Aula 02 FUNDAMENTOS DO HUMANISMO

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

FUNDAMENTOS DO

HUMANISMO
Profa. Amanda Ely
Origens da Psicologia Humanista
• A psicologia humanista teve fortes influências das teorias fenomenológico-existenciais
surgindo como uma reação ao positivismo e à visão determinista ou mecanicista da
natureza humana, visão esta que foi muito difundida até meados do século XIX.
• Também está associada ao chamado Movimento do Potencial Humano atrelado ao
movimento contracultural que surgiu nos Estados Unidos na década de 60. Nesse sentido o
projeto de psicologia humanista, de um modo geral, pode ser interpretado também como
um eco às insatisfações manifestadas pelos jovens desse período contra os aspectos
mecanicistas, materialistas e autoritários da cultura ocidental contemporânea.
• Esse projeto de psicologia nasce pretendendo, com suas propostas, contribuir para a
constituição de um outro modelo social, menos controlador, mais atento às necessidades
tidas como intrínsecas aos seres humanos; defendia os ideais de auto realização e
criatividade, com relações mais abertas e autênticas.
• Considerado um dos mais importantes nomes da psicologia humanista, Abraham
Maslow, juntamente com outros psicólogos da época, fundaram a Associação
Americana de Psicologia Humanista, no ano de 1961, e um ano após, Maslow
publicou sua obra Toward a Psychology of Being, oportunidade em que apresentou a
psicologia humanista como “a terceira força da psicologia”.

Observe a Figura 1, que trata de um


dos conceitos mais importantes da
teoria humanista — a realização
pessoal. Esse conceito foi desenvolvido
por Abraham Maslow em sua teoria
das necessidades humanas básicas.
Assim, a imagem é autoexplicativa e
representa a síntese dessa teoria, que
trouxe para a psicologia a importância
do estudo do crescimento e da
realização pessoal
• O estudo da subjetividade humana — fortemente influenciada pela fenomenologia —
é outra característica das teorias existenciais humanistas e surgiu como uma
contraposição às ideias positivistas da época, justamente porque o positivismo tem
uma visão objetiva do mundo, onde tudo deve ser testado, replicado e mensurado
experimentalmente; tem um conhecimento científico neutro despojado de
subjetividade.
• No entanto, no contexto de desenvolvimento da psicologia humanista, esta passa a
ser alvo de críticas com relação aos seus fundamentos teóricos. Boris (1987) menciona
que a falta de consistência teórica das psicoterapias humanistas se deu porque os
autores da própria abordagem enfatizarem demais a experiência e deixarem a
teorização em segundo plano. Assim, em nome da “experiência” e da “vivência”,
essas psicoterapias passam a ser acusadas de terem como metodologia meramente
a subjetividade e a intuição.
• Destarte, a procura de uma fundamentação para tais psicoterapias, tem achado seu
caminho no existencialismo, na fenomenologia, na filosofia de Martin Buber, Friedrich
Nietzsche, Maurice Merleau-Ponty, Soren Kierkegaard, entre outros.
Fundamentos Filosóficos da Psicologia
Humanista
• A fenomenologia e o existencialismo são as principais linhas de pensamento nas quais
se embasam as psicoterapias de base humanista.
• Franz Brentano, fundador da Psicologia do Ato, estudou o ato psíquico (processos
mentais e psicológicos, como ver, sentir, imaginar, etc.) por meio dos métodos
empíricos da observação. Brentano defende que a realidade está na consciência de
cada um, ou seja, na maneira subjetiva como cada pessoa vê o mundo e atribui
significado aos atos psíquicos (fenômeno psíquico).
• Husserl, aluno de Brentano, por sua vez, aprofundou as ideias do seu professor dando
ênfase ao fenômeno psíquico, fundando a fenomenologia. Para Husserl, a
fenomenologia é uma ciência descritiva da realidade, de seus objetos e fatos, de
como estes se apresentam à consciência de quem os experiencia. Ou seja, a ideia
dessa linha de pensamento pretende estudar como as coisas se apresentam na nossa
consciência.
• É caracterizada uma ciência eidética, pois propõe o estudo da essência das coisas,
isto é, propõe conhecer o objeto tal qual ele é, conhecer o fenômeno em sua
subjetividade, tal qual se ele mostra. Para isso, Husserl criou o método da redução
fenomenológica, ou epoché, que seria justamente a suspensão de qualquer valor,
crença ou conceito prévio para se permitir conhecer a coisa em si mesma.
À fenomenologia e à psicologia de base fenomenológica interessa o vivido na sua
manifestação originária, pois só aí conseguimos evidenciar o seu significado, já que a essência
do homem é a sua existência e a coexistência integra essa essência de maneira indissolúvel.
A epoché fenomenológica, a colocação das teorias psicológicas "entre parênteses", é uma
atitude psicológica representada por um regresso à subjetividade´é, pois, na subjetividade, na
consciência, no ego transcendental que a sua verdade aparece na manifestação
absolutamente radical, já que toda objetividade só pode ser legitimada a partir da
subjetividade. (GUIMARÃES, 2008).

Assim como afirma Guimarães (2008, p. 73): "a fenomenologia não se interessa imediatamente
pelos objetos ou pelos fatos, mas pelos sentidos que neles podem ser percebidos.
Fenomenologia é o ato de perceber e descrever as essências ou sentidos dos objetos.
Enquanto as ciências positivas buscam suas verdades nos fatos, a fenomenologia descreve
essas verdades a partir da percepção das essências dos fatos, pois é nelas que os seus
sentidos se revelam tais quais são."

GUIMARÃES, Aquiles Côrtes. Para uma eidética do Direito. Cadernos EMAF, Fenomenologia e Direito, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 15-
31, abr./set. 2008
• No entanto, com o existencialismo, surgem também questionamentos a respeito dessa
completa redução de valores e preconceitos imposta pela fenomenologia. O
existencialismo afirma que ninguém está totalmente livre de seus valores e crenças,
uma vez que a consciência é constituída por influências constantes do mundo, isto é,
da sociedade, da cultura. Dessa forma, o homem deixa de ser algo que existe por si só
e passa a estabelecer uma relação dialética homem-mundo.
• Isto é, o existencialismo surge como uma corrente filosófica na qual o homem é visto
como ser-no-mundo, passando a ser valorizado como um indivíduo que possui sua
própria subjetividade, liberdade e responsabilidade diante de suas escolhas. Os
principais pensadores existencialistas são: Soren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche,
Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Martin Buber.
• Escuta dupla.
Psicoterapias de base humanista no
Brasil
• Diante dessa linha de pensamento, existem as abordagens terapêuticas, as quais
podemos citar: A abordagem centrada na pessoa (ACP), de Carl Rogers, a Gestalt-
terapia, de Friederich Perls, a Logoterapia, de Viktor Emil Frankl, o Psicodrama, de
Jacob Levi Moreno, além da Psicoterapia Existencial Sartreana e a Psicologia
Fenomenológica Humanista.
• Tais psicoterapias são de base fenomenológico-existenciais-humanistas e não
possuem um corpo teórico único, ou seja, são constituídas pela mistura das três linhas
de pensamento. Nesse sentido, a logoterapia é mais existencial, enquanto a gestalt-
terapia é mais fenomenológica e a ACP mais humanista, por exemplo.
• Todas essas abordagens têm uma perspectiva de homem como um ser consciente,
autônomo, afetivo e repleto de emoções próprias. Sendo assim, os terapeutas
fenomenológico-existenciais constroem uma relação autêntica com o cliente,
demonstrando empatia, compreensão e aceitação.
• Abordagem centrada na pessoa (ACP) foi desenvolvida e
sistematizada por Carl Rogers, que a definiu como não
sendo uma teoria, nem uma terapia ou psicologia,
tampouco uma tradição. Apesar do seu posicionamento
existencial em suas atitudes e uma perspectiva
fenomenológica em suas intenções, ela não é uma
filosofia. Para Rogers, a ACP poderia ser definida apenas
como uma abordagem e também um jeito de ser.
• O seu postulado básico é a existência de uma tendência
natural para o crescimento e para a socialização que
constitui, por si, o verdadeiro fator curativo.
• Na relação terapêutica utiliza algumas técnicas como
escuta reflexiva, compreensão empática, aceitação
positiva incondicional e congruência.
• Gestalt-terapia A gestalt-terapia foi embasada na
psicologia da gestalt e na fenomenologia. É o estudo
da percepção humana, e sua característica principal
é que ela é incisiva, confronta o cliente. Ela trabalha a
percepção, mas no sentido de como o homem
percebe o mundo ao seu redor.
• Seu fundador foi Frederick Perls, médico psiquiatra de
origem judaica que considerava o todo maior do que
a soma das partes e desenvolveu o conceito de figura
e fundo. Isso significa dizer que existem elementos na
nossa vida em que damos maior ênfase (figura) e
outras ficam no fundo. A ideia é que possamos
equilibrar, trazer o que estava no fundo e vice-versa. O
que está mais importante na vida do indivíduo é o que
ele está figurando. Geralmente, quando figuramos
algo, não conseguimos enxergar o que está no fundo.
Assim, a ideia é justamente ampliar nosso olhar e nossa
perspectiva.
• Logoterapia A logoterapia — a terapia através do
sentido da vida — trouxe a proposta de
humanização das psicoterapias, pois estas, em
geral, acreditam que o ser humano é
determinado, condicionado pelo meio ou
impulsionado, mas não consciente e livre para
assumir a responsabilidade pela vida.
• A logoterapia trouxe a proposta de que o ser
humano é livre e responsável pelas suas escolhas.
A cosmovisão fundamental dessa teoria diz
respeito ao sentido para a vida, conceito este
que postula a ideia de que a vida sempre tem
um sentido, mesmo em meio ao sofrimento.
Partindo desse posto, vale ressaltar o conceito de
transitoriedade da vida, o qual afirma que como
o sentido sempre pode mudar no decorrer da
vida, é muito mais importante buscar o sentido
em um momento específico do que buscar o
sentido da vida como um todo, de forma ampla.
• Psicodrama O psicodrama de Jacob Levi Moreno se
origina a partir do teatro, da psicologia e da
sociologia. Assim, tem como núcleo e base a
dramatização, isto é, o processo terapêutico aqui vai
para além da fala convencional entre paciente-
terapeuta; há, aqui, cenas de teatralidade,
expressões corporais e improvisação — aspectos
fundamentais para o sucesso da terapia . Assim,
importantes conceitos nesse tipo de abordagem são
os de egos- -auxiliares, protagonista ou paciente,
cenário, diretor ou terapeuta e auditório. Cada figura
desempenha sua função e cada uma é primordial
para o bom desenvolvimento da sessão. É uma
psicoterapia direta, se baseia no “aqui e agora” e
possui enfoques individual e grupal, ambos de suma
importância dentro do contexto terapêutico.
Psicoterapia Existencial Sartreana ou Psicoterapia
Existencialista é uma abordagem que trabalha com
referencial filosófico e psicológico sistematizado por Jean
Paul Sartre. Sartre foi um autor que discutiu aspectos
fundantes da disciplina psicológica, bem como de seu
domínio clínico, propondo concepções inovadoras.
Criador de uma metodologia específica de investigação
da realidade humana, explicitada em sua “psicanálise
existencial”, Sartre fornece as bases para uma psicologia
clínica existencialista. A tarefa da psicoterapia sartriana
é, pois, colocar o projeto de ser da pessoa em suas
próprias mãos, na medida em que isso o viabilizará como
sujeito de sua vida e de sua história. possibilitar ao
paciente o seu estatuto de sujeito, ou seja, enquanto
sujeito que tem de se escolher em situações concretas,
com clareza de seu compromisso ontológico com os
outros, com a sociedade. Dessa forma, tem como meta
superar a alienação do sujeito.
• Já a Psicologia de orientação Fenomenológica- Existencial possui diferentes enfoques
de acordo com autores de base, entre eles Heidegger, Hannah Arendt, Merleau
Ponty, Simone de Beauvoir, Frantz Fanon, além do enfoque decolonial.
• De forma geral as intervenções nesta abordagem se dirigem à indeterminação, à
abertura de brechas para o impensado, abarcando todas as abordagens
psicológicas que reconhecem o ser humano como radicalmente livre e responsável
por seu ser(existencial) e focam a experiência subjetiva e intersubjetiva atual
(fenomenológica).
• A psicoterapia fenomenológica-existencial propõe que a compreensão do paciente
ocorra na relação específica e concreta: terapeuta-paciente, isto é, que esteja
referida à situação do atendimento, ao encontro terapeuta-paciente e à
compreensão daquilo que aparece no existir do paciente; priorizando, assim, o
entendimento do paciente a partir dele mesmo e a partir da maneira como ele vive.

Você também pode gostar