Odontologia Hospitalar 2

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Novos Tempos da Odontologia Hospitalar

José Reynaldo Figueiredo


Doutor em Ciências Odontológicas. Mestre em Deontologia e Odontologia Legal. Especia-
lista em Odontopediatria. Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades
Especiais. Especialista em Implantodontia. Presidente da Associação Brasileira de Odonto-
logia para Pacientes com Necessidades Especiais (ABOPE). Membro do Conselho e do Co-
mitê de Educação da iADH (International Association for Disability and Oral Health).
Membro do Grupo de Trabalho, do Ministério da Saúde referente às “Diretrizes de Atenção
à Saúde Bucal da Pessoa com Deficiência no SUS”. Membro da Acadêmia Interamericana
de odontologia para Pacientes Especiais. Responsável pela “Clínica Sorrisos Especiais”.

Reconhecimento Oficial

Em outubro de 2014 foi realizada pelo Conselho Federal de Odontologia


(CFO) a III Assembleia Nacional de Especialidades Odontológicas (ANEO), nela foi
reconhecido o direito do exercício da Odontologia Hospitalar (OH) pelo cirurgião-
dentista.
Fig. 1. Cartaz de convocação para a 3ª ANEO, realizada em São Paulo, em outu-
bro de 2014.

O atendimento odontológico em hospitais não é recente, há muitos anos tal


atividade vem sendo praticada por profissionais no cuidado de pacientes com con-
dições clínicas que requerem atenção complexa, com riscos que devem ser acom-
panhados de perto por equipes médicas e de enfermagem.
A pratica da OH pode ser aplicada em pacientes externos ou internados em
hospitais e unidades de terapia intensiva, com resultados eficazes no processo de
reabilitação global da saúde do paciente. A interação entre as equipes odontológi-
cas e as hospitalares pode suportar procedimentos impossíveis de serem realiza-
dos a nível ambulatorial.
O desenvolvimento dessa atividade pelo cirurgião-dentista, porém requer
habilitação prévia pelo CFO, conforme a resolução do CFO nº 162 de 03 de no-
vembro de 2015, publicada no Diário Oficial da União em 16 de novembro de 2015.

Código de ética odontológica

Fig. 2 Código de ética odontológica, que entrou em vigor em janeiro de 2013.

Essa resolução vem de encontro ao Capítulo X, do Código de Ética Odonto-


lógica, que em seu artigo 26, determina que “Compete ao cirurgião-dentista internar
e assistir paciente em hospitais públicos e privados, com ou sem caráter filantrópi-
co, respeitadas as normas técnico-administrativas das instituições.”. O capítulo X é
complementado pelo artigo 27, que se refere às normatizações pertinentes aos
hospitais e ao artigo 28, sobre as infrações éticas: como atuar fora do âmbito legal
da Odontologia e abandonar o paciente internado ou em estado grave.

Atuação em hospital
É sabido que existe a necessidade real da presença do cirurgião-dentista na
execução de procedimentos odontológicos em ambiente hospitalar; seja para uma
intervenção de curta ou de longa duração, seja para um procedimento com seda-
ção leve, profunda ou com anestesia geral. Comprovadamente o controle de infec-
ções bucais é primordial para o processo de recuperação da condição global do
paciente internado, em muitos casos ajuda a diminuir o período de internação, tan-
to no hospital como nas unidades de terapia intensiva (UTI).

Indicações e contraindicações

As principais intervenções do cirurgião-dentista em um hospital ocorrem em


casos de cirurgias buco–maxilo–facial, pacientes traumatizados por acidentes, para
os pacientes com necessidades especiais, dentre os quais podemos destacar paci-
entes com deficiências, pacientes com alterações sistêmicas graves, pacientes
com alterações comportamentais que impedem procedimentos em ambulatório, i-
dosos com saúde abalada e crianças pequenas com graves sequelas de doenças
bucais. As contraindicações para o atendimento hospitalar são: condições clínicas
de alto risco, infraestrutura hospitalar inadequada, equipes não habilitadas, pacien-
tes com infecções de vias aéreas superiores ou que não cumpriram jejum em pro-
cedimentos seletivos, e intercorrências durante o ato anestésico ou cirúrgico.

Fig. 3. PNE com indicação para tratamento odontológico, sob anestesia geral, em
hospital.

Normas administrativas

As normas técnicas – administrativas, que regem o funcionamento de um


hospital, devem ser de conhecimento do dentista, e caso contrário poderá dificultar
ou até mesmo impedir a presença do mesmo em um centro cirúrgico. O objetivo
dessas normas é harmonizar o trabalho dos profissionais, respeitando suas indivi-
dualidades.
Cada hospital estabelece as normas de ingresso de profissionais em seus
quadros clínicos, que em geral são: médicos, cirurgiões-dentistas, enfermeiros, fisi-
oterapeutas, biomédicos, farmacêuticos, instrumentadores, fonoaudiólogos, técni-
cos em raio-x.

Protocolos para o atendimento hospitalar de pacientes com necessida-


des especiais

Critério de elegibilidade:
- Paciente com quadro clínico geral ou bucal comprometido, que impossibilita
o manejo, a abordagem em ambiente ambulatorial.
- Comportamento inadequado ou reação à manipulação.
- Paciente com quadro clínico geral e bucal comprometido, domiciliado em
zonas distantes de centros hospitalares de excelência, com impossibilidade
de transporte regular e com tratamentos de longa duração.

Condutas pré-operatórias
- Avaliação clínica e anamnese.
- Solicitação de exames pré-operatórios laboratoriais e de imagens.
- Avaliação da clínica médica pré-operatória.
- Emissão do aviso de agendamento cirúrgico.
- Orientação sobre o jejum e uso de medicamentos.
- Orientação da documentação e endereço do hospital.

Condutas para o dia da internação


- Avaliar o paciente no leito do quarto para verificar o estado geral e esclare-
cer dúvidas da família.
- Preencher guias hospitalares e solicitar a autorização para o tratamento.
- Realização dos procedimentos transoperatórios de acordo com as necessi-
dades clínicas previamente avaliadas ou presentes no ato do procedimento.
- Após a conclusão dos procedimentos é de responsabilidade do dentista pre-
encher, assinar e carimbar os formulários e prescrições hospitalares.

Acompanhamento no pós-operatório
- Orientação aos familiares no pós-operatório imediato.
- Descrever o processo de evolução clínica do paciente, se houver ou não in-
tercorrências.
- Avaliar junto a equipe de anestesiologia o tempo de recuperação pós-
anestésica.
- Avaliar reações clínicas possíveis (dor, enjoo, sonolência, náuseas).
- Previsão de alta hospitalar (data e hora).
- Prescrições e orientações para o domicílio.
- Previsão de retorno para o pós-operatório mediato.
- É recomendado o acompanhamento da recuperação do paciente durante o
período que ele permanece internado.

Tratamento odontológico para PNE em centro cirúrgico hospitalar

“Avaliar a relação custo-benefício” entenda-se o termo como: “riscos para o


paciente”. Muitas vezes o exame clínico só é possível com o paciente anestesiado,
assim como a tomada de radiografias. Dentro do possível, recomenda-se o trata-
mento em uma única visita, por questões de custo, entretanto em alguns casos
uma nova internação deverá ser requerida.

Equipamento odontológico

Os equipamentos tipo “cart” ou portátil e motores de implante são usados


rotineiramente. Também os equipamentos periféricos como: aparelho de raio-x,
câmera escura, amalgamador, fotopolimerizador , ultrassom, bisturi elétrico, câme-
ra fotográfica, são úteis e devem estar em boas condições para evitar falhas, como
por exemplo uma lâmpada queimada de um fotopolimerizador que atrasaria todo o
procedimento. O instrumental dental deve ser duplicado, pois podem ocorrer que-
das, fraturas e desgastes das peças. O material odontológico deve ser de alta qua-
lidade e suficiente, porque muitas vezes não se tem a dimensão real dos procedi-
mentos a serem executados.
Fig. 4. Cart odontológico adaptado para uso em centro cirúrgico

Fig 5 e 6. Periféricos e instrumentais em duplicata

Equipes de atenção ao PNE

As equipes clínicas que atuam no hospital devem ser harmônicas, sendo


sempre comandadas pelo anestesiologista, esse deverá permanecer na sala de
operações durante todo tempo da intervenção, dando todo o suporte a equipe o-
dontológica que deve ser composta, sempre que possível por dois dentistas e uma
auxiliar de saúde bucal (ASB). Fundamental também é a equipe de enfermagem,
composta pelo enfermeiro padrão, por técnico de enfermagem e esterilização e pe-
los maqueiros que transportam o paciente pelo hospital.

Considerações sobre a atuação do cirurgião-dentista no hospital

O cirurgião-dentista não é um “habituée” de hospital, não existe a disciplina


“Odontologia Hospitalar” nas grades da graduação, por isso a capacitação do pro-
fissional se faz necessária. O hospital é um ambiente bem diferente do consultório
em vários quesitos, mas os conceitos clássicos de comportamento devem ser res-
peitados e o controle da infecção é um deles. Devido ao alto risco de infecção hos-
pitalar, que pode levar pacientes com baixa resistência a óbito, princípios de as-
sepsia e antissepsia devem ser redobrados. Muitos hospitais, por exemplo, requisi-
tam que os instrumentais sejam esterilizados em suas dependências.
O cirurgião-dentista também deve conhecer equipamentos básicos da anes-
tesia geral, como monitores, cânulas de intubação, medicamentos, etc. É necessá-
rio ter precaução com o circuito de anestesia durante os procedimentos operatórios
e não atrapalhar o anestesista durante a intubação e desentubação do paciente.

Fig.7. Paciente especial com intubação nasal.

Após a intubação do paciente a equipe odontológica pode atuar na tomada


de radiografias, colocação dos campos estéreis, avaliação rápida e proceder de
acordo com o planejamento. No tratamento odontológico sob anestesia geral o
dentista deve agir com rapidez, sem perder a qualidade do serviço. Ele é respon-
sável pela tomada de decisões e para isso deve estar com bom preparo físico,
mental e psicológico.

Fig.8. Tomada de radiografia no centro cirúrgico

Fig. 9. O cirurgião-dentista deve contar sempre com equipe auxiliar

O pós-operatório deve ser acompanhado pelo profissional enquanto o paci-


ente estiver na sala de recuperação e acompanhar possíveis intercorrências, como
hemorragias e sintomas dolorosos. Deve também solicitar avaliação médica caso
haja necessidade de transferência para UTI.
O cirurgião-dentista também é responsável pela prescrição de medicamen-
tos e dietas indicadas a equipe de enfermagem. Falhas na comunicação entre as
equipes podem trazer transtornos de difíceis soluções em caso de pacientes debili-
tados, como por exemplo, uma medicação mal interpretada pela equipe de enfer-
magem que pode comprometer o estado de saúde do paciente.
A alta hospitalar deve ser prescrita pelo dentista em consonância com a e-
quipe médica. Em casos de intercorrências na internação o profissional deve ser
avisado prontamente e dar o devido respaldo as equipes hospitalares.

Referências bibliográficas

Conselho Federal de Odontologia Resolução CFO Nº 162 DE 03/11/2015. Diário


Oficial da União, de 16/11/2015

Conselho Federal de Odontologia. Código de Ética Odontológica. Aprovado pela


Resolução CFO-118/2012

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