O Pensamento e Ac Ao Do Aluno

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Intervención en conductas motrices significativas 56!

O pensamento e ac~ao do aluno


em Educa~ao Física
Paulo Pereira. Instituto Politécnico do Porto
Francisco Carreiro da Costa. Universidade Técnica de Lisboa
José Alves Diniz. Universidade Técnica de Lisboa

Introdu~ao

Na investiga<;ao sobre o ensino tem surgido ultimamente um crescente


interesse pela visao paradigmática dos processos mediadores. Este modelo
aparece a partir do reconhecimento de algumas limita<;6es do paradigma
processo-produto, nomeadamente pelo facto deste nao considerar as actividades
cognitivas dos professores e alunos (Shulman, 1986), bem como pelas diversas
incoerencias das conclus6es tiradas nos seus estudos (Lee e Solmon, 1992).
De qualquer modo, a investiga<;ao baseada no modelo processo-produto
contribuiu para identificar algumas variáveis frequentemente relacionadas com
os progressos dos alunos, a saber: o tempo de empenhamento na tarefa, o clima
positivo na aula, a organiza<;ao cuidada da aula, o feedback pedagógico
(Siedentop, 1983; Piéron, 1988).
O modelo mediacional, grandemente influenciado pela psicología cognitiva,
fundamenta-se na perspectiva de que o aluno desempenha um papel construtivo
e activo na sua própria aprendizagem, sendo, deste modo, as actividades mentais
do estudante um factor crucial na media<;ao entre os processos de ensino e o seu
exito (Doyle, 1986; Shulman, 1986; Wittrock, 1986; Lee, Landin e Carter, 1992;
Lee e Solmon, 1992). Por outras palavras, no paradigma dos processos
mediadores parte-se do pressuposto de que nao existe urna rela<;ao linear e
directa entre o ensino e a aprendizagem (explica<;ao simples do tipo imput-
output). Como afirma Doy1e (1986), os comportamentos do professor devem ser
considerados como catalizadores das respostas mediáticas dos alunos, e nao as
causas directas das aprendizagens.
Os investigadores dos processos mediadores examinam "os processos
humanos implícitos que se interp6em entre os estímulos pedagógicos e os
resultados da aprendizagem" (Levie e Dickie, 1973, p. 877). Na realidade, a
investiga<;ao mediacional debru<;a-se sobre os processos de pensamento dos
estudantes, destacando-se nestes os seguintes elementos: as auto-percep<;6es, a
aten<;ao durante o ensino, as motiva<;oes e a percep<;ao do comportamento
educativo do professor (Wittrock, 1986). De facto, os estudos realizados no
562 Pereira, P.; Carreiro da Costa, F.; Alves, J.

domínio dos processos de pensamento dos alunos procuram esclarecer questoes


como estas: Qual a rela~ao entre a aten~ao do aluno e o seu exito? Porque é que
alguns alunos estao mais motivados para persistirem na prática de urna dada
actividade?
Nao obstante o estudo da media~ao cognitiva dos alunos ser originário do
ensino geral, tem havido urna aplica~ao específica dessa investiga~ao no
dornínio das actividades físicas (Lee e Solmon, 1992).
De um modo geral, os teóricos e investigadores, quer do ensino geral, quer
da Educa~ao Física, estao de acordo em considerar que os processos cognitivos
anteriormente referidos influenciam o rendimento ou exito do aluno. Neste
mesmo sentido apontam os vários estudos efectuados no ambito do ensino geral
e Educa~ao Física, cujos resultados indicam que a aten~ao (Locke e Jensen,
1974; Peterson et al., 1982; Lee, Landin e Carter, 1992), percep~ao do
comportamento do professor (Weinstein et al., 1982; Wittrock, 1986; Martinek,
1988), motiva~ao (Fontaine, 1988; Greenockle el al., 1990) e auto-conceito
(Olszewska, 1982; Muller et al., 1988) sao determinantes naquilo que o aluno
aprende.
Neste sentido, o presente estudo constitui-se como a resposta a urna questao
que quisemos analisar sobre os processos de pensamento dos alunos em
Educa~ao Física.

Procurámos saber: Qual a influencia dos processos de pensamento dos alunos


no seu comportamento nas aulas nessa mesma disciplina?
Assim, estabelecemos os seguintes objectivos para este estudo:
l. Analisar os processos de pensamento dos alunos em Educa~ao Física
(aten~ao durante as aulas; motiva~ao para a Educa~ao Física; auto-conceito em
Educa~ao Física; percep~oes do estudante sobre os objectivos da Educa~ao
Física e sobre o comportamento do professor; grau de satisfa~ao do aluno face a
aula).
2. Estudar o comportamento dos alunos nas aulas de Educa~ao Física.
3. Conhecer a rela~ao entre os processos de pensamento dos alunos em
Educa~ao Física e os seus comportamentos nas aulas nessa disciplina.
4. Verificar a influencia que as variáveis nível sócio-económico e sexo
podem ter nos processos de pensamento dos al unos.
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Metodología
Sujeitos
Participaram oeste estudo 49 alunos, 26 do sexo masculino e 23 do feminino.
Os alunos pertenciam a duas turmas do 9° ano.
A idade média dos alunos era de 15,51 anos, variando entre 14 e 20 anos.
A maioria dos alunos provinha de farm1ias de classe inferior-alta (38,8%) ou
classe inferior-baixa (34,7%), segundo a categorizac;ao do nível sócio-
económico apresentada por Sedas Nunes e Miranda (1969) num estudo para a
populac;ao portuguesa.
Instrumentos e procedimentos
Atenfiio. A atenc;ao dos alunos foi observada durante tres aulas. Em cada
urna das aulas de Educac;ao Física o aluno era solicitado a descrever o
pensamento em quatro situac;oes pedagógicas diferentes: (1) o professor
apresenta os objectivos da aula ou fala sobre a tarefa, (2) o professor demonstra
a tarefa, (3) o aluno executa urna dada tarefa, (4) prática do jogo. A definic;ao
operacional da atenc;ao do aluno em aulas de Educac;ao Física, segundo
categorias e subcategorias, foi baseada no estudo de Locke e Jensen (1974). A
atenc;ao dos alunos durante as aulas era registada em questionários previamente
distribuídos pelos estudantes.
Motivafiio para a Educafiio Física. A motivac;ao dos alunos para a
Educac;ao Física foi avaliada a partir de um questionário construído e validado
para o efeito (QMEF). Este instrumento é formado por 14 itens agrupados em
tres dimensoes de motivac;ao. Para cada ítem formulado, os alunos podiam optar
por urna das quatro respostas possíveis. Deste modo, a pontuac;ao do
questionário podía ir de um valor mínimo de 14 até ao máximo de 56.
Auto-conceito em Educafiio Física. Foi avaliado através de urna escala tipo
Likert (cada ítem dispunha de 5 possibilidades de resposta) concebida e validada
para esse efeito. Este instrumento é constituído por 10 itens, podendo variar
globalmente de um escore de 10 até 50.
Percepfiio sobre o comportamento do professor nas aulas. A análise desta
variável foi realizada por intermédio de um questionário. Nesse instrumento
procurou-se verificar se os alunos percepcionavam um tratamento diferenciado
do professor relativamente a estudantes, quer do sexo masculino e feminimo,
quer de elevado e reduzido rendimento escolar na disciplina de Educac;ao Física.
Este questionário é constituído por 48 pares de frases de sentido oposto que
estilo separadas por um contínuo dividido em cinco intervalos.
564 Pereira, P.; Carreiro da Costa, F.; Alves, J.

Percepr;iio sobre os objectivos da Educar;iio Física. Poi avaliada através de


um questionário. Neste pretendia-se saber se os alunos tinham urna percep~ao
dos objectivos da Educa~ao Física mais relacionada com a aprendizagem ou
eventualmente com a recrea~ao, divertimento e entretenimemto.
Grau de satisfar;iio face as aulas. Para analisar esta variável foi elaborado
um questionário que continha apenas urna pergunta: "Gostaste da aula que
acabou de terminar?". Para a questao os al unos tinham quatro possibilidades de
resposta.
Comportamento nas aulas. Para se analisar o comportamento dos alunos,
observou-se um total de seis aulas (dedicadas a matéria de ensino de
Basquetebol), repartidas pelas duas turmas. Para determinar o tipo de
comportamento dos alunos nas aulas utilizou-se o sistema OBEL/ULg (Piéron,
1988), adaptado aos objectivos do presente estudo.
Análise estatística dos dados
O tratamento dos dados recolhidos foi efectuado em duas fases. Num
primeiro momento, realizou-se urna análise descritiva de todas as variáveis. Em
seguida, como se pretendia ter em considera~ao a complexidade do fenómeno
que estávamos a estudar, optámos por utilizar urna técnica estatística
multivariada, mais especificamente a denominada Classifica~ao Automática
("Cluster Analysis").

Resultados e discussao
Os resultados sao apresentados respeitando-se a mesma sequencia com que
foram definidos os objectivos do estudo. Assim, em primeiro lugar, descrevemos
os valores de todas as variáveis dos processos de pensamento dos alunos. Em
seguida, descrevemos os resultados do comportamento dos alunos nas aulas de
Educa~ao Física. Finalmente, apresentamos os resultados da Classifica~ao
Automática ("Cluster Analysis"), segundo as variáveis nominais processos de
pensamento, e características intrínsecas dos alunos (sexo e nível sócio-
econórnico).
Os processos de pensamento dos alunos em Educa~ao Física
A atenfilO dos alunos durante as aulas
A análise dos resultados indica-nos que, quando questionámos os alunos
sobre os seus pensamentos nas aulas, na maior parte das vezes a sua aten~ao
estava centrada, de alguma forma, nas tarefas da aula (62,3%).
Intervención en conductas motrices significativas 565

A seguir, mas com urna frequencia muito menor, a aten~ao dos alunos
dirigia-se para factores exteriores aaula (13,8%).
Em terceiro lugar, a aten~ao dos alunos centrava-se em aspectos relacionados
como ambiente da aula (11,4%).
Posteriormente, os dados mostram que os pensamentos dos alunos
relacionados com o próprio (isto é, dizendo respeito ao seu estado físico ou
psicológico) sao pouco frequentes nas aulas (5,4%), tendo portanto urna menor
expressao que qualquer urna das categorias de aten~ao consideradas.
Convém ainda salientar que houve urna percentagem expressiva de
pensamentos que foram incluídos na categoria de aten~ao nao utilizável (7,1 %).
Os níveis de aten~ao médios revelados pelos alunos na globalidade das aulas
analisadas sao relativamente elevados, urna vez que atingem um valor de 3,07
num máximo possível de 5 pontos.
Considerando os diferentes momentos pedagógicos analisados, verificou-se
que durante as situa~oes práticas (seja no jogo ou na execu~ao das tarefas) os
alunos tinham níveis mais elevados de aten~ao do que nas situa~oes de instu~ao
por parte do professor (apresentar os objectivos da aula, faJar ou demonstrar a
tarefa). Significa isto que os alunos revelaram um maior nível de aten~ao na
prática do jogo (X=3,46), decrescendo progressivamente nas outras situa~oes
pela seguinte ordem: execu~ao de urna dada tarefa (X=3,44), demonstra~ao da
tarefa (X=3,05), o professor apresenta os objectivos da aula ou faJa sobre a
tarefa (X=2,44).
Estes resultados confirmam as conclusoes de outros estudos (Lee, Landin e
Carter, 1992; Locke e Jensen, 1974), se bem que este último tenha sido realizado
com estudantes do ensino superior.
566 Pereira, P.; Carreiro da Costa, F.; Alves, J.

CATEGORIAS FREQUENCIA PERCENTAGEM

I- Relativamente a tarefa
A- Plano motor 118 20,1
B- Observagiío e avaliagiío 21 3,6
C- Capacidade geral 164 27,9
D- Instrugiío 63 10,7

Total 366 62,3

II- Relativamente a aula


E- Organizagiío da aula 42 7,1
F- Social 25 4,3

Total 67 11,4

III- Relativamente ao próprio


G- Físico 5 0,8
H- Psicológico 27 4,6

Total 32 5,4

IV- Fora da aula 81 13,8


V- Nao utilizável 42 7,1

Quadro l. Fréquencia e percentagens dos pensamentos dos estudantes.

Motivm;iio para a Educaf¡iiO Física


A análise global dos resultados obtidos no estudo desta variável permite-nos
dizer que, de um modo geral, os alunos estao muito motivados para a Educa<;ao
Física. Na realidade, em termos gerais, os alunos apresentam urna pontua<;ao
média elevada por item (3,26) e consequentemente na totalidade dos mesmos
(45,57), urna vez que os valores máximos possíveis eram respectivamente de 4 e
56 pontos.
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ltem Ord. Descril;iio Med. Factor


13 1 - Gosto das aulas de Educa91ío Física 3,68
4 2 - Gosto de fazer exercício físico 3,61
10 3 - Gosto de aprender novas técnicas nas aulas de Educa91ío Física 3,53 2
6 4 - Quando vou para as aulas de Educa91ío Física sinto-me contente 3,51 1
14 5 - Gosto das matérias ensinadas nas aulas de Educa91ío Física 3,40 2
1 6 - Penso que nas aulas de Educa91ío Física o lempo passa depressa 3,38
- Se na escota aumentassem o número de horas semanais de
9 7 Educa91ío Física ficava contente 3,38
- Gosto que o professor proponha tarefas difíceis durante as aulas
8 8 de Educa91ío Física 3,22 2
- Para mimé importante que as aulas sejam relativamente intensas
11 9 para melhorar as minhas capacidades motoras 3,12 2
2 10 - Nas aulas de Educa91io Física eu sou empenhado 3,10 1
- Sempre que um colega consegue realizar correctamente urna
5 11 tarefa difícil na aula de Educa91ío Física, eu admiro-o 3,08 3
- Obter urna boa nota na disciplina de Educa91io Física é algo que
7 12 me preocupa 3,06 3
- Para mim a disciplina de Educa91io Física é tao importante quanto
12 13 as outras 2,77 3
- Obter melhores resultados (cor,rer mais, etc.) que os meus colegas
3 14 na disciplina de Educa91io Física é para mim importante 2,69 3

Quadro 1/. Valores médios e ordenar;iio dos itens do questionário da


motivar;iio para a E. Física.

Deste modo, os nossos dados vem confirmar os resultados de outros estudos


desenvolvidos em contextos semelhantes (Duarte, 1992; Gon¡;alves, 1993; Leal,
1993). Efectivamente, nestes estudos constata-se que a maioria dos alunos gosta
da disciplina de Educa¡;ao Física (Duarte, 1992; Gon¡;alves, 1993; Leal, 1993),
considerando-a mesmo, em grande percentagem, como a disciplina preferida do
seu currículo (Gon¡;alves, 1993; Leal, 1993).
De acordo com os resultados mostrados no quadro (11), verifica-se que na
motiva¡;ao para a Educa¡;ao Física os alunos atribuem mais importancia ao factor
da prática da disciplina ou desportiva (o gosto de fazer exercício físico, etc.) do
que a motivos relacionados com o desenvolvimento de capacidades ou
habilidades motoras (gosto de aprender novas técnicas). Os estudantes atribuem
ainda urna menor importancia na motiva¡;ao para a Educa¡;ao Física ao factor de
realiza¡;ao (é importante obter urna boa classifica¡;ao a Educa¡;ao Física).
Auto-conceito em Educm;iío Física
Apresentamos no quadro (III) as médias nao só do valor global do auto-
conceito do aluno em Educa¡;ao Física, mas igualmente de cada questao que
constituía a referida escala.
568 Pereira, P.; Carreiro da Costa, F.; Alves, J.

Item Ord. Descri~o Média


- Comparando-me com os meus colegas considero que na Educa~íio Física eu
1 8 sou um bom aluno 3,06
2 2 - Tenho dificuldades em aprender coisas novas na disciplina de Educa~íio Física 4,29
- Sou um dos primeiros al unos a ser escolhido nos jogos realizados durante as
3 4 aulas de Educa~ao Física 4,12
4 6 - Ti ve sempre jeito para praticar desporto 3,17
- Acho que sou um dos alunos que aprende com facilidade as rnatérias da
5 7 Educ~ao Física 3,10
- Tenho com frequencia a sensa~ao que os meus colegas pensarn que eu sou um
6 10 bom aluno a Educ~áo Física 2,61
7 3 - Estou habitualmente distraído nas aulas de Educa~ao Física 4,21
- De urna forma geral posso dizer que nas aulas de Educa~ao Física trabalho
8 1 muito 4,36
9 5 - Penso que vou conseguir ter urna boa nota a Educ~ Física 3,42
10 9 - Estou convencido que poderla ser melhor aluno em Educa~ao Física 2,72
34,98
Média total auto-conceito (sd=5,78)

Quadro lll. Média de cada urna das questoes da escala de


auto-conceito em E. Física

Conforme se pode observar, a pontua~ao média do auto-conceito em


Educa~ao Física do grupo de sujeitos do nosso estudo é de 34,98. De acordo
com os resultados mostrados no quadro, verificámos que na maioria dos itens as
pontua~oes médias registadas se localizavam sensivelmente próximas do valor
intermédio de 3. É de real~ar ainda que as pontua~oes médias das questoes que
constituem a sub-escala do comportamento nas aulas (itens 7, 8 e 10) sao, de um
modo geral, mais elevadas do que os valores médios das questoes da sub-escala
da competencia desportiva (itens 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 9).
Percept;iío sobre os objectivos da Educat;iío Física
A análise dos resultados permite-nos concluir que os alunos referem mais
frequentemente que a Educa~ao Física deve ter como principal objectivo o
entretenimento, divertimento e recrea~ao (47%). Curiosamente, sao menos os
alunos que consideram que a Educa~ao Física deve visar prioritariamente a
promo~ao de aprendizagens (36,7%). Existe ainda um número elevado de
estudantes que refere serem "outros" os principais objectivos da Educa~ao Física
(16,3%), tais como: "a melhoria da condi~ao física" (6,1 %). Estes resultados vao
ao encontro das conclusoes de alguns estudos (Gon~alves, 1993; Leal, 1993),
afastando-se contudo dos dados indicados noutros trabalhos (Duarte, 1992;
Fraga, 1994).
Intervención en conductas motrices significativas 569

Percepfiio sobre o comportamento do professor


O nosso estudo revela que a generalidade dos alunos considera que o
professor nao teve diferen<;as de tratamento relativamente a nenhum dos grupos
de estudantes (seja masculino ou feminino, seja dos melhores ou piores), em
quase todos os comportamentos analisados (elogios, interac<;6es com os alunos,
privilégios concedidos aos alunos, aten<;ao relativamente ao estudante, crítica
negativa, repreensao, feedback, estabelecer regras de inter-ajuda entre os alunos,
puni<;ao, oportunidades de interven<;ao permitidas ao aluno, solicitar ao aluno
para comandar a actividade). Defacto, exceptua-se o comportamento -utilizar o
aluno como agente de ensino- onde a maioria dos alunos entende que o
professor solicita mais frequentemente aos melhores alunos e aos rapazes para
explicarem e/ou demonstrarem as tarefas da aula.
Estes resultados estao aparentemente em desacordo com as conclus6es de
outros estudos no ensino geral (Weinstein e Middlestadt, 1979; Weinstein et al.,
1982) e na Educa<;ao Física (Martinek, 1988).
Grau de satisfafiiO face as aulas
Quanto ao grau de satisfa<;ao dos alunos face as aulas de Educa<;ao Física,
constatámos que a esmagadora maioria dos estudantes apreciou muito as aulas
que tinham acabado de vivenciar: 63,3% afirmou que gastara muito, enquanto
que apenas 6,1% afirmou que tinha gostado pouco (2, 7%) ou nada (3,4% ).
Os resultados do presente estudo vem refor<;ar as conclus6es de um outro
trabalho (Delens, Renard e Swalus, 1987, cit. in Piéron, 1993).
Comportamento dos alunos nas aulas de Educa~ao Física
A análise dos resultados revela que os alunos, tomados no seu conjunto,
obtiveram um tempo de empenhamento motor que se situa num valor médio de
32,9% do tempo útil da aula.
No que diz respeito ao tempo que os alunos permaneceram a receber
informa<;ao fomecida pelo professor, o valor médio registado foi de 26,5%.
De acordo com os resultados, os al unos passaram 1,1% do tempo útil das
aulas em comportamentos fora da tarefa. Quer isto dizer que o comportamento
fora da tarefa é praticamente inexpressivo.
Relativamente a categoria "outros comportamentos", o valor médio atingido
pelos alunos neste tipo de comportamento foi de 39,5%. Isto significa que nas
aulas os alunos estiveram menos tempo empenhados nas tarefas do que em
períodos "perdidos" para a prática das actividades físicas.
570 Pereira, P.; Carreiro da Costa, F.; Alves, J.

Inter-rela~íio entre as variáveis dos processos de pensamento


Os diversos processos de pensamento analisados (atenc;ao, motivac;ao para a
Educac;ao Física, auto-conceito em Educac;ao Física, grau de satisfac;ao face as
aulas, percepc;ao sobre os objectivos da Educac;ao Física) aparecem quase todos
clara e significativamente inter-relacionados. Todavia, a variável atenc;ao durante
as aulas nao surge associada a motivac;ao para a Educac;ao Física e ao auto-
conceito em Educac;ao Física.
Os nossos resultados vao claramente ao encontro do pensamento de Lee e
Solmon (1992), segundo o qual os processos cognitivos dos alunos nao sao
independentes uns dos outros, mas, pelo contrário, formam urna rede complexa
de mediadores que se inter-relacionam.
O pensamento dos alunos e o seu comportamento nas aulas
Relativamente a influencia dos processos de pensamento dos alunos sobre o
seu comportamento nas aulas, a análise dos resultados obtidos através da
Classificac;ao Automática conduziu-nos ao seguinte:
A classe de maior auto-conceito em Educac;ao Física caracteriza-se por
apresentar um tempo de actividade motora acima da média geral.
Nenhuma das variáveis do comportamento dos alunos nas aulas surge a
ilustrar significativamente as classes de motivac;ao para a Educac;ao Física e as
classes de percepc;ao sobre os objectivos da Educac;ao Física.
Os alunos com um maior nível de atenc;ao caracterizam-se por apresentar
um tempo, quer em actividade motora, quer em comportamentos fora da tarefa
inferior a média geral. Em contrapartida, estes estudantes caracterizam-se ainda
por manifestarem durante mais tempo sinais exteriores de atenc;ao perante a
informac;ao fomecida pelo professor.
Os alunos com maior grau de satisfac;ao face as aulas sao caracterizados
por permanecerem mais tempo a receber informac;ao do professor e a estar
menos tempo em comportamentos fora da tarefa do que a média geral.
Assim, pela análise dos resultados no seu conjunto, podemos concluir que a
maioria dos processos de pensamento dos alunos estudados nao influencia o seu
comportamento nas aulas de Educac;ao Física, sobretudo no que diz respeito ao
tempo de actividade motora. Os resultados do presente estudo parecem nao
apoiar a perspectiva sugerida por Piéron (1993, p. 47), quando afirma que: "se o
tempo é um excelente mediador, é muito provável que as actividades mentais
dos al unos desempenhem igualmente um papel mediador". Ora, como no nosso
estudo os processos de pensamento do estudante e o tempo de actividade motora
Intervención en conductas motrices significativas 571

nao surgem associados, é possível admitir que pelo menos um destes factores
nao tenha contribuído decisivamente para a aprendizagem dos alunos. Como
eventual explicac;ao para a ausencia de relac;oes entre os processos de
pensamento dos alunos e seu comportamento nas aulas, podemos referir o
modelo de organizac;ao da aula definido pelo professor, nomeadamente a opc;ao
por urna actividade massiva em grupos, situac;ao em que a turma foi dividida em
grupos de alunos do sexo masculino e feminino.
Diferen.;as entre os processos de pensamento dos rapazes e raparigas
Os resultados registados indicam-nos que as raparigas apresentam valores
significativamente superiores aos rapazes na atenc;ao global, motivac;ao para a
Educac;ao Física e grau de satisfac;ao face as aulas. Quanto aos outros processos
de pensamento nao se verificaram diferenc;as significativas. Estes resultados nao
sao concordantes com alguns estudos que tem demonstrado que em quase todos
os processos de pensamento analisados existem diferenc;as entre rapazes e
raparigas, mas que estes se manifestam em favor dos rapazes.
Diferen.;as entre os processos de pensamento de alunos dos vários NSE
Quanto a influencia do nível sócio-económico sobre os processos de
pensamento dos alunos, os resultados alcanc;ados parecem evidenciar que nao
existem diferenc;as significativas entre os processos de pensamento dos sujeitos
oriundos das várias classes sociais.

Conclusoes
A partir das diversas análises realizadas no estudo, é possível sugerir as
seguintes conclusoes:
l. Existem relac;oes positivas e significativas entre as diversas variáveis dos
processos de pensamento dos alunos.
2. Os processos de pensamento dos alunos -com execpc;ao do auto-
conceito-- nao sao factores determinantes no comportamento dos alunos nas
aulas de Educac;ao Física.
3. O nível sócio-económico nao influencia nenhum dos processos de
pensamento analisados.
4. Existem diferenc;as significativas entre alguns processos de pensamento
dos alunos do sexo masculino e do feminino. Com efeito, as raparigas
apresentam valores significativamente superiores aos rapazes na atenc;ao,
motivac;ao para a Educac;ao Física e grau de satisfac;ao face as aulas.
572 Pereira, P.; Carreiro da Costa, F.; Alves, J.

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