais flexível; desenvolver maior mobilidade
psíquica e intelectual.
Primeiros socorros: Rescue Remedy e, obviamente, cuidados
médicos imediatos.
19.1.9 Distúrbios circulatórios
Homeopatia:
Veratrum album
–
Palidez, sensação de desmaio, suor frio e náusea.
–
Desejo de calor.
Simbologia: insuficiência de abastecimento de sangue no
cérebro; a energia vital não é suficiente para abastecer a
central.
Tarefa: observar os próprios enganos; reconhecer em que
circunstâncias se é enganado a respeito da honestidade;
retificar as informações. Confiar conscientemente no ritmo e
nas condições da vida em vez de vacilar; encontrar a própria
linha (de vida) em vez de se tornar inconstante; entregar-se
à situação em vez de se entregar.
Primeiros socorros: pôr as pernas para o alto, a cabeça para
baixo; Rescue Remedy. Com o dedo, bater no ponto situado
entre o nariz e o lábio superior.
19.1.10 Intoxicação alimentar
Homeopatia:
Okoubaka
Em caso de agentes desencadeadores específicos:
–
Ovos: Carbo vegetabilis.
–
Sorvete: Arsenicum album.
–
Comida gordurosa: Pulsatilla.
–
Gordura, ranço: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–
Peixe: Carbo vegetabilis.
–
Carne: Arsenicum album.
–
Queijo: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–
Batata: Nux vomica.
–
Conservas: Arsenicum album.
–
Frutos do mar: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–
Leite: Arsenicum album.
–
Frutas: Pulsatilla.
–
Cogumelos: Pulsatilla.
–
Chocolate: Arsenicum album.
–
Fumaça de tabaco: Arsenicum album.
–
Salsicha: Arsenicum album.
Agentes desencadeadores não específicos:
Arsenicum album
–
Vômito, diarreia, queimação no estômago.
–
Medo; inquietação; fraqueza crescente; sede intensa de
água fria, tomada a pequenos goles.
Carbo vegetabilis
–
Ventre distendido, colapso, muita palidez.
–
Sensação de aperto no pescoço, estenocardia, desejo de
ar fresco.
Nux vomica
–
Tenesmo, dor ao evacuar, prolapso anal.
–
Humor irritável.
Pulsatilla
–
Náusea com dores abdominais, vômito, diarreia,
eructação ácida.
–
Ausência de sede, suscetível ao choro, muito apegado.
Simbologia: ingestão errônea de alimento indigerível por
falta de atenção, porque não se teve o olfato correto, não se
distinguiu o sabor nem se reconheceu em tempo que havia
alguma coisa “suspeita” naquela comida.
Tarefa: pôr para fora em sentido concreto (e figurado), deixar
que saia o que está errado.
Primeiros socorros: causar vômito estimulando a úvula. Em
caso de dúvida, consultar um médico.
19.1.11 Desmaio
Homeopatia:
Aconitum
–
Em caso de desmaio devido a susto.
China
–
Perda de sangue, diarreia acompanhada de vômito.
Coffea
–
Excesso de alegria.
Nux vomica
–
Dores, especialmente durante a evacuação, devido a
odores fortes ou a excessos.
Pulsatilla
–
Muito tempo em pé, calor, aperto e espaços lotados.
Simbologia: pouco sangue na “central”.
Tarefa: às vezes, é preciso renunciar voluntariamente ao
“poder”. As tarefas também variam de acordo com as
seguintes causas do desmaio:
–
Desmaio por susto: entregar-se espontaneamente.
–
Desmaiar de alegria: deixar-se envolver totalmente pela
alegria e renunciar a todo “poder”.
–
Por problemas circulatórios: entregar-se inteiramente ao
momento.
–
Por incenso: confiar no segredo da religião em vez de
fechar-se. Consagrar-se conscientemente ao mistério e
fraquejar perante Deus em vez de tremer de medo.
–
Devido a intenso perfume de flores: entregar-se aos
milagres da Criação.
Primeiros socorros: colocar as pernas para cima e a cabeça
para baixo; bater o dedo entre o nariz e o lábio superior.
19.1.12 Lacerações (na cabeça)
Homeopatia:
Arnica
–
Remédio principal.
Simbologia: sob tensão, o tecido estacionário se dilacera – a
impressão que se tem é que se está explodindo.
