Livro Bioética e Saúde Pública Volume 2
Livro Bioética e Saúde Pública Volume 2
Livro Bioética e Saúde Pública Volume 2
CDD 610
CDU 601/618
APRESENTAÇÃO
Saúde Pública e Bioética são ciências empregadas para proteger e melhorar a saúde das
pessoas e de suas comunidades. O tamanho das comunidades pode ser restrito a uma
vizinhança ou de abrangência continental, até mesmo mundial. Problemas com tamanha
circunscrição são discutidos e solucionados por profissionais de saúde pública, com
objetivo de prevenir a ocorrência e repetição de problemas através da implementação de
programas educacionais, recomendação de políticas, administração de serviços e
realização de pesquisas. Saúde Pública e Bioética são áreas complementares consideradas
inter-, trans-, multidisciplinar. Uma grande parte dessas duas ciências está promovendo a
equidade, a qualidade e a acessibilidade em saúde. Portanto, a redação deste livro destina-
se a todos os profissionais, pesquisadores, acadêmicos e interessados em saúde pública e
bioética. O e-book possui estudos de aspectos variados da Saúde Pública e Bioética, e.g.
avaliações de necessidade ou impacto, proteção da saúde, incluindo controle de doenças
transmissíveis, promoção da saúde e prevenção de doenças, direito e ética em saúde
pública e políticas públicas de saúde. Leia sem moderação!
SUMÁRIO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 1
ESTRATÉGIAS DE GESTÃO NA ATENÇÃO À
SAÚDE DO IDOSO NO AMBIENTE
HOSPITALAR
Lyslian J. A. Moreira1, Fernanda de Abreu Pinto2, Nathália Sabrina Santana2
1
Mestre em Bioética pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Graduada em Enfermagem pelo Instituto
Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/IELUSC. Especialista em Enfermagem Pediátrica e em
Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos pela Faculdade Pequeno Príncipe. Especialista em Centro Cirúrgico
e CME pela Faculdade Inspirar. Docente do Curso Superior em Gestão Hospitalar e do Programa de Pós-
Graduação em Cuidados Paliativos e em Centro Cirúrgico da Faculdade Inspirar, Curitiba/PR.
2
Tecnóloga em Gestão Hospitalar pela Faculdade Inspirar.
1. INTRODUÇÃO
1|Página
Este cenário demográfico de envelhecimento aumenta as demandas dos serviços
públicos de saúde que precisam de mais investimentos para ampliar a capacidade de atenção
(MIRANDA et al., 2016). Também exige da sociedade, dos governos e dos gestores uma
reflexão sobre o modo como se pensa o processo de envelhecimento e de cuidado à pessoa
idosa. Isso envolve questões de segurança, a valorização social, o exercício da cidadania, o
acesso aos serviços de saúde e a formação profissional específica para atender os idosos.
Neste entendimento, a Organização Mundial de Saúde adotou o termo “envelhecimento
ativo” e propôs pilares para assegurar a saúde, a segurança e a participação do idoso na
sociedade (OMS, 2005). Frente às necessidades desta população, surgiram leis para
salvaguardar os direitos, a autonomia e o bem-estar da população idosa. Em 1994 surge a
Política Nacional do Idoso (PNI) sob a Lei 8.842 de 04 de janeiro de 1994, regulamentada pelo
Decreto de n° 1948 de 03 de junho de 1996. Complementada pelo Estatuto do Idoso, criado em
01 de outubro de 2003, sob a Lei 10.741 (BRASIL, 2003). A Portaria de nº 2.528 de 2006 do
Ministério da Saúde, aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) que
estabelece metas para a atenção integral e a promoção do envelhecimento ativo e saudável
(BRASIL, 2006b). O Mistério da Saúde também lançou a Caderneta Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa, documento preenchido com informações do idoso para direcionar o plano de
cuidados à saúde na atenção primária. Nesta caderneta são registradas a capacidade funcional,
os hábitos de vida, o uso de medicação contínua e as condições de saúde do idoso. Contém
ainda, orientações para uma alimentação saudável, a realização de atividades físicas, saúde
bucal, sexualidade e a prevenção de quedas (BRASIL, 2017).
Iniciativas de atendimento à pessoa idosa também têm surgido em centros de
convivência como uma forma de atuar em prol da melhoria da qualidade de vida e da condição
de saúde, bem como promover a autonomia e a inclusão social (WICHMANN et al., 2013). É
notório que, para se promover o bem-estar e melhorar a condição de saúde do idoso é necessário
investir na prevenção das doenças mais prevalentes e evitar suas complicações. Neste sentido,
a Gerontologia contribui ao estudar o envelhecimento humano em seus aspectos
biopsicossociais e ao propor ações que contribuam com a qualidade de vida (CARDIM, 2009).
Ao mesmo tempo, a Geriatria enquanto especialidade médica, trata das doenças prevalentes na
pessoa idosa objetivando aumentar a sobrevida com qualidade (PEREIRA et al., 2009).
Para tal, a problematização aqui levantada é de como as estratégias de gestão podem
contribuir com a qualidade de vida e a forma de atenção prestada à saúde do idoso no ambiente
hospitalar. Este estudo se justificou pelo progressivo aumento da população idosa que,
2|Página
fatidicamente adoece e onera o sistema público de saúde, além da forma fragmentada da
assistência à saúde prestada ao idoso no ambiente hospitalar.
Presumiu-se que, a gestão dos processos de atenção à saúde do idoso se depara com
desafios e fragilidades que refletem no modo insatisfatório como a maioria dos serviços são
prestados. Também de que a existência de estratégias de atenção à saúde do idoso no ambiente
hospitalar contribuem com a gestão dos recursos, otimizam os processos de trabalho e
promovem a qualidade de vida.
Traçou-se, como objetivo geral, a identificação de estratégias de gestão passíveis de
serem aplicadas na atenção à saúde do idoso no ambiente hospitalar. Teve como objetivos
específicos: analisar as fragilidades e os desafios encontrados na gestão dos processos de
atenção à saúde do idoso; propor um plano de ação para otimizar o uso dos recursos em saúde
e o atendimento prestado ao idoso no ambiente hospitalar.
2. MÉTODO
3|Página
idoso”. Em cada categoria, os resultados foram sumarizados e classificados de forma
hierárquica (verticalmente, da maior para a menor frequência com que emergiram nos estudos)
e apresentados em um quadro. A partir das evidências encontradas foi elaborado um plano de
ação com as estratégias de gestão para o atendimento do idoso no ambiente hospitalar. Sugeriu-
se a criação de um Núcleo de Apoio à Pessoa Idosa no ambiente hospitalar para implementar e
avaliar as estratégias do plano de ação elaborado. Os resultados foram discutidos com base nas
âncoras teóricas da Política Nacional de Atenção à Saúde do Idoso e no Estatuto do Idoso.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Orientar o familiar e inclui- Cuidados compartilhados Necessidade de ter uma equipe multiprofissional,
lo no cuidado do idoso. em saúde. resolutiva, capacitada e humanizada.
4|Página
Aplicação de sistema de custeio ABC para
Gestão e monitoramento de Cuidado seguro, qualidade
identificar irregularidades, diminuir custos e
riscos. institucional.
otimizar os recursos.
O gestor como agente responsável pela mudança
Avaliar sinais de violência Reportar os casos às
de processos operacionais e relacionais com o
ao idoso. autoridades.
idoso.
Estabelecer critérios para Reduz os desperdícios e gastos desnecessários. Segurança medicamentosa,
prescrição medicamentosa. avaliação do efeito terapêutico, minimizar complicações à saúde.
Atribuir funções e
Padronizar processos de trabalho voltados às especificidades do idoso.
estabelecer processos de
Desempenho de atividades com qualidade, competência e destreza.
trabalho.
Cuidados Paliativos Cuidado humanizado e integral ao idoso com doença incurável e seu familiar.
6|Página
Egon (2019) reforça que as práticas administrativas devem ser passíveis de aplicabilidade e ir
além da busca por certificações e acreditações. Precisam considerar as especificidades da
instituição e as expectativas do paciente para que o resultado seja satisfatório para todos os
envolvidos.
Dentro da estratégia de gestão de riscos ao idoso, cabe discutir de maneira minuciosa os
maus-tratos, o risco medicamentoso e de queda, pois emergiram como complicadores à saúde
do idoso. Para Lima e Dutra (2010), o gerenciamento de riscos possibilita criar e mensurar
indicadores de risco e os prejuízos ocasionados ao paciente e ao profissional dada a sua
ocorrência, criando ações que previnam ou minimizem as situações indesejadas.
Em relação ao risco de maus-tratos contra o idoso, a pesquisa evidenciou como
estratégia de cuidado o papel do profissional no reconhecimento dos sinais suspeitos ou que
confirmem estas situações e da notificação às autoridades para os trâmites legais. Neste
entendimento, Cavalcanti e Souza (2010) afirmam que, embora os profissionais atuem para
tratar problemas de saúde, podem se deparar com idosos em situações de maus-tratos que
comprometem a sua segurança e a condição de saúde. Frente ao exposto, é pertinente salientar
que o Estatuto do Idoso determina que em casos suspeitos ou confirmados de violência ou
maus-tratos à idosos, o fato deve ser notificado às autoridades competentes (polícia, Ministério
Público, Conselhos Municipal, Estatual ou Nacional do Idoso) para as devidas providências
(BRASIL, 2013a). Contudo, no ambiente hospitalar recomenda-se que, na identificação dessas
suspeitas ou confirmação de violência, que os profissionais notifiquem à autoridade interna do
hospital para que dê o encaminhamento cabível, atendendo às determinações do Estatuto do
Idoso (BRASIL, 2003).
Constatou-se que as limitações físicas, cognitivas e as doenças comuns a esta faixa etária
aumentam as chances de quedas e de complicações à saúde, situações que implicam em
hospitalizações, intervenções cirúrgicas e o uso de medicamentos que se mostram como
possíveis agravantes à segurança do idoso. Neste contexto, Barros et al. (2015) mencionam que
os idosos estão mais suscetíveis a estes riscos, dadas as limitações naturais do envelhecimento
potencializadas pelas condições das ruas e o desempenho das atividades cotidianas. Algumas
situações com maior risco de queda são em idosos sob efeito de psicoativos, analgésicos
potentes e anestésicos de ação geral, em jejum prolongado, obesos ou muito emagrecidos, pós
cirúrgicos, com limitações na mobilidade ou com dor intensa (BRASIL, 2013b).
As complicações oriundas da queda aumentam o tempo e os gastos com hospitalização
e interferem na mobilidade do idoso que pode precisar do auxílio de outras pessoas para realizar
as tarefas cotidianas ou relacionadas à sua sobrevivência e conforto. A restrição ou a perda da
7|Página
autonomia pode levar ao isolamento social, o prejuízo da autoestima e, consequentemente, à
diminuição da qualidade de vida. De acordo com Sarges et al. (2017), a população idosa é a
que mais utiliza os serviços públicos de saúde em virtude dos fatores anteriormente
mencionados. Assim, triar os pacientes com maior risco de queda por meio de protocolo de
avaliação é uma estratégia eficaz e de baixo custo ao serviço de saúde para elaborar ações que
diminuam a sua ocorrência.
Neste cenário, a Organização Mundial da Saúde criou metas internacionais para a
segurança do paciente em estabelecimentos de saúde. A meta seis está relacionada a prevenção
de quedas e a redução de danos decorrentes desta fatalidade, bem como a notificação deste
evento (BRASIL, 2013b). O gerenciamento deste risco pode reduzir consideravelmente os
impactos relacionados à saúde do paciente, bem como os custos decorrentes de seu atendimento
(SARGES et al., 2017). A Portaria do Ministério da Saúde/GM nº 529/2013 estabelece o
Programa Nacional de Segurança ao Paciente em parceria com a RDC nº 36/2013 da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária que determina ações para a segurança do paciente. Uma destas
providências é a criação de núcleos de segurança ao paciente pelos estabelecimentos que
prestam serviços em saúde. Estes núcleos têm a função de elaborar estratégias e ações de
prevenção, proteção e de mitigação de incidentes associados à assistência à saúde, desde a
admissão do paciente até a sua saída do estabelecimento (BRASIL, 2013c, 2014, 2016).
Outro risco importante a ser monitorado decorre da possibilidade de intoxicação ou
efeitos adversos pelo uso de medicamentos. Condições comumente vivenciadas por idosos que
utilizam diferentes fármacos, ao mesmo tempo, para controlar enfermidades crônicas, pela
prática da automedicação ou por receberem prescrições de diferentes especialidades que não
dialogam entre si. A indústria farmacêutica e a propaganda têm forte influência na ocorrência
destes eventos adversos por incentivar a automedicação, além é claro, da própria condição
biológica e de doença que alteram a farmacocinética e a farmacodinâmica dos medicamentos.
Neste sentido, para reforçar a atenção à segurança medicamentosa, dentre as seis metas
estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, a meta três é destinada a práticas seguras na
prescrição, no uso e na administração dos medicamentos (BRASIL, 2013c). A cartilha do
governo de Santa Catarina, que estabelece a Linha de Cuidado Integral ao Idoso, determina que
sejam estabelecidos critérios para a prescrição de medicamentos (indicação e descontinuação),
a identificação dos medicamentos de uso do paciente e a avaliação da efetividade do tratamento
(BRASIL, 2017, 2018; SANTA CATARINA, 2018).
A definição de critérios para a prescrição e padronização de medicamentos na instituição
de saúde é uma estratégia que otimiza os recursos financeiros da instituição por possibilitar a
8|Página
gestão de estoque, o fluxo de compra e a redução do desperdício, além de dar segurança nas
etapas de prescrição, administração, rastreabilidade medicamentosa e monitoramento de sua
ação com a possibilidade de notificação dos eventos adversos. Para Silveira et al. (2013), a
padronização medicamentosa pode diminuir o risco de erros na prescrição e na administração
de fármacos, reduz gastos com aquisição desnecessária e assegura a rastreabilidade no caso de
reações medicamentosas. Esta conduta é complementada por Araújo e Uchôa (2011) quando
afirmam que, a padronização de medicamentos possibilita que o mesmo fármaco seja utilizado
por diferentes especialidades, conforme sua indicação, desde que seja informada aos médicos
do serviço para que possam receitá-lo.
Outras estratégias de atenção à saúde do idoso decorrem da atribuição de funções
específicas à formação e expertise dos profissionais que compõem a equipe e da padronização
dos processos de trabalho. Estas ações permitem desempenhar a assistência com qualidade,
competência, destreza, segurança e responsabilidade. Conforme Piexak (2012), os profissionais
de saúde devem avaliar frequentemente o impacto de suas ações na qualidade de vida do
paciente e no trabalho da equipe. Desta análise, trilhar ações para o aperfeiçoamento
profissional de modo a obter mais segurança no desenvolvimento de suas atividades (FREITAS,
2016).
A padronização dos processos de atendimento em saúde uniformiza a prática
assistencial de modo qualificado, minimizando erros decorrentes da variabilidade no modo de
execução das atividades. Consequentemente, diminui o número de processos judiciais e de
reclamações por insatisfação com o atendimento. De acordo com Guerrero et al. (2008), o
Procedimento Operacional Padrão (POP) é a ferramenta que permite descrever a sequência do
procedimento, garantindo que sejam alcançados os mesmos resultados esperados para a
atividade por todos aqueles que o desempenham.
A última estratégia evidenciada, porém, não menos importante, é a realização dos
cuidados paliativos aos idosos com doença incurável, progressiva e que ameaça a continuidade
da vida. No entendimento de Silveira et al. (2014), quanto mais a pessoa envelhece, maior é a
suscetibilidade para desenvolver doenças graves, crônico-degenerativas ou incuráveis que
podem levar à morte. É desde o diagnóstico destas doenças que os cuidados paliativos são
indicados para garantir qualidade de vida, mas é na velhice que a proximidade da morte se torna
mais presente, principalmente naqueles idosos portadores de comorbidades que ameaçam a
continuidade da vida ou que o condicionam à dependência de familiares e cuidadores. Para isso,
é necessário o trabalho de uma equipe multidisciplinar que atue de modo interdisciplinar, com
ações humanizadas voltadas para promover o alívio da dor e do sofrimento, proporcionar
9|Página
conforto espiritual e emocional conforme a fase da doença e as necessidades do doente e da
família (CREMESP, 2008).
Atendendo a um dos objetivos deste estudo, a partir das estratégias evidenciadas foi
criado um plano de ação para nortear as práticas de atenção à saúde do idoso no ambiente
hospitalar. Sugeriu-se a criação de um Núcleo de Atenção à Pessoa Idosa (NAPI) no serviço
hospitalar, o qual contaria com a participação de diferentes especialidades. Cada profissional
integrante do NAPI, dentro da sua expertise e competências capacitaria as lideranças das
respectivas equipes de profissionais para implementar as estratégias de gestão do cuidado ao
idoso. O NAPI também seria responsável por gerar indicadores de qualidade, monitorar os
resultados das ações implementadas, revisar os processos com a coparticipação dos
profissionais diretamente envolvidos no cuidado ao idoso e informar os resultados ao gestor
hospitalar. Para Assis et al. (2009), a implantação de um projeto de promoção à saúde promove
o diálogo e a participação dos integrantes contribuindo para práticas voltadas à atenção integral.
A formação do profissional de saúde que atende o idoso no Brasil foi evidenciada como
insatisfatória, reducionista e mecanicista. Muitos dos profissionais formados se lançam no
mercado despreparados para atender o idoso em sua integralidade, se limitando à práticas
focadas apenas na dimensão biológica. A matriz curricular de formação da maioria dos
profissionais de saúde estuda e realiza ações baseadas na doença e é fragmentada no sexo e nas
etapas do ciclo vital (pediatria, obstetrícia e geriatria). Esta dissociação do indivíduo pode
parecer didática, mas reflete no modo como o paciente é observado, tratado e cuidado por
muitos profissionais das diferentes especialidades.
Frequentemente se observa a inabilidade do profissional em interagir, escutar e se
comunicar adequadamente, desconsiderando as limitações sensoriais, motoras e cognitivas do
idoso. Por vezes, não busca conhecer os desejos, as capacidades e o contexto em que o idoso
está inserido e, portanto, articular redes de apoio para garantir sua proteção e a melhora do seu
bem-estar. Estas fragilidades se mostram como desafios a serem superados por meio da
adequação curricular das instituições de ensino e da educação continuada nos estabelecimentos
de saúde para que atuem de forma interdisciplinar e com foco holístico.
Também é necessário que as instituições de saúde proporcionem condições para que o
profissional busque por capacitação contínua e disponha de tempo suficiente para interagir,
10 | P á g i n a
estabelecer o diálogo e realizar a assistência de forma qualificada e segura. Considerando o
crescente envelhecimento populacional e a demanda de profissionais lançados anualmente no
mercado de trabalho, Biz e Maia (2007) enfatizam que o profissional que atua com o público
idoso precisa ter um perfil específico e diferenciado para atender as demandas decorrentes das
particularidades desta população.
No estudo realizado por Willig et al. (2012) se constatou que no Núcleo de Atenção à
Saúde da Família (NASF) não havia profissionais especialistas em Geriatria e Gerontologia
suficientes para atender a demanda de idosos. Este achado é muito relevante e motivo para
discussão sobre qual a prioridade dada às ações em saúde à população idosa. Considerando que
o NASF presta atendimento à família e que esta pode ter um membro idoso. É comum observar
a presença de pediatras e ginecologistas na atenção primária, mas dificilmente há um médico
geriatra, tampouco enfermeiros, dentistas e nutricionistas especializados no atendimento à
idosos.
Investir na capacitação contínua valoriza o profissional, qualifica e humaniza o cuidado
prestado, proporciona segurança e satisfação a todos os envolvidos, além de mostrar um
diferencial de atendimento que pode fidelizar o paciente no serviço. Um atendimento
humanizado se ampara em valores morais, na percepção das necessidades do paciente, no
respeito à autonomia, à singularidade e aos direitos da pessoa. Tudo isso aliado ao
conhecimento teórico-prático e as habilidades emocionais, relacionais e comunicacionais.
Para efetivar práticas de cuidado humanizadas e a valorização do profissional, o
Ministério da Saúde criou em 2003 a Política Nacional de Humanização - HumanizaSUS com
o objetivo de qualificar o atendimento prestado em saúde pública, inovar as formas de gestão e
de cuidado, valorizar os trabalhadores e usuários e efetivar os princípios do Sistema Único de
Saúde (BRASIL, 2013d).
O presente estudo apontou que alguns fatores dificultam o acesso aos serviços de saúde
pelo idoso, descumprem o direito à saúde e comprometem o cuidado. Dentre as causas que
levam à inacessibilidade aos serviços de saúde se destacaram as limitações estruturais (escadas,
falta de corrimões) e as organizacionais (determinação de número de consulta, agenda de espera
para exames, horário de atendimento), além das limitações biológicas (física, sensorial,
cognitiva e emocional).
Para Araújo et al. (2014), as restrições organizacionais sobrecarregam outros níveis de
atenção à saúde. Sugerem então, que ao reorganizar o horário de funcionamento das unidades
básicas de saúde os idosos possam ser atendidos também aos finais de semana para evitar a
sobrecarga nas unidades de Pronto-Atendimento. Em relação às barreiras físicas, Siqueira et al.
11 | P á g i n a
(2009) mencionam que a estrutura predial dos serviços de saúde pode dificultar, limitar ou
impedir que o idoso acesse o estabelecimento. Assim, é de grande importância que a estrutura
arquitetônica seja pensada para adaptar os espaços com rampas, elevadores, corrimões e
sinalizações para que facilitem o acesso e a transitação deste idoso de modo seguro. O Estatuto
do Idoso dispõe sobre a acessibilidade aos serviços de saúde e o respeito aos seus direitos
mediante políticas públicas que assegurem o envelhecimento saudável e com dignidade. As
políticas públicas possibilitam a corresponsabilidade sobre a pessoa idosa entre a família, a
sociedade, a comunidade e o Estado (BRASIL, 2013a & SANTOS et al., 2016).
O último desafio apontado neste estudo diz respeito ao mapeamento dos locais e das
situações geradoras de gastos desnecessários e o monitoramento dos custos com cada
procedimento hospitalar. A gestão destas situações pode ser feita por meio de sistemas e
tecnologias de informação aliadas ao método de Custeio Baseado em Atividade - ABC
(Activity-Based Costing). Este sistema de custeio estrutura e organiza os custos conforme a
atividade, sinaliza os procedimentos geradores de maior gasto para o hospital e faz o rateio dos
gastos com um determinado procedimento para saber o seu custo real (GONÇALVES et al.,
2009). Neste sentido, o gestor hospitalar tem a responsabilidade não somente de tomar decisões,
mas também a de conduzir e acompanhar a equipe na execução das tarefas para o alcance das
metas. Possibilitar a criação de novas práticas de gestão e atenção em saúde, contribuindo para
a saúde financeira da instituição, a valorização do profissional e a satisfação do paciente idoso
atendido no ambiente hospitalar.
4. CONCLUSÃO
Esta pesquisa presumiu e constatou que a gestão dos processos de atenção à saúde do
idoso se depara com desafios e fragilidades que refletem no modo insatisfatório com que a
maioria dos serviços são prestados. Dentre as fragilidades foram identificadas: a formação
acadêmica focada na doença e na fragmentação do indivíduo; a escassez de profissionais
especializados em geriatria e gerontologia para atender a população idosa; a existência de
barreiras físicas e organizacionais que desrespeitam os direitos do idoso no acesso a saúde e de
como a cultura organizacional pode interferir na gestão dos recursos em saúde. Estas
fragilidades se mostraram como desafios a serem superados ou minimizados para que o idoso
tenha suas necessidades atendidas de forma integral e qualificada, respeitando os direitos
assegurados na legislação vigente.
12 | P á g i n a
Outra hipótese constatada neste estudo foi a de que a existência de estratégias de atenção
à saúde do idoso no ambiente hospitalar contribuem com a gestão dos recursos, otimizam os
processos de trabalho e promovem a qualidade de vida. A partir das estratégias de atenção à
saúde do idoso identificadas foi elaborado um plano de ação para ser implementado por um
Núcleo de Atenção à Pessoa Idosa (NAPI). Este NAPI surgiu como proposta estratégica para
capacitar os profissionais, implementar e avaliar os serviços voltados ao cuidado do idoso, de
modo a proporcionar a melhoria contínua dos processos de trabalho, o gerenciamento dos
recursos e dos riscos para o atendimento desta população. Os benefícios com a implementação
do plano de ação e o funcionamento do NAPI no serviço hospitalar trariam mais segurança e
qualidade nos serviços prestados, rendimento operacional, a satisfação e a fidelização dos
profissionais e do idoso na instituição.
Espera-se que a proposta de criação de NAPI no serviço hospitalar e de implementação
das estratégias de atenção apresentadas no plano de ação sejam aplicadas, avaliadas e
posteriormente evidenciadas em estudos publicados à sociedade. Anseia-se que os profissionais
da saúde busquem a capacitação contínua e específica para acolher o idoso em sua
integralidade, cumprindo efetivamente as políticas públicas e a legislação vigente para superar
ou minimizar as fragilidades e os desafios aqui levantados.
Também se espera que esta pesquisa possa fomentar estudos futuros que aprofundem
questões relacionadas aos desafios e ao bem-estar dos cuidadores, sejam eles profissionais ou
familiares. Visto que, também merecem cuidado devido à sobrecarga emocional e física
decorrente das tarefas de cuidado à pessoa idosa.
13 | P á g i n a
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SANTOS, S.D.C. et al. Saúde do idoso: reflexões acerca da integralidade do cuidado. Revista
Brasileira em Promoção da Saúde., v. 29, p. 118, 2016.
18 | P á g i n a
SILVEIRA, M.H. et al. Percepção da equipe multiprofissional sobre cuidados paliativos.
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 17, p. 7, 2014.
SIQUEIRA, F.C.V. et. al. Barreiras arquitetônicas a idosos e portadores de deficiência física:
um estudo epidemiológico da estrutura física das unidades básicas de saúde em sete estados do
Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, p. 39, 2009.
SOUZA, M.T.D. et al. Revisão integrativa: o que é e como fazer? Einstein, v. 8, p. 102, 2010.
VALER, D.B. et al. O significado de envelhecimento saudável para pessoas idosas vinculadas
a grupos educativos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 18, p. 809, 2015.
WILLIG, M.H. et al. A trajetória das políticas públicas do idoso no Brasil: breve análise.
Cogitare Enfermagem, v. 17, 2012.
19 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 2
CONSULTA DE ENFERMAGEM NO PRÉ-
NATAL
Ana Carolina S Lopes1, Vânia M A Sousa2
1
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
2
Docente do Departamento de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Curitiba/PR.
1. INTRODUÇÃO
20 | P á g i n a
peso, medida de altura, cálculo do índice de massa corporal, orientação alimentar, entre
outros), palpação obstétrica e medida da altura uterina, registro dos movimentos fetais, teste
do estimulo sonoro, verificação da presença edemas, exames clínicos da mama. Exames
complementares de rotina e suas condutas, entre outros. Esses são exames/condutas
solicitadas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012).
Muitos são os cuidados de enfermagem no pré-natal, e, entretanto, vale ressalta o
conforto, segurança, confiança e cuidados prestados a mulher, o parceiro, e a família, para
que com esses cuidados, a gestante possa ter um pré-natal eficaz.
Nessa perspectiva, o estudo formulou a seguinte questão norteadora: “Quais as ações
de saúde realizadas pelo enfermeiro na consulta de pré-natal?”. Diante do exposto, e com o
propósito de responder à problemática, foram estabelecidos os seguintes objetivos do estudo:
analisar as evidências cientificas sobre a consulta de enfermagem no pré-natal.
Falar sobre o pré-natal é de suma importância para a mulher e para o bebê, para que
não haja problemas durante toda a gravidez. Com a pré-natal pode-se reparar esses problemas
de saúde com a mulher e com o bebê, como também diminuir a taxa de mortalidade infantil
na gravidez e no parto.
2. MÉTODO
21 | P á g i n a
restaram 72 artigos. Posteriormente a esta etapa, foi adicionado como assunto principal:
Enfermagem, Estratégia de Saúde da família e Atenção primária. Os filtros foram
combinados segundo os critérios de inclusão propostos mais as bases de dados selecionadas.
Assim, foram incluídas ao final 16 publicações na elaboração do estudo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra final foi constituída por 16 artigos, sendo cinco artigos do SciELO e 11 da
LILACS, o que demonstra uma abrangência grande de estudos relacionados a essa temática.
A temática central foi à consulta de enfermagem no pré-natal. Quanto ao método das
pesquisas, todos se configuram por uma revisão integrativa. Após uma leitura minuciosa
selecionou-se, ao todo, 16 artigos, que contemplavam a pergunta norteadora e atendiam aos
critérios previamente estabelecidos, nesta revisão.
A partir do estudo dos artigos estabeleceram-se variáveis relevantes para observação
das produções científicas relacionadas à pesquisa, conforme descrito na Tabela 1.
VARIÁVEIS N %
Ano de Publicação
2017 04 25
2018 09 56,25
2019 03 18,75
Abordagem Metodológica
Qualitativa 11 68,75
Quantitativa 05 31,25
Periódico
Revista Baiana de Saúde Publica 01 6,25
Revista Saúde Plural 01 6,25
Revista Fundamental Care Online 04 25
Revista Eletrônica de Enfermagem 01 6,25
Revista Nursing 02 12,5
Texto Contexto Enfermagem 01 6,25
Cogitare Enfermagem 02 12,5
Revista Brasileira de Enfermagem 01 6,25
Revista Latino Americana Enfermagem 02 12,5
Revista da escola de enfermagem da USP 01 6,25
22 | P á g i n a
Após a leitura minuciosa dos artigos selecionados observou-se a necessidade de
categorizá-los conforme a similaridade de conteúdo. Para isso foram criadas três categorias.
23 | P á g i n a
O tabagismo está bastante associado às intercorrências durante a gestação, onde a
população de gestante fumante prevalece muito em mulheres de baixa escolaridade, baixa
renda e que tenham fumantes em âmbito familiar ou conjugal (SIQUEIRA et al., 2019).
Existe também prevalência de gestantes usuárias de álcool e outras drogas. Essa
estatística torna-se menor que a da tabagista, mas ainda é um grande índice e causa risco.
Quanto a população de usuárias, esta é semelhante às do tabagismo, muitas vivem em
situação de moradoras de rua, acabam não frequentando o pré-natal, aumentando assim os
riscos gestacionais (BESSLER, 2018).
Silva et al. (2017) ressaltam que é muito importante a atuação da enfermagem frente
a essas intercorrências na gestação, e o pré-natal é o melhor momento para educar e
desenvolver a ação de promoção a saúde quanto a esses e outras quaisquer outras mudanças
indesejáveis que venham a acontecer durante esse período gestacional.
24 | P á g i n a
qualquer alteração, e se necessário entrar com intervenções em cada uma delas. Outra
conduta muito importante do enfermeiro a realização da avaliação e acompanhamento do
cartão vacinal da gestante. (MIRANDA et al., 2018).
Segundo Ferreira Junior. et al. (2017) são muitas as condutas de enfermagem e o
enfermeiro é muito importante para as realizações das consultas durante o pré-natal, mas que
muitos serviços de saúde não sabem aproveitar os serviços desses profissionais
adequadamente.
São inúmeras as condutas de enfermagem durante o pré-natal e é esperado que cada
vez mais o enfermeiro possa utilizar os seus meios técnicos científicos para melhorar suas
atribuições durante as consultas, utilização também da sistematização da assistência de
enfermagem (SAE) como um meio para uma boa qualidade da assistência de enfermagem a
gestante (SILVA et al., 2019).
Os protocolos são compreendidos como fundamentais para a atuação das condutas do
enfermeiro. Condutas como as consultas de enfermagem, prescrição de medicamentos,
solicitação de exames, são indicados como um protocolo relevante. Essas e outras condutas
são respaldadas e regulamentadas por lei e asseguradas pelo Ministério da Saúde como
atribuições do enfermeiro durante a consulta de enfermagem (BORTOLI et al., 2017).
25 | P á g i n a
E, nesse sentido de cuidados de enfermagem, são pequenos gestos que vão fazer a
diferença em todas as consultas, gestos esses como o diálogo, cuidado, confiança e respeito
com a gestante como um todo, a sua cultura e ao seu modo de viver. Isso possibilita uma
satisfação de ambos durante as consultas. O diálogo é muito importante para avaliação,
diagnósticos, análises de riscos e também o melhor modo para prestar os cuidados
necessários (LEAL et al., 2018).
É importante também que a gestante não se limite tanto e possa passar suas
preocupações, falar suas dúvidas, expresse seus sentimentos, e se sinta à vontade para falar,
pois saber das suas dúvidas e queixas é muito importante para o enfermeiro.
Por outro lado, pode-se observar que as gestantes não entendem a importância do
diálogo durante a consulta, havendo assim uma necessidade maior do enfermeiro fortalecer
esse vínculo, esclarecendo e reforçando as suas orientações quando a relevância desse
aspecto (CAMPAGNOLI et al., 2019).
Nesse contexto é importante que o enfermeiro promova uma boa promoção em saúde
e aplicar também melhores práticas de acolhimento a gestante, para assim melhorar o
acompanhamento no pré-natal, melhorando também todo o atendimento durante esse
período, facilitando a compreensão das orientações para a gestante e, consequentemente
diminuindo as complicações durante essa fase, melhorando a saúde materna e fetal
(NAIDON et al., 2018).
Ressaltando que o cuidado com a mulher nesse período gestacional é indispensável,
pois é nesses momentos durante as consultas que a gestante vai aprender a ter um autocuidado
gestacional, como exercer uma gestação e uma maternidade segura e sem risco (PEREIRA
et al., 2018).
4. CONCLUSÃO
26 | P á g i n a
cálculos como a IG, DPP e DUM, realização de exame físico e aferições como PA, altura e
peso.
Considera-se também de fundamental importância a orientação dada a gestante
durante o pré-natal, pois com essas orientações a gestante será capaz de exercer um melhor
autocuidado, terá uma gestação mais segura, pois saberá identificar uma situação de risco
durante o período gestacional. O presente estudo apresenta limitações, pois foram avaliados
somente os artigos citados.
27 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BORTOLI, C.F.C. et al. Fatores que possibilitam a atuação do enfermeiro na atenção pré-natal.
Revista Fundamental Care, v. 9, p. 978, 2017.
FELCZAK, C. et al. Perfil de gestantes cardiopatas: alto risco. Cogitare Enfermagem, v. 23, p.
49605, 2018.
FERREIRA JUNIOR, A.R. et al. O enfermeiro no pré-natal de alto risco: papel profissional.
Revista Baiana de Saúde Pública, v. 41, p. 25, 2017.
LIMA, M.A. et al. Conhecimento dos enfermeiros da estratégia saúde da família acerca da
cardiomiopatia periparto. Revista Nursing, v. 21, p. 2374, 2018.
MIRANDA, F.E. et al. Abordagem de saúde pelo enfermeiro na consulta pré-natal. Revista
Fundamental Care, v. 10, p. 524, 2018.
MONTENEGRO, C.A. & FILHO, J.R. Rezende: Obstetrícia Fundamental. 14.ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2018, p. 103.
28 | P á g i n a
NAIDON, A.M. et al. Gestação, parto, nascimento e internação de recém-nascidos em terapia
intensiva neonatal: relato de mães. Texto Contexto Enfermagem, v. 27, p. 5750, 2018.
SILVA, M.M.J. et al. Ansiedade na gravidez: prevalência e fatores associados. Revista Escola
Enfermagem USP, v. 51, p. 32, 2017.
29 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 3
ENFRENTAMENTOS ÉTICOS NA PRÁTICA DA
TELECONSULTA
Ana K S de Oliveira1, Alexandre R C Ramos2
Katrine B Cavalcanti3, Luis E S dos Santos4, Jonnison L Ferreira5, Karla H P
de Mesquita6
1
Enfermeira e psicóloga. Docente do curso de Enfermagem, Universidade Federal do Piauí, Picos/PI.
2
Analista de Sistemas. Mestre em Computação pela Universidade Federal do Ceará, Fortaleza/CE.
3
Bióloga. Docente do curso de Medicina, Universidade Federal do Piauí, Picos/PI.
4
Enfermeiro. Doutorando em Enfermagem. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza/CE.
5
Analista de Sistemas. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas,
Tabatinga/AM.
6
Médica, Secretaria Municipal de Saúde de Picos/PI.
1. INTRODUÇÃO
30 | P á g i n a
reflexão neste âmbito, que possibilite lançar luz sobre seus limites e possibilidades, em
direção a um uso responsável e qualificador do cuidado.
Destaca-se, nesse sentido, como um dos aspectos incorporados a essa lacuna, as
questões éticas que permeiam a prática clínica mediada por TDICS, conforme
operacionalizado na teleconsulta, na medida em que se trata de uma ferramenta relativamente
nova e discutida ainda de forma incipiente no contexto brasileiro.
Em face desse cenário, o presente manuscrito objetiva descrever e analisar as questões
éticas que permeiam a prática da teleconsulta por diferentes profissões da área da saúde,
tomando como base a literatura científica sobre o tema.
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
31 | P á g i n a
comunicação, a exemplo do telefone, e-mail, sistemas de consulta eletrônica, softwares de
vídeo ou uma combinação destes. Estes recursos podem ser aplicados de forma aditiva,
alternativa ou parcialmente substitutiva ao tratamento presencial, com finalidade diagnóstica,
de aconselhamento, prescrição, tratamento e monitoramento de condições agudas ou crônicas
(CATAPAN & CALVO, 2020).
Fica, pois, evidente que o desenvolvimento tecnológico incrementou as práticas de
cuidado em diferentes aspectos e contextos de atuação, demandando, entre outras questões,
o repensar dessas práticas no tocante a sua adequação aos referenciais éticos já postos para
as diferentes profissões de saúde, além de reflexões sobre novas formas de garantir a ética
no cuidado.
Para Sabin e Skimming (2015), a adoção de uma nova forma de proceder a prática
clínica, nesse caso, pela mediação tecnológica, não modifica em essência as
responsabilidades éticas fundamentais dos profissionais de saúde. Não obstante, consideram
que novos desafios emergem do ponto de vista ético, o que requer de fato um novo olhar
sobre a prática clínica, incluindo algumas questões sociais relacionadas, a exemplo da
garantia de acesso equitativo a esses novos recursos.
Nessa mesma direção, Ventriglio e Castaldelli-Maia (2017), asseveram que, a
despeito do fato de que o arcabouço ético que ampara a prática clínica tradicional não mude
quando há mediação de tecnologias, alguns aspectos em particular necessitam ser avaliados
com cuidado, em especial no que se refere ao preparo para lidar adequadamente com esses
recursos, de forma a garantir a proteção dos sujeitos envolvidos. Para os autores, há que se
considerar a necessidade de treinamento específico e contínuo, e a construção e consolidação
de estruturas éticas cuidadoras, nesse âmbito, deve se dar necessariamente de forma
colaborativa, envolvendo pacientes, cuidadores e famílias nesse processo.
Observa-se, contudo que são poucas as oportunidades de treinamento, e que mesmo
as competências específicas que poderiam ser eventualmente abordadas pelo treinamento,
para proceder na prática da teleconsulta ainda precisam ser bem estabelecidas. A não
observância das competências necessárias ao manejo da privacidade e segurança das
informações por meio do uso de software e hardware pode ameaçar a capacidade dos
profissionais de fornecer serviços de maneira ética (LUSTGARTEN & COLBOW, 2017).
Nessa direção, convém destacar que as possibilidades postas pela teleconsulta, em
termos gerais, representam ainda um desafio a ser superado e assumido por diferentes
categorias profissionais, na medida em que essa prática muito raramente é contemplada nos
processos formativos ou mesmo no cotidiano do trabalho em saúde. Tendo em vista esses
32 | P á g i n a
aspectos, não por acaso essa prática carece de consenso em nível internacional quanto a suas
características e possibilidades de execução e em relação ao amparo legal (SZAWARSKI &
HILLEBRANDT, 2018). É preciso, portanto, viabilizar uma maior compreensão sobre o uso
dessas ferramentas na prática clínica, para profissionais de saúde, pacientes e população em
geral, o que é possível também por meio da ampliação de estudos e estabelecimento de
protocolos específicos que deem suporte a essa prática (NIELSEN & CARNEIRO, 2015).
Outro aspecto apreendido do material coletado faz referência à segurança e proteção
dos dados compartilhados por meio das ferramentas tecnológicas, utilizadas na
operacionalização da teleconsulta. De modo mais específico, discute-se a observância de
preceitos éticos relativos à garantia de privacidade do paciente e de confidencialidade das
informações compartilhadas. Conforme Ventriglio e Castaldelli-Maia (2017), é importante
reconhecer e buscar abordar, de forma adequada, eventuais problemas que surjam nesse
sentido.
Garbin et al. (2019), ao discutirem questões éticas e legais envolvidas no uso do
WhatsApp® nas relações dentista-paciente, verificaram a necessidade de proteção de dados,
informações e imagens relacionados ao paciente eventualmente trocados por meio desse
dispositivo, tendo em vista resguardar o paciente de ataques à sua privacidade e o profissional
no que se refere à um eventual ato infracional decorrente da exposição dessas informações.
Ademais, devem ser respeitadas as orientações mescladas em direitos e deveres, no tocante
ao sigilo profissional e também às orientações éticas para o bom e justo exercício da
profissão.
Sousa et al. (2019) apontam algumas funcionalidades de videoconferência requeridas
para garantia de segurança e proteção de dados compartilhados, dentre os quais destacamos:
confidencialidade na transmissão do fluxo de vídeo; no armazenamento do vídeo;
preservação digital de longo prazo; autenticação de participantes (profissional e/ou paciente);
irrefutabilidade e imutabilidade do vídeo; aderência a padrões de interoperabilidade1 e a
normas de segurança e privacidade de Registros Eletrônicos de Saúde (RES); política de
retenção e descarte de informações; gerenciamento de Registros Eletrônicos de Saúde (RES)
do paciente; suporte a especialidades e suporte a monitoramento de Saúde Domiciliar e
Móvel.
1
“A interoperabilidade é a capacidade de diversos sistemas e organizações trabalharem em conjunto
(interoperar), de modo a garantir que pessoas, organizações e sistemas computacionais interajam para trocar
informações de maneira eficaz e eficiente” (ENAP, 2015, p. 5).
33 | P á g i n a
Ainda no âmbito da proteção de dados, Lustgarten e Colbow (2017) fazem algumas
recomendações de valor protetivo direcionadas à prática do psicólogo que podem ser
facilmente adaptadas à realidade de outras profissões, como colaborar com o consentimento
informado (além de esclarecer os sujeitos envolvidos, construir esse processo de maneira
colaborativa); usar software criptografado de ponta a ponta), reservar um computador – ou
outro dispositivo utilizado – exclusivamente para a teleconsulta; empregar autenticação de
dois fatores2; consultar especialistas em tecnologia sobre o uso da tecnologia; desenvolver
cursos sobre a fornecimento dessa prática; disseminar informações necessárias à realização
da teleconsulta com segurança.
No contexto brasileiro, o estabelecimento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD), contribuiu para aumentar a privacidade de dados pessoais e o poder das entidades
reguladoras para fiscalizar organizações, combatendo, assim, o uso indevido de informações
pessoais. A LGPD dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, incluindo os meios digitais,
por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com vistas a proteger
os direitos fundamentais de liberdade, de privacidade e o livre desenvolvimento da
personalidade da pessoa natural. Tem como fundamento: o respeito à privacidade; a
autodeterminação informativa; a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e
de opinião; a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; o desenvolvimento
econômico e tecnológico e a inovação; a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do
consumidor; os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o
exercício da cidadania pelas pessoas naturais (BRASIL, 2018).
Pesando no âmbito da saúde, Lima (2017), advoga pela construção de uma legislação
robusta sobre o tema, capaz de viabilizar adequadamente as práticas em saúde mediadas por
tecnologias, estabelecendo mecanismos de segurança dos dados, considerando o
consentimento do indivíduo de forma expressa no que se refere ao tratamento de seus dados
pessoais por terceiros. Destaca, ainda, nesse processo, a primeira categoria aqui discutida,
referente à capacitação dos profissionais da saúde acerca dos limites e possibilidades do uso
de novas tecnologias no cuidado em saúde.
A dinâmica da relação entre profissional e paciente mediada por tecnologia da
informação e comunicação foi destacada nos artigos. Azevedo Junior (2019) entende que a
ética na prática da teleconsulta perpassa o esforço, no sentido do estabelecimento de uma
2
A autenticação de dois fatores adiciona um token adicional de seis dígitos aleatoriamente trocado a cada 30 s.
Assim, ainda que o nome de usuário e senha sejam acessados por pessoas não autorizadas, a conta só seria
acessada por meio token de seis dígitos (LUSTGARTEN & COLBOW, 2017).
34 | P á g i n a
relação adequada, pautada na confiança mútua, aspectos esse que, para o autor, se
estabelecem na anamnese bem feita, em uma avaliação bio-psico-social, que inclui a sua
linguagem corporal e em um exame físico bem feito. Procedimentos estes que demandariam
necessariamente o contato direto entre o médico e paciente.
Contudo, há que se considerar que a prática da teleconsulta compreende também
possibilidades de acesso ao cuidado muitas vezes não disponíveis pela via tradicional,
presencial. Além disso amplia as possibilidades de cuidado presencial, permitindo ao
profissional um acompanhamento adicional ao paciente, por exemplo, por meio de ligações
telefônicas após a consulta presencial, o que claramente ajuda a reforçar o vínculo
estabelecido. Conforme Ferreira (2018), em referência à telemedicina (TM):
França (2000) compartilha desse entendimento, defendendo que uma vez utilizado de
forma correta e competente, a teleconsulta tem potencial não somente para agregar benefícios
às práticas de cuidado em saúde, como também de melhorar e ampliar as relações
estabelecidas, tendo em vista as oportunidades adicionais de comunicação e acesso para
ambas as partes. Ademais, é no estabelecimento de confiança e respeito mútuo que se assenta
e consolida uma relação terapêutica, e esses aspectos podem ser amplamente assegurados na
prática da teleconsulta, especialmente por meio da garantia dos já citados preceitos éticos de
privacidade e confidencialidade, além do esclarecimento irrestrito e contínuo, ofertado ao
paciente sobre riscos e benefícios dessa prática.
4. CONCLUSÃO
35 | P á g i n a
Assegurar os preceitos éticos mais elementares nas relações em saúde mediadas por
tecnologias, conforme apontado pelos estudos analisados, implica em garantir que a prática
da teleconsulta, ainda que situada em um ambiente virtual, reproduza ou dê significação, de
maneira o mais fiel possível, a ambientes, condutas e procedimentos técnicos já amplamente
conhecidos e legitimados no modelo presencial (que ditam a segurança e proteção dos dados
e uma adequada relação entre profissional e paciente). Isto, entretanto, não deve
desconsiderar as especificidades postas pelas tecnologias (o que aponta para a demanda de
treinamento de competências específicas a essa prática).
Há que se avançar nesse campo, amparando-se em mais estudos, que, por sua vez,
deverão subsidiar o estabelecimento de legislações específicas que, além de regulamentar
essa prática, assegurem que ela seja bem delineada e conduzida por cada categoria
profissional. Outrossim, é preciso mobilizar o debate contínuo, pautado no compromisso de
que a teleconsulta esteja alinhada à garantia de acesso irrestrito ao cuidado em saúde para
toda a população, em consonância com os princípios constitucionais que delimitam o Sistema
Único de Saúde.
36 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 13.709 de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e
altera a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, 15 ago. 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.html. Acesso em: 04
jun. 2020.
CATAPAN, S.C. & CALVO, M.C.M. Teleconsulta: uma revisão integrativa da interação
médico-paciente mediada pela tecnologia. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 44,
e002, 2020.
37 | P á g i n a
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Folha Informativa COVID-
19: Teleconsulta durante uma pandemia, 2020. Disponível em:
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52008/covid-19-teleconsultas-
por.pdf?sequence=5&isAllowed=y. Acesso em: 02 jun. 2020.
SCHMITZ, C.A.A. et al. Teleconsulta: nova fronteira da interação entre médicos e pacientes.
Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. v. 12, p. 1, 2017.
SOUSA, D.M. et al. Vídeo síncrono com preservação digital e registro distribuído como um
serviço para telessaúde. Anais Estendidos do WebMedia’2019, 2019. Disponível em:
https://sol.sbc.org.br/index.php/webmedia_estendido/article/view/8159/8034. Acesso em:
04 jun. 2020.
SZAWARSKI, P. & HILLEBRANDT, D. Doctor won’t see you now: changing paradigms
in mountain medicine. Postgraduate Medical Journal. v. 94, p. 182, 2018.
38 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 4
EDUCAÇÃO E SAÚDE: URGÊNCIAS E
EMERGÊNCIAS NEONATAIS E PEDIÁTRICAS
Stefânia A Pereira1, Amanda K M Resende2, Vanessa L Lira3, Cristiana P
Oliveira4, Bianca M C de S Vieira1, Márcia B S Gomes1, Vitor Kauê De M
Alves5, Kauan G De Carvalho6, Kelven R S Bezerra7, Francielly De S
Rodrigues8, Kássia M O Evangelista1, Nanielle S Barbosa9, José F Ribeiro10,
Naldiana C Silva11
1
Enfermeira, Universidade Estadual do Piauí, Teresina/PI.
2
Enfermeira Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Residente em Enfermagem Obstétrica pela Universidade
Federal do Piauí – UFPI, Teresina/ PI.
3
Enfermeira, Residente em Atenção Básica/Saúde da Família. Universidade Federal do Piauí, Parnaíba/PI.
4
Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina/PI.
5
Graduando em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí, Teresina/PI.
6
Enfermeiro Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Residente em Atenção Básica/Saúde da Família.
Universidade Federal do Piauí, Parnaíba/PI.
7
Enfermeiro pelo centro Universitário Uninovafapi, Teresina/PI.
8
Enfermeira, Universidade Federal do Piauí – UFPI Floriano/PI.
9
Enfermeira. Pós-graduanda do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade
pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Teresina/PI.
10
Professor Efetivo do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Piauí. Doutorando em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina/PI.
11
Professora Efetiva do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Mestrado em
Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
39 | P á g i n a
endêmico (BRASIL, 2018). As causas externas representam a terceira causa de morte entre
crianças de zero a nove anos, passando a ocupar a primeira posição na população de adultos
jovens (10 a 49 anos) (BRASIL, 2017).
A Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências e o
Programa Saúde na Escola preconizam o desenvolvimento de ações de saúde na escola
mediante práticas de promoção da saúde, prevenção de doenças e acompanhamento das
condições clínicas dos educandos (BRASIL, 2019).
No ambiente escolar, caso ocorra um acidente, os profissionais da educação são os
responsáveis mais próximos que poderão agir, intervir e até diminuir as lesões (TULLIO, 2014).
Os acidentes ocorrem de acordo com a faixa etária e estágio de desenvolvimento físico e
psíquico das crianças. O interesse da criança em explorar situações novas, para as quais nem
sempre está preparada, facilita a ocorrência destes acidentes (BRASIL, 2007).
Os principais agravos à saúde infantil presenciados pelos professores no ambiente
escolar são: convulsões, cortes profundos, fraturas de membros superiores e inferiores expostas
ou não, entorses, cortes extensos com muito sangramento, quedas e engasgamentos. Nestas
situações, se não forem adotadas algumas condutas de maneira imediata, estes agravos podem
apresentar risco à manutenção da vida devido ao seu impacto na segurança e na saúde (CARMO
et al., 2017).
Dessa maneira, a atenção para as situações de urgência e emergência neonatais e
pediátricas no ambiente escolar se faz necessária por meio do desenvolvimento de ações de
educação em saúde que contemplem não somente a prevenção, mas também a abordagem na
cena (CARMO et al., 2017).
O ensino e aprendizagem com capacitações em primeiros socorros aos professores nos
principais agravos de urgência e emergência na saúde da criança, são primordiais na
manutenção da vida, na redução de complicações e sequelas e exigem uma atuação rápida e
eficaz, além do controle emocional.
Diante desse contexto, o presente estudo tem por objetivo relatar a experiência de
acadêmicos de enfermagem na promoção da saúde em primeiros socorros diante de casos de
urgência e emergência neonatal e pediátrica em ambiente escolar.
2. MÉTODO
40 | P á g i n a
salvar vidas”, no período de março a julho de 2018, no município de Teresina, Estado do Piauí,
Brasil.
O projeto foi desenvolvido em uma escola pública mediante autorização da diretora e
aceitação dos docentes. Participaram das abordagens 21 docentes, sendo que 19 trabalhavam
em sala de aula e 02 exerciam funções administrativas.
Inicialmente foi aplicado um questionário semiestruturado sobre o conhecimento da
assistência imediata relacionada aos primeiros socorros. Posteriormente, os professores foram
distribuídos em duas equipes, conforme a disponibilidade de cada um.
O projeto organizou-se em minicursos temáticos sendo dividido em módulos: Módulo
I: prevenção de acidentes, febre, coriza, desmaio, choque elétrico; Módulo II: queimaduras,
hemorragias, fraturas, entorses, luxações, intoxicações, envenenamento, convulsões; Módulo
III, obstrução das vias aéreas superiores e ressuscitação cardiopulmonar, onde neste último
módulo obtivemos colaboração de enfermeiras emergencistas para a realização da aula teórica
e prática.
Os minicursos eram constituídos por aulas teóricas, momentos de discussão para
retirada de dúvidas e treinamentos práticos. Para as aulas teóricas eram utilizados recursos
audiovisuais, como datashow, para os treinamentos práticos utilizavam-se recursos lúdicos para
facilitar a aprendizagem como encenações e simulações.
O presente estudo cumpre com os preceitos legais da Resolução CNS nº 466/2012 que
trata de pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2012) e a Resolução COFEN nº
564/2017 que aprova o novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (COFEN,
2017), e por se tratar de um relato de experiência, não é necessário a certificação pelo Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
41 | P á g i n a
motivação para o empoderamento frente a necessidade de adquirirem conhecimento para agir
nos agravos vivenciados como fraturas, síncope e edema, oriundos de pancadas e quedas
(NETO et al., 2018).
Um estudo realizado sobre o conhecimento em primeiros socorros diante de acidentes
no âmbito escolar revelou que os profissionais, participantes da pesquisa, apresentaram
deficiência do assunto, com média de erros ≥ 70%. A posterior capacitação desses profissionais
para o primeiro atendimento de situações de urgência e emergência de acordo com suas
peculiaridades, contribuiu para aumento da segurança ao enfretamento de situações de risco
(BRITO et al., 2020).
Nesse sentido, a participação da enfermagem dentro do ambiente escolar cumpre um
papel fundamental, pois promove a educação em saúde, capacitando profissionais, conforme as
causas externas e cuidados especializados da criança, proporcionando maior segurança por
meio da prevenção e o manejo de primeiros socorros, desmistificando ações que poderiam
agravar o estado de saúde dessa população (BRITO et al., 2020).
Uma pesquisa com o cenário de causas externas obteve como resultado no item de
“identificação e chamar ajuda”, cerca de 20% nos acertos destas habilidades antes do trei-
namento e de 94,3% após (CALANDRIM et al., 2017). Corroborando com este estudo, a
análise do questionário semiestruturado sobre o conhecimento das condutas básicas em
primeiros socorros, revelou que a maioria dos professores se sentiam despreparados para
atuarem diante de situações que necessitassem de primeiros socorros imediatos e o único
número de emergência que recorriam era o da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência - SAMU.
O conhecimento dos acidentes mais frequentes em cada faixa etária é usado como
estratégia para o direcionamento das medidas a serem adotadas para sua prevenção e promoção
da saúde (BRASIL, 2007). Há correlação entre os resultados deste estudo e a literatura, no
sentido de que a escola deve realizar capacitações e atualizações com foco nas particularidades
da criança.
Nos treinamentos práticos, com atividades lúdicas desenvolvidas em oficinas, foi
possível observar que os professores tinham dúvidas principalmente em relação às manobras
que deveriam ser adotadas diante do engasgo no neonato e da parada cardiorespiratória na
criança, mais precisamente as manobras de Heimlich e ressuscitação cardiopulmonar,
respectivamente.
Embora o público neonatal não faça parte do contexto escolar, a temática foi abordada,
devido os depoimentos dos docentes em que muitas de suas alunas eram mães de primeira
42 | P á g i n a
viagem, tendo os professores como suporte familiar com trocas de vivências, e expressaram
também experiências próprias em que não tinham carga emocional e conhecimento científico,
buscando ajuda para resolver a situação do engasgo neonatal. Visto isso os minicursos foram
ministrados de acordo com adequação às faixas etárias e desenvolvimento pediátrico.
Nestes minicursos interligamos estratégias educativas na prática da abordagem inicial,
tanto os professores quanto os acadêmicos puderam observar uma redução de chamadas
desnecessárias ao SAMU, pois possibilitou distinguir situações de emergências que demandam
um profissional de saúde adequado, por exemplo, os casos de trauma físico, das situações
oriundas de estado emocional, que podem ser conduzidas com outras abordagens, como o apoio
psíquico. Bem como, a redução de acidentes ao realizarem o repasse de informações adequadas
aos alunos e modificações no ambiente, garantido mais segurança ao reduzir os riscos.
Nesse sentido, a educação e saúde em casos de urgências e emergências neonatais e
pediátricas direcionadas a realidade dos profissionais no ambiente escolar e no meio externo
promove conhecimento, senso crítico, técnica adequada para uma conduta rápida e qualificada,
compreendendo-se que essas ações executadas no local da ocorrência do evento contribuem
para o trabalho da equipe médica reduzindo complicações, melhorando o prognóstico e a
sobrevida da vítima.
Ao final do projeto, foi entregue um kit com suprimentos de primeiros socorros e
ofertado a capacitação dos profissionais para a utilização correta de cada item que o compunha.
4. CONCLUSÃO
43 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Acidentes e violências. 2017. Disponível em:
<https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/acidentes-e-violencias>. Acesso em: 19 mai. 2020.
BRITO, J.G. et al. Efeito de capacitação sobre primeiros socorros em acidentes para equipes de
escolas de ensino especializado. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, p. 1, 2020.
44 | P á g i n a
CARMO, H.O. et al. Atitudes dos docentes de educação infantil em situação de acidente
escolar. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, v. 7, e1457, 2017.
COFEN. Resolução n° 564, de 06 de dezembro de 2017. Aprova o novo Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem. Cofen, 2017. Disponível em:
<http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017_59145.html>. Acesso em: 10 mai.
2020.
NETO, N.M.G. et al. Vivências de professores acerca dos primeiros socorros na escola. Revista
Brasileira de Enfermagem, v. 71, p. 1678, 2018.
RODRIGUES, H.G. & RODRIGUES, E.A.F. Os primeiros socorros na educação física escolar.
Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 1. v. 9. p. 215, 2016.
SOUZA, P.J. & TIBEAU, C. Acidentes e primeiros socorros na Educação Física escolar.
Revista Digital EFDesportes.com. Ano 13. n. 127, 2008.
45 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 5
A FUNÇÃO DO FISIOTERAPEUTA DIANTE
DE QUADROS DE PANDEMIA EM QUE
HAJA COMPROMETIMENTOS
PULMONARES: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Glícia Maria de O Damasceno1, Carlyne A de Sousa2, Edilany A Lima2,
Tifane Lorraine C da Ponte1, Mayara Braz S de Sousa1, Samila S
Vasconcelos3
1
Discente de Fisioterapia, Centro Universitário Inta – UNINTA, Sobral/CE.
2
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Inta – UNINTA, Sobral/CE.
3
Docente de Fisioterapia, Centro Universitário Inta – UNINTA, Sobral/CE.
1. INTRODUÇÃO
46 | P á g i n a
padrão, além de prover mecanismos de melhoria do processo de controle de infecção
(ASSOBRAFIR, 2019).
O objetivo desse estudo é relatar a adaptação e função dos profissionais
fisioterapeutas quanto ao manejo de pacientes nos quadros de pandemia em que haja
comprometimentos pulmonares.
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 10 artigos sobre essa temática, sendo que seis foram
selecionados para a composição desse resumo.
Dentro dos estudos revisados, Lanza e Corso (2017), retratam a fisioterapia
relacionada à asma, em que estudos prévios investigaram os efeitos dos exercícios
respiratórios, do treinamento muscular respiratório (TMR), da reabilitação pulmonar (RP)
e das técnicas de higiene brônquica em pacientes asmáticos, existindo evidências
científicas adequadas que sustentam a realização de fisioterapia em pacientes adultos e
pediátricos com asma.
Entretanto, não existem evidências científicas para as técnicas manuais de higiene
brônquica no que tange ao tratamento rotineiro de pacientes com asma, com os quais foi
demonstrado que a utilização do oscilador oral de alta frequência pode ser estratégia para
eliminar secreção de adultos e crianças, na vigência de infecção pulmonar.
Almeida e Schneider (2019) enfatizam que, no âmbito da Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica (DPOC), através do levantamento realizado, é comprovada a eficácia
da fisioterapia com a prática regular do programa de reabilitação pulmonar para melhorias
47 | P á g i n a
na mecânica respiratória, prevenção de comorbidades, atuando de forma benéfica em
todos os graus da doença, promovendo um maior conforto e qualidade de vida ao
paciente.
O profissional fisioterapeuta frente aos casos de DPOC torna-se um componente
de suma importância, pois irá atuar na prevenção e reabilitação do indivíduo através da
reabilitação pulmonar e treinamento com exercícios físicos de fortalecimento, que
auxiliem na redução da progressão e sintomatologia da doença.
Nota-se que Matos e Schaper (2020) e Matte et al. (2019),concordam e enfatizam
que a importância do fisioterapeuta na unidade hospitalar torna-se essencial para o auxílio
de toda a equipe diante de um paciente acometido por diversas enfermidades, com
destaque para a patologia Covid-19, dado que estes mesmos profissionais serão
responsáveis no momento da chegada do paciente, desde a participação na Reanimação
Cardiopulmonar (RCP), quanto na intubação e extubação do paciente, oxigenoterapia,
manobras de higiene brônquica, reexpansão pulmonar e suporte ventilatório (ventilação
mecânica invasiva e não-invasiva). Tal acompanhamento é feito a fim de favorecer o bom
prognóstico e mostrar o quanto a fisioterapia pode ser benéfica no tratamento respiratório
e na reabilitação de pacientes com essa afecção.
Estudos científicos têm demonstrado que a atuação do fisioterapeuta durante
pandemias que acarretem alterações pulmonares, como a Covid-19, deve ser em regime
integral, sendo primordial. A ação destes profissionais está correlacionada à redução do
tempo de ventilação mecânica (VM), da permanência na UTI (Unidade de Terapia
Intensiva) e do tempo de internação hospitalar, além da redução dos custos hospitalares
(ASSOBRAFIR, 2017).
Zeferino e Filho (2017) adentram na fisioterapia relacionada à prevenção e
controle da pneumonia associada à ventilação mecânica que, diante dessa revisão
literária, demonstra que a maioria dos estudos teve resultados positivos e as técnicas
fisioterapêuticas tiveram como resultados a redução da RSR (Resistência do Sistema
Respiratório), melhora do volume corrente, maior quantidade de secreção aspirada,
melhora na saturação arterial da oxihemoglobina (SaO2) e aumento da complacência
pulmonar. Tais fatores influenciam na prevenção e controle das infecções provenientes
da VMI.
Além disso, os efeitos da imobilidade no leito sobre todo o organismo devem estar
à frente da função do fisioterapeuta, atuando na prática de exercícios precoces durante
todo o período de internação, sejam eles para a musculatura dos membros/extremidades
48 | P á g i n a
ou para os músculos da ventilação (estimulação, posicionamento e treinamento muscular
inspiratório). Esses exercícios deverão ser realizados com o objetivo de que os pacientes
percam o mínimo de capacidade funcional, além de recuperarem sua funcionalidade e
qualidade de vida o mais brevemente possível após serem infectados.
A atuação da fisioterapia pode trazer inúmeros benefícios clínicos, tais como
redução de complicações pulmonares, melhora da sensação de dispnéia e fadiga, prevenir
lesões pulmonares associadas à ventilação, monitorar e preservar a função pulmonar,
além de diminuir sequelas neurológicas.
O número de profissionais capacitados para tal temática necessita ser intensificado
porque, além de suas atribuições individuais, a atuação do fisioterapeuta em situações
com comprometimentos pulmonares prevê, fundamentalmente, o trabalho interdisciplinar
na busca por soluções, incluindo a instituição de protocolos para prevenção de
complicações clínicas como a pneumonia associada à VM, lesões traumáticas das vias
aéreas, lesões cutâneas, deformidades articulares, redução de massa e força muscular.
Além destas funções, o fisioterapeuta também tem a função participar na admissão do
paciente durante a ocorrência de parada cardiorrespiratória ou intercorrência clínica.
O COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional)
recomenda a presença do fisioterapeuta em tempo integral em UTIs/CTIs, perfazendo um
total de 24 horas ininterruptas, como pode ser visto no Acórdão Nº 472/2016, publicado
no Diário Oficial da União em 02 de setembro de 2016.
Por isso, a ASSOBRAFIR reitera a importância da fisioterapia nesses casos
clínicos, a fim de contribuir para a redução de complicações advindas dessas afecções.
4. CONCLUSÃO
49 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, J.T.S. & SCHNEIDER, L.F. A importância da atuação fisioterapêutica para manter
a qualidade de vida dos pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC. Revista
da Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA, Ariquemes, v. 10, p. 167, 2019.
LANZA, F.C. & CORSO, S.D. Fisioterapia no paciente com asma: intervenção baseada em
evidências. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia. v. 1, p. 59, 2017.
MATOS, C.M.P. & SCHAPER, F.C. Manejo fisioterapêutico para COVID-19 em ambiente
hospitalar para casos agudos: recomendações para guiar a prática clínica. Departamento de
Fisioterapia da Somiti. 2020. Disponível em:
<http://www.somiti.org.br/arquivos/site/comunicacao/noticias/2020/covid-
19/documentos/manejo-fisioterap-utico-para-covid-19.pdf > Acesso em: 27 mai. 2020.
MATTE, D.L. et.al. O fisioterapeuta e sua relação com o novo betacoronavírus 2019 (2019-
nCov). ASSOBRAFIR 2019. Disponível em:
<https://assobrafir.com.br/assobrafir_betacoronavirus2019/> Acesso em: 29 mai. 2020.
50 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 6
EVIDÊNCIAS DO EFEITO TERATOGÊNICO
E ABORTIVO DO MISOPROSTOL DURANTE
A GESTAÇÃO
Tatiane C Da S Brandão1, Weliton P Da L Júnior1, Karla J B Cunha2,
Nelson J De C Batista3
1
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho- UNIFSA.
2
Docente do Departamento de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho- UNIFSA, Mestre em
Enfermagem Obstétrica e Saúde da Criança e Adolescente - UFPI, Teresina/PI.
3
Docente do Departamento de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho - UNIFSA, Doutor em
Biologia Celular e Molecular Aplicada à Saúde - ULBRA, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
51 | P á g i n a
aprimoramento das condutas obstétricas, o que evidentemente beneficiará o binômio
materno-fetal (SCAPIN, 2018).
Já o aborto provém da palavra em latim abortus, que passa a ideia de negação do
ato de nascer. Aborto é a suspensão premeditada da gravidez, que resulta na morte do
embrião. Segundo as definições jurídicas é a “interrupção dolosa da gravidez, com
expulsão do feto ou sem ela”. A suspensão da gravidez é uma prática universal que ocorre
em todas as partes do mundo, desde países mais desenvolvidos até os países menos
desenvolvidos, e entre mulheres de todos as classes sociais e situações conjugais.
No entanto, em locais menos civilizados, que possuem leis mais rigorosas sobre a
questão do aborto, muitas mulheres, acabam utilizando métodos ilegais para abortar. O
método mais utilizado para fazer o aborto é a forma química por meio do uso do
misoprostol. Este é o fármaco de referência no Brasil, sendo restrito para uso hospitalar e
na maioria dos países onde o aborto é permitido (OLIVEIRA et al., 2019).
O misoprostol é um análogo sintético de prostaglandina E1, desenvolvido
inicialmente para atuar no tratamento e prevenção de úlceras gástricas e duodenais
relacionada a anti-inflamatórios não hormonais. Dispõe de aplicabilidade em obstetrícia,
com ação útero-tônica, de amolecimento do colo uterino e indução de trabalho de parto
atuando na maturação do colo uterino (BRASIL, 2017).
Em relação à utilização do misoprostol existe um protocolo estabelecido e
organizado pelo ministério da saúde onde se estabelece a recomendação da dose adequada
do fármaco de acordo com cada situação, determinada pela idade gestacional e ainda pelo
objetivo que se deseja atingir podendo ser tratado como abortivo, indutor, como forma de
interrupção da gravidez, preparação cervical para o aborto cirúrgico, além de evitar
hemorragias pós- parto. Constam ainda nesse manual de protocolo a disponibilidade desse
medicamento e as principais vias de administração e quando cada uma dessas vias deve
ser utilizada (FIGO, 2017).
No Brasil, o misoprostol tem uso autorizado pela autoridade sanitária desde o ano
de 1985 e está listado na Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais do Ministério
da Saúde do Brasil (RENAME), onde é classificado como um medicamento de uso
indispensável para população. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
concede estatuto de essencialidade ao fármaco, inclusive para seu uso em hemorragia pós-
parto, que é a principal causa de mortalidade materna em todo o mundo (RENAME,
2020).
