Legislação e Procedimentos Regulatórios em Produção Cultural

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Legislação e

Procedimentos
Regulatórios em
Produção Cultural
Prof.a Mariana Girardi Barbosa Silva

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof.a Mariana Girardi

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

S586l

Silva, Mariana Girardi Barbosa

Legislação e procedimentos regulatórios em produção cultural. /


Mariana Girardi Barbosa Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

157 p.; il.

ISBN 978-65-5663-031-1

1. Políticas culturais. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 306

Impresso por:
Apresentação
Entender sobre a legislação no âmbito cultural é de extrema
importância para melhor compreensão sobre o funcionamento da cultura no
quesito profissional.

Este Livro Didático traz aos leitores informações sobre a história e sobre
pontos importantes das leis vigentes que tratam sobre a cultura. O fazer político
da área cultural também é abordado com as políticas públicas culturais criadas
para garantir à comunidade o livre acesso, a democratização e a descentralização
da cultura do país. Dessa forma, aqui se concentra a importância de compreender
o panorama geral da cultura e de suas leis no país.

Outro ponto que será abordado no livro são os estudos da legislação


bem como seu funcionamento dentro da sociedade para que a cultura e os
produtores culturais possam trabalhar resguardados sobre seus direitos e
deveres. Além disso, compreender como se desenha e se alinha ideias dentro
de um projeto também será abordado, no tema sobre elaboração de projetos
e etapas fundamentais para sua execução.

Prof.ª Me. Mariana Girardi

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS................................................................1

TÓPICO 1 – CONCEITUANDO CULTURA.........................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 OS CONCEITOS E SUAS DEFINIÇÕES............................................................................................3
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................12
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................13

TÓPICO 2 – POLÍTICAS CULTURAIS NO MUNDO......................................................................15


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................15
2 AS POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL E NO MUNDO E SUAS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS............................................................................................................................15
3 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL..........................................................17
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................18
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................19

TÓPICO 3 – PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS DE


PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA................................................21
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................21
2 PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL..............................................................21
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................34
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................35

TÓPICO 4 – O PLANO NACIONAL DE CULTURA E OUTRAS LEGISLAÇÕES


PERTINENTES...................................................................................................................37
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................37
2 O PLANO NACIONAL DE CULTURA E SUAS METAS..............................................................37
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................43
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................44

TÓPICO 5 – O PAPEL DO IPHAN NA PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL..................................47


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................47
2 O IPHAN E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO .................47
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................53
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................54

UNIDADE 2 – PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL


E NACIONAL.................................................................................................................57

TÓPICO 1 – PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL MUNDIAL......................59


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................59
2 AS POLÍTICAS CULTURAIS EUROPEIAS.....................................................................................59
3 ACESSIBILIDADE CULTURAL NA EUROPA E NA AMÉRICA................................................62
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................64
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................65

VII
TÓPICO 2 – PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL....................67
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................67
2 LEIS DE FOMENTO E DIFUSÃO DA CULTURA..........................................................................67
3 ALGUMAS DISPOSIÇÕES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL REFERENTES À CULTURA.......83
4 ACESSIBILIDADE CULTURAL NO BRASIL.................................................................................85
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................88
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................89

TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS...................................................................91


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................91
2 REGISTRO DE NOME DO EVENTO...............................................................................................91
3 ALVARÁS ESPECÍFICOS PARA EVENTOS....................................................................................93
4 SEGURANÇA E SAÚDE EM EVENTOS CULTURAIS.................................................................94
5 O ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO (ECAD)
E DIREITO AUTORAL.........................................................................................................................95
6 LEI DOS ARTISTAS..............................................................................................................................97
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................98
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................102
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................103

UNIDADE 3 – IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS...............................................................105

TÓPICO 1 – ELEMENTOS BÁSICOS DE UM PROJETO CULTURAL.......................................107


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................107
2 O QUE É UM PROJETO CULTURAL?............................................................................................107
3 ETAPAS INICIAIS DE UM PROJETO CULTURAL.....................................................................111
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................114
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................115

TÓPICO 2 – ETAPAS INICIAIS DO PROJETO CULTURAL........................................................117


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................117
2 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS...........................................................................................117
3 JUSTIFICANDO UM PROJETO E APRESENTANDO SEU PÚBLICO ÁLVO E
EQUIPE DE TRABALHO...................................................................................................................120
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................125
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................126

TÓPICO 3 – ETAPAS DE TRABALHO DO PROJETO CULTURAL............................................127


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................127
2 ETAPAS DE TRABALHO DE UM PROJETO CULTURAL – PRÉ-PRODUÇÃO,
PRODUÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO...................................................................................................127
3 ORÇAMENTOS, PLANO DE DIVULGAÇÃO, PLANO DE COMERCIALIZAÇÃO
E CONTRAPARTIDAS DE UM PROJETO CULTURAL.............................................................131
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................136
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................137

TÓPICO 4 – ITENS QUE SOMAM PONTOS EM PROJETOS CULTURAIS............................139


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................139
2 ITENS IMPORTANTES PARA O SUCESSO DE PROJETOS CULTURAIS...........................139
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................142
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................148

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................151

VIII
UNIDADE 1

CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender conceitos e termos técnicos da área da cultura;


• reconhecer os termos política e políticas públicas na área cultural;
• conhecer o importante papel do Iphan e suas atribuições;
• compreender os conceitos de patrimônio existentes na área cultural;
• conhecer o histórico do plano nacional de cultura, bem como entender
seu funcionamento.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITUANDO CULTURA

TÓPICO 2 – AS POLÍTICAS CULTURAIS NO MUNDO

TÓPICO 3 – PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL,


POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E
ARQUITETÔNICA

TÓPICO 4 – O PLANO NACIONAL DE CULTURA E OUTRAS


LEGISLAÇÕES PERTINENTES

TÓPICO 5 – O PAPEL DO IPHAN NA PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONCEITUANDO CULTURA

1 INTRODUÇÃO
Para entendermos os aspectos históricos das políticas culturais presentes
no Brasil e no mundo, se faz necessário que busquemos conceituar alguns termos
que comumente iremos encontrar ao longo do texto. São termos como cultura,
política e patrimônio que são utilizados para explicitar como as políticas públicas
da cultura agem e onde elas estão inseridas.

A história traz, ao longo dos anos, diversas modificações, ampliações


e descartes na legislação cultural mundo, a fim de melhorar fazer com que a
comunidade tenha livre acesso à cultura do local onde vive. Compreender seus
conceitos e definições faz com que passemos a discutir sobre nossos direitos e
deveres dentro da sociedade, e isso inclui a democratização e a descentralização
da cultura no mundo.

De fato, as políticas públicas culturais foram criadas no mundo todo por meio
das discussões da comunidade acerca da importância da cultura e de sua disseminação.
Portanto, estudar e entender como essas políticas públicas foram concebidas, faz com
que se entenda como elas são constituídas em nosso próprio país.

2 OS CONCEITOS E SUAS DEFINIÇÕES


Iniciaremos com o termo cultura, por ser ele aquele que abrange todo
o conteúdo desta disciplina. Segundo SIEBERT; CHIARELLI (2012, p. 3) “a
expressão ‘cultura’ é utilizada quando nos referimos ao que é produzido pelo
homem em contraposição ao que é dado pela natureza, pois somos seres sociais e
aprendemos uns com os outros”. Dado que, tudo aquilo que apreendemos com o
convívio social, não sendo adquirido pela natureza, pode e deve ser considerado
como cultural. Para a UNESCO, cultura seria:

[…] o complexo integral de distintos traços espirituais, materiais,


intelectuais e emocionais que caracterizam uma sociedade ou grupo
social. Ela inclui não apenas as artes e as letras, mas também modos
de vida, os direitos fundamentais do ser humano, sistemas de valores,
tradições e crenças (UNESCO, 1982, p. 1, tradução nossa).

3
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

Em muitos momentos o próprio conceito de cultura recebe diversas


especificações. Ele pode estar ligado à formação, ao estudo e às manifestações
artísticas — como o teatro, a dança, a música. Pode também ser ligada aos meios
de comunicação em massa, como rádio, televisão e atualmente a internet e sobre
as festas e cerimonias tradicionais de um determinado grupo.

Importante entendermos que a cultura mostra as representações de um


grupo, caracterizando-o por suas ações, suas diferenças, seus modos de viver e
de conviver em sociedade. A partir disso, a diferenciação entre cultura popular
e cultura erudita se dá pelo fato de que a cultura popular é aquela considerada
como cultura dominante, sendo aquilo que pertence a maioria do povo e que
não é ensinado em espaços formais de educação. Segundo SIEBERT; CHIARELLI
(2012, p. 10).

A cultura popular é aquela que surge como resolução de problemas


cotidianos e é criada pelo povo e para o povo. Sua construção é
histórica e pode abranger crenças, modos de viver, pensar etc. Cada
povo produz sua própria cultura e por isso, cada país, estado, cidade
ou bairro possui uma cultura própria, diferente, peculiar.

Já a cultura erudita é tudo aquilo que passa por um processo de legitimação


por meio de instituições de ensino acadêmicas e especializadas em assuntos
específicos (Medicina, Engenharia, Direito, Pedagogia etc.). A cultura erudita não
consegue alcançar a maioria dos indivíduos, pois exige muito estudo e pesquisa.
Ainda seguindo uma mesma linha de entendimento da cultura, temos a chamada
cultura de massa, que surge com o aparecimento das novas tecnologias e auxilia
na difusão e na abrangência das culturas erudita e popular, não atingindo apenas
uma camada da sociedade.

Portanto, a ideia não é a de hierarquizar a cultura, mas sim de compreender


que: “o que pode ser perdido na oralidade (cultura popular) fica registrado em
livros (através da cultura erudita) e o que poderia ficar restrito a apenas uma
camada da sociedade ou região, pode ser difundida e abranger a maior parte da
população (cultura de massa)” (SIEBERT; CHIARELLI, 2012, p. 11).

Além do conceito de cultura, discutiremos aqui os conceitos de patrimônio


cultural e arquitetônico, patrimônio material e imaterial. Segundo o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — Iphan —, o patrimônio cultural de
um povo é formado pelo conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e
seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo.

As políticas públicas surgem com a participação ativa do Estado,


constituindo-se por meio de leis, instituições envolvidas e políticas criadas
especificamente para o surgimento do patrimônio cultural. A sociedade passa
a decidir o que é mais importante e o que mais representa sua história e sua
identidade em específico. Isso quer dizer que o Patrimônio Cultural é algo
participativo que representa objetos, lugares e práticas culturais, tornando-os um
patrimônio coletivo.

4
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO CULTURA

De acordo com o  Art. 216  da  Constituição Federal Brasileira (BRASIL,


1988, s.p.):

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tombados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, no quais se incluem:
I- as formas de expressão;
II- os modos de criar, fazer e viver;
III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

O patrimônio cultural pode ser classificado quanto à sua natureza, sendo


este material ou imaterial. O patrimônio material versa, segundo o Decreto-Lei
nº 25/1937 (BRASIL, 1937, s.p.), como o conjunto de bens culturais “móveis e
imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por
sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”.

FIGURA 1 - ARTE KUSIWA - PINTURA CORPORAL E ARTE GRÁFICA WAJÃPI - BEM CULTURAL
CATALOGADO NO REGISTRO DE BENS CULTURAIS DO IPHAN

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/54>. Acesso em: 6 nov. 2019.

Já o patrimônio imaterial, por sua vez, é definido pela UNESCO (IPHAN,


2019a) como as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas —
com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados
— que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos, reconhecem
como parte integrante de seu patrimônio cultural. O Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional — Iphan — disponibiliza em seu sistema uma lista
de todos os bens imateriais tombados em cada estado brasileiro, respeitando sua
individualidade e importância.

5
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

DICAS

Visite o Portal do Iphan e conheça a lista dos Patrimônio Culturais existentes no


Brasil. No site você consegue visualizar por estado, inclusive conhecendo o que está mais
próximo de onde você mora. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218.

Para finalizar a contextualização de alguns conceitos mais utilizados


nesta disciplina, nos apropriaremos, agora, dos conceitos de políticas públicas e
políticas públicas culturais.

Antes de falarmos sobre a conceituação específica, é necessário que seja
discutido o conceito de política em geral, assunto este que sofre determinado
preconceito atualmente, por conta do histórico nada saudável que encontramos
em diversas esferas públicas.

NOTA

Segundo o dicionário Priberam, Política é:

1- Ciência do governo das nações.
2- Arte de regular as relações de um Estado com os outros Estados.
3- Sistema particular de um governo.
4- Tratado de política.
5- [Figurado] Modo de haver-se, em assuntos particulares, a fim de obter o que se deseja.
6- Esperteza, finura, maquiavelismo.
7- Cerimônia, cortesia, civilidade, urbanidade.

FONTE: <https://dicionario.priberam.org/pol%C3%ADtica>. Acesso em: 3 dez. 2019.

Aristóteles já afirmava que o homem é um animal político. Destarte,


o termo político deriva de polis, que significa  cidade, lugar onde as pessoas
convivem e expressam suas ideias e interesses. Portanto, desde a sua concepção,
a política se baseava nos assuntos de interesse da sociedade.

Na Teoria do Contrato Social, escrita e revista por Thomas Hobbes, John


Locke e Jean-Jacques Rousseau, já era previsto que o Estado deveria fazer com
que os direitos dos indivíduos fossem atendidos. E a partir dessas convicções
criadas ao longo da história e difundida pelos grandes pensadores, as políticas
passam a ser fundamentadas com o objetivo de beneficiar quem delas necessita,
ou seja, o povo.

6
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO CULTURA

FIGURA 2 - ARISTÓTELES E A POLÍTICA

FONTE: <https://www.pensador.com/frase/MTUyMTM5OA/>. Acesso em: 20 out. 2019.

Todos os cidadãos, independentemente de sua escolarização, idade ou


religião são afetados pelas políticas públicas criadas pelo setor público em geral.
Representantes populares da atualidade têm como seu principal objetivo oferecer
bem-estar para a comunidade, portanto, as políticas públicas são desenvolvidas
e pensadas com o intuito de beneficiar os cidadãos com propostas para a saúde,
economia, educação e cultura.

E
IMPORTANT

Durante séculos, a política tem sido uma atividade organizada por sistemas
de caráter totalitário, na qual um mandatário ou um grupo reduzido possuíam o controle
da  sociedade e impunham seus critérios. Os grupos religiosos, os monarcas, os tiranos
e o estamento militar eram as estruturas tradicionais que dominavam e regiam a política
num sentido geral. Na atualidade, estas modalidades não desapareceram por completo e
continuam sendo o modelo vigente em muitos países.

Com a ideia de democracia, a política adquiriu uma nova dimensão. Vários grupos
realizam propostas para que os cidadãos escolham através de um sistema de votação
a mais adequada. O grupo ou partido político que obtiver a maioria dos votos será o
responsável por organizar e administrar os assuntos ligados a uma coletividade. O sistema
democrático permite a alternância de poder, a participação de todos os indivíduos e alguns
mecanismos de controle por parte das opções minoritárias. A pluralidade da democracia
determina que várias visões políticas se rivalizem em um plano de igualdade. Há partidos
de todos os tipos como os liberais, conservadores, socialistas, verdes ou nacionalistas.
Normalmente suas propostas são respeitadas, embora haja outros partidos que divergem
totalmente do sistema democrático, como o regime comunista.

FONTE: <https://conceitos.com/politica/>. Acesso em: 4 nov. 2019.

7
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

Para reafirmar o compromisso firmado com a Declaração dos Direitos


Humanos, dando ainda mais ênfase à preservação e à promoção do patrimônio
e da cultura, a UNESCO, em 2001, publicou o documento intitulado Declaração
Universal da Diversidade Cultural. Este documento tem o objetivo de apresentar
princípios sobre a Diversidade Cultural. A seguir, confira os quatro princípios
desta declaração da UNESCO (2001, p. 2-5):

IDENTIDADE, DIVERSIDADE E PLURALISMO

Artigo 1º – A diversidade cultural, património comum da humanidade

A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa


diversidade manifesta-se na originalidade e na pluralidade das identidades
que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade.
Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é
tão necessária para o género humano como a diversidade biológica o é para a
natureza. Neste sentido, constitui o património comum da humanidade e deve
ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes e futuras.

Artigo 2º – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural

Nas nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se


indispensável garantir a interacção harmoniosa e a vontade de viver em
conjunto de pessoas e grupos com identidades culturais plurais, variadas e
dinâmicas. As políticas que favorecem a inclusão e a participação de todos
os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz.
Definido desta forma, o pluralismo cultural constitui a resposta política à
realidade da diversidade cultural. Inseparável de um contexto democrático, o
pluralismo cultural é propício aos intercâmbios culturais e ao desenvolvimento
das capacidades criadoras que nutrem a vida pública.

Artigo 3º – A diversidade cultural, factor de desenvolvimento

A diversidade cultural amplia as possibilidades de escolha à disposição


de todos; é uma das origens do desenvolvimento, entendido não apenas em
termos de crescimento económico, mas também como meio de acesso a uma
existência intelectual, afectiva, moral e espiritual satisfatória.

DIVERSIDADE CULTURAL E DIREITOS HUMANOS

Artigo 4º – Os direitos humanos, garantes da diversidade cultural

A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável


do respeito pela dignidade da pessoa humana. Implica o compromisso de
respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em particular

8
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO CULTURA

os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones.


Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos
garantidos pelo direito internacional, nem para limitar seu alcance.

Artigo 5º – Os direitos culturais, enquadramento propício à diversidade


cultural

Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, os quais


são universais, indissociáveis e interdependentes. O desenvolvimento de uma
diversidade criativa exige a plena realização dos direitos culturais, tal como
são definidos no artigo 27º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e
nos artigos 13º e 15º do Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais
e Culturais. Qualquer pessoa deverá poder expressar-se, criar e difundir suas
obras na língua que desejar e, em particular, na sua língua materna; qualquer
pessoa tem direito a uma educação e uma formação de qualidade que respeite
plenamente sua identidade cultural; qualquer pessoa deve poder participar na
vida cultural que escolha e exercer as suas próprias práticas culturais, dentro
dos limites que impõe o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais.

Artigo 6º – Rumo a uma diversidade cultural acessível a todos

Ao assegurar a livre circulação das ideias através da palavra e da


imagem, deve-se zelar para que todas as culturas se possam expressar e dar a
conhecer. A liberdade de expressão, o pluralismo dos meios de comunicação, o
multilinguismo, a igualdade de acesso às expressões artísticas, ao conhecimento
científico e tecnológico – inclusive em formato digital - e a possibilidade, para
todas as culturas, de estar presente nos meios de expressão e de difusão, são
garantias de diversidade cultural.

DIVERSIDADE CULTURAL E CRIATIVIDADE

Artigo 7º – O património cultural, fonte da criatividade

Qualquer criação tem por origem as tradições culturais, mas apenas


se desenvolve plenamente em contacto com outras culturas. É por esta
razão que o património, em todas as suas formas, deverá ser preservado,
valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência
e das aspirações humanas, de modo a fomentar a criatividade em toda a sua
diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.

Artigo 8º – Os bens e serviços culturais, mercadorias de um tipo diferente

Perante as mudanças económicas e tecnológicas actuais, que abrem amplas


perspectivas para a criação e a inovação, deve-se prestar uma atenção particular
à diversidade da oferta criativa, ao justo reconhecimento dos direitos dos autores

9
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

e artistas, bem como ao carácter específico dos bens e serviços culturais que, na
medida em que são portadores de identidade, de valores e de sentido, não devem
ser considerados como meras mercadorias ou bens de consumo.

Artigo 9º – As políticas culturais, catalisadoras da criatividade

Ao mesmo tempo que asseguram a livre circulação das ideias e das


obras, as políticas culturais devem criar condições propícias para a produção
e a difusão de bens e serviços culturais diversificados, através de indústrias
culturais que disponham de meios para se desenvolverem aos níveis local e
mundial. Compete a cada Estado, respeitando as obrigações internacionais,
definir sua política cultural e aplicá-la utilizando os meios de acção que
considere mais adequados, através de apoios concretos ou de quadros
normativos apropriados.

DIVERSIDADE CULTURAL E SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL

Artigo 10º – Reforço das capacidades de criação e de divulgação à


escala mundial

Face aos desequilíbrios que actualmente se verificam nos fluxos e


intercâmbios de bens culturais à escala mundial, torna-se necessário reforçar
a cooperação e a solidariedade internacionais destinadas a permitir que todos
os países, em particular os países em vias de desenvolvimento e os países em
transição, estabeleçam indústrias culturais viáveis e competitivas nos planos
nacional e internacional.

Artigo 11º – Estabelecimento de parcerias entre o sector público, o


sector privado e a sociedade civil

As forças do mercado, por si só, não garantem a preservação e a


promoção da diversidade cultural, a qual constitui condição fundamental
para um desenvolvimento humano sustentável. Nesta perspectiva, convém
reafirmar o papel fundamental das políticas públicas, em parceria com o sector
privado e a sociedade civil.

Artigo 12º – O papel da UNESCO

A UNESCO, em virtude do seu mandato e das suas funções, tem a


responsabilidade de:
a) promover a incorporação dos princípios enunciados na presente Declaração
nas estratégias de desenvolvimento elaboradas no seio das diversas
entidades intergovernamentais;

10
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO CULTURA

b) constituir um ponto de referência e de articulação entre os Estados, os


organismos internacionais governamentais e não-governamentais, a
sociedade civil e o sector privado para a elaboração conjunta de conceitos,
objectivos e políticas a favor da diversidade cultural;
c) prosseguir a sua acção normativa, bem como acções de sensibilização e de
desenvolvimento de competências nas áreas relacionadas com a presente
Declaração, dentro da sua esfera de competências;
d) facilitar a aplicação do Plano de Ação, cujas linhas gerais se encontram
anexas à presente Declaração.

FONTE: <http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/diversity/pdf/
declaration_cultural_diversity_pt.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2020.

A declaração busca promover e difundir as questões referentes a


diversidade cultural, para que a cultura seja acessível a todos e que traga para
a sociedade a liberdade de expressão e a possibilidade de que todas as culturas
possam se promover.

A partir destas ações e programas desenvolvidos, podemos entender


o termo políticas públicas como um conjunto de programas, ações e decisões
pensadas e realizadas pelo governo  (nacionais, estaduais ou municipais)  com
a participação, direta ou indireta, de indivíduos de cunho público ou privado,
que visam assegurar determinado  direito  de  cidadania  para vários grupos da
sociedade ou para segmento social, econômico, cultural e étnico específico.

Chegamos então ao conceito mais específico de Políticas Públicas Culturais


e, inicialmente, temos que salientar que  é a sociedade que produz cultura, já,
pensar e criar mecanismos de preservação e incentivo cultural é um papel que o
Estado desempenha, ou seja, seu objetivo com as políticas públicas culturais é o
de dispor recursos e instrumentos criados com a participação da sociedade como
um todo.

DICAS

Assista ao vídeo O que são políticas públicas? O qual fala sobre a conceituação
de Políticas Públicas, para entender um pouco mais sobre o tema. Informar-se sobre
questões políticas é um papel muito importante de todos os cidadãos. Disponível no
endereço: https://youtu.be/ehLZKqU1QQw.

11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Entendimento dos termos cultura, política, patrimônio e porque são


utilizados para explicitar como as políticas públicas da cultura agem e onde
elas estão inseridas.

• A cultura mostra as representações de um grupo, caracterizando-o por suas


ações, suas diferenças, seus modos de viver e de conviver em sociedade.

• A cultura erudita é tudo aquilo que passa por um processo de legitimação


por meio de instituições de ensino acadêmicas e especializadas em assuntos
específicos (Medicina, Engenharia, Direito, Pedagogia etc.).

• Todos os cidadãos, independentemente de sua escolarização, idade ou religião


são afetados pelas políticas públicas criadas pelo setor público em geral.

12
AUTOATIVIDADE

1 Disserte sobre como é tratado o direito a cultura e o lazer nos textos a seguir:

TEXTO 1:

Comida - Titãs
Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer..

TEXTO 2:

FONTE: <http://www.apoioescolar24horas.com.br/portugues/interpretacao/interpretacao.
cfm?idTexto=133&refaz=sim&cont=0&sNivelEduca=efaf>. Acesso em: 5 nov. 2019.

13
2 São garantias da diversidade cultural, segundo a Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural, em seu artigo 6, intitulado “Rumo a uma
diversidade cultural acessível a todos”:

a) ( ) a liberdade de expressão, o pluralismo dos meios de comunicação e o


multilinguismo.
b) ( ) o pluralismo dos meios de comunicação, o multilinguismo e o acesso
aos produtos do mercadocultural.
c) ( ) a liberdade de expressão, o multilinguismo e o acesso aos produtos do
mercado cultural.
d) ( ) a liberdade de expressão, o pluralismo dos meios de comunicação e o
acesso aos produtos do mercado cultural.

3 Constitui-se um termo a ser utilizado para conceituar Diversidade Cultural,


EXCETO:

a) ( ) Pluralismo cultural.
b) ( ) Multiculturalismo.
c) ( ) Fusão cultural.
d) ( ) Participação cultural.

4 São princípios da Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade


Cultural, EXCETO:

a) ( ) Identidade, diversidade e pluralismo.


b) ( ) Prioridade e solidariedade.
c) ( ) Diversidade cultural e direitos humanos.
d) ( ) Diversidade cultural e criatividade.

14
UNIDADE 1
TÓPICO 2

POLÍTICAS CULTURAIS NO MUNDO

1 INTRODUÇÃO
As Políticas Culturais, ao longo do tempo, foram ganhando espaço em
diversos países, sendo que cada localidade tem suas dinâmicas e seus conceitos
em relação à preservação e a difusão de sua cultura.

Visto isso, além dos países terem suas próprias políticas específicas, ainda
temos políticas desenvolvidas para que o mundo possa se basear e se pautar para
a realização de ações na área da cultura.

Não diferente do que foi ao redor do mundo, as políticas culturais brasileiras


foram criadas em meio a muitas discussões e sempre com diversas perspectivas
seguindo o que cada governo dita sobre a área. Diversas foram as alterações e
proposições em legislação da área cultural no Brasil e este cenário oscilou ao longo
dos anos dependendo das condições políticas instauradas no país.

2 AS POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL E NO MUNDO E


SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
No caso das Políticas Culturais mundiais, podemos citar inicialmente os
Instrumentos Internacionais Legais voltados para a cultura da UNESCO, que são
importantes para a preservação de direitos referentes ao acesso e a difusão da
cultura. Dentre eles, podemos destacar:

• 2015 - Recomendação referente à Proteção e Promoção dos Museus e Coleções,


sua Diversidade e seu Papel na Sociedade.
• 2007 - Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas:
edição especial com perguntas e respostas.
• 2005 - Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões
Culturais.
• 2003 - Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
• 2001 - Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural.
• 1997 -  Declaração sobre as Responsabilidades das Gerações Presentes em
Relação às Gerações Futuras.
• 1972 - Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural.
• 1970 - Convenção Relativa às Medidas a Serem Adotadas para Proibir e Impedir a
Importação, Exportação e Transferência de Propriedades Ilícitas dos Bens Culturais.

15
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

No caso específico de alguns países, mencionamos a  França, que


é tida como o berço das políticas culturais e o primeiro país a criar, em 1959,
um ministério exclusivo para o setor, o Ministère des Affaires Culturelles.

Além da França, ainda devemos destacar as ações político-culturais da


Segunda República Espanhola em 1930; a instituição do Arts Council na Inglaterra
em 1940 e a criação do Ministério dos Assuntos Culturais na França, em 1959,
como já citamos acima. Sendo que a proposta francesa é a mais estudada, por conta
de toda sua profundidade e seu discernimento em relação às políticas públicas
culturais. Lembrando que a criação destes marcos regulatórios se constituem em
sua maioria em meio a grandes discussões e polêmicas, André Malraux, dirigente
do Ministério de Assuntos Culturais Francês na época, provocou discussões
incansáveis para a criação de políticas públicas específicas para a área da cultura
(LEBOVICS, 2000).

Segundo Herman Lebovics (2000, p. 292): “cabe destacar um fato de


importância: Malraux estabeleceu o princípio conforme o qual as autoridades
públicas têm responsabilidade com a vida cultural de seus cidadãos, do mesmo
modo que a têm [...] com sua educação, saúde e bem estar”. Malraux ainda criou
ações e métodos que ainda hoje são utilizados por gestores da área cultural.

FIGURA 3 - ANDRÉ MALRAUX - ESCRITOR E DIRIGENTE DO MINISTÉRIO DE


ASSUNTOS DA CULTURA

FONTE: <http://www.imitatio.org/andr-malraux>. Acesso em: 4 nov. 2019.

16
TÓPICO 2 | POLÍTICAS CULTURAIS NO MUNDO

3 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL


No Brasil, em 1930, durante a era Vargas, iniciaram-se ações voltadas para
as políticas culturais. Na época, o principal objetivo era garantir que a população
mantivesse um sentimento de pertencimento ao país, isto é, fazer com que o que
fosse tipicamente brasileiro fosse visto como primordial. Para isso, foram criadas
instituições como o Conselho Nacional de Cultura e o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (PESSOA, 2013).

No entanto, o Ministério da Educação e Saúde era a instituição que geria


a área cultural e, somente em 1953, surge o Ministério da Educação e Cultura,
dirigido por Gustavo Capanema. Mesmo que a criação de um ministério voltado
à cultura já tenha sido um avanço na época, poucas foram as ações públicas na
área, sendo que a iniciativa privada realizou, grande parte dos atos pela cultura.

Em 1975, durante o regime militar, surge a ideia de elaboração de um Plano


Nacional de Cultura. Devido ao cenário político da época, o plano não chegou a
ser aprovado. E, apenas em 1985, criou-se o então Ministério da Cultura (MinC),
dedicado, unicamente, à área cultural. A gestão da área cultural aconteceu de
forma muito breve, e o Ministério da Cultura foi extinto em 1990, no  governo
Collor. Em 1992 foi restabelecido, mas ainda dando passos muito pequenos no
setor cultural. Com a criação de leis de incentivo fiscal, o final do Século XX mostra
uma estabilidade e um avanço na área cultural, proporcionando um estimulo aos
artistas e aos setores adjacentes da economia criativa (BRASIL, 2019).

Com a criação do Plano Nacional de Cultura (Lei 12.343/2010), ocorre a


continuidade e a consolidação de políticas culturais, promovendo a implantação
de ações importantes no setor, independente da mudança de governo. Para que
o Plano Nacional de Cultura tenha suas ações colocadas em prática foi criado o
Sistema Nacional de Cultura, órgão este que será detalhado em outro tópico.

Mesmo depois de ser consolidado, o Ministério da Cultura, com suas


ações e projetos específicos, ainda passou e passa por momentos de atenção, como
foi o caso de sua extinção relâmpago em 2016 no governo de Michel Temer e a
atual extinção do mesmo, no governo de Jair Bolsonaro, sendo suas atribuições
incorporadas ao recém-criado Ministério da Cidadania, que absorveu também a
estrutura do Ministério do Esporte e do Ministério do Desenvolvimento Social.

17
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• No Brasil, em 1930, durante a era Vargas, iniciaram-se ações voltadas para as


políticas culturais.

• A França é tida como o berço das políticas culturais e o primeiro país a criar em
1959, um ministério exclusivo para o setor, o Ministère des Affaires Culturelles.

• As Políticas Culturais, ao longo do tempo, foram ganhando espaço em diversos


países, sendo que cada localidade tem suas dinâmicas e seus conceitos em
relação à preservação e a difusão de sua cultura.

• As políticas culturais brasileiras também foram criadas em meio a muitas


discussões e sempre com diversas perspectivas seguindo o que cada governo
dita sobre a área.

• A sociedade que produz cultura, já pensar e criar mecanismos de preservação


e incentivo cultural é um papel que o Estado desempenha, ou seja, seu objetivo
com as políticas públicas culturais é o de dispor recursos e instrumentos criados
com a participação da sociedade como um todo.

18
AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa que corresponde ao ano de criação do Ministério da


Cultura:

a) ( ) 1985.
b) ( ) 1986.
c) ( ) 1987.
d) ( ) 1982.

2 Qual o cargo que André Malraux ocupava no governo francês?

a) ( ) Secretário de assuntos para a juventude e cultura.


b) ( ) Dirigente do Ministério de Assuntos da Cultura.
c) ( ) Governador do estado francês.
d) ( ) Dirigente da UNESCO para assuntos da cultura.

19
20
UNIDADE 1
TÓPICO 3

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS


DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico serão apresentadas as definições de Patrimônio Cultural
Material e Imaterial, bem como das políticas públicas de preservação destes
patrimônios.

É necessário compreender a importância da existência e da preservação


tanto do patrimônio cultural material quanto imaterial, pois é a partir deles que
podemos conhecer ainda mais sobre o local onde vivemos e sobre a sociedade
que fazemos parte. Conhecendo o que é patrimônio, seus idealizadores e sua
história é possível manter o processo vivo e repassá-lo de geração para geração.

Além de conhecer sobre o que é patrimônio e suas formas, também


devemos saber como preservá-lo, bem como comunicá-lo. A idealização de
projetos específicos para sua manutenção e democratização faz com que todas
as ações e elementos culturais do patrimônio sejam difundidas pela sociedade e
para a sociedade.

2 PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL


Conceituando agora o termo “patrimônio cultural”, utilizaremos a
definição de que ele é toda produção elaborada por um indivíduo ou mais, que
permite a pessoa o entendimento sobre si mesma e sobre o local que a cerca.
Segundo Coelho (2012. p. 338):

Uma distinção cabe ser feita entre produto cultural e bem cultural. Este
se vincula à noção de um patrimônio pessoal ou coletivo e designa,
em princípio, por seu valor simbólico, algo infungível, isto é algo que
não pode ser trocado por moeda. Mesmo que na origem tenha sido
eventualmente um produto.

Crenças, práticas cotidianas, saberes e modos de ser e de viver das pessoas


podem ser considerados bem culturais imateriais. Segundo o Iphan (2019b, s.p.):

21
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

[...] os bens imateriais podem ser: conhecimentos enraizados no


cotidiano das comunidades; manifestações literárias, musicais,
plásticas, cênicas e lúdicas; rituais e festas que marcam a vivência
coletiva da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da
vida social; além de mercados, feiras, santuários, praças e demais
espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais.

O Iphan disponibiliza em seu site a lista dos bens culturais imateriais


tombados e registrados. No link (http://portal.iphan.gov.br/) é possível acessar
todas as informações e pesquisas realizadas sobre cada bem registrado. A seguir,
você poderá conhecer um pouco mais sobre os bens culturais imateriais já
registrados pelo Iphan:

• Modo artesanal de fazer queijo de minas, nas regiões do Serro e das Serras
da Canastra e do Salitre

No mês de junho de 2008, o Queijo Artesanal de Minas, das Regiões do


Serro e das Serras da Canastra e do Salitre, foi inserido no Livro de Registros do
Iphan como um bem cultural imaterial. O feitio artesanal do queijo demonstra um
elemento de identidade valioso para a região, visto que a produção representa
uma tentativa bem-sucedida de aproveitamento da produção leiteira regional.

FIGURA 4 - QUEIJO ARTESANAL DE MINAS GERAIS

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/mg/pagina/detalhes/65>. Acesso em: 16 dez. 2019.

Nas regiões onde o queijo é produzido, aqueles que têm o conhecimento


específico do feitio do queijo moldaram um modo de fazer próprio, visto na forma
em que manipulam o leite, e nas diversas etapas que são feitas para garantir
a qualidade, sendo que cada queijo possui aparência e sabor específicos. Isso
mostra a importância da preservação deste conhecimento e do repasse dele para
as futuras gerações, garantindo sua permanência.

22
TÓPICO 3 | PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA

• Modo de fazer cuias do baixo amazonas

As cuias são comuns de serem encontradas no dia a dia das pessoas que
moram no Norte do país. Elas têm diversas utilidades e são feitas há mais de dois
séculos na região do Baixo Amazonas, mais precisamente no Estado do Pará. A
planta que fornece a matéria prima para a execução deste trabalho é a Cuieira e
geralmente quem as confecciona são as mulheres. Segundo o Iphan (2017, s.p.):

Os saberes relacionados à produção e utilização de cuias fazem


parte das complexas dinâmicas de colonização e ocupação do espaço
amazônico, e estão relacionados ao aproveitamento de recursos
naturais disponíveis nessa região. As cuias pintadas, diferente das
produzidas com incisões, foram introduzidas no repertório estético
das artesãs no século XX, padrão incorporado em grande parte da
ornamentação considerada tradicional. 

Para os ornamentos deste tradicional elemento são usados grafismos


Tapajós, também conhecidos como indígenas, e vários são os processos naturais
em que a peça passa, para que seja utilizada com tal finalidade.

FIGURA 5 - MODELO DE CUIA DO BAIXO AMAZONAS

FONTE: <https://www.museu-goeldi.br/noticias/tradicao-de-fazer-cuias-no-baixo-amazonas-
vira-patrimonio-cultural>. Acesso em: 16 dez. 2019.

• Modo de fazer viola-de-cocho

Outro bem cultural que teve seu modo de fazer inscrito no Livro de Registro
dos Saberes do Iphan é a viola-de-cocho. Instrumento típico da cultura do Estado
de Mato Grosso, ainda é pouco conhecido da maioria dos brasileiros. A viola-de-
cocho é utilizada para acompanhar diversos gêneros musicais tradicionais como
o cururu e siriri. De acordo com o Iphan (2019c, s.p.):

Os materiais utilizados tradicionalmente para sua confecção são


encontrados no eco-sistema regional, correspondendo a tipos especiais
de madeiras para o corpo, tampo e demais detalhes do instrumento;
ao sumo da batata ‘sumbaré’ ou, na falta desta, a um grude feito da
vesícula natatória dos peixes (ou poca) para a colagem das partes
componentes; a fios de algodão revestidos para trastes (que, na região,
também são denominados pontos) e tripa de animais para as cordas.

23
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

O nome Viola-de-cocho se dá por conta da técnica de confecção do


instrumento assemelhando-se a técnica utilizada na fabricação de cochos
(recipientes em que é depositado o alimento para o gado). Em um cocho, já
talhado no formato de uma viola, são inseridos um tampo e as demais partes que
caracterizam o instrumento musical. Cada artesão, dependendo do tipo de força
empregada, ou dos gostos, fazem com que os formatos e os tipos de viola-de-
cocho variem.

FIGURA 6 - MODO ARTESANAL DE FEITIO DA VIOLA-DE-COCHO

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/57>. Acesso em: 16 dez. 2019.

• Modo de fazer renda irlandesa - Sergipe

A renda irlandesa ou ponto de Irlanda é uma técnica utilizada por


rendeiras sergipanas e foi incluída, em 2009, como Patrimônio Cultural do Brasil
pelo Iphan. Embora a renda irlandesa seja produzida em diversos lugares no
Sergipe, o município de Divina Pastora tornou-se referência da técnica, por conta
da apropriação deste bem cultural pela sociedade.

A prática da renda faz parte do cotidiano das mulheres no Brasil,


desde o Brasil Colônia, quando foi introduzida pelos europeus. À
medida em que foi sendo apropriada, a técnica da renda ganhou
sentidos culturais e sociais bem próprios. Em Divina Pastora, por
exemplo, a renda é uma atividade coletiva, mesmo se tratando de um
trabalho individual. O encontro entre as mulheres lhes permite trocar
informações, criações, técnicas e pontos (ARTESOL, 2019, s.p.).

Geralmente o fazer da Renda Irlandesa é encabeçado e liderado por uma


mestra que é reconhecida como tal pelo grupo de mulheres rendeiras. São as
mestras que iniciam o processo riscando os primeiros traços da renda que será
desenvolvida. A prática de fazer a renda inglesa é uma atividade realizada em
grupo, sendo que nestes momentos de encontro as rendeiras trocam informações
sobre pontos, técnicas e histórias acerca do saber-fazer. Novamente aqui
percebemos que o bem cultural traz ao grupo um sentimento de pertencimento,
bem como uma troca de experiências e garantias de transmissão de conhecimento
para as futuras gerações.

24
TÓPICO 3 | PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA

FIGURA 7 - MODELOS DE PONTOS DE RENDA IRLANDESA

FONTE: <https://www.artesol.org.br/rede/membro/asderen_associacao_para_o_
desenvolvimento_de_renda_de_divina_pastora>. Acesso em: 16 dez. 2019.

• Ofício das baianas de acarajé

O Ofício das Baianas de Acarajé é um bem cultural que já está enraizado


no cotidiano de nossa sociedade em todo o Brasil. As mulheres escravas libertas
puderam realizar o serviço de comércio de rua, permitindo que além de
trabalharem para seus senhores, pudessem dar sustento a sua família utilizando
seus tabuleiros e comercializando o acarajé. O acarajé é feito com feijão fradinho
e cebola, frito no formato de ‘bola’ no azeite de dendê, e é servido com diversos
complementos e condimentos como, pimenta, camarão, vatapá, salada e caruru.
Mais produzido e vendido no Nordeste e Norte, também pode ser encontrado
em outras regiões do país. As baianas tradicionais utilizam saias rodadas, panos
envoltos ao corpo, o torso na cabeça, a bata e os colares com as cores dos seus
orixás pessoais.

Juntamente com as baianas, está o tabuleiro, com todos os temperos e


ingredientes para o preparo do acarajé e de seus possíveis complementos: como
o vatapá e o camarão seco. “O acarajé é uma palavra composta, proveniente da
língua africana iorubá — ‘akará’ bola de fogo e ‘je’ comer, ou seja, comer bola de
fogo. Sua origem vem de uma lenda que narra a relação entre Xangô e sua esposa
Iansã” (BAHIA, 2019, s.p.)

FIGURA 8 - BAIANAS DE ACARAJÉ

FONTE: <http://www.ipac.ba.gov.br/oficio-das-baianas-do-acaraje>. Acesso em: 16 dez. 2019.

25
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

• Ofício das paneleiras de goiabeiras

O primeiro registro de bem cultural realizado pelo Iphan, em 2002, como


Patrimônio Imaterial no Livro de Registro dos Saberes foi o saber da fabricação
artesanal de panelas de barro. O processo de produção acontece no bairro de
Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo, e utiliza técnicas tradicionais e
matérias-primas naturais para sua confecção. A atividade, geralmente executada
por mulheres é repassada pelas artesãs paneleiras, de geração em geração. 

Mesmo com a urbanização que envolveu o bairro de goiabeiras, o feitio


das panelas de barro ainda é um ofício familiar naquela região. A tradição chama
a atenção de turistas e garante um fluxo de pessoas interessadas no trabalho
típico capixaba.

FIGURA 9 - PANELAS DE BARRO SENDO CONFECCIONADAS

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/51>. Acesso em: 16 dez. 2019.

As panelas são feitas manualmente, com argila e com o auxílio de


ferramentas rudimentares. A técnica utilizada ainda é rudimentar, utilizando
a natureza para se concretizar, sendo este um legado deixado pelo povo Tupi-
guarani. Índios, colonos e descendentes de escravos, passaram de geração em
geração todo o conhecimento e técnicas do saber fazer as panelas de barro.

• Ofício dos mestres de capoeira

Inscrito no Livro de Registro dos Saberes, em 2008, o Ofício dos Mestres


de Capoeira é realizado por mestres detentores dos conhecimentos específicos
desta prática e que são responsáveis por transmitir essa herança para as futuras
gerações. O saber da capoeira é repassado oralmente e gestualmente nas rodas de
capoeira, em ruas e academias. A capoeira é conhecida e difundida no Brasil e no
mundo, e depende da transmissão dos saberes dos mestres para a continuidade
desta manifestação cultural.
 

26
TÓPICO 3 | PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA

A capoeira é uma manifestação cultural presente hoje em todo o


território brasileiro e em mais de 150 países, com variações regionais
e locais criadas a partir de suas “modalidades” mais conhecidas: as
chamadas “capoeira angola” e “capoeira regional”. O conhecimento
produzido para a instrução do processo permitiu identificar os
principais aspectos que constituem a capoeira como prática cultural
desenvolvida no Brasil: o saber transmitido pelos mestres formados na
tradição da capoeira e como tal reconhecidos por seus pares; e a roda
onde a capoeira reúne todos os seus elementos e se realiza de modo
pleno (IPHAN, 2019d, s.p.).

FIGURA 10 - RODA DE CAPOEIRA COM O MESTRE TONI VARGAS, DO GRUPO SENZALA,


NO RIO DE JANEIRO

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/67/>. Acesso em: 16 dez. 2019.

É na roda de capoeira que acontece o aprendizado e a expansão do jogo, os


golpes e movimentos acrobáticos bem como os cânticos que sempre se atualizam
ou são inventados pelos grupos. Além disso, diversos instrumentos podem ser
utilizados para somar a sonoridade que é também uma forte característica deste
bem cultural.

• Ofício de sineiro

Em 2009, foi inscrito no livro de Registro de Saberes o ofício de Sineiro, que


é uma prática tradicional de tocar os sinos em igrejas católicas para representar
e anunciar celebrações e rituais, seja de atos fúnebres ou apenas a marcação das
horas, nas cidades mineiras.

27
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

FIGURA 11 - OFÍCIO DE SINEIRO

FONTE: Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/mg/pagina/detalhes/70>.


Acesso em: 16 dez. 2019.

Frequentemente realizada por homens, a tradição do toque dos sinos, ainda


se mantém viva nessas cidades e podem ser realizadas por sineiros profissionais
ou voluntários. Os sineiros conhecem um repertório extenso de toques de sino
que são repassados de geração em geração. Quando crianças, os aprendizes
de sineiro, por não terem acesso às torres, acabam praticando e reproduzindo
sons com postes, enxadas, picaretas e com qualquer objeto que possa servir de
instrumento de percussão.

• Produção tradicional e práticas socioculturais associadas à Cajuína no Piauí

Em 2014, a produção tradicional e práticas socioculturais associadas


à Cajuína, no Piauí, foi inscrita no Livro de Registro dos Saberes. Os saberes e os
modos de fazer relacionados à cajuína são bens imateriais por conta dos rituais
de hospitalidade realizados pelas famílias no Piauí. Consumir a Cajuína, como
ato de degustação, é um rito que ocorre nos grupos do Piauí, e nele, além da
degustação, conversam sobre a qualidade do produto, os modos de fazer e suas
características diferenciadas, que se tornam distintas entre si de acordo com o
caju escolhido como também das técnicas utilizadas por cada produtor.

Essas referências revelam o sentimento de pertencimento do grupo


ou família produtora e reforçam os laços entre os membros das
redes familiares por onde a cajuína circula. As garrafas de cajuína,
atualmente também vendidas, eram, na maior parte das vezes,
dadas de presente ou servidas às visitas e oferecidas em aniversários,
casamentos e outras comemorações. O modo artesanal de produzir a
cajuína - bebida genuinamente piauiense - é considerado de relevante
interesse cultural para o Piauí, onde a população comemora a safra do
caju (IPHAN, 2019e, s.p.).

28
TÓPICO 3 | PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA

FIGURA 12 - CAJUÍNA – BEM CULTURAL DO PIAUÍ

FONTE: <http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2014/05/cajuina-bebida-tipica-do-piaui-podera-
ser-patrimonio-cultural-do-brasil.html>. Acesso em: 16 dez. 2019.

Desenvolvido ao longo do tempo, esse modo — ainda que seja


semelhante nos diversos núcleos produtores espalhados por todo o Piauí
— apresenta características diferentes em cada núcleo, com melhorias e
aperfeiçoamento de técnicas específicas que podem produzir determinadas
diferenças no seu produto final, distinguindo o sabor da sua bebida da dos
demais produtores. O controle de cada uma das etapas de produção se reflete
na qualidade de cada garrafa. A essas referências se direciona o sentimento de
pertencimento daquele grupo ou família produtora. 

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/87>. Acesso em: 9 abr. 2020.

• Saberes e práticas associados aos modos de fazer bonecas Karajá

Inscritos pelo Iphan, em 2012, no Livro de Registro dos Saberes, os saberes e


práticas associados ao modo de fazer bonecas Karajá, são uma referência para o
povo Karajá. Atualmente, a confecção das bonecas de cerâmica é uma atividade
exclusivamente feminina, que envolve técnicas tradicionais que foram passadas
de geração para geração e representa muitas vezes a única fonte de renda familiar
da região.

Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna,


as bonecas Karajá são importantes instrumentos de socialização das
crianças que se veem nesses objetos e aprendem a ser Karajá, recebem
ensinamentos, conhecem as técnicas e saberes associados à sua
confecção e usos. Por representarem cenas do cotidiano e dos ciclos
rituais, elas portam e articulam sistemas de significação da cultura
Karajá. A pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas,
respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário
e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de
gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam
a representação figurativa das bonecas, que identificam então “o
Karajá” homem ou mulher, solteiro ou casado, com todos os atributos
que “a cultura” cria para distinguir convencionalmente essas
categorias (IPHAN, 2019f, s.p.).

29
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

Para a confecção da boneca Karajá são utilizadas três matérias-primas:


a argila, a cinza e a água. Cada aldeia possui diferentes formas de confecção,
cada qual com seus estilos, mas, basicamente, realizam o mesmo modo de fazer
nas seguintes etapas: extração do barro,  preparação do barro,  modelagem das
bonecas, queima e pintura. Já o processo criativo, as cores, os grafismos dependem
da criatividade e das vivências de cada artesão.

FIGURA 13 - MODO DE FAZER DAS BONECAS KARAJÁS

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/81>. Acesso em: 16 dez. 2019.

• Sistema agrícola tradicional de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira

O Vale do Ribeira, desde o período colonial, teve o cultivo de mandioca,


milho e feijão como um de seus principais meios de sobrevivência. Este tipo de
agricultura permitiu que os grupos afrodescendentes pudessem permanecer na
região e se instalassem nas margens do Rio Ribeira do Iguape. O modo de fazer
a roça e os bens culturais envolvidos com essa dinâmica de vida faz parte do
sistema agrícola tradicional das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira.

Muito além de uma atividade econômica, o plantar e colher


estabeleceu as trocas com a natureza, os laços de parentesco e
compadrio, a fabricação de materiais para o uso diário, a expressão do
divino e as manifestações religiosas, de música e dança, transmitidos
entre as sucessivas gerações que ali moraram. Os conhecimentos
tradicionais das comunidades quilombolas alinhavam as questões
de territorialidade e da conservação da agrobiodiversidade, tão
importantes para a conservação da floresta do Vale do Ribeira (IPHAN,
2018, s.p.).

Uma padronização interessante do processo de roça chamado


coivara, que também é conhecido como Agricultura Itinerante, fez com que
os quilombolas pudessem se organizar em uma ocupação itinerante para
aperfeiçoar o calendário agrícola.

30
TÓPICO 3 | PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA

FIGURA 14 - SISTEMA AGRÍCOLA TRADICIONAL DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS


DO VALE DO RIBEIRA

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4823>. Acesso em: 16 dez. 2019.

• Sistema agrícola tradicional do Rio Negro

Elementos que envolvem os hábitos e costumes, o tipo de planta que


cultivam, do que se alimentam, direitos e deveres dos habitantes é o que compõem
o sistema agrícola tradicional do Rio Negro.

Inscrito no Livro de Registro dos Saberes 2010, o bem cultural se constitui


em elementos de saberes específicos, autonomia das famílias que ali vivem
e dos modos de viver da região, além de que seu modo de produzir garante a
rentabilidade e a conservação da floresta. 

FIGURA 15 - CULTIVO DA MANDIOCA NA REGIÃO DO RIO NEGRO

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/75>. Acesso em: 16 dez. 2019.

• Tradições doceiras da região de Pelotas e Antiga Pelotas (Arroio do Padre,


Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu)

A região de Pelotas e Antiga Pelotas no Rio Grande do Sul é conhecida


por deter o saber da confecção de deliciosos doces como os bem-casados,
marmelada, quindim, pessegada, ninho, camafeu, figo em calda, amanteigado,
ameixa recheada, abóbora cristalizada, bolo de noiva. Essas, como tantas outras
iguarias, fizeram com que a região e este bem cultural da tradição doceira fosse
reconhecido pelo Iphan como um patrimônio cultural imaterial brasileiro.

31
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

FIGURA 16 - TRADICIONAL DOCE DE PELOTAS

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4642>. Acesso em: 16 dez. 2019.

Além do Patrimônio Imaterial que pudemos conhecer anteriormente,


temos também o patrimônio material, que é formado por um conjunto de
bens culturais classificados segundo sua natureza: arqueológico, paisagístico e
etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas.

Eles estão divididos em bens imóveis — núcleos urbanos, sítios


arqueológicos e paisagísticos e bens individuais — e móveis — coleções
arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos,
videográficos, fotográficos e cinematográficos.

FONTE: <https://blog.enem.com.br/conheca-a-diferenca-entre-patrimonio-material-e-
imaterial/>. Acesso em: 9 abr. 2020.

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), em seus artigos 215 e 216,


ampliou a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens
culturais de natureza material e imaterial e, também, ao estabelecer outras formas
de preservação — como o Registro e o Inventário — além do Tombamento,
instituído pelo  Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937 (BRASIL 2019a),
que é adequado, principalmente, à proteção de edificações, paisagens e conjuntos
históricos urbanos.

Como exemplos de bens da cultura material brasileira classificados pelo


Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — Iphan — temos:

• Centro Histórico de Ouro Preto (Ouro Preto/MG).


• Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro/ RJ).
• Conjunto Arquitetônico de Paraty (Paraty/RJ).
• Centro Histórico de Olinda (Olinda/PE).
• Pelourinho (Salvador/BA).
• Parque Nacional Serra da Capivara (São Raimundo Nonato/PI).
• Universidade Federal do Paraná (Curitiba/PR).

32
TÓPICO 3 | PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL, POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA

Na lista de bens materiais ainda se destacam, como cidade: São Luís; e


como paisagem: os Lençóis baianos, grutas do Lago Azul e Corcovado. Uma
lista de bens materiais pode ser consultada no site do Iphan que detém todas as
informações sobre os bens.

FIGURA 17 - ILHA DO CAMPECHE, SÍTIO ARQUEOLÓGICO E PAISAGÍSTICO EM


FLORIANÓPOLIS (SC)

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/galeria/detalhes/378?eFototeca=1>. Acesso em: 16 dez. 2019.

DICAS

Assista ao filme Narradores de Javé. A partir de uma ameaça à própria


existência, que iria mudar a rotina dos habitantes do pequeno vilarejo de Javé, que eles se
deparam com o anúncio de que a cidade pode desaparecer sob as águas de uma enorme
usina hidrelétrica. Em resposta à notícia devastadora, a comunidade adota uma ousada
estratégia: decide preparar um documento contando todos os grandes acontecimentos
heroicos de sua história, para que Javé possa escapar da destruição. Como a maioria dos
moradores são analfabetos, a primeira tarefa é encontrar alguém que possa escrever as
histórias. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Trm-CyihYs8. Filme brasileiro
de 2003; gênero: drama; dirigido por Eliane Caffé; 100 min. duração.

33
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• De acordo com o  Art. 216  da  Constituição Federal Brasileira,  constituem


patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tombados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira.

• O patrimônio cultural pode ser classificado quanto à sua natureza, sendo este
material ou imaterial.

• O Patrimônio Cultural Imaterial abrange os elementos abstratos que fazem


parte de uma cultura de uma determinada região, e dizem respeito às práticas
e domínios da vida social de determinado grupo.

• O Patrimônio Cultural material abrange os elementos concretos de uma


sociedade, representando a cultura e história de cada região. Os bens de
natureza material podem ser móveis ou imóveis.

34
AUTOATIVIDADE

1 Tendo como base o texto a seguir, disserte sobre a importância da Preservação


do Patrimônio Cultural:

Texto: SANTOS, Cecilia Rodrigues dos. Novas fronteiras e novos pactos para o
patrimônio cultural. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 43-48,
2001. (adaptado para fins didáticos).

A palavra patrimônio está historicamente associada ou à noção do sagrado,


ou à noção de herança, de memória do indivíduo, de bens de família. A ideia
de um patrimônio comum a um grupo social, definidor de sua identidade e
enquanto tal merecedor de proteção, nasce no final do século XVIII, com a
visão moderna de história e de cidade. Se esse patrimônio, que é de todos, deve
ser preservado, é preciso estabelecer seus limites físicos e conceituais, as regras
e as leis para que isto aconteça [...]. No Brasil, a promulgação do Decreto-Lei n°
25, de 30 de novembro de 1937, organizou a proteção do patrimônio histórico
e artístico nacional e instituiu o instrumento do tombamento.

A inscrição, em um dos quatro livros do tombo, de bens móveis ou imóveis


cuja conservação é de interesse público impede legalmente que eles sejam
destruídos ou mutilados. O ato do tombamento, prerrogativa do poder
Executivo, não implica desapropriação e nem determina o uso, tratando-se
sim de “uma fórmula realista de compromisso entre o direito individual à
propriedade e a defesa do interesse público relativamente à preservação de
valores culturais”. Entretanto, o tombamento é apenas uma das formas legais
de preservação, que incluem toda e qualquer ação do Estado que vise conservar
a memória ou valores culturais.

2 (ENEM, 2013) Própria dos festejos juninos, a quadrilha nasceu como dança
aristocrática, oriunda dos salões franceses, depois difundida por toda a
Europa. No Brasil, foi introduzida como dança de salão e, por sua vez,
apropriada e adaptada pelo gosto popular. Para sua ocorrência, é importante
a presença de um mestre “marcante” ou “marcador”, pois é quem determina
as figurações diversas que os dançadores desenvolvem. Observa-se a
constância das seguintes marcações: “Tour”, “En avant”, “Chez desdames”,
“Chez deschevaliê”, “Cestinha de flor”, “Balancê”, “Caminho da roça”, “Olha a
chuva”, “Garranchê”, “Passeio”, “Coroa de flores”, “Coroa de espinhos” etc.
No Rio de Janeiro, em contexto urbano, apresenta transformações: surgem
novas figurações, o francês aportuguesado inexiste, o uso de gravações
substitui a música ao vivo, além do aspecto de competição, que sustenta os
festivais de quadrilha, promovidos por órgãos de turismo.

FONTE: CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro:


Melhoramentos, 1976.

35
As diversas formas de dança são demonstrações da diversidade cultural do
nosso país. Entre elas, a quadrilha é considerada uma dança folclórica por:

FONTE: <http://educacao.globo.com/provas/enem-2013/questoes/111.html>. Acesso em:


3 de mar. 2020.

a) ( ) Possuir como característica principal os atributos divinos e religiosos e,


por isso, identificar uma nação ou região.
b) ( ) Abordar as tradições e costumes de determinados povos ou regiões
distintas de uma mesma nação.
c) ( ) Apresentar cunho artístico e técnicas apuradas, sendo, também,
considerada dança-espetáculo.
d) ( ) Necessitar de vestuário específico para a sua prática, o qual define seu
país de origem.

3 Sobre cultura e preservação do patrimônio histórico, classifique V para as


sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Segundo a Carta Magna Brasileira (1988), o Poder Público, com a


colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio
cultural, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, entre outros.
( ) O patrimônio material protegido pelo Iphan é composto por um conjunto
de bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros
de Tombo.
( ) Os quatro Livros de Tombo são arqueológico, paisagístico, etnográfico,
histórico e das artes aplicadas.
( ) A cultura representa um complexo que inclui conhecimento, crenças, arte,
conceitos morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos
pelo homem como membro da sociedade e solidificados pelos meios de
comunicação midiática.
( ) As manifestações culturais mais recorrentes no Brasil são o Carnaval, o
Candomblé, as Olimpíadas, o Samba, a Copa do Mundo, entre outras.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – F – V.
b) ( ) V – V – F – F – F.
c) ( ) F – F – V – V – V.
d) ( ) F – V – V – V – F.

36
UNIDADE 1
TÓPICO 4

O PLANO NACIONAL DE CULTURA E OUTRAS


LEGISLAÇÕES PERTINENTES

1 INTRODUÇÃO
Quando discutimos sobre Administração e Gestão, especificamente na
área da cultura, todo e qualquer tipo de ação ou atividade a ser executada na
área deve partir de um plano ou de um projeto, ou seja, a criação de um modelo
sistemático, que tem como objetivo principal dirigir e encaminhar situações para
finalizar uma ação.

Esse Plano irá oferecer diretrizes para que se tenha muito claro, os
objetivos, as metas, os indivíduos que estarão envolvidos e os prazos em que as
intervenções serão executadas para se ter um norte e alcançá-lo com êxito.

O Plano Nacional de Cultura bem como seus instrumentos norteadores


têm diversos objetivos e caminhos ainda a serem trabalhados e discutidos. Neste
tópico, você conhecerá um pouco mais sobre esse instrumento de política cultural.

2 O PLANO NACIONAL DE CULTURA E SUAS METAS


O Plano Nacional de Cultura - PNC - foi criado pela Lei n° 12.343, de 2 de
dezembro de 2010 com o objetivo de orientar o desenvolvimento de programas,
projetos e ações culturais que garantam a valorização, o reconhecimento, a
promoção e a preservação da diversidade cultural existente no Brasil.

Vários foram os fóruns, seminários, encontros e consultas públicas para


que o PNC fosse elaborado. A 1ª Conferência Nacional de Cultura foi um dos
eventos mais importantes para a consolidação deste documento tão importante
para o Setor Cultural.

O Conselho Nacional de Política Cultura l - CNPC - foi o órgão regulador


desse processo de construção do PNC.O artigo 1º da Lei nº 12.343/2010 define que
o PNC tem uma duração de 10 (dez) anos. Hoje, a Secretaria Especial de Cultura
é responsável pela avaliação e pelo monitoramento das metas previstas no Plano,
sendo que ele é composto por 36 estratégias, 274 ações e 53 metas. Conheça, a
seguir, as 53 metas do Plano Nacional de Cultura:

37
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

• Meta 1: Sistema Nacional de Cultura institucionalizado e implementado,


com 100% das Unidades da Federação (UF) e 60% dos municípios com
sistemas de cultura institucionalizados e implementados.
• Meta 2: 100% das Unidades da Federação (UF) e 60% dos municípios
atualizando o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais
(SNIIC).
• Meta 3: Cartografia da diversidade das expressões culturais em todo o
território brasileiro realizada.
• Meta 4: Política nacional de proteção e valorização dos conhecimentos e
expressões das culturas populares e tradicionais implantada.
• Meta 5: Sistema Nacional de Patrimônio Cultural implantado, com 100%
das Unidades da Federação (UF) e 60% dos municípios com legislação e
política de patrimônio aprovadas.
• Meta 6: 50% dos povos e comunidades tradicionais e grupos de culturas
populares que estiverem cadastrados no Sistema Nacional de Informações e
Indicadores Culturais.
• Meta 7: 100% dos segmentos culturais com cadeias produtivas da economia
criativa mapeadas.
• Meta 8: 110 territórios criativos reconhecidos.
• Meta 9: 300 projetos de apoio à sustentabilidade econômica da produção
cultural local.
• Meta 10: Aumento em 15% do impacto dos aspectos culturais na média
nacional de competitividade dos destinos turísticos brasileiros.
• Meta 11: Aumento em 95% no emprego formal do setor cultural.
• Meta 12: 100% das escolas públicas de Educação Básica com a disciplina
de Arte no currículo escolar regular com ênfase em cultura brasileira,
linguagens artísticas e patrimônio cultural.
• Meta 13: 20 mil professores de Arte de escolas públicas com formação
continuada.
• Meta 14: 100 mil escolas públicas de Educação Básica desenvolvendo
permanentemente atividades de Arte e Cultura.
• Meta 15: Aumento em 150% de cursos técnicos, habilitados pelo Ministério
da Educação (MEC), no campo da Arte e Cultura com proporcional aumento
de vagas.
• Meta 16: Aumento em 200% de vagas de graduação e pós-graduação nas áreas
do conhecimento relacionadas às linguagens artísticas, patrimônio cultural e
demais áreas da cultura, com aumento proporcional do número de bolsas.
• Meta 17: 20 mil trabalhadores da cultura com saberes reconhecidos e
certificados pelo Ministério da Educação (MEC).
• Meta 18: Aumento em 100% no total de pessoas qualificadas anualmente
em cursos, oficinas, fóruns e seminários com conteúdo de gestão cultural,
linguagens artísticas, patrimônio cultural e demais áreas da cultura.
• Meta 19: Aumento em 100% no total de pessoas beneficiadas anualmente por
ações de fomento à pesquisa, formação, produção e difusão do conhecimento.
• Meta 20: Média de 4 livros lidos fora do aprendizado formal por ano, por
cada brasileiro.

38
TÓPICO 4 | O PLANO NACIONAL DE CULTURA E OUTRAS LEGISLAÇÕES PERTINENTES

• Meta 21: 150 filmes brasileiros de longa-metragem lançados ao ano em salas


de cinema.
• Meta 22: Aumento em 30% no número de municípios brasileiros com
grupos em atividade nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes visuais,
literatura e artesanato.
• Meta 23: 15 mil Pontos de Cultura em funcionamento, compartilhados
entre o governo federal, as Unidades da Federação (UF) e os municípios
integrantes do Sistema Nacional de Cultura (SNC).
• Meta 24: 60% dos municípios de cada macrorregião do país com produção e
circulação de espetáculos e atividades artísticas e culturais fomentados com
recursos públicos federais.
• Meta 25: Aumento em 70% nas atividades de difusão cultural em intercâmbio
nacional e internacional (p. 78).
• Meta 26: 12 milhões de trabalhadores beneficiados pelo Programa de
Cultura do Trabalhador (Vale Cultura).
• Meta 27: 27% de participação dos filmes brasileiros na quantidade de
bilhetes vendidos nas salas de cinema.
• Meta 28: Aumento em 60% no número de pessoas que frequentam museu,
centro cultural, cinema, espetáculos de teatro, circo, dança e música.
• Meta 29: 100% de bibliotecas públicas, museus, cinemas, teatros, arquivos
públicos e centros culturais atendendo aos requisitos legais de acessibilidade
e desenvolvendo ações de promoção da fruição cultural por parte das
pessoas com deficiência.
• Meta 30: 37% dos municípios brasileiros com cineclube.
• Meta 31: Municípios brasileiros com algum tipo de instituição ou
equipamento cultural, entre museu, teatro ou sala de espetáculo, arquivo
público ou centro de documentação, cinema e centro cultural.
• Meta 32: 100% dos municípios brasileiros com ao menos uma biblioteca
pública em funcionamento.
• Meta 33: 1.000 espaços culturais integrados a esporte e lazer em funcionamento.
• Meta 34: 50% de bibliotecas públicas e museus modernizados.
• Meta 35: Gestores capacitados em 100% das instituições e equipamentos
culturais apoiados pelo Ministério da Cultura.
• Meta 36: Gestores de cultura e conselheiros capacitados em cursos
promovidos ou certificados pelo Ministério da Cultura em 100% das
Unidades da Federação (UF) e 30% dos municípios, dentre os quais, 100%
dos que possuem mais de 100 mil habitantes.
• Meta 37: 100% das Unidades da Federação (UF) e 20% dos municípios, sendo
100% das capitais e 100% dos municípios com mais de 500 mil habitantes,
com secretarias de cultura exclusivas instaladas.
• Meta 38: Instituição pública federal de promoção e regulação de direitos
autorais implantada.
• Meta 39: Sistema unificado de registro público de obras intelectuais
protegidas pelo direito de autor implantado.
• Meta 40: Disponibilização na internet de conteúdos, que estejam em domínio
público ou licenciados.

39
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

• Meta 41: 100% de bibliotecas públicas e 70% de museus e arquivos


disponibilizando informações sobre seu acervo no SNIIC.
• Meta 42: Política para acesso a equipamentos tecnológicos sem similares
nacionais formulada.
• Meta 43: 100% das Unidades da Federação (UF) com um núcleo de produção
digital audiovisual e um núcleo de arte tecnológica e inovação.
• Meta 44: Participação da produção audiovisual independente brasileira na
programação dos canais de televisão, na seguinte proporção: 25% nos canais
da TV aberta; 20% nos canais da TV por assinatura.
• Meta 45: 450 grupos, comunidades ou coletivos beneficiados com ações de
Comunicação para a Cultura.
• Meta 46: 100% dos setores representados no Conselho Nacional de Política
Cultural (CNPC) com colegiados instalados e planos setoriais elaborados e
implementados.
• Meta 47: 100% dos planos setoriais com representação no Conselho Nacional
de Política Cultural (CNPC) com diretrizes, ações e metas voltadas para
infância e juventude.
• Meta 48: Plataforma de governança colaborativa implementada como
instrumento de participação social com 100 mil usuários cadastrados,
observada a distribuição da população nas macrorregiões do país (p. 128).
• Meta 49: Conferências Nacionais de Cultura realizadas em 2013 e 2017,
com ampla participação social e envolvimento de 100% das Unidades da
Federação (UF) e 100% dos municípios que aderiram ao Sistema Nacional
de Cultura (SNC).
• Meta 50: 10% do Fundo Social do Pré-Sal para a cultura (p. 132).
• Meta 51: Aumento de 37% acima do PIB, dos recursos públicos federais para
a cultura.
• Meta 52: Aumento de 18,5% acima do PIB da renúncia fiscal do governo
federal para incentivo à cultura.
• Meta 53: 4,5% de participação do setor cultural brasileiro no Produto Interno
Bruto (PIB).
FONTE: BRASIL. Ministério da Cidadania/Secretaria Especial de Cultura. Plano Nacional de
Cultura: metas do PNC. Brasília, DF: c2019. Disponível em: http://pnc.cultura.gov.br/metas-
do-pnc/. Acesso em: 3 dez. 2019.

O Plano Nacional de Cultura é parte constituinte de um órgão de suma


importância para o Setor Cultural, o Sistema Nacional de Cultura. Segundo a
Emenda Constitucional nº 71 de 29 de novembro de 2012 (BRASIL, 2012, s.p.):

Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime


de colaboração, de forma descentralizada e participativa, institui um
processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura,
democráticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e
a sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento humano,
social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais.

40
TÓPICO 4 | O PLANO NACIONAL DE CULTURA E OUTRAS LEGISLAÇÕES PERTINENTES

§ 1° O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na política nacional


de cultura e nas suas diretrizes, estabelecidas no Plano Nacional de
Cultura, e rege-se pelos seguintes princípios:
I- diversidade das expressões culturais;
II- universalização do acesso aos bens e serviços culturais;
III- fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e
bens culturais;
IV- cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e
privados atuantes na área cultural;
V- integração e interação na execução das políticas, programas,
projetos e ações desenvolvidas;
VI- complementaridade nos papéis dos agentes culturais; 
VII- transversalidade das políticas culturais;
VIII- autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil;
IX- transparência e compartilhamento das informações;
X- democratização dos processos decisórios com participação e
controle social;
XI- descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e
das ações;
XII- ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos
públicos para a cultura.

Ainda constitui a estrutura do Sistema Nacional de Cultura, os seguintes


componentes:

• Órgãos gestores da cultura:  executa as ações previstas no plano.


Pode ser secretaria, fundação ou uma unidade gestora ligada a
uma secretaria;
• Conselhos de política cultural:  contribui com a formulação
e o acompanhamento das políticas culturais, colabora com a
organização do plano – orientado pelas diretrizes estabelecidas na
conferência de cultura – e aprova sua forma final;
• Conferências de cultura:  encarregada de avaliar as políticas
culturais, analisar a conjuntura cultural e propor diretrizes para o
Plano de Cultura;
• Sistemas de financiamento à cultura: conjunto dos instrumentos
de financiamento público da cultura, tanto para as atividades
desenvolvidas pelo Estado, como para apoio e incentivo a
programas, projetos e ações culturais realizadas pela Sociedade;
• Planos de cultura:  documento de planejamento para orientar a
execução da política cultural da cidade. Ele estabelece estratégias
e metas, define prazos e recursos necessários à sua implementação
a partir das diretrizes definidas pela Conferência de Cultura. O
Plano é elaborado pelo órgão gestor da cultura com a colaboração
do Conselho de Política Cultural, a quem cabe aprová-lo;
• Sistemas setoriais de cultura:  são subsistemas do SNC que se
estruturam para responder com maior eficácia à complexidade da
área cultural, que se divide em muitos setores, com características
distintas, exemplo disso são o Sistema Brasileiro de Museus e o
Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas;
• Comissões Inter gestores:  são instâncias de negociação e
operacionalização do Sistema Nacional de Cultura;
• Sistemas de informações e indicadores culturais:  conjunto de
instrumentos de coleta, organização, análise e armazenamento de
dados – cadastros, diagnósticos, mapeamentos, censos e amostras
– a respeito da realidade cultural sobre a qual se pretende atuar; e

41
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

• Programas de formação na área da cultura: conjunto de iniciativas


de qualificação técnico-administrativa – cursos, seminários e
oficinas – de agentes públicos e privados envolvidos com a gestão
cultural, a formulação e a execução de programas e projetos
culturais (BRASIl, 2019b, s.p.).

Visto que o Sistema Nacional de Cultura abarca várias intenções para o


setor cultural do país, ele é de fundamental importância para a regulamentação,
revisão e monitoramento das ações na área da cultura do país, principalmente,
segundo GOMES (2017, p. 18-19):

[...] ressaltando a importância da participação da sociedade civil no


processo de construção e fiscalização das políticas públicas de cultura,
uma vez que para que as metas dos planos de cultura – nacional,
estaduais e municipais – e os princípios do Sistema Nacional de Cultura
tornem-se realidade na vida cotidiana dos cidadãos é necessário um
constante acompanhamento das ações dos governos para que todo
o ordenamento jurídico formulado democraticamente não se torne
apenas um programa de boas intenções.

Importante marco legislativo e regulatório, o Sistema Nacional de Cultura


vem trabalhando com afinco as questões referentes ao Plano Nacional de Cultura
e a todos os componentes que fazem parte de seu escopo de trabalho.

42
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Plano Nacional de Cultura — PNC — foi criado pela Lei n° 12.343, de 2 de


dezembro de 2010 com o objetivo de orientar o desenvolvimento de programas,
projetos e ações culturais que garantam a valorização, o reconhecimento, a
promoção e a preservação da diversidade cultural existente no Brasil.

• O PNC conta com 53 metas que são revisadas com frequência para que possam
ser alcançadas mediante análise dos participantes, foco em ações específicas e
investimentos em projetos específicos.

• O Sistema Nacional de Cultura possui os seguintes componentes: órgãos


gestores da cultura, conselhos de política cultural, conferências de cultura,
sistemas de financiamento à cultura, planos de cultura, sistemas setoriais
de cultura, comissões intergestores, sistemas de informações e indicadores
culturais e programas de formação na área da cultura.

43
AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa CORRETA que corresponde ao ano de criação do


Plano Nacional de Cultura:

a) ( ) 1998.
b) ( ) 2004.
c) ( ) 2010.
d) ( ) 1999.

2 (FBN, 2013) "O Plano Nacional de Cultura (PNC) é o conjunto de princípios,


objetivos, diretrizes, estratégias e metas que devem orientar o Poder
Público na formulação de políticas culturais. Seu objetivo é orientar o
desenvolvimento de programas, projetos e ações culturais que garantam a
valorização, o reconhecimento, a promoção e a preservação da diversidade
cultural existente no Brasil".

FONTE: BRASIL. Ministério da Cultura. As metas do plano nacional de cultura. Brasília:


Ministério da Cultura, 2012. p. 140.

Sobre o PNC, analise as afirmativas a seguir:

I- É um plano com planejamento de longo prazo, previsto para ser executado


em 20 anos, com revisões periódicas, de 4 em 4 anos, a serem realizadas
pelo Conselho Nacional de Política Cultural, responsável pela divulgação
dos resultados aos representantes da sociedade civil e do poder legislativo.
II- Prevê a formação do Sistema Nacional de Informações e Indicadores
Culturais (SNllC) como uma plataforma digital que reunirá os dados
estatísticos e indicadores do Ministério da Cultura, com o objetivo de
orientar a atuação de museus, bibliotecas e universidades na execução de
sua programação cultural.
III- Baseia-se em três eixos que contemplam a cultura como expressão
simbólica, como expressão dos direitos de cidadania e como potencial para
o desenvolvimento econômico, o que inclui processos de fortalecimento
de gestão e participação social.

Assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/178841>.
Acesso em: 3 mar. 2020.

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
d) ( ) se somente as afirmativas I e Il estiverem corretas.

44
3 (SEAP-DF, 2014) Acerca dos princípios do Sistema Nacional de Cultura,
assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/e9fe571d-e6>.
Acesso em: 3 mar. 2020.

a ( ) A democratização dos processos decisórios com participação e controle


social não compõe os princípios do Sistema Nacional de Cultura.
b ( ) Ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos
para a cultura e transversalidade das políticas culturais são princípios
do Sistema Nacional de Cultura.
c ( ) O Sistema Nacional de Cultura não se rege pela autonomia dos entes
federados e das instituições da sociedade civil.
d ( ) A complementaridade nos papéis dos agentes culturais não engloba as
ações do Sistema Nacional de Cultura.

45
46
UNIDADE 1
TÓPICO 5

O PAPEL DO IPHAN NA PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL

1 INTRODUÇÃO
Preservar o patrimônio cultural de um país é de extrema importância para
que as futuras gerações tenham acesso ao seu passado e ao legado cultural da
sociedade a que pertence. Para isso o poder público criou meios para que esse
patrimônio fosse preservado e difundido amplamente.

Uma das medidas tomadas para que estas iniciativas acerca do patrimônio
fossem concretizadas, a criação, em 13 de janeiro de 1937, sob o governo de Getúlio
Vargas, do SPHAN — Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional —,
pela Lei nº 378, depois denominado Iphan — Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. Saiba mais sobre o Instituto acompanhando este tópico.

2 O IPHAN E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL


E HISTÓRICO
Atualmente, o Iphan é uma autarquia ligada ao Ministério da Cidadania
e Secretaria Especial de Cultura respondendo pela preservação do Patrimônio
Cultural do Brasil. Proteção e preservação do Patrimônio Histórico Brasileiro é o
maior de seus objetivos.

FIGURA 18 - IMAGENS DO ACERVO DO IPHAN - BENS CULTURAIS BRASILEIROS

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/images/Banners/Banners_Menu/Banner_
Iphan.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2019.

47
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

No artigo 216 da Constituição Brasileira de 1988, o patrimônio cultural é


definido como formas de expressão, modos de criar, fazer e viver (BRASIL, 1988).
Também são assim reconhecidas as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; e, ainda, os  conjuntos urbanos  e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico.

Também, é reconhecida a existência de bens culturais de natureza


material e imaterial, além de estabelecer as formas de preservação desse
patrimônio: o  Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, o  Inventário
Nacional de Referências Culturais — INRC —  e o  Tombamento, ações estas
realizadas pelo Iphan.

O  Decreto nº 3.551, publicado em 4 de agosto de 2000, fundamentou o


Registro de Bens Culturais de natureza Imaterial, definindo, desta maneira, um
programa específico para a preservação destes bens. Segundo Iphan (2019ª, s.p.)
“o registro é um instrumento legal de preservação, reconhecimento e valorização
do patrimônio imaterial do Brasil, composto por bens que contribuíram para a
formação da sociedade brasileira.”

O registro é aplicado àqueles bens que obedecem às categorias


estabelecidas pelo Decreto: celebrações, lugares, formas de expressão e saberes,
ou seja, as práticas, representações, expressões, lugares, conhecimentos e
técnicas  que os grupos sociais reconhecem como parte integrante do seu
patrimônio cultural. Ao serem registrados, os bens recebem o título de
Patrimônio Cultural Brasileiro e são inscritos em um dos quatro  Livros de
Registro, de acordo com a categoria correspondente.

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/687/>. Acesso em: 9 abr. 2020.

Observe-os na figura a seguir e identifique suas diferenças:

48
Livros de Registro
Livro de Registro dos Saberes - Criado para receber os registros de bens imateriais que reunem conhecimentos e
modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades. Os Saberes são conhecimentos tradicionais associados a
atividades desenvolvidas por atores sociais reconhecidos como grandes conhecedores de técnicas, ofícios e matérias-
primas que identifiquem um grupo social ou uma localidade. Geralmente estão associados à produção de objetos e/
ou prestação de serviços que podem ter sentidos práticos ou rituais. Trata-se da apreensão dos saberes e dos modos
de fazer relacionados à cultura, memória e identidade de grupos sociais.

Livro de Registro das Celebrações - Reúne os rituais e festas que marcam vivência coletiva, religiosidade,
entretenimento e outras práticas da vida social. Celebrações são ritos e festividades que marcam a vivência coletiva de
um grupo social, sendo considerados importantes para a sua cultura, memória e identidade, e acontecem em lugares
ou territórios específicos e podem estar relacionadas à religião, à civilidade, aos ciclos do calendário, etc. São ocasiões
diferenciadas de sociabilidade, que envolvem práticas complexas e regras próprias para a distribuição de papéis,

49
preparação e consumo de comidas e bebidas, produção de vestuário e indumentárias, entre outras.

Livro de Registro das Formas de Expressão - Criado para registrar as manifestações artísticas em geral. Formas de
Expressão são formas de comunicação associadas a determinado grupo social ou região, desenvolvidas por atores
sociais reconhecidos pela comunidade e em relação às quais o costume define normas, expectativas e padrões
de qualidade. Trata-se da apreensão das performances culturais de grupos sociais, como manifestações literárias,
musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, que são por eles consideradas importantes para a sua cultura, memória e
identidade.

Livro de Registro dos Lugares - Nele são inscritos os mercados, feiras, santuários e praças onde se concentram e/ou
se reproduzem práticas culturais coletivas. Os Lugares são aqueles que possuem sentido cultural diferenciado para a
população local, onde são realizadas práticas e atividades de naturezas variadas, tanto cotidianas quanto excepcionais,
FIGURA 19 - LISTA DOS LIVROS DE REGISTRO PERTENCENTES AO IPHAN

tanto vernáculas quanto oficiais. Podem ser conceituados como lugares focais da vida social de uma localidade, cujos
atributos são reconhecidos e tematizados em representações simbólicas e narrativas, participando da construção dos

FONTE:<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122>. Acesso em: 16 dez. 2019.


sentidos de pertencimento, memória e identidade dos grupos sociais.
TÓPICO 5 | O PAPEL DO IPHAN NA PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

Com o objetivo de produzir conhecimento sobre os domínios da vida


social aos quais são atribuídos sentidos e valores que, portanto, constituem
marcos e referências de identidade para determinado grupo social foi criada uma
metodologia chamada de Inventário Nacional de Referências Culturais — INRC.
Essa metodologia contempla, além das categorias estabelecidas no Registro de
Bens Culturais, edificações associadas a certos usos, a significações históricas e a
imagens urbanas, independentemente de sua qualidade arquitetônica ou artística.

O tombamento é o instrumento de reconhecimento e proteção do


patrimônio cultural  mais conhecido, e pode ser feito pela administração
federal estadual e municipal. Em âmbito federal, o tombamento foi instituído
pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.

FONTE: <https://blog.enem.com.br/conheca-a-diferenca-entre-patrimonio-material-e-
imaterial/>. Acesso em: 9 abr. 2020.

A palavra tombo, significando registro, começou a ser empregada pelo


Arquivo Nacional Português, fundado por D. Fernando, em 1375, e originalmente
instalado em uma das torres da muralha que protegia a cidade de Lisboa. Com
o passar do tempo, o local passou a ser chamado de Torre do Tombo. Ali eram
guardados os livros de registros especiais ou livros do tombo. No Brasil, como
uma deferência, o Decreto-Lei adotou tais expressões para que todo o bem material
passível de acautelamento, por meio do ato administrativo do tombamento, seja
inscrito no Livro do Tombo correspondente (IPHAN, 2019b).

ATENCAO

Qualquer pessoa física ou jurídica pode solicitar o tombamento de qualquer


bem ao Iphan, para isso deve encaminhar correspondência à Superintendência do Iphan
em seu Estado, à Presidência do Iphan, ou ao Ministério da Cultura. Para ser tombado,
o bem passa por um processo administrativo que analisa sua importância em âmbito
nacional e, posteriormente, o bem é inscrito em um ou mais Livros do Tombo.  Os bens
tombados estão sujeitos à fiscalização realizada pelo Instituto para verificar suas condições
de conservação, e qualquer intervenção nesses bens deve ser previamente autorizada. 

FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/>. Acesso em: 8 nov. 2019.

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TÓPICO 5 | O PAPEL DO IPHAN NA PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Maria Coeli Simões Pires

Em que pese às críticas, e ao tratamento por vezes desabonador, o


fenômeno da chamada “Globalização” é reconhecido como propiciador do maior
intercâmbio de bens, pessoas e de valores já verificado na história. Essa intensa
troca não é impulsionada somente pelo comércio mundial e pelo deslocamento
de polos industriais, como também pela enorme rede de comunicações, cuja
extensão, complexidade e consequências (sic) não parecem ainda ter sido
plenamente compreendidas.

Nesse contexto, estruturam-se redes sociais complexas, que, na medida em


que permitem um acesso amplo a informações, também atuam como poderosos
instrumentos exportadores de padrões comportamentais e valorativos, até certo
ponto, similares às tradicionais relações de oferta e demanda. O choque entre
esses bens imateriais resulta no padecimento daqueles valores desguarnecidos
e ainda não consolidados por sua sociedade de origem, ou simplesmente na
quebra da autonomia, da liberdade e da igualdade que devem ser reciprocamente
reconhecidos a todos os membros de uma comunidade em conjunto ou
solidariamente.

Esse quadro de “colonialismo intelectual” é, de fato, um forte fator de


alienação cultural, de consequências (sic) gravosas, especificamente, no que diz
respeito à integração e à autonomia dessas sociedades. Em parte, é a preocupação
com tal quadro que motiva a defesa do direito de autodeterminação dos povos
perante a Organização das Nações Unidas, instância política e jurídica capaz de
guarnecer as minorias e de acautelar a diversidade cultural. Os Direitos Humanos
abarcam em sua amplitude o direito à herança cultural, seja na perspectiva dos
indivíduos, seja na da sociedade, a possibilitar a expressão e a vivência coletiva
desses valores.

É nesse ponto nevrálgico que se insere a importância axial do Patrimônio


Cultural material. Como representação viva da história e do legado de uma
sociedade para experiencificação no espaço comunitário, o Patrimônio Cultural
material é uma referência extremamente eficaz contra a “desterritorialização”
porque passam grupos sociais, culturas e mesmo nações de todo o globo. Trata-
se de um fenômeno de virtualização das referências ocasionado pelas rápidas
transformações a que são submetidos os grupos sociais ao influxo das complexas
soluções tecnológicas e consumistas.

Sob a ditadura desse avanço unilateral, são sacrificados centros de


tradição cultural e importantes marcos históricos regionais, o que facilita ainda
mais o progressivo esvanecimento do Patrimônio Cultural lato sensu e a inserção

51
UNIDADE 1 | CONCEITOS HISTÓRICOS CULTURAIS

de padrões e valores comportamentais ditos “mundiais”, e sem qualquer conexão


com as reais demandas, experiências ou vocações das sociedades atingidas.
Contra este modelo de “desterritorialização” é que deve ser consolidada uma
proteção eficaz do Patrimônio Cultural, como Direito Humano multifacetado. A
preservação do patrimônio material, sem prejuízo das cautelas relacionadas com
a proteção daquele de caráter imaterial, e, ainda, de 1 Artigo publicado no caderno
Direito & Justiça do jornal Estado de Minas, edição de 26 de setembro de 2011,
um processo criativo de construção da eticidade concreta, pode ser o último fator
aglutinador dos valores de um povo, capaz de assegurar o compartilhamento do
desenvolvimento social em nível regional e o intercâmbio de bens e informações
sem desintegração das fronteiras do mundo contemporâneo.

Uma visão atualizada da defesa, da promoção e da gestão do Patrimônio


Cultural, em sua dimensão humanista e universal, como contraponto ao processo
de alienação da sociedade, decorrente da faceta deletéria da “Globalização”
econômica e cultural, passa, necessariamente, pelo domínio do Direito
Internacional, que é, também, o nascedouro tutelar dos Direitos Humanos.
A proteção do patrimônio cultural deve ser, assim, tratada em uma dimensão
humana. As medidas acautelatórias e de preservação são fundamentadas pelo
poder que os bens culturais carregam, de referência para a identidade dos
seres humanos, pelos valores que traduzem ou expressam, pela capacidade de
transmitir testemunho ou sentimento.

Essa perspectiva antropocêntrica afasta a compreensão de um patrimônio


cultural divorciado do olhar, dos tantos sentidos e do sentimento das pessoas.
Como referência de identidade, o Patrimônio Cultural não é uma mera expressão
de carga valorativa herdada, mas, sobretudo, a carga valorativa que lhe é atribuída
no processo identitário e de fruição. Os valores estéticos, artísticos, históricos
e paisagísticos estão ligados, necessariamente, à lógica da fruição; não existem
por si, mas em relação com sujeitos, na reciclagem identidade-objeto. Do mesmo
modo, a cultura imaterial está intrinsecamente ligada à dimensão humana.

Não há expressão possível do patrimônio cultural dissociado das pessoas


que o ergueram e daqueles que lhe constituíram o destino. A dignidade humana,
superado o plano existencial em seus múltiplos desafios, deve ser garantida pelo
direito cultural na complexidade de sua expressão: produção de bens culturais;
participação democrática na gestão do patrimônio cultural; respeito à diversidade
étnica e regional; acesso aos bens culturais e fruição; direito à informação cultural,
participação no controle; e por fim, o direito de identidade com o patrimônio. É
dizer – as pessoas precisam, não apenas fruir do legado, mas ver-se refletidas nele.

FONTE::<http://www.mariacoeli.com.br/wp-content/uploads/2015/10/Artigo-Patrim%C3%B4nio-
Cultural-Jornal-Estado-de-Minas-Maria-Coeli.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2019.

52
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• Preservar o patrimônio cultural de um país é de extrema para a transmissão do


legado cultural para as futuras gerações.

• No dia 13 de janeiro de 1937, sob o governo de Getúlio Vargas, foi criado o


SPHAN — Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional —, pela Lei nº
378, depois denominado Iphan — Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional.

• O Iphan é uma autarquia ligada ao Ministério da Cidadania e Secretaria


Especial de Cultura que responde pela preservação do Patrimônio Cultural do
Brasil e pela proteção e preservação do Patrimônio Histórico Brasileiro.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

53
AUTOATIVIDADE

1 Pautado no Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, foi criado o


Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN. Trata-se
da primeira entidade que trabalhou pela preservação de bens culturais
na América Latina. Os tombamentos do período inicial desta instituição
focaram-se em:

a) ( ) bens culturais móveis e imóveis cuja preservação fosse de interesse público.


b) ( ) bens culturais e artísticos pertencentes ao patrimônio público da União.
c) ( ) bens culturais pertencentes ao Estado e à Igreja Católica.
d) ( ) bens culturais de caráter material e imaterial que simbolizassem a
cultura brasileira.

2 (TJ-MS, 2010) Em relação à defesa do patrimônio cultural, histórico e


artístico nacional, é INCORRETO afirmar:

FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/e7212e3c-a5>.
Acesso em: 3 mar. 2020.

a) ( ) equiparam-se aos bens que constituem o patrimônio histórico e artístico


nacional, sendo sujeitos a tombamento, os monumentos naturais, bem
como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição
notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados
pela indústria humana.
b) ( ) excluem-se do patrimônio histórico e artístico nacional as obras de
origem estrangeira que sejam trazidas para exposições comemorativas,
educativas ou comerciais.
c) ( ) o patrimônio histórico e artístico nacional é constituído pelo conjunto
dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja
de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico.
d) ( ) incluem-se no patrimônio histórico e artístico nacional as obras de
origem estrangeira que tenham sido importadas por empresas do
exterior expressamente para adorno dos respectivos estabelecimentos.

3 (MPE-MG, 2010) Sobre Patrimônio Cultural, é INCORRETO afirmar que:


FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/923bffb6-ec>.
Acesso em: 3 mar. 2020.

54
a) ( ) constituem patrimônio cultural brasileiro as formas de expressão;
os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e
tecnológicas; as obras; objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais e os conjuntos
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
b) ( ) o Poder Público promoverá e protegerá o patrimônio cultural por meio
de ação civil pública, termo de ajustamento de condutas, recomendação,
inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação.
c) ( ) o tombamento é um ato administrativo originário do Poder Executivo,
mas o Poder Legislativo (no caso, poder constituinte originário) tombou
os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos
antigos quilombos.
d) ( ) pode o Poder Judiciário, em ação civil pública promovida pelo
Ministério Público, declarar o valor cultural de um bem, decretar o seu
tombamento e determinar a inscrição no livro de tombo respectivo.

55
56
UNIDADE 2

PANORAMA DA LEGISLAÇÃO
CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E
NACIONAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer aspectos da legislação cultural no mundo;

• conhecer aspectos da legislação cultural brasileira;

• conhecer sobre a acessibilidade cultural e onde ela está inserida no Brasil


e no mundo;

• compreender as etapas e os processos de produção de um evento cultural


à luz da legislação vigente.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontrará
autoatividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL


MUNDIAL

TÓPICO 2 – PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL


NACIONAL

TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

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58
UNIDADE 2
TÓPICO 1

PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL MUNDIAL

1 INTRODUÇÃO
Tanto no Brasil quanto no exterior a cultura possui políticas específicas
para seu entendimento e para a criação de ações pontuais de preservação e
disseminação dos valores culturais de cada região. Essas políticas podem contar
com legislações que visam regulamentar ações e profissionais da área cultural,
bem como fomentar a cultura, por meio de editais para produtores culturais.

Cada país conta com pensamentos e iniciativas diferentes sobre o


desenvolver e disseminar a cultura para a população. Estas diferenças podem ser
percebidas por outras políticas públicas que são criadas, mostrando assim, quais
as prioridades que cada governo define.

A partir da criação de políticas públicas culturais, surgem também


legislações vigentes que definem como as ações devem ser executadas por quem e
para quem. Além disso, surgem também formas de garantir e preservar a cultura
local, por meio do fomento. Neste tópico você irá conhecer alguns aspectos da
legislação vigente na Europa, bem como na América.

2 AS POLÍTICAS CULTURAIS EUROPEIAS


A União Europeia, união econômica e política de 28 países membros,
possui um entendimento próprio de como garantir a disseminação e a preservação
da cultura de seu povo. Procuram com iniciativas específicas, promover e apoiar
as artes e as indústrias criativas das regiões.

A grande maioria das políticas que são realizadas para as áreas da


educação e para o desenvolvimento econômico e regional, tem viés cultural
envolvido em sua produção. Muitas iniciativas foram criadas para fomentar a
preservação histórica e cultural dos países que compõem a União Europeia.

A criação e a promoção da cultura no mundo interativo e globalizado


de hoje são indissociáveis das mídias e das tecnologias digitais. A UE
promove a colaboração a nível político em matéria de cultura entre os
governos nacionais e com as organizações internacionais (UE, 2020, s.p.).

59
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

Uma das muitas iniciativas criadas para o fomento da cultura na União


Europeia chama-se Europa Criativa, que se entende como um programa que tem
como principal objetivo o apoio aos setores criativo e cultural. O programa tem
duração de sete anos, com um orçamento de aproximadamente 14 milhões de
Euros para ações culturais.

O programa Europa Criativa está dividido em dois subprogramas:


o subprograma Media, que é voltado para as produções cinematográficas e
audiovisuais e o subprograma Cultura que se estende para outras expressões
culturais e artísticas. O programa apoia iniciativas como:

• O Prêmio da União Europeia para a Literatura (European Union


Prize for Literature — EUPL)
• Prêmio Europeu para a Arquitetura Contemporânea (European
Union Prize for ContemporaryArchitecture)
• A Marca do Patrimônio Europeu (European Heritage Label);
• O Prémio Europeu para o Patrimônio Cultural (Europa
NostraAwards)
• As Capitais Europeias da Cultura;
• Music Moves Europe Talent Award (ex-EBBA);
• A iniciativa Music Moves Europe (iniciativa para o diálogo com o
setor da música)
• A iniciativa Dias Europeus do Patrimônio (European Heritage Days)
• O apoio financeiro a projetos intersetoriais (estudos, linha de
financiamento ao apoio a projetos de integração de refugiados,
entre outros);
• O financiamento dos Criative Europe Desks (EUROPA, 2017, s.p.).

Além do Programa Europa Criativa, a União Europeia escolhe todos os


anos duas cidades que são consideradas as capitais da cultura. A iniciativa de
escolher estas cidades foi oficializada pela decisão do Conselho da União Europeia
entre os anos de 2007 a 2019.

FIGURA 1 – ATENAS/GRÉCIA – PRIMEIRA CIDADE A SER CONSIDERADA CAPITAL DA CULTURA


DA UNIÃO EUROPEIA EM 1985

FONTE: <https://www.ci.com.br/guia-mundo/paises/grecia>. Acesso em:17 jan. 2020.

60
TÓPICO 1 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL MUNDIAL

QUADRO 1 - LISTA DAS CIDADES ESCOLHIDAS COMO CAPITAIS DA CULTURA

• 1985 - Atenas (Grécia).


• 1986 - Florença (Itália).
• 1987 - Amsterdã (Países Baixos).
• 1988 - Berlim (Alemanha).
• 1989 - Paris (França).
• 1990 - Glasgow (Reino Unido).
• 1991 - Dublin (Irlanda).
• 1992 - Madrid (Espanha).
• 1993 - Antuérpia (Bélgica).
• 1994 - Lisboa (Portugal).
• 1995 - Luxemburgo (Luxemburgo).
• 1996 - Copenhag (Dinamarca).
• 1997 - Salónica (Grécia).
• 1998 - Estocolmo (Suécia).
• 1999 - Veimar (Alemanha).
• 2000 - Avinhão (França), Bergen (Noruega), Bolonha (Itália), Bruxelas (Bélgica),
Helsínquia (Finlândia), Cracóvia (Polónia), Reiquiavique (Islândia), Praga
(República Checa), Santiago de Compostela (Espanha).
• 2001 - Porto (Portugal), Roterdão (Países Baixos).
• 2002 – Bruges (Bélgica), Salamanca (Espanha).
• 2003 - Graz (Áustria).
• 2004 - Génova (Itália), Lille (França).
• 2005 - Cork (Irlanda).
• 2006 - Patras (Grécia).
• 2007 - Luxemburgo (Luxemburgo), Sibiu (Roménia).
• 2008 - Liverpool (Reino Unido), Stavanger (Noruega).
• 2009 - Linz (Áustria), Vilnius (Lituânia).
• 2010 - Essen (Alemanha), Pécs (Hungria), Istambul (Turquia).
• 2011 - Turku (Finlândia) | Tallinn (Estónia).
• 2012 - Guimarães (Portugal) | Maribor (Eslovénia).
• 2013 - Marseille (França)| Košice (Eslováquia).
• 2014 - Umeå (Suécia) | Riga (Latvia).
• 2015 - Mons (Bélgica) | Plzeň (República Checa).
• 2016 - Donostia-San Sebastián (Espanha) | Wroclaw (Polónia).
• 2017 - Aarhus (Dinamarca) | Pafos (Chipre).
• 2018 - Leeuwarden (Paises Baixos) | La Valeta (Malta).
• 2019 - Matera (Itália) | Plodiv (Bulgária).
FONTE: A autora

61
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

A seleção destas cidades é feita a partir do resultado de uma análise


detalhada de critérios, que são definidos pelas instituições europeias que fazem
parte dos programas realizados pelas organizações das cidades candidatas.

3 ACESSIBILIDADE CULTURAL NA EUROPA E NA AMÉRICA


Observando que cerca de 10% da população mundial possui algum tipo
de deficiência, alguns países desenvolveram políticas públicas e legislações
específicas para que a acessibilidade em locais públicos e culturais fosse cumprida.
No Brasil, por exemplo, apesar de a acessibilidade ser garantida por leis federais,
não são todos os destinos turísticos que cumprem as normas e tornam os locais
acessíveis a todos.

Na Europa, muitas cidades já vêm se preocupando em tornar espaços


públicos locais mais acessíveis. Lembrando que a acessibilidade é um grande
desafio visto que muitas das construções no continente são antigas, algumas
com mais de mil anos, ou seja, além de serem tombadas pelo patrimônio da
região, quando foram construídas nem se pensava em regras para acessibilidade.
(GONÇALVES, 2019)

FIGURA 2 - RAMPA DE ACESSO AO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS, LISBOA


FOTO LARISSA SCARANO, 2018

FONTE: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/12.140/7155>.
Acesso em: 27 jan. 2020.

Entretanto, muitas mudanças já estão sendo realizadas pelos países,


atualmente existem premiações que analisam o esforço de dezenas de cidades em
melhorar a acessibilidade e garantir que tarefas cotidianas possam ser realizadas,
no que diz respeito a transporte, infraestrutura, acesso a pontos turísticos, serviços,
além da implantação de tecnologias assistivas em locais de grande acesso.

62
TÓPICO 1 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL MUNDIAL

FIGURA 3 - CALÇADAS LARGAS E PLANAS, SEM OBSTÁCULOS, TORNAM OS LOCAIS ACESSÍVEIS


PARA A LOCOMOÇÃO DE PESSOAS COM ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA EM NOVA IORQUE

FONTE: <https://turistaprofissional.com/acessibilidade-em-nova-york-dicas/>. Acesso em: 27 jan. 2020.

Nos Estados Unidos, a cidade de Nova Iorque foi listada pela Fundação
Americana para Cegos (AFB) como um dos melhores lugares para se viver com
deficiência visual no país. Segundo a pesquisa realizada, Nova Iorque possui um
sistema de transporte público acessível, permitindo aos moradores o acesso a
atividades sociais e culturais a qualquer momento (GONÇALVES, 2019).

63
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A União Europeia — união econômica e política de 28 países membros — possui


um entendimento próprio de como garantir a disseminação e a preservação da
cultura de seu povo.

• Uma das muitas iniciativas criadas para o fomento da cultura na União


Europeia chama-se Europa Criativa, que se entende como um programa que
tem como principal objetivo o apoio aos setores criativo e cultural.

• Além do Programa Europa Criativa, a União Europeia escolhe todos os anos,


duas cidades, que são consideradas as capitais da cultura.

• Na Europa, muitas cidades já vêm se preocupando em tornar espaços públicos


em locais mais acessíveis.

64
AUTOATIVIDADE

1 Leia o texto a seguir:

“O acesso à cultura é um direito do cidadão. A Declaração Internacional de


Direitos Humanos (1948), documento de referência para garantia dos direitos
do homem, afirma, no artigo 27, que: ‘Todo ser humano tem o direito de
participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de
participar do progresso científico e de seus benefícios’. Isso significa que todos
os indivíduos, independentemente de sua origem, classe social, experiência
prévia, condição congênita, aquisição de deficiência ou quaisquer outros
fatores socioeconômicos que os identifiquem como minorias, têm o direito
de usufruir das manifestações e bens culturais. Nesse sentido, promover a
acessibilidade nos espaços culturais para pessoas com deficiência e novos
públicos e propiciar a eles o protagonismo é trabalhar pela garantia do direito
de participação de todo ser humano na vida cultural da comunidade”.

FONTE: SARRAF, V. P. Acessibilidade cultural para pessoas com deficiência: um


benefício de todos. Revista do Centro de Pesquisa e Formação, São Paulo, n. 6, p. 23-
43, jun. 2018. p. 24. Disponível em: <https://www.sescsp.org.br/files/artigo/d1209a56/
acb3/4bc1/92cc/183d6c085449.pdf>. Acesso em: 7 fev. 2020.

A partir da leitura do texto, disserte sobre a importância da acessibilidade


cultural em seus mais diversos ramos mundialmente.

2 (ENEM, 2016) Ações de educação patrimonial são realizadas em diferentes


contextos e localidades e têm mostrado resultados surpreendentes ao
trazer à tona a autoestima das comunidades. Em alguns casos, promovem o
desenvolvimento local e indicam soluções inovadoras de reconhecimento e
salvaguarda do patrimônio cultural para muitas populações.
FONTE: PELEGRINI, S. C. A.; PINHEIRO, A. P. (orgs.). Tempo, memória e
patrimônio cultural. Piauí: Edupi, 2010.

A valorização dos bens mencionados encontra-se correlacionada a ações


educativas que promovem a:

FONTE: <https://descomplica.com.br/gabarito-enem/questoes/2016-segunda-aplicacao/
primeiro-dia/acoes-de-educacao-patrimonial-sao-realizadas-em-diferentes-contextos-e-
localidades/>. Acesso em: 11 mar. 2020.

a) ( ) Evolução de atividades artesanais herdadas do passado.


b) ( ) Representações sociais formadoras de identidades coletivas.
c) ( ) Mobilizações políticas criadoras de tradições culturais urbanas.
d) ( ) Hierarquização de festas folclóricas praticadas por grupos locais.

65
3 Leia a reportagem a seguir:

As mais de 80 milhões de pessoas com deficiência que vivem na União Europeia


têm dificuldades em usar produtos do dia a dia: telemóveis, computadores,
livros digitais, e deparam-se bom barreiras em serviços importantes como uma
caixa multibanco ou distribuidoras automáticas de bilhetes de transporte, por
exemplo. A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (CNUDPD)  exige que a UE e os Estados-Membros garantam as
acessibilidades. É necessária a ação da UE para estabelecer normas comuns
de acessibilidade a nível europeu. As novas regras vão ajudar pessoas com
deficiência e idosos a tornarem-se parte ativa da sociedade em toda a Europa,
ao mesmo tempo que se incentivam as empresas a promover a inovação na
procura de produtos e serviços mais acessíveis.

FONTE: <https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/society/20190227STO28989/
aumentar-a-acessibilidade-aos-produtos-e-servicos-na-ue>. Acesso em: 29 jan. 2020.

A partir da reportagem, disserte sobre quais são as iniciativas e quem seriam


os responsáveis em garantir a acessibilidade para a população.

66
UNIDADE 2 TÓPICO 2

PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Falar de legislação na área cultural no Brasil provoca uma série de
discussões e necessita de grande estudo das leis e resoluções já existentes no
campo jurídico sobre essa área em específico. Essas leis, quando criadas, são
pensadas para preservar e garantir que a cultura possa ser regulamentada de
acordo com as necessidades de cada local.

É necessária uma leitura minuciosa nos textos da legislação para entender


como a política cultural avança no país, por meio das legislações de fomento da
cultura, bem como das leis que garantem que a cultura possa ser também um
meio de profissionalização e fomento.

Portanto, neste tópico será apresentado o panorama geral das leis existentes
em nosso território de forma a permitir a sua análise e compreender os contextos
em que as mesmas foram criadas, quais as oportunidades que garantem aos
profissionais da área, bem como quais os benefícios para a população elas trazem.

2 LEIS DE FOMENTO E DIFUSÃO DA CULTURA


O Brasil é um dos países da América que mais se preocupa com a criação
de leis e regulamentações na área da cultura. Na legislação encontramos diversos
textos que auxiliam os trabalhadores da área cultural a fomentar e difundir a
cultura por meio de leis de incentivo. A Lei n° 813 de 23 de dezembro de 1991,
que criou o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) passou por diversas
alterações desde sua criação, alterações estas que auxiliaram na inserção de regras
e normas para sua utilização.

Já o Decreto n° 5.761 de 27 de abril de 2006 regulamenta a Lei 8.313 de 23


de dezembro de 1991 e estabelece sistemática de execução do Programa Nacional
de Apoio à Cultura (Pronac). Para compreendermos como funciona a Lei de
Incentivo à Cultura, devemos considerar alguns pontos importantes:

• Os projetos contemplados pela Lei de Incentivo à Cultura não são financiados


com recursos públicos advindos do governo, e sim com dinheiro privado de
empresas que se colocam como interessadas em apoiar os projetos.
• Quem analisa os projetos e decide quais poderão ser contemplados pela lei é o
Governo Federal com uma comissão própria que realiza esta tarefa.

67
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

• Após passar pela aprovação do governo, o produtor cultural responsável pelo


projeto sai em busca de patrocínio para obter os recursos necessários para a
realização das ações.
• Pessoas físicas ou empresas podem patrocinar o projeto. Em troca, elas recebem
possibilidade de abatimento no Imposto de Renda de parte ou do total do valor
aplicado no projeto.

FIGURA 4 - PASSO A PASSO DE COMO FUNCIONA A LEI DE INCENTIVO A CULTURA

FONTE: <http://leideincentivoacultura.cultura.gov.br/wp-content/themes/idg-wp/assets/img/
info-caminho-rouanet-2.png?4>. Acesso em: 29 jan. 2020.

68
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

A seguir, conheça algumas partes importantes do texto que traz os


elementos da Lei de Incentivo à Cultura:

LEI Nº 8.313, DE 23 DE DEZEMBRO DE 1991

Restabelece princípios da Lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, institui


o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I
Disposições Preliminares

Art. 1° Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com


a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor de modo a:
I- contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da
cultura e o pleno exercício dos direitos culturais;
II- promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística
brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais;
III- apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus
respectivos criadores;
IV- proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade
brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional;
V- salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer
e viver da sociedade brasileira;
VI- preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histórico
brasileiro;
VII- desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores culturais
de outros povos ou nações;
VIII- estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal,
formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória;
IX- priorizar o produto cultural originário do País.
Art. 2° O Pronac será implementado através dos seguintes mecanismos:
I- Fundo Nacional da Cultura (FNC);
II - Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart);
III- Incentivo a projetos culturais.
§ 1° Os incentivos criados por esta Lei somente serão concedidos a projetos
culturais cuja exibição, utilização e circulação dos bens culturais deles
resultantes sejam abertas, sem distinção, a qualquer pessoa, se gratuitas, e a
público pagante, se cobrado ingresso. (Renumerado do parágrafo único pela
Lei nº 11.646, de 2008)
§ 2° É vedada a concessão de incentivo a obras, produtos, eventos ou outros
decorrentes, destinados ou circunscritos a coleções particulares ou circuitos
privados que estabeleçam limitações de acesso.  (Incluído pela Lei nº 11.646,
de 2008)

69
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

§ 3° Os incentivos criados por esta Lei somente serão concedidos a projetos


culturais que forem disponibilizados, sempre que tecnicamente possível,
também em formato acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto
em regulamento. Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 3° Para cumprimento das finalidades expressas no art. 1° desta lei, os
projetos culturais em cujo favor serão captados e canalizados os recursos do
Pronac atenderão, pelo menos, um dos seguintes objetivos:
I- incentivo à formação artística e cultural, mediante:
a) concessão de bolsas de estudo, pesquisa e trabalho, no Brasil ou no exterior,
a autores, artistas e técnicos brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil;
b) concessão de prêmios a criadores, autores, artistas, técnicos e suas obras,
filmes, espetáculos musicais e de artes cênicas em concursos e festivais
realizados no Brasil;
c) instalação e manutenção de cursos de caráter cultural ou artístico, destinados
à formação, especialização e aperfeiçoamento de pessoal da área da cultura,
em estabelecimentos de ensino sem fins lucrativos;
II- fomento à produção cultural e artística, mediante:
a) produção de discos, vídeos, obras cinematográficas de curta e média
metragem e filmes documentais, preservação do acervo cinematográfico
bem assim de outras obras de reprodução videofonográfica de caráter
cultural; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.228-1, de 2001)
b) edição de obras relativas às ciências humanas, às letras e às artes;
c) realização de exposições, festivais de arte, espetáculos de artes cênicas, de
música e de folclore;
d) cobertura de despesas com transporte e seguro de objetos de valor cultural
destinados a exposições públicas no País e no exterior;
e) realização de exposições, festivais de arte e espetáculos de artes cênicas ou
congêneres;
III- preservação e difusão do patrimônio artístico, cultural e histórico,
mediante:
a) construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equipamento
de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como
de suas coleções e acervos;
b) conservação e restauração de prédios, monumentos, logradouros, sítios e
demais espaços, inclusive naturais, tombados pelos Poderes Públicos;
c) restauração de obras de artes e bens móveis e imóveis de reconhecido valor
cultural;
d) proteção do folclore, do artesanato e das tradições populares nacionais;
IV- estímulo ao conhecimento dos bens e valores culturais, mediante:
a) distribuição gratuita e pública de ingressos para espetáculos culturais e
artísticos;
b) levantamentos, estudos e pesquisas na área da cultura e da arte e de seus
vários segmentos;
c) fornecimento de recursos para o FNC e para fundações culturais com fins
específicos ou para museus, bibliotecas, arquivos ou outras entidades de
caráter cultural;

70
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

V- apoio a outras atividades culturais e artísticas, mediante:


a) realização de missões culturais no país e no exterior, inclusive através do
fornecimento de passagens;
b) contratação de serviços para elaboração de projetos culturais;
c) ações não previstas nos incisos anteriores e consideradas relevantes pelo
Ministro de Estado da Cultura, consultada a Comissão Nacional de Apoio à
Cultura. (Redação dada pela Lei nº 9.874, de 1999).

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8313cons.htm>. Acesso em: 11 mar. 2020.

No primeiro Capítulo da Lei podemos entender alguns aspectos do Pronac


que estabelece que no Fundo Nacional de Cultura (FNC) os recursos serão obtidos
prioritariamente por meio de recursos públicos. Dentre os recursos públicos
podemos citar os do Tesouro Nacional, os fundos de investimentos regionais,
arrecadações lotéricas etc. Desse modo, o FNC estabelece que os projetos tenham
a intenção de serem voltados à cultura popular e não ao simples mecanismo de
geração de lucros, especialmente aos pequenos produtores e não aos projetos que
abranjam mídia nacional e grandes produtores.

Além disso, compreender as mais diversas formas de possibilidades


de fomento cultural que podem ser realizados a partir da lei é essencial para
que o produtor cultural possa organizar seu projeto de maneira a viabilizar sua
aprovação, entendendo que projetos variados podem ser organizados. Portanto,
ler e fragmentar a lei para seu maior entendimento garante que os projetos
possam ser aprovados por conta da democratização do acesso e da acessibilidade.

CAPÍTULO II
Do Fundo Nacional da Cultura (FNC)

Art. 4° Fica ratificado o Fundo de Promoção Cultural, criado pela Lei n° 7.505,


de 2 de julho de 1986, que passará a denominar-se Fundo Nacional da Cultura
(FNC), com o objetivo de captar e destinar recursos para projetos culturais
compatíveis com as finalidades do Pronac e de:
I- estimular a distribuição regional equitativa dos recursos a serem aplicados
na execução de projetos culturais e artísticos;
II- favorecer a visão interestadual, estimulando projetos que explorem
propostas culturais conjuntas, de enfoque regional;
III- apoiar projetos dotados de conteúdo cultural que enfatizem o
aperfeiçoamento profissional e artístico dos recursos humanos na área da
cultura, a criatividade e a diversidade cultural brasileira;
IV- contribuir para a preservação e proteção do patrimônio cultural e histórico
brasileiro;
V- favorecer projetos que atendam às necessidades da produção cultural e aos
interesses da coletividade, aí considerados os níveis qualitativos e quantitativos
de atendimentos às demandas culturais existentes, o caráter multiplicador dos

71
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

projetos através de seus aspectos socioculturais e a priorização de projetos em


áreas artísticas e culturais com menos possibilidade de desenvolvimento com
recursos próprios.
§ 1° O FNC será administrado pelo Ministério da Cultura e gerido por seu titular,
para cumprimento do Programa de Trabalho Anual, segundo os princípios
estabelecidos nos arts. 1o e 3o. (Redação dada pela Lei nº 9.874, de 1999)
§ 2° Os recursos do FNC somente serão aplicados em projetos culturais após
aprovados, com parecer do órgão técnico competente, pelo Ministro de Estado
da Cultura. (Redação dada pela Lei nº 9.874, de 1999)
§ 3° Os projetos aprovados serão acompanhados e avaliados tecnicamente
pelas entidades supervisionadas, cabendo a execução financeira à SEC/PR. [...]

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8313cons.htm>. Acesso em: 11 mar. 2020.

Outro ponto importante que a Lei nos traz, são os aspectos da importância
da cultura e da multiplicação de projetos voltados para a área social com cunho
cultural. A preservação e proteção do patrimônio histórico e cultural brasileiro
também são fundamentadas para que os projetos fomentem cada vez mais a área
cultural e histórica no Brasil.

CAPÍTULO III
Dos Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart)

Art. 8° Fica autorizada a constituição de Fundos de Investimento Cultural e


Artístico (Ficart), sob a forma de condomínio, sem personalidade jurídica,
caracterizando comunhão de recursos destinados à aplicação em projetos
culturais e artísticos.
Art. 9° São considerados projetos culturais e artísticos, para fins de aplicação
de recursos do FICART, além de outros que venham a ser declarados pelo
Ministério da Cultura: (Redação dada pela Lei nº 9.874, de 1999)
I- a produção comercial de instrumentos musicais, bem como de discos, fitas,
vídeos, filmes e outras formas de reprodução fonovideográficas;
II- a produção comercial de espetáculos teatrais, de dança, música, canto,
circo e demais atividades congêneres;
III- a edição comercial de obras relativas às ciências, às letras e às artes, bem
como de obras de referência e outras de cunho cultural;
IV- construção, restauração, reparação ou equipamento de salas e outros
ambientes destinados a atividades com objetivos culturais, de propriedade
de entidades com fins lucrativos;
V- outras atividades comerciais ou industriais, de interesse cultural, assim
consideradas pelo Ministério da Cultura. (Redação dada pela Lei nº 9.874,
de 1999).
[...]

72
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

CAPÍTULO IV
Do Incentivo a Projetos Culturais

Art. 18.  Com o objetivo de incentivar as atividades culturais, a União facultará


às pessoas físicas ou jurídicas a opção pela aplicação de parcelas do Imposto
sobre a Renda, a título de doações ou patrocínios, tanto no apoio direto a
projetos culturais apresentados por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas de
natureza cultural, como através de contribuições ao FNC, nos termos do art. 5o,
inciso II, desta Lei, desde que os projetos atendam aos critérios estabelecidos
no art. 1o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 9.874, de 1999)
§ 1° Os contribuintes poderão deduzir do imposto de renda devido as quantias
efetivamente despendidas nos projetos elencados no § 3o, previamente
aprovados pelo Ministério da Cultura, nos limites e nas condições estabelecidos
na legislação do imposto de renda vigente, na forma de: (Incluído pela Lei nº
9.874, de 1999).
a) doações; e (Incluída pela Lei nº 9.874, de 1999).
b) patrocínios. (Incluída pela Lei nº 9.874, de 1999).
§  2° As pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real não poderão
deduzir o valor da doação ou do patrocínio referido no parágrafo anterior
como despesa operacional. (Incluído pela Lei nº 9.874, de 1999).
§  3°  As doações e os patrocínios na produção cultural, a que se refere o §
1o, atenderão exclusivamente aos seguintes segmentos: (Redação dada pela
Medida Provisória nº 2.228-1, de 2001).
a) artes cênicas; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.228-1, de 2001).
b) livros de valor artístico, literário ou humanístico; (Redação dada pela
Medida Provisória nº 2.228-1, de 2001).
c) música erudita ou instrumental; (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.228-1, de 2001).
d) exposições de artes visuais; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.228-
1, de 2001).
e) doações de acervos para bibliotecas públicas, museus, arquivos públicos e
cinematecas, bem como treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos
para a manutenção desses acervos; (Redação dada pela Medida Provisória
nº 2.228-1, de 2001).
f) produção de obras cinematográficas e videofonográficas de curta e média
metragem e preservação e difusão do acervo audiovisual; e (Incluída pela
Medida Provisória nº 2.228-1, de 2001).
g) preservação do patrimônio cultural material e imaterial. (Incluída pela
Medida Provisória nº 2.228-1, de 2001).
h) construção e manutenção de salas de cinema e teatro, que poderão funcionar
também como centros culturais comunitários, em Municípios com menos
de 100.000 (cem mil) habitantes.  (Incluído pela Lei nº 11.646, de 2008).

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8313cons.htm>. Acesso em: 11 mar. 2020.

73
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

Os mais variados tipos de projetos podem ser patrocinados pela Lei,


sendo que alguns possuem itens específicos para suas solicitações, mas a ideia da
Lei é garantir que as mais diversas formas de expressão artística e cultural sejam
realizadas por meio de projetos de ações e/ou produtos culturais que fomentem
dentro das comunidades a arte e sua fruição.

Art. 23. Para os fins desta lei, considera-se:


I- (Vetado)
II- patrocínio: a transferência de numerário, com finalidade promocional ou
a cobertura, pelo contribuinte do imposto sobre a renda e proventos de
qualquer natureza, de gastos, ou a utilização de bem móvel ou imóvel do
seu patrimônio, sem a transferência de domínio, para a realização, por
outra pessoa física ou jurídica de atividade cultural com ou sem finalidade
lucrativa prevista no art. 3° desta lei.
§ 1° Constitui infração a esta Lei o recebimento pelo patrocinador, de qualquer
vantagem financeira ou material em decorrência do patrocínio que efetuar.
§ 2° As transferências definidas neste artigo não estão sujeitas ao recolhimento
do Imposto sobre a Renda na fonte.
Art. 24.  Para os fins deste Capítulo, equiparam-se a doações, nos termos do
regulamento:
I- distribuições gratuitas de ingressos para eventos de caráter artístico-
cultural por pessoa jurídica a seus empregados e dependentes legais;
II- despesas efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas com o objetivo de
conservar, preservar ou restaurar bens de sua propriedade ou sob sua
posse legítima, tombados pelo Governo Federal, desde que atendidas as
seguintes disposições:
a) preliminar definição, pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural - IBPC,
das normas e critérios técnicos que deverão reger os projetos e orçamentos
de que trata este inciso;
b) aprovação prévia, pelo IBPC, dos projetos e respectivos orçamentos de
execução das obras;
c) posterior certificação, pelo referido órgão, das despesas efetivamente
realizadas e das circunstâncias de terem sido as obras executadas de acordo
com os projetos aprovados.
Art.  25.   Os projetos a serem apresentados por pessoas físicas ou pessoas
jurídicas, de natureza cultural para fins de incentivo, objetivarão desenvolver
as formas de expressão, os modos de criar e fazer, os processos de preservação
e proteção do patrimônio cultural brasileiro, e os estudos e métodos de
interpretação da realidade cultural, bem como contribuir para propiciar meios,
à população em geral, que permitam o conhecimento dos bens de valores
artísticos e culturais, compreendendo, entre outros, os seguintes segmentos:
I- teatro, dança, circo, ópera, mímica e congêneres;
II- produção cinematográfica, videográfica, fotográfica, discográfica e congêneres;
III- literatura, inclusive obras de referência;
IV- música;
V- artes plásticas, artes gráficas, gravuras, cartazes, filatelia e outras congêneres;

74
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

VI- folclore e artesanato;


VII- patrimônio cultural, inclusive histórico, arquitetônico, arqueológico,
bibliotecas, museus, arquivos e demais acervos;
VIII- humanidades; e
IX- rádio e televisão, educativas e culturais, de caráter não-comercial.
Parágrafo  único.   Os projetos culturais relacionados com os segmentos
do inciso II deste artigo deverão beneficiar exclusivamente as produções
independentes, bem como as produções culturais-educativas de caráter não
comercial, realizadas por empresas de rádio e televisão. (Redação dada pela
Lei nº 9.874, de 1999).
Art.  26.   O doador ou patrocinador poderá deduzir do imposto devido na
declaração do Imposto sobre a Renda os valores efetivamente contribuídos em
favor de projetos culturais aprovados de acordo com os dispositivos desta Lei,
tendo como base os seguintes percentuais: (Vide arts. 5º e 6º, Inciso II da Lei nº
9.532 de, 1997).
I- no caso das pessoas físicas, oitenta por cento das doações e sessenta por
cento dos patrocínios;
II- no caso das pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, quarenta
por cento das doações e trinta por cento dos patrocínios.
§ 1° A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá abater as doações
e patrocínios como despesa operacional.
§ 2° O valor máximo das deduções de que trata o caput deste artigo será fixado
anualmente pelo Presidente da República, com base em um percentual da
renda tributável das pessoas físicas e do imposto devido por pessoas jurídicas
tributadas com base no lucro real.
§  3° Os benefícios de que trata este artigo não excluem ou reduzem outros
benefícios, abatimentos e deduções em vigor, em especial as doações a
entidades de utilidade pública efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas.
§ 4° (VETADO).
§ 5° O Poder Executivo estabelecerá mecanismo de preservação do valor real
das contribuições em favor de projetos culturais, relativamente a este Capítulo.
Art.  27.   A doação ou o patrocínio não poderá ser efetuada a pessoa ou
instituição vinculada ao agente.
§ 1° Consideram-se vinculados ao doador ou patrocinador:
a) a pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja titular, administrador,
gerente, acionista ou sócio, na data da operação, ou nos doze meses
anteriores;
b) o cônjuge, os parentes até o terceiro grau, inclusive os afins, e os dependentes
do doador ou patrocinador ou dos titulares, administradores, acionistas ou
sócios de pessoa jurídica vinculada ao doador ou patrocinador, nos termos
da alínea anterior;
c) outra pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja sócio.

75
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

§ 2° Não se consideram vinculadas as instituições culturais sem fins lucrativos,


criadas pelo doador ou patrocinador, desde que devidamente constituídas e
em funcionamento, na forma da legislação em vigor. (Redação dada pela Lei
nº 9.874, de 1999).
[...]
Art.  29.   Os recursos provenientes de doações ou patrocínios deverão ser
depositados e movimentados, em conta bancária específica, em nome do
beneficiário, e a respectiva prestação de contas deverá ser feita nos termos do
regulamento da presente Lei.
Parágrafo  único.   Não serão consideradas, para fins de comprovação do
incentivo, as contribuições em relação às quais não se observe esta determinação.
Art. 30.  As infrações aos dispositivos deste capítulo, sem prejuízo das sanções
penais cabíveis, sujeitarão o doador ou patrocinador ao pagamento do valor
atualizado do Imposto sobre a Renda devido em relação a cada exercício
financeiro, além das penalidades e demais acréscimos previstos na legislação
que rege a espécie.
§  1° Para os efeitos deste artigo, considera-se solidariamente responsável por
inadimplência ou irregularidade verificada a pessoa física ou jurídica propositora
do projeto. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 9.874, de 1999).
§ 2° A existência de pendências ou irregularidades na execução de projetos da
proponente junto ao Ministério da Cultura suspenderá a análise ou concessão de
novos incentivos, até a efetiva regularização. (Incluído pela Lei nº 9.874, de 1999).
§  3° Sem prejuízo do parágrafo anterior, aplica-se, no que couber,
cumulativamente, o disposto nos arts. 38 e seguintes desta Lei. (Incluído pela
Lei nº 9.874, de 1999).

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8313cons.htm>. Acesso em: 11 mar. 2020.

No ano de 2019 é divulgada a Instrução Normativa nº 2, que estabelece


procedimentos para ações específicas dos projetos culturais financiados por meio
do mecanismo de Incentivo Fiscal do Programa Nacional de Apoio à Cultura
(Pronac), desde sua apresentação até a entrega da prestação de contas final. Por meio
desta Instrução Normativa, algumas questões muito importantes, principalmente
referentes ao financeiro dos projetos foram alteradas e necessitaram de um olhar
mais criterioso dos produtores culturais.

Dentre essas mudanças podemos destacar:

• O valor máximo de captação por projeto inscrito passa a ser R$ 1 milhão.


• Valor máximo por empresa do setor cultural passa para R$ 10 milhões.
• Alcançados os limites de projetos previstos (máximo de 4 por pessoa física e de
16 por empresas), é possível aumentar em até 50% os realizados na região Sul,
no Espírito Santo e Minas Gerais; e em até 100% nas regiões Norte, Nordeste
ou Centro-Oeste.

76
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

• Plano de distribuição deve destinar mínimo de 20% dos ingressos para


distribuição gratuita com caráter social, educativo ou de formação artística; e
limite a, no máximo, 20% de distribuição gratuita para patrocinadores e ações
promocionais.
• 10% dos ingressos não podem custar mais de R$ 50.
• Todos os beneficiados devem realizar no mínimo uma ação de formação em
conjunto com a prefeitura do município onde o projeto será realizado.

CAPÍTULO V
Das Disposições Gerais e Transitórias

Art. 31.  Com a finalidade de garantir a participação comunitária, a representação


de artista e criadores no trato oficial dos assuntos da cultura e a organização
nacional sistêmica da área, o Governo Federal estimulará a institucionalização
de Conselhos de Cultura no Distrito Federal, nos Estados, e nos Municípios.
Art. 31-A.  Para os efeitos desta Lei, ficam reconhecidos como manifestação
cultural a música  gospel  e os eventos a ela relacionados, exceto aqueles
promovidos por igrejas. (Incluída pela Lei nº 12.590, de 2011).
Art. 32.  Fica instituída a Comissão Nacional de incentivo à Cultura - CNIC,
com a seguinte composição:
I- o Secretário da Cultura da Presidência da República;
II- os Presidentes das entidades supervisionadas pela SEC/PR;
III- o Presidente da entidade nacional que congregar os Secretários de Cultura
das Unidades Federadas;
IV- um representante do empresariado brasileiro;
V- seis representantes de entidades associativas dos setores culturais e
artísticos de âmbito nacional.
§ 1º A CNIC será presidida pela autoridade referida no inciso I deste artigo
que, para fins de desempate terá o voto de qualidade.
§ 2º Os mandatos, a indicação e a escolha dos representantes a que se referem
os incisos IV e V deste artigo, assim como a competência da CNIC, serão
estipulados e definidos pelo regulamento desta Lei.
Art. 33.  A SEC/PR, com a finalidade de estimular e valorizar a arte e a cultura,
estabelecerá um sistema de premiação anual que reconheça as contribuições
mais significativas para a área:
I- de artistas ou grupos de artistas brasileiros ou residentes no Brasil, pelo
conjunto de sua obra ou por obras individuais;
II- de profissionais da área do patrimônio cultural;
III- de estudiosos e autores na interpretação crítica da cultura nacional, através
de ensaios, estudos e pesquisas.
Art.  34.   Fica instituída a Ordem do Mérito Cultural, cujo estatuto será
aprovado por Decreto do Poder Executivo, sendo que as distinções serão
concedidas pelo Presidente da República, em ato solene, a pessoas que, por sua
atuação profissional ou como incentivadoras das artes e da cultura, mereçam
reconhecimento. (Regulamento).

77
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

Art. 35.  Os recursos destinados ao então Fundo de Promoção Cultural, nos


termos do art. 1o, § 6o, da Lei no 7.505, de 2 de julho de 1986, serão recolhidos
ao Tesouro Nacional para aplicação pelo FNC, observada a sua finalidade.
Art.  36.   O Departamento da Receita Federal, do Ministério da Economia,
Fazenda e Planejamento, no exercício de suas atribuições específicas, fiscalizará
a efetiva execução desta Lei, no que se refere à aplicação de incentivos fiscais
nela previstos.
Art. 37.  O Poder Executivo a fim de atender o disposto no art. 26, § 2o, desta
Lei, adequando-o às disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias, enviará,
no prazo de 30 dias, Mensagem ao Congresso Nacional, estabelecendo o total
da renúncia fiscal e correspondente cancelamento de despesas orçamentárias.
Art. 38.  Na hipótese de dolo, fraude ou simulação, inclusive no caso de desvio
de objeto, será aplicada, ao doador e ao beneficiário, multa correspondente a
duas vezes o valor da vantagem recebida indevidamente.
Art. 39.  Constitui crime, punível com a reclusão de dois a seis meses e multa
de vinte por cento do valor do projeto, qualquer discriminação de natureza
política que atente contra a liberdade de expressão, de atividade intelectual e
artística, de consciência ou crença, no andamento dos projetos a que se refere
esta Lei.
Art. 40.  Constitui crime, punível com reclusão de dois a seis meses e multa
de vinte por cento do valor do projeto, obter redução do imposto de renda
utilizando-se fraudulentamente de qualquer benefício desta Lei.
§ 1º No caso de pessoa jurídica respondem pelo crime o acionista controlador
e os administradores que para ele tenham concorrido.
§ 2º Na mesma pena incorre aquele que, recebendo recursos, bens ou valores
em função desta Lei, deixa de promover, sem justa causa, atividade cultural
objeto do incentivo.
Art. 41. O Poder Executivo, no prazo de sessenta dias, regulamentará a presente
lei.
Art. 42. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 43. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 23 de dezembro de 1991; 170° da Independência e 103° da República.

FERNANDO COLLOR
Jarbas Passarinho

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8313cons.htm>. Acesso em: 11 mar. 2020.

Portanto, mesmo com diversos problemas encontrados em projetos


já aportados pela Lei de Incentivo à Cultura, ela ainda é considerada um dos
principais meios de fomento da cultura no País, e é de fundamental importância
que continue existindo para que as mais diversas manifestações culturais, de
forma democrática e descentralizada possam ocorrer.

78
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

Outro mecanismo de fomento da cultura, criado no Brasil, é a Lei n° 8.685


de 1993 (BRASIL, 2020), chamada de Lei do Audiovisual. O objetivo dessa lei é o
investimento na produção e coprodução de obras cinematográficas e audiovisuais
e infraestrutura de produção e exibição. A ideia principal é a concessão de incentivos
fiscais às pessoas físicas e jurídicas que adquirem os chamados Certificados de
Investimento Audiovisual, ou seja, títulos representativos de cotas de participação
em obras cinematográficas, a Lei do Audiovisual permite que o investimento
seja até 100% dedutível do Imposto de Renda (limitado a 4% do IR devido, para
pessoas jurídicas) e o desembolso pode ser deduzido como despesa operacional
excluindo o valor investido no LALUR — Livro de Apuração de Lucro Real,
reduzindo a base de cálculo do próprio IR — Imposto de Renda e do adicional do
Imposto de Renda (BRASIL, 1993).

Para avançarmos na questão da difusão da cultura, é necessário que sejam


criadas políticas públicas diversas para o incentivo da prática do fazer cultural
bem como do consumo de cultura em geral. Com esse intuito foi criada a Lei n°
12.761 de 2012 que institui o Programa Cultura do Trabalhador:

LEI Nº 12.761, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2012

Institui o Programa de Cultura do Trabalhador; cria o vale-cultura;


altera as Leis nº s 8.212, de 24 de julho de 1991, e 7.713, de 22 de dezembro de
1988, e a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943; e dá outras providências.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica instituído, sob a gestão do Ministério da Cultura, o Programa de


Cultura do Trabalhador, destinado a fornecer aos trabalhadores meios para o
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura.
Art. 2º O Programa de Cultura do Trabalhador tem os seguintes objetivos:
I- possibilitar o acesso e a fruição dos produtos e serviços culturais;
II- estimular a visitação a estabelecimentos culturais e artísticos; e
III- incentivar o acesso a eventos e espetáculos culturais e artísticos.
§ 1º Para os fins deste Programa, são definidos os serviços e produtos culturais
da seguinte forma:
I- serviços culturais: atividades de cunho artístico e cultural fornecidas por
pessoas jurídicas, cujas características se enquadrem nas áreas culturais
previstas no § 2º; e
II- produtos culturais: materiais de cunho artístico, cultural e informativo,
produzidos em qualquer formato ou mídia por pessoas físicas ou jurídicas,
cujas características se enquadrem nas áreas culturais previstas no § 2º.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12761.htm>. Acesso


em: 11 mar. 2020.

79
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

Nos primeiros artigos da Lei nº 12.761, de 27 de dezembro de 2012


já podemos entender qual seu principal fundamento, ou seja, possibilitar e
democratizar o acesso à cultura aos trabalhadores, deixando-os usufruir do
que mais lhes agradam em termos de cultura. Nos itens seguintes, se propõem
a demonstrar as áreas e como a empresa deve agir para propiciar aos seus
colaboradores.

§ 2º Consideram-se áreas culturais para fins do disposto nos incisos I e II do § 1º:


I- artes visuais;
II- artes cênicas;
III- audiovisual;
IV- literatura, humanidades e informação;
V- música; e
VI- patrimônio cultural.
§ 3º O Poder Executivo poderá ampliar as áreas culturais previstas no § 2º.
Art. 3º Fica criado o vale-cultura, de caráter pessoal e intransferível, válido
em todo o território nacional, para acesso e fruição de produtos e serviços
culturais, no âmbito do Programa de Cultura do Trabalhador.
Art. 4º O vale-cultura será confeccionado e comercializado por empresas
operadoras e disponibilizado aos usuários pelas empresas beneficiárias para
ser utilizado nas empresas recebedoras.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
I- empresa operadora: pessoa jurídica cadastrada no Ministério da Cultura,
possuidora do Certificado de Inscrição no Programa de Cultura do
Trabalhador e autorizada a produzir e comercializar o vale-cultura;
II- empresa beneficiária: pessoa jurídica optante pelo Programa de Cultura do
Trabalhador e autorizada a distribuir o vale-cultura a seus trabalhadores
com vínculo empregatício, fazendo jus aos incentivos previstos no art. 10;
II- empresa beneficiária: pessoa jurídica optante pelo Programa de Cultura do
Trabalhador e autorizada a distribuir o vale-cultura a seus trabalhadores com
vínculo empregatício; (Redação dada pela Medida Provisória nº 620, de 2013)
II- empresa beneficiária: pessoa jurídica optante pelo Programa de Cultura do
Trabalhador e autorizada a distribuir o vale-cultura a seus trabalhadores
com vínculo empregatício; (Redação dada pela Lei nº 12.868, de 2013)
III- usuário: trabalhador com vínculo empregatício com a empresa beneficiária;
IV- empresa recebedora: pessoa jurídica habilitada pela empresa operadora
para receber o vale-cultura como forma de pagamento de serviço ou
produto cultural.
Art. 6º O vale-cultura será fornecido aos usuários pelas empresas beneficiárias
e disponibilizado preferencialmente por meio magnético, com o seu valor
expresso em moeda corrente, na forma do regulamento.
Parágrafo único. Somente será admitido o fornecimento do vale-cultura
impresso quando comprovadamente inviável a adoção do meio magnético.
Art. 7º O vale-cultura deverá ser fornecido ao trabalhador que perceba até 5
(cinco) salários mínimos mensais.

80
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

Parágrafo único. Os trabalhadores com renda superior a 5 (cinco) salários


mínimos poderão receber o vale-cultura, desde que garantido o atendimento
à totalidade dos empregados com a remuneração prevista no caput, na forma
que dispuser o regulamento.
Art. 8º O valor mensal do vale-cultura, por usuário, será de R$ 50,00 (cinquenta
reais).
§ 1º O trabalhador de que trata o caput do art. 7º poderá ter descontado de sua
remuneração o percentual máximo de 10% (dez por cento) do valor do vale-
cultura, na forma definida em regulamento.
§ 2º Os trabalhadores que percebem mais de 5 (cinco) salários mínimos
poderão ter descontados de sua remuneração, em percentuais entre 20% (vinte
por cento) e 90% (noventa por cento) do valor do vale-cultura, de acordo com
a respectiva faixa salarial, obedecido o disposto no parágrafo único do art. 7º e
na forma que dispuser o regulamento.
§ 3º É vedada, em qualquer hipótese, a reversão do valor do vale-cultura em
pecúnia.
§ 4º O trabalhador de que trata o art. 7º poderá optar pelo não recebimento do
vale-cultura, mediante procedimento a ser definido em regulamento.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12761.htm>. Acesso


em: 11 mar. 2020.

Com essa legislação em vigor, as empresas com Cadastro Nacional de


Pessoa Jurídica regular que estejam quites com todas as suas obrigações com a
Receita Federal do Brasil e que tenham empregados com vínculo empregatício
formal aderem ao programa como beneficiárias, garantindo um benefício de R$
50,00 por mês concedido aos seus trabalhadores.

Art. 9º Os prazos de validade e condições de utilização do vale-cultura serão


definidos em regulamento.
Art. 10. Até o exercício de 2017, ano-calendário de 2016, o valor despendido
a título de aquisição do vale-cultura poderá ser deduzido do imposto sobre a
renda devido pela pessoa jurídica beneficiária tributada com base no lucro real.
§ 1º A dedução de que trata o  caput  fica limitada a 1% (um por cento) do
imposto sobre a renda devido, observado o disposto no § 4º do art. 3º da Lei nº
9.249, de 26 de dezembro de 1995.
§ 2º A pessoa jurídica inscrita no Programa de Cultura do Trabalhador
como beneficiária, de que trata o inciso II do art. 5º, poderá deduzir o valor
despendido a título de aquisição do vale-cultura como despesa operacional
para fins de apuração do imposto sobre a renda, desde que tributada com base
no lucro real.
§ 3º A pessoa jurídica deverá adicionar o valor deduzido como despesa
operacional, de que trata o § 2º, para fins de apuração da base de cálculo da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL.

81
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

§ 4º As deduções de que tratam os §§ 1º e 2º somente se aplicam em relação ao


valor do vale-cultura distribuído ao usuário.
§ 5º Para implementação do Programa, o valor absoluto das deduções do
imposto sobre a renda devido de que trata o § 1º deverá ser fixado anualmente
na lei de diretrizes orçamentárias, com base em percentual do imposto
sobre a renda devido pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro
real. (Revogado pela Medida Provisória nº 618, de 2013) Revogado pela Lei nº
12.872, de 2013
Art. 11. A parcela do valor do vale-cultura cujo ônus seja da empresa
beneficiária:
I- não tem natureza salarial nem se incorpora à remuneração para quaisquer
efeitos;
II- não constitui base de incidência de contribuição previdenciária ou do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS; e
III- não se configura como rendimento tributável do trabalhador.
Art. 12. A execução inadequada do Programa de Cultura do Trabalhador ou
qualquer ação que acarrete desvio de suas finalidades pela empresa operadora
ou pela empresa beneficiária acarretará cumulativamente:
I- cancelamento do Certificado de Inscrição no Programa de Cultura do
Trabalhador;
II- pagamento do valor que deixou de ser recolhido relativo ao imposto sobre
a renda, à contribuição previdenciária e ao depósito para o FGTS;
III- aplicação de multa correspondente a 2 (duas) vezes o valor da vantagem
recebida indevidamente no caso de dolo, fraude ou simulação;
IV- perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito pelo período de 2 (dois) anos;
V- proibição de contratar com a administração pública pelo período de até 2
(dois) anos; e
VI- suspensão ou proibição de usufruir de benefícios fiscais pelo período de
até 2 (dois) anos. (BRASIL, 2020)

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12761.htm>. Acesso


em: 11 mar. 2020.

Esse benefício é cumulativo, sem prazo de validade e só pode ser usado


para aquisição de produtos e serviços culturais, em todo o território nacional.
E a empresa pode sofrer consequências caso execute de maneira errada o que o
Programa oferece ao trabalhador.

Um dos marcos históricos da evolução das políticas culturais no Brasil é


a Lei Cultura Viva. A lei tem como objetivo transformar o Programa Cultura Viva
e os Pontos de Cultura, na Política Nacional de Cultura Viva. A Lei da Cultura
Viva foi a primeira política nacional criada após a implantação do Sistema
Nacional de Cultura (PEC 416/2005 – art. 2016-A) e do Plano Nacional de Cultura

82
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

(Lei 12.343/2010) tendo como objetivo principal: “simplificar e desburocratizar os


processos de prestação de contas e repasse de recursos para as organizações da
sociedade civil; articulação de parceria entre União, Estados, Distrito Federal e
Municípios com a sociedade civil” (BRASIL, 2014, s.p.).

Procura consolidar-se como uma política de cunho comunitário,


garantindo à comunidade o exercício dos direitos culturais dos brasileiros e
transformando a cultura para o desenvolver social e político de cada região do
país. Os pontos de cultura, ação principal e norteadora desta lei, trazem ao país
reconhecimento internacional.

Além de que atendem o que já está disposto no art. 4º, inciso III, da Lei nº
13.018, de 22 de julho de 2014, que traz o Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de
Cultura como um dos instrumentos da Política Nacional de Cultura Viva, sendo
também um instrumento que possibilita visualizar os Pontos de Cultura para
atendimento da meta 23 do PNC (BRASIL, 2014). Entidades e coletivos culturais
passam a ser certificados como pontos de cultura, ampliando a divulgação de suas
ações, oferecendo visibilidade e democratizando ainda mais o acesso à cultura.

Outra legislação importante de ser comentada, e que atua diretamente na


democratização do acesso a eventos culturais é a Lei n° 12.933 de 26 de dezembro
de 2013, que dispõe sobre o benefício de meia entrada para estudantes, idosos,
pessoas com deficiência e jovens de quinze a vinte e nove anos comprovadamente
carentes a espetáculos artístico-culturais e esportivos.

3 ALGUMAS DISPOSIÇÕES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


REFERENTES À CULTURA
É no dispositivo legislativo supremo do país, que encontramos uma série
de deliberações sobre a cultura, sobre a arte e sobre a liberdade de expressão na
área cultural. Bezerra (2019, s.p.) nos traz um breve histórico do termo cultura nos
textos constitucionais:

[...] na Constituição Imperial de 1824 o vocábulo cultura aparece na


mesma concepção de cultivo. O Congresso Constituinte de 1891 é
marcado pela ausência do termo cultura. A cultura das letras, baseada
na Constituição alemã de Weimar, de orientação nazista, surge na
Constituição de 1934 ao tratar  “Da Educação e da Cultura”, onde
estabelece para o Estado (União, Estados e Municípios)  “favorecer
e animar o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da
cultura em geral, […] bem como prestar assistência ao trabalhador
intelectual”. A Constituição de 1937 em seu art. 52 estabelece que
integrantes do Conselho Federal sejam distinguidos por atividade
“em algum dos ramos da produção ou da cultura nacional”; assim,
a noção de cultura sobe sendo homologada à noção de proeminência.
A expressão “cultura nacional” abre as portas para uma perspectiva
social que pretende fazer sobrelevar uma certa “cultura oficial”. A
Constituição de 1946 é considerada tímida no trato da democracia

83
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

econômica e social, homologando  “missões culturais” a “missões


diplomáticas”, “conferências” e “congressos” de que podem participar
deputados e senadores. A Constituição de 1967, ditadura militar, deu
supervalorização positiva da cultura, como algo relacionado à família,
artes, letras, ciência e status social, atinge seu fastígio, seu ponto mais
alto; estabelece também que os Juízes Federais para serem nomeados
terão que ter “cultura e idoneidade moral”, homologando a cultura à
noção de caráter, de moralidade, da ideia de virtude perseguida pelo
modelo político vigente.

A Constituição Federal Brasileira de 1988 traz elementos importantes para


compreendermos como a cultura é regida no Brasil, já que ela é uma garantia
Constitucional prevista no Art. 215 da Constituição Federal (BRASIL, 1988, s.p.),
na qual está expresso que:  “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais”.

No Art. 5º o texto esclarece sobre a garantia da liberdade de se expressar


artisticamente, possibilitando a todos a execução de ações referentes a arte e a
cultura.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença (BRASIL,
1988, s.p.).

Já no Art. 23 (BRASIL, 1988, s.p.) a preocupação é com a proteção do


patrimônio artístico-cultural do país, bem como com a difusão e a garantia de
acessibilidade as mais diversas áreas artísticas.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
[...]
III- proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis
e os sítios arqueológicos;
IV- impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de
arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V- proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
VI- proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à
tecnologia, à pesquisa e à inovação;

A Constituição Federal de 1988 garante em seu texto bens  “de valor


cultural”, passando a garantir o  “respeito a valores culturais”  e incentivar
a “produção e o conhecimento de bens e valores culturais”. Como quem atribui
valor às coisas é o ser humano, percebe-se no texto todo o imaginário social e
cultural resultante de anos de discussão sobre o que é a cultura e sobre como
atuar diante dela no país.

84
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

A Constituição Federal Brasileira, também conhecida como Carta Magna,


deve ser lembrada e discutida no campo cultural por seu avanço histórico
oferecendo à cultura e à sociedade a consolidação de direitos fundamentais,
fazendo com que a cultura fosse discutida e aprimorada em diversas políticas
públicas desenvolvidas para seu fomento e difusão no país.

4 ACESSIBILIDADE CULTURAL NO BRASIL


A discussão sobre acessibilidade cultural é ainda muito recente quando
falamos de políticas públicas, ações, projetos e programas da área cultural, mesmo
assim, o Brasil ainda é um dos países da América que mais se preocupa em manter-
se atualizado e dentro das normas vigentes para garantia de acessibilidade. Como
esta é ainda uma área que está em construção, a acessibilidade cultural deve ser
compreendida como o direito de vivenciar experiências de fruição cultural com
igualdade de oportunidades para diversos públicos.

Para que se constitua a acessibilidade cultural é preciso garantir que


pessoas com algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida possam ser
inseridas no meio cultural, sem nenhuma forma de exclusão, garantindo a fruição
do equipamento cultural. Para Sarraf (2012, p. 68) “acessibilidade nos espaços
culturais pressupõe o desenvolvimento de novas estratégias de mediação, nas
quais todos os sentidos inerentes à percepção sejam envolvidos”. Um exemplo
de acessibilidade em âmbito cultural pode ser visto no documentário Percursos de
Acessibilidade Cultural Casa de Cultura Mario Quintana: uma pesquisa-ação inclusiva.
Nele são discutidas algumas questões de acessibilidade no dia a dia da Casa de
Cultura. A casa de cultura Mário Quintana é um prédio histórico  brasileiro  e
um centro cultural localizado na cidade de Porto Alegre, e é considerado um dos
maiores e melhores centros de cultura do país.

DICAS

Anajara Closs produziu um documentário para a Casa da Cultura Mário


Quintana, que fala sobre acessibilidade cultural. Confira o vídeo no site: https://lume.ufrgs.
br/handle/10183/103367.

85
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

FIGURA 5 - CASA DA CULTURA MÁRIO QUINTANA

FONTE: <http://museubrasil.org/fr/museu/casa-de-cultura-mario-quintana>. Acesso em: 28 jan. 2020.

Além de pensar arquitetonicamente nos espaços, para garantir


acessibilidade física para os cidadãos é necessário pensarmos em outros tipos de
deficiência que requerem um serviço diferenciado:

• Pessoas cegas e com baixa visão: audiodescrição, transcrição de


textos em Braille ou caracteres ampliados com alto contraste,
recursos táteis e multissensoriais, sinalização tátil e ampliada.
• Pessoas surdas e com deficiência auditiva: tradução em Libras,
legendas em português e estenotipia.
• Pessoas com surdocegueira: transcrição de textos em Braille,
estenotipia Braille, recursos táteis e multissensoriais e
acompanhamento de Guia-Intérprete.
• Pessoas com deficiência intelectual: textos redigidos sob o código de
Leitura Fácil, atividades práticas com recursos sensoriais e oficinas
criativas.
• Pessoas com transtorno do espectro autista: ambiente tranquilo,
silencioso, com equilíbrio de estímulos sensoriais e com poucas
pessoas. Informações oferecidas de forma escalonada (SARRAF,
2018, p. 11).

No Plano Nacional de Cultura, considerando o número de ações e


metas que são específicos para as pessoas com algum tipo de deficiência ou
mobilidade reduzida, ainda o número é muito reduzido. Entretanto, muitas
expressões são utilizadas de forma a remeter ao termo inclusão e acessibilidade
como, “democratização”, “acesso de todos”, “inclusão de grupos que sofrem
marginalização”, “universalização”.

De maneira explicita, são citadas cinco ações e uma estratégia que


originam a meta referente às pessoas com deficiência. Mesmo sendo poucas
vezes utilizado o termo “pessoa com deficiência” as metas buscam a auxiliar
nas questões referentes a acessibilidade. Uma das metas mais ambiciosas é a de
número 29 que diz:

86
TÓPICO 2 | PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO CULTURAL NACIONAL

Meta 29 – 100% de bibliotecas públicas, museus, cinemas, teatro,


arquivos públicos e centros culturais atendendo aos requisitos legais
de acessibilidade e desenvolvendo ações de promoção de fruição
cultural por parte das pessoas com deficiência” (BRASIL, 2020, s.p.).

A partir disso os espaços culturais diversos passam a serem vistos pela


sociedade não como meros guardiões, difusores e expositores de bens materiais
e imateriais, mas como ambientes que acolhem a todos, oferecendo os recursos
necessários para acessibilidade e garantindo, assim, a igualdade de oportunidade
na hora de conhecer e se reconhecer em um ambiente cultural.

87
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Brasil é um dos países da América que mais se preocupa com a criação de


leis e regulamentações na área da cultura.

• A Lei n° 813 de 1991, que criou o Pronac - Programa Nacional de Apoio à


Cultura -, passou por diversas alterações desde sua criação, alterações estas
que auxiliaram na inserção de regras e normas para sua utilização.

• Outro mecanismo de fomento da cultura, criado no Brasil, é a Lei 8.685 de


1993, chamada de Lei do Audiovisual. O objetivo dessa lei é o investimento
na  produção  e coprodução de obras  cinematográficas  e audiovisuais e
infraestrutura de produção e exibição.

• Para irmos mais além à questão da difusão da cultura, é necessário que sejam
criadas políticas públicas diversas para o incentivo da prática do fazer cultural
bem como do consumo de cultura em geral. Com esse intuito foi criada a Lei
12.761 de 2012 de institui o Programa Cultura do Trabalhador.

• A discussão sobre acessibilidade cultural é ainda muito recente quando falamos


de políticas públicas, ações, projetos e programas da área cultural, mesmo assim,
o Brasil ainda é um dos países da América que mais se preocupa em manter-se
atualizado e dentro das normas vigentes para garantia de acessibilidade.

• A Constituição Federal Brasileira de 1988 traz elementos importantes para


compreendermos como a cultura é regida no Brasil, já que ela é uma garantia
Constitucional.

88
AUTOATIVIDADE

1 Com relação às Leis de Incentivo à Cultura, analise as sentenças a seguir:

I- O processo de institucionalização da cultura está articulado com a


conjuntura mundial que atrela acultura a uma dimensão correspondente
ao desenvolvimento humano, social e econômico.
II- A legislação cultural brasileira transfere do Estado para o mercado o
poder de decisão quanto à seleção de projetos culturais financiáveis
pelas empresas, após aprovação das comissões formadas nas instituições
públicas de cultura.
III- O Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC) foi apresentado pelo
Senador José Sarney ao Congresso Nacional em 1985.
IV- O Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC) é formado por três
mecanismos básicos: incentivo fiscal ou mecenato, fundo nacional de
cultura e o fundo de investimento cultural e artístico.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
c) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.

2 Analisando as Leis de Incentivo e Fomento da Cultura no Brasil, é INCORRETO


afirmar que:

a) ( ) A Lei de Incentivo à Cultura, Lei 8.313/1991, foi criada com a finalidade


de estimular a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais,
proteger e conservar o patrimônio histórico e artístico e promovera difusão
da cultura brasileira e a diversidade regional, entre outras funções.
b) ( ) O mecenato é uma forma de estimular o apoio da iniciativa privada
ao setor cultural através de proposta cultural ao Ministério da Cultura
(MinC) que, aprovada, pode captar recursos junto a pessoas físicas
pagadoras de Imposto de Renda (IR) ou empresas tributadas com base
no lucro real, visando à execução do projeto.
c) ( ) O Fundo Nacional de Cultura - FNC - é um fundo de natureza contábil,
com prazo indeterminado de duração, que funciona sob as formas de
apoio a fundo perdido ou de empréstimos reembolsáveis.
d) ( ) Os valores destinados aos projetos culturais saem diretamente do
governo e não dos impostos de empresas que aceitam patrocinar
determinados projetos culturais.

89
3 No país, existem diversos meios de fomento e incentivo a cultura, seja
por leis ou por Fundos criados especificamente para este fim. Assinale a
alternativa que melhor define o que são os Fundos de Cultura:

a) ( ) Investimento que uma empresa faz com o intuito de receber em troca


um retorno institucional e/ou de marketing, coerente com o valor
aplicado no projeto.
b) ( ) Política cultural que fornece subsídios aos artistas.
c) ( ) Fundos constituídos, sem personalidade jurídica, e administrados por
instituição financeira.
d) ( ) Verbas alocadas pelo poder público e por algumas instituições sem
fins lucrativos que visam promover o desenvolvimento e estímulo ao
artista, à produção cultural e à experimentação.

4 Para que um projeto cultural possa ser divulgado, ele requer alguns
instrumentos de publicização. Dentre as alternativas para a divulgação de
projetos, apresentações, festivais e produtos culturais, destacam-se, EXCETO:

a) ( ) E-mails.
b) ( ) TV aberta.
c) ( ) Clipping.
d) ( ) Revistas.

90
UNIDADE 2 TÓPICO 3

LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS

1 INTRODUÇÃO
As leis de incentivo e fomento no país são bastante rigorosas no quesito
aprovação e comprovação de sua execução primorosa. Seguir as regras básicas de
cada edital trás para o produtor cultura a segurança de que seu trabalho foi bem
desenvolvido e seus objetivos alcançados. Portanto, seguir as legislações vigentes
sobre eventos culturais é primordial para o bom desenvolvimento dos trabalhos.

Após a aprovação de projetos e recebimento de patrocínios, é hora de


executar ações culturais que podem culminar em eventos específicos da área.
Essas ações culturais, geralmente, buscam uma quantidade específica de público,
disseminando e democratizando ainda mais a cultura, sendo assim, ações
precisam ser realizadas e posteriormente fiscalizadas para que tudo corra com o
máximo e segurança.

Esses eventos culturais também merecem uma atenção especial e devem


ser organizados levando-se em consideração uma série de legislações pertinentes
para seu pleno funcionamento. Neste tópico serão abordados assuntos referentes
ao planejamento e execução de eventos culturais, seguindo critérios legislativos.

2 REGISTRO DE NOME DO EVENTO


Produzir e organizar um evento cultural demanda tempo e a realização de
um checklist para cumprir todas as demandas burocráticas que ele exige. Desde
pensar o nome para o evento até cuidados com a segurança dos participantes são
tarefas que o produtor cultural deve realizar.

Após pensar a tipologia do evento cultural, escolher o nome é a primeira


demanda de trabalho. O nome irá representar o estilo do evento, bem como trará
impressões aos interessados em participar dele. Escolher o nome é escolher uma
marca, e uma marca necessita de um registro. Mas porque registrar o nome do
seu evento? Esse registro garante que apenas o seu evento cultural terá o nome
escolhido e evita que outras pessoas, produtores ou empresas utilizem o nome do
seu evento para ganhar dinheiro ou se promover.

91
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

O processo de registro de um evento é feito no o Instituto Nacional da


Propriedade Industrial (INPI). Inicialmente é preciso pesquisar o nome escolhido
para o evento no banco de dados do INPI, o que facilita bastante o processo.
Depois constatado que o nome do seu evento é único, o próximo passo é registrar
esse nome na plataforma.

NTE
INTERESSA

Você sabia que o festival Tomorrowland não pode usar este nome de evento
nos Estados Unidos? No país o nome Tomorrowland já estava registrado pela Disney. Por
isso, quando os produtores do evento realizaram suas edições por lá, o evento chamou-se
TomorrowWorld.

FIGURA 6 - ESTRUTURA DO TOMORROWLAND

FONTE: <http://soultraveler.com.br/pacote-de-viagem/tomorrowland-na-belgica-2020/>.
Acesso em: 25 jan. 2020.

Para que o processo de registro aconteça, não existe um tempo


determinado. Como o processo é constituído por várias etapas, pode-se levar até
dois anos para a finalização do registro (SOARES; COSTA, 2020).  Apenas após
este período, que a solicitação é ou não deferida pela plataforma. Neste tempo, o
INPI pode solicitar informações ou documentos ao requerente do registro. Além
disso, é nesse mesmo período, que o pedido de registro é apresentado ao público
para conhecimento e oposição.

Quando o nome do evento é aprovado, o requerente paga taxas para a


expedição do certificado de registro e garante a proteção do nome do evento por
um prazo de dez anos. Questões como o nome do evento devem ser pensadas
pelo produtor cultural, pois isso garante que o evento seja exclusivo e que garanta
ao longo dos anos uma continuidade.

92
TÓPICO 3 | LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS

3 ALVARÁS ESPECÍFICOS PARA EVENTOS


Depois do nome do evento escolhido, é hora de pensar nas demais
questões burocráticas referentes à execução dele. Nessa hora é necessário verificar
como funciona a emissão de alvarás de funcionamento na cidade onde o evento
será realizado. Lembrando que cada local possui uma documentação diferente e
requer atenção aos detalhes relativos àquela localidade.

Os alvarás são emitidos para eventos temporários, ou seja, cada evento


que for feito será necessário um alvará individual. Esse documento garante que
seu evento possa ocorrer sem problemas com as autoridades, além de garantir a
segurança das pessoas que frequentarão o evento.

O primeiro passo para conseguir o seu alvará deve ser a preparação,


uma vez que o documento costuma demorar um tempo para ficar
pronto. O prazo ideal para iniciar o processo é de  40 dias  antes de
eventos grandes, como feiras e exposições, e de 15 dias antes em caso
de eventos menores, como festas e casamentos. O prazo costuma ser
diferente de uma cidade para outra — portanto, verifique como isso é
feito no município onde acontecerá o evento e esteja preparado para
imprevistos (certa demora ou até falta de algum documento) (CURY,
2020a, s.p.).

Alguns documentos são básicos e geralmente solicitados em todos
os estados. O número de pessoas, pode influenciar também na solicitação de
documentos adicionais. Quanto maior o evento, mais documentos são necessários.
Observe uma relação desses documentos (CURY, 2020a, s.p.):

• Termo de responsabilidade disponibilizado no site das autoridades


preenchido e assinado.
• Contrato e certificado da empresa de segurança contratada com
todas as suas atribuições para o local.
• Contrato de locação (se for um local privado).
• Laudo Técnico de Segurança e Anotação de Responsabilidade Técnica
caso o evento tenha alguma estrutura que tenha que ser montada
durante o evento.
• Caso o local que receberá o evento já tenha uma estrutura, o
documento deve ser solicitado junto ao local do evento.
• Cópia de comunicação à Polícia e ao Corpo de Bombeiro da cidade.
• Contrato com a empresa de saúde escalada para o evento.
• Já o produtor, quando for fazer a solicitação do alvará, deve levar os
seguintes documentos pessoais (independentemente do tipo de evento):
◦ cópias do RG;
◦ CPF;
◦ comprovante de residência;
◦ cópia de IPTU do imóvel ocupado pelo requerente.

O produtor cultural, desenvolvedor de projetos e de eventos deve estar


ciente de todas as taxas e documentos que deverá garantir para que seu evento
seja realizado com segurança e sem problemas com as autoridades, visto que
quando um evento tem toda a documentação correta, qualquer coisa que venha a
acontecer, o evento estará assegurado.

93
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

4 SEGURANÇA E SAÚDE EM EVENTOS CULTURAIS


Pensar no bem-estar das pessoas que irão frequentar o evento é mais
importante do que o sucesso da atração. Por isso, o produtor cultural deve estar
atento a legislação referente à segurança e vigilância sanitária do local onde o
evento irá acontecer.

FIGURA 7 - EVENTOS EM SEGURANÇA

FONTE: <http://www.acordecultural.com.br/blog/seguranca-de-eventos/>. Acesso em: 28 jan. 2020.

É importante zelar pela saúde dos convidados e pela higiene de onde


eles serão atendidos. Conhecer todo o espaço do evento, toda sua infraestrutura
para entender se há espaço suficiente para atendimento médico, entrada de
ambulâncias e outros serviços que podem ser solicitados. Dependendo de
cada alvará serão necessários médicos e socorristas que estejam capacitados e
preparados para atendimentos emergenciais, caso ocorra algum imprevisto com
os participantes.

Além da contratação de profissionais qualificados, o local de atendimento


deve estar em condições adequadas. Faz-se necessária uma ou mais salas arejadas,
com equipamentos atuais e kit de primeiros socorros, além, claro, da higiene,
tudo isso dependendo da quantidade de público esperado.

E
IMPORTANT

Os critérios da Vigilância Sanitária variam de uma região para outra, já que de


acordo com a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, cada município deve normalizar as
ações e serviços de saúde no seu âmbito de atuação. Portanto, é necessário verificar no local
onde irá acontecer o evento, quais as normas solicitadas por cada entidade fiscalizadora.

94
TÓPICO 3 | LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS

Se o evento for servir ou comercializar alimentos, a atenção deve ser


redobrada e o cuidado com as exigências da vigilância sanitária observadas
minuciosamente. “A comida deve ser preparada por profissionais habilitados.
Caso não seja feita no local, a manipulação dos alimentos deve ser transportada
cuidadosamente para evitar risco de contágio” (CURY, 2020b, s.p.).

5 O ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E


DISTRIBUIÇÃO (ECAD) E DIREITO AUTORAL
A música é elemento fundamental que garante a animação de eventos
culturais, esportivos ou de qualquer que seja a temática. Mas, não basta providenciar
um equipamento de som ou artistas que interpretem as músicas e sim é obrigatório
realizar o pagamento da taxa do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição
(ECAD) para evento.

Muitas vezes por falta de planejamento financeiro como também de


conhecimento que muitos produtores de eventos acabam deixando de realizar
o pagamento desta taxa, fazendo com que os direitos autorais das músicas
reproduzidas não sejam pagos.

A Lei 9.610/98 — Lei de Direitos Autorais —, garante por meio do


pagamento de taxas sobre os eventos, a remuneração de compositores, músicos
e gravadoras de qualquer música quando ela é reproduzida. Esta taxa é paga
ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direitos Autorais, órgão
responsável pela fiscalização e controle das músicas executadas em público em
todo o território brasileiro. O produtor cultural deve, com antecedência, procurar
o órgão responsável e realizar o pagamento da taxa do ECAD para que assim não
se tenha problemas judiciais incidentes sobre o produtor, pagamento de multas e
até mesmo a interrupção do evento.

Os valores cobrados da taxa do Escritório Central de Arrecadação e


Distribuição (ECAD) varia mediante as diferentes características de cada evento.
Estipulou-se um valor de referência — a Unidade de Direito Autoral (UDA) —
de R$ 77,21. Entretanto, o valor final da taxa a ser paga será definido a partir de
algumas especificidades do evento:

• área total do local do evento;


• capacidade de público;
• valor arrecadado com os ingressos vendidos;
• forma de utilização da música (se ao vivo ou mecânica);
• duração do evento;
• região onde ele acontece;
• tempo de uso das músicas em relação ao tempo total do evento.

95
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

A taxa do ECAD também categoriza seus usuários para a definição do


valor que será cobrado (ALVES, 2020, s.p.):

• Permanente: que realiza eventos com música ao menos oito dias por


mês, durante 10 meses ao ano.
• Eventual: realizam eventos com música de maneira esporádica.
• Usuários gerais:  lojas e estabelecimentos comerciais que utilizam
músicas como forma de ambientação (academias, boates, hotéis,
restaurantes etc.).
• Shows e eventos:  casas de espetáculos com shows eventuais,
promotores de eventos, festas de Carnaval, festa junina, Réveillon,
exposições, eventos esportivos etc.
• Emissoras de rádio e televisão.
• Salas de cinema e projeção de filmes.
• Serviços digitais (sites e aplicativos) para reprodução de música.

ATENCAO

Eventos como festas de casamento, bailes de formatura e eventos sociais


também devem pagar a taxa do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD).
Geralmente, o responsável pelo espaço fica como encarregado do pagamento das taxas,
repassando os custos ao produtor do evento.

Existem alguns tipos de eventos que são isentos de cobrança da taxa do


Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), entre eles:

• eventos particulares, realizados em propriedade privada (se houver cobrança


de ingresso, o evento passa a ser considerado público);
• cultos religiosos, mesmo que sejam realizados em locais públicos;
• eventos de cunho educacional.

No caso para os tipos de eventos acima citados, seus produtores não


são obrigados a pagar a taxa, mas, necessitam informar ao Escritório Central
de Arrecadação e Distribuição (ECAD) previamente que realizarão o evento e
quais as músicas que serão reproduzidas. Este encaminhamento das músicas que
foram executadas durante o evento serve para todos os tipos.

De acordo com a nova Lei 12.853/13, que dispõe sobre a gestão coletiva
de direitos autorais, altera, revoga e acrescenta dispositivos à  Lei nº 9.610, de
19 de fevereiro de 1998, também é preciso encaminhar ao Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição (ECAD) uma lista com todas as músicas executadas
durante o evento. Isso garante que a remuneração aos artistas e compositores seja
feita corretamente.

96
TÓPICO 3 | LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS

6 LEI DOS ARTISTAS


A Lei n° 6.533 de 24 de maio de 1978, também conhecida como Lei dos
Artistas, regulamenta a apresentação de artistas e técnicos em espetáculos e
shows. Essa lei obriga os profissionais contratados, sejam eles pessoas físicas e/ou
jurídicas estejam inscritas no Ministério do Trabalho para que possam assessorar
e produzir tais eventos. Para isso, é necessário que seja feito um contrato com
estes profissionais e que seus direitos trabalhistas sejam assegurados. Segundo
Moura (2010, p. 1):

No Brasil, a categoria profissional dos atores e demais artistas e técnicos


em espetáculos de diversões teve sua última regulamentação pela
Lei n° 6.533, de 24 de maio de 1978, e pelo Decreto n° 82.385, de 5 de
outubro de 1978. A referida legislação não traz qualquer referência ao
exercício amador dos atores, restringindo-se somente a regulamentar
relações de emprego; limitação que vem suscitando uma série de
questionamentos quando os referidos dispositivos são analisados
de forma conjunta e sistêmica com o direito a livre manifestação da
atividade artística, que, por sua vez, apresenta conflito com o direito
à liberdade profissional, ambos contemplados pelo artigo 5°, de nossa
Carta Magna

Portanto, ao se produzir um evento e contratar os colaboradores para
a realização do mesmo, se faz necessária a leitura da legislação específica para
identificar o que é necessário para esta contratação, bem como os direitos e
deveres dos profissionais que irão compor a equipe técnica do evento.

97
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

LEITURA COMPLEMENTAR

ACESSIBILIDADE CULTURAL: UMA LONGA JORNADA

Thais Seganfredo

Imagine que você aguarda ansiosamente a um lançamento do cinema,


mas é impedido de sequer entrar na sala. Ou então que tem vontade de ler aquele
livro que seu amigo te indicou, mas, por mais que queira, não consegue ter acesso
a ele. Esta é a realidade de milhões de brasileiros e brasileiras. Segundo o censo
do IBGE de 2010, 45,6 milhões de pessoas têm alguma deficiência no país. E,
se nem no direito de ir e vir essa grande parcela da população é plenamente
atendida, imagine no direito à cultura.

Produtora cultural e mestre em Memória Social e Bens Culturais, Anajara


Closs vive essa história na pele. Foi por ter mobilidade reduzida e por sua
vontade de mudar as condições de acesso à arte que ela acabou movimentando
a Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. Em 2013, Anajara convidou
cinco pessoas com diversos tipos de deficiência para avaliar as condições da
CCMQ.  O resultado foi sua dissertação de mestrado, uma pesquisa-ação que
escancarou os problemas: dificuldades de mobilidade nos vários andares da casa
falta de profissionais qualificados e ausência de sinalização e recursos acessíveis
(audiodescrição e lupa, por exemplo) para a fruição das dezenas de opções
culturais da Casa.

Na época, o tradicional espaço cultural de Porto Alegre estava passando


por reformas, com a previsão de melhorias na acessibilidade, conforme a Lei
estadual n° 13.320/2009. No ano passado, a CCMQ foi um dos espaços a receberem
o Selo de Acessibilidade da prefeitura, “conferido a estabelecimentos que
assegurem a acessibilidade básica parcial”, diz o texto no site oficial. Os outros
prédios premiados foram o  Auditório Araújo Vianna, o Centro Municipal de
Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues (onde fica o ativo Teatro Renascença),
a Fundação Iberê Camargo e a Usina do Gasômetro.

O Selo, porém, deixa claro que essa acessibilidade é apenas básica e parcial,
como concluiu, por exemplo, o estudo da bibliotecária Mirela Strehl Zanona, de
2014. Em seu trabalho de graduação na UFRGS, ela estudou as condições da
Usina do Gasômetro. Ausência de vagas reservadas no estacionamento, ausência
de sinalizações sonoras, visuais e táteis e piso inadequado a cadeirantes foram
apenas algumas das conclusões.

Os problemas se repetem em todo o país. Um  levantamento realizado


pelo Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da UFRJ e divulgado
no site do MinC apontou as principais características desta realidade. Segundo
o texto, as iniciativas acessíveis são, em sua maioria, de instituições privadas ou
mistas, direcionadas de forma isolada ao público com deficiência, o que impede

98
TÓPICO 3 | LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS

a diversidade de convivência. Da mesma forma, o domínio das tecnologias


específicas é limitado a profissionais da iniciativa privada (fato que fortalece um
nicho de mercado, mas que constitui um grupo restrito).

O documento aponta ainda que as políticas culturais “pouco conhecem


o tema, reduzindo-o na perspectiva da acessibilidade física do espaço e não
do produto cultural”, como bem observado nos espaços culturais de Porto
Alegre. Anajara conta que, até pouco tempo, o item “acessibilidade” em editais
de incentivo à cultura era associado principalmente à gratuidade no ingresso
das produções, referindo-se à acessibilidade financeira. Ela aponta que uma
acessibilidade cultural plena passa por medidas diversas, como elevadores ou
rampas adequadas (de acordo com a Norma ABNT NBR 9050), audiodescrição,
pisos táteis, Libras e legendagem.  Ainda assim, algumas iniciativas públicas
pretendem alterar o cenário.

Entre as metas previstas no Plano Nacional de Cultura, instituído em 2010,


a meta 29 é a única voltada para a questão da acessibilidade. O texto estabelece
que o Brasil deve apresentar, até 2020:

100% de bibliotecas públicas, museus, cinemas, teatros, arquivos públicos e


centros culturais atendendo aos requisitos legais de acessibilidade e desenvolvendo
ações de promoção da fruição cultural por parte das pessoas com deficiência.

O MinC vem monitorando o andamento das metas e apresentando os


resultados  online. Os dados da meta 29, no entanto, são escassos. Os números
mostram que, até 2014, apenas 7% das bibliotecas  públicas do país cumpriam
os requisitos, o que representa cerca de 400 em um total de 6 mil bibliotecas.
Com relação a museus, o cenário é um pouco mais animador, já que 55% das
instituições mapeadas são consideradas acessíveis. Ainda não há dados relativos
a cinemas, arquivos públicos, teatros ou centros culturais.

No fim de 2014, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) deu um passo


importante, determinando que  todos os projetos de produção audiovisual
financiados com recursos públicos geridos pela Ancine apresentem legendagem
descritiva, audiodescrição e Libras.

As medidas atendem à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com


Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinada em assembleia na ONU. O Decreto
Federal nº 6.949, de 2009, determinou que os artigos propostos pela convenção
fossem executados e cumpridos integralmente. Entre as propostas, o artigo 30 é
específico sobre a cultura, na medida em que estabelece a responsabilidade dos
países no “acesso a bens culturais em formatos acessíveis e no acesso a locais
que ofereçam serviços ou eventos culturais, tais como teatros, museus, cinemas,
bibliotecas e serviços turísticos, bem como, tanto quanto possível, no acesso a
monumentos e locais de importância cultural nacional”.

No mesmo ano, entrou em vigor no Rio Grande do Sul a Lei estadual


nº13.320. Diz o artigo 9º:

99
UNIDADE 2 | PANORAMA DA LEGISLAÇÃO CULTURAL EM ÂMBITO MUNDIAL E NACIONAL

“Os projetos de arquitetura e de engenharia, destinados à construção ou


reforma de edifícios públicos, de propriedade do Estado, inclusive os destinados
a autarquias e empresas de economia mista, incorporarão as disposições de
ordem técnica consubstanciadas nesta Seção, a fim de facilitar o acesso à pessoa
com deficiência física, excetuados os prédios tombados pelo patrimônio histórico
nacional, quando tal medida implique prejuízo arquitetônico, do ponto de vista
histórico”.

Com relação a prédios privados, entretanto, a lei ainda é restrita a shopping


centers, hotéis, motéis e estabelecimentos financeiros.

Desafios e oportunidades 

Para Anajara, os gestores culturais têm a responsabilidade de adequar


os espaços e capacitar os profissionais a fim de atender a toda a população. “Já
cheguei em um teatro e a porta onde havia a rampa estava fechada. Usaram a
desculpa de que o público com deficiência é raro. Mas é raro por quê? Os gestores
precisam deixar as portas abertas para todas as possibilidades e estar abertos a
críticas e sugestões que venham a contribuir para a acessibilidade”, defende.

Os produtores culturais também têm uma participação decisiva neste


processo. “Na área da cultura, a acessibilidade é até uma oportunidade de
ganhar mais, porque existe um nicho de mercado, e as pessoas estão sedentas por
cultura”, acredita Anajara. No Rio Grande do Sul, empresas como a Mil Palavras e
a Ovni Acessibilidade Universal constituem o mercado da acessibilidade cultural,
produzindo legendas e audiodescrição para pessoas com deficiência auditiva e visual.

A audiodescritora Mimi Aragón, sócia da Ovni, diz que o cenário


melhorou desde que começou a atuar no ramo, em 2010. Em “É Proibido Miar”,
um dos últimos espetáculos em que trabalhou — introduzindo uma linguagem
experimental em que os próprios atores faziam a audiodescrição —, todas as
apresentações estavam cheias. “É imperativo reconhecer que existe este público
e que as pessoas têm direito de usufruir da cultura, então nós precisamos suprir
esta lacuna”, afirma.

A acessibilidade tem características diferentes para cada tipo de expressão


artística, no que diz respeito à fruição. “Nas artes cênicas, a audiodescrição é ao vivo,
porque as apresentações são orgânicas, cada uma é diferente”, conta Mimi. Nas artes
visuais, há possibilidades como a visita guiada ou então um audioguia gravado, com
pisos táteis para que as pessoas com deficiência visual tenham autonomia. Já na área
do cinema, vários aplicativos de celular com tecnologias assistivas estão começando
a se difundir no Brasil. Um exemplo é o WhatsCine, já em uso em salas de cinema
do Rio de Janeiro e São Paulo, que conecta audiodescrição, libras e legendagem no
smartphone ou tablet do espectador. O recurso, porém, depende da boa vontade dos
donos das redes de cinema, explica Anajara.

100
TÓPICO 3 | LEGISLAÇÃO E EVENTOS CULTURAIS

Mimi conta que se criou um mito de que acessibilidade é cara, o que


não se confirma se ela for incluída no orçamento desde o início. “Um longa-
metragem nacional que custa R$ 10 milhões, a gente calcula que a produção de
audiodescrição e legenda custe hoje 0,2% do total, com a duração de 120 minutos.
Isso não é caro, ainda mais se esse produto foi financiado com recursos públicos.
Se todos pagaram impostos para isso, todos têm direito a assistir”, defende.

Em meio a isso, a formação profissional tem avançado no país, mas ainda


é constituída por iniciativas isoladas, a exemplo do curso de especialização em
acessibilidade cultural da UFRJ. A capacitação, gratuita, é direcionada a gestores
públicos de cultura, Pontos e Pontões de Cultura, organizações da sociedade
civil e professores de universidades públicas. Todos os anos, a UFRGS realiza
o curso de extensão EAD Acessibilidade em Ambientes Culturais, em parceria
com a universidade carioca. O caminho ainda é longo até que acessibilidade
seja naturalizada e vista como fundamental. Para Anajara, a educação é
o melhor transporte até lá. “Temos que aprender a enxergar a cultura do
acesso.  Acessibilidade é proporcionar autonomia às pessoas com deficiência.
Acessibilidade é a possibilidade de que essas pessoas tenham cidadania
plena. Não é difícil, é boa vontade”, diz.  

Protagonismo no fazer cultural 


*Com a colaboração de Thays Cruz no texto

As oportunidades não param na recepção artística, e o Grupo Signatores


quer provar isso. Sediada em Porto Alegre, a companhia de atores com deficiência
auditiva é a única em representatividade do sul do país e atua desde 2010 com
a proposta de incentivar a formação de docentes e pesquisadores na área teatral
e aproximar surdos do palco. O grupo promove oficinas de teatro e já tem
quatro espetáculos no repertório, entre eles uma adaptação de Alice no País das
Maravilhas.

Na última temporada, a peça teve apresentações lotadas, integrando


todos os públicos e promovendo a cultura para qualquer pessoa. Um espetáculo
interpretado inteiramente em Libras e com tradução em português para os
espectadores ouvintes. Para a diretora da peça, Adriana Somacal, a LIBRAS tem
um potencial de interpretação muito forte, já que surdos se comunicam com todo
o seu corpo, não só com as mãos.

O grupo Inclusivass, formado por mulheres com deficiências, também


vem buscando representatividade na promoção da cultura. Recentemente, elas
realizaram um sarau acessível, na CCMQ, em Porto Alegre. Uma das obras
apresentadas foi “A Minha Versão da História”, livro em que a assistente social
e cadeirante Carlena Weber desconstrói a visão preconceituosa da falta de
autonomia das pessoas com deficiência.

FONTE: SEGANFREDO, T. Acessibilidade cultural: uma longa jornada. Nonada, Porto Alegre,
7 mar. 2016. Disponível em:http://www.nonada.com.br/2016/03/acessibilidade-cultural-uma-
longa-jornada/. Acesso em: 20 dez. 2019.

101
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Produzir e organizar um evento cultural demanda tempo e a realização de um


checklist para cumprir com todas as demandas burocráticas que ele exige.

• O processo de registro de um evento é feito no o Instituto Nacional da Propriedade


Industrial (INPI). Inicialmente é preciso pesquisar o nome escolhido para o evento
no banco de dados do INPI, o que facilita bastante o processo.

• Quando o nome do evento é aprovado, o requerente paga taxas para a


expedição do certificado de registro e garante a proteção do nome do evento
por um prazo de dez anos.

• Os alvarás são emitidos para eventos temporários, ou seja, cada evento que for
feito será necessário um alvará individual. Esse documento garante que seu
evento possa ocorrer sem problemas com as autoridades, bem como garante a
segurança das pessoas que frequentarão o evento.

• Pensar no bem-estar das pessoas que irão frequentar o evento é mais importante
do que o sucesso da atração. Por isso, o produtor cultural deve estar atento a
legislação referente à segurança e vigilância sanitária do local onde o evento irá
acontecer.

• A música é elemento fundamental que garante a animação de eventos culturais,


esportivos ou de qualquer que seja a temática. Mas, não basta providenciar
um equipamento de som ou  artistas  que interpretem as músicas e sim é
obrigatório realizar o pagamento da taxa do Escritório Central de Arrecadação
e Distribuição (ECAD) para evento.

• A Lei n° 6.533 de 24 de maio de 1978, também conhecida como Lei dos Artistas,
regulamenta a apresentação de artistas e técnicos em espetáculos e shows.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

102
AUTOATIVIDADE

1 Sobre as fases de uma produção cultural, analise as seguintes afirmativas:

I- O fechamento de um patrocínio, o acerto de datas em um espaço cultural


ou a contratação de um fornecedor tornam a produção de um projeto
cultural irreversível.
II- O planejamento da ação, a montagem de equipe do trabalho e a montagem
do orçamento fazem parte da pré-produção de um projeto artístico-cultural.
III- A busca de recursos financeiros, a gestão do orçamento e a divulgação
fazem parte da fase de produção de um projeto artístico-cultural.
IV- A distribuição, a avaliação de resultados, a documentação do processo,
a organização e a guarda do material e os relatórios fazem parte da pós-
produção de um projeto artístico-cultural.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
c) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
d) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.

2 Chama-se de propriedade intelectual o direito sobre as criações intelectuais,


ou seja, todos os bens que são frutos da criação de espírito. Sobre o que está
incluído na propriedade intelectual, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A propriedade industrial e os direitos sociais.


b) ( ) Os direitos sociais e os direitos patrimoniais.
c) ( ) A propriedade patrimonial e os direitos humanos.
d) ( ) A propriedade industrial e os direitos autorais.

3 Todo e qualquer show deve ser liberado junto ao Escritório Central de


Arrecadação e Distribuição (ECAD). Os direitos autorais serão pagos ao
ECAD. O cálculo para o pagamento será feito sobre os seguintes quesitos:

1- Cachê dos músicos.


2- Metragem quadrada do espaço.
3- Música de autor consagrado.
4- Número de pessoas presentes.
5- Música de autor desconhecido.

A alternativa CORRETA em que se apresentam os elementos a serem


considerados no cálculo dos direitos autorais é:
a) ( ) 3, 4 e 5.
b) ( ) 1, 3 e 4.
c) ( ) 1, 3 e 5.
d) ( ) 1, 2 e 4.
103
104
UNIDADE 3

IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Conhecer os elementos básicos de um projeto cultural;

• Conhecer as etapas iniciais de um projeto cultural;

• Compreender como as etapas são importantes e como realizar um bom


projeto;

• Conhecer os itens que somam pontos na hora de escrever um projeto


cultural.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles, você
encontrará auto atividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos
adquiridos.

TÓPICO 1 – ELEMENTOS BÁSICOS DE UM PROJETO CULTURAL

TÓPICO 2 – ETAPAS INICIAIS DO PROJETO CULTURAL

TÓPICO 3 – ETAPAS DE TRABALHO DO PROJETO CULTURAL

TÓPICO 4 – ITENS QUE SOMAM PONTOS EM PROJETOS CULTURAIS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

105
106
UNIDADE 3
TÓPICO 1

ELEMENTOS BÁSICOS DE UM PROJETO CULTURAL

1 INTRODUÇÃO
Quando projetos culturais são emitidos para a apreciação de editais de
leis de incentivo e fomento a cultura, sejam eles municipais, estaduais ou federais
públicos e até mesmo privados, eles precisam seguir algumas regras e devem ter
uma boa argumentação e organização para que possa ser aprovado e executado

Elaborar um projeto cultural é uma atividade que demanda conhecimento


e prática de escrita e planejamento. Organização é a palavra chave para
compreender os caminhos que o projeto trilhará. Um projeto bem elaborado
permitirá que o mesmo seja facilmente aprovado, bem como posteriormente será
muito simples de executá-lo visto que seus objetivos e demais etapas estão bem
escritas e foram bem pensadas anteriormente.

Neste tópico iremos entender o que é um projeto cultural e quais são as etapas
básicas para a escrita e realização das ações ou confecção dos produtos culturais que
estarão em desenvolvimento. Além disso, serão apresentadas algumas dicas para
que o projeto possa ser melhor desenvolvido para ser melhor executado.

2 O QUE É UM PROJETO CULTURAL?


Antes de pensarmos sobre um projeto cultural em si, é necessário que
realizemos uma breve explanação sobre o que é um projeto.

Um projeto não pode ser considerado apenas como um papel cheio de


ideias e intenções sobre determinada ação. Aliás, um projeto é muito mais que isso,
é um documento estratégico e de nível técnico que é utilizado em diversas áreas,
desde a empresarial, educacional até a cultural. Geralmente tem características
próprias e se difere pela importância, duração, tamanho e complexidade.

No caso de um projeto cultural, ele possui características específicas para


sua elaboração e execução. Tem como eixo principal a cultura e as artes em geral,
não necessariamente busca um retorno financeiro e seu orçamento normalmente
não requer cálculos complexos e prestações de contas exageradas (IAB, 2014).

107
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

Thiry-Cherques (2008, p. 28) explica que os projetos culturais: “são


iniciativas voltadas para a ação sobre objetos reais e ideais que expressam valores
espirituais — sentimentos e conhecimentos — significativos para determinado
grupo social”. Diante das possibilidades de ações e produtos culturais possíveis
de serem realizados com projetos entre eles: pesquisa para publicação, edição de
livro, apresentação de peça teatral, produção de CD/DVD, restauração estrutural
de um museu, biblioteca ou centro cultural, produção de filme ou documentário,
organização de workshops diversos, realização de festival de música, realização
de exposição de arte, entre tantas outras possibilidades (IAB, 2014).

FIGURA 1 - PROJETO CULTURAL CINE EM CENA LEVA SESSÕES DE CINEMA GRATUITAS PARA
CRIANÇAS E ADULTOS EM TODO O BRASIL

FONTE: <https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/2019/04/23/projeto-cine-em-
cena-faz-exibicoes-gratuitas-em-avare.ghtml>. Acesso em: 12 fev. 2020.

Escrever um projeto é inserir as ideias principais sobre o que se quer


desenvolver, de maneira que os leitores e pareceristas possam compreender
rapidamente ao que o projeto se destina e quais seus objetivos e intenções. No
projeto devem constar todas as informações necessárias. Isso não significa que
esse documento deva ter uma leitura cansativa, subjetiva e com detalhes em
excesso e desnecessários. Quatro fases são importantes de serem realizadas no
processo de desenvolvimento de um projeto, sendo elas, a elaboração do projeto,
a execução das ações e ideias, a prestação de contas e o encerramento do projeto.

108
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DE UM PROJETO CULTURAL

FIGURA 2 - FASES DE UM PROJETO CULTURAL

FONTE: IAB (2014, p. 23)

Construir e escrever um projeto cultural requer habilidades de escrita,


de organização e de planejamento. Estas habilidades podem ser conquistadas
pelos produtores culturais, com muita leitura especializada sobre o assunto,
conhecendo sobre o produto cultural que se queira produzir e com muita prática
realizando e escrevendo diversos projetos.

Escrever um projeto não é apenas delinear o produto cultural ou a ação


que o produtor cultural quer desenvolver, é necessário desenvolver textualmente
e objetivamente todas as ideias, de maneira cadenciada e organizada para não se
perder entre tantos detalhes.

Para auxiliar no desenvolvimento de um projeto, algumas perguntas


podem ser feitas para organizar pensamentos e ideias iniciais.

109
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

Exemplo

O quê?
Refere-se ao que se pretende desenvolver.
Ex.: Editar e publicar um livro sobre festas populares do estado do Paraná, com
foco na influência das tradições culturais dos imigrantes europeus da região.

Por quê?
Por que pretendo realizar o projeto? Um problema a ser solucionado? Uma
demanda cultural não atendida?
Ex.: Para mapear, registrar e difundir a influência cultural dos imigrantes europeus
no estado do Paraná, com ênfase nas festas tradicionais e populares da região.

Quem?
A quem se destinará o produto gerado pelo projeto e com quem trabalharemos
para a sua realização?
Ex.: o produto será destinado à população da região, historiadores, pesquisadores
e interessados sobre o tema. Trabalharemos com historiador, pesquisador-
assistente, produtor, coordenador, gestor do projeto, programador visual e
assessor de imprensa.

Como?
De que forma será realizado o projeto?
Ex.: por meio de mapeamento de todas as festas populares da região e pesquisa
sobre a cultura dos imigrantes europeus.

Quanto?
Qual o valor do projeto e de onde virão os recursos para a sua realização?
Poderemos contar com recursos próprios, financiamento privado, público,
apoios em forma de serviços ou de bens etc.
Ex.: o projeto será financiado via leis de incentivo estadual e federal e custará
R$ 80.000,00.

Quando?
Em que período o projeto será realizado e qual será a duração prevista?
Ex.: o projeto terá duração de 10 meses, de 1º de março a31 de dezembro de
2021.

Onde?
Refere-se ao local, ou aos locais, onde será apresentado, realizado, consumido
ou distribuído o produto.
Ex.: Paraná.

FONTE: IAB - INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos culturais: como elaborar, executar
e prestar contas. Brasília, DF: Instituto Alvorada Brasil; Sebrae Nacional, 2014. p. 24-25.
Disponível em: <https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/61942d134ba32ed4c25a6439578715ce/$File/5443.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

110
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DE UM PROJETO CULTURAL

Por meio de perguntas como as citadas anteriormente, o produtor cultural


pode ter um roteiro de informações que darão suporte às dúvidas que venham a
surgir durante o processo de construção textual. Nesse processo, é possível alterar
informações, rever conceitos e repensar ações e produtos que serão desenvolvidos.

3 ETAPAS INICIAIS DE UM PROJETO CULTURAL


Independentemente de onde virão os recursos para a realização do
projeto, a metodologia de desenvolvimento de um texto segue basicamente as
mesmas características. Dependendo do local de fomento do projeto cultural, a
metodologia pode ser diferente, adicionando ou subtraindo processos e etapas
dentro do texto. Por isso é necessário fazer uma leitura minuciosa nos editais e
regulamentos disponíveis pelas leis de incentivo e empresas patrocinadoras para
compreender quais são as demandas de cada projeto.

FIGURA 3 - PROJETO ENTRANDO NA DANÇA, QUE ESTIMULA A DANÇA EM COMUNIDADES


CARENTES DO RIO DE JANEIRO

FONTE:<http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2014-09/projeto-estimula-danca-em-
comunidades-carentes-da-zona-norte-do-rio>. Acesso em: 12 fev. 2020.

111
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

E
IMPORTANT

• Pular etapas: no caso de leis e editais de fomento à cultura, é um erro partir logo
para o preenchimento do formulário sem a construção prévia do projeto cultural. Além
de ser bem mais trabalhoso preencher o formulário sem ter o projeto em mãos, a
possibilidade de enviar um projeto incompleto ou inconsistente é enorme!
• Ter como único fim a solicitação de recursos: habitualmente, os projetos culturais
são construídos tendo como único propósito a solicitação de recursos financeiros,
seja mediante leis e editais de incentivo à cultura, seja com potenciais patrocinadores,
apoiadores ou parceiros culturais. No entanto, não podemos esquecer a importância de
um projeto cultural como instrumento de planejamento, gestão, comunicação interna,
controle e auxílio na avaliação final da execução do trabalho.

FONTE: IAB - INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos culturais: como elaborar, executar e
prestar contas. Brasília: Instituto Alvorada Brasil: Sebrae Nacional, 2014. p. 26. Disponível em:
<https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/61942d13
4ba32ed4c25a6439578715ce/$File/5443.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

A primeira etapa de um projeto cultural é a sua apresentação, por mais


que esta seja a primeira parte a estar presente no texto, na realidade, ela será a
última a ser escrita, visto que ela é uma compilação das demais etapas como:
justificativa, objetivos, público-alvo, equipe, orçamento etc. Tendo essas etapas
pensadas e escritas, no final de todo o processo textual, a parte da apresentação
pode ser escrita. A seguir temos um exemplo de apresentação de projeto cultural
para análise:

Exemplo

Projeto: Arte na comunidade – oficinas de arte contemporânea para jovens


da comunidade Casa Virada, em Belém (PA).

Produto cultural: oficina de arte contemporânea.

Apresentação
Após três anos consecutivos de ações culturais realizadas em comunidades
carentes da cidade de Belém, o projeto Arte na Comunidade entrará na 4ª
edição e, desta vez, oferecerá oficinas gratuitas sobre arte contemporânea para
jovens estudantes, com idades compreendidas entre 12 e 18 anos, moradores
da comunidade Casa Virada, uma das comunidades mais pobres da capital
do Pará. A ideia do projeto nasceu em 2012 e, inicialmente, tinha o objetivo
de realizar oficinas práticas sobre o processo criativo da arte, lançando mão
da arte contemporânea como ponto de partida. Contando com a parceria de
artistas, arte-educadores e professores de arte, foram realizadas oficinas de

112
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DE UM PROJETO CULTURAL

xilogravura, serigrafia experimental, lambe-lambe, monotipia, grafite e estêncil.


No entanto, na terceira edição do projeto, sentiu-se a necessidade de incluir
no programa do curso uma abordagem teórica sobre a arte contemporânea. E
foi um êxito. A união da teoria à prática, por meio de técnicas utilizadas nas
criações artísticas contemporâneas, possibilitou aos jovens alunos ampliar a
sua percepção do mundo, do seu entorno e do seu próprio cotidiano e conhecer
um pouco do universo da arte. Nas três primeiras edições do projeto, foram
realizadas 10 oficinas, beneficiando 350 jovens estudantes. Na 4ª edição do Arte
na Comunidade, pretende-se realizar cinco oficinas de criação artística para
40 jovens estudantes da comunidade Casa Virada. O projeto, orçado em R$
70.000,00, terá duração de 12 meses (de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2015)
e contará com uma equipe de 10 profissionais (arte-educadores, professores e
pessoal técnico), todos qualificados na sua área de atuação.

FONTE: VALE, E. J. Procedimentos para a elaboração de projetos culturais. São Paulo:


Proac, 2016. Slide 16. Disponível em: <http://curso.sethassessoria.com/wp-content/uploads/
Apresenta%C3%A7%C3%A3o_Aula_IV.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

Um dos erros mais comuns nessa etapa de elaboração da apresentação de


um projeto é não a realizar de forma coesa, sucinta e que apresente o projeto como
um todo. Esse erro pode causar certa insatisfação pelos profissionais pareceristas
de comissões de seleção dos editais ou por potenciais patrocinadores e apoiadores
e até ser descartado antes mesmo da leitura total do projeto. Por isso, antes de
finalizar, é importante que o produtor cultural releia os textos e verifique se a
apresentação contempla todos estes itens citados.

É importante lembrar que quem irá avaliar os projetos geralmente não


tem tempo hábil para a leitura total de todas as etapas, por isso uma apresentação
bem elaborada garante que seu projeto tenha visibilidade diante dos profissionais
avaliadores. A prática da escrita faz toda a diferença nesse momento.

113
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Um projeto não pode ser considerado apenas como um papel cheio de ideias e
intenções sobre determinada ação.

• No caso de um projeto cultural, ele possui características específicas para sua


elaboração e execução. Um projeto cultural tem como eixo principal a cultura
e as artes em geral, não necessariamente busca um retorno financeiro e seu
orçamento normalmente não requer cálculos complexos e prestações de contas
exageradas.

• Escrever um projeto é inserir as ideias principais sobre o que se quer desenvolver,


de maneira que os leitores e pareceristas possam compreender rapidamente ao
que o projeto se destina e quais seus objetivos e intenções.

• Escrever um projeto não é a apenas delinear o produto cultural ou a ação


que o produtor cultural quer desenvolver, e sim é necessário desenvolver
textualmente e objetivamente todas as ideias.

• A primeira etapa de um projeto cultural é a sua apresentação, por mais que


esta seja a primeira parte a estar presente no texto, na realidade, ela será a
última a ser escrita, visto que ela é uma compilação das demais etapas como:
justificativa, objetivos, público-alvo, equipe, orçamento etc.

• Um dos erros mais comuns nessa etapa de elaboração da apresentação de um


projeto é não a realizar de forma coesa, sucinta e que apresente o projeto como
um todo.

114
AUTOATIVIDADE

1 Um projeto ou programa cultural se estrutura em três etapas principais:


planejamento, produção e pós-produção. Das alternativas a seguir, assinale
aquela que NÃO corresponde à etapa de planejamento.

a) ( ) Pesquisa e levantamento de dados de possíveis patrocinadores.


b) ( ) Enquadramento do projeto ou programa em leis de incentivo.
c) ( ) Desenvolvimento da proposta conceitual e artística.
d) ( ) Pagamento de serviços ou de fornecedores.

2 (UFRJ, 2018) O princípio da temporalidade é um dos mais comumente


utilizados para categorizar os projetos culturais. Uma forma complementar
de categorizá-los é utilizar os objetivos do projeto para definir o seu perfil,
sendo os mais comuns: os projetos de eventos; os projetos de ações culturais;
os projetos de produtos; e os projetos de espaços, centros culturais e casas
de cultura. Considere a descrição do projeto a seguir:

“A 4ª Mostra Universitária de Curtas tem como objetivo integrar estudantes


produtores de audiovisual e interessados em cinema. A criação da mostra foi
uma ideia iniciada a partir da vivência pessoal de alunos que, ao criar pequenos
filmes para disciplinas da faculdade, notaram a ausência de divulgação e
visibilidade para tais trabalhos. A mostra seleciona apenas produções que
foram feitas como exercício ou atividade prática durante alguma disciplina -
trabalhos individuais ou de grupo - e que anteriormente eram apenas exibidas
em sala de aula e/ou na internet”.

FONTE: Site da Mostra Universitária de Curtas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Disponível em: <https://moucmostra.wordpress.com/>.

Com base na descrição apresentada, assinale a alternativa CORRETA que


apresenta a categoria de projeto cultural que melhor se relaciona com os seus
objetivos:

FONTE: <https://www.tecconcursos.com.br/questoes/599091>. Acesso em: 11 mar. 2020.

a) ( ) Projeto de evento.
b) ( ) Projeto de produto.
c) ( ) Projeto de espaço e centro cultural.
d) ( ) Projeto de ação cultural.

3 O processo de planejamento de um projeto cultural requer sua análise


de viabilidade sob vários aspectos. Sobre o que o gestor cultural deve
considerar, analise as sentenças a seguir:

115
I- As oportunidades de financiamento existentes, tais como editais de empresas
públicas, privadas e de fundações, uso de leis de incentivo, fundos e doações
etc.
II- A delimitação clara de seu público-alvo, definida de acordo com seu
contexto cultural.
III- Que um projeto cultural é único, definido de acordo com as políticas e
diretrizes existentes, não sendo possível reformatá-lo ou adaptá-lo de
acordo com editais ou programas emergentes.
IV- Que as metas quantificáveis do projeto devem ser priorizadas, uma
vez que, pelo fato de as ações culturais interagirem com o campo das
mentalidades e práticas culturais, um projeto pode levar um longo tempo
para gerar resultados no campo social e político, por exemplo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) I e II.
c) ( ) I, II e III.
d) ( ) I, II e IV.

4 Desenvolva um briefing seguindo as perguntas bases de criação de um


projeto cultural. Responda as seguintes questões: o que será desenvolvido?
Por que será desenvolvido? A quem será destinado o produto ou ação e
com quem o produtor cultural contará para o desenvolvimento do projeto?
Como será realizado o projeto? Quanto custará? Quando e Onde acontecerá
o projeto? De acordo com o que você imagina ser possível para construir
um projeto para uma ação ou um produto cultural.

116
UNIDADE 3
TÓPICO 2

ETAPAS INICIAIS DO PROJETO CULTURAL

1 INTRODUÇÃO
Para iniciar um projeto cultural é preciso deixar bem claro quais são os
objetivos do projeto, bem como justificar de maneira a convencer os leitores da
importância do produto/ação cultural que será realizado.

Com objetivos bem elaborados, um projeto pode vislumbrar o que
encontrará pela frente, como se fossem suas metas a serem alcançadas. Saber
dizer para que serve seu projeto, bem como saber explicar sua importância
na comunidade é de fundamental importância para que um projeto possa ser
facilmente aprovado em editais.

Portanto, neste tópico serão apresentados itens que mostram como


escrever os objetivos gerais e específicos, como também uma justificativa coerente
e convincente.

2 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS


O objetivo é o elemento fundamental na elaboração de um bom projeto
cultural. Os objetivos devem estar bem desenhados, bem escritos e ter uma única
interpretação. “A clareza com que o proponente define seus objetivos determina a
facilidade com que o projeto será enquadrado nos objetivos da lei de incentivo à
cultura, à qual se inscreve” (SESI, 2007, p. 53). Todas as atividades e/ou produtos
que serão desenvolvidos serão norteados pelos objetivos que forem criados pelos
produtores culturais.

