Sobre Os Sistemas Psicológicos

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Sobre os sistemas

psicológicos
L. S. VIGOTSKI
Lev Semyonovich Vygotsky

1896 1913 1924 1926 1934

II Congresso Pan – Russo de


Nascimento Ensino Superior Psiconeurologia Psicologia Pedagógica Falecimento

Orsha - Direito “O método de - período de Moscou - Rússia


investigação produção intensa;
Bielorrússia (URSS)
reflexológica e
- falecimento de dois
psicológica”
de seus irmãos
● ambiente familiar
● história pessoal/vida acadêmica
- áreas de dificuldade durante a leitura:
1. background filosófico: filosofia russa, marxismo e filosofia clássica alemã.
2. Em sua obra há um rápida evolução de ideias (nem tudo que ele publicou reflete a teoria
histórico-cultural). Quando foi escrito? Quando foi publicado?
3. crise na Psicologia no início do século 20
- 3 períodos de evolução das visões de Vigotski durante sua vida
- 1917 - 1924: reflexologia
- 1924 - 1926:behaviorismo social
● 1926 - 1927: período de crise entre pré-história da teoria e teoria histórico-cultural.
(período conturbado em sua vida pessoal)
- 1928 - 1931: teoria histórico-cultural
- - autocrítica (reflexologia; behaviorismo; psicologia marxista vulgar)
- gênese sócio-cultural da mente humana: o principal conceito de Vigotski em sua teoria
- é a teoria das funções mentais superiores (que são o resultado das relações sociais)
- assim que aparecem reorganizam todas as funções elementares em um novo sistema.
- A Psicologia Tradicional não entende a natureza do desenvolvimento das funções
mentais superiores e essa é a principal tarefa.
- 1960 - 1980: a teoria é introduzida à academia ocidental
- traduções precárias (comprometiam o conteúdo do texto)
- visão simplificada da teoria de Vigotski foi criada

- 1990 - 2010: reconhecimento/adaptação


- ideias foram expandidas/melhoradas
- dissolução do conceito original do trabalho teórico
- visão simplificada da sua teoria continua
- fragmentação da teoria

- 2012 - ?; descoberta (redescoberta)


Sobre os Sistemas
Psicológicos (Vigostki, 1931)

APRESENTAÇÃO GERAL DO TEXTO


1. Analisar a relação entre do
indivíduo e o movimento
histórico da sociedade;
1. Superar dicotomias entre:
a. indivíduo e coletivo
Pensar a formação b.
c.
biológico e social
natureza dada e natureza
humana sob a ótica adquirida histórico-culturalmente

1. Compreender o
Materialismo desenvolvimento psíquico com
base na totalidade
histórico-dialético
indivíduo-realidade social;
impõe:
1. Considerar a inserção ativa do
sujeito no mundo como
mediadora desta relação
(totalidade).
Vigotski busca explicar
- Os sistemas psicológicos analisando duas
tradições de estudos sobre as funções
psicológicas:

elementos estudados problemas derivados


sob o ponto de vista do da desintegração das
desenvolvimento funções
funcional
Metodologicamente

● Compreende o desenvolvimento dos


sistemas psicológicos como movimentos
cada vez mais complexos.

Vigotski
Atribui às funções superiores papel distinto do papel
das funções psicológicas primitivas (atenção
arbitrária/involuntária, memória lógica) no
desenvolvimento da personalidade.
Em momentos particulares do
desenvolvimento psíquico existem
Para Vigotski atividades que o guiam,
possibilitando transformações
(Shuare, 2016) qualitativas que revolucionam o
modo de ser do indivíduo.
Sobre os Sistemas Psicológicos
- “estudo das complexas relações que surgem entre as funções
concretas que se dão no processo de desenvolvimento [estudo
genético] e as que se desintegram ou experimentam mudanças
patológicas durante um processo de alteração [estudo psicopatológico].”
(p. 105)

