Educação Ambiental Escolar: Caminhos e Cruzamentos Rumo À Educação Ambiental Crítica
Educação Ambiental Escolar: Caminhos e Cruzamentos Rumo À Educação Ambiental Crítica
Educação Ambiental Escolar: Caminhos e Cruzamentos Rumo À Educação Ambiental Crítica
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
ESCOLAR: CAMINHOS
E CRUZAMENTOS RUMO
À EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CRÍTICA
ABSTRACT
This article brings reflections on possibilities and limitations for the de-
velopment of school environmental education from a critical perspecti-
ve. Discussions are presented based on the analysis of two experiences
of environmental education developed in public schools on the suburb
of the city of Rio de Janeiro. One was developed in 2014 based on a
master’s research. The other experience takes place since 2018 and is
based on permaculture and agroecology as school subjects. From these
analyzes, it was found that these thematic areas can act as key elements
to facilitate a pedagogical process committed to the unveiling and the
search for solutions to different dimensions of the contemporary socio-
-environmental crisis.
INTRODUÇÃO
A educação ambiental (EA) consiste em uma dimensão pedagógica que
tem como base o estudo dos problemas socioambientais. Com o agrava-
mento da crise socioambiental planetária nas últimas décadas, a adoção
de questões socioambientais associadas à educação tornou-se de notória
relevância. A criação da lei federal n° 9795, de 27 de abril de 1999, que
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6 M. Guimarães, Por uma educação ambiental crítica na sociedade atual, em “Revista Margens
Interdisciplinar”, n. 9, 2016, pp. 11-22.
7 M. A. Stortti, C. Sánchez, Reflexões sobre a Educação Ambiental Crítica em um grupo de pes-
quisa: um estudo de caso do GEASUR, em “Acta Scientiae et Technicae”, n. 1, 2017, pp. 15-21.
8 M. Guimarães, A formação de educadores ambientais, Papirus, Campinas 2012.
9 P. Martins, A. C. Silva, D. M. Maneschy, C. Sánchez, M. C. Ambivero, A. F. Lopes, Edu-
cação Ambiental Crítica, da Teoria à Prática Escolar: análise da experiência de um projeto no
contexto de uma escola pública do Rio de Janeiro. “Revista Brasileira De Educação Ambiental”,
n. 2, 2019, pp. 86-102.
10 Ibidem.
11 C. Brandão, Pesquisa Participante, em Aa. Vv., Encontros e Caminhos: formação de educa-
doras(es) ambientais e coletivos educadores, MMA, Diretoria de Educação Ambiental, Brasília
2005.
12 M. F. C. Tozoni-Reis, Pesquisa-Ação, em Aa. Vv., Encontros e caminhos: formação de educa-
doras(es) ambientais e coletivos educadores, organizado por L. A. Ferraro Júnior, MMA-Direto-
ria de Educação Ambiental, Brasília 2005.
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POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES
25 Ibidem.
26 O Instituto Permacultura Lab é uma organização não governamental sem fins lucrativos,
criada em 2017, com sede na cidade do Rio de Janeiro, que desenvolve diversos projetos liga-
dos à agroecologia, à agricultura urbana, à permacultura e à educação popular.
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31 Ibidem.
32 B. S. Santos, M. P. G. Meneses, J. R. Nunes, Para ampliar o cânone da ciência: a diversidade
epistemológica do mundo, em Aa. Vv., Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos
conhecimentos rivais, organizado por B. S. Santos, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 2005.
33 A. Quijano, Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, em Aa. Vv., A colonia-
lidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais, organizado por E. Lander, CLACSO, Buenos
Aires 2005.
34 Ibidem.
35 B. S. Santos, Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes, em
“Novos Estudos – CEBRAP”, n. 79, 2007, pp. 71-94.
36 B. S. Santos, M. P. G. Meneses, J. R. Nunes, Para ampliar o cânone da ciência: a diversidade
epistemológica do mundo, em Aa. Vv., Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos
conhecimentos rivais, cit.
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Por meio do uso das áreas externas da escola, a EA desenvolvida pelo pro-
jeto apresenta uma nova visão sobre o processo pedagógico, mostrando a
possibilidade da extrapolação dos espaços fechados da sala de aula e dos
estudantes atuarem ativamente no processo formativo. Dessa maneira é
gerado maior dinamismo nas aulas, tornando-as mais atrativas para os es-
tudantes.
