Unidade Curricular - Histórias em Quadrinhos e Cientirinhas
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Histórias em Quadrinhos e
Cientirinhas
Equipe de elaboração
Cleber Gonçalves da Silva
Ana Lídia Paixão e Silva
Cristiane Gonçalves de Oliveira Andrade
Equipe de coordenação
Alison Fagner de Souza e Silva
Chefe da Unidade do Ensino Médio (GEPEM/SEDE)
Revisão
Andreza Shirlene Figueiredo de Souza
Chrystiane Carla S. N. Dias de Araújo
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GERÊNCIA GERAL DE ENSINO MÉDIO E ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
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Sumário
1. Apresentação 7
2. O fascínio das histórias em quadrinhos (HQs) 12
Orientações para realização de atividades 14
Orientações para a Avaliação 14
3. Estrutura composicional das HQs 15
Orientações para realização de atividades 22
Orientações para a Avaliação 22
4. Trabalhando com quadrinhos em sala de aula 23
Orientações para realização de atividades 37
Orientações para a Avaliação 38
5. Referencial Bibliográfico 39
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1. Apresentação
Prezado/a professor/a.
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Para atender a esses objetivos, a unidade curricular Histórias em quadrinhos e Cientirinhas, está
balizada em focos pedagógicos que orientam a vivência de um percurso formativo que tem em vista
a realização de uma pesquisa científica em quaisquer áreas do conhecimento e/ou componente
curricular para além dos multiletramentos. São eles:
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Dessa forma, este material de apoio à ação docente está estruturado nos princípios
apresentados pelo eixo estruturante, habilidades, ementas e focos pedagógicos ora descritos,
explorando, inicialmente, a curiosidade científica enquanto elemento fundamental para despertar o
interesse e mobilizar os/as estudantes para o desenvolvimento dessas habilidades. Orienta-se,
aqui, que a motivação, a pergunta propulsora da pesquisa parta prioritariamente de inquietações
e desafios enfrentados pelos estudantes em seu cotidiano, nos seus contextos, identificando
problemáticas de seu interesse.
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A visão que grande parte dos jovens têm das HQs é de leitura extraescolar. As várias
atividades de leituras feitas com HQs em sala de aula, na maioria das vezes, restringem-se a
leitura de fruição. O currículo de Pernambuco propõe relacionar essa leitura às mais diversas
áreas de conhecimento para leituras mais analíticas. Assim, começa a jornada rumo à formação
de leitores que observem mais atentamente os diversos elementos composicionais
(multimodais/multissemióticos) nos textos em geral. Então, um dos caminhos para essa leitura
mais apurada seria as HQs, conhecidas no popular como Gibis. Até porque elas já fazem parte
do universo de muitos estudantes.
Para trabalhar as HQs em sala de aula, faz-se necessário nortear os estudos pelo conceito
de leitura como atividade reflexiva, consciente e intencional, como apresenta Kleiman, (2008).
A configuração da semiose das palavras no texto possibilita a compreensão do contexto
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gerando conhecimento linguístico para o entendimento textual. É diante dessa premissa que há
a percepção das palavras,
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A linguagem dos quadrinhos tem como foco, segundo Ramos (2009), uma óptica
particular e expressiva que se distingue da estrutura narrativa tradicional. Enquanto a estrutura
da narrativa segue elementos bem sólidos em sua linearidade, os quadrinhos se utilizam de
elementos bem mais particulares que vão além da linguagem verbal e da imagem. Por exemplo,
a disposição das formas geométricas que ajuda a contar as histórias, tipografia, texturas e cores.
Isso particulariza, ainda mais, a linguagem dos quadrinhos.
A narrativa, que envolve elementos visuais além do verbal, possibilita ao leitor uma
leitura mais dinâmica e centrada na função de correlacionar elementos da linguagem que geram
efeitos mais lúdicos para a contação da história. Essa estrutura das HQs, tem uma visão mais
clara quando entendida pela perspectiva de Bakhtin (2000, p.12) de que “os gêneros são tipos
relativamente estáveis de enunciados usados numa situação comunicativa para intermediar o
processo de interação”. Esse conceito ajuda a elucidar a influência na diversificação das formas
de produção e leitura do gênero Quadrinhos. Assim, facilitando a interação do texto pelas
diversas possibilidades de leitura geradas pela relatividade estável do gênero.
A análise teórica é relevante para entender o gênero com uma perspectiva da Linguística
Textual que se propõe a trabalhar elementos verbais e visuais nos quadrinhos. Traz, ainda, um
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processo de interação cognitiva social que contribui para a relação entre as histórias contadas
nas HQs e a sociedade. Então, ler quadrinhos é ler sua linguagem, em todos seus aspectos
textuais. O esperado é que a leitura – da obra e dos quadrinhos – ajude a observar essa rica
linguagem de outro ponto de vista, mais crítico e fundamentado.
Devido aos vários elementos linguísticos que compõem a linguagem dos quadrinhos,
eles gozam de uma linguagem autônoma, em que se utiliza de estruturas particulares para
representar os elementos narrativos. Há ainda, nos Quadrinhos, muitos pontos comuns com o
cinema, teatro entre outras linguagens. Esses elementos fazem com que o conteúdo das
Histórias em Quadrinhos seja assimilado com maior facilidade pelos estudantes.
Há, nos quadrinhos, ainda a ampliação de recursos que contribuem para os efeitos de
sentido diante dos elementos constitutivos desse gênero. Segundo Rojo (2012), tornam-se
necessárias nas atividades de ensino e aprendizagem, nesse contexto, “novas ferramentas – além
das da escrita manual (papel, pena, lápis, caneta, giz e lousa) e impressa (tipografia, imprensa) –
de áudio, vídeo, tratamento da imagem, edição e diagramação” (2012, p. 21).
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Essa interconexão está disposta entre os quadros que, podemos aqui, chamá-los de
células fazendo uma ligeira metáfora catalisadora da história. Essas células apresentam múltiplas
linguagens com pontas soltas que se encaixam na célula subsequente. É tão dinâmico que, em
alguns quadros, há a necessidade de trazer uma informação inteira de histórias anteriores para
esclarecer o diálogo do quadro atual e explicações esclarecedoras sobre ele. Veja na imagem
abaixo:
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Nota-se, no rodapé dos quadrinhos acima, que há uma informação que explica o termo
(Demônio de areia) usado pelo personagem. Esse recurso, em texto expositivo, facilita o
entendimento do quadro e se liga ao outro, gerando informação e entendimento da composição
dos elementos apresentados. Essas estratégias compõem algumas das diversas formas que a
linguagem dos quadrinhos se apresenta nas histórias contadas pelos gibis.
Essa relação que a linguagem dos quadrinhos tem com a narrativa, possibilita-nos
analisar como, então, processa-se essa dimensão no ato de contar a história. Primeiro, é bom
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entender que o espaço de ação está contido no interior do quadrinho. O tempo da narração está
relacionado entre os quadros que avançam por meio de comparação com quadrinhos (anterior e
posterior) ou é condensado em uma única cena. Por isso, é normal ficarmos voltando aos
quadrinhos anteriores para entender a dinâmica da história.
Assim, o uso de uma linguagem autônoma, que é a dos quadrinhos, para compor um
texto narrativo com um propósito sociolinguístico interacional gera um grande rótulo como
defende Maingueneau (2006), a saber, um hipergênero que agrega particularidades,
possibilitando a construção de outros gêneros. Nesse caso, a construção de vários gêneros a
partir de uma linguagem, é elemento diferenciador no processo de formação de gêneros. Então,
trabalhar com quadrinhos é desenvolver uma capacidade de leitura que vai além de apenas
identificar gêneros; é antes de tudo conhecer uma linguagem que possibilita aprimorar nossas
estratégias leitoras.
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que possibilitam ao aprendiz desenvolver habilidades de leitura que vão para além da linguagem
verbal. Estamos diante do processo de multiletramentos.
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É interessante notar que a definição aqui citada, não despreza em seu conteúdo a relação
entre imagem (desenho) e texto. Essa relação já vem sendo discutida há anos pelos
quadrinhistas que procuram mais e mais aprimorarem os efeitos gerados pela multimodalidade.
A HQ com aroma é um exemplo disso. A relação multissêmica entre os quadrinhos e os
recursos utilizados por sua linguagem, requer uma capacidade de leitura que passa pelas
multiplicidades de linguagens e multiplicidade de culturas.
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As produções podem ser divulgadas em meio físico ou digital, fazendo jus ao papel da
ciência, cuja comunicação se configura em uma importante etapa da pesquisa.
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Eu, que fui criança na década de 1980, não me lembro de ter lido (com permissão do
professor) nenhuma revista em quadrinhos em sala de aula. Infelizmente, não tive nenhum
professor pioneiro que percebesse as infinitas possibilidades desse material para o trabalho com
qualquer disciplina. Ao contrário, se qualquer aluno fosse visto com uma revistinha, ela era
“sequestrada” e se exigia a presença dos pais na escola para a devolução. Todos os dias, depois
de ir à escola e fazer as lições da cartilha Casinha Feliz, era ao chegar a casa que eu realmente
aprendi a ler com os gibis da Turma da Mônica, comprados aos montes por meu pai. Os gibis
não foram apenas coadjuvantes na minha formação leitora; foram fundamentais no processo de
aquisição da língua e de capital cultural.Se na década de 80 tive o incentivo dos meus pais para
ler as revistinhas.
Nas décadas anteriores isso não ocorria. As histórias em quadrinhos eram culpadas pelo
desestímulo à leitura e à criatividade, já que mostravam os cenários desenhados e deixavam
pouco para a imaginação do leitor, o que tornaria as crianças preguiçosas. Além disso, foi
publicado nos EUA, no início dos anos cinquenta, o livro Sedução dos Inocentes, de Fredrick
Werthan, que apontava os gibis como responsáveis pela delinquência juvenil.
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Entre os motivos para utilizar os quadrinhos na escola, estão a atração dos estudantes
por esse tipo de leitura, a conjunção de palavras e imagens, que representa uma forma mais
eficiente de ensino, o alto nível de informação deles, o enriquecimento da comunicação pelas
histórias em quadrinhos, o auxílio no desenvolvimento do hábito de leitura e a ampliação do
vocabulário. O que se vê cada vez mais é a formalização desse gênero textual na sala de aula,
mas muitos professores ainda têm dúvidas sobre como utilizá-lo. Que aspectos devem ser
explorados? Os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer disciplina? HQs, tirinhas, charges
e cartuns devem ser trabalhados da mesma forma?
Ao tentar responder a algumas dessas dúvidas, apresentam-se a seguir sugestões para atividades
relacionadas com quaisquer disciplinas. Para facilitar o entendimento destas proposições,
utiliza-se tirinhas do artista Marcelo Vital, disponíveis no site www.fulaninho.com.br.
Os quadrinhos
As histórias em quadrinhos, charges, cartuns e tirinhas são textos multimodais,
ou seja, trazem, além da linguagem alfabética, imagens, disposição gráfica na página,
cores, figuras geométricas e outros elementos que se integram na aprendizagem. Antes
de desenvolver atividades de qualquer disciplina – um trabalho com operações
matemáticas, por exemplo –, é preciso explorar todas essas formas de representação
para ampliar a capacidade leitora e garantir que a criança ou jovem entenda ao máximo
os recursos oferecidos, gerando sentido. Observe a imagem:
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Neste quadrinho, a imagem tem um peso grande, pois, se retirássemos as falas, grande
parte dele seria compreendida. A situação está visível no contraste entre a expressão facial dos
pais (surpresa e tristeza) e a do filho (feliz). É preciso explorar todos os elementos presentes no
cenário, como cores e disposição dos móveis. A sala em tons pastéis e a presença de poucos
móveis passam uma ideia de organização, e isso reforça a sujeira feita pela criança com tinta
cor-de-rosa. Está a cargo do texto escrito mostrar o equívoco do filho, ao pensar que a mãe
estava chorando de alegria.
● Charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma
caricatura, algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A
palavra é de origem francesa e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de
alguém ou de algo para torná-lo burlesco.
● Um cartoon, cartune ou cartum é um desenho humorístico acompanhado ou não de
legenda, de caráter extremamente crítico, retratando de forma bastante sintetizada algo
que envolve o dia a dia de uma sociedade.
● A tirinha, também conhecida como tira diária, é uma sequência de imagens. O termo é
atualmente mais usado para definir as tiras curtas publicadas em jornais, mas
historicamente o termo foi designado para definir qualquer espécie de tira, não havendo
limite máximo de quadros – tendo, claro, o mínimo de dois.
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Cores
As cores são elementos importantes na comunicação visual e, portanto, nas HQs. Nos
quadrinhos, grande parte das informações é transmitida pelo uso de cores. A cor é um
elemento que compõe a linguagem dos quadrinhos; mesmo nas histórias em preto-e-branco,
não se trata apenas de um recurso estilístico. Os desenhistas americanos perceberam isso e
passaram a não restringir o uso de cores apenas ao cenário. Elas assumiram a capacidade de
simbolizar determinados elementos, principalmente nos quadrinhos norte-americanos de
massa, passando a simbolizar personagens na mente do leitor. O Incrível Hulk é verde. O
Lanterna Verde também. O Capitão América tem o uniforme com as cores da bandeira
norte-americana. Os Smurfs são conhecidos por serem todos azuis. Maurício de Souza também
utilizou as cores para criar as identidades de seus personagens. Uma menina forte como a
Mônica só poderia usar um vestido vermelho; que menino travesso não desejaria dar um nó nas
orelhas de um objeto tão particular quanto um coelho de pelúcia azul?
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representados por cores. O fundo preto é muito usado para representar a imaginação das
crianças, um espaço onde tudo pode acontecer:
Balões
Os balões são recursos gráficos utilizados para tornar sons e falas visíveis na literatura. O
balão seria o recurso gráfico representativo da fala ou do pensamento, que procura indicar um
pensamento, um monólogo ou um diálogo. O quadrinho necessita do balão para a visualização
das palavras ditas pelas personagens. Diferentemente da literatura, mesmo a ilustrada, os
quadrinhos não precisam indicar ao leitor a qual personagem corresponde aquela fala ou
pensamento, pois os balões indicam por meio do apêndice.
O formato dos balões pode variar de acordo com as intenções do autor. O balão de fala
tem um contorno forte, nítido; o balão de pensamento tem outra forma. Ele é irregular,
ondulado ou quebrado e o apêndice tem o formato de pequenos círculos. Pensar é algo bem
diferente de falar em voz alta, ainda que seja um monólogo, por isso existe essa distinção entre
os balões. O contorno do balão pode ser tremido, indicando medo ou emoção forte, pode ser
recortado, o que indica explosão verbal ou raiva, ou mesmo pontiagudo, fazendo o leitor
perceber que o som está sendo emitido por uma máquina. Também podem ser usados alguns
contornos metafóricos, como estalactites (que indicam frieza na resposta) ou pequenas flores
(que indicam o oposto). Outra característica dos balões é ajudar a mostrar ao leitor a ordem de
leitura e a passagem do tempo. Uma exigência fundamental é que sejam lidos numa sequência
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determinada, para que se saiba quem fala primeiro. Uma boa atitude é incentivar seus alunos a
descobrir vários tipos de balões e a criar os seus próprios.
