Alexandre Henrique Lins Mota - Docs Proc 0021719-35.2022.8.17.2001
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09/03/2022
Número: 0021719-35.2022.8.17.2001
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
10024 04/03/2022 12:01 Decisão Decisão
7194
Tribunal de Justiça de Pernambuco
Poder Judiciário
3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher de Recife
AV DESEMBARGADOR GUERRA BARRETO, S/N, FORUM RODOLFO AURELIANO, ILHA JOANA BEZERRA,
RECIFE - PE - CEP: 50080-800 - F:(81) 31810280
Processo nº 0021719-35.2022.8.17.2001
A ofendida acima mencionada, qualificada nos autos, pleiteia MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA em face do
agressor igualmente acima mencionado e qualificado nos autos, através de expediente apartado, descrevendo
sucintamente os fatos, no BO em anexo, anexo e requerendo:
1) Proibição de se aproximar da vítima; 2) Proibição de contato com a ofendida e seus familiares; 3) Proibição
do agressor de frequentar o endereço residencial da vítima e local de trabalho.
Consta no ID: 100194157-pag.3 um breve resumo no BO das violências relatadas pela ofendida cometidas em
tese pelo requerido.
Pelo que dos autos consta, numa primeira análise, trata-se de violência doméstica e familiar contra a mulher, baseada
no gênero, enquadrando-se nos requisitos exigidos no art. 5º da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), sendo certo
que a agressão sofrida levou a ofendida a buscar providências por parte da Autoridade Policial.
As medidas cautelares protetivas da Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, neste caso, encontram fundamento na
necessidade de evitar-se o acirramento de ânimos entre pessoas no âmbito familiar ou doméstico, ante o inevitável
conflito que, justificando-se quando a instabilidade emocional torna-se presente.
Em situações específicas de violência doméstica, como se sabe, autorizou o legislador a aplicação de medidas
protetivas em benefício da(s) vítima(s), de forma a evitar que novas investidas do agressor venham a ocorrer, inclusive
com a possibilidade de limitação de aproximação da vítima.
No caso em exame, no tocante ao requisito legal da plausibilidade do direito invocado, convém registrar que a
beneficiária prestou declarações perante a Autoridade Policial, as quais dão notícia de haver sido vítima da investida do
apontado agressor, bem como de encontrar-se passiva de novos ataques, o que evidencia, ao menos em um exame
preambular, o fumus commissi delictisuficiente para a concessão da medida.
Assinado eletronicamente por: MICHELLE DUQUE DE MIRANDA - 04/03/2022 12:01:21 Num. 100247194 - Pág. 1
https://pje.tjpe.jus.br:443/1g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22030412012165500000098069501
Número do documento: 22030412012165500000098069501
Por outro lado, no que se refere ao periculum libertatis, é de verificar-se a sua presença, diante do risco da integridade
física e emocional da beneficiária, podendo restar ineficaz o provimento final, caso lhe venha a ser favorável, o que lhe
trará dano, senão irreparável, de difícil reparação.
Como é de curial sabença, em crimes envolvendo violência doméstica e familiar, devido à natureza da infração, a
narrativa da vítima possui valor especial, pois tais delitos são geralmente praticados no recinto privado e sem a
presença de quaisquer outras testemunhas, conforme precedentes do STF e STJ.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RHC 108350 / RN - 2019/0044247-5 Relator(a) Ministro RIBEIRO DANTAS (1181)
Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento 26/03/2019 Data da Publicação/Fonte DJe 01/04/2019 JPL
vol. 87 p. 172 PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS AMEAÇAS NO ÂMBITO DA LEI
MARIA DA PENHA. VIOLÊNCIA PSÍQUICA. SALVAGUARDA PELA LEI N. 11.343/2006. PALAVRA DA VÍTIMA.
ESPECIAL RELEVÂNCIA. (…) A decisão, hígida, não carece de reparação, demonstrada a necessidade das medidas
protetivas em virtude do sofrimento psíquico impingido à vítima, destacados o medo e o desejo de se ver protegida do
recorrente, que estaria agredindo-a psicologicamente. Nesse viés, realça-se que a Lei Maria da Penha é destinada
também à salvaguarda da integridade psíquica e moral da mulher. (…) "A palavra da vítima, em harmonia com os
demais elementos presentes nos autos possui relevante valor probatório, especialmente em crimes que envolvem
violência doméstica e familiar contra a mulher" (HC 461.478/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, DJe
12/12/2018) (….)
Nesse contexto, conheço do pedido da ofendida para deferir as MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA, na forma
do §1º do art. 19 da Lei nº 11.340/2006, determinando o seguinte:
1. fica o(a) agressor(a) proibido(a) de aproximar-se da ofendida, mantendo-se a uma distância mínima de
200(duzentos) metros dela;
2. fica o(a) agressor(a) proibido(a) de fazer contato com a ofendida por qualquer meio de comunicação, ou
seja, por telefone, carta, e-mail, redes sociais, etc);
3. fica o(a) agressor(a) proibido(a) de frequentar a residência da ofendida e seu local de trabalho, se houver,
a fim de preservar-lhe a integridade física e psicológica.
Outrossim, existindo notícias de eventual porte de arma, em desacordo com as hipóteses legais, é cabível a
busca domiciliar.
De acordo com o relato da ofendida, a requerente relatou que " o mesmo em trÊs oportunidades a agrediu com
empurroes e mostrou uma arma de fogo e por isso levou a declarante a por fim ao relacionamento".
Pois bem. A Lei 13.880, de 08 de outubro de 2019, altera a lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) para prever a
apreensão de arma de fogo sob posse de agressor em casos de violência doméstica.
Apreender a arma de fogo consiste em recolhê-la com o fim de evitar que o agressor a utilize para qualquer
finalidade e que a arma possa ser periciada e utilizada como prova no processo.
Assinado eletronicamente por: MICHELLE DUQUE DE MIRANDA - 04/03/2022 12:01:21 Num. 100247194 - Pág. 2
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Dispõe o art. 18 da Lei diz que “Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas: IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor.
(Incluído pela lei 13.880, de 2019)”.
Nesse sentido, o “relato da ofendida”, ID: 100194157 pag. 03, a que se refere o caput do art. 18 da Lei Maria da Penha
deve ser interpretado como pedido de providências para a preservação de sua integridade e prevenção à violência
doméstica e, ainda que não tenha requerido nenhuma medida protetiva de urgência, o juiz deverá adotar as
providências elencadas nos incisos do art. 18, como comunicar ao Ministério Público e determinar a apreensão imediata
de arma de fogo.
Sendo assim, proceda também a secretaria com o expediente de ordem de busca e apreensão da suposta arma
de fogo narrada pela ofendida com as devidas providências legais a serem cumpridas pela autoridade policial.
Intime-se o agressor do inteiro teor desta decisão ( disponibilizar no mandado os contatos da Defensoria), para
cumprimento imediato, inclusive dando-lhe ciência de que, a qualquer tempo, essas medidas poderão ser substituídas
por outras de maior eficácia, caso seja necessário, bem como, em havendo desobediência, ser caracterizado o
CRIME DE DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA, previsto no art. 24-A da Lei
11.340/2006.
Notifique-se a ofendida para de tudo tomar conhecimento, bem como de que deve comparecer no prazo de 06 (seis)
meses a esta Vara, por meio de sua defesa, para informar a situação entre as partes, sob pena de revogação da
cautelar e extinção do feito, independente de nova intimação verificada sua inércia.
Oficie-se à Secretaria Estadual da Mulher comunicando o deferimento destas Medidas, a fim de que a Patrulha
Maria da Penha faça visitas quinzenais à residência da ofendida, informando a este Juízo caso ocorra nova
agressão.
Ciência ao MP.
Intimem-se e cumpra-se com as cautelas legais e de estilo, ficando a presente decisão com força de mandado
e/ou ofício, atentando-se para o devido cumprimento as recomendações constantes no Ofício Conjunto Circular
de número: 21/2021 ( Ato Conjunto número: 13- 09/03/2021)
Após a expedição dos mandados de intimação/busca e apreensão da arma de fogo, determino o ARQUIVAMENTO
PROVISÓRIO do presente feito com fundamento no art. 3º,VI, da Portaria Conjunta nº03 de 02/06/2021, devendo a
secretaria etiquetar os processos em prazo em curso para fins de controle/organização, assim como se ater a hipótese
prevista no art. 5º da referida portaria.
Juiz(a) de Direito
Assinado eletronicamente por: MICHELLE DUQUE DE MIRANDA - 04/03/2022 12:01:21 Num. 100247194 - Pág. 3
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