HORIZONTALIDADE
41 Rede criada em 2009, composta por agricultores que vivem em diferentes regiões da cidade
do Rio de Janeiro, além de representantes de organizações não governamentais, movimen-
tos sociais e pesquisadores de universidades e instituições públicas de pesquisa, que atua em
diferentes dimensões do campo da agroecologia, como a defesa da produção e consumo de
alimentos saudáveis, o direito à terra, a economia solidária, bem como na criação e na garantia
do acesso à políticas públicas.
42 Freire, Pedagogia do Oprimido, cit.
LA SPERANZA NON SI ARCHIVIA 213
xível para sofrer alterações de acordo o desenvolvimento das aulas e interesse
dos estudantes. Dessa maneira, há um caráter democrático nas disciplinas,
onde todos têm a possibilidade de participar ativamente da sua construção,
garantindo sua base dialógica.
O diálogo genuíno consiste em uma exigência existencial, em que o
encontro de duas ou mais pessoas, permeadas por suas realidades de vida e
suas situações cotidianas, promove a possibilidade de que todas expressem
suas ideias e com isso haja acolhimento entre as reflexões e ações de cada
uma43. Esse processo tem como pressuposto básico a confiança, que não
existe a priori, mas é construída com o tempo.
A construção da confiança com os estudantes pôde ser percebida em todas as
turmas. No início dos anos letivos, quando os estudantes ainda não conhe-
cem os professores nem a proposta dialógica e emancipatória das disciplinas,
costuma haver certa resistência à participação mais ativa nas aulas. Isso pode
ser facilmente compreendido, visto que, em geral, as escolas possuem uma
estrutura bastante verticalizada, onde os estudantes devem apresentar uma
postura passiva frente aos professores.
Com o passar do tempo - em geral entre um e dois meses - os estudantes
começam a se acostumar com a proposta da disciplina e começa a surgir
também uma relação mútua de confiança dos estudantes entre si e com os
professores. Com isso, a postura passiva dos estudantes vai deixando de exis-
tir. Nesse momento, a turma se transforma em uma “comunidade de apren-
dizagem”, onde cada indivíduo reconhece que sua atuação é fundamental
para o desenvolvimento do processo pedagógico44.
A existência da confiança nas comunidades de aprendizagem construídas
com as disciplinas de permacultura e de agroecologia é amplamente percebi-
da pela satisfação que os estudantes apresentam em participar das atividades
propostas. Além disso, em diversos momentos durante os debates promovi-
dos, vários estudantes já trouxeram à tona questões pessoais e sentimentos,
que dificilmente seriam apresentados em outras turmas e apontaram que o
projeto promove uma transformação das relações sociais, baseadas na coo-
peração e no acolhimento.
46 Ivi, p.50.
47 P. Martins, A. C. Silva, D. M. Maneschy, C. Sánchez, M. C. Ambivero, A. F. Lopes,
Educação Ambiental Crítica, da Teoria à Prática Escolar: análise da experiência de um projeto no
contexto de uma escola pública do Rio de Janeiro, cit.
48 F. B. Loureiro, P. P. Layrargues, Ecologia Política, Justiça e Educação Ambiental: perspectivas
de aliança contra-hegemônica, em “Trab. Educ. Saúde”, n. 1, 2013, pp. 53-71.
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[...] estou menos preocupado com ‘o que eles estão fazendo com a gente’ e mais
ocupado com ‘o que a gente deve fazer com o que estão fazendo com a gente’.
Atravessei todos os anos da ditadura militar, parte como estudante e parte como
professor. Mas ao longo dela toda, como um pesquisador de culturas populares e
um militante da Educação Popular.
Desde janeiro de 1964, vivi e vivemos momentos muito difíceis, e para algu-
mas e alguns de nós, terríveis mesmo. Hoje recordo que tanto aqui no Brasil,
como no Chile, na Argentina e no Uruguai sob ditaduras, nunca fomos tão
criativos. Nunca lutamos tanto, nunca enfrentamos tanto, nunca fomos tão
insurgentes e aguerridos, nunca cantamos, teatralizamos, filmamos e poetamos
tanto. Nunca resistimos, inventamos e criamos tanto. É hora de voltar a isto!
Menos crítica teórica boa para encontros acadêmicos, e mais ação concreta
junto ao povo e nas ruas. Menos mera resistência eletrônica e mais respostas
criativas por escrito ou nos círculos insurgentes.54
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA