Decisão de Alexandre de Moraes Sobre Prisão Preventiva de Ivan Rejane Fonte Boa Pinto

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PETIÇÃO 10.

474 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : DE OFÍCIO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

DECISÃO

Trata-se de representação da autoridade policial pela prisão


preventiva de IVAN REJANE FONTE BOA PINTO, com fundamento nos
arts. 13, IV, e 312 e seguintes, todos do Código de Processo Penal.
Sustenta a Polícia Federal, inicialmente, que conduz investigação
sobre fatos praticados por IVAN REJANE FONTE BOA PINTO em razão
da utilização de redes sociais e aplicativos de mensagem com o fim de
“tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático
de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”
(art. 359-L do Código Penal), notadamente o Poder Judiciário, mediante
diversos ataques ao SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
A autoridade policial ressalta, ainda, que o investigado busca
arregimentar apoiadores e estimula a adesão de pessoas à sua conduta,
com a finalidade de constranger, pela grave ameaça e/ou violência efetiva,
Ministros da SUPREMA CORTE e personalidades de partidos políticos
situados à esquerda do espectro ideológico, fatos que configuram, em
tese, o delito do art. 288 do Código Penal (“Associarem-se 3 (três) ou mais
pessoas, para o fim específico de cometer crimes”).
A representação policial indica, então, que a perícia do material
apreendido em posse de IVAN REJANE FONTE BOA PINTO (1 celular e
1 notebook), embora ainda não finalizada, “identificou várias trocas de
mensagens relacionadas ao objeto da presente investigação”, tendo o
representado criado “pelo menos 9 (nove) listas de distribuição no aplicativo
WhatsApp”. Quanto ao ponto, defende a Polícia Federal que “ao criar tal
procedimento de divulgação, o investigado teve a intenção de potencializar o
compartilhamento dos vídeos, imagens e textos produzidos, na maioria das vezes,
com conteúdo criminoso, proferindo ofensas, intimidações, ameaças e imputando
fatos criminoso a ministros do STF e integrantes de partidos políticos à esquerda
do espectro ideológico”.

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A Polícia Federal, demonstrando os fatos por meio de transcrições


exemplificativas, aponta diversos vídeos elaborados e divulgados pelo
investigado e que demonstram “que IVAN REJANE tem como um dos
instrumentos a utilização da violência para atingir seu intento criminoso em
relação a ministros do STF e políticos”.
Em acréscimo, a autoridade policial afirma que também ficou
demonstrada a adesão de diversos seguidores ao intento violento em
relação aos membros do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, havendo
elementos de prova que indicam que “diversos usuários de redes sociais
obtêm nelas o contato de IVAN e passam a manifestar admiração e apoio às suas
ideias, dando eco às falas ofensivas do investigado, seja com palavras de apoio e
incentivo ou, até mesmo, o oferecimento de vantagens ao investigado”.
Segue a Polícia Federal destacando que o investigado, ainda que em
contexto íntimo, não ligado à atuação em redes sociais, demonstra dolo
“no sentido de continuar a prática delitiva e principalmente atuar de forma
violenta contra seus alvos (ministros do STF e políticos ligados à esquerda
ideológica)”, pois, em conversas com seus pais, indica não se arrepender
de sua conduta criminosa, reafirmando, inclusive, a natureza violenta de
suas condutas, conforme se depreende da seguinte mensagem:

“(...) estamos em guerra. E guerra não se vence sem


armas”.

Assim, “comprovada a materialidade do crime e havendo informações aptas


a apontar IVAN REJANE como autor do fato (fumus comissi delicti), bem como
demonstrado risco à ordem pública e o perigo de ineficácia da resposta estatal em
caso de sua soltura (periculum libertatis), diante do prosseguimento da prática
apontada como criminosa com o mesmo modo de agir” representa a autoridade
policial “pela decretação da PRISÃO PREVENTIVA (art. 312 do CPP) de
IVAN REJANE FONTE BOA PINTO, uma vez que as demais medidas
cautelares não se mostrariam eficazes, neste momento, para alcançar os objetivos
aqui descritos e fazer cessar sua atividade”.
Regularmente intimada para se manifestar, a Procuradoria-Geral da
República manifestou-se pelo indeferimento da prisão preventiva de

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IVAN REJANE FONTE BOA PINTO e requereu a decretação de sua


prisão domiciliar com monitoramento eletrônico, cumulada com medidas
cautelares diversas da prisão.
É o relatório. DECIDO.

A Polícia Federal, inicialmente, representou pela decretação da


prisão temporária do investigado, ressaltando, naquele momento, a
presença dos requisitos do fumus comissi delicti e do periculum libertatis,
nos seguintes termos:

“Conforme demonstrado nos vídeos publicados em seu


canal na plataforma YouTube, IVAN REJANE articula de forma
concreta a reunião de pessoas para que, por meio de grave
ameaça e violência, mediante inclusive a “luta armada”, cacem
os ministros do Supremo Tribunal Federal, para destituí-los de
suas funções judicantes pelos simples fato de, no entender do
investigado, atuarem contrário ao seu posicionamento político-
ideológico, visando com isso, tentar restringir o exercício do
Poder Judiciário. Tais condutas, conforme exposto, têm o
potencial de agravar o quadro de polarização em que se
encontra o país em período pré-eleitoral e culminar por
promover a adesão de pessoas às condutas violentas propostas.
Os vídeos apresentados foram publicados no início do mês de
julho de 2022, há mais de 11 dias. Somente um dos vídeos teve
mais de vinte e oito mil visualizações. Tais elementos revelam o
perigo concreto da conduta perpetrada pelo investigado”.

Na decisão que decretou a prisão temporária, ficou consignada a


pertinência da medida, de modo a garantir a prova que deverá ser obtida
em colheita de elementos de prova e com o objetivo de elucidar as
infrações penais atribuídas à associação criminosa em toda sua extensão,
nos seguintes termos:

“Efetivamente, os fatos narrados condizem com os


elementos probatórios colhidos no âmbito dos Inqs 4.781/DF

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(fake news)e 4.828/DF (atos antidemocráticos), bem como se


assemelham ao modus operandi que resultou na instauração do
Inq. 4.874/DF.
Esses elementos demonstram uma possível organização
criminosa que tem por um de seus fins desestabilizar as
instituições republicanas, principalmente aquelas que possam
contrapor-se de forma constitucionalmente prevista a atos
ilegais ou inconstitucionais, como o SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, utilizando-se de uma rede virtual de apoiadores que
atuam, de forma sistemática, para criar ou compartilhar
mensagens que tenham por mote final a derrubada da estrutura
democrática e o Estado de Direito no Brasil.
Essa organização criminosa, ostensivamente, atenta contra
a Democracia e o Estado de Direito, especificamente contra o
Poder Judiciário e em especial contra o SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, pleiteando a cassação de seus membros e o próprio
fechamento da Corte Máxima do País, com o retorno da
Ditadura e o afastamento da fiel observância da Constituição
Federal da República”.

Destaca-se, ainda, que, em decisão de 25/7/2022, foi prorrogada a


prisão temporária do investigado, pois (a) o investigado, no dia de sua
prisão, publicou novo vídeo no YouTube, intitulado “PRENDE ELE! A
esquerda pira e se desespera diante dos fatos... o Brasil acordou! Chora
tchutchuca....”, reiterando as ameaças à segurança e a honorabilidade do
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e de seus Ministros; (b) no referido
vídeo, houve referência expressa ao art. 142 da Constituição Federal e à
possibilidade de rompimento institucional do Estado Democrático de
Direito, também se vislumbrando como possível a configuração do delito
de incitação ao crime, previsto no art. 286, parágrafo único, do Código
Penal (Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade entre as
Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis
ou a sociedade); e (c) ficou demonstrada a pertinência da medida,
imprescindível para que a autoridade policial avance na análise do
material apreendido e na elucidação das infrações penais atribuídas à

