O AGRO É TOP Marcos Emílio Gomes
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anais da agromitologia
O AGRO É TOP?
Uma radiografia de tudo que o agronegócio não quer que você saiba
Marcos Emílio Gomes | Edição 192, Setembro 2022
A+ A- A
§1
E m Sinop, Sorriso, Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, todos eles
municípios do Norte de Mato Grosso situados ao longo da BR-163, a
expansão do agronegócio é tão evidente que transborda e modifica a vida da
maioria dos moradores. Nessas cidades, com populações entre 50 mil e 150 mil
habitantes, não é possível precisar se as bordas urbanas estão sendo corroídas
pelas plantações ou se, ao contrário, as casas e os prédios avançam sobre os
cultivos. Um contraditório deserto verde, sem gente e sem fauna, pontuado de
silos que perfuram o céu, envolve e aperta as localidades, cujo crescimento
indica o início de uma verticalização. Desfraldada em mastros e janelas, a
bandeira do Brasil é onipresente e dá às cidades um clima permanente de Copa
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Diante disso, será que o Brasil inteiro ganha com o sucesso econômico da
agropecuária, mesmo quem não vive nas cidades das frentes produtivas nem
§9
trabalha na cadeia de negócios do setor? Quando a resposta vem de alguém
ligado ao agronegócio, ouve-se um arrazoado vertical. “Se um fazendeiro
compra uma máquina fabricada no Sul do Brasil com aço que foi feito no Rio de
Janeiro, o agro está dando emprego para muita gente nas cidades que estão longe
da agricultura”, afirma o prefeito de Sorriso, Ari Lafin (PSDB), um “gaúcho” da
cidade paranaense de Palotina e produtor rural, como praticamente todos os
políticos da região. A lógica é chancelada pelo presidente Bolsonaro, que já
declarou que seu governo é dos ruralistas.
Só que, nessa descrição sumária e tão recorrente, há mais mito que realidade. A
§10 começar pela informação de que o “agronegócio” contribui para o Produto
Interno Bruto do país com 27,4%. Para se chegar a esse número, o Cepea/Esalq
criou, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, uma
metodologia inspirada no termo agribusiness, inventado na Universidade
Harvard nos anos 1950.
O agribusiness designa toda a cadeia econômica envolvida com a produção
§11 realizada no campo. Por “toda a cadeia econômica” entenda-se até o prego
enfiado no mourão da cerca do campo de trigo. Até o medicamento do cavalo, a
gasolina do caminhão que vai para o porto. Até o empréstimo que a fábrica de
móveis de madeira contraiu. A ideia está no refrão publicitário que o setor exibe
na tevê com o apoio da Rede Globo: “O agro é tudo.” É como se a indústria
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§13 D esde o início do ano, o governo federal vinha atirando contra a Petrobras,
da qual é acionista majoritário. O presidente Bolsonaro atribuía seu mau
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§32
S eria uma compensação social importante se, apesar das isenções tributárias,
dos perdões de dívida, do crédito e subsídios, o agronegócio gerasse
empregos, mas isso também não é verdade. A mecanização das lavouras e os
processos tecnológicos na pecuária têm reduzido drasticamente a quantidade de
mão de obra empregada no campo. Antonio Mitidiero e Yamila Goldfarb
analisaram números do Cepea/Esalq, coletados pelo IBGE, sobre trabalhadores
diretos na agropecuária. Concluíram que mais de 185 mil perderam o emprego
ao longo de 2019. Isso é mais do que 10% do total de empregados diretos e
formalizados em propriedades rurais.
Nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do
§33 Ministério do Trabalho e Previdência aparece um saldo positivo de 61 mil novas
contratações, que inclui apenas empregos formais. Já a pesquisa do IBGE
registra os informais também, que são cada vez mais raros no interior. No
começo de janeiro deste ano, o IBGE divulgou que as atividades agrícolas foram
as primeiras a recuperar os níveis de emprego pré-pandemia. Mas o instituto
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§38
E m julho do ano passado, ao registrar que a receita da produção de grãos e de
cultura perenes prevista para este ano tendia a crescer 53%, o jornal O
Estado de S. Paulo deu destaque à explosão de vendas de aviões, carros de luxo
e produtos de alta sofisticação, sobretudo na região Centro-Oeste. Com dados da
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, o
jornal informou que o negócio de administração de grandes patrimônios, o
setor private, crescera 11% no país em cinco anos e estrondosos 32% nos
municípios que concentram atividades rurais. Ouvido pelo Estadão, o
coordenador do Cepea, Geraldo Barros, destacou o caminho feito pelo dinheiro.
“O uso da renda que sobra depois dos investimentos no próprio setor vai
movimentar a região, incluindo os demais setores”, disse.
O retrato é correto, mas falta uma pincelada fundamental: tudo isso caminha na
§39 rota da já sinistra concentração de renda no Brasil. Os consumidores do topo da
pirâmide – esses que comprarão os aviões, os carros de luxo – moram em
localidades já desenvolvidas. Ou nas cidades em que produzem ou em centros
urbanos. Isso significa que a riqueza não se espalha. O agronegócio funciona
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E m Mato Grosso, alguns municípios, por não estarem às margens da BR-163,
mal enxergam o boom do agro. Vera, a apenas 25 km da rodovia, é um
deles. Sem os gramados imaculados e as fachadas modernas que marcam as
primas ricas da vizinhança, a cidade tem casinhas simples, negócios modestos e
raríssimos visitantes. Seu território também está coberto de plantações, mas a
cidade só arrecada as magras receitas do imposto territorial rural e não se
beneficia da onda empreendedora da região. “Muitos fazendeiros plantam lá,
mas moram e gastam aqui”, observa o produtor de banana e criador de gado de
corte Márcio Kuhn, de Sorriso, que é também secretário adjunto de Agricultura e
Meio Ambiente da cidade. “Com isso, a economia desses lugares fica parada no
tempo.”
Os números que marcam a diferença são eloquentes. Vera tem 3 mil km² de área,
§45 11,7 mil habitantes e somente 2,3 mil empregos. Lucas do Rio Verde, também
conhecida pela sigla LRV, tem área apenas 20% maior e emprega 28 mil pessoas,
o equivalente a 40% de seus quase 70 mil habitantes. O PIB per capita de LRV é
de 68 mil reais. O de Vera está em torno de 45 mil reais. Mesmo sendo maior do
que o PIB per capita do Brasil (35 161,70 reais), ele não produz efeitos locais
porque o dinheiro não fica na mão dos munícipes. Em consequência, as casas, o
comércio e a manutenção urbana do município estagnaram. E o maior
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uma propriedade média para os padrões do Incra, Kuhn estima uma renda de até
200 mil reais por safra.
§56
S e a prosperidade do agro também não transborda para a economia brasileira
na forma de impostos nem cria renda ou emprego nas cidades do seu
entorno, uma coisa é certa: rende dólares para o país. Em 2021, a balança
comercial brasileira registrou um saldo de 61 bilhões de dólares, dos quais 43,7
bilhões vieram do agronegócio. De um lado, isso é parte do sucesso da produção
agropecuária do país. De outro, tem a ver com as importações brasileiras, que
foram contidas pelo alto preço da moeda norte-americana, ajudando a melhorar o
saldo da balança comercial.
A questão é o destino desses dólares. Há pontos polêmicos, a começar pela
§57 acumulação no Banco Central de um volume excepcional de moeda norte-
americana que, encarecida por circunstâncias locais e internacionais, não atrai
muita gente interessada em comprá-la. O BC fechou o ano passado com 362
bilhões de dólares no cofre. Economistas divergem sobre o nível ideal de reserva
cambial para garantir o país contra crises internacionais, mas concordam que há
problemas quando os dólares que entram não são usados para o financiamento de
importações que permitam desenvolver e acelerar o crescimento. Para tentar
desovar alguns dólares, o governo baixou em 10% os impostos de importação de
vários itens em novembro do ano passado. Em maio, fez nova redução. Desta
vez, diminuiu em mais de 10% a taxação de outros 6 mil itens comprados no
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âmbito do Mercosul, entre eles carne, feijão e arroz. Outra redução foi feita em
julho, para treze itens, incluindo o lúpulo usado na fabricação de cerveja.
As medidas certamente consumirão alguns dólares, mas não solucionam a
§58 questão central e, como o cobertor é curto, podem acabar tendo um efeito
deletério: impulsionar um pouco mais a desnacionalização da indústria de
máquinas e equipamentos, conforme já sinalizou o lobby da Confederação
Nacional da Indústria (cni).
As iniciativas do governo também não tocam num tema pouco comentado,
§59 porém lembrado pelo economista Mendonça de Barros, um defensor aguerrido
do agronegócio, mas atento aos sinais negativos. Muitas tradings já nem trazem
todas as suas receitas para o país, deixando uma parte lá fora. Isso acontece
porque não há onde aplicá-las de forma a compensar o risco cambial no mercado
nacional. Anualmente, mais de 45 bilhões de dólares relativos a exportações não
são internalizados na economia brasileira. Isso é metade do valor de mercado da
Petrobras.
Toda a comemoração que se vê em razão do superávit comercial do país termina
§60
retemperada com os ingredientes da vida real do comércio internacional. O saldo
na balança de importações e exportações é parte de um conjunto de dados bem
maior. Enquanto a balança comercial teve resultado positivo, o saldo de
transações correntes com o exterior – que incluem serviços de dívidas,
transferências de capital, financiamentos, seguros, viagens internacionais e
outros itens – ficou negativo em 2020, ainda que com o melhor resultado desde
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2007. No ano passado, foi pior do que no anterior. E, nessas despesas que abalam
o saldo de transações do país, o agro tem grande participação, com seus gastos
em fretes, juros, lucros, assistência técnica, patentes e royalties.
