Cianotipando - Fotografia Artesanal em Sala de Aula
Cianotipando - Fotografia Artesanal em Sala de Aula
Cianotipando - Fotografia Artesanal em Sala de Aula
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Projeto Cianotipando - semeando imagens
ficha catalográfica
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bibliografia
ISBN 978-65-994924-1-9
22-101704 CDD-779
Índices para catálogo sistemático:
APRESENTAÇÃO.04
NOTAS.27
REFERÊNCIAS.29
APRESENTAÇÃO
4
Fui arrebatado por aquelas caixinhas e la- tinhas
que ‘magicamente’ permitiam a obten- ção de
imagens, suas incertezas e a expectativa pelo que
ia ser visível ou não no papel, imagem incerta,
imagem expectativa, assim, passei à cianotipia,
marrom van dyke, papel salgado, cons- trução
de instrumentos e brinquedos ópticos, goma
bicromatada entre outras muitas expe- riências
desde então.
Me permiti um neologismo, ‘cianotipar’,
na ausência de um correspondente adequado
para a ideia de ‘fazer cianotipia’, fotografar é um
sinônimo aceitável entretanto está repleto de
significados e carrega uma enorme quantida-
de de expectativas, tanto pela reprodutibilidade
técnica que vem sendo preconizada desde os
primórdios da cunhagem do termo até os dias
correntes com o dispositivo fotográfico digital,
que permite uma imediata obtenção de ima-
gens e o compartilhamento em tempo real com
qualquer outra pessoa com acesso à internet.
Sem abrir mão do digital, ‘cianotipar’ é, então,
fotografar lentamente, depender de um Sol ge-
neroso e manipular o papel e as emulsões com
uma outra possibilidade de relação com a ima-
gem fotográfica, um outro tempo cronológico
em que a imagem não está sendo construída de
forma instantânea e para ser facilmente repro-
5
dutível, cada cianotipia é única, e por mais que
você tente uniformizar o seu processo de tra-
balho sempre haverá pequenas diferenças que
farão aquela cópia ser distinguível de qualquer
outra.
Nas próximas páginas pretendo explorar o
processo fotográfico da cianotipia como meio
de expressão e ferramenta didática, comparti-
lhando um pouco da experiência que acumulei
em salas de aula de escolas estaduais e técnicas,
oficinas e workshops principalmente no estado
de São Paulo. Faço isso tendo sempre a criança
que fui como uma referência e na esperança de
que este breve texto encontre professoras(es),
educadoras(es) e famílias com disposição para
pensar fotografia em sala de aula, na sala de
casa, no quintal e onde mais puder.
6
COMEÇANDO
Um pouco de História da Fotografia
7
já propiciavam a obtenção de imagens, mas elas
eram efêmeras e constantemente escureciam
até desaparecerem totalmente. O rápido e
progressivo desenvolvimento das indústrias,
especialmente a química, no século XIX,
permitiu uma sistematização das experiências
e seu rápido compartilhamento, Inglaterra e
França concorriam diretamente para mostrar
ao mundo uma imagem fixada, uma imagem
permanente capturada diretamente daquilo
que compreendemos como real. Somente em
1824 uma imagem não evanescente, fixada e
permanente foi obtida a partir da janela do ateliê
de trabalho de Niépce e utilizando como material
8
fotossensível o betume da Judéia, a essa técnica
deu-se o nome de heliografia (escrito com sol).
Enquanto isso, de forma isolada e do outro
lado do Oceano Atlântico, no ano de 1834, Hercu-
le Florence6 em São Carlos interior de São Paulo
desenvolve um processo fotográfico com a in-
tenção de reproduzir rótulos farmacêuticos e di-
plomas. Suas pesquisas não tomam visibilidade
dado o isolamento do Brasil na época, seu traba-
lho será redescoberto apenas na década de 1970
pelo prof. Boris Kossoy.
Os experimentos
conduzidos por Talbot7
conseguem fixar uma
imagem em 1835, como
documentado pela ima-
gem da Abadia de Loco-
ck, ele utiliza sais de pra-
ta como material sensível
e amoníaco para fixar as
imagens, nomeou a téc-
nica como talbótipo (im-
pressão de Talbot). Um
outro pioneiro, Daguer-
re8 registra em 1939 o da-
guerreótipo (impressão
9
de Daguerre).
Neste cená-
rio de intensa con-
corrência técnica
e científica, vamos
encontrar John
Herschel com ida-
9
de já avançada e
focado em suas
pesquisas astro-
nômicas, ele de-
senvolve a cianoti-
pia (impressão em
azul) em 1842 com
Janela da galeria sul da Abadia de o intuito de produ-
Locock, Fox Talbot, 1835.
zir cartas astronô-
micas, também cunhando o termo fotografia (es-
crever com luz), entretanto quem dará sequência
a essas pesquisas com sais de ferro, levando-as
para o campo da botânica e ampliando-as é Anna
Atkis10, ela produz o livro Photography of British
Algae: cyanotypes impressions (1843-1853), lan-
çando o primeiro livro de fotografias do mundo,
com suas contribuições indo muito além da bo-
tânica e se espalhando por todo o campo de re-
flexão e produção da fotografia.
Utilizaremos as fórmulas originalmente con-
cebidas por Herschel e aperfeiçoadas por Anna
10
Gelidium rostratum in Photography of British Algae: cyanotype
impressions, Anna Atkis, 1843-1853.
11
Atkins e por outros fotógrafos do século XX para
mostrar algumas possibilidades de utilização da
cianotipia tanto como ferramenta de expressão
e comunicação como instrumento didático, que
pode facilitar processos de ensino aprendizagem
em ambiente escolar ou na educação não formal.
12
(EF15LP04) Identificar o efeito de sentido pro-
duzido pelo uso de recursos expressivos gráfi-
co-visuais em textos multissemióticos.
(EF15AR26) Explorar diferentes tecnologias e
recursos digitais (multimeios, animações, jogos
eletrônicos, gravações em áudio e vídeo, foto-
grafia, softwares etc.) nos processos de criação
artística.
(EF69AR05) Experimentar e analisar diferentes
formas de expressão artística (desenho, pintu-
ra, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura,
modelagem, instalação, vídeo, fotografia, per-
formance etc.).
(EF05GE08) Analisar transformações de paisa-
gens nas cidades, comparando sequência de
fotografias, fotografias aéreas e imagens de sa-
télite de épocas diferentes.
(EF03CI02) Experimentar e relatar o que ocor-
re com a passagem da luz através de objetos
transparentes (copos, janelas de vidro, lentes,
prismas, água etc.), no contato com superfícies
polidas (espelhos) e na intersecção com objetos
opacos (paredes, pratos, pessoas e outros obje-
tos de uso cotidiano).
(EF04CI02) Testar e relatar transformações nos
materiais do dia a dia quando expostos a dife-
rentes condições (aquecimento, resfriamento,
luz e umidade).
(EF01HI01) Identificar aspectos do seu cresci-
mento por meio do registro das lembranças
particulares ou de lembranças dos membros
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de sua família e/ou de sua comunidade.
(EF02ER03) Identificar as diferentes formas de
registro das memórias pessoais, familiares e es-
colares (fotos, músicas, narrativas, álbuns...).
(EM13LP11) Fazer curadoria de informação, ten-
do em vista diferentes propósitos e projetos
discursivos.
(EM13MAT105) Utilizar as noções de transfor-
mações isométricas (translação, reflexão, rota-
ção e composições destas) e transformações
homotéticas para construir figuras e analisar
elementos da natureza e diferentes produções
humanas (fractais, construções civis, obras de
arte, entre outras).
(EM13CNT104) Avaliar os benefícios e os riscos
à saúde e ao ambiente, considerando a compo-
sição, a toxicidade e a reatividade de diferentes
materiais e produtos, como também o nível de
exposição a eles, posicionando-se criticamente
e propondo soluções individuais e/ou coletivas
para seus usos e descartes responsáveis.
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográ-
fica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros
textuais e tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, re-
flexiva e ética nas diversas práticas sociais, in-
cluindo as escolares, para se comunicar, acessar
e difundir informações, produzir conhecimen-
tos, resolver problemas e exercer protagonismo
e autoria na vida pessoal e coletiva.
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Procuramos diversificar ao máximo nossa
pequena amostra para demonstrar que a foto-
grafia e por consequência a cianotipia não estão/
são associadas única e exclusivamente à área de
conhecimento Artes. A fotografia é a primeira
forma de “registro fiel”12 sobre a realidade obser-
vada e foi entendida exclusivamente dessa for-
ma durante muito tempo, a quebra dessa pre-
tensa fidelidade é tema de inúmeros fotógrafos
do início do século XX como Lázsló Moholy-Nagy,
Valério Vieira e Man Ray.
15
Outros apontamentos
16
CIANOTIPIA
Receita
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mendado pois elas oxidam (enferrujam) muito
rápido, dê preferência para fazer a mistura final
somente no momento do uso e na quantidade
que você necessita.
Sensibilização
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entretanto, qualquer papel de qualquer
gramatura consegue receber a emulsão de
cianotipia sobre si, o que varia tremendamente
é a dificuldade de manuseio e lavagem de pa-
péis de baixa gramatura pelo fato de eles não se-
rem preparados para lidar com água, facilmente
se desmanchando. A escolha do papel depende
muito dos seus objetivos, se você pretende uma
aventura radical na cianotipia, onde experimen-
tação é a chave e a frustação não é um proble-
ma, papéis finos e desmancháveis em água po-
dem ser uma escolha interessante, mas se você
for utilizar em sala de aula ou se quiser resulta-
dos mais palpáveis e
sem grandes sustos,
invista em papéis de
gramatura alta.
Para aplicar a so-
lução de cianotipia,
esteja na sombra ou
em um ambiente em
que os raios do Sol
não estejam incidindo
diretamente. Misture
em iguais quantida-
des a solução A com
a solução B e aplique
19
Papel recem emulsionado Papel seco pronto para expor
Exposição
20
1-3 5-15 30 minutos
minutos minutos a 4 horas
21
para a organização daquilo que está visível na
fotografia, sugerimos iniciar com um fotogra-
ma, para isto você deve organizar objetos em
cima da folha já seca de cianotipia e após essa
organização levar ao Sol.
‘Revelação’
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aparente, não precisa ser revelado, utilizamos o
termo apenas como um comparativo para esta
etapa de produção.
Após expor sua cianotipia ao Sol, calce as
luvas e coloque o papel numa solução de 500ml
de água + 10ml de vinagre (exceto balsâmico) e
agite por 1 minuto, retire e coloque sob a água
corrente até que não saia mais nenhuma subs-
tância amarelada do papel, pendure para secar.
23
EXPANDINDO.
Negativo
24
máximo de qualidade possível.
Tonificação
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Tonificação com erva mate (chimarrão)
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NOTAS
27
- Químico, pintor, inventor e fotógrafo francês.
28
REFERÊNCIAS
29
FOX-TALBOT, Henry. Janela da galeria sul da
Abadia de Locock, Fox Talbot, 1835, sem dimen-
sões.
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As imagens não creditadas pertencem
ao que eu nomeei com o passar
dos anos de Memorial dos Alunos
Esquecidos, é um acervo imenso de
atividades que foram entregues sem
nome e sem outras possibilidades
de identificação, quero agradecer
imensamente a todas e todos
esquecidinhos e esquecidinhas e a
todos os outros e outras também.
Obrigado!
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