Hemoterapia e Banco de Sangue

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Hemoterapia e Banco de Sangue

Brasília-DF.
Elaboração

Kely Braga Imamura

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
HEMOTERAPIA........................................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 1
CONCEITOS GERAIS................................................................................................................ 10

CAPÍTULO 2
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA HEMOTERAPIA........................................................................ 13

CAPÍTULO 3
CAPTAÇÃO E SELEÇÃO DE DOADORES................................................................................... 15

CAPÍTULO 4
CONTROLE IMUNO-HEMATOLÓGICO...................................................................................... 20

CAPÍTULO 5
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS EM HEMOTERAPIA........................................................................ 31

UNIDADE II
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES............................................................................ 37

CAPÍTULO 1
TRANSFUSÃO EM NEONATOLOGIA E PEDIATRIA........................................................................ 40

CAPÍTULO 2
PRODUTOS HEMOTERÁPICOS QUE CONTENHAM HEMÁCIAS.................................................... 50

CAPÍTULO 3
CONCENTRADO DE HEMÁCIAS, PLAQUETAS E GRANULÓCITOS................................................ 54

CAPÍTULO 4
PLASMA HUMANO, CRIOPRECIPITADO E ALBUMINA.................................................................. 60

CAPÍTULO 5
FATORES DE COAGULAÇÃO INDUSTRIAIS................................................................................. 65
UNIDADE III
PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO................................................................................ 72

CAPÍTULO 1
FLUXO DO DOADOR............................................................................................................... 73

CAPÍTULO 2
FLUXO ADMINISTRATIVO E DE APOIO....................................................................................... 76

CAPÍTULO 3
FLUXO DO SANGUE................................................................................................................. 78

CAPÍTULO 4
FLUXO DO PACIENTE............................................................................................................... 84

UNIDADE IV
PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS........................................................................ 87

CAPÍTULO 1
CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS.................................................................................. 89

CAPÍTULO 2
TRANSPORTE DE RESÍDUOS...................................................................................................... 91

CAPÍTULO 3
CLASSIFICAÇÃO PARA TRANSPORTE DE RESÍDUOS PERIGOSOS................................................ 93

CAPÍTULO 4
MANEJO DE RESÍDUOS............................................................................................................ 96

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 104

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 106
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

6
Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
O sangue é uma suspensão de células (glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas) em
um líquido complexo chamado plasma, constituído por água, sais minerais, vitaminas,
proteínas, glicídios e lipídeos. É o principal componente dos centros de hemoterapia e
já há muitos séculos vem sendo utilizado como dom de cura pelos homens. Os romanos,
os egípcios e os antigos noruegueses acreditavam que se banhar ou beber sangue de
pessoas ou animais seria importante para a cura de doenças. Ainda hoje, o sangue e seus
derivados são de grande importância no âmbito da saúde pública, uma vez que podem
ser utilizados na prevenção e no tratamento de diversas doenças, traumas, desordens
imunológicas, infecções (BURNOUF, 2007) e deficiências congênitas (FARRUGIA et
al., 2009).

A hemoterapia brasileira se transformou em especialidade médica com a fundação dos


primeiros Bancos de Sangue (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 2005).
Em linhas gerais, a hemoterapia e a hematologia nadam juntas. A hemoterapia é o
emprego terapêutico do sangue, que pode ser transfundido com seus componentes
(hemocomponentes) e seus derivados (hemoderivados) e a hematologia é o estudo
do sangue e dos tecidos formadores das células sanguíneas, abrangendo o estudo
dos elementos celulares sanguíneos, como as hemácias, os leucócitos e as plaquetas,
suspensos no seu meio líquido, o plasma sanguíneo. Estuda ainda as funções do sangue
no organismo e as doenças primárias do sangue e dos tecidos hemopoiéticos, assim como
o emprego do sangue e dos seus principais componentes, como recursos necessários
à reposição de eventuais perdas e ao tratamento de diversas condições patológicas
(PAULA et al., 2007; HARMENING, 2006; FERNARNDES et al., 2008)

Objetivos
»» Compreender os conceitos gerais de hemoterapia, com ênfase no uso
racional do sangue e manejo de resíduos.

»» Descrever os processos de trabalho em um hemocentro e o controle


imuno-hematológico.

8
HEMOTERAPIA UNIDADE I

Nesta unidade, uma visão geral da hemoterapia será abordada, incluindo conceitos,
atividades e procedimentos da hemoterapia, assim como, a captação e seleção de
doadores de sague e o controle imuno-hematológico.

Mas, antes de iniciarmos o capítulo 1, vale lembrar qual a definição de hemoterapia e os


principais conceitos ligados a ela:

A hemoterapia é uma especialidade médica, estruturada e subsidiária


de diversas ações médico-sanitárias corretivas e preventivas de agravo
ao bem estar individual e coletivo, integrando, indissoluvelmente, o
processo de assistência à saúde. (BRASIL. Lei no 10.205. de 21 de março
de 2001).

De forma simplificada. De acordo com Marcondes; Vaz; Okay (2003), a


Hemoterapia é o emprego terapêutico do sangue, que pode ser transfundido
com seus componentes (hemocomponentes) e derivados (hemoderivados).

Os componentes sanguíneos ou componentes lábeis do sangue (hemocomponentes) são:

»» Concentrado de hemácias.

»» Plasma fresco congelado.

»» Concentrado de plaquetas.

»» Crioprecipitado.

Já os derivados sanguíneos (hemoderivados) são fabricados pela industrialização do


plasma:

»» Albumina.

»» Imunoglobulinas.

»» Fatores da coagulação (Fator VII, Fator VIII, Fator IX, além dos complexos
protombínicos).

Os hemocomponentes e hemoderivados serão abordados com maiores detalhes nos


próximos capítulos.

9
CAPÍTULO 1
Conceitos gerais

O que é sangue?
O sangue é um tecido vivo que circula pelo corpo, levando oxigênio e nutrientes
a todos os órgãos. Ele é composto por plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas
(ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004).

O plasma é a parte líquida do sangue, de coloração amarela palha, composto


por água (90%), proteínas e sais. Através dele circulam por todo o organismo
as substâncias nutritivas necessárias à vida das células. Essas substâncias são:
proteínas, enzimas, hormônios, fatores de coagulação, imunoglobina e albumina.
O plasma representa aproximadamente 55% do volume de sangue circulante
(HOFFBRAND; PETTIT; MOSS, 2004).

As hemácias são conhecidas como glóbulos vermelhos por causa do seu


alto teor de hemoglobina, uma proteína avermelhada que contém ferro. A
hemoglobina capacita as hemácias a transportar o oxigênio a todas as células do
organismo. Elas também levam dióxido de carbono, produzido pelo organismo,
até os pulmões, onde ele é eliminado. Existem entre 4,5 milhões a 5,0 milhões
de hemácias por milímetro cúbico de sangue (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004).

Os leucócitos, também chamados de glóbulos brancos, fazem parte da linha de


defesa do organismo e são acionados em casos de infecções, para que cheguem
aos tecidos na tentativa de destruírem os agressores, tais como vírus e bactérias.
Existem entre 5 mil a 10 mil leucócitos por milímetro cúbico de sangue (ZAGO;
FALCÃO; PASQUINI, 2004).

As plaquetas são pequenas células que tomam parte no processo de coagulação


sanguínea, agindo nos sangramentos (hemorragias). Existem entre 200.000 a
400.000 plaquetas por milímetro cúbico de sangue. O sangue é produzido na
medula óssea dos ossos chatos, vértebras, costelas, quadril, crânio e esterno. Nas
crianças, também os ossos longos como o fêmur produz sangue (HOFFBRAND;
PETTIT; MOSS, 2004).

10
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

Figura 1. Componentes do sangue.

Fonte: Prof. Giovanny Rebouças Pinto.

Histórico da hemoterapia no Brasil


A hemoterapia brasileira desde sempre demonstra a busca por uma organização e por
um modelo característico de nosso país. Destacam-se o pioneirismo das artesanais
transfusões realizadas por alguns cirurgiões na tentativa de salvar vidas, a criação dos
primeiros serviços de transfusão nos anos 1940, o advento da Sociedade Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia (SBHH) em 1950, a Campanha da Doação Voluntária da
SBHH de 1980 e o Programa Nacional de Sangue com a criação de hemocentros. Hoje,
a hemoterapia está acoplada à hematologia; serviços de hemoterapia de excelência na
maioria dos hospitais e hemocentros de qualidade.

O hemoterapeuta vai deixando um papel passivo tornando-se um especialista de


destaque na comunidade médica, hospitalar e universitária, implementando tecnologia
e conhecimento em benefício dos pacientes. A nova fronteira que é apresentada à
hemoterapia no século XXI relaciona-se a tudo aquilo que a medicina considera hoje
como ciência de ponta, como a biologia molecular, a engenharia genética e a terapia
celular (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 2005).

Em resumo, as principais etapas históricas da hemoterapia, no Brasil.

A transfusão de sangue teve dois períodos: um empírico, que vai


até 1900, e outro científico, de 1900 em diante”. No Brasil, em 1879,
um relato discutia se a melhor transfusão seria com sangue de
animais para humanos ou entre seres humanos. Na era científica,
os pioneiros da hemoterapia foram cirurgiões do Rio de Janeiro.

11
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

Por volta de 1920 surgem os primeiros serviços organizados e de


constituição bastante simples. Destaca-se, nos anos 40, no Rio
de Janeiro, o STS (Serviço de Transfusão de Sangue) por ter, além
da conotação assistencial, atividades científicas. No final desta
década, é promovido o I Congresso Paulista de Hemoterapia,
que forneceu as bases para a fundação da Sociedade Brasileira
de Hematologia e Hemoterapia, em 1950. Em 1965 cria-se,
por iniciativa do Ministério da Saúde, a Comissão Nacional de
Hemoterapia, estabelecendo normas para proteção dos doadores
e receptores de sangue. Mesmo assim, em 1979 ainda existia
um sistema desorganizado e desigual na qualidade dos serviços
prestados.

Nos anos 80, a criação da Política Nacional do Sangue, a campanha


da doação altruísta de sangue da SBHH e a Constituição de 1980
deram outra dimensão à hemoterapia brasileira.

No período contemporâneo a desastrosa ocorrência da AIDS em


pacientes transfundidos obrigou o surgimento de novos conceitos
e cuidados. Além disso, outros fatos importantes contribuíram para
a hemoterapia no País, como o conceito da hemoterapia clínica,
fatores econômicos, desenvolvimento da genética molecular e
biotecnologia, a terapia celular, a renovação de equipamentos, a
automação e computação, os sistemas da qualidade e o interesse
do hemoterapeuta por áreas científicas de ponta.
Rev. bras. hematol. hemoter. 2005; 27(3):201-207.

VERRASTRO, Therezinha; et al. Hematologia e hemoterapia. São Paulo: Atheneu,


1998.

12
CAPÍTULO 2
Atividades desenvolvidas na
hemoterapia

Dentre as principais atividades na hemoterapia, encontram-se a captação e seleção


de doadores, a pré-triagem, triagem clínica e hematológica dos doadores, a coleta de
sangue, armazenamento, exames imuno-hematológicos e sorologia do sangue e da
transfusão, além do direcionamento de doadores inaptos.

As principais atividades realizadas por um hemoterapeuta estão descritas na figura 2.

Figura 2. Fluxograma das principais atividades realizadas na hemoterapia.

Fonte: Adaptada de VERRASTRO et al., 1998.

A hemoterapia tem se caracterizado pelo desenvolvimento e pela adoção de novas


tecnologias objetivando minimizar os riscos transfusionais, especialmente quanto à
prevenção da disseminação de agentes infecto-contagiosos (REGAN; TAYLOR, 2002).

13
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

A hemoterapia moderna se desenvolveu baseada no preceito racional de transfundir-


se somente o componente que o paciente necessita, baseado em avaliação clínica e/ou
laboratorial, não havendo indicações de sangue total. A maioria das padronizações de
indicação de hemocomponentes está baseada em evidências determinadas por meio de
análise de grupos de pacientes, nunca devendo ser empíricas ou baseadas somente na
experiência do profissional médico envolvido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

A indicação básica para transfusões é restaurar ou manter a capacidade de transporte


de oxigênio, o volume sanguíneo e a hemostasia. Convém ressaltar que as condições
clínicas do paciente, e não somente resultados laboratoriais, são fatores importantes na
determinação das necessidades transfusionais. Sabemos também que apesar de todos
os cuidados, o procedimento transfusional ainda apresenta riscos (doença infecciosa,
imunossupressão, aloimunização), devendo ser realizado somente quando existe
indicação precisa e nenhuma outra opção terapêutica (CAIRUTAS, 2001).

As solicitações para transfusões de sangue ou componentes devem ser feitas em


formulários específicos que contenham informações suficientes para uma correta
identificação do receptor, sendo feita em requisição adequada e legível, aceita pelo
serviço de hemoterapia (RDC no 1.353/2011).

14
CAPÍTULO 3
Captação e seleção de doadores

A doação de sangue é, ainda hoje, um problema de interesse mundial, pois não há uma
substância que possa, em sua totalidade, substituir o tecido sanguíneo. Os hemocentros
têm dificuldades em manter o estoque de sangue para atender às necessidades
específicas e emergenciais, colocando em risco a saúde e a vida da população. As
estatísticas mundiais mostram que as doações de sangue não acompanham o aumento
de transfusões (GUTIÉRREZ; TEJADA; CRUZ, 2003).

Quais estratégias de captação de doadores de sangue são desenvolvidas pelos


centros de hemoterapia?

Porque as pessoas são tão resistentes à doação de sangue?

O que motiva o doador à doação de sangue?

Abaixo segue o fluxograma da captação e seleção de doadores:

Figura 3. Fluxograma relacionado à captação e seleção de doadores.

Fonte: Adaptado de ANVISA – Manual Técnico de Hemovigilância (2007).

Apto
15
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

Captação dos candidatos a doadores de


sangue
Considera-se que a seleção de doadores se inicia nesta fase, que antecede o ciclo do
sangue propriamente dito. Conduzida por meio de diferentes técnicas de recrutamento
(diretamente ou por meio da mídia nas escolas, nos ambientes de trabalho, entre
outras), essa fase tem como objetivo motivar pessoas em bom estado de saúde para
que sejam potenciais doadores de sangue, no sentido de garantir à população um
suporte hemoterápico suficiente e de boa qualidade (GUTIÉRREZ; TEJADA; CRUZ,
2003). Toda doação de sangue deve ser altruísta, voluntária e não remunerada direta
ou indiretamente. O sangue, portanto, depende do desprendimento do doador, que
deve estar consciente de que o ato da doação de sangue não pode prejudicar sua
saúde, bem como a do receptor desse sangue. Sabe-se que, quanto maior for o nível
de saúde dos doadores, mais seguro será o sangue obtido. Assim, há que se considerar
o perfil epidemiológico da população trabalhada para esse fim (VÁSQUEZ; IBARRA;
MALDONADO, 2007).

Candidato à doação

Podem doar sangue pessoas saudáveis com peso acima de 50 kg, que tenham idade
entre 18 e 65 anos e que não tenham antecedentes e/ou maior vulnerabilidade para
a transmissão de doenças veiculadas pelo sangue. O ciclo do sangue tem início com o
candidato à doação se apresentando ao serviço de hemoterapia. A fim de possibilitar
uma maior garantia de sua identificação, o candidato deve ser identificado por meio de
um documento que contenha sua foto (BRASIL, 2009).

Triagem clínica

Os candidatos à doação devem passar por uma “seleção” antes de doarem sangue. Essa
seleção é de responsabilidade do serviço de hemoterapia que realiza a coleta do sangue.
É chamada de triagem clínica e deve ser realizada por profissional de saúde habilitado,
sob supervisão médica, no mesmo dia da doação/coleta. É realizada com o intuito de
selecionar, dentre os candidatos apresentados, somente aqueles que preencherem os
critérios desejáveis para um doador de sangue (CARAM, 2005).

16
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

Desse modo, como a triagem clínica visa a proteger a saúde do doador e a saúde do
receptor, devem ser verificados, dentre outros:

»» o peso;

»» a pressão arterial (pa);

»» a temperatura;

»» a taxa de hemoglobina (Hb) ou de hematócrito (Ht).

Além disso, o candidato passará por uma avaliação clínica e epidemiológica realizada
por meio de entrevista, em local com privacidade, utilizando um roteiro padronizado
que contém questões referentes ao histórico de doença (prévia ou atual), cirurgias,
maior vulnerabilidade para doenças sexualmente transmissíveis etc. (BRASIL, 2004).

O candidato que for considerado apto nessa fase será encaminhado para a fase seguinte:
coleta do sangue. O candidato considerado inapto temporária ou definitivamente não
terá o seu sangue coletado e será dispensado do serviço de hemoterapia após orientação.
O motivo de sua recusa deverá ser registrado na sua ficha (BRASIL, 2004).

Além da triagem clínica, como medida adicional de segurança, o serviço de hemoterapia


deve oferecer ao candidato considerado apto a oportunidade de se autoexcluir, caso ache
que a bolsa de sangue coletada não deva ser transfundida. Essa medida, denominada
voto de autoexclusão, tem o objetivo de dar mais uma oportunidade ao doador que
não referiu ou omitiu, durante a triagem clínica, uma condição de risco acrescido para
doenças transmissíveis pelo sangue. Esse voto, que deve ser confidencial, não impede
a coleta de sangue, mas quando positivo, determina o descarte da bolsa de sangue
coletada (CARRAZZONE; BRITO; GOMES, 2004).

Coleta do sangue

O processo de coleta do sangue pode ocorrer de duas formas: a coleta do sangue total,
que é mais comum, e a outra forma, mais específica e de maior complexidade, realiza-se
por meio de aférese (permite a obtenção de um hemocomponente específico conforme a
necessidade do paciente: concentrado de plaquetas, plasma ou leucócitos etc.). O sangue
total deve ser coletado em uma bolsa descartável, estéril e múltipla (a tripla é a mais
comumente utilizada), para permitir o posterior processamento, isto é, a separação do
sangue total coletado em vários hemocomponentes. Os hemocomponentes utilizados
na prática transfusional são obtidos por doações voluntárias do sangue total ou por
aférese (BRASIL, 2007).

17
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

No momento da doação, o doador deve estar confortavelmente instalado. A punção


venosa para coleta do sangue deve ser precedida de uma antissepsia adequada do local
de venopunção e o volume coletado deve ser aquele definido na triagem clínica (entre
405 e 495 ml). Durante a coleta, a bolsa deverá ser constantemente movimentada a
fim de permitir que o sangue coletado seja homogeneizado com o anticoagulante nela
contido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).Também serão coletadas, nesse momento,
em tubos adequados, as amostras de sangue que se destinarão aos exames imuno-
hematológicos (tipagem sanguínea) e sorológicos. Há necessidade de especial atenção
para que as identificações da bolsa e dos tubos com as amostras de sangue sejam feitas
concomitantemente, para evitar erros, tais como a troca de amostras. Concluída a coleta,
a bolsa de sangue será encaminhada para o processamento e as amostras de sangue
serão destinadas ao laboratório para a realização dos exames imuno-hematológicos e
sorológicos obrigatórios, sem os quais nenhuma bolsa poderá ser liberada para uso
(BARRETO et al., 2011).

Ainda na fase de coleta, há que se garantir, também, o pronto atendimento ao doador


que apresentar algum efeito secundário e indesejável. Assim, é obrigatório que exista
pessoal treinado para dar esse atendimento e um local de recuperação para doador
com disponibilidade de material e medicamento para essa finalidade (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2004).

Hidratação e alimentação
Após a doação, o serviço de hemoterapia deve oferecer para todos os doadores uma
hidratação oral acompanhada de algum alimento (lanche). Terminada essa fase, o doador
pode ser dispensado estando, portanto, concluído o ciclo do doador (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).

Exames laboratoriais do doador

Como citado anteriormente, os hemocomponentes processados só poderão ser liberados


para o consumo após a conclusão dos exames imuno-hematológicos e sorológicos.

A seguir, estão os principais e obrigatórios exames imuno-hematológicos e sorológicos


que deverão ser realizados na amostra do doador.

Exames imuno-hematológicos

»» Tipagem sanguínea ABO (direta e reversa).

18
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

»» Determinação do Fator Rh (pesquisa do antígeno D fraco, se necessário).

»» Pesquisa de anticorpos irregulares (PAI).

Exames sorológicos

» Doença de Chagas.

» Hepatite B.

» Hepatite C.

» Infecção pelo HIV/AIDS.

» Infecção pelo HTLV-I/II.

» Sífilis.

Além dos exames citados, em algumas situações especiais, deve ser realizada sorologia
para a infecção pelo citomegalovírus, enquanto que, nas regiões endêmicas, com
transmissão de malária, deve ser realizado o exame parasitológico do sangue (distensão
sanguínea/gota espessa). O laboratório responsável pela realização dos exames
deverá registrá-los e informar os seus resultados para o setor ou serviço responsável
pela liberação dos hemocomponentes processados, indicando aqueles que podem ser
utilizados e aqueles que devem ser descartados (ANVISA, 2007).

19
CAPÍTULO 4
Controle imuno-hematológico

A medicina transfusional passou a ser um procedimento relativamente seguro a


partir do avanço da imuno-hematologia eritrocitária e posteriormente com a imuno-
hematologia plaquetária e leucocitária. Atualmente, estas áreas observam expansão
explosiva com a aplicação de técnicas de biologia molecular que têm permitido uma
melhor compreensão dos diversos sistemas antigênicos envolvidos (OLIVEIRA;
RIBEIRO; VIZZONI, 2013).

Neste capítulo, será discutido o controle imuno-hematológico em transfusões


sanguíneas.

O que é imuno-hematologia?
É o estudo dos antígenos presentes nas hemácias ou eritrócitos (células
vermelhas do sangue), dos anticorpos correspondentes e de seu significado
clínico. Relaciona-se à hemoterapia ou medicina transfusional.

Os laboratórios de imuno-hematologia são responsáveis pela realização de exames


imuno-hematológicos de doadores e receptores, além de realizar o controle de qualidade
de todos os reagentes imuno-hematológicos utilizados em reações transfusionais
(OLIVEIRA; RIBEIRO; VIZZONI, 2013).

Há associações da imuno-hematologia com outras áreas, como a imunologia e a


hematologia.

A hematologia é uma área da ciência que estuda as células sanguíneas


(hemácias, leucócitos e plaquetas), assim como a hemostasia. Essas células
encontram-se imersas no plasma, líquido constituído basicamente de água,
sais minerais, lipídeos, glicídeos e proteínas que formam o sangue. Após sofrer
coagulação, o plasma passa a ser representado pelo soro e pelo coágulo. O soro
apresenta composição menos rica que a do plasma, pois, ao ser formado, o
coágulo incorpora e consome algumas substâncias.

A imunologia é a área da ciência que estuda os mecanismos imunológicos


relacionados às células e às moléculas do sistema imune, assim como
reações imunológicas (hipersensibilidade, autoimunidade e ação do sistema
complemento) aos antígenos eritrocitários.

20
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

Vamos recordar?
Anticorpos naturais: são anticorpos formados contra antígenos não presentes
no organismo e sem necessidade de contato prévio.

Ex.: sistema ABO.

Anticorpos irregulares: são anticorpos formados a partir da exposição a um


antígeno. A ocorrência não esperada.

Ex.: aloimunização pelo sistema Rh.

Anticorpos completos: promovem aglutinação de hemácias em meio salino.


Ex.: Ig M.

Anticorpos incompletos: reagem com antígeno mas não promovem


aglutinação de hemácias. Ex.: Ig G.

Anticorpos frios: reagem bem em temperaturas baixas – 4 a 18°C. Ex.: Ig M.

Anticorpos quentes: reagem bem a temperatura corporal. Ex.: Ig G.

Rotina de exames pré-transfusionais


O controle imuno-hematológico é importante para a realização de transfusões
mais seguras. Sendo assim, é necessária a realização de exames do sangue total e
hemocompentes antes da transfusão do sangue do doador para o receptor (SECRETARIA
DA SAÚDE, 2001).

Considerando que algumas patologias testadas, quando não detectadas no doador


(ex.: Hepatite C, HTLV e Doença de Chagas), podem ser transmitidas e cursar durante
décadas sem apresentar sintomas, um estudo de provas entre receptores e seus
respectivos doadores fica comprometido. Estes fatos mostram a necessidade de estudos
que avaliem o perfil sorológico pré-transfusional do receptor de sangue, especialmente o
eventual e aquele sem passado transfusional. A detecção de uma determinada patologia
transmitida pelo sangue, em um receptor antes da transfusão, contribuirá para adoção
de medidas terapêuticas precoces propiciando dessa maneira a minimização do risco
de comorbidade.

Para um controle imuno-hematológico do sangue total e de hemocomponentes são


realizados exames como: testes de tipagem ABO/Rh, identificação de anticorpos, pesquisa

21
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

de anticorpos irregulares (PAI) e teste de solubilidade para hemoglobina, fenotipagem,


eluato, autoadsorção, tratamento com enzimas proteolíticas e com cloroquina e provas
de compatibilidade, triagem sorológica para o Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV I/II), Vírus Linfotrópico Humano (HTLV I/II), Hepatite C e B, Sífilis, Doença de
Chagas e Malária (BRASIL, 2011).

Quais os procedimentos básicos necessários antes de se executar os testes


imuno-hematológicos?

1. Limpe a bancada e providencie todos os materiais e equipamentos


necessários para a realização do teste.

2. Antes de iniciar o procedimento, verifique se os equipamentos estão


em condições adequadas para uso.

3. Organize a bancada.

4. Retire os reagentes utilizados em cada teste da geladeira e verifique


se eles estão em condições de uso e dentro do prazo da validade,
pois reagentes vencidos possibilitam resultados falso-positivo e falso-
negativo.

5. Faça a inspeção visual dos reagentes de hemácias observando se


existe hemólise, grumos, alteração de cor, pois qualquer alteração
torna o reagente impróprio para o uso.

6. Confira a amostra e o pedido transfusional e inicie a rotina seguindo os


procedimentos detalhados de cada teste.

Exames de controle imuno-hematológico e


triagem sorológica
Vamos relembrar os principais exames de controle imuno-hematológico e triagem
sorológica.

Estas informações foram baseadas no Manual de biossegurança da Secretaria da saúde,


2001; no Manual de procedimentos para os serviços de saúde, 2001, e na RDC no 57, de
16 de dezembro de 2010.

22
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

Tipagem ABO, direta e reversa


A tipagem ABO é definida por meio das provas direta e reversa:

»» Prova Direta (ou Beth-Vincent): pesquisa se os antígenos do sistema


ABO estão presentes nas hemácias do indivíduo. Deve ser feita com soro
Anti-A, Anti-B e Anti-A,B.

»» Prova Reversa (ou prova de Simonin): procura-se determinar os


anticorpos do sistema ABO que estão presentes no soro ou no plasma do
indivíduo. Deve ser feita com hemácias tipadas A e B, com atenção para
o fato de que o anticorpo B costuma ser mais fraco (título fraco) que os
demais anticorpos. A prova reversa é uma contraprova fundamental para
a conclusão do exame.

Assim, os resultados destas duas provas devem ser interpretados da seguinte forma:

Quadro 1. Análise dos resultados das provas diretas e reversa.

Fonte: Disponível em: <http://www.controllab.com.br/pdf/instrucao_tc_ih.pdf>.

Quando um anticorpo presente não é identificado, deve-se verificar a funcionalidade


das hemácias usadas na realização das provas. Lembrando que as hemácias, comerciais
ou preparadas pelo laboratório, devem ser fenotipadas para os principais sistemas
sanguíneos (Rh, Kell, Duffy, Kidd, Lewis, P, MNS, Luth e Xg).

Quando um anticorpo ausente é identificado, deve-se verificar a lavagem dos tubos e se


as hemácias são específicas.

Por que o sistema ABO é considerado o mais importante na medicina


transfusional?

A importância do sistema ABO na prática transfusional está relacionada à


gravidade das reações transfusionais hemolíticas devido à presença regular
no plasma do receptor de anticorpos “naturais” contra os antígenos A e B. Os
anticorpos “naturais” causam hemólise predominantemente intravascular
podendo levar o receptor à morte.

23
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

Tipagem Rh D (Sistema Rhesus)


O sistema Rh é o maior e mais complexo sistema de grupos sanguíneos, representando
um dos sistemas de maior interesse clínico, por seu envolvimento na doença hemolítica
perinatal, reações transfusionais hemolíticas e nas anemias hemolíticas autoimunes.
Os principais antígenos do Sistema Rh são: D, C/c, E/e. Esses cinco antígenos são os
que mais induzem a produção dos anticorpos que estão relacionados com a maioria dos
problemas associados à aloimunização por transfusão e gestação.

A determinação do Sistema Rhesus de um indivíduo é realizado por:

»» Determinação Rh: determinação do antígeno D do Sistema Rhesus


nas hemácias do paciente.

»» Controle Rh: é um reativo controle com ausência de anticorpo Anti-D e


de qualquer outro tipo de anticorpo para todos os sistemas eritrocitários.
Este reativo controle tem por finalidade detectar erros ou patogenias
existentes no paciente que resulte numa reação positiva do controle.
(Exemplo: casos de hiperproteinemia).

»» Pesquisa D fraco e controle: devem ser feitos, quando na classificação


do Rh (D) existe ausência de aglutinação (negativa). Sua finalidade é
detectar o anticorpo fracamente formado, devido a sua transmissão
genética. Nesta prova, é necessário usar técnicas mais sensíveis
(Técnica do Coombs Indireto – TCI) para confirmar sua positividade ou
negatividade.

Assim, os resultados destas determinações devem ser interpretados da seguinte forma:

Quadro 2. Resultados da determinação do Sistema Rhesus.

Fonte: <http://www.controllab.com.br/pdf/instrucao_tc_ih.pdf>.

Se, para um D fraco positivo o laboratório encontrar negativo, deve-se: (1) verificar se
a potência (título) do Reativo Rh(D) está de acordo; (2) observar se a temperatura do
banho-maria está calibrada e constante; (3) fazer a lavagem das hemácias corretamente
e dentro da técnica exigida, tendo o cuidado de não perder material durante o
procedimento, pois a perda de hemácias significa perda de antígeno; (4) verificar

24
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

se a Antiglobulina Humana (AGH) está dentro das conformidades do seu controle


de qualidade; (5) verificar a limpeza da vidraria (existência de resíduos químicos e
biológicos); (6) observar presença de umidade na vidraria.

Se o resultado permanecer negativo, deve-se usar Hemácias Controle de Coombs, a


fim de se detectar prováveis erros técnicos ou do reativo usado, pois com a adição do
controle deverá a reação dar sempre positiva.

Pesquisa de anticorpos irregulares (PAI)


A PAI tem como objetivo pesquisar no soro do paciente a presença de aloanticorpos
irregulares voltados contra antígenos clinicamente significantes de importância
transfusional e/ou gestacional.

Os anticorpos clinicamente significantes são aqueles contra antígenos eritrocitários


(principalmente contra os sistemas Rh, Kell, Duffy, Kidd, Lewis, MNSs), estando
eles associados à diminuição da sobrevida de hemácias transfundidas e à reações
transfusionais.

A PAI pode impedir que um receptor com um anticorpo clinicamente significante


seja transfundido com hemácias que apresentam o antígeno correspondente. Esta
técnica deve ser feita no soro de todos os pacientes antes de qualquer transfusão. As
técnicas de rotina normalmente utilizadas podem ser realizadas em tubo ou gel e em
diferentes meios como LISS, PEG e ENZIMAS, os quais têm por finalidade aumentar a
sensibilidade do teste. Geralmente, a detecção de anticorpos é realizada testando o soro
do paciente contra 2 e/ou 3 células de hemácias de reagentes de doadores fenotipados
para a maioria dos antígenos comuns, preparadas comercialmente.

Prova de compatibilidade (prova cruzada)


A prova de compatibilidade consiste na mistura do soro do receptor com as hemácias
do doador, com a finalidade de investigar, no soro ou plasma do receptor, a presença
de anticorpos contra os antígenos de grupos sanguíneos presentes nas hemácias do
doador.

Qual a importância da realização da prova cruzada na rotina pré-transfusional?

A prova cruzada é importante porque é através dela que se pode detectar:

25
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

»» Anticorpos irregulares clinicamente significantes não detectados na


PAI do receptor;

»» Erros nas tipagens ABO do doador e do receptor;

»» Anticorpos contra antígenos de baixa frequência presentes nas


hemácias do doador.

A prova cruzada não previne a imunização nem acusa todos os erros de tipagem.
Determinações erradas de tipagem ABO geralmente resultarão em prova cruzada
incompatível devido às isoaglutininas naturais (A e B), mas em relação ao sistema Rh,
isto naturalmente não acontece. Por isso, o sangue de um doador Rh positivo, tipado
erroneamente como Rh negativo, será “compatível” com um paciente Rh negativo
resultando em aloimunização ao antígeno D, devido à alta antigenicidade do antígeno
D. A prova cruzada, assim como a PAI, pode ser realizada com a adição de substâncias
potencializadoras. Geralmente, utiliza-se solução de PEG a 20%.

Triagem sorológica dentro da Imuno-


hematologia

Doença de Chagas

A Doença de Chagas é causada pela infecção com um protozoário parasita,


o trypanosoma cruzi, que é encontrado principalmente na América Latina. O risco de
desenvolvimento de complicações cardíacas ou gastrintestinais severas, apresentado
pelos indivíduos infectados, é de cerca de 30%. É comum as complicações surgirem
muito tempo depois da infecção inicial. Embora o seguimento de doadores soropositivos
não tenha encontrado evidências de transmissão da doença, os parasitas são detectáveis
na circulação sanguínea – e potencialmente transmissíveis – décadas após a imigração,
fortalecendo a lógica da avaliação de doadores.

O trypanosoma cruzi, agente etiológico da Doença de Chagas, pode estar presente em


todos os hemocomponentes. O problema da Doença de Chagas transfusional torna-se
mais grave quando se verifica que grande número de transfusões de sangue é realizado
sem indicação clínica. Com exceção dos derivados sanguíneos, em cujo preparo são
submetidos a processos físico-químicos de esterilização (tais como a albumina e a
imunoglobulina humana normal ou gamaglobulina), todos os componentes sanguíneos
podem transmitir o T. cruzi.

26
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

A transmissão transfusional da tripanossomíase americana tem-se reduzido


no Brasil, com a progressiva ampliação do controle de qualidade do sangue
transfundido no país. A utilização rotineira dos testes sorológicos em unidades
hemoterápicas tem contribuído de forma decisiva para a redução do número de
casos pós-transfusionais da infecção pelo T. cruzi.

O primeiro teste utilizado para a detecção da infecção pelo T. cruzi foi a Fixação de
Complemento, desenvolvida por Guerreiro e Machado, em 1913. Hoje, esse teste
apresenta apenas valor histórico, dada a existência de testes mais simples e precisos.

As técnicas sorológicas atualmente empregadas para a detecção da infecção pelo T.


cruzi são:

»» Elisa (ensaio imunoenzimático);

»» Imunofluorescência indireta (IFI);

»» Hemaglutinação indireta (HAI).

Em todos os testes, tendo em vista a sua elevada sensibilidade e especificidade, a Doença


de Chagas está entre as principais causas de inaptidão definitiva para doação de sangue.
Para a triagem de doadores de sangue, a RDC no 343/2002 recomenda a realização de
um teste imunoenzimático de alta sensibilidade. Os indivíduos candidatos à doação
com antecedentes ou com diagnóstico clínico ou sorológico de Doença de Chagas (ainda
que tratados ou assintomáticos) deverão ser excluídos de forma permanente, da mesma
forma como os candidatos com história de contato domiciliar com triatomíneos.

Hepatite B e C

As hepatites virais são doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos com
tropismo primário pelo tecido hepático, que apresentam características epidemiológicas,
clínicas, imunológicas e laboratoriais semelhantes, porém, com importantes
particularidades.

Para fins de vigilância epidemiológica, as hepatites virais agrupam-se segundo o modo


de transmissão: o grupo com transmissão parenteral/sexual (a exemplo da hepatite B,
da hepatite C – responsável por aproximadamente 90% das hepatites transmitidas pelas
transfusões de sangue e seus derivados – e a hepatite D) e o grupo com transmissão
fecal-oral (a exemplo da hepatite A e da hepatite E).

27
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

O vírus da hepatite B (HBV) e o vírus da hepatite (HBC) localizam-se preferencialmente


no plasma. Do ponto de vista transfusional, todos os indivíduos que tiverem antecedentes
de hepatite viral após os 10 anos de idade serão definitivamente inaptos para a doação
de sangue.

Hepatite B

Os principais marcadores sorológicos da hepatite B são:

»» HBsAg (antígeno de superfície);

»» anti-HBs, anti-HBc (anticorpo contra o antígeno do core);

»» IgM, anti-HBc (IgM + IgG);

»» HBeAg (antígeno “e”);

»» anti-HBe.

O HbsAg (HBsAg) e o anti-HBc IgM caracterizam a infecção aguda. O anti-HBc


IgG, o anti-HBe e o anti-HBs permitem avaliar a evolução clínica da infecção. Em
aproximadamente de 5 a 10% dos casos de infecção pelo vírus da hepatite B, não
há desenvolvimento de imunidade, configurando a evolução para a forma crônica.
As medidas de controle sorológico reduziram a incidência de hepatite B transmitida
pelo sangue. Na triagem de doadores, atualmente são pesquisados, obrigatoriamente,
conforme a RDC no 343, os marcadores HBsAg e anti-HBc. Vale relembrar que o
objetivo da realização desses testes é a proteção do receptor e não o diagnóstico das
hepatopatias entre os candidatos voluntários à doação de sangue.

Hepatite C

O principal marcador sorológico da hepatite C é o anti-HCV, detectado,


aproximadamente, 70 dias após a infecção. A medida de ALT é variável ao longo
do tempo. Dessa forma, apenas utilizando-se métodos de biologia molecular que
permitam a identificação do DNA viral é possível detectar mais precocemente a
infecção.

Segundo a RDC no 343, quando ocorrer soroconversão confirmada, isto é, comprovada


pelos testes confirmatórios, em doador de sangue que em doações prévias apresentava
sorologia não-reativa para a infecção pelo HCV, deve-se instaurar um processo de
retrovigilância.

28
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

Serão inabilitados, de forma permanente, os candidatos que tenham doado a única


unidade de sangue transfundida em um paciente que tenha apresentado soroconversão
para hepatite C.

Serão inabilitados, por um ano, como doadores de sangue ou hemocomponentes, os


candidatos que nos 12 meses precedentes tenham sido expostos a homens ou mulheres
que tenham tido relação sexual com alguém com uma prova positiva hepatite C.

HIV

A síndrome de imunodeficiência adquirida (Sida), ou Acquired Immune Deficiency


Syndrome (Aids), é causada por um vírus chamado Human Immunedeficiency Virus
(HIV).

Até o desenvolvimento dos testes de identificação da presença do HIV, muitos


indivíduos, receptores habituais de transfusões, como os hemofílicos, foram
infectados pelo vírus e desenvolveram a doença. Na atualidade, a triagem
clínico-epidemiológica e o teste sistemático de todas as doações fazem com que,
apenas raramente, a infecção pelo HIV seja transmitida por meio de transfusões.

A Aids pós-transfusional, embora rara, deve ser preocupação permanente de todos


os indivíduos que manipulam ou administram sangue ou derivados. A doença pode
ser transmitida pelo sangue ou plasma de indivíduos saudáveis, mas infectados. Esses
indivíduos, aparentemente saudáveis, transmitem o vírus por meio do sangue doado.
Ao contrair o vírus, o receptor pode apresentar a doença na sua plenitude ou se manter
assintomático.

O Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida (HIV) é encontrado principalmente nos


leucócitos e no plasma. O diagnóstico laboratorial, que revela a presença de anticorpos
contra o HIV no sangue, indica que a pessoa já esteve em contato com o vírus, mas não
é suficiente para fazer o diagnóstico da Aids. O resultado positivo não significa doença.

São testes de triagem para detecção de anticorpos anti-HIV (testes sorológicos):


várias gerações de ensaio por imunoabsorbância ligado à enzima (Enzyme Linked
Immunosorbent Assay – Elisa), ensaio imunoenzimático (Enzyme Immuno Assay –
EIA), ensaio imunoenzimático com micropartículas (Microparticle Enzyme Immuno
Assay – Meia) e ensaio imunoenzimático com quimioluminiscência.

São testes confirmatórios: 1) testes sorológicos (detecção de anticorpos anti-HIV):


imunofluorescência indireta, imunoblot, Western Blot; 2) testes virais (detecção de
RNA ou DNA do HIV): teste de amplificação de ácidos nucléicos, como a reação em

29
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

cadeia da polimerase (Polimerase Chain Reaction – PCR) e a amplificação sequencial


de ácidos nucléicos (Nucleic Acid Sequence Based Amplification – Nasba).

Segundo a RDC no 343, deverão ser realizados dois testes. Um dos testes deve ser
imunoenzimático. O segundo teste poderá ser por ensaio imunoenzimático com
quimioluminescência ou por outra técnica com princípio metodológico ou antigênico
distinto do primeiro teste. A infecção pelo HIV/Aids está entre as principais causas de
inaptidão definitiva para doação de sangue.

Quando ocorrer soroconversão confirmada, isto é, comprovada pelos testes


confirmatórios, em doador de sangue que em doações prévias apresentava sorologia
não reativa para a infecção pelo HIV-1 ou HIV-2, deve-se instaurar um processo de
retrovigilância.

30
CAPÍTULO 5
Procedimentos especiais em
hemoterapia

A regulamentação técnica da atividade hemoterápica no Brasil foi atualizada por


meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) no 153, de 14 de junho de 2004.
Essa RDC determina que todo doador de sangue deve ser submetido a uma triagem
clínico-epidemiológica e laboratorial. No entanto, o diagnóstico final do doador não
necessariamente deve ser realizado no serviço de hemoterapia.

A triagem, também conhecida como screening ou detecção precoce, pode ser definida
como sendo o processo pelo qual se obtém o diagnóstico presuntivo de um determinado
agravo e/ou doença (incluindo infecções), não previamente identificados, por meio de
testes, de exames ou de outros procedimentos aplicados diretamente em pessoas que
são aparentemente saudáveis (NÚCLEO DE BIOSSEGURANÇA – NuBio – 2015). A
necessidade de se estabelecerem critérios bem definidos de triagem clínico-epidemiológica
e laboratorial justifica-se uma vez que os dados existentes na literatura evidenciam uma
grande variabilidade de perfis de riscos de transmissão de doenças entre diferentes países,
a depender de fatores, tais como:

»» prevalência da doença na população;

»» risco de infecção;

»» frequência de doadores de repetição;

»» grau de cobertura da triagem sorológica;

»» sensibilidade dos testes utilizados;

»» segurança dos resultados obtidos.

A realização dos testes obrigatórios na triagem laboratorial das doenças transmitidas


pelo sangue possibilita a liberação, ou não, do sangue coletado para uso. Entretanto,
eles não permitem estabelecer diagnósticos de certeza, de modo que as pessoas
identificadas como tendo resultados positivos/reativos ou duvidosos na triagem
devem necessariamente ser avaliadas e aconselhadas por profissionais de saúde com
capacidade técnica para o acompanhamento do caso (GARCIA; FACCHINI, 2008).

31
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

Segundo a legislação vigente, é obrigatória a realização de exames laboratoriais


de alta sensibilidade, em todas as doações, para a identificação de determinadas
doenças transmissíveis pelo sangue. Nesse sentido, o sangue total e/ou seus
componentes não podem ser transfundidos antes da obtenção de resultados
finais de triagem não reagentes, nos testes de detecção para: infecção pelo
vírus da hepatite B; infecção pelo vírus da hepatite C; infecção pelo HIV-1 e
HIV-2; Doença de Chagas; sífilis e infecção pelo HTLV-I e HTLV-II (NÚCLEO DE
BIOSSEGURANÇA – NuBio –, 2015).

Os principais procedimentos especiais realizados na Hemoterapia, de acordo com o


Technical Manual, American Association of Blood, 2001, serão descritos a seguir.

Procedimentos especiais

Aférese

Durante a realização dos procedimentos de aféreses, é obrigatória a presença do médico


sendo que o quadro funcional deve estar treinado para o atendimento de qualquer
situação de emergência. Da mesma forma, é obrigatória a existência, na área destinada
à realização da aférese, de material e equipamento para atendimento destas situações.

Deve-se ter os seguintes cuidados com o doador:

»» realizar hemograma completo com contagem plaquetária antes da coleta


por aférese;

»» o doador de aférese deverá ter um contagem de plaquetas acima de


150.000/mm3.

Plaquetaferese

É a remoção, para fins transfusionais, de plaquetas. Devem ser aplicadas as mesmas


normas gerais relacionadas com a doação de sangue total.

Deve-se ter os seguintes cuidados com o doador:

»» o intervalo mínimo entre duas plaquetafereses deve ser de 48 horas;

»» o intervalo entre uma plaquetaferese e uma doação de sangue total deve


ser no mínimo oito semanas;

32
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

»» os testes sorológicos devem seguir as normas técnicas estabelecidas para


o sangue total, sendo realizados previamente ao procedimento;

»» os testes sorológicos terão validade de, no máximo, dez dias, após a coleta,
contar o dia da coleta como sendo o primeiro dia.

Plasmaferese terapêutica
É um procedimento especial que consiste na remoção do plasma, com finalidade
terapêutica. A plasmaferese deverá ser executada exclusivamente por médico
capacitado e treinado. O produto obtido na aférese terapêutica não pode ser usado para
fins transfusionais em outros pacientes.

Transfusão autológica (Autotransfusão)

É um procedimento em que o paciente é seu próprio doador. Autotransfusão, ou doação


autóloga, é a designação do processo de reinfusão do sangue do próprio indivíduo, isto
é, quando ele recebe transfusão de seu próprio sangue doado dias antes.

Exsanguíneo-transfusão

É a substituição do sangue de um paciente, por meio de remoções e reposições parciais


e sucessivas, por outro sangue e/ou componentes. 

Indicações:

»» doença hemolítica perinatal (DHPN);

»» coagulação intravascular disseminada (CIVD);

»» septicemia; intoxicação exógena;

»» coma malárico;

» hemoglobinopatias. 

Os testes sorológicos devem ser os mesmos preconizados para transfusão de sangue e/ou
hemocomponentes.

33
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

Hemocomponentes irradiados

A irradiação dos hemocomponentes é realizada para a prevenção da doença do


enxerto  versus  hospedeiro, associada à transfusão (complicação imunológica
usualmente fatal). Com a finalidade de prevenir esta complicação, os hemocomponentes
celulares (concentrado de hemácias e de plaquetas) devem ser submetidos à irradiação
gama na dose de, pelo menos, 25GY, impossibilitando a multiplicação dos linfócitos.

Indicações:

»» Transfusão intra-uterina.

»» Pacientes submetidos ao transplante de medula óssea autólogo ou


alogênico.

»» Durante a coleta de medula óssea ou células-tronco do sangue periférico


em pacientes que serão submetidos à TMO autólogo.

»» Transfusão de sangue ou componentes coletados em doadores que


apresentam compatibilidade HLA com o receptor.

»» Transfusão em prematuros com peso inferior a 1 200 g.

»» Portadores de imunodeficiências congênitas graves.

»» Pós-transplante com células de cordão umbilical.

»» Pacientes tratados com análogos da purina, fludarabina, cladribine,


deoxicoformicina.

»» Quando o receptor tiver qualquer grau de parentesco com o doador.

Hemocomponentes lavados

São obtidas pelas lavagens dos hemocomponentes celulares (glóbulos vermelhos e


plaquetas) com solução isotônica de cloreto de sódio estéril, com a finalidade de eliminar
a maior quantidade possível de plasma.

Indicações:

»» Pacientes com ausência comprovada de imunoglobulina IgA.

»» Pacientes com reações alérgicas graves.

34
HEMOTERAPIA│ UNIDADE I

Transfusão de sangue aquecido

Consiste no aquecimento de hemocomponentes por meio de equipamentos especiais


e em temperatura controlada. Sempre que houver indicação de uso de sangue ou
componentes aquecidos, fazer este procedimento em aquecedores próprios para este
fim. Os componentes plaquetários não devem ser aquecidos devido à alteração de sua
função.

Indicações:

» Transfusão em recém-nascidos prematuros.

» Transfusão rápida (fluxo superior a 50 ml/min).

» Transfusão em pacientes politraumatizados.

» Transfusão na Anemia Hemolítica Auto-Imune a Frio. Nestes casos, deve-


se aquecer o paciente, cobrindo-o com um cobertor, e colocando-lhe luvas e
meias grossas.

» Transfundir, caso haja sinais de hemólise acelerada durante a transfusão; as


transfusões subsequentes devem ser feitas com uso do aquecedor de sangue.

» Paciente com altos títulos de anticorpo hemolítico frio com alta amplitude


térmica, que reage a 370C.

» Pacientes portadores de fenômeno de Raynaud.

» Exsanguíneo-transfusão.

Sangue CMV – negativo

O citomegalovírus (CMV) é um vírus envelopado e que apresenta o maior genoma


entre os vírus que infectam espécies animais. Como DNA do citomegalovírus tem sido
encontrado em leucócitos de sangue periférico de doadores saudáveis, a leucorredução
de produtos sanguíneos representa uma das estratégias mais utilizadas para reduzir o
risco de transmissão de CMV pela transfusão em pacientes de risco. Outra estratégia
para prevenção da transmissão transfusional de CMV é a coleta de sangue proveniente
de doadores CMV negativos.

Está indicado nas seguintes categorias de pacientes (independentemente do seu status


sorológico):

35
UNIDADE I │HEMOTERAPIA

» Submetidos a Transplante de Medula Óssea.

» Prematuros com menos de 1.200 g.

» Portadores de anemia aplástica.

» HIV positivos.

Componentes desleucotizados
É um procedimento realizado através de filtros específicos para remoção de leucócitos
de glóbulos vermelhos ou plaquetas.

Indicações:

»» Prevenções de complicações relacionadas à transfusão de


hemocomponentes causadas pela exposição do receptor aos leucócitos
do doador.

»» Prevenção de reações transfusionais febris não hemolíticas em pacientes


politransfundidos.

»» Pacientes com sorologia sabidamente não reagente para CMV.

»» Pacientes candidatos a transplante de medula óssea e receptores de


medula óssea.

»» Hemoglobinopatias.

»» Anemias hemolíticas hereditárias.

»» Síndromes de imunodeficiência congênitas.

36
USO RACIONAL
DO SANGUE E DOS UNIDADE II
COMPONENTES
As informações sobre o uso racional do sangue e seus componentes foram baseadas em
recomendações nacionais e internacionais, no Manual para o Uso Racional de Sangue,
2003, e no Guia para o Uso de Hemocomponentes do Ministério da Saúde, 2009.

O sangue total pode ser fresco ou reconstituído, ambos não são muito indicados
em transfusões.

»» Sangue total fresco: produto hemoterápico que não sofreu nenhuma


modificação no processamento, sendo válido até 6 horas após coleta.

»» Sangue total reconstituído: é indicado quando se necessita repor


os vários componentes do sangue, em casos de: anemia aguda com
distúrbio hemodinâmico; Exsanguíneo-transfusão; tratamento de
doença hemolítica perinatal (ideal até 5 dias de estocagem) e Cirurgia
cardíaca com circulação extracorpórea.

Os Hemocomponentes são concentrados de hemácias, plasma fresco


congelado, concentrados de plaquetas e crioprecipitado.

Os Hemoderivaods são albumina humana; imunoglobulina endovenosa sérica;


fatores VIII, IX, II, VII, IX, X.

Os hemocomponentes e hemoderivados se originam da doação de sangue por um


doador. No Brasil, este processo está regulamentado pela Lei no 10.205, de 21 de março
de 2001, e por regulamentos técnicos editados pelo Ministério da Saúde.

Toda doação de sangue deve ser altruísta, voluntária e não gratificada, direta ou
indiretamente, assim como o anonimato do doador deve ser garantido. Para a obtenção
destes produtos, os serviços de hemoterapia são estruturados em rede, com níveis de
complexidade diferentes, a depender das atividades que executam.

Os hemocomponentes e hemoderivados são produtos distintos. Os produtos gerados


um a um nos serviços de hemoterapia, a partir do sangue total, por meio de processos
físicos (centrifugação, congelamento) são denominados hemocomponentes. Já os

37
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

produtos obtidos em escala industrial, a partir do fracionamento do plasma, por


processos físico-químicos, são denominados hemoderivados.

A figura 4 apresenta o fluxograma da obtenção dos hemocomponentes e hemoderivados


a partir do sangue total.

Figura 4. Fluxograma geral de hemocomponentes e hemoderivados.

Fonte: Adaptado de Brasil (1998).

O sangue mais procurado no Brasil


No Brasil, 55% da população têm sangue do tipo O, 35% do tipo A, 8% do tipo B e
2% do tipo AB. Cerca de 90% da população são Rh positivo. O sangue O negativo
é o mais procurado. Primeiro pela quantidade de doações, que é insuficiente
devido à pequena incidência na população, e em segundo porque quando há
uma situação de emergência, como quando uma pessoa sofre um acidente e
chega ao hospital necessitando de uma transfusão de sangue imediata, não há
tempo de fazer o exame de compatibilidade e o sangue utilizado é o O negativo,

38
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

sendo por isso considerado o doador universal. O sangue AB só serve para o AB,
justamente por isso é o sangue menos procurado. O AB positivo é considerado
o receptor universal.

Uso racional do sangue e seus componentes


Antes de iniciar uma transfusão independentemente de qual componente seja
indicado, algumas normas gerais devem ser obedecidas, para a requisição do produto
hemoterápico, como: identificação, liberação do produto, início da infusão, tempo
de infusão, tipos de filtros transfusionais, adição de substâncias (salina isotônica),
temperatura de infusão (4ºC).

O uso racional de cada hemocomponente nos permite oferecer ao paciente somente o


que for necessário e, dessa forma, obter uma melhor resposta terapêutica.

A redução de transfusões desnecessárias, a partir da utilização clínica apropriada e uso


de alternativas simples, resultará em:

»» Maior eficácia terapêutica.

»» Diminuição da incidência de reações transfusionais.

»» Controle das complicações infecciosas.

»» Racionalização dos estoques.

Estratégias recomendadas para a redução de transfusões:

»» Reduzir coletas de sangue para exames laboratoriais.

»» Racionalizar o uso de linhas arteriais.

»» Otimizar o atendimento ao paciente com hemorragia aguda.

39
CAPÍTULO 1
Transfusão em neonatologia e pediatria

A transfusão em neonatos e crianças apresenta características distintas daquelas


observadas em adultos e, portanto, merece consideração especial por parte do
hemoterapeuta.

A transfusão de sangue, hemocomponentes e hemoderivados faz parte do


arsenal terapêutico que confere suporte avançado aos bebês de risco em
unidades de cuidados intensivos neonatais. Os recém-nascidos (RNs) constituem
um grupo de pacientes que mais consomem sangue e hemocomponentes em
hospitais pediátricos. Quanto menor for o seu peso e idade gestacional, maior a
necessidade de transfusão (ALBIERO, et al., 1998).

A prática transfusional em neonatologia tem sido objeto de interesse de muitos


pesquisadores desde a década de 1920 para tratar casos de desnutrição grave e de sepse
em recém-nascidos, sobretudo em prematuros. O aparelho circulatório dos RNs é um
sistema aberto de pequenas dimensões, com características hemodinâmicas próprias,
sendo assim, a adição de pequenos volumes de hemocomponentes deve alcançar o melhor
rendimento possível, com o mínimo de efeitos adversos: bioquímicos, imunológicos
e infecciosos (CHAMBERS; ISSIT, 1994). Os RNs internados constituem o grupo de
pacientes que, proporcionalmente, mais consome hemocomponentes em hospital. Esse
consumo é inversamente proporcional ao seu peso e/ou idade gestacional (VAZ, 1994).

Atualmente, ao redor de 45-75% dos prematuros de muito baixo peso ao nascer recebem
transfusões de hemácias durante a sua internação na unidade neonatal. Entretanto,
não existe uma fórmula ideal para avaliar a necessidade de transfusões de hemácias em
prematuros.

A adoção de critérios liberais de indicações de transfusões de hemácias, comparados


aos restritos, mantêm os prematuros com taxa maior de hemoglobina e menor risco de
baixa oxigenação tecidual, mas por outro lado, aumenta o risco das transfusões.

As transfusões de hemocomponentes apresentam risco de transmissão de infecções


como HTLV (1: 3.000.000), HIV (1: 2.000.000), Hepatite C (1: 2.000.000), Hepatite
B (1: 200.000), Hepatites A/E (1/1.000.000) e citomegalovírus (1%). Além do risco
infeccioso, também foram descritas alterações imunológicas como reações hemolíticas,
imunomodulação e reação enxerto-hospedeiro, podendo ainda ocorrer sobrecarga

40
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

hemodinâmica, hipotermia, hipercalemia e aumento de ferritina sérica (ALLAIN, et


al., 2009).

Neste capítulo, iremos abordar os tipos de transfusões mais utilizadas em neonatologia


e pediatria e suas peculiaridades. Os tipos de transfusão são divididos em: exsanguíneo-
transfusão; transfusão intrauterina, hemocomponentes (concentrado de hemácias,
concentrado de plaquetas, concentrado de granulócitos, plasma fresco congelado e
crioprecipitado) e hemoderivados (imunoglobulinas, albuminas e fibronectina).

As informações sobre transfusões em neonatologia e pediatria foram baseadas nos


seguintes autores: Murray e Roberts (2004); Petz et al. (1998); Rossef (2006); Strauss
(2004) e WHO – Laborator Biosafety Manual (2003).

Transfusões em neonatologia e pediatria

O que significa neonatologia e pediatria?


Neonatologia é o ramo da pediatria que se dedica ao estudo do feto e do recém-
nascido durante e após seu nascimento até o 28o dia de vida.

Pediatria é arte de cuidar a criança enferma e diminuir os traumas causados


pela hospitalização. É a especialidade médica dedicada à assistência à criança e
ao adolescente, nos seus diversos aspectos, sejam eles preventivos ou curativos.

Testes pré-transfusionais
A determinação do fenótipo ABO humano completo e definitivo depende da presença
de antígenos e anticorpos naturais complementares. Até quatro meses de idade,
a expressão desses antígenos pode ser incompleta (expressão fraca) e os anticorpos
detectados, geralmente são de origem materna. Portanto, nessa faixa etária e dentro
de uma margem de segurança de até 12 meses, o laudo de tipagem ABO não deve ser
considerado definitivo. Dessa forma, recomenda-se que os testes imuno-hematológicos
em recém-nascidos sejam feitos em gel-teste, devido à economia de volume de amostra
que esse tipo de método proporciona.

Deve ser realizada a tipagem direta ABO/Rh(D), porém a tipagem (ABO) reversa não
precisa ser feita, desde que se disponha de amostra materna. A presença de anti-A ou
anti-B, com métodos que incluam a fase de antiglobulina, deve ser verificada no plasma
do RN (= tipagem reversa) toda vez que não houver amostra materna. A tipagem da

41
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

amostra materna (incompatível com a do RN) ou a presença de iso-hemaglutininas IgG


no plasma do RN são suficientes para diagnosticar incompatibilidade materno-fetal
por antígenos do sistema eritrocitário ABO.