52 | P á g i n a
Entretanto, apesar das normas e evidências científicas, nacionais e internacionais,
favoráveis à circulação do misoprostol, observa-se na literatura farmacêutica um grande
interesse pelo estudo da suposta associação entre o uso do misoprostol para aborto e
indução do parto e a ocorrência de anomalia de carácter genético, como a Síndrome de
Moebius, microcefalia, entre outras. A hipótese de que o contato gestacional com o
fármaco é uma suposta tese científica foi apresentada pela primeira vez na obra do
Ministério da Saúde, em virtude dos 20 anos de publicação sobre o aborto no país
(BRASIL, 2009).
Além do uso terapêutico, existe uma tendência de autoindução não supervisionada
e ilegal da administração do misoprostol para promover o aborto. Foi constatado que 15%
dos abortos induzidos por misoprostol podem falhar, mesmo sob supervisão médica. Isso
leva à exposição do feto em desenvolvimento intrauterino à ao fármaco. Estima-se,
cientificamente, que o uso de misoprostol com falha no aborto pode estar ligado a defeitos
congênitos sugerindo um risco de 8-10% de anormalidades entre mulheres que usam
misoprostol e experimentam falha no aborto (ZAREEN et al., 2017).
A relação entre as malformações congênitas provocadas pelo uso do misoprostol
está ligada a uma ruptura vascular secundária ao útero, que é gerada pelas contrações
induzidas pela droga. Os neonatos expostos ao fármaco no útero têm uma tendência maior
de apresentar defeitos congênitos, incluindo defeitos cranianos, extrofia da bexiga,
artrogripose, paralisia do nervo craniano, malformações faciais, defeitos transversais
terminais dos membros e Síndrome de Moebius (ZAREEN et al., 2017).
As pesquisas relatam o misoprostol como um agente promotor de sintomas e
anomalias em fetos de gestantes que fizeram o uso desse medicamento (LOPES et al.,
2015; URBANO, 2015; AUFFRET et al., 2016). Neste contexto, é possível ressaltar a
grande relevância de um conhecimento mais profundo sobre a forma que o misoprostol
interage com o corpo do feto. A observação deste tema nos motivou, portanto, a realizar
uma pesquisa com o enfoque nos efeitos causados pelo misoprostol nos fetos. Em virtude
disso, foram realizadas buscas por trabalhos científicos nesta temática para a análise dos
mesmos.
Diante do exposto este estudo tem como objetivo, analisar a produção científica
vigente acerca dos possíveis efeitos teratogênicos nos fetos em qualquer fase da gestação,
provocados pelo uso de misoprostol, observar os sinais e sintomas provocados, e verificar
as patologias associadas aos efeitos danosos do misoprostol nos fetos.
53 | P á g i n a
2. MÉTODO
54 | P á g i n a
O levantamento bibliográfico foi realizado no período de janeiro a abril de 2020,
utilizando descritores identificados nos Descritores Ciências da Saúde (DeCS) e no
Medical Subject Headings (MeSH), por meio da consulta direta de livros específicos em
bibliotecas e pela internet, no endereço eletrônico da plataforma da Biblioteca Virtual de
Saúde (BVS), indexados nas seguintes bases de dados: MEDLINE, SciELO, PubMed,
Google Acadêmico, Cochrane Library e LILACS.
A seleção dos estudos foi realizada de forma independente e em duplo cego, por
dois membros da equipe de revisão. Foi feito o cruzamento dos descritores utilizando
operador booleano AND, pois foi o único que mostrou uma busca precisa acerca do foco
da temática, com isso foi possível encontrar os artigos para a elaboração dos resultados e
discussão da pesquisa de forma rápida e precisa.
Após identificação dos estudos por meio da estratégia de busca, iniciou-se uma
triagem com leitura de títulos e resumos simultâneos, sendo excluídos os que não
respondiam ao objeto de estudo/questão de pesquisa e os duplicados (Figura 1).
Na quarta etapa, para a filtragem dos dados dos artigos selecionados, foi utilizado
como instrumento o formulário criado na segunda etapa (APÊNDICE) composto com as
55 | P á g i n a
seguintes variáveis: base de dados; título do artigo; nome(s) do(s) autor(res); ano de
publicação; tipo de estudo e nível de evidência. Tal formulário garante a coleta da
totalidade dos dados considerados relevantes (DONATO & DONATO, 2019). E, a partir
dos dados coletados no formulário, foi possível construir um quadro abordando os
critérios pré-estabelecidos.
Para a quinta etapa foi utilizado o sistema de classificação hierárquica da
qualidade das evidências: nível 1 – evidências resultantes de metanálise de múltiplos
estudos controlados e randomizados; nível 2 – evidências de estudos individuais com
desenho experimental; nível 3 – evidências de estudos quase experimentais, séries
temporais ou caso-controle; nível 4 – evidências de estudos descritivos (não
experimentais ou de abordagem qualitativa); nível 5 – evidências de relatos de caso ou de
experiência; nível 6 – evidências baseadas em opiniões decomitês de especialistas,
incluindo interpretações de informações não baseadas em pesquisas, opiniões reguladoras
ou legais (GALVÃO, 2003).
Em relação à sexta etapa da revisão, foi possível confrontar os resultados com o
referencial teórico e, assim, identificar lacunas do conhecimento, expor conclusões e
vieses da pesquisa (BOTELHO, 2011). E por fim, na última etapa, realizou-se a síntese
do conhecimento produzido sobre o tema pesquisado.
O presente estudo cumpriu as normais e aspectos legais de estruturação regidos
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), responsável pelas instruções de
elaboração, bem como a formatação de estudos (ABNT,2018). O presente estudo garante
a reprodução dos resultados dos artigos conforme foi descrito pelos autores nos estudos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
56 | P á g i n a
Quadro 1. Perfil das produções selecionadas sobre o tema
Misoprostol exposure
during the first trimester
of pregnancy: is the AUFFRET, 2016/ Prospectivo
2 MEDLINE
malformation risk et al. França Observacional/Nível V
varying depending on the
indication?
Piebaldismo-Moebius y
exposición prenatal a URBANO 2016/ Relato de Caso/
3 SCIELO
misoprostol: reporte de et al. Colômbia Nível V
un caso.
Outcomes of self-induced
late pregnancy
termination in women Observacional
BEURIAT 2018/
6 PUBMED presenting to a tertiary quantitativo e
et al. África
hospital in the Eastern retrospectivo/ Nível V
Cape Province, South
África.
Heterotopic respiratory
mucosa in the scalp
overlying abnormal
2019/
bonyisl and in the skull in ALHUMSI Relato de Caso/
7 PUBMED Arábia
ked to maternal et al. Nível V
Saudita
misoprostol use,
literature review and
surgical experience
57 | P á g i n a
Assim, observa-se a escassez de referências disponíveis abordando os efeitos
teratogênicos do misoprostol em fetos de mãe que fizeram seu uso durante a gestação
quer seja para indução do parto, quer seja para ao aborto.
A construção do Quadro 2 ocorreu após leitura e análise dos artigos e sua
estruturação foi feita de acordo com a estratégia utilizada na pesquisa, no caso, a PICO.
Foi construída uma síntese abordando cada tópico de acordo com a população (P)
estudada em cada um dos artigos, a intervenção (I) utilizada, se houve comparação (C) e
os resultados esperados (O) ao final do estudo.
As anomalias
detectadas neste
caso estavam
presentes nas Após a realização de
extremidades exames moleculares
Paciente recém-
superior e inferior, negativos para
nascido (1º dia 2 doses de
apresentando Síndrome de Larsen
de vida), filho misoprostol sendo
hipermobilidade, chegou ao diagnóstico
ARAGÓN de mãe de 17 uma de 2200 μg
flexão de quadris, de anomalias
1 et al. anos deu à luz vaginal e outra de
hiperestendidos dos causadas pela ação
2016 após 33 800 μg oral, durante
joelhos e pés varo teratogênica do
semanas de a 4º e a 16º semanas
equino bilateral, misoprostol, ao qual o
gestação por de gestação.
membros superiores paciente foi exposto
cesariana.
com braquidactilia e ainda fase
clinodactilia intrauterina.
bilateral, além de
dobras de flexão
distal nas mãos.
58 | P á g i n a
Os resultados
confirmaram um
padrão específico de
malformações devido
ao uso do misoprostol
no início da gravidez,
mesmo com baixa
dose de misoprostol.
E que foi maior no
grupo de indução ao
O padrão de aborto. Apesar do
Recém-nascidos malformações pequeno número de
de 265 mulheres atribuídas ao casos, observamos
expostas ao misoprostol foi uma proporção maior
misoprostol síndrome de de malformações
AUFFRET durante as Moebius, Doses variaram graves em fetos
2 et al. primeiras 12 Hidrocefalia, entre 400 μg e 1200 nascidos de mulheres
2016 semanas de redução transversal μg de misoprostol. que continuaram a
gravidez, que terminal dos gravidez após falha do
foram membros associada aborto voluntário com
acompanhadas a pé torto, sindactilia misoprostol. Os
até o parto. e encefalocele resultados sobre o
posterior completo. papel teratogênico do
misoprostol
mostraram, pela
primeira vez, que o
risco pode ser
diferente dependendo
da indicação de
misoprostol. A dose,
mesmo em baixas
quantidades, pode sim
causar anomalias.
No Piebaldismo
observa-se ao exame
físico metade central
(dobra de cabelo
branco dianteiro com
O paciente tinha hipopigmentação
simultaneamente região bilateral dos
Recém-nascido
duas doenças: uma 600 μg oral e supercílios, sem
apresentando
puramente genética, 600 μg vaginal comprometer os
URBANO piebaldismo e
o Piebaldismo, e a durante primeiro cílios). Sendo a
3 et al., síndrome de
outra trimestre de Síndrome de Moebius
2016 Moebius, filho
potencialmente gestação, ocasionada pela
de mãe exposta
teratogênica, a autoadministrado. exposição da gestante
ao misoprostol.
Síndrome de ao misoprostol
Moebius. durante o primeiro
trimestre de gestação.
Além disso, desvio do
canto labial para a
direita, o que sugeriu
paralisia facial.
59 | P á g i n a
Na 19º semana de
gestação a gestante
evoluiu para aborto.
Após a retirada do
feto, fez-se o raio-x
(R-X) que comprovou
as anomalias
Feto masculino No ultrassom foi
encontradas na
mostrou um identificada
ultrassonografia (US).
membro inferior deficiência femoral Duas doses orais de
Para abortar as
esquerdo proximal, ou misoprostol
PALLAVEE mulheres buscam o
encurtado com Hemimelia Fibular de 200 μg, no
4 et al. misoprostol, que é
braquidactilia tipo III, do membro período de após 40
2016 facilmente disponível
do pé esquerdo e esquerdo inferior e dias de amenorreia,
e acessível. Todavia,
mão direita. mão direita, autoadministrado.
as mulheres devem
Mãe G2P1A1, associado a rim
ser informadas sobre
de 26 anos. esquerdo ectópico.
os riscos do
misoprostol para que
as medidas
apropriadas possam
ser tomadas se houver
a continuação da
gravidez.
Identificação de
efeitos teratogênicos,
principalmente
redução de membros
Identificado ao defeitos, como foi
exame clinico e, ao visto no segundo
R-X, perna esquerda caso, seguindo
reduzida com tentativas sem
ausência de tíbia e sucesso de
fíbula, redução bruta interromper a
Recém-nascido do fêmur esquerdo, 600 μg misoprostol gravidez. Há uma
MISHRA
nascido após 38ª girou pé esquerdo e na 14ª semana de necessidade urgente
5 et al.,
semana de sindactilia esquerda. gestação, para as autoridades de
2016
gestação. Ao fazer um raio-x autoadministrado. saúde emitir diretrizes
digital do Neonato sobre o uso do
encontramos as misoprostol em
características relação à dosagem,
radiológicas complicações,
correspondentes o aconselhamento e
quadro clínico. regulação de seu uso
indevido, segundo à
sua fácil
disponibilidade sem
prescrição.
Feito a 2º US, na 23 Com a realização dos
semana e 5 dias de exames de pré-natal,
gestação, observou Três comprimidos foi possível
BEURIAT Recém-nascido, hidrocefalia bilateral de misoprostol na 5º identificar e fazer um
6 et al., mãe de 39 anos, moderada comum semana de gestação, rápido controle da
2018 G5P3A1 átrio esquerdo de 11 administrado no hidrocefalia. E ainda
mm e um direito de hospital permitiu evitar os
14 mm no feto efeitos negativos de
masculino. sua evolução.
60 | P á g i n a
Neste caso incomum
envolvendo uma lesão
central de pele de
couro cabeludo em
uma criança a termo
após o aborto
fracassado usando
As lesões congênitas
misoprostol. O
do couro cabeludo
algoritmo dos autores
apareceram como
do presente trabalho
crescimento Uso do misoprostol
propõe etapas de
excessivo da pele, a com dose não
Menina 1 ano de gestão podendo
ALHUMSI área ao redor da identificada, por via
idade, filha de ajudar a gerenciar
7 et al., marca tinha alopecia oral, vaginal e
mãe de 32 anos, outros casos de lesões
2019 completa e o tecido sublingual na 4º
G5P3. no couro cabeludo em
subjacente mostrava semana de gestação,
pacientes pediátricos.
um osso anormal, autoadministrado.
O misoprostol foi
que parecia um
implicado como uma
excesso de ilha
causa de muitas
óssea.
anomalias congênitas.
Investigações
adicionais são
necessárias para
verificar se o
misoprostol foi a
causa da doença.
O uso do misoprostol causa uma série de riscos para mãe e principalmente para o
feto que a ele é exposto, sua utilização seja ela com acompanhamento ou não acaba
gerando problemas, em sua maioria, de caráter teratogênico como, por exemplo,
Síndrome de Moebius (paralisia facial congênita), defeito do sistema límbico, constrição
das extremidades em forma de anel, artrogripose, hidrocefalia. holoprosencefalia e
extrofia de bexiga.
Tais patologias são as que mais comumente acometem as crianças expostas, o que
não limita o efeito do uso do medicamento a somente esses problemas, podendo discorrer
em vários outros e de características variadas e inconstantes. O acometimento por estes
problemas pode estar associado ou não a dosagem e ao período de exposição do feto ao
fármaco variando assim a patologia adquirida. Logo abaixo temos uma discussão sobre
os artigos da tabela acima, comparando seus trabalhos e verificando as evidencias de cada
um.
61 | P á g i n a
3.1. Evidências de anomalias genéticas
62 | P á g i n a
Os pesquisadores no estudo 5 (Quadro 2) relatam o caso de um paciente exposto
ao misoprostol devido a uma gravidez indesejada e nascido de termo após 38 semanas
de gestação, as características encontradas neste caso foram o encurtamento do membro
inferior esquerdo, com a perceptível ausência da tíbia e ainda da fíbula, considerável
minguamento do fêmur e ainda o pé esquerdo com postura rotacionada, e fusão entre os
dedos caracterizando uma assim uma sindactilia.
A identificação dessas anomalias foi realizada a partir do exame clínico e
radiológico e foi provocada a partir da tentativa mal sucedida de um aborto. Os resultados
do estudo sugerem que as anomalias encontradas em fetos que foram expostos ao
misoprostol como, por exemplo, a redução de membros pode ocorrer em muitos casos
devido à facilidade que a gestante que deseja abortar tem de adquirir o medicamento, e
isto acontece por causa do baixo custo do medicamento e o fácil acesso ao medicamento
sem prescrição médica (MISHRA et al., 2016).
Há um consenso nesses estudos, uma vez que em ambas as pesquisas os autores
relatam que o misoprostol produz intensa vasoconstrição e contração uterina resultando
em isquemia distal no feto, levando às anomalias observadas em ambos os casos
abordados (PALLAVEE et al., 2016; MISHRA et al., 2016).
63 | P á g i n a
Ainda de acordo com o estudo supracitado, a SM é caracterizada por paralisia dos
olhos e músculos faciais. Além disso, as contrações uterinas também podem causar
diminuição do fluxo sanguíneo, levando à hipoxemia e isquemia, resultando em defeitos
nos membros, vascularização defeituosa da artéria subclávia e, consequentemente,
sequência da Polônia, sindactilia, pé torto e encefalocele.
No estudo 3, as características teratogênicas do misoprostol são caracterizadas
como sendo paralisia unilateral ou bilateral do VII par de nervos cranianos. Durante o
estudo foi encontrado através de exame físico na paciente um desvio do canto labial para
a direita, o que sugeriu paralisia do nervo facial congênito ou VII par de nevos cranianos
e confirmados após realização dos exames.
Os autores supracitados destacam ainda que a exposição ao misoprostol, no
primeiro trimestre de gravidez, tem sido associada no comum aumento no risco de
ocorrência de SM, artrogripose, síndrome de aglossia-adactilia, defeitos terminais e
transversais dos membros, sendo esses defeitos o produto da interrupção vascular causado
pelas contrações induzidas pelo misoprostol (URBANO et al., 2016).
No entanto, a exposição da gestante ao misoprostol durante o pré-natal está
associada à anomalia fetal como o início da SM, tendo como característica marcante a
presença de paralisia nos nervos congênitos bilaterais VI e VII, que são responsáveis pela
paralisia do músculo reto externo e facial bilateral (AUFFRET et al., 2016; ARAGÓN et
al., 2016; URBANO et al., 2016).
Um estudo realizado na Arábia Saudita pelos pesquisadores Alhumsi et al. (2019)
apontou um caso de lesões congênitas no couro cabeludo de uma criança do sexo
feminino com um ano de idade, com histórico de exposição ao misoprostol na quarta
semana de gestação, em uma tentativa de aborto. A criança foi submetida a exames de
ultrassonografia computadoriza e ressonância magnética e em seguida submetida à
cirurgia para retirada da anomalia encontrada.
Os autores declaram que a teratogenecidade do misoprostol pode acontecer em
decorrência das contrações causadas por este medicamento, que provoca a queda
transitória na circulação fetal, de maneira que afeta a intensidade do suprimento vascular,
o que pode assim causar a maioria das anomalias congênitas.
Segundo Beuriat et al. (2018) a exposição fetal ao misoprostol causa risco de
nascimentos defeituosos, como paralisia dos nervos do crânio, pés em varo, e
hidrocefalia. A grande descoberta desses autores foi identificar o primeiro caso na
literatura de hidrocefalia obstrutiva, diagnosticada durante a gravidez e provocada pela
64 | P á g i n a
administração de misoprostol numa tentativa de aborto. A realização de uma
ultrassonografia (US) no período de 23 semanas e 5 dias de gestação mostrou uma
hidrocefalia bilateral moderada comum átrio esquerdo de 11 mm e um átrio direito de 14
mm em um feto masculino. Após o nascimento foi realizado uma ressonância magnética
que confirmou a dilatação triventricular devido a uma estenose do aqueduto. E no
vigésimo dia do pós-parto realizaram um exame endoscópico e uma terceira
ventriculostomia para controlar a hidrocefalia, sem complicações pré-operatórias ou pós-
operatórias.
Ainda de acordo com os autores supracitados, a hidrocefalia ventricular foi
reconhecida precocemente, levando a um ótimo tratamento cirúrgico pós-natal, em
virtude dos exames de pré-natal. O diagnóstico pré-natal permite o cuidado (pré-natal ou
pós-natal) de malformações incluindo hidrocefalia prevenção de sequelas de diagnóstico
tardio e, como no nosso caso, uma má neuropsicológica no desenvolvimento.
4. CONCLUSÃO
65 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
ALHUMSI, T. et al. Heterotopic respiratory mucosa in the scalp overlying abnormal bony
island in the skull linked to maternal misoprostol use, literature review and surgical experience.
International Journal of Surgery Case Reports, v. 59, p. 115, 2019.
ARAGÓN, M.A.A. et al. Fenocopia de síndrome de Larsen asociado con el uso de misoprostol:
Reporte de caso. Revista Colombiana Salud Libre, v. 22, p. 191, 2016.
AUFFRET, M. et al. Misoprostol exposure during the first trimester of pregnancy: Is the
malformation risk varying depending on the indication? European Journal of Obstetrics &
Gynecology and Reproductive Biology, v. 207, p. 188, 2016.
BEURIAT, P.A. et al. Isolated antenatal hydrocephalus after foetal exposure to misoprostol: a
teratogenic effect of the cytotec®? World Neurosurg, v. S1878-8750, p. 30047, 2019.
BOTELHO, L.L.R. et al. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão
e Sociedade, v. 5, p. 121, 2011.
66 | P á g i n a
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Relação nacional de
medicamentos essenciais: Rename / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – 7.
ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 250 p.: il. – (Série B). Textos Básicos de Saúde.
Acesso em: 06 abr. 2020.
DE VAAN, M.D.T. et al. Mechanical methods for induction of labour. Cochrane data base of
systematic Reviews 2019, Issue 10. Art. No.: CD001233.
DONATO, H. & DONATO, M. Etapas na condução de uma revisão sistemática, Acta Médica
Portuguesa, v. 32, p. 227, 2019.
ERCOLE, F.F. et al. Revisão integrativa versus revisão sistemática. Revista. Mineira de
Enfermagem, v. 18, p. 09, 2014.
EZEBIALU, U.I. et al. Métodos para avaliar o amadurecimento cervical pré-indução. Cochrane
Data base of Systematic Reviews 2015, 6 ed. Art. No: CD010762.
GALVÃO, C.M. et al. A busca das melhores evidências. Revista Escola de Enfermagem da
USP, v. 37, p. 43, 2003.
LOPES, A.C.C. et al. Avaliação das Boas Práticas em unidades de alimentação e nutrição de
escolas públicas do município de Bayeux, PB, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, p. 2267,
2015.
MISHRA, S. et al. Limb reduction defect due to failed misoprostol induced termination of
pregnancy. Sri Lanka Journal of Child Health, v. 45, p. 229, 2016.
67 | P á g i n a
PALLAVEE, P. et al. Foetal fibular hemimelia with focal femoral deficiency following prenatal
misoprostol use: A case report. American Journal of Obstetrics & Gynecology, v. 36, p. 760,
2016.
SHEIBAN, L.I. & WING, D.A. Uma revisão de segurança de medicamentos usados para
indução do parto, Opinião de especialistas em segurança de medicamentos, v. 17, p. 161, 2018.
ZAREEN, N. et al. Utilizing chick embryo in ovo model system to study the effects of
misoprostol on early embryogenesis a pilot study. Journal of Stem Cell Research &
Therapeutics, v. 2, n. 2, 2017.
68 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 7
CERTIFICAÇÃO DA QUALIDADE E
ACREDITAÇÃO HOSPITALAR: A
IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE EM
SERVIÇOS DE SAÚDE
Francisca S M Rodrigues1, Cora F M Furtado2, Francisco J Do N Junior3,
Francisca D de P Braga3
1
Administradora, discente do Mestrado Profissional em Gestão em Saúde, Universidade Estadual do
Ceará, Fortaleza/CE.
2
Administradora, docente do Mestrado Profissional em Gestão em Saúde, Universidade Estadual do
Ceará, Fortaleza/CE.
3
Enfermeiro(a), discente do Mestrado Profissional em Gestão em Saúde, Universidade Estadual do Ceará,
Fortaleza/CE.
1. INTRODUÇÃO
69 | P á g i n a
Por outro lado, possíveis desistências da busca pela acreditação podem contribuir
para dificultar estratégias voltadas para a qualidade por aqueles que pretendem iniciar a
trajetória de implantação desse sistema; nortear instituições que não se encontram
preparadas para aderir à sua implantação ou impulsionar aquelas que pretendem retomar
o processo de busca da certificação (CERVILHERI et al., 2017).
Cabe destacar que a acreditação é um processo em que as organizações de saúde
adquirem reconhecimento público e proporcionam, com base em determinados padrões,
melhor qualidade dos serviços prestados (ONA, 2018).
Processo este em que podem ser utilizadas ferramentas para discutir e desenvolver
projetos direcionados aos objetivos das instituições, também conhecidas como
ferramentas de melhoria contínua, a saber do ciclo de Deming, do brainstorming,
diagrama de Ishikawa, entre outras (FBH, 2019).
Partindo desse pressuposto questiona-se: “Quais cenários emergem com as
contribuições das certificações de qualidade hospitalar e com as propostas de
acreditação?”.
Esse estudo objetiva analisar artigos que tratem das possibilidades de aplicação
de processos de certificação e acreditação em busca da melhoria dos serviços de saúde.
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
70 | P á g i n a
O processo de certificação é contínuo e não se finda com o alcance da certificação
da qualidade – estratificada em três níveis –, visto que sua essência se pauta na educação
permanente e sistêmica, a fim de favorecer a melhoria contínua do cuidado (OLIVEIRA
et al., 2017).
Um outro fator que afeta as certificações sinaliza sobre o desconhecimento da
importância da acreditação pela alta administração, o que talvez tenha ocorrido por
ressentimento ou tristeza em cessar o processo, reforçando a relevância do processo de
acreditação por meio de uma certificação com normas de critérios de qualidade a serem
mantidos e desenvolvidos pelos profissionais de saúde (CERVILHERI et al., 2017).
Por outro lado, evidenciou-se que os gestores/profissionais de saúde poderão
traçar estratégias a fim de melhorar a qualidade da assistência, promovendo a evolução
na performance dos indicadores, que têm sido balizadores de desenvolvimento
institucional dos serviços de saúde (BRAGA et al., 2018).
Tanto em âmbito nacional como internacional, a acreditação apresenta benefícios
importantes à promoção da qualidade e da segurança do atendimento em saúde, que
reflete o anseio por melhoria contínua nos serviços de saúde em instituições como forma
de melhor gerenciamento dessas. (OLIVEIRA & MATSUDA, 2016).
Tudo isso está aliado à preocupação das instituições em atender as expectativas
dos usuários, seja por meio de programas e sistemas de gestão da qualidade, ou de
estratégias de marketing, como forma de sobreviver no mercado (OLIVEIRA et al.,
2017).
Os resultados desta categoria indicam que a acreditação, por meio de sua lógica e
métodos bem definidos, tem potencial para alterar profundamente o processo de trabalho
de uma organização hospitalar (OLIVEIRA & MATSUDA, 2016).
A qualidade nos cuidados de saúde pode ser entendida como o melhor resultado
possível para cada paciente, evitando a ocorrência de iatrogenias (GUERRA BRETAÑA
& MARÍN ÁLVAREZ, 2017).
Instituições de cuidados de saúde podem decidir passar por processos de
acreditação para manter um sistema de gestão de risco para segurança do paciente,
desenvolver melhores práticas clínicas, manter uma análise exaustiva de diagnóstico
interno, estabelecimento de indicadores de qualidade e diferentes formas de fazer o que
já é feito, como um sistema regulatório próprio (GUERRA BRETAÑA & MARÍN
ÁLVAREZ, 2017).
71 | P á g i n a
A acreditação mostra-se como uma certificação que une questões relacionadas a
administração, assistência, ensino e pesquisa para a adequada segurança do paciente nas
instituições (VILELA & FILHO, 2016). Sendo assim, a promoção de medidas educativas
relacionadas à cultura da qualidade e de incentivos à permanência dos profissionais na
instituição pode ser interessante ao sucesso da implantação e manutenção da acreditação
(OLIVEIRA & MATSUDA 2016).
4. CONCLUSÃO
72 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
GUERRA BRETAÑA, R.M. & MARÍN ÁLVAREZ, Y.A. Accreditation and certification of
hospital quality: different or similar Revista Ingeniería Biomédica, v. 11, p. 35, 2017.
VILELA, R.P.B. & VILELA FILHO, J. Critérios da avaliação do serviço de enfermagem nos
programas de acreditação hospitalar: uma análise crítica. CuidArte, v. 10, p. 227, 2016.
73 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 8
AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE
SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA POR
ADOLESCENTES: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Andressa Queiroz Marques da Silva1, Willyane de Andrade Alvarenga2
1
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho-UNIFSA, Teresina/PI.
2
Docente do Centro Universitário Santo Agostinho-UNIFSA, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
A adolescência é uma fase de descoberta do próprio corpo e das possibilidades que ele
representa, sendo um momento importante para a afirmação da personalidade, e onde começam
a serem estabelecidos vínculos mais profundos com a família, escola e sociedade. Um dos
marcos dessa fase é o momento em que o adolescente descobre a capacidade de reprodução a
partir de seu corpo, um marco para o desenvolvimento de sua identidade e questionamento de
valores e ideologias (NERY et al., 2015).
Na adolescência, a sexualidade se relaciona a um campo de descobertas e experiências
que implicam a tomada de decisões, requerendo responsabilidade e o exercício da autonomia.
A sexualidade também deve ser abordada em sua dimensão socialmente construída,
contemplando as perspectivas físicas, psicológicas, emocionais, culturais e sociais, evitando,
contudo, o reducionismo biológico (CAMPOS et al., 2013).
É na adolescência que a sexualidade aparece com grande evidência, através de aspectos
como a aceitação da própria imagem corporal, a descoberta do outro como elemento de amor
ou desejo, do encontrar-se e das relações com os familiares, grupos e profissionais (NOTHAFT
et al., 2014). Portanto, é necessário promover espaços de diálogo, com escuta dos sentimentos,
desejos e dúvidas, propiciar informações claras, construção de conhecimentos e ações de
promoção de saúde sexual e reprodutiva (CAMPOS et al., 2013).
74 | P á g i n a
Nessa fase de mudança, ações educativas sobre sexualidade e saúde reprodutiva são
importantes, sobretudo para a prevenção de problemas como as Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST) e a gravidez precoce. Chaves et al. (2014) destaca a vulnerabilidade que
os adolescentes apresentam para a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e
papilomavírus humano (HPV), apontando o maior risco da doença principalmente entre os
adolescentes com baixo nível instrucional e socioeconômico.
De acordo com Oliveira et al. (2014), há nesta fase a necessidade de ações de caráter
educacional, que orientem o adolescente sobre as singularidades que marcam o período da
adolescência e o desenvolvimento de sua sexualidade, com destaque para as orientações sexuais
contínuas, a serem realizadas em conjunto por todos os atores sociais, como os pais,
profissionais da área da saúde e educação, mídia, governos e a sociedade de forma geral, de
maneira a assegurar aos adolescentes condições para que vivenciem sua sexualidade com saúde
e responsabilidade associada ao prazer.
Por isso torna-se fulcral conhecer as maneiras pelas quais os adolescentes adquirem
conhecimentos sobre a saúde sexual e reprodutiva, é necessário para identificar as possíveis
fragilidades nessas informações obtidas e trabalhar a educação e conscientização desse público
de forma correta, com delineamento de estratégias de abordagem que englobem a família, os
educadores e os profissionais de saúde nas práticas educativas, com base em evidências
científicas. Profissionais da atenção básica de saúde, destacando-se o profissional enfermeiro,
têm a função de educador e pode contribuir com ações de promoção da saúde sexual e
reprodutiva desta população.
O objetivo deste estudo foi identificar na literatura científica quais as fontes utilizadas
pelos adolescentes para a aquisição de conhecimento sobre a saúde sexual e reprodutiva,
destacando-se qual o papel do enfermeiro nessa transmissão de conhecimento.
2. MÉTODO
75 | P á g i n a
A primeira etapa trata-se da elaboração da questão de pesquisa que norteou revisão
integrativa, no qual consiste em: “Quais as fontes utilizadas pelos adolescentes para a aquisição
de conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva? Qual o papel do enfermeiro na educação
sexual e reprodutiva dos adolescentes?”.
A busca dos dados foi realizado no banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), onde estão indexadas as bases de dados como Literatura Latino-americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(MEDLINE) e Banco de Dados da Enfermagem (BDENF). Para a busca dos estudos primários
nas respectivas bases de dados, foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS): “Adolescência”, “Sexualidade”, “Educação em saúde”, “Enfermagem”. Para o
cruzamento dos termos utilizou-se os operadores booleanos “OR” e “AND”.
Com o intuito de determinar a amostra dos estudos selecionados para a presente revisão
integrativa foram estipulados os seguintes critérios de inclusão: (1) artigos científicos de
abordagem qualitativa ou quantitativa, (2) disponíveis na íntegra e gratuitamente, (3) foco dos
estudos sobre o conhecimento dos adolescentes acerca da saúde sexual e reprodutiva, (4) ter
como participantes do estudo adolescentes e/ou enfermeiros. Os artigos deveriam estar nos
idiomas português, inglês e espanhol e publicados entre o período de janeiro de 2010 a março
de 2020. Os critérios de exclusão foram artigos de revisão, produções duplicatas, dissertações
e teses.
O processo de seleção das publicações foi desenvolvido pela pesquisadora principal e
está representado na Figura 1. Inicialmente, um total de 128 publicações, destas 56 foram
oriundas da LILACS, 45 da BDENF e 27 da MEDLINE foram triadas com base na leitura do
título e resumo, de acordo com os critérios de elegibilidade. Na sequência, 45 artigos
potencialmente elegíveis para análise foram lidos na íntegra e avaliados quanto aos critérios de
inclusão do estudo. Após esta análise, 32 estudos foram excluídos por não atenderem ao
objetivo e 13 estudos foram selecionados.
A extração dos dados feita pela pesquisadora foi norteada por um formulário de coleta
dos dados para traçar o perfil das publicações em relação aos seguintes aspectos: ano de
publicação, base de dados, periódico, título do estudo, objetivos, autores, tipo de estudo, e
principais resultados e evidências encontradas. Quadros e figuras foram utilizadas para
exposição dos resultados.
Após a caracterização dos estudos, os resultados dos estudos incluídos foram analisados
criteriosamente para identificar aspectos relacionados às fontes de conhecimento dos
adolescentes sobre saúde sexual e reprodutiva. Para nortear a análise dos estudos adotou-se o
76 | P á g i n a
modelo de análise de conteúdo que, segundo Bardin (2016), constitui-se de técnicas de análise
que favorecem a obtenção de resultados de forma organizada por meio de etapas: pré-análise,
em que são organizados os dados, exploração do material em que o conteúdo é analisado para
possível formulação de categorias, e a fase de tratamento das informações, em que as evidências
levantadas são sintetizadas e interpretadas. Fez-se uma síntese narrativa para apresentar os
resultados nesta revisão.
77 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra final dos estudos incluídos nesta revisão é de 13 estudos (Quadro 1). Destes,
12 estudos foram desenvolvidos no Brasil e um estudo na Colômbia. Em relação aos
participantes, 10 tiveram como participantes os adolescentes e três estudos os enfermeiros.
Prevaleceram os estudos de abordagem qualitativa e apenas um estudo teve abordagem
quantitativa. Os objetivos e resultados dos estudos estavam voltados para temas como a saúde
dos adolescentes e a sexualidade, a forma como os adolescentes adquirem conhecimentos sobre
a sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, uso de métodos contraceptivos, gravidez,
abandono escolar e a atuação do enfermeiro junto a esse público, como educador que trabalha
na conscientização dos adolescentes sobre a sexualidade.
Quadro 1. Caracterização dos estudos de acordo com o título da pesquisa, autores e idioma de
publicação
78 | P á g i n a
Analisar as
práticas de
Enfermagem em
contexto de
Estratégia de
Saúde da Família 20 Há necessidade de maior
CONCEIÇÃO
(ESF) presentes enfermeiros da articulação entre ESF e
& COSTA
3 nas Qualitativo estratégia escolas, para a formação dos
(2017)
Representações saúde da grupos de adolescentes por
Brasil
Sociais (RS) de família. meio de tecnologias de escuta.
enfermeiros
acerca da
prevenção do
HIV/AIDS na
adolescência.
Observou-se vulnerabilidade
Analisar a 25
dos adolescentes para gravidez
percepção de adolescentes
precoce e ISTs. Verificou-se
BESERRA adolescentes participaram
que, apesar de possuírem
4 et al. (2017) acerca da Qualitativo de uma oficina
conhecimento prévio sobre
Brasil atividade de vida educativa
práticas sexuais seguras,
“exprimir sobre
expõem-se a situações de
sexualidade”. sexualidade.
risco.
79 | P á g i n a
Descrever e
refletir sobre as
ações de educação
em saúde
implementadas
por docentes e
As experiências relatadas
discentes do
mostraram que transmitir
Curso de 145 estudantes
informações a respeito do
Bacharelado de de uma escola
funcionamento do corpo e
Enfermagem, municipal do
PINTO descrição das características
durante a 6º ao 9º ano,
7 et al. (2013) Qualitativo das doenças, bem como um
execução do turno noturno,
Brasil elenco de hábitos de higiene,
Projeto de com idade
não é suficiente para que os
Extensão: entre 16 e 20
adolescentes e jovens
Educação em anos.
desenvolvam atitudes de vida
Saúde: uma
saudável.
ferramenta na
promoção à saúde
sexual e
reprodutiva de
adolescentes e
jovens.
Adolescentes
SILVEIRA & Estudar os temas que A gravidez na adolescência é
SANTOS gravidez na experimentara um dos fatores que tem levado
9 Qualitativo
(2013) adolescência e m a gravidez adolescentes a abandonarem a
Brasil evasão escolar. na escola.
adolescência.
Observou-se a necessidade de
os adolescentes conhecerem as
Caracterizar as Enfermeiros maneiras de se prevenir das
ações educativas que DST/AIDS e desenvolverem a
desenvolvidas por desenvolvera sexualidade de forma segura,
LUNA enfermeiros m atividades como também a aquisição de
10 et al. (2012) brasileiros com Qualitativo educativas conhecimento acerca da
Brasil adolescentes em com importância das pesquisas que
situação de adolescentes priorizam as ações educativas
vulnerabilidade às vulneráveis à do enfermeiro, já que este
DST/AIDS DST/AIDS. deve exercer o seu papel de
educador em saúde em todos
os locais de atuação.
80 | P á g i n a
Os resultados revelaram que a
promoção da saúde do
Analisar as
Enfermeiras adolescente é trabalhada na
práticas do
de oito consulta de enfermagem e
enfermeiro na
GURGEL Centros de grupo de adolescentes, sendo
prevenção da
11 et al. (2010) Qualitativo Saúde da este o espaço criativo,
gravidez precoce
Brasil Família (CSF) interativo e oportuno para o
na perspectiva do
de Fortaleza, desenvolvimento de
desenvolvimento
Ceará. habilidades quanto à
de habilidades.
sexualidade e à prevenção da
gravidez precoce.
Discutir
sexualidade,
doenças 27 jovens, Observou-se entre os jovens
sexualmente entre 16 e 24 algum conhecimento sobre os
transmissíveis anos, métodos anticoncepcionais.
(DST)/Síndrome participantes Sobre as DST, como a
KOERICH da de grupos de candidíase, sífilis, a gonorreia
12 et al. (2010) Imunodeficiência Qualitativo formação para e a infecção por HPV, ficou
Brasil Adquirida (AIDS) o trabalho no evidente o pouco
e contracepção, Centro conhecimento acerca das
apresentando Cultural mesmas, excetuando-se a
possibilidades de Escrava AIDS, principalmente entre os
atuação da Anastácia. jovens do sexo masculino
enfermagem junto
aos jovens.
A distribuição percentual dos estudos (Figura 2), conforme a base de dados em que
foram publicados mostra, que o maior número de publicações (n=6) foi oriundo da BDENF,
uma base de dados voltada para a área de enfermagem. Quatro estudos foram encontrados na
base de dados LILACS e três estudos estavam duplicados nas duas bases.
81 | P á g i n a
Figura 2. Distribuição dos estudos de acordo com a base de dados
Figura 3. Principais fontes de informação sobre saúde sexual e reprodutiva pelos adolescentes
Legenda: *Os números correspondem à referência dos estudos conforme Quadro 1. Fonte: elaborada pelo autor,
2020.
82 | P á g i n a
Segundo Martínez et al. (2020), os amigos são uma fonte importante para validação e
reconhecimento das/dos adolescentes e desempenham um papel expressivo na modelação de
condutas e troca de informação. Esses mesmos autores apontam que a família (mãe/pai) é a
fonte menos consultada pelos adolescentes e poucas vezes as/os adolescentes recebem
informação dos pais, enfatizando como a figura paterna pouco transmite informação sobre
saúde sexual e reprodutiva.
O medo dos adolescentes de dialogar sobre a vida sexual e a ausência de maior
participação dos pais nesse assunto faz com que eles busquem informações com os colegas e
parceiros (PICCIN et al., 2017; MARTÍNEZ et al., 2020; LUNA et al., 2012). Piccin et al.,
(2017) demonstrou que muitos adolescentes se sentem envergonhados em falar sobre
sexualidade com os pais e preferem não falar sobre assunto por medo de questionamentos
indesejados e observou que os pais também encontram dificuldades em falar sobre o tema com
os filhos, que acabam tendo como fonte de informação a internet (PICCIN et al., 2017).
Em uma pesquisa realizada por Gondim et al., (2015), os adolescentes citaram a igreja
católica como espaço para conversarem sobre educação sexual, em seu grupo de jovens, em
que realizam ações educativas. Portanto, percebe-se que a união de jovens pode facilitar a
comunicação entre eles e facilitar a conversa sobre o assunto. Os adolescentes também citaram
que procuram muito conversar sobre o assunto com familiares “mais liberais”, como primos
mais velhos e tios. Outros ressaltaram que o diálogo com o ginecologista é fundamental, por
ser o profissional da saúde que confiam mais. Já outros destacaram a importância de saber sobre
o assunto em filmes, pois é mais didático e aprendem com mais facilidade. Nesse estudo,
maioria dos adolescentes disse que a fonte de informação mais buscada era a televisão
(GONDIM et al., 2015).
Em consoante a outros estudos (PICCIN et al., 2017; MARTÍNEZ et al., 2020; LUNA
et al., 2012), Conceição e Costa (2017) reforçam que a obtenção de informações sobre a
sexualidade entre os adolescentes ocorre diariamente a partir de roda de conversa entre amigos
e nas redes sociais. A mídia mundial (internet, redes sociais) foi destaque em dois estudos, como
fonte de informações sobre a sexualidade pelos adolescentes (PINTO et al., 2013; TEIXEIRA
et al., 2014). O estudo de Sehnem et al. (2018) apontou que grande parte das conversas sobre
sexualidade ocorrem entre os adolescentes, devido a maior facilidade pela faixa etária
semelhante e o medo reduzido em relação a julgamentos. Além disso, muitas vezes, o parceiro
ou a parceira são a fonte de informação dos adolescentes sobre sexualidade e vida sexual
(BESERRA et al., 2017).
83 | P á g i n a
Os adolescentes necessitam de educação sexual, sobretudo no ambiente escolar e nas
demais redes de relacionamentos, como a família, amigos, a equipe de saúde e a comunidade
(PINTO et al., 2013; TEIXEIRA et al., 2014). Informações obtidas somente com grupos de
amigos sobre o tema podem não estimular o pensamento reflexivo sobre o sexo/sexualidade,
IST/HIV/AIDS, gravidez e meios de prevenção (BARBOSA et al., 2010).
Luna et al. (2012), mostram em seu estudo que os adolescentes manifestaram muitas
dúvidas sobre a sexualidade, métodos anticonceptivos e de prevenção das IST/AIDS Dois
estudos mostraram adolescentes com pouco conhecimento acerca de temas como métodos
contraceptivos, pílula anticoncepcional, preservativo masculino e pílula de emergência, bem
como em relação às doenças transmitidas por relação sexual, como candidíase, sífilis, a
gonorreia e a infecção por HPV, já que as fontes de informação muitas vezes são apenas a
internet e as amizades (KOERICH et al., 2010; RAMOS et al., 2018).
Outra pesquisa corrobora com os resultados acima e aponta a falta de fontes de
informação clara e educativa como riscos para a ocorrência de gravidez não desejada, aumento
do risco de contrair DST e abandono dos estudos de maneira precoce (SILVEIRA & SANTOS,
2013). Torna-se importante então, trabalhar a disseminação de conhecimentos saudáveis
principalmente no âmbito escolar, cenário que é mais propício e acessível para se trabalhar com
os adolescentes (CONCEIÇÃO & COSTA, 2017).
Conceição e Costa (2017) ressaltam a importância de o enfermeiro trabalhar estas ações
em conjunto com as escolas, pela maior facilidade de adesão dos adolescentes às estratégias,
como palestras, atividades de grupos e distribuição de preservativos, e pela facilidade de inserir
a família nessa rede de ensino para conscientização dos adolescentes.
No estudo feito por Gurgel et al. (2010) destacou o papel do enfermeiro como educador
em saúde sexual e reprodutiva junto ao público, associando a estratégia educativa à transmissão
de conhecimentos sobre temas como sexualidade, prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis e gravidez na adolescência, por meio de ações educativas com grupos de
adolescentes e de conversações direta com os jovens e a comunidade. Luna et al. (2012) destaca
que o enfermeiro como educador em saúde exerce papel fundamental na construção do processo
ensino-aprendizagem e apontou as atividades educativas grupais como eficazes para a
conscientização sobre os riscos das infecções sexualmente transmissíveis e mudança de
comportamentos de saúde por parte dos adolescentes.
As desigualdades no acesso das/dos adolescentes à informação sobre saúde sexual
reprodutiva persistem na rede de serviços públicos de saúde, nas instituições educativas e nas
famílias apesar das estratégias intersetoriais implementadas a partir dos anos 2000, a
84 | P á g i n a
sistematização e análises dessas desigualdades ainda constitui uma importante lacuna de
conhecimento a ser preenchida no país (MARTÍNEZ et al., 2020).
No estudo de Gurgel et al. (2010), é ressaltado a importância da família como uma fonte
eficaz de informação sobre a sexualidade na adolescência, mostrando a necessidade de
estimular os pais a aumentar o diálogo sobre o assunto com seus filhos. A ausência de
comunicação efetiva entre pais e filhos é um dos fatores que podem aumentar o risco de
gravidez na adolescência, pois jovens que vivenciaram a experiência da gravidez na
adolescência não possuíam fontes de informações que pudessem esclarecer suas dúvidas e
prevenir a gravidez (VANEGAS et al., 2013).
Os resultados evidenciaram uma deficiência no conhecimento de adolescentes a respeito
da sexualidade. As informações que estes possuem, em sua maioria, são difusas, sem clareza, e
obtidas principalmente a partir de conversas com amigos e navegação nas mídias sociais
(internet). Estes fatos mostram que muitos adolescentes não têm acompanhamento familiar
adequado por parte dos pais, no que se refere a conhecimentos sobre a vida sexual e reprodutiva.
Dessa forma, o não conhecimento da sexualidade, as transformações envolvidas, alterações
corporais e psicológicas, resulta em risco aumentado para iniciação sexual precoce, gravidez e
IST, já que a maioria não sabe sobre os métodos de proteção e seu uso correto.
Dessa forma, conhecer a sexualidade é fundamental para intervir nesse contexto.
Segundo Silva e Mendes (2015), sexualidade não se resume apenas ao ato sexual em si, mas a
um fenômeno cheio de sentimentos, emoções e sensações ligadas ao prazer. Esse fenômeno é
vivenciado desde o nascimento até a morte do indivíduo. Contudo, pode-se destacar que na
adolescência este fenômeno se manifeste com maior intensidade, onde se desenvolvem as
características sexuais com maior evidência, relacionadas às mudanças biopsicossociais. Esse
período é recheado por transformações corporais, cognitivas, emocionais e sociais que
influenciam nos padrões de comportamento dos jovens, tornando-os mais suscetíveis a agravos
que acometem sua saúde, dentre esses se destacam aqueles relacionados à sexualidade
(SANTOS & SABÓIA, 2017).
Segundo Silva et al. (2014), a adolescência é uma fase de transição e evolução na vida
do indivíduo, onde as transformações biopsicossocioculturais ganham força, assim como os
conflitos internos do adolescente que compreendem as incertezas e inseguranças, perda do
papel infantil, busca de liberdade e de identidade própria. Cabe ressaltar que essas mudanças,
sobretudo as mudanças corporais, não ocorrem de maneira padronizada. Elas acontecem
universalmente, em todos os indivíduos, mas com variação, principalmente em relação a idade
85 | P á g i n a
e a velocidade com que cada adolescente responde a essas alterações sofridas (SILVA &
MENDES, 2015).
Essa etapa do desenvolvimento humano é acompanhada por fases de grande tensão em
razão das transformações físicas, biológicas, psicológicas e sociais, próprias da fase. É o
momento em que o adolescente passa a experimentar sentimentos conflitantes, crises,
indefinições e inseguranças, que variam conforme as características próprias de sua
personalidade, do meio cultural e social onde está inserido, e do contexto familiar que vivencia.
É nesse período que ocorre a descoberta do próprio corpo, momento crucial para a afirmação
da personalidade. É por essa razão que se torna um momento de grande importância e quando
surgem os vínculos mais profundos com a família, escola e sociedade. A descoberta das funções
sexuais do próprio corpo e da capacidade de reprodução contribui para formação da identidade
do adolescente e questionamentos sobre seus valores e ideologias (NERY et al., 2015).
A descoberta da sexualidade traz consigo alguns pontos fundamentais a serem
trabalhados. De acordo com Santos e Sabóia (2017), a iniciação precoce das atividades sexuais
pode repercutir fortemente na qualidade de vida e saúde dos adolescentes e jovens, muitas vezes
relacionado à falta de educação adequada sobre o tema. Estudos evidenciam a baixa aderência
de uso de contraceptivos, além de déficit de informações do uso e funcionamento dos mesmos.
Em geral, grande parte dos adolescentes apresentam dúvidas sobre métodos de proteção como
os contraceptivos, o que demonstra a necessidade um trabalho socioeducativo efetivo com os
adolescentes no âmbito escolar e em seus meios sociais.
O início precoce da vida sexual e a falta ou utilização inadequada de métodos como
preservativos acarreta em sérios problemas para esse público jovem, como o risco aumentado
para contrair IST. Padilha et al. (2015) aponta esse risco como resultado da liberação sexual, a
facilidade dos contatos íntimos, aos estímulos vindos dos meios de comunicação e a
precocidade nos contatos sexuais. Atualmente, os adolescentes são importantes focos de risco
para IST e a dificuldade de detectá-las aumentam ainda mais o problema devido aos poucos
sintomas ou por serem assintomáticas, gerando consequências secundárias graves que afetam
negativamente a saúde reprodutiva, com problemas como disfunção sexual, caso não sejam
adequadamente tratadas.
As IST se tornaram um grave problema de saúde pública e que tem aumentado entre os
adolescentes, principalmente naqueles com faixa etária entre 15 e 21 anos. Muitos são os fatores
de riscos que aumentam a suscetibilidade desse grupo, quando tem destaque o início da vida
sexual precoce, sobretudo nas situações em que o ato acontece de forma desprotegida, que
contribui para transformar esses adolescentes em portadores e transmissores de muitas doenças
86 | P á g i n a
como a sífilis, gonorreia, hepatite B e C, herpes e cancro mole e HIV. São doenças graves e de
início silencioso que causam graves problemas de saúde e, se não tratados adequadamente,
levam ao óbito (AMORAS et al.,2015).
Diante do descobrimento da sexualidade, conhecimento do seu corpo e a busca por
prazer, a vulnerabilidade dos adolescentes tende a aumentar, sendo impulsionada por políticas
públicas pouco efetivas na educação desse público, falta de programas para prevenção das
IST/AIDS nas escolas (AMORAS et al., 2015). Esses fatores contribuem para que adolescentes
pratiquem sexo de forma insegura, repercutindo no aumento da quantidade de adolescentes
infectados por IST, e que posteriormente passam a disseminar essas doenças entre suas
parcerias.
De acordo com Silva (2019), a população jovem é mais suscetível às IST,
principalmente o HIV. A OMS traz que a maioria dos adolescentes inicia a vida sexual entre os
12 e 17 anos. No Brasil as estimativas falam em cerca de quatro milhões de jovens começando
a vida sexual por ano, e que acontecem aproximadamente 12 milhões de IST ao ano, das quais,
um terço ocorre em indivíduos com menos de 25 anos (BRASIL, 2011).
Houve um aumento das taxas de infecção pelo vírus HIV na população entre 17 a 20
anos. Dados de levantamento realizado entre jovens mostraram que entre 2002 e 2007, a
prevalência do HIV nessa população passou de 0,09% para 0,12%. Já em relação à taxa de
incidência de AIDS entre jovens de 15 a 24 anos, os números mostraram uma taxa de
9,5/100.000 habitantes para 2010 (PORTELA & ALBUQUERQUE, 2014).
A gravidez precoce é outro problema marcante no público adolescente. De acordo com
o Ministério da Saúde (MS), em 2009, 444.056 adolescentes, de 10 a 19 anos, foram submetidas
a procedimentos de partos e, embora, menores que os dados de 2008, ainda são números
altíssimos que representa um grande impacto à saúde pública (PORTELA &
ALBUQUERQUE, 2014).
Santos e Sabóia (2017) apontam como um problema na educação dos adolescentes o
excesso de mensagens veiculadas na mídia que fazem alusão ao sexo e à sexualidade de maneira
incorreta, que não esclarecem a temática por meio de orientações educacionais relevantes. Esse
problema deve ser sanado considerando que os adolescentes precisam de maior compreensão
para aprender a processar tais mensagens enviadas. Nesse âmbito, tem destaque o papel
educador da escola para a formação de cidadão crítico-reflexivos na sociedade, mas que
atualmente encontram problemas em abordar o tema.
Ainda de acordo com o autor supracitado, faz-se necessária a intervenção correta da
escola para combater a desinformação entre os adolescentes. É nesse contexto que a Lei nº
87 | P á g i n a
9.394, de 20 de dezembro de 1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional prevê a educação
sexual como um dos temas transversais a serem incluídos nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) das atividades do ensino fundamental e ensino médio.
Atrelada ao ensino, Nery et al. (2015) pontuam que o enfermeiro cumpre na sociedade
também o papel de educador em saúde, que é um dos componentes vitais no cuidado de
enfermagem, e que exige desse profissional a capacidade para o desenvolvimento de práticas
educativas culturais individuais e coletivas capazes de garantir ao ser adolescente o exercício
de sua sexualidade de forma plena, saudável e responsável. Esse papel educador deve ser
realizado juntamente ao adolescente e sua família, por meio da oferta de esclarecimentos,
aconselhamentos e trocas de ideias. Esse profissional pode atuar na estratégia saúde da família,
inserido dentro da comunidade e das escolas, para realizar oficinas com temas como saúde
sexual e reprodutiva para adolescentes.
Esse papel do enfermeiro é essencial, principalmente ao considerar que, ao analisar a
saúde dos adolescentes, o nível de escolaridade dos jovens interfere diretamente na sua saúde,
com influência nas vulnerabilidades a que estão sujeitos nessa fase de desenvolvimento, como
as IST e a gravidez indesejada ou não planejada, além de outros problemas como uso de drogas
lícitas e ilícitas e até mesmo acidentes de trânsito. Por isso destaca-se a figura do enfermeiro
como profissional, capaz de interferir positivamente na redução desses fatores de risco para a
saúde do adolescente, por meio de atividades intervencionistas eficazes pautados em ações
educativas de prevenção à gravidez precoce e doenças sexuais (RIBEIRO et al., 2016).
Portanto, o enfermeiro, ao assistir os adolescentes, deve observar com atenção os
significados e percepções sobre o papel social, sentimentos e comportamentos em relação à sua
sexualidade, sempre considerando os interesses e conhecimentos prévios do adolescente, para
ser então capaz de planejar junto com ele as formas de prevenção dos riscos, prezando sempre
pelo cuidado humanizado (SILVA et al., 2014). Considerar os saberes dos adolescentes no
desenvolvimento de habilidades com a finalidade de promover intervenções potenciais e
complementares (GURGEL et al., 2010).
Para Padilha et al. (2015), a estratégia básica para o controle da transmissão das IST é
a prevenção e promoção da saúde a partir de atividades educativas que apresentem os riscos da
relação sexual desprotegida. Assim, a estratégia básica para o controle de problemas como as
ISTs, gravidez precoce, entre outros, é a prevenção.
88 | P á g i n a
5. CONCLUSÃO
89 | P á g i n a
4. REFERÊNCIAS
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adolescentes na prevenção às DST/AIDS. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 12, p. 337,
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http://www.AIDS.gov.br/pagina/dst-1. Acesso em: 22 abr. 2020.
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CONCEIÇÃO, P.O. & COSTA, T.L. Práticas de enfermeiros para a prevenção do HIV/AIDS
na adolescência: análise representacional. Revista de Enfermagem UFPE, v. 11, p. 4805, 2017.
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LUNA, I.T. et al. Ações educativas desenvolvidas por enfermeiros brasileiros com adolescentes
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NERY, I.S. et al. Abordagem da sexualidade no diálogo entre pais e adolescentes. Acta Paulista
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escola municipal de Santa Maria. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde, v. 6, p. 161, 2017.
PINTO, M.B. et al. Educação em saúde para adolescentes de uma escola municipal: a
sexualidade em questão. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 12, p. 589, 2013.
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métodos contraceptivos. Revista de Enfermagem da UFPI, v. 3, p. 93, 2014.
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pública. Cogitare Enfermagem, v. 23, p. e55230, 2018.
SANTOS, C.L. & SABÓIA, V.M. Sexualidade e saúde na adolescência: relato de experiência.
Academus Revista Científica da Saúde, v. 2, 2017.
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informação delimitando aprendizados. Escola Anna Nery, v. 22, e20170120, 2018.
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implicaçoes na sexualidade. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 4, p. 459, 2014.
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integrativa da literatura. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde, v. 2, p. 89, 2013.
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del embarazo en la adolescencia. Revista Colombiana de Enfermería, v. 8, p. 161, 2013.
93 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 9
ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES: IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
MENTAL E ESTRATÉGIAS DE
ENFRENTAMENTO
Márcia A Fernandes1, Mateus I V de S Cruz2, Letícia V dos Santos2, Ingrid L
Torres2, Luana Vitória de A da Silva2, Gabriela P Carvalho2, Rosa J Carvalho3
1
Docente do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Piauí.
Teresina/PI.
2
Discente do Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Piauí, Teresina/PI.
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Piauí, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
Diversas são as formas de violências, dentre as quais a Violência Sexual (VS), bastante
discutida atualmente, principalmente a infanto-juvenil que, de acordo com o Ministério da
Saúde (BRASIL, 2002), pode incluir manipulação de órgãos genitais, mamas ou ânus, carícias,
ou exploração sexual, assim como condutas nas quais não é necessário o contato físico
(voyerismo, exibicionismo, assédio sexual, exibição ou produção de material pornográfico), até
diferentes tipos de ações que incluem contato sexual sem ou com penetração. Assim,
caracteriza-se por violência, seja de cunho físico ou emocional, qualquer tipo de agressão ou
opressão que culmine para o sofrimento de outrem (QUEIROZ, 2014).
O abuso sexual de menores é uma realidade internacional e um dos crimes mais
cometidos contra crianças, além de se constituir como fator relevante de sofrimento psíquico
nessas vítimas (SIEBRA, 2019). Trata-se de conduta criminosa atualmente regulamentada pela
Lei 13.431/17, que versa sobre os direitos das crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas
de violência, definido no artigo 4º, III, a, da referida Lei, como sendo, ”toda ação que se utiliza
da criança ou do adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso,
realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de
terceiros” (BRASIL, 2017).
94 | P á g i n a
Pesquisas evidenciam que menores que foram vítimas de violência sexual costumam
apresentar mais distúrbios psicológicos comparadas às que não sofreram abuso e as
sintomatologias mais encontradas estão relacionadas à agressividade, isolamento, regressão,
autoestima, ansiedade, depressão, medo (KENDALL-TACKETT et al., 1993; GILBERT et al.,
2009). Assim, a violência sexual contra o menor desencadeia sintomatologias compatíveis com
o sofrimento mental, como alterações no sono e depressão. Além disso, convívio social restrito
pode dificultar o desenvolvimento social desses jovens (SIEBRA et al., 2019).
Frente a isso, o presente estudo objetivou discutir as implicações do abuso sexual na
saúde mental de crianças e adolescentes, bem como as estratégias eficazes de enfrentamento.
A realização desse estudo justifica-se pela necessidade de agregar conhecimentos
científicos sobre as consequências deletérias do abuso sexual e, especialmente, as formas de
combater essa prática danosa que traz prejuízos imensuráveis à saúde e dignidade das vítimas.
2. MÉTODO
95 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da leitura e análise crítica dos achados foram construídas duas categorias:
Implicações para Saúde Mental e Estratégias de Enfrentamento, as quais serão discutidas a
seguir.
96 | P á g i n a
Tabela 1. Frequência de Violência Sexual no Brasil segundo Ciclo de Vida em 2016/1017
97 | P á g i n a
O conhecimento da realidade sobre saúde mental nessa faixa etária se faz necessária
para entender como ela está intrínseca às vítimas de abuso sexual. Estudos internacionais
encontraram a prevalência de transtornos mentais na infância e adolescência entre 1% e 51%.
Para a realidade brasileira, estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do
Ministério da Saúde (MS) apontam que essa prevalência varia de 10% a 20% (ASSIS, 2009).
Outros países em desenvolvimento também apresentam a mesma prevalência do Brasil, o que
corrobora essa vulnerabilidade em países com características semelhantes nesse quesito
(HILDEBRAND et al., 2015).
A violência sexual sofrida por crianças e adolescentes tem um impacto negativo em sua
saúde mental, gera sofrimento psíquico que se somatiza para sintomas físicos em consequência
da violação a que foram submetidas, não sendo bem processadas pelo organismo em virtude de
sua imaturidade (PRADO, 2004).
O nível de sofrimento psíquico que acomete as vítimas de abuso sexual é de origem
multifacetada. Deve-se levar em conta questões como a idade em que ocorreu o primeiro abuso,
duração da exposição a esse tipo de violência, grau de proximidade com o abusador, ameaças
psicológicas, dentre outros (FURNISS, 2015).
Dentre as consequências principais encontradas em vítimas de abuso sexual na infância
e adolescência encontram-se os transtornos de personalidade, transtornos de humor, transtorno
do estresse pós-traumático, transtornos alimentares, raiva, abuso de álcool e outras drogas,
comprometimento do desenvolvimento da capacidade de se desenvolver socialmente,
problemas de autoimagem, sentimento de culpa, isolamento, baixo autoestima, desconfiança,
comportamentos agressivos e até mesmo o desenvolvimento de Infecções Sexualmente
Transmissíveis (ISTs) (HILLBERG et al., 2011; SILVEIRA & PEREIRA, 2017;
DESLANDES et al., 2016).
Para entender o processo do desenvolvimento das implicações na saúde mental da
vítima de abuso sexual, pode-se dividir em manifestações a curto e longo prazo. Dentre as
manifestações em curto prazo pode-se encontrar isolamento, repulsa por pessoas do mesmo
gênero do agressor, alterações no sono, aprendizagem e alimentação, sintomas ansiosos e
depressivos. Dentre as manifestações em longo prazo percebe-se o desenvolvimento de
transtornos de humor e personalidade, ideação suicida, disfunções sexuais e menstruais,
pensamentos intrusivos, distanciamento da realidade, confusão mental, problemas de cognição,
uso de álcool e outras drogas (DAY, 2003).
O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), um dos principais desdobramentos
na saúde mental da vítima de abuso sexual, pode ter suas principais manifestações divididas em
98 | P á g i n a
três categorias. A primeira refere-se a reviver a experiência traumática por meio de sonhos que
remetem ao abuso, os flashbacks. Já a segunda categoria remete à evitação psicológica
evidenciada por anedonia, solidão, problemas de memória, escapismo de elementos que
relembrem a experiência traumática, como lugares, sentimentos, situações. E a terceira faz
alusão a um estado de excitação aumentada percebida por irritabilidade, problemas no sono e
concentração, hipervigilância (FLORES & CAMINHA, 1994).
Convém ressaltar que a extensão do sofrimento psíquico inerente ao abuso sexual
envolvendo crianças e adolescentes não acomete somente as vítimas, mas também sua família.
A mãe, geralmente, é a que mais sofre, visto que, por muitas vezes, o pai biológico é o próprio
abusador, o que gera um conflito familiar complexo pela proximidade e intimidação sentida
para procurar ajuda em busca de justiça. Por outro lado, caso o abusador seja o padrasto, sua
reação protecionista é mais imediata (COSTA, 2007). Dessa forma, faz-se necessário incluir a
família no processo de tratamento e reabilitação diante do acontecido, para que sejam
confortados e sejam protagonistas na dura jornada de restabelecimento psicoemocional de seu
ente querido.
Notoriamente o abuso sexual não consiste apenas em uma violência implicada a alguém,
mas também, acarreta em implicações sociais, legais, psicológicas e de saúde, que necessitam
ser conhecidas, estudadas e aprofundadas por profissionais que lidam com ela e,assim, estejam
capacitados para tomar as providências necessárias com vistas à prevenção, o manejo e
resolução de casos (KAPLAN & SADOCK, 1990).
Entre os anos de 2010 e 2014, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN) registrou 2226 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes nas escolas,
sendo esta a segunda maior agressão cometida contra adolescentes (10 a 19 anos). As agressões
sexuais mais notificadas entre os adolescentes foram estupro (70,9%) e assédio sexual (33,4%),
enquanto entre as crianças prevaleceu o atentado ao pudor (24,1%) (SANTOS et al., 2018).
Estudo apontou que, as meninas prevaleceram como vítimas da VS (63,8%) e os
indivíduos do sexo masculino majoritariamente foram os perpetradores da VS (88,9%), alguns
destes sendo parceiros íntimos, familiares ou professores (46%). No que se refere ao
atendimento, 25,3% das vítimas realizaram coleta de sangue, 96,9% evoluíram para alta e
73,8% foram encaminhados para o Conselho Tutelar (SANTOS et al., 2018).
99 | P á g i n a
Do total de casos notificados, observou-se que crianças e adolescentes do sexo feminino
são mais susceptíveis a sofrerem violência sexual na escola. Estudos também demonstram que
o risco de violência sexual é duas vezes maior entre as mulheres, comparativamente aos
homens, e que 10-20% das meninas e 5-10% dos meninos já sofreram violência sexual antes
dos 18 anos (SANTOS et al., 2018).
A prevalência da VS em crianças e adolescentes do sexo feminino é notável, resultado
da construção social prevalente no país onde o homem e a mulher exercem papéis diferentes na
sociedade (DESLANDES et al., 2016). Conforme discutido, as evidências apontam que a
violência de gênero se constitui como uma das formas mais frequentes de atentado contra a
integridade e vida da mulher. Isso ocorre não só pela diferença física diante a figura masculina,
mas como legado negativo do patriarcado ao longo da história, das ideias de submissão e
inferioridade do ser feminino. Assim, as mulheres se configuram como as vítimas mais comuns
em casos de violência sexual (PASSOS, 2018).
Nota-se que, dentre os tipos de violência sexual, o estupro foi o de maior frequência,
possivelmente relacionada ao fato de os demais tipos de abuso sexual não serem reconhecidos
como violência. Para a criança, parece ser mais difícil definir assédio, atentado ao pudor,
pornografia infantil e demais tipos de violência, o que dificulta a denúncia e/ou explicação dos
fatos. Por outro lado, o estupro é a forma mais clara de violência sexual, e, por essa razão,
desencadeia denúncias, o que pode não ocorrer com os demais tipos de violência (SANTOS et
al., 2018).
Com o intuito de fazer a promoção de direitos, defesa e controle social diante os casos
de violência sexual contra crianças e adolescentes, há um esforço coletivo entre as esferas do
poder, sociedade e entidades não governamentais para, assim, garantir o combate e demandas
advindas desse tipo de violência (SILVEIRA & PEREIRA, 2017). Assim, esse sistema conta
com várias instituições, como os conselhos estaduais e municipais de direitos, conselhos
tutelares, varas da infância e da juventude, delegacias especializadas, defensoria pública,
promotorias da infância, bem como outros serviços especializados (SANTOS, 2010).
Além das instituições de responsabilidade relativa aos direitos legais e de proteção,
pode-se contar ainda com setores da Rede de Atenção à Saúde (RAS) para identificação e
notificação de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, além da comunidade
em que essas vítimas estão inseridas, a família, Organizações não Governamentais (ONGs),
dentre outras (SILVEIRA & PEREIRA, 2017).
Destaca-se, ainda, a educação como uma forte aliada no combate ao abuso sexual em
crianças e adolescentes, visto que pode atuar conjuntamente com as redes de proteção
100 | P á g i n a
existentes, não só identificando os casos relatados em ambiente escolar, mas também,
realizando notificação de casos para, em parceria com os órgãos protetores, tomar as medidas
necessárias para o atendimento das vítimas, apuração dos fatos e responsabilidades judiciais
cabíveis (SILVEIRA & PEREIRA, 2017).
Nesse sentido, as escolas são instituições que devem garantir proteção, desenvolvimento
saudável e segurança para os escolares. Todavia, um estudo publicado em 2018 revela uma
realidade que vem se agravando em todas as regiões do país: o aumento da violência sexual nas
escolas (SANTOS et al., 2018). E, apesar de sua relevância, os dados acerca da violência sexual
sofrida por menores de idade em idade escolar são escassos por se tratar de um tema bastante
delicado e subnotificado. Nesse contexto, a OMS recomenda fortemente o esforço coletivo
entre setores públicos para fortalecer a construção do conhecimento e estudo sobre essa
temática e, assim, melhorar e tornar mais eficaz a prevenção e proteção de crianças e
adolescentes, especialmente por meio do cumprimento rigoroso da legislação vigente sobre a
proteção da integridade e saúde dessas pessoas (SANTOS et al., 2018).
Nessa perspectiva, enfatiza-se a importância da participação das instituições de ensino
no enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil, com maior evidência no eixo da
prevenção, tornando-se responsáveis em promover ações educativas, capacitação de
profissionais e inclusão do tema sexualidade nos currículos escolares. Nessa perspectiva,
menciona-se o projeto Escola que Protege (EqP), criado pelo Ministério da Educação com a
finalidade de preparar melhor os profissionais da educação básica para serem treinados a
identificar sinais de violência, realizar acolhimento e escuta ativa e, assim, contribuir com a
notificação dos casos para as redes protetoras (SILVEIRA & PEREIRA, 2017).
Vários marcos importantes, ao longo dos anos, marcam a luta da prevenção e combate
a violência sexual contra crianças e adolescentes, além de dar providências e agilidade acerca
da identificação e prosseguimento dos casos. Dentre eles, pode-se destacar a criação do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990, o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência
Sexual Infanto-juvenil em 2000 e instituição do Sistema de Informação para a Infância e
Adolescência (SIPIA) em 2002 (SANTOS et al., 2018).
Por muito tempo a violência foi vista como uma questão relacionada apenas aos setores
judiciários e de segurança pública. Porém, com a evolução dos estudos a respeito da VS e suas
consequências, percebeu-se que é inerente ao setor saúde pelas implicações causadas na saúde
das vítimas acometidas e que demanda a atenção desse sistema, por meio da assistência,
atendimento de urgências e emergências, o tratamento dos traumas e reabilitação (MINAYO,
2007). A propósito disso, o atendimento a crianças e adolescentes vítimas de VS exige uma
101 | P á g i n a
complexidade da rede de atenção integral a saúde dessa população, levando em conta os
aspectos clínicos, psicológicos, sociais, legais, entre outros (DESLANDES et al., 2016).
Estudo recente realizado em quatro capitais brasileiras, Belém-PA, Fortaleza-CE,
Campo Grande-MS e Porto Alegre-RS, analisou esse atendimento às crianças e adolescentes
vítimas de VS e constatou que, em três das quatro capitais, a intersetorialidade e a presença de
protocolos ou diretrizes se mostrou como uma das mais efetivas ações organizadas pelo poder
público (DESLANDES et al., 2016).
A rede de atenção aos casos de VS de crianças e adolescentes também foi analisada e
mostrou-se mais eficiente e atuante nas capitais, onde a rede é maior. O protocolo integrado
com uma atuação intersetorial abrangendo mais unidades de atenção a essa população influiu
diretamente na busca pelo atendimento, podendo aumentar até quatro vezes mais em relação a
capitais sem um protocolo integrado. Essa rede pode incluir desde Unidades de Pronto
Atendimento (UPAs) até Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), passando por hospitais e
centros de referência (DESLANDES et al., 2016).
Algumas das dificuldades presentes nessas capitais que tinham reduzida eficácia de
suporte à criança e adolescente vítima de VS foram a inexistência de uma diretriz com uma
rede de atenção multiprofissional e intersetorial, o preconceito de profissionais da área para
orientar as vítimas em relação a profilaxia e anticoncepção, a falta de métodos profiláticos e a
influência que movimentos religiosos conservadores sobre a interrupção legal da gravidez
(DESLANDES et al., 2016).
Importante frisar que, os profissionais que atuam com menores de idade vítimas de
abuso sexual devem estar muito bem treinados, para que essas crianças e adolescentes se sintam
bem acolhidas, seguras, ouvidas, e nunca culpadas, nem julgadas. Estabelecer esse vínculo de
confiança é necessário para a obtenção das informações sobre o ocorrido e então, poder atuar
de forma pertinente e eficaz para o tratamento e reabilitação dessas pessoas. Ademais, deve-se
considerar que as implicações desse ato criminoso se estendem para família. Portanto, as
medidas terapêuticas e de superação do abuso devem incluí-la e considerar sua dinâmica e
especificidades para a melhor resolutividade do caso ocorrido (QUINTAIROS, 2009).
Dois estudos internacionais realizados com crianças e adolescentes vítimas de abuso
sexual, e submetidos a Terapias Cognitivo Comportamentais (TCC) focadas no trauma,
mostraram a eficácia dessa conduta terapêutica para a melhoria dos sintomas de ansiedade,
depressão, transtorno do estresse pós-traumático, sentimento de culpa desenvolvidos em
decorrência da violência sexual, portanto, constitui-se como forte aliada na melhora do
sofrimento mental das vítimas desse crime (COHEN et al., 2005). Outro estudo, de metanálise,
102 | P á g i n a
realizado com o objetivo de investigar os efeitos independentes de diferentes elementos do
tratamento em problemas secundários relacionados ao abuso sexual de crianças e adolescentes,
bem como investigar diferentes moderadores da sua eficácia, corroborou que a TCC é bastante
eficaz para tratar os efeitos residuais do trauma sofrido (HETZEL-RIGGIN et al., 2007).
Apesar do atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência sexual terem
melhorado, abrangendo diversos setores da rede de atenção à saúde e seguindo diretrizes e
protocolos, algumas questões ainda precisam ser trabalhadas, como a desmitificação da
anticoncepção, a normatização do atendimento intersetorial e multiprofissional em certas
regiões, o aumento da oferta de profilaxia e a ampliação da rede de atenção à saúde da criança
e do adolescente.
4. CONCLUSÃO
O presente estudo discutiu as repercussões que o abuso sexual traz na vida e saúde das
vítimas, crianças e adolescentes, bem como as estratégias de enfrentamento. Nota-se escassez
na literatura científica sobre o tema. Então, chama-se a atenção para a necessidade de ampliar
o debate sobre a dimensão e magnitude do problema, o papel dos profissionais da saúde, da
educação, segurança pública, gestores, família e sociedade civil organizada, bem como outros
segmentos.
A VS é uma prática delituosa que deve ser fortemente combatida. Percebe-se também a
carência de normas técnicas específicas do setor da saúde para o atendimento às crianças e aos
adolescentes em situação de violência sexual. Assim como, a necessidade de melhor preparação
técnica especializada para prestação de uma atenção qualificada e contextualizada a este grupo
etário, assim como, ampliar estratégias de enfrentamento desse grave problema de saúde
pública.
Enfatiza-se que, cada pessoa pode apresentar reações diversificadas frente ao abuso
sexual, e a gravidade e extensão das consequências podem variar dependendo das
particularidades de experiência de cada vítima. Por isso, é tão importante que os profissionais
estejam devidamente capacitados e tenham a sensibilidade necessária para atuar de forma
efetiva e individualizada frente a cada situação. Por fim, espera-se que esse estudo mobilize a
reflexão sobre assunto tão complexo e desafiador e incite o desejo de luta contra esse danoso
problema.
103 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
ASSIS, S.G. et al. Situação de crianças e adolescentes brasileiros em relação à saúde mental e
à violência doméstica. Ciência e Saúde Coletiva, v. 14, p. 349.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei n° 13.431, de 4 de abril de 2017. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13431.htm >. Acesso em: 07
abr. 2020.
CANINO, G. et al. The DSM-IV rates of child and adolescent disorders in Puerto Rico:
Prevalence, correlates, service use, and the effects of impairment. Archives of General
Psychiatry, v. 61, p. 85, 2004.
COHEN, J.A. et al. Treating sexually abused children: 1-year follow-up of a randomized
controlled trial. Child Abuse & Neglect, v. 29, p. 135, 2005.
COSTA, L.F. et al. Família e abuso sexual: silêncio e sofrimento entre a denúncia e a
intervenção terapêutica. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 59, p. 245, 2007.
104 | P á g i n a
DAY, V.P. et al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. Revista de Psiquiatria
do Rio Grande do Sul, v. 25, p. 9, 2003.
FALEIROS, E.S.F. & FALEIROS, V.D.P. Escola que protege: enfrentando a violência contra
criança e adolescente. 2. ed. Brasília: MEC/UNESCO, 2008.
FLORES, R.Z. & CAMINHA, R.M. Violência sexual contra crianças e adolescentes: algumas
sugestões para facilitar o diagnóstico correto Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v.
16, p. 158, 1994.
FURNISS, T. Abuso Sexual da Criança: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1993.
GILBERT, R. et al. Burden and consequences of child maltreatment in high income countries.
Lancet, 2009.
HILDEBRAND, N.A. et al. Violência doméstica e risco para problemas de saúde mental em
crianças e adolescentes. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 28, p. 213, 2015.
HILLBERG, T. et al. Review of meta-analyses on the association between child sexual abuse
and adult mental health difficulties: a systematic approach. Trauma, Violence & Abuse, v. 12,
p. 38.
KAPLAN, H.I. & SADOCK, B.J. Compêndio de psiquiatria. 2. ed. Tradução de Maria Cristina
Monteiro e Daise Batista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
105 | P á g i n a
KENDALL-TACKETT, K.A. et al. Impact of sexual abuse on children: A review and synthesis
of recent empirical studies. Psychological Bulletin, v. 113, p. 164, 1993.
MINAYO, M.C.S. A inclusão da violência na agenda da saúde: trajetória histórica. Ciência &
Saúde Coletiva, v. 11, p. 1.259, 2007.
QUEIROZ, K. Abuso Sexual: Conversando com esta realidade. Centro de defesa da criança e
do adolescente Yves de Roussan – CEDECA – BA, 2014. Disponível em:
<http://www.cedeca.org.br/conteudo/noticia/arquivo/384BB619-A577-6B44-
55158CB799D9AB10.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2020.
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SIEBRA, D.X. et al. Os Prejuízos causados à Saúde Mental e à vida sexual adulta das mulheres
vítimas de Abuso Sexual na infância. Revista Multidisciplinar e de Psicologia, v. 13, p. 359,
2019.
SILVEIRA, J.M. & PEREIRA, J.A. Violência sexual intrafamiliar contra crianças e
adolescentes: possibilidades de atuação das instituições escolares. Revista InterAtividade, v. 5,
2017.
107 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 10
O CONHECIMENTO DE IDOSOS SOBRE
INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
HIV/AIDS
Elisangela P Oliveira1, Layza K de J Silva1, Nancy N L de A L Batista2
1
Discente do curso de bacharelado em enfermagem, do Centro Universitário Santo Agostinho. Teresina, Piauí.
2
Mestre em enfermagem. Docente de enfermagem do Centro Universitário Santo Agostinho. Teresina, Piauí.
1. INTRODUÇÃO
A expectativa de vida vem aumentando ao longo dos anos e está relacionada aos avanços
científicos e tecnológicos nas áreas médica e farmacêutica. Os medicamentos que melhoram as
condições crônicas contribuem para o processo de envelhecimento. Se as pessoas vivem mais,
podem expressar manutenção de atividade sexual, o que aliado a novos medicamentos que
melhoram o desempenho sexual, favorecendo que os idosos sejam vulneráveis as infecções
sexualmente transmissíveis, ISTs (ANDRADE et al., 2017).
O número de pessoas com 60 ou mais anos de idade em todo mundo está projetado para
aumentar de 962 milhões em 2017 para 1,4 bilhões em 2030. A população com 60 anos ou mais
está crescendo mais rápido que todos os grupos etários jovens (VINHAL, 2018).
Segundo Brasil (2017) foram registrados 2.217 casos de AIDS no Brasil, em 2016, entre
pessoas com 60 anos ou mais. A taxa de detecção manteve-se estável com 9,3 em 2016 para
cada 100 mil habitantes em 2016. Em 2015, a taxa era de 9 casos. Já nos casos de HIV, o Brasil
apresentou 1.294 em pessoas com 60 anos, em 2016.
Para Brito et al. (2016) diversos fatores estão relacionados ao aumento de HIV/AIDS
em idosos, como o baixo grau de escolaridade, o conhecimento insuficiente sobre os métodos
para evitar ISTs e até a resistência em adquiri-los.
Nesse contexto, pesquisas se fazem necessárias pois os idosos estão vivendo mais e,
com isso, continuam sexualmente ativos e ficando vulneráveis as ISTs, exigindo dos
108 | P á g i n a
profissionais conhecimentos e busca de estratégia para redução de danos e oferecimento de
assistência que responda resolutivamente a essa demanda.
Diante do exposto, o estudo objetivou identificar e analisar o conhecimento de idosos
sobre Infecções sexualmente transmissíveis e o HIV/AIDS.
2. MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura que busca responder a seguinte questão
norteadora: “Qual o conhecimento de idosos sobre Infecções sexualmente transmissíveis
HIV/AIDS?”.
Revisão integrativa é um tipo de pesquisa que fornece informações mais amplas de
maneira sistemática, ordenada e abrangente, sobre um assunto ou tema, com finalidade de
sintetizar resultados obtidos em pesquisa sobre temas ou questões. A definição das informações
a serem extraídas dos estudos selecionados por categorização; avaliação dos estudos incluídos;
interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/síntese do conhecimento (ERCOLE et
al., 2015).
Após a definição do tema do estudo, realizou-se um levantamento bibliográfico na base
de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nos meses de agosto de 2019 a março de 2020,
utilizando artigos indexados nas bases de dados, LILACS – Literatura Latino-americana e do
Caribe em Ciências da Saúde, BIREME – Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação
em Ciências da Saúde, SCIELO – Scientific Electronic Library Online –, MEDLINE – Sistema
Online de Busca e Análise de Literatura Médica, BDENF – Bases de Dados na Área de
Enfermagem, utilizando a estratégia PICo, onde se teve acesso aos artigos na integra.
O estudo foi realizado utilizando a combinação de descritores: “Envelhecimento”;
“Idoso”; “HIV/aids”; “Sexualidade”; “Percepção”; conforme apresentação do vocabulário
contido nos Descritores em Ciências da Saúde (Decs), validados pela BVS e cruzadas entre si
por meio do operador booleano AND.
Definiu-se como critérios de inclusão publicações no período de 2015 a 2020,
disponíveis em língua portuguesa, dissertações, teses e artigos completos. Os critérios de
exclusão foram artigos fora do período de inclusão de 2015 a 2020, artigos de língua
estrangeira, publicações que não respondiam a questão norteadora e objetivo do estudo e
estudos clínicos.
109 | P á g i n a
A partir da aplicação da estratégia PICo e dos descritores utilizados foram encontradas
36 publicações entre 2015 a 2020, no período de agosto de 2019 a março de 2020, foram
excluídos 21 que não respondiam os critérios de inclusão. A amostra final foi de 15 artigos.
A análise das publicações/artigos foi feita através de leituras minuciosas e de forma
crítica dos estudos na integra, sendo extraídas as principais ideias de cada autor considerando
principalmente os resultados evidenciados e as conclusões de cada publicação componente na
amostra.
A construção desse artigo foi pautada nas normas legais dispostas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e foi reproduzida fielmente a ideia dos autores.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na literatura obtivemos como amostra final 12 artigos selecionados de acordo
com os critérios de inclusão e exclusão.
Todos disponíveis gratuitamente na Biblioteca virtual de Saúde (BVS), estes artigos
estão caracterizados no Quadro 1 abaixo contendo as seguintes variáveis: título, metodologia,
autor, ano e periódico.
METODOLOGIA,
N° TÍTULO PERIÓDICO
AUTOR e ANO
Avaliação do nível de
Estudo quantitativo de
conhecimento em relação à aids e Ciência &
A1 intervenção. BASTOS, L.M.
sífilis por idosos do interior saúde coletiva
et al., 2018
cearense, Brasil.
Vulnerabilidade às infecções Pesquisa do tipo descritiva,
A2 sexualmente. Transmissíveis/ com abordagem quantitativa Revista Uningá
aids em idosos. SILVA, J.D.B. et al., 2017
Vulnerabilidade de idosos a
Estudo transversal e analítico Acta paul
A3 infecções sexualmente
ANDRADE, J. et al., 2017 enferm.
transmissíveis.
hiv/aids na terceira idade: Trata-se de um estudo
avaliação do conhecimento e observacional do tipo Unisanta
A4
percepção de risco no município transversal. LOUSADA, N.S. Health Science
de santos. et al., 2017
110 | P á g i n a
Conhecimento dos idosos da Estudo descritivo com
Revenfermufpe
A5 estratégia saúde da família em abordagem qualitativa
online
relação ao HIV/AIDS. SOUZA, M.D.D. et al., 2016
Anais 2016: “A
HIV/AIDS na terceira idade: prática
Pesquisa bibliográfica.
A8 implicações de uma sexualidade interdisciplinar
SILVA, D.C. et al., 2016
omitida. alimentado a
Ciência”.
Revista
Pesquisa qualitativa, de
Hiv/aids em idosos: estigmas, Brasileira
A9 caráter exploratório.
trabalho e formação em saúde. Geriatria e
CASSÉTTE, J.B. et al., 2016
gerontologia.
Estudo epidemiológico,
Prevalência de hiv/aids em
descritivo e retrospectivo com
A10 idosos entre 2010 e 2014 no
abordagem quantitativa
Brasil.
PIMENTA, C.J.L. et al., 2015
Doenças sexualmente Revisão sistemática de Ciência &
A11 transmissíveis em idosos: Uma literatura. DORNELAS saúde coletiva
revisão sistemática NETO, J. et al., 2015
Concepções de idosos sobre Pesquisa de campo, com
Revista
vulnerabilidade ao HIV/Aids abordagem qualitativa.
A12 brasileira de
para construção de diagnósticos MOREIRA, M.A.S.P. et al.,
enfermagem
de enfermagem 2015
O Gráfico 1 mostra a análise dos artigos utilizando a variável ano, podemos observar
que foram encontrados um maior número de publicações no ano de 2016 (38%), 2017 e 2015
(23%) e no ano de 2019 e 2018 (8%).
111 | P á g i n a
Gráfico 01. Distribuição dos artigos publicados pela variável: ano, entre os anos de 2015 á
2020
8%
23% 8% 2019
2018
23% 2017
2016
38% 2015
112 | P á g i n a
Evidenciou-se a necessidade de esclarecimentos e
Idosos, infecções
orientações aos idosos sobre os meios de prevenção
sexualmente transmissíveis e
A6 das IST e HIV. Importa pontuar que a maioria dos
AIDS: Conhecimentos e
participantes possuía o nível fundamental incompleto
riscos.
(65,5%).
Pessoas com baixa escolaridade tendem a assimilar as
AIDS em idosos: motivos que
A7 informações de forma inadequada, tornando deficiente
levam ao diagnóstico tardio
a apreensão do conhecimento.
Vários são os fatores que contribuíram para o aumento
HIV/AIDS na terceira idade:
da incidência de HIV/AIDS na população idosa, entre
A8 implicações de uma
eles a insuficiência de ações em saúde abordando essa
sexualidade omitida.
temática, o que culminou em falta de conhecimento.
Evidenciou-se que a família dos pacientes, muitas
HIV/AIDS em idosos:
vezes, não aceita o fato do idoso ter uma vida sexual
A9 estigmas, trabalho e formação
ativa. Muitos familiares inclusive se surpreendem ou
em saúde.
duvidam do diagnóstico HIV/AIDS.
Evidenciaram que diversos indivíduos consideraram
Prevalência de HIV/AIDS em
que o sexo seguro e a prevenção de doenças não estão
A10 idosos entre 2010 e 2014 no diretamente ligados ao uso do preservativo, mas à
Brasil
confiança e a fidelidade em seus parceiros.
Evidenciou-se que existência de crenças na sociedade
Doenças sexualmente
em geral, que o envelhecimento diminui o desejo
A11 transmissíveis em idosos: sexual, sabe-se que indivíduos nessa faixa etária
Uma revisão sistemática.
permanecem sexualmente ativos.
O estudo aponta que os idosos concebem o HIV/Aids
Concepções de idosos sobre
como uma doença grave e incurável, que requer
vulnerabilidade ao HIV/Aids
A12 para cuidados. A concepção de que a Aids é uma doença de
construção de
jovens, prostitutas, homossexuais e usuários de
diagnósticos de enfermagem.
drogas.
São pesquisas em que os idosos participantes referem conhecimento sobre ISTs e outros
referem desconhecimento do termo IST e modo de prevenção.
Bastos et al. (2018) e Lousada et al. (2017) concordam que os idosos possuem
conhecimento adequado sobre o conceito, modo de prevenção e transmissão de ISTs HIV/AIDS
113 | P á g i n a
e relatam que uso do preservativo previne. Porém grande parte não faz uso de preservativo e
não realiza o teste da AIDS. Ambos os estudos apontam um conhecimento maior das mulheres.
Já em Moreira et al. (2015), o estudo revela que os idosos têm um conhecimento
adequado do modo de prevenção ou de transmissão e que conhecem algumas ISTs, como o
HIV/AIDS. Mas mostram que eles não se consideram um grupo suscetíveis a adquirir ISTs
HIV/AIDS.
Silva et al. (2017) e Souza et al. (2016) concordam sobre baixo nível de conhecimento
sobre conceito, transmissão, prevenção, vulnerabilidade e tratamento do HIV/AIDS pelos
idosos, embora a incidência da doença esteja aumentada entre os idosos, os mesmos não se
vêem como grupo de risco.
Para Brito, et al. (2016), o conhecimento sobre ISTs é frágil, fator que pode contribuir
para “não se perceberem em risco ou se perceberem em baixo risco” de contaminação. O autor
relata que é importa pontuar que a maioria dos participantes possuía o nível fundamental
incompleto (65,5%).
Portanto, houveram algumas divergências em relação aos artigos estudados nesta
categoria, mas ficou evidente a falta de conhecimento por parte dos idosos sobre as IST.
114 | P á g i n a
determinando a vulnerabilidade, tendo fator dificultador o fato profissionais de saúde relutarem
abordar essas questões nesta faixa etária e que as ações não acompanham o ritmo da evolução
farmacêutica para a qualidade de vida do idoso.
Para Cassétte et al. (2016) a população idosa não é um público visado nas campanhas
de prevenção de ISTs HIV/AIDS. Ressalta ainda que é nessa fase da vida, que as pessoas se
deparam com muitas perdas, como a do emprego, de amigos, de familiares e pessoas próximas
que acabam falecendo, o que contribui para o isolamento, na perspectiva do preconceito dos
próprios idosos consigo mesmos.
Em relação a essa categoria os artigos estudados não trazem muita divergência. Há uma
concordância entre os autores quanto à falta de escolaridade e ausência de políticas públicas
voltadas para a sexualidade na terceira idade como fatores de risco para vulnerabilidade às ISTs.
4. CONCLUSÃO
115 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
ALENCAR, R.A. & CIOSAK, S.I. Aids em idosos: motivos que levam ao diagnóstico tardio.
Revista Brasileira de Enfermagem, v. 69, p. 1140, 2016.
BASTOS, L.M. et al., Avaliação do nível de conhecimento em relação à Aids e sífilis por idosos
do interior cearense, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. p. 2495, 2018.
CASSÉTTE, J.B. et.al. Hiv/aids em idosos: estigmas, trabalho e formação em saúde. Revista
Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 19, p. 733, 2016.
ERCOLE, F.F. et al. Integrative review versus systematic review. Reme: Revista Mineira de
Enfermagem, v. 18, p. 1, 2015.
116 | P á g i n a
PIMENTA, L.J.L. et al. Prevalência de hiv/aids em idosos entre 2010 e 2014 no Brasil. Anais
Cieh, v. 2, p. 1, 2015.
SILVA, D.C. et al. HIV/AIDS na terceira idade: implicações de uma sexualidade omitida.
Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes. “A prática interdisciplinar
alimentado a Ciência”. 24 a 28 de outubro de 2016. Disponível em:
https://eventos.set.edu.br/index.php/sempesq/article/view/3983. Acesso em: 22 jan. 2020.
SOUZA, M.D.D. et al. Conhecimento dos idosos da estratégia saúde da família em relação ao
hiv/aids. Revista de Enfermagem UFPE Online, v. 1, p. 4036, 2016.
VINHAL, G. Número de idosos com HIV no Brasil cresce 103% na última década: O número
de infectados acima de 60 anos tem aumentado ano a ano. Tendência é mundial e, em 2030,
70% das pessoas nessa faixa etária terão o vírus se nada for feito. Correio brasiliense ciência e
saúde. 2018. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-
saude/2018/03/25/interna_ciencia_saude,668253/numero-de-idosos-com-hiv-no-brasil-cresce-
103-na-ultima-decada.shtml. Acesso em: 21 set. 2019.
117 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 11
ATITUDES FRENTE AO DOENTE MENTAL E
TRAÇOS DE PERSONALIDADE: UM ESTUDO
CORRELACIONAL
Gildevan E Dantas1, Patrícia N da Fonseca2, Maria da Penha de L Coutinho³,
Tamíris da C Brasileiro⁴ , Thayro A Carvalho⁵
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa/PB.
2
Docente do Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB.
³ Docente e Coordenadora do Departamento de Psicologia, Uniesp, João Pessoa/PB.
⁴ Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa/PB.
⁵ Docente do Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Sul da Bahia, Teixeira de Freitas/BA.
1. INTRODUÇÃO
118 | P á g i n a
Todavia, ressalta-se que, mesmo após a passagem de um modelo hospitalocêntrico
para um modelo territorial, que busca a reinserção social, é necessário estar ciente do caráter
sempre construtivo dessa Reforma, a qual busca uma mudança radical de paradigma: o fim
da lógica manicomial (DE OLIVEIRA et al., 2019).
Neste novo modelo, busca-se eliminar os meios de contenção; restabelecer a relação
do indivíduo com o próprio corpo; reconstruir o direito e a capacidade de uso dos objetos
pessoais; reconstruir o direito e a capacidade de palavra; “abrir as portas”; produzir relações,
espaços e objetos de interlocução. Além de liberar os sentimentos; restituir os direitos civis
eliminando a coação, as tutelas jurídicas e o estatuto de periculosidade e reativar uma base
de rendimentos para poder ter acesso aos intercâmbios sociais (LEONARDIS et al., 1990).
Em outras palavras, o processo de desinstitucionalização tem como propósito
desconstruir estigmas sobre a doença mental, deixados pela sociedade ao longo dos séculos.
A Reforma psiquiátrica, assim como outros movimentos sociais de luta pelos direitos dos
doentes mentais, visa dar maior visibilidade e promover a inclusão social desses atores,
confrontando com a discriminação e o preconceito (FONTES & FONTE, 2010).
O processo de perceber a loucura de modo mais humanizado foi responsável pela
mudança de paradigma no cuidar do doente mental, uma vez que o tratamento, realizado sob
a égide da racionalidade psiquiátrica e de exclusão social, passa a perder forças, a partir do
momento em que ao doente mental é conferido o direito à autonomia, de fortalecimento de
laços familiares e comunitários, impulsionados pela Reforma Psiquiátrica.
Especificamente, segundo Amancio e Elia (2017), através do Projeto de Lei 3.657,
apresentado ao Congresso Nacional pelo deputado Paulo Delgado em 1989, iniciou-se a nível
nacional o movimento crescente de alterações das políticas públicas de Saúde Mental. A
concepção de uma sociedade sem manicômios que, aparentemente, poderia parecer utópica,
tornou-se possível após aprovação da Lei 10.216, em 6 de abril de 2001, a qual foi resultado
de grande mobilização da sociedade, especialmente representada pelo Movimento Nacional
da Luta Antimanicomial. Após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a referida Lei
foi sancionada (OLIVEIRA et al., 2009). E, então, o que mudaria? A forma de prestar
assistência ao doente mental, substituindo o tratamento manicomial por políticas públicas de
assistência em saúde mental (NABUCO, 2006).
Depois de um ano e oito meses de aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica
brasileira, surgiu a Portaria/SAS nº 2391/2002 que descaracteriza a modalidade de internação
voluntária, citada pela Lei 10.216/2001. Essa nova portaria estabelece, no art.7º que, no caso
de o paciente internado de forma voluntária manifestar discordância pela continuidade da
119 | P á g i n a
internação, após sucessivas tentativas de persuasão por parte da equipe terapêutica
responsável, sua internação passará a ser involuntária. A esse respeito, percebe-se que a
portaria vem retirar do paciente seu direito de escolha pela continuidade ou não do tratamento
e, destarte, sua autonomia (BRASIL, 2001; 2002).
De acordo com os artigos da lei referida, Amarante (2007, p. 47) defende:
Para que ocorra essa transição, a ideia da vinculação do paciente com a sociedade
deve ser acompanhada com a criação de recursos capazes de garantir a intermediação no
processo de reinserção social, para que não seja necessária a internação. Assim, tornaram-se
imprescindíveis políticas voltadas à criação de programas substitutivos que garantissem o
bom funcionamento e a oferta de um atendimento humanizado em colaboração com a
comunidade assistida, pacientes e cuidadores. A Reforma edifica um novo estado de coisas,
onde a comunidade torna-se colaboradora no cuidado da doença mental (GONÇALVES &
SENA, 2001).
Por meio da Reforma Psiquiátrica foi possível um olhar diferenciado sobre o doente
mental, privilegiando o cuidado humanizado e individualizado a essas pessoas, bem como
redirecionando o discurso preconceituoso e excludente para uma perspectiva integradora e
inclusiva na sociedade. Deve-se, portanto, contemplar todos os âmbitos que perpassem a vida
cotidiana dos sujeitos, proporcionando um aumento de sua autonomia, resgatando a
cidadania destes em todas as nuances do seu viver (DA CRUZ GUEDES et al., 2010).
Mudanças requerem ajustes e, no Brasil, o aparecimento de novos serviços,
respaldados pelas iniciativas das políticas públicas de saúde mental, gerou um avanço no
enfoque do trabalho terapêutico, que era centrado no modelo biomédico e, atualmente, se
aprofunda na questão do sofrimento psíquico e no tratamento de reabilitação psicossocial,
realizando abordagens mais completas aos indivíduos numa perspectiva holística e subjetiva.
Ao invés das práticas tradicionais que enfatizavam a doença, um novo modelo de
atenção entra em cena, no qual a subjetividade é reintegrada com o corpo social dos
indivíduos em sofrimento psíquico. Essa tomada de consciência a respeito da importância
dessas intervenções produz movimentos de superação do indivíduo, ou seja, na reconstrução
de um corpo subjetivo, social e físico (DA CRUZ GUEDES et al., 2010).
120 | P á g i n a
Sendo assim, foram criadas equipes mínimas de saúde mental, formadas por
psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). A política
de saúde mental, proposta pelo Ministério da Saúde na contemporaneidade, tem como
estratégia a implantação de uma rede de apoio extra-hospitalar, a qual visa a redução
progressiva dos leitos psiquiátricos; a expansão dos Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS); inclusão das ações de saúde mental na atenção básica; consolidação do Programa
“De Volta Para Casa”; expansão das Residências Terapêuticas. Propõe também a formação
e qualificação de recursos humanos; promoção dos direitos de usuários e familiares e
incentivo à participação no cuidado; qualificação do atendimento hospitalar e ambulatorial
existente; consolidação da política para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas
(BRASIL, 2015).
Neste sentido, a fim de entender as mudanças ocorridas ao longo das décadas, faz-se
necessário conhecer as atitudes das pessoas frente ao doente mental (indivíduo em sofrimento
psíquico). Ressalta-se que, neste processo histórico de evolução do pensamento, há de se
fazer distinção entre os modelos explicativos de saúde, a saber: biomédico e biopsicossocial.
Diante da etiologia da doença, o modelo biomédico adota uma lógica unicausal,
também designada lógica linear, procurando identificar uma causa, a qual por determinação
mecânica, unidirecional e progressiva explicaria o fenômeno do adoecer, direcionando a
explicação a se tornar universal (PUTTINI et al., 2010). No entanto, para Foucault (2011), a
concepção do adoecer se refere à situação global do indivíduo no mundo, sendo uma reação
daqueles tomados na sua totalidade psicológica e fisiológica. Entretanto, ao tratar da relação
cultural da medicina com o adoecimento na contemporaneidade, ou seja, para conhecer a
verdade do fato patológico, o médico abstrai o doente e este passa a ser apenas um fato
exterior em relação àquilo que sofre.
A fim de contemplar outros aspectos da vida da pessoa adoecida, entra em cena o
modelo biopsicossocial, o qual foi elaborado e defendido por Engels em 1977 (FAVA &
SONINO, 2008), a partir da crítica à insuficiência da epidemiologia tradicional em abordar
a saúde como um fenômeno radicado na organização social (PUTTINI et al., 2010). De fato,
a doença não é somente unicausal, como visto no modelo biomédico, mas vista como um
resultado da interação de mecanismos celulares, teciduais, organísmicos, interpessoais e
ambientais (FAVA & SONINO, 2008), além da crítica de que a relação saúde-doença é um
processo sem ponto fixo, mas sim um estado.
Frente a esse paradoxo, a psicopatologia hoje deve dar respostas emergentes e ser
resolutiva, pois só contemplar um aspecto da vida do paciente é insuficiente para um
121 | P á g i n a
diagnóstico, bem como um prognóstico. Neste sentido, deve-se ir para além dos sintomas
físicos, ou seja, dialogar por meio de uma clínica ampliada (médicos, psicólogos, assistentes
sociais, enfermeiros, dentre outros profissionais). É isso que torna o modelo biopsicossocial
o mais difundido nos dias de hoje.
Mesmo que se reconheçam as lutas na construção e na mudança de pensamento das
pessoas, da cultura e das formas de como as pessoas significam a doença, propondo hábitos
saudáveis e a manutenção de um lar agradável e harmonioso, entre outras medidas que
possam otimizar o processo de saúde, há a necessidade mudanças de atitudes.
Isto posto, Rodrigues et al. (2014) salientam que as atitudes têm uma forte ligação
com os comportamentos, pois referem-se ao campo da ação e não são diretamente
observáveis, têm origem nas experiências subjetivas, são quase sempre referidas a um objeto
social, incluem sempre uma dimensão afetivo-avaliativa e são aprendidas.
As atitudes constituem bons preditores de comportamento, ou seja, o conhecimento
das atitudes de uma pessoa em relação a determinados objetos permite que se façam
inferências acerca de seu comportamento. As atitudes sociais desempenham funções
específicas em cada indivíduo, ajudando-o a formar uma ideia mais estável da realidade em
que se vive e também servindo para proteger o “eu” de conhecimentos indesejáveis e as
atitudes são à base de uma série de situações importantes, tais como as relações de amizade
e de conflitos (RODRIGUES et al., 2014).
Estudos empíricos, como o de Avanci et al. (2002), que estudaram as atitudes dos
estudantes ingressantes de enfermagem, verificaram que estes tendem a exibir atitudes
negativas frente ao portador de doença mental. Hengartner et al. (2012), constataram que
profissionais de saúde mental suíços apresentaram níveis significativamente mais elevados
de distância social do que os brasileiros. Gil (2010), em seus resultados acerca das crenças e
atitudes diante dos doentes e as doenças mentais, revelaram resultados positivos no sentido
de um reconhecimento da doença e do seu cunho médico, além de que estereótipos da
periculosidade, incurabilidade e responsabilidade individual são acentuados.
A fim de entender o que poderia explicar as atitudes frente ao doente mental, um
construto psicológico foi levado a cabo neste estudo para a explicação de tais atitudes, quais
sejam: os traços de personalidade, que se relacionam às características de um indivíduo e não
a sua pessoa física. Para traçar a personalidade de um indivíduo enumeram-se suas
características internas, relacionais ou sociais (DIAS, 2010).
Os traços de personalidade podem ser descritos como unidades fundamentais da
personalidade e representam, para o indivíduo, amplas disposições para responder de
122 | P á g i n a
determinadas maneiras suas atitudes. Os traços podem ser organizados de forma proveitosa
de acordo com cinco dimensões bipolares e amplas, conhecidas como as “cinco grandes
dimensões”, também conhecido como Big Five, teoria norteadora deste estudo (JOHN &
PERVIN, 2004).
Em psicologia, encontram-se diversas teorias que estudam a personalidade, como, por
exemplo, a humanista, comportamental, cognitiva e psicanalítica. No entanto, o presente
estudo adotará a Teoria dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade (Teoria do Big Five).
Quantos traços são necessários para representar a personalidade humana? Esta passou a ser
a pergunta central na perspectiva das teorias dos traços de personalidade (FRIEDMAN,
2004). Muitos modelos inovadores acerca das dimensões da personalidade vêm sendo
propostos, enfatizando diferentes quantidades de fatores, como, por exemplo, o PEN
(psicoticismo, extroversão, neuroticismo), elaborado por Eysenck (1991), ressaltando a
existência de três dimensões; e o modelo dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade
(OCEAN; abertura, conscienciosidade, extroversão, sociabilidade e neuroticismo), proposto
por Costa e McCrae (1992), baseando-se na análise fatorial de questionários.
Assim, pensando-se em traços de segunda ordem que representassem estruturas
fatoriais da personalidade, estudos mais recentes passaram a dar ênfase a um modelo com
cinco fatores, conhecido como Big Five ou modelo dos Cinco Grandes Fatores da
Personalidade. Originalmente, os cinco fatores de personalidade são representados pelas
iniciais OCEAN (Openness to experience, Conscientiousness, Extraversion, Agreeableness
e Neuroticism). Embora traduções um pouco diferentes sejam verificadas na literatura; no
presente estudo a seguinte classificação é adotada (BINET-MARTÍNEZ & JOHN, 1998):
A Abertura à mudança (Openness to experience) também é denominada como cultura,
imaginação ou intelecto. Pontuações altas neste fator são obtidas por indivíduos curiosos,
imaginativos e criativos, que se divertem com novas ideias e valores não convencionais. Por
outro lado, pontuações baixas são indícios de indivíduos que tendem a ser convencionais em
suas crenças e atitudes, conservadores em suas preferências e menos responsivos
emocionalmente.
A Conscienciosidade (Conscientiousness) comumente, tem sido nomeada como falta
de impulsividade ou vontade. Pontuação alta nela indica comportamentos que evidenciam o
sentido de organização, persistência, controle e motivação para alcançar objetivos
altruísticos. Por outro lado, aquelas baixas revelam pessoas que tendem a não ter objetivos
claros, não serem confiáveis e serem preguiçosas, negligentes e hedonistas.
123 | P á g i n a
Extroversão (Extraversion) também é denominada de expansão, onde pontuações
altas indicam pessoas sociáveis, ativas, falantes, otimistas e afetuosas. Contrariamente,
pontuações baixas revelam pessoas que tendem a ser reservadas, sóbrias, indiferentes,
independentes e quietas.
A Amabilidade (Agreeableness), frequentemente nomeada como agradabilidade ou
sociabilidade, descreve, por um lado, pessoas que tendem a ser generosas, bondosas, afáveis,
prestativas e altruísticas, e, por outro, aquelas que são cínicas, não cooperativas e irritáveis,
podendo chegar a ser manipuladoras, vingativas e implacáveis.
Por fim, o Neuroticismo (Neuroticism) é também conhecido como instabilidade
emocional. Indivíduos com pontuações altas neste fator são propensos a sofrimentos
psicológicos, podendo apresentar ideias irreais, baixa tolerância à frustração e respostas de
coping (enfrentamento) não adaptativas, enquanto que aqueles mais equilibrados
emocionalmente apresentam pontuações baixas em tal fator.
Na personalidade, por meio dos traços de neuroticismo e extroversão, emoções
negativas e positivas refletem diferenças de estado. As pessoas que apresentam neuroticismo
são mais sensíveis ao efeito negativo, geralmente experiencia eventos de vida mais negativos,
que são interpretadas em termos mais negativos e, os seus sentimentos negativos tendem a
se espalhar a partir de uma área da vida para outra. Pessoas extrovertidas geralmente
experimentam eventos de vida mais positivos, experimentam níveis mais elevados de
emoções positivas em situações sociais e se envolvem mais em situações sociais que ajudam
a aumentar o seu nível de emoções positivas. Em suma, neuroticismo e extroversão parecem
influenciar os componentes afetivos da doença mental e saúde mental através de ambos os
mecanismos biológicos e comportamentais (LAMERS et al., 2012).
Por conseguinte, este estudo teve por objetivo conhecer as relações entre as Atitudes
Frente ao Doente Mental e os Traços de Personalidade. Desse modo, permite-se compreender
como essa variável pode influenciar na percepção das pessoas frente ao doente mental na
sociedade contemporânea.
2. MÉTODO
Partindo de uma pesquisa de delineamento ex post facto, o presente estudo teve como
objetivo conhecer as relações entre as atitudes frente ao doente mental e os traços de
personalidade. Contou-se com uma amostra de conveniência (não-probabilística, intencional)
de 230 profissionais da saúde nas mais diversas especificidades: médico geral (5,7%), médico
124 | P á g i n a
psiquiatra (2,2%), psicólogos (20,9%), enfermeiros (18,3%), assistentes sociais (8,7),
farmacêuticos (3%), Fisioterapeutas (7%), educador físico (3%), técnicos de enfermagem
(17%), além de fonoaudiólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais que não tiveram
expressividade na amostra.
Estes profissionais tinham idades variando de 23 a 68 anos (M = 36,22; DP = 10,67),
sendo grande parte da amostra composta do sexo feminino (74,7%). Dentre os participantes,
51,5% eram solteiros, 38,2% casados e os 10,3% restantes estavam entre divorciados, viúvos
e outros. Em relação à religião, a maioria relatou ser católica (65,5%), e no que concerne ao
nível de religiosidade, 35% consideram-se mais ou menos religioso.
A maior parte dos profissionais possuía só graduação (62,2%) e pequeno percentual
com pós-graduação (12%), 87,8%). pertenciam a classe média. Trabalhavam em instituição
pública (82,6%) e tinham renda declarada que variava de R$ 2.500,00 a R$ 3.000,00 reais.
Tendo em vista que a amostra foi coletada em diferentes contextos de saúde, 64% dos
participantes disseram não ter interesse em trabalhar em instituição de saúde mental, os
outros 36% restantes afirmaram já ter desenvolvido trabalho em Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS).
Foram utilizados os seguintes instrumentos abaixo:
Originalmente elaborado em língua inglesa por John et al. (1991), este instrumento
foi composto por 44 itens. A adaptação desta escala no contexto brasileiro foi levada a cabo
por Andrade (2008), o qual encontrou uma estrutura formada por 34 itens. Estes
demonstraram consistência interna satisfatória, com Alfa de Cronbach que variaram 0.70
125 | P á g i n a
(Extroversão) e 0,68 (Abertura e Conscienciosidade). Porém, no presente estudo foi utilizada
sua versão reduzida, composta por 20 itens (os que melhor apresentaram consistência
interna), que questionam como o indivíduo se percebe (Eu me vejo como alguém que...). Tais
itens são estruturados em sentenças (É inventivo, criativo; Gosta de refletir, brincar com as
ideias; É minucioso, detalhista no trabalho), sendo respondidos em escala de cinco pontos,
com os seguintes extremos: 1 = Discordo Totalmente e 5 = Concordo Totalmente, agrupados
em cinco fatores, a saber: extroversão, agradabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e
abertura à mudança.
126 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das correlações entre EAFDM e Big-Five, pode-se perceber que em relação
às atitudes autoritativas frente ao doente mental só foram encontradas correlações entre os
seguintes traços conscienciosidade (r = 0,30; p < 0,05) e amabilidade (r = 0,23; p < 0,05).
Quanto às atitudes benevolentes em relação ao doente mental, obteve-se correlação somente
com o traço neuroticismo, a qual apresentou uma correlação negativa e significativa (r = -
0,26; p < 0,05).
Não se pretende aqui diferenciar a postura de modelos (Biomédico e Biopsicossocial),
mas como os profissionais se comportam diante deles. Observou-se que as pessoas que
apresentam atitudes autoritativas, ou seja, que demonstrem comportamentos mais
impositivos na sua prática profissional (PUTTINI et al., 2010) pontuaram alto em
conscienciosidade e amabilidade. Isto parece indicar que, apesar de se atuarem de forma
pragmática, unidirecional e mais restritiva na relação com ao paciente são pessoas generosas
e prestativas.
No que se refere ao fator benevolência, observou-se uma correlação negativa com
neuroticismo; pontuações baixas nesse fator indicam pessoas equilibradas emocionalmente,
isso corrobora os achados da literatura, demonstrando que o trabalho com o doente mental
requer uma postura de aceitação, não discriminação, de aproximação. Nessa relação
interpessoal profissional e paciente deve ser desenvolvido um diálogo mais integrador e
paternalista de cuidar, característica do modelo biopsicossocial.
Embora os modelos sejam distintos, um não exclui o outro, e profissionais tanto do
modelo biomédico quanto do biopsicossocial podem vir ou não a apresentar os mesmos
traços de personalidade. A atitude terapêutica não é produto de mero instinto, mas de reações
comportamentais que uma vez formadas por um profissional, deveriam ser incorporadas ao
seu modo de ação.
Considerar as correlações encontradas em relação ao fator autoritarismo é pertinente
na mudança de paradigma ao longo da construção da doença mental, tendo em vista que
pessoas com posturas autoritárias podem apresentar conscienciosidade. Como dito, não se
pretende aqui diferenciar postura de modelos e sim como os profissionais se comportam
diante deles. Pessoas que pontuam alto em conscienciosidade demonstram ter controle,
cuidado, honestidade e organização. Os profissionais, no que se refere a esse traço, foram
honestos em relação a prática de cuidar, mesmo que seja característico do modelo biomédico,
127 | P á g i n a
não significa dizer que não apresentem amabilidade (pessoas generosas, prestativas), pois os
são em sua forma de conceber o tratamento, de forma mais restritiva frente ao doente mental.
De fato, o modelo biopsicossocial proporciona uma visão integral do ser e do adoecer
que compreende as dimensões física, psicológica e social. Quando incorporada ao modelo de
formação do médico coloca a necessidade de que o profissional, além do aprendizado e
evolução das habilidades técnico-instrumentais, evolua também nas capacidades relacionais,
que permitem o estabelecimento de um vínculo adequado e uma comunicação efetiva.
A literatura mostrou haver uma lacuna entre o reconhecimento da importância do
modelo biopsicossocial e sua efetiva incorporação. É natural imaginar que uma mudança de
paradigma inovadora encontre dificuldades e percalços. Por isso, os profissionais em sua
maioria trabalhavam em hospitais, não reconheciam o esgotamento do modelo biomédico,
pois muitos reforçavam tais atitudes no manejo clínico curativista, mesmo compondo uma
equipe multiprofissional (CASTANEDA, 2019).
Por isso, uma percepção ou atitude negativa dificulta a desinstitucionalização e
reintegração social, promovendo assim a detenção de pessoas com sofrimento psíquico em
asilos mentais para a proteção da sociedade (SANTOS & ROSA, 2016), o que defendia o
saber médico considerando apenas uma perspectiva do sujeito (a patologia em si), excluindo
sua subjetividade.
Rössler (2016), discute o estigma em sua concepção cognitiva, emocional e
comportamental. As classificações descritas possibilitam diferenciar os estereótipos do
preconceito e da discriminação. Estereótipos correspondem a um modelo de imagem e ideias
antecipadas sobre determinados grupos e/ou pessoas, o que possibilita prever seus
comportamentos e atitudes. São importantes no que se refere a julgamentos imediatos sobre
indivíduos com características parecidas, porém julgamentos mais justos exigem
informações mais aprofundadas que transcendem os estereótipos compartilhados. Logo,
profissionais que não se atualizem frente as políticas públicas de saúde mental continuarão
reproduzindo práticas desconexas aos atuais contextos.
Embora ambos sejam distintos, não significa dizer que são antagônicos. O que os
resultados vêm mostrando são mudanças nas grades curriculares dos cursos, os quais passam
a contemplar disciplinas que façam os alunos refletirem suas práticas além de suas
habilidades e competências estabelecidas pelas instituições, mas, principalmente, o
componente atitudinal vem fazendo a diferença. Ou seja, não adianta o aluno adquirir
espertise e não apresentar atitudes congruentes ao modelo de saúde mais integrador
(biopsicossocial).
128 | P á g i n a
Posto isto, os estudantes agora passam a terem acesso a disciplinas de saúde mental,
políticas públicas de saúde e estágios supervisionados voltado para uma saúde comunitária,
aproximando saber e prática no contexto da comunidade. Verificando uma abertura a
mudança, descrito nas correlações, que, por sua vez, a população pode ter vez e voz em
relação aos seus direitos e que possam usufruir dos mesmos cuidados, sem restrições,
preconceitos ou estereótipos.
Isso é evidenciado no campo da saúde, além das reflexões acadêmicas, da
implantação de políticas públicas para saúde mental. O Ministério da Saúde ainda contempla
o Programa Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no Sistema Único de Saúde -
Humaniza SUS. Esta proposta que convoca todos, gestores, trabalhadores e usuários, a se
comprometerem com o processo de humanização, visto que o próprio Ministério identificou
número crescente de queixas, por parte dos usuários, relacionadas à falta de acolhimento, de
acesso e de condições de trabalho, entre outras. Sendo assim, muda de uma perspectiva
meramente centralizadora, convocando a corresponsabilidade.
Destaca-se que a mudança de atitude frente a determinada situação requer certo tempo
de vivência e experiências, até que o novo aprendizado ou as novas posturas frente às
situações sejam incorporadas na personalidade, o que é possível acontecer, principalmente,
com estudantes da área da saúde, por meio das disciplinas dessa área específica, levando-se
em consideração, ainda, que o tipo de treinamento universitário modela essas atitudes
(PEDRÃO, 2003). Isso ocorre em virtude de um currículo atualizado que modele os futuros
profissionais numa atitude de maior aceitação/diálogo/humanização.
4. CONCLUSÃO
129 | P á g i n a
de dados e, inclusive, diversificá-las ainda mais, já que a internet oferece esta vantagem de
maior alcance. Porém, assevera-se que o propósito deste estudo foi eminentemente
correlacional.
Ainda que este estudo represente uma pesquisa de cunho eminentemente básico, é
impossível deixar de reconhecer algumas de suas possíveis aplicações. Este pode auxiliar em
campanhas de prevenção e promoção da saúde mental, bem como no processo de educação
permanente dos profissionais e reavaliação do processo de trabalho. Grande parte dos
profissionais apresenta problemas relacionados à aproximação com seu paciente, o que pode
comprometer a adesão muitas vezes deste. Neste sentido, o presente empreendimento
científico parece representar uma contribuição à área, favorecendo uma aproximação mais
adequada entre os construtos atitudes frente ao doente mental e a personalidade.
Por fim, entende-se que a psicologia social pode contribuir para minimizar os danos
advindos de uma construção social que se fez ao longo da história sobre o doente mental.
Sabe-se que alguns termos da medicina se tornaram presentes no cotidiano das pessoas como
idiota, débil mental, entre outros, que terminam configurando preconceito em relação à
pessoa com doença mental, o que reforça o estigma, dificultando o trabalho dos profissionais
de saúde.
Portanto, a psicologia, neste contexto, precisa assumir um papel ativo. Primeiro,
conhecendo os antecedentes das condutas que possam assegurar uma cultura pautada em
valores de aceitação e pluralidade, enfrentando o estigma e o preconceito construído há
décadas. Em segundo lugar, conscientizando a população geral, familiares dos doentes
mentais e profissionais de saúde, assim como estudantes no enfrentamento de condutas
preconceituosas e excludentes. Por último, deve promover um novo olhar sobre a saúde e
que as práticas psi possam ser instrumento de diálogo com a sociedade, garantindo que as
futuras gerações tenham atitudes e comportamentos mais humanizados e os programas de
saúde do governo venham contemplar o indivíduo biopsicossocialmente.
130 | P á g i n a
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135 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 12
BIOÉTICA E A PROMOÇÃO DE CUIDADOS
PALIATIVOS EM PACIENTES TERMINAIS
Karla M De Matos1, Cintia R S Pimentel1, Nisiane Dos Santos1, Willams A Da
Costa1, Isnara M S De Carvalho2, Rafael M Fontenele3
1
Discente de Enfermagem, Faculdade IESF, Paço do Lumiar/MA.
2
Mestranda em Saúde e Ambiente, UFMA, São Luís/MA.
3
Mestre em Gestão de Programas e Serviços de Saúde, UniCEUMA, São Luís/MA.
1. INTRODUÇÃO
136 | P á g i n a
sendo de extrema importância para a atuação dos profissionais da área da saúde no ambiente
hospitalar. Ainda que a cura ou preservação da vida não sejam mais a prioridade dessa
assistência ofertada, o viver continua sendo bastante discutido, sendo possível perceber com
clareza a relação vinculada entre a bioética e os cuidados paliativos (COSTA, 2016).
A bioética é classificada como uma ciência que está associada à sobrevivência do
indivíduo, direcionada a garantir uma vida com condições dignas a humanidade, levando a
reflexão de como agir e enfrentar dilemas e conflitos de forma ética. Nessa perspectiva, a
bioética indica os limites e intenções da ação do homem sobre a vida humana, revelando que
nem tudo que é cientificamente possível com os avanços nos serviços de saúde é aceito
positivamente conforme os valores éticos, buscando assim um equilíbrio frente aos conflitos
atuais (MEDEIROS, 2020).
Diante desta situação, é clara a importância de se discutir sobre questões bioéticas que
envolvem os cuidados paliativos, assim como compreender a relevância dessa ciência para
conduzir a atuação dos profissionais da área da saúde e tornar humanizadas as ações com o
doente, garantindo assim ao ser humano o viver e o morrer de forma digna (CRIPPA, 2015).
Considerando a relevância do tema para questões de saúde pública, o presente estudo
teve como objetivo trazer a caracterização de estudos publicados em revistas online, na área da
saúde, no período de 2015 a 2020, a respeito da Bioética e dos cuidados paliativos.
2. MÉTODO
137 | P á g i n a
Foram utilizados como critérios de inclusão: artigos com texto completo disponível
eletronicamente, na língua portuguesa, que apresentaram referência à temática abordada,
publicados nos anos de 2015 a 2020. Foram excluídas as monografias, teses de doutorado,
dissertações de mestrado, cartas ao editor e resumos publicados em anais de eventos.
Após a busca e seleção dos materiais eletrônicos se obteve um total de 157 artigos. Com
a aplicação dos critérios de inclusão resultaram em 13 publicações, restando assim após leitura
minuciosa, 5 artigos que integraram a amostra deste estudo, conforme demonstrado na Figura
1.
SCIELO BDENF
Artigos Artigos
encontrados selecionados
(n= 137) Artigos excluídos (n= 20)
(n= 152)
Os estudos foram analisados simultaneamente por todos os autores e, após a leitura dos
títulos 25 artigos foram excluídos. Após a leitura dos resumos foram excluídos outros 41 e 86
estudos foram excluídos após a leitura integral por não contribuírem com o alcance dos
objetivos da presente pesquisa.
O Quadro 1 apresenta a amostra final conforme título, autores e ano de publicação e as
principais contribuições.
138 | P á g i n a
Quadro 1. Estudos incluídos para a composição da revisão integrativa da literatura
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
139 | P á g i n a
sendo responsáveis por tornar esse momento menos doloroso tanto para o paciente quanto para
a família, como no acompanhamento do luto (ANDRADE, 2016).
Na maioria das vezes o profissional, durante sua formação acadêmica, tem foco na cura
do paciente, o que dificulta a sua vivência com situações como a morte, sendo essa muitas vezes
vista como uma falha e incompetência (COSTA, 2016).
O Ministério da Saúde define a divulgação do tema como importante, passo para que
exista uma ampliação no conhecimento para todos os cidadãos, assim como para os
profissionais de saúde, previsto pelo Programa Nacional de Cuidados Paliativos, Portaria nº
19/GM/2002, no Art. 1º (ALVES, 2019).
A vida e a morte conduzem a muitos questionamentos, sendo a maior dificuldade
enfrentada pelos profissionais em relacionar a técnica sem deixar de lado a humanização, o que
exige reflexões, através da bioética, que auxiliam as tomadas de decisões para a prática
profissional, que busca evitar agravamento do quadro clínico e impedir a prática de condutas
inúteis que aumentam o sofrimento do doente (MEDEIROS, 2020).
Dentro desse cenário ressalta-se a importância do estudo da aplicabilidade da bioética
nas decisões e ações com base nos princípios éticos durante as graduações e de forma
continuada após a formação, entendendo assim que o morrer faz parte do processo natural e
essa compreensão colabora para a humanização da assistência em saúde, sem adiar nem acelerar
a morte (SILVA et al., 2019).
Todo ser é único e dotado de suas particularidades e necessidades. Desse modo, o
cuidado ao paciente que se encontra em estado terminal da vida é preciso ser particularizado e
diferenciado. Pacientes sem opção de cura regularmente possuem o desejo de estar rodeados de
pessoas próximas. Por essa razão que compõe os princípios dos Cuidados Paliativos a
necessidade de inserir os familiares na oferta da assistência pela equipe multiprofissional, já
que os mesmos estão diretamente envolvidos com a situação e consequentemente convivendo
com um ambiente que possui uma sobrecarga emocional bastante elevada (COSTA, 2016).
A comunicação é um importante elemento na assistência, e nos Cuidados Paliativos não
se torna diferente já que ela influência de maneira direta na melhora da relação entre a equipe
de profissionais, paciente e família, incentivando a participação deles nas decisões e criando
uma relação de confiança (CAMPOS et al., 2019).
Lidar com o sofrimento enfrentado pelos pacientes terminais e seus familiares é uma
função de extrema dificuldade, porém necessária já que o profissional da saúde é a pessoa
responsável por aliviar a dor e sintomas indesejáveis decorrentes da patologia, tornando o
momento menos doloroso (CRIPPA, 2015).
140 | P á g i n a
3.2. Princípios bioéticos
4. CONCLUSÃO
Com base nos estudos encontrados, concluiu-se que, juntamente com os avanços
tecnológicos, os cuidados paliativos surgiram na intenção de tornar menos doloroso e mais
digno o processo natural de morte nos pacientes terminais ressaltando a relevância da inclusão
da bioética nas tomadas de decisões no que diz respeito à promoção de cuidados paliativos.
Princípios como a beneficência, não-maleficência, autonomia e justiça configuram a
base para as reflexões durante a atuação da equipe multiprofissional, que precisa ver o paciente
141 | P á g i n a
como um ser único que possuem necessidades e desejos diferentes uns dos outros e o direito a
uma vida e morte digna.
Sugere-se a ampliação de estudos com esta temática, com o intuito de divulgar a relação
entre a bioética e os cuidados paliativos para os profissionais da saúde, pacientes e também
familiares, possibilitando assim discussões sobre o tema de garantia de direitos dos pacientes
no fim da vida.
142 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
ALVES, R.F.S. et al. Cuidados paliativos: alternativa para o cuidado essencial no fim da vida.
Revista Psicologia: Ciência e Profissão, v. 39, p. 1, 2019.
ANDRADE, C.G. et al. Cuidados paliativos e bioética: estudo com enfermeiros assistenciais.
Revista Cuidado é Fundamental, v. 8, p. 4922, 2016.
CAMPOS, V.F. et al. Comunicação em cuidados paliativos: equipe, paciente e família. Revista
Bioética, v. 27, p. 711, 2019.
COSTA, R.S. et al. Reflexões bioéticas acerca da promoção de cuidados paliativos a idosos.
Revista Saúde Debate, v. 40, p. 170, 2016.
CRIPA, A. et al. Aspectos bioéticos nas publicações sobre cuidados paliativos em idosos:
análise crítica. Revista Bioética, v. 23, p. 149, 2015.
LIMA, M.L.F. et al. Processo de tomada de decisão nos cuidados de fim de vida. Revista
Bioética, v. 23, p. 31, 2015.
MAINGUÉ, P.M. et al. Discussão bioética sobre o paciente em cuidados de fim de vida. Revista
Bioética, v. 28, p. 135, 2020.
MEDEIROS, M.O.S.F. et al. Conflitos bioéticos nos cuidados de fim de vida. Revista Bioética,
v. 28, p. 128, 2020.
PEGORARO, M.M.O. & PAGANINI, M.C. Cuidados paliativos e limitação de suporte de vida
em terapia intensiva. Revista Bioética, v. 27, p. 699, 2019.
PESSINI, L. & SIQUEIRA, J.E. Reflexões sobre cuidados a pacientes críticos em final de vida.
Revista Bioética. Brasília, v. 27, p. 29, 2019.
SILVA, C.F. et al. Cuidadores formais e assistência paliativa sob a ótica da bioética. Revista
Bioética, v. 27, p. 535, 2019.
143 | P á g i n a
SOUSA, G.M. et al. Dilemas de profissionais de unidade de terapia intensiva diante da
terminalidade. Revista Bioética, v. 27, p. 516, 2019.
144 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 13
ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE SAÚDE
PÚBLICA PARA A COBERTURA VACINAL
CONTRA O SARAMPO: DESAFIOS E
PERSPECTIVAS
Bruno V P Costa1, Kelly S Gomes2, Joseniza dos S Oliveira3, Barbara H C
de Sousa4, Caroliny F Roza2, Isadora A Lopes1, Mile C S Brasil5, Ana P N
Rocha5
1
Graduado em Enfermagem pela Faculdade UNINASSAU - Campus Parnaíba - PI.
2
Graduanda em Enfermagem pela Faculdade UNINASSAU - Campus Parnaíba - PI.
3
Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí, Floriano - PI.
4
Graduada em Enfermagem pela Faculdade Maurício de Nassau - Campus Parnaíba - PI.
5
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí - Campus Parnaíba - PI.
1. INTRODUÇÃO
145 | P á g i n a
2. MÉTODO
Trata-se de uma revisão de literatura, executada a partir das bases de dados Lilacs,
PubMed, Medline e Cinahl. Os critérios de inclusão foram: publicações entre o período
de 2014 a março de 2020, estando em língua portuguesa, inglesa e espanhola, acessível
na integra, que fossem estudos realizados no Brasil, artigos indexados em pelo menos
uma das bases de dados supracitadas e localizáveis mediante palavras-chave e descritores:
Sarampo; Imunização; Cobertura Vacinal. Critérios de exclusão: artigos científicos que
não apresentassem pelo menos dois dos descritores utilizados, trabalhos que não tiveram
relação direta com o tema, bem como os artigos que não foram encontrados textos
completos disponíveis.
Mediante os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 15 artigos que se
enquadram nos objetivos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
146 | P á g i n a
Entretanto, devemos considerar que o sarampo é extremamente contagioso e
circula como uma doença endêmica em vários países, dificultando ainda mais as
estratégias de saúde no combate ao vírus, mantendo a ameaça potencial de sua
reintrodução no país.
4. CONCLUSÃO
Diante das pesquisas retratadas, verificou-se que existem falhas nas estratégias de
saúde pública com relação à cobertura vacinal, falta de controle e barreias sanitárias nas
fronteiras, notificação tardia e investigação para possível estabelecimento de medidas de
controle oportunas, favorecendo a rápida identificação e diagnóstico da doença.
Portanto, visando um melhor controle da doença, evidenciou-se a necessidade de
priorizar a vacinação não somente nas crianças, mas também do adulto, buscando
aumentar estratégias de saúde eficazes para que aconteça a busca ativa desses indivíduos,
necessidade de implementação de barreiras sanitárias para o controle implacável do
sarampo no Brasil e que se tenha campanhas apresentando a necessidade e benefícios da
imunização.
Contudo, é preciso manter os profissionais de saúde atentos aos indicativos da
doença e a vigilância epidemiológica alerta para reconhecer adequadamente os casos de
sarampo.
147 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
FARIA, S.C.R.B. & MOURA, A.D.A. Atuação de equipes da Estratégia Saúde da Família
frente à epidemia de sarampo em Fortaleza, Ceará, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde,
v. 29, p. 218, 2020.
LIMA, C.A. et al. Surtos de sarampo: políticas e providências públicas. Revista Enfermagem,
v. 16, p. 154, 2016.
148 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 14
CONTRIBUIÇÕES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA
FAMÍLIA NA EFETIVAÇÃO DA SAÚDE DO
HOMEM
Ludymila F De Amorim1, Adriele D V Silva1, Grace K L Da Fonseca1,
Francisco S A A Campelo1, Maria G A M Melo1, Eva A Lima2, Diogo B S
Saraiva3 Dean D F De Olivindo4
1
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
2
Bacharel em enfermagem pela Universidade Estadual de Maranhão, Caxias/MA
3
Bacharel em enfermagem pela Universidade Estadual Piauí, Floriano/PI
4
Docente do curso de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
Palavras-chave: Saúde do homem; estratégia saúde da família; política nacional de atenção à saúde do homem.
1. INTRODUÇÃO
149 | P á g i n a
para a seguinte questão de pesquisa: “Como a estratégia de saúde da família tem contribuído
para a efetivação da saúde do homem?”
Objetiva-se com o estudo descrever e analisar as contribuições da Estratégia Saúde da
Família na efetivação da PNAISH.
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
150 | P á g i n a
et al., 2016). Segundo Vieira et al. (2013), outros motivos pelos quais os homens não procuram
os serviços básicos de saúde são a demora no atendimento, vergonha pela exibição do corpo
para os profissionais, medo da descoberta de uma patologia grave e estereótipos de gêneros de
dificultam o autocuidado e não se identificarem alvo do atendimento.
Quando se trata da procura aos serviços de saúde na visão dos gestores das equipes de
estratégia da saúde da família, se destacam três motivos principais: a presença de doença aguda
ou crônica, busca de medicamentos, tanto prescrição quanto dispensa e situações específicas da
saúde do homem, como disfunção erétil, obstrução urinária, suspeita de câncer de próstata,
vasectomia e busca de preservativo. Já na visão dos homens entrevistados, a maioria referiu ter
buscado por atendimento no último ano pelas seguintes razões: doença aguda (inclui dor
repentina), exames de rotina e acidente. Somente um entrevistado relatou busca para exame da
próstata e nenhum para medicamento. Evidenciou-se também a procura por saúde mental.
(MOURA et al., 2014)
Existem algumas limitações que impedem a implementação da PNAISH de forma
efetiva na atenção primária, como a falta de programas específicos para a saúde do homem,
indisponibilidade de profissionais capacitados para as particularidades da saúde masculina.
(SILVA et al., 2012). Como também a deficiência de recursos materiais e humanos e falta de
interesse do próprio homem em cuidar da sua saúde. (CARNEIRO et al., 2016).
Diante disso, se faz necessário o desenvolvimento de ações na estratégia saúde da
família que melhorem a qualidade de vida da população masculina como consultas individuais,
grupos de educação em saúde que intensifique realização de exames preventivos para
neoplasias e patologias crônicas, uso de preservativos, drogas, planejamento familiar,
divulgação de exames preventivos, assistência nas empresas fora do horário de expediente,
atividades lúdicas e orientações pelos agentes comunitário de saúde (ACS) durante as visitas
domiciliares. (JULIÃO & WEIGELT, 2011).
4. CONCLUSÃO
Constata-se a partir do exposto que a estratégia saúde da família, como porta de entrada
do serviço de saúde, não tem contribuído com êxito para a efetivação da saúde do homem.
Diante desse fato ações de saúde em todos os níveis de atenção devem ser realizadas,
no intuito de reduzir as causas de morbidade e mortalidade na população masculina. É dever da
estratégia de saúde da família, como porta de entrada do serviço de saúde, garantir o acesso a
151 | P á g i n a
uma rede de atenção e linha de cuidados especializados que promova a qualidade de vida da
comunidade.
A PNAISH está aliada com a Política Nacional de Atenção Básica, porém, a população
masculina brasileira ainda busca os serviços de saúde por meio da atenção especializada. Alterar
essa realidade é fundamental, quebrando os estigmas impostos pelo modelo biomédico imposto
na cultura nacional, despertando na população masculina maior preocupação com a qualidade
de sua saúde e busca dos serviços de saúde com foco na atenção primária, para cuidados em
nível preventivo.
Tendo em vista os aspectos observados, é de fundamental importância que a estratégia
e saúde da família mude sua postura em relação a saúde do homem. Para que os resultados
sejam satisfatórios é preciso que nas unidades tenham profissionais capacitados para atender as
particularidades da população masculina e que a equipe desenvolva atividades e programas
voltados para esse público que chamem a atenção e facilitem o acesso.
152 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BARROS, J.P.P. & PEREIRA, M.A. Públicos masculinos na estratégia de saúde da família:
estudo qualitativo em Parnaíba-PI. Psicologia & Sociedade, v. 27, 2015.
CARNEIRO, L.M.R. et al. Atenção integral à saúde do homem: um desafio na atenção básica.
Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 29, p. 554, 2016.
GOMES, R. et al. Os homens não vêm! Ausência e/ou invisibilidade masculina na atenção
primária. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, p. 983, 2011.
JULIÃO, G.G. & WEIGELT, L.D. Atenção à saúde do homem em unidades de estratégia de
saúde da família. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 1, p. 144, 2011.
MOURA, E.C. et al. Atenção à saúde dos homens no âmbito da Estratégia Saúde da Família.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, p. 429, 2014.
SILVA, P.A.S. et al. A saúde do homem na visão dos enfermeiros de uma unidade básica de
saúde. Escola Anna Nery, v. 16, p. 561, 2012.
SOUSA, A.R. et al. Homens nos serviços de Atenção Básica à Saúde: repercussões da
construção social das masculinidades. Revista Baiana de Enfermagem, v. 30, p. 1, 2016.
153 | P á g i n a
VIEIRA, K.L.D. et al. Atendimento da população masculina em unidade básica saúde da
família: motivos para a (não) procura. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 17, p. 120,
2013.
154 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 15
FATORES RELACIONADOS AO ABANDONO
DO TRATAMENTO DE TUBERCULOSE
Francisca Edinária de S Borges1, Francisco Etevânio de S Borges1, Francisco
Erivânio de S Borges2, João B de Carvalho Silva2, Bruna A Gomes2, Andressa S
de Carvalho2, Kaliny V dos Santos A Pereira1, Carina N de Lima1, Samara M B
Osório de Andrade3, José de Siqueira A Júnior4, Ludiane R D Silva5, Ana Paula
R de Almeida6, Sarah M O de Carvalho7
Antônia Sylca de J Sousa8
1
Discentes de Enfermagem, Universidade Estadual do Piauí, Picos/PI.
2
Discentes de Enfermagem, Universidade Federal do Piauí, Picos/PI.
3
Enfermeira. Universidade Federal do Piauí, Picos/PI.
4
Enfermeiro. Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza/CE.
5
Enfermeira. Secretaria Municipal de Saúde de São João do Patos. SJP/MA.
6
Enfermeira. Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão. SJP/MA.
7
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
8
Docente da Universidade Federal do Piauí, Picos/PI.
1. INTRODUÇÃO
155 | P á g i n a
também em menor chance de recuperação, além de facilitar o desenvolvimento de bacilos
resistentes, podendo levar a um desfecho como multirresistência às drogas, novo abandono ou
mesmo óbito (FERREIRA et al., 2019).
Embora o tratamento seja fornecido aos pacientes acometidos pela TB de forma gratuita
e possuindo uma alta eficácia de cura, o número de casos que evoluem para óbito ainda é
bastante elevado (VIANA et al., 2018).
Dessa forma, uma das principais metas no controle da TB é a redução das taxas de
abandono ao tratamento, uma vez que a interrupção da terapêutica causa maior propagação do
bacilo e os doentes permanecem como fonte de contágio (SILVA et al., 2014).
O estudo tem como objetivo descrever os principais fatores relacionados ao abandono
do tratamento de TB entre os pacientes acometidos pela patologia.
2. MÉTODO
O estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa, que consistiu na busca de artigos
científicos baseados nos fatores que favorecem os pacientes a abandonarem o tratamento da
TB.
A busca dos artigos foi realizada no mês de maio de 2020. A pesquisa teve início com
a busca por artigos publicados entre os anos de 2014 a 2020 e indexados em duas bases de
dados, BIREME e LILACS, através do portal Biblioteca Virtual em Saúde – BVS e SciELO
feita na própria base.
Foram utilizadas para a busca dos artigos, as palavras e expressões: Tuberculose,
Abandono do tratamento e Fatores associados, disponíveis nos Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS). Na LILACS e BIREME foram pesquisados tanto como descritores, quanto
como palavras contidas no título, resumo e assunto. Na SciELO, tendo em vista as opções de
busca encontrada na base de dados, foram pesquisadas como palavras e expressões contidas no
título e resumo.
As buscas geraram uma lista de 57 artigos. Como critérios de inclusão: idioma
português, artigos que abordassem o objetivo da pesquisa, texto completo, artigo como tipo de
documento e últimos sete anos, resultando em uma seleção de 30 artigos. Com a leitura dos
títulos e resumos foi realizada uma etapa de seleção dos artigos que estavam associados
diretamente à temática de interesse, sendo excluídos, por exemplo, teses, dissertações,
monografias e estudos que não abordavam o tema proposto, assim como, estudos
internacionais. Com esse procedimento chegou-se ao número de 10 artigos.
156 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
157 | P á g i n a
Entre os pacientes que obtém cura da TB, grande parte não são alcoólatras, não possuem
diabetes, não são portadores de doença mental e não possuem nenhuma outra patologia. O que
reforça de fato que a presença de outras doenças contribui para a interrupção da terapêutica
(SILVA et al., 2014).
O estabelecimento do vínculo entre os profissionais da saúde e dos pacientes
proporciona para esses indivíduos um espaço para solucionar dúvidas e se expressar sobre o
processo da sua terapêutica, permitindo que o cliente se sinta acolhido (FURLAN et al., 2017).
4. CONCLUSÃO
158 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
ABREU, R.G. et al. Tuberculose e diabetes: associação com características sociodemográficas
e de diagnóstico e tratamento. Brasil, 2007–2011. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23,
p. 2, 2020.
RODRIGUES, D.C.S. et al. O discurso de pessoas acometidas por tuberculose sobre a adesão
ao tratamento. Ciencia y Enfermeria, v .1, p. 67, 2017.
SÁ, A.M.M. et al. Causas de abandono do tratamento entre portadores de tuberculose. Revista
da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, v. 15, p. 155, 2017.
VIANA, P.V.S. et al. Tuberculose entre crianças e adolescentes indígenas no Brasil: fatores
associados ao óbito e ao abandono do tratamento. Caderno de Saúde Pública, v. 35, p. 2, 2019.
159 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 16
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DA
HANSENÍASE NO ESTADO DO PIAUÍ NO
PERÍODO DE 2013 A 2017
1. INTRODUÇÃO
160 | P á g i n a
O diagnóstico é estabelecido pela classificação operacional dos casos. A mesma
toma por base o número das lesões na pele, até cinco ou mais de cinco lesões, classificando,
respectivamente, o caso em paucibacilar (PB) e multibacilar (MB). Quando realizada a
baciloscopia com resultado positivo, o caso é classificado como MB independentemente
do número de lesões. A negatividade do exame não exclui o diagnóstico de hanseníase e
nem classifica o caso como PB (BRASIL, 2016).
Pacientes multibacilares não tratados são provavelmente a fonte mais importante
de transmissão do M. leprae. Estima-se que os riscos de adoecer, em relação à população
geral, é duas a três vezes maior entre os comunicantes de pacientes paucibacilares, e de
cinco a 10 vezes entre os comunicantes multibacilares (RIVITTI, 2018). A prevalência
dessa doença apresenta uma distribuição heterogênea, necessitando, assim, de políticas
de controle mais especificas para cada região brasileira.
Os maiores coeficientes de prevalência de hanseníase foram observados, em
ordem decrescente, nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste (RIBEIRO et al., 2018).
As desigualdades regionais de desenvolvimento econômico e social no Brasil têm relação
histórica com a epidemiologia das doenças infectocontagiosas. As regiões Sudeste e Sul
estão no extremo socioeconômico dito favorável no país. A baixa prevalência da doença
no Sul, portanto, coincide com seu maior nível de desenvolvimento (MAGALHÃES &
ROJAS, 2007; SANCHES et al., 2007; AMARAL & LANA, 2008; ANDRADE et al.,
2013). Segundo a Organização Mundial da Saúde (2016), a ausência de novas ferramentas
de diagnósticos, novos medicamentos e a insatisfação quando à essas ferramentas
prejudicam o controle da hanseníase.
No entanto, atualmente, a realização de estudos epidemiológicos dos casos de
hanseníase tem crescido ao longo tempo, identificando o perfil epidemiológico dos
doentes, subsidiando informações importantes na elaboração de politicas e o combate ao
aumento da prevalência dessa doença. Foram realizados estudos em várias localidades do
nordeste, como Alagoas, Teresina, Fortaleza, Almerana e Tocantins (ALENCAR et al.,
2008; ARAÚJO et al., 2019; DA SILVA et al., 2019; DE ARAÚJO et al., 2011; DA
COSTA et al., 2019; DE SOUSA et al., 2019; LIMA, 2014; MONTEIRO et al., 2019).
Esses estudos contribuíram com a elaboração do perfil das pessoas afetadas.
Contudo, nessa visão, mesmo havendo alguns estudos epidemiológicos em
estados como Piauí, há sempre a necessidade da realização de mais esudos comparativos,
pois a manifestação dessa doença pode variar de acordo com a região.
161 | P á g i n a
2. MÉTODO
162 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1. Casos novos de hanseníase no estado do Piauí, notificados entre 2013 e 2017,
distribuídos por ano
25% 23%
20% 21%
19%
20% 17%
15%
10%
5%
0%
2013 2014 2015 2016 2017
163 | P á g i n a
prático para profissionais de saúde envolvendo estudantes e vários profissionais
qualificados.
Em relação a variável de gênero, embora a diferença tenha sido pequena, foi
possível observar que ocorreu maior prevalência no sexo masculino (Tabela 1). Em 2013,
o sexo masculino apresentou 416 novos casos (51%) e o feminino 399 (49%). No ano de
2014, foram registrados 535 casos (54%) em indivíduos do sexo masculino e 451 casos do
sexo feminino (46%). Em 2015, a incidência também foi maior no sexo masculino, com
52% dos casos (548) e o sexo feminino só apresentou 48% (487). Todavia, no ano de
2016, a diferença foi maior entre os percentuais, o sexo masculino notificou 57% dos
casos (506) e o feminino 43% (369). Assim como os outros, no ano de 2017 a frequência
também foi maior no sexo masculino, cerca 52% (525) e o feminino 48% (469).
Tabela 1. Prevalência dos casos de hanseníase n estado do Piauí, registrados entre 2013
e 2017, distribuídos por sexo
164 | P á g i n a
homens, nos estados de Minas Gerais, entre os anos de 1990 e 2000, e Bahia, no período
de 2002 a 2012.
Algumas possibilidades para este cenário a serem consideradas são a inserção das
mulheres no mercado de trabalho e maior preocupação com a saúde em relação aos
homens e, portanto, busca por atendimento profissional (ARAÚJO et al., 2014;
GONÇALVES et al., 2018). A Tabela 2 apresenta a prevalência de casos de Hanseníase
por faixa etária de 2013 a 2017.
Mais de 70 anos 92 11% 94 10% 127 12% 106 12% 122 12%
No ano de 2013, a faixa etária mais acometida foi a de 50 a 59 anos, com 160
notificações (21%) e as menos acometidas foi acima de 70 anos de idade 92 casos (11%).
Em 2014, a maior prevalência ocorreu entre 30 a 39 anos (19%), já a menor foi em idosos
com mais de 70 anos (10%). No ano seguinte, em 2015, o maior número de casos foi em
pessoas com faixas etária 50 a 59 anos de idade (20%) e o menor número de casos refere-
se a pacientes de até 19 anos de idade (11%). O ano de 2016 também apresentou o maior
índice de casos em indivíduos de 50 a 59 anos (20%) e o menor índice em pessoas de faixa
de idade de até 19 anos (10%). Em 2017, o maior índice de casos em foi em indivíduos de
faixa etária de 50 a 59 anos (19%) e a menor percentual foi de entre 20 e 29 anos (11%).
A análise da distribuição da idade dos casos justificados revela que 93% das
notificações, tinham 15 anos ou mais e que apenas 7% casos investigados se situavam
abaixo de 15 anos. Esse dado é importante, pois a redução de casos em menores de 15
165 | P á g i n a
anos é prioridade do Plano Nacional de Controle da Hanseníase, sendo o indicador de
eliminação da hanseníase no PAC - Mais Saúde. No entanto, uma pesquisa feita na região
Nordeste do país, no período de 2010 a 2014, demonstra que o surgimento de novos casos
em menores de 15 anos vem causando preocupações para o Programa de Controle da
Hanseníase, Dessa forma, faz-se necessário que haja monitoramento da doença nessa
faixa etária (CHAVES et al., 2017).
A partir deste resultado, é possível inferir que a população que mais sofre com a
hanseníase é a economicamente ativa, mais especificamente até 59 anos, o que pode
interferir de maneira significativa na economia do Estado, haja vista que os indivíduos
dessa faixa etária podem sofrer de males como incompetências, lesões, estados reacionais,
tendo que abdicar de atividades produtivas, gerando um custo social elevado (AMARAL
& LANA, 2008). Esta alta frequência em adultos se deve ao longo período de incubação
do bacilo, que varia de 2 a 7 anos (DUARTE et al., 2007; BATISTA, 2010; CORRÊA et
al., 2012). A falta de informação sobre a doença, do acesso ao tratamento e diagnostico e a
baixa renda familiar são fatores favoráveis para o desenvolvimento da doença. Vale
ressaltar que, na pesquisa, os adolescentes desconhecem os primeiros sintomas e, por conta
disso, não buscam o diagnóstico, resultando que o número de casos é predominante nesta
faixa etária (FERREIRA et al., 2007).
Em relação a forma clínica que leva em consideração o número de lesões dérmicas,
o presente estudo verificou uma incidência maior de casos MB (2941/62% das
notificações) comparado com a forma PB, com 1764 casos (38%) (Tabela 3). A forma MB
é considerada como fonte de transmissão da doença, pois esses pacientes eliminam uma
alta carga de bacilos (BRASIL, 2016). Em consequência, está ligada à presença de lesões
neurais e deformidades físicas (ARAÚJO et al., 2014)
Nos países com as maiores incidências mundiais - Índia, Brasil e Indonésia - há
prevalência da forma MB, com 51,27%, 68% e 84,55% respectivamente (WHO, 2016;
BRASIL, 2017). Resultados semelhantes foram relatados por Brito et al., (2016), em
análise de série histórica no município de Fortaleza (CE), que constatou o predomínio e
uma tendência de estabilidade da proporção de casos MB, e por Monteiro et al., (2019),
que verificaram uma tendência de crescimento dos casos novos MB no Tocantins. Pieri
et al., (2014), no município de Londrina (PR), encontraram prevalência de 78% de casos
sendo na forma MB e Silva et al., (2015), em Juazeiro (BA), 78,14%.
166 | P á g i n a
Tabela 3. Prevalência de casos de Hanseníase no período de 2013 a 2017, no estado do
Piauí, classificados pela classe operacional
Classe
Operacional 2013 2014 2015 2016 2017 Total
347 388 396 318 315 1764
Paucibacilar (PB)
(42.5%) (39.4%) (38.3%) (36.3%) (31.7%) (38%)
469 597 639 557 679 2941
Multibacilar(MB)
(57.5%) (60.6%) (61.7%) (63.7%) (68.3%) (62%)
Total 815 986 1035 875 994 4705
167 | P á g i n a
sobre as características epidemiológicas da hanseniase na região nordeste no estado do
Maranhão, entre 2001 a 2012, realizado por Barbosa et al., (2014). Estes autores também
encontraram, no estado, a forma clínica dimorfa como sendo a de maior ocorrência na
população. Costa et al., (2017), em análise epidemiológica dos casos novos de hanseníase
em seis municípios da Microrregião de Tucuruí (PA), entre os anos de 2010 a 2014,
constataram a maioria com forma clínica dimorfa (53,5%) entre os 1.786 casos
notificados no período. A forma indeterminada, que foi a segunda mais presente nesse
trabalho, podendo evoluir para as formas polarizadas ou para cura, tendo-se mostrado
prevalente em outras pesquisas, realizadas no Piauí (SOUSA et al., 2012) e no Pará
(CHAVES et al., 2017).
O predomínio das formas clínicas MB dimorfas é indicativo de diagnóstico tardio,
o que leva a inferir que a rede de atenção básica à saúde ainda apresenta dificuldade na
detecção dos casos nas formas iniciais da doença (BASSO & SILVA, 2017).
Este panorama epidemiológico propõe a necessidade de descentralizar as
demandas de contenção da hanseníase, bem como permitir que os profissionais estejam
mais qualificados para realizarem o diagnóstico mais adequado, contribuindo para
diminuir o quantitativo de incapacidades físicas (RODRIGUES & LOCKWOOD, 2011).
Portanto, sugere-se que a identificação dos casos deve ser feita o mais breve possível,
assim como o início imediato do tratamento, levando ao mínimo de alterações da
qualidade de vida.
Quanto ao número de lesões cutâneas, entre o período de 2013 e 2017, verificou-
se o predomínio de casos novos em pessoas que apresentaram entre duas a cinco lesões
cutâneas (1523 casos/32%), seguido por quadros epidemiológicos que apresentaram lesão
única (1285 notificações/27%), 868 casos (17%) foram com duas a cinco lesões e 991 dos
casos (20%) foram ignorados quanto essa classificação (Tabela 5).
A classificação operacional para fins de tratamento, proposta pela Organização
Mundial de Saúde e adotada pelo Ministério da Saúde, baseia-se no número de lesões
cutâneas, sendo que os casos PB são os pacientes que apresentam até cinco lesões de pele,
e os MB são os pacientes que apresentam mais de cinco lesões de pele.
No presente estudo, verificou-se que a maioria dos pacientes tinha até cinco lesões
(32%), porcentagem discordante da classificação operacional MB prevalente na pesquisa.
Resultados semelhantes foram relatados por Martins et al., (2016) em Cuiabá (MT), onde,
dos 434 casos notificados em 2013 e 2014 naquele município, 67,3% foram MB, e a
maioria (79,3%) classificada com até cinco lesões. Silva et al., (2014), em estudo
168 | P á g i n a
retrospectivo dos casos notificados no Acre, também relataram essa discordância. Moura
et al. (2017), em Belo Horizonte (MG), encontraram 94% MB e somente 57,1% com mais
de cinco lesões cutâneas.
Nervos
2013 2014 2015 2016 2017 Total
afetados
606 706 751 620 633 3316
Zero
(87%) (86%) (86%) (85%) (82%) (85%)
Menor e 83 106 118 104 126 537
igual 5 (12%) (13%) (13%) (14%) (16%) (13%)
7 7 5 6 15 40
Maior que 5
(1%) (1%) (1%) (1%) (2%) (2%)
Total 696 819 874 730 774 3893
169 | P á g i n a
Figura 2. Casos novos de hanseníase no estado do Piauí, notificados entre 2013 e 2017,
distribuídos pela Avaliação do Diagnóstico
3500 3301
3000
2500
2000
1500
1000 797
0
Grau zero Grau I Grau II Não Avaliado
Grau de incapacidade física
O diagnóstico tardio reflete que as unidades de básicas de saúde ainda não estão
totalmente preparadas, com suporte material e de profissionais qualificados, para a
realização do diagnóstico e acompanhamento das pessoas acometidas pela hanseníase
(BASSO & SILVA, 2017).
Pelo modo de detecção, como mostra a Figura 3, revela-se que a maioria dos casos
foi detectada através de encaminhamentos (52%) e demanda espontânea (35%), ou seja,
a maior parte dos casos foi diagnosticada de forma passiva, ficando muito aquém do que
seria preconizado pela OMS. A detecção por busca ativa fica representada em baixíssimo
percentual dos detectados por exame de coletividade (6%) e exame de contatos (4%).
Este fato elenca a necessidade da realização de capacitações para os profissionais,
que atuam na Atenção Primária à Saúde, uma vez que estes são os primeiros a serem
procurados pela população doente e precisam saber diferenciar a hanseníase das outras
doenças dermatológicas, facilitando assim o diagnóstico precoce. O alto percentual de
casos diagnosticados por modos de detecção passivos, nos quais o serviço de saúde não
consegue detectá-los de forma ativa, caracteriza a fragilidade nas ações de controle da
doença (LUNA et al., 2013).
O resultado dessa variável no município de estudo foi semelhante ao de Souza et
al., (2018) no estado da Bahia, que relatam que o modo de detecção predominante foi o
encaminhamento, seguido da demanda espontânea. Segundo tal estudo, a proporção de
detecção através da demanda espontânea pode significar uma resposta da população às
170 | P á g i n a
campanhas de esclarecimento sobre a hanseníase.
Figura 3. Casos novos de hanseníase no estado do Piauí, notificados entre 2013 e 2017,
distribuídos pelo Modo Detecção
ENCAMINHAMENTO 2447
Ign/Branco 60
171 | P á g i n a
(1%) foram levados para outro estado e 1 caso foi transferido para outro país.
Recidiva 144
Ign/Branco 696
Dessa forma, diagnosticou-se que essa doença apresenta uma grande incidência
no surgimento de casos novos a cada ano. O mesmo foi apontado por Macedo e Oliveira
(2012), que diagnosticaram que, quanto modo de entrada dos pacientes em seu estudo,
houve predominância no surgimento de casos novos (93,10%). Os mesmos também
notaram que houveram poucas transferências de outro serviço de saúde; e poucos casos
não identificados e além de uma baixa reincidência.
Em relação à forma de saída dos pacientes, 3378 casos (70%) não foram
preenchidos, 856 notificações (18%) foram curadas, 150 registros (3%) necessitaram de
uma transferência entre hospitais do mesmo município, 190 casos (4%) foram
transferidos de um município para outro, 49 notificações (2%) foram abandonadas pelo
Estado, ocorreram 34 óbitos (1%) e 42 casos (2%) foram abandonados (Figura 5).
A maior parte dos casos não foram preenchidos quanto ao tipo de saída. Esse fato
mostra uma dificuldade de controle das notificações por parte do estado. Todavia,
observou-se uma que uma boa parte dos casos foram curados. O estudo anterior feito por
De Lira et al., (2019) apontou que a maior parte dos casos foram curados. Todavia essa
dificuldade de controle de dados por parte do estado dificultou a comparação dos dados.
172 | P á g i n a
Figura 5. Casos novos de hanseníase no estado do Piauí, notificados entre 2013 e 2017,
registrados de acordo com o Tipo de Saída dos pacientes
Abandono 42
Óbito 34
Transf. para outro Pais 3
Tipo de saida
4. CONCLUSÃO
Ao termino do estudo, foi possivel apontar que a incidência dos casos novos de
hanseníase no estado do Piauí, apresentou maior frequência entre adultos do sexo
masculino, com faixa entre 50 e 59 anos. A forma clinica Dimorfa foi a mais comum.
Também observou-se que a maior parte dos casos apresentaram de duas a cinco
lesões. Todavia, uma grande parcela das notificações não teve o devido controle por parte
do Estado, não sendo possível saber se os casos foram curados ou evoluíram de forma
negativa.
O estudo conseguiu confirmar as suas hipóteses, além de fomentar futuras ações,
estudos, trabalhos e políticas de saúde que objetivem reduzir a incidência da hanseníase
no estado do Piauí.
Ressalta-se também que ações educativas por parte dos profissionais de saúde, a
173 | P á g i n a
exemplo dos enfermeiros e estudantes de enfermagem e técnico em enfermagem,
precisam acontecer junto a população, de diferentes faixas etárias e níveis de
escolaridade. Atividades como palestras, desenvolvimento de cartilhas e atividades
práticas nas escolas, nas unidades básicas de saúde e praças, com o intuíto de
conscientizar os indivíduos quanto a transmissão da hanseníase.
174 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
175 | P á g i n a
BRASIL, Ministério da Saúde. DATASUS. Doenças e Agravos de Notificação - De 2007 em
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180 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 17
APLICAÇÃO DO LASER DE BAIXA
INTENSIDADE NO PROCESSO DE
CICATRIZAÇÃO TECIDUAL REVISÃO
INTEGRATIVA
Ana Kelline Da S Rodrigues1, Carmen V S Vieira1, Helenilto de F
Rodrigues1, Lidiana A Costa1, Lorena de S Morais1, Marciel S Silva1,
Raquel V Araújo2
1
Discente do curso de enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
2
Enfermeira obstetra, Mestre em Ciências e Saúde -CCS/UFPI, Membro da Diretoria da Abenf/PI,
Docente do curso de Graduação em Enfermagem Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
Palavras-chave: Terapia a laser de baixa intensidade; terapia com luz de baixa intensidade; lesões.
1. INTRODUÇÃO
181 | P á g i n a
terapêutico modelador de processos biológicos por bioestimulação ou bioinibição,
dependendo da forma de aplicação (DALLAN & OLIVEIRA, 2000).
Os efeitos do LBI podem ser observados através do aumento da proliferação
celular e promoção de efeitos bioestimulantes, por exemplo, a proliferação epitelial,
angiogênese e vasodilatação, que por sua vez desempenham importante papel na
aceleração cicatricial (LIMA et al., 2018)
O efeito bioquímico está ligado à liberação de substâncias pré-formadas
(histamina, serotonina, bradicinina), que induzem a produção de ATP e inibem a
produção de prostaglandinas, levando a diminuição dos efeitos inflamatórios e
promovendo a cicatrização tecidual. Nessa situação, é preciso cautela na irradiação de
tecidos com displasia celular ativa, pois, é possível estimular o crescimento de todas as
células envolvidas (GOMES & SCHAPOCHNIK, 2017).
Neste estudo, vamos citar a aplicabilidade do LBI, já descritas em artigos
científicos da área da saúde, como exemplo a medicina, enfermagem, odontologia,
fonoaudiologia. Destacando o processo cicatricial de ferimentos, sobre efeito terapêutico
do laser de baixa intensidade. O uso do LBI tornou-se um instrumento de rotina, utilizado
no âmbito da saúde, pois o mesmo promove uma excelente ação analgésica, anti-
inflamatória e cicatrizante, como também facilita a intervenção terapêutica o mais
precocemente possível, promovendo um extraordinário prognóstico ao paciente
(DALLAN & OLIVEIRA, 2000).
O objetivo deste trabalho se deu em demonstrar a aplicabilidade do laser de baixa
potência no processo cicatricial, utilizado em diversas áreas da saúde como instrumento
adjuvante no tratamento de feridas e lesões esclarecer quais os reais efeitos do laser
terapia neste processo e suas formas mais eficazes de aplicação no ramo da saúde.
2. MÉTODO
182 | P á g i n a
pesquisas sobre determinados tópicos. É um método de revisão que está em crescimento
na enfermagem nacional e a sua contribuição na melhoria do cuidado prestado ao paciente
e familiar é inegável. A síntese dos resultados de pesquisas relevantes e reconhecidos
mundialmente facilita a incorporação de evidências, ou seja, propicia a transferência de
forma mais ágil do conhecimento novo para a prática clínica (MENDES et al., 2010).
Este estudo foi operacionalizado por meio de seis etapas as quais são estreitamente
interligadas: elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta de dados,
análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão
integrativa (SOUZA et al., 2010).
A busca na literatura foi realizada nas bases de dados Literatura Latino-americana
em ciências da saúde (LILACS) e Base de dados em enfermagem (BDENF) através do
acesso Online. Elencaram-se os descritores de acordo com os Descritores em Ciências da
Saúde (DeCs): terapia a laser de baixa intensidade, terapia com luz de baixa de
intensidade e lesões.
Estabeleceu-se uma amostra dos trabalhos levantados através de critérios de
inclusão: artigos científicos disponíveis na íntegra, em língua portuguesa, que
contemplassem a temática, publicados no período de agosto a novembro no ano de 2019.
Encontrou-se 1910 artigos e aplicaram-se os critérios de exclusão: artigos científicos que
não respondessem à questão norteadora ou que estivessem repetidos nas bases de dados.
Dessa forma, foram excluídos 1900 artigos, pois se repetiam nas bases de dados e
não respondiam à questão norteadora. A amostra final correspondeu a 10 artigos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
183 | P á g i n a
tecidual e sistêmica, idade e sexo, o que explicaria a obtenção de diferentes respostas
(ROCHA, 2004).
Os lasers de baixa potência demonstram efeitos ante edematosos e analgésicos,
estimulando a liberação de endorfinas, inibindo sinais nociceptores e controlando os
mediadores da dor; efeitos anti-inflamatórios, reduzindo o edema tecidual e a hiperemia
vascular; e efeitos cicatrizantes, acelerando a cicatrização dos tecidos lesados,
estimulando a remodelação e o reparo ósseo, restaurando a função neural após injurias
e modulando as células do sistema imune para favorecer o processo de reparo (LINS et
al., 2010).
Mesmo diante das diversas tecnologias, a cicatrização das úlceras
vasculogênicas continua sendo um desafio, uma vez que cerca de 70% delas apresentam
recidivas no Brasil o que demonstra que este tipo de ferida é difícil de curar (PETZ,
2015).
O processo de cicatrização de feridas requer um ciclo contínuo de tratamento e,
em alguns casos, por longo período, o que pode impactar negativamente a qualidade de
vida do indivíduo. Outras tecnologias têm sido utilizadas para o tratamento dessas
lesões, e uma delas é a terapia a laser e baixa potência, que tem se mostrado aplicável
no cuidado de feridas, com resultados positivos em diferentes tipos de lesões
(BAVARESCO et al., 2019).
Embora a bioestimulação promovida pelo laser de baixa potência ainda não
apresentar eficácia comprovada, a ocorrência de múltiplos efeitos bioestimulantes
mediados pelo referido laser, inclusive eventos celulares (proliferação epitelial,
endotelial e fibroblastica, elevada síntese colagênica, diferenciação dos fibroblastos em
miofibroblastos, movimentação celular dos leucócitos, fibroblastos e células epiteliais e
aumento da atividade fagocitária dos macrófagos) e vasculares (angiogênese e
vasodilatação), que desempenham importante papel na aceleração do processo de reparo
de tecidos injuriados (LINS et al., 2010).
Dados que corroboram com estudo diz que durante o processo de cicatrização
fornecem substratos para migração dos queratinócitos, para a reepitelização tecidual,
auxiliando na angiogênese e promovendo o crescimento e a maturação dos vasos
sanguíneos (PETZ, 2015).
Salienta-se, ainda, que a terapia a laser de baixa potência tem impacto positivo na
delimitação dos bordos das lesões, com melhor qualidade do processo de reparação nas
lesões tratadas com laser. Demonstrou-se também, em estudos atuais, que o laser, através
184 | P á g i n a
de sua ação de bioestimulação, modifica o comportamento celular, por este mesmo
motivo não se recomenda aplicação em região com proliferação ou displasia celular.
Os resultados encontrados no presente estudo sugerem que após o uso do LBI para
fim terapêutico aumenta a proliferação celular e promove efeito bioestimulante,
acelerando o processo cicatricial. O aparelho pode ser usado em modo continuo, mas deve
ser observado pelo profissional para a dosagem correta de luz. Tal aparelho deve
apresentar potencial abaixo de 500 MW, com dose abaixo de 35 J/cm³, sendo que altas
doses são prejudiciais.
A terapia a laser de baixa potência é rotineiramente utilizada durante tratamentos
médicos, odontológicos e fisioterápicos, pois ele possui uma excelente ação analgésica,
anti-inflamatória e cicatrizante, bem como facilita a intervenção terapêutica o mais
precocemente possível, promovendo um excelente prognóstico ao paciente
(BAVARESCO et al., 2019).
O enfermeiro é o profissional mais competente para realizar promoção da saúde,
prevenção de agravos, tratamento e diagnóstico das lesões de pele/feridas. Portanto,
instituindo um plano de cuidados de forma processual e sistematizada. A enfermagem
desenvolve um importante papel nos cuidados na assistência aos portadores de feridas,
pois a partir da sua avaliação, diagnóstico, plano de cuidados com supervisão e evolução
diária da lesão que se chega a resultados desejados na recuperação tecidual (LIMA et al.,
2018).
Apesar do laser terapia de baixa potência ser usado há mais de meio século, ainda
não há um consenso sobre um protocolo único para a aplicação clínica. Isso se deve à
variação dos parâmetros que podem ser aplicados em comprimento de onda, energia,
fluência, potência, duração do tratamento e repetição (BAVARESCO et al., 2019).
4. CONCLUSÃO
185 | P á g i n a
Necessita-se, assim, que estudos clínicos sejam desenvolvidos em diferentes
cenários, com evidências que envolvem o processo cicatricial de lesões a fim de aprimorar
o tratamento com LBI. Novos estudos são necessários para o melhor entendimento da
influência de LBI ou laser de baixa frequência sobre processos patológicos e observa-se
o quanto essa técnica terapêutica tem sido utilizada em áreas também de interesse.
Vale ressaltar que a atuação da enfermagem no tratamento de aplicação do LBI
precisa manter-se em qualificação contínua, para adquirir habilidades e competências
para uso do recurso terapêutico.
186 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ed. São Paulo: Atlas, p. 46-64, 2010.
187 | P á g i n a
PETZ. Terapia a laser na cicatrização da úlcera por pressão em adultos e idosos: revisão
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Saúde, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015. Disponível em:
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llowed=y. Acesso em: 15 nov. 2019.
188 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 18
AVALIAÇÃO DOS FATORES DE
PREDISPOSIÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DO
DIABETES MELLITUS TIPO 2 EM
ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
Joabson A De Carvalho1, Jullymária G S Alencar1, Celbe P P Franco2
1
Discentes de Enfermagem, Centro Universitários Santo Agostinho, Teresina/PI.
2
Docente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
189 | P á g i n a
falta de atividade física e a crescente prevalência da obesidade entre crianças, jovens e adultos
(YUING et al.,2019).
O DM é uma patologia considerada atualmente como umas das principais doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) do Brasil e do Mundo, acometendo as populações dos
países desenvolvidos e subdesenvolvidos sem distinção de classes sociais, podendo permanecer
por um longo período de tempo sem apresentar nenhum sintoma. As DCNT tiveram um grande
aumento no Brasil nos últimos anos e instituem 75% das causas de morte, sendo caracterizadas
como um problema de saúde pública de maior magnitude. Tem-se os principais fatores de risco
para essas doenças como, pressão arterial elevada, sedentarismo, etilismo e excesso de peso
(TONINI et al., 2018).
Estima-se que 8,8% da população mundial de 20 a 79 anos de idade, cerca de 425
milhões de pessoas vivem com diabetes, tem-se uma estimativa para 2040 superior a 629
milhões de pessoas que irão desenvolver o DM2 se persistirem com as mesmas tendências e
não mudarem seu comportamento e as suas atitudes. O DM representa hoje em dia uma
epidemia mundial, e passa a ser um grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo,
tornando-se reconhecido, em vários países como um importante e crescente problema de saúde
pública, tendo uma ligação direta com o estilo de vida e com os maus hábitos sociais e culturais
e a sua prevalência vem aumentando todos os dias.
Esse aumento está intimamente associado a diversos fatores, tais como: a hipertensão
arterial, consumo exagerado de dietas hipercalóricas, a mudanças de estilos de vida tradicional
para um estilo de vida moderna, ao sedentarismo, a falta de exercícios físicos e o excesso de
peso, gerando um ambiente adequado para o aparecimento do DM (FEDERAÇÃO
INTERNACIONAL DE DIABETES, 2017). O DM é uma patologia bastante complexa, que
afeta a qualidade de vida das pessoas chegando a reduzir o tempo delas, em mais ou menos 15
anos de vida, sendo que a grande maioria morre por complicações (LYRA et al., 2006).
Em relação ao ambiente acadêmico, vários são os fatores que podem estar relacionados
ao surgimento desta patologia. Uma associação entre o estilo de vida aderido por estes, junto
ao sedentarismo, gera um aumento de peso e obesidade. A faixa etária não está sendo mais uma
determinante crucial para DM2 neste público, pois se observa, cada vez mais, o
desenvolvimento do quadro em jovens e até adolescentes, e isso se deve, principalmente, pelo
aumento do consumo de gorduras e carboidratos aliados à falta de atividade física.
(MAGALHAES et al., 2015).
Pretende-se com esse estudo verificar os possíveis fatores de predisposição ao
desenvolvimento do DM2 em estudantes universitários a luz da literatura.
190 | P á g i n a
2. MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica pelo método revisão integrativa, que segundo
Ercole et al. (2014) tem por finalidade sintetizar os conhecimentos da literatura que são
publicadas sobre um assunto específico.
O estudo foi realizado na Biblioteca Virtual de Saúde onde estão indexadas as bases de
dados usadas nesta pesquisa: MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System
Online), LILACS (Literature Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO
(Scientific Electronic Library Online). A coleta de dados teve início em fevereiro de 2020 e se
estendeu até abril de 2020, nas bases de dados mencionadas.
Para redirecionamento de busca foram selecionados descritores disponíveis no DeCS
(Descritores em Ciências da Saúde): Fatores de Risco, Diabetes Mellitus tipo 2, Sedentarismo,
Universidade. Com cruzamento dos descritores entre si na plataforma de pesquisa por meio do
operador booleano AND. Utilizou-se como critério de inclusão os estudos que tinham entre
seus descritores “fatores de risco”, “diabetes mellitus tipo 2”, “sedentarismo”, “universidade”,
artigos em português e espanhol que abordassem a temática em estudo independentemente do
método de pesquisa utilizado; descritos na íntegra e publicados pelo menos nos últimos 10 anos.
Como critério de exclusão, optou-se por não utilizar artigos que não correspondiam ao
objeto de estudo, textos que se encontravam incompletos, artigos que não estivessem
disponíveis na íntegra online, que não forneciam informações suficientes para a temática e
aqueles que não possuíam os descritores determinados pelos pesquisadores.
Com isso foi possível encontrar os artigos para a elaboração dos resultados e discussão
da pesquisa de forma rápida e precisa (Figura 1).
191 | P á g i n a
Figura 1. Fluxograma com os resultados da seleção dos artigos
SciELO = 23
MEDLINE = 16
LILACS = 12
SciELO = 8
192 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados que aqui são apresentados foram estruturados segundo a proposta inicial
de organização dos dados conforme o formulário de classificação dos artigos: Anexo, que
propõe o Eixo 1 (Perfil das produções), para o planejamento do perfil geral e do perfil das
modalidades de pesquisa, e Eixo 2, que mostra os resultados em evidência e conclusões (o que
revelam, o que identificaram, o que concluíram) os autores das publicações.
O Quadro 1 indica a base de dados em que os artigos foram coletados, sendo que os
títulos são voltados aos objetivos propostos na pesquisa que buscam os fatores de predisposição
ao desenvolvimento do DM2 em universitários, indica também o nível de evidência de cada
artigo. Segundo Barbosa (2014) o nível de evidência representa uma abordagem onde se pode
classificar a força de evidência de um artigo científico e esta força está categorizada em cinco
níveis de evidências. Já no Manual Revisão Bibliográfica Sistemática Integrativa: a pesquisa
baseada em evidência há sete níveis, entretanto nesse estudo estamos empregando os cinco
níveis de evidência.
Quadro 1. Perfil das produções cientifica segundo o número, base de dados, títulos, autor, ano,
país, tipo de estudo e nível de evidência
Quantitativo,
Hábitos de vida de homens CAVALCANTI. Exploratório,
5 SciELO 2019 Brasil
idosos hipertensos M.V.A. et al. Descritivo
Nível III
193 | P á g i n a
Relações entre os atributos
de qualidade de atenção aos
usuários hipertensos e
FONTBONNE. Transversal
6 SciELO diabéticos na ESF e o 2018 Brasil
A. et al. Nível III
controle dos fatores
prognósticos de
complicações
Preditores e condições de
saúde associados à prática
de atividades física DUMITH. Transversal
7 SciELO 2019 Brasil
moderada e vigorosa em S.C. et al. Nível III
jovens adultos e idosos no
sul do Brasil
Fatores de risco
cardiovascular: frequência
e comparação entre LIMA. L.V. et Transversal
9 MEDLINE 2018 Brasil
estudantes universitários al. Nivel III
de enfermagem e
agronomia
Carga de diabetes no
Estudo de carga de
Brasil: fração atribuível ao FLOR. L. S.
10 SciELO 2015 Brasil doença
sobrepeso, obesidade e et al.
Nível IV
excesso de peso.
A Tabela 1 revela que o período de 2019 foi o de maior publicação de artigos (50%),
indicando a ausência no ano 2016. O ano de 2017 teve o menor percentual de artigos publicados.
Todos os artigos são específicos à pesquisa de campo, podemos afirmar que o percentual de
20% corresponde de três a oito autores em cada publicação. 80% dos artigos não indicam as
particularidades dos autores, e 10% desses artigos foram de autoria de acadêmicos e docentes
em Biomedicina e mais 10% por doutores em Psicologia.
Quando analisadas as particularidades dos autores foi notória a ausência dos
enfermeiros, entretanto pode ser que estes estejam incluídos nos grupos que não mencionaram
nenhuma particularidade dos autores que correspondem a 80% sendo este um percentual
altíssimo.
194 | P á g i n a
Tabela 1. Distribuição em percentuais e números absolutos dos artigos, de acordo com o ano
de publicação, Nº de autores, particularidades dos autores e modalidade de estudo
Variáveis Grupos Nº %
2015 2 20
2017 1 10
Ano de Publicação
2018 2 20
2019 5 50
Subtotal - 10 100
3 2 20
4 2 20
Nº de autores 5 2 20
6 2 20
8 2 20
Subtotal - 10 100
Doutora e pós-doutor em psicologia. 1 10
Particularidades Doutora, acadêmica em biomedicina, docente em 1 10
dos autores biomedicina, acadêmica em medicina.
Outros 8 80
Subtotal - 10 100
Modalidade do Pesquisa de campo 10 100
estudo
Subtotal - 10 100
195 | P á g i n a
Tabela 2. Distribuição em percentuais e números absolutos dos artigos de acordo com o tipo
de estudo, participantes, abordagem, e técnicas utilizadas para coleta de dados
Variáveis Grupos Nº %
Transversal 5 50
Observacional 1 10
Tipo de estudo Amostral 2 20
Exploratório 1 10
Estudo de carga da doença 1 10
Subtotal - 10 100
Estudantes universitários 7 60
Trabalhadores universitários 1 10
Participantes Morador adulto aleatório 1 10
Adolescentes de 12 a 15 anos 1 10
Subtotal - 10 100
QT 9 90
Abordagem QT-QL 1 10
Subtotal - 10 100
Entrevistas 2 20
Técnicas utilizadas Questionários 8 80
Subtotal - 10 100
196 | P á g i n a
Câmara (2019) e Magalhães (2015), quando dizem que a maior prevalência de fatores de risco
está no sexo masculino, Já Cavalcanti (2019), Victório (2019) e Fontbone (2018), não abordam
sobre esses fatores de risco mais prevalentes entre os sexos.
Quadro 2. Síntese das produções cientifica segundo o número, fatores de risco identificados
nos estudos e os fatores de risco que mais prevaleceram entre os universitários segundo os
autores
197 | P á g i n a
De acordo com o Quadro 2, podem-se identificar vários fatores de risco nos estudos,
que são presentes nos universitários como: a obesidade, sedentarismo, hipertensão, consumo de
dieta não saudável, sexo, idade, tabagismo a predisposição genética, histórico familiar, etilismo,
fatores comportamentais como estresse, humor deprimido ansiedade, transtorno do sono e
escolaridade. Constatou-se entre os teóricos que os principais fatores de predisposição ao DM2
são a obesidade, o sedentarismo, a inatividade física e uma alimentação não saudável.
Dumith (2019), Victório (2019) e Lima (2018), chamam a atenção para o estresse e o
padrão de sono inadequado em estudantes universitários ficando estes mais susceptíveis a
desenvolver o DM2 e a necessidade de elaborar alguma forma de ações de saúde, valorizando
as ações preventivas.
Conforme foram apontados no Quadro 2, todos os estudos comprovam que a grande
maioria das pessoas que desenvolvem o DM2 é por causa de fatores de risco que podem ser
modificáveis como: a obesidade, sobrepeso, sedentarismo, alimentação não saudável e
inatividade física.
4. CONCLUSÃO
198 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica:
diabetes mellitus / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, departamento de
Atenção Básica: Ministério da Saúde, 2014. 160p.
BARBOSA, D. et al. Enfermagem baseada em evidências. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2014.
CAVALCANTI, M.V.A. et al. Hábitos de vida de homens idosos hipertensos. Revista Gaúcha
de Enfermagem. v. 40, e20180115, 2019.
CÂMARA, S.A.V. et al. Avaliação do risco para desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2
em estudantes universitários. Revista Ciência Plural v. 5, p. 94, 2019.
DUMITH, S.C. et al. Preditores e condições de saúde associados a pratica de atividade física
moderada e vigorosa em adultos e idosos no sul do Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia,
v. 22, e190023, 2019.
FLOR, L.S. et al. Carga de diabetes no Brasil: fração atribuível ao sobrepeso, obesidade e
excesso de peso. Revista de Saúde Pública, v. 49, p. 1, 2015.
199 | P á g i n a
International Diabetes Federation. IDF Atlas. 8th ed. Disponível em: https://Diabetesatlas.
org/resources/2017-atlas.html. Acesso em: 13/10/2019.
LOPES, P.D. et al. Fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis em universitários.
Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 30, p. 1, 2017.
LIMA, L.V. et al. Fatores de risco cardiovascular: frequência e comparação entre estudantes
universitários de enfermagem e agronomia. Revista Itinerarius Reflectionis, v. 14, p. 01,2018.
SILVERTHORN, U.D. et al. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2017.
TONINI, I.G.O. et al. Percepção da saúde e estado nutricional de pacientes hospitalizados com
doenças crônicas. ABCS Health Sciences, v. 44, p. 3, 2019
VICTÓRIO, V.M.G. et al. Adolescentes com diabetes mellitus tipo 1: estresse, coping e adesão
ao tratamento. Revista Saúde e Pesquisa v. 12, p. 63, 2019.
YUING, T. et al. Hemoglobina glicada y ejercicio: una revisión sistemática. Revista médica de
Chile, v. 147, p. 480, 2019.
200 | P á g i n a
6. ANEXO
Outro ( ).
g) Se dissertação ou tese, qual IES?
201 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 19
A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO
ALEITAMENTO MATERNO NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA
Maria Assunção da Silva Lemos1
1
Graduanda em Enfermagem pelo Centro Universitário São Miguel, Recife/PE.
1. INTRODUÇÃO
202 | P á g i n a
Levando em consideração a importância quanto a interatividade entre o profissional de
saúde com a usuária, o presente estudo tem como objetivo identificar a importância do
enfermeiro no aleitamento materno na Atenção Básica.
2. MÉTODO
05
ARTIGOS
INCLUÍDOS
203 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 16 artigos ao todo, sendo que destes foram elencados 05 para
compor este estudo. Pode-se perceber que a base de dados que mais se destacou foi a LILACS,
por ter mais viabilidade como também referências técnico-científicas brasileiras em
enfermagem, que incluem periódicos conceituados da área da saúde. A seguir as publicações
foram organizadas no Quadro 1, que apresenta título, autores e ano, objetivo e resultados.
Avaliar e comparar o
conhecimento e a qualidade Somente 22 (8,2%) e 50 (18,6%) dos
Aleitamento materno: estudo
do manejo do aleitamento profissionais apresentaram desempenho
comparativo sobre o
materno (AM) entre satisfatório nos escores de conhecimento e
conhecimento e o manejo
profissionais atuantes na manejo, respectivamente, tendo os trabalhadores
dos profissionais da
Estratégia Saúde da Família da ESF melhores desempenhos, quando
Estratégia Saúde da Família
(ESF) e nas unidades básicas comparados aos profissionais do modelo
e do Modelo Tradicional
de saúde com modelo tradicional, sendo essa diferença significativa
(VASQUEZ et al., 2015)
tradicional, no Município de (p=0,05).
Rio Grande/RS, em 2012.
Identificar os empecilhos
apresentados pelas Apresentaram-se como principais empecilhos: os
Aleitamento materno
primíparas das Unidades ambientes, as crenças, o leite materno dito fraco,
exclusivo: empecilhos
Básicas de Saúde, em relação o trabalho ou a ocupação da mulher, a falta de
apresentados por primíparas
à amamentação exclusiva dos tempo, as mamas endurecidas, a pega incorreta e
(SILVA et al., 2018)
filhos nos primeiros 6 meses o bebê agitado.
de vida.
204 | P á g i n a
Verificar as ações Dentre as ações realizadas na pré-consulta a
As ações de Enfermagem no
desenvolvidas pelos aferição da pressão arterial foi de 97,7%. Quanto
Cuidado à Gestante: Um
profissionais de enfermagem às orientações realizadas pelos profissionais
Desafio à Atenção Primária
na assistência às gestantes sobre o aleitamento materno e teste do pezinho
de Saúde
em unidades de atenção constatou-se uma percentagem de 30,59% e
(GARCIA et al., 2018)
primária à saúde. 74,35%, respectivamente.
Diante dos relatos, observou-se que a qualificação dos profissionais, em especial dos
enfermeiros que atuam na atenção ao pré-natal deve ser feita de forma periódica a fim de manter
esses profissionais habilitados para garantir uma boa condição de saúde para a gestante. Visto
que durante essas consultas de pré-natal o enfermeiro passa a construir um vínculo com a
paciente e, em decorrência disso. passa a orientá-las quanto a prática da amamentação, com o
intuito de tornar esse momento na vida da mulher mais prazeroso e saudável, fazendo com que
ela passa a conhecer mais o seu corpo e suas especificidades (GARCIA et al., 2018).
Outro aspecto importante encontrado foi com relação a técnica da pega correta, pois
cabe aos enfermeiros orientar e ensinar essas mulheres para que possam estar aptas a
desempenhar essa função. Durante as consultas e visitas, se faz necessário que o profissional
observe se a mãe sente dor ao amamentar, além de perceber se o bebê se sufoca com a mama
ou faz ruídos altos de sucção. Pois estes fatores são indícios de pega inadequada e em
decorrência disso muitas vezes a mãe desiste do aleitamento materno e passa a introduzir
fórmulas (DOMINGUEZ, 2017).
Desse modo, fica evidente que para a garantia da amamentação seja vivenciada de forma
satisfatória e agradável, é necessário um profissional habilitado caminhando lado a lado com a
usuária, a fim de tornar esse caminho mais favorável.
4. CONCLUSÃO
205 | P á g i n a
negativas e possibilitar resolver as dificuldades, pois esta prática deve ser vivida de forma
tranquila e prazerosa.
206 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
SILVA, A.M. et al. Aleitamento materno exclusivo: empecilhos apresentados por primíparas.
Revista de Enfermagem UFPE, v. 12, p. 320, 2018.
TEIXEIRA, M.A. & NITSCHKE, R.G. Modelo de cuidar em enfermagem junto às mulheres-
avós e sua família no cotidiano do processo de amamentação. Texto e contexto - Enfermagem.
v. 17, p. 183, 2008.
207 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 20
AÇÃO ANTI-INFLAMATÓRIA DA PRÓPOLIS
Jussilene A Amorim1, Neusa C C A Oliveira2, Juliane M dos Santos2, Suelen R
Barbosa¹, Mireli S Oliveira¹, Viviane P Brito¹, Jamielli D B Silva², Laiane M F
Gentil¹, Mirella R F S Santos³, Francisco E C Soares4, Edenilson de Sousa5,
Juliana S Melo6, Wendesson G de Alencar³, Larissa Cristina Fontenelle7
1
Pós-graduanda em Prescrição de Fitoterápicos na Prática Clínica, UniEducacional, Teresina/PI.
2
Bacharel em Nutrição, Centro Universitário Uninassau, Teresina/PI.
³ Graduandos em Nutrição, Centro Universitário Uninassau, Teresina/PI.
4
Bacharel em Educação Física, Centro Universitário Uninassau, Teresina/PI, Membro do grupo de
Imumetabolismo do Músculo Esquelético e Exercício (GIMMEE).
5
Licenciatura em Biologia, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Floriano/PI.
6
Pós-graduada em Nutrição Clínica, Estácio de Sá, Teresina/PI.
7
Mestre em Alimentos e Nutrição, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
208 | P á g i n a
p38MAPK, e reduzir a síntese de citocinas inflamatórias e de eicosanoides (BÚBALO, 2013;
SILVA et al., 2015). Além disso, os compostos da própolis modulam a resposta imune celular,
suprimindo a ativação e diferenciação de macrófagos e o recrutamento de leucócitos
(FRANCHIN et al., 2013).
Diante da gama de doenças relacionadas ao processo de inflamação, este trabalho tem
como objetivo revisar na literatura científica os mecanismos relacionados à ação anti-
inflamatória da própolis.
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Inflamação
209 | P á g i n a
disso, esse processo pode causar a destruição dos tecidos saudáveis, sendo necessário que o
corpo estabeleça uma segunda via inflamatória mais específica, caracterizada pela produção de
anticorpos que tenham a capacidade de destruir os microrganismos que resistiram à primeira
resposta inflamatória (GLASS, 2010).
A intensidade e o tipo de inflamação irão direcionar a resposta inflamatória aos tecidos
alvos, tendo como consequência uma resposta inflamatória aguda ou processos inflamatórios
crônicos, induzindo uma modificação no processo fisiológico corporal, que resulta em
desordens de origem inflamatória como doenças cardiovasculares, alguns tipos de cânceres,
doenças intestinais, diabetes, obesidade e outros (LOCKSLEY, 2010).
Legenda: Após o agente infeccioso passar pela barreira física, as arteríolas próximas ao local da lesão têm sua
permeabilidade aumentada, acarretando na vasodilatação e liberação de líquidos, causando vermelhidão, inchaço
e dor, atraindo também células de defesa como neutrófilos e macrófagos, que englobam o agente invasor numa
tentativa de defesa na inflamação aguda. Fonte: Adaptado de Adrejuk, 2013.
3.2. Própolis
A própolis é uma mistura com característica resinosa, sendo utilizada para vedar
rachaduras das colmeias, protegendo-as contra entrada de fungos, bactérias e insetos durante o
ano todo.
210 | P á g i n a
É coletada por abelhas e apresenta uma composição variada devido às diferentes
espécies de abelhas, floras e regiões demográficas existentes. Por isso, é importante ressaltar
que a preservação das condições ambientais deve ser permanecida a fim de potencializar a
qualidade desse produto, conforme demonstra o Gráfico 1 (ABU-MELLAL et al., 2012;
NUNES, et al., 2018).
5% 5%
10%
50%
30%
A própolis tem sido utilizada desde os tempos antigos. Os egípcios se beneficiaram das
propriedades anti-putrefativas da própolis para embalsamar seus mortos; médicos gregos e
romanos a utilizavam como antisséptico e agente cicatrizante; a população inca utilizava a
própolis como agente antitérmico; e as farmacopeias de Londres do século XVII listavam a
própolis como um medicamento oficial (SFORCIN & BANKOVA, 2011).
Hoje é amplamente utilizada na indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética,
empregada como alimento funcional em forma de chás ou isolada em forma de cápsulas e
aplicação de produtos para higiene pessoal, como shampoos, sabonetes, géis, cremes e
pomadas. Ou seja, é um produto de grande utilização, podendo ser usufruída de diferentes
formas (SIMONE-FINSTROM & SPIVAK, 2010).
Como relatado anteriormente, a composição da própolis pode variar em diferentes
condições, podendo se justificar pela preferência que as espécies de abelha têm pelo perfil
químico da planta. Ou seja, a origem da composição química variante da própolis está
intimamente relacionada às preferências de fontes botânicas e das espécies e variedades de
abelhas e até mesmo o tipo de método de extração escolhido (RISTIVOJEVIĆ, 2018).
211 | P á g i n a
Dependendo das preferências e disponibilidade dos resíduos para sua produção, a
própolis pode variar em mais de 12 tipos diferentes, podendo se apresentar nas cores mais
comuns, como verde, vermelha, marrom, preta e amarela. Mas, acredita-se que a própolis verde,
típica de algumas localidades da Região Sudeste do Brasil é a mais bem avaliada no mercado
internacional, sugerindo que existe uma associação entre sua cor e sua composição química,
sendo considerada pelos estudiosos rica em ácidos fenólicos, com maior potencial anti-
inflamatório e antioxidante (COSTA et al., 2018; MOURA et al., 2013).
A identificação da composição química da própolis é feita a partir de diversos
componentes, como os flavonoides, terpenos, fenólicos e seus ésteres, açúcares,
hidrocarbonetos e elementos minerais, sendo mais de 200 substâncias que contribuem em
conjunto para sua funcionalidade farmacológica. A Figura 2 contém alguns exemplos de seus
componentes (CAPUA, 2018; OLIVEIRA et al., 2019).
Nunes et al. (2018), relataram alguns resultados com relação a dois tipos de extração de
compostos bioativos da própolis. A extração etanólica da própolis vermelha apresentou 48%
212 | P á g i n a
mais compostos fenólicos em comparação à própolis marrom e 23,89% a mais que a variedade
verde.
Comparando as extrações supercríticas em relação aos compostos fenólicos, a própolis
verde rendeu 1,7% a mais em comparação à própolis vermelha e 34,9% a mais que a própolis
marrom. Sendo assim acredita-se que o método supercrítico pode ser utilizado para melhor
conservação das propriedades da própolis, por ser uma tecnologia de extração inovadora que
utiliza como solvente uma substância em seu estado supercrítico, assegurando melhor
isolamento e obtenção de compostos seguros do ponto de vista microbiológicos.
213 | P á g i n a
codificação do TNFα, uma citocina pró-inflamatória envolvida nas fases de iniciação e
propagação da resposta inflamatória pela indução de NF k-B. Que por sua vez está envolvido
em muitos processos biológicos, como inflamação, imunidade, diferenciação, crescimento
celular, tumorigênese e apoptose (CHANG et al., 2017).
A própolis verde apresenta quantidades significativas dos compostos ativos arterpelina
C e drupanina, com características anti-inflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas (Figura
3). O mecanismo do espectro de ação biológica da artepelina C ainda não está completamente
elucidado, porém estudos demonstram que agentes fitoquímicos que apresentam semelhanças
estruturais a esta molécula, como a drupanina, interagem e modificam estruturalmente
biomembranas de células-alvo, resultando na modulação das funções de proteínas de
membranas, que possuem papel importante em processos de sinalização química e seletividade
para atuação dos compostos bioativos (PAZIN, 2016).
214 | P á g i n a
Figura 4. Estruturas químicas do vestitol e neovestitol
Legenda: Quercetina e rutina, respectivamente. Fonte: Simões et al., 2013; Nishikawa et al., 2009.
215 | P á g i n a
aproximadamente 40% da área da úlcera. Além disso, 10% das úlceras haviam cicatrizado na
semana três do estudo. A concentração de MMP-9 foi reduzida em 18,1%, assim como as
contagens bacterianas. Não foram relatados efeitos adversos.
4. CONCLUSÃO
216 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
ABU-MELLAL, A. et al. Prenylated cinnamate and stilbenes from Kangaroo Island propolis
and their antioxidant activity. Phytochemistry, v. 77, p. 251, 2012.
BÚFALO, M.C. et al. A própolis e seu ácido cafeico constituinte suprimem a resposta pró-
inflamatória estimulada por LPS, bloqueando a ativação de NF-κB e MAPK em macrófagos.
Jornal de Etnofarmacologia, v. 149, p. 84, 2013.
CHANG, R. et al. Fator de necrose tumoral α Inibição para a doença de Alzheimer. Jornal de
doenças do sistema nervoso central, v. 9, p. 117, 2017.
217 | P á g i n a
CUNHA, M.H. Composição química e atividade biológica do extrato hidroalcoolico de
própolis preta. 2018. Dissertação (Mestrado de Sistemas Agroindustriais) – Universidade
Federal de Campina Grande, Pombal, 2018. Disponível em:
<http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/handle/riufcg/880>. Acesso em: 18 jun. 2020.
FÁVARO, L.S. et al. Análise química de própolis e extrato de própolis visando a produção de
enxaguantes bucais. 2015 Disponível em:
<http://rdu.unicesumar.edu.br/handle/123456789/2604>. Acesso em: 15 jun. 2020.
GAO, W. et al. Serum antioxidant parameters are significantly increased in patients with type
2 diabetes mellitus after consumption of Chinese propolis: A randomized controlled trial based
on fasting serum glucose level. Diabetes Therapy, v. 9, p. 101, 2018.
HENSHAW, F.R. et al. Topical application of the bee hive protectant propolis is well tolerated
and improves human diabetic foot ulcer healing in a prospective feasibility study. Journal of
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221 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 21
ESTUDO RETROSPECTIVO DOS CASOS DE
RAIVA NA ESPÉCIE BOVINA (2007-2018) NA
REGIÃO SUL DO ESTADO DO PIAUÍ
Manoel L Da S Filho1, Joelson A De Sousa2, Raynnã Da S Soares2, Jackson BG
Dantas3, Cássia B Silva2, 4Manuelle R Da Silva4, Gabrielle S Batista5,
Karolynne De FM e Silva6, Antônio F Da SL Neto7, José P De C Neto8, Antônio
A NM Junior1, Denise C De Sousa1, Wagner C Lima1, Larissa MF Gonçalves1,
Glauciany S Lopes9
1
Docente da Universidade Federal do Piauí, UFPI/CPCE, Bom Jesus/PI.
2
Graduado em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Piauí, CPCE, Bom Jesus/PI.
3
Discente do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Piauí, CPCE, Bom Jesus/PI.
4
Graduada em Enfermagem, Faculdade Santo Agostinho – FSA, Teresina/PI.
5
Discente em Enfermagem, Faculdade Santo Agostinho – FSA, Teresina/PI.
6
Mestra em Zootecnia, Universidade Federal do Piauí, CPCE, Bom Jesus/PI.
7
Doutorando em Medicina Veterinária – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, USP. São Paulo.
8
Doutorando em Medicina Veterinária – Universidade Federal do Piauí, CCA, Teresina/PI.
9
Mestra em Fitotecnia, Universidade Federal do Piauí, CPCE, Bom Jesus/PI.
1. INTRODUÇÃO
222 | P á g i n a
Austrália, respectivamente, os maiores exportadores (USDA, 2016). Resende e Bitencourt
(2005) comentam que o baixo custo de produção é um dos principais fatores para o sucesso da
bovinocultura de corte, uma vez que 89% das criações de bovinos são realizadas
exclusivamente em pastagens.
Se tratando da produção leiteira, o Brasil está entre os dez maiores produtores de leite
do mundo, ocupando a quinta posição do ranking mundial, ficando atrás dos Estados Unidos,
Índia, China e Rússia. A produção anual de leite chega a 31,7 milhões de litros. Entre as regiões
brasileiras, o Sudeste se sobressai na produção de leite. Sua produção representava em 2011,
conforme dados fornecidos pelo IBGE, aproximadamente 35% de toda a produção de leite do
país (MAIA et al., 2013).
Conforme dados apresentados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), em 2010, destacou-se a importância do mercado de leite, o qual movimenta a
economia brasileira não apenas com a produção e venda do leite in natura, mas também com
toda a criação de demanda por serviços e produtos para o seu funcionamento, como: produtos
veterinários, alimentação dos animais, máquinas e equipamentos para processamento do leite,
equipamentos para transporte do leite entre outros (NOGUEIRA, 2007).
Porém ainda existem as perdas. Muitas delas ocorrem por enfermidades, acarretando em
impacto negativo na economia, podendo inviabilizar a criação desses animais. Dentre essas
doenças, a raiva, uma doença importante dentre as zoonoses, devido a sua distribuição
cosmopolita também pelas drásticas consequências para a saúde pública e animal (SANTOS et
al., 2008). Nos dias atuais, a raiva é uma doença negligenciada e continua endêmica, sobretudo
nos países em desenvolvimento, devido a limitações financeiras e/ou problemas de
infraestrutura (MORATO, 2011).
A normatização e supervisão das ações do Programa Nacional de Controle da Raiva dos
Herbívoros é realizada pela coordenação do Ministério da Agricultura Pecuária e abastecimento
– MAPA, cumpre também definições e estratégias para a prevenção e controle da raiva e outras
doenças com sintomatologia nervosa (BRASIL, 2009). Neste caso, quem se responsabiliza pela
execução e operacionalização das ações do Programa Nacional de Controle da Raiva dos
Herbívoros – PNCRH no Estado do Piauí é a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do
Piauí – ADAPI.
Diante desse contexto este trabalho foi estruturado com o objetivo de realizar um estudo
retrospectivo de casos de raiva na espécie bovina compreendida entre os anos de 2007 a 2018
no Sul do Estado do Piauí.
223 | P á g i n a
2. HISTÓRICO
2.1. Introdução
A raiva é uma doença de caráter zoonótico, causada pelo vírus Rabdovírus. Em bovinos
é o maior problema econômico e de saúde pública na América do Sul, transmitida por morcegos
hematófagos resultando em surtos cíclicos (RADOSTITS et al., 2002). A raiva é uma doença
infecciosa produzida por um vírus que afeta predominantemente os mamíferos (BEER et al.,
1988). A fonte de infecção é sempre um animal infectado, sendo o método de disseminação
sempre pela mordida de um animal infectado, embora a contaminação de feridas cutâneas pela
saliva recente possa resultar na infecção (RADOSTITS et al., 2002).
A enfermidade é mantida e perpetuada na natureza por várias espécies animais,
denominadas reservatórios, como carnívoros domésticos e silvestres ou morcegos de diferentes
hábitos alimentares (RUPPRECHT et al., 2002). Tradicionalmente, o ciclo de transmissão da
raiva pode ser dividido em dois ciclos inter-relacionados: o ciclo urbano e o ciclo silvestre
(KOBAYASHI et al., 2006). Entretanto, segundo Rupprecht et al. (2001), essa descrição muito
simplificada do ciclo silvestre e urbano não permite esclarecer a real dinâmica da doença.
Em herbívoros, a raiva pode apresentar variações no quadro clínico, e muitos dos sinais
podem estar presentes em outras doenças que causam distúrbios neurológicos. Assim, o exame
clínico não deve ser utilizado como único critério para o diagnóstico da enfermidade (MORI e
LEMOS, 1998).
2.2. Etiologia
224 | P á g i n a
detergentes, formalina a 10%, glutaraldeído a 2%, fenóis a 5%, cresóis, ácidos e bases em pH
extremos (BATISTA et al., 2007).
Para determinar as variações antigênicas do vírus rábico e elucidar as interações entre
as espécies de hospedeiros do vírus estão sendo utilizados estudos de sequenciamento genético
(QUEIROZ et al., 2012).
2.3. Epidemiologia
225 | P á g i n a
um estudo realizado do ano de 2007 a 2011 o seguinte percentual para raiva por espécies
envolvidas: os bovinos apresentaram a maior frequência de registro, com 94% dos casos, 3%
foram da espécie equina e 3% da espécie caprina.
A transmissão do vírus se dá pela saliva dos animais infectados que penetra seja por
arranhadura, mordedura e/ou lambedura (BRASIL, 2008). O vírus rábico invade o organismo
e logo após se replica nas células musculares (MATSUMOTO & KAWAI, 1982), chegando
até as terminações nervosas sensoriais e/ou motoras do tecido atingido, onde permanece se
multiplicando, com propagação no sentido centrípeto através do axoplasma dos neurônios em
direção ao SNC, na velocidade de cerca de 50 a 100 mm por dia (GERMANO, 1994).
O vírus pode ficar incubado por um período entre 25 e 90 dias. O tempo pode variar de
acordo com a espécie mamífera, dependendo da variante do vírus, da susceptibilidade e do
estado imunitário do animal, do local de mordedura, da quantidade de vírus inoculado e da
idade do animal (KOTAIT et al., 2009).
Os sinais clínicos em bovinos acometidos por essa doença são bastante variáveis e os
sinais clínicos podem ser confundidos com outras doenças do sistema nervoso central. A raiva
apresenta-se em duas formas: paralítica e a furiosa. Porém a forma paralítica é a mais observada,
o animal se isola, apresenta dificuldade para defecar, sialorreia, andar cambaleante (REIS et al.,
2003), sinais de engasgo, aumento da sensibilidade e prurido na região da mordedura,
hiperexcitabilidade e aumento da libido. Evoluindo para uma paralisia dos membros posteriores
e decúbito, os animais não conseguem mais se levantar e ocorrem movimentos de pedalagem
(PEDROSO et al., 2009), dificuldade respiratória, opistótono, asfixia e morte (RIET-CORREA,
2001).
2.5. Diagnóstico
226 | P á g i n a
sorológicas por meio do ensaio imunoenzimático (ELISA – Enzime-Linked Immunosorbent
Assay) e os testes de soro neutralização em cultivos celulares, como o teste de inibição rápida
de focos fluorescentes (RFFT– Rapide Fluorescent Focus Inhibition Test) e o teste fluorescente
de vírus neutralização. O material de eleição para o diagnóstico laboratorial inclui fragmentos
de cérebro, cerebelo e medula espinhal, parte refrigerada e parte fixada em formol (BARROS
et al. 2006).
O diagnóstico diferencial da doença inclui outras doenças do SNC como botulismo,
intoxicações, listeriose, tétano, encefalite por herpes vírus bovino-5 e poliencefalomalacia
(FERNANDES & RIET-CORREA, 2007).
2.6. Tratamento
Segundo Kotait et al. (1998), para prevenção e combate à raiva dos herbívoros se faz
necessária a implementação de ações conjuntas, como: controle de morcegos hematófagos,
vacinação sistemática de herbívoros, e educação em saúde no caso de áreas epizoóticas, a
vacinação deve ser semestral.
A prevenção ainda é a ferramenta de bastante eficácia na prevenção da doença. Em áreas
endêmicas, recomenda-se a vacinação estratégica de bovinos a partir dos três meses de idade,
com dose de reforço após 30 dias nos primo vacinados (BRASIL, 2009).
Recomenda-se a vacinação de bezerros a partir dos dois meses de idade, com o reforço
após 30 dias. É de grande importância considerar a sazonalidade da doença, procurando sempre
adentrar o período com maior probabilidade de ter incidência da raiva que é no outono, nesta
estação o rebanho deve estar imunizado (FILHO et al., 2012).
227 | P á g i n a
Como medidas de controle, são realizadas a captura e extermínio dos morcegos
hematófagos com auxílio de redes, por meio de pasta anticoagulante nos indivíduos capturados,
que logo após são liberados para retornarem a colônia desta forma atingindo também outros
morcegos presentes no abrigo. Esse trabalho compete exclusivamente ao Serviço Veterinário
Oficial, pois são equipes capacitadas, estruturadas e devidamente imunizadas. Faz parte desse
trabalho ainda o cadastramento e o monitoramento dos abrigos de D. rotundus, sendo que o
PNCRH preconiza que seja realizada pelo menos uma visita anual a cada um dos abrigos
cadastrados para monitoramento pelas equipes de controle. Alternativamente, pode ser aplicada
pasta “vampiricida” ao redor das feridas deixadas nos bovinos e equídeos pelos morcegos
hematófagos para auxiliar no controle da população, sendo esta aplicação de responsabilidade
do responsável pelos animais da propriedade rural (BRASIL, 2009).
A doença em herbívoros domésticos é de notificação obrigatória no Brasil e os
produtores rurais ou responsáveis devem comunicar ao Serviço Veterinário Oficial a presença
de abrigos com morcegos hematófagos, bem como a ocorrência ou suspeita de casos de raiva
na propriedade rural (BRASIL, 2009). Segundo Dias et al. (2011) já estão sendo propostos
modelos de levantamento qualitativo de risco para que haja direcionamento das ações de
prevenção da doença.
3. MÉTODO
228 | P á g i n a
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1. Frequência dos casos de raiva em cidades do Sul do Estado do Piauí durante o período
de 2007 a 2018, segundo dados da ADAPI
229 | P á g i n a
Ano base: 2011
Fonte: Agência de Defesa Agropecuária do Piauí (ADAPI) e Unidade de Saúde Animal e Vegetal (USAV).
230 | P á g i n a
aumento no número de subnotificações compromete o programa de controle e erradicação desta
doença (BRASIL, 2005).
A raiva transmitida pelo morcego hematófago em bovinos representa um forte impacto
negativo no desenvolvimento da pecuária brasileira. A nível mundial a repercussão da raiva são
as perdas calculadas em mais de 800 mil cabeças que equivalem a valor estimado de 17 milhões
de dólares (LIMA et al., 2005).
No geral os herbívoros participam da cadeia epidemiológica do vírus rábico como
hospedeiros acidentais, sendo sentinelas e hospedeiros terminais da doença. Contudo a
probabilidade de transmissão para outros animais é baixa (RUPPRECHT et al., 2002).
O controle da doença torna-se imprescindível nos programas de sanitização da doença,
sendo de suma importância manter o elo na cadeia chamada de “circuito de negligência”. Caso
esse círculo seja quebrado extinguirá os casos que são subnotificados, se tratando tanto de
animais como humanos, permitindo realizar uma verdadeira avaliação do impacto da doença
num determinado país, culminando em políticas de mudanças necessárias para lidar com a
doença (RABIES SURVEILLANCE BLUEPRINT, 2016).
5. CONCLUSÃO
231 | P á g i n a
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236 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 22
DISFUNÇÃO SEXUAL FEMININA NO
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Neusa C C A Oliveira1, Jussilene A Amorim2, Juliane M dos Santos¹, Suelen R
Barbosa², Mireli S Oliveira2, Viviane P Brito², Jamielli D B Silva³, Laiane M F
Gentil³, Mirella R F S Santos³, Danyele H da Silva4, Francisco E C Soares5,
Edenilson de Sousa6, Juliana S Melo7, Larissa Cristina Fontenelle8
1
Bacharel em Nutrição, Centro Universitário Uninassau, Teresina/PI.
2
Pós-graduanda em Prescrição de Fitoterápicos na Prática Clínica, UniEducacional, Teresina/PI.
³ Graduanda em Nutrição, Centro Universitário Uninassau, Teresina/PI.
4
Graduanda em Fisioterapia, Centro Universitário Uninassau, Teresina/PI.
5
Bacharel em Educação Física, Centro Universitário Uninassau, Teresina/PI, Membro do grupo de
Imumetabolismo do Músculo Esquelético e Exercício (GIMMEE).
6
Licenciatura em Biologia, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Floriano/PI.
7
Pós-graduada em Nutrição Clínica, Estácio de Sá, Teresina/PI.
8
Mestre em Alimentos e Nutrição, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
237 | P á g i n a
Dentre as diversas complicações decorrentes do Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2),
estudos reportam, desde a década de 80, uma maior prevalência de disfunção sexual em
mulheres diabéticas. A disfunção sexual constitui um grupo heterogêneo de distúrbios no desejo
e alterações físico/psicológicas em que se expressa o ciclo da resposta sexual, como uma
vivência sexual insatisfatória, sendo uma das complicações microvasculares mais frequentes no
DM2 (BARROS & FIGUEIREDO, 2014; MARQUES, 2017). Nesse sentido, observa-se a
existência de uma relação linear entre o número de patologias crônicas e o risco de problemas
do desejo, lubrificação e orgasmo (APPA et al., 2014).
Segundo Marques (2017), há uma grande variabilidade na prevalência da disfunção
sexual feminina pela justificativa de diferentes conceitos de disfunção sexual e sistemas de
classificação, além de características particulares dos grupos estudados. Ainda assim, é possível
inferir que a disfunção sexual está presente na vida de 43% das mulheres em todo o mundo. No
Brasil, segundo Estudo do Comportamento Sexual do Brasil, 49% de 1.219 mulheres
participantes reportaram pelo menos um tipo de disfunção sexual, seja por diminuição do desejo
sexual ou perturbação da excitação (BAREETO et al., 2018).
Das pesquisas existentes, a maioria relata a disfunção sexual em homens, porém há uma
necessidade de incluir as mulheres, devido as complicações ocorrerem em ambos os sexos
(PONTIROLI et al., 2013). Diante da relevância do problema de saúde pública representado
pelo DM2 e do impacto na qualidade de vida de mulheres com disfunção sexual decorrente do
diagnóstico dessa doença, este estudo tem o objetivo de revisar na literatura os mecanismos
relacionados à disfunção sexual em mulheres com DM2.
2. MÉTODO
238 | P á g i n a
prévia dos títulos e resumos, com posterior avaliação dos estudos incluídos na revisão,
incorporação das informações pertinentes obtidas de cada artigo, com discussão dessas
informações por meio de uma análise crítica.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
239 | P á g i n a
Figura 1. Eventos fisiopatológicos que levam a hiperglicemia em pacientes com diabetes
mellitus tipo 2
Os fatores de risco para DM2 são bem estabelecidos, como: idade (casos mais comuns
surgindo aos 40 anos), obesidade, sedentarismo, histórico familiar da doença, diagnóstico
prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional e presença de componentes da síndrome
metabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia (BRUNO et al., 2014).
O diagnóstico da DM2 requer critérios clínicos e laboratoriais, como: valores de
glicemia de jejum iguais ou superiores a 126 mg/dL; a presença de sintomas clássicos do DM2
e valores de glicemia iguais ou superiores a 200 mg/dL, tendo o exame sido realizado a qualquer
momento do dia; e valores de glicemia acima de 200 mg/dL no exame de 2 horas pós sobrecarga
de 75 g de glicose (SBD, 2019). O diagnóstico deve ser confirmado após repetição do exame
em outro dia. Abaixo se encontra a tabela de diagnóstico por exames laboratoriais proposta pela
OMS e adotada no Brasil (Quadro 1).
240 | P á g i n a
Quadro 1. Critérios laboratoriais propostos pela OMS para diagnóstico de normoglicemia, pré-
diabetes e DM
Glicose 2 horas
Glicose em Glicose ao Hemoglobina
após sobrecarga
jejum acaso Glicada Observações
com 75 g de
(mg/dL) (mg/dL) (HbA1c) (%)
glicose (mg/dL)
241 | P á g i n a
sexual feminina foram sendo alterados, hoje o modelo aceito é o definido pela American
Psychiatric Association (APA), classificando a disfunção sexual em: disfunção do
interesse/excitação; disfunção do orgasmo e disfunção da genitopélvica/penetração (Tabela 1)
(APA, 2014).
Disfunção do Orgasmo
Em 75-100% das atividades sexuais:
Acentuado decréscimo ou ausência de orgasmo;
Acentuada redução da intensidade das sensações orgásticas.
242 | P á g i n a
ressaltar ainda que a etiologia da disfunção sexual envolve fatores socioculturais, psicológicos,
biológicos e relacionais (Quadro 2) (APA, 2014; MCCABE et al., 2016).
Disfunção
Sexual Feminina
Com uma prevalência superior de problemas sexuais em mulheres com DM2 face à
população sem a doença, a disfunção sexual feminina no DM2 resulta da complexa interação
entre saúde física, fatores psicossociais, metabólicos e fisiológicos, podendo ser secundária aos
efeitos da hiperglicemia. O DM2 foi associado à diminuição do desejo, excitação e lubrificação
em diversos estudos, contribuindo para relações sexuais dolorosas e alterações no orgasmo,
distúrbios esses, associados a dificuldades interpessoais e estresse, diminuindo a qualidade de
vida dessas mulheres (RAMÓN et al., 2013; SHADMAN et al., 2014; FOY et al., 2016).
Além disso, estudos apontam que mulheres com mais de 40 anos já apresentam
fisiologicamente redução da lubrificação sexual, reforçando uma insatisfação pessoal que pode
gerar depressão em longo prazo. Este quadro pode ser potencializado com o diagnóstico de
DM2, uma vez que a doença possui um impacto na autoimagem das mulheres, podendo
influenciar negativamente a sua vivência social e familiar, o que pode comprometer suas
relações de intimidade e dificultar a obtenção de uma vida sexual satisfatória
(VAFAEIMANESH et al., 2014).
243 | P á g i n a
A existência de complicações advindas do DM2 em órgãos alvos contribui para a
manifestação de disfunção sexual, uma vez que o DM2 pode afetar a função sexual em mulheres
através de mecanismos como: alterações nos tecidos urogenitais que afetam a lubrificação;
diminuição do fluxo sanguíneo na região do clitóris, resultando na diminuição da excitação; e
dispareunia, dor genital persistente ou recorrente que surge antes, durante e após atividade
sexual. Estes distúrbios estão intimamente ligados à neuropatia diabética. A hiperglicemia,
como distúrbio característico do DM, foi apontada como um indicador que reduz a hidratação
das membranas mucosas, incluindo o tecido vaginal, induzindo a uma lubrificação vaginal
deficiente (AMMAR et al., 2017).
O diagnóstico de disfunção sexual feminina em pacientes com diabetes pode ser
facilmente realizado, utilizando-se testes psicométricos padronizados que permitem coleta
rápida sobre função sexual. Um exemplo é o Índice de Função Sexual Feminina (IFSF),
aplicável tanto na fase de triagem quanto no acompanhamento terapêutico de pacientes que
sofrem de distúrbios da esfera sexual. O IFSF é um questionário auto administrado de 19 itens,
desenvolvido para investigar os seis principais domínios da função sexual feminina, o desejo,
excitação, lubrificação, orgasmo, dor e satisfação (MAIORINO & ESPOSITO, 2018). O IFSF
também está disponível em sua forma curta (IFSF-6) (Tabela 2).
Nas últimas quatro semanas, como você avalia seu nível de desejo sexual ou interesse
em sexo?
5 – Muito Alto
4 – Alto
3 – Moderado
2 – Baixo
1 – Muito baixo ou nulo
Nas últimas quatro semanas, como você avalia seu nível de excitação durante a relação
sexual?
5 – Quase sempre ou sempre
4 – Muitas vezes
3 – Moderado
2 – Baixo
1 – Muito baixo ou nulo
0 – Nenhuma atividade sexual
244 | P á g i n a
Nas últimas quatro semanas, com que frequência você se sentiu lubrificada durante a
relação sexual?
5 – Quase sempre ou sempre
4 – Muitas vezes
3 – Às vezes
2 – Poucas vezes
1 – Quase nunca ou nunca
0 – Nenhuma atividade sexual
Nas últimas quatro semanas, quando você teve estimulação ou relação sexual, quantas
vezes você atingiu o orgasmo?
5 – Quase sempre ou sempre
4 – Muitas vezes
3 – Às vezes
2 – Poucas vezes
1 – Quase nunca ou nunca
0 – Nenhuma atividade sexual
Nas últimas quatro semanas, qual o seu nível de satisfação com sua vida sexual em
geral?
5 – Muito satisfeita
4 – Moderadamente satisfeita
3 – Igualmente satisfeita e insatisfeita
2 – Moderadamente insatisfeita
1 – Muito insatisfeita
Nas últimas quatro semanas, com que frequência você experimentou desconforto físico
ou dor durante a penetração vaginal?
5 – Quase sempre ou sempre
4 – Muitas vezes
3 – Às vezes
2 – Poucas vezes
1 – Quase nunca ou nunca
0 – Nenhuma atividade sexual
O uso do IFSF deve sempre ser acompanhado pelo de outros testes, visando demonstrar
o sofrimento psicológico associado à presença de disfunção sexual. Também deve ser
complementado por uma avaliação cuidadosa do estado de maturidade das características
sexuais secundárias e uma avaliação clínica geral, visando encontrar fatores de risco para
qualquer comorbidade associada. Daí a importância da assistência multiprofissional no
atendimento de pacientes diabéticas com disfunção sexual (MAIORINO & ESPOSITO, 2018).
245 | P á g i n a
3.4. Dieta Mediterrânea
4. CONCLUSÃO
Diante do exposto, a avaliação da função sexual feminina deve ser tratada como uma
atividade de rotina para mulheres com diabetes, uma vez que a patologia possui mecanismos
que podem alterar o desempenho sexual. Ainda assim, é necessária a realização de estudos
longitudinais e com metodologias que permitam abranger não só fatores fisiológicos e
psicológicos, mas também relacionais e de contexto acerca da disfunção sexual nessas pacientes
com DM.
246 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
APPA, A.A. et al. The Impact of Multimorbidity on Sexual Function in Middle-Aged and Older
Women: Beyond the Single Disease Perspective. The Journal of Sexual Medicine, v. 11, p.
2744, 2014.
FOY, C.G. et al. Blood pressure, sexual activity, and dysfunction in women with hypertension:
baseline findings from the Systolic Blood Pressure Intervention Trial (SPRINT). The Journal
of Sexual Medicine, v. 13, p. 1333, 2016.
247 | P á g i n a
IDF, International Diabetes Federation. Diabetes Atlas. 7th ed. Brussels, Belgium: International
Diabetes Federation, 2015. Disponível em: https://suckhoenoitiet.vn/download/Atla-benh-dai-
thao-duong-2-1511669800.pdf. Acesso em: 21 mai. 2020.
MAIORINO, M.I. et al. Primary prevention of sexual dysfunction with Mediterranean diet in
type 2 diabetes: the MÈDITA randomized trial. Diabetes Care, v. 39, e143, 2016.
MARQUES, N.S. Disfunção sexual feminina na diabetes mellitus tipo 2. 2017. 98f. Dissertação
(Mestrado de Psicologia) – Universidade Lusófona de Humanidades e Tacnologias, Lisboa,
2017. Disponível em: http://recil.ulusofona.pt/handle/10437/8617. Acesso em: 19 mai. 2020.
MCCABE, M.P. et al. Risk factors for sexual dysfunction among women and men: a consensus
statement from the Fourth International Consultation on Sexual Medicine 2015. The Journal of
Sexual Medicine, v. 13, p. 153, 2016.
MERCK SHARP & DOHME (MSD) Monografia do Januvia: Uma nova abordagem para o
controle glicêmico no diabetes melitus tipo 2. Lisboa, junho, 2006. Disponível em:
http://www.msd.brasil.com/assests/hcp/pdf/januvia_resumo.pdf. Acesso em: 21 mai. 2020.
OMS, Organização Mundial de Saúde. Global report on diabetes. Genebra, 2016. Disponível
em: http:// apps.who.int/iris/bitstream/10665/204871/1/9789241565257_ eng.pdf. Acesso em:
21 mai. 2020.
PONTIROLI, A.E. et al. Female sexual dysfunction and diabetes: A systematic review and
meta‐ analysis. The journal of sexual medicine, v. 10, p. 1044, 2013.
248 | P á g i n a
SANTOS, S. et al. Qualidade de vida e fatores associados na diabetes mellitus tipo 2: estudo
observacional. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, v. 31, p. 186, 2015.
SHADMAN, Z. et al. Factors associated with sexual function in Iranian women with type 2
diabetes mellitus: partner relationship as the most important predictor. Iranian Red Crescent
Medical Journal, v. 16, n. 3, 2014.
URQUIAGA, I. et al. Origin, components and mechanisms of action of the Mediterranean diet.
Revista Médica De Chile, v. 145, p. 85, 2017.
249 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 23
BIOÉTICA E CUIDADOS PALIATIVOS
Thaysla de Oliveira Sousa1, Rafael Radison Coimbra Pereira da Silva2,
Luana rocha Cabral1, Cidianna Emanuelly Melo do Nascimento3
1
Acadêmico de enfermagem na Faculdade Estácio
2
Acadêmico de enfermagem na Universidade Estadual do Piauí.
3
Doutoranda em saúde pública na Universidade Estadual do Ceará.
1. INTRODUÇÃO
2. MÉTODO
250 | P á g i n a
Os dados coletados estavam presentes em meios eletrônicos de base de dados
como a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS-BIREME) e Scientific Electronic Library
Online (SCIELO), através dos descritores “bioética” e “cuidados paliativos’’, de forma
única ou combinada.
Os critérios de inclusão adotados foram: artigos em português, que
disponibilizavam o texto completo em suporte eletrônico e que foram publicados nos
últimos 5 anos. Já como critérios de exclusão, foram consideradas teses, livros, anais de
congressos ou conferências e relatórios.
A amostra deu-se a partir da leitura do resumo dos artigos encontrados e seleção
daqueles que responderam ao problema da pesquisa Foram localizados 852 artigos que
foram analisados com precisão e evidenciaram que, para a prática dos cuidados paliativos,
é necessário além de uma competência tecno-científica um perfil humanista, com
pressuposto da dignidade humana pautada nos princípios da bioética.
Para mapeamento das produções científicas buscou-se responder à questão
norteadora: ‘Qual a ligação entre cuidados paliativos e bioética?” e uma ficha documental
constituída das seguintes variáveis: ano da publicação, nome dos autores e título. Para
análise de conteúdo efetuou-se leitura integral e exaustiva dos artigos, para transcrição
dos resultados e trechos significativos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
251 | P á g i n a
em fase terminal. Houve rejeição a uma ou mais medidas invasivas em 65% dos pacientes
e em 68% dos acompanhantes, sendo a principal delas a intubação traqueal (57,3% e
63,6%, respectivamente). 30% dos pacientes e 22% dos acompanhantes recusaram todas
as medidas invasivas apresentadas.
Pode-se então enfatizar a partir desse estudo a importância da bioética ser inserida
nos cuidados paliativos
4. CONCLUSÃO
Dessa forma a articulação entre Bioética e Cuidados Paliativos tem sido pouco
investigada na área da saúde. As instituições de ensino parecem não se preocupar com o
conhecimento dessas áreas e com a formação de profissionais que atendam às
necessidades emergentes do campo da Bioética, com ênfase em cuidados paliativos.
252 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BEAUCHAMP, T.L. & CHILDRESS, J.F. Princípios de ética biomédica. 4. ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2002.
CLOTET, J.A. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 33, 2003.
FREITAS, E.E.C. & SCHRAMM, F.R. Argumentos morais sobre inclusão/exclusão de idosos
na atenção à saúde. Revista Bioética, Brasília, v. 21, p. 318, 2011.
253 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 24
SAÚDE MENTAL E PRÁTICA DE
ATIVIDADE FÍSICA
Mara J M Costa1, Erika G Figuerêdo2, Marcela A S Nogueira3, Cláudia M
da S Vieira4
1
Professora Adjunta da Universidade Federal do Piauí, Teresina/PI.
2
Professora de Educação Física do Instituto Federal de Educação, IFPI, São João/PI.
3
Pós-Graduanda do Mestrado Ciências e Saúde da Universidade Federal do Piauí, Teresina/PI.
4
Professora de Educação Física do Instituto Federal do Maranhão, IFMA, Pedreiras/MA
1. INTRODUÇÃO
254 | P á g i n a
2. SAÚDE MENTAL E PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NA
INFÂNCIA
255 | P á g i n a
sofrem de algum transtorno mental e destaca-se ainda, o frequente aumento de casos de
transtorno alimentar e ansiedade (OMS, 2003).
Pesquisas têm revelado que um número considerável de crianças e adolescentes
chegam aos serviços de saúde por demandas relacionadas à saúde mental, sendo esse
público em sua maioria composto por indivíduos do sexo masculino, com baixo
desempenho escolar, presença de comportamentos agressivos e desobediência em casa e
na escola (SANTOS, 2006).
Estudo realizado por Garcia (2015) em todos os CAPSi do território nacional,
revelou que 29,7% dos atendimentos foram por transtornos do comportamento e
transtornos que aparecem habitualmente durante a infância ou na adolescência. Com taxas
de 23,6% para transtornos do desenvolvimento psicológico e 12,5% para retardo mental.
Uma revisão sistemática sobre a prevalência de transtornos mentais entre crianças
e adolescentes, revelou maior prevalência para os casos de depressão, transtornos de
ansiedade, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtornos por uso
de substâncias e transtornos de conduta. Para os autores, os dados possibilitam
intervenções mais direcionadas, capazes de prevenir e tratar os efeitos destes transtornos
na população infantil (THIENGO et al., 2014).
Associados aos tipos de transtornos mais frequentes em crianças vale destacar
ainda, os fatores de risco e de proteção, que definem a suscetibilidade desse público em
desenvolver problemas de saúde mental. Os fatores de risco, segundo Reppold et al.
(2002) representam condições ou variáveis que se vinculam à alta probabilidade de
ocorrência de um resultado negativo ou indesejado, destacando-se dentre esses fatores,
comportamentos que podem comprometer o estado de saúde, o bem-estar e os aspectos
sociais. Em contrapartida, os fatores de proteção, são vistos como influências que
melhoram ou alteram a resposta dos indivíduos a ambientes hostis, ou seja, diminuem a
possibilidade do indivíduo de desenvolver problemas de externalização.
Ramires et al. (2009) organizaram em categorias os fatores de risco para
problemas de saúde mental na infância. Como fatores biológicos, entendem-se as
anormalidades do sistema nervoso central, independente da causa; os fatores genéticos
são representados pelo histórico familiar de transtornos mentais; os fatores psicossociais
se constituem na relação familiar e experiências de vida e fatores ambientais, que estão
relacionados às comunidades desorganizadas.
Outros fatores que também podem estar associados ao surgimento de problemas
de saúde mental são: baixa renda, analfabetismo, desemprego, más condições de moradia
256 | P á g i n a
e acesso limitado à saúde e à educação (RAMIRES et al., 2009). O estudo de Thiengo et
al. (2014) revelou ainda que o sexo masculino, o histórico familiar de transtorno mental,
a violência familiar e comunitária e a configuração familiar representam importantes
fatores de risco para transtornos mentais na infância.
No tocante aos fatores de proteção, os autores acima referidos, defendem o
movimento como um importante fator de proteção no âmbito da saúde mental, tendo
como foco as atividades físicas de uma forma geral, mas por se tratar da infância,
revelando ainda os efeitos positivos dos jogos, brincadeiras e da ludicidade.
A necessidade de movimento é inerente ao ser humano e durante a infância faz
parte do desenvolvimento do indivíduo, contribuindo para a saúde física e
consequentemente para a saúde mental. Desta forma, praticar atividades físicas na
infância se constitui em um fator de proteção para desordens de saúde mental (SILVA &
COSTA, 2011). Complementando a ideia, Rios et al. (2011) ressaltam que praticar
atividades físicas nos momentos de lazer atenua quadros de stress, angústia e ansiedade,
reduzindo tensões e produzindo sensações positivas.
Os jogos e as brincadeiras se constituem em uma atividade de lazer presente
constantemente no cotidiano das crianças. Ressalta-se que o caráter lúdico do brincar
facilita os processos de aprendizagem, de socialização, comunicação e construção do
conhecimento, favorecendo o desenvolvimento pessoal, social e cultural, contribuindo
assim para a saúde mental (SILVA, 2015).
Winnicott (1975) defende o viés terapêutico do brincar, classificando-o como
componente primário e promotor de saúde, decorrente do seu poder de proporcionar uma
construção criativa capaz de promover o autoconhecimento. A brincadeira facilita o
crescimento e o desenvolvimento, favorecendo a saúde, ao passo que conduz aos
relacionamentos grupais, fortalecendo as formas de comunicação da criança consigo
mesma e com o outro.
Em se tratando dos efeitos benéficos da atividade física para a saúde mental de
crianças, um estudo de revisão realizado por Silva et al. (2017) evidenciou que crianças
sedentárias, quando comparadas a crianças ativas, possuem uma maior probabilidade de
desenvolver problemas de saúde mental. Entende-se dessa forma, que a realização de
atividades físicas de maneira adequada e frequente promove benefícios à saúde mental e
contribui para a redução dos fatores de risco desses transtornos na infância.
Martikainen et al. (2012) mostraram que quanto maior o tempo comprometido
com a prática de atividades físicas, menor é a probabilidade de desenvolver problemas
257 | P á g i n a
emocionais, como ansiedade e depressão, de transtornos comportamentais e de exclusão
social. Neste contexto, pesquisa realizada por Hernández et al. (2011), revelou que
crianças sedentárias eram mais frequentemente atingidas por problemas emocionais, de
conduta, de relacionamento e dificuldades de relação social, quando comparadas às
crianças mais ativas.
Associado ao sedentarismo destacam-se as investigações a respeito do tempo de
exposição às telas. Estudo de Page et al. (2010), revelou que as crianças que destinavam
duas horas do seu dia em frente à TV ou ao computador, apresentaram um risco maior
para desenvolver problemas de saúde mental. Nesta perspectiva, pesquisa de Kremer et
al. (2014), revelou que as crianças e os adolescentes que passavam mais tempo assistindo
televisão e em frente ao computador tinham maiores riscos de desenvolver depressão.
Em contrapartida, as crianças que estavam engajadas em atividades esportivas dentro ou
fora da escola apresentaram menores riscos para depressão.
No âmbito desta discussão é importante destacar a relação entre estado nutricional
e problemas de saúde mental. Estudo de Hernández et al. (2011) revelou a existência de
associação entre Índice de Massa Corporal (IMC) elevado e problemas de saúde mental.
Este achado sugere que o IMC classificado como ideal ou saudável pode ser um bom
indicador de manutenção da saúde mental em crianças. O estudo mostrou também que
crianças classificadas como obesas, utilizando como método o IMC, tinham mais chances
de passarem por algum sofrimento psíquico. O incentivo à prática de atividades físicas
no controle do sedentarismo e da obesidade beneficiará a saúde física e mental.
Diante das discussões apresentadas, fica evidente a necessidade de um olhar mais
atencioso em relação à saúde mental das crianças, tendo em vista não apenas o seu
desenvolvimento durante a infância, mas também a sua vida enquanto adolescente, adulto
e idoso. A demanda por políticas públicas sociais e de saúde para esta população, no que
tange à saúde mental, é urgente e contundente, e esta deve abarcar não apenas a gestão de
serviços públicos, mas oferecer suporte para escolas e famílias.
Pensando nos desdobramentos que podem surgir a partir dos problemas de saúde
mental identificados na infância, ressalta-se a necessidade de promover o movimento,
tanto no sentido de oferecer oportunidades de desenvolvimento físico, mental e social,
bem como prevenindo o surgimento de problemas de saúde mental na fase inicial da vida.
258 | P á g i n a
3. SAÚDE MENTAL E PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA EM
ADOLESCENTES
259 | P á g i n a
A manifestação desses sintomas ansiosos envolve, normalmente, a presença de respostas
fisiológicas, comportamentais e cognitivas nos sujeitos (GROLLI, 2017).
Um estudo relacionado a transtornos de ansiedade mostra que esta doença é uma
das mais comuns na adolescência, com prevalência girando em torno de 10 a 30%,
acometendo mais meninas (POLANCZYK & LAMBERTE, 2012).
Em outro estudo epidemiológico brasileiro realizado com adolescentes elegíveis
cadastrados em escolas selecionadas, os resultados mostraram que quase um terço dos
adolescentes de municípios com mais de 100 mil habitantes do Brasil apresentaram TMC.
A prevalência foi mais elevada no sexo feminino e nos adolescentes mais velhos. As
prevalências não apresentaram diferenças por macrorregião e tipo de escolas (LOPES,
2016). Contudo, deve-se destacar que os fatores responsáveis pela diferença nos
resultados permanecem ainda indeterminados com relação ao sexo.
A depressão é considerada um dos TMC de maior prevalência atualmente. Para a
Organização Mundial da Saúde (OMS) (OMS, 2003), a depressão é um transtorno mental
frequente que causa incapacidade de gerir respostas emocionais dificultando os desafios
da vida cotidiana, podendo ser de curta ou de longa duração. O Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5, 2014) destaca que os transtornos depressivos
se manifestam por meio de humor triste, vazio ou irritável com alterações somáticas e
cognitivas que prejudicam o indivíduo, sendo considerado seu período de duração,
momento ou etiologia presumida.
A OMS (2017) ressalta que 322 milhões de pessoas no mundo sofrem com a
depressão. No Brasil, a estatística apresentada é de 5,8% na sociedade, ou seja, afeta 11,5
milhões de brasileiros. Ainda de acordo com a OMS (2017), o Brasil é o país com o maior
índice de depressão da América Latina e o segundo em todo o continente americano,
perdendo apenas para os Estados Unidos com 5,9 % de pessoas com depressão.
Dados da literatura apontam, com frequência, sintomas comórbidos entre
depressão, ansiedade e uso de substâncias psicoativas (PFEIFER et al., 2011). Pode-se
dizer então, que as doenças mentais podem ser desencadeadas por diferentes fatores.
Na adolescência, a depressão é reportada como um transtorno que possui sinais e
sintomas, porém muitas vezes aparecem de forma isolada e silenciosa, dificultando um
diagnóstico prévio, tendo em vista que muitas vezes a depressão é confundida com
tristeza e nem sempre valorizada pela sociedade (COSTA, 2012).
A manifestação da depressão na adolescência apresenta diferenças entre os sexos.
Um estudo conduzido por Souza (1999) relata diferenças relacionadas ao sexo no que se
260 | P á g i n a
refere aos sintomas de depressão. Nas meninas, os principais sintomas são tristeza, vazio,
raiva, ansiedade e preocupação com aparência. Entre os meninos os sintomas mais
marcantes são: sentimentos de desprezo, desafio e problemas de conduta tais como:
violência, ausência nas aulas e fuga de casa. Desta forma, se fazem necessários estar
atento aos sinais e manter um diálogo mais cuidadoso por parte dos pais e professores no
sentido de identificar possíveis sintomas e encaminhar o adolescente a um especialista de
saúde mental, já que a presença de sintomas depressivos pode causar prejuízos à
qualidade de vida do indivíduo e da família (GROLLI, 2017).
A prática de atividades físicas e/ou exercício físicos se constitui em uma
ferramenta eficaz na atenuação e controle de transtornos mentais, como a ansiedade e a
depressão. Apesar de a saúde mental possuir interferência de fatores variados como, a
situação socioeconômica, alimentação, qualidade do sono, meio-ambiente dentre outros,
a prática regular de exercícios físicos e/ou atividades físicas também tem se tornado um
meio para a melhoria da qualidade de vida da população. Estudo mostrou impacto
positivo da prática de exercício físico para os indivíduos praticantes, quer ao nível da
saúde física, quer ao nível da saúde mental (DUNN et al., 2005).
Um estilo de vida ativa na adolescência deve ser incorporado, não importando se
esta prática é realizada dentro ou fora da educação física escolar, pois estas atividades
físicas vão contribuir para a saúde fisiológica (conteúdo mineral e densidade óssea),
controle do peso, melhora da interação social (apreço e tolerância entre si) além de
benefícios para o combate de algumas doenças relacionadas à saúde mental desses jovens
como (ansiedade e depressão). Consequentemente, adolescentes fisicamente ativos
podem apresentar menor risco de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta
(PIRES et al., 2004).
Como boa parte desta fase da vida, os adolescentes passam dentro da escola, esta
por sua vez, se torna uma ferramenta privilegiada para a criação de ambientes favoráveis
à saúde (TOMÉ et al., 2017). Desta forma, as escolas devem se preocupar na promoção
da saúde mental desses alunos, para que possam gerar benefícios em longo prazo para
estes. O autor acima mencionado ressalta ainda não ser este um papel exclusivo da escola,
mas um trabalho em conjunto que deve ser promovido por meio de programas preventivos
que envolvam governo, comunidade, família e escolas (TOMÉ et al., 2017). É necessário
então um comprometimento de toda a sociedade no enfrentamento das doenças mentais
por meio de políticas públicas voltadas para o bem-estar dos indivíduos.
261 | P á g i n a
Uma das formas mais viáveis para o controle do estresse (e consequentemente da
depressão e da ansiedade) é a prática de atividades físicas de leves a moderadas, incluindo
exercícios físicos regulares, com consequente melhoria da aptidão física (NAHAS, 2013).
A intensidade do exercício físico é um fator importante que deve ser levado em
consideração, visto que esta pode interferir diretamente nos benefícios para os praticantes.
A prática regular de exercício físico tem um impacto positivo no controle dos
níveis de ansiedade, por agir diretamente no funcionamento fisiológico do indivíduo,
visto que ao final de uma série de exercício físico, haverá um alívio das tensões e uma
sensação de cansaço devido à prática, que naturalmente, faz com que o corpo precise de
recuperação e descanso. Essa sensação reduzirá consideravelmente o estado de ansiedade
desses indivíduos, sem deixar de ressaltar que, ao término da atividade física existe um
aumento da produção do hormônio endorfina na corrente sanguínea e este hormônio, por
sua vez, está relacionado à sensação de prazer e de bem-estar, sensações estas que se
contrapõem a ansiedade e a depressão.
Desta forma, o hábito de praticar de exercícios físicos contribuirá de forma
preventiva ou terapêutica no controle das diferentes doenças mentais. Se constituindo em
um meio viável e prazeroso para atuar de forma eficiente no tratamento não
medicamentoso de doenças mentais, proporcionando a melhora da autopercepção e da
saúde mental, da autonomia e do aumento da resistência mental, principalmente em
indivíduos com distúrbios mentais (MACIEL et al., 2016).
Frente a estes diferentes problemas mentais que são complexos e multifatoriais,
torna-se necessário um maior acompanhamento dos alunos por todos à sua volta, além da
realização de diferentes atividades como exercício físico regular, palestras e estudos sobre
a temática, que possam alertar e fornecer orientações sobre os perigos e malefícios dessas
doenças, visando uma abordagem contínua e periódica deste conteúdo relevante para o
público adolescente.
262 | P á g i n a
Segundo Assis e Oliveira (2010), em geral, na fase da adolescência inicia-se um
ciclo vital de muitos brasileiros, a vida universitária. Segundo os autores esta é uma fase
de vivências individuais e coletivas que exige responsabilidade e sociabilidade. Fatores
como distanciamento familiar, decisões, escolhas e posturas marcam este período na vida
de muitos jovens. Essas são mudanças e exigências que podem causar prejuízos na saúde
mental desse público.
Dentre os vários transtornos mentais que são citados no Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2014), destacam-se como os mais comuns:
depressão e ansiedade. Quanto aos transtornos depressivos, o Manual ainda destaca como
característica comum, o humor triste ou irritável, juntamente com alterações somáticas e
cognitivas, diferenciando-se entre eles em aspectos como duração, momento ou etiologia
presumida (APA, 2014).
Ainda nesse contexto, dentre os diversos transtornos depressivos, destacam-se
dois: a depressão maior, que é considerada a condição clássica desse grupo de transtornos
e tem como principal característica, episódios diferentes, de pelo duas semanas de
duração, com alterações na cognição, afeto e funções neurovegetativas. Neste transtorno,
o humor deprimido é persistente e não está relacionado a preocupações ou pensamentos
específicos (APA, 2014).
Outro destaque nesta categoria de transtornos são os transtornos depressivos não
especificados, que são relacionados a sintomas que caracterizam um transtorno
depressivo e causa sofrimento clinicamente significativo ou ainda um prejuízo no âmbito
social, profissional ou em outro aspecto que seja importante na vida do indivíduo. Porém,
estão nesta categoria porque não satisfazem todos os critérios para outro transtorno na
classe dos transtornos depressivos (APA, 2014). É de suma importância identificar os
sintomas depressivos, pois quando não tratados podem evoluir para outros mais graves,
como a depressão maior.
A depressão é uma das doenças que mais causa prejuízos na qualidade de vida das
pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 264 milhões de
pessoas em todo o mundo e de todas as idades têm depressão (OMS, 2020). No Brasil, a
prevalência é de 4,4% (OMS, 2018).
Estudo realizado por Lopez et al. (2011) com 1.560 jovens de 18 a 24 anos
residentes na zona urbana de Pelotas (RS) encontrou prevalência de depressão de 12,6%,
sendo mais elevado no sexo feminino. Os autores ressaltam que a elevada prevalência de
depressão em adultos jovens é considerada um importante problema de saúde pública e
263 | P á g i n a
reforçam a importância do diagnóstico precoce para assim, terem um tratamento
adequado (LOPEZ et al., 2011).
Uma pesquisa realizada com universitários de Minas Gerais identificou
prevalência de episódios de depressão maior entre os alunos de 10,5%, com maior
prevalência no curso de Terapia Ocupacional, quando comparado com os cursos de
Fisioterapia e Medicina (CAVESTRO & ROCHA, 2006). Prevalências elevadas foram
encontradas em um estudo realizado em instituição de ensino superior do Nordeste do
Brasil em cursos da área da saúde (Biomedicina, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina e
Odontologia) (LEÃO et al., 2018). Os autores encontraram prevalência de 28,6% para
depressão e identificaram que variáveis como relacionamento familiar, quantidade
insuficiente de sono e relacionamento com os amigos e docentes e não praticar atividades
físicas mostrou aumento em duas vezes, a chance de o estudante desenvolver a depressão
(LEÃO et al., 2018).
Pode-se observar no estudo de Leão et al. (2018) que a questão social está muito
relacionada ao desenvolvimento da depressão e na fase universitária. Muitas vezes os
estudantes com grandes cargas horárias no curso e excesso de atividades acadêmicas,
podem reduzir o tempo livre e assim diminuir as atividades sociais, dependendo do
período do curso que o estudante estiver inserido.
Flesh et al. (2020) realizaram pesquisa com o intuito de avaliar prevalência e
fatores associados a episódios de depressão maior (EDM) em universitários do sul do país
e encontraram prevalência de 32% de EDM, sendo mais elevada nas mulheres com idades
entre 21 e 23 anos e com histórico de depressão na família. Fatores como orientação
sexual, uso abusivo de álcool, pior desempenho acadêmico e ser estudante da área das
ciências sociais aplicadas e humanas e da área de linguística, letras e artes, estiveram
relacionados diretamente com EDM (FLESH et al., 2020).
Tendo em vista esses achados, percebe-se a importância em ressaltar que o apoio
psicológico que muitas Universidades oferecem é fundamental. Tão importante quanto
oferecer o serviço de atenção, é incentivar os estudantes a utilizarem esse serviço,
minimizando o estigma que ainda existe para muitos jovens em procurar ajuda
psicológica.
Além dos transtornos de depressão, é muito comum encontrar entre jovens
universitários, transtornos de ansiedade, que estão diretamente relacionados com
sentimentos como medo, preocupação excessiva, apreensão, inquietação, dentre outros.
São muitas as mudanças que ocorrem diariamente e estas mudanças estão relacionadas
264 | P á g i n a
com os aspectos emocionais, culturais, políticos, socioeconômicos, podendo provocar
além de outras doenças relacionadas com a saúde mental, a ansiedade (MONDARDO et
al., 2005).
Segundo o Manual de Diagnósticos (APA, 2014), os transtornos de ansiedade
incluem aqueles que apresentam características como medo e ansiedade excessivos que
podem persistir por um tempo maior do que o apropriado para o período de
desenvolvimento. No documento é diferenciado ainda medo de ansiedade, sendo o
primeiro uma resposta emocional a uma ameaça iminentemente real ou percebida,
enquanto o segundo se refere a uma antecipação de ameaça futura (APA, 2014). É
importante ressaltar que sentir medo é normal, o que difere o medo comum do medo
patológico é a persistência desse sentimento que pode durar meses, nos casos de
ansiedade.
Nesse contexto, Prado et al. (2012) afirmam que a ansiedade pode ocorrer por
outras causas também, como: reação fisiológica natural, doenças autoimunes e disfunções
gastrointestinais. Sendo caracterizado também pelo estresse, fobias, síndrome do pânico
e outros transtornos (BRITO & FERREIRA, 2019; PRADO et al., 2012).
Pesquisa realizada com estudantes do curso de medicina na cidade de Maceió
mostrou que 37% dos avaliados apresentou nível leve de ansiedade, 36% nível mínimo,
16% nível moderado e 11% nível grave. Os autores atribuem essa baixa prevalência ao
fato de a coleta de dados ter ocorrido em um período que não estava ocorrendo provas e
trabalhos, o que difere de outros estudos da área da saúde (SANTOS JÚNIOR et al.,
2019).
Estudo realizado no Ceará com estudantes da área da saúde mostrou prevalência
elevada de ansiedade, com um percentual de 36,1%. Ter relacionamento insatisfatório
com familiares e colegas, apresentar insônia e não praticar atividades físicas constituiu-
se em fatores relacionados diretamente com a ansiedade no sexo feminino (LEÃO et al.,
2018).
Diante desses dois grandes problemas de saúde pública que acometem o público
em geral e causam prejuízos à qualidade de vida, uma forma acessível e viável tanto de
prevenção quanto de tratamento não medicamentoso é a prática de atividades físicas
regulares. Essas atividades podem ser: exercício físico sistematizado como treinamento
de força, dança, caminhada, ciclismo, atividades de lazer, etc.
Rios et al. (2011) relatam em estudo que as atividades físicas de lazer são de suma
importância no controle do estresse, da angústia e de outros transtornos mentais, pois
265 | P á g i n a
atuam como mecanismos compensatórios minimizando as tensões, causando o
relaxamento e bem-estar daqueles que as praticam. Os autores ainda reforçam que essas
atividades físicas de lazer são importantes para a saúde de adultos jovens e adolescentes
e ainda é pouco explorado pela literatura científica (RIOS et al., 2011).
Pessoas fisicamente ativas e com maior aptidão física têm melhor estado de humor
quando comparadas com aquelas sedentárias e menos aptas, sendo a prática de atividade
física relacionada com diversos benefícios psicológicos como redução da ansiedade,
depressão, melhoria do humor e bem-estar psicológico (WERNECK & NAVARRO,
2011).
Silva e Cavalcante Neto (2014) investigaram a associação entre o nível de
atividade física e os transtornos mentais comuns em 220 universitários da área de saúde
de uma universidade pública de Alagoas. Os autores observaram que os estudantes
inativos apresentaram três vezes mais chances de desenvolver os transtornos mentais
comuns quando comparados com aqueles ativos. Este resultado mostra que a graduação
pode contribuir para o surgimento de agentes estressores, como ausência de hábitos
saudáveis e pouca/inadequada atividade física durante esta fase da vida (SILVA &
CAVALCANTE NETO 2014).
Portanto, torna-se necessário ampliar ainda mais as discussões sobre saúde mental
no ambiente universitário, apontando alternativas no controle desses transtornos que
acometem os jovens nessa faixa etária, bem como alertar sobre a importância da prática
de atividade física como alternativa viável na prevenção e no tratamento de transtornos
mentais. Ressaltando que, não apenas a prática de atividade física, mas outras práticas
que possam gerar bem-estar e melhorar a qualidade de jovens em fase universitária,
também são importantes para a saúde.
266 | P á g i n a
oferta de estratégias que visem à promoção de condições dignas de vida à população
idosa, além de ampliar o acesso aos serviços de saúde (ORSANO, 2016; BRUNS & DEL-
MASSA, 2007).
A expectativa de vida da população aumentou significativamente. De acordo com
Barbosa et al., (2014), em 1940 a expectativa de vida ao nascer era de aproximadamente
45,5 anos de idade. Este panorama modificou-se consideravelmente até o ano de 2012,
alcançando uma média de 74,1 anos. Com diferença perceptível em relação à expectativa
de vida segundo o sexo, os homens apresentam expectativa de vida de 70,6 anos, enquanto
as mulheres de 77,7 anos.
Este fenômeno teve início nos países desenvolvidos e posteriormente acentuou-se
rapidamente pelos países em desenvolvimento. Isto se deve ao avanço das tecnologias na
medicina, do acesso à alimentação e melhora no acesso aos serviços de saúde, entre
outros.
O aumento da expectativa de vida é um aspecto positivo, porém, não basta apenas
viver, é importante viver mais e viver bem. Como ressaltam Veras e Oliveira (2018), é
importante viver desde que se consiga agregar qualidade aos anos adicionais de vida. No
Brasil, conforme Miranda et al. (2016), até o ano de 2010, havia uma proporção de 39
idosos para cada grupo de 100 jovens, todavia, as estimativas projetam que por volta de
2040, haverá 153 idosos para cada 100 jovens.
Essas mudanças constatadas no perfil demográfico brasileiro tiveram início a
partir de 1970, com a inversão de uma sociedade majoritariamente rural e tradicional,
composta por famílias numerosas e expostas a alto risco de morte na infância, passando-
se a uma sociedade principalmente urbana, com número de filhos reduzidos e uma nova
estrutura social familiar (LEONE et al., 2010).
Projeções demográficas da população no Brasil foram descritas por (MIRANDA
et al., 2016). Conforme os autores, o número de idosos com 60 anos de idade ou mais
passará de 1.234.176 em 1920 para 54.204.894 até 2040. Isto representa um crescimento
significativo do envelhecimento populacional do Brasil, fato que demanda atenção em
todos os aspectos relacionados à assistência e à qualidade de vida.
O organismo envelhece desde o nascimento e as mudanças ocorrem em todos os
sistemas constituintes do corpo humano. Este passa por constantes transformações no
decorrer de todo o percurso da vida, alcançando um pico máximo de desempenho por
volta dos 30 anos de idade. A partir dos 40 anos de idade, inicia-se um processo lento e
imperceptível de desaceleração das funções físicas e fisiológicas, que vai se tornando
267 | P á g i n a
mais acentuado a cada década vivida (ATALLA, 2012). Essas modificações físicas e
fisiológicas em processo de regressão marcam a fase do envelhecimento humano.
As transformações acerca do envelhecimento ultrapassam o plano físico e
adentram em diversos aspectos que cercam a vida humana. Como destacado por Vieira et
al. (2019), o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo caracterizado por
transformações físicas e alterações fisiológicas. Por sua vez, o declínio das capacidades
físicas e fisiológicas inerentes ao envelhecimento contribui para a instabilidade e
diminuição das capacidades funcionais do idoso, e consequentemente, para a regressão
da autonomia de um modo geral (BARBOSA et al., 2014).
A funcionalidade pode ser entendida como a capacidade que uma pessoa possui
para desempenhar determinadas atividades ou funções, utilizando-se de diversas
habilidades para a realização de interações sociais, ocupações domésticas, atividades de
lazer e em outros comportamentos requeridos em seu dia-a-dia (MACIEL, 2010). Neste
sentido, a capacidade funcional, normalmente referida como qualidade necessária à
autonomia do idoso, é entendida como o potencial que os idosos possuem para planejar e
executar atividades de forma independente, dispondo de habilidades necessárias para
executar tarefas cotidianas (ARAÚJO et al., 2019). Em contrapartida, a incapacidade
funcional refere-se à dificuldade em executar tarefas ou à necessidade do auxílio de
terceiros para o desempenho de tarefas do dia-a-dia.
O envelhecimento é também um processo acompanhado por alterações
biopsicossociais que predispõem o indivíduo à redução da capacidade de adaptação ao
meio ambiente, maior vulnerabilidade e agravos à saúde (MARTINS et al., 2018). Como
parte inerente ao período de envelhecimento, é comum a ocorrência de alterações nos
aspectos neurais e cognitivos. Como evidenciado por Almeida et al. (2018), ao tempo que
o indivíduo envelhece, decorrem alterações dos processos neurofisiológicos que podem
levar à neurodegeneração das estruturas e funções do sistema nervoso central.
De uma maneira global, a saúde da pessoa idosa sofre declínio à medida que a
idade vai aumentando. Este processo ocorre numa dinâmica individual para cada pessoa,
visto à diversidade de fatores que possuem relação com a saúde.
A saúde do sujeito idoso, entendida por esse aspecto ampliado do conceito de
saúde compreende um conjunto de fatores tais como, o acúmulo de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT), condições socioeconômicas e ambientais, acesso aos serviços de
saúde, autonomia funcional, alimentação adequada, perdas de familiares e amigos, entre
outros.
268 | P á g i n a
O idoso, ao logo do percurso da vida, vai vivenciando, alegrias e conquistas,
vitórias e derrotas, mas também perdas de diversos modos. Perdas de familiares, de
amigos e da própria autonomia física e funcional. Somado a tudo isso, o sentimento de
envelhecer pode ser assustador, uma vez que esta fase pode ser muitas vezes associada à
fase final da vida ou entendida como um momento de aproximação da morte (SIMÕES,
1998).
Diversos fatores podem estar relacionados a eventos da vida estressante e estes
são agentes potencializadores de desordens físicas, sociais e emocionais (ORSANO,
2016). Estes podem ser de natureza externa: situações adversas ao meio, perda de
emprego, morte de entes queridos, violência doméstica, entre outros. Bem como podem
se constituir em consequências internas: depressão, problemas de aprendizagem, baixa
autoestima, medo etc (CARVALHO et al., 2016). Todos os fatores se somam, gerando
um quadro de mal-estar que pode avançar para a instalação da depressão e outras doenças
emocionais associadas.
Como reforçam Borim et al. (2013), paralelo ao aumento da expectativa de vida
dos idosos, crescem as prevalências de doenças crônicas, os riscos de limitações físicas,
de perdas cognitivas, de declínio sensorial e de propensão a acidentes e a isolamento
social. O isolamento social por si só, se constitui em fator de risco para a depressão. Este
pode ser também o resultado das perdas de autonomia funcional e da capacidade de o
idoso lidar com as experiências negativas ao longo da vida. Além da instalação de outras
doenças.
As experiências de vida negativas, as perdas e os medos associados a outros
fatores podem desencadear desequilíbrio nas funções emocionais da pessoa idosa e
favorecer ao desequilíbrio da saúde mental. Na perspectiva da psicologia positiva ou
holística, a saúde mental inclui a capacidade de um indivíduo de apreciar vida e
vislumbrar o equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência
psicológica (CARVALHO, 2010).
A saúde mental dos idosos se torna comprometida à medida que a idade vai
avançando, mas também depende de fatores genéticos, ambientais, acesso aos serviços
de saúde e das experiências ao longo da vida. Como consequência do envelhecimento do
sistema nervoso, além do decréscimo da condição física, ocorre a deterioração da saúde
mental dos idosos. Dentre as principais doenças mentais prevalentes na população idosa,
destacam-se a demência, estados depressivos, transtornos ansiosos, quadros psicóticos e
269 | P á g i n a
depressão. A depressão é considerada como o mais importante problema de saúde mental
nessa faixa etária (BORIM et al., 2013).
Cordeiro et al., (2020) destacam que a doença mental faz parte do grupo das
DCNT e inserem-se no grupo das patologias de ordem neuropsicológicas e/ou transtornos
mentais, causando ao indivíduo acometido maior grau de incapacidade e
comprometimento em sua qualidade de vida.
Os transtornos mentais representam aproximadamente 12% da carga total de
doenças no Brasil. De acordo com Almeida et al. (2018), pesquisas demostram que as
prevalências de TMC no Brasil, podem variar entre 29,6% a 47,4%. Indivíduos de idade
avançada apresentam maiores prevalências de TMC.
A depressão é a doença mental mais comum em pessoas idosas. Como destacado
por Santos (2019) e Teixeira et al., (2016) em revisão da literatura, a predominância da
população idosa com idade mais elevada tende a ter maior facilidade de desenvolver
alguma deficiência no quadro psicológico, devido a problemas pessoais, perda da
capacidade funcional, diminuição de concentração, sentimento de abandono, perdas
familiares e perda da memória, problemas que ficam cada vez mais acentuados.
Sob esse aspecto, se torna fundamental ampliar o conhecimento sobre a qualidade
de vida de idosos e seu funcionamento psicossocial, uma vez que limitações biológicas,
perdas cognitivas e afetivas e isolamento maximizam a vulnerabilidade desse público ao
surgimento da depressão e prejudicam sua qualidade de vida, comprometendo sua
funcionalidade, gerando dependência social, podendo se manifestar no plano emocional
(GATO et al., 2019).
Estratégias não medicamentosas são essenciais para a proteção e promoção da
saúde e da qualidade de vida dos idosos. Pesquisas indicam que idosos inseridos em
grupos sociais de um modo geral apresentam melhor auto percepção de saúde, melhor
estado de saúde e nível de qualidade de vida mais elevada (GATO et al., 2018; VIEIRA
et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2019; CRUZ et al., 2020).
A prática de exercícios físicos e de atividades físicas generalizadas ou de lazer
representa uma estratégia não medicamentosa de impacto positivo na prevenção e/ou no
tratamento de doenças mentais em idosos. A prática de exercícios físicos e de atividades
físicas gerais e de lazer é recomendada tanto para a prevenção quanto como coadjuvante
no tratamento de doenças mentais em todas as faixas etárias.
Porém, mais importantes para populações de idosos, visto que possibilita a
ampliação dos vínculos sociais, maximiza a capacidade funcional em detrimento da
270 | P á g i n a
melhora do desempenho das capacidades motoras, e promove o relaxamento pela
produção de endorfinas e serotoninas (SANTOS, 2019; TEIXEIRA et al., 2016).
A prática de atividades físicas de um modo geral se mostra eficaz em diversos
aspectos relacionados à saúde da pessoa idosa, com destaque para os aspectos físico,
psicológico e social (MACIEL, 2010). Um fator possui interdependência com outro.
Neste sentido, como reflexo da melhoria dos aspectos físicos pela ampliação no
desempenho dos componentes da aptidão física e potencialização do desempenho da
capacidade funcional, ocorre em paralelo a melhora da autonomia e do estado de bem-
estar, atuando positivamente sobre os aspectos psicológicos. Por sua vez, com a
ampliação da capacidade funcional e potencialização da autonomia e do estado de bem-
estar, o idoso sente-se motivado para as interações sociais. Esse ciclo é de fundamental
importância para a qualidade de vida do idoso.
A efetiva participação em grupos sociais e a prática de atividades físicas coletivas
se constituem em ferramenta fundamental para a saúde mental e a qualidade de vida dos
idosos. Como descrito por Oliveira et al., (2019) a prática de atividades físicas deve ser
incentivada pelos familiares, visto que esta contribui para a qualidade de vida e reduz os
sintomas de ansiedade e depressão em idosos.
Dentre os benefícios obtidos pela prática de atividades físicas, Maciel (2010)
destacou em revisão da literatura, a redução da ocorrência de demência, melhora da
autoestima e da autoconfiança, diminuição da ansiedade e do estresse e melhora do estado
de humor e da qualidade de vida.
É importante atentar para um critério que deve ser estabelecido em relação à
prática de exercícios físicos e/ou atividades físicas para o idoso. A prática deve ter
continuidade. Santos (2019) verificou relação significativa na prática de atividade física
como terapia não farmacológica no tratamento da depressão e na redução dos sintomas e
escores da mesma. A autora concluiu que esta prática deve ser realizada de forma
sistematizada, contínua e não esporádica, em intensidade leve a moderada para que se
obtenham potenciais benefícios.
Uma investigação correlacionou a prática de atividades físicas e a depressão em
idosos e concluiu que quanto mais ativo for o idoso, menores são os sintomas da
depressão e vice versa. O estudo analisou também a relação da frequência da prática de
atividades físicas com a autoestima e concluiu que os idosos que praticam duas a três
vezes por semana apresentaram níveis mais acentuados de autoestima, enquanto os que
praticam uma vez por semana atingiram os níveis inferiores (TEIXEIRA et al., 2016).
271 | P á g i n a
Conforme descrito por Gato et al., (2018), os diferentes profissionais que atuam
junto ao público idoso, devem incentivar a inclusão destes em programas de atividades
físicas como estratégia de cuidados e valorização social, oferecendo apoio psicossocial
às suas famílias para minimizar complicações clínicas, expandir a qualidade de vida e
fortalecê-los para um maior nível possível de autonomia.
Investigação conduzida por Branco et al., (2015) analisou os efeitos de um
programa de treinamento de 72 aulas composto por exercícios aeróbicos (marcha e
corrida), de força e flexibilidade e concluiu que a participação no programa de marcha e
corrida durante 6 meses foi eficaz na melhora da saúde física e psicológica do idoso.
A prática de atividades físicas e de exercícios físicos tem sido utilizada em grande
escala como forma de intervenções não farmacológicas na prevenção e promoção da
saúde do idoso, bem como no tratamento de vários tipos de distúrbios associados à doença
mental. A maioria dos estudos nessa vertente orienta para a prática de exercícios e/ou
atividades aeróbicas, conforme descrito por Santos (2019) e Branco et al., (2015). Outros
autores salientam que a prática de atividades físicas gerais e de lazer em centros sociais
específicos para atenção ao idoso também é um fator relevante para aumentar a qualidade
de vida dos mesmos (OLIVEIRA et al., 2019; GATO et al., 2018).
A prevenção se faz com o movimento, reforça Quintanilha (2002). Conforme o
autor, o movimento garante o desempenho das funções corporais e isso acontece também
com o cérebro. O movimento corporal promove a perfusão no cérebro, tornando-o mais
ativo e gerando mais inteligência. Os movimentos corporais dinâmicos desempenham um
papel fundamental nas funções cerebrais, uma vez que potencializam as reações químicas.
De acordo com Quintanilha (2002), os exercícios dinâmicos aumentam a
produção de endovallium, que auxilia na manutenção da calma, no controle dos medos e
na qualidade do sono; aumenta a produção de endorfinas que são responsáveis pelo prazer
do corpo e da mente e estão associadas no controle da depressão; aumenta os níveis de
serotonina que atua na memória e na inteligência; acentua a produção de dopamina, um
neurotransmissor que está relacionado ao humor e ao prazer.
Assim, para ter boa saúde é fundamental ter o hábito da prática de exercícios
físicos. Os exercícios dinâmicos incluem as atividades aeróbicas, dança, atividades
recreativas dinâmicas, caminhadas, pedaladas, natação, hidroginástica, exercícios
funcionais etc.
Os exercícios aeróbicos e as atividades dinâmicas são em essência, fundamentais
para a saúde física e mental, mas é importante destacar que o treinamento da força, da
272 | P á g i n a
flexibilidade, da coordenação motora e do equilíbrio é essencial para a manutenção e
melhoria da capacidade funcional e da qualidade de vida do idoso. O importante é manter-
se ativo. O corpo foi criado para o movimento e para mantê-lo saudável é preciso estar
em constante atividade.
O esforço para garantir a melhoria da saúde mental dos idosos é uma tarefa que
envolve uma gama de profissionais das diversas áreas (saúde, assistência social, direito,
etc.), instituições públicas de ensino, comunidade científica, órgãos responsáveis pela
atenção e de promoção à saúde.
273 | P á g i n a
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281 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 25
DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO DE
SEGURANÇA DO PACIENTE NOS SERVIÇOS
DE ATENDIMENTO ÀS URGÊNCIAS
Juliana Do N Sousa1, Maria Clara S Fonseca1, Hiasmim O Sousa1, Camila
De M C Viana2, Amanda Karoliny M Resende3, Bianca Anne M De Brito4
1
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Teresina/PI.
2
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Teresina/PI.
3
Enfermeira pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Residente em Enfermagem Obstétrica pela
Universidade Federal do Piauí – UFPI. Teresina/PI.
4
Enfermeira e Mestre pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Doutoranda em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí – UFPI. Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o tema Segurança do Paciente (SP) vem sendo amplamente
discutido para a busca da melhoria da qualidade da assistência à saúde, pois riscos e
incidentes decorrentes do cuidado de saúde expressam uma preocupação mundial. No
Brasil, é possível observar um movimento em prol da qualidade e da SP nos serviços de
saúde, como exemplo, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP),
representando um avanço enquanto política pública (SANTOS et al., 2019).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define SP como a redução do risco de
dano desnecessário a um mínimo aceitável, associada ao cuidado de saúde (ANVISA,
2013). Em 2006, a OMS criou, na Joint Commission International (JCI), as seis metas
internacionais de SP, as quais têm como propósito criar mecanismos e ações que
melhorem a segurança do paciente. As metas são: identificar os pacientes corretamente;
melhorar a comunicação entre os profissionais; melhorar a segurança dos medicamentos
de risco; eliminar cirurgias em membros ou pacientes errados; reduzir o risco de adquirir
infecções e o risco de lesões decorrentes de quedas (ALVES & MELO, 2019).
Os serviços de saúde têm sido pressionados de diversas formas a utilizar diferentes
tecnologias, para garantir a qualidade da assistência e a SP, desde sua admissão até a alta.
282 | P á g i n a
Para isso, tornam-se necessários o acolhimento adequado, a identificação correta do
paciente, valorizar a humanização e as relações entre usuário e profissional de saúde, a
comunicação, o conforto dos acompanhantes e uma assistência com enfoque na segurança
do paciente, em especial nos cuidados medicamentosos (SANTOS et al., 2016).
O processo de trabalho em serviços de urgência é atrelado à execução de inúmeros
procedimentos, com interrupções contínuas das atividades e à sobrecarga de trabalho,
condições que refletem na qualidade do atendimento ofertado. Somam-se a isso outros
fatores como, por exemplo, insuficiência de recursos materiais, físicos e de processos
operacionais para a assistência, o que compromete a segurança dos usuários, podendo
resultar em eventos adversos, ou seja, incidentes que causam danos ao paciente, e também
de erros, negligências, falhas e omissões do processo de assistência (PAIXÃO et al.,
2018). Ademais, a maioria de tais incidentes danosos ao cliente são passíveis de serem
evitados (VALLE et al., 2017).
A SP é internacionalmente reconhecida como uma dimensão fundamental da
qualidade em saúde e está na agenda de pesquisadores de todo o mundo. No entanto, sua
ausência é um problema crescente e, apesar dos avanços em escala global de pesquisa que
objetivam o seu melhoramento, ainda há lacunas quando se trata dos serviços de
atendimento às urgências, uma realidade não presente apenas no Brasil, mas também no
cenário internacional (SANTOS et al., 2019).
Nesse contexto, este estudo teve como objetivo buscar na literatura quais as
dificuldades existentes na implantação da SP em serviços de atendimento às urgências.
2. MÉTODO
283 | P á g i n a
segurança do paciente e Contexto os serviços de saúde em especial nas emergências. Para
a inclusão dos artigos foram considerados produções publicadas nos últimos cinco anos,
em inglês, português e espanhol, disponíveis na íntegra. Com isso, foram encontrados 27
artigos. Como critérios de exclusão, optou-se por não incluir artigos que não condiziam
com a temática, repetidos, e não disponíveis na íntegra. Restando nove produções., as
análises das publicações ocorreram em maio de 2020, período no qual foi realizado todo
o levantamento.
Os estudos encontrados e que se adequavam aos critérios e objetivos propostos
foram analisados e categorizados conforme as características comuns, sendo divididos
em duas categorias temáticas: “Falhas na identificação e na assistência de pacientes nos
atendimentos de urgência e emergência” e “Erros no processo de terapia medicamentosa”.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos dias de hoje, os serviços de saúde têm voltado seus esforços para assegurar a
qualidade e a segurança da assistência prestada ao paciente. Para tanto, é preciso que haja
um acolhimento apropriado, identificação correta do cliente, além do diálogo entre os
284 | P á g i n a
profissionais e trabalho em equipe. Tudo isso deve ser feito para fornecer ao paciente um
cuidado humano e eficaz (ALVES & MELO, 2019).
Aliado a isso, tem-se a necessidade de conhecer o cliente, a fim de proporcionar
uma assistência mais humanizada. Entretanto, a rotina dos profissionais pode ser um
empecilho para tal prática. Por exemplo, nos serviços de urgência, o profissional de
enfermagem enfrenta problemas como o excesso de trabalho, desgaste psicológico e
físico, número exacerbado de pacientes, aumento da jornada de expediente e
infraestrutura deficiente. Tais fatores implicam diretamente na prestação de cuidados ao
paciente (ZAMBONIN et al., 2019).
Segundo estudo realizado por Paixão et al. (2018), em Unidades de Pronto
Atendimento (UPA) houve quebra de uma das metas de SP: a identificação. De acordo
com os autores o não uso das pulseiras de identificação e a não fixação de placas no leito
podem favorecer a troca entre os tratamentos dos pacientes, sujeitando-os a erros
perigosos.
Atrelado a isso, a identificação incorreta ou ausente pode provocar incidentes. Um
exemplo é a falta de identificação quanto às alergias a medicamentos. Nesse caso, a
devida identificação é importante para de evitar efeitos adversos que podem ser fatais.
Para isso, é preciso identificar corretamente o risco de alergia, mas também incluir o
paciente nesse processo ao questionar o histórico clínico, a fim de conhecer o cliente e
evitar falhas no atendimento (PAIXÃO et al., 2018).
Consoante a Pagliotto et al. (2016), devido à alta procura por atendimentos de
urgência e emergência no Brasil, foi criada a Portaria nº 2048 na tentativa de organizar a
demanda de cuidados e pacientes. Isso ajuda a avaliar o estado do paciente e definir
prioridades nos atendimentos. Neste contexto, o enfermeiro é responsável pela execução
da Classificação de Risco, a qual deve ser praticada mediante conhecimento técnico-
científico. Todavia, os autores apontam que ainda é preciso investir em melhorias e
intervenções eficazes, haja vista a necessidade de aperfeiçoar o serviço e reduzir a
superlotação. Quanto aos profissionais de enfermagem, foi apontada a indispensabilidade
de capacitação para qualificar o acolhimento e, dessa forma, proporcionar uma avaliação
adequada a cada cliente e melhorias no atendimento (PAGLIOTTO et al., 2016).
Somado a tais problemas, ainda se tem a possibilidade de ocorrerem outros
eventos adversos. Pode-se mencionar, por exemplo, as infecções relacionadas a saúde,
que ocorrem nos serviços de saúde ao redor do mundo. A baixa adesão à higiene das mãos
tem inúmeros motivos. Em unidades de pronto-socorro, por exemplo, as condições de
285 | P á g i n a
trabalho implicam na efetivação de uma higiene adequada. Condições como superlotação,
baixo dimensionamento de pessoal, limitação de materiais, além da rotina incessante e
quase sem pausa estão atreladas às infecções causadas pela higiene ineficaz das mãos, o
que também prejudica a manutenção da SP (ZOTTELE et al., 2017).
286 | P á g i n a
como suas causas, para que, então, medidas assertivas sejam tomadas e a SP aumente
(VALLE et al., 2017).
4. CONCLUSÃO
287 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
PAIXÃO, D.P.S.S. et al. Adhesion to patient safety protocols in emergency care units. Revista
Brasileira de Enfermagem, v. 71, p. 577, 2018.
288 | P á g i n a
VALLE, M.M. F. et al. Incidentes com medicamentos em unidade de urgência e emergência:
análise documental. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 51, 2017.
289 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 26
CONSIDERAÇÕES SOBRE VITAMINA D EM
MEIO À PANDEMIA DE COVID-19
Lidiane P De Albuquerque1, Raniella B Da Silva2, Regina M S De Araújo1
1
Docente do Departamento de Bioquímica e Farmacologia, Universidade Federal do Piauí, Teresina/PI.
2
Discente de Nutrição, Universidade Federal do Piauí, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
290 | P á g i n a
pacientes (80%) foi diagnosticada com pneumonia leve ou assintomática, o que representa
grandes desafios para a disseminação da COVID-19 (ZHOU et al., 2020).
O contato próximo com indivíduos infectados, assintomáticos ou clínicos de COVID-
19 aumenta o risco de infecção. Um monitoramento de um conjunto de casos de COVID-19 na
China sugeriu a possibilidade de transmissão viral indireta sem histórico de estreito contato
físico com pacientes infectados. A transferência viral é possível através de objetos
contaminados comuns, aerossolização viral em espaço confinado ou a partir de portadores
assintomáticos (CAI et al., 2020).
O distanciamento social ajuda a evitar o contato próximo com indivíduos sintomáticos
e assintomáticos. A identificação rápida, a detecção de casos, o isolamento social e o tratamento
adequado podem conter a disseminação comunitária do SARS-CoV-2. As condições
metabólicas do hospedeiro também determinam o curso clínico e os efeitos da COVID-19
(CASCELLA et al., 2020).
Considerando a pandemia de COVID-19, em que não existe nenhum medicamento
preventivo e curativo eficaz até o momento, um sistema imunológico saudável é uma das armas
mais importantes. Existem várias vitaminas e oligoelementos essenciais para o funcionamento
normal do sistema imunológico (SCHUETZ et al., 2019). Além disso, a suplementação destes
nutrientes demonstrou impacto positivo no aumento da imunidade em infecções virais. A
suplementação das vitaminas A e D e de selênio, por exemplo, aumentou a imunidade umeral
de pacientes após a vacinação contra influenza (GUILLIN et al., 2019; PHAN et al., 2020). A
suplementação com altas doses de zinco mostrou melhora no sistema imune de pacientes com
Torque Teno Vírus (IOVINO et al., 2018). Além dos micronutrientes, várias ervas e probióticos
também demonstraram eficácia no tratamento e prevenção de infecções virais (ADAMS et al.,
2020; CACCIALANZA et al., 2020; MOUSA, 2017).
A forma biologicamente ativa da vitamina D (1,25-di-hidroxivitamina D ou calcitriol),
conhecida como a “vitamina do sol”, tem sido requerida em várias doenças inflamatórias,
infecciosas e pulmonares. De fato, evidências experimentais indicam que o calcitriol exerce
efeitos protetores contra lesões pulmonares induzidas por lipopolissacarídeos, modulando a
expressão da enzima de conversão da angiotensina II (ECA2) (XU et al., 2017).
Considerando a crescente disputa sobre a relação entre mortalidade/morbidade em
pacientes com COVID-19 e o uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2)
e bloqueadores dos receptores da angiotensina, parece prudente considerar também como a
variação interindividual do status da vitamina D poderia estar envolvida no processo de
inflamação pulmonar e patogenicidade viral. Curiosamente, dados emergentes postulam que a
291 | P á g i n a
vitamina D pode ser um complemento para gerenciar o mecanismo pró-inflamatório ou a
"tempestade de citocinas" observada em pacientes com COVID-19 (GRANT et al., 2020;
HRIBAR et al., 2020: PATEL & VERMA, 2020).
Diante dos surtos da COVID-19, encontrar métodos alternativos para reduzir o risco e
a gravidade da doença é fundamental. Neste capítulo, trazemos relatos que considerem a
deficiência de vitamina D como um fator significativo da suscetibilidade à COVID-19.
Também discutimos se a suplementação de vitamina D pode fornecer um meio de beneficiar a
proteção contra COVID-19.
2. MÉTODO
As pesquisas foram feitas nas bases de dados PubMed e Science Direct voltadas para a
publicação de artigos científicos, no idioma inglês, que retrataram sobre infecções virais,
coronavírus, COVID-19 e vitamina D. Foram selecionados artigos publicados entre os anos
2003 e 2020.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. COVID-19
Desde dezembro de 2019, uma grave infecção viral aguda, envolvendo principalmente
o sistema respiratório, surgiu com rápida transmissão para mais de um milhão de pessoas em
todo o mundo em poucos meses. Denominada COVID-19 pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) (OMS, 2020), a doença de caráter pandêmico resultou em uma grande crise no sistema
de saúde. O patógeno da COVID-19 foi atribuído ao SARS-CoV-2, um novo betacoronavírus
estreitamente relacionado ao coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 1 (SARS-CoV-
1) (ROTHE et al., 2020).
SARS-CoV-2 é um vírus altamente contagioso e possui genoma constituído por RNA
de fita simples e senso positivo. Ao contrário do que se observa nos resfriados comuns, a
morbidade e a modalidade de transmissão da COVID-19 parecem mais graves e incontroláveis
(MADJID et al., 2020). A lesão pulmonar primária e as complicações cardiovasculares
subsequentes constituem a fisiopatologia chave dessa doença mortal (GENG et al., 2020).
Estruturalmente, o SARS-CoV-2 possui quatro proteínas principais: a glicoproteína
spike (S), a envelope (E), a membrana (M) e a nucleocapsídeo (N), além de várias outras
292 | P á g i n a
proteínas acessórias. A spike se projeta na superfície do vírion e facilita a ligação deste às
células hospedeiras, através da interação com a ECA2 (GUO et al., 2020). Ao entrar nas células
epiteliais alveolares, o SARS-CoV-2 se replica rapidamente e desencadeia uma forte resposta
imune, resultando em “tempestades de citocinas” (ou hipercitocinemia) e danos no tecido
pulmonar.
A hipercitocinemia corresponde a um conjunto de distúrbios caracterizados pela
produção descontrolada de citocinas pró-inflamatórias e são importantes causas da síndrome do
desconforto respiratório agudo (SDRA) e falência múltipla dos órgãos. No processo de entrada
na célula-alvo, o SARS-CoV-2 se liga ao receptor ECA2, a qual é amplamente expressa em
vários órgãos e tecidos, incluindo os sistemas cardiovascular, digestivo e urogenital, além do
trato respiratório. Portanto, os pacientes com COVID-19 não apenas apresentam problemas
respiratórios, como pneumonia, levando à SDRA, mas também podem manifestar distúrbios
cardíacos, renais e digestivos (PHADKE & SAUNIK, 2020).
SARS-CoV-2 é o sétimo membro da família de coronavírus (CoV) que infecta seres
humanos. Quatro CoVs humanos (HCoV-229E, HCoV-NL63, HCoV-OC43 e HCoV-HKU1)
são capazes de causar uma ampla gama de infecções do trato respiratório superior (resfriado
comum), enquanto SARS-CoV-1 e coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio
(MERS-CoV) são responsáveis por pneumonia atípica (CHEN et al., 2020).
As causas das diferentes formas de infecção provavelmente estão relacionadas à
presença da dipeptidil-peptidase 4 (DPP4) e da ECA2 no trato respiratório inferior, os quais são
os principais receptores das células humanas para glicoproteína spike do MERS-CoV e do
SARS-CoV-1, respectivamente (COCKRELL et al., 2014). Adicionalmente, a sequência
genética da spike do SARS-CoV-2 é 80 % homóloga à de SARS-CoV-1 (GRALINSKI &
MENACHERY, 2020; ZHOU et al., 2020).
Considerando o crescente número de casos confirmados e as evidências de transmissão
de humano para humano, a infectividade de SARS-CoV-2 parece ser mais forte que a do SARS-
CoV-1. O exame ultra-estrutural do SARS-CoV-2 por microscopia crioeletrônica demonstrou
que a afinidade de ligação do SARS-CoV-2 à ECA2 parece ser de 10 a 20 vezes maior que a
do SARS-CoV-1, explicando estruturalmente por que o SARS-CoV-2 possui uma alta
propagação (PHADKE & SAUNIK, 2020).
Todas as populações são suscetíveis à SARS-CoV-2. Os idosos e as pessoas com
comorbidades ou imunocomprometidas têm maior probabilidade de se tornarem casos graves
(CHEN et al., 2020; HUANG et al., 2020). Além disso, grávidas e recém-nascidos infectados
com SARS-CoV-2 também são propensos a desenvolver pneumonia grave. Portanto, pacientes
293 | P á g i n a
vulneráveis devem ser considerados como foco na prevenção e no tratamento da COVID-19
(CHEN et al., 2020).
Os sintomas da infecção por COVID-19 começam a aparecer após um período de
incubação de 5-6 dias (LI et al., 2020), indicando um longo período de transmissão de SARS-
CoV-2. Estima-se que a latência de SARS-CoV-2 seja consistente com a de outros CoVs
humanos conhecidos, incluindo SARS-CoV-1 (média de 5 dias, intervalo de 2 a 14 dias) e
MERS-CoV (média de 5 a 7 dias, intervalo de 2 a 14 dias) (LIU et al., 2020). Adicionalmente,
foi relatado que pacientes assintomáticos com COVID-19, durante seus períodos de incubação,
podem efetivamente transmitir o SARS-CoV-2 (QUILTY et al., 2020; ROTHE et al., 2020).
WANG et al. (2020) relataram que o período entre o início dos sintomas da COVID-19 e a
morte varia entre 6 e 41 dias com uma média de 14 dias.
É pertinente mencionar que os sintomas em infecções anteriores por betacoronavírus,
como tosse seca, dispneia e febre, são semelhantes na COVID-19 (HUANG et al., 2020). Mais
importante, a COVID-19 mostrou características clínicas únicas, como atingir as vias aéreas
inferiores, como é evidenciado por sintomas como dor de garganta, rinorreia e espirros
(HUANG et al., 2020; HUI et al., 2020). Além disso, com base nos resultados das radiografias
de tórax, verificou-se que alguns casos possuem infiltrado no lobo superior do pulmão
associado ao aumento da dispneia e hipoxemia (PHAN et al., 2020). Pacientes com COVID-19
podem ainda apresentar sintomas gastrointestinais, como diarreia e vômito. Portanto, é
extremamente necessário o desenvolvimento de métodos que identifiquem os diferentes modos
de transmissão, como amostras fecal e de urina, para estabelecer estratégias de inibir e/ou
reduzir a transmissão e desenvolver terapêuticas para o controle da doença. É importante notar
que pacientes com sintomas leves podem mostrar apenas febre baixa, fadiga leve e sem
pneumonia e que pacientes graves e críticos também podem apresentar apenas febre baixa, ou
mesmo não manifestar febre evidente (WANG et al., 2020).
O diagnóstico de COVID-19 requer a coleta de amostras dos tratos respiratórios superior
(amostras naso e orofaríngeas) e inferior, incluindo escarro expectorado, aspirado endotraqueal
ou lavagem broncoalveolar. A Reação em Cadeia de Polimerase da Enzima Transcriptase
Reversa (RT-PCR) tem sido o procedimento padrão utilizado para identificar a sequência
genômica do vírus (LOEFFELHOLZ & TANG, 2020).
Pacientes no estágio inicial de COVID-19 podem ter uma contagem total reduzida de
glóbulos brancos e de linfócitos e valores aumentados de lactato desidrogenase, de enzimas
musculares e da proteína C reativa. Em pacientes críticos, o dímero D do biomarcador
trombogênico pode aumentar, a contagem de linfócitos no sangue diminui persistentemente e
294 | P á g i n a
as alterações laboratoriais nos biomarcadores da lesão de múltiplos órgãos se tornam
proeminentes (GENG et al., 2020).
SARS-CoV-2 ataca principalmente o sistema respiratório, caracterizado clinicamente
pelo rápido desenvolvimento de pneumonia e, em casos graves, a síndrome do desconforto
respiratório agudo e a síndrome da disfunção múltipla dos órgãos (HUANG et al., 2020). A
taxa de mortalidade permanece alta nos internados em terapia intensiva e sob ventilação
mecânica devido às complicações de insuficiências respiratória e cardíaca (DU et al., 2020).
No entanto, ainda não está claro se a lesão de órgãos e tecidos em pacientes com COVID-19 é
consequência direta ou indireta da infecção pelo vírus (GENG et al., 2020).
Diversas intervenções de saúde pública têm sido implementadas para evitar ou retardar
a transmissão da COVID-19; isso inclui o isolamento dos casos, a identificação e a vigilância
de contato, a desinfecção de ambientes e o uso de equipamentos de proteção individual (WEI
& REN, 2020).
Atualmente, não há terapia antiviral eficaz e específica para COVID-19 e vários
medicamentos antivirais estão sendo avaliados. No entanto, ensaios clínicos randomizados,
com amostras maiores são necessários para determinar a segurança e eficácia desses novos
medicamentos e orientar a decisão clínica. O tratamento é sintomático e os pacientes com
infecção grave recebem oxigenoterapia. Nos casos de insuficiência respiratória, é necessária a
ventilação mecânica, enquanto o suporte hemodinâmico é importante para o tratamento do
choque séptico (HUANG et al., 2020).
Como ainda não há vacina para prevenir a COVID-19, a melhor prevenção para a
população em geral é evitar a exposição ao vírus (OU et al., 2020). As medidas de prevenção e
controle de infecção que podem minimizar o risco de exposição incluem o uso de máscaras
faciais; evitar tocar no nariz, na boca e nos olhos com as mãos não higienizadas; em caso de
tosses e espirros, cobrir a face com tecidos que possam ser descartados com segurança; lavar
regularmente as mãos com sabão ou desinfetá-las com desinfetante para as mãos com álcool a
70% e manter a maior distância possível ou evitar o contato com pessoas infectadas (HAMID
et al., 2020). A OMS divulgou recomendações detalhadas sobre o uso de máscaras faciais na
população, durante o atendimento domiciliar e nos serviços de saúde (OMS, 2020). As equipes
de saúde são aconselhadas a usar respiradores com filtros de partículas durante a condução de
procedimentos de geração de aerossóis e a usarem máscaras cirúrgicas ao fornecer qualquer
tipo de tratamento para os casos suspeitos ou confirmados (HAMID et al., 2020).
295 | P á g i n a
3.2. Vitamina D
296 | P á g i n a
25(OH)D são < 25 nmol/L (10 ng/mL) e inadequados/insuficientes se os níveis forem < 75
nmol/L (30 ng/mL); enquanto > 75 nmol/L é considerado um nível saudável. A alta prevalência
da deficiência de vitamina D (< 10 ng/mL) é um problema de saúde mundial e urgente, pois a
hipovitaminose D é vista como um fator de risco independente para a mortalidade geral.
A deficiência de vitamina D pode aparecer quando, por um período prolongado: a) o
consumo regular estiver inferior aos níveis recomendados, b) o contato com a luz solar for
mínimo, c) os rins não forem capazes de gerar a forma ativa da vitamina D ou d) a absorção
intestinal desta vitamina estiver prejudicada. A insuficiência de vitamina D é atribuída à baixa
exposição ao sol, o qual é a fonte de UVB necessária para induzir a síntese de vitamina D na
pele. Adicionalmente, variações sazonais, condições climáticas, latitude, raça, pigmentação da
pele e idade também podem influenciar os níveis plasmáticos de 25(OH)D (HOLICK, 2009).
A suplementação de vitamina D pode ser utilizada como profilaxia, pois parece reverter
algumas alterações do sistema imunológico associadas à sua deficiência, principalmente em
indivíduos com deficiência mais grave (JIMÉNEZ-SOUSA et al., 2018). A deficiência de
vitamina D tem sido associada a um risco aumentado de infecções respiratórias, tais como
infecção pelo vírus sincicial respiratório, tuberculose e influenza. No entanto, estudos
sugeriram que atingir e manter níveis adequados de vitamina D pode melhorar os resultados
clínicos de doenças comuns e/ou reduzir o risco de seu desenvolvimento (AUTIER et al., 2014;
BEARD et al., 2011; GRANT et al., 2020).
Os estágios de conversão de vitamina D dependem diretamente da biodisponibilidade
de magnésio, pois influencia na síntese dos metabólitos ativos da vitamina D. Níveis anormais
de qualquer um desses nutrientes pode levar a graves disfunções orgânicas. O magnésio é o
segundo cátion intracelular mais abundante e desempenha um papel fundamental na
mineralização óssea, na estabilidade da função celular, na síntese de RNA e DNA e no reparo
celular, além de manter o status antioxidante da célula (SWAMINATHAN, 2003). É importante
ressaltar que a atividade da proteína transportadora de ligação à vitamina D também é um
processo dependente de magnésio. A deficiência deste nutriente resulta em níveis reduzidos de
1,25(OH)2D e na resposta prejudicada do hormônio paratireoide, além de estar associada ao
raquitismo resistente à vitamina D. A suplementação de magnésio demonstrou reduzir
acentuadamente a resistência ao tratamento com vitamina D. A ingestão diária recomendada
(IDR) de magnésio para adultos é de 310 a 420 mg/dia. Entretanto, a quantidade necessária
deve aumentar durante a gravidez. Estima-se que mais de 50% das mulheres de uma idade
reprodutiva não consome a IDR necessária de magnésio (ROSANOFF et al., 2012).
297 | P á g i n a
Estudos demonstraram que o risco de mortalidade associado à hipovitaminose D poderia
ser modificado pelo consumo de magnésio. A eficácia e os benefícios clínicos da vitamina D
são significativamente reduzidos quando a homeostase do magnésio no organismo não é
mantida. Além disso, o magnésio desempenha um papel significativo na imunorregulação,
sendo fundamental para a manutenção da imunidade natural e adaptativa, em parte por
influenciar a atividade dos metabólitos da vitamina D (DENG et al., 2013). Além disso, as
associações potenciais de 25(OH)D do soro com a mortalidade, principalmente devido a
doenças cardiovasculares e câncer colorretal, foram modificadas pela ingestão de magnésio e
as associações inversas foram encontradas principalmente entre indivíduos cuja ingestão de
magnésio estava acima da média (UWITONZE & RAZZAQUE, 2018).
298 | P á g i n a
As baixas prevalências da deficiência grave de vitamina D em países de alta latitude
(exceto no Reino Unido: 23,7%) podem possivelmente ser atribuídas à alta conscientização da
deficiência de vitamina D, à alta quantidade de suplementação de vitamina D, à fortificação
alimentar e a políticas apropriadas de saúde (LIPS et al., 2019). No entanto, existem evidências
crescentes de que a deficiência de vitamina D pode ter sido subestimada ou ignorada em regiões
de baixa latitude, mesmo em países tropicais (MENDES et al., 2018).
Pesquisas têm relatado que, durante o período de inverno, o aumento das concentrações
de 25(OH)D através da suplementação de vitamina D poderia reduzir o risco de ser acometido
pela influenza (GRUBER-BZURA, 2018). A afirmação acima pode justificar que a
sazonalidade de muitas infecções virais (pelo vírus sincicial respiratório, o vírus da dengue,
vírus da influenza e SARS-CoV, por exemplo) estão associadas a baixas concentrações de
25(OH)D, como resultado de baixas doses de UVB no inverno em climas temperados e à
estação chuvosa em climas tropicais (CANNELL et al., 2006; FENG et al., 2016; GIRALDO
et al., 2018; NAM & ISON, 2019; MARTINEZ-MORENO et al., 2020).
RHODES et al. (2020) demonstraram que a mortalidade por COVID-19 era
relativamente menor nos países abaixo de 35 ° de latitude, com temperatura média de 5-11 °C
e baixa umidade. Da mesma forma, DANESHKHAH et al. (2020) relataram que a taxa de
mortalidade por casos específicos de idade era mais expressiva na Itália, na Espanha e na
França, países europeus com maior incidência de deficiência grave de vitamina D. Suas
descobertas sugerem que a deficiência de vitamina D pode explicar parcialmente as variações
geográficas na taxa de mortalidade de casos relatados de COVID-19, acarretando que a
suplementação com vitamina D pode reduzir a mortalidade por essa pandemia.
Diversas revisões sistemáticas e meta-análises têm argumentado o papel protetor da
suplementação de vitamina D na prevenção da infecção respiratória aguda (CHARAN et al.,
2012; BERGMAN et al., 2013; MARTINEAU et al., 2017; MARTINEAU et al., 2019). A
vitamina D possui muitos potenciais mecanismos capazes de reduzir o risco de infecção e morte
por micro-organismos e incluem a indução da resposta antiviral, a modulação da defesa
imunorreguladora, bem como a estimulação de defensinas e catelicidinas que possuem
atividade antiviral direta contra vírus respiratórios, influenza, vírus respiratório sincicial e
provavelmente a COVID-19 (GRANT et al., 2020). A vitamina D parece modular a atividade
de uma citocina inflamatória (interleucina 6 ou IL-6). Há evidencias que indicam que a
suplementação de vitamina D pode reduzir o excesso de níveis de IL-6 em camundongos
diabéticos (LABUDZYNSKYI et al., 2016) ou de que sua deficiência está associada com níveis
aumentados de IL-6 em pacientes com infecções por HIV (MANION et al., 2017).
299 | P á g i n a
Coronavírus e influenza compartilham características importantes: são vírus
envelopados, o período do pico de infecção geralmente ocorre durante o inverno e a causa da
morte geralmente é decorrente de pneumonia. Os CoVs também sobrevivem por muito tempo
fora do hospedeiro (LUO, 2012; SCHOEMAN & FIELDING, 2019). Um estudo laboratorial
relatou que estes vírus são muito estáveis a 4 °C (viáveis por até três dias) e podem sobreviver
a -20 °C por até dois anos. Dependendo de parâmetros, como temperatura, umidade e luz solar,
eles podem sobreviver em diferentes tipos de superfícies por alguns dias (KAMPF et al., 2020).
A COVID-19 envolve uma interação complexa entre o SARS-CoV-2 e o sistema
imunológico. E, como mencionado anteriormente, a vitamina D apresenta vários papéis no
sistema imunológico que podem modular a reação do corpo a uma infecção. Cruciais para a
resposta imune inata são os receptores Toll-like que reconhecem moléculas associadas a
patógenos e, quando ativados, liberam citocinas e induzem espécies reativas de oxigênio e
peptídeos antimicrobianos (catelicidinas e defensinas). Vários receptores do tipo Toll-like têm
seu papel influenciado pela indução de receptores de vitamina D (GRUBER-BZURA, 2018).
D’Avolio et al. (2020), com base em uma observação preliminar em concentrações
plasmáticas obtidas de pacientes da Suíça, observaram que o nível de 25(OH)D é
significativamente menor em pacientes PCR positivo para SARS-CoV-2 do que em pacientes
com PCR negativo, indicando que o risco de infecção por SARS-CoV-2 pode ter uma forte
relação com a concentração de 25(OH)D. Diante disso, a suplementação de vitamina D pode
ser uma medida útil para reduzir o risco de infecção. A exposição ao sol pode ser importante,
mas nesse estudo não foi significativo.
Para a entrada na célula, o SARS-CoV-2 necessita da glicoproteína spike e de uma
serino-protease da célula hospedeira. Uma região da spike do SARS-CoV-2 (região que está
ausente no SARS-CoV-1) sugere que ela também pode se ligar às integrinas da membrana da
célula humana (LAN et al., 2020). ECA2 é essencial para a expressão de transportadores de
aminoácidos no intestino. Nesse contexto, ECA2 modula a imunidade inata e influencia a
composição da microbiota intestinal, o que pode explicar a diarreia e a inflamação intestinal em
alguns pacientes com a COVID-19 (PERLOT & PENNINGER, 2013).
O sistema 'Renina-Angiotensina' (SRA) é um regulador central das funções renais e
cardiovasculares (PERLOT & PENNINGER, 2013). A vitamina D é um regulador negativo
para o SRA (AJABSHIR et al., 2014; LEUNG, 2019). A deficiência prolongada de vitamina D
pode levar à superativação do SRA, o que leva a distúrbios renais e cardiovasculares e à
“tempestade de citocinas”. O SRA é central na resposta imune humana ao SARS-CoV-2,
atuando em monócitos e macrófagos que são essenciais para a adequada homeostase
300 | P á g i n a
imunológica. A desregulação dessas células contribui para as várias patologias da COVID-19
e destaca a natureza caótica da resposta imune a esse tipo de infecção. Nesse sentido, a ativação
excessiva de monócitos ou de macrófagos é provavelmente responsável pela “tempestade de
citocinas” em pacientes com COVID-19. Adicionalmente, a compreensão do papel do SRA nas
células imunológicas pode auxiliar no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o SARS-
CoV-2 (LAN et al., 2020).
Estudos mostram que a vitamina D pode reduzir a gravidade de infecções virais e
mortalidade em pacientes ventilados mecanicamente. Provavelmente, evita ou suprime a
“tempestade de citocinas” em pacientes com COVID-19 e a mortalidade associada (o SRA foi
descrito como controle da liberação de citocinas pró-inflamatórias) (ADAMS et al., 2020;
CACCIALANZA et al., 2020; HOFFMANN et al., 2020). O SARS-CoV-2 deve atuar direta
ou indiretamente no receptor DPP4/CD26 (presente em vários tipos de células, incluindo
células T e células epiteliais do intestino, fígado e rim), que é o receptor de MERS-CoV e um
alvo para a vitamina D (LAN et al., 2020).
Uma meta-análise de 25 ensaios clínicos randomizados mostrou que a suplementação
de vitamina D tem um efeito preventivo contra infecções agudas do trato respiratório e que o
benefício é maior nos indivíduos que recebem vitamina D diariamente ou semanalmente sem
doses adicionais e naqueles com grave deficiência desta vitamina (MARTINEAU et al., 2017).
A suplementação eficaz precisa começar antes do início da infecção do trato respiratório. Uma
revisão recente recomendou, para pessoas com risco de infecção por influenza ou COVID-19,
10.000 UI/dia de vitamina D3 por algumas semanas (ou um mês), ou seja, para aumentar
rapidamente as concentrações de 25(OH)D e, em seguida, 5.000 UI/dia para acompanhamento
pode ser considerado.
O nível ideal de 25(OH)D parece estar na faixa de 40-60 ng/mL. Além disso, os autores
também sugeriram doses mais altas de vitamina D3 para pacientes infectados com COVID-19.
Certamente, deve-se prestar atenção para não tomar suplementação alta de cálcio para risco
potencial de hipercalcemia enquanto estiver tomando altas doses de vitamina D3 (GRANT et
al., 2020).
Uma revisão recente sugeriu o uso de doses de vitamina D de 200.000 a 300.000 UI em
cápsulas de 50.000 UI para reduzir o risco e a gravidade da COVID-19, juntamente com
micronutrientes como zinco, selênio e antioxidantes para fortalecer o sistema imune. Este
processo permitiria atingir rapidamente a suficiência de vitamina D e, consequentemente,
fortalecer o sistema imunológico e outros sistemas corporais dentro de 3 a 5 dias após a
301 | P á g i n a
administração. Além disso, caso a pessoa fosse infectada por SARS-CoV-2 teria uma doença
mais branda, com menos complicações e uma rápida recuperação (WIMALAWANSA, 2020).
4. CONCLUSÃO
302 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
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311 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 27
REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE NO CUIDADO
INTEGRADO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
PROFISSIONAL
Natália L Mesquita1 & Renato K P Carvalho2
1
Farmacêutica Residente em Saúde da Família pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
2
Médico pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Especialista em Saúde da Família pela
Universidade Federal do Ceará – UFC.
1. INTRODUÇÃO
312 | P á g i n a
A organização do sistema em rede possibilita a construção de vínculos. As RAS podem
ser definidas como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades
tecnológicas, que integradas por meio de sistemas, buscam garantir a integralidade do cuidado.
O objetivo da RAS é promover a integração sistêmica, de ações e serviços de saúde, com
provisão de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e humanizada, bem como
incrementar o desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia clínica,
sanitária e socioeconômicas (BRASIL, 2010).
A RAS fundamenta-se na compreensão da APS como primeiro nível de atenção,
enfatizando a função resolutiva dos cuidados primários sobre os problemas mais comuns de
saúde e a partir do qual se realiza e coordena o cuidado em todos os pontos de atenção. A APS
é coordenadora do cuidado e ordenadora da RAS. Para a implantação da RAS, é necessária uma
mudança no atual modelo de atenção hegemônico no SUS, ou seja, exige uma intervenção
concomitante sobre as condições agudas e crônicas (BRASIL, 2010).
Portanto, o objetivo geral deste trabalho é refletir sobre a importância das RAS no
cuidado integral, a partir de um relato de experiência profissional.
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para entendemos na prática como funciona uma RAS é necessario saber que temos
algumas redes com fluxos diferentes no SUS, um exemplo de rede conhecida nacionalmente é
a rede de urgência e emergência. Na rede de atenção às condições crônicas, a APS funciona
313 | P á g i n a
como centro de comunicação, mas na rede de atenção às urgências e emergências ela é um dos
pontos de atenção, sem cumprir o papel de coordenação dos fluxos e contrafluxos dessa rede
que normalmente é realizado pela APS (MENDES, 2009).
Assim, cada caso vai depender da sua complexidade para seguimento. Existem fluxos
de encaminhamentos que serão escolhidos depois do acolhimento, como a anamnese do
paciente, para depois seguir um fluxograma definido para cada paciente. Tem-se, também,
pontos de atenção à saúde, como exemplo: Unidades Básicas de Saúde, Unidades Ambulatoriais
Especializadas, Centros de Apoio Psicossocial, Residências Terapêuticas, entre outros. Os
hospitais podem abrigar distintos pontos de atenção à saúde: o ambulatório de pronto
atendimento, a unidade de cirurgia ambulatorial, o centro cirúrgico, a maternidade, a unidade
de terapia intensiva, entre outros (SILVA, 2008).
Quanto mais rápido o paciente é tratado, melhor o resultado a longo prazo, com menos
prejuízo na sua funcionalidade, sendo essencial a linha de cuidado. No município de Sobral no
interior do Ceará, existem alguns pontos de atenção à saúde que fazem parte da RAS, como
exemplos:
Rede Cegonha sendo vinculada os pontos de atenção à saúde: Unidade Básica de Saúde
(UBS), Trevo de quatro folhas, Casa Acolhedora, Coala, Santa Casa Misericórdia de Sobral
(SCMS), Policlínica, Hospital Regional Norte (HRN) (CARNEIRO et al., 2014).
Rede de Urgência e Emergência que tem os pontos de atenção à saúde: UBS,
Policlínica, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Unidade de Pronto
Atendimento (UPA), Santa Casa Misericórdia de Sobral (SCMS) e Hospital Regional Norte
(HRN) (CARNEIRO et al., 2014).
Rede de Atenção Psicossocial, que tem os pontos de atenção à saúde: UBS, Centro de
Especialidades Médicas - CEM, Hospital Geral Dr. Estevam, Rede de Atenção Psicossocial
(CAPS Geral) e Rede de Assistência Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) (SAMPAIO &
CARNEIRO, 2007).
É importante relatar os diferentes tipos de redes de cuidado e também seu vínculo entre
os três níveis de atenção à saúde. As RAS são o resultado da forma como se organizam os
serviços de saúde em determinados lugares (territórios), incluindo as diferentes unidades
prestadoras de diversas densidades tecnológicas e as relações que se estabelecem dentro e entre
elas (MENDES, 2009).
A integração com o setor social é a resposta que vem sendo dada às mudanças ocorridas
também nos usuários, cujas necessidades vão se diversificando dia a dia e obrigando os serviços
de saúde a buscar a adaptação mais adequada possível: diversidade cultural; promoção ou
314 | P á g i n a
resgate da autonomia pessoal; responsabilidade com a promoção da saúde e utilização
responsável dos serviços (LAMATA, 2011).
Sendo importante relatar que muitos municípios no Brasil ainda não conseguiram
cobertura integral da APS. Os gestores do SUS são importantes atores sociais, responsáveis por
promover políticas e resolutivas que orientem a implantação das RAS, sendo necessário ter
estratégias de monitoramento e avaliação contínuo.
As RAS necessitam de articulações e diversas estratégias para conseguir atuar na
integralidade do cuidado de modo transversal. Sabemos que todos esses esforços pela saúde
pública são lutas diárias do SUS, assim, as RAS buscam: o Fortalecimento da APS;
Redirecionamento da formação dos profissionais de saúde; Consolidação dos programas de
fixação desses profissionais, como o Mais Médicos; Elaboração de normas, rotinas e
protocolos, buscando a padronização (sem engessamento) das Redes nas diversas regiões de
saúde; Fortalecimento da política de Educação Permanente, incluindo a disseminação do uso
do Telessaúde; entre outros (BRASIL, 2010).
A RAS visa o cuidado contínuo e de vários profissionais com diferentes especialidades
para a solução dos problemas de saúde dos usuários. A informatização do sistema também é de
extrema importância nas redes de atenção, tendo em vista que agiliza o atendimento do usuário
com eficiência. As redes interligam os diferentes níveis de complexidades, fazendo valer na
atenção básica com o trabalho da equipe de saúde da família e tendo continuidade nos demais
níveis de complexidade, como centro de especialidades e hospitais.
4. CONCLUSÃO
315 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
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316 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 28
CAUSA BÁSICA DO ÓBITO POR ACIDENTE
DE TRABALHO GRAVE NO SEMIÁRIDO DO
CEARÁ, BRASIL
Francisco R G Ximenes Neto1,2, Francisco D dos Santos2,3, Maria R G
Ximenes4, Francisco W M de Sousa1,2, Layse F Q Vasconcelos1,2, Francisca
N S Sabino1,2, Antonio A A Azevedo1,2, Tiago S Farias1,2, Simone R
Quirino1,2, José B P Paz1,2, Verena E S Ferreira5, Ana V P G Oliveira2,
Izabelle M N Albuquerque1,2
1
Curso de Enfermagem, Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral/Ceará, Brasil.
2
Laboratório de Pesquisas para o SUS (OBSERVA-SUS) /UVA.
3
Universidade Federal do Ceará (UFC), Sobral/Ceará, Brasil.
4
Faculdades Uninta. Sobral/Ceará, Brasil.
5
Secretaria da Saúde de Sobral/Ceará, Brasil.
1. INTRODUÇÃO
317 | P á g i n a
fatal. Neste caso o óbito ocorre no próprio local de trabalho, no transcurso ou no ambiente
hospitalar após o acidente, sendo a causa básica gerada pelo acidente (BRASIL, 1991).
Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimam a ocorrência de
374 milhões de acidentes de trabalho por ano em todo mundo, e que diariamente 7.616
trabalhadores são vítimas fatais de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, 2,78
milhões de trabalhadores perdem suas vidas durante a jornada laboral, anualmente
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TRABALHO, 2020). Esses acidentes, no entanto,
são na maioria das vezes, evitáveis por meio da adoção de medidas preventivas e maior
segurança nos locais de trabalho, o que faz com que esse quantitativo seja reflexo da
iniquidade social que perdura nas relações de trabalho mundialmente.
O Brasil ocupa posição de destaque diante do cenário de acidentes de trabalho
entre os países que superam o indicador, com três óbitos por acidente de trabalho fatal a
cada duas horas, e três ocorrências de acidente de trabalho não fatal por minuto. Durante
o ano de 2017, foram registrados no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em torno
de 549,4 mil acidentes do trabalho, destes, 2.546 foram fatais. Já no estado do Ceará
foram registrados 11.394 acidentes de trabalho, com 60 fatais (BRASIL, 2017).
As causas que levam ao acidente de trabalho, e consequentemente ao óbito são
variadas: mecanização/modernização dos equipamentos sem capacitação do profissional,
falta de acesso ou não uso ou uso inadequado dos Equipamentos de Proteção Individual
(EPI), jornadas de trabalho exaustivas, violência urbana, falta de fiscalização das
entidades competentes, dentre outras (XIMENES NETO et al., 2019).
A escassez de estudos no mundo, e em especial no Brasil, sobre acidentes de
trabalho, seja ele leve, grave ou fatal nos motivou a realizar o presente estudo, que
objetiva realizar análise epidemiológica da causa básica dos óbitos por acidentes de
trabalho no território de abrangência do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
(CEREST) de Sobral – Ceará, 2009 a 2015.
2. MÉTODO
318 | P á g i n a
Os dados secundários foram extraídos do banco de dados do SINAN do CEREST
cenário do estudo, e organizados por meio de planilhas eletrônicas, geradas pelo sistema
do software TabWin32® versão 3.6b e exportados para software Microsoft Office Excel®,
última versão, mediante autorização por escrito, requerida previamente por meio do
Termo de Fiel Depositário. Foram eliminados os registros de casos duplicados, de um
mesmo evento, assim como, as incongruências de base de dados consideradas, a exemplo
dos erros de digitação.
Os resultados foram sistematizados a partir das categorias de variáveis
selecionadas a partir da “Ficha de Acidente de Trabalho Grave” (BRASIL, 2017;
BRASIL 2006) do Ministério da Saúde. Analisaram-se, para a caracterização dos óbitos,
as seguintes variáveis: sexo, faixa etária e a causa do óbito, classificadas segundo as
categorias da Classificação Internacional de Doenças (CID 10). Os dados estão
apresentados em forma tabular, com cálculos dos números absolutos e frequências
percentuais simples dos eventos estudados, com a estratificação por sexo e idade.
Durante o desenvolvimento do estudo, foram observados os aspectos éticos e
legais da pesquisa de acordo com a Resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS), com protocolo submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) aprovado sob Parecer Nº 1.344.066.
Ressalta-se que este estudo faz parte de uma pesquisa maior intitulada “Doença, labor e
trabalho no Semiárido Cearense: avalição do perfil dos acidentes e da mortalidade por
causas relacionadas ao trabalho na Zona Norte do Ceará”.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
319 | P á g i n a
(12 – 15,0%), asfixia - CID 10: T71 (4 – 5,0%), os traumatismo não especificado do tórax
- CID 10: S299 (3,6 % -3) e atendimento antirrábico humano - CID 10: T149 (3,6% -3).
Dentre todas as causas de óbito houve predomínio de trabalhadores do sexo
masculino (88,6% - 70), e faixa variou de 15 a 79 anos, porém prevaleceu a faixa etária
de 20 a 34 anos (41,7% - 33) e de 35 a 49 anos (34,3% – 27), ou seja, adultos jovens.
A quantidade de óbitos por acidentes de trabalho fatal encontrada nesse estudo
(79) é extremamente preocupante, uma vez que estes são potencialmente passíveis de
prevenção, e indicam negligência e iniquidade social. Ademais, a escassez de estudos que
abordem as causas básicas dos óbitos decorrentes das atividades laborais indicam a falta
de atenção com a segurança do trabalho e a com qualidade de vida dos trabalhadores,
sobretudo com o processo saúde-doença-cuidado-trabalho e com as condições de
trabalho, ainda precárias e insalubres em quase muitos setores produtivos. Ademais,
chamam atenção as lacunas existentes nas ações de saúde pública e intervenções no
âmbito da saúde do trabalhador, e a falta de fiscalização dos serviços sentinela em saúde
do trabalhador.
Os dados encontrados neste estudo se equiparam com os poucos estudos que
versam sobre a mortalidade relacionada ao trabalho de uma forma geral, sem, no entanto,
descreverem as causas dos óbitos por acidente de trabalho fatal de forma detalhada; além
de expressarem a maior exposição dos trabalhadores ao contexto de violência social,
evidenciado, sobretudo pelo aumento da criminalidade, da violência no trânsito e da
incidência do suicídio, dentre outros (FERREIRA-DE-SOUSA & SANTANA, 2016;
OLIVEIRA et al., 2019; PINA et al., 2018; GONÇALVES et al., 2018). Isso devido a
crescente expansão do setor de serviços, reflexo das diversas mudanças que permeiam o
mercado de trabalho há décadas (BATISTA et al., 2019; CORDEIRO et al., 2017).
Dentre as principais causas de mortes entre trabalhadores por acidentes de
trabalho fatal apontadas por estes estudos estão os traumatismos não especificados,
especialmente em membros superiores e crânio e tórax, fraturas, luxações, distensões,
contusões, escoriações, cortes e amputações, em decorrência, na maioria das vezes, aos
acidentes de trânsito (acidente de percurso), manuseio de equipamentos cortantes, como
serras, enxadas, esmagamento por paredes, dentre outros (FERREIRA-DE-SOUSA &
SANTANA, 2016; BATISTA et al., 2019; XIMENES NETO et al., 2020).
Os achados deste estudo apontam que as lesões se deram, sobretudo pelas causas
externas de mortalidade, expressas na sua maioria por lesões traumáticas, das diversas
partes do corpo – cabeça, membros superiores e inferiores, entre outros. Tal situação pode
320 | P á g i n a
estar atrelada ao fato de a maioria dos trabalhadores vítimas de acidente de trabalho fatal
ser do sexo masculino, que desenvolvem atividades que exigem muita força física, bem
como manejo de produtos e equipamentos pesados e de maior periculosidade, como no
setor de construção civil, agropecuária, por exemplo; diferentemente das mulheres que,
geralmente estão inseridas em atividades laborais que exigem pouca força e pouco
manuseio de material pesado.
No estudo ecológico realizado por Oliveira et al.(2019), que teve como objetivo
analisar os óbitos por causas externas relacionadas ao trabalho, ficou evidenciado que dos
58.940 óbitos ocorridos no período de 1996 a 2015, os homens foram os mais acometidos
(5.936) e a faixa etária de 25 a 64 anos (4.793) a mais prevalente. Além disso, os óbitos
aconteceram com maior frequência no hospital (1.648) e em via pública (1.576), sendo
os acidentes de transporte (2.106) e outras causas externas de lesões (3.935) de acidente
as principais causas.
O setor de construção civil também tem parcela significativa nos óbitos de
trabalhadores, por ser um dos setores que mais recruta mão de obra, sem muitas
exigências e restrições, mas com muitos riscos aos empregados, sobretudo pelas
condições precárias e perigosas de trabalho, como o uso de maquinário pesado,
ferramentas cortantes, não uso de EPI, entre outros.
Vale ressaltar, que a existência de subnotificação e de subregistro dos acidentes
de trabalho fatal, o que faz com que os dados revelados não reflitam na realidade, a
magnitude e a amplitude da mortalidade por causas relacionadas as atividades laborais.
Sabe-se que em muitos municípios, os trabalhadores ainda tenham dificuldade de
reconhecer e buscar a notificação dos agravos e doenças relacionadas ao trabalho; seja
pela inexistência do serviço de vigilância à saúde do trabalhador, ou pelo não
reconhecimento da importância de tal pela sociedade (LIMA et al., 2018).
Outro ponto importante que deve ser discutido é a ocorrência de acidentes de
trabalho com adolescentes, evidenciada neste estudo (três casos), o que expõe a
precariedade das ações intersetoriais de prevenção ao Trabalho Infantil no Brasil. As
crianças e adolescentes são mais expostas a riscos e acidentes de trabalho, uma vez que
não têm preparo físico e técnico para o desenvolvimento das atividades (LEITE, 2020).
O trabalho infantil, enquanto condição social expõe e coloca o adolescente em um
sistema de vulnerabilidade, seja ela social, familiar, cultural, entre outras; podendo este
proporcionar um maior risco de morbidade e mortalidade, relacionadas às condições
laborais ou em uma associação com o crescimento e desenvolvimento próprio desta faixa
321 | P á g i n a
etária. O trabalho infantil deve ser reconhecido como uma forma de violência, que
impossibilita o crescimento e desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes
(XIMENES NETO et al., 2018).
4. CONCLUSÃO
322 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BATISTA, A.G. et al. Registro de dados sobre acidentes de trabalho fatais em sistemas de
informação no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 693, 2019.
CORDEIRO, R. et al. A violência urbana é a maior causa de acidente de trabalho fatal no Brasil.
Revista de Saúde Pública USP, v. 51, p. 123, 2017.
FERREIRA-DE-SOUSA, F.N. & SANTANA, V.S. Mortalidade por acidentes de trabalho entre
trabalhadores da agropecuária no Brasil, 2000-2010. Cadernos de Saúde Pública, v. 32, p. 1,
2016.
GONÇALVES, S.B.B. et al. Prevalência e fatores associados aos acidentes de trabalho em uma
indústria metalmecânica. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, v. 16, p. 26, 2018.
323 | P á g i n a
LEITE, L.L. et al. Acidentes de trabalho com crianças e adolescentes: dados conhecidos ou
dados ocultados? Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 10, p. 174, 2019.
OLIVEIRA, J.S. et al. Óbitos por causas externas relacionadas ao trabalho. Revista de
Enfermagem UFPE, v. 13, e237870, 2019.
XIMENES NETO, F.R.G. et al. Accidents with workers and rural workers: from the case series
to the evolution of cases. Research, Society and Development, v. 9, p. 1, 2020.
XIMENES NETO, F.R.G. et al. Perfil sociodemográfico e trabalhista dos trabalhadores rurais
vítimas de acidente no semiárido cearense. Enfermagem em Foco, v. 7, p. 56, 2016.
XIMENES NETO, F.R.G. et al. Profile of child labor accidents involving adolescents.
International Journal of Development Research, v. 8, p. 20352, 2018.
324 | P á g i n a
ANEXO 1
Tabela 1. Causa básica do óbito por Acidente de Trabalho Grave, estratificado por sexo e faixa
etária, segundo Capítulo XIX e XX da CID 10, CEREST Regional de Sobral – Ceará
S069
traumatismo
12 15,0 10 12,0 2 2,6 0 0,0 3 3,6 6 7,3 3 3,7 0 0,0
intracraniano, não
especificado
T71
4 5,0 4 5,0 0 0,0 0 0,0 2 2,4 2 2,5 0 0,0 0 0,0
Asfixia
S299
Traumatismo não
3 3,6 3 3,6 0 0,0 0 0,0 2 2,4 1 1,3 0 0,0 0 0,0
especificado do
tórax
T149
Atendimento
3 3,6 3 3,6 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 2 2,5 0 0,0
antirrábico
humano
Y96
Acidente de 2 2,4 2 2,4 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 2,5 0 0,0
trabalho grave
V28
Motociclista
traumatizado em
1 1,3 0 0,0 1 1,3 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
um acidente de
transporte sem
colisão
W19
Queda sem 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
especificação
W86
Exposição a outra
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
corrente elétrica
especificada
S013
Ferimento do 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
ouvido
S024
Fratura dos ossos
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3
malares e
maxilares
S054
Ferimento
penetrante da 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
orbita com ou sem
corpo estranho
S062
Traumatismo 1 1,3 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
cerebral difuso
325 | P á g i n a
S09
Outros
traumatismos da 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
cabeça e os não
especificados
S280
Esmagamento do 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
tórax
S311
Ferimento da 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
parede abdominal
S328
Fratura de outras
partes da coluna
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0
lombossacra e da
pelve e de partes
não especificadas
S360
Traumatismo do 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
baço
S369
Traumatismo de
órgão intra- 1 1,3 1 1,2 0 0,0 1 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
abdominal não
especificado
S381
Lesão por
esmagamento de
outras partes e de
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
partes não
especificadas do
abdome, do dorso
e da pelve
S399
Traumatismo não
especificado do 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
abdome, do dorso
e da pelve
S69
Outros
traumatismos e os 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
não especificados
do punho e da mão
S818
Ferimento de
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0
outras partes da
perna
S828
Fratura de outras 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0
partes da perna
S880
Amputação
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
traumática ao nível
do joelho
S929
Fratura do pé não 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
especificada
T01
Ferimentos
envolvendo 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
múltiplas regiões
do corpo
T029
Fraturas múltiplas 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
não especificadas
326 | P á g i n a
T041
Traumatismos por
esmagamento
envolvendo tórax 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0
com o abdome,
parte inferior do
dorso e da pelve
T043
Traumatismos por
esmagamento
envolvendo 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
regiões múltiplas
do(s) membro(s)
inferior(es)
T754
Efeitos da corrente 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
elétrica
V219
Motociclista
traumatizado em
colisão com um
veículo a pedal -
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0
motociclista não
especificado
traumatizado em
um acidente de
trânsito
V234
Motociclista
traumatizado em
colisão com um
automóvel
[carro],pick up ou 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
caminhonete -
condutor
traumatizado em
um acidente de
trânsito
W876
Exposição a
corrente elétrica
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
não especificada -
áreas industriais e
em construção
W878
Exposição a
corrente elétrica
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
não especificada -
outros locais
especificados
X954
Agressão por meio
de disparo de outra
arma de fogo ou de 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
arma não
especificada - rua
e estrada
T304
Corrosão, parte do
corpo não 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
especificada, grau
não especificado
S099
Traumatismo não
1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0
especificado da
cabeça
327 | P á g i n a
T093
Traumatismo de
medula espinhal, 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
nível não
especificado
Ignorado 1 1,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
TOTAL 79 100 70 88,6 9 11,4 3 3,8 33 41,7 27 34,3 15 18,9 1 1,3
Fonte: Sobral. Secretaria da Saúde. Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN): acidentes de trabalho fatal. Sobral: SINAN; 2016.
328 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 29
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
NOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Fernanda P de Oliveira 1, Márcia G M Coelho2, Rosendo F de Amorim3,
Francisca L R de Farias4, Maria R da S Lima5
1
Mestre em Saúde Coletiva, Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE.
2
Docente do Departamento de Medicina, Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE.
3
Docente do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Universidade de Fortaleza/CE
4
Docente do Departamento de Enfermagem, Universidade de Fortaleza/CE
5
Mestre em Saúde Coletiva, Universidade de Fortaleza/CE.
1. INTRODUÇÃO
329 | P á g i n a
A educação deve ser capaz de desenvolver uma visão do todo de interdependência e de
transdisciplinaridade, além de possibilitar a construção de redes de mudanças sociais,
com a consequente expansão da consciência individual e coletiva no processo ensino -
aprendizagem.
Compreende-se a integração ensino-serviço como a realização de um trabalho
coletivo, pactuado entre estudantes e docentes com os profissionais e gestores do Sistema
de Saúde, a fim de atingir a qualidade da formação e da assistência (ALBUQUERQUE
et al., 2008). A integração ensino-serviço envolve os problemas de saúde oriundos da
urbanização, mudança social e ambiental, e outros mais antigos que permanecem
imutáveis (VICTORA et al., 2011).
Pensar no binômio ensino-saúde implica em discorrer sobre campos abrangentes,
multidisciplinares e complexos, com vistas na configuração de um elo que articula
práticas e saberes em diferentes níveis em seus processos de saúde em cenários com uma
diversidade variada, no qual cada conhecimento sugere infinitas reflexões, análises e
estudos.
Conforme Ruiz-Moreno et al. (2005), falar em saúde e ensino não se trata de
reconhecer as pessoas, ações e propostas desenvolvidas no interior das instituições, mas
de considerar o processo educacional com a construção social presente nos diferentes
momentos das experiências formativas.
No âmbito atual, se reconhece a necessidade de mudança na formação de
profissionais de saúde com o intuito em responder às demandas sociais, onde as
instituições de saúde têm sido estimuladas a se transformar e a se adequar em um
ambiente propício ao ensino-aprendizagem. Devem romper com a estrutura cristalizada e
modelos do ensino tradicional, formando profissionais de saúde com competências que
lhes permitam recuperar a dimensão essencial do cuidado, que é a relação interpessoal
profissional x paciente.
O referencial das concepções de saúde e de educação deve estar pautado no
desenvolvimento das potencialidades humanas, na transformação da realidade, integradas
aos direitos fundamentais da pessoa (PEREIRA, 2003). Desta forma, este estudo teve
como objetivo compreender o processo ensino-aprendizagem nos serviços de saúde.
330 | P á g i n a
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para análise dos resultados, foram escolhidos oito artigos, resultando em dois
núcleos de sentido:
331 | P á g i n a
voltados a incrementar serviços e ensino em saúde com integração participativa entre
profissionais, gestores e demais envolvidos no processo ensino-aprendizagem inspirando
um paradigma educacional inovador e comprometido.
A educação não é apenas um processo institucional e instrucional, mas também
um instrumento formativo do humano, seja na particularidade da relação pedagógica
pessoal, seja no âmbito da relação social coletiva sem perder as referências éticas e
políticas, tendo como premissa que o processo de formação de um sujeito ético, ou de um
cidadão, vai depender da própria construção do sujeito humano (REPPELTTO &
SOUZA, 2005).
Esse novo paradigma aponta para a necessidade de reorientar as relações entre
profissionais de saúde, instituições de ensino e comunidade e de redefinir processos
formativos para atuação em um mundo cada vez mais novo e em constante processo de
transformação, garantindo o atendimento integral e humanizado à população (SORDI &
BAGNATO,1998).
A estrutura de apoio à formação prática deve se sustentar em parcerias que
contribuam na melhoria da adesão por parte dos profissionais, em ampliar suas
habilidades técnico- científicas, estimulando a participação ativa, levando à consciência
crítica e reflexiva a uma prática transformadora.
332 | P á g i n a
Mudanças envolvem pessoas, valores, culturas e, especificamente no campo da
saúde e da educação, existe o desafio de formar profissionais que se envolvam ativamente
no processo de ensino-aprendizagem, no qual o ensinar-aprender produza aprendizado
significativo em comum acordo com a promoção da saúde.
A formação de trabalhadores da área da saúde objetiva proporcionar um processo
dialético de ensino-aprendizagem, o que significa a adoção de um modelo educativo e de
perspectivas pedagógicas que superem a mera transmissão de conhecimentos e que levem
os profissionais em formação a extraírem das situações complexas e contraditórias de
seus exercícios diários profissionais a possibilidade de superação de obstáculos e de
construção de alternativas (SOUZA, 2009).
4. CONCLUSÃO
333 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
DA SILVA, S.L. et al. Estratégia educacional baseada em problemas para grandes grupos:
relato de experiência - Large group problem-based teaching strategy: Case Study. Revista
Brasileira de Educação Médica, v. 39, p. 607, 2015.
334 | P á g i n a
PEREIRA, A.L.F. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde.
Cadernos de Saúde Pública, v. 19, p. 1527, 2003.
SORDI, M.R.L. & BAGNATO, M.H.S. Subsídios para uma formação profissional crítico-
reflexiva na área da saúde: o desafio da virada do século. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, v. 6, p. 83, 1998.
VICTORA, C.G. et al. Health conditions and health-policy innovations in Brazil: the way
forward. The Lancet, v. 377, p. 204, 2011.
335 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 30
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM
PORTADORES DE ANEMIA FALCIFORME
NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: REVISÃO
INTEGRATIVA DA LITERATURA
Thaynara N Souza1, Dóris Da S Vilar1, Ana P Da S Santos1, Maria M Dos
S Araújo1, Tatiana E C Soares2
1
Discente de Enfermagem, Instituto Florence de Ensino Superior, São Luís/MA.
2
Docente do Instituto Florence de Ensino Superior, São Luís/MA.
1. INTRODUÇÃO
Anemia falciforme é uma doença hereditária crônica que causa deficiência nos
eritrócitos, constituindo um grupo de células anormais do sangue, fazendo com que a
mesma adquira o formato alongado, tornando-se mais rígidas e alterando a sua forma
arredondada para forma de foice ou meia lua. A doença decorre da mutação do gene
regulador da síntese da hemoglobina A (Hb A) que, ao invés de produzir a hemoglobina
normal, origina a hemoglobina S (Hb S) (MARINI & ALEXANDRE, 2013; SOARES, et
al., 2012).
A doença se manifesta quando o indivíduo herda duas cópias anormais do gene
da hemoglobina (Hb SS), transferidos dos progenitores, ou seja, portadores do traço
falciforme, cujo patrimônio genético é refletido pela hemoglobina (Hb AS), sendo estes,
indivíduos saudáveis com ausência de anormalidades físicas que, geralmente, não
apresentam os sintomas clínicos da patologia (CAVALCANTI & MAIO, 2011).
Por ser uma enfermidade que teve origem no continente africano, a doença tornou-
se conhecida por “doença dos negros”. No Brasil, essa patologia acomete 1 em cada 8
negros, mas, apesar de ser uma patologia de predomínio nesta raça, não é exclusiva desta
população, uma vez que se trata de uma doença de transmissão hereditária, podendo afetar
qualquer indivíduo (GOMES, et al., 2014).
336 | P á g i n a
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 300 mil bebês nascem
com a doença falciforme anualmente e supõe-se que 7% da população mundial possua
alteração de hemoglobina, sendo a doença falciforme a mais frequente. No Brasil, a
doença afeta cerca de 50 mil brasileiros, dados do Ministério da Saúde revela que 3,5 mil
crianças brasileiras nascem com a doença a cada ano e outras 200 mil nascem com o traço
falciforme, gene que pode transmitir a doença para as próximas gerações (GOMES, et al.,
2014; AMARAL, et al., 2015).
Devido a grande concentração de negros, cuja classificação reúne pretos e pardos,
o nordeste apresenta prevalência de 6% a 10%, ao passo que, no estado do Maranhão essa
taxa acomete 2% da população e em São Luís, de acordo com o Centro de Hematologia
e Hemoterapia do Maranhão, constou-se 196 casos da doença, existindo uma prevalência
no gênero feminino com 51 % em relação ao masculino com 48% (SILVA JÚNIOR, et
al., 2015; BRASIL, 2015).
Estima-se que a perspectiva de vida dos indivíduos portadores de anemia
falciforme corresponde a 42 anos para os homens e 48 anos para as mulheres, valor ínfimo
se comparado à duração de vida da população mundial. Essa realidade enfatiza a
necessidade de buscar medidas de avanço no tratamento específico da doença, visando
minimizar suas consequências (IBGE, 2008).
Devido sua alta prevalência, constitui-se um problema de saúde pública, uma vez
que a patologia abrange aspectos sociais, econômicos e étnicos. À vista disso, é necessário
ressaltar que os portadores carecem de atenção á saúde mais equitativa, o que revela a
necessidade de implementar programas com ações voltadas ao cuidado específicos desses
indivíduos (MENEZES, et al., 2013).
A atenção primária à saúde no Brasil, em conjunto com a Estratégia Saúde da
Família (ESF) promovem a prevenção, redução dos agravos da doença e promoção da
saúde. Na atenção primária, para que seja ofertada uma assistência de qualidade em
enfermagem, é necessário que os enfermeiros tenham preparo e conhecimento suficiente
para atuar na área e estejam atentos quanto às complicações e peculiaridades relacionadas
à doença, como forma de garantir a sobrevida e propiciar cuidados que amenizem as dores
decorrentes da mesma, uma vez que ocasiona elevado grau de sofrimento aos seus
portadores (MARIA & MAIA, 2012; DA NÓBREGA, et al., 2013).
Portanto, para se prestar uma assistência de enfermagem adequada na atenção
primária, o enfermeiro deve contribuir com conhecimentos técnicos e científicos, elaborar
procedimentos que atendam com precisão as necessidades básicas, identificar os sinais e
337 | P á g i n a
sintomas, orientar sobre a importância da adesão ao tratamento, detecção de risco e
aconselhamento genético, imunização, educação em saúde, a fim de evitar altas taxas de
morbimortalidade na comunidade (FERRAZ et al., 2012).
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo geral realizar uma
revisão integrativa da literatura sobre a assistência de enfermagem em portadores de
anemia falciforme na atenção primária.
2. MÉTODO
338 | P á g i n a
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Revista/
Título Autor Objetivo Principais Resultados
Ano
Descrever
características A maioria da população foi formada de
Perfil
Revista sociodemográfico e mulheres, casadas, com Ensino Médio
sociodemog
da Rede econômicas, hábitos completo, que utilizava exclusivamente
ráfico,
de de vida, o Sistema Único de Saúde. A média de
econômico AMARAL
Enfermag manifestações idade foi de 30,6 anos, e 90,0% (IC95%
e de saúde J.L., et al.
em do clínicas, 68,3-98,8) eram negros. Todos
de adultos
Nordeste, medicamentos em uso relataram crises álgicas e fadiga.
com doença
2015. e acompanhamento de Estavam em uso diário de ácido fólico
falciforme.
adultos com doença 35,0% (IC95% 15,4-59,2).
falciforme.
Estudar o perfil
epidemiológico e Dos 910 atendimentos no HR e 589
Revista
respectivas internações no HC-U, a crise dolorosa
MARTINS Brasileira
intercorrências afebril foi a causa mais frequente em
Morbimorta P. R. J.; de
clínicas dos pacientes ambas as instituições (61,9% e 25,3%,
lidade em Moraes- Hematolo
atendidos no respectivamente). A idade média dos 11
doença Souza H.; gia e
Hemocentro Regional óbitos foi de 33,5 anos, sendo apenas
falciforme. Silveira T. Hemotera
(HR) e Hospital de um em menor de 10 anos e a falência de
B. pia,
Clínicas da múltiplos órgãos a causa mais
2010.
Universidade (HC- frequente.
U), de 1998 a 2007.
339 | P á g i n a
Entre os casos de óbitos, 52,7% foram
Revista
de mulheres, prevalecendo à raça/cor
Mortalidade de
Descrever o perfil parda (55,4%). A maioria dos
por doença Enfermag
epidemiológico dos indivíduos tinha entre 20 e 29 anos
falciforme RAMOS, J. em do
óbitos por transtorno (21,6%), sendo que 86,5% dos óbitos
em estado T., et al. Centro
falciforme na Bahia ocorreram no hospital. Quando
do nordeste Oeste
(2011). analisada a variável município,
brasileiro. Mineiro,
Salvador (18,9%) apresentou maior
2015.
número de óbitos.
Para Nogueira et al. (2013), no Brasil, a anemia falciforme apesar de ser uma
doença genética, é também considerada um problema de saúde pública, especialmente
em áreas onde ocorre uma frequente miscigenação como, por exemplo, nas regiões norte
e nordeste, uma vez que possuem etnias variadas.
A doença também está relacionada à idade, podendo perdurar desde a infância até
a vida adulta, manifestando-se como uma doença hemolítica crônica com complicações
vaso-oclusivas, crises dolorosas em vários órgãos, atraso no crescimento, menarca e
primeira ejaculação tardia, além do constante cansaço, fraqueza e palidez, principalmente
nas conjuntivas e mucosas (MARTINS, et al., 2010).
Segundo Ramos et al. (2015) a Bahia é o Estado do Nordeste brasileiro que
apresenta maior concentração da população negra, logo possui maior índice da doença
falciforme. A cada nascimento de 650 crianças vivas, uma é acometida pela doença. Para
Amaral et al. (2015), Minas Gerais é o terceiro Estado com incidência da doença no país,
seguido pelos Estados da Bahia e do Rio de Janeiro onde nasçam aproximadamente 3.500
crianças com a patologia e 200.000 portadoras do traço falciforme, podendo promover a
doença propriamente dita para as gerações futuras.
Vale ressaltar que pacientes que carecem de assistências social, econômica e
familiar adequadas podem apresentar problemas mais graves decorrentes da doença,
reduzindo a expectativa de vida dos portadores para em torno de 25 a 30 anos, se
comparado aos indivíduos sem a doença falciforme (AMARAL, et al., 2015).
Conforme Ramos et al. (2015), a mortalidade em decorrência da anemia
falciforme diminuiu nas últimas décadas, resultado positivo da implantação de programas
para o diagnóstico precoce da patologia e adoção de medidas preventivas, a exemplo, o
Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN).
Logo, percebe-se a importância de aprimorar o conhecimento sobre os aspectos
de saúde, socioeconômicos e demográficos que abranjam os indivíduos ameaçados pela
340 | P á g i n a
doença, além da necessidade do desenvolvimento de mais estudos epidemiológicos sobre
a anemia falciforme. Dessa forma, o entendimento mais aprofundado da patologia
permitirá identificar problemas e planejar adequadas intervenções, convertendo as
variáveis negativas no bem-estar e na qualidade e expectativa de vida dessas pessoas,
dispondo de promoção social e maior atenção por parte do sistema de saúde (RAMOS, et
al., 2015).
Em relação ao diagnóstico da doença falciforme (Quadro 2), é necessário o
envolvimento de várias análises, divididas em testes de triagem, teste de falcização,
triagem neonatal, entre outros, que devem considerar dados clínicos e herança genética,
fatores como idade, sexo, raça/cor, duração de estoque e condições adequadas de
armazenamento da amostra.
Revista/
Titulo Autor Objetivo Resultados
Ano
Existem inúmeros exames que
Estabelecer os
auxiliam o clínico, desde exames
principais meios
simples, como o hemograma com
usados para o
Anemia Revista de a contagem da série vermelha, até
DE diagnóstico
falciforme: Ciências exames mais sofisticados como
FIGUEI laboratorial da
abordagem da Saúde resistência osmótica em solução
REDO anemia falciforme e
diagnóstica Nova de cloreto de sódio a 0,36%,
A. K. B., dos portadores
laboratorial. Esperança, eletroforese em pH alcalino em
et al. destes traços,
2014. acetato de celulose, análise da
enfermidade esta
morfologia eritrocitária, pesquisa
que acomete todas
de corpos de Heinz e agregados de
as raças e gêneros.
hemoglobina H, entre outros.
O “Teste do Pezinho” é uma
estratégia para o diagnóstico
precoce de algumas doenças
Informar à congênitas que são quase sempre
população sobre a imperceptíveis ao exame médico
Revista
Diagnóstico patologia em no período neonatal, mas que
RODRIG Atenção
histórico da questão, focando evoluem desfavoravelmente,
UES D. Primária à
triagem neonatal nos exames levando ao aparecimento de
O. W., et Saúde, Juiz
para doença laboratoriais sequelas muitas vezes
al. de Fora,
falciforme. utilizados no irreversíveis. A triagem de
2010.
diagnóstico da hemoglobinopatias é uma análise
anemia falciforme. importante para a prevenção das
doenças falcêmicas, as quais
representam um problema de
Saúde Pública em nosso país.
341 | P á g i n a
O diagnóstico laboratorial da doença se embasa na detecção dos eritrócitos, na
genotipagem de hemoglobina, no determinante de haplótipos e monitoração, sendo o
confirmatório feito pela detecção de Hb S. (DE FIGUEIREDO, et al., 2014).
A OMS recomenda que países com maior predominância da doença falciforme
devem investir em programas que ajude na detecção precoce, com o objetivo de controlar
eventos agudos e que diminua a alta taxa de mortalidade, uma vez que a maioria das
pessoas acometidas pela doença falciforme vive em situação de vulnerabilidade,
impossibilitados de responder com recursos próprios.
Por ser muito prevalente no Brasil, constou-se a necessidade de reconhecer e tratar
precocemente a doença por meio do PNTN, a exemplo da punctura de sangue do calcâneo
na primeira semana de vida da criança, popularmente conhecida como teste do pezinho,
que identifica a doença falciforme e outras patologias. Além disso, a inserção do exame
eletroforético representou um avanço no que diz respeito à confirmação diagnóstica da
enfermidade (DE FIGUEIREDO, et al., 2014).
É importante enfatizar também a correta conclusão do diagnóstico, sendo
necessária a realização da análise dos eritrócitos presentes no sangue dos progenitores, e
no caso dos portadores da doença falciforme, reconhecer os genótipos mais comuns
(RODRIGUES, et al., 2010).
O Quadro 3 apresenta as complicações dos portadores em relação a patologia,
enfatizando a promoção de cuidados específicos e de qualidade que garantam a sobrevida
e propicie medidas que amenizem as dores decorrentes da doença falciforme, bem como
suas manifestações clínicas.
A alteração celular nos eritrócitos torna insatisfatória a oxigenação dos tecidos
corporais e pode impossibilitar a passagem do sangue pelos vasos devido a pouca
maleabilidade dessas células, fazendo com que as hemácias fiquem presas em
determinadas regiões do vaso, provocando obstrução no fluxo sanguíneo (HOLSBACH,
et al., 2010).
Em razão da pouca flexibilidade das células alteradas, o portador da doença
falciforme apresenta icterícia nas mucosas, fadiga, crises álgicas, edema de membros
periféricos como mãos e pés, síndrome torácica aguda e, a pele pode apresentar ulcerações
com maior tendência a infecções (RAMOS, et al., 2015).
342 | P á g i n a
Quadro 3. Distribuição de dois artigos de acordo com as complicações dos portadores da
anemia falciforme, conforme título, autores, revista, objetivo, ano de publicação e
principais resultados
Revista/
Título Autor Objetivo Resultados
Ano
A dor no Houve diferença na percepção de
Identificar, descrever e cuidador e criança sobre a caracterização
cotidiano
analisar as características da dor no que se refere ao tipo e à
de
da dor da Anemia intensidade. As crises de dor interferem,
cuidadore
Falciforme, o impacto da sobretudo, nas atividades do cotidiano. A
se DIAS
Psicologia dor nas atividades de vida estratégia de enfrentamento mais utilizada
crianças T. L.,
USP, 2013. diária, as técnicas de por ambos os grupos se centrou em
com et al.
manejo e as estratégias de pensamentos que envolveram os aspectos
anemia
enfrentamento adotadas negativos da experiência indesejada, o
falciform
pelas crianças para lidar e que indica a necessidade de intervenção
e.
controlar a dor. psicológica com esta população.
Dos 21 artigos selecionados, 7 (33,3%)
foram publicados entre 1976 e 2000, 10
(47,7%) entre 2001 e 2004 e 4 (19%) entre
2005 e 2007. Com relação aos descritores,
três referências (14%), são da área da
Investigação Acta
enfermagem, descrevem o quadro clínico
bibliográfica Paulista
HOLSB Buscar na literatura e a fisiopatologia, sendo que uma delas
sobre a de
ACH D. aspectos epidemiológicos sistematiza a assistência à clientela com
hemoglobina Enferm
R., et al. explorados sobre a Hb S. anemia falciforme à luz do referencial de
S de 1976 a agem,
adaptação de Roy; 11 (52%) destacaram
2007 2010.
estudos epidemiológicos e a distribuição
mundial; e sete (34%) contemplaram
diagnóstico médico, triagem neonatal e
programas voltados à população
falcêmica no Brasil.
343 | P á g i n a
pequena modificação estrutural é responsável pela substituição de duas bases
nitrogenadas (MARINI & ALEXANDRE, 2013).
Revista/
Título Autor Objetivo Resultados
Ano
Destacar as Os eritrócitos falciformes expressam
características maior número de moléculas de adesão
bioquímicas e na superfície externa da membrana
Fisiopatologia DE Revista
moleculares, celular em comparação aos eritrócitos
da Anemia SOUZA J. Transform
suas normais. Essas moléculas favorecem a
Falciforme. M., et al. ar, 2016.
manifestações interação com o endotélio e com
clínicas e seus outras células causando o processo de
tratamentos. vaso-oclusão.
Realizar uma Mesmo após um período considerado
revisão de tempo do primeiro diagnóstico da
Revista bibliográfica anemia falciforme, ainda hoje a
Científica sobre a Anemia mesma apresenta uma terapêutica
Revendo a
da Falciforme, limitada, baseando-se principalmente
anemia
faculdade destacando seus na profilaxia e no tratamento
falciforme: MARQUE
de sintomas, individualizado, onde as decisões
sintomas, S V., et al.
educação e tratamentos e devem ser compartilhadas com os
tratamentos e
meio perspectivas pacientes e familiares quanto à
perspectivas.
ambiente, futuras para o preferência por determinada terapia,
2012. controle da podendo fazer pouco para a cura
mesma. efetiva dos pacientes.
A mutação envolve a troca da adenina (A) por timina (T) no códon do DNA, o
que leva a substituição do aminoácido ácido glutâmico por valina, aminoácido essencial.
Com suas características físico-químicas modificadas, a hemoglobina recém-formada
origina uma molécula anormal denominadas moléculas da Hb S que, por sua vez, se
polimerizam (SOARES, et al., 2012; MARQUES, et al., 2012).
A polimerização progride com adição de moléculas sucessivas de Hb S à medida
que a porcentagem de saturação de oxigênio da hemoglobina diminui, levando a formação
da hemácia falciforme. Quando isto ocorre, formam-se os eritrócitos irreversivelmente
falcizados, comprometendo o fluxo sanguíneo, lesionando órgãos como rins, fígado e
medula óssea (MARINI & ALEXANDRE, 2013).
344 | P á g i n a
Ao analisar a qualidade da assistência prestada aos portadores de anemia
falciforme no Quadro 5, tendo em vista a necessidade de cuidados especiais demandados
por esses pacientes, observa-se melhorias quanto as ações e serviços de saúde
estabelecidas pelo Ministério da Saúde por meio das Redes de Atenção à Saúde para
obtenção do cuidado integral, qualificado e humanizado nos diversos níveis de atenção,
porém ainda existem lacunas que comprometem a excelência do serviço.
Revistas/
Títulos Autor Objetivos Resultados
Ano
As entrevistas, utilizando um roteiro
Analisar a semiestruturado, foram realizadas no
Atenção à atenção à período de novembro de 2008 a janeiro
criança com DA criança com de 2009 com três mães de crianças com
Cogitare
doença crônica NÓBRE doença doenças crônicas. Os dados foram
Enfermagem,
na estratégia da GA V. crônica na analisados segundo os princípios da
2013.
saúde e da M., et al. Estratégia da análise temática e emergiram duas
família. saúde e da temáticas: Não resolutividade das
Família. demandas de saúde e Insatisfação com o
atendimento na ESF.
O acesso da pessoa com doença
Conhecer a
falciforme à unidade de saúde ocorre
opinião dos
apenas em situações de episódios
Acesso e agentes
agudos. Verificou-se a existência de
assistência à comunitário
Acta Paulista barreira entre a pessoa doente e a
pessoa com GOMES s de saúde
de unidade de saúde. Na assistência, não há
anemia L. M. X., sobre o
Enfermagem, priorização do atendimento em casos de
falciforme na et al. acesso e
2014. sinais de alerta, não há seguimento
Atenção assistência à
específico de puericultura, as vacinas
Primária. pessoa com
especiais e a medicação não são
anemia
acompanhadas, as visitas domiciliares
falciforme.
são assistemáticas.
O Sistema Único de Saúde tem como objetivo fortalecer a capacidade técnica dos
profissionais e equipes das Unidades Básicas de Saúde. Com isso, surgem novos desafios
no campo de enfermagem: a atenção qualificada aos doentes falciformes na atenção
básica (GOMES, et al., 2014).
O acesso a portadores de anemia falciforme em serviços de Unidades Básicas de
Saúde se dá mediante a ESF, que é a principal porta de entrada para o Sistema de Saúde.
345 | P á g i n a
A ESF responsabiliza-se pelo encaminhamento do paciente aos demais níveis de atenção,
organizados em redes assistenciais integradas (MARIA & MAIA, 2012).
Para Da Nobrega, et al., 2013, a dificuldade de acesso implica na insatisfação de
atendimento e provoca a descontinuidade da assistência e perda de vínculo com o
profissional de saúde, gerando consequências desfavoráveis refletida na baixa adesão ao
tratamento das pessoas com doença falciforme.
A busca por atendimento referente à anemia falciforme nas Unidades Básicas de
Saúde é mínima, visto que em muitas unidades os profissionais não estão preparados, não
possuem conhecimento e habilidades para prestar assistência aos portadores da doença
falciforme, fazendo com que as famílias busquem acompanhamento mais resoluto na
atenção secundária e terciária, já que na atenção primária não são assistidos de forma
eficaz (DA NOBREGA, et al., 2013).
Destaca-se a falta de conhecimento dos profissionais da atenção primária em
relação à priorização de atendimento acerca dos sinais de alerta para eventos
potencialmente graves, além da insciência dos profissionais no que diz respeito aos
medicamentos necessários pelos portadores de anemia falciforme e ao calendário de
vacinas especiais, o que implica na falta de acompanhamento e manejo correto dos
medicamentos e das vacinas (GOMES, et al., 2014).
Contudo, evidencia-se que os cuidados fornecidos em unidades de saúde mais
próximas de suas residências estabelecem um vínculo entre o usuário e a equipe de saúde,
proporcionando uma melhor compreensão sobre a doença e antecipação das situações de
riscos, além de evitar complicações que necessitem de admissão hospitalar. Essa lógica
da atenção reflete na redução da morbimortalidade e no aumento da expectativa de vida
para as pessoas com doença falciforme (MARIA & MAIA, 2012; GOMES, et al., 2014).
O Quadro 6 apresenta resultados sobre a atuação da enfermagem frente a
promoção da assistência aos portadores da anemia falciforme, sendo peça fundamental
para o fortalecimento do atendimento por meio de estratégias de enfrentamento da
patologia e intervenções que promovam o bem-estar e qualidade de vida dos pacientes.
Baseando-se na Teoria do Autocuidado de Orem que diz: “Autocuidado é o
desempenho ou a prática de atividades que os indivíduos realizam em seu benefício para
manter a vida, a saúde e o bem-estar”, a assistência de enfermagem deve abranger de
consultas a orientações, sempre focadas nas necessidades do portador, promovendo
educação em saúde, com vista na melhora da qualidade de vida e estimulando a
terapêutica da população (MARTINS, et al., 2013).
346 | P á g i n a
Quadro 6. Distribuição de três artigos referentes a assistência de enfermagem aos
portadores de anemia falciforme, conforme título, autores, revista, ano de publicação,
objetivo e principais resultados
Verificou-se a eficácia do
O autocuidado Anna
Verificar a eficácia do Programa do Autocuidado em
para o Neri -
Programa do função da cicatrização total das
tratamento de MARTI Revista
Autocuidado, pela ulcerações de 23 clientes, e
úlcera de perna NS A., et de
progressão do processo observou-se que úlceras agudas
Falciforme: al. enfermag
cicatricial de úlcera da com um tempo de manifestação até
orientações de em,
perna falciforme. 60 meses têm a probabilidade de
Enfermagem. 2013.
cura de 95%.
Anemia Revista
Avaliar os cuidados de A partir de um corpus, gerou-se o
falciforme: de
DA enfermagem em nível gráfico de similitude e nuvem de
cuidados prevençã
SILVA de ESF realizados por palavras, os quais permitiram
realizados por oe
F. W. T., enfermeiros a pessoas inferir que os enfermeiros não
enfermeiros na Infecção
et al. vivendo com Anemia realizam cuidados a pessoas com
Estratégia Saúde e saúde,
Falciforme. anemia falciforme.
da Família. 2015.
347 | P á g i n a
Devido a isso, o paciente precisa manter-se hidratado, já que a desidratação
favorece o afoiçamento das hemácias, com a suplementação de ferro adequada,
imunização em dia e se necessário, iniciar antibioticoterapia (SILVA JÚNIOR, et al.,
2015).
Assim, o enfermeiro tem como papel, orientar, monitorar, auxiliar quanto aos
cuidados diante dos sinais e sintomas decorrentes da doença, bem como intervir no
controle da dor, fornecer informações ao portador, a fim de reduzir a vulnerabilidade à
infecções, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento (SILVA JÚNIOR, et al., 2015;
FERRAZ, 2012).
4. CONCLUSÃO
348 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
AMARAL, J.L. et al. Perfil sociodemográfico, econômico e de saúde de adultos com doença
falciforme. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, v. 16, p. 296, 2015.
CAVALCANTI, J.M. & MAIO, M.C. Entre negros e miscigenados: a anemia e o traço
falciforme no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.
18, p. 377, 2011.
DA NÓBREGA, V.M. et al. Atenção à criança com doença crônica na estratégia saúde da
família. Cogitare Enfermagem, v. 18, p. 57, 2013.
DA SILVA, F.W.T. et al. Anemia falciforme: cuidados realizados por enfermeiros na Estratégia
Saúde da Família. Revista de prevenção e Infecção e saúde, v. 1, p. 83, 2015.
DIAS, T.L. et al. A dor no cotidiano de cuidadores e crianças com anemia falciforme, estudo
descritivo-comparativo. Psicologia USP, v. 24, p. 391, 2013.
349 | P á g i n a
GOMES, L.M.X. et al. Acesso e assistência à pessoa com anemia falciforme na Atenção
Primária. Acta Paulista de Enfermagem, v. 27, p. 348, 2014.
MARIA, C.R. & MAIA, L.F.S. Anemia falciforme: assistência de enfermagem e aporte
nutricional nos serviços de atenção básica; revisão bibliográfica. Revista Científica de
Enfermagem, v. 1, p. 21, 2012.
RAMOS, J.T. et al. Mortalidade por doença em estado do nordeste brasileiro. Revista de
Enfermagem do Centro Oeste Mineiro, v. 5, p. 1604, 2015.
350 | P á g i n a
RODRIGUES, D.O.W. Diagnóstico histórico da triagem neonatal para doença falciforme.
Revista de Atenção Primária à Saúde, v. 13, p. 34, 2010.
SILVA JÚNIOR, A.S. et al. Perfil dos casos de anemia falciforme atendidos no centro de
hematologia e hemoterapia do Maranhão. Revista Interdisciplinar, v. 8, p. 130, 2015.
351 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 31
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO ONLINE:
ADAPTAÇÃO DO PSICÓLOGO AS
DISTINTAS MODALIDADES E
IMPLICAÇÕES DO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
Benedita N S Pereira1, Francisco F M Rufino1, Francisco M S M Júnior1,
Henrique R Nunes2
1
Discentes de Psicologia no Centro Universitário INTA- UNINTA, Sobral-Ceará;
2
Docente de Psicologia no Centro Universitário INTA- UNINTA, Sobral-Ceará.
1. INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa será abordado sobre o atendimento psicológico online, que é aceito
como uma prática eficaz no Brasil e no mundo. O conselho Federal de Psicologia (CFP),
por meio da resolução CFP nº 11/2018, elaborou uma nova resolução, com o objetivo de
que o serviço seja prestado obedecendo a padrões éticos.
No período atual, é possível interagir em tempo real com o mundo, sendo difícil
estabelecer o limite entre necessidade e dependência e, por esse motivo, acredita-se que
seja viável encontrar meios de utilizar a tecnologia de maneira produtiva. Por outro lado,
os atendimentos psicológicos online têm sido uma forma de baratear o serviço do
Psicólogo, visto que atendendo online não há necessidade de investir no consultório
material, isto é, como uma tentativa de fazer convergir cada vez mais à prática do
Psicólogo com a lógica da produtividade de mercado.
Comportamentos e costumes estão sofrendo alterações significativas e novas
formas de relacionamento entre as pessoas surgem, mediadas pelo campo virtual.
A busca por atendimento online tem beneficiado os clientes que, com a correria
do dia-a-dia, não podem se deslocar ao consultório, como também aqueles que moram no
interior, quem está viajando e quer continuar um atendimento. O filósofo Pierre Lévy
352 | P á g i n a
escreveu sobre o desenvolvimento das novas tecnologias e sua influência sobre a
subjetividade humana. Afirmou: "estamos vivendo a abertura de um novo espaço de
comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas desse espaço
nos planos econômico, político, cultural e humano." (LÉVY, 2008, p. 11).
Sendo assim, esta revisão de literatura tem como objetivo compreender os desafios
atuais no atendimento psicológico online, sabendo que a psicoterapia online é realizada
através de mensagens de áudio, vídeo conferência, comunicação via internet, chat, câmera
e e-mail. A utilização desses instrumentos tecnológicos, não exclui a possibilidade da
psicoterapia presencial (MACDONALD et al., 2007).
Os Psicólogos interessados em prestar serviços online deverão cadastrar-se no
sistema Cadastro e-Psi (Cadastro Nacional de Profissionais para Prestação de Serviços
Psicológicos por meio de TICs). Figueiredo (2007) defende que os dispositivos
tecnológicos atuais são capazes de oferecer sustentação, continência e possibilidades de
transformação da experiência emocional. A pandemia que estamos vivenciando hoje é
causada por um novo coronavírus, causador da COVID-19, que segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), em junho de 2020, afetou todo o convívio social, ocasionando
o isolamento social.
O atual cenário dificultou a ida do sujeito até ao consultório, evidenciando, assim,
que é de suma importância o uso dessa modalidade online. Portanto, este trabalho tem
como objetivo explorar o tema atendimento psicológico online e como o profissional
psicólogo pode estar atuando na modalidade citada.
2. MÉTODO
O presente trabalho foi realizado por meio de pesquisa e revisão de literatura com
embasamento teórico. Foi realizada consulta à literatura por meio da base de dados
SciELO.
Foram consultados quatro artigos que abordam atendimento psicológico online. A
busca de artigos foi feita a partir do descritor “atendimento psicológico online seus
desafios e implicações”. Foi realizada a leitura completa de dois artigos, intitulados: “A
relação terapêutica nas orientações psicológicas online”, por Deusiane Batista e Beatriz
Machado, e “Orientação Psicológica Online: Percepção dos Profissionais sobre a Relação
com os Clientes”, por Gerson Siegmund e Carolina Lisboa. Estes autores perceberam e
353 | P á g i n a
consideram que o vínculo estabelecido no atendimento online é um vínculo virtual,
vínculo pode existir independente de ser presencial ou online.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
354 | P á g i n a
Em relação à inquietação quanto a situações de crise, Lovejoy (2009) destaca que
terapeutas que atendem online devem tornar os pacientes conscientes quanto à
necessidade de haver um serviço de emergência disponível para eles, caso ocorra uma
situação de crise. Todos os sites de terapia online devem ter um aviso instruindo as
pessoas com tendência suicida a buscar ajuda em algum serviço. Para Esparcia (2002), o
anonimato da terapia online favorece pessoas com dificuldade de realizar comunicação
cara a cara, como as que são tímidas, inseguras e introvertidas, na hora de buscarem ajuda
psicológica.
Conforme, Anderson et al. (2002), as abordagens mais utilizadas no atendimento
online são as de base Cognitiva Comportamental e Psicanalítica. O processo psicanalítico
na modalidade online acontece quando os analistas voltam sua atenção ao ritmo da fala
do paciente, à espontaneidade ou às interrupções, às qualidades tonais e identificam a
contratransferência escutando seus próprios sentimentos, pensamentos e fantasias, como
na análise tradicional (FISHKIN et al., 2011).
Sabe-se que o dispositivo analítico em terapia presencial inclui a presença do
analista, bem como a do sujeito, a materialidade da voz, do olhar, do cheiro e do lugar em
que empreende o discurso (QUINET, 1991). Estudos realizados por Fishkin et al. (2011),
apontam que a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) na modalidade online e na
modalidade presencial apresentaram resultados similares, inclusive nas formas
individuais e grupais.
No contexto de uma pandemia, como a atual que enfrentamos de COVID-19, o
Conselho Federal de Psicologia (CFP) constituiu a possibilidade da atuação de psicólogos
em emergências e desastres, contextos clínicos para promoção à saúde pública. Sendo
assim, o atendimento do Psicólogo não se limita somente ao atendimento físico, mas
também digital, como o online.
Desde a prestação de serviços psicológicos realizados através de tecnologia da
informação e comunicação, o psicólogo, tendo cadastro prévio junto ao seu Conselho
Regional de Psicologia (CRP) pode atuar na abordagem das implicações emocionais da
quarentena e de aspectos psicológicos do isolamento; assim como conscientização das
eventuais mudanças de hábitos e possíveis implicações emocionais que podem se
apresentar. Dessa forma, também é possível também participar na orientação sobre
aspectos de higiene que visem minimizar os riscos de contaminação pela COVID-19.
O Psicólogo deve estar ciente para realizar seu exercício da profissão segundo os
critérios estabelecidos no código de ética profissional.
355 | P á g i n a
4. CONCLUSÃO
A presente pesquisa permitiu constatar que a tecnologia é uma ferramenta útil que
pode favorecer a Psicologia em sua expansão no mercado de trabalho, tendo em vista
que vivemos em um mundo globalizado, em processo de constante mudança. O
atendimento psicológico online pode ser facilmente aceito pelos pacientes, pois existe a
questão da falta de tempo no dia-a-dia, dificuldade no deslocamento até o consultório. A
internet está presente, portanto, para facilitar a acessibilidade para as pessoas que
necessitam desse tipo de atendimento.
O Psicólogo tem o dever de criar um ambiente seguro ao se comprometer com a
terapia virtual, tendo sempre que cumprir e manter conduta ética, deixando bem claro no
primeiro atendimento que as informações que identifiquem o paciente devem ser
evitadas de serem expostas no meio virtual. O profissional deve possuir habilidades
específicas para esse tipo de terapia e com a aprovação de psicoterapias pela internet.
Foi possível compreender que psicoterapia online é uma prática diferente de se
trabalhar. Compreendemos que o trabalhado do profissional Psicólogo nos consultórios
não será substituído pelas práticas de atendimento ocorridas na internet, pois existem
critérios específicos que requerem atendimento presencial, já que em alguns casos o
trabalho das psicoterapias ou as terapias convencionais é fundamental.
O fazer psicologia é amplo e, na contemporaneidade torna-se necessário estar
aberto a novas possibilidades.
356 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BATISTA, D.V.A. Orientação psicológica online: percepção dos profissionais sobre a relação
com os clientes. Universidade Estadual de Londrina. 2012.
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358 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 32
REEMERGÊNCIA DA SÍFILIS E OS
ASPECTOS RELACIONADOS À GESTAÇÃO
Gabrielli C Oliveira1, Andreza A Cardoso1, Magda R P Viana2
1
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
2
Docente do Departamento de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
359 | P á g i n a
Mesmo com o aumento no número de casos diagnosticados, uma grande parte dos
casos de sífilis na gravidez é tardia. Entre o período de 2005 a junho de 2017, foi
notificado um total de 200.253 casos, onde 24,3% das gestantes encontravam-se na faixa
etária de 15 a 19 anos, 51,6% de 20 a 29 anos e 20,2% de 30 a 39 anos (BRASIL, 2017).
Estima-se que ocorram a cada ano, a nível mundial, cerca de um milhão e meio
de casos de sífilis em gestantes, atingindo em maior proporção as mulheres que possuem
níveis socioculturais que facilitam a adesão à doença, tais como resistência ao uso de
preservativos, múltiplos parceiros, início tardio do pré-natal, tratamento inadequado,
entre outros (BRASIL, 2018). Diagnosticar a sífilis em gestantes e a sífilis congênita
tornou-se uma situação difícil em países pobres e em desenvolvimento, assim como o
Brasil (MAGALHÃES et al., 2013).
O estabelecimento de um público-alvo de risco na sífilis em gestantes é difícil.
Alguns autores descrevem o aparecimento de situações que predispõem riscos para a mãe
e para o recém-nascido, como baixa escolaridade da mãe, o aumento do número de partos,
que estão associados ao baixo peso ao nascer, e à mortalidade neonatal.
Alguns fatores de risco podem ser minimizados com intervenções específicas,
dando ênfase ao pré-natal, com rastreamento dos casos para tratamento em tempo hábil.
Os cuidados estabelecidos no pré-natal têm como objetivo a identificação dos riscos que
podem modificar comportamental e socialmente a saúde da mulher ou o desfecho da
gravidez, sendo que estes cuidados são estabelecidos por meio de intervenções de
prevenção e manejo (RICCI, 2015).
Segundo o autor supracitado, o acompanhamento pré-natal adequado é o principal
fator responsável para redução da ocorrência de morbidades intra-útero que ocorrem ao
bebê, como prematuridade, natimortalidade, neomortalidade, infecções congênitas, baixo
peso ao nascer, óbito perinatal e complicações prévias ou tardias.
Há a necessidade de profissionais de saúde estarem aptos e conscientes sobre os
protocolos em relação à sífilis para diagnóstico precoce em todos os níveis de assistência,
especialmente na atenção primária que visa a prevenção da patologia, bem como na
assistência para minimizar os óbitos neonatais causados pela sífilis que é considerada uma
complicação que afeta a saúde pública, assim como a sífilis gestacional que é uma das
formas de sua ocorrência, sendo uma doença grave, silenciosa que pode trazer graves
complicações para o binômio materno/fetal se não descoberta na fase em que o tratamento
possa trazer bons resultados.
360 | P á g i n a
Assim, o estudo foi necessário por consequência do ressurgimento desta doença
nos anos atuais, com o fortalecimento dos fatores que contribuem para o seu retorno.
Dessa forma, é imprescindível o seu conhecimento, a fim de prevenir ou aplicar as
intervenções necessárias a cada caso. Este trabalho será mais uma fonte acerca do tema,
contribuindo para ajudar as gestantes, assim como os profissionais da saúde e acadêmicos,
com o intuito de alertar sobre os fatores de risco, como prevenir para não acometê-las e
aos recém-nascidos, tentar diminuir a prevalência da doença e como tratar quando esta
estiver instalada.
Diante do exposto o estudo tem como objeto a reemergência da sífilis gestacional,
aspectos relacionados à gestação. Elencou-se o objetivo: analisar os aspectos associados
ao reaparecimento da sífilis em gestantes, identificados nas produções científicas.
2. MÉTODO
361 | P á g i n a
transmissíveis, que retornou um total de 984 resultados; (2) sífilis AND gestação AND
tratamento, que resultou em 4.147 resultados, e (3) sífilis AND gestação AND diagnóstico,
com resultado de 5.232 artigos.
Como critérios de inclusão foram escolhidos os artigos disponíveis na íntegra,
publicados no período de 2013 a 2019, no idioma português e inglês que respondessem
ao problema de pesquisa do estudo. Desta forma, ao aplicar os critérios, foram
encontrados 122 estudos para o primeiro cruzamento, 25 para o segundo e 17 para o
terceiro cruzamento dos descritores. Foram excluídos do estudo, artigos incompletos, em
outros idiomas, artigos repetidos e com anos de publicação menores que 2013. Desta
maneira, a seleção dos estudos abordou sete artigos para o primeiro cruzamento, quatro
para o segundo e nove para o terceiro cruzamento entre os descritores, totalizando 20
estudos para análise e discussão da pesquisa.
Após a coleta e leitura dos artigos, os mesmos foram organizados e separados em
tabela, por meio de porcentagem simples. Posteriormente, foi realizada a criação de
categorias por similaridade semântica que responderam aos objetivos do estudo,
realizando a discussão de acordo com os resultados dos artigos trabalhados.
A estruturação do estudo seguiu as normativas legais dispostas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que apresentam as instruções para elaboração e
formatação de estudos (BRASIL, 2002). Os resultados estão apresentados de acordo com
os conteúdos escritos pelos seus autores fidedignamente, respeitando-se os direitos
autorais.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
362 | P á g i n a
assunto, haja vista que está muito em voga a discussão acerca dos aspectos que
desencadeiam a reemergência da sífilis com difícil controle de casos.
VARIÁVEIS N %
Ano de publicação
2013 01 5
2014 02 10
2015 01 5
2016 02 10
2017 03 15
2018 06 35
2019 05 30
Abordagem metodológica
Quantitativa 09 45
Qualitativa 10 50
Bibliográfica 01 5
Periódico
Audiology, communication research 01 5
Ciência, cuidado e saúde 01 5
Ciências da vida e da saúde 01 5
Ciência e saúde coletiva 01 5
Revista brasileira de ginecologia e obstetrícia 02 10
Revista brasileira de saúde materno infantil 02 10
Revista da sociedade brasileira de medicina tropical 01 5
Revista de enfermagem 02 10
Revista de enfermagem e atenção à saúde 01 5
Revista internacional de obstetrícia e ginecologia 01 5
Revista médica de minas gerais 01 5
Revista nursing 02 10
Revista online de pesquisa 01 5
Revista paulista de pediatria 01 5
Revista terra e cultura 01 5
Texto e contexto enfermagem 01 5
Bases de dados
BVS 01 5
BDENF 04 20
PubMed 05 25
Google acadêmico 04 20
SciELO 06 35
363 | P á g i n a
Com relação à abordagem metodológica, a que predominou foi a qualitativa,
contribuindo com 50% dos trabalhos encontrados. A abordagem qualitativa torna-se
relevante por possibilitar meios diretos e satisfatórios para estudar uma variedade de
fenômenos, que garantem a coleta de dados sobre várias atitudes comportamentais dos
sujeitos da pesquisa, além de fornecer dados não contemplados em questionários e
entrevistas.
Quanto aos periódicos, houve igualdade no número de artigos de 12 revistas, em
que foram destacados apenas um artigo. Além disso houve sobreposição de quatro
revistas em que foram destacados dois artigos em cada.
Após a leitura detalhada dos artigos selecionados, observou-se a necessidade de
categorizá-los conforme a similaridade de conteúdo. Para isso, foram criadas quatro
categorias dispostas a seguir.
364 | P á g i n a
definido da população e varia conforme a região do Brasil (SOARES et al., 2017;
SIGNOR et al., 2018).
Segundo Vargas et al. (2018), a sífilis gestacional associa-se a baixa escolaridade
materna, às camadas sociais que possuem menor escolaridade e desfavorecimento
socioeconômico, múltiplos parceiros sexuais e acesso precário ao pré-natal. Diante disto,
salienta-se a importância de ações preventivas com maior atenção para mulheres com
baixa escolaridade. Características relacionadas ao pré-natal materno como o número de
consultas, tratamento do parceiro, trimestre gestacional de exame positivo e estratificação
de risco mostraram associação significativa com o tratamento gestacional para sífilis.
Motta et al. (2018), confirmam as variáveis que desencadeiam maior vulnerabilidade, que
são a pior condição socioeconômica, baixa escolaridade, idade jovem e não realização do
pré-natal. Ademais, ainda destacam a etnia negra e o fato de a mãe ser solteira.
Torres et al. (2019), destacam que o diagnóstico de sífilis é realizado
principalmente no segundo trimestre de gestação, seguido pelo terceiro trimestre e
estatísticas nacionais mostram que a sífilis é detectada principalmente no terceiro
trimestre de gestação. Destaca ainda que a minoria das gestantes realiza mais de sete
consultas, visto que o início precoce do pré-natal e a garantia do número mínimo de
consultas estão associados com maior adequação das ações e controle sobre a sífilis.
Alguns problemas entram em destaque, dificultando a eficácia do pré-natal, que
incluem: sorologia não realizada nos períodos recomendados, anamnese não detalhada,
interpretação inadequada da sorologia, desconhecimento dos sinais da sífilis na mãe, que
seriam evidenciados no exame físico capaz de identificar esses sintomas, falha na adesão
para o tratamento do parceiro sexual e informações impróprias transmitidas entre a equipe
de saúde (MOTTA et al., 2018).
Em relação aos recém-nascidos, não ocorre diferença significativa entre sexo e
raça/cor predominantes. A maioria possui teste não-treponêmico (sangue periférico)
reagente e boa evolução do caso de recém-natos com diagnóstico positivo para sífilis
(MARASCHIN et al., 2019). Nos casos que não evoluem bem, a perda auditiva é a
deficiência sensorial congênita considerada mais comum em todo o mundo. A sífilis
congênita em recém-nascidos de gestantes diagnosticadas durante o pré-natal aponta para
a vulnerabilidade dos serviços de saúde em realizar as medidas de controle da doença,
por negligência do tratamento por parte da equipe de profissionais ou pela não adesão por
parte da gestante e seu parceiro (SILVA & FERNANDES, 2015).
365 | P á g i n a
Os parceiros infectados com sífilis aumentam em cinco vezes o risco de infecção
congênita por sífilis, visto que podem desencadear a reinfecção da mãe. Os motivos para
o não tratamento são: baixa adesão aos serviços de saúde, justificado por questões de falta
de conhecimento sobre a importância do tratamento para a saúde infantil e o parceiro;
emprego; falta de local de referência para tratamento e a ausência de indicação de
tratamento pelo serviço. Desta forma, enfatiza-se a importância da qualidade do pré-natal
com inclusão e corresponsabilidade de parceiros sexuais (SILVA NETO et al., 2018).
366 | P á g i n a
e tratamento da doença, na adesão e tratamento dos parceiros sexuais, com dificuldades
na permanência para o acompanhamento do tratamento e erros nos diagnósticos precoces
nas consultas. Dá-se ênfase ao fato da importância da saída dos recém-nascidos das
maternidades apenas após o resultado da sorologia da mãe (teste treponêmico associado
a teste não treponêmico) apontar negativo para a sífilis.
Segundo o autor supracitado, o diagnóstico e tratamento da sífilis são bem
estabelecidos e de baixo custo. É uma doença antiga e bem conhecida. No entanto, ainda
é considerada como um problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). Esta, estima incidência de 12 milhões de casos novos por ano em todo o mundo,
com 1 milhão de mulheres grávidas incluídas. O Boletim Epidemiológico da Sífilis de
2016 mostrou falhas em atingir o objetivo de reduzir a incidência de sífilis congênita,
além das crescentes taxas de incidência e mortalidade infantil. Em 2018, no Brasil,
observou-se uma taxa de detecção de 21,4 casos de sífilis em gestantes por mil nascidos
vivos.
De acordo com Mesquita et al. (2019), a falta de corresponsabilidade da gestante
influencia na sua assistência, se destacando como uma dificuldade para os profissionais
no decorrer do tratamento e para o controle da doença. A falta de corresponsabilidade,
seja na sua frequência ao pré-natal, na realização dos exames no tempo adequado e na
periodicidade do uso da medicação, no não retorno à UBS de gestantes com sorologia
positiva para o recebimento dos resultados dos exames, a não adesão do parceiro ao
tratamento são conspícuos a probabilidade de reinfecção.
367 | P á g i n a
dificuldades no manejo da sífilis gestacional, resultando em um aumento do índice dessa
enfermidade.
Da mesma maneira, no estudo de Domingues et al. (2013), destaca-se que os
profissionais que possuem maior tempo de atuação na área apresentavam maior
proporção de adequado conhecimento sobre sífilis gestacional e sífilis congênita, além da
prescrição adequada de tratamento para as gestantes. Recomendações podem
transformar-se em resultados favoráveis a partir da adesão e adequação dos protocolos
assistenciais pelos profissionais.
Segundo o autor supracitado, a pouca familiaridade com os conteúdos dos
protocolos, aspectos relacionados aos usuários como o início tardio do pré-natal, não
comparecimento e não tratamento do parceiro e a não adesão das recomendações
destacam-se como barreiras ao conhecimento, que influenciam as atitudes dos
profissionais em relação à sua prática. A atuação das condutas assistenciais realizada
corretamente dispõe de maior acesso aos treinamentos, manuais, protocolos, com maior
familiaridade dos profissionais com os conteúdos.
No que se refere à notificação compulsória, alguns profissionais reconheceram a
sífilis congênita como doença de notificação não obrigatória, sendo um dado alarmante
por ainda existirem profissionais que não dispõem conhecimento consolidado, apesar da
instituição da Portaria do Ministério da Saúde nº 542, de 22 de dezembro de 1986
(COSTA et al., 2018). No estudo de Silva et al., (2019), quando os profissionais foram
questionados sobre a ficha de notificação e investigação, a maioria informou conhece-la,
porém alguns ainda a desconheciam. Além disso, informaram não ter notificado o último
caso de sífilis em gestante por eles atendidos. Em seu estudo, Silva et al. (2014)
apontaram que a maior parte dos profissionais demonstrou reconhecer a sífilis na gestação
como doença de notificação compulsória, contudo são poucos os que a notificam.
Em relação aos exames, baixa proporção dos profissionais pesquisados não soube
identificar corretamente os testes treponêmicos e não-treponêmicos. Com o
desconhecimento dos tipos de testes, que são recomendados para a realização da triagem
e confirmação do diagnóstico desta doença, consequentemente desconhecerão a sua
interpretação e as condutas a serem adotadas.
Grande parte dos profissionais mostra conhecimento sobre as etapas da sífilis
recente. A compreensão sobre as etapas da sífilis é de grande relevância devido a infecção
ser maior no seu início, em consequência da elevada propagação da bactéria pela corrente
sanguínea e maior número de lesões. Além disto, o tratamento é diferenciado de acordo
368 | P á g i n a
com a fase da doença. O teste VDRL foi solicitado pelos profissionais, no primeiro,
segundo e terceiro trimestres, contrariando a orientação do Ministério da Saúde que
padroniza que a triagem materna deve ser realizada no primeiro e terceiro trimestres
(COSTA et al., 2018).
A gestante com VDRL reagente exige dos profissionais de saúde
acompanhamento com adesão de condutas adequadas e atualizadas. A realização desta
tarefa requer capacitação e comprometimento dos profissionais responsáveis na
realização do acompanhamento do pré-natal na atenção primária, com a finalidade de
prevenir a sífilis congênita, resultando em consequente melhoramento nos índices de
morbidade e mortalidade materna e perinatal.
Segundo Silva et al., (2014) o manejo da sífilis gestacional e congênita pelos
profissionais ainda apresenta lacunas em relação a temática, com desconhecimento
técnico/científico acerca do tema, de forma que as gestantes são conduzidas
inadequadamente durante o processo.
369 | P á g i n a
a capacitação do enfermeiro em orientar a gestante sobre o uso correto da medicação, a
fim de prevenir possíveis consequências para o binômio mãe-filho.
Em relação aos exames, o enfermeiro deve garantir a realização das seis consultas
mínimas, preconizadas pelo Ministério da Saúde, que devem ser realizadas na primeira
consulta do pré-natal e no terceiro trimestre de gestação como: tipagem sanguínea e fator
Rh, coombs indireto se for Rh negativo, hemograma, glicemia em jejum, teste rápido de
triagem para sífilis e/ou VDRL/RPR, toxoplasmose IgM e IgG, teste rápido diagnóstico
antiHIV, sorologia para hepatite B (HbsAg), exame de urina e urocultura, atuando de
acordo com os protocolos assistenciais vigentes (SUTO et al., 2016).
Fernandes et al. (2014) enfatizam uma assistência por parte do profissional de
saúde realizada de forma integral, harmoniosa e ética, com anamnese e esclarecimentos
para a gestante e seu parceiro, contribuindo como fator para a redução e controle da sífilis.
Tal prática promove a prática de exames, do uso de preservativos nas relações sexuais,
educação em saúde e captação dos parceiros.
Entretanto, Beck & Souza (2018) reiteram que a promoção da melhoria da
realidade da sífilis, ainda consiste na participação constante do enfermeiro e demais
profissionais da saúde em atividades de educação em saúde que trate e incentive as formas
de prevenção desta doença, além do diagnóstico precoce captando as mulheres gestantes
em idade reprodutiva, proporcionando a assistência de saúde de qualidade e eficiência.
4. CONCLUSÃO
370 | P á g i n a
capacitação para atender o manejo clínico da sífilis. Deu-se ênfase à educação continuada,
ferramenta imprescindível para o profissional desenvolver suas atividades de maneira
eficiente. O presente estudo apresenta limitações, pois foram avaliados somente os artigos
apresentados.
Estas evidências fortalecem a necessidade de estratégias educacionais efetivas
com a sugestão de realização de trabalhos educativos com a população, que conscientizem
as gestantes e os parceiros sexuais com relação ao aumento do comparecimento aos
serviços para os meios de prevenção, a adesão e permanência ao tratamento caso a doença
esteja instalada, facilitando o acesso à informações sobre outras ISTs. Ademais,
conscientizar os profissionais de saúde acerca da relevância da constante educação em
saúde e capacitações sobre o tema.
Diante disso, o enfermeiro deve realizar o tratamento das mães com a prescrição
e administração da penicilina, bem como o acompanhamento sorológico e tratamento dos
parceiros infectados com assistência à saúde de forma holística, com a finalidade de
reduzir a ocorrência da sífilis congênita, prevenindo complicações graves que possam
comprometer a saúde do binômio mãe-filho, além de trabalhar na prevenção da sífilis
como um todo. Para isto, o profissional deve estar atento a todas as necessidades dos seus
pacientes, fundamentando-se sempre no conhecimento técnico/científico e na ética
profissional para a resolução dos problemas.
371 | P á g i n a
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374 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 33
PAPEL DA ATIVIDADE FÍSICA NA
PROMOÇÃO DE SAÚDE E PREVENÇÃO DAS
COMPLICAÇÕES EM PACIENTES COM
DIABETES MELLITUS TIPO II
Igor Castelo Branco Fontenele Costa1, Marina Coelho Feitosa1, Lara Lins
Áfio Ponte1, Márcia Gomes Marinheiro Coelho2
1
Discente de Medicina, Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE.
2
Docente do Curso de Medicina, Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE.
1. INTRODUÇÃO
375 | P á g i n a
comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior
participação no controle desse processo.”
Nessa perspectiva, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNaPS) de 2014,
revisão mais recente da portaria nº 687 de março de 2006, indica os principais temas
transversais e eixos operacionais para concretizar ações de promoção e proteção à saúde
física e mental. Neste aspecto, uma das principais ferramentas para esta manutenção é a
atividade física regular.
Um exemplo de caso de saúde pública de extrema importância é o caso da
Diabetes Mellitus (DM). A DM é uma doença crônica na qual o corpo não produz
insulina, principal hormônio ligado para o controle de glicose no sangue, ou ainda, não
consegue empregar adequadamente a insulina que produz. Devido a isto, o diabético não
consegue utilizar a glicose adequadamente, fazendo com que a mesma permaneça no
sangue durante muito tempo e em concentrações muito altas (hiperglicemia), podendo
causar danos aos vasos, aos nervos e a alguns órgãos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2020), cerca de 13 milhões de
pessoas vivem com Diabetes, o que representa 6.9% da população brasileira e, segundo a
IDF (International Diabetes Federation), o Brasil ocupa o 4ª lugar entre os países com
maior número de pessoas que desconhecem seu diagnóstico de DM. É previsto um
aumento de 62% no número de casos até 2045 (IDF, 2017).
Tendo isto em mente, podemos utilizar os princípios bioéticos para justificar a
integração das atividades físicas, como método de promoção de saúde e prevenção de
complicações da diabetes tipo II. Através do princípio bioético da beneficência, podemos
aliar as atividades físicas no processo terapêutico, reduzindo, assim, o risco de
complicações, enquanto que o princípio da não-maleficência também permite mudanças
de hábitos com a finalidade de preservar a vida. Além destes, podemos citar o princípio
da autonomia do paciente, para procurar a pactuação das atividades físicas como
tratamento preventivo não-farmacológico e o princípio da equidade, sugerindo formas de
atividade física de fácil acesso e que se adequem à realidade do paciente. (KOERICH et
al., 2005)
A diabetes tipo II é o tipo mais comum (cerca de 90% dos casos) e se manifesta
mais frequentemente em adultos por diversos motivos. A Sociedade Brasileira de
Diabetes (2020) apresenta como um dos principais fatores para o controle da mesma, as
mudanças no estilo de vida, incluindo a atividade física e o planejamento alimentar, até
porque, existe uma prevalência de sobrepeso e obesidade em pacientes com diabetes tipo
376 | P á g i n a
II (GOMES et al., 2006). Em casos mais avançados, combina-se estas estratégias com
injeções de insulina e medicamentos para controlar a glicose no sangue.
As principais complicações desta doença podem ser prevenidas pelo controle dos
níveis glicêmicos e do peso. Justamente nesse contexto, entram as estratégias de
promoção de saúde, que focam na melhoria do bem-estar do paciente em sua totalidade.
Neste trabalho será demonstrado, através de uma revisão de literatura, que estas técnicas
de promoção de saúde, ligadas aos exercícios físicos regulares, ocasionam resultados
benéficos na prevenção das principais complicações da diabetes tipo II.
2. MÉTODO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
377 | P á g i n a
mesmo como tratamento suplementar para doenças psíquicas como a depressão (GOMES
et al., 2019).
A importância das atividades físicas vem sendo visada não apenas pelos
profissionais de saúde, mas também por gestores públicos, que através da reabilitação de
espaços públicos, como praças e academias ao ar livre, utilizam programas e campanhas
de promoção de saúde através de atividades físicas como estratégia de marketing social e
melhoria de percepção de saúde (FERREIRA & NAJAR, 2005) (PENÃ- DE- LÉON et
al., 2017). Visando o princípio bioético da equidade, o profissional de saúde pode moldar
planejamentos de promoção de saúde utilizando tais espaços públicos como áreas para a
realização de exercícios físicos regulares.
Existem diversos estudos que indicam esta correlação entre exercícios físicos e
promoção de saúde, incluindo uma pesquisa que foi realizada com 10.224 homens e 3.120
mulheres por aproximadamente 8 anos. Esta pesquisa acompanhou o condicionamento
físico, os hábitos e históricos familiares e demonstrou que as atividades físicas estão
inversamente relacionadas com a taxa de mortalidade por todas as causas (BLAIR et al.,
1989).
Também foi realizado um estudo pelo Institute for Exercise and Sport Sciences,
em Copenhagen, que analisou homens e mulheres, em diversos momentos do dia, durante
cerca de 14.5 anos. Foram observados 17.265 homens e 13.375 mulheres em suas
atividades físicas, com diversos níveis de intensidade, seja durante o trabalho, em seu
trajeto ou em seus tempos de lazer (ANDERSEN et al., 2000).
Observou-se que nas pessoas moderadamente e altamente ativas, teve-se apenas
metade da mortalidade de pessoas que não realizavam exercícios físicos. Foi constatado
também que andar de bicicleta para o trabalho diminuiu o risco de mortalidade em
aproximadamente 40%. Neste contexto, foi concluído que a prática de exercícios físicos
está inversamente relacionada com a mortalidade de homens e mulheres, de todas as
faixas etárias, por todos as causas. (ANDERSEN et al., 2000).
Além disto, foi realizado um estudo que durou 30 anos (1981 a 2012) comparando
diversas comunidades na Austrália e seus programas de educação física infantil. Este
estudo comprovou que em locais onde os programas de educação física eram melhor
implementados, os índices de saúde infantil geral tendem a ser melhores (TESTER et al.,
2014).
Este conjunto de pesquisas permitem constatar a existência de uma associação
direta dos conceitos de saúde e sua promoção por meio da atividade física.
378 | P á g i n a
A Sociedade Brasileira de Diabetes (2020) aponta como principais fatores de risco
para a diabetes tipo 2 indicadores como: sobrepeso, pressão alta, colesterol alto, fatores
genéticos e históricos familiares. Esses fatores de risco podem levar a diversas
complicações no tratamento da diabetes e no controle da glicemia capilar, podendo
resultar em amputações traumáticas das extremidades inferiores ou óbito.
Uma das principais complicações vasculares é o chamado “Pé Diabético”, uma
neuropatia que se dá pela má circulação dos membros inferiores e pode causar fraqueza,
perda de sensibilidade no pé e dores. Este problema de circulação, se não tratado
corretamente ou se diagnosticado de forma tardia, é um dos principais causadores de
amputação (OLIVEIRA et al., 2017).
Diversos estudos científicos relatam os benefícios da prática de atividades físicas
regulares para esses pacientes (SIGAL, et al., 2018.), como por exemplo, o controle da
glicemia e do peso, atuando na prevenção de diversas complicações. Alguns estudos até
dizem que a prática regular de atividade física é um hábito essencial para a manutenção
da saúde de um portador de diabetes (COSTA et al., 2011).
O profissional de saúde nesta situação deve atuar segundo os princípios bioéticos
da beneficência e autonomia, indicando tratamentos que aliem as atividades físicas com
o tratamento farmacológico para auxiliar na diminuição na ocorrência de tais
complicações. No caso de pacientes sedentários, o profissional de saúde deve agir
conforme o princípio da não-maleficência e aconselhar o paciente para que este inicie
atividades físicas regulares e evite condutas que possam agravar o quadro do mesmo, com
a finalidade de preservar a sua vida e melhorar seu bem-estar.
O exercício físico com intensidades de 50 a 80% do VO2 máximo, três a quatro
vezes por semana, de 30 a 60 minutos tem um efeito benéfico no metabolismo de
carboidratos e na sensibilidade à insulina. Foram detectadas melhorias da Hemoglobina
glicada (HbA1c) entre 10 e 20% e foram maiores em pacientes com diabetes leve tipo II
e com maior resistência à insulina. (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE;
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2000).
Ademais, os exercícios físicos atuam ainda na redução e no controle do peso,
como estratégia no tratamento da obesidade (ZINMAN B, 2003) a qual configura-se
como um fator de risco metabólico importante para doenças cardiovasculares (MALTA
et al., 2013; DONNELLY, 2009). Pacientes obesos com perdas de 1% a 2% do peso total,
devido a exercícios regulares realizados durante 18 meses, tiveram melhoras
379 | P á g i n a
significativas nos níveis de HDL e na redução na área da curva insulinêmica.
(DONNELLY, 2009).
A prática de atividade física também reduz a taxa de mortalidade devido a
diminuição de ocorrências de doenças cardiovasculares. Exercícios físicos rotineiros
auxiliam na redução dos níveis de VLDL e dos níveis de insulina plasmática em pacientes
diabéticos (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE E AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2000).
Existem ainda, diversas evidências que associam a resistência insulínica à pressão
arterial em pacientes diabéticos. A redução dos níveis de pressão arterial foi observada
consistentemente em indivíduos hiperinsulinêmicos com exercícios físicos regulares.
(AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE E AMERICAN DIABETES
ASSOCIATION, 2000) reforçando a importância da mudança no estilo de vida para a
promoção e prevenção de saúde para pacientes com DM tipo 2.
4. CONCLUSÃO
380 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
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383 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 34
SÍNDROME HELLP E SUAS COMPLICAÇÕES
Sara L M S Bento1, Thais C Santos1, Vânia M A de Sousa2
1
Discentes de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
2
Docente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
A síndrome HELLP tem, por significado de sua sigla, hemólise, aumento de enzimas
hepáticas e plaquetopenia. Esse acrônimo foi sugerido primeiramente por Weinstein, em 1982,
e faz parte da síndrome de hipertensão e proteinúria que acomete as mulheres a partir da metade
da gestação. Acometendo de 4 a 12% das gestantes com pré-eclampsia ou eclampsia, está
associada a um aumento significativo na morbimortalidade materna e perinatal (REZENDE,
2018).
Segundo Sibai et al. (2009), a síndrome HELLP está relacionada à pré-eclampsia e
ocorre em 1 a cada 1000 gestantes. A avaliação diagnóstica confirma sua severidade ao causar
distúrbio, em geral, em mulheres grávidas no terceiro trimestre, evidenciando mortalidade
perinatal próxima de 10 a 60% e materna em 1,5 a 5% das situações. Retrata-se baixa estatística
numérica antes da 27ª semana de gestação, sendo comum sua manifestação em torno de 30%
das vezes no puerpério.
O acrônimo HELLP desencadeia diversas complicações severas que podem resultar na
retirada do feto do útero de forma prematura. Dentre as complicações presentes na síndrome
HELLP, podem ser desencadeados quadros de insuficiência cardíaca e pulmonar, hemorragia
interna, hematoma hepático, insuficiência renal aguda, acidente vascular cerebral, eclampsia e
outras complicações graves que podem levar a óbito (ANGONESI et al., 2007).
De acordo com Oliveira et al. (2012), existem alguns fatores de risco, como histórico e
hipertensão arterial sistêmica, quadro de pré-eclampsia ou eclampsia em mulheres multíparas,
brancas e maiores de 25 anos. Tais condições podem evoluir para uma complicação maior como
síndrome HELLP. Essa patologia é mais comum no terceiro trimestre, embora possa se
384 | P á g i n a
desenvolver no segundo trimestre ou até na primeira semana após o parto. Algumas das
complicações maternas que afetam o feto são relacionadas com o descolamento de placenta,
restrição do crescimento fetal e a síndrome da angústia respiratória, as quais se não tratadas
podem levar ao óbito fetal.
Por conseguinte, entre 1990 e 2015 a redução de mortalidade materna no Brasil foi de
143 para 62 óbitos maternos a cada 100 mil nascidos vivos, o que representou uma diminuição
de 56%. Essa redução tem sido reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ao
destacar que houveram avanços significativos desde a década de 90 nas políticas públicas de
saúde. Diante dessa realidade o Brasil e outras nações firmaram um pacto com 8 objetivos e 24
metas a serem cumpridas até 2015. O quinto objetivo tinha como meta reduzir em 75% a
mortalidade materna. Essa meta não foi alcançada, apesar dos avanços conquistados (BRASIL,
2018).
Posteriormente, em 2015, novos objetivos foram propostos para ser atingidos até 2030,
nomeados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A nova meta brasileira
relacionada à mortalidade materna é de 30 mortes maternas a cada 100 mil nascidos vivos,
até o ano de 2030. Foram implantadas várias políticas de reestruturação para que essa meta
possa ser alcançada em 2030, pois a mesma irá favorecer as mulheres em idade reprodutiva
e economicamente ativa (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).
A presente revisão tem como objetivo analisar as evidências científicas sobre as
complicações relacionadas à síndrome HELLP, que a gestante pode vir a desenvolver a partir
da segunda metade da gestação ou pós-parto. Esse tema é importante para prevenir a
ocorrência dessa síndrome, tendo em vista que suas complicações são severas e podem levar
ao óbito.
2. MÉTODO
385 | P á g i n a
nas bases de dados ser realizada, foram encontrados 134 deles, dentre os quais 109 estavam na
base LILACS e 25 na base MEDLINE. Posteriormente, foi realizada uma análise aplicando os
critérios de inclusão e exclusão, restando apenas 12 artigos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
AUTOR/ TIPO DE
REVISTA OBJETIVO RESULTADO DO ESTUDO
ANO ESTUDO
A mortalidade materna por pré-
Descrever as
Morales, eclampsia e suas complicações no
principais causas de
F.T. & Gaceta UCIM de Hospital Materno Infantil
Observacional morbidade e
Saraiva, Medica Germán Urquidi (HMIGU) no reflexo
Prospectivo mortalidade materna
C.A., Boliviana 6,38%, estabelecendo-se como a
por pré eclampsia
(2016) principal causa de edema agudo
(UCIM).
pulmonar, eclampsia e a CID.
As principais causas de mortalidade
materna encontradas foram diretas,
com destaque para a Síndrome
Identificar e analisar a HELLP, com 25%. Dentre os fatores
Dias, J.A. Revista
Quantitativo mortalidade materna relacionados à qualidade do cuidado
et al., Médica de
Descritivo na região de Alto assistencial, destaca-se o atraso no
(2016) Minas Gerais
Jequitinhonha, MG. início do tratamento, com 83,33%,
assim como o atraso no diagnóstico e
o manejo inadequado do paciente,
ambos com 75%.
386 | P á g i n a
A eclampsia é uma das condições
mais associadas a PRES, os pacientes
são os mais primitivos, o curso clínico
e os achados de imagem são menos
Realizar uma
graves; o tratamento deve se
caracterização
concentrar na causa. Nesse contexto,
completa e atualizada
deve-se optar por administrar
da síndrome de
medicamentos para gerenciar a
encefalopatia
doença. hipertensão e convulsões. Na
Rev Chil posterior reversivel
Pabón, Y.A. Pesquisa literatura, a PRES e a HELLP são
Obstet (PRES) associado à
et al., (2017) bibliográfica limitadas a séries e relatos de casos.
Ginecol eclampsia e à
As características da fisiopatogenia da
síndrome de HELLP,
síndrome HELLP podem exagerar a
que inclui aspectos
resposta vascular e aumentar o risco
fisiopatológicos,
de sangramento, o que poderia
diagnósticos e
predispor a um curso clínico mais
terapêuticos.
agressivo. O prognóstico da PRES no
paciente obstétrico é bom, não há
risco relatado de recorrências nessa
população.
Apresentar as
Através dos estudos
evidências científicas
dopplerfluxometria e
disponíveis sobre as
dopplervelocimetria, isoladamente ou
alterações do fluxo
associados ao eletrocardiograma e
Almeida, M.G. Revista Pesquisa de hepático na gravidez
cardiografia por impedância, foram
et al., (2015) Femina literatura que podem estar
observadas alterações na circulação
relacionadas à pré-
hepática durante a gravidez,
eclampsia e ao
complicada com pré-eclampsia e
desenvolvimento da
síndrome HELLP.
síndrome HELLP.
Investigar a
As síndromes hipertensivas foram as
associação entre
doenças mais frequentes. Houve
síndromes
presença de correlação positiva entre
hipertensivas e
Ruiz, M.T. Revista Gaúcha Epidemiológico, a queda nos níveis hematócrito (HT)
hemorragias pós-
et al., (2015) de Enfermagem Seccional e hemoglobina (HB) e não se
parto (HPP) através
identificou uma associação entre
da mensuração do
síndromes hipertensivas e
nível de hemoglobina
hemorragia pós parto (HPP).
e hematócrito.
387 | P á g i n a
Descrever as
características O distúrbio hipertensivo mais
clínicas e frequente foi pré-eclampsia e
González, epidemiológicas dos eclampsia com 65,1% (121) e a
Revista Médica Observacional
A.I.I. et al. distúrbios complicação mais frequente na
Honduras descritivo
(2016) hipertensivos da síndrome HELLP 3,7% (7). A
gravidez e do parto prevalência hipertensiva foi de 5,9%.
na sala de parto.
Determinar as
características
Projeto clínicas e As complicações obstétricas mais
Revista observacional demográficas de frequentes, que motivaram a
Zorrilla, A.D.&
gestantes ou admissão na UTI, foram a sepse e
Segovia M.R. Nacional de descritivo do
puérperas internadas cardiopatia descompensada em
(2017) Itauguá corte
na UTI do Hospital pacientes.
transversal
Nacional de Itauguá
por 5 anos.
388 | P á g i n a
De acordo com o que foi exposto no Quadro 1, o ano com maior número de artigos
utilizados foram os anos de 2015 e 2016, seguido pelos anos de 2015 e 2016 (quatro), 2017
(três) e 2013 (um).
Em relação aos tipos de estudos, os artigos são resultantes de pesquisas originais,
realizadas com bancos de informações e com pacientes. São estudos do tipo observacional,
prospectivo, quantitativo descritivo, descritivo tipo corte transversal, revisão bibliográfica,
epidemiológico seccional.
Os periódicos de origem dos artigos foram da área de medicina, com oito artigos
(66,67%), e da área de enfermagem com 33,33% dos artigos, com artigos nacionais e
internacionais, reforçando a relevância da temática em estudo que os mesmos se encontram.
Nos estudos de Ribeiro et al. (2017), a síndrome HELLP é caracterizada como uma
síndrome hipertensiva específica da gestação, que evidencia crescente morbimortalidade.
Gestantes e puérperas com manifestações clínicas ou sinais sugestivos dessa complicação
obstétrica necessitam de assistência intensiva e condutas especiais, alertando profissionais de
saúde quanto à terapia medicamentosa e realização de exame laboratorial o mais precocemente
possível.
Quanto à causa, as mortes maternas podem ser classificadas como obstétricas diretas ou
indiretas. As mortes diretas resultam de complicações surgidas durante a gravidez, durante o
parto ou o puerpério (hemorragia, sepse, complicações de aborto e doenças hipertensivas),
decorrentes de intervenções, omissões, tratamento incorreto ou de uma cadeia de eventos
associados a qualquer um desses fatores. As mortes indiretas decorrem de doenças existentes
antes da gestação ou que se desenvolveram durante a gestação e que foram agravadas pelos
efeitos fisiológicos da gravidez, como problemas circulatórios e respiratórios (DIAZ et al.,
2016).
Na pesquisa realizada por Morales & Saraiva (2016), a mortalidade materna por pré-
eclâmpsia e suas complicações na UTI do Hospital Materno Infantil Germán Urquidi (HMIGU)
refletem 6,38%, estabelecendo como principal causa edema agudo de pulmão, eclampsia e
coagulação intravascular disseminada (CID). A taxa de complicações não é insignificante em
ambiente de condução de terapia intensiva, constituindo como as duas principais complicações
a síndrome HELLP e pré-eclâmpsia. A distribuição diagnóstica das principais complicações na
admissão foram: HELLP (57%), eclampsia (48%), lesão renal edema agudo 19%, CID (8,5%),
acidente vascular encefálico (AVE) (6,38%) e edema agudo de pulmão (2,1%).
A complicação mais constante foi à síndrome HELLP, constituindo 20% dos casos, e a
pré-eclâmpsia, com 42,6%, seguida da lesão renal aguda e da trombocitopenia grave isolada
389 | P á g i n a
presentes em 31,3% dos casos. No entanto, o estudo de Gonzáles et al. (2016) revelou
manifestação de edema cerebral incluindo dor de cabeça, náusea, vômito, fenômeno visual
consistente com disfunção do lóbulo occiptal e convulsões. A síndrome HELLP varia de 2 a
19% nos pacientes com pré-eclâmpsia e eclampsia, porcentagem essa associada ao maior
número de morbimortalidade (GONZALÉZ et al., 2016).
Entre os critérios de near miss maternos, o mais preeminente foi a trombocitopenia
aguda, possivelmente em função da elevada frequência de síndrome HELLP. Ela intensifica o
risco de óbito materno, e um atraso em seu diagnóstico pode expor a mulher às condições
ameaçadoras de vida. A contagem de plaquetas é um exame de baixo custo e acessível, podendo
ser solicitado para a identificação precoce desses casos (OLIVEIRA et al., 2015).
Estudos são necessários para legitimar possíveis comparações. Uma vantagem desses
critérios é que não necessitam de estrutura laboratorial ou hospitalar de grande complexidade,
e podem ser aplicados em unidades hospitalares de baixa complexidade. Vale salientar ainda
que, em um estudo de ratificação dos critérios da OMS para definição de near miss materno, os
critérios clínicos não foram testados, apenas o de manejo e o laboratorial foram validados. A
pesquisa ainda aponta a necessidade de estudos para validação específica dos critérios clínicos
(CECATTI et al., 2015).
Os levantamentos sobre a PRES e síndrome HELLP são menos frequentes (12,37%) e
são limitados a relatos de casos. Agentes citotóxicos e a disfunção endotelial desempenham um
papel importante na fisiopatologia do PRES na síndrome HELLP, uma vez que um terço dos
pacientes não desenvolvem hipertensão. Concentrações aumentadas em 11,38% de
oxihemoglobina resultantes da hemólise HELLP podem ampliar a resposta vascular produzida
no contexto de PRES. Por outro lado, a trombocitopenia pode aumentar o risco de sangramento
(PABÓN et al., 2017).
As manifestações hepáticas da síndrome HELLP são sugestivas da gravidez, mas não
possuem tratamento específico. O diagnóstico distinto deve ser realizado com outras doenças
como a esteatose hepática aguda da gravidez, hepatites agudas graves, anemia hemolítica-
urêmica, púrpura trombocitopênica trombótica e síndrome do anticorpo antifosfolipídeo
(FLORES et al., 2015).
Alterações na circulação hepática durante a gravidez são complicadas por pré-eclâmpsia
e síndrome HELLP, como mostram os estudos de Dopplerfluxometria e Doppler velocimetria,
isoladamente ou associados à cardiografia por impedância. Até então não há dados conclusivos
sobre o papel do Doppler hepático no monitoramento de gestantes com doença hipertensiva
(ALMEIDA et al., 2015).
390 | P á g i n a
Outros estudos apontaram associação das síndromes hipertensivas com DPP e um
aumento nas taxas de HPP. Em um estudo, observou-se que 15,9% das gestantes com síndrome
HELLP apresentaram descolamento prematuro de placenta (DPP), a qual foi associada com a
coagulação intravascular disseminada e, dessas, 6,8% apresentaram HPP. Outro estudo
enfatizou que o DPP é uma variável intermediária para HPP, em decorrência do aumento do
risco de atonia uterina. Compreende-se, desta maneira, que em estudos que associaram a DPP
com as síndromes hipertensivas, o aumento pressórico comportou-se como fator de risco para
hemorragias. Nenhum dos casos de hipertensão identificados no presente estudo cursou com
DPP (ALTENSTADT et al., 2015).
Diante do estudo, as manifestações clínicas mais frequentes foram edema do membro
inferior (37,1%), cefaleia (29%), alterações visuais (14,5%), dor no epigástrio (10,7%),
zumbido e hiperlexia (99,7%). Quanto ao manejo terapêutico, os anti-hipertensivos mais
utilizados foram hidralazina (17,7%) e outros, como a metildopa, enalapril, furosemida e
atenolol (15,6%). O anticonvulsivante mais usado foi o sulfato de magnésio (23,7%)
(SÁNCHEZ et al., 2015).
A probabilidade de uma mulher ser internada na UTI durante a gravidez, no parto ou
puerpério é maior do que de uma jovem não grávida. Estima-se que 0,1 a 0,9% das mulheres,
no decorrer de um evento obstétrico, apresentam complicações que requerem hospitalização na
UTI. A proporção de internação nestas unidades encontrada no período estudado foi de 0,43%,
estando dentro das frequências relatadas na literatura (SOUZA et al., 20117).
A maioria dos óbitos fetais e neonatais ocorreu em mulheres que apresentam DPP
(73,1%). Entre os critérios de near miss materno, o laboratorial foi o que apresentou o maior
número de casos de DFNA (desfecho neonatal e adverso) 45,1%. Na análise bivariada,
estiveram significativamente associadas ao DFNA as seguintes variáveis: antecedentes de
aborto, pré-eclâmpsia grave, síndrome HELLP, DPP, endometrite, hemorragia pós-parto,
cesariana, prematuridade e critérios laboratoriais de near miss materno (OLIVEIRA et al.,
2013).
De acordo com o manual de condutas obstétricas da Maternidade Dona Evangelina
Rosa, elaboradao em 2013, o tratamento de escolha para a síndrome HELLP é semelhante ao
indicado para pré-eclâmpsia e eclampsia, adotando as seguintes medidas gerais: manter
paciente em ambiente tranquilo, silencioso, com pouca luminosidade, conservar vias áreas
livres, cabeça lateralizada, O2 úmido por cateter nasal ou máscara cânula de Guedel, cateterismo
vesical, punção de veia calibrosa, terapia anticonvulsivante (sulfato de magnésio), terapia
391 | P á g i n a
hipertensiva (nifedipnina e hidralazina), avaliação fetal e avaliação laboratorial (PARENTE et
al., 2012).
Segundo MIRANDA et al (2016), alguns cuidados de enfermagem devem ser realizados
com as gestantes internadas com síndrome HELLP como: elevação da cabeceira da cama com
ângulo de 30º, cateterismo vesical, oxigenioterapia, verificação de sinais vitais, avaliação da
dinâmica uterina, da vitalidade fetal, verificação de sinais de cefaleia, assim como
administração de medicação pertinente.
Tais cuidados são realizados pela enfermagem. Porém, o papel mais importante e
fundamental é a prevenção de controle de sintomas de diferentes patologias que podem
acometer gestantes, tornando os profissionais de enfermagem parte dos principais agentes no
acompanhamento da gestação e na prevenção de agravos.
4. CONCLUSÃO
392 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
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395 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 35
FATORES RELACIONADOS À RESISTÊNCIA
DOS PAIS A VACINAÇÃO DO CALENDÁRIO
VACINAL INFANTIL
Maria E Q B Santana1, Aline F De Aquino1, Vânia M A De Sousa2
1
Discente de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
2
Docente do Departamento de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
396 | P á g i n a
coberturas vacinais e todas as suas consequências. Isso se deve pelos pais ou responsáveis
disporem de diferentes sentimentos como dúvidas sobre a importância das vacinas, medo dos
efeitos pós-vacinação, além de considerarem informações equivocadas, sem comprovação
previa, crenças religiosas e filosóficas.
Todos esses fatores têm criado razões para não só os pais, como também os profissionais
responsáveis pela sala de vacinação apresentarem dúvidas sobre a necessidade das vacinas. Ao
mesmo tempo em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) manifesta preocupação com o
fato de que um em cada 10 lactentes no mundo (12,9 milhões de crianças) não recebeu qualquer
dose de vacina em 2016, a maior parte delas em regiões de conflito e pobreza, sem acesso aos
serviços de saúde, ainda é preciso que nos ocupemos das crianças que, mesmo que disponham
de recursos e tenham fácil acesso aos serviços de saúde, deixam de se vacinar por decisão de
seus responsáveis (SUCCI, 2018).
Os profissionais responsáveis pela sala de vacina também exercem papel na
continuidade do calendário, pois a garantia de informações essenciais viabiliza o conhecimento
dos pais acerca da importância das vacinas e a sua adesão. Continua sendo comum a adoção de
falsas contraindicações a vacinação, apoiadas em conceitos desatualizados, com perdas de
oportunidade de vacinação e consequente prejuízo na cobertura vacinal (BRASIL, 2019).
O baixo nível de informação dos responsáveis sobre as vacinas, doses, intervalos, efeitos
adversos, como também orientações para o pós-vacinação, acerca do calendário vacinal e o
processo de imunização, quando passada pelo próprio profissional é dada maior credibilidade
por partes dos pais e influenciam na conclusão do calendário vacinal.
Tendo como objetivo a análise dos fatores que influenciam na resistência dos pais as
vacinas ou na continuidade do esquema vacinal infantil, constatou-se o quanto os pais e/ou
responsáveis estão menos ativos no cumprimento deste calendário. Analisaram-se os fatores
relacionados a esta resistência, para que por meio dessa verificação seja feita a conscientização
dos pais pela importância das vacinas.
2. MÉTODO
Este estudo é uma revisão integrativa, onde foi realizada uma busca na biblioteca virtual
em saúde (BVS) nas seguintes bases de dados: Scientific Eletronic Library Online (SciELO),
Portal de Periódicos CAPES e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS). Os Descritores em Ciências da Saúde (Decs) utilizados foram Vacinação,
397 | P á g i n a
Resistência, Pais e Infantil. A pesquisa partiu da seguinte questão norteadora: Quais fatores
influenciam a não adesão dos pais ou na continuidade do esquema vacinal infantil?
O estudo teve como critérios de inclusão a seleção de artigos publicados em português
e inglês, com dimensão temporal entre 2013 a 2019; artigos completos e artigos indexados nos
referidos bancos de dados. Os critérios de exclusão foram: artigos incompletos, em outros
idiomas que não sejam o português ou o inglês, artigos com o ano inferior ao ano de 2013, e
que não abordassem a temática deste estudo. Foi realizada uma análise minuciosa dos artigos
para extrair as seguintes informações: autores, ano de publicação, periódico de publicação, tipo
de estudo, objetivos, e resultados do estudo. Para a seleção das publicações, cada título e resumo
foram lidos exaustivamente para se ter a confirmação se estes contemplavam a pergunta
norteadora desta investigação e se atendiam aos critérios de exclusão e inclusão.
A presente revisão integrativa da literatura assegura os aspectos éticos, garantindo a
autoria dos artigos pesquisados, sendo os autores citados, tanto no corpo do texto deste estudo,
como nas respectivas referências, obedecendo-se às Normas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT).
De acordo com a seleção realizada na base de dados foram encontrados 98 artigos com
os descritores: Vacinação AND Resistência AND Pais AND Infantil; logo após a utilização dos
filtros disponíveis, língua portuguesa e inglesa, restaram 37 artigos. Posteriormente a esta etapa,
foi adicionado como assunto principal: Imunização, Saúde da Criança, combinou-se os filtros
segundo os critérios de inclusão propostos junto com as bases de dados selecionadas. Sendo
incluídas no final, 11 publicações na elaboração do estudo.
Relacionou-se a distribuição dos estudos de acordo com os descritores citados acima,
onde forem encontrados nas bases de dados: 06 (seis) artigos na SciELO, 03 (três) artigos no
CAPES e 02 (dois) artigos no LILACS.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
398 | P á g i n a
Tabela 1. Distribuição das produções científicas segundo o ano de publicação e abordagem
metodológica (N=11)
VARIAVÉIS N° %
Ano de publicação
2009 01 9,09
2013 01 9,09
2014 01 9,09
2015 02 18,18
2016 01 9,09
2017 02 18,18
2018 03 27,27
Abordagem metodológica
Quantitativa 03 45
Qualitativa 06 50
Bibliográfica 01 05
399 | P á g i n a
vacinal preconizado para cada idade, uma vez que o atraso na vacinação pode ser tão prejudicial
quanto não vacinar (FERNANDES et al., 2015). Além do fato de a criança não vacinada ou
vacinada com atraso ter maior chance de desenvolver doenças, isso incorre em maior risco
comunitário de epidemias, principalmente quando se trata de vacina em dose única, cujo
esquecimento leva à ausência total de proteção (LIMA et al., 2015).
O Brasil por sua vez configura um dos primeiros países do mundo a adotar um
calendário de vacinação e para garantir a sua efetividade foi criado em 1973 o PNI, para
assegurar a população não somente sobre a vacinação, mas também sobre uma adequada
imunização, o que constitui um fator determinante para a diminuição de doenças e a mortalidade
infantil (SALVADOR et al., 2013).
Segundo o estudo dos autores Barbieri et al. (2017), foi realizada a categorização sobre
as decisões e concepções dos pais acerca do calendário vacinal infantil. Organizando-os em três
grupos/categorias: pais vacinadores; pais seletivos das vacinas e pais que não vacinam. Dessa
forma puderam dar características definidoras a esses pais com base em seus depoimentos. Aos
pais que vacinam, baseia-se a valorização cultural, mais do que o fato de ser obrigatório por lei.
Ou seja, o ato de vacinar está ancorado a uma tradição familiar, com perspectiva de ser essencial
à saúde de seus filhos, ao invés da busca pela legalidade. Esses grupos contribuem para a
“cultura de imunização” que reflete na progressiva elevação da cobertura vacinal e como
consequência a eliminação e erradicação das doenças imunopreveníveis.
No primeiro ano de vida é essencial a vacinação, pois garante a essas crianças a
prevenção de várias doenças imunopreveníveis e, como consequência, é um determinante na
redução do coeficiente de mortalidade infantil. A identificação da cobertura vacinal e dos
fatores responsáveis pelo retardo ou falta de vacinação considera-se conduta cabível na
monitorização dos programas de imunização, para ampliá-los e garantir maior cobertura e
atingir todas as crianças.
Destacam-se algumas barreiras que implicam ao alcance das metas vacinais para manter
sob controle a eliminação dessas doenças, são nomeados em: barreiras físicas e atitudinais. A
primeira se refere ao fato da inacessibilidade. Já no segundo, encontra-se o medo das possíveis
reações adversas sugerindo uma crença de que a vacinação de rotina não requer atenção,
desinteresse de mobilização profissional e desconhecimento das metas (FRANÇA et al., 2009).
Entre os grupos que selecionam e os que não vacinam, observou-se que tais decisões
eram tomadas em meio a tensões acerca de posições e valores, intensificando o protagonismo
parenteral e a influência geracional. Nos casais selecionadores atribuem-se valor a vacinas,
porém desaprovam os critérios de seleção e o momento de as vacinas serem administradas, bem
400 | P á g i n a
como os efeitos adversos, acreditam que o calendário vacinal infantil deveria apoiar-se a
particularização do que é melhor para seus filhos e não generalizar um calendário a todos
(BARBIERI et al., 2017).
O moderno movimento antivacina ressurgiu na Inglaterra em 1998, após um artigo
publicado por (WAKEFIELD et al 2014), que relatou uma ligação entre a administração da
vacina sarampo-caxumba-rubéola, autismo e a doença de colite/intestino. A publicação deste
artigo gerou uma enxurrada de atenção da mídia, culminando em uma diminuição imediata na
cobertura de vacinas e, consequentemente, novos surtos de sarampo em muitos países. Apesar
de não haver uma ligação confirmada entre a vacina MMR (Sarampo, Caxumba e Rubéola) o
autismo, e apesar da prova subsequente da fraude do estudo, as alegações resultaram em um
crescente movimento antivacina na Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, e outros
países (BEDFORD & ELLIMAN, 2014).
Apesar disso, o estrago foi feito, muitas crianças deixaram de receber a vacina, em
especial na Europa, por causa da boataria. A ação, que poderia ser chamada de criminosa,
contribuiu para a ocorrência de surtos de sarampo, com internações e mortes. Vários tipos de
interesses podem levar à difusão de mentiras no campo da saúde pública. Foram mencionados
motivos políticos, financeiros, religiosos e filosóficos, podendo haver outros (BRASIL, 2018).
Para os pais que não vacinam, há uma ausência dos valores positivos nas vacinas, já que
para eles sua ação somente é favorável à saúde de seus filhos, quando a sua concepção é
responsável por escolher o que é melhor para seus eles, independente de imposições normativas.
Possuem características de valorização ao parto humanizado, vida mais saudável e menor
intervenção médico-hospitalar (BARBIERI et al., 2017).
Em meados da década de 2011-2020, o plano de ação global para vacinas indicou que
as disparidades na cobertura vacinal persistem dentro e entre países que buscam por estratégias
eficazes para alcançar populações carentes. Normalmente, as intervenções para melhorar os
resultados da vacinação são agrupadas em duas categorias: aquelas que se concentram no
fornecimento de serviços de saúde, e aquelas que estimulam a demanda por vacinas (BRASIL,
2015).
A administração do programa básico de imunização para crianças no Brasil vem se
expandindo continuamente, embora a cobertura vacinal varie ligeiramente de acordo com a
região geográfica e o nível socioeconômico (DOMINGUES & TEIXEIRA, 2014) A
disseminação dos movimentos antivacina pelas redes sociais, internet e mídia, bem como a
maior visibilidade dos efeitos adversos de certas vacinas, afetaram a aceitação da vacina,
principalmente em alguns países desenvolvidos (WOLFE, 2014).
401 | P á g i n a
O avaliar do engajamento tanto dos pais quanto dos profissionais em seus respectivos
pontos de serviço da saúde no preenchimento eficiente da caderneta de saúde da criança (CSC)
permite verificar o nível em que incide sobre o desenvolvimento, crescimento e prevenção das
doenças. A CSC é considerada um instrumento de registro com intuito de avaliar e guardar
informações sobre a saúde da criança, favorecendo o diálogo entre famílias e profissionais de
saúde. No entanto, não há evidências que o uso dessa ferramenta esteja associado à melhoria
nos indicadores de saúde. Mas, é constatada a eficácia nas melhorias das taxas de imunizações.
Tal impasse está associado à precária importância dada ao seu preenchimento, segundo
pesquisa 31,8% das CSC apresentam menos de 60% de preenchimento de 20 itens essenciais
para acompanhar o desenvolvimento infantil (AMORIM et al., 2018).
A CSC propõe-se ao acompanhamento integral de saúde da criança, pautado na
vigilância à saúde, e foi organizada em duas partes: a primeira, a ser preenchida pelos
responsáveis da criança, abrange dados de identificação da criança e dos pais, além de conter
orientações relacionadas à saúde e direitos da criança e dos pais. A segunda, destinada ao
registro pelos profissionais de saúde na maternidade ou durante o acompanhamento da criança,
nos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) ou em outros serviços, inclui dados sobre a
gravidez, parto e puerpério, dados do recém-nascido, além de registros úteis à vigilância do
desenvolvimento da criança (BRASIL, 2017).
4. CONCLUSÃO
402 | P á g i n a
O presente estudo apresenta limitações, pois foram avaliadas somente as evidências
citadas. No entanto, espera-se que sirva de embasamento para o surgimento de outras pesquisas,
com a finalidade de ajudar a entender o que influencia na não adesão dos pais ao calendário
vacinal infantil.
403 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BARBIERI, C.L.A. et al. M.A.A (não) vacinação infantil entre a cultura e a lei: os significados
atribuídos por casais de camadas médias de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.
33, e00173315, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde garante maior distribuição de vacina contra sarampo dos últimos
dez anos Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em:
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45830-ministerio-da-saude-garante-maior-
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cresce 18% número de casos de sarampo no Brasil. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-
saude/45750-cresce-18-numero-de-casos-de-sarampo-no-brasil. Acesso em: 22 ago. 2019
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Febre amarela: guia para profissionais de saúde. Brasília, DF:
Ministério da Saúde; 2018 [citado em 2018 mar. 23]. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/febre_amarela_guia_profissionais_saude.pdf.
Acesso em: 16 mar. 2020
FRANÇA, I.S.X. et al. Cobertura vacinal e mortalidade infantil em Campina Grande, PB,
Brasil. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 62, p. 258, 2009.
404 | P á g i n a
LARANJEIRA, C. et al. Vacinação contra o rotavírus nos cuidados de saúde primários. Revista
Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, v. 30, p. 78, 2014.
SUCCI, R.C.M. Recusa vacinal-que é preciso saber. Jornal de Pediatria, v. 94, p. 574, 2018.
WOLFE, R.M. & SHARP, L.K. Anti-vaccinationistis past and present. British Medical Journal,
v. 325, p. 430, 2014.
405 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 36
RESILIÊNCIA FAMILIAR EM PESSOAS
COM DOENÇA RENAL CRÔNICA E SUA
RELAÇÃO COM VARIÁVEIS
SOCIODEMOGRÁFICAS
Lays B S de Oliveira1, Patrícia N Fonsêca2, Ricardo N Couto3
1
Mestranda em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB.
2
Docente da Pós-Graduação em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB.
3
Docente do Departamento de Psicologia, Faculdade Regional da Bahia – Unirb e UFDPar, Parnaíba/PI.
1. INTRODUÇÃO
A família, no decorrer de seu ciclo de vida, pode passar por situações estressoras,
as quais abalam a estrutura e a dinâmica familiar. Para sobreviver a estes momentos, é
fundamental que seus membros se utilizem de estratégias de enfrentamento,
ocasionalmente, por longos períodos, como, por exemplo, no caso dos familiares de
indivíduos com doenças crônicas (RUTTER, 1987; WALSH, 2002).
Neste momento, busca-se entender e avaliar a situação a fim de tomar decisões
assertivas. Assim, dentre os diversos construtos psíquicos que poderiam ajudar,
ressaltam-se as crenças e os valores, os quais poderão contribuir na compreensão do
problema e na maneira de conduzir o comportamento dos indivíduos na busca de recursos
psíquicos, sociais e humanos capazes de lhes ajudar a enfrentar a situação traumática
(SIXBEY, 2005). Famílias fortalecidas após uma crise podem crescer e obter mais
recursos para enfrentar os desafios da vida (WALSH, 2002). Ao contrário do que a
sociedade comumente pensa, ou seja, de que as pessoas que sofrem algum trauma (por
exemplo, perder parte de um membro do seu corpo) ou passam por crises, como um
divórcio, vão viver em sofrimento pelo resto da vida.
A descoberta de uma Doença Renal Crônica (DRC) abala profundamente a vida
de uma família, especialmente do indivíduo diagnosticado, por exigir dele a realização de
406 | P á g i n a
tratamentos invasivos que, por conseguinte, geram reações psicológicas (como depressão,
ansiedade, raiva, ausência de humor) e sociais (isolamento social), e ainda afeta a
qualidade de vida destas pessoas.
Chew e Haase (2016) apontam que os familiares dos pacientes crônicos também
podem apresentar sofrimentos físicos e psíquicos (e.g.: depressão, ansiedade e raiva).
Nestes casos, percebe-se que o apoio social pode ser um fator de proteção determinante
para a resiliência, visto que implica na resistência às experiências de risco e adversidades,
e está relacionada às diferenças individuais na resposta das pessoas ao estresse
(RADETIĆ-PAIĆ & ČERNE, 2019). Além disso, existem condições sociais e
econômicas, como desemprego e incapacidade, além de perdas afetivas (RUTTER, 1987)
que podem consistir em uma carga emocional que exigem cuidados constantes e
processos adaptativos.
A DRC tornou-se um grave problema de saúde pública no mundo, devido ao
aumento progressivo. Essa ampliação de casos, se não evitada ou controlada, compromete
a qualidade de vida, além de sobrecarregar significativamente os custos econômicos do
Sistema Único de Saúde (SUS) e de seus portadores, pois demanda a realização da
Terapia Renal Substitutiva (TRS) na forma de diálise, hemodiálise ou transplante renal.
Um dos motivos que contribuem para o aumento progressivo do problema, é a
falta de conhecimento sobre os fatores de prevenção, o que pode levar ao
desenvolvimento da doença. Hill e colaboradores (2016) realizaram um levantamento
para conhecer a prevalência da DRC em alguns países. Os autores apontam que na Europa
a prevalência da doença, na população adulta, é de aproximadamente 18,4%, nos Estados
Unidos, 15,4%, na Austrália 14,7% e no Chile 12%. No Brasil estima-se que uma média
de 15% da população adulta apresenta alguma disfunção renal e, na região Nordeste, a
média de pessoas em tratamento corresponde a 11 mil (SARMENTO et al., 2018).
Devido aos obstáculos associados à doença crônica, os indivíduos afetados estão
mais propensos a apresentar transtornos mentais, além de problemas de saúde e estresse,
resultando em uma qualidade de vida reduzida (TANSEI et al., 2016). No entanto, as
pessoas que possuem DRC também experimentam mudanças positivas. Os indivíduos
afetados por doenças crônicas que permanecem felizes e se adaptam ao seu novo estilo
de vida, conseguindo lidar, se adaptar e/ou prosperar apesar do estresse, são considerados
resilientes (CHEW & HAASE, 2016).
Uma pessoa resiliente pode ser vista como alguém que tem a capacidade de se
reerguer após sofrer eventos estressantes da vida ou que é capaz de lidar, apesar das
407 | P á g i n a
condições adversas em que vivem (TANSEI et al., 2016). A literatura sobre resiliência
geralmente afirma que o conceito abrange não apenas a sobrevivência, mas também inclui
o crescimento e a demonstração de adaptação positiva em face da adversidade, após a
experiência estressora (TECSON et al., 2019).
O conceito de resiliência tem total significado para pesquisa e para intervenção
terapêutica com pessoas aprendendo a conviver com doenças crônicas, visto que é uma
variável que permite passar do foco, em seus déficits e problemas, e se voltar para o
trabalho em seus pontos fortes, os quais ajudam a enfrentar os desafios que vida apresenta
(RADETIĆ-PAIĆ & ČERNE, 2019).
Sendo assim, é importante que os profissionais de saúde ampliem sua
compreensão acerca dos meios utilizados pelos pacientes para se adaptar, desenvolver e
crescer a partir de eventos adversos da vida, e, assim, adotar um compromisso de
promoção de saúde e bem-estar para eles (CHEW HAASE, 2016). Estudos sugerem que
a resiliência tem impacto no tratamento de diversas doenças crônicas como, por exemplo,
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), Epilepsia, Artrite Reumatoide (AR) e Artrite
Idiopática Juvenil (CAL & SANTIAGO, 2013; CHEW & HAASE, 2016; GIRTLER et
al., 2010).
O desenvolvimento da sintomatologia das doenças crônicas pode estar
relacionado a processos psicológicos, como o estresse, pois esse interfere no
funcionamento do sistema imunológico, aumentando a vulnerabilidade do organismo à
doença (ASPINWALL & TEDESCHI, 2010; SCHIAVONE et al., 2013). Essas
alterações biológicas, neuroendócrinas e neurais, que acompanham a resiliência, podem
estar associadas aos efeitos do enfrentamento eficaz, levando a uma autoeficácia no
tratamento da doença e como habilidades sociais que melhoram a capacidade de usar o
apoio social (ASPINWALL & TEDESCHI, 2010; RUTTER, 2012).
No entanto, a relação entre resiliência familiar em pessoas com DRC e a saúde
pública ainda não foi suficientemente estudada. Não apenas em relação aos aspectos
psicológicos e de qualidade de vida, mas também em relação ao impacto na saúde física
e na progressão da doença. Além disso, a resiliência pode ser um recurso para reduzir
distúrbios psicológicos, stress e aumentar a felicidade, a qualidade de vida e a satisfação
com a vida entre aqueles que vivem com doenças crônicas.
Portanto, o presente estudo objetivou verificar a influência de variáveis
sociodemográficas na resiliência familiar em pessoas com doença renal crônica.
408 | P á g i n a
2. MÉTODO
2.1. Participantes
2.2. Instrumentos
409 | P á g i n a
2.3. Procedimento
Os dados foram tabulados e analisados com o pacote estatístico SPSS (versão 26).
Calcularam-se estatísticas descritivas (frequências, medidas de tendência central e
dispersão), correlações de Pearson e Análise multivariada da variância (MANOVA).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
410 | P á g i n a
Resiliência Familiar incrementam e apresentam-se como relevantes no entendimento do
fenômeno.
Inicialmente, procurou-se conhecer a relação entre variáveis demográficas e a
Escala de Resiliência Familiar, sendo realizadas correlações de Pearson. Em um primeiro
momento, destacam-se as médias e desvios padrões dos fatores Comunicação Familiar e
Resolução de Problemas (CFRP) (M = 74,54; DP = 11,96), seguido por Utilização de
Recursos Sociais e Econômicos (URSE) (M = 20,66; DP = 3,70), Manter uma Perspectiva
Positiva (MPP) (M = 18,96; DP = 2,28) e, por fim, com menor média, o fator
Espiritualidade Familiar (EF) (M = 11,70; DP = 2,60) .
Posteriormente, foram realizadas análises de correlações de Pearson entre as
variáveis demográficas (idade, sexo, religião, renda) com os fatores da Escala de
Resiliência Familiar (Comunicação Familiar e Resolução de Problemas, Utilização de
Recursos Sociais e Econômicos, Espiritualidade Familiar e Manter uma Perspectiva
Positiva).
O fator Comunicação Familiar e Resolução de Problemas se correlacionou de
forma positiva e significativa apenas com a renda (r = 0,21; p < 0,001). Pode-se observar
que aqueles cujas famílias têm uma renda média ou acima possuem uma melhor
capacidade de comunicação, transmitem sentimentos de forma clara e aberta, reconhecem
problemas e executam soluções, fator significativo da resiliência familiar. Este dado é
similar ao estudo desenvolvido na Croácia (RADETIĆ-PAIĆ & ČERNE, 2019).
Ademais, outras pesquisas verificaram que há uma conexão entre os fatores da resiliência
familiar e o nível de renda de suas famílias (AKEE et al., 2010; RADETIĆ-PAIĆ, 2018).
Buscando a explicação no que concerne à variável idade, houve uma relação
negativa e significativa entre a idade e o fator Manter uma Perspectiva Positiva (r = -0,25,
p = 0,01), verificou-se que quanto maior a idade, menor a capacidade de manter uma
perspectiva positiva, ou seja, menor a crença de que há esperança de superar a adversidade
e, consequentemente, menor a resiliência. Este resultado corrobora com pesquisas prévias
(CHARLES & CARTENSEN, 2010; TECSON et al., 2019). Tais resultados evidenciam
que pessoas com idades mais elevadas tendem a assumir uma postura de desânimo.
A variável sexo não explicou a resiliência familiar, corroborando com resultados
encontrados anteriormente. Por exemplo, em pesquisa realizada na cidade de São Paulo
por Ripar, Evangelista e Paula (2008), não foram encontradas diferenças em relação ao
sexo e a resiliência em adolescentes. De modo semelhante, este resultado foi visto em
pesquisa com idosos no Rio Grande do Sul (FORTES et al., 2009). Ressalta-se que os
411 | P á g i n a
estudos que investigam o sexo e resiliência têm demonstrado que essa variável não é um
preditor eficaz da resiliência, corroborando com a presente pesquisa.
Ademais, visando verificar se as variáveis demográficas influenciaram a
resiliência familiar, foi aplicada a estatística MANOVA, tendo a idade, sexo, tipo de
religião e renda como variáveis independentes (antecedente) e os quatro fatores da
resiliência familiar como variáveis dependentes. Isso indicou que existem diferenças
significativas apenas quanto ao tipo de religião no fator espiritualidade familiar [Lambda
de Wilks = 0,668, F (24,618) = 3,164, p = 0,01, η² (tamanho do efeito) =0,09]. Os testes
univariados revelaram diferenças apenas no fator espiritualidade familiar.
Concretamente, a pontuação média dos evangélicos (m = 13,32) foi superior as demais
religiões. Além de relações positivas e significativas entre a religião e o fator
Espiritualidade Familiar (r = 0,62; p = 0,01).
Os resultados evidenciaram a relevância que os portadores de DRC dão a religião
e o quanto essa subsidia a resiliência. Sendo assim, a religiosidade pode ajudar a superar
as situações traumáticas pois, através dos ensinamentos religiosos, as pessoas socializam,
inserem-se em grupos e participam de atividades sociais que acontecem com regularidade
no contexto das comunidades religiosas, contribuindo como estratégia de adaptação a
nível da estruturação da resiliência familiar (RADETIĆ-PAIĆ, 2018). Outro estudo
afirma que os pacientes encontraram força para enfrentar a doença através da religião,
sendo este um fator protetor para a resiliência em doentes crônicos (SUTANTO et al.,
2013).
Apesar de evidências da presente pesquisa sugerirem que os evangélicos
apresentaram níveis mais elevados de resiliência, quando comparados com outras
religiões, a pesquisa realizada por Benicasa (2010) buscou entender se a religião atua
como fator de risco ou proteção ao uso de drogas em pessoas resilientes. Os resultados
obtidos apontam que a menor concentração de resilientes está entre os
evangélicos/protestantes, pois estão entre os que menos consomem drogas e os que mais
frequentam a igreja semanalmente, sendo assim, a religião tende a ser um fator de
proteção ao consumo de drogas.
4. CONCLUSÃO
412 | P á g i n a
familiar, demonstrando a religião como preditora significativa dessa relação, ao contrário
do sexo.
Entretanto, mesmo alcançando os objetivos propostos, não se pode deixar de
apontar possíveis limitações oriundas da amostra e a possível influência da desejabilidade
social. Outra limitação é a amostra por conveniência e não probabilística,
impossibilitando generalizar os resultados além do universo da qual foi extraída.
Ademais, os achados devem ser encarados como promissores e passíveis de atenção e
replicações.
Frente aos resultados, acredita-se que a resiliência não é um atributo pessoal, nem
o ensino de habilidades de enfrentamento, mas um processo de reflexão, aprendizado e
ação, voltados para a superação das adversidades. Em alguns casos, a resiliência pode ser
determinante nos comportamentos de autocuidado, portanto a associação entre resiliência
e o processo de adoecimento deve ser considerada, sobretudo quando se busca
desenvolver intervenções que fortaleçam os fatores de proteção da resiliência no paciente
crônico.
Ademais, seria igualmente interessante abordar temas como solidão,
personalidade, valores humanos, satisfação com a vida, autoestima e crescimento pós-
traumático, por exemplo, para melhor entender a resiliência familiar e seus
desdobramentos na vida de pessoas com doenças crônicas, contribuindo para a
investigação científica nesta área, dando respaldo para profissionais clínicos (psicólogos,
psicopedagogos e médicos). Também contribuir com a criação de programas
interventivos interessadas na elaboração de estratégias de intervenção em grupos de
terapia familiar ou em políticas públicas voltadas a esse público, contribuindo na
capacitação dos profissionais que irão trabalhar com estas questões.
Portanto, espera-se que os resultados obtidos possam fomentar a resiliência
familiar em pessoas com DRC e sua aplicação em intervenções, potencializando as
crenças religiosas, identificadas como fator de proteção, sobretudo em casos de traumas,
ajudando a melhorar os níveis de resiliência familiar.
413 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
AKEE, R.K.Q. et al. Parents' incomes and children's outcomes: A quasi-experiment using
transfer payments from casino profits. American Economic Journal: Applied Economics, v. 2,
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psychology: Progress and pitfalls in examining the relation of positive phenomena to health.
Annals of Behavioral Medicine, v. 39, p. 4, 2010.
CAL, S.F. et al. Resilience in chronic diseases: A systematic review. Journal Cogenty
Psychology, v. 2, p. 1, 2015.
CAL, S.F. & SANTIAGO, M.B. Resilience in systemic lupus erythematosus. Psychology,
Health and Medicine, v. 18, p. 558, 2013.
CHARLES, S.T. & CARTENSEN, L.L. Social and Emotional Aging. Annual Review of
Psychology, v. 61, p. 338, 2010.
CHEW, J. & HAASE, A.M. Psychometric properties of the Family Resilience Assessment
Scale: A Singaporean perspective. Epilepsy & Behavior, v. 61, p. 112, 2016.
FORTES, T.F.R. et al. A resiliência em idosos e sua relação com variáveis sociodemográficas
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GIRTLER, N. et al. Italian validation of the Wagnild and Young Resilience Scale: A
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in older adults living with chronic illness. The peer-reviewed journal of Baylor Scott & White
Health, v. 32, p. 520, 2019.
416 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 37
A IMPORTÂNCIA DO HOMEM NA
MATERNIDADE CONTEMPORÂNEA
Ananda O Almeida1, Gleicy da S Araujo1, Vânia M A De Sousa2
1
Acadêmica de Enfermagem, Centro Universitário Santo Agostinho Teresina/PI.
2
Enfermeira. Mestre em saúde da criança e do adolescente pela Universidade Estadual do Ceará/UECE. Docente
do Centro Universitário Santo Agostinho Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
417 | P á g i n a
compreende a necessidade do cuidado, favorecendo a participação no parto e nos momentos
gravídicos puerperais (CALDEIRA et al., 2017).
As atividades direcionadas ao homem durante o pré-natal ainda são escassas, durante
no qual a atenção é exclusiva para a mulher e o homem participa apenas na realização de alguns
exames de rotina, sendo que ainda existe pouca aceitação pelo fato da inflexibilidade do horário
de trabalho. Entretanto, novas políticas e programas que envolvem este público são essenciais
para o aumento da participação da população masculina no ambiente familiar (HENZ et al.,
2017).
A participação do homem no processo de gestação de sua mulher percorre pela interação
estabelecida com ele mesmo, com a gravidez, com a companheira e com a família. Contudo, o
papel do homem no contexto da modernidade compõe aspectos que devem ser considerados
sobre sua concepção e vivência sobre a paternidade. Entre estes está a questão de gênero, com
os modelos transgeracionais e a coexistência de novas demandas sociais (FERREIRA et al.,
2016).
O objetivo desse estudo foi analisar o papel do homem na maternidade nos dias atuais,
descrevendo a participação do homem nas consultas de pré-natal de sua companheira,
identificando suas condutas no acompanhamento de sua parceira no período gravídico e
analisando a concepção da mulher sobre a participação do homem durante o período gravídico.
2. MÉTODO
418 | P á g i n a
A coleta de dados foi realizada durante o mês de outubro de 2019, sendo a mesma
elaborada e realizada pelas pesquisadoras. As entrevistas foram realizadas de acordo com
horário compatível de cada UBS, sendo possível utilizar uma sala reservada, previamente
agendada com o administrador da unidade.
Para o processamento dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo. Segundo Bardin
(2010) tal metodologia é realizada em fases, através de três polos cronológicos: a pré-análise;
a exploração do material; e o tratamento dos resultados (inferência e interpretação). Em seguida
os resultados são tratados de maneira a serem significativos e válidos. O analista, tendo à sua
disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar
interpretações a propósito dos objetivos previstos.
O atual projeto foi desenvolvido mediante a resolução 510/16 do Conselho Nacional da
Saúde (CNS), que se refere a pesquisas da área de humanas e sociais, uma vez que a pesquisa
em questão avaliará a percepção/subjetividade de mulheres e a Resolução 466/12. Dessa forma,
fez-se necessária a submissão do projeto ao Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário
Santo Agostinho. A pesquisa foi autorizada Fundação Municipal de Saúde do município de
Teresina.
A realização desta pesquisa ocorreu mediante a autorização da Fundação Municipal de
Saúde para que fosse realizada a coleta de dados. Logo em seguida, o projeto foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro Universitário Santo Agostinho, e logo após a
aprovação do mesmo, a pesquisa foi realizada. CAAE: 3620716.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo foi realizado com 17 gestantes, a pesquisa foi realizada individualmente e, das
17 entrevistadas, apenas quatro estavam acompanhadas pelo seu parceiro, sendo que 23,53%
delas eram casadas., enquanto que 76,47% (14) vivem em união estável.
Quanto à escolaridade 82,35% (14) concluíram ou cursam o Ensino Médio, 17,64% (3)
com Ensino Superior e as demais, distribuídas entre Ensino Fundamental incompleto 11,76%
(2) e Ensino Fundamental completo 5,88% (1). Em relação a profissão 41,18% (7) são donas
do lar, 17,64% (3) eram estudantes. Outras ocupações corresponderam a 41,18% (7). Das
gestantes entrevistadas 41,18% (7) eram primigestas, 52,94% (9) eram secundigestas, e apenas
uma tercigesta, correspondendo à 5,88%.
A partir das respostas emitidas pelas entrevistadas, foi possível elaborar três categorias
que se referem sobre a participação do homem durante as consultas de pré-natal, condutas do
419 | P á g i n a
companheiro em relação ao acompanhamento durante o período gravídico e a concepção das
gestantes sobre a participação do homem durante o período gravídico.
Segundo Henz et al. (2017), a participação paterna durante o pré-natal apresenta grande
importância, relacionando-se ao processo de humanização. Atualmente, são perceptíveis várias
transformações no que diz respeito às mudanças durante o período gestacional, durante o qual
o homem passa a participar mais ativamente durante a gravidez. Essas transformações
contribuem tanto para a criação do vínculo entre pai-filho, quanto para a sua companheira,
criando assim um maior envolvimento afetivo familiar.
Integrar o homem ao acompanhamento durante o pré-natal é uma estratégia que oferece
maior interesse no que diz respeito à gestação, estimulando-o a ter um maior cuidado com a
mulher e com o bebê.
Diante desta categoria, discutem-se os resultados que demonstram se o homem participa
nas consultas de pré-natal, e como ocorre essa participação durante as consultas nas entrevistas
abaixo.
[...] geralmente é no horário que ele trabalha e o trabalho dele é autônomo e no dia
que ele não trabalha ele não recebe [...] (E3);
Já participou algumas vezes, porque ele trabalha e muitas vezes não dá pra vir [..]
(E14);
Ele é bem frequente nos exames, porque como as consultas são bem aqui pertinho de
casa; ele trabalha, então eu ainda não vi a necessidade [...] (E10).
420 | P á g i n a
participação, devido ao homem não ter a permissão de faltar ao serviço para dar assistência à
sua mulher e a seu filho.
Para Ribeiro et al. (2015), quando o homem não participa das consultas de pré-natal não
significa que ele não esteja envolvido com a gestação, pois a participação paterna não determina
o seu comportamento, como no acompanhamento das consultas e exames, incluindo o vínculo
emocional com a mulher e o filho.
No estudo realizado, algumas gestantes relataram que tem a presença do parceiro apenas
na realização do exame de ultrassom gestacional, sendo que elas se sentem mais confiantes e
seguras na realização do exame e na preparação do parto quando acompanhadas pelo parceiro.
Estes achados corroboram no estudo realizado por Silva e Marques (2016), no qual o
homem participa de diversas maneiras durante o período gestacional, como no
acompanhamento das consultas de pré-natal e nos exames, oferecendo a ela o apoio emocional,
envolvendo-se nos preparativos para a chegada da criança, mantendo contato com o bebê, ainda
dentro do útero da mãe. Portanto, no início da gestação o acompanhamento deve ser começado,
para que o vínculo entre pai e filho possa ser estabelecido.
Diante disto, a participação nas consultas possibilita ao companheiro entender melhor a
gestação e o seu papel perante a mesma, além de trabalhar as medidas preventivas, como a
prevenção de infecções e outros exames durante o período gestacional (HENZ et al 2017).
Sendo assim, é de suma importância que eles tenham facilidade aos serviços de saúde, para que
sintam acolhidos e motivados a participar das consultas (CAVALCANTI & HOLANDA,
2019).
De acordo com Cavalcant e Tsunechiro (2018), durante anos o homem foi visto apenas
como provedor da família por heranças culturais. Portanto, o homem revela que o estereótipo
de pai responsável, de prover financeiramente para a família funciona como uma barreira na
participação no pré-natal, afastando-o de seus sentimentos em relação à mulher grávida.
Diante das entrevistas com as gestantes, foi possível obter resultados sobre como ocorre
esse acompanhamento durante o período gravídico e a satisfação das gestantes quanto a essa
conduta, no qual o parceiro ajuda tanto no trabalho doméstico como financeiramente.
421 | P á g i n a
Supermercado... no mercado ele vai comigo, em casa ele ajuda na limpeza da casa,
[...] faz a limpeza da casa, [...] faz a comida[...] (E2);
[...] ele faz as coisas que eu não posso fazer, passar pano em casa, varrer casa, olha a
filha, a outra filha que eu tenho.(E8);
[...] Nesse período, devido a gente tá mais sensível as coisas [...] está mais frágil a
tudo[...] fica mais sensível, precisa de ajuda, de atenção, principalmente, que a gente
precisa, principalmente a atenção. (E3);
422 | P á g i n a
Para Silva et al. (2016), esta participação é muito importante, uma vez que, à medida
que o homem realiza diversas tarefas domésticas que eram desenvolvidas apenas pela mulher,
esta passa a dispor de mais tempo para cuidar do filho recém-chegado e de si mesma. Todavia,
salienta-se que ao serem instigadas a falarem mais sobre a participação do homem no cuidado
com elas, algumas gestantes associaram esta participação com a realização de tarefas do lar, o
que inclusive, por diversas vezes, foi referido como algo novo e surpreendente, visto que até
então esta prática não fazia parte do cotidiano da família.
Diante disso, entende-se que a participação do homem nos cuidados com o lar é um
processo em construção para o desenvolvimento familiar.
Esta categoria abrange como as mulheres se sentem durante todo o período gravídico
em relação à participação efetiva do seu parceiro, tanto durante os procedimentos médico-
ambulatoriais como na vida pessoal e no seu próprio relacionamento.
Foi perceptível que todas elas consideram que em todo esse período é de extrema
importância a participação de seus parceiros. Por isso, mencionam sentir alguns sentimentos,
como cansaço, fragilidade e esperam que o homem seja parceiro, carinhoso, compreensível e
que as apoie.
[...] durante o período da gravidez [...] Pra mim é importante porque da minha outra
filha eu não tive esse apoio, [...] Eu não tive um acompanhamento, já essa gravidez
agora é diferente. Ele já tá mais presente... pra mim é muito importante, pro bebê
também. (E7);
423 | P á g i n a
Ele tá comigo e é bem presente... é importante porque nesse período a gente fica muito
sensível, limitada... a gente precisa de força realmente, por isso que é importante
(E12);
O Governo Federal instituiu, em 2005, a Lei Federal nº 11.108/05, que garante o direito
a um acompanhante de livre escolha da mulher durante todo o período de trabalho de parto,
parto e pós-parto imediato. Nesse contexto, tanto a Rede Cegonha quanto a Lei do
Acompanhante podem contribuir positivamente para a inserção dos homens nas consultas de
pré-natal, bem como consolidar a mudança do paradigma do binômio mãe-criança para o
trinômio pai-mãe-criança (BRASIL, 2016).
Ainda é possível encontrar obstáculos e resistências naturais nesse processo, uma vez
que envolve mudança de paradigmas e novos modos de trabalho, tanto por parte de gestores e
trabalhadores de saúde, como por uma parcela significativa da população masculina e feminina
no que tange ao engajamento dos homens nesse tema (BRASIL, 2016).
Estudos mostram que, apesar de a mulher considerar importante a presença do homem
no período gravídico, ela não o encoraja nessa participação, principalmente primíparas, seja por
vergonha do parceiro ou por aceitar o fato de que ele não pode sair do seu trabalho para
acompanhá-la (RIBEIRO, 2015).
O presente estudo demonstra que é importante que o homem participe em tudo ao que
se refere ao planejamento familiar, destacando que os dois devem estar juntos ao receber a
criança em suas vidas, constituindo assim uma parceria, o que corrobora com os estudos de
Cardoso et al. (2018), quando expressa que a experiência de vivenciar a gravidez permite ao
pai a criação de sentimentos afetivos que favorecem a construção do trinômio pai-mãe-filho,
aproximando a família e contribuindo para um relacionamento saudável e acolhedor.
Em um estudo realizado na Suíça, constatou-se que durante as consultas do pré-natal,
foi possível identificar que os pais receberam um grande apoio profissional, e que lhes foram
permitido fazer perguntas sobre a gestação e o parto, buscando a interação com o profissional
e o seu parceiro para que haja uma construção de um laço familiar, de apoio e de segurança. Os
pais querem ser vistos como indivíduos que fazem parte de um casal e, quando não se sentem
presentes, encontram-se em pânico, colocando seu papel de parceiro em risco. (BECKSTROM
& HEFERLT, 2011).
424 | P á g i n a
Essa união proporciona qualidade em realizar todas as ações propostas durante esse
período, promovendo tanto para mulher como para o homem, estabilidade emocional, fazendo
com que aprendam juntos todas as condutas corretas desde a gravidez até o parto e puerpério,
refletindo também na vida da criança e criando uma relação eficiente entre pai, mãe e filho.
4. CONCLUSÃO
425 | P á g i n a
processo gestacional, como também as ferramentas legais que permitam a sua inclusão sem
prejuízos no trabalho.
Este estudo apresenta limitações, tendo em vista que a sua realização ocorreu em apenas
algumas UBSs.
426 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
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e seus efeitos sob a saúde da mulher. Enfermagem em Foco, v. 10, p. 93, 2019.
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Trabalhos de Iniciação Tecnológica e Inovação, Maringá, 2016. Revista UniCesumar, 2016.
Disponível em: https://www.unicesumar.edu.br/mostra-2016/wp-
content/uploads/sites/154/2017/01/jessica_rodrigues_silva.pdf. Acesso em: 10 nov. 2019.
428 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 38
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA PREVENÇÃO
DE INFECÇÕES SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS NA ATENÇÃO BÁSICA
Maria C S Fonseca1, Amanda K M Resende2, Juliana Do N Sousa1, Cristiana P
Oliveira3, Daniela Dos S M De Almeida1, Anna C I Ferreira1, Renata C Nunes1,
Kassianny M De Sousa1, Larissa Da S Sampaio4, Karllenh R Dos Santos1,
Vanessa L Lira5, Kayron R F Cunha6, Fabricia A Prudêncio7, José F Ribeiro8
1
Graduandas em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Teresina/PI.
2
Graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Residente em Enfermagem Obstétrica
pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. Teresina/PI.
3
Enfermeira pela Faculdade Aliança - Maurício de Nassau. Teresina/PI
4
Enfermeira pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Residente em saúde da criança pelo Hospital Universitário
da Universidade Federal do Maranhão – HUUFMA. São Luís/MA.
5
Enfermeira. Residente em Atenção Básica/Saúde da Família. Universidade Federal do Piauí-UFPI. Parnaíba-PI.
6
Enfermeiro pela UESPI, Pós-graduando em Saúde Pública, Saúde da Família e Docência do Ensino Superior pela
IESM
7
Mestre em Enfermagem Pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina/PI. Professora Efetiva do Curso de
Enfermagem da Universidade Estadual do Piauí –UESPI, Teresina/PI.
8
Docente do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Doutorando em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí – UFPI. Teresina/PI.
1. INTRODUÇÃO
429 | P á g i n a
Básicas de Saúde (UBS) e os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). Estes últimos,
criado em meados dos anos 80, tem como objetivo estimular a adesão à planos de prevenção,
expandir o acesso ao diagnóstico e atenuar os impactos emocionais, por exemplo. Tudo é
realizado de forma sigilosa e gratuita (OMS, 2013; NOGUEIRA et al., 2017).
A disponibilidade de diagnóstico e tratamento promovido pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) é reconhecido internacionalmente. Um exemplo é o Programa Brasileiro de Combate à
AIDS que por meio da amplificação de acesso terapêutico aos adultos positivos para HIV e uso
de ferramentas para barrar a transmissão tem diminuído a propagação da doença (BRITO et al.,
2016).
Nesse contexto, o profissional de enfermagem tem papel imprescindível no que diz
respeito a prevenção e auxílio no tratamento dos pacientes com IST. O enfermeiro, além de
cuidador, se torna educador nesse processo, já que a assistência é transformada em intervenção
educativa com o intuito de fortificar as estratégias de prevenção e conscientizar o indivíduo da
necessidade de mudança de comportamento, para que haja melhoria do estado de saúde
(FERREIRA et al., 2013).
Portanto, mediante a relevância do tema em virtude da propagação a nível global, efeitos
sobre a saúde e a vida do indivíduo nas mais diversas esferas, atrelado a necessidade de
disseminação de conhecimento para contribuir com a redução de desinformação sobre as ISTs
e também destacar o trabalho dos profissionais da saúde nesse processo, o objetivo do estudo
foi verificar na literatura como o enfermeiro atua na prevenção de ISTs no contexto da Atenção
Básica.
2. MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa que visou responder à questão norteadora: “Como o
enfermeiro atua na prevenção de ISTs no contexto na Atenção Básica?”. Usou-se a estratégia
PICo definindo-se como P pacientes, I cuidados de enfermagem na prevenção de ISTs e Co
atenção primária à saúde (KARINO & FELLI, 2012).
A seleção dos trabalhos foi realizada em maio de 2020 através das principais bases de
dados disponíveis via Biblioteca Virtual em Saúde, entre elas MEDLINE (Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-Americano e do Caribe de
Informação em Ciências da Saúde), BDENF (Base de Dados de Enfermagem) e CUMED
(Centro Nacional de Informação de Ciências Médicas de Cuba).
430 | P á g i n a
Foram utilizados os descritores: “Doença Sexualmente Transmissíveis”, “Cuidados de
Enfermagem”, “Controle de Doenças Transmissíveis” e “Atenção primária à saúde” com o
operador booleano “AND” sendo encontrados 32 artigos. Para a inclusão dos artigos foram
considerados periódicos de acesso gratuito e completos, publicadas nos últimos 10 anos (2010
até 2020), nos idiomas inglês, português e espanhol, disponíveis na íntegra. Ao fim da busca,
foram encontrados nove artigos e, para a exclusão artigos que não condiziam com a temática,
foram retirados aqueles que estavam repetidos, e não disponíveis na íntegra. Restaram, assim,
sete produções elegíveis para o trabalho. As análises das publicações ocorreram de maio a junho
de 2020, onde foi realizado todo o levantamento.
Os estudos encontrados e que se adequavam aos critérios e objetivos propostos foram
analisados e categorizados conforme as características comuns, sendo divididos em duas
categorias temáticas: “Atuação do enfermeiro na prevenção de ISTs na Atenção Básica” e “ISTs
e as populações afetadas”.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
431 | P á g i n a
qualificado, além de ser fundamentado em três atividades principais: informação, análise de
riscos e auxílio emocional. No Brasil, é um método útil no combate às ISTs por ser de baixo
custo e possuir boa efetividade (BARBOSA et al., 2015).
Dessa forma, na Atenção Básica, o enfermeiro tem função crucial na prevenção de
infecções. Esse profissional assegura a integralidade dos processos de detecção, diagnóstico e
tratamento. Isso pode ser justificado pelo vínculo que o enfermeiro possui com a comunidade.
Essa proximidade oportuniza a veiculação de informações de forma eficiente corroborando,
assim, com o desenvolvimento de melhorias no cuidado, que refletem no controle da doença
(RODRIGUES et al., 2016).
Somado a isso, o enfermeiro tem outras tarefas, como fazer consultas de enfermagem,
procedimentos, atividades coletivas, requisição de exames, prescrição de certas medicações e
redirecionamento do paciente a outros serviços quando for necessário. Tais atribuições constam
no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas que retrata as funções do referido profissional
no manejo e cuidado das ISTs (FERNANDES, 2019).
Ademais, a atuação dos profissionais de enfermagem também é pautada em condutas
no que tange a ISTs como a sífilis. Quando o diagnóstico é positivo, a conduta é baseada em
notificar e orientar o paciente acerca da doença, tratamento e a continuidade dele. Inclusive é
necessário fazer a busca ativa dos pacientes para que o processo obtenha progresso
(RODRIGUES et al., 2016).
Quanto às condutas de prevenção também se têm práticas voltadas à orientação, em que
deve-se abordar os pacientes e explicar a importância do preservativo, explanar sobre o conceito
das ISTs, os tipos existentes (vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, Sífilis, Herpes, dentre
outros), além de solicitar exames para possível detecção da doença, especialmente no pré-natal
e esclarecer os possíveis tratamentos.
Nesse sentido, é essencial um atendimento individualizado aos pacientes que
apresentam sinais e sintomas. Ressalta-se ainda a educação em saúde como ferramenta usada
pelos enfermeiros no controle e prevenção da doença. Tal método é abordado em grupos de
gestantes ou adolescentes, nas salas de espera e até em escolas, de forma a alcançar um maior
número de pessoas (RODRIGUES et al., 2016).
Além disso, a Estratégia de Saúde da Família atua nesse processo, haja vista o esforço
para divulgação de informativos, elaboração de atividades de intervenção, disponibilidade de
exames de triagem e diagnóstico precoce, que fortalecem o empenho em conter o contágio por
essas infecções (SILVA et al., 2018).
432 | P á g i n a
3.2. Papel do enfermeiro frente às ISTs e as diferentes populações afetadas
De acordo com Johnson et al. (2019), a avaliação da saúde sexual realizada pelo
enfermeiro deve ser feita de forma holística durante toda a vida do indivíduo, pois tais infecções
podem acometer pessoas em qualquer idade, seja por via sexual ou outras formas de
transmissão. Os autores retratam a realidade dos idosos em meio à contaminação por agentes
etiológicos causadores de ISTs. Alguns fatores devem ser investigados durante as consultas,
como divórcio, disfunção erétil, uso de medicamentos e encontros pela internet, por exemplo,
porque tais eventos podem expor os idosos ao risco de serem infectados por ISTs (JOHNSON
et al., 2019).
O referido estudo cita que os fatores de risco para contaminação por AIDS nos idosos
são os mesmos da população em geral. No entanto ideias errôneas acerca da prática sexual na
terceira idade fazem com que esse fato seja pouco abordado e as vezes esquecido durante as
consultas de rotina, onde o foco na maioria das vezes encontra-se nas outras comorbidades
comuns da idade. Por isso é necessário voltar a atenção sobre a presença de outras doenças
como gonorreia, sífilis e clamídia nessa faixa etária (JOHNSON et al., 2019).
Além disso, outra parcela da população que teve a exposição à ISTs abordada foi à
comunidade LGBT. No estudo de Snow et al. (2013), os homoafetivos constituem um grupo
de risco para a infecção pelo vírus da AIDS. Outrossim, as mulheres que se identificam como
lésbicas também tiveram espaço nos escritos.
Além da preocupação com a suscetibilidade às patologias também foi relatada a relação
da paciente com os profissionais da equipe de enfermagem, no sentido de orientação e diálogo
aberto. Foi notado, por exemplo, que a adesão aos métodos de prevenção não era satisfatória.
Isso demonstra, portanto, que a situação exige uma atuação profissional mais assídua em
oferecer conhecimento e também os subsídios, como a oferta dos preservativos e lubrificantes,
para auxiliar na mudança comportamental (SNOW et al., 2013; ARAÚJO et al., 2019).
A ausência de esclarecimento quanto a isso leva a crença de que só se contrai ISTs por
relações heterossexuais. Tal conjuntura é preocupante, pois pode elevar a propagação de
doenças como HIV/AIDS e HPV, sendo que esta última possui ligação direta com uma
condição que afeta as mulheres: o câncer de colo de útero (SNOW et al., 2013; ARAÚJO et al.,
2019).
Junto a isso, as gestantes também constituem grupo em que as ISTs podem estar
presentes. O enfermeiro atua diretamente na assistência ao pré-natal, parto e pós-parto
participando de todo o processo de orientações nas consultas, realizações dos testes rápidos e
433 | P á g i n a
solicitação dos exames diagnósticos, bem como o acompanhamento do tratamento dos casos
confirmados (SILVA et al., 2018).
Consoante a Silva et al (2018), a transmissão vertical de HIV e sífilis demanda atenção
do profissional de enfermagem, pois são considerados problemas de saúde pública. Para tentar
controlar tal impasse, o Ministério da Saúde criou um guia para estimular e orientar a adoção
de ações que visem à eliminação da transmissão vertical das duas enfermidades. Ainda,
percebe-se a importância da atenção ao pré-natal no diagnóstico e tratamento dessas mulheres
e, assim, também evitar a transmissão congênita (SILVA et al., 2018).
Observa-se que nesta revisão, que casa população exige preparo adequado do
profissional de enfermagem em abordar o conteúdo e propiciar medidas de prevenção de
doenças e promoção da saúde.
4. CONCLUSÃO
434 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
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298, 2013.
436 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 39
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE
DENGUE NO ESTADO DO MARANHÃO NO
ANO DE 2017
Flavia M. da Costa Cunha1, Flaviana Rosa P Costa1, Karla Mota de Matos1,
Nisiane dos Santos1, Rafaella C. da Silva Ribeiro1, Wanderson P Moura1
1
Discente de Enfermagem, Faculdade IESF, Paço do Lumiar/MA.
1. INTRODUÇÃO
437 | P á g i n a
A dengue não possui tratamento específico. É recomendada a ingestão de líquido,
repouso, uso de medicamentos para controle da dor e antitérmicos. Deve-se estar atento
ao aparecimento de sinais de choque que, quando presente, torna necessária a internação
para realização da correção do volume de líquidos que foram perdidos (SANTOS et al.,
2018).
Na atualidade, a principal maneira de diminuir os altos índices dos casos de
dengue é combater a proliferação do mosquito por meio da destruição dos criadouros,
eliminação de resíduos sólidos de maneira correta, limpeza adequada de recipientes que
possam acumular água, uso de inseticidas e, principalmente, promover a educação em
saúde para a população, para que a mesma lute incansavelmente contra este agravo
(CAVALLI et al., 2019).
A dengue é uma patologia de notificação compulsória, ou seja, todo caso
efetivamente confirmado deve ser notificado, utilizando como instrumento para registro
e análise a ficha de investigação. Ficha esta que é padronizada pelo Ministério da Saúde,
ao Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) pelos serviços de saúde
públicos, privados ou filantrópicos (GOTO et al., 2016).
Nesse contexto, por se tratar de um problema de saúde pública que leva a um alto
índice de internações e mortalidade, é importante o conhecimento acerca dos potenciais
agravos que a respectiva doença acarreta ao indivíduo. Junto a explanação desses
resultados, busca-se a compreensão dos profissionais e da população em geral sobre a
importância da adesão aos métodos preventivos, que diminuem a disseminação do vetor,
principalmente nos períodos de maior foco do mosquito.
Logo, este trabalho teve como objetivo realizar um estudo retrospectivo sobre os
casos de dengue no Estado do Maranhão durante o ano de 2017, traçando o perfil
epidemiológico dos casos a partir de dados coletados no SINAN do Ministério da Saúde,
de modo a analisar a extensão do problema da doença no estado.
2. MÉTODO
438 | P á g i n a
realizado. O estado possui população feminina de 3.310.823, representando 50,4% da
população total e a masculina com 3.258.860, com 49,6%. O estado possui densidade
demográfica de 19,81 hab/Km², clima tropical e uma ampla área litorânea (IBGE, 2010).
A coleta de dados foi realizada em novembro de 2019. A variável escolhida para
obtenção dos dados foi categorizada em variáveis epidemiológicas, as quais são: número
de casos, sexo, escolaridade, faixa etária, raça e zona de residência. As informações
relacionadas aos casos notificados de dengue no estado do Maranhão no ano de 2017
estão contidas nos bancos de dados SINAN. Após coleta de dados, os mesmos foram
transcritos para o programa Microsoft Excel® e, em seguida, tabulados para conversão
em porcentagem, através da frequência dos dados obtidos.
Todos os casos obtidos foram validados pela gerência técnica, que é responsável
pela manutenção e alimentação do endereço citado. Por se tratar de um estudo
observacional e a análise realizada no banco de dados, de domínio público, o mesmo
não necessitou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), mas ressalta-se que
foram tomados os cuidados necessários para que não houvesse violação da resolução
466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
CASOS NOTIFICADOS
2000 1681
1500
942 963
1000
371 371 503
500 301 236 150 106 135 133
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
439 | P á g i n a
A Tabela 1 apresenta as variáveis demográficas relativas aos casos de dengue
notificados. O sexo feminino apresentou maior número de ocorrências com 54,1% em
relação ao masculino, com 45,9% dos casos notificados. A estrutura proporcional em
relação aos casos não apresenta significância, mostrando que ambos os sexos estão
expostos ao risco de contaminação.
NÚMERO DE CASOS
VARIÁVEL %
(n=7132)
Sexo
Masculino 3272 71,3
Feminino 3860 28,7
Escolaridade
Analfabeto 133 9,7
Ensino Fundamental Incompleto 1880 48,6
Ensino Fundamental Completo 460 5,9
Ensino Médio Incompleto 823 5,7
Ensino Médio Completo 1668 7,4
Ensino Superior Incompleto 88 0,4
Ensino Superior Completo 162 1
Sem Informação 1164 21,3
Não se Aplica 754 10,6
Faixa etária
<1 ano 124 1,7
1 a 9 anos 870 12,2
10 a 19 anos 1516 21,3
20 a 39 anos 2106 36,5
40 a 64 anos 1485 20,9
65 a 79 anos 368 5,8
>80 anos 110 1,5
Raça
Branca 357 5,0
Preta 229 3,2
Amarela 142 2,0
Parda 6157 86,3
Indígena 40 0,6
Sem Informação 207 2,9
Zona de residência
Urbana 6253 87,7
Rural 727 10,2
Periurbana 14 0,2
Sem Informação 138 1,9
440 | P á g i n a
Em vários estudos realizados, identifica-se que não há indícios científicos que
comprovem a maior vulnerabilidade das mulheres em relação à dengue. Entretanto, os
estudos associam esses resultados ao fato da população feminina ainda ser a figura
predominante no trabalho doméstico e, como o foco do mosquito geralmente se dá nas
residências, no período da manhã, e pelo fato de as mesmas costumarem buscar com mais
frequência os serviços médicos que os homens, explicaria a prevalência do sexo feminino
nos resultados apresentados (SANTOS et al., 2018).
Os resultados correspondentes à escolaridade mostram que os indivíduos com
ensino fundamental incompleto foram os mais acometidos (26,4%), e com menor
percentual o ensino médio completo (1,2%), significando que a população estudada está
menos suscetível a contaminação. Outro fator contribuinte é a condição socioeconômica,
sendo que quem apresenta melhor condição financeira, consequentemente possui
melhores condições sanitárias e de moradia, dessa forma menos expostas ao risco de
serem infectadas (RIBEIRO et al., 2008).
A faixa etária mais acometida foi a de 20 a 39 anos, com 36,5% dos casos e, com
menor frequência, a de idosos acima de 80 anos (1,5%). Em relação à cor/raça, a cor parda
apresentou a maior frequência, com 86,3%. A alta porcentagem de dengue na população
entre 20 a 39 anos está correlacionada ao fato da respectiva população ser a
economicamente ativa, que estuda ou trabalha durante o dia, período de maior atividade
dos mosquitos (FERREIRA et al., 2018).
O fator causal do maior número de notificações serem da cor parda não tem uma
justificativa definida, mas supõe-se que devido à cor parda estar mais correlacionada aos
níveis de desigualdade social, residência em locais de grande aglomeração e baixo nível
socioeconômico. Isso de alguma forma corrobora para a maior porcentagem dessa
população nos resultados obtidos (CORREIA et al., 2019).
Na variável zona de residência, a urbana obteve maior frequência, com 87,7% dos
registros. Isso pode ser explicado devido a rápida adaptação do vetor transmissor as áreas
urbanas. Junto a isso, sua alta relação está correlacionada a objetos manufaturados e o
maior foco dos mosquitos ser em locais em que há maior acúmulo de resíduos sólidos,
condições de saneamento precárias e falhos sistemas de drenagem. Por sua vez, a zona
rural teve um resultado significativo com 728 casos das notificações (10,2%). Com menor
frequência de casos notificados está a zona periurbana, com o percentual de 0,2%
(BARBOSA et al., 2015).
441 | P á g i n a
De acordo com os dados dos anos anteriores, houve um significativo declínio no
número de eventos notificáveis de dengue no Maranhão no ano de 2017. Inúmeras
variáveis podem explicar esse declínio: as ações de políticas públicas, alinhadas com a
educação em saúde da população, o planejamento das ações voltadas para a promoção e
proteção à saúde e a gestão correta dos recursos públicos são o que mais tem contribuído
para esses resultados. As continuidades dessas ações corroboram para melhores
resultados nos anos posteriores, o que pode ser obtido através da continuidade de
capacitação das equipes que atuam na vigilância epidemiológica local (SALES, 2008).
4. CONCLUSÃO
Com base no que foi apresentado, a dengue é uma infecção transmitida pelo
mosquito Aedes aegypti, que tem afinidade por locais tropicais e subtropicais. Este é
responsável por um elevado número de internações e óbitos em todo o mundo, o que
torna a doença um grave caso de saúde pública, sendo que o Ministério da Saúde e os
demais órgãos responsáveis pelo controle da infecção devem persistir na elaboração de
mais estratégias que objetivem a eliminação dos fatores condicionantes a difusão dos
mosquitos.
No entanto, além de diagnosticar e tratar a doença, se faz necessário eliminar os
agentes patológicos envolvidos na transmissão do vírus, de maneira a diminuir os casos
de internações e óbitos causados pela respectiva doença. Tal conduta se trata de uma
responsabilidade comunitária que deve ser inicialmente incentivada através da educação
em saúde, provinda das políticas públicas, junto aos profissionais de saúde, que devem
disponibilizar uma assistência mais presencial as populações utilizando diversos meios,
sejam eles educativos ou assistenciais.
Essas metodologias educativas, alicerçadas nos métodos preventivos, acerca dos
meios de transmissibilidade em áreas de maior foco, diminuirão drasticamente a alta
prevalência de dengue em todas as épocas do ano.
442 | P á g i n a
5. REFERÊNCIAS
BARBOZA, J.R. et al. Avaliação da qualidade dos dados, valor preditivo positivo,
oportunidade e representatividade do sistema de vigilância epidemiológica da dengue no Brasil,
2005 a 2009. Epidemiologia e Serviços de Saúde. Brasília, v. 24, p. 49, 2015.
CAVALLI, F.S. et al. Controle do vetor Aedes Aegypti e manejo de pacientes com dengue.
Revista de Pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, v. 11, n. 5, p. 1333,
2019.
CORREIA, T.C. et al. Prevalência de dengue clássica e dengue Hemorrágica no Brasil, entre
2011 e 2015. Revista Eletrônica Acervo Saúde. n. 22, p. 1, 2019.
FERREIRA, A.C. et al. Dengue em Araraquara, SP: epidemiologia, clima e infestação por
Aedes aegypti. Revista de Saúde Pública, v. 52, p. 1, 2018.
SALES, F.M.S. Ações de educação em saúde para prevenção e controle da dengue: um estudo
em Icaraí, Caucaia, Ceará. Revista Ciência & Saúde coletiva, v. 13, p. 175, 2008.
443 | P á g i n a
SANTOS, D.A.S. et al. Caracterização dos casos de Dengue por localização no interior de Mato
Grosso entre 2007 e 2016. Revista Cogitare Enfermagem, v. 23, p 1, 2018.
444 | P á g i n a
Bioética e Saúde Pública
Capítulo 40
ABORDAGEM SOBRE O DESENVOLVIMENTO
DE VACINAS
Ana L de S Pereira1,4, Anna C Dos S Silva2,4, Izabel C Barros2,4, Maria C A
Alencar2,4, Matheus H De S Moura3,4, Weslley A Macedo3,4, Guilherme B L De
Freitas4,5
1
Discente de Nutrição, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, Brasil.
2
Liga Acadêmica de Química Medicinal e Farmacologia (LAQuiMF), Universidade Federal do Piauí (UFPI),
Teresina, Brasil.
3
Discente de Farmácia, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, Brasil.
4
Discente de Medicina, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, Brasil.
5
Docente Dpto. de Bioquímica e Farmacologia, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, Brasil.
1. INTRODUÇÃO
“É melhor prevenir do que remediar”. Esse ditado popular está totalmente relacionado
ao processo de vacinação. Diversas doenças que no passado eram corriqueiras no Brasil e no
mundo como, por exemplo, varíola, sarampo, tétano, poliomielite, rubéola e coqueluche
reduziram seus impactos na saúde pública devido à intensa vacinação da população. O Center
for Disease Control and Prevention (CDC), maior órgão de saúde pública dos Estados Unidos,
classificou a vacina como principal conquista na área entre 1900 e 1999. Alguns estudos
apontam que as imunizações são responsáveis por elevar nossa expectativa de vida em cerca de
30 anos nos últimos dois séculos (LEVI, 2013).
As principais doenças-alvo das vacinas são transmitidas pelo contato direto com objetos
contaminados e perdigotos contendo agentes infecciosos. Desse modo, uma pessoa não
vacinada pode facilmente adquirir e transmitir a doença para outros sujeitos não vacinados. Isso
contribui para disseminação e circulação de doenças potencialmente fatais e sequelares
(STERN & MARKEL, 2005).
As vacinas são produzidas a partir dos próprios agentes etiológicos das doenças, sendo
seu principal fundamento estimular o organismo humano a desenvolver proteínas de defesa
eficazes no combate a possíveis futuras infecções. A fabricação de vacinas envolve um longo
processo, uma vez que a produção pode levar meses e a etapa anterior de pesquisa pode durar
445 | P á g i n a
décadas. Nesse contexto, todas as vacinas legalizadas passaram por uma série de fases de
avaliação, a fim de garantir a segurança da população (LEVI, 2013).
2. HISTÓRICO
446 | P á g i n a
primeiro instituto vacínico em Londres e, em 1802, fundava-se a Sociedade Real Jenneriana
para a Extinção da Varíola (VAN-SANT, 2008).
A descoberta da vacina se espalhou pelo mundo, com a vacinação sendo adotada nos
exércitos das principais potências e por autoridades de Estado da Europa e da América. Em
1804, a vacina chegou ao Brasil por iniciativa do marquês de Barbacena, transportando-a pelo
Atlântico através de seus escravos, que iam passando a infecção vacinal, um para o outro, braço
a braço, durante a viagem (DUNN, 1996; STERN, MARKEL, 2005).
A oposição à vacina jamais cessou. Foram registrados casos de sífilis, erisipela e
hepatite B associados à vacina. As epidemias de varíola na década de 1820 contribuíram
sobremaneira para a resistência as vacinas, quando um grande número de imunizados adoeceu.
Descobriu-se que a proteção não era eterna e era preciso revacinar-se. Além disso, a
conservação da linfa braço a braço adulterava o fluido vacinal, e fazia com que este perdesse
sua potência com o tempo. A solução foi retornar ao vírus original: a cowpox. Apesar de toda
a oposição, a vacinação aos poucos foi se generalizando e ela se tornou obrigatória em muitos
países da primeira metade do século XIX (DIDGEON, 1963; VAN-SANT, 2008).
Em 1885, Louis Pasteur injetou em um menino de 9 anos que havia sofrido mordida de
cão raivoso material proveniente de suas pesquisas sobre atenuação do vírus da raiva. No
mesmo ano o cientista comunica à Academia de Ciências a descoberta do imunizante contra a
raiva, que chamou de vacina em homenagem a Jenner. As vacinas de Pasteur foram as primeiras
obtidas seguindo uma metodologia científica. Fundador da moderna microbiologia e da
medicina experimental, Pasteur revolucionou a ciência ao desenvolver um imunizante
produzido por um método que podia ser generalizado (JACKSON et al., 2013).
Em menos de 15 anos após a origem da vacina antirrábica, surgiu a vacina para cólera,
febre tifoide e peste epidêmica. A segurança para o processo de vacinação em massa somente
foi alcançado no início do século XX, com origem de vacinas apropriadas como difteria em
1923, coqueluche e tétano, sendo que a vacina combinada para essas três doenças, tríplice
bacteriana (DTP), surgiu em 1948 (STERN, MARKEL, 2005; LEVI, 2013).
Contudo, foi a vacina contra a poliomielite que consolidou a popularização da
imunização. Conhecida desde a antiguidade, a doença passou a assumir importância como
problema de saúde pública na metade do século XX, ao provocar epidemias nos Estados Unidos
e Europa. O impacto causado pela visão de crianças paralíticas levou a população americana a
uma mobilização popular sem precedentes financiar a pesquisa de uma vacina contra a pólio,
com a arrecadação de bilhões em fundos para pesquisa. Em 1949, Jonas Salk desenvolveu uma
vacina a partir de vírus inativados, que foi testada em 45 mil crianças nos Estados Unidos, em
447 | P á g i n a
1954. No mesmo ano, Albert Sabin desenvolveu a vacina atenuada contra a pólio, a primeira a
ser aplicada por via oral (STERN, MARKEL, 2005). O resumo de algumas vacinas pode ser
observado na ordem cronológica exposta na Tabela 1.
Tabela 1. Ordem cronológica de algumas das principais vacinas desenvolvidas no século XX.
Ano Vacina
1963 Sarampo Combinadas a seguir como SCR
1967 Caxumba tríplice viral
1969 Rubéola
1974 Meningocócica polissacarídica
1977 Pneumocócica polissicarídica 14V
1980 Raiva em cultura de células
1981 Hepatite B derivada de plasma
1985 Haemophilus influenzae tipo b polissicarídica
1986 Hepatite B recombinante
1987 Haemophilus influenzae conjugada
1989 Febre tifoide (oral)
1993 Cólera recombinante
1994 Cólera atenuada
1995 Varicela
1996 Hepatite A
1996 Pertússis acelular
1999 Rotavírus
1999 Meningocócica conjugada grupo C
Tabela 2. Ordem cronológica de algumas das principais vacinas lançadas no século XXI.
Ano Vacina
2000 Pneumocócica conjugada 7-valente
2003 Influenza para uso intranasal
2005 Meningocócica quadrivalente (A, C, W135, Y)
2006 Novas vacinas rotavírus atenuadas
2006 Zóster
2006 Papilomavírus humano quadrivalente
2008 Pneumocócica conjugada 10-valente
2008 Tretavalente viral – sarampo, caxumba, rubéola, varicela
2009 Influenza H1N1 pandêmica
448 | P á g i n a
2009 Papilomavírus humano bivalente
2010 Pneumocócica conjugada 13-valente
3. PRODUÇÃO
449 | P á g i n a
engenharia genética, sendo estas as vacinas recombinantes (GUIGNARD, 2019; BOUSADA,
PEREIRA, 2017, REINHARDT, 2017, BRASIL, 2014).
450 | P á g i n a
imunoestimuladores - responsáveis por aumentar a produção de citocinas (CASTRO, 2019;
BOUSADA, PEREIRA, 2017).
É válido ressaltar que a fase farmacêutica é realizada em áreas exclusivas para produção
de vacinas, cujos processos utilizam sistemas fechados e automatizados, atendendo as boas
práticas de fabricação e de biossegurança. Após a formulação, faz-se o envase e o
acondicionamento da vacina que em seguida é distribuída em ampolas ou frascos, os quais são
etiquetados e embalados (BUTANTAN, 2018).
Em todas as etapas da produção da vacina, desde o cultivo até a obtenção do produto
final, realizam-se testes de controle e monitoramento que avaliam a ausência de contaminação,
rendimento do antígeno, controle ambiental da área de trabalho, entre outros. Além disso, o
antígeno é submetido a testes específicos de controle de qualidade, com a finalidade de avaliar
a pureza e concentração do antígeno, esterilidade e prova de atividade imunogênica seja in vivo
ou in vitro. Os testes também devem ser realizados após formulação e envase da vacina.
Ademais, deve ser assegurada a qualidade dos procedimentos de limpeza, produção, segurança
pessoal e ambiental. É importante ressaltar que os ciclos de produção de vacinas são mais
longos que os da indústria farmacêutica tradicional devido à necessidade de rigoroso controle
de qualidade dos produtos biológicos (MEDEIROS, 2019; BUTANTAN, 2018).
451 | P á g i n a
Na Fase I é o primeiro estudo a ser realizado em seres humanos e tem por objetivo
principal avaliar toxicidade e farmacocinética do produto. Os estudos de Fase I devem ser
conduzidos no país de produção da droga ou vacina (mesmo quando o produto não se destina a
esta população). São realizados sob rigorosa supervisão médica, usualmente em hospitais, e
envolvem um número limitado de voluntários adultos sadios geralmente do sexo masculino
(PORTUGAL, 2017).
Na fase II são realizados ensaios clínicos pilotos limitados à um pequeno número de
participantes ou pacientes com o objetivo de demonstrar atividade imunogênica da vacina e a
toxicidade do produto nos indivíduos (ou pacientes) para os quais o produto está sendo
desenvolvido. O número de participante aumenta consideravelmente na Fase III, eventualmente
incluindo vários grupos de pacientes tratados em serviços distintos. O objetivo principal é
demonstrar eficácia e inocuidade a curto e longo prazo (EMANUEL, 2000)
A fase IV, última fase, a vacina é disponibilizada para a população. Refere-se a ensaios
clínicos realizados após aprovação, registro e comercialização do produto farmacêutico. Estes
estudos se destinam principalmente a avaliar a ocorrência de efeitos adversos raros ou
desconhecidos além de conhecer a duração do efeito (imunidade) e avaliar o efeito da
intervenção em situações epidemiológicas distintas (PORTUGAL, 2017).
452 | P á g i n a
No segundo caso há exigência que várias atividades sejam conduzidas com risco financeiro
para desenvolvedores e fabricantes e sem saber se a vacina será segura e eficaz ao candidato.
Isto ocorre devido a ampliação muito precoce da manufatura até a escala comercial antes do
estabelecimento da prova clínica (LURIE, 2020)
5. CONCLUSÃO
453 | P á g i n a
6. REFERÊNCIAS
ABBAS et al., Imunologia celular e molecular. 8º ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2015.
CASTRO, A.J.M. Vacinas: novos aspectos, condutas e principais reações. 2019. 26 f. Trabalho
de Conclusão de Curso- UNICEPLAC, Brasília, 2019.
DIDGEON J.A. Development of smallpox vaccine in england in the eighteenth and nineteenth
centuries. Medical Journal, v. 1, n. 5342, p.1367, 1963.
DUARTE, C.I.S. Vacinas e plantas, relação em larga escala. 2016. 48 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências Farmacêuticas) - Faculdade Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa,
Porto, 2016.
DUNN, PM. Dr. Edward Jenner (1749-1823) of Berkeley, and vaccination against smallpox.
Archives of Disease in Childhood: Fetal and Neonatal Edition, v. 74, n. 1, p. 77, 1996.
EMANUEL, E.J. et al. What makes clinical research ethical? JAMA, v. 283, p. 2701, 2000.
Guignard, A. et al. Introducing new vaccines in low- and middle-income countries: challenges
and approaches. Expert Review of Vaccines, v. 18, n.2, p. 119, 2019.
JACKSON, A. C. et al. Rabies: Scientific Basis of the Disease and Its Management.
Amsterdam: Academic Press. 3ed., p. 3–6, 2013.
LEVI, G. C. Histórico. In: LEVI, Guido Carlos. Recusa das vacinas: causas e consequências.
Segmento Farma, 1 ed. São Paulo, p. 5-10, 2013.
NICOLE LURIE et al. Developing Covid-19 Vaccines at Pandemic Speed. New England
Journal of Medicine, v. 382, p. 1969, 2020.
454 | P á g i n a
MEDEIROS, S. G. et al. Avaliação da segurança no cuidado com vacinas: construção e
validação de protocolo. Acta Paulista de Enfermagem, v. 32, n. 1, p. 53, 2019.
Roche Portugal. Lisboa: Roche Pt; 2017. Ensaios Clínicos. Tipos de um ensaio clínico.
Disponível em: http://www.roche.pt/corporate/index.cfm/farmaceutica/ensaios. Acesso em:
Mai. 2020.
Soros e vacinas do Butantan / Organizado por Luciana M. Monaco; -1. ed.- São Paulo: Instituto
Butantan, 2018.
STERN, A. M., MARKEL, H. The history of vaccines and immunization: familiar patterns,
unew challenges. Health Affairs, v. 24, n. 3, p. 611, 2005.
VAN-SANT JE. The Vaccinators: Smallpox, Medical Knowledge, and the Opening of
Japan. Journal of the History of Medicine Allied Sciences, v. 63, n. 2, p. 276, 2008.
455 | P á g i n a
ÍNDICE REMISSIVO
456 | P á g i n a