Lapso de tempo
O lapso de tempo é o espaço que liga o quadro anterior ao posterior. Deve ser
completado pela imaginação do leitor, fazendo com que a história tenha sequência. Para
entender o quadrinho, é preciso entender o que aconteceu antes e o que acontecerá depois.
Isoladamente, um quadrinho que faz parte de uma história é difícil de entender, mas duas
imagens constituem uma narrativa, desde que sejam colocadas em sucessão ou que o leitor as
entenda assim. Nas histórias em quadrinhos, o leitor constrói e confirma a narrativa que faz
sentido na história. O lapso de tempo aceitável está no meio de duas imagens que representam
continuidade. As transições são possíveis porque o leitor está acostumado a ler o corpo do
texto como narrativa. O leitor procura, então, juntar os quadros para formar linearidade. Esta
busca para “fechar” a narrativa, ou para completá-la, estimula a criatividade e faz das HQs
importantes instrumentos para a formação de leitores.
Metáforas Visuais
As metáforas visuais são usadas pelos autores para transmitir situações da história por
meio de imagens, sem utilização do texto verbal. Quando o personagem está nervoso, sai
fumaça da cabeça dele. Quando alguém está correndo muito rápido, aparecem vários traços
paralelos e uma nuvenzinha para demonstrar seu deslocamento. Cédulas e moedas indicam que
a pessoa está pensando em dinheiro, assim como corações indicam amor. Incentive seus alunos
a criar metáforas visuais. Por exemplo, como seria a metáfora visual para alguém triste?
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Sugestão de atividades
Uma atividade muito comum, mas nem por isso menos valiosa, é apagar os textos dos
balões e pedir que os estudantes escrevam seus próprios diálogos, fazendo a interpretação das
imagens. Tendo como base esse quadrinho, também podem ser trabalhados temas como
linguagem informal, compreensão do cenário, coerência das falas com as imagens, convívio
entre crianças ou adolescentes.
Um fator importante nesse quadrinho é o contexto. Quem conhece a praia de
Copacabana imediatamente vai associá-la à tirinha, pelo desenho do calçadão. Quem costuma
frequentar essa praia compreenderá mais facilmente os apuros vividos pelo garoto que vai
embora enfaixado, pois sabe que essa praia costuma estar cheia nos fins de semana e feriados.
Crianças que moram em ambientes onde não haja praia precisam receber essas informações.
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Essa é uma tirinha que apresenta muitos lapsos de tempo. Que situação deve ter ocorrido entre
o quarto e o quinto quadrinhos?
Os alunos podem analisar a linguagem dos quadrinhos e criar seus próprios
personagens, balões, quadros e onomatopeias.
Os quadrinhos de super-heróis trazem muitas referências a fatos históricos,
principalmente guerras. Ligas de super-heróis são geralmente compostas por heróis de várias
nacionalidades. Algumas histórias da Turma da Mônica fazem referência a fatos históricos do
Brasil. Cabe ao professor pesquisar e guardar este material para utilizar quando estiver
lecionando sobre o assunto abordado.
Os gibis dos X-Men, por exemplo, tornaram popular o conceito de mutação e podem
ser usados para iniciar uma aula sobre Darwin. Por outro lado, muitas histórias em quadrinhos
falam sobre descobertas científicas. Pesquise os quadrinhos do Quarteto Fantástico, Watchman,
Homem-aranha, por exemplo.
