Relatório de Projeto - Rui Coimbra
Relatório de Projeto - Rui Coimbra
Relatório de Projeto - Rui Coimbra
Reabilitação do Edifício
“Pensão Matos” para “Hostel”
Orientador:
Professor Doutor José Maria Lobo de Carvalho
Coorientadora:
Professora Doutora Ana Cláudia da Costa Pinho
Agradecimentos
Charles Chaplin
Resumo A presente prova final de mestrado em arquitetura consistiu
na elaboração de um projeto de reabilitação, de um edifício
denominado “Pensão Matos”, localizado na união de freguesias de
Tondela‑Nandufe, no concelho de Tondela, distrito de Viseu.
O edifício em causa funcionou na sua génese como pensão. Insere-
se no núcleo histórico urbano da cidade de Tondela, próximo de um
conjunto alargado de equipamentos, o que evidencia a centralidade da
sua implantação, característica fundamental para o desenvolvimento
da presente proposta.
Atualmente, e não obstante o seu adiantado estado de degradação,
o rés-do-chão do edifício encontra-se parcialmente ocupado, por
um espaço comercial. Os restantes pisos do edifício encontram‑se
devolutos. O edifício em causa afigura-se, pela sua localização,
enquadramento, passado e características arquitetónicas, como
a matéria-prima adequada para a concretização do programa -
alojamento temporário.
Dentro do tema do alojamento temporário, a proposta programática
recaiu sobre a tipologia definida legalmente[1] para alojamento
local, de estabelecimentos de hospedagem, na vertente de “hostel”,
incluindo um alojamento na modalidade de apartamento. Estas
formas de hospedagem são inexistentes, até à data, na cidade e no
concelho de Tondela.
Estamos perante uma tipologia que, pelos seus elementos
caracterizadores, constitui uma solução que se julga adequada
a projetos de índole turística, que conjugados com a conservação
e reabilitação urbana permitem a valorização do património e
dinamização do centro histórico onde estão inseridos. De facto, os
requisitos mais “light” da tipologia de “hostel”, comparativamente
aos empreendimentos turísticos, coordenados com a função a que
se destinam, conferem a esta tipologia uma excelente solução, para
a intervenção em edifícios devolutos e degradados.
O projeto de reabilitação do edifício da “Pensão Matos” centra-se
numa proposta que dentro dos critérios da conservação e reabilitação,
respeite e salvaguarde a construção existente, potencializando as
características mais distintas e singulares do imóvel.
A estratégia passa por criar um programa que valorize o conjunto
(edifício e logradouro) que foi precisamente uma pensão, com total
reaproveitamento das suas potencialidades físicas, e arquitetónicas.
O presente trabalho consiste na concretização de um projeto que
visa, assim, preservar um dos poucos edifícios com valor identitário,
cultural e arquitetónico do centro histórico de Tondela e colmatar a
inexistência de alojamento local. Numa perspetiva mais ambiciosa,
considera-se que a par de outras intervenções efetuadas no recente
projeto de regeneração urbana a implementação de um projeto
deste tipo poderá funcionar também, como um fator acrescido de
atratividade para o território.
Palavras-Chave:
[1] Artigo 3º do Decreto-Lei n.º
128/2014, de 29 de agosto. Reabilitação, centralidade, turismo, alojamento temporário, “hostel”.
7
Abstract This present master degree in architecture was to draw up a
rehabilitation project, a building called "Pensão Matos", located at
the junction of Tondela-Nandufe parishes in municipality of Tondela,
in district of Viseu.
The building in question worked in genesis as pension. It is part of
the urban historic core of the city of Tondela, near a wide range of
equipment which highlights the centrality of its implementation, a
key feature for the development of this proposal.
Currently, and despite their advanced state of degradation, the
ground-floor building is partially occupied by a commercial space. The
remaining floors of the building are vacant. The building in question
appears to be, by its location, environment, past and architectural
features such as the raw material suitable for the realization of the
program - temporary housing.
Within the temporary accommodation theme, programmatic
proposal was centered on the typology defined legally[2] for local
accommodation, lodging establishments, the strand of "hostel",
including an accommodation in the apartment modality. These forms
of accommodation are non-existent, to date in the city and the county
Tondela.
We have a typology that, by their characteristic elements, provides a
solution that is deemed suitable for nature tourism projects, which
combined with the conservation and urban regeneration allow
promotion of cultural heritage and promotion of the historic center
where they live. In fact, the more light requirements of the type of
"hostel" compared to tourist enterprises, coordinated with the
function intended, give this type an optimal solution for intervention
in vacant and degraded buildings.
The building rehabilitation project of "Matos Pension" focuses on a
proposal within the conservation and rehabilitation criteria, respect
and safeguard the existing building, leveraging the most distinctive
and unique features of the property.
The strategy is to create a program that values the whole (building
and grounds) that it was precisely a pension with full reuse of their
physical capabilities, and architectural.
This work is the realization of a project to thus preserve one of the few
buildings with identity, cultural and architectural value of the historic
center of Tondela and address the lack of local accommodation. A
more ambitious perspective, it is considered that along with other
interventions made in the recent urban regeneration project to
implement a project of this type can also act as a factor of increased
attractiveness to the territory.
Keywords:
[2] Article 3 of Decree-Law
No. 128/2014, of 29 August. Rehabilitation, centrality, tourism, temporary housing, "hostel".
8
Résumé Dans l’éprouve finale de master de Architecture était d'élaborer un
projet de réhabilitation, un bâtiment appelé "Pensão Matos ", situé
à la jonction de paroisses Tondela-Nandufe dans la municipalité de
Tondela, district de Viseu.
Le bâtiment en question a travaillé sa genèse comme pension. Il fait
partie du centre urbain historique de la ville de Tondela, à proximité
d'une large gamme d'équipements qui souligne la centralité de
sa mise en œuvre, un élément clé pour le développement de cette
proposition.
Actuellement, et malgré leur état de dégradation avancé, le
bâtiment rez-de-chaussée est partiellement occupée par un espace
commercial. Les étages restants de l'immeuble sont vacants.
Le bâtiment en question semble être, par son emplacement,
l'environnement, le passé et les caractéristiques architecturales
telles que la matière première appropriée pour la réalisation du
programme - un logement temporaire.
Dans le thème de l'hébergement temporaire, la proposition
programmatique est tombée sur la typologie définie juridiquement[3]
pour l'hébergement local, les établissements d'hébergement, le brin
de "auberge", y compris un hébergement à l'appartement modalité.
Ces formes d'hébergement sont inexistants, à A ce jour, la ville et le
comté Tondela.
Nous avons une typologie qui, par leurs éléments caractéristiques,
fournit une solution qui est jugé approprié pour les projets de
tourisme, qui, combinées avec la conservation et la régénération
urbaine permettre la promotion du patrimoine culturel et la promotion
du centre historique où ils vivent. En fait, plus les exigences "light"
du type de "auberge" par rapport aux entreprises touristiques, en
coordination avec la fonction prévue, donner ce type une solution
optimale pour l'intervention dans les bâtiments vacants et délabrés.
Le projet de réhabilitation du bâtiment de «Matos Pension" met
l'accent sur une proposition dans les critères de conservation et de
réhabilitation, le respect et la sauvegarde du bâtiment existant, en
tirant parti des caractéristiques les plus distinctives et uniques de
la propriété.
La stratégie est de créer un programme qui valorise l'ensemble
(bâtiment et du terrain) que ce soit précisément une pension complète
avec réutilisation de leurs capacités physiques, et architectural.
Ce travail est la réalisation d'un projet visant à préserver ainsi l'un
des rares bâtiments à l'identité, culturel et architectural de valeur du
centre historique de Tondela et remédier au manque de logements
local. Une perspective plus ambitieuse, il est considéré que avec
d'autres interventions faites dans le récent projet de régénération
urbaine de mettre en œuvre un projet de ce type peut aussi agir
comme un facteur de l'augmentation de l'attractivité du territoire.
Mots-clés:
[3] Article 3 du décret-loi
n ° 128/2014, de 29 d´Août. Réadaptation, centralité, tourisme, logement temporaire, "auberge".