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associação criminosa em toda a sua extensão; bem como analise se há nas


informações contidas nos bens e documentos recolhidos elementos que
possam ensejar a realização de novas atividades investigativas, além de
mitigar as oportunidades de reações indevidas e impedir a articulação
com eventuais outros integrantes da associação, que obstruam ou
prejudiquem a investigação.
Em acréscimo, nesta nova representação da autoridade policial,
constam importantes elementos de prova colhidos com o início da perícia
do material apreendido em posse do investigado, no sentido de que os
seus ataques ao Estado Democrático de Direito e ao SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL estavam, até o momento de sua prisão, sendo
amplamente divulgados, mediante criação de diversas listas de
transmissão.
Quanto ao ponto, a Polícia Federal apontou a transcrição de alguns
dos vídeos divulgados, do seguinte teor:

"Eu realmente considero o presidente BOLSONARO é um


grande estadista! É o cara que joga dentro das quatro linhas da
Constituição brasileira e que em nenhum momento quis valer
do seu poder pra combater os seus inimigos! E olha que eles são
criminosos e vagabundos! O STF faz política e tenta de todas
as formas desestabilizar o governo! Se eu fosse o presidente
da República esses juízes togados safados já teriam sido
destituídos e estariam todos numa cela fedorenta! O STF só
tem bandido, picareta, corrupto! Se eu fosse o presidente da
República o Seu LULA molusco estaria dentro da jaula porque
eu não permitiria de jeito nenhum, de jeito maneira e nem
fudeno um corrupto condenado e julgado em várias instâncias
do jurídico brasileiro pudesse sequer concorrer às eleições! Nós
temos que ser mais sérios nesse país. O presidente
BOLSONARO precisa da população do la...”

“O jornalista ALLAN SANTOS, que está nos Estados


Unidos sendo perseguido pelo ALEXANDRE DE MORAES,

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aquele careca safado, o GILMAR MENDES, aquele ministro


togado que parece um sapo, um sapo mesmo, tem uma igreja
em João Pinheiro! Ele é que é o responsável no CNPJ por uma
igreja evangélica. Além de togado, ministro do STF corrupto e
vagabundo, o pilantra também é pastor! E a igreja fatura entre
duzentos e quarenta mil e três milhões de reais por mês! É isso
mesmo, no mínimo duzentos e quarenta mil, no máximo três
milhões. É lavagem de dinheiro, né, galera! Não é possível que
o brasileiro vai continuar vendo essas coisas enquanto esse
porco, que parece um sapo, continua torrando dinheiro em
Portugal com vinhos caros! Vai tomar no cu, GILMAR!".

“Eu vi as declarações do presidente BOLSONARO


dizendo que dispensa o apoio daqueles que agem com violência
contra os seus opositores. Eu discordo veementemente! Nós
estamos em guerra, presidente! Em guerra contra vagabundos e
criminosos que escravizam nossos jovens, que são mandantes
de assassinatos de pessoas que querem delatar os esquemas de
corrupção. Aqueles que praticam a violência a céu aberto, que
invadem igrejas, aqueles que partem pra cima dos nossos
jovens, dos nossos filhos. Aqueles que andam com segurança
armada literalmente agridem qualquer um que fale alguma
coisa contra eles. Eu não subo a favela pra combater o tráfico
com uma bíblia na mão! Eu subo com uma pistola 9 milímetros
e um fuzil de assalto. Chega de conversa fiada! Na guerra vão
morrer pessoas de ambos os lados! Temos que lembrar que a
democracia e as nossas famílias estão em jogo! Eu não sou a
favor da violência, mas se algum petista, psolista, esquerdista
mexer com a minha família pode preparar! Cê vai encontrar o
Fidel...”

Além disso, a Polícia Federal destacou o fato de que diversos


usuários dos aplicativos de mensagem, ao receberem o conteúdo ilícito
divulgado pelo investigado, “passam a manifestar admiração e apoio às suas
ideias, dando eco às falas ofensivas do investigado, seja com palavras de apoio e
incentivo ou, até mesmo, o oferecimento de vantagens ao investigado”.

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Nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal, a prisão


preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
Na presente hipótese, patente a necessidade de garantia da ordem
pública e conveniência da instrução criminal, pois presentes o fumus
commissi delicti e periculum libertatis, inequivocamente demonstrados nos
autos os fortes indícios de materialidade e autoria dos crimes previstos
nos arts. 288 (associação criminosa) e 359-L (Abolição violenta do Estado
Democrático de Direito) do Código Penal.
Nesse sentido, assim ressaltou a autoridade policial:

“A reiteração da prática criminosa, reproduzindo o mesmo


modo de agir, com a mesma agressividade e ímpeto, são
coerentes com o que foi obtido durante o estudo do material
obtido na busca e apreensão. A Informação de Polícia Judiciária
056/2022 aponta a existência de mensagens que reforçam a
atuação de IVAN REJANE no intuito de angariar seguidores
que se associam aos seus ideais criminosos para tentar, de
forma concreta, mediante violência ou grave ameaça abolir o
Estado Democrático de Direito, impedindo que Ministros do
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL exerçam de forma livre suas
atividades judicantes. Nesse sentido, os tipos penais merecem
ser analisados conforme a nova metodologia criminosa
empregada, que se utiliza das redes sociais como instrumento
amplificador de suas condutas, com capacidade de atingir um
número expressivo de pessoas, que aderem a ideia criminosa e
com isso, potencializa-se a capacidade de dano aos bens
jurídicos tutelados pela norma penal (no caso, o Estado
Democrático de Direito por meio do livre exercício do Poder
Judiciário).
O risco da soltura imediata de referido cidadão não pode
ser avaliado de maneira isolada. É fato público e notório que a
prática criminosa ora investigada está inserida em um contexto

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mais abrangente de acirramento dos ânimos, do estímulo ao


enfrentamento a oponentes políticos e de tentativas de
enfraquecimento do Poder Judiciário, o qual inclusive é
incumbido da realização do pleito eleitoral que se avizinha.
Esse ambiente de incentivo à desobediência civil, à caça de
‘inimigos’, à camuflagem do discurso de ódio sob o manto da
liberdade de expressão é, ao mesmo tempo, causa e efeito desse
tipo de crime que tem se tornado tão frequente nos meses
recentes.
Ao conclamar seguidores a agir violentamente, IVAN
REJANE adere a um projeto de enfraquecimento das bases do
Estado Democrático de Direito que tem sido intensificado nas
mídias de comunicação (inclusive com emprego de notícias
falsas e incitação ao crime), ao mesmo tempo em que ele
próprio abre canais de adesão de outras pessoas que concordam
com a ideia de migrar as proposições ali lançadas para o campo
das ações. É de se esperar o impacto que a liberação de IVAN
REJANE terá na ordem pública, tanto pelo potencial
prosseguimento na prática delitiva (como já demonstrado),
quanto pela recepção de uma mensagem equivocada de que as
condutas praticadas por IVAN REJANE são toleradas pelo
Estado.
Esse quadro demonstra o risco à ordem pública e à
própria apuração pela demonstração de ineficácia da atuação
do sistema de justiça criminal em promover a interrupção e a
completa elucidação de fatos sabidamente graves,
estimuladores da prática de outros crimes, agravada pela
plausibilidade de prosseguimento da conduta por citado
cidadão, a exemplo do que ocorreu no dia de sua prisão.

Efetivamente, os elementos de prova colhidos através da perícia dos


bens eletrônicos apreendidos indicam que o investigado, por meio de
aplicativos de mensagens, arrecada o apoio de diversas pessoas para a
efetivação de seu projeto de ataque às instituições democráticas,
notadamente o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, em datas que se
aproximam (manifestações em agosto e em setembro de 2022).

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Não bastasse isso, no estado atual da perícia, ainda não finalizada, já


é possível verificar, em certo grau, a extensão da divulgação do conteúdo
criminoso objeto de investigação nestes autos, tendo o investigado criado
diversas listas de transmissão de mensagens (nove) e se vangloriado do
tamanho de seu canal na rede Kwai (mais de 94 mil seguidores).
A Polícia Federal, nesse contexto, indicou a efetiva cooptação de
terceiros para atos violentos contra o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
nos seguintes termos:

O interlocutor de identificado como MAGAIVER DIRETA


SAMPA” em conversa no aplicativo WhatsApp diz que segue
IVAN no KWAI e que curte muito os vídeos dele. MAGAIVER
diz: “Vejo que você é um Patriota igual a mim, que tem nojo
do Lixo Comunista da Esquerda. Precisamos unir a Direita e
dar basta!” e diz para IVAN que “Semana que vem vai
começar a estourar as “bombas” no DF... Fica ligado”. Em
outra mensagem, demonstrando seu alcance nas redes sociais,
IVAN REJANE afirma que possui mais de noventa e quatro mil
seguidores na plataforma KWAI.

A manutenção da restrição da liberdade do investigado, com a


decretação da prisão preventiva, é a única medida capaz de garantir a
ordem pública e a conveniência da instrução criminal, especialmente com
o prosseguimento da perícia técnica, capaz de apontar com maior
precisão a extensão e níveis de atividade da associação criminosa que se
investiga, inclusive no que diz respeito à concretização de ataques ao
Estado Democrático de Direito.
Por outro lado, é importante ressaltar que, somente com a restrição
de liberdade foi possível interromper a prática criminosa, pois o
investigado, no mesmo dia de sua prisão, divulgou vídeo com novos
ataques ao SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no qual debochou da
possibilidade de ser preso.
Além disso, ainda que tenha sido determinado o bloqueio de suas
redes sociais, a representação policial indica que a atividade da

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organização criminosa ocorre, predominantemente, por meio de


aplicativos de mensagem, tais como WhatsApp e Telegram, de difícil
fiscalização e cujos bloqueios, mediante medidas cautelares diversas, não
seriam suficientes para garantir a interrupção da divulgação das
mensagens criminosas.
A prisão preventiva se trata, portanto, de medida razoável,
adequada e proporcional para garantia da ordem pública com a cessação
da prática criminosa reiterada, havendo, neste caso, fortes indícios de que
o investigado integra associação criminosa (HC 157.972 AgR/DF, Rel.
Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão Min. NUNES
MARQUES, Segunda Turma, julgado em 8/4/2021; HC 191.068 AgR/RJ,
Rel. Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão Min. NUNES
MARQUES, Segunda Turma, julgado em 8/4/2021; HC 169.087/SP, Rel.
Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 4/5/2020; HC
158.927/GO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 26/3/2019; RHC
191949 AgR/SP, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma,
julgado em 23/11/2020).
Diante do exposto, com fundamento no art. 312 do Código de
Processo Penal, DECRETO A PRISÃO PREVENTIVA de IVAN REJANE
FONTE BOA PINTO (CPF 032.854.756-50).
Expeça-se mandado de prisão preventiva.
Comunique-se ao Diretor do Complexo Penitenciário Nelson
Hungria, em Contagem/MG.
Ciência IMEDIATA à Procuradoria-Geral da República.
Atribua-se a esta decisão força de mandado/ofício.
Publique-se.
Brasília, 31 de julho de 2022.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator
Documento assinado digitalmente

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