Verificação Da Procedência Das Informações É Filtro Ao Quadrado - Sindepol
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Um tema importante e que ainda carece do devido aprofundamento teórico é a veri cação da procedência das
informações, instituto que vem sendo negligenciado pelos estudiosos em que pese sua previsão legal expressa e sua
importância para a preservação de direitos fundamentais.
A evolução de uma bem-sucedida persecução penal (desde sua primeira fase policial até sua segunda etapa judicial)
se dá inicialmente com a instauração do inquérito policial, decretação de medidas cautelares e indiciamento,
passando pelo oferecimento e recebimento da peça inicial (denúncia ou queixa) e chegando por m à condenação.
Ocorre de maneira gradual conforme se avança de um juízo de possibilidade (obtido com indícios mínimos) para um
juízo de probabilidade (amparado em indícios su cientes), chegando por m a um juízo de certeza (calcado em
provas robustas).
Nota-se que a instauração de inquérito policial exige ao menos a possibilidade da colheita de indícios iniciais de
materialidade e autoria. O mecanismo criado pela legislação para averiguar a verossimilhança da noticia criminis e a
viabilidade da investigação, e servir de barreira contra inquéritos policiais absurdos, é justamente a veri cação da
procedência das informações. Tal instrumento nada mais é do que uma investigação preliminar e simples, que
possibilita a colheita de um piso de informação que justi que a de agração do inquérito policial.
Nessa esteira, o inquérito policial somente pode ser iniciado após a colheita de indícios mínimos, estabelecendo um
juízo de possibilidade sobre a materialidade e autoria. Caso ainda inexistentes, devem ser perseguidos justamente
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por intermédio da VPI. Nesse momento embrionário, as diligências são simples e devem ser documentadas em mero
relatório ou boletim policial, sem o nível de complexidade do inquérito propriamente dito. Não são permitidas
medidas invasivas como busca e apreensão domiciliar, quebra de sigilo de dados e apreensão de bens1
(https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-informacoes- ltro-
quadrado#sdfootnote1sym). Visualizada uma prognose de justa causa, autoriza-se a instauração de inquérito policial.
Na sequência, tem-se a minuciosa colheita de provas ou elementos informativos, que ao se aglutinarem constituem
os indícios su cientes, possibilitando a evolução para um juízo de probabilidade. Nessa etapa constitui-se a justa
causa propriamente dita, hábil à restrição de direitos fundamentais do investigado com a decretação de medidas
cautelares das mais diversas (pessoais, patrimoniais ou probatórias), o indiciamento, bem como oferecimento e
recebimento da peça inicial.
Por m, com o início da fase processual e a con rmação (por meio do contraditório diferido) das provas juntadas no
inquérito policial, além da eventual obtenção de novas provas, consegue-se o juízo de certeza que autoriza uma
condenação e a própria imposição da sanção penal.
Em que pese nossa contribuição teórico-conceitual para a compreensão do tema, não se trata de criação doutrinária.
O CPP é expresso ao admitir a VPI como antecedente do inquérito.
Art. 5º. (…) §3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação
pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, veri cada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.
E para deixar claro que a intenção da lei foi de fato criar um procedimento de apuração preliminar, vale grifar que o
legislador registrou sua posição no momento da criação da Lei de Investigação Criminal. Quando o artigo 2º,
parágrafo 1º da Lei 12.830/13 fala que o delegado conduz o inquérito policial e outros procedimentos de
investigação previstos em lei:
Nós estamos falando, em primeiro lugar, da chamada veri cação preliminar de informações: quando o delegado
recebe uma informação ou uma denúncia de alguém do povo e, obviamente, antes de iniciar uma investigação,
procede a um processo preliminar de informação para ver que tipo de fundamento têm aquelas denúncias. Isso é
previsto no art. 5º, §3º do Código de Processo Penal2 (https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-
veri cacao-procedencia-informacoes- ltro-quadrado#sdfootnote2sym).
A autoridade policial, ao receber uma denúncia anônima, deve antes realizar diligências preliminares para averiguar
se os fatos narrados nessa “denúncia” são materialmente verdadeiros, para, só então, iniciar
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as investigações3
(https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-informacoes- ltro-
quadrado#sdfootnote3sym).
A instauração de VPI (Veri cação de Procedência das Informações) não constitui constrangimento ilegal, eis que tem
por escopo investigar a origem de delatio criminis anônima, antes de dar causa à abertura de inquérito policial4
(https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-informacoes- ltro-
quadrado#sdfootnote4sym).
Sabemos que o inquérito policial é um ltro contra acusações infundadas (sem indícios su cientes), conforme indica a
própria exposição de motivos do CPP. E também não se olvida que a veri cação da procedência das informações é o
ltro contra inquéritos policiais temerários (sem indícios mínimos), segundo se depreende da legislação em vigor.
Isso signi ca que a VPI é o ltro do ltro, podendo ser chamada de ltro ao quadrado. Cuida-se de direito do cidadão
de não sofrer imputação açodada, seja a imputação em sentido amplo do inquérito, seja a imputação formal do
processo.
Se o indivíduo tem o direito de não ser submetido indevidamente ao constrangimento de um processo temerário
(strepitus judicii), tampouco pode ser desarrazoadamente reprimido por inquérito policial indevido (strepitus
investigationem). Não só o réu processado equivocadamente é prejudicado, mas também o suspeito investigado sem
motivo justo, porquanto já na etapa inicial da persecução penal são tomadas medidas restritivas de direitos
fundamentais, tanto por autoridade própria do delegado de polícia, quanto por chancela judicial.
Fundamental relacionar o trancamento do inquérito policial com a vedação à sua instauração imediata (e a eventual
realização da veri cação da procedência das informações).
Trancamento consiste em forma de encerramento anômalo do IP por meio de Habeas Corpus, utilizado
excepcionalmente quando manifesto o constrangimento ilegal sofrido pelo investigado. Ocorre diante de (a)
manifesta atipicidade da conduta, (b) presença de excludente de punibilidade, (c) ausência de condição de
procedibilidade (representação ou requerimento da vítima) ou (d) falta de suporte probatório mínimo de autoria e
materialidade delitivas6 (https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-
informacoes- ltro-quadrado#sdfootnote6sym).
Em todas essas hipóteses, não se pode instaurar de pronto o inquérito policial (a nal, caso contrário, será trancado).
Mas isso não signi ca que em todos esses casos deverá ser realizada a VPI.
Nos casos de (a) manifesta atipicidade da conduta, (b) presença de excludente de punibilidade7
(https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-informacoes- ltro-
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A aplicação da veri cação da procedência das informações, portanto, tem lugar na situação de (d) falta de suporte
probatório mínimo de autoria e materialidade delitivas. A noticia criminis precisa estar acompanhada de indícios
mínimos de materialidade e autoria. Isto é, deve conter, o tanto quanto possível (artigo 5º, parágrafo 1º do CPP), a
narração do fato com todas as circunstâncias, a individualização do suspeito ou seus sinais característicos e as razões
de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração ou os motivos de impossibilidade de o fazer, e a
indicação das testemunhas.
Quando o noticiante se identi car, será preciso fazer diligências preliminares apenas se a comunicação de infração
penal pecar pela vagueza ou pela indeterminação de alguns dados essenciais, resumindo-se a um relato incompleto e
precário. Nesse caso, a escassez de informações não justi ca a imprudente instauração de inquérito policial, exigindo
antes uma veri cação preliminar das informações.
De outro lado, quando se tratar de denúncia anônima, resta evidente a necessidade de sempre se con rmar a notícia
de crime. Ainda que a notitia criminis seja pormenorizada, ca fragilizada pelo anonimato, que incentiva a falsidade
ao impedir a futura responsabilização por eventual comunicação mentirosa (artigo 339 do CP). Nesse sentido, a
delação apócrifa não permite a imediata instauração do inquérito policial nem tampouco a decretação de medidas
cautelares, por lhe faltar a verossimilhança a ser con rmada exatamente pela VPI.
Curioso pontuar que nada obstante a jurisprudência e a doutrina falarem que a falta de justa causa autoriza o
trancamento do inquérito policial, na verdade o que permite o encerramento anômalo do IP é a ausência de princípio
de justa causa (indícios mínimos), pois a justa causa propriamente dita (indícios su cientes) será obtida justamente
por meio da investigação policial para eventualmente possibilitar o início da ação penal e, por conseguinte, o início
do processo.
Outro ponto fulcral reside no prazo para conclusão da VPI. Há quem alegue equivocadamente que o trintídio legal
(30 dias) estabelecido para o IP (artigo 10 do CPP) seria adequado para nortear o interstício para conclusão da VPI.
O próprio legislador deixou transparecer que o dispositivo tem como fundamento existencial a proteção do
investigado ou do indiciado em face de prolongadas investigações formais. Exatamente por isso o legislador optou
por obrigar a célere submissão do inquérito policial formalmente instaurado ao crivo doWhatsApp
Poder Judiciário e do
parquet.
Contudo, esse mesmo raciocínio não parece adequado se está diante de VPI que enceta uma investigação de um fato
que nem se sabe ser criminoso ainda, num contexto que inexiste suspeito submetido a qualquer medida restritiva de
direitos fundamentais.
No caso da VPI, há fundadas dúvidas sobre a verossimilhança do relato formulado, o que leva a crer que talvez nem
exista uma infração penal a se apurar.
Não se exige arquivamento de uma investigação preliminar. E não se diga que o artigo 28 do CPP exigiria que
quaisquer peças de informação sejam arquivadas. Fosse assim, teria que ser arquivado todo e qualquer boletim de
ocorrência, que também é elemento de convicção8 (https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-
veri cacao-procedencia-informacoes- ltro-quadrado#sdfootnote8sym); o que signi caria um absurdo não só jurídico,
mas também fático, ante sua inviabilidade.
Não custa sublinhar que o procedimento em nada prejudica o controle externo do membro do Ministério Público,
que, cumprindo seu dever de visitar a delegacia de polícia, possui acesso às informações9
(https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-informacoes- ltro-
quadrado#sdfootnote9sym), podendo eventualmente sustentar posição diversa dentro de sua esfera de seu
convencimento motivado. Prejuízo tampouco há para o juiz de Direito, cuja livre convicção fundamentada, de igual
modo, permanece intacta.
Obviamente o arquivamento da VPI não impede a imediata retomada das diligências caso surgirem fatos novos que a
justi quem. Se o delegado de polícia pode proceder a novas pesquisas mesmo no cenário de IP arquivado (artigo 18
do CPP), com maior razão pode diligenciar no cenário prévio à instauração e arquivamento de inquérito policial.
Não se olvida que o inquérito policial é regido quanto à instauração, pelo princípio da obrigatoriedade, o que
signi ca que, em regra, a partir do recebimento da notitia criminis o delegado deve de agrar o inquérito policial (ou
termo circunstanciado de ocorrência ou boletim de ocorrência circunstanciada, conforme se tratar de infração penal
de menor potencial ofensivo ou ato infracional). Todavia, essa regra é mitigada caso se esteja diante da ausência de
um rudimento de justa causa.
Caso o chefe de polícia note que o procedimento de instauração da VPI foi equivocado, sendo que a melhor atitude
era a instauração do inquérito policial, abrem-se duas possibilidades: a) avocação da VPI ou redistribuição para outra
autoridade policial conduzir o feito em razão de erro procedimental (artigo 2º, parágrafo 4º da Lei 12.830/13); b) no
caso da irresignação do denunciante frente à resistência do delegado de polícia ao não instaurar o IP, caberá,
também, o recurso inominado ao chefe de polícia (artigo 5º, parágrafo 2º do CPP).
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Sobre o julgamento de tal recurso inominado ao chefe de polícia, deve-se frisar que, se houver a chancela do chefe
de polícia frente ao descabimento da instauração do inquérito policial, acaba-se por se ter uma decisão
administrativa de nitiva frente à não instauração do IP. Tal decisório só é rescindido frente ao surgimento de novas
provas (artigo 18 do CPP10 (https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-
informacoes- ltro-quadrado#sdfootnote10sym)) e, em não sendo manifestamente ilegais, às requisições do
Ministério Público e às do Poder Judiciário. En m, não ocorrendo nenhuma dessas exceções, deverá, então, o
procedimento propedêutico (VPI) ser arquivado na unidade policial até o deslinde do prazo prescricional da
hipotética infração penal, devendo ser encaminhado, ao nal, ao Poder Judiciário para declaração da extinção da
punibilidade (nos termos do artigo 61 do CPP).
A simplicidade não signi ca falta de controle. As diligências iniciais devem ser consignadas em relatório ou boletim
policial, que permitirão o controle não apenas interno pela Corregedoria, mas também o controle externo pelo
Ministério Público, o controle judicial, e até mesmo o controle popular.
Instalar uma máquina desenfreada de abertura de inquéritos policiais simplesmente para atender o capricho de meia
dúzia de operadores do Direito certamente não está nos planos de um sistema de persecução penal democrático.
A instauração de inquérito policial contra alguém exige relação direta ou próxima de causalidade, e não meramente
remota ou especulativa11 (https://www.conjur.com.br/2018-fev-06/academia-policia-veri cacao-procedencia-
informacoes- ltro-quadrado#sdfootnote11sym). Ao demandar um substrato fático mínimo para a instauração de
inquérito policial, a legislação erigiu a veri cação da procedência das informações a um indispensável mecanismo de
controle contra a de agração indevida da persecução criminal, servindo, portanto, como escudo contra violações
arbitrárias de direitos fundamentais.