9
10
Indice geral
3. Agradecimentos
7. Resumo
8. Abstact
9. Résumé
15. Introdução
15. Objeto
16. Justificação
17. Objetivos
17. Metodologia
89. Conclusão
91. Bibliografia
93. Créditos de Imagens
95 . Anexos
11
Indice de imagens
12
34. Imagem da proposta: novos acessos verticais, Elaboração do autor.
35. Proposta alçado posterior, Desenho do autor.
36. Planta vermelhos e amarelos, Desenho do autor.
37. Vermelhos e amarelos, Desenho do autor.
38. Planta proposta do piso 1, Desenho do autor.
39. Planta proposta do piso 1, Desenho do autor.
40. Imagem da proposta: receção, Elaboração do autor.
41. Imagem da proposta: Cafetaria, Elaboração do autor.
42. Imagem da proposta: Cafetaria, Elaboração do autor.
43. Planta proposta do piso 2, Desenho do autor.
44. Imagem da proposta: Sala de jantar, Elaboração do autor.
45. Imagem da proposta: Sala de estar, Elaboração do autor.
46. Proposta Corte EF, Desenho do autor.
47. Planta vermelhos e amarelos do piso 3, Desenho do autor.
48. Proposta alçado frontal, Desenho do autor.
49. Planta proposta do piso 3, Desenho do autor.
50. Planta vermelhos e amarelos do piso 3, Desenho do autor.
51. Proposta alçado frontal do micro-apartamento, Desenho do autor.
52. Proposta corte GH, Desenho do autor.
53. Proposta planta do piso 1do micro-apartamento, Desenho do autor.
54. Planta proposta do piso 2 do microapartamento, Desenho do autor.
55. Imagem da proposta: micro-apartamento, Elaboração do autor.
56. Imagem da proposta: micro-apartamento, Elaboração do autor.
57. Imagem da proposta: micro-apartamento, Elaboração do autor.
58. Imagem da proposta: fachada frontal, Elaboração do autor.
13
Introdução
Objeto
15
ainda caracterizada por trabalho rico em cantaria fina, em pedra de
granito, em particular nos vãos, no soco e na cornija.
O estado de conservação do edifício principal, de um modo geral, é
mau, nomeadamente, na área devoluta, estando o piso térreo em
razoável estado de conservação, considerando que se encontra
ocupado pela unidade comercial.
O projeto de reabilitação do edifício da “Pensão Matos” centra-se
numa proposta que dentro dos critérios da conservação e reabilitação,
respeite e salvaguarde a construção existente, potencializando as
características mais distintas e singulares do imóvel. As decisões
a tomar sobre opções funcionais e construtivas terão ainda em
conta fatores económicos, como a análise custo/benefício, e que
viabilizem economicamente um programa funcional, direcionado
para o alojamento local a custos acessíveis para o utilizador.
A estratégia passa, então, por criar um programa que valorize o
conjunto (edifício e logradouro) que foi precisamente uma pensão,
com total reaproveitamento das suas potencialidades físicas e
arquitetónicas colmatando, simultaneamente, a inexistência de
alojamento local na cidade de Tondela.
Justificação
16
A tipologia de estabelecimento de hospedagem, na modalidade de
“hostel” afigura‑se como uma aposta adequada face à escassa oferta
de alojamento no concelho, sobretudo no núcleo urbano perante a
procura que o turismo existente fomenta.[8]
Para além da ligação que este tipo de alojamento poderá estabelecer,
com projetos permanentes ou temporários, ligados ao movimento
associativo em geral e em particular à ACERT e às Oficinas de Artes
Criativas ou outras entidades.
Por fim referir que a definição e o enquadramento legal que esta
temática mereceu recentemente, com a publicação do regime
jurídico da exploração dos estabelecimentos de alojamento local,[9]
atestam ainda a atualidade destas tipologias, bem como o seu
recente desenvolvimento.
Objetivos
Metodologia
17
análise do PDM de Tondela e demais legislação.
O trabalho de investigação dividiu-se entre a componente teórica
prevista na bibliografia, análise e estudo de adaptações de edifícios
em núcleos históricos e de programas semelhantes ao que se propõe,
complementado com visitas de estudo, com vista à interiorização do
trabalho a realizar.
Após levantamento planimétrico e altimétrico do objeto, seguiu-se
a estabilização do programa de adaptação do edifício à nova função.
Seguidamente iniciou-se o projeto de conservação, projeto de
reabilitação e projeto de execução. Considerando os objetivos
propostos e o caráter prático do trabalho foram realizadas as
seguintes tarefas para o desenvolvimento da prova final:
Tarefa C – Levantamentos:
c.1 – Levantamento planimétrico e altimétrico do edifício;
c.2 – Levantamento de patologias do edifício;
c.3 –Levantamento das condicionantes do projeto (PMOTs, legislação,
etc…);
18
CAPÍTULO I
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
A. Conservação, Reabilitação e Restauro
21
Contemporâneas aos ideais de Viollet-le-Duc, surgem outras
posições provenientes de Inglaterra que criticam e contrapõem o
autor:
O escritor inglês John Ruskin (1819-1900) notabiliza-se no seu
período de vida devido aos seus textos e posição vincada acerca
da prática da conservação e restauro. Assumiu uma oposição
clara às operações da Escola Francesa, tendo protagonizado
como contraponto a teorização de um novo modelo de intervenção
sobre o património arquitetónico. Para John Ruskin, a natureza e a
arquitetura possuíam vínculos comuns, pelo que, os monumentos
deveriam ser conservados como seres vivos, assumindo-se com
naturalidade o seu fim de vida e destruição. Na sua opinião, todas
as obras do passado deveriam ser mantidas intatas, uma vez que
todas as intervenções posteriores se retratariam como “mentiras
arquitetónicas”. Desta forma, defende a conservação estrita das
2 - John Ruskin
ruínas, considerando que nada do presente deve perturbar as
reminiscências originais do passado e que o principal agente de
destruição é a tentativa de restauro.
