24411-Texto Do Artigo-88319-1-10-20200908
24411-Texto Do Artigo-88319-1-10-20200908
24411-Texto Do Artigo-88319-1-10-20200908
RESUMO: A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem psicológica com ênfase nos proces-
sos cognitivos. A mesma considera que a cognição deve ser utilizada para a compreensão dos transtornos men-
tais. Tal abordagem tem apresentando resultados científicos positivos sobre sua eficácia, inclusive no que diz
respeito à desregulação emocional. Podemos falar que desregulação emocional é a dificuldade que o indivíduo
apresenta ao lidar com suas emoções, podendo ser, uma intensificação ou desativação excessiva das emoções. A
regulação emocional abrange um conjunto de técnicas utilizadas com a finalidade de buscar mais qualidade de
vida para pacientes com diagnóstico de transtorno psicológico. O propósito deste estudo foi conhecer a TCC e
algumas das técnicas de regulação emocional por ela utilizada em seus protocolos. Para isso, foi realizada uma
revisão narrativa referente ao objeto de pesquisa dentro de uma metodologia descritiva e exploratória. Ao final
do estudo foi possível perceber que segundo os materiais pesquisados, que as técnicas de regulação emocional
demonstram ser eficientes no processo terapêutico, haja vista que a visão negativa que muitas pessoas têm sobre
suas emoções parece ser um complicador no processo de enfrentamento e adaptação diante das situações. Reco-
nhecer a importância das emoções no processo de psicoterapia é um grande avanço na tentativa de amenizar o
sofrimento de pacientes com transtornos psicológicos. A abordagem da regulação emocional em através de suas
técnicas pode desempenhar papel fundamental no processo terapêutico de maneira a trazer ganhos significativos
para o paciente.
PALAVRAS-CHAVE: Terapia cognitivo-comportamental; Regulação emocional; Emoções.
1 INTRODUÇÃO
1
Psicólogo, especialista em Psicologia: Terapia Cognitivo-comportamental pela PUC-Minas.
[email protected]
Esta abordagem tem sido vasta e empiricamente investigada, apresentando resultados científi-
cos positivos sobre sua eficácia (BECK, 1997; KNAPP; BECK, 2008).
No que tange às emoções, Leahy, Tirch e Napolitano (2013) explicam que todos nós
estamos sujeitos, em algum momento de nossas vidas, a lidar com experiências estressantes e
traumáticas. Tais situações fazem com que nossas emoções sejam vivenciadas de forma cres-
cente e é justamente essa intensificação das emoções que pode nos levar a comportamentos
problemáticos. Quando falamos em emoções devemos lembrar que as mesmas são mecanis-
mos de adaptação que herdamos dos nossos antepassados e, portanto, essenciais à nossa so-
brevivência. As emoções têm o propósito de avaliar possíveis alternativas de respostas diante
das situações apresentadas, revelando assim nossas necessidades. A desregulação emocional é
a dificuldade que o indivíduo apresenta ao lidar com suas emoções, podendo manifestar sua
dificuldade através de uma intensificação excessiva ou desativação excessiva de suas emoções
(LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
Atualmente, um dos grandes desafios da psicoterapia é justamente encontrar formas
efetivas de tratar os diversos tipos de transtornos psicológicos. Dentre estas formas estão
aquelas cujo principal objetivo é a regulação emocional dos indivíduos em sofrimento. A re-
gulação emocional abrange um conjunto de técnicas utilizadas pela TCC que servem como
um suporte na tentativa de tratar ou pelo menos amenizar o sofrimento de pacientes com di-
agnóstico de transtornos psicológicos (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013). Conside-
rando a importância de o indivíduo aprender a lidar com suas emoções, o objetivo desse estu-
do foi conhecer técnicas de regulação emocional encontradas na literatura e quais seriam suas
possíveis contribuições para a TCC.
MÉTODO:
RESULTADOS:
Terapia Cognitivo-comportamental
Estes padrões cognitivos podem ser expressos por meio dos chamados pensamentos
automáticos (PAs). De acordo com os parâmetros da TCC, os PAs são os pensamentos que
ocorrem abaixo da superfície da consciência, sendo ativados a todo o momento na tentativa de
avaliar as situações vivenciadas. Para Wright, Sudak, Turkington e Thase (2012) "As pessoas
com transtornos psicológicos, como a depressão e a ansiedade, geralmente sofrem inundações
de PAs desadaptativos ou distorcidos, gerando fortes emoções e comportamentos disfuncio-
nais" (p.19). Ainda sobre os PAs, Knapp e Beck (2008) reforçam que os pensamentos auto-
máticos ocorrem nas fronteiras da consciência de forma espontânea e rápida, com a finalidade
de interpretar qualquer situação e tem como características:
Dessa forma, toda e qualquer nova experiência vivenciada pelo indivíduo passaria pelo
filtro dos esquemas, sendo processada de acordo com seus conteúdos. Os conteúdos desses
esquemas são denominados de crenças centrais ou nucleares. Os esquemas seriam como es-
truturas, já as crenças seriam os conteúdos dessas estruturas podendo ser definidas como
“ideias e conceitos mais enraizados e fundamentais acerca de nós mesmos, das pessoas e do
mundo” (KNAPP e cols., 2004, p. 23). Assim, as crenças seriam incondicionais, portanto,
independente da situação e do contexto, de maneira que o indivíduo sempre ativará pensa-
mentos equivalentes as suas crenças centrais. A ativação dessas crenças influencia de forma
decisiva na avaliação objetiva de qualquer situação, caso as mesmas sejam disfuncionais, a
interpretação de tais situações ficaria prejudicada, provocando distorções cognitivas (KNAPP;
BECK, 2008).
Segundo Beck (1997) citada por Knapp e Beck (2008) existem três grandes grupos de
crenças centrais:
A partir destes pressupostos, quando não existem ações para corrigir as crenças nucle-
ares disfuncionais, elas acabariam sendo tomadas como verdade única pelo indivíduo e uma
das funções da TCC é justamente e a de modificar tais crenças. É importante ressaltar que as
crenças centrais ainda desenvolvem uma classe intermediária de crenças chamadas de pressu-
postos subjacentes, crenças subjacentes ou crenças intermediárias. As crenças intermediárias
são construções cognitivas disfuncionais caracterizadas por regras, suposições, normas e ati-
tudes que conduzem o comportamento do indivíduo (BECK, 1997). Esses pressupostos subja-
centes geralmente se desenvolvem na forma condicional se/então, como por exemplo, se eu
fizer de tudo para minha mãe, então ela vai me amar. Mantendo o pressuposto, o indivíduo
talvez consiga levar sua vida sem grandes problemas. No entanto, quando não consegue man-
ter essas regras, suas crenças centrais são ativadas gerando transtornos psicológicos, por
exemplo, se eu não conseguir fazer de tudo para agradar minha mãe, então eu não sou mere-
cedor do seu amor, sou um incapaz (KNAPP e cols., 2004).
Enfim, a TCC nos mostra que não são as situações em si que desencadeiam as respos-
tas emocionais e comportamentais do indivíduo e sim a interpretação e a avaliação que o
mesmo faz destas situações. Essas interpretações e avaliações se refletem em pensamentos
automáticos e crenças intermediárias, que são pré-conscientes e têm origem na ativação de
estruturas básicas inconscientes, chamadas de esquemas e crenças centrais.
Emoções
Uma das concepções mais aceitas sobre a origem das emoções é a evolucionista.
Leahy, Tirch e Napolitano (2013) lembram-nos de que Darwin (1872/1965) foi quem desen-
volveu a psicologia comparativa da expressão emocional. Em suas observações, Darwin per-
cebeu a similaridade das expressões faciais entre humanos e animais, sugerindo padrões uni-
versais dessas expressões, tudo isso retratado por um vasto material fotográfico e desenhos.
Na teoria da evolução, as emoções são vistas como mecanismos adaptativos que permitem ao
indivíduo avaliar se o ambiente oferece algum tipo de risco ou não. Caso esse ambiente ofere-
ça algum tipo de perigo, essas emoções podem ativar comportamentos, tais como se comuni-
car com os outros membros do grupo e desenvolver aptidões adaptativas visando à manuten-
ção da vida. Podemos citar como exemplo o medo, que é uma emoção universal. Diante de
uma situação perigosa, o indivíduo pode ficar paralisado ou fugir, alertando os outros mem-
bros do grupo através da expressão facial e vocal, aumentando assim a chance de sobrevivên-
cia do seu grupo (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013). Ainda, segundo Leahy, Tirch e
Napolitano (2013) a teoria da natureza universal das expressões faciais de Darwin foi corro-
borada pelo trabalho transcultural de Paul Ekman (1993). O trabalho de Ekman permitiu con-
cluir que tais expressões são encontradas em todas as culturas, sugerindo assim a existência
de emoções básicas universais e uma tendência natural de expressar as emoções facialmente,
de modo que escondê-las se torna quase impossível, bem como um problema para a preserva-
ção das espécies.
No que diz respeito às modalidades terapêuticas, segundo Leahy (2006) algumas pes-
soas têm procurado a TCC com o objetivo de agir e sentir de forma puramente racional, numa
tentativa frustrada de eliminar as emoções. Nesse caso, o terapeuta deve explicar que a racio-
nalidade tem a função de ajudar a pessoa a lidar a com suas emoções de forma produtiva e
não descartá-las, até porque isso não é possível, pois as emoções são importantes para nos
mostrar do que precisamos. Assim como as sensações de fome e sede, as emoções são funda-
mentais em nosso dia a dia para nos alertar de nossas necessidades essenciais. Lazarus (1991)
citado por Santana e Gondim (2016) relata que as emoções são fundamentais para qualquer
pessoa, pois ajudam no processo de respostas adaptativas diante das situações vivenciadas,
bem como na criação e na preservação dos laços sociais, proporcionando bem estar pessoal.
Ainda segundo Leahy (2006) cada pessoa reage de forma diferente ao lidar com as
emoções consideradas “desagradáveis”, por exemplo: raiva e tristeza podem retroalimentar
uma série de pensamentos e comportamentos disfuncionais. Algumas pessoas, ao sentir ansi-
edade, podem ter pensamentos do tipo: não vou conseguir me controlar, isso vai demorar a
passar; já outras pessoas podem se sentir envergonhadas ou culpadas por estarem ansiosas,
assim procuram não aceitar e até mesmo negar suas emoções. Outro pensamento disfuncional
recorrente é o de que não se pode/deve sentir emoções em lugares públicos, pois as outras
pessoas poderiam não entender e fazer julgamentos sobre. Para Vaz, Martins e Martins (2008)
as emoções podem ser consideradas reações subjetivas e idiossincráticas aos eventos do am-
biente interno ou externo, promovendo mudanças fisiológicas, cognitivas, experienciais e
comportamentais no indivíduo, proporcionando que se atribua um significado para a situação
vivenciada, preparando-o para uma resposta. As emoções vão para além de respostas fisioló-
gicas e orgânicas, o indivíduo precisa atribuir significados a elas. Neste sentido é possível
A desregulação emocional para Leahy, Tirch e Napolitano (2013) pode ser definida
como a falta de habilidade ou dificuldade em experienciar as emoções, pode se manifestar
através de uma intensificação excessiva ou como uma desativação excessiva dessas emoções.
Para estes autores:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve o objetivo de explanar de forma breve sobre a TCC e algumas téc-
nicas de regulação emocional. Retomando a ideia da existência de uma inter-relação entre
cognição, emoção e comportamento para definir o funcionamento do indivíduo, é possível
perceber a importância da regulação emocional no processo terapêutico. Portanto as técnicas
de regulação emocional devem ser um dos fatores primordiais nos protocolos de TCCs. Tais
técnicas demonstram ser eficientes no processo terapêutico, haja vista que a visão negativa
que muitas pessoas têm sobre suas emoções é um grande complicador no processo de enfren-
tamento e adaptação diante das situações. O aumento excessivo das emoções ou o processo de
suprimi-las acaba gerando diversos transtornos psicológicos. Nesse contexto o terapeuta tem a
função de auxiliar o paciente a reconhecer e regular tais emoções que se encontram despro-
porcionais à situação.
Reconhecer a importância das emoções no processo de psicoterapia é um grande avan-
ço na tentativa de amenizar o sofrimento de pacientes com transtornos psicológicos. Os estu-
dos apontam que a tendência é reconhecer cada vez mais importância de levar em considera-
ção a regulação emocional dentro da terapia cognitivo-comportamental. A partir dos materiais
utilizados para a produção deste artigo, salienta-se a importância de ensinar às pessoas a res-
peito das emoções. Este tipo de treinamento dentro dos processos terapêuticos poderá ajudar
os pacientes a desenvolver repertórios cognitivos, comportamentais e emocionais para lidar de
forma mais assertiva em situações na quais o ambiente provoque algum tipo de desregulação
emocional. Sugerimos então, que novos estudos busquem acompanhar o desenvolvimen-
to/aperfeiçoamento de práticas terapêuticas que tenham como objetivo principal o fortaleci-
mento emocional dos pacientes. Estes estudos poderiam ser feitos, por exemplo, comparando
grupos com e sem treinamento em regulação emocional e suas habilidades de enfrentamento
de situações estressoras.
REFERÊNCIAS
ROTHER, Edna T.. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta paulista de enfermagem,
v. 20, n. 2, p. v-vi, 2007. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002007000200001. Aces-
sado em 08 de setembro de 2017.
VAZ, Filipa M.; MARTINS, Carla; MARTINS, Eva C. Diferenciação emocional e regulação
emocional em adultos portugueses. Psicologia, 22(2), 123-135, 2008. Disponível em:
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-
20492008000200008&lng=pt&tlng=pt. Acesso em 04 de junho de 2017.
WRIGHT, Jesse et al. Terapia cognitivo comportamental de alto rendimento para sessões
breves: guia ilustrado. Tradução Gabriela Wondracek Linck, Mônica G. Armando; Porto
Alegre: Artmed, 2012.
WRIGHT, Jesse H.; BASCO, Mônica R; THASE, Michael E. Aprendendo a terapia cogni-
tiva comportamental, um guia ilustrado; tradução Mônica Giglio Arnaldo. Porto Alegre:
Artmed, 2008.