- POR QUE REALIZAR ESTE ESTUDO? Ao estudar a evolução do


pensamento e da linguagem infantil percebeu-se que o
desenvolvimento destas funções não consiste fundamentalmente no
fato de que dentro de cada uma delas se produza uma mudança -> a
mudança é o nexo inicial entre elas.
no plano zoológico
isto se
NEXO verifica na
criança em
filogênese
idade precoce
O NEXO e a RELAÇÃO
- Entre as funções superiores (pensamento e linguagem) não
permanecem iguais durante o desenvolvimento. (p. 105)

PORTANTO:

NÃO existe fórmula fixa e que seja válida para determinar a


relação entre pensamento e linguagem, para todos os níveis de
desenvolvimento e formas de alteração. (p.. 105)
ARGUMENTO CENTRAL
ARGUMENTO CENTRAL:

- “A ideia principal consiste em que durante o processo de


desenvolvimento do comportamento, especialmente no processo de
seu desenvolvimento histórico, o que muda não são tanto as funções,
nem sua estrutura, nem sua parte de desenvolvimento, Mas que o que
muda e se modifica são precisamente as relações, ou seja, o nexo das
funções entre si, de maneira que surgem novos agrupamentos
desconhecidos no nível anterior.” (p. 105)

- “Quando se passa de um nível ao outro, com frequência a diferença


essencial não decorre da mudança intrafuncional, mas das mudanças
interfuncionais, as mudanças nos nexos interfuncionais, da estrutura
interfuncional”
Daí neste estudo Vigotski conclui

Sistemas Psicólógicos

- São precisamente o aparecimento das novas


e mutáveis relações nas quais se situam as
funções psicológicas superiores.
(p. 106)
NOTAS SOBRE A ARGUMENTAÇÃO

- Trata-se de um conceito em construção sobre o qual o autor


afirma ainda não ter um ponto de vista teórico geral que
explique o material (são resultados gerais de investigações e
experimentos dele mesmo, de colaboradores e outros
pesquisadores)

- Limita-se a mostrar o material acumulado por outros autores


e colocar em ralação com problema para cuja solução deste
material pode ser importante: afasia e esquizofrenia
(patologia); idade de transição e desenvolvimento (genético).
PERCURSO DA ARGUMENTAÇÃO
COMO CONSTRUIRÁ O CONHECIMENTO SOBRE OS SISTEMAS PSICOLÓGICOS:
- exposição simples e sistemática da escala conhecida dos fatos (que são de baixo
para cima)
PARTIRÁ DE ESTUDOS SOBRE
- afasia
- esquizofrenia
EM COMPARAÇÃO COM ESTUDOS SOBRE:
- idade de transição
- desenvolvimento
PARA:
- construir uma compreensão complexa sobre os sistemas psicológicos enquanto
processo de aparecimento de novas e mutáveis relações nas quais se situam as
funções psicológicas superiores.
SOBRE A APRESENTAÇÃO DO TEXTO
TEXTO DIVIDIDO EM 03 EIXOS DE ARGUMENTAÇÃO:

1. Discute o desenvolvimento das relações entre os processos sensoriais e os motores, ou a


sensoriomotricidade (funções primitivas);

1. Apresenta questões/problemas decorrente de mudanças que caracterizam as transformações dos


sistemas psicológicos inferiores, a formação de outros de ordem mais elevada que definem
propriamente a Idade de Transição, e também questões a respeito da desintegração desses
sistemas em algumas patologias;

1. Duas questões:
a. Conclusão sobre tudo o que dito a respeito dos sistemas psicológicos e do cérebro;
b. Alerta para a necessidade de, nos traços diferenciais e caracteriológicos, distinguir:
conexões caracteriológicas primárias de outras conexões que surgem em pessoas
que se desenvolvem em determinado sistema de conexões (valores).
1º EIXO:
Sobre o desenvolvimento e as
relações entre processos
sensoriais e motores
Psicologia antiga:
Que tipo de Psicologia moderna:
relação/associação Como as funções
existem entre as sensoriais e motoras
funções sensoriais se ajustam entre si?
e motoras?

- Gestalt: sensório-motricidade constitui um conjunto psicofisiológico único.


- A solução motora para as tarefas é a continuação dinâmica de processos que se
fecham no campo sensorial.
- Luria (1929): Método Motor combinado
- a motricidade adquire caráter relativamente independente em relação aos processos
sensoriais
- os processos sensoriais isolam-se dos impulsos motores diretos, e surge entre eles
relações mais complexas
- em situação de tensão emocional se restabelece a conexão direta entre impulsos
motores e sensoriais
- quando o homem não se dá conta do que faz e age sob sob influência de uma ação
afetiva, observa-se novamente o retorno à estrutura característica de estados
precoces de desenvolvimento.
2. argumento/passo 2
- método motor combinado: pelo tipo de movimento pode se estabelecer a curva das
reações internas. (p. 108)
- Experimento de Luria:
- com frequência ocorre na criança uma ruptura da conexão direta entre processos
motores e sensoriais
- indicando que:
- processos sensoriais e motores interpretados no plano psicológico adquirem relativa
independência mútua
- indicando que:
- já não existe unidade/conexão direta, (própria do primeiro nível de desenvolvimento
(p.108)

- estudos sobre formas superiores e inferiores da motricidade em gêmeos


- buscam separar cultura de hereditariedade
- concluem que:
- do ponto de vista da Psicologia Diferencial: o que caracteriza a motricidade do adulto
não é a constituição inicial
- as novas conexões, as novas relações em que a motricidade se encontra na relação
com outras esferas da personalidade, com as demais funções é o que caracteriza.
- perceção - desenvolvimento

percepção desenvolve -se um processo de “interiorização” dos


pensamento procedimentos com a ajuda dos quais a criança
atenção percebe o objeto, o compara com outros, etc.

- O desenvolvimento posterior consiste em estabelecer uma complicada síntese com


outras funções, concretamente com a linguagem.
- Essa síntese é tão complexa que fica impossível estabelecer a estrutura básica da
percepção. (p. 109)

● Afasia; formas profundas de desintegração das funções intelectuais - retorno à


separação da percepção do complexo em que se desenvolve (p. 110)
● A percepção do homem atual se transformou em uma parte do pensamento em
imagens - ao mesmo tempo em que percebo, vejo o objeto que percebo
● O conhecimento do objeto é simultâneo à percepção.
● Isolada a motricidade, a percepção não continua se desenvolvendo
intrafuncionalmente, mas o desenvolvimento persiste devido às conexões que ela
estabelece com outras funções; NOVOS NEXOS. Ela passa a atuar em conjunto com
elas como um sistema novo, difícil de decompor e cuja desintegração só pode se
observada na patologia.
3. argumento/passo 03

desenvolvimento da percepção:
- a conexão, característica da relação entre as funções, se desintegra e surge uma nova
conexão - Fenômeno geral no desenvolvimento das funções psicológicas.
EXEMPLOS: lembrança de palavras com a ajuda de imagens (p. 110)

LEONTIEV (1931)
- memória lógica: reestruturação das funções naturais a sua substituição e o
aparecimento de uma complicada fusão do pensamento com a memória
- ZANKOV:
- na memória mediada o pensamento passa a ocupar o primeiro plano
- as pessoas, conforme suas características genéticas, agem sobre a lembrança de
uma lista de palavras de acordo com as propriedades da memória lógica e não com a
memória natural
- esse pensamento também não tem correspondência com o pensamento real: é um
pensamento abstrato (p. 111)
- na lembrança mudam todas as funções do pensamento:
- a memória não apenas muda quando se alia ao pensamento, mas este, ao modificar
suas funções, não é o mesmo que conhecemos quando estudamos operações lógicas
- conexões/estruturas/relações: modificam-se, substituem formas anteriores e formam
novos sistemas (p. 111)
4. argumento/passo 04

sobre a conexão cérebro/novos sistemas


- toda forma superior de comportamento aparece em cena duas vezes em seu
desenvolvimento:
1. como uma forma coletiva do mesmo, como forma interpsicológica, um procedimento
externo de comportamento: no contexto da disputa, do diálogo.
2. como a interiorização desta disputa/diálogo: dentro de si, consigo mesmo.

● “Qualquer processo volitivo é inicialmente social, coletivo, interpsicológico. Isto se


relaciona com o fato de que a criança domina a atenção de outros ou, pelo contrário,
começa a utilizar consigo mesma os meios e formas de comportamento que, no
princípio eram coletivos.
● A origem social das funções psicológicas superiores constitui um fato muito importante
(p. 114)
● Aqueles SIGNOS que parecem ter desempenhado papel tão importante na história do
desenvolvimento cultural do homem são, NA ORIGEM, meio de comunicação, meios de
influência sobre os demais (p. 114)
● “Todo signo é um meio de conexão de certas funções psíquicas de caráter social.
Trasladado por nós mesmos, é o próprio meio de união das funções em nós mesmos, e
sem esse signo o cérebro e suas conexões iniciais não poderiam se transformar nas
complexas relações, o que ocorre graças à linguagem.”
● os meios de comunicação social são centrais para formar as complexas conexões
psicológicas que surgem quando as funções se transformam em individuais, em uma
forma de comportamento própria (p. 114)

5 argumento/passo 05
- referem-se às diferentes formas de conexões entre as funções
- na criança em situações de jogo, quando ela modifica o significado do objeto
- exemplo filogenético:
- exemplo de mecanismo psicológico cuja origem é determinada por um sistema
conceitual, pelo valor (cuja fonte é social) que se dá a tal ou qual função.
- alguns sistemas mantém conexões não só com signos sociais, mas também com a
ideologia, e o significado que tal ou qual função adquire no pensamento das pessoas.
(p. 117)
- o processo de aparecimento de novas formas de comportamento a partir de um novo
conteúdo é extraído pelo homem do meio que o rodeia (p. 117)
- ponto 02:
apresentação de problemas/questões decorrentes de mudanças que caracterizam a
transformação dos sistemas psicológicos inferiores, a formação de outros de ordem
mais elevada - que definem propriamente a idade de transição (adolescência)
2ºEIXO:
Apresentação de problemas/questões
decorrentes de mudanças que
caracterizam a transformação dos
sistemas psicológicos inferiores, a
formação de outros de ordem mais
elevada - que definem propriamente a
idade de transição (adolescência)
- idade de transição: sistema complexo de concepções e de aparecimento de outras
novas que ocorre na formação do novo indivíduo. (p. 117)
- a essência do desenvolvimento psicológico não se baseia no desenvolvimento
posterior, mas na mudança de conexões.
- na idade de transição:m é difícil perceber o que ocorre no pensamento do adolescente
- é difícil que a memória ou a atenção proporcione na idade de transição algo novo em
relação à idade escolar
- é característica da idade de transição a passagem destas funções para dentro:
- o que para o escolar é externo no âmbito da memória lógica, da atenção arbitrária, do
pensamento, torna-se interno no adolescente. (p. 118)
- a INTERIORIZAÇÃO se realiza porque as operações externas se integram em uma
função complexa e em síntese com toda uma série de processos internos
- devido a sua lógica interna, o processo não pode continuar sendo externo, sua relação
com todas as outras funções MUDOU:

- formou-se um novo sistema


- reforçou-se
- transformou-se em interno (p. 118)
MUDANÇAS

ADOLESCENTE
● lembrar - pensar
ESCOLAR
● buscar sequência lógica de
que precisa
● pensar - recordar casos
● o pensamento é introduzido
concretos
em todas as outras funções
● pensamento apoia-se
● o pensamento é a função
na memória
que distribui e muda todos
os outros processos da
idade de transição.
3º EIXO:
conceito e
esquizofrenia
● mantém a ordem de exposição:
● sistemas psicológicos inferiores -> formação de outros de ordem cada vez mais elevada, até chegar
à aqueles que constituem a chave de todos os processos de desenvolvimento e desintegração
● ou seja
● a formação de conceitos, de funções, que, pela primeira vez, amadurecem e se definem na idade de
transição
● na investigação psicológica -> conceito é um sistema psicológico (do mesmo tipo dos comentados
anteriormente)
● A Psicologia empírica tentava estabelecer como fundamento das funções de formação do conceito
alguma função parcial: a abstração, a atenção, a distinção dos traços da memória, a elaboração de
determinadas imagens.
● partia da concepção lógica de que qualquer função superior tem sua análoga, sua representação no
plano inferior
● memória - memória lógica atenção direta - arbitrária
● conceito: imagem modificada, transformada, liberada de todas as partes descartáveis, uma espécie
de conceito polido.
● Comparação do mecanismo de conceito com uma fotografia coletiva (F. Galton) - os traços
semelhantes sobressaem, os casuais se diluem entre si.
LÓGICA FORMAL

● conceito é um conjunto de traços que foram destacados da série e ressaltados nos momento que
coincidem.
mais pobre: nem tudo que se
refere à Napoleão, se refere
1
a um francês Napoleão
infinitamente
rico quanto a
2 seu conteúdo
francês concreto

3
europeu

● Assim por diante: homem -> animal -> ser -> …..
● Quanto mais geral o conceito, mais pobres no que se refere à quantidade de traços concretos.
● Conceito como um conjunto de traços do objeto afastado do grupo, como um conjunto de traços gerais.
● Por isso: conceito surgiria como o resultado da paralisação de nossos conhecimentos sobre o objeto.
LÓGICA DIALÉTICA
● conceito: não é um esquema tão formal, um conjunto de traços abstraídos do objeto
● oferece um conhecimento muito mais rico e complexo do mesmo
● formulação totalmente nova do problema relacionado com a formação do conceito em psicologia
● ao se tornar mais amplo (se referir a um número cada vez maior de objetos) não empobrece seu
conteúdo, mas sim o enriquece

➔ quando um sujeito de uma prova resolve uma tarefa de formação de nossos conceitos:
❖ a essência do processo que ocorre consiste no estabelecimento de conexões
❖ ao buscar outra série de objetos para esse objeto, busca a conexão entre ele e outros.
❖ não se relega a uma série de traços a um segundo plano (como na fotografia coletiva)
❖ pelo contrário: cada tentativa de resolver a tarefa consiste na formação de conexões

nosso conhecimento sobre o objeto se enriquece devido ao fato


de que o estudamos em conexão com outros objetos.
EXEMPLO

base do quadrado de 81

9 3²

divisível por 3, não por números pares


● ligamos o 9 por toda uma série numérica e assim por diante
● Se no plano psicológico
● o processo de formação do conceito consiste na abertura de conexões do objeto em relação a
outros
● no encontro de um conjunto real, no conceito evoluído
● encontramos todo o conjunto de suas relações, “seu lugar no mundo”

DOIS PONTOS SÃO DESTACADOS:


➔ o conceito não consiste na fotografia coletiva
➔ nem depende de que se apaguem os traços individuais do objeto
➔ consiste no fato de que o conhecemos em suas relações, suas conexões

➔ no conceito, o objeto não é uma imagem modificada
➔ mas a predisposição a toda uma série de apreciações

ASSIM:

● CONCEITO é um sistema de apreciações, reduzidas a uma determinada conexão regular. inclui em


si uma relação no que diz respeito a um sistema muito mais amplo
● quando operamos com cada conceito isolado, o essencial está em que o fazemos ao mesmo tempo
com todo o sistema

● Piaget (1932) - dava a crianças (10- 12 anos) tarefas que consistiam em operar simultaneamente
dois traços: um animal tem as orelhas compridas e o rabo curto (ou ao contrário)
● a crianças resolve a tarefa centrando sua atenção apenas a um dos traços
● não consegue operar com o conceito como sistema
● domina todos os traços que integram o sistema, mas de forma separada
● não domina a síntese em que o conceito atua como sistema único
● somente na idade de transição se formaliza definitivamente essa função e a criança passa a pensar
em conceitos, partindo de outro sistema de pensamento das conexões complexas.
● idade de transição - é a idade de estruturação da concepção do mundo e da personalidade, do
aparecimento da autoconsciência e das ideias coerentes sobre o mundo
● a base para esse fato é o pensamento em conceitos.
● em que se distingue o complexo da criança?
● o sistema do complexo é um sistema de conexões ordenadas concretas, relacionadas com o objeto,
que se apoia fundamentalmente na memória - ?
● “toda experiência do homem culto atual, o mundo externo, a realidade externa e nossa realidade
interna estão representadas em um determinado sistema de conceitos” (p. 122)
● no conceito encontramos a unidade de forma e conteúdo que nos referimos antes. ?
● pensar com base em conceitos significa possuir um determinado sistema já preparado, uma
determinada forma de pensar, que ainda não predeterminou em absoluto o conteúdo final a que se
há de chegar
● durante a idade de transição - se produz a formação definitiva de todos os sistemas.
BUSEMANN: 3 TIPOS DE CONEXÃO EXISTENTE ENTRE AS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS

● conexões primárias:
● hereditárias
● entre determinadas funções existem conexões que se modificam diretamente
● ex: sistema que rege as relações entre os mecanismos emocionais e os intelectuais

● conexões secundárias:
● referem-se às conexões que se estabelecem durante o processo de encontro de fatores externos e
internos
● são conexões impostas pelo meio
● ex: educar uma criança

● conexões terciárias:
● se formam na idade de transição, sobre a base da autoconsciência
● caracterizam realmente a personalidade no plano genético e diferencial
● relacionar conscientemente uma função à outra -> de forma que constituam um sistema único de
comportamento (sonho do cafre) ?
BUSEMANN: diferença radical entre psicologia da criança e do adolescente

● 1º - se caracteriza por um plano psicológico único de ação direta. ?

● 2º - se caracteriza pela autoconsciência, pela atitude para consigo mesmo, a


partir de fora, a reflexão, a capacidade não de apenas pensar, mas também
de se dar conta da base do pensamento.
RELAÇÕES ENTRE A IDADE DE TRANSIÇÃO E A ESQUIZOFRENIA

● Esquizofrenia e a idade de transição estão em relação inversa.

● Idade de transição: é a idade na qual se estabelecem a se desenvolvem os sistemas complexos,


de origem social.

● Esquizofrenia: observamos uma desintegração das funções que se criam na idade de transição.
● Esquizofrenia

Contribuições de Blondel

● Alterações patológicas:
1. Torpor afetivo: indiferença em relação a pessoas, signos e objetos que mobilizavam afetos
significativos; ausência de qualquer tipo de impulso.
2. “Descontrole”: mais comumente expresso na irascibilidade, embora se verifique uma vida afetiva
complexa.
3. Inabilidade afetiva - quando a vida emocional se empobrece, todo o pensamento passa a ser regido
apenas por seus afetos.

● O que se processa é, portanto, uma mudança na correlação entre a vida intelectual e afetiva.
Seguindo Blondel:

● Teoria das mudanças patológicas na vida afetiva:


se desintegram os sistemas que são produtos da vida coletiva, portanto, “as ideias e os sentimentos
não variam, mas todos perdem a função que desempenhavam no sistema complexo” (p. 125)
● Indicativos de que isto é generalizável para qualquer alteração psicológica: um caminho para a
clínica?

● Transtorno afetivo do esquizofrênico:


as funções isoladas se conservam, não alteram-se; porém o sistema que as relaciona
funcionalmente se desintegra.
● Por que isso acontece?

● A forma de pensar, junto com o sistema de conceito, nos foi imposta pelo meio que nos rodeia, e
inclui os nossos sentimentos. (“não sentimos simplesmente, mas o sentimento é percebido por nós
sob a forma de ciúme, cólera, ultraje, ofensa, etc.”)

● Nomear sentimentos faz com que eles variem, já que mantêm uma certa relação com nossos
pensamentos.

● Relação do afeto com suas outras conexões funcionais: nunca sentimos o afeto de forma “pura”.
Ex: percepção: não somos capazes de distinguir onde termina a percepção empírica e onde começa
a internalização significativa do objeto percebido.
Disso é possível concluir:

● Emoções complexas aparecem somente historicamente, são a combinação de relações que surgem
em consequência da vida histórica.
● Como tal, elas apenas se estabelecem internamente como afetos individuais na medida em que o
indivíduo situa-se dentro de uma cultura, faz parte dessa vida histórica e internaliza seus processos.
● São justamente esses processos internalizados, as conexões entre as funções que são criadas de
fora, que se desintegram na(s) patologia(s).
-> No esquizofrênico, os afetos separam-se e agem à margem deste sistema, os afetos modificam
seus processos de pensamento, dissolvem os conceitos.
● Sendo essas conexões interfuncionais criadas de fora, ou seja, sistemas que têm origem social, o
indivíduo que perde essas conexões perde suas próprias relações sociais, e, portanto, perde em
certa medida suas relações consigo mesmo.

● É possível generalizar isso para o autismo? Vigotski aponta no texto que o autismo é uma
manifestação mais extrema dessa dinâmica da esquizofrenia.
4º EIXO:
síntese do texto
De tudo isso surge um problema…
Como essas relações externas se estabelecem internamente no cérebro?

● Rejeição das ideias de Kurt Goldstein (neurologista com influências da Gestalt) e Adhemar Gelb
(psicólogo da Gestalt), segundo as quais qualquer função psicológica superior tem uma
correlação fisiológica direta com uma determinada estrutura fisiológica e uma consequente
expressão psicológica.

● Para Vigotski, a existência de funções superiores é explicada pelo fato de que no cérebro existe
latente essa potencialidade de (re)combinar, de criar novas sínteses entre as funções e
estabelecer sistemas novos a partir de fora. (Exemplo das extensas pesquisas de Levi-Bruhl e
demais pesquisadores desse campo, exaustivamente estudados por Vigotski em outros textos)
Citando Vigotski (p. 131):
“As áreas estão relacionadas entre si, e o que observamos nos processos psíquicos é a atividade
conjunta de áreas isoladas. Essa ideia é sem dúvida mais acertada. Estamos diante de uma complexa
colaboração entre uma série de zonas distintas. O substrato cerebral dos processos psíquicos não é
integrado por setores isolados, mas por complexos sistemas de todo o aparelho cerebral.”

-> Pressuposto posteriormente desenvolvida por Luria, em sua neuropsicologia, com as ideia de
unidades funcionais e sistemas cerebrais locais, desenvolvidas depois de extensas pesquisas com
afásicos e pessoas que voltavam da guerra com lesões cerebrais e funções mais ou menos
preservadas.
3 etapas no desenvolvimento dos sistemas:

1. interpsicológica - a função vem de fora, cindida numa relação entre duas pessoas: a criança tenta
pegar algo distante, o adulto imprime significado naquela gesto de “apontar”, pede “é isso que tu
quer?”, envolve uma série de signos nessa dinâmica, e a criança obtém o objeto desejado a partir
da mobilização de essa série de signos por parte do adulto.
2. extrapsicológica - a criança começa a dizer pra ela mesma como conseguir o objeto, exemplo dos
experimentos e considerações de Vigotski no “O instrumento e o signo no desenvolvimento da
criança”, entre outros textos.
3. intrapsicológica - essas mediações externas significativas internalizam a relação entre ponto A e B
do cérebro e tornam automatizada a conexão, introduzem um novo sistema intracortical.
A personalidade
● Os traços de personalidade formam-se e estabelecem-se com o sistema psicológico da mesma
forma: são mediações externas internalizadas que situam-se dentro de um sistema de conceitos
que orientam e motivam determinadas formas de comportamento.

“Nos traços diferenciais e caracterológicos, é preciso distinguir fundamentalmente as conexões


primárias, que ocorrem em uma ou outra proporção, como por exemplo a constituição esquzóide,
das outras conexões que surgem de modo totalmente distinto e que distinguem a pessoa
desonesta da honrada, a veraz da falsa, a fantasiosa da diligente. Não se trata tanto de que uma
pessoa seja menos cuidadosa ou masi embusteira que outra, mas que surgiu e se desenvolveu na
ontogênese um determinado sistema de conexões [da personalidade].” (p. 134)
➔ “não se trata de que as alterações se deem exclusivamente no seio das
funções, mas de que existem alterações nas conexões e na infinita
diversidade de formas de estas se manifestarem; que em uma
determinada fase de desenvolvimento aparecem novas sínteses, novas
funções cruciais, novas formas de conexões, e que devemos nos
interessar pelos sistemas e pela finalidade dos sistemas. Parece-me que
finalidade [função] e sistemas são as duas palavras que devem encerrar
o alfa e o ômega de nosso trabalho mais imediato.” (p. 135)

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