Na amostra pré-transfusional inicial, deve ser realizada a pesquisa de anticorpos


irregulares. Para tal fim, deve ser empregado preferencialmente o soro da mãe, mas
podem ser utilizados: plasma ou eluato do RN (o que tiver maior volume), no caso da
ausência da mãe. Se a pesquisa de anticorpos irregulares demonstrarem a presença de
anticorpos clinicamente significativos, a transfusão deve ser feita com unidades que não
contenham os antígenos correspondentes. Estas unidades devem ser compatibilizadas
com soro (ou plasma) do RN ou com soro/plasma da sua mãe.

Transfusão do Concentrado de Hemácias (CH)


A necessidade de transfusão de hemácias em prematuros é maior do que nos recém-
nascidos de termo. Os níveis de hemoglobina que indicam transfusão de glóbulos em
prematuros são mais elevados do que para os RN de termo. A indicação de transfusão
de CH é de acordo com a presença ou ausência de fatores de risco associados à anemia:
insuficiência respiratória e processos infecciosos e hemorrágicos. Os RNs com riscos
associados são transfundidos com níveis séricos de hemoglobina maiores do que os sem
riscos. O tempo de vida do RN e a sua maturidade ao nascer também são parâmetros
utilizados para indicar transfusão de hemácias (ALBIERTO, et al., 1998).

Os RNs não podem ser transfundidos com hemocomponentes que contenham anticorpos
irregulares clinicamente significativos. O CH indicado para transfusão de pequenos
volumes não precisa ter menos de 7 dias. Essa regra vale apenas para exsanguínea-
transfusão (EXT). As unidades de CH não devem conter hemoglobina S.

A irradiação gama está indicada para RN com menos de 1.200 g, para evitar reação
enxerto versus hospedeiro. Não é necessário irradiar hemocomponentes para transfusão
em recém- nascido a termo, exceto quando proveniente de doações específicas de
familiares ou quando houver suspeita de síndrome de imunodeficiência congênita.
Quando a criança expressa antígenos “A” e/ou “B” e não há incompatibilidade materno-
fetal, a transfusão de CH do mesmo tipo que da sua tipagem direta (transfusão isogrupo)
é recomendada.

O volume de CH a ser transfundido varia de 10 a 20 ml/Kg e depende da diferença


entre o nível sérico de Hb desejado e o encontrado, da tolerância da criança a infusão
de volume e das características dos produtos disponíveis. Esses volumes representam
10 a 20% da volemia das crianças e podem ser infundidos a 2,5 ml/min. Os riscos de

42
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

sobrecarga de volume são grandes em RN com insuficiência cardíaca e renal. RN com


insuficiência respiratória podem ter queda de saturação de O2 durante a transfusão de
CH. Nesses casos, a velocidade da transfusão deve ser diminuída ou interrompida.

Em RN, a capacidade de manutenção da temperatura corpórea está comprometida.


Hemocomponentes em baixa temperatura, quando infundidos, podem provocar
alterações metabólicas com morbidade significativa (apneia, hipotensão, hipoglicemia).
Então, a temperatura do CH, no momento da transfusão, deve estar entre 20 e 30ºC.
Reações pós-transfusionais hemolíticas, febris, não hemolíticas e urticariformes em
RN são extremamente raras.

Exsanguíneo-transfusão (EXT)

A exsanguíneo-transfusão (EXT) é a substituição do sangue do RN, por meio da retirada


de múltiplas alíquotas, pela mesma quantidade de sangue de um doador homólogo.
A EXT pode ser realizada precocemente, baseada em antecedentes de kernicterus
(encefalopatia bilirrubínica), em RNs anteriores da mesma mãe e hidropsia no feto
atual, diagnosticado durante os exames pré-natais. O objetivo da EXT na doença
hemolítica do recém-nascido (DHRN) é o de corrigir a anemia, reduzir o título dos
anticorpos maternos circulantes, remover hemácias sensibilizadas, substituí-las por
hemácias não sensibilizadas e remover a bilirrubina não conjugada antes da sua difusão
para os tecidos.

As indicações para a EXT em RN são:

»» DHRN por incompatibilidade materno-fetal contra antígenos


eritrocitários.

»» Hiperbilirrubinemia neonatal devida a eritro-enzimopatias hereditárias


(deficiências de G-6PD e piruvatoquinase).

»» Defeitos estruturais congênitos na membrana eritrocitária (esferocitose e


eliptocitose hereditárias).

» Coagulação intravascular disseminada e septicemia grave, como recurso


adjuvante.

» Trombocitopenia aloimune neonatal, para o clareamento dos anticorpos


contra antígenos plaquetários.

Durante as primeiras 24 horas de vida, está indicada a EXT, quando houver teste de
antiglobulina direto (Coombs direto) positivo, bilirrubina indireta (BI) > 4mg/dl, nível

43
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

sérico de hemoglobina < 13g/dl, elevação de BI > 0,5mg/dl/ hora. Após 24 horas de
vida, a EXT é indicada somente pela evolução dos níveis séricos de bilirrubina indireta.
O uso do nível sérico como critério de indicação de EXT baseia-se no fato de existir uma
relação direta entre este e a incidência de kernicterus, e de ser uma variável numérica
passível de mensuração.

O produto de escolha para EXT é o sangue total (ST) ou o sangue total reconstituído
(STR). O STR é CH reconstituído com plasma fresco congelado (PFC) cujo hematócrito
após reconstituição é > 40%.

Para a EXT, utiliza-se sangue total no volume de 160 ml/kg de peso, que corresponde ao
dobro da volemia do RN de termo, o que permite remover em média 87% dos glóbulos
vermelhos do recém-nascido. O sangue total ou o CH que compõe o STR devem ter
menos de 5 dias, não conter hemoglobina S (Hb S) e sofrer irradiação gama (2.500
rads) poucas horas antes do procedimento.

Dois princípios básicos norteiam a escolha individualizada dos produtos, segundo a


presença de antígenos/anticorpos dos sistemas eritrocitários:

»» As hemácias a serem transfundidas devem ser compatíveis com o soro da


mãe.

»» O PFC deve ser compatível com as hemácias do RN.

Esses princípios são válidos para a escolha de produtos em toda e qualquer situação de
incompatibilidade materno-fetal.

Transfusão Intrauterina de CH (TIU)


O hemocomponente indicado para TIU é o CH O Rh(D) de menos de 5 dias, compatíveis
com o soro materno, irradiado. O CH também deve ser negativo para Hb S com
sorologia negativa para CMV e/ou leucorreduzidos. Para evitar incompatibilidade com
ABO menor, recomenda-se lavar as hemácias em solução fisiológica para a obtenção
de hematócrito final entre 75 e 80%. A TIU não deve ser indicada antes da vigésima
semana de gestação, mas após essa idade gestacional pode ser repetida até a cada
duas semanas. O volume transfundido na TIU por cordocentese é de 50 ml/Kg (peso
estimado para feto não hidrópico da idade gestacional correspondente).

44
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

Transfusão de concentrado de plaquetas (CP)


O CP é o segundo tipo de hemocomponente mais solicitado em neonatologia (ANDREW,
et al., 1993). O uso deste hemocomponente destina-se ao tratamento de hemorragias
causadas ou acompanhadas de diminuição numérica e/ou funcional das plaquetas. A
transfusão de CP também pode ser indicada, profilaticamente, antes que o sangramento
ocorra.

A trombocitopenia no período neonatal pode atingir 25 a 40% dos RNs internados em


unidades de cuidados intensivos neonatais e 0,2% dos RN em berçário, presumivelmente
normais. A transfusão de CP deve ser indicada toda vez que houver um sangramento
ativo devido a um defeito qualitativo e/ou numérico de plaquetas, independentemente
de sua etiologia (STRAUSS, et al., 1993).

A transfusão profilática de plaquetas em RN pré-termo estáveis está indicada quando os


níveis de plaquetas forem < 50.000/mm3 e para os RN pré-termo com risco associado,
níveis < 100.000/mm3.

A presença de distúrbio de hemostasia secundária (coagulopatia), associado à


plaquetopenia, eleva a sugestão de transfusão profilática de plaquetas para níveis ainda
mais altos. O cálculo do volume indicado para transfusão de CP depende da diferença
entre a plaquetometria vigente e a desejada, da volemia da criança, da concentração de
plaquetas no produto utilizado e do rendimento plaquetário “padrão” após 1 hora (0,80).
O cálculo da volemia dos RNs leva em conta o peso e a idade gestacional ao nascimento.
A relação entre a volemia e o peso dos prematuros pode chegar a 110 ml/Kg.

O tempo de infusão dos CP depende da capacidade de sobrecarga circulatória, das


funções cardíaca e renal e da relação entre o volume do hemocomponente e a volemia da
criança, em geral, de 20-30 minutos. O risco de contaminação bacteriana em CP é bem
maior do que em CH, pois o estoque entre 22 e 24º C favorece a proliferação espontânea
de bactérias em CP. A transfusão de plaquetas com contaminação bacteriana pode
produzir choque e distúrbio de coagulação. Amostras da(s) unidade(s) suspeitas devem
ser encaminhadas para bacterioscopia e cultura. Hemocultura da criança também deve
ser colhida.

As indicações para a CP em RN são:

»» Tratamento e/ou profilaxia de hemorragias causadas por prejuízo


quantitativo e/ou qualitativo das plaquetas.

» Toda vez que houver um sangramento ativo devido a um defeito qualitativo


e/ou quantitativo de plaquetas, independentemente de sua etiologia.

45
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

Há fatores associados à plaquetopenia que põem em risco a hemostasia dos RNs:


sistema de coagulação imaturo, deficiência fisiológica dos fatores dependentes
de vitamina K, capacidade significativamente diminuída de produzir trombina,
dificuldade natural de mobilizar o Ca++ intraplaquetário, maior fragilidade
vascular e presença de anticoagulante natural materno que atravessa a barreira
placentária.

Transfusão de plasma fresco congelado (PFC)


A transfusão de plasma fresco congelado (PFC) é pouco frequente na faixa etária
neonatal (HILLYER; BERKMAN, 1995).

O PFC é indicado em RN quando:

»» Na reposição de fatores dependentes de vitamina K (II, VII, IX, X,


proteína C e proteína S) em RNs que apresentam tempo de protrombina
prolongado e sangramento ativo ou necessitam de cirurgia de emergência.

»» Na reversão de alterações da hemostasia decorrentes de EXT, em que a


deficiência de fator seja a principal alteração.

»» Na coagulação intravascular disseminada (CIVD).

»» Na deficiência da C1 esterase, o PFC está indicado como terapia profilática,


antes da cirurgia, para prevenir edema laríngeo em RN com angioedema
hereditário, quando não houver disponibilidade do concentrado
específico.

O PFC é contraindicado como expansor de volume e como suplementação nutricional.


Na circulação extra-corpórea, para neutralizar o efeito da heparina, o uso de PFC
também é incorreto. Neste caso, indica-se protamina.

Transfusão de concentrados de granulócitos (CG)

Apesar do aumento constante do arsenal antimicrobiano e do desenvolvimento de fatores


estimuladores de colônias (G-CSF e GM-CSF), a infecção ainda é uma complicação
comum e muitas vezes fatal em RN neutropênicos. Devido à rápida deterioração da
função dos granulócitos durante o estoque do produto, o CG deve ser infundido o mais
rápido possível após a sua coleta, preferencialmente, em até 6h após a sua obtenção.
Recomenda-se que o produto seja submetido à irradiação gama. A infusão do CG deve

46
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

ser lenta, a uma velocidade de 1-2 x 1010 células/hora. A pré-medicação com anti-
histamínicos e/ou antipiréticos é recomendada.

Em decorrência do grande número de eritrócitos presentes no CG, a transfusão deve


ser ABO compatível. Em caso de incompatibilidade ABO entre doador e receptor, os
eritrócitos devem ser removidos do componente por sedimentação antes da sua infusão.
Uma vez decidida a terapia com transfusão de granulócitos, esta deve ser administrada
eficazmente: a dose recomendada para crianças é de 1,0-2,0 x 109/kg ou 15 ml/kg/dia
de CG. A infusão deve ser continuada até que tenha ocorrido a recuperação endógena
dos granulócitos ou a erradicação da infecção. Deve ser interrompida se houver piora
evidente da infecção, apesar da transfusão de granulócitos em dose adequada ou o
desenvolvimento de reação transfusional grave.

A terapia com granulócitos deve ser considerada em RN neutropênico com infecção


bacteriana ou fúngica grave, sobretudo, se estas forem refratárias ao tratamento
antimicrobiano combinado de amplo espectro e, principalmente, se o RN for portador
de disfunção granulocítica congênita. Em RN, contagem de polimorfonucleares inferior
a 3,0x 109/l já pode ser considerada para a transfusão de granulócitos. Sepse deve ser
suspeitada em todo RN com quadro infeccioso com contagem de polimorfonucleares
inferiores a 3,0 x 109/l durante a primeira semana de vida (DALE, 1997).

Transfusão de PFC e crioprecipitado


A transfusão de PFC e crioprecipitado são indicados apenas para coagulopatias bem
documentadas e presença de sangramento. Na ausência de sangramento ativo, evitar.
usar o PFC como fonte de albumina, preferindo albumina (hemoderivado). A reposição de
vitamina K não pode ser esquecida. O volume de 10 ml/Kg depende da capacidade do RN.

Complicações imediatas e tardias das


transfusões: profilaxia e condutas
As transfusões de hemocomponentes podem causar algumas complicações
imediatas ou tardias nos RN, mas há recursos para reduzir seus riscos. Embora não
seja comum o aparecimento de reações pós-transfusionais imediatas, como as
reações febris não hemolíticas e urticariformes, em RN, estes podem apresentar
o fenômeno de hiperinsulinemia e hipoglicemia reacionais. A vigilância da
glicemia, através de fita reagente, é recomendada até 3 horas após o início da
transfusão de hemácias. A reposição de solução de glicose frequentemente é
necessária.

47
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

Hemoderivados utilizados em transfusões em


neonatologia e pediatria

Fibronectina

A fibronectina é uma glicoproteína de alto peso molecular (440 mil D) encontrada na


forma insolúvel na superfície celular dos neutrófilos e na forma solúvel no plasma,
onde existe na quantidade de 220mcg/ml, no período neonatal; no adulto, este valor
atinge 350mcg/ml. Suas propriedades imunológicas são importantes, já que estimula a
aderência endotelial, aumentando a fagocitose do material opsonizado nos neutrófilos
estimulados; facilita a ativação dos neutrófilos no local do processo inflamatório;
estimula a depuração reticuloendotelial das bactérias e dos complexos imunes.

A fibronectina humana purificada é retirada de crioprecipitados de plasma humano.


Esta terapêutica pode ser promissora para o tratamento de RN com sepse, porém ainda
está em fase de avaliação clínica inicial.

Imunoglobulina

Embora seja cada vez maior o número de RNs prematuros que sobrevivem nas
Unidades de Terapia Intensiva, estas crianças tornam-se cada vez mais expostas aos
micro-organismos hospitalares e a procedimentos invasivos que as tornam susceptíveis
a infecções graves. Destas, a sepse é uma das principais, sendo responsável pela elevada
morbidade e mortalidade destas crianças.

Sabe-se que a maior parte da imunoglobulina G (IgG) é adquirida pelo feto na última
metade do terceiro trimestre de gestação, através da transferência placentária. O recém-
nascido pré-térmico (RNPT), ao nascimento, perde a oportunidade de receber a IgG de
origem materna e, desse modo, pode apresentar hipogamaglobulinemia profunda, a
qual é resultante não só de níveis baixos de IgG nos primeiros dias de vida, mas também
da degradação da IgG adquirida materna e pelo próprio retardo de produção de IgG
após o nascimento (FANAROFF, et al., 1994).

Albumina

A albumina é uma proteína que pode ser extraída do sangue total, do plasma, do soro ou
de placentas humanas. Pelo menos 96% da proteína total no produto final é albumina,
que se encontra disponível nas concentrações de 5,0%, 20% e 25% e contém 130 a 160
mEq/l de sódio. A albumina é preparada a partir da fração V de Cohn, sendo aquecida

48
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

por pelo menos 10 horas a 60°C para inativar os vírus contaminantes (SANDBERG, et
al., 2000).

Suas principais indicações em neonatologia são:

»» Na hipoalbuminemia grave.

»» Como expansor de volume no tratamento do recém-nascido em choque


após correção da hidratação.

»» Na reposição de volume em recém-nascidos submetidos à exsanguíneo-


transfusão parcial por hiperviscosidade sanguínea.

»» Nas doenças com comprometimento cutâneo extenso nas quais há perda


de proteínas pela pele, como queimaduras, e pacientes com epidermólise
bolhosa congênita.

A dose comumente utilizada é de 1 grama por quilo, em infusão endovenosa. Quando


utilizada na concentração de 20 a 25%, deve ser infundida em um tempo superior a 2
horas, pelo risco de insuficiência cardíaca congestiva.

49
CAPÍTULO 2
Produtos hemoterápicos que
contenham hemácias

Vamos recordar? O que são Hemácias?

As hemácias, também conhecidas como eritrócitos, são os glóbulos vermelhos


do sangue e estão presentes em maior quantidade no sangue. Existem cerca de
5 milhões de hemácias por milímetro cúbico no sangue de um homem adulto e
saudável (na mulher, cerca 4,5 milhões) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

Componentes das hemácias e sua função


A hemoglobina é o principal componente das hemácias. De coloração avermelhada,
ela possui a função de fazer o transporte de oxigênio pelos diferentes tecidos do corpo
humano. Transporta também uma pequena quantidade de gás carbônico (PINTO,
2000).

Além da hemoglobina, as hemácias também são compostas por íons, glicose, água e
enzimas.

Principais características das hemácias:

»» possuem formato de disco bicôncavo;

»» não possuem núcleo;

»» medem 0,007 milímetros de diâmetros.

Produtos hemoterápicos
A cadeia dos produtos biológicos e hemoterápicos, desde a fabricação até o mercado
consumidor, é vasta e as suas etapas são amparadas por atos regulatórios, que abrangem
tanto o registro quanto o regulamento do consumo no mercado farmacêutico do país.
Dentre os produtos hemoterápicos, destacam-se o sangue total e os hemocomponentes
e hemoderivados (BRASIL, 2007).

50
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

Curiosidades:

»» Uma hemácia vive, em média, de 100 a 120 dias.

»» São produzidas cerca de 2,4 milhões de hemácias por segundo em


nosso corpo.

»» A contagem de hemácias presentes no sangue é feito por um exame


laboratorial conhecido como hemograma.

»» A cor vermelha do sangue é explicada pela presença das hemácias.

»» A diminuição no tamanho das hemácias é chamada de microcitose. Já


o aumento é conhecido por macrocitose.

Neste capítulo, iremos discutir os principais produtos hemoterápicos que contém


hemácias – sangue total, concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas e
concentrado de granulócitos. Servirá de base, as informações contidas no Ministério da
Saúde Brasil (2007); Ministério da Saúde Brasil (2009); Brener, et al. (2002) e no Guia
de Condutas Hemoterápicas (2010.

Sangue total (ST)

É o sangue doado sem nenhuma modificação, que será processado nos hemocomponentes
descritos a seguir. Está praticamente em desuso e existem poucas indicações de
transfusão de sangue total. A quantidade de fatores de coagulação não é suficiente e
as plaquetas não estão mais viáveis. O concentrado de hemácias supre de forma mais
eficaz que o sangue total, a reposição de eritrócitos, com a vantagem de ser infundido
menor volume. O seu uso não é muito aceito na hemoterapia moderna e traduz apenas
a falta de disponibilidade de produtos mais adequados. Hoje a sua utilização deverá
ser apenas como matéria-prima para o preparo de componentes (VERRASTRO, et al.,
1998).

O ST não é muito utilizado por que:

»» aporte excessivo de volume; 

»» conservação apenas das propriedades funcionais dos glóbulos vermelhos; 

»» lise dos glóbulos brancos em 24 a 48 h; 

»» perda das propriedades funcionais das plaquetas; 

51
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

»» dificuldade de tipagem nas primeiras 6h;

»» perda dos fatores lábeis da coagulação; 

»» formação de microagregados.