O ponto final do caminho trilhado pelo projeto deve ser guiado pelos objetivos,
tanto o geral quanto os específicos. Segundo Fernandez (2008, p. 21), é necessário que
“[...] na fase de construção dos objetivos respondam claramente ‘O QUE’ o projeto
pretende atingir após a sua implantação. Nos objetivos demonstramos qual é a ação
que desejamos realizar em relação ao nosso público-alvo”.

117
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

FIGURA 4 - PROJETO CULTURAL CRÍTICAS EM MOVIMENTO – PEÇA “CARTAS DE NIÑOS”, OBRA


DIRIGIDA POR MARIA SEPÚLVEDA

FONTE:<https://obeijo.com.br/teatro-itau-cultural-realiza-ate-15-de-setembro-projeto-critica-
em-movimento-com-espetaculos-e-debates/>. Acesso em: 12 fev. 2020.

É importante a diferenciação entre os objetivos gerais e os específicos.


O objetivo geral é amplo, deve ser escrito de forma sucinta e deve descrever
com clareza qual o produto cultural ou ação que serão desenvolvidos. Nele
também deve constar informações como o público-alvo do projeto, o local onde
será realizado e o impacto sociocultural dessas ações e/ou produtos culturais
desenvolvidos com o projeto.

E
IMPORTANT

Para auxiliá-lo na elaboração dos objetivos, segue uma lista básica e assertiva
de verbos:

VERBOS PARA ELABORAÇÃO DE OBJETIVOS (GERAIS E ESPECÍFICOS)

OBJETIVOS GERAIS

Abranger, analisar, apreciar, avaliar, compreender, conhecer, criar, interpretar, ouvir,


pensar, reconhecer.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apontar, distinguir, pesquisar, adotar, dizer, preparar, aplicar, elaborar, prever, ampliar,
enumerar, produzir, autorizar, enfatizar, reconstruir, calcular, enunciar, redigir, caracterizar,
escolher, reescrever, categorizar, esboçar, relacionar, citar, escrever, relatar, classificar,
especificar, reproduzir, combinar, estabelecer, resolver, compilar, exemplificar, resumir,
comparar, explicar, reorganizar, compor, expressar-se, rever, conceituar, fazer resumo,

118
TÓPICO 2 | ETAPAS INICIAIS DO PROJETO CULTURAL

selecionar, concluir, generalizar, ser capaz, confirmar, identificar, subdividir, constatar, ilustrar,
sublinhar, contrastar, indicar, sumarizar, converter, inferir, situar, criticar, inventar, traduzir,
discriminar, justificar, traçar, defender, listar, utilizar, definir, manipular, valorizar, delimitar,
marcar, verificar, demonstrar, modificar, organizar, determinar, mostrar, descrever, numerar,
destacar, obter, diferenciar, operar.

FONTE: <http://ienomat.com.br/administrasempre/index.php/2014/02/25/verbos-para-elabo
racao-de-objetivos-gerais-e-especificos/>. Acesso em: 11 mar. 2020. 

Os objetivos específicos são menos abrangentes, correspondendo às metas


que serão alcançadas com o projeto. E é por esse motivo que as metas servem para
demonstrar se os objetivos foram alcançados ou não.

As metas podem indicar, por exemplo, a quantidade de pessoas


beneficiadas pelo projeto, o número de cidades envolvidas, o número
de sessões ou apresentações realizadas, a quantidade de filmes
exibidos, o número de cursos ministrados etc. Ou seja, as metas são
ações concretas quantificáveis e, por meio delas, poderemos avaliar
o desenvolvimento do projeto e a sua efetividade (IAB, 2014, p. 31).

A seguir relacionamos um exemplo de objetivo, inserido em um projeto


cultural:

Exemplo

Projeto: Arte urbana no Brasil.

Objetivo geral: realizar um documentário de 90 minutos de duração sobre


uma das principais manifestações artísticas da atualidade, a arte urbana.
Através do olhar de dois renomados curadores de arte contemporânea e de
um historiador da arte brasileira, o documentário irá contar a história da arte
urbana no Brasil desde a década de 1970 até os dias atuais. As filmagens serão
realizadas entre 1º de maio de 2015 e 30 de abril de 2016, em cinco capitais
brasileiras: Belém (PA), Brasília (DF), Curitiba (PR), Recife (PE) e São Paulo
(SP), esta última, considerada a capital mundial do grafite, uma das técnicas
mais difundidas da arte urbana. O projeto prevê, ainda, a realização de oficina
gratuita de grafite em três comunidades de cada uma das capitais envolvidas
no documentário, beneficiando cerca de 180 jovens. Além registrar e divulgar
a arte urbana no Brasil, o projeto pretende contribuir para dissociar a ideia de
que arte urbana está ligada ao vandalismo, associação ainda bastante presente
na sociedade brasileira.

Objetivos específicos:
• Realizar documentário sobre a arte urbana brasileira: história, técnicas e
principais artistas, conhecidos e desconhecidos;
• Realizar oficinas gratuitas de grafite para jovens de comunidades carentes.

119
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

• Divulgar uma das principais manifestações artísticas da atualidade.


• Contribuir para a desconstrução da associação entre arte urbana e
vandalismo.

Metas:
• Realizar filmagens para um documentário de 90 minutos de duração sobre
arte urbana brasileira em cinco cidades: Belém, Brasília, Curitiba, Recife e
São Paulo.
• Realizar no período de 12 meses (de 1º de maio de 2015 a 30 de abril de 2016),
a produção (filmagens) e a pós-produção (edição, trilha sonora, finalização e
mixagem) do documentário.
• Realizar 15 oficinas gratuitas de grafite para um total de 180 jovens com
idades entre 12 e 18 anos, moradores de comunidades carentes das cidades
envolvidas no projeto. As oficinas terão carga horária de 8 horas, cada uma.

FONTE: IAB - INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos culturais: como elaborar, executar
e prestar contas. Brasília, DF: Instituto Alvorada Brasil; Sebrae Nacional, 2014. p. 32.
Disponível em: <https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/61942d134ba32ed4c25a6439578715ce/$File/5443.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

Alguns erros, como apresentar os objetivos pouco precisos e não relacionados


entre si, estão na lista dos mais cometidos entre os produtores culturais. Um objetivo
mal elaborado e que gere dúvidas para quem lê não trará a clareza necessária para
realizar as ações esperadas pelo projeto. O objetivo não deve gerar dúvidas ou ter
diferentes interpretações a quem for ler e avaliar o seu projeto.

Também é importante dar a devida atenção aos objetivos paralelos, que


não se correlacionam entre si e que não tenham o mesmo foco. Esses objetivos que
se afastam podem travar o processo de realização de um projeto como um todo.

3 JUSTIFICANDO UM PROJETO E APRESENTANDO SEU


PÚBLICO ALVO E EQUIPE DE TRABALHO
É chegada a hora de informarmos o porquê pretendemos realizar as ações
ou a elaboração do produto cultural em questão. Esta etapa do processo é chamada
de Justificativa, e deve ser muito bem escrita e elaborada, com argumentos sólidos
e que convençam quem está lendo da importância do projeto.

Na justificativa, o texto discorre sobre alguns pontos como o mérito do


projeto, seu diferencial e sua originalidade bem como a relevância cultural da ação
ou do produto, e os desdobramentos futuros que este projeto poderá promover
para a comunidade.

120
TÓPICO 2 | ETAPAS INICIAIS DO PROJETO CULTURAL

FIGURA 5 - PROJETO CIRCUITO CULTURAL – ENSAIO DO BLOCO CORES DE AIDÊ

FONTE:<https://ocp.news/entretenimento/projeto-cultural-leva-musica-de-graca-para-as-ruas-
de-florianopolis>. Acesso em: 12 fev. 2020.

A principal pergunta ao se elaborar uma justificativa de projeto é: por


que o projeto deve ser executado? Partindo deste questionamento, a justificativa
deve mostrar razões para o sucesso do projeto e fazer com que os profissionais
avaliadores acreditem no potencial que ele tem. A seguir um exemplo de
justificativa de projeto cultural:

Exemplo

Projeto: 1ª Mostra Internacional de Curta de Animação Infantil.

Justificativa: apesar de inserida no circuito brasileiro do audiovisual, com a


presença de diretores locais ganhadores de prêmios nacionais e internacionais
de cinema, Recife (PE) apresenta uma oferta bastante pequena de filmes fora do
circuito comercial. E no que diz respeito aos filmes de curta-metragem, a oferta
é ainda mais inexpressiva. Como forma de suprir essa demanda, promovendo
a ampliação do acesso aos filmes de curta-metragem, bem como divulgando
a produção audiovisual de animação infantil de outros países para o público
local, o projeto Mostra Internacional de Curta de Animação Infantil pretende
promover uma mostra com a exibição gratuita de 45 filmes de curta metragem
direcionados ao público infanto juvenil, mas não restrito a esses espectadores,
uma vez que essa modalidade de obra audiovisual interessa a um público de
qualquer idade. Estima-se atingir um público de cerca de 1.500 pessoas, que,
durante dois dias, assistirá aos curtas de animação infantil produzidos em 28
países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile,
Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Japão, Holanda,
Índia, Irlanda, Israel, Itália, México, Nova Zelândia, Palestina, Portugal, Peru,
Romênia, Rússia, Turquia e Uruguai. O projeto contará com a colaboração

121
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

de uma equipe de profissionais qualificados, tanto na área do audiovisual


quanto na área técnica de produção e gestão do projeto. O produtor cultural
responsável pelo projeto possui larga experiência na produção de festivais e
mostras de cinema.

FONTE: IAB - INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos culturais: como elaborar, executar
e prestar contas. Brasília, DF: Instituto Alvorada Brasil; Sebrae Nacional, 2014. p. 35.
Disponível em: <https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/61942d134ba32ed4c25a6439578715ce/$File/5443.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

Como o projeto estará inserido em um contexto sociocultural é necessário,


também, questionar em que contexto esse projeto está inserido e de que maneira
as ações e/ou produtos culturais frutos desse projeto irão trazer benefícios para
esse contexto. Para que os profissionais avaliadores possam ir além da experiência
prática desse processo, nessa fase podem-se apresentar números, fatos históricos,
estudos e outras referências que mostrem a relevância do projeto para a sociedade.

O argumento deverá ser convincente ao mostrar a importância bem como


a capacidade técnica do proponente em produzir o projeto em sua integralidade.

Até agora o projeto desenvolvido já possui os objetivos principais bem


como sua justificativa. Outro item a ser redigido em um projeto é o item público-
alvo. Neste item é importante considerar quem será beneficiado pelas ações e/
ou produtos culturais propostos. Crianças, adultos, jovens, alunos, idosos? É
necessário garantir que se tenha o maior número de informações sobre o público,
visto que assim fica mais fácil planejar as ações propostas pelo projeto.

Suponhamos que uma das atividades propostas em nosso projeto seja


uma oficina de teatro para jovens de uma comunidade específica.

Ao estimarmos quantos jovens participarão da oficina do exemplo


abaixo, poderemos prever no projeto todos os itens necessários para a
realização da ação, como a locação de ônibus para o transporte desses
jovens, o material de apoio caso necessário etc.

Ação: oficina de teatro para jovens da comunidade Brejo Formoso.


Estimativa de público: 60 participantes.
Perfil do público: jovens com idade entre 13 e 17 anos, pertencentes às
classes C, D ou E, matriculados em instituição de ensino (IAB, 2014, p. 37).

122
TÓPICO 2 | ETAPAS INICIAIS DO PROJETO CULTURAL

NOTA

Apresentar estimativa de público sem embasamento pode ser um erro grave

A estimativa do público-alvo não deve ser feita por meio de tentativas de acerto,
ou seja, pelo “chute”. De fato, há projetos cujo público é mais facilmente mensurável (como
é o caso da confecção de CD ou da produção de livro), enquanto outros, o público torna-
se mais difícil de ser estimado (por exemplo, uma apresentação musical ao ar livre). Em
casos como estes, quando não se tem uma noção clara do público a ser beneficiado,
uma sugestão é recorrer ao histórico da própria organização na concepção de projetos
similares, à capacidade do local do evento, ou mesmo, buscar informações em ações
anteriores semelhantes (IAB, 2014, p. 38).

Tendo uma previsão de quantitativo de público, algumas vantagens


surgem como:

• ter uma base da receita do projeto;


• mostrar a viabilidade do projeto e convencer os profissionais que avaliam o
projeto da visibilidade das marcas que participarão do projeto;
• demonstrar a quantidade de pessoas que terão acesso às ações gratuitas para a
comunidade;

Ainda sobre o público-alvo, podemos entender ainda mais algumas


situações:

E conhecendo o público por faixa-etária, classe social, localização


geográfica etc., teremos a possibilidade de adequar a estratégia de
comunicação. Uma informação mais precisa, inclusive, poderá nos
levar a fazer determinadas adaptações ao próprio projeto, com o
objetivo de atingir mais pessoas e da melhor forma possível. Além
do mais, conhecer o perfil do público-alvo poderá facilitar, e muito,
encontrar o patrocinador mais adequado para apoiar o nosso projeto
(IAB, 2014, p. 38).

A escolha de uma equipe multidisciplinar também conta pontos na hora
de desenvolver um projeto cultural. Para relacionar nomes para uma equipe,
é necessária uma lista de funções fundamentais, competências e nomes de
profissionais que se mostrem capacitados para desenvolver as ações do projeto.
Todos esses profissionais desempenharam papel fundamental no projeto para
que os objetivos e metas sejam alcançadas.

Na hora da escolha dos profissionais o projeto já deve estar fundamentado,


com objetivos sólidos para que assim, as funções sejam designadas por área e os
profissionais escolhidos com maior assertividade.

123
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

A maioria dos editais da área cultural solicitam, na hora da escolha da


equipe, que os profissionais integrantes tenham experiência comprovada na área
de atuação dentro do projeto, pois, além de uma escolha errada causar problemas
para o projeto em sua execução, poderá também não agradar ao público que
estará presente nas ações que o projeto estiver propondo.

A lista de profissionais fará toda a diferença nas próximas etapas do


projeto, como no orçamento, nas etapas de trabalho e no cronograma, visto isso, é
de fundamental importância que os profissionais sejam escolhidos com cuidado.

QUADRO 1 - EQUIPE DO PROJETO FESTCULT – ENCONTRO DE CULTURA POPULAR

Equipe de pessoal Quantidade Função

Coordenador geral 1 Coordenação geral do evento

Coordenador pedagogico 1 Coordenar oficinas e palestras


Coordenar mostras exposições; Coordenar cortejo
Coordenador artístico 1
e shows
Produtor cultural 2 Produção e coordenação de equipes de auxiliares
Coordenar equipe de monitores, equipe de palco,
de cortejos, de grupos culturais, apoio nas oficinas
Auxiliares de produção 5
e palestras, coordenação na distribuição de lanches,
água e refeições, suporte a camarim.
Auxiliar de palco, acompanhamento dos cortejos,
Monitores (alunos
acompanhamento de grupos, acompanhamento das
selecionados das escolas 20
oficinas e palestras, distribuição de lanches, água e
participantes do evento)
refeições, suporte a camarim.
Garantir a segurança de palco, cortejos de rua,
Seguranças 20
camarins, segurança de cabine de iluminação e som
Receber imprensa, enviar releases, clipagem,
Assessor de Imprensa 1
agendar e acompanhar entrevistas com a mídia
Fotografo 1 Fazer o registro fotográfico do evento
Cinegrafista 1 Fazer a filmagem do evento
Responsável pela sonorização e adequação do som
Técnico de som 2
no palco
Técnico de iluminação 2 Fazer a iluminação do palco
Contador 1 Contabilidade geral para prestação de contas
TOTAL 53

FONTE:<http://www.mobilizadores.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Esbo%C3%A7o-do-
ante-projeto-cultural-FESTCULT.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2020.

No quadro de equipe é possível verificar diversas funções e dentro delas tem


até mais de uma pessoa desempenhando cada função. Isso acontece, pois, em
determinadas funções, se faz necessário mais profissionais de acordo com cada
demanda. Escolher uma boa equipe, com profissionais que tenham um currículo
especializado e que tenham práticas nas ações é de fundamental importância para que
o projeto seja bem avaliado, e, posteriormente, que ele tenha sucesso em sua realização.

124
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O objetivo é elemento fundamental na elaboração de um bom projeto cultural.

• O ponto final do caminho trilhado pelo projeto deve ser guiado pelos objetivos,
tanto o Geral quanto os Específicos.

• Alguns erros, como apresentar os objetivos pouco precisos e não relacionados


entre si, estão na lista dos erros mais cometidos entre os produtores culturais.

• Neste momento do projeto, é chegada a hora de informarmos o porquê


pretendemos realizar as ações ou a elaboração do produto cultural em questão.
Esta etapa do processo é chamada de Justificativa.

• A principal pergunta ao se elaborar uma justificativa de projeto é: por que o


projeto deve ser executado?

• Outro item a ser redigido em um projeto é o item público-alvo. Neste item


é importante considerar quem será beneficiado pelas ações e/ou produtos
culturais propostos.

• Na hora da escolha dos profissionais o projeto já deve estar fundamentado,


com objetivos sólidos para que, assim, as funções sejam designadas por área e
os profissionais escolhidos com maior assertividade.

125
AUTOATIVIDADE

1 Em relação a projetos culturais e sua execução geral, desde a aprovação até


o trabalho do produtor cultural, é INCORRETO afirmar que:

a) ( ) Os apoios dos patrocinadores para os projetos culturais se dão


exclusivamente pelo repasse de recursos financeiros.
b) ( ) “Curador” é o termo empregado para designar o profissional
responsável pela programação de um evento cultural.
c) ( ) Workshops, oficinas, palestras, mesas redonda e feiras são eventos que
fazem parte do universo do produtor cultural.
d) ( ) Alguns dos meios usados para verificar a adequação do local às
exigências do espetáculo são o rider de som, o input list, o mapa de
palco, o mapa de luz e o rider de luz.

2 (UFMG, 2015) “Independentemente do tipo de projeto cultural que se


pretende realizar, seja apresentação musical de um pequeno grupo, a
edição de um livro ou a exposição de um artista renomado, sempre haverá
a incidência de tributos [...]”. A quem se atribui a responsabilidade referente
aos impostos relativos à realização de um projeto cultural?

FONTE: <https://www.tecconcursos.com.br/questoes/753826>. Acesso em: 12 mar. 2020.

a) ( ) Produtor cultural e prestador do serviço.


b) ( ) Produtor cultural.
c) ( ) Prestador do serviço.
d) ( ) Estado.

3 Tendo o texto a seguir como referência inicial acerca das várias concepções
de cultura e sobre o público que consome cultura, disserte sobre como os
projetos culturais devem ser assertivos em relação ao público-alvo:

“Há uma preocupação cada vez maior com um fenômeno relativamente novo,
que é a cultura de massa. Esse termo origina-se de um termo muito mais
antigo: sociedade de massas. O desafio de hoje é saber se o que é legítimo para
a sociedade de massas também o é para a cultura de massas. Essa questão
desperta um outro problema, o do relacionamento altamente problemático
entre sociedade e cultura. Basta recordar até que ponto o movimento da arte
moderna, que compreendeu literatura, música e artes plásticas, partiu de uma
rebelião do artista contra a sociedade como tal e não contra a sociedade de
massas ainda desconhecida. A indústria cultural, na sociedade de massas,
impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de
julgar e de decidir consciente”.

FONTE: ARENDT, H. Entre o Passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2007. p. 253 (com
adaptações).

126
UNIDADE 3
TÓPICO 3

ETAPAS DE TRABALHO DO PROJETO CULTURAL

1 INTRODUÇÃO
Conhecer as etapas de trabalho de um projeto cultural faz com que se
entenda sua estrutura e seu funcionamento. As fases de pré-produção, produção
e pós-produção devem ser desenhadas de acordo com os objetivos e metas que
foram estipulados.

Com objetivos e justificativa bem escritas, agora chega a fase de desenhar


as etapas que seu projeto percorrerá, falar sobre os envolvidos, os profissionais,
e principalmente sobre questões financeiras, Além disso, entender como seu
projeto será divulgado é de fundamental importância, pois, posteriormente, em
sua execução será necessário que todos conheçam as ações que serão realizadas.

Neste tópico serão apresentadas essas fases, bem como questões referentes
a orçamentos, plano de divulgação e contrapartidas de um projeto cultural, itens
importantes para a escrita de um bom projeto cultural.

2 ETAPAS DE TRABALHO DE UM PROJETO CULTURAL –


PRÉ-PRODUÇÃO, PRODUÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO
O planejamento de atividades é fundamental para que um projeto possa
ser realizado com sucesso. Essas atividades devem ser planejadas, propostas,
executadas e acompanhadas pelo produtor cultural bem como por todos os
envolvidos pelo projeto. Essas etapas de realização são divididas cronologicamente
e com datas de início e fim das ações, geralmente em três fases (pré-produção,
produção e pós-produção). Com este planejamento é possível conhecer o tempo
de execução de cada ação e de cada fase.

Na etapa de pré-produção, acontecem todos os serviços e atividades


iniciais que darão suporte à execução do projeto; na produção, que
é a etapa da operacionalização do projeto, acontecem as atividades
associadas à sua execução; e, na etapa de pós-produção, serão realizadas
todas as atividades necessárias para a avaliação, a consolidação dos
resultados alcançados e o encerramento do projeto (IAB, 2014, p. 45).

127
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

Na pré-produção acontecem as atividades preliminares de estudo, que


auxiliam para a melhor execução do projeto. Na etapa da produção, ou execução,
são realizadas atividades que estarão diretamente ligadas à realização da ação
cultural ou da confecção do produto cultural, como a comercialização e a
divulgação. E a fase final do projeto, também conhecida como pós-produção,
acontece depois que a ação e/ou produto cultural foi finalizado, com prestação de
contas, relatórios e outras demandas dessa etapa do projeto. Confira um exemplo
de etapa de trabalho de um projeto cultural:

Exemplo

Produto: apresentação de 10 concertos de música sinfônica brasileira.


Duração do projeto: seis meses (de 1º de março a 31 de agosto de 2015).
Realização dos concertos: entre 15 de junho e 15 de julho de 2015.
Etapas de Trabalho:

Pré-produção – Dois meses (de 1º de março a 30 de abril de 2015).


• contratação de assistente de produção;
• seleção do repertório musical;
• realização dos ensaios;
• confirmação das pautas pré-agendadas dos teatros;
• contratação do serviço de transporte para o traslado dos músicos, equipe e
instrumentos;
• busca por patrocinadores e apoiadores para o projeto.

Produção – Dois meses e meio (de 1º de maio a 15 de julho de 2015).


• locação de equipamento de som;
• locação de equipamento de luz;
• locação de gerador de energia;
• realização dos concertos musicais;
• realização do registro fotográfico dos concertos;
• realização do registro integral em vídeo dos concertos.

Divulgação/Comercialização – Três meses (de 1º de maio a 31 de julho de 2015).


• criação da identidade visual do projeto;
• elaboração dos textos de divulgação e promoção do projeto;
• revisão dos textos;
• criação das peças de divulgação e promoção do projeto;
• impressão do cartaz (formato A3, 4x0 cor papel couché – 500 unidades);
• confecção de banner (formato 250 x 90 cm, 4x0 cor, lona – 2 unidades);
• impressão do programa de concerto (formato 15 x 21 cm, fechado, 4x4 cor);
• divulgação do projeto em sites, blogs e redes sociais e mídias impressas;
• distribuição dos cartazes em instituições culturais e de ensino;
• organização de clipping do projeto.

128
TÓPICO 3 | ETAPAS DE TRABALHO DO PROJETO CULTURAL

Administração e acompanhamento – Seis meses (de 1º de março a 31 de agosto


de 2015).
• execução financeira (pagamento dos serviços prestados pelos fornecedores,
prestadores de serviço e pessoal da equipe, bem como dos impostos
devidos);
• acompanhamento e gestão do projeto (físico e financeiro);
• contratação de serviço de consultoria contábil e jurídica;
• prestação de contas;
• elaboração do relatório final.

FONTE: IAB - INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos culturais: como elaborar, executar
e prestar contas. Brasília, DF: Instituto Alvorada Brasil; Sebrae Nacional, 2014. p. 46-47.
Disponível em: <https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/61942d134ba32ed4c25a6439578715ce/$File/5443.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

Observando o exemplo, podemos acompanhar que algumas ações


precisam acontecer previamente para que outras ações possam acontecer. Como
é o caso da criação da identidade visual do projeto que vem antes da confecção do
material de divulgação. Entretanto, algumas ações podem acontecer juntamente
com outras, geralmente não necessitam de outras para acontecerem, como é o
caso da contratação de luz e som que não necessita da criação da identidade
visual, por exemplo.

FIGURA 6 – PROJETO FAZENDO CENA – INVADINDO OS BASTIDORES, SÃO PAULO

FONTE:<https://www.dezminutosdearte.com.br/teatro/projeto-fazendo-cena-tem-nova-edicao-
dia-27-de-outubro/>. Acesso em: 13 fev. 2020.

Esse item das etapas de trabalho é próprio de cada produtor cultural,


pois ele irá entender melhor do que ninguém as demandas de trabalho de seu
projeto. Sendo assim, essas etapas de trabalho podem mudar muito de projeto
para projeto.

129
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

Como os projetos geralmente possuem prazos para a realização de suas


ações, o cronograma de atividades deve estar coerente com as etapas de trabalho,
e deve ser um instrumento utilizado pelo produtor cultural no dia a dia da
execução do projeto. Um cronograma de atividades auxiliará o produtor cultural
a identificar as datas de início e fim de cada etapa, reconhecer quais atividades
devem ser realizadas com mais urgência, acompanhar cada fase, reduzindo o
risco de atrasos, e auxilia na tomada de decisão em caso de atraso.

QUADRO 2 – EXEMPLO DE CRONOGRAMA – PROJETO CULTURAL


2015
Etapa/Atividade
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Pré-produção
- Confirmação dos hotéis
- Confirmação das pautas dos teatros
- Locação de transporte para atores e equipe do projeto
- Contratação do assistente de produção local (em
cada cidade)
- Ensaios
Produção/Execução
- Apresentação da peça em Campinas
- Registro videográfico da 1ª apresentação
- Apresentação da peça em Mogi Mirim
- Apresentação da peça em Bauru
- Registro videográfico da última apresentação
- Registro fotográfico das peças teatrais
Divulgação/Comercialização
- Criação da identidade visual do projeto
- Criação das peças gráficas de divulgação
- Impressão dos ingressos
- Impressão dos cartazes
- Confecção dos banners
- Distribuição das peças de divulgação do projeto
- Divulgação do projeto em rádios locais
- Venda e distribuição dos ingressos
- Organização do clipping do projeto
Administração físico-financeira
- Acompanhamento e gestão do projeto (físico e financeiro)
- Execução financeira
- Serviço de consultoria contábil
- Serviço de consultoria jurídica
- Elaboração da prestação de contas
- Elaboração do relatório de execução (relatório final)

FONTE: IAB (2014, p. 50)

130
TÓPICO 3 | ETAPAS DE TRABALHO DO PROJETO CULTURAL

Geralmente o cronograma de atividades é realizado em forma de tabela,


para melhor visualização de todas as etapas de datas previstas para cada ação a
ser desenvolvida. Pode-se usar como unidade de medida de tempo, ano, mês,
semana ou dia. E se o produtor quiser detalhar ainda mais o cronograma, ele
poderá colocar os responsáveis por cada ação, bem como a quantidade de dias
necessários para a realização de cada ação.

3 ORÇAMENTOS, PLANO DE DIVULGAÇÃO, PLANO DE


COMERCIALIZAÇÃO E CONTRAPARTIDAS DE UM PROJETO
CULTURAL
Seguindo com as etapas de um projeto cultural, o orçamento faz parte do
escopo. Neste plano financeiro são apresentadas todas as despesas que uma ação
ou produto cultural pode ter. Nele deve constar tudo o que se pretende gastar,
bem como valores adotados no mercado. Lembrando que este plano financeiro
trabalha com uma estimativa financeira, pois os valores de mercado podem variar
conforme o passar do tempo. Um orçamento que não foi bem elaborado poderá
pôr em risco o projeto, atrasando ações e/ou prejudicando negociações.

Para a realização do orçamento é necessário listar todos os itens que serão


necessários dentro do projeto, para que assim possa se ter uma ideia do que será
gasto e o quanto será gasto. Serão listados: locação de locais, profissionais, materiais
de expediente, transporte, compra e/ou locação de equipamentos, alimentação,
taxas diversas, publicidade, divulgação, entre outras coisas necessárias para a
execução total do projeto.

Exemplo

• Produto: exposição de arte.


• Duração do projeto: quatro meses.
• Necessidades:
◦ 3 artistas;
◦ 1 produtor;
◦ 1 curador;
◦ 1 assistente de curadoria;
◦ 1 coordenador do educativo;
◦ 5 arte-educadores;
◦ 1 coordenador administrativo-financeiro;
◦ 1 secretária;
◦ 1 designer gráfico;
◦ 1 assessor de imprensa;
◦ 1 fotógrafo;
◦ 1 contador;

131
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

◦ 1 assessor jurídico;
◦ 1 auxiliar de serviços gerais;
◦ montagem e desmontagem;
◦ locação de mobiliário expositivo;
◦ locação de equipamento de iluminação;
◦ transporte das obras;
◦ seguro para as obras;
◦ confecção de convite;
◦ confecção da sinalização;
◦ confecção do livreto do educativo;
◦ confecção de cartaz;
◦ anúncio de rádio;
◦ locação de toldo para a abertura

FONTE: IAB - INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos culturais: como elaborar, executar
e prestar contas. Brasília, DF: Instituto Alvorada Brasil; Sebrae Nacional, 2014. p. 54.
Disponível em: <https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/61942d134ba32ed4c25a6439578715ce/$File/5443.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

Para acertar nas questões referentes a valores, é importante que o produtor


cultural esteja o mais próximo possível dos fornecedores, evitando, assim, a
suposição de valores de determinados serviços. Caso não se consiga propostas
e orçamentos de todos os serviços necessários, o ideal é a realização de uma
pesquisa de preços bem aprofundada.

NOTA

Entre 2011 e 2012, o Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Fundação


Getúlio Vargas (FGV), publicou boletins de preços com valores de serviços e mão de obra do
mercado cultural das diferentes regiões brasileiras, tomando como base seis capitais: Belém,
Recife, Brasília, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Apesar de ter sido encomendada para
dar apoio às avaliações de projetos culturais submetidos à renúncia fiscal via Lei Rouanet,
pesquisas como essa também ajudam os produtores culturais, que pretendem submeter
seus projetos a leis e editais de fomento à cultura, a terem uma visão mais ampla e real dos
valores praticados no mercado em que atuam. Todas as pesquisas estão disponibilizadas no
site do Ministério da Cultura: <http://www.cultura.gov.br/> (IAB, 2014, p. 55).

132
TÓPICO 3 | ETAPAS DE TRABALHO DO PROJETO CULTURAL

TABELA 1 – PLANO FINANCEIRO – PROJETO CULTURAL


DESCRIÇÃO UNIDADE QUANTIDADE OCORRÊNCIA VALOR UNITÁRIO VALOR TOTAL
arte-educador mês 4 5 R$ 500,00 R$ 10.000,00

FONTE: IAB (2014, p. 56)

Na tabela anterior temos um item de projeto com todas as suas


especificidades. Sendo que na coluna descrição é inserida a função desejada; na
coluna unidade, se descreve a forma de pagamento da despesa por serviço, verba
dia, mês, semana, cachê, km etc.; na coluna quantidade é inserido o número de
unidades que utilizaremos; já na coluna ocorrência temos a quantidade de vezes
que iremos precisar desse mesmo item no projeto; e, por fim, o valor unitário e
o valor total - que é o cálculo do valor unitário multiplicado pela quantidade de
unidades e pelo número de ocorrências dos itens do projeto cultural.

Está com os orçamentos prontos? E agora? O que fazer? É hora de pensar


no plano de divulgação do projeto cultural, que é uma etapa fundamental para a
veiculação e descentralização do projeto como um todo, para que assim o público
previsto anteriormente seja alcançado.

Um material de divulgação criativo e que chame a atenção pela sua


assertividade, desperta o interesse em possíveis apoiadores, pois é neste material
que a marca das empresas patrocinadoras é inserida. Nesse caso, a divulgação
também pode ser considerada uma contrapartida, já que o material do projeto é
veiculado e a marca consequentemente segue junto na divulgação. Para auxiliar
na demanda da divulgação, alguns itens podem ser criados como:

[...] cartaz, folder, postal, panfleto, banner, livreto, convite, adesivo


(impressos); anúncio de jornal, anúncio de revista (mídia impressa);
newsletter, convite eletrônico, hotsite, blog, site do proponente, site
dos parceiros, banners eletrônicos (mídia eletrônica); anúncio de TV,
filme promocional (mídia televisiva); spot de rádio, carro de som
(mídia radiofônica); busdoor ou outbus — anúncio em traseira de
ônibus —, outdoor, blimps, painel urbano (mídia exterior); camiseta,
pasta, bolsa, boné (material promocional) (IAB, 2014, p. 64).

Tanto um assessor de imprensa quanto um designer gráfico podem ser


profissionais contratados pelo projeto para apoiar nas questões de divulgação.
Quanto mais profissionais especializados inseridos no projeto, mais certeiras serão
as ações desenvolvidas por eles para garantir o sucesso do projeto. Muitas vezes a
contratação de profissionais para atuação no plano de divulgação, bem como na
elaboração das mídias, seja algo que fuja do orçamento da maioria dos projetos.

Para fugir dos altos preços e dos exageros no orçamento, os produtores


culturais costumam garantir a mídia espontânea. Se o projeto cultural tiver relevância,
for democrático e trouxer benefícios para a comunidade, a chance de conseguir mídia
espontânea orgânica é grande. Assim como a utilização das redes sociais garante que
o projeto possa ultrapassar as fronteiras do local onde ele será realizado.