Tarefa: deixar sair das tensões internas; não permitir que
chegue à prova extrema da laceração e do estouro, mas
descarregar antes a pressão. É melhor provar a capacidade
de se afirmar do que querer impor uma coisa a qualquer
preço.
Primeiros socorros: interromper a hemorragia, (mandar)
costurar a ferida. Rescue Remedy, curativo em spray.
19.1.13 Contusões
Homeopatia:
Arnica
–
Remédio principal.
Simbologia: “Passaram a perna em você”, no sentido de
deixar-se enganar. Quem passa a perna em alguém o
engana.
Tarefa: levar a vida a sério, deixar que ela se aproxime,
sentir e perceber mais. Tornar-se um “para-choque”,
aproximar-se da vida com mais dureza, bater e chocar-se
mais contra si mesmo.
Primeiros socorros: creme Rescue Remedy.
19.1.14 Enjoo em viagens
Homeopatia:
Cocculus
–
Náusea e tontura em viagens de automóvel, ônibus e
trem.
–
Sensibilidade a odores (por exemplo, de comida, fumaça
de tabaco).
Ipecacuanha
–
Forte náusea, salivação abundante, quase sempre
ausência de sede.
–
Não melhora com o vômito.
–
Língua limpa, sem saburra.
Nux vomica
–
Irritabilidade em caso de forte ânsia de vômito.
–
Hiperestesia sensorial e suscetibilidade.
Petroleum
–
Diarreia, náusea com vômito de bile.
–
Jet lag.
–
Vontade de comer. Melhora comendo.
Tabacum
–
Frio gélido, prostração, tontura.
–
Remédio principal em caso de enjoo.
–
Melhora ao vomitar.
Simbologia: não consegue adaptar-se à viagem nem ao
elemento que a ela pertence. Deixar-se enganar por alguma
coisa.
Tarefa: renunciar ao controle e se entregar.
Primeiros socorros: não é necessário.
19.1.15 Cortes
Homeopatia:
Arnica
–
Como primeiro remédio (principal).
Staphisagria
–
Depois da arnica, caso haja o risco de problemas de
cicatrização.
–
Após cortes (por faca) e operações, bem como
lacerações.
Simbologia: “cortar-se” no sentido de “enganar-se”. No
sentido figurado, “dar um tiro no próprio pé”.
Tarefa: desenvolver mais coragem. Seria preferível ter uma
língua afiada no plano verbal ou mental, julgar-se
severamente, questionar com ênfase e vigor os próprios
limites.
Primeiros socorros: interromper a hemorragia.
19.1.16 Escoriações
Homeopatia:
Calendula
–
Remédio principal.
Simbologia: escoriar-se, excesso de desgaste; sofrer um
desgaste por atrito; exigir demais de si mesmo (no plano
errado).
Tarefa: deixar que as coisas penetrem sob a pele,
desenvolver mais profundidade. Exigir mais de si mesmo no
nível decisivo. Arranjar mais atrito na vida, sentir e perceber
as coisas com mais vivacidade.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina.
19.1.17 Queimadura de sol
Homeopatia:
Belladonna
–
Remédio principal.
–
Vermelhidão intensa; reage com sensibilidade ao
contato.
–
Agitação, febre geral.
Arsenicum album
–
Acne estival.
–
Eritema ardente, pruriginoso e pungente.
Simbologia: tomou-se muito “sol externo” em vez de sol
interno. Não ter consciência suficiente do poder de fogo do
sol. Subestimar o sol. Desejo excessivo de parecer
bronzeado e vital.
Tarefa: relacionar-se conscientemente com a irradiação
masculina. Deixar que o sol interior brilhe. “Arder” por
alguma coisa em vez de deixar-se arder. Tornar-se “fogo e
chama” e inflamar-se por temas essenciais.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina,
bandagem com queijo quark ou iogurte.
19.1.18 Insolação
Homeopatia:
Glonoinum
–
Calor, vermelhidão, pele ardente, dor de cabeça forte,
agitação, náusea, eventual vômito.
Veratrum album
–
Colapso acompanhado de vômito, frio no corpo, suor frio,
palidez.
Simbologia: a criança tomou muito “sol externo”. Sua
“central” (a cabeça) ficou sobrecarregada e quente.
Sobreaquecimento, funcionamento sob calor.
Tarefa: deixar-se inspirar mais pela energia e pela irradiação
masculina; abrir-se voluntariamente para o fogo interior;
entusiasmar-se mais com a vida. Viver mais no “sol interior”.
