Capítulo Dois TCC - Renato Soares Rodrigues

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CAPÍTULO DOIS

A COMPLEXIDADE HUMANA

Depois do breve estudo sobre a simplicidade de Deus e sua Santidade, trataremos


do ser humano que, segundo BerKhof (1985) “é a coroa da criação de Deus, cuja glória
especial consiste em ter sido criado à Sua imagem e conforme a Sua semelhança (Gn.1.
26-27)”.

A partir das próprias experiências, o povo de Deus foi construindo uma visão
acerca do homem e essas perspectivas compõe os fundamentos da antropologia. Portanto,
o Antigo Testamento deve ser o ponto de partida lógico, pois encerra em si a experiência
de um povo que, sendo eleito por Deus (cf. Gn 18, 19; Dt 7, 6; Am 3, 2), começa a
entender o desígnio divino que fez do homem imagem e semelhança do seu Criador (cf.
Gn 1, 26). A partir disso, aceitando pontos concretos das ideias dos diferentes ambientes
onde foi composto, destaca “a relação constitutiva do ser do homem com Deus, que afeta
a totalidade do ser humano e não só uma parte ou componente do mesmo.” (SILVA,
2021)

Para tanto, partiremos do ponto de que somente Deus pode verdadeiramente


revelar Deus. Esta revelação de si mesmo, tão necessária, encontra-se nas Escrituras. Da
mesma fonte deriva a opinião de Deus sobre o homem, que é a opinião verdadeira, uma
vez que, quem melhor pode conhecer o homem do que seu Criador? (TEIXEIRA, 1976)

A bíblia ensina claramente a doutrina de uma criação especial, que Deus fez cada
criatura “segundo a sua espécie”. A distinção entre o homem e as criaturas inferiores
implica declaração de que “Deus criou o homem à sua imagem” além de uma espécie de
ligação estrutural, onde o homem se manteve como objeto central da providência divina,
com vistas ao seu destino, para mantê-lo vivo após a queda, da atividade redentora (em
Cristo) e pelo Espírito Santo no seio da igreja. (PEARLMAN, 1984)

Laradia (1982) diz que:

“Só a dimensão transcendente do homem, sua relação com Deus,


ancorada no profundo do seu ser e não como um acréscimo a um
‘homem’ já constituído, é importante e decisiva para a antropologia
veterotestamentária; e dado que esta relação com Deus afeta o homem
em sua totalidade, é lógico que se sublinha a unidade e a pluralidade de
aspectos do seu ser”
Diante dessa visão integral do ser humano, como característica observada na
teologia do Antigo Testamento, é possível perceber dentro da noção de imago Dei, os
seus entendimentos nos séculos seguintes, tanto no âmbito do judaísmo e do cristianismo
(Novo Testamento), quanto nos Primeiros Padres. A teologia da imagem e semelhança
torna-se, assim, a chave de leitura para que o homem possa compreender a si mesmo
dentro dos desígnios de Deus. (SILVA, 2021)
No Novo Testamento é imprescindível conhecer o homem a partir de Jesus, o
Cristo. Assim, as primeiras comunidades cristãs nutriam um pensamento antropológico
profundamente orientado pela revelação realizada pelo Filho de Deus, transformando a
ideia de homem num tema cristológico e escatológico. É também nesta perspectiva que
os autores patrísticos, ao desenvolver as história, na intenção de defender e desenvolver
a teologia cristã, tentaram dar uma resposta acerca da identidade do homem associando a
teologia da criação presente no Antigo Testamento e as afirmações do Novo Testamento.
Consolidando uma visão do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que irá
perdurar por vários séculos e chegará até o homem contemporâneo como uma verdadeira
luz sobre questões fundamentais.
Essa importância do homem, em um contexto lógico, como objeto do estudo, será
tratada em duas partes distintas: primeiro, o homem como ele “saiu das mãos” do
Criador, no seu estado original de integridade; posteriormente, o homem como se tornou
pelo mau uso que fez das faculdades com que Deus o dotou, corrompendo a sua natureza.

2.1- O HOMEM CRIADO NO SEU ESTADO ORIGINAL

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio
dele e, sem ele, nada do que foi feito existiria (Jo.1.1-3)"

As Escrituras, em vista de apresentar o grande mistério da criação, não se ocupam


com respostas científicas, nem tampouco pretendem proporcionar uma interpretação
literal dos fatos, mas, como tem reiterado a Igreja pelos séculos, são relatos válidos que
expressam realidades realmente ocorridas. Estes estão descritos em alguns trechos que
afirmam e corroboram que Deus é o criador de tudo, mas em Gênesis 1 e 2 é possível
perceber o início de todas as coisas, além das relações entre elas e seus propósitos. O texto
Sagrado diz que, tendo no quinto dia criado toda a espécie de animais, Deus cria o homem,
à sua imagem e semelhança para dominar sobre todos eles.
Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as
aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre
todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E
Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei
a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos
céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. (Gênesis 1:26-28).

Diferentemente das demais obras, o homem recebe a imagem e a semelhança de


Deus além do privilégio que lhe foi concedido de dominar sobre todas as outras criaturas.
A bíblia, na segunda narrativa que faz da criação do homem (Gn. 2:7) completa a primeira
já referida (Gn. 1-26-28), dizendo que Deus “formou o homem do pó da terra e soprou
nas suas narinas o sopro da vida”. Aqui aparecem dois elementos: O pó de que foi
formado seu corpo e o sopro de Deus, que lhe infundiu a sua imagem e semelhança – a
alma. (TEIXEIRA, 1976)

O homem se compõe de duas substâncias – A substância material, chamada corpo,


e a substância imaterial, chamada alma ou espírito. Nessa altura do estudo, não convém
entrar na discussão sobre dicotomia ou tricotomia, uma vez que, o foco aqui é o fato de
que alma e espírito são os dois lados de uma mesma moeda, ou seja, a parte imaterial do
homem, como distinta da sua parte material.

Enfim, o homem foi criado à semelhança de Deus, foi feito como Deus em caráter
e personalidade. E em todas as Escrituras o ideal e alvo exposto diante do homem é o de
ser semelhante a Deus. Alguns elementos que constituem a imagem divina devem ser
considerados:

2.1.1 – A IMAGEM DE DEUS

Deus não tendo forma física, a sua imagem só se entende em sentido figurado e,
para esclarecer a comparação. Essa semelhança só pode referir-se ao seu elemento
espiritual, porque Deus é Espírito (Jo. 4:24) e, portanto não tem corpo para que o corpo
humano lhe fosse semelhante. O homem, na verdade, tem um corpo feito do pó da terra,
mas Deus soprou nas narinas o sopro da vida (Gn. 2:7); dessa forma, dotou-o de uma
natureza capaz de conhecer, amar e servir a Deus. (TEIXEIRA, 1976)

Inúmeros estudiosos têm feito malabarismos para distinguir nitidamente entre os


termos imagem e semelhança. Santo Agostinho, por exemplo, sustentava que o homem
possui referências às qualidades intelectuais e morais da alma. O fato de uma das palavras
gregas traduzidas por “homem” (antrhropos) ser a combinação de palavras significando
literalmente “aquele que olha pra cima” trazendo a ideia daquele que, intrinsecamente,
sabe de onde veio. Por causa da imagem divina todos os homens são, por criação, filhos
de Deus. (SILVA, 2021).

“A doutrina da criação do homem à imagem de Deus é de


grande importância, pois a imagem é o que há de mais distintivo no
homem que o distingue dos animais e de cada uma das outras criaturas.”
(BERKHOF, 1985)

O fato do homem (Adam) ter sido criado a partir do solo (adamah) (Gn 2, 7) e só
depois disso ter sido criado o jardim (Gn 2, 8-14) evidencia a relação entre eles, uma vez
que, aparentemente, o jardim teria sido criado em função do homem como lugar relacional
– entre o homem e Deus, com a mulher e com as coisas. Por outro lado, também reforça
simbolicamente a constituição transcendente-imanente do homem feito da terra e do
sopro de Deus. Sendo impossível, pois, separar a dimensão material da transcendente do
homem, fica claro que é graças à abertura a Deus que o homem pode entender sua posição
no cosmos. A vocação do homem no mundo então seria guardar e cultivar o mundo
criado. (SILVA, 2021)

Outra característica divina, colocada em nós é o reconhecimento do bem e do mal


pertencente somente ao homem dentre todas as criaturas. É possível adestrar um animal
para que ele não faça determinadas coisas que são contrárias à vontade do dono e não
porque ele saiba que estas coisas são certas ou erradas. Em outras palavras, os animais
não possuem características religiosas ou morais e por isso, não podem ser instruídos nas
verdades concernentes a Deus e a moralidade. (PEARLMAN, 1984)

Para Teixeira (1976) A imagem de Deus, portanto, está atrelada aos elementos
imateriais do homem. A narrativa bíblica não diz que Adão foi criado altamente civilizado
e moralmente desenvolvido, mas apenas em condições de gozar os benefícios de uma
natureza bem favorecida e de ter, com Deus, as relações de seres moralmente infantes,
mas sem vícios que prejudicassem seu aperfeiçoamento. Em outras palavras, o homem
foi criado por Deus e dói instruído por ele nos afazeres e na liturgia de seus atos, sem
históricos culturais e experiências prévias que pudessem macular seu próprio
desenvolvimento.

Para Berkhof (1985), há especialmente três importantes conceitos da imagem de


Deus no homem:
1- A Opinião Católico Romana: Creem que Deus, na criação, dotou o homem de
certos dons naturais, tais como espiritualidade e alma, a liberdade da vontade, e a
imutabilidade do corpo, sendo esses dotes naturais correspondentes a imagem de Deus
(Imago Dei). Condição esta que facilmente incitaria o homem a se envolver com, como
ele diz, com paixões menores e se rebelarem contra poderes superiores da razão. Essa
tendência em si não seria pecado, se o homem não cedesse. Mas como faria isso? Para
eles, Deus dotou o ser humano de um dom sobrenatural, chamado retidão original, que
serviria de limiar para refrear sua natureza inferior. Isso então, constituiria semelhança do
homem com Deus.
2- A Opinião Luterana: Apesar de não haver acordo entre todos os luteranos, a
opinião dominante, contudo é a de que somente em qualidades espirituais de que o homem
foi dotado na criação, e que são geralmente chamadas retidão original. Estas qualidades,
por fim, consistem no verdadeiro conhecimento, na retidão e na santidade. Nesse ínterim,
como seria possível perder o homem essa imagem e ainda ser homem? E o que os
diferenciaria de alguns outros seres criados, como os anjos, por exemplo?
3- A Opinião Reformada: As controvérsias relacionadas a imago Dei eram
motivadas pelos reformadores que acusavam os católicos de “reduzir a imagem de Deus
no homem a uma ‘imago naturae’, que apresentavam uma concepção estática da natureza
humana e encorajavam o pecador a se constituir diante de Deus.” (SILVA, 2021). Com
uma opinião muito mais abrangente, distinguem em dois pontos principais. O primeiro,
mais restrito, consiste nas qualidades espirituais com que o homem foi criado, a saber, o
pleno conhecimento, retidão e santidade (Ef. 4:24 e Cl. 3:10). O segundo, mais amplo, o
homem é um ser espiritual, racional, moral e imortal, no corpo. Não no que se refere ao
corpo como substância material, mas como o instrumento da alma, e no seu domínio sobre
os outros seres da criação. Sendo então, em virtude da imagem de Deus, que o homem,
mesmo após tê-la perdido, no sentido mais restrito (constituindo no verdadeiro
conhecimento, retidão e santidade), pode ser chamado o porta-imagem de Deus. A
teologia da imagem e semelhança, ainda que de modo menos explícito, pode ser
observada em outros textos da bíblia. (Gn. 9.6; 1 Cor. 11:7; 15 .49 e Tg 3.9)

Silva (2021) apresenta uma perspectiva de Tomás e Aquino de que embora em


todas as criaturas haja alguma semelhança de Deus, somente no homem, ou seja, na
criatura dotada de razão a semelhança de Deus se encontra a modo de imagem; nas outras
criaturas ela se encontra a modo de vestígio. Portanto, aquilo pelo que a criatura dotada
de razão transcende as outras criaturas é o intelecto ou a mente. Donde resulta que, na
criatura racional, a imagem de Deus se realiza apenas segundo a mente; nas outras partes,
se essa criatura racional as possui, se verifica uma semelhança a modo de vestígio, como
também nas outras coisas às quais se assemelha relativamente essas partes.

A palavra imagem pode também ser utilizada para denotar algo que representa
outra coisa. O fato de que o homem é criado à imagem de Deus significa que o homem é
como Deus nos seguintes aspectos: capacidade intelectual, pureza moral, natureza
espiritual, domínio sobre a terra, criatividade, habilidade para tomar decisões éticas e
imortalidade. (GRUDEM, 1999).

A esse respeito Silva (2021) apud Sierra (2001) afirma que :

O homem não é Deus. Uma coisa é a imagem e outra é aquilo do qual


é imagem. Por outro lado, o homem tem algo que parece com Deus que
nenhuma das demais criaturas possui. Ao afirmar que o homem é
imagem de Deus se afirma, por sua vez, a transcendência e a imanência
de Deus na existência humana.

Ante a perícope de Gn. 1:26-28, é interessante dividir sua análise em três partes,
a saber, o prólogo, o momento da criação e a bênção da atribuição. Esta divisão proposta
por Lorda (2005) ajuda a reforçar as características principais deste relato que, apesar de
sua brevidade, contém importância fundamental para a antropologia da Igreja. O prólogo,
evidencia que o homem traz em si mesmo as marcas do divino, como sendo de alguma
forma parecido com seu criador, mas também estabelece uma fronteira nítida entre Deus
e o homem que este não pode ultrapassar, porque o homem é imagem e semelhança de
Deus, mas não é Deus. O momento da Criação é explicitado pela forma que,
diferentemente das demais criações, o homem foi formado não apenas pela palavra, mas
pela ação da palavra sobre outro elemento (pó da terra) e o sopro de Deus. Já a benção da
atribuição, é acrescentada à ideia do domínio do homem sobre as criaturas (Gn 1, 26) a
dádiva da fecundidade, pela qual o homem pode efetivamente transmitir a imagem de
Deus. Essa ideia de transmissão fica evidente em Gn 5: 3, onde se lê que Adão “gerou um
filho a sua semelhança, como sua imagem”. Este aspecto da criação do homem reforça
também o valor dado à sexualidade humana, na medida em que esta é sinal da santidade
da imago Dei no homem.

Diante de tudo isso, entender que o homem, criado por Deus num estado de
santidade, foi, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua história, abusando da
própria liberdade, rebelando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim fora d'Ele.
Apesar de ter conhecido a Deus, não prestou a glória a Ele devida, e o seu coração
insensato desviou-se e ele serviu à criatura, preferindo-a ao Criador. E isto que a revelação
divina, pela graça, nos dá a conhecer, nos faz entender que, quando o homem olha para
dentro do próprio coração, percebe-se inclinado também para o mal, e imerso nele, que
não podem provir de seu Criador, que é bom, muitas vezes, recusou a reconhecer Deus
como seu princípio, mudou também a devida orientação para o fim último e, ao mesmo
tempo, toda a sua ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para toda
a criação (SILVA, 2021).

2.2 – A IMAGEM APÓS A CORRUPÇÃO

Como pôde corromper-se uma pessoa criada à imagem e semelhança de Deus?

Esse questionamento feito, possivelmente desde que Adão e Eva pecaram,


permeia o entendimento da questão relacional do ser humano com Deus e como Ele criou
um ser capaz de tamanha atrocidade. Ferreira e Myatt (2007) dizem que, por ser criatura,
Adão estava longe da perfeição e incorruptibilidade divinas. Se Deus tivesse criado o
homem na estatura que era destinada, o teria deixado sem a possibilidade de
desenvolvimento próprio, livre. Em outras palavras, o homem seria uma espécie de robô
e não um homem segundo o ideal do Criador. Daí a possibilidade de ele desenvolver os
termos morais, espirituais e intelectuais.

Outro ponto a ser observado é como Deus pôde permitir esse fato contrário a sua
vontade? Adão, dotado de livre-árbitrio, deveria avançar rumo a uma semelhança cada
vez maior com seu Criador. Ao contrário disso, ele definiu que andaria por um outro
caminho. Mas isso, tecnicamente, ofenderia o Poder e a Sabedoria de Deus. A menos que,
esse fato fez parte do plano eterno da criação e não podendo entretanto, contrariar a Sua
Sabedoria e Poder. Portanto, apesar de permanecer um mistério, Deus permite o pecado,
sem nele tomar parte e igualmente o pecado pôde ser incluído no Seu plano, sem ofensa
à sua natureza, preferindo manter a liberdade do homem.

Sendo assim, a afirmação acerca da condição pecadora do homem não se baseia,


como se poderia esperar, numa reflexão religiosa, moral/sociológica ou psicológica, pois
esse testemunho cabe tão somente a teologia, enquanto ciência que trata das coisas
relacionadas a Deus. Entretanto, entender o que levou Eva a dar ouvidos a serpente e a
Adão a escolher pecar, nos faz pensar em que eles pensavam quando tomaram essa
atitude. Apesar disso, por serem criaturas, foram como crianças em termos psicológicos
e morais, e não haviam “amadurecido” suficientemente, dando ouvidos àquilo que parecia
mais tentador. (TEIXEIRA, 1976)

Deus dotou o homem de condições de poder e necessidade de desenvolver-se


moralmente. Por isso, Ele os colocou em uma situação para desenvolver isso, quando
autorizou comer do fruto de todas as árvores do Paraíso, mas proibiu-lhe comer da árvore
do conhecimento do bem e do mal e ainda lhes apresentou a punição para a possível
desobediência. (Gn. 2:16-17). Sendo assim, uma situação de escolha foi colocada diante
do homem para que necessariamente o homem se movesse em um sentido de
desenvolvimento moral bom ou mal, ou seja, tornou-se um teste ou prova de obediência
ao Criador. A opção foi pela desobediência. A partir daí, a humanidade se tornou, como
afirma Agostinho, totalmente depravada e escreva do pecado e sujeito à morte.
(FERREIRA e MYATT, 2007)

Com o entendimento de que por que o homem usou indevidamente sua liberdade,
gerando o pecado original, trazendo miséria ao mundo e que, depois disso, todos já
nascem inseridos num contexto de pecado. Ladaria (2016) afirma que:

“O homem é pecador, não só porque de modo pessoal, mas, também, porque


se acha inserido numa história de pecado, que, segundo as narrativas bíblicas,
tem início no princípio da história e abrange toda a humanidade.”

Consequentemente à isso, a homem caído é incapaz de não morrer. A humanidade


continua tendo o livre-árbitio, mas não mais liberdade, ou seja, a vontade humana não é
mais dona de si mesma. (FERREIRA e MYATT, 2007). Esta característica universal do
pecado original, bem como o restante da doutrina acerca do tema, não se deduz apenas
dos textos do Gênesis, mas, também, de todo contexto do Antigo Testamento e, depois, à
luz do Novo Testamento e da Tradição subsequente.

Toda a insistência do Antigo Testamento na mensagem acerca do pecado, não


representa uma visão negativa sobre o ser humano, mas é fundamento para a apresentação
da imagem de um Deus que não desiste do homem e cujo projeto está em pleno
andamento, apesar da infidelidade humana. (SILVA, 2021)
Com a perda do estado original o homem encontra-se incapaz de alcançar, por si
mesmo, a vida divina. (FERREIRA e MYATT, 2007). Se é verdade que o fim último do
homem é exatamente essa vida divina com Deus, esse relacionamento começa na terra e
culmina com a glória eterna, o pecado funcionando como empecilho, gera o entendimento
que o estado original tornou-se então finalidade. Desse modo, fica evidente que, ao
escolher não corresponder ao seu fim, que é conhecer e amar a Deus até a plena comunhão
com Ele, o homem perde a semelhança. Esta perda, por causa da solidariedade profunda
existente entre todos os homens, alcança toda a humanidade, não por imitação, mas por
propagação, ou seja, quando Adão pecou, ele não pecou simplesmente por si mesmo, mas
como representante, como cabeça de toda a raça humana, fazendo com que toda ela seja
caída, corrupta e sujeita à morte. (SILVA, 2021).

A bíblia traz alguns versículos que corroboram com esta visão, como por exemplo:
2ª Reis 8:46 “Não há homem que não peque” Salmos 143:2 “Não entres em juízo com
teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente”; Ec. 7:20 “Na verdade
não há homem justo sobre a terra que faça o bem e nunca peque.”; Salmos 51:5: “Eis que
em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe.”

Silva (2021) cita Agostinho de Hipona ao dizer que a imagem do homem foi
deformada e a causa disso foi o pecado pois, segundo ele, “pelo pecado o ser humano
perdeu a justiça e a santidade, por isso sua imagem ficou deformada e sem cor.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERKHOF, Louis. Manual de Doutrina Cristã. Campinas - SP, Ceibel, 1985.

FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma análise histórica,


bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.

GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. Trad. de Norio Yamakami, Lucy Yamakami,


Luiz A. T. Sayão, Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Vida Nova, 1999.

LADARIA, L. F. Antropología teológica. Madrid: Publicaciones de la Universidad


Pontificia Comillas; Roma: Pontifícia Università Gregoriana, 1982.

LADARIA, L. F. Introdução à antropologia teológica. São Paulo: Edições Loyola,


2016.

LORDA, J. L. Antropología bíblica: De Adán a Cristo. Madrid: Ediciones Palabra,


2005.

PEARLMAN, M., Conhecendo as doutrinas da Bíblia, São Paulo, Vida, 1984.

SIERRA, A. M. Antropología teológica fundamental. Madrid: Biblioteca de Autores


Cristianos, 2002.

SILVA, E. Meneses. Da imagem à semelhança - o homem nos desígnios de Deus.


Publicação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO, 2021. Disponível
em: https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/handle/123456789/2912

TEIXEIRA, A. B. Dogmática Evangélica. São Paulo: Pendão Real, 1976.

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