Entre os inúmeros contrapesos para o aparente sucesso do agro, há ainda a falta
§61 de diversificação. Ou seja: é o problema de o Brasil confiar nas vendas de
poucos produtos a poucos clientes. A Arábia Saudita parou de comprar frango
em maio de 2021. Depois retomou. A China, que já suspendeu a compra de
suínos algumas vezes e no fim de 2021 ficou um tempo sem importar carne
bovina, anunciou recentemente que está refazendo seu plantel de porcos e
diminuirá definitivamente as encomendas. Não foi em resposta às desfeitas de
Jair Bolsonaro, mas os chineses também reduziram em 5% a compra de soja ao
longo do ano.
Apesar de ser reconhecido pela boa produtividade, item em que voltou a ocupar
§62 liderança no ranking divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos, o Brasil patina na inserção de tecnologia na produção nacional e na
capacidade para criar soluções sustentáveis. A Food Tank, organização que
destaca iniciativas de segurança alimentar saudável e nutritiva, indicou 25
indivíduos cujas ideias ou organizações demandam atenção global nesta década,
pela inventividade, originalidade e efetividade. Nenhum é brasileiro.
O próprio governo, embora se diga um amigo dos ruralistas, mais atrapalha do
§63
que ajuda o agronegócio, a começar pela falta de relevo do país nos fóruns
globais. Sob Bolsonaro, o governo abriu mão de uma cadeira privilegiada na
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§72
D esde que começaram a surgir indícios de que o Brasil estava voltando ao
mapa da fome, uma contradição passou a intrigar os leigos: como o país
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11/09/2022 14:20 Uma radiografia de tudo que o agronegócio não quer que você saiba
que “alimenta o mundo” não consegue dar de comer à sua própria população?
Afinal, o Brasil é o maior produtor mundial de soja, açúcar, suco de frutas e café,
e também o maior exportador de soja, milho, carne bovina, frango, açúcar,
celulose e suco de laranja – além de ocupar lugares de destaque no pódio do
comércio mundial de carne suína, frutas, peixes. A explicação, claro, é a estúpida
inflação dos alimentos. E o próprio agronegócio ajuda a encarecê-los.
Funciona assim: com a integração da produção a cadeias mundiais de comércio,
§73
financiamento e consumo, o agro amarra-se a contratos de longo prazo. Esses
contratos estabelecem a entrega de determinado produto antes mesmo que o
campo seja semeado ou que o bezerro para engorda seja comprado. Com essa
prática, o produtor define os preços antecipadamente e garante que terá lucro,
pois ele conhece os custos que enfrentará até colher a lavoura ou mandar o boi
para o abate. Na medida em que os preços internacionais são atrativos, ou o dólar
tem uma cotação favorável, esse caminho fica ainda mais interessante para o
produtor rural. E, mesmo quando reserva uma parte do seu produto para vender
depois, o produtor optará sempre por entregá-lo a quem paga mais – que, não
raramente, são os compradores do mercado externo.
Quando faltam grãos no mercado mundial ou há quebras de safra, os produtores
§74
brasileiros têm de cumprir seus contratos com compradores internacionais,
mesmo que tenham vendido a preços baixos – e não há como aumentar a oferta
no mercado interno. Essa é uma razão pela qual o Brasil compra soja cara para
moer e fazer ração aqui, depois de exportar soja barata para moer e fazer ração
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11/09/2022 14:20 Uma radiografia de tudo que o agronegócio não quer que você saiba
na China. Isso vale para o milho e para outros itens que compõem o cardápio da
pecuária, e se explica pela existência dos contratos de exportação válidos para o
longo prazo. Um produto cujas vendas foram combinadas na época de preços
baixos tem de ser comprado a custo mais alto quando falta no mercado local.
Produtores de suínos instalados nas cidades paranaenses calculam que estão
tendo prejuízo de até 300 reais em cada animal abatido em razão da alta do preço
do milho cultivado nos terrenos vizinhos a suas granjas.
O dólar, sempre ele, também encarece insumos, royalties, sementes, máquinas,
§75 fretes e, claro, a gasolina e o diesel usados para levar tudo de um lado para o
outro. Quando eventualmente a taxa de câmbio diminui, isso pode reduzir a
receita obtida na conversão dos valores exportados, mas a composição do custo
dos produtos, determinada antecipadamente, foi definida no período de alta: ou
seja, há uma nova pressão inflacionária de curto prazo.
Tudo isso significa que quando o preço internacional de um produto não é
§76 interessante ou está sujeito a imprevistos, os agricultores mudam de cultura ou
abandonam o negócio. O Brasil importa, ainda que para apenas parte de seu
consumo, arroz, feijão e, acredite, banana. Os microprodutores do entorno das
cidades não compensam em nada as distorções porque estão submetidos à
carestia como qualquer outro cidadão e constituem um elo tão fraco que nem
mesmo são inseridos nas cadeias atravessadoras. O governo, por seu lado,
amarrou as próprias mãos no combate a esse tipo de inflação com outra decisão
desastrada: desde 2019, decidiu desativar a gestão de estoques reguladores de
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