Psicoterapia Breve Familiar
Psicoterapia Breve Familiar
Psicoterapia Breve Familiar
ARTIGO
1
Ione Aparecida Xavier
Pontifica Universidade Católica de Campinas - PUC
RESUMO
ABSTRACT
Many questions in the family area provoke a sense of impotence in the professionals. The
familiar organization in contemporary transformations, added to the paradox of social changes,
can develop conflicts and conjugal separations, involving affective, intellectual and social
questions. Focusing a systematic attendance of families in violence situation, two cases
attended in Familiar Brief Psychotherapy with the diagnosis of adaptations very few adequate
are presented. In conclusion, it is possible to develop a sensible and efficient work with families
living exposed to violence condition when the professional is appropriated supported by
instruments and techniques that guarantee the establishment of a consistent therapeutic bond.
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RESUMEN
O tema proposto neste trabalho tem como objetivo suscitar algumas reflexões sobre a
família moderna, apresentando casos ilustrativos de famílias atendidas em Psicoterapia Breve
Familiar.
Acompanhamos a história da Psicoterapia Breve em São Paulo desde o ano de 1988 e
hoje, diferente dos tempos iniciais em que deparávamos apenas com alguns textos que
necessitavam de tradução para nossa língua, podemos contar com um acervo importante que
relata a história e os avanços da Psicoterapia Breve em diferentes áreas e partes do Brasil.
É o que percebemos no trabalho de Yoshida e Enéas (2005) descrevendo as
Psicoterapias Psicodinâmicas Breves, que aponta o percurso da mesma da perspectiva de
autores internacionais e nacionais que ofereceram contribuições relevantes para o
desenvolvimento da teoria e da técnica.
Pautada na relevância de iniciativas como essa percebemos a necessidade de divulgar
os estudos na área da Psicoterapia Breve Familiar, que realizamos há mais de seis anos em
uma clínica-escola da Universidade Paulista (UNIP), localizada no interior do Estado de São
Paulo. A ausência do tema na maioria dos trabalhos publicados no campo da Psicoterapia
Breve nos impele à divulgação de nossa prática, na tentativa de sistematizá-la, apresentando
fundamentação teórico-prática para intervenções cada vez mais voltadas para a demanda da
clínica contemporânea, a partir de suas carências e transformações, sobretudo nos aspectos
sócio-culturais. Felizmente, nos últimos anos a Universidade têm voltado suas diretrizes
curriculares para as questões sociais e comunitárias e o futuro profissional de Psicologia pode
contar com os avanços científicos e com as experiências acumuladas nas mais diversas
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especialidades, como vem acontecendo em Psicoterapia Breve Familiar que, aos poucos tem
alcançado projeção na demanda social e acadêmica.
As transformações sociais e culturais, principalmente as relacionadas ao século XX,
seguem um ritmo muito acelerado, colocando os profissionais da área diante de situações cada
vez mais desafiadoras.
Gradativamente, os psicólogos se vêem em situações emergenciais que exigem que
aperfeiçoem suas práxis e possam apontar novas técnicas e instrumentos de trabalho junto às
famílias.
Em termos de avanços, podemos dizer que hoje as famílias encontram-se em uma
posição privilegiada em relação às gerações dos séculos anteriores, pois podem pleitear e
conduzir suas vidas de maneira que o seu querer prevaleça acima de tudo. Amparadas por
uma ciência em cuja morada do desejo não há lugar para o impossível, as famílias seguem
beneficiando-se através do uso da pílula e da possibilidade que a medicina reprodutiva lhes
deu de repensarem sobre que tipo de família querem para si. Diferentemente do que ocorria no
passado, essas pessoas, mais conscientes a partir da sua aproximação com os conhecimentos
difundidos da Psicologia, podem determinar se querem ou não ter filhos, se querem ou não
coabitar com maridos e/ou esposas no contexto familiar e a cada nova década a família vem
sofrendo transformações ainda mais significativas. Em contrapartida, também diferente do
passado, as famílias de hoje se separam por razões antes inimagináveis e vivem um grau de
tolerância à frustração muito maior do que no passado. No mundo da globalização é comum
encontrar casais se separando por questões: intelectuais, por exemplo, quando um se
desenvolve, acompanhando as tendências das ciências tecnológicas, e outro, impedido de
crescer, permanece paralisado no tempo; sociais, envolvendo um dos membros do casal em
diferentes ambições de ascensão e status na sociedade; e por que não dizer, por questões
afetivo-tecnológicas, onde a mulher ou o homem se separa porque se sente trocado(a), por
exemplo, por um computador, diferente do passado quando a fonte de ameaça do casamento
era a interferência de um terceiro (e não de uma máquina) na vida e no coração do(a)
companheiro(a).
A família passou a ser interesse de estudiosos a partir do momento em que esta deixou
de conviver sob um mesmo teto – como instituição inviolável e culturalmente patriarcal –
ampliou seus horizontes e passou a sofrer mudanças necessárias para a sua sobrevivência, o
que lhe garantiu um lugar ainda preservado nas mais diversas culturas.
Com o aprimoramento das organizações sociais e políticas e com o aparecimento dos
hospitais e das escolas ficou difícil não adentrar a realidade familiar apropriando-se de seus
hábitos nos diferentes lares. Governo, instituições de ensino e profissionais liberais passaram a
desenvolver um papel que deveria ser da família, dividindo com esta suas responsabilidades e
dando um suporte às suas necessidade, de acordo com as exigências da vida moderna. Sem
um tempo integral para cuidar de seus membros a família tornou-se vulnerável em seu poder
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O INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO
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RESULTADOS
I. Família nº 1
Pacientes
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O pai foi internado por problemas psiquiátricos e os filhos ficaram com os tios (por parte
da mãe) até que ele saiu, quando, junto com os filhos, foram morar com a avó (mãe dele).
Dona Maria, pessoa muito dominadora, depreciava seu filho (adotivo), dizendo que ele
não tinha capacidade, muito menos condições, para cuidar das crianças.
Foco da intervenção
Objetivo
Estratégia
Resultados
II. Família nº 2
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Pacientes
Motivo da consulta
Foco da intervenção
Objetivo
Ajudar mãe e filha a desenvolverem outra forma de comunicação que não fosse a
agressividade, promovendo a diferenciação entre ambas.
Estratégia
Resultados
Após nove sessões, a mãe conseguiu controlar sua agressividade, vislumbrando o que
era seu e o que era da filha. Mobilizada com seus próprios conteúdos, a mãe aceitou a
indicação para terapia individual.
CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERVENY, C.M.O. A família como modelo: desconstruindo a patologia. São Paulo: Livro
Pleno, 2000.
MITO, T.I.H. Psicoterapia breve infantil: contribuições para o delineamento do processo. São
Paulo, 203 p. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1996.
ANEXOS
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POUCO POUQUÍSSIMO
ADEQUADO
ADEQUADO ADEQUADO
QUANTO À FAMÍLIA
Organização Familiar
Relacionamento do Casal
Relacionamento do Casal com
a Criança
Relacionamento do Casal com
o Terapeuta
POUCO POUQUÍSSIMO
ADEQUADO
ADEQUADO ADEQUADO
QUANTO À CRIANÇA
Desenvolvimento Afetivo
Emocional
Rendimento Intelectual
Desenvolvimento Físico Motor
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QUANTO A FAMÍLIA
POUQUÍSSIMO ADEQUADO
ADEQUADO POUCO ADEQUADO
a’. O casal aceita a criança como ela é a’. A aceitação da criança está relacionada às a’. As expectativas dos pais em relação à
(podendo mudar suas expectativas). expectativas paternas. criança são muito rígidas e irreais.
QUANTO A CRIANÇA
b’’. Rendimento intelectual condizente b’’. Rendimento intelectual (aprendizado b’’. Rendimento intelectual (aprendizado
com a faixa etária. escolar) pouco abaixo da sua faixa etária. escolar) bem abaixo da sua faixa etária.
B 3. DESENVOLVIMENTO FÍSICO
B3. DESENVOLVIMENTO FÍSICO MOTOR B3. DESENVOLVIMENTO FÍSICO MOTOR
MOTOR
b’’’. Problemas físicos no início, estando
b’’’. Condições físicas e motoras com b’’’. Condições físicas prejudicadas (atuais ou
atualmente superados, ou atrasos no
desenvolvimento saudável (dentro do desde o nascimento) e atrasos no
desenvolvimento motor, posteriormente
esperado). desenvolvimento motor ainda não superados.
superados.
Recebido em 15/05/07.
1ª Revisão em 17/06/07.
Aceite final em 08/08/07.
1
Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifica Universidade Católica de Campinas, coordenadora do Centro de Psicologia Aplicada, professora do
curso de graduação e supervisora da área de Atendimentos Clínicos Breves a Casais e Família da Universidade Paulista - UNIP, campus de
Sorocaba, SP.