Sobre Os Sistemas Psicológicos
Sobre Os Sistemas Psicológicos
Sobre Os Sistemas Psicológicos
psicológicos
L. S. VIGOTSKI
Lev Semyonovich Vygotsky
1. Compreender o
Materialismo desenvolvimento psíquico com
base na totalidade
histórico-dialético
indivíduo-realidade social;
impõe:
1. Considerar a inserção ativa do
sujeito no mundo como
mediadora desta relação
(totalidade).
Vigotski busca explicar
- Os sistemas psicológicos analisando duas
tradições de estudos sobre as funções
psicológicas:
Vigotski
Atribui às funções superiores papel distinto do papel
das funções psicológicas primitivas (atenção
arbitrária/involuntária, memória lógica) no
desenvolvimento da personalidade.
Em momentos particulares do
desenvolvimento psíquico existem
Para Vigotski atividades que o guiam,
possibilitando transformações
(Shuare, 2016) qualitativas que revolucionam o
modo de ser do indivíduo.
Sobre os Sistemas Psicológicos
- “estudo das complexas relações que surgem entre as funções
concretas que se dão no processo de desenvolvimento [estudo
genético] e as que se desintegram ou experimentam mudanças
patológicas durante um processo de alteração [estudo psicopatológico].”
(p. 105)
PORTANTO:
Sistemas Psicólógicos
1. Duas questões:
a. Conclusão sobre tudo o que dito a respeito dos sistemas psicológicos e do cérebro;
b. Alerta para a necessidade de, nos traços diferenciais e caracteriológicos, distinguir:
conexões caracteriológicas primárias de outras conexões que surgem em pessoas
que se desenvolvem em determinado sistema de conexões (valores).
1º EIXO:
Sobre o desenvolvimento e as
relações entre processos
sensoriais e motores
Psicologia antiga:
Que tipo de Psicologia moderna:
relação/associação Como as funções
existem entre as sensoriais e motoras
funções sensoriais se ajustam entre si?
e motoras?
desenvolvimento da percepção:
- a conexão, característica da relação entre as funções, se desintegra e surge uma nova
conexão - Fenômeno geral no desenvolvimento das funções psicológicas.
EXEMPLOS: lembrança de palavras com a ajuda de imagens (p. 110)
LEONTIEV (1931)
- memória lógica: reestruturação das funções naturais a sua substituição e o
aparecimento de uma complicada fusão do pensamento com a memória
- ZANKOV:
- na memória mediada o pensamento passa a ocupar o primeiro plano
- as pessoas, conforme suas características genéticas, agem sobre a lembrança de
uma lista de palavras de acordo com as propriedades da memória lógica e não com a
memória natural
- esse pensamento também não tem correspondência com o pensamento real: é um
pensamento abstrato (p. 111)
- na lembrança mudam todas as funções do pensamento:
- a memória não apenas muda quando se alia ao pensamento, mas este, ao modificar
suas funções, não é o mesmo que conhecemos quando estudamos operações lógicas
- conexões/estruturas/relações: modificam-se, substituem formas anteriores e formam
novos sistemas (p. 111)
4. argumento/passo 04
5 argumento/passo 05
- referem-se às diferentes formas de conexões entre as funções
- na criança em situações de jogo, quando ela modifica o significado do objeto
- exemplo filogenético:
- exemplo de mecanismo psicológico cuja origem é determinada por um sistema
conceitual, pelo valor (cuja fonte é social) que se dá a tal ou qual função.
- alguns sistemas mantém conexões não só com signos sociais, mas também com a
ideologia, e o significado que tal ou qual função adquire no pensamento das pessoas.
(p. 117)
- o processo de aparecimento de novas formas de comportamento a partir de um novo
conteúdo é extraído pelo homem do meio que o rodeia (p. 117)
- ponto 02:
apresentação de problemas/questões decorrentes de mudanças que caracterizam a
transformação dos sistemas psicológicos inferiores, a formação de outros de ordem
mais elevada - que definem propriamente a idade de transição (adolescência)
2ºEIXO:
Apresentação de problemas/questões
decorrentes de mudanças que
caracterizam a transformação dos
sistemas psicológicos inferiores, a
formação de outros de ordem mais
elevada - que definem propriamente a
idade de transição (adolescência)
- idade de transição: sistema complexo de concepções e de aparecimento de outras
novas que ocorre na formação do novo indivíduo. (p. 117)
- a essência do desenvolvimento psicológico não se baseia no desenvolvimento
posterior, mas na mudança de conexões.
- na idade de transição:m é difícil perceber o que ocorre no pensamento do adolescente
- é difícil que a memória ou a atenção proporcione na idade de transição algo novo em
relação à idade escolar
- é característica da idade de transição a passagem destas funções para dentro:
- o que para o escolar é externo no âmbito da memória lógica, da atenção arbitrária, do
pensamento, torna-se interno no adolescente. (p. 118)
- a INTERIORIZAÇÃO se realiza porque as operações externas se integram em uma
função complexa e em síntese com toda uma série de processos internos
- devido a sua lógica interna, o processo não pode continuar sendo externo, sua relação
com todas as outras funções MUDOU:
ADOLESCENTE
● lembrar - pensar
ESCOLAR
● buscar sequência lógica de
que precisa
● pensar - recordar casos
● o pensamento é introduzido
concretos
em todas as outras funções
● pensamento apoia-se
● o pensamento é a função
na memória
que distribui e muda todos
os outros processos da
idade de transição.
3º EIXO:
conceito e
esquizofrenia
● mantém a ordem de exposição:
● sistemas psicológicos inferiores -> formação de outros de ordem cada vez mais elevada, até chegar
à aqueles que constituem a chave de todos os processos de desenvolvimento e desintegração
● ou seja
● a formação de conceitos, de funções, que, pela primeira vez, amadurecem e se definem na idade de
transição
● na investigação psicológica -> conceito é um sistema psicológico (do mesmo tipo dos comentados
anteriormente)
● A Psicologia empírica tentava estabelecer como fundamento das funções de formação do conceito
alguma função parcial: a abstração, a atenção, a distinção dos traços da memória, a elaboração de
determinadas imagens.
● partia da concepção lógica de que qualquer função superior tem sua análoga, sua representação no
plano inferior
● memória - memória lógica atenção direta - arbitrária
● conceito: imagem modificada, transformada, liberada de todas as partes descartáveis, uma espécie
de conceito polido.
● Comparação do mecanismo de conceito com uma fotografia coletiva (F. Galton) - os traços
semelhantes sobressaem, os casuais se diluem entre si.
LÓGICA FORMAL
● conceito é um conjunto de traços que foram destacados da série e ressaltados nos momento que
coincidem.
mais pobre: nem tudo que se
refere à Napoleão, se refere
1
a um francês Napoleão
infinitamente
rico quanto a
2 seu conteúdo
francês concreto
3
europeu
● Assim por diante: homem -> animal -> ser -> …..
● Quanto mais geral o conceito, mais pobres no que se refere à quantidade de traços concretos.
● Conceito como um conjunto de traços do objeto afastado do grupo, como um conjunto de traços gerais.
● Por isso: conceito surgiria como o resultado da paralisação de nossos conhecimentos sobre o objeto.
LÓGICA DIALÉTICA
● conceito: não é um esquema tão formal, um conjunto de traços abstraídos do objeto
● oferece um conhecimento muito mais rico e complexo do mesmo
● formulação totalmente nova do problema relacionado com a formação do conceito em psicologia
● ao se tornar mais amplo (se referir a um número cada vez maior de objetos) não empobrece seu
conteúdo, mas sim o enriquece
➔ quando um sujeito de uma prova resolve uma tarefa de formação de nossos conceitos:
❖ a essência do processo que ocorre consiste no estabelecimento de conexões
❖ ao buscar outra série de objetos para esse objeto, busca a conexão entre ele e outros.
❖ não se relega a uma série de traços a um segundo plano (como na fotografia coletiva)
❖ pelo contrário: cada tentativa de resolver a tarefa consiste na formação de conexões
base do quadrado de 81
9 3²
1º
➔ o conceito não consiste na fotografia coletiva
➔ nem depende de que se apaguem os traços individuais do objeto
➔ consiste no fato de que o conhecemos em suas relações, suas conexões
2º
➔ no conceito, o objeto não é uma imagem modificada
➔ mas a predisposição a toda uma série de apreciações
ASSIM:
● Piaget (1932) - dava a crianças (10- 12 anos) tarefas que consistiam em operar simultaneamente
dois traços: um animal tem as orelhas compridas e o rabo curto (ou ao contrário)
● a crianças resolve a tarefa centrando sua atenção apenas a um dos traços
● não consegue operar com o conceito como sistema
● domina todos os traços que integram o sistema, mas de forma separada
● não domina a síntese em que o conceito atua como sistema único
● somente na idade de transição se formaliza definitivamente essa função e a criança passa a pensar
em conceitos, partindo de outro sistema de pensamento das conexões complexas.
● idade de transição - é a idade de estruturação da concepção do mundo e da personalidade, do
aparecimento da autoconsciência e das ideias coerentes sobre o mundo
● a base para esse fato é o pensamento em conceitos.
● em que se distingue o complexo da criança?
● o sistema do complexo é um sistema de conexões ordenadas concretas, relacionadas com o objeto,
que se apoia fundamentalmente na memória - ?
● “toda experiência do homem culto atual, o mundo externo, a realidade externa e nossa realidade
interna estão representadas em um determinado sistema de conceitos” (p. 122)
● no conceito encontramos a unidade de forma e conteúdo que nos referimos antes. ?
● pensar com base em conceitos significa possuir um determinado sistema já preparado, uma
determinada forma de pensar, que ainda não predeterminou em absoluto o conteúdo final a que se
há de chegar
● durante a idade de transição - se produz a formação definitiva de todos os sistemas.
BUSEMANN: 3 TIPOS DE CONEXÃO EXISTENTE ENTRE AS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS
● conexões primárias:
● hereditárias
● entre determinadas funções existem conexões que se modificam diretamente
● ex: sistema que rege as relações entre os mecanismos emocionais e os intelectuais
● conexões secundárias:
● referem-se às conexões que se estabelecem durante o processo de encontro de fatores externos e
internos
● são conexões impostas pelo meio
● ex: educar uma criança
● conexões terciárias:
● se formam na idade de transição, sobre a base da autoconsciência
● caracterizam realmente a personalidade no plano genético e diferencial
● relacionar conscientemente uma função à outra -> de forma que constituam um sistema único de
comportamento (sonho do cafre) ?
BUSEMANN: diferença radical entre psicologia da criança e do adolescente
● Esquizofrenia: observamos uma desintegração das funções que se criam na idade de transição.
● Esquizofrenia
Contribuições de Blondel
● Alterações patológicas:
1. Torpor afetivo: indiferença em relação a pessoas, signos e objetos que mobilizavam afetos
significativos; ausência de qualquer tipo de impulso.
2. “Descontrole”: mais comumente expresso na irascibilidade, embora se verifique uma vida afetiva
complexa.
3. Inabilidade afetiva - quando a vida emocional se empobrece, todo o pensamento passa a ser regido
apenas por seus afetos.
● O que se processa é, portanto, uma mudança na correlação entre a vida intelectual e afetiva.
Seguindo Blondel:
● A forma de pensar, junto com o sistema de conceito, nos foi imposta pelo meio que nos rodeia, e
inclui os nossos sentimentos. (“não sentimos simplesmente, mas o sentimento é percebido por nós
sob a forma de ciúme, cólera, ultraje, ofensa, etc.”)
● Nomear sentimentos faz com que eles variem, já que mantêm uma certa relação com nossos
pensamentos.
● Relação do afeto com suas outras conexões funcionais: nunca sentimos o afeto de forma “pura”.
Ex: percepção: não somos capazes de distinguir onde termina a percepção empírica e onde começa
a internalização significativa do objeto percebido.
Disso é possível concluir:
● Emoções complexas aparecem somente historicamente, são a combinação de relações que surgem
em consequência da vida histórica.
● Como tal, elas apenas se estabelecem internamente como afetos individuais na medida em que o
indivíduo situa-se dentro de uma cultura, faz parte dessa vida histórica e internaliza seus processos.
● São justamente esses processos internalizados, as conexões entre as funções que são criadas de
fora, que se desintegram na(s) patologia(s).
-> No esquizofrênico, os afetos separam-se e agem à margem deste sistema, os afetos modificam
seus processos de pensamento, dissolvem os conceitos.
● Sendo essas conexões interfuncionais criadas de fora, ou seja, sistemas que têm origem social, o
indivíduo que perde essas conexões perde suas próprias relações sociais, e, portanto, perde em
certa medida suas relações consigo mesmo.
● É possível generalizar isso para o autismo? Vigotski aponta no texto que o autismo é uma
manifestação mais extrema dessa dinâmica da esquizofrenia.
4º EIXO:
síntese do texto
De tudo isso surge um problema…
Como essas relações externas se estabelecem internamente no cérebro?
● Rejeição das ideias de Kurt Goldstein (neurologista com influências da Gestalt) e Adhemar Gelb
(psicólogo da Gestalt), segundo as quais qualquer função psicológica superior tem uma
correlação fisiológica direta com uma determinada estrutura fisiológica e uma consequente
expressão psicológica.
● Para Vigotski, a existência de funções superiores é explicada pelo fato de que no cérebro existe
latente essa potencialidade de (re)combinar, de criar novas sínteses entre as funções e
estabelecer sistemas novos a partir de fora. (Exemplo das extensas pesquisas de Levi-Bruhl e
demais pesquisadores desse campo, exaustivamente estudados por Vigotski em outros textos)
Citando Vigotski (p. 131):
“As áreas estão relacionadas entre si, e o que observamos nos processos psíquicos é a atividade
conjunta de áreas isoladas. Essa ideia é sem dúvida mais acertada. Estamos diante de uma complexa
colaboração entre uma série de zonas distintas. O substrato cerebral dos processos psíquicos não é
integrado por setores isolados, mas por complexos sistemas de todo o aparelho cerebral.”
-> Pressuposto posteriormente desenvolvida por Luria, em sua neuropsicologia, com as ideia de
unidades funcionais e sistemas cerebrais locais, desenvolvidas depois de extensas pesquisas com
afásicos e pessoas que voltavam da guerra com lesões cerebrais e funções mais ou menos
preservadas.
3 etapas no desenvolvimento dos sistemas:
1. interpsicológica - a função vem de fora, cindida numa relação entre duas pessoas: a criança tenta
pegar algo distante, o adulto imprime significado naquela gesto de “apontar”, pede “é isso que tu
quer?”, envolve uma série de signos nessa dinâmica, e a criança obtém o objeto desejado a partir
da mobilização de essa série de signos por parte do adulto.
2. extrapsicológica - a criança começa a dizer pra ela mesma como conseguir o objeto, exemplo dos
experimentos e considerações de Vigotski no “O instrumento e o signo no desenvolvimento da
criança”, entre outros textos.
3. intrapsicológica - essas mediações externas significativas internalizam a relação entre ponto A e B
do cérebro e tornam automatizada a conexão, introduzem um novo sistema intracortical.
A personalidade
● Os traços de personalidade formam-se e estabelecem-se com o sistema psicológico da mesma
forma: são mediações externas internalizadas que situam-se dentro de um sistema de conceitos
que orientam e motivam determinadas formas de comportamento.