133
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

FIGURA 8 - PROJETO FESTIVAL DE PALHAÇARIA NA CIDADE DE CHAPECÓ/SC

FONTE: <http://www.diariodoiguacu.com.br/noticias/detalhes/festival-de-palhacaria-de-
chapeco-e-aprovado-na-lei-rouanet-43515>. Acesso em: 15 fev. 2020.

Um plano de divulgação bem feito permite que as contrapartidas possam


ser bem-sucedidas. Essas contrapartidas de imagens que se destinam à divulgação
do projeto, bem como dos seus apoiadores, é apenas um dos tipos de contrapartida.
Outro modelo é a contrapartida social, que são aquelas voltadas para a comunidade,
oferecendo o produto ou ação cultural gratuitamente para a sociedade.

Exemplo

Projeto: realização de mostra do cinema francês com a exibição de 30 filmes de


curta e longa-metragem. Assim, temos:

Contrapartidas de Imagem:
• As marcas do patrocinador e dos parceiros entrarão em todas as peças
gráficas (cartaz, folder, programa da mostra, banner), publicitárias (anúncios
de jornal, de rádio e de TV) e promocionais (camisetas) do projeto, bem
como todo o apoio recebido para a realização do projeto será mencionado
na vinheta de abertura da mostra e em entrevistas sobre o projeto.

Contrapartidas sociais:
• Acesso gratuito aos filmes da mostra.
• Realização de quatro oficinas gratuitas sobre técnicas de cinema para alunos
de instituições de ensino público. Cada oficina terá capacidade para 25
alunos, sendo beneficiados 100 alunos no total.

Contrapartidas ambientais:
• Impressão do cartaz, do folder e do programa da mostra em papel 100% reciclado.
• Distribuição de panfletos sobre a importância da coleta seletiva e da separação
correta do lixo. Os panfletos serão distribuídos junto com o programa da mostra.
• Exibição de três filmes de curta-metragem com a temática ambiental.

134
TÓPICO 3 | ETAPAS DE TRABALHO DO PROJETO CULTURAL

Contrapartidas negociais:
• Exibição de vídeo institucional do patrocinador antes do início de cada
sessão da mostra.
• Exibição extra de uma das sessões para os funcionários e clientes da empresa
patrocinadora.

Contrapartida financeira:
• 10% do valor total do orçamento do projeto.

FONTE: IAB - INSTITUTO ALVORADA BRASIL. Projetos culturais: como elaborar, executar
e prestar contas. Brasília, DF: Instituto Alvorada Brasil; Sebrae Nacional, 2014. p. 74.
Disponível em: <https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/61942d134ba32ed4c25a6439578715ce/$File/5443.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020.

A contrapartida ambiental é aquela que visa beneficiar o meio ambiente do


local do projeto, ou até mesmo reduzir/amenizar danos que possam vir a ser feitos
pelo projeto. Além dessas contrapartidas, duas outras são feitas entre o projeto e
os patrocinadores. A contrapartida de negócio, que garante que o patrocinador
possa vender, expor ou divulgar seus produtos junto ao projeto, e a contrapartida
financeira que, no caso, é o investimento financeiro que o patrocinador realiza
direto para o projeto e suas ações.

135
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Conhecer as etapas de trabalho de um projeto cultural faz com que se entenda


sua estrutura e seu funcionamento.

• As fases de pré-produção, produção e pós-produção devem ser desenhadas de


acordo com os objetivos e metas que foram estipulados.

• Na pré-produção acontecem as atividades preliminares de estudo que auxiliam


para a melhor execução do projeto.

• Na etapa da produção ou execução são realizadas atividades que estarão


diretamente ligadas à realização da ação cultural ou da confecção do produto
cultural, como a comercialização e a divulgação.

• A pós-produção acontece depois que a ação e/ou produto cultural foi finalizado,
com prestação de contas, relatórios e outras demandas dessa etapa do projeto.

136
AUTOATIVIDADE

1 (UFMG, 2015) Sobre o desenvolvimento de um projeto cultural, analise as


seguintes afirmativas:

I- A assinatura de contratos inicia a fase de produção de um projeto.


II- A pré-produção é o momento de se definirem estratégias para a
transformação da ideia em algo exequível.
III- O produtor cultural desempenha o papel de interface entre os profissionais
da cultura e os demais segmentos.
IV- O patrocínio à cultura tem sido utilizado como ferramenta de aproximação
das organizações com seus públicos num movimento que se potencializa
pela aplicação das leis de incentivo.

Assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:GZbJcglMYbIJ:https://
www2.ufmg.br/concursos/content/download/7913/66104/version/1/file/PRODUTOR%
2BCULTURAL.pdf+&cd=3&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 11 mar. 2020. (questão 16).

a) ( ) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa I está correta.

2 (UFMG, 2015) Sobre as fases de uma produção cultural, analise as afirmativas


a seguir:

I- O fechamento de um patrocínio, o acerto de datas em um espaço cultural


ou a contratação de um fornecedor tornam a produção de um projeto
cultural irreversível.
II- O planejamento da ação, a montagem de equipe do trabalho e a montagem
do orçamento fazem parte da pré-produção de um projeto artístico-cultural.
III- A busca de recursos financeiros, a gestão do orçamento e a divulgação
fazem parte da fase de produção de um projeto artístico-cultural.
IV- A distribuição, a avaliação de resultados, a documentação do processo,
a organização e a guarda do material e os relatórios fazem parte da pós-
produção de um projeto artístico-cultural.

Assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:GZbJcglMYbIJ:https://
www2.ufmg.br/concursos/content/download/7913/66104/version/1/file/PRODUTOR
%2BCULTURAL.pdf+&cd=3&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 11 mar. 2020. (questão 17).

137
a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
c) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
d) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.

3 (UFMG, 2015) Com relação às fases de trabalho da produção de um projeto,


coloque a letra na Coluna 2 que melhor corresponda à atividade descrita na
Coluna 1:

Coluna 1 Coluna 2
Atividade Fase
A. Assinatura de contratos ( ) Fase de pré-produção
B. Montagem de equipe de trabalho ( ) Produção de evento
C. Elaboração de relatórios ( ) Produção de turnês
D. Produtor local ou produtor de frente ( ) Fase de pós-produção
E. Análise de impactos ( ) Início de produção

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

FONTE: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:GZbJcglMYbIJ:https://
www2.ufmg.br/concursos/content/download/7913/66104/version/1/file/PRODUTOR
%2BCULTURAL.pdf+&cd=3&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 11 mar. 2020. (questão 18).

a) ( ) D, B, C, E, A.
b) ( ) C, A, B, D, E.
c) ( ) A, C, E, B, D.
d) ( ) B, E, D, C, A.

4 (UFRJ, 2018) A elaboração de um projeto cultural deve conter alguns itens


básicos que permitam a sua compreensão geral por quem o escuta e analisa.
Considere a seguinte descrição: “Apresentar a proposta e os instrumentos a
serem utilizados para a promoção e divulgação do projeto cultural, levando
em consideração o equilíbrio entre a solicitação de patrocínios e apoios e a
construção de parcerias e suas reciprocidades” (CUNHA, Maria Helena.
Projeto cultural: concepção, elaboração e avaliação. Curso de Formação de
Gestores Públicos e Agentes Culturais. Rio de Janeiro: Secretaria Estadual
de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, 2015).

Assinale a alternativa CORRETA que apresenta o componente do projeto


cultural correspondente à descrição citada:

FONTE: <https://www.questoesgratis.com/questoes-de-concurso/questao/36940r>. Acesso


em: 11 mar. 2020.

a) ( ) Plano de divulgação.
b) ( ) Objetivos.
c) ( ) Cronograma de Atividades.
d) ( ) Equipe técnica.
138
UNIDADE 3
TÓPICO 4

ITENS QUE SOMAM PONTOS EM PROJETOS CULTURAIS

1 INTRODUÇÃO
Alguns itens fazem toda a diferença na hora de um profissional avaliador
visualizar um projeto. Principalmente no que tange a acessibilidade e a
democratização do projeto a ser avaliado. Quanto maior o número de pessoas
atingidos pelo projeto, maior a pontuação ele obterá.

São esses itens que garantem acessibilidade e democratização, oferecendo


maiores oportunidades de conhecer ações culturais e de participação da
comunidade nos projetos. Visto que acessibilidade e democratização não
precisam ser necessariamente itens que demandem valor financeiro, mas ações
que possam ser realizadas para que seu projeto tenha maior visibilidade, receber
e respeitar todos os tipos de públicos, levar ações para comunidades distantes e
estar preparado para receber públicos com algum tipo de deficiência.

Neste tópico serão apresentados alguns elementos pertinentes em relação


a Acessibilidade em eventos culturais bem como ações para a democratização de
um projeto cultural.

2 ITENS IMPORTANTES PARA O SUCESSO DE PROJETOS


CULTURAIS
Para encerrar a elaboração de um projeto cultural, é importante destacar
alguns itens que são de suma importância para que os projetos culturais
possam obter sucesso desde sua avaliação até a sua execução. São itens como:
a democratização do acesso nas ações e a questão da acessibilidade. Por isso a
importância de se observar itens como esses na hora da escrita do projeto.

A cultura é plural e sua principal função é fazer com que todas as ações
que são voltadas a essa área sejam ações democráticas abertas ao público e
principalmente gratuitas. Um dos pontos primordiais de um projeto é que ele
tenha como meta atingir um determinado público que, por conta de seu padrão
ou condição social e financeira, nunca teriam contato com uma ação desse tipo.
Desta maneira, os projetos, quando escritos, já devem ter em seu escopo o item
democratização, para que as ações e produtos culturais desenvolvidos possam
ser destinados para este público, sem ônus para a comunidade. Como fazer com
que a democratização aconteça? Seguindo alguns critérios como:
139
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

• adotar preços populares e/ou a gratuidade do produto cultural;


• promover atividades gratuitas paralelas (oficinas, workshops,
palestras etc.);
• realizar ações culturais em locais remotos ou periféricos, ou seja,
fora do circuito tradicional;
• disponibilizar gratuitamente transporte para levar o público menos
favorecido economicamente ao local de realização do evento;
• realizar doações do produto cultural a instituições públicas (escolas,
bibliotecas, museus, equipamentos culturais etc.) (IAB, 2014, p. 77).

Lembrando que todas as decisões tomadas para a democratização do
acesso nos projetos devem ser pensadas desde que não tornem inviável o projeto
e que cumpra o cronograma e o planejamento descritos inicialmente. Essa questão
da democratização não quer dizer que o projeto não possa ter cobrança de ingresso
ou de venda de produtos. Em determinados editais estipula-se a quantidade que
pode ser vendida, como também a quantidade do que não deve ser cobrado.

ATENCAO

A Instrução Normativa nº 1, de 20 de março de 2017, nos traz uma definição de


Democratização e que é muito útil na hora de montar um projeto cultural:

Art. 22. Além das medidas descritas nos artigos anteriores, o proponente deverá prever
a adoção de, pelo menos, uma das seguintes medidas de democratização de acesso às
atividades, aos produtos, serviços e bens culturais:

I- promover a participação de pessoas com deficiência e de idosos em concursos de


prêmios no campo das artes e das letras;
II- doar, no mínimo, 20% dos produtos materiais resultantes da execução do projeto a
escolas públicas, bibliotecas, museus ou equipamentos culturais de acesso franqueado
ao público, devidamente identificados, sem prejuízo do disposto no art. 44 do Decreto
nº 5.761, de 2006;
III- desenvolver atividades em locais remotos ou próximos a populações urbanas periféricas;
IV- oferecer transporte gratuito ao público, prevendo acessibilidade à pessoa com
deficiência ou com mobilidade reduzida e aos idosos;
V- disponibilizar na internet a íntegra dos registros audiovisuais existentes dos espetáculos,
exposições, atividades de ensino e outros eventos de caráter presencial;
VI- permitir a captação de imagens das atividades e de espetáculos e autorizar sua
veiculação por redes públicas de televisão;
VII- realizar, gratuitamente, atividades paralelas aos projetos, tais como ensaios abertos,
estágios, cursos, treinamentos, palestras, exposições, mostras e oficinas;
VIII- oferecer bolsas de estudo ou estágio a estudantes da rede pública de ensino em
atividades educacionais ou profissionais desenvolvidas na proposta cultural;
IX- estabelecer parceria visando à capacitação de agentes culturais em iniciativas
financiadas pelo Poder Público; ou
X- outras medidas sugeridas pelo proponente a serem apreciadas pelo Ministério da
Cultura.

FONTE: <http://www.lex.com.br/legis_27342926_INSTRUCAO_NORMATIVA_N_1_DE_20_DE_
MARCO_DE_2017.aspx>. Acesso em: 11 mar. 2020.

140
TÓPICO 4 | ITENS QUE SOMAM PONTOS EM PROJETOS CULTURAIS

Além da democratização, outro item que soma pontos no projeto é a


acessibilidade. Quando se escreve um projeto e se pensa nas ações que serão
desenvolvidas, é preciso pensar em seu público. O público deve ser beneficiado
com as ações, portanto, é dever do produtor cultural ampliar e facilitar o acesso
para pessoas com qualquer tipo de deficiência ou dificuldade.

FIGURA 9 – PROJETO DE EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ –


FOTOGRAFIA TÁTIL

FONTE: <https://medium.com/revista-bravo/rampas-de-acesso-para-a-arte-813d60c79793>.
Acesso em: 15 fev. 2020.

As possibilidades de ações para acessibilidade são inúmeras, visto que


algumas delas devem constar no cronograma financeiro e outras podem ser feitas
gratuitamente, incentivando ações com criatividade.

Existem no mercado consultores especializados em acessibilidade,


aptos a orientar os produtores culturais sobre quais medidas e ações
são as mais adequadas para tornar um determinado produto cultural
acessível. Esses consultores, além de analisar a melhor opção de
acessibilidade para o nosso produto, têm conhecimento do mercado
e poderão mensurar o valor necessário para colocar em prática tais
medidas. Há, também, organismos públicos cujo objetivo é o de criar
oportunidades e assegurar os direitos de pessoas com deficiência, que
também poderão nos orientar sobre as melhores práticas relativas à
acessibilidade (IAB, 2014, p. 79).

Para a realização de ações e/ou produtos acessíveis, o produto cultural


pode realizar ações com a utilização de recursos como audiodescrição, Libras,
Braille, realizar ações com monitoria para pessoas com limitação intelectual
ou mental, utilizar recursos de acessibilidade digital, bem como a utilização
de rampas, corrimões, elevadores, piso tátil, banheiros e locais adaptados para
pessoas com deficiência. É papel do produtor cultural, na hora de pensar em
ações, solucionar problemas relacionados também a questões da acessibilidade.

141
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

O CIDADÃO IDOSO: CONSUMIDOR E PRODUTOR CULTURAL

José Carlos Ferrigno

INTRODUÇÃO

Atividades culturais, esportivas, turísticas e de lazer nos remetem à


ideia de ocupação voluntária e frequentemente agradável do tempo livre das
obrigações, sobretudo do trabalho. No imaginário da classe trabalhadora, após
décadas de muita labuta, a aposentadoria surge como promessa de um tempo
de liberdade de escolhas e de realização de sonhos por muitos anos acalentados.
Este capítulo pretende analisar quais são, na atualidade, as condições de acesso à
cultura e ao lazer, por parte dos aposentados brasileiros, comentando as ofertas
institucionais e a qualidade dos  serviços disponibilizados aos idosos em nosso
país. As atividades de lazer oferecidas nos centros de convivências de idosos
e nas faculdades abertas à terceira idade são compatíveis com as expectativas
desse público? Além de lazer recreativo, de entretenimento, temos também oferta
suficiente de lazer educativo? O idoso brasileiro está tendo a oportunidade não só
de consumir cultura, mas também de produzir cultura? Qual o seu espaço para
assumir a função de preservador e transmissor de nossa memória cultural para
as novas gerações? Além de todos esses questionamentos, importa saber até que
ponto a participação desse segmento etário tem sido favorecida pela Lei nº 8.842,
de 4 de janeiro de 1994, conhecida como Política Nacional do Idoso (PNI), nas
programações culturais das entidades públicas e privadas.

2 O DIREITO À CULTURA E O QUE ENTENDEMOS POR CULTURA

O termo cultura adquiriu diversos significados através dos tempos e,


mesmo na atualidade, mantém seu caráter polissêmico, fato que permite pensá-
lo sob diferentes ângulos. Evidentemente, uma discussão mais aprofundada
sobre tema tão vasto foge ao âmbito e ao intuito deste capítulo. Os dicionários
apresentam um conceito genérico e antropológico de cultura, considerando-a
como sendo o modo de vida da sociedade, que abrange suas ideias, crenças,
instituições, costumes, leis, Cunha (2010, p.17) acrescenta que por cultura pode se
entender o patrimônio material e simbólico de uma coletividade, compartilhado
e transmitido de geração a geração. Essa abrangência semântica já nos permite,
em relação ao tema deste capítulo, registrar uma observação importante. Na
verdade, o termo cultura engloba o lazer, o esporte e o turismo. Em algum
momento, já ouvimos expressões como: cultura do lazer, cultura do esporte e
cultura do turismo.

Portanto, no encaminhamento deste trabalho, darei um tratamento


particularizado a cada um desses termos, sem, todavia, esquecer que tudo o que
é produzido pela ação humana é cultura. Constatada essa amplitude do termo,

142
TÓPICO 4 | ITENS QUE SOMAM PONTOS EM PROJETOS CULTURAIS

escolho um conceito de cultura que me parece muito fértil do ponto de vista social
e político, além de esclarecedor quanto às condições de vida e às potencialidades
dos cidadãos mais velhos. Para tanto, comentarei um relato do eminente professor
Alfredo Bosi sobre uma experiência por ele vivida e sua brilhante reflexão sobre
a mesma (BOSI, 1997, p. 33-58).

Trata-se de um inusitado episódio vivido em Florença, quando lá estava a


estudos. Bosi havia se hospedado em uma pensão, uma habitação muito antiga,
que não possuía mesmo algo tão prosaico como um chuveiro elétrico e, por isso,
era obrigado a se deslocar a um banho público de uma estação de trem. Após,
várias e divertidas tentativas para resolver o problema, ele resolveu comprar
uma enorme bacia e a levou até a pensão. Ao vê-lo carregar pela rua, desajeitado,
esse grande objeto, a dona da hospedaria, entre espantada e contrariada, dirige-
se a ele e diz: “O senhor tem cultura, mas é muito democrático”, por considerar
impróprio a uma pessoa culta o papel de carregador. Alfredo Bosi passa, então,
a desenvolver suas reflexões sobre o que é cultura a partir dessa frase que revela
a seguinte ideologia conservadora, de diferenciação de classe social: o trabalho
braçal é feito para quem não tem cultura. A cultura, nessa perspectiva, é entendida
como algo que se tem, assim como se tem qualquer outro objeto. Tal posse, nesse
modo de perceber a realidade, dá direito a certos privilégios, por exemplo, ser
poupado de serviços pesados. A cultura é vista como um fator de divisão entre
tipos de pessoas, algumas têm, outras, não. Na condição de uma posse, a cultura é
vista como mercadoria ou herança e, portanto, um bem a ser acumulado, ou seja,
soma de coisas desfrutáveis, como livros, discos, obras de arte. Alternativamente,
Alfredo Bosi nos convida a entender a cultura como “fruto de processo de
trabalho”, fazendo jus, aliás, à sua raiz etimológica, que tem a ver com o cultivo,
pois vem do latim colere. Então, se a cultura é processo de trabalho, não é exclusiva
desta ou daquela classe social, pertence a todas as classes. Principalmente, àquelas
que, de fato, trabalham. E, acrescento eu, também a todas as gerações.

O autor nos mostra o envolvimento das comunidades pobres na


organização das atividades da chamada cultura popular. Nela, o papel dos
mais velhos é fundamental para o repasse dos conhecimentos dos ritos e de
seus significados, enfim das tradições, às novas gerações. A memória social ou
histórica é imprescindível para um entendimento desalienado e desalienante
de cultura. As sociedades que esquecerem seu passado errarão sem encontrar a
porta de saída, que é a própria reflexão sobre o passado. O ato de lembrar deve
ser visto como um ato de desocultação da verdade histórica. Desenvolvendo
raciocínio semelhante e seguindo as teorizações empreendidas por Karl Marx e
Georg Lukács, Goldmann (1991) argumenta que a reificação ou coisificação da
noção de cultura se deve à prevalência do valor de troca dos produtos, típico das
economias mercantilistas, sobre o valor de uso dos produtos. Isto é, os produtos
do trabalho humano não são valorizados pela sua capacidade de satisfazer
necessidades específicas. Assim, a cultura, reificada como mercadoria, serve para
ser trocada por prestígio, privilégio, bens materiais e até dinheiro, em vez de
promover a satisfação de necessidades humanas, na perspectiva de uma melhor
qualidade de vida e do aperfeiçoamento da cidadania.

143
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

3 O IDOSO COMO CONSUMIDOR DE CULTURA

Do exposto até aqui, fica a ideia de que é possível pensar no direito do idoso à
cultura, tanto na condição de consumidor de bens culturais quanto na de produtor
de cultura. O termo consumidor no contexto de uma sociedade consumista e
despolitizada como a nossa é, compreensivelmente, posto em suspeição. Em
nossos dias, o consumidor é visto como um ser apenas preocupado com seus
interesses particulares, portanto, alienado das causas sociais. Uma avaliação do
grau de consciência e participação política, porém, depende, obviamente do que
e de como se consome. Referindo-se às possibilidades do consumidor cidadão,
para Canclini (2008, p. 35), “é preciso desconstruir as concepções que julgam
os comportamentos dos consumidores como predominantemente irracionais
e as que somente veem os cidadãos atuando em função da racionalidade dos
princípios ideológicos”.

Portanto, o consumo cultural de boa qualidade pode ensejar ao idoso a


oportunidade de uma fértil ocupação de seu tempo livre e, consequentemente,
se converter em um poderoso estímulo a uma efetiva participação cidadã.
Para  tanto, é necessária uma ampla oferta de produtos culturais acessíveis às
condições financeiras do idoso, mas não só. A acessibilidade física é igualmente
fundamental. Os equipamentos culturais tendem a se concentrar em bairros mais
nobres e mais centrais das cidades brasileiras. Além das distâncias, a precariedade
dos transportes públicos, muitas vezes, inviabiliza a chegada a cinemas, teatros,
parques, centros de lazer etc.

4 O IDOSO COMO PRODUTOR DE CULTURA

Nas décadas mais recentes, a maior presença dos idosos nos espaços
públicos não decorre apenas do aumento desse contingente etário, mas
também de mudanças comportamentais. Movidos pelo desejo de viver mais
intensamente, consoante os novos valores da contemporaneidade, eles se
tornaram mais participantes, mais reivindicativos, mobilizaram-se na defesa de
seus direitos e, como consequência, elevaram-se as expectativas de possibilidades
de realização na velhice. O encontro de gerações, em circunstâncias ideais de
respeito e amizade, pode ensejar ricas trocas de experiências nas quais o idoso
alterna a posição de professor e de aluno dos jovens. Nas sociedades em que é
valorizado, sua função de professor é ressaltada. A história nos mostra que, em
épocas turbulentas, de transição, de rápidas mudanças, os jovens tendem a tomar
o comando da comunidade ou mesmo de uma nação. Nos momentos que exigem
reorganização e garantia de repasse das tradições, porém, a figura do velho é
essencial. A palavra tradição vem do latim traditio. O verbo é tradire e significa
precipuamente entregar, designa o ato de passar algo para outra pessoa, ou de
uma a outra geração (Bornheim, 1997, p.18). A sabedoria dos velhos, desde as
anotações de Walter Benjamin, prossegue sendo desperdiçada pela sociedade de
consumo, alienada de sua própria história. Todavia, tanto a ação cultural da qual

144
TÓPICO 4 | ITENS QUE SOMAM PONTOS EM PROJETOS CULTURAIS

os idosos são o público alvo, quanto a ação cultural da qual eles podem e devem
ser os sujeitos, trazem a promessa de dias melhores. Essas ações se somam aos
esforços de todos aqueles que estão voltados para a construção de uma sociedade
mais humana e solidária (Benjamin, 1986, p. 195).

5 TEMPO LIVRE E LAZER

O termo lazer tem sua origem no verbo latino licere, que significa ser
possível, permitido, lícito, poder fazer algo, e tem a ver com a liberação de
obrigações, possibilitando o exercício de atividades entendidas como de lazer.
Entre os antigos gregos, o lazer ou o ócio era muito valorizado, pois permitia o
nobre exercício da política e da filosofia, enquanto o trabalho, atividade utilitária
que atendia a necessidades biológicas, era visto como algo menor e reservado a
mulheres e escravos, sobretudo o trabalho manual. O termo trabalho, aliás, deriva
do latim tripalium, antigo instrumento de tortura. Associava-se a ele, portanto, a
noção de sacrifício e sofrimento. Mais recentemente, no século XIX, em plena
Revolução Industrial, o lazer passa a ser sentido como um fundamental fator de
humanização das condições de trabalho. Nessa época, o trabalhador, incluindo
crianças, mulheres e velhos, tinha jornadas de treze a dezesseis horas diárias,
num contexto de infâmia e terrível opressão. Paulo Lafargue, testemunha dessas
iniquidades, comenta com ironia e indignação em seu Direito à Preguiça que
“uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a
civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais.
Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho, levado até
o esgotamento das forças vitais do indivíduo” (LAFARGUE, 1977, p. 7). Nas
décadas seguintes a situação do trabalhador foi melhorando. Tanto a progressiva
redução da jornada quanto a melhoria das condições de trabalho, porém, foram
determinadas principalmente mais pelas vitórias do movimento operário do
que devido a avanços tecnológicos. Com muita luta, puderam os trabalhadores
conquistar os direitos trabalhistas desfrutados em nossos dias, como o direito a
aposentadoria, entre outros.

Consequentemente, o direito ao lazer foi construído mais como


resultado de legislações de proteção ao trabalhador do que como decorrência do
desenvolvimento econômico ou de concessões por parte dos empregadores. Sem
dúvida, as conquistas da tecnologia possibilitaram o aumento da produtividade
e contribuíram para o aumento do tempo livre e para uma mudança de
mentalidade. Assim, a partir nos anos 1970, a sociologia do lazer, historicamente
preterida como campo de pesquisa em favor da sociologia do trabalho, como
aponta Magnani, passou a florescer. Esse autor nos mostrou, com sua pesquisa
pioneira sobre a vida na periferia de São Paulo, que o lazer está presente em
todas as classes sociais, mesmo nas mais pobres e que é fator de humanização das
relações sociais (Magnani, 1998).

145
UNIDADE 3 | IMERSÃO EM PROJETOS CULTURAIS

É interessante observar como tem sido caracterizado o lazer na


contemporaneidade. Dumazedier (1976), por exemplo, define o lazer como o
conjunto de ocupações às quais o indivíduo se entrega de livre vontade, seja
para repousar, seja para se divertir ou, ainda, para desenvolver sua formação
ou informação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre
capacidade criadora, após livrar-se das obrigações profissionais, familiares e
sociais. Dessa perspectiva, portanto, o lazer se opõe à ideia de obrigação. O lazer
promete benefícios, já que permite uma participação social maior e mais livre
para a prática de uma cultura desinteressada do corpo, da sensibilidade e da
razão. Também oferece possibilidades de integração a associações culturais e o
desenvolvimento de novas habilidades (op. cit., p. 94). Acreditando também na
melhoria das condições de vida promovida pelo lazer, para Domenico de Masi, o
futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como
obrigação ou dever e for capaz de apostar numa mistura de atividades em que o
trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e com o jogo, enfim com
o “ócio criativo” (MASI, 2000, p. 8).

O lazer é visto principalmente como entretenimento, embora possa ser


um poderoso instrumento de educação, com vantagens sobre o ensino formal,
ao associar exatamente educação com diversão. Isso porque, além de atividades
reflexivas e teóricas, o lazer desenvolvido por meio de oficinas de criatividade
oferece um trabalho prático. Nesse caso, de acordo com Head (1986, p. 48-61), há
a oportunidade de uma educação obtida pelos jogos ou pela arte, que distingue
a diversão ativa (o esporte amador, por exemplo) de um entretenimento passivo
(ver TV). Para Head, o entretenimento é formado por ingredientes de uma dieta
pobre que não alimenta e da qual logo esquecemos. A “educação nas coisas”,
como diz Head, é algo que implica um contato direto com os objetos e não apenas
o manejo com as suas representações, característica do modelo intelectualista de
educação. Para essa tarefa, o autor vê nas artes um papel fundamental.

Segundo ele, é preciso viver a arte se quisermos ser permeados pela arte.
Por meio de atividades como tocar um instrumento, pintar, dançar etc., passa-se a
ter mais influência sobre nossa mente e nosso corpo. O ideal é combinar liberdade
e trabalho, transformando trabalho em diversão e diversão em trabalho. Quando
o que fazemos é o exercício da habilidade e da imaginação humanas em todos
os campos do trabalho humano, então as diferenças entre trabalho e diversão,
entre arte e indústria, entre profissão e recreação, entre os jogos e a poesia – todas
essas distinções desaparecem. O ser humano se torna ser humano total, e seu
modo de vida uma contínua celebração de sua força e imaginação (Head, 1986).
A educação pela arte de que fala Head, via oficinas de dança, música, teatro, artes
plásticas etc. fazem parte da programação de diversas instituições socioculturais
brasileiras de ensino não formal, de natureza pública ou particular, dirigidas a
todas as faixas etárias. Nelas, os idosos têm a oportunidade do desenvolvimento
cultural e artístico.

FONTE: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9127/1/O%20Cidad%C3%A3o%20idoso.pdf>.
Acesso em: 11 mar. 2020.

146
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• Para encerrar a elaboração de um projeto cultural, é importante destacar alguns


itens que são de suma importância para que os projetos culturais possam obter
sucesso desde sua avaliação até a sua execução. São eles: a democratização do
acesso nas ações e a questão da acessibilidade.

• A cultura é plural e sua principal função é fazer com que todas as ações
que são voltadas a essa área sejam ações democráticas, abertas ao público e
principalmente gratuitas.

• Além da democratização, outro item que soma pontos no projeto é a


acessibilidade. Quando se escreve um projeto e se pensa nas ações que serão
desenvolvidas é preciso pensar em seu público.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

147
AUTOATIVIDADE

1 (UFRJ, 2018) Marketing cultural é “a utilização da cultura como base e


instrumento para transmitir uma determinada mensagem (e, a longo prazo,
desenvolver um relacionamento) a um público específico, sem que a cultura
seja a atividade-fim da empresa” (REIS, 2006, p. 45). O marketing cultural é
uma das ferramentas mais utilizadas pelas empresas para que seus planos de
comunicação obtenham êxito. De acordo com Ana Carla Fonseca Reis, em seu
livro Marketing cultural e financiamento da cultura (2006), uma instituição,
ao optar por essa estratégia, busca atingir alguns objetivos, EXCETO:

FONTE: <https://www.questoesgratis.com/questoes-de-concurso/questoes/disciplina%
3D49?disciplina=49&page=3>. Acesso em: 11 mar. 2020.

a) ( ) Estabelecer uma comunicação direta com o público-alvo, pois a


cultura rompe com as resistências em relação aos veículos tradicionais
de comunicação, sendo um veículo neutro para a transmissão da
mensagem da empresa.
b) ( ) A manutenção da estrutura interna organizacional, pois o marketing
cultural visa valorizar a marca da empresa, projetando-a externamente,
não tendo, como um dos resultados, melhorias para o corpo funcional
que a compõe.
c) ( ) Reforçar ou aprimorar a sua imagem corporativa, pois, ao associar-se
à cultura, a empresa transfere à sua marca valores como criatividade,
inovação, tolerância e respeito às raízes da sociedade.
d) ( ) Estabelecer relações duradouras com a comunidade, pois a atuação
da empresa nesse contexto está vinculada ao valor da sua marca. Se
a empresa não investir no futuro da sociedade, ela terá problemas em
garantir a sua própria sobrevivência.

2 “Imagine que você aguarda ansiosamente a um lançamento do cinema,


mas é impedido de sequer entrar na sala ou então que tem vontade de
ler aquele livro que seu amigo te indicou, mas, por mais que queira, não
consegue ter acesso a ele. Esta é a realidade de milhões de brasileiros e
brasileiras. Segundo o censo do IBGE de 2010, 45,6 milhões de pessoas têm
alguma deficiência no país. E, se nem no direito de ir e vir essa grande
parcela da população é plenamente atendida, imagine no direito à cultura”
(SEGANFREDO, 2020). Descreva quais ações podem ser feitas para garantir
a acessibilidade em ambientes culturais.

FONTE: SEGANFREDO, Thais. Acessibilidade Cultural: Uma longa Jornada. Disponível em:
<http://www.nonada.com.br/2016/03/acessibilidade-cultural-uma-longa-jornada/>. Acesso
em: 29 mar. 2020.

148
3 A Lei de Incentivo à Cultura tem sido alvo de polêmicas resultando no
pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para
investigar possíveis irregularidades na concessão de incentivos fiscais. As
posições críticas com relação à Lei de Incentivo à Cultura apontam a:

a) ( ) Impossibilidade de obter retorno publicitário divulgando a própria


marca nos projetos patrocinados.
b) ( ) Falta de transparência nos critérios utilizados para selecionar projetos
considerados relevantes.
c) ( ) Ausência da forma “doação” nas modalidades de investimento, restritas
ao modo patrocínio.
d) ( ) Limitação da proposição dos projetos apenas por pessoas jurídicas com
ou sem fins lucrativos.

149
150
REFERÊNCIAS
ALVES, N. Taxa ECAD para eventos. Sympla, [s.l.], c2020. Disponível em:
https://blog.sympla.com.br/taxa-ecad-para-eventos/. Acesso em: 28 jan. 2020.

ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2007. p. 253.

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