Sangue total estocado (STE)


É o produto resultante da doação do sangue apenas acrescido da solução de coleta, sem
a remoção de nenhum componente celular ou plasmático. O seu volume médio é de
510 mL de sangue com 60 mL de anticoagulante. O seu uso em hemorragia é restrito
e representa menos do que 5% dos componentes utilizados, se necessário, deverá ser
utilizado nos casos em que uma perda superior a 30% da volemia tenha ocorrido.
Entretanto, estas hemorragias também poderão ser manuseadas com concentrados de
glóbulos e soluções eletrolíticas ou coloidais. Seu uso também esta indicado em caso de
transfusão de substituição (EXT) em RNs, desde que estocados por no máximo 5 dias.

Sangue total modificado (STM)


Trata-se do sangue total em que houve a remoção das plaquetas e/ou crioprecipitado. O
sangue total modificado apresenta as mesmas indicações que o sangue total estocado.

Concentrado de hemácias (CH)


O CH é preparado após a centrifugação ou sedimentação das hemácias contidas no
ST e a remoção de cerca de 200 mL do plasma. Seu volume varia entre 220 a 280 mL.
Por apresentar menor volume de plasma na sua composição, não ocasionam aumento
excessivo da volemia do receptor, sendo o produto de escolha para o controle de
anemias. Uma unidade de CH deve elevar o nível de Hb em 1,0 g/dl em um receptor de
70 Kg e que não esteja com sangramento ativo. O objetivo da transfusão de CH é o de
melhorar a liberação de oxigênio.

Assim como o ST, o concentrado de hemácias deve ser mantido entre 2°C e 6°C. Os
concentrados de hemácias sem solução aditiva devem ter hematócrito entre 65% e 80%.
No caso de bolsas com solução aditiva, o hematócrito pode variar de 50% a 70%. Os CH
podem ser desleucocitados com a utilização de filtros para leucócitos ou desplamatizados
pela técnica de lavagem com solução salina fisiológica, preferencialmente em sistema
fechado.

52
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

Preparados especiais de Concentrado de Hemácias

Rotineiramente, são usados por diminuírem os riscos de incidentes transfusionais,


devido à redução de leucócitos (leucorredução).

»» Concentrado de hemácias filtradas (CHF): retiram-se 99,9% dos


leucócitos (leucorredução), utilizando-se um filtro de bancada. Processo
realizado no Hemocentro.

»» Concentrado de hemácias buffy-coat (CHBC): retiram-se 80%


dos leucócitos por meio de um processo de centrifugação.

»» Concentrado de hemácias buffy-coat filtrada (CHBCF): retira-


se 99,9% dos leucócitos. Além do processo de centrifugação passa por um
filtro de bancada.

»» Concentrado de hemácias irradiadas (CHI): inativam-se os


linfócitos viáveis, por irradiação com raios gama. A irradiação deve
ser feita, preferencialmente, em um irradiador de células próprio para
irradiação de hemocomponentes.

Concentrado de Plaquetas (CP)

O CH pode ser obtido por aféreses ou por centrifugação do ST. Também contem
hemácias na sua composição. A partir de um doador único, consegue-se um volume de
cerca de 300 mL contendo 3x1011 plaquetas, 8x109 de leucócitos e 2x1011 de hemácias
por doação, utilizando o método de aférese. Utilizando a centrifugação do ST, é obtido
500 mL, contendo 5,5x1010 plaquetas, <2x108 de leucócitos e <1x109 de hemácias.

Concentrado de Granulócitos (CG)

O CG Também contém hemácias na sua composição. É obtido por intermédio de


aféreses a partir de um único doador, contendo um volume de 200-300 mL, com pelo
menos 1x1010 de granulócitos e quantidade variável de plaquetas, linfócitos, monócitos
e hemácias. Geralmente, há no CG cerca de 20-50 mL de hemácias, sendo assim são
necessárias as provas de compatibilidade devido ao número elevado de hemácias
presentes neste produto.

53
CAPÍTULO 3
Concentrado de hemácias, plaquetas
e granulócitos

Neste capítulo, discutiremos sobre concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas


e concentrados de granulócitos, baseados em informações contidas no Guia para o uso
de hemocomponentes (2008) e no livro Hematologia e Hemoterapia de Verrastro, et
al. (1998).

Concentrado de hemácias (CH)

Hemácias  são unidades morfológicas da série vermelha do sangue, também


designadas por  eritrócitos  ou  glóbulos vermelhos, que estão presentes
no sangue.

O CH é o hemocomponente mais utilizado na prática clínica. É preparado a partir de


uma unidade de sangue total, pela remoção de parte do plasma. O CH é composto de
hemácias, plasma, leucócitos e plaquetas. Cada unidade de concentrado deve aumentar
o nível de hemoglobina entre 0,8 a 1g/dL.

Como vantagens do emprego de hemácias, sobre o sangue total, tem-se a obtenção


da mesma capacidade de oxigênio com a metade do volume; redução no nível de
isoaglutininas naturais (anti-A e anti-B) e redução significativa nos níveis de citrato e
potássio, principalmente, para doentes cardíacos, renais e/ou hepáticos.

O CH deve ser armazenado em geladeira própria, com registro contínuo de temperatura,


que pode variar entre 2º C até + 4ºC. Sob refrigeração, tem validade de 42 dias a partir
da data da coleta. Em temperatura ambiente deve ser usado em até 4 horas após a
coleta.

Indicações do CH:

»» Manter Hb maior ou igual a 10g/dL em pacientes.

»» Na prevenção da Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro (DECH).

»» Quando o receptor for parente em primeiro grau do doador.

54
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

»» Em pacientes que se submeteram ou são candidatos a transplante de


medula.

»» Recém-nascido prematuro e de baixo peso.

»» Nas transfusões intrauterinas.

»» Paciente com uso prévio de Fludarabina.

A principal indicação para a transfusão de concentrado de hemácias é a necessidade


de melhorar o fornecimento de O2 pelo aumento da capacidade de transporte da
hemoglobina, como em casos de anemias agudas e crônicas.

Alguns princípios devem ser levados em conta para a prática da transfusão de células
vermelhas em adultos, entre eles:

»» o prescritor clínico da transfusão de eritrócitos deve estar ciente da


indicação apropriada e dos riscos e benefícios dessa transfusão;

»» os pacientes devem receber informações sobre os riscos e benefícios da


transfusão de células vermelhas, incluindo a possibilidade de transfusão
autóloga;

»» a causa da anemia deve ser estabelecida e o tratamento com transfusão


de hemácias não deve ser alternativo para o tratamento de deficiências de
ferro, anemia megaloblástica e anemia hemolítica autoimune, a menos
que esta anemia ameace a vida do paciente;

»» na perda aguda de sangue, cristalóides e colóides sintéticos podem ser


usados para restabelecer rapidamente o volume inicial.

Não existe um consenso mundial da concentração de hemoglobina para a transfusão de


concentrado de hemácias. Por este motivo, os critérios clínicos têm um papel vital na
decisão da transfusão ou não.

Os efeitos da anemia precisam ser considerados separadamente dos efeitos da


hipovolemia. É aceitável que, em pacientes com perda aguda de massa sanguínea maior
que 50% do volume de sangue circulante, a decisão empírica da imediata transfusão de
células vermelhas tenha de ser tomada. Entretanto, é importante definir os pacientes
que precisam restabelecer componentes sanguíneos e fluidos o mais especificadamente
possível, para garantir que o uso de hemocomponentes seja feito de forma racional.

55
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

A velocidade de infusão (gotejamento) deve ser respeitada. Nos primeiros quinze


minutos da infusão, o gotejamento deve ser lento (em média 15 gotas/minuto); após
este período, ficará a critério médico, de acordo com o quadro clínico do paciente,
contanto que o tempo total de infusão não ultrapasse 4 horas (por cada bolsa).

As principais situações descritas na literatura em que a transfusão de CH não se


encontra justificada são: hematócrito superior a 30%, exceto nos casos com queda
superior a 6 % em 24 horas ou superior a 12% em 48 horas; hematócrito entre 24% a
30%, desde que não ocorram as seguintes alterações: queda do hematócrito superior
a 6% nas últimas 24 horas; angina e dor torácica nas 24 horas que antecedem o ato
transfusional; infarto agudo do miocárdio (IAM) até seis semanas antes da transfusão;
perda de sangue superior a 1.000 mL antes da transfusão; eletrocardiograma indicando
isquemia coronariana ou IAM.

Concentrado de Plaquetas (CP)

Uma plaqueta sanguínea ou trombócito é um fragmento coroplasmático


anucleado, presente no sangue que é formado na medula óssea.

O CP é obtido a partir de unidades individuais de sangue total ou de doador único por


aférese. O número de plaquetas presente em cada unidade depende da forma como foi
obtida. Por aférese, possui um número maior de plaquetas. Em geral, contém 60 a 70%
das plaquetas do sangue total fresco que lhe deu origem.

O CP deve ser acondicionado a temperatura de 2ºC 22ºC, em agitação contínua


(agitador de plaquetas). Uma vez retirado dos agitadores deve ser transfundido o mais
rápido possível. Se mantido no agitador de plaquetas, o CP é valido por 5 dias. Fora do
agitador, é válido por 24h.

Indicações do CP:

»» Para manter a contagem de plaquetas >10.000/mm3.

»» Em pacientes com sepses, manter >20.000/mm3.

»» Se houver sangramento com risco de vida.

»» Síndrome Hemolítica – Urêmica.

»» Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI) estável.

56
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

» Púrpura Tombocitopênica Trombótica (PTT).

» Púrpura pós Transfusional.

» Síndrome HELPP.

A velocidade de Infusão (Gotejamento) deve ser respeitada, em sistema aberto, com


gotejamento livre, usando equipo com filtro de 170µ.

Preparados especiais de Concentrado de


Plaquetas
Para maior segurança, é aconselhável administrar este hemocomponente usando
equipo com filtro, que retém até 99,9% dos leucócitos presentes no pool.

»» Pool de Concentrado de plaquetas (PCP): são agrupadas em um


pool de até 8 unidades.

»» Pool de Concentrado de Plaquetas Buffy-Coat (PCPBC): as


plaquetas são extraídas da camada leuco-plaquetária (buffy-coat) de uma
unidade de sangue total. Este método de coleta possibilita a retirada de
um maior número de plaquetas de uma bolsa de uma unidade de sangue
total, sendo agrupada em pools de 4 ou 5 unidades.

»» Concentrado de Plaquetas por Aférese (CPAF): este método de


coleta é denominado plaquetaférese, no qual as plaquetas são obtidas de
doador único. O receptor é exposto apenas a um doador e é retirado um
maior número de plaquetas em um menor volume.

»» Concentrado de Plaquetas Irradiadas (CPI): as plaquetas são


irradiadas com o objetivo de inibir os linfócitos viáveis e minimizar
o risco de doença do enxerto versus hospedeiro em pacientes com
imunossupressão, quando o doador for parente em primeiro grau
do receptor e em pacientes prematuros de baixo peso (1200g). O
hemocomponente irradiado recebe 2,5Gy de raios gama. O prazo de
validade é mantido.

57
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

Concentrado de Granulócitos (CG)

Os granulócitos (neutrófilos) constituem uma fração importante dos glóbulos


brancos (leucócitos) e exercem um papel fundamental na primeira linha de
defesa imunitária, especialmente no combate às bactérias e fungos.

Os CG são hemocomponentes obtidos por aférese de doador único, por meio de máquinas
separadoras de células, de fluxo contínuo ou descontínuo, cujo rendimento de coleta
pode ser melhorado pela utilização de doadores estimulados com a administração
de fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF) e corticosteroides. Cada
concentrado deve conter no mínimo 1,0 x 1010 granulócitos em 90% das unidades
avaliadas, em um volume final inferior a 500mL, (geralmente 200-300mL) incluindo
anticoagulante, plasma e também resíduo do agente hemossedimentante utilizado no
procedimento de coleta.

Além dos granulócitos, usualmente, estes concentrados contêm outros leucócitos e


outras plaquetas e cerca de 20-50mL de hemácias. Como a função dos granulócitos
se deteriora mesmo durante curto armazenamento, os CG devem ser transfundidos
assim que possível após a coleta, e, se for inevitável, seu armazenamento deve ser em
temperatura entre 20°C e 24°C, em repouso e por, no máximo, 24 horas.

Para transporte deste hemocomponente, recomenda-se o uso de recipientes próprios,


com produto refrigerante comercial que assegure a manutenção desta temperatura.
Ainda hoje não está totalmente definido se, mesmo grandes doses de granulócitos,
são úteis em debelar infecções e aumentar a sobrevida de pacientes neutropênicos
imunossuprimidos para, com segurança, se dizer que existem benefícios que superem os
riscos desta terapêutica cara. Antes da indicação de transfusão de CG, considerar o uso
de alternativas farmacológicas como, por exemplo, o G-CSF e GM-CSF (estimulantes
hematopoiéticos).

Indicação do CG

Os concentrados de granulócitos possuem uma aplicação muito limitada. São candidatos


à transfusão de granulócitos:

»» pacientes com neutropenia severa (menos que 500 leucócitos/mL);

»» febre que não responde a terapia antibiótica;

»» a biópsia da medula óssea mostra hipoplasia mieloide (deficiente


produção de células da linha mieloide, de que derivam os granulócitos).

58
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

Existe consenso na literatura de que a eficácia das transfusões de concentrados de


granulócitos está na dependência direta da dose administrada. Recomenda-se que, em
adultos, a dose utilizada seja superior a 2,0 x 1010 granulócitos, iniciada após breve
observação clínica caso a caso e repetida diariamente até que a infecção seja debelada ou
o número absoluto de neutrófilos retorne a pelo menos 500/µl (recuperação 50 medular)
ou se observe toxicidade inaceitável das transfusões de CG. Para uso profilático, são
recomendadas transfusões de doses de CG em dias alternados. Considerando que os CG
contêm grande número de linfócitos, é obrigatória sua irradiação a fim de se prevenir a
doença do enxerto versus hospedeiro associada à transfusão (DECH-AT).

59
CAPÍTULO 4
Plasma humano, crioprecipitado e
albumina

Neste capítulo as informações sobre plasma humano, crioprecitpitado e albumina estão


baseados em informações contidas no Guia para o uso de hemocomponentes, 2008, e
no livro Hematologia: fundamentos e prática (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004).

Plasma humano

O plasma é uma fracção do sangue composta primariamente de água, com


cerca de 7% de proteínas e 2% de carboidratos e lipídios. O chamado plasma
congelado fresco é preparado a partir do sangue e congelado no espaço de 8
horas, após a recolha. 

Plasma comum (PC)

Pode ser chamado também de plasma normal, plasma simples ou plasma de banco,
diferencia-se do PFC, pois seu congelamento se dá mais de oito horas depois da coleta
do sangue total (ST) que lhe deu origem. Pode resultar também da transformação de
um PFC cujo período de validade expirou. Deve ser armazenado em temperatura igual
ou inferior a -20º C e tem a validade de cinco anos. O PC não pode ser utilizado para
transfusão.

Plasma fresco congelado (PFC)

É obtido a partir do fracionamento de uma bolsa de sangue total. Este hemocomponente


deve ser separado do sangue total por centrifugação, transferido em circuito fechado
para bolsa satélite, e congelado em até oito horas após a coleta.

Deve ficar armazenado a uma temperatura de, no mínimo, - 20º C, tendo a validade de
12 meses. A temperatura mais recomendada é a de -30º C e, assim, a validade do PFC
passa a ser de 24 meses. Pode ser conservado por mais quatro anos, como matéria-
prima para a indústria de fracionamento do plasma.

O PFC é constituído basicamente por proteínas (albumina, globulinas, fatores


de coagulação e outras proteínas), carboidratos e lipídeos. Contém ainda fatores

60
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

anticoagulantes (antitrombina III, proteína C e proteína S) e fibronectina. O PFC deve


ser armazenado em geladeiras próprias para o uso em hemoterapia.

O uso do PFC considerado pode ser indicado nas seguintes situações:

» Deficiência de fator V e XI, com sangramento ativo ou como preparação de


cirurgia, em que não há concentrado de fatores específicos disponíveis.

» Deficiência congênita de fator II, V, VII, X, XI ou XIII, com sangramento


anormal; púrpura trombocitopênica trombótica (PTT).

» Deficiências múltiplas de fatores de coagulação secundárias a CIVD.

» Coagulopatia dilucional com reposição maciça de volume.

» Doença hepática grave.

» Transfusão maciça de hemácias associada à deficiência da coagulação.

» Reversão rápida da anticoagulação pela warfarina.

O volume de uma unidade de plasma fresco deve ficar em torno de 200 a 250 mL. Sob
as condições de temperaturas ideais (-20º C), é mínima a perda dos fatores V e VIII, os
fatores lábeis da coagulação. Um mL de PFC contém, aproximadamente, uma unidade
de atividade de fator de coagulação. O descongelamento deve ser realizado em banho-
maria a 37º C. Após descongelado, pode ser armazenado por até 6 horas, a 4º C.

A velocidade de Infusão (Gotejamento) deve ser respeitada. Deve ser transfundido em


15 a 20 minutos, respeitando o estado clínico do paciente. O PFC deve ser administrado
na dose de 10 a 20 mL/kg de peso na criança e de uma a duas bolsas no adulto, podendo
variar em função da indicação.

A compatibilidade ABO deve ser respeitada na administração de PFC, com o objetivo de


evitar hemólise no receptor, embora não sejam necessários testes de compatibilidade.

O PFC não deve ser utilizado para expansão de volume ou reposição protéica, visto que
produtos mais seguros, que não oferecem risco de transmissão de doenças ou reações
alérgicas aos receptores, estão disponíveis com este fim, como a albumina sérica,
soluções coloides sintéticas e soluções balanceadas de salina.

Em cirurgias cardíacas, há indicação da transfusão de PFC na fase pré-cirúrgica


nos casos de insuficiência hepática com alteração dos fatores de coagulação,
na indisponibilidade de concentrados específicos de um fator em pacientes

61
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

portadores de deficiência congênita ou adquirida e nas cirurgias de emergência


em indivíduos que recebem terapia de anticoagulação oral.

Na fase pós-operatória, recomenda-se a transfusão de plasma fresco em pacientes


que apresentam sangramento aumentado por drenos torácicos, na presença de
exames laboratoriais sugerindo coagulopatia de causa não plaquetária.

Crioprecipitado (CRIO)
O CRIO é derivado do plasma e contém os fatores VIII e XIII, fibrinogênio, fibronectina
e fator de Von Willlebrand. Para sua produção, o PFC deverá ser descongelado a 4 ± 2º
C. Em seguida, este plasma deverá ser centrifugado à temperatura de 4 ± 2º C e separado
do material insolúvel ao frio em circuito fechado. O plasma sobrenadante é removido,
deixando-se na bolsa a proteína precipitada (10 a 20 ml). Este crioprecipitado resultante
deverá ser recongelado em até uma hora após sua obtenção a -20º C e sua validade é de
um ano a partir da data de doação. Se permanecer conservado à temperatura de -30º C,
sua validade passa a ser de dois anos. Deve ser descongelado em banho-maria a 37º C.
Após descongelado, pode ser armazenado por até 6 horas, a 4º C.

O produto final deverá conter 80 unidades internacionais de Fator VIII e 150 mg/dL de
fibrinogênio em todas as unidades analisadas.

Indicação do CRIO:

»» anormalidades do fibrinogênio, congênitas ou adquiridas;

»» no tratamento da hemofilia A;

»» no tratamento da tendência hemorrágica associada à uremia;

»» deficiência de fator XIII;

»» doença de Von Willenbrand;

»» deficiência de fibrinogênio congênita ou adquirida.

Atualmente, a principal fonte de fibrinogênio concentrado é o CRIO. A infusão de


CRIO pode ser realizada a partir de bolsas individuais ou reunidas em pool, devido ao
seu pequeno volume. O produto deve ser aplicado logo após o descongelamento, pois
se observa uma rápida perda de atividade do Fator VIII em altas temperaturas. Se o
título de isoaglutininas for superior a 1:32, deve-se respeitar a compatibilidade ABO.

62
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

No Brasil, existe uma normatização do Ministério da Saúde em que os hemofílicos


deveriam ser tratados apenas com Fator VIII industrializado.

O CRIO não deve ser utilizado no tratamento de pacientes com deficiências de outros
fatores que não os já citados. Quando altas quantidades de CRIO são transfundidas,
o nível de fibrinogênio do indivíduo deve ser monitorizado, pois este pode atingir
níveis bastante elevados (hiperfibrinogenemia), levando a um risco aumentado de
tromboembolismo.

Albumina humana

A albumina é uma proteína plasmática natural, altamente solúvel, simétrica,


heterogênea, obtida a partir do plasma.

Apresenta peso molecular (PM) entre 66.000 a 69.000 e é composta por 584
aminoácidos. A albumina é a maior proteína sintetizada no fígado e representa cerca
de 50% da síntese hepática de proteínas (100 a 200mg/kg/dia). Depois de sintetizada
pelos hepatócitos, é liberada nos sinusoides e cai na circulação sanguínea. Tem meia-
vida de 18 horas, mas somente 10% da albumina permanecem na circulação após duas
horas.

O organismo de um indivíduo adulto, de aproximadamente 70 kg, armazena cerca de


300g de albumina. Carrega uma alta carga negativa que possibilita a ligação desta a uma
grande quantidade de componentes. É responsável por 80% da pressão coloidosmótica
do plasma. Tem como principais funções a manutenção da pressão coloidosmótica do
plasma, o transporte de substâncias vitais e a inativação de substâncias tóxicas.

A albumina humana é um produto de ampla utilização e de custo elevado. A albumina


é um medicamento hemoderivado injetável, extraído do plasma humano, desenvolvido
na década de 1940. A partir da coleta de sangue humano, são obtidos os produtos
sanguíneos lábeis (hemocomponentes), por fracionamento do sangue total, e os
produtos sanguíneos estáveis (hemoderivados), que passaram por fracionamento e
processos de purificação e estabilização industriais. Dessa forma são produzidos os
hemoderivados não anti-hemofílicos, como a albumina.

A albumina é considerada um produto seguro quanto à transmissão de doenças


infecciosas, desde que garantidas as boas práticas de fabricação, o armazenamento
e a administração. Na fase de fabricação, o produto é submetido a um processo de
esterilização por pasteurização a 60º C por dez horas.

63
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

São indicações da albumina humana:

»» Tratamento de pacientes que requerem expansão de volume.

»» Usada rotineiramente como fluido de reposição em muitos procedimentos


de plasmaféreses.

»» Usada para induzir a diurese em pacientes com baixa dosagem de proteína


total ou perda proteica.

Pacientes que recebem 25% de albumina precisam adequar a água extravascular e


compensar o mecanismo para tratar a expansão do volume sanguíneo.

O uso de albumina está contraindicado como suporte nutricional, pois ele apresenta
resultado mais efetivo se ocorrer por nutrição parenteral, para melhoria de cicatrização
no período pós-operatório ou para correção de hipoproteinemias associadas a
hepatopatias ou enteropatia com perda proteica. Outra contraindicação do uso de
albumina humana seria nos casos de mobilização de ascite e terapêutica única para
desidratados.

64
CAPÍTULO 5
Fatores de coagulação industriais

O que é coagulação?

A coagulação é o processo de transformação do sangue líquido em um coágulo


sólido, o que, em casos de hemorragias, auxilia na interrupção do sangramento,
fechando os vasos sanguíneos e, portanto, impedindo que o sangue extravase.
É uma sequência complexa de reações químicas que resultam na formação de
um coágulo de fibrina.

Processo de coagulação sanguínea


Idealizado em 1964, o antigo modelo da cascata não justifica adequadamente a hemostasia
in vivo. Conceitualmente, hoje a ativação da cascata de coagulação é orientada para uma
única via dependente do FT (Fator Tecidual). No novo modelo, após liberação do FT,
as reações seguintes de coagulação ocorrem a partir das plaquetas e são reguladas por
receptores plaquetários específicos, proposta que enfatiza as interações de coagulação
expostas à superfície celular in vivo (ROTH; TROBISCH; KRETZSCHMAS, 2004).

A coagulação sanguínea é iniciada quando o fator tecidual (FT) exposto no sangue forma
um complexo FT/ Fator VII ativado, reação crítica que faz a clivagem da proenzima
Fator X em Fator X ativado (Xa). O Fator Xa forma o complexo protrombinase (FXa/
FVa) e converte protrombina em trombina. Ao clivar Fibrinogênio e ativar o Fator XI,
a trombina ativa também o Fator XIII, o Fator V, o Fator VIII e plaquetas. A Trombina
ativa o fator XIII (Fator estabilizador da Fibrina) tornando o “plug” fibrina/plaqueta
estável, pois no sítio da lesão vascular a fibrina inicialmente é instável.

A coagulação é continuada pela geração de Fator IXa catalizada pelo complexo FT/
FVIIa, a partir do Fator IX e por pequenas quantidades de Trombina gerada pela
reação inicial. Uma série de proteínas anticoagulantes medeia o desfecho da atividade.
O inibidor do Fator da via Tissular liga-se com os fatores VIIa e Xa. A Antitrombina
III (AT III) inativa a Trombina, a Calicreína e o Fator Xa, agindo sobre a maioria das
enzimas ativadas (VIIa, IXa, Xa e XIa), e limita o processo de coagulação aos sítios da
lesão vascular. As proteínas C e S inativam os fatores Va e VIIIa (BREEN, 2004).

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UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

Figura 5. Formação do coágulo sanguíneo.

Fonte: Imagem Disponível em< http://www.infoescola.com/sistema-circulatorio/coagulacao-do-sangue/>.

Para a coagulação sanguínea acontecer, é necessário que existam os fatores


de coagulação, que são um conjunto de proteínas que atua na coagulação
sanguínea. É indicado para o tratamento de pacientes que sofrem de cirrose
hepática e em pessoas que utilizam medicamentos anticoagulantes.

Fatores de coagulação
Na sua maioria, os fatores de coagulação são proteínas com síntese hepática circulando
sob forma inativa (PETROVITCH; DRUMMOND, 2004). O plasma humano fracionado
é a única fonte natural de obtenção conhecida, já a recombinação genética possibilita
a obtenção de quantidades ilimitadas de qualquer hemoderivado com risco ínfimo de
transmissão de infecções (DROHAN; CLARK, 2005). A obtenção de fatores de coagulação
requer técnicas mais elaboradas por se tratarem de macromoléculas termolábeis.

Dentre os fatores de coagulação estão os fatores de I a XIII. Neste capítulo, destacaremos


os fatores de coagulação industriais, indicados em transfusões sanguíneas. Tais como:
fator VIII, fator IX, fator VII ativado, Concentrado de complexo protrombínico ativado
(CPPA); Antitrombina III; Concentrado de Fator XIII e Concentrado da proteína C
ativada.

66
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

Figura 6: Fatores de coagulação e seus respectivos sinônimos.

67
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

Os hemocomponentes produzidos são distribuídos para o atendimento


hemoterápico e especificamente os componentes plasmáticos podem ser
encaminhados para a indústria para a produção de hemoderivados, como fator
de coagulação e albumina.

Fator VII

O Fator VII ativado (F VIIa) foi desenvolvido em 1988, por meio de técnicas de
recombinação genética, para prevenção e tratamento de hemorragias em pacientes
com hemofilia A ou B com anticorpos para os fatores VIII e IX (WELSBY, et al.,
2005). A hemofilia A ou B, a Trombastenia de Glanzmann e a deficiência congênita
de fator VII são as indicações formais, consideradas seguras para o F VIIa. Embora as
indicações possam se expandir, não há estudos randomizados, placebo-controlados que
possibilitem o uso seguro, não prematuro, do F VIIa (SVARTHOLM; ANNERHAGEN;
LANNE, 2003).

O fator VII é muito utilizado como alternativa na terapêutica dos pacientes


hemofílicos portadores de inibidores que não respondem adequadamente ao complexo
protrombínico e no sangramento refratário de:

»» Trombocitopenia e Trombocitopatias.

»» Trauma.

»» AVE hemorrágico.

»» Cirurgias gerais e urológicas.

»» Obstetrícia.

»» Cirurgia cardíaca.

»» Transplante hepático.

»» Reversão de terapêuticas anticoagulantes.

O Fator VIIa tem sido usado em cirurgias cardíacas em doses não uniformizadas na
tentativa de controlar sangramento intratável. Este fator tem o potencial de influenciar
tanto a velocidade da formação como as propriedades físicas do coágulo, o que é
comprovado por tromboelastografia (ROMAGNOLI, et al., 2006).

68
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

Fator VIII

É uma proteína do sistema de coagulação sanguínea.

Seu concentrado é utilizado no tratamento de pessoas com hemofilia A e doença genética


cujos portadores não produzem esse fator. Pacientes com doença leve costumam
apresentar níveis entre 6-30% dos valores normais de Fator VIII com hemorragia rara
espontânea, mas durante trauma ou cirurgia podem apresentar sangramento de difícil
controle. Pacientes com doença grave podem ter menos de 1% de atividade do Fator
VIII e hemorragias espontâneas desde a infância.

A dose de Fator VIII é baseada na premissa que 1 Unidade de F VIII por quilograma
de peso pode aumentar a concentração de F VIII em 2%. Na hemofilia A grave, 50U/
kg são usadas com o intuito de atingir 100% dos níveis normais de FVIII e repetidas no
intervalo de 8 a 12 horas (JAE-WOO, 2004).

Nos pacientes com a forma leve a moderada, o uso de acetato de desmopressina aumenta
os níveis de fator VIII em duas a três vezes, após 30 a 60 minutos de administração. Em
cirurgias cardíacas, objetiva-se também 100% de atividade do fator VIII por 48 horas e
50% até por volta do décimo dia de pós-operatório (AULER, et al.,2004).

Há relato de infusão contínua de F VIII com redução de custos da cirurgia por diminuição
da necessidade de concentrados, fato relacionado ao clearance sistêmico e ao tipo de
concentrado utilizado, plasmático ou recombinante, nível de FvW , grupo sanguíneo,
idade, peso e tipo de cirurgia (JAE-WOO, 2004).

Fator IX

É muito utilizado na deficiência da atividade coagulante do Fator IX na Hemofilia B.


O tratamento é baseado na elevação dos níveis plasmáticos, com indicação por uso
profilático em condições cirúrgicas ou no tratamento de manifestações hemorrágicas
(AULER, et al., 2004).

Aumento dos valores após administração de Fator IX ocorre na proporção de 1% para


cada unidade de concentrado. Em pacientes submetidos à cirurgia de grande porte, o
nível sérico deve atingir 100%, com quadro de manutenção semelhante ao desejado na
reposição do FVIII.

Em pacientes com deficiência grave a serem submetidos a cirurgias, o plasma fresco


congelado é o tratamento de escolha. Fator IX recombinante, também, previne

69
UNIDADE II │USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES

sangramento durante e após cirurgia nos pacientes com inibidores de fator IX. É um
fator de alta pureza (WELSBY, et al., 2005).

Concentrado de complexo protrombínico

O concentrado de complexo protrombínico ativado (CPPA) é formado de ativadores e


precursores dos fatores de coagulação vitamina K-dependentes (Fatores II, VII, IX e X).
Com pureza tida como intermediária, os concentrados são obtidos de pools de plasma
humano. O concentrado é aquecido ou recebe tratamento com solvente-detergente que
remove os vírus HIV, hepatite B e C, contudo não obtém sucesso com os vírus sem
envoltório lipídico, como o da hepatite A e parvovírus (JAE-WOO, 2004).

É indicado em casos individualizados de pacientes com:

»» Deficiência congênita de Fator II – Hipoprotrombinemia ou


Disprotrombinemia.
»» Deficiência congênita de Fator VII.
»» Deficiência congênita de Fator X.
»» Hemofilia com altos títulos de inibidores.
»» Hepatopatia.
»» Intoxicação por Cumarínicos com sangramento incontrolável.
O concentrado de Complexo Protrombínico é trombogênico, por contaminação
também de outros fatores ativados, com vários relatos de tromboflebite superficial,
trombose venosa profunda, embolia pulmonar e coagulação intravascular disseminada.
Em cirurgia cardíaca pelos fenômenos trombóticos, a indicação deve ser ainda mais
rigorosa (AULER, et al., 2004). A Heparina ou a Antitrombina III podem ser associadas
ao concentrado protrombínico na tentativa de diminuir os fenômenos trombóticos
(JAE-WOO, 2004).

Fator XIII

O Fator de coagulação XIII (Fator estabilizador da Fibrina) existe sob a forma purificada
a partir do plasma humano (AULER, et al., 2004).

São algumas das indicações:

» Na deficiência congênita em pacientes com níveis baixos de F XIII que


apresentem sangramento anormal ou sob alto risco de hemorragia durante
procedimento cirúrgico.
70
USO RACIONAL DO SANGUE E DOS COMPONENTES│UNIDADE II

» Na deficiência adquirida.

» Nas cirurgias cardíacas com duração maior que 120 minutos, há recomendação
de dose única de 20U/Kg, administração feita 1 a 2 horas após o final da
cirurgia.

Concentrado de Proteína C ativada

A Proteína C é um anticoagulante de ocorrência natural e síntese hepática. Atua como


inativador de protease sérica dos fatores Va e VIIIa e inibe também o inibidor de
ativação do plasminogênio. A proteína C ativada interage com a proteína S para formar
um complexo que rapidamente inativa o fator V e o VIII. A meia-vida da proteína C
ativada é curta, fato que inviabiliza seu uso a partir do plasma de doador. Sendo assim,
a elaboração da molécula de natureza recombinante permitiu sua avaliação clínica
(YAN, et al., 2001).

São indicações para o uso:

» Na deficiência congênita de proteína C.

» Na deficiência adquirida, como na Púrpura fulminante pós-meningococcemia.

» Paciente com sepse.

Concentrado de Antitrombina III

A Antitrombina III é uma glicoproteína de cadeia única, sintetizada no fígado, com


meia-vida de 2 a 3 dias. Inativa a trombina, calicreína e fatores VIIa, IXa, Xa e XIa,
ligando-se irreversivelmente a cada um e formando complexos 1:1. Existem dois
locais de ligação; em um deles, a antitrombina se liga a trombina e a outros fatores de
coagulação ativados; no outro ponto, a heparina pode se ligar a antitrombina.

Na ausência de heparina, a antitrombina tem afinidade baixa pela trombina. Quando


a heparina se liga à antitrombina ocasiona um aumento entre cem a mil vezes da taxa
de ligação entre antitrombina e trombina. É empregado no tratamento de deficiências
congênitas de antitrombina III. Seu uso permanece controverso nas condições de
deficiência adquirida como na doença hepática, na síndrome nefrótica, na pré-eclâmpsia,
na coagulação intravascular disseminada e na sepse. Pode também ser empregado nos
pacientes em suporte circulatório mecânico e em pacientes com resistência à Heparina
(AULER, et al., 2004).

71
PROCESSOS DE
TRABALHO EM UM UNIDADE III
HEMOCENTRO
O cenário de um hemocentro típico é constituído por ambientes físicos onde são
desenvolvidos processos de trabalho dirigidos ao cumprimento da finalidade desse
serviço, que é prestar assistência e apoio hemoterápico e/ou hematológico. Considerando
algumas especificidades, os ambientes de um hemocentro típico podem ser agregados
em redes que se configuram em quatro fluxos: doador, administrativo, paciente e
sangue, de acordo com o fluxograma apresentado na figura 7.

Figura 7. Processos de trabalho em um hemocentro.

Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde. Hematologia e hemoterapia: guia de manejo de resíduos, 2011.

72
CAPÍTULO 1
Fluxo do doador

As informações contidas nesta unidade e nos capítulos seguintes foram baseadas


principalmente nas informações contidas no Manual de hemoterapia e hematologia do
Ministério da Saúde, Brasil, 2011.

O Fluxo do doador tem início com a chegada do doador à recepção de onde será
encaminhado às triagens hematológica e clínica. Nesse momento, a depender da
avaliação realizada nas triagens, o candidato poderá ser um doador apto ou inapto. Em
caso da presença dos requisitos necessários, ele estará apto e será submetido à coleta
de sangue total. Por meio de aférese, será feita a coleta seletiva dos hemocomponentes.
Após esse processo, o doador geralmente se dirige à lanchonete ou, quando necessita,
à sala de recuperação.

Figura 8. Fluxo do doador.

Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde. Hematologia e hemoterapia: guia de manejo de resíduos, 2011.

A cada doação, o candidato deve ser avaliado quanto aos seus antecedentes e
ao seu estado de saúde atual, por meio de entrevista individual, realizada por
profissional de saúde de nível superior devidamente capacitado, sob supervisão
médica, em sala que garanta a privacidade e o sigilo das informações, para
determinar se a coleta pode ser realizada sem causar-lhe prejuízo e para que a
transfusão dos hemocomponentes obtidos a partir desta doação não venha a
causar problemas aos receptores. (Ministério da Saúde, 2014).

A seguir, será apresentado o fluxo pelo qual o doador passará.

73
UNIDADE III │PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO

Recepção
Ambiente destinado à recepção e ao registro de candidatos à doação voluntária de
sangue. Nesse local, são realizadas as atividades que fazem parte do processo de registro,
emissão de fichas e arquivo de dados dos doadores atendidos na instituição, contendo
identificação do doador, endereços e telefone para contato.

Pré-triagem
Na pré-triagem, há uma entrevista sigilosa com o candidato, com o intuito de verificar
se existe alguma contraindicação à doação, protegendo, assim, o próprio candidato e o
paciente que receberá o sangue. Para isso, é fundamental que as informações prestadas
sejam verdadeiras.

Triagem hematológica
Nesta etapa, ocorre a verificação de sinais vitais e antropométricos dos doadores,
dosagem de hemoglobina ou micro-hematócrito e na verificação dos sinais vitais (pulso,
temperatura, pressão arterial), o peso e a estatura do candidato à doação.

Triagem clínica
Ambiente destinado à realização da entrevista clínica e orientação dos doadores. Esse
processo de atendimento é individualizado e privativo e consiste na avaliação dos dados
obtidos na triagem hematológica e das condições de saúde do candidato à doação
para verificar sua aptidão para a doação de sangue. Este processo tem o objetivo de
orientar os candidatos em caso de inaptidão e de descobrir se o candidato se esqueceu
de mencionar alguma informação importante na pré-triagem.

Coleta de sangue de doadores


Ambiente destinado à realização da coleta de sangue total, por meio de punção venosa
em bolsas plásticas sob sistema fechado. Neste momento, é coletado aproximadamente
500 ml de sangue do doador; após esse procedimento, ele deve permanecer em repouso
por 5 a 10 minutos. O procedimento de coleta, por ser por aférese, utiliza equipamentos
mais complexos, para coleta seletiva de hemocomponentes, como plaquetas, plasma e
concentrado de hemácias.

74
PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO│ UNIDADE III

Lanchonete de doadores
É um ambiente destinado a prestar assistência nutricional aos doadores, após a coleta
de sangue. Visa iniciar a reposição do volume sanguíneo retirado, bem como permitir a
observação do doador após a coleta por um período, diminuindo as chances de reações
à doação.

Sala de recuperação de doadores


É um ambiente destinado à recuperação de doadores. Constitui um local privativo
destinado à assistência médica ao doador que apresente eventos adversos.

75
CAPÍTULO 2
Fluxo administrativo e de apoio

O fluxo administrativo envolve os ambientes de processos de trabalho vinculados ao


planejamento, gestão, administração e manutenção.

Figura 9. Fluxo da administração e do apoio.

Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde. Hematologia e hemoterapia: guia de manejo de resíduos, 2011.

Áreas administrativas
São ambientes destinados à realização de serviços administrativos. As salas que compõem
a área administrativa são: Secretaria, Diretoria, Gerência, Recursos Humanos.

Central de materiais

Ambiente destinado às atividades de recepção, expurgo, limpeza, descontaminação,


preparo, esterilização, guarda e distribuição dos materiais utilizados nas diversas
unidades de um estabelecimento de saúde.

Incluem-se nesses materiais:

»» água oxigenada;

»» álcool a 70º GL e 96º GL;

»» compressas, gazes, algodão;

»» detergente neutro;

»» EPIs: gorro cirúrgico, óculos de proteção, luvas de látex, avental


impermeável, luvas de borracha, bota ou calçado fechado;
76
PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO│ UNIDADE III

»» filme de embalagem, sacos plásticos transparentes, embalagem de papel


de grau cirúrgico, fita adesiva de crepe, papel de alumínio;

»» palha de aço, escova crina, esponja de limpeza dupla face;

»» solução de hipoclorito de sódio a 10%;

»» toalha de papel e pano de limpeza;

»» vidraria de laboratório.

Depósito de material de limpeza

Ambiente destinado à guarda de aparelhos, utensílios e material de limpeza, dotada de


tanque de lavagem.

Manutenção de equipamentos

Área destinada à manutenção de equipamentos, como:

»» eletroeletrônicos;

»» equipamentos em geral;

»» insumos de equipamentos (óleos minerais, filtros de ar, fios elétricos);

»» lâmpadas;

»» pilhas e baterias.

77
CAPÍTULO 3
Fluxo do sangue

Como é o fluxo da doação de sangue?

O fluxo do sangue envolve os ambientes e processos de trabalho onde o sangue


do doador é processado e submetido a uma avaliação imuno-hematológica e
sorológica.

Laboratório de imuno-hematologia
É um ambiente destinado à realização dos exames imuno-hematológicos para
qualificação do doador. Nele são realizados testes nas amostras de sangue de doadores
e/ou receptores para exames imuno-hematológicos.

Esta área é destinada à realização dos seguintes exames.

Tipificação ABO

O grupo ABO deve ser determinado testando os glóbulos vermelhos com reagentes
anti‑A, anti‑B e anti‑A,B. Caso sejam usados antissoros monoclonais, a utilização
do soro anti‑A,B não é obrigatória. A tipagem reversa deve ser sempre realizada,
testando o soro ou plasma com suspensão de glóbulos vermelhos conhecidos A1 e B e,
opcionalmente, A2 e O.

Determinação do fator Rh (D)

O fator Rh (D) deve ser determinado colocando os eritrócitos do paciente em contato


com soro anti‑Rho (anti‑D). Em paralelo, deve ser sempre efetuado um controle da
tipagem de Rh, utilizando-se para isto o soro-controle de Rh do mesmo fabricante do
soro anti‑D.

Provas para a detecção de anticorpos irregulares

Deve ser realizada nos doadores a pesquisa de anticorpos séricos irregulares,


empregando-se métodos que evidenciem a presença de anticorpos clinicamente
significativos.

78
PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO│ UNIDADE III

Laboratório de sorologia

Este ambiente é destinado à realização de testes nas amostras de sangue de doadores


para detecção de doenças transmissíveis pelo sangue, conforme legislação vigente.

Chagas

O teste Elisa para Doença de Chagas é um teste imunoenzimático para detecção de


anticorpos anti‑Trypanosoma cruzi em soro ou plasma humano.

Hepatite B

São utilizados dois tipo de testes:

»» Teste Elisa anti‑HBC: é um teste imunoenzimático do tipo Elisa indireto


que permite a detecção simultânea de anticorpos totais (IgG e IgM)
dirigidos contra o antígeno do núcleo do vírus (nucleocapside) da hepatite
B no soro ou plasma humano.

»» Teste Elisa para HBs Ag: é um imunoensaio para a detecção quantitativa


de antígeno de superfície da hepatite B (HBs Ag) em soro ou plasma
humano.

Hepatite C
Elisa anti‑HBC: teste imunoenzimático qualitativo para detecção in vitro de anticorpos
do vírus da hepatite C (VHC) no soro ou plasma humano.

HIV

É utilizado o teste Elisa anti‑HIV: imunoensaio enzimático para a detecção qualitativa


in vitro dos anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana tipo 1 e/ou tipo 2
(HIV‑1/HIV‑2) em soro ou plasma humano.

HTLV

O teste de primeira escolha é o Elisa para HTLV: ensaio qualitativo, ligado à enzima
de imunoadsorção, destinado à detecção de anticorpos contra o vírus linfotrópico para
linfócitos T humano tipos I e/ou II no soro ou plasma humanos.

79
UNIDADE III │PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO

Teste de Amplificação de Ácidos nucléicos (NAT)

O NAT é uma tecnologia desenvolvida para a detecção do ácido nucléico do vírus da


Imunodeficiência Humana – HIV e do vírus da Hepatite C – HCV, em bolsas de sangue
destinadas à transfusão. Até o surgimento dos testes NAT, eram utilizados testes de
detecção de anticorpos e/ou antígenos virais por método imunoenzimático, os testes
ELISA.

Os novos testes estão sendo implantados com o propósito de identificar esses vírus
precocemente nos testes sorológicos convencionais, além de identificá-los em bolsas
doadas com níveis de anticorpos indetectáveis pelos testes tradicionais. Como grande
vantagem sobre os testes tradicionais, o NAT é capaz de reduzir o período de janela
imunológica, ou seja, o período de tempo compreendido entre a infecção do indivíduo
ao agente infeccioso e o aparecimento de positividade em exames laboratoriais, sua
indicativa de cerca de 70 para 12 dias no caso do HCV e 22 para 11 dias no caso do HIV.

Atualmente, já existem no mercado plataformas NAT capazes também de agregar a


detecção de outros agentes infecciosos como o vírus da hepatite B – HBV e o vírus
do Nilo Ocidental (WNV – West Nile Virus), vírus este transmitido de forma rara por
transfusão sanguínea.

Sífilis

»» O teste VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) para sífilis é um


teste em que a amostra em análise é colocada em contato com a suspensão
antigênica em uma lâmina apropriada e submetida a um processo de
rotação mecânica. As partículas de colesterol revestidas com cardiolipina
e lecitina (antígeno cardiolipínico) irão flocular, caso a amostra contenha
reaginas (reação de VDRL).

»» O teste de imunoensaio para sífilis consiste na detecção qualitativa de


anticorpo contra o Treponema pallidumem no soro ou plasma humano.

Testes confirmatórios

FTA ABS para sífilis

Teste para detecção de anticorpos antitreponema pallidumno no soro humano por


imunofluorescência indireta. Os anticorpos anti‑treponemas presentes no soro ligam-

80
PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO│ UNIDADE III

se ao antígeno fixado na lâmina e são revelados por uma antiglobulina humana marcada
com isotiocianato de fluoresceína.

Imunofluorescência para Doença de Chagas

Técnica de imunofluorescência indireta para determinação de anticorpos anti-


Trypanosoma cruzi em soro humano e líquidos biológicos. O soro do paciente é colocado
em contato com o substrato antigênico e, se houver anticorpos presentes no soro, estes
se ligam ao antígeno formando um complexo antígeno-anticorpo. Posteriormente,
adiciona-se uma antigamaglobulina humana marcada com isotiocianato de fluorescência
e, se o complexo antígeno-anticorpo estiver presente, a antiglobulina marcada com
fluoresceína adere-se ao isotiocianato de fluorescência e, assim, observa-se uma reação
positiva.

Western Blot para HIV

Esta técnica detecta bandas de proteínas específicas fixadas em papel de nitrocelulose


após separação por eletroforese (SDS‑Page), considerando seu peso molecular. Os
anticorpos presentes nos infectados reconhecem essas proteínas que, conforme seu
peso molecular, reagem com a banda específica definindo a positividade da amostra
com fluoresceína verde maçã brilhante, através de um microscópio de fluorescência.

Processamento das bolsas de sangue


Nesta etapa, ocorre o processamento das bolsas de sangue total para obtenção dos
hemocomponentes, como plasma, plaquetas, concentrado de hemácias e crioprecipitado.
A seguir, estão descritos os ambientes em que esse processo é desenvolvido.

Sala de fracionamento

Local onde se realiza o fracionamento dos hemocomponentes após o processo de


centrifugação. Os hemocomponentes produzidos são direcionados para a sala de pré-
estoque.

Sala de pré-estoque (ou quarentena)

Local destinado à estocagem dos hemocomponentes que aguardam os resultados


sorológicos. Os hemocomponentes com sorologia não reagente são liberados,

81
UNIDADE III │PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO

rotulados e direcionados para a sala de armazenamento/estoque e distribuição. Os


hemocomponentes com sorologia reagente são descartados.

Para minimizar a possibilidade de uso de hemocomponentes ainda não liberados para


o consumo, os hemocomponentes em quarentena (sem resultados dos exames imuno-
hematológicos e sorológicos) deverão estar obrigatoriamente separados daqueles já
liberados para uso (hemocomponentes e exames sem restrições de uso).

Sala de armazenamento/estoque e distribuição

Local destinado à estocagem dos hemocomponentes com sorologia não reagente


(portanto, liberados para uso) e hemoderivados. Os componentes do sangue, liberados
para utilização, são armazenados adequadamente, de acordo com sua classificação e
prazo de validade.

A temperatura de conservação e o prazo de validade variam de acordo com o tipo de


hemocomponente.

O sangue total e o concentrado de hemácias devem ser armazenados em geladeira


(temperatura de 2 a 6°C). O período de validade oscila entre 21 a 42 dias, de acordo
com o tipo de anticoagulante contido na bolsa. O anticoagulante mais frequentemente
utilizado é o CPDA-1 (Citrato, Fosfato, Dextrose e Adenina), que proporciona um
período de validade de 35 dias, a partir da data da coleta do sangue.

O plasma fresco congelado e o crioprecipitado devem ser armazenados em freezer


(temperatura inferior a -20°C) e têm validade de um ano. Caso seja conservado em
temperatura inferior a -30°C, o plasma fresco congelado terá validade de dois anos.
Após esse período (um ou dois anos), ele passará a ser considerado como plasma comum
e terá, então, a validade máxima de quatro anos. O plasma comum e o plasma isento do
crioprecipitado devem ser conservados na mesma temperatura (inferior a -20°C) e têm
validade de cinco anos.

O concentrado de plaquetas e o concentrado de granulócitos devem ser armazenados


em temperatura entre 20 e 24ºC. O primeiro deve permanecer sob agitação constante e
tem validade de três a cinco dias, dependendo do tipo de plástico utilizado na confecção
da bolsa. O segundo tem validade de apenas 24 horas.

82
PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO│ UNIDADE III

Laboratório de controle de qualidade


Ambiente destinado à realização do controle de qualidade sistemático dos
hemocomponentes produzidos e/ou insumos adquiridos pelo estabelecimento de
saúde. A figura 10 apresenta o fluxograma referente ao fluxo do sangue.

Figura 10. Fluxo do sangue.

Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde. Hematologia e hemoterapia: guia de manejo de resíduos, 2011.

“A doação de sangue deve ser voluntária, anônima, altruísta e não remunerada,


direta ou indiretamente”.

83
CAPÍTULO 4
Fluxo do paciente

O fluxo do paciente envolve os ambientes e processos de trabalho onde o sangue e seus


componentes serão destinados ao receptor (figura 11).

Figura 11. Fluxo do paciente.

Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde. Hematologia e hemoterapia: guia de manejo de resíduos, 2011.

Recepção e registro de pacientes


Ambiente destinado a recepcionar e/ou registrar pacientes e onde são realizadas as
atividades que fazem parte do processo de registro, emissão de fichas e arquivo de
dados dos doadores atendidos na instituição.

Consultório
Ambiente destinado ao atendimento individualizado e privativo de pacientes com
doença hematológica e/ou oncológica para avaliação das condições de saúde pelo
médico.

Sala de coleta de amostras de sangue de


pacientes
Ambiente destinado à realização da coleta de material dos pacientes.

84
PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO│ UNIDADE III

Análise de compatibilidade
Processo de trabalho desenvolvido em um setor destinado à realização das provas pré-
transfusionais para avaliar a compatibilidade transfusional, utilizando-se dos seguintes
testes imuno-hematológicos.

Para a transfusão de hemocomponentes eritrocitários e granulócitos:

1. Retipificação ABO e Rh da bolsa de sangue:

»» Retipagem ABO direta e reversa: o grupo ABO deve ser determinado


testando‑se os glóbulos vermelhos com reagentes anti‑A, anti‑B e
anti‑A,B. Caso sejam usados antissoros monoclonais, a utilização do soro
anti‑A,B não é obrigatória. A tipagem reversa deve ser sempre realizada
testando-se o soro ou plasma com suspensão de glóbulos vermelhos
conhecidos A1 e B e, opcionalmente, A2 e O.

»» Retipagem Rh (D) em bolsas rotuladas como Rh (D) negativa: o fator Rh


(D) deve ser determinado colocando-se os eritrócitos da bolsa em contato
com soro anti‑Rho (anti‑D).

»» Determinação do grupo ABO, do fator Rh (D) e pesquisa de anticorpos


irregulares no sangue do receptor:

»» Tipagem ABO (direta e reversa): o grupo ABO deve ser determinado


testando-se os glóbulos vermelhos com reagentes anti‑A, anti‑B e
anti‑A,B. Caso sejam usados antissoros monoclonais, a utilização do soro
anti‑A,B não é obrigatória. A tipagem reversa deve ser sempre realizada
testando-se o soro ou plasma com suspensão de glóbulos vermelhos
conhecidos A1 e B e, opcionalmente, A2 e O.

»» Determinação do fator Rh (D), incluindo pesquisa de D fraco: o fator Rh


(D) deve ser determinado colocando-se os eritrócitos da bolsa em contato
com soro anti‑Rho (anti‑D).

»» Pesquisa de anticorpo irregular (PAI): Deve ser realizada pesquisa de


anticorpos séricos irregulares, empregando‑se métodos que evidenciem
a presença de anticorpos clinicamente significativos.

Realização de uma prova de compatibilidade entre as hemácias do doador e o soro do


receptor (prova de compatibilidade maior).

85
UNIDADE III │PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HEMOCENTRO

2. Para transfusão de hemocomponentes plasmáticos e plaquetários:

»» tipagem ABO (direta e reversa) no sangue do receptor;

»» determinação do fator Rh (D) e pesquisa de anticorpo irregular (PAI) no


sangue do receptor.

Sala de transfusão/posto de enfermagem


Ambiente destinado à realização da infusão de hemocomponentes e hemoderivados,
além de flebotomias terapêuticas. O posto de enfermagem se destina aos profissionais de
enfermagem e/ou aos médicos para a execução de atividades técnico-administrativas.

Aférese terapêutica
Ambiente destinado à realização da aférese terapêutica, que consiste na remoção de
determinado componente sanguíneo com finalidade terapêutica, com retorno dos
hemocomponentes remanescentes à corrente sanguínea do paciente.

86
PRODUÇÃO,
CLASSIFICAÇÃO UNIDADE IV
E MANEJO DE
RESÍDUOS
Os resíduos dos serviços de saúde ganharam destaque legal no início da década de 90,
quando foi aprovada a Resolução CONAMA no 006 de 19/09/1991 que desobrigou a
incineração ou qualquer outro tratamento de queima dos resíduos sólidos provenientes
dos estabelecimentos de saúde e de terminais de transporte e deu competência aos
órgãos estaduais de meio ambiente para estabelecerem normas e procedimentos
ao licenciamento ambiental do sistema de coleta, transporte, acondicionamento e
disposição final dos resíduos, nos estados e municípios que optaram pela não incineração.

Posteriormente, a Resolução CONAMA no 005 de 05/08/1993, fundamentada nas


diretrizes da resolução citada anteriormente, estipula que os estabelecimentos
prestadores de serviço de saúde e terminais de transporte devem elaborar o
gerenciamento de seus resíduos, contemplando os aspectos referentes à geração,
segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e
disposição final dos resíduos.

Nesta unidade, o leitor conhecerá o manejo e as principais classificações de resíduos


conforme o manual de Hematologia e hemoterapia: guia de manejo de resíduos do
Ministério da Saúde 2011e as Resoluções a seguir:

»» Resolução no 420 de 12/02/2004 – Regulamento do transporte terrestre


de produtos perigosos;

»» ABNT NBR 12235:1992 – Armazenamento de resíduos sólidos perigosos;

»» ABNT NBR 13853:1997 – Coletores para resíduos de serviços de saúde


perfurantes e cortantes;

»» Requisitos e métodos de ensaio;

»» ABNT NBR 14652:2001 – Coletor‑transportador rodoviário de resíduos


de serviço de saúde;

»» Requisitos de construção e inspeção. Resíduos do Grupo A;

»» ABNTNBR 10004:2004 – Resíduos sólidos .Classificação;

87
UNIDADE IV │PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS

»» ABNT NBR 7500:2009 (versão corrigida) – Identificação e transporte


terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de produtos;

»» ABNT NBR 7501:2005 – Transporte terrestre de produtos perigosos –


Terminiologia;

»» ABNT NBR 9191:2008 – Sacos plásticos para acondicionamento de lixo;

»» ABNT NBR 7503:2009 (versão corrigida 2) – Transporte terrestre de


produtos perigosos– Ficha de emergência e envelope. Características,
dimensões e preenchimento;

»» ABNT NBR 14619:2009 – Transporte terrestre de produtos perigosos.


Incompatibilidade química;

»» ABNT NBR 14725:2009 (versões corrigidas 26/01 e 26/07 de 2010) –


Produtos Químicos –Informações sobre segurança (FISPQ);

»» ABNTNBR 13221:2010 – Transporte terrestre de resíduos.

88
CAPÍTULO 1
Classificação de resíduos sólidos

Convém destacar

Resíduos, nos estados sólido e semissólido, são resíduos que resultam de


atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de
serviços e de varrição; ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes
de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e
instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente
inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (COELHO, 2001).

Classificação de resíduos sólidos – ABNT NBR


10.004:2004
Segundo esta Norma, os resíduos sólidos são classificados em

Quanto aos seus riscos potenciais ao meio


ambiente e à saúde pública, para que possam ser
gerenciados adequadamente

» Resíduos classe I – Perigosos: aqueles que apresentam periculosidade


(característica apresentada por um resíduo que, em função de suas
propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, podem apresentar
risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou
acentuando seus índices e/ou riscos ao meio ambiente, quando o resíduo
for gerenciado de forma inadequada). Também são classificados como
resíduos perigosos os que apresentam características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade ou constem dos
anexos A ou B da NBR 10004:2004 da ABNT.

» Resíduos classe II – não perigosos:

a. Resíduos Classe II A – não inertes: aqueles que não se enquadram nas


classificações de resíduos Classe I ou de resíduos Classe II B. Os resíduos

89
UNIDADE IV │PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS

classe II A podem ter propriedades, tais como: biodegrabilidade,


combustibilidade ou solubilidade em água.

b. Resíduos Classe II B – inertes: quaisquer resíduos que, quando


amostrados de forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007,
e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou
deionizada, à temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10006, não
tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto,
cor, turbidez, dureza e sabor, conforme anexo G da ABNT NBR 10004.

90
CAPÍTULO 2
Transporte de resíduos

Requisitos gerais para o transporte de resíduos:

»» O transporte deve ser feito por meio de equipamento adequado,


obedecendo às regulamentações pertinentes.

»» O estado de conservação do equipamento de transporte deve ser tal


que, durante o transporte, não permita vazamento ou derramamento
do resíduo.

»» O resíduo, durante o transporte, deve estar protegido de intempéries,


assim como deve estar devidamente acondicionado para evitar o seu
espalhamento na via pública ou via férrea.

»» Os resíduos não podem ser transportados juntamente com alimentos,


medicamentos ou produtos destinados ao uso e/ou consumo humano
ou animal, ou com embalagens destinados a estes fins.

»» O transporte de resíduos deve atender à legislação ambiental


específica (federal, estadual ou municipal), quando existente, bem
como deve ser acompanhado de documento de controle ambiental
previsto pelo órgão competente.

»» A descontaminação dos equipamentos de transporte deve ser de


responsabilidade do gerador e deve ser realizada em local(is) e
sistema(s) previamente autorizados pelo órgão de controle ambiental
competente.

Transporte terrestre de resíduos – ABNT NBR


13.221:2005
A classificação do resíduo deve atender à Portaria no 204, do Ministério dos Transportes,
de acordo com as exigências prescritas para a classe ou subclasse apropriada,
considerando os respectivos riscos e critérios, devendo enquadrá-los nas designações
genéricas.

91
UNIDADE IV │PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS

Transporte de resíduos perigosos

Todo transporte por meio terrestre de resíduos perigosos deve obedecer ao Decreto
no 9.604, à Resolução no 420, da ANTT, e às ABNT NBR 7500, 7501, 7503 e 9735.
A classificação do resíduo deve atender ao Anexo da Resolução no 420, da ANTT, de
acordo com as exigências prescritas para a classe e subclasse apropriada, considerando
os respectivos riscos e critérios.

O resíduo que não se enquadrar em nenhum dos critérios estabelecidos pelas classes de
risco de 1 a 9, mas, se for classificado como resíduo perigoso, classe I pela NBR 10004,
deve ser transportado como pertencente à classe 9.

Viaturas para coleta e transporte dos resíduos de


serviços de saúde

Para que os sacos plásticos contendo resíduos infectantes (ou não segregados) não
venham a se romper, liberando líquidos ou ar contaminados, é necessário utilizar
equipamentos de coleta que não possuam compactação e que, por medida de precaução
adicional, sejam herméticos ou possuam dispositivos de captação de líquidos. Devem
ser providos de dispositivos mecânicos de basculamento de contêineres.

92
CAPÍTULO 3
Classificação para transporte de
resíduos perigosos

A classificação adotada para os produtos considerados perigosos para o transporte


terrestre tem como referência a Resolução no 420, de 12 de fevereiro de 2004, da
Agência Nacional de Transporte Terrestre, ANTT. A referência utilizada foi a preparada
pelo Comitê de Peritos das Nações Unidas sobre o Transporte de Produtos Perigosos
(publicações ST/SG/Ac. 10/1/Ver. 11 e 12).

Resíduos, para efeitos de transporte, são substâncias, soluções, misturas ou


artigos que contêm ou estão contaminados por um ou mais produtos sujeitos
às disposições da Resolução no 420 e suas Instruções Complementares, para os
quais não seja prevista utilização direta, mas que são transportados para fins de
despejo, incineração ou qualquer outro processo de disposição final.

Figura 12. Fluxograma para o transporte de resíduos perigosos.

Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde.-Hematologia e hemoterapia: guia de manejo de resíduos, 2011.

93
UNIDADE IV │PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS

Classificação para transporte de resíduos


perigosos
As substâncias (incluindo misturas e soluções) e artigos sujeitos a Resolução no 420
são classificados em nove classes, de acordo com o risco ou o mais sério dos riscos que
apresentam. Algumas dessas classes são subdivididas em subclasses. Essas classes e
subclasses são:

Classe 1: Explosivos

»» Subclasse 1.1 – substâncias e artigos com risco de explosão em massa.

»» Subclasse 1.2 – substâncias e artigos com risco de projeção, mas sem


risco de explosão em massa.

»» Subclasse 1.3 – substâncias e artigos com risco de fogo e com pequeno


risco de explosão ou de projeção, ou ambos, mas sem risco de explosão
em massa.

»» Subclasse 1.4 – substâncias e artigos que não apresentam risco


significativo.

»» Subclasse 1.5 – substâncias muito insensíveis, com risco de explosão em


massa.

»» Subclasse 1.6 – artigos extremamente insensíveis, sem risco de explosão


em massa.

Classe 2: Gases

»» Subclasse 2.1 – gases inflamáveis.

»» Subclasse 2.2 – gases não inflamáveis, não tóxicos.

»» Subclasse 2.3 – gases tóxicos.

Classe 3: Líquidos inflamáveis

Classe 4: Sólidos inflamáveis: substâncias sujeitas à combustão espontânea;


substâncias que, em contato com água, emitem gases inflamáveis.

»» Subclasse 4.1: sólidos inflamáveis, substâncias autorreagentes e


explosivos sólidos insensibilizados.

»» Subclasse 4.2: substâncias sujeitas à combustão espontânea.

94
PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS │ UNIDADE IV

»» Subclasse 4.3: substâncias que, em contato com água, emitem gases


inflamáveis.

Classe 5: Substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos

»» Subclasse 5.1: substâncias oxidantes.

»» Subclasse 5.2: peróxidos orgânicos.

Classe 6: Substâncias tóxicas e substâncias infectantes

»» Subclasse 6.1: Substâncias tóxicas.

»» Subclasse 6.2: Substâncias infectantes.

Classe 7: Material radioativo

Classe 8: Substâncias corrosivas

Classe 9: Substâncias e artigos perigosos diversos

A ordem numérica das classes e subclasses não corresponde ao grau de risco. Resíduos
que não se enquadrem nos critérios aqui estabelecidos, podem ser transportados como
pertencentes à Classe 9.

95
CAPÍTULO 4
Manejo de resíduos

Neste capítulo, será abordado informações pertinentes ao manejo de resíduos biológicos,


comuns, perfurocortantes e químicos.

Convém destacar que a Resolução RDC no 306, de 7 de dezembro de 2004, dispõe


sobre o Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
(RSS) e classifica todos os resíduos nos grupos A, B, C, D e E.

Resíduos biológicos (GRUPO A)

Classificação

De acordo com a classificação da RDC no 306/2004, os resíduos do grupo A “são os


resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características,
podem apresentar risco de infecção”. Baseando-se nesse conceito, os riscos de infecção
podem ser maiores ou menores, de acordo com as características de cada micro-
organismo e de cada resíduo. Para garantir a segurança no manejo desses resíduos, o
grupo A foi dividido em 5 subgrupos: A1, A2, A3, A4 e A5.

Nos serviços de hemoterapia e hematologia, os resíduos gerados do grupo A são,


geralmente, os dos subgrupos A1 e A4.

Subgrupo A1:

»» Culturas e estoques de micro-organismos; resíduos de fabricação de


produtos biológicos, exceto os hemoderivados; descarte de vacinas de
micro-organismos vivos ou atenuados; meios de cultura e instrumentais
utilizados para transferência, inoculação ou mistura de culturas; resíduos
de laboratórios de manipulação genética.

»» Resíduos resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais


com suspeita ou certeza de contaminação biológica por agentes de
classe de risco 4; micro-organismos com relevância epidemiológica e
risco de disseminação ou causador de doença emergente que se torne
epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão
seja desconhecido.

96
PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS │ UNIDADE IV

»» Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas


por contaminação, por má conservação ou com prazo de validade vencido,
bem como aquelas oriundas de coleta incompleta.

»» Sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos,


recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde,
contendo sangue ou líquidos corpóreos na forma livre.

Subgrupo A4:

»» Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando descartados.

»» Filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante


de equipamento médico hospitalar e de pesquisa, entre outros similares.

»» Sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes,


urina e secreções provenientes de pacientes que não contenham e nem
sejam suspeitos de conter agentes de classe de risco 4, e nem apresentem
relevância epidemiológica e risco de disseminação, ou microrganismo
causador de doença emergente que se torne epidemiologicamente
importante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido ou
esteja com suspeita de contaminação com príon.

»» Resíduos de tecido adiposo proveniente de lipoaspiração, lipoescultura


ou outro procedimento de cirurgia plástica que gere este tipo de resíduo.

»» Recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde


que não contenham sangue ou líquidos corpóreos na forma livre.

»» Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de


procedimentos cirúrgicos ou de estudos anátomo-patológicos ou de
confirmação diagnóstica.

»» Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de


animais não submetidos a processos de experimentação com inoculação
de microrganismos, bem como suas forrações.

»» Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós‑transfusão.

97
UNIDADE IV │PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS

Manejo de resíduos biológicos

O que é manejo?

É a ação de gerenciar os resíduos em seus aspectos de dentro (intra) e de fora


(extra) do estabelecimento, desde a geração até a disposição final, incluindo
as etapas de classificação, segregação, acondicionamento, coleta interna,
armazenamento temporário, transporte interno, armazenamento externo,
coleta e transporte externo, tratamento e disposição final, de acordo com o
seguinte fluxo de atividades descrito na Figura 13.

Figura 13. Fluxo de atividades do manejo de resíduos biológicos.

Classificação
Resultado da análise dos riscos e das características físicas, químicas e biológicas do
resíduo com o objetivo de enquadrá-lo nos requisitos da RDC no 306. É a primeira e

98
PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS │ UNIDADE IV

mais importante etapa do gerenciamento de resíduos, cujo manejo adequado depende


da classificação correta.

Segregação

Separação dos resíduos no momento e local de sua geração, de acordo com sua
classificação.

Acondicionamento

Ato de embalar os resíduos em sacos ou recipientes adequados às características do


resíduo, de forma que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e ruptura.
Os recipientes devem ter uma capacidade de acondicionamento compatível com a
quantidade de resíduos gerados entre os intervalos de coleta interna.

Coleta interna

Retirada dos resíduos do local de geração. Deve ser feita em carros coletores fechados,
em horários pré-estabelecidos. Pode ser feita de duas maneiras, de acordo com a
distância entre os pontos de geração dos resíduos e o abrigo externo.

Os tipos de coleta são:

» Coleta em dois tempos (coleta 1 e coleta 2): feita com o objetivo de otimizar a
coleta quando a distância entre o local de geração e o abrigo externo é grande.

›› Coleta 1: do ponto de geração até o local de armazenamento temporário.

›› Coleta 2: do local de armazenamento temporário até o abrigo externo.

» Coleta única: feita quando a distância entre o ponto de geração até o abrigo
externo é pequena.

Armazenamento temporário

É um local destinado ao armazenamento temporário dos resíduos, próximo aos pontos


de geração; o armazenamento temporário é usado nas coletas feitas em dois tempos e
destina-se à guarda dos resíduos coletados na coleta 1.

99
UNIDADE IV │PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS

Transporte interno

Traslado dos resíduos dos pontos de geração até o local destinado ao armazenamento
temporário e/ou ao local de armazenamento externo.

Armazenamento externo

É um local destinado ao armazenamento dos recipientes de resíduos até a realização da


coleta externa em ambiente exclusivo e com acesso facilitado para os veículos coletores.

Coleta e transporte externos

Atividades de remoção dos RSS do local de armazenamento externo – abrigo externo


de resíduos – até a unidade de tratamento externo ou a disposição final, utilizando-se
técnicas que garantam a preservação das condições de acondicionamento dos RSS e
a integridade dos trabalhadores, da população e do meio ambiente, devendo estar de
acordo com as orientações dos órgãos de limpeza urbana. O transporte dos RSS deve
ser feito em caminhão fechado, não compactador.

Tratamento dos resíduos biológicos


Consiste na aplicação de método, técnica ou processo que modifique as características
inerentes aos resíduos, reduzindo ou eliminando o risco de contaminação, de acidentes
ocupacionais ou de dano ao meio ambiente. O tratamento pode ser aplicado no próprio
estabelecimento gerador (tratamento interno) ou em outro estabelecimento (tratamento
externo).

Existem diferentes tipos de tratamentos reconhecidos como adequados pela Anvisa,


pois garantem o tratamento eficaz desses resíduos, dentre eles.

Autoclavação de resíduos

É um processo de tratamento feito em autoclaves. A autoclave é um equipamento que


combina temperatura (121º C a 132º C), vapor e pressão, por tempo de exposição que
varia de 5 a 30 minutos. A soma desses três fatores favorece a penetração do calor nos
materiais submetidos a esse processo, incluindo materiais espessos. Na autoclave, o
que realmente esteriliza é o calor úmido, que causa a termocoagulação e a desnaturação
das proteínas citoplasmáticas, ocasionando a morte dos micro-organismos.

Alguns aspectos são importantes para garantir a eficácia desse processo:


100
PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS │ UNIDADE IV

»» os resíduos devem estar distribuídos no interior do equipamento de


maneira que permita a circulação e o contato do vapor com todo o
conteúdo que está sendo processado;

»» o processo deve ser validado e monitorado regularmente.

Vantagens:

»» Sistema limpo, não produz resíduos tóxicos ou contaminantes.

»» Pode ser realizado dentro da instituição, na própria fonte de geração.

»» Após o tratamento, os resíduos são considerados resíduos comuns.

Desvantagens:

»» Alto custo do equipamento.

»» Não reduz peso e volume.

»» Requer dispositivo acoplado ao equipamento que descaracterize os


resíduos para que possam ser classificados como resíduos comuns.

»» Exige pessoal treinado.

»» Riscos biológicos devido à necessidade de manipulação dos resíduos


antes e após o tratamento.

Incineração

É um processo de tratamento de resíduos por oxidação térmica (combustão). Durante


a incineração, os materiais orgânicos presentes nos resíduos são completamente
queimados e transformados em água (H2O) e gás carbônico (CO2).

Vantagens:

»» Pode ser usado para qualquer tipo de resíduo infectante.

»» Destrói micro-organismos patogênicos e matéria orgânica.

»» Redução importante do volume.

»» Gera cinzas e gases.

101
UNIDADE IV │PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS

Desvantagens:

»» Alto custo para implantação e controle ambiental.

»» Requer pessoal qualificado.

Micro-ondas
É um processo de tratamento em que todos resíduos infectantes são inseridos em
uma câmara de tratamento do equipamento onde são triturados e aquecidos a 130ºC.
Após essa fase, os resíduos triturados e umidificados são lançados em uma segunda
câmara, onde são submetidos a uma série de micro-ondas, que aquecem os resíduos a
uma temperatura entre 95 a 100º C por 30 minutos, desinfetando-os. Em seguida, os
resíduos são lançados em contêineres para a disposição final como resíduos comuns.

Vantagens:

»» Redução do volume do resíduo de 60 a 90%.

Desvantagens:

»» Alto custo para implantação e controle ambiental;

»» Requer pessoal qualificado;

»» Não aceita materiais metálicos.

Disposição final

Disposição de resíduos em local adequado para RSS. É importante ressaltar que o


acondicionamento dos resíduos na fase inicial do manejo está diretamente relacionado
com todas as etapas do manejo até a disposição final. A legislação recomenda que
os resíduos sejam dispostos em aterros sanitários. No entanto, outras técnicas de
disposição também podem ser usadas, como as valas sépticas.

Aterro sanitário

Método de disposição do resíduo no solo sem que cause danos ao meio ambiente e não
provoque moléstias ou perigos à saúde pública.

De acordo com a norma ABNT/NBR 8419:1984, aterro sanitário de resíduos sólidos


urbanos é:

102
PRODUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E MANEJO DE RESÍDUOS │ UNIDADE IV

técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar


danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos
ambientais. Este método utiliza princípios de engenharia para confinar
os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi‑los ao menor volume
permissível, cobrindo‑os com uma camada de terra na conclusão de
cada jornada de trabalho ou a intervalos menores, se for necessário.

Vantagens:

»» Baixo custo.

»» Recuperação de áreas degradadas.

»» Flexibilidade de operação.

»» Não requer pessoal altamente qualificado.

Desvantagens:

»» Longa imobilização do terreno.

»» Necessidade de grandes áreas.

»» Necessidade de material de cobertura.

»» Dependência das condições climáticas.

Vala séptica

O uso de valas sépticas para aterramento de resíduos é uma das formas mais antigas
de aterrar lixo. A técnica de aterramento dos resíduos de serviços de saúde nas valas
sépticas consiste no uso de trincheiras (valas) de aproximadamente 3m de largura
por 3m de profundidade e de comprimento variável. O solo retirado para se fazer a
trincheira deve ser armazenado para ser usado na cobertura do resíduo lançado nas
valas. Assim, após o lançamento de resíduos na trincheira, estes são cobertos com terra.

103
Para (não) finalizar

Abaixo segue o resumo de dois artigos científicos que abordam a auto-hemoterapia e


significado atribuído ao sangue pelos doadores e receptores.

Artigo 1: Auto-hemoterapia, intervenção do


estado e bioética
Denise Ferreira Leite;

Patrícia Fernanda Toledo Barbosa;

Volnei Garrafa

A auto-hemoterapia é uma prática de uso clínico crescente, mas com potencial risco
à saúde dos indivíduos, uma vez que se trata de procedimento terapêutico sem
comprovação científica. Até o momento não existem estudos clínicos que comprovem
a eficácia e a segurança deste procedimento; apenas pesquisas experimentais com
resultados questionáveis, tanto em seres humanos quanto em animais. Nos últimos
anos, a área de Vigilância Sanitária (VS) do Ministério da Saúde ampliou suas ações
preventivas e de controle de riscos tanto no âmbito privado como coletivo. As ações da VS
têm, muitas vezes, como base o poder legal de polícia administrativa que a legislação lhe
confere. Esse poder é entendido como a faculdade que dispõe a Administração Pública
para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em
benefício da coletividade ou do próprio Estado. Recentemente, o Estado, por meio do
poder de polícia da VS, interveio na prática da auto-hemoterapia no Brasil. O presente
estudo analisa e defende a ação interventiva da VS na prática clínica da auto-hemoterapia
no país, tendo como base de sustentação argumentativa os “Quatro Pês” desenvolvidos
pela chamada “Bioética de Intervenção” – prevenção, proteção, precaução e prudência.

UNITERMOS: Auto-hemoterapia. Vigilância Sanitária. Poder de polícia. Bioética de


Intervenção. Prevenção, proteção, precaução e prudência.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ramb/v54n2/a26v54n2.pdf>.

104
PARA (NÃO) FINALIZAR

Artigo 2: Significado atribuído ao sangue pelos


doadores e receptores

Salete Regina Daronco Benetti;

Maria Helena Lenardt.

Trata-se de um estudo etnográfico focado, que teve como objetivo interpretar o sistema
de conhecimento e de significado atribuídos ao sangue referente à transfusão sanguínea,
pelos doadores e receptores de um banco de sangue. Para a coleta de informações,
efetivou-se a observação participante e a entrevista etnográfica. Realizaram-se análises
de domínio, taxonômicas e temáticas. Os domínios culturais foram: sangue é vida, fonte
de vida e alimento precioso; crenças religiosas: fontes simbólicas de apoio; doação de
sangue: gesto prestativo que exige cuidar-se, gratifica e traz felicidade; doação sanguínea:
fonte simbólica de insegurança; estar doente é condição para realizar transfusão
sanguínea; transfusão sanguínea: esperança de vida; crenças populares: transfusão
sanguínea como risco para a saúde; doadores de sangue: pessoas abençoadas; e doar e
receber sangue: como significado de felicidade. Emergiu o tema: “líquido precioso que
dá origem, sustenta, modifica a vida, provoca medo e insegurança”.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v15n1/a05v15n1>.

105
Referências

ABNT - NBR 13221:2005 - Transporte terrestre de resíduos. Especifica os requisitos


para o transporte terrestre de resíduos, de modo a evitar danos ao meio ambiente e a
proteger a saúde pública.

ABNT - NBR 7500 - Normas técnicas - Identificação para o transporte terrestre,


manuseio, movimentação e armazenamento de produtos.

ABNT - NBR 7501 - Normas técnicas - Transporte de produtos perigosos – Terminologia.

ABNT - NBR 7503 - Normas técnicas - Fichas de emergência e envelope para transporte
terrestre de produtos perigosos, características, dimensões e preenchimento.

ABNT - NBR 9735 - Normas técnicas - Conjunto de equipamentos para emergência no


transporte terrestre de produtos perigosos.

ABNT - NBR 10.004:2004 – Normas técnicas - Classificação de resíduos sólidos norma.

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edição. 2011.

ACHKAR, et al. Guia de condutas hemoterápicas. 2a edição. 2010.

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12 de fevereiro de 2004. D.O.U. de 31 de maio de 2004. Aprova as Instruções
Complementares ao Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC no 306, de 7


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e hemoderivados: produção hemoterápica: Sistema Único de Saúde – SUS (serviços
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e hemoderivados: rede física – serviços de hemoterapia, produção hemoterápica, matriz
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