A conciliação entre as posições extremadas da Escola Francesa e
Inglesa será efetivada por Camilo Boito (1836-1914), cuja participação
foi fundamental na formação de uma nova cultura arquitetónica.
Camilo Boito partilha a crítica de John Ruskin contra o falso
histórico, ainda que não aceite a visão fatalista do desaparecimento
inevitável de um monumento. O restauro científico aceita e potencia
as práticas de restauro, ainda que as condicione a condições muito
específicas. Camilo Boito alertou para a perigosidade do restauro
estilístico em função da arbitrariedade que o mesmo continha e que,
inevitavelmente, conduziria à adulteração histórica de determinado
elemento patrimonial.
Um dos autores de maior referência da Teoria do Restauro é Cesare 3 - Camilo Boito
22
Internacional de Veneza (1964)
A Carta de Atenas surge no âmbito de uma conferência promovida
pela Sociedade das Nações, que refletiu a tendência geral dos
Estados membros, no abandono progressivo das práticas de restauro
descaracterizadoras, levadas a cabo na Europa do século XIX. Da
conferência surge, então, uma carta de princípios, cujas linhas
orientadoras se aproximam claramente da teorização proposta por
Camilo Boito - Escola do Restauro científico.
Este documento manterá uma atualidade impressionante ao longo
de todo o século XX, tendo permitido o alargamento do conceito
de “monumento”, ao “conjunto” e “ambiente”, no qual este se
encontra inserido, formando um complexo de formas e elementos
indissociáveis entre si. Pretendeu-se, na verdade, alertar para o
respeito pelo carácter e fisionomia das cidades, nomeadamente, nas
proximidades e áreas adjacentes aos monumentos, preservando-
se, por este meio, o enquadramento de um determinado elemento
patrimonial.
Na Carta de Atenas a prática de operações de restauro assumiu
um carácter de exceção, cuja aplicação deverá resumir-se a casos
absolutamente excecionais. De acordo com estes documentos, o
restauro deverá respeitar a obra histórica e artística do objeto de
intervenção, sem que seja admissível a anulação de um qualquer
elemento estilístico. Alerta também para a necessidade de
interdisciplinaridade dos intervenientes no processo de restauro e
conservação, bem como para a cooperação internacional, na prática
de inventários sistemáticos de natureza patrimonial.
O projeto de revisão da Carta de Atenas serviu de base a um novo
documento de extraordinária importância no âmbito da legislação
internacional, cuja teorização foi exposta na Carta de Veneza de
1964. A Carta aprofunda e alarga o conceito de “monumento” e
“sítio”, que passa a abranger não só os monumentos isolados como
as construções mais modestas que «tenham adquirido significado
cultural com o passar do tempo» reconhecendo os perigos que
enfrentam as áreas antigas.” [14]
Apela ainda à manutenção permanente dos monumentos e à sua
adaptação a funções úteis à sociedade, sem que por este meio seja
admissível qualquer alteração substancial do elemento original. O
enquadramento tradicional do monumento deve ser preservado,
sendo evitados todos os trabalhos de construção, destruição
ou alteração da sua envolvente. Neste sentido, considera-se o
monumento como parte do meio em que este se insere, não sendo
aceitável a sua deslocação total ou parcial.
A Carta de Restauro de Itália (1972) elaborada por uma série de
institutos científicos italianos define normas de intervenção, cuja
aplicação se destina somente a ações de restauro e conservação
[14] Carta de Veneza sobre a Conservação e o patrimonial. A Carta começa por distinguir as práticas de restauro
Restauro de Monumentos e Sítios, 1964, Cit. por
PINHO, 2013. das práticas de salvaguarda, dando especial relevância às operações
23
preventivas. A particularidade deste documento prende-se
essencialmente com a publicação de um conjunto de regras a seguir
numa operação desta natureza, estabelecendo um vasto anexo de
instruções a ter em consideração, de acordo com a especificidade
de cada elemento patrimonial. As remoções ou demolições ficam
proibidas, excetuando quando se trate de falsificações ou de
elementos diminutos que não contribuam para o valor histórico do
conjunto. Nega-se ainda a transladação do elemento patrimonial,
bem como a eliminação de patinas, cuja presença revela uma
estratificação natural, cuja manutenção deverá ser assegurada.
