Capítulo Dois TCC - Renato Soares Rodrigues
Capítulo Dois TCC - Renato Soares Rodrigues
Capítulo Dois TCC - Renato Soares Rodrigues
A COMPLEXIDADE HUMANA
A partir das próprias experiências, o povo de Deus foi construindo uma visão
acerca do homem e essas perspectivas compõe os fundamentos da antropologia. Portanto,
o Antigo Testamento deve ser o ponto de partida lógico, pois encerra em si a experiência
de um povo que, sendo eleito por Deus (cf. Gn 18, 19; Dt 7, 6; Am 3, 2), começa a
entender o desígnio divino que fez do homem imagem e semelhança do seu Criador (cf.
Gn 1, 26). A partir disso, aceitando pontos concretos das ideias dos diferentes ambientes
onde foi composto, destaca “a relação constitutiva do ser do homem com Deus, que afeta
a totalidade do ser humano e não só uma parte ou componente do mesmo.” (SILVA,
2021)
A bíblia ensina claramente a doutrina de uma criação especial, que Deus fez cada
criatura “segundo a sua espécie”. A distinção entre o homem e as criaturas inferiores
implica declaração de que “Deus criou o homem à sua imagem” além de uma espécie de
ligação estrutural, onde o homem se manteve como objeto central da providência divina,
com vistas ao seu destino, para mantê-lo vivo após a queda, da atividade redentora (em
Cristo) e pelo Espírito Santo no seio da igreja. (PEARLMAN, 1984)
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio
dele e, sem ele, nada do que foi feito existiria (Jo.1.1-3)"
Enfim, o homem foi criado à semelhança de Deus, foi feito como Deus em caráter
e personalidade. E em todas as Escrituras o ideal e alvo exposto diante do homem é o de
ser semelhante a Deus. Alguns elementos que constituem a imagem divina devem ser
considerados:
Deus não tendo forma física, a sua imagem só se entende em sentido figurado e,
para esclarecer a comparação. Essa semelhança só pode referir-se ao seu elemento
espiritual, porque Deus é Espírito (Jo. 4:24) e, portanto não tem corpo para que o corpo
humano lhe fosse semelhante. O homem, na verdade, tem um corpo feito do pó da terra,
mas Deus soprou nas narinas o sopro da vida (Gn. 2:7); dessa forma, dotou-o de uma
natureza capaz de conhecer, amar e servir a Deus. (TEIXEIRA, 1976)
O fato do homem (Adam) ter sido criado a partir do solo (adamah) (Gn 2, 7) e só
depois disso ter sido criado o jardim (Gn 2, 8-14) evidencia a relação entre eles, uma vez
que, aparentemente, o jardim teria sido criado em função do homem como lugar relacional
– entre o homem e Deus, com a mulher e com as coisas. Por outro lado, também reforça
simbolicamente a constituição transcendente-imanente do homem feito da terra e do
sopro de Deus. Sendo impossível, pois, separar a dimensão material da transcendente do
homem, fica claro que é graças à abertura a Deus que o homem pode entender sua posição
no cosmos. A vocação do homem no mundo então seria guardar e cultivar o mundo
criado. (SILVA, 2021)
Para Teixeira (1976) A imagem de Deus, portanto, está atrelada aos elementos
imateriais do homem. A narrativa bíblica não diz que Adão foi criado altamente civilizado
e moralmente desenvolvido, mas apenas em condições de gozar os benefícios de uma
natureza bem favorecida e de ter, com Deus, as relações de seres moralmente infantes,
mas sem vícios que prejudicassem seu aperfeiçoamento. Em outras palavras, o homem
foi criado por Deus e dói instruído por ele nos afazeres e na liturgia de seus atos, sem
históricos culturais e experiências prévias que pudessem macular seu próprio
desenvolvimento.
A palavra imagem pode também ser utilizada para denotar algo que representa
outra coisa. O fato de que o homem é criado à imagem de Deus significa que o homem é
como Deus nos seguintes aspectos: capacidade intelectual, pureza moral, natureza
espiritual, domínio sobre a terra, criatividade, habilidade para tomar decisões éticas e
imortalidade. (GRUDEM, 1999).
Ante a perícope de Gn. 1:26-28, é interessante dividir sua análise em três partes,
a saber, o prólogo, o momento da criação e a bênção da atribuição. Esta divisão proposta
por Lorda (2005) ajuda a reforçar as características principais deste relato que, apesar de
sua brevidade, contém importância fundamental para a antropologia da Igreja. O prólogo,
evidencia que o homem traz em si mesmo as marcas do divino, como sendo de alguma
forma parecido com seu criador, mas também estabelece uma fronteira nítida entre Deus
e o homem que este não pode ultrapassar, porque o homem é imagem e semelhança de
Deus, mas não é Deus. O momento da Criação é explicitado pela forma que,
diferentemente das demais criações, o homem foi formado não apenas pela palavra, mas
pela ação da palavra sobre outro elemento (pó da terra) e o sopro de Deus. Já a benção da
atribuição, é acrescentada à ideia do domínio do homem sobre as criaturas (Gn 1, 26) a
dádiva da fecundidade, pela qual o homem pode efetivamente transmitir a imagem de
Deus. Essa ideia de transmissão fica evidente em Gn 5: 3, onde se lê que Adão “gerou um
filho a sua semelhança, como sua imagem”. Este aspecto da criação do homem reforça
também o valor dado à sexualidade humana, na medida em que esta é sinal da santidade
da imago Dei no homem.
Diante de tudo isso, entender que o homem, criado por Deus num estado de
santidade, foi, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua história, abusando da
própria liberdade, rebelando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim fora d'Ele.
Apesar de ter conhecido a Deus, não prestou a glória a Ele devida, e o seu coração
insensato desviou-se e ele serviu à criatura, preferindo-a ao Criador. E isto que a revelação
divina, pela graça, nos dá a conhecer, nos faz entender que, quando o homem olha para
dentro do próprio coração, percebe-se inclinado também para o mal, e imerso nele, que
não podem provir de seu Criador, que é bom, muitas vezes, recusou a reconhecer Deus
como seu princípio, mudou também a devida orientação para o fim último e, ao mesmo
tempo, toda a sua ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para toda
a criação (SILVA, 2021).
Outro ponto a ser observado é como Deus pôde permitir esse fato contrário a sua
vontade? Adão, dotado de livre-árbitrio, deveria avançar rumo a uma semelhança cada
vez maior com seu Criador. Ao contrário disso, ele definiu que andaria por um outro
caminho. Mas isso, tecnicamente, ofenderia o Poder e a Sabedoria de Deus. A menos que,
esse fato fez parte do plano eterno da criação e não podendo entretanto, contrariar a Sua
Sabedoria e Poder. Portanto, apesar de permanecer um mistério, Deus permite o pecado,
sem nele tomar parte e igualmente o pecado pôde ser incluído no Seu plano, sem ofensa
à sua natureza, preferindo manter a liberdade do homem.
Com o entendimento de que por que o homem usou indevidamente sua liberdade,
gerando o pecado original, trazendo miséria ao mundo e que, depois disso, todos já
nascem inseridos num contexto de pecado. Ladaria (2016) afirma que:
A bíblia traz alguns versículos que corroboram com esta visão, como por exemplo:
2ª Reis 8:46 “Não há homem que não peque” Salmos 143:2 “Não entres em juízo com
teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente”; Ec. 7:20 “Na verdade
não há homem justo sobre a terra que faça o bem e nunca peque.”; Salmos 51:5: “Eis que
em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe.”
Silva (2021) cita Agostinho de Hipona ao dizer que a imagem do homem foi
deformada e a causa disso foi o pecado pois, segundo ele, “pelo pecado o ser humano
perdeu a justiça e a santidade, por isso sua imagem ficou deformada e sem cor.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS