Educacao Financeira e Alimentar de Maos Dadas Como Relacionar Os Assuntospdf
Educacao Financeira e Alimentar de Maos Dadas Como Relacionar Os Assuntospdf
Educacao Financeira e Alimentar de Maos Dadas Como Relacionar Os Assuntospdf
https://novaescola.org.br/conteudo/21164/educacao-financeira-e-alimentar-de-
maos-dadas-como-relacionar-os-assuntos
Instituto XP
Desde 2014, os professores da EMEF Professor Milton Dias Porto, em Naviraí (MS), organizam quase
todos os anos uma simulação de mercado que envolve todos os estudantes, do 1º ao 9º ano. O que
surgiu como uma forma de ajudar os alunos a aprender Matemática se tornou um ambiente para
exploração de diversos outros temas.
O mercado, que fica no pátio da escola, conta com embalagens de alimentos precificadas com valores
reais, gôndolas, caixas, dinheiro próprio e até um banco para trocar as cédulas. “Os alunos participam
tanto como clientes quanto como funcionários do mercado e do banco”, relata a professora de
Matemática Ivonete Dezinho.
Com o passar dos anos, Ivonete conta que o projeto passou a ser utilizado por educadores de vários
componentes curriculares para abordar diversos temas, como reciclagem, consumo consciente,
desperdício alimentar e reutilização de materiais, por exemplo. “A partir das experiências, surge uma
infinidade de assuntos”, conta.
São experiências como essa que revelam a relação direta entre Educação Financeira e alimentação.
Cíntia Diógenes, formadora de professores e autora do Time de Autores da NOVA ESCOLA, afirma que
ambas as temáticas devem ser trabalhadas, assim como na escola de Ivonete, de forma
interdisciplinar. “Todos os componentes curriculares podem se apropriar desses assuntos, a ideia é
essa quando a gente fala em transversalidade. Os temas da alimentação saudável e da Educação
Financeira vão, como redes, fazendo ligações entre os componentes”, afirma.
Quando Cíntia toca em transversalidade, ela está falando da forma como esses dois assuntos
aparecem na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação Financeira e Educação Alimentar e
Nutricional são dois dos 15 Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) que aparecem no documento.
De acordo com a BNCC, esses TCTs devem ser incorporados ao currículo de forma transversal,
integradora e contextualizada. Isso significa que devem aparecer em diversos componentes
curriculares, sempre se relacionando com o contexto específico dos alunos. Educação Financeira e
Educação Alimentar e Nutricional também podem ser trabalhadas juntas. “Tradicionalmente, a
Educação Financeira é abordada em Matemática e a alimentação saudável é tratada apenas no
componente curricular de Ciências. Mas, como a ideia que a BNCC traz é essa integração, essa
transversalidade, é preciso contextualizar o aluno sobre como esses dois assuntos repercutem em seu
cotidiano”, afirma Cíntia.
A doutora Arethuza Helena Zero, especialista em Educação Financeira e autora de livros didáticos sobre
o tema, afirma que “a Educação Financeira está em tudo” e que, embora a BNCC não traga a temática
de maneira explícita em outros componentes curriculares, ela vai muito além da Matemática,
sobretudo quando relacionada à alimentação.
Na sala de aula, é possível abordar o caminho dos alimentos do plantio até a mesa, passando por
aspectos econômicos e alimentares e pela relação entre valor nutricional e preço dos alimentos, por
exemplo. Indo além, muitas outras temáticas podem surgir em diversos componentes curriculares,
como desperdício alimentar, produção de lixo, sustentabilidade, consumo consciente e distúrbios
alimentares.
Cíntia aconselha que, com alunos mais novos, dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, uma prática
interessante é fazer uma pesquisa sobre valores nutricionais e preço dos alimentos, que podem ser
encontrados em rótulos e encartes de supermercados, respectivamente. “Por exemplo, a carne está
muito cara, mas a gente pode trocá-la por outro tipo de proteína animal. É muito interessante fazer
esse tipo de pesquisa para eles produzirem um cardápio equilibrado, saudável e nutritivo, mas ao
mesmo tempo tendo essa ênfase em como é possível economizar. Esse exemplo é bom tanto para os
estudantes se colocarem no papel de protagonistas como também para lançar novas discussões”,
afirma.
1. Por que determinado alimento está tão caro? Partir de um exemplo presente no
cotidiano dos alunos, que eles ouvem os pais comentarem ou veem nos jornais, pode
ajudá-los a entender o processo inflacionário e o caminho que os alimentos percorrem até
chegarem à mesa.
3. Desperdício no lanche. Na própria escola, é possível deixar uma cesta de lixo apenas
para restos de alimentos, ajudando os alunos a perceber o quanto é desperdiçado nos
recreios. Além disso, entender o que o próprio refeitório da escola faz com os restos pode
ser uma boa ideia.
6. Uma receita diferente. Alunos podem escrever um livro de receitas apenas com
versões adaptadas, que utilizam restos de alimentos. As receitas também podem ser
colocadas em prática em casa ou no refeitório da escola, gerando um lanche comunitário.
8. Comida produzida aqui. Ao analisar quais são os alimentos mais baratos na região
onde a escola está situada, o professor pode trabalhar o tema da regionalização,
abordando onde os alimentos são produzidos e como eles ficam mais caros ao chegar a
outros estados. Nesse sentido, também é possível incentivar o consumo de alimentos de
produtores locais.
Todos os componentes curriculares podem se apropriar desses temas de diversas formas. Confira
alguns exemplos:
Esses exemplos e formas de levar o assunto para a sala de aula só funcionam se o professor adaptá-los
para o seu contexto. “Nós precisamos ver quais são as peculiaridades de cada escola e as necessidades
locais. Não tem fórmula mágica nem um único material que vai servir para todo mundo, por isso o
professor é a chave”, afirma Arethuza.
Juliana, que tem muitos alunos vindos da zona rural, afirma que sempre relaciona os assuntos
abordados em sala de aula com a realidade deles. “Não tem como fugir, muitos estudantes plantam,
colhem, têm algum tipo de prática agrícola. Quando a gente fala, já vai fazendo correlação com alguma
fruta da estação, com alimentos que eles já conhecem e com os quais têm mais familiaridade”,
comenta.
Além de entender o contexto dos alunos, também é importante colocá-los para agir, o que estimula o
protagonismo. É o que acredita Ivonete, que percebe que a prática da simulação de mercado faz com
que os estudantes aprendam melhor. “Em uma situação como essa, o aluno consegue ser o
protagonista de sua aprendizagem, porque está ali efetivamente trabalhando com o dinheiro,
construindo sua aprendizagem junto com os colegas”, afirma.
Alimentação
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