Também chamados de gibis (Brasil), comics (EUA e Canadá), comic book, arte sequencial,
historietas (Argentina), Tebeos (Espanha), banda desenhada/ bande dessinée (Portugal/França
e Bélgica), mangá (Japão), manhwa (Coreia), fumetti (Itália), histórias aos quadradinhos
(Angola), entre outros, os quadrinhos têm muitas caras e formatos. Os mais conhecidos são:
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● Mangá: termo que designa as histórias em quadrinhos japonesas. Essas HQs são muito
populares em todo o mundo. No ocidente, o uso desse termo foi ampliado para além
dos quadrinhos em si, sendo aplicado para definir o estilo de traço baseado nos mangás,
devido às características estéticas marcantes, como olhos grandes e expressivos,
estrutura anatômica cartunizada, cabelos espetados com cores vibrantes etc.;
● Tira: popularizou-se nos jornais. Geralmente em formato horizontal, com uma divisão
entre dois a cinco quadros, o autor apresenta uma pequena história fechada (muitas
vezes humorada) ou um capítulo de história seriada;
● Página dominical: espaço maior do que a tira diária. “Dominical” devido à tradição de
ser publicada aos domingos em suplementos de jornais;
● Novela Gráfica (Graphic Novel): termo popularizado pelo quadrinista Will Eisner em
sua obra Um Contrato com Deus (1978). Assemelha-se muito editorialmente (formato)
a de um livro (inclusive, com lombada quadrada). Com maior número de páginas do que
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uma revista em quadrinhos comum, comporta uma história mais densa e sofisticada,
exigindo um público leitor mais eficiente ( jovens e adultos, por exemplo).
● Fotonovela: perceba que, até agora, não usamos em nenhum momento a palavra
desenho na definição de quadrinhos, mas, sim, imagem. Isto porque nem todas as HQs
são produzidas com desenhos (embora a maioria seja), mas com fotografias, pinturas,
recortes e colagens, entre outros recursos. Por isso, se seus alunos não souberem
desenhar, não tem problema, podem utilizar esse artifício para criar as suas HQs em sala
de aula, ampliando as possibilidades pedagógicas, desde que mantenham os recursos
particulares da linguagem, como o requadro, balão, onomatopeia etc. Quando utilizamos
fotografias para construir uma HQ, a denominamos de fotonovela.
Não é incomum uma tira de jornal, por exemplo, ser composta por uma só imagem. Esta
interpretação de histórias em quadrinhos com um só quadro amplia as possibilidades de uso
desta linguagem para cartuns e charges, especialmente por muitas vezes eles se utilizarem de
recursos como balões e metáforas visuais comuns das HQs. Assim, vejamos:
● Cartum: desenho humorístico, anedota gráfica. Em geral, uma única imagem tem o
objetivo de fazer rir, pensar ou até incomodar. Tem uma forte similaridade estética com
a charge, mas possui um caráter mais universal e atemporal. Pode ou não ter palavras.
● Charge: pode ser considerada uma categoria jornalística e tem por finalidade satirizar,
por meio de uma imagem, algum acontecimento atual. A palavra é de origem francesa e
significa “carga”. A charge, geralmente, tem um efeito regional e é atrelada a algum fato
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relevante do momento. Muitas vezes o chargista faz uso da caricatura e pode ou não usar
palavras, assim como no cartum.
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5. Referencial Bibliográfico
BAKHTIN, M. (2000). Estética da criação verbal (P. Bezerra, Trad.). (3ª ed.). São Paulo: Martins
Fontes. (Trabalho original publicado em 1979).
BARBIERI, Daniele. Los Lenguajes del Cómic. Barcelona / Buenos Aires / México: Ediciones
Paidós Ibérica, S.A., 1998
BAZERMAN, Charles. Gêneros, agência e escrita. Tradução Judith Hoffnagel. São Paulo:
Cortez, 2006.
CARVALHO, Juliana. Trabalhando com quadrinhos em sala de aula. Site: Educação pública
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/9/17/trabalhando-com-quadrinhos-em-sala-de-
aula Acesso em 21 de fev. 2022.
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KLEIMAN, Ângela. Oficina da leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 1993. ________,
Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 11. ed. Campinas: Pontes, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção de texto, análise de gêneros e compreensão. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos – coleção Linguagem & Ensino. São Paulo: Ed.
Contexto, 2009.
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos – coleção Linguagem & Ensino. São Paulo: Ed.
Contexto, 2009.
ROJO, Roxane; MOURA, Eduarda (orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: parábola
editorial, 2012.
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