Colocar-se sob a luz correta.
Primeiros socorros: beber muita água a temperatura
ambiente.
19.1.19 Lascas, farpas, estilhaços
Homeopatia:
Silicea
–
Remédio principal.
Simbologia: “Você está com uma farpa” (você se enganou).
Estar com um “espinho na carne”, como a famosa “trave no
olho”. Algo estranho e perigoso se insinua sob a própria pele
e faz pressão, desencadeia conflitos.
Tarefa: deixar o que é importante “penetrar sob a pele”, em
sentido figurado. Permitir a entrada do que é estranho e
perigosamente provocatório e deixar-se tocar por ele;
estimular-se com o confronto.
Primeiros socorros: extrair a farpa; em seguida, manter a
ferida aberta. Aplicar a própria urina (externamente).
19.1.20 Choque elétrico
Homeopatia:
Nux vomica
–
Remédio principal.
Simbologia: golpe no sistema, perigo de distúrbios no ritmo
cardíaco.
Tarefa: unir-se à “corrente da vida”; sair um pouco da linha.
É melhor ultrapassar os limites do que tomar um choque
elétrico. Viver o que é inabitual e original.
Primeiros socorros: Rescue Remedy. Eventualmente, buscar
auxílio médico.
19.1.21 Torções em geral, torção do pé
Homeopatia:
Arnica
–
Remédio principal.
–
Quando o movimento causa dor intensa.
–
Medo do toque e da aproximação.
Rhus toxicodendron
–
Dores, desejo de movimento leve.
–
Agitação.
Simbologia: “caminhar de maneira errada”, não encontrar
apoio seguro, perder o ponto de vista certo.
Tarefa: viver com mais mobilidade, mais flexibilidade;
adaptar-se mais às circunstâncias.
É melhor dançar e pular, em sentido metafórico. Repensar os
próprios pontos de vista.
Primeiros socorros: Rescue Remedy, compressas de arnica,
compressas de acetato de alumínio. Se possível, continuar a
movimentar-se.
19.1.22 Choque traumático
Homeopatia:
Aconitum
–
Muito medo. O susto está evidente no rosto. Olhos
arregalados e pupilas dilatadas.
–
Agitação.
Simbologia: choca ser arrancado do próprio trilho (ver
também a seção “19.1.11 Desmaio”).
Tarefa: renunciar a “todo poder”; viver de forma mais
original e criativa.
Primeiros socorros: Rescue Remedy.
19.1.23 Queimaduras
Homeopatia
Apis
–
Vermelhidão, inchaço e ardência.
Cantharis
–
Bolhas e ardência.
Simbologia: “Você tinha que queimar [pagar].” Queimar os
dedos.
Tarefa: arder por alguma coisa, no sentido de “entusiasmar-
se”. Depositar toda a sua energia de vida em um projeto. Ser
fogo e chama para alguma coisa. Inflamar-se em relação à
vida.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina. Misturar
vinagre e água quente na mesma proporção e aplicar como
compressa.
19.1.24 Luxação
Homeopatia:
Arnica
–
Qualquer movimento provoca dor intensa.
–
Medo do toque e da aproximação.
Rhus toxicodendron
–
Dores dilacerantes. Desejo de leve movimento.
–
Agitação.
Simbologia: ter aterrissado em local (muito) duro. Ser
comprimido (pela vida).
Tarefa: aterrissar com rapidez e eficácia no terreno (dos
fatos). É preferível ir voluntariamente e com mais dureza de
encontro à realidade. Aceitar a pressão da vida em vez de se
deixar comprimir por ela.
Primeiros socorros: Rescue Remedy; compressas de arnica;
compressas de acetato de alumínio; continuar a mover
delicadamente, se possível.
19.1.25 Constipação em viagens
Homeopatia:
Nux vomica
–
Evacuação dolorosa sem resultado ou incompleta.
Simbologia: restringir-se na insegurança do estranhamento
em vez de abrir-se a ela. Manter o que já se tem em
segurança. Não querer correr nenhum risco.
Tarefa: melhor ficar em casa, junto ao que é habitual, em vez
de simular coragem. Manter para si, conscientemente, aquilo
de que ainda se precisa.
Primeiros socorros: beber muita água ou suco de maçã,
comer frutas e vegetais crus. Beber Aminas e muita água.
Melhorar a evacuação e o humor!
19.2 Bibliografia
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Wanderschaft... Und macht viele Bekanntschaften. Ein
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