O princípio da reversibilidade prevê porém que seja possível a
reintegração de alguns elementos de presença historicamente
comprovada bem como a reconstituição de pequenas lacunas,
totalmente identificáveis e reversíveis.
Estas cartas foram posteriormente completadas por uma série de
outros documentos, resultantes de um conjunto de Convenções
determinantes para a consciencialização contemporânea do valor
intrínseco do objeto histórico.
No seguimento destas premissas, foram revistos os princípios para
a conservação e restauro de elementos patrimoniais, na sequência
da Conferência Internacional Sobre Conservação, realizada
em Cracóvia, 2000. A manutenção do património arquitetónico,
urbano e paisagístico, assim como os elementos que o compõem,
deverá ser alvo de um conjunto de operações de conservação,
reparação e restauro a título pontual mas contínuo, de modo a que
possam ser evitadas ao máximo, quaisquer ações mais intrusivas
necessariamente descaracterizadoras para o objeto original. Neste
âmbito, torna-se particularmente importante o estabelecimento
de projetos de intervenção que incluam estratégias a longo prazo,
bem como modelos de gestão e formação concretos, passíveis
de potenciar o uso e manutenção de um determinado elemento
construído. A teorização expressa na Carta de Cracóvia denuncia
a existência de uma consciencialização coletiva que, sobretudo a
partir da década de 1980, tem vindo a adotar uma visão globalizante
dos problemas relacionados com os distintos tipos ou classes
de património, provocando o aparecimento de uma infinidade de
abordagens e critérios de intervenção, expressos sobretudo nos
inúmeros documentos produzidos pela UNESCO, ICOMOS e pelo
Conselho da Europa.
Aqui chegados importa, ainda, e por fim sumariar os conceitos que
hoje são consensualmente aceites neste domínio[15]:
Conservação - Conjunto de atuações de preservação e restauro
dirigidas para assegurar uma duração, que se pretende ilimitada, da
configuração material do objeto.
Preservação (Conservação estrita) - Conjunto de atuações que visam
a manutenção da integridade material do objeto e prevenir a sua
deterioração, no mais amplo prazo possível, e que podem incidir ou [15] PINHO, 2013.
24
não sobre o próprio objeto.
Salvaguarda - Qualquer medida que vise a conservação mas que não
implique intervenções diretas sobre o objeto.
Restauro- Qualquer intervenção que, respeitando os princípios da
conservação e fundamentando-se num cuidadoso conhecimento
prévio, visa, nos limites do possível, a restituição ao objeto de uma
relativa legibilidade e, quando pertinente, do uso.
Reabilitação- Conjunto das operações dirigidas à conservação e
restauro das partes significativas de um edifício, em termos históricos
e estéticos, de forma a permitir satisfazer níveis de desempenho e
exigências funcionais atualizadas.
25
A reversibilidade em arquitetura é uma intervenção que tem por
objetivo a possibilidade de ser reversível, isto é, toda a obra executada
deve ser previamente pensada tanto na técnica como nos materiais,
para que possibilite reverter o processo no fim da sua vida útil, sem
pôr em risco ou alterar os materiais iniciais e autênticos. Trata-se de
um princípio complexo, pela difícil execução de novas soluções que
não comprometam o possível regresso à condição original do objeto.
Na área da conservação existem várias preocupações relacionadas
com o princípio da compatibilidade construtiva do edifício, o que
condiciona a técnica e materiais a utilizar na reabilitação do mesmo.
Os materiais têm qualidades físicas, químicas e mecânicas que
sofrem mutações com o tempo e com as condições climatéricas.
Devido a essa constatação qualquer restauro deve ser antecedido
de um estudo das características dos materiais presentes no objeto,
de forma a introduzir soluções construtivas, capazes de operar
uma compatibilidade total. A compatibilidade consiste na utilização
de materiais novos compatíveis com os antigos, desde que as
características físicas, químicas e mecânicas não comprometam
os materiais já existentes. Deve, ainda, ter-se em conta a utilização
de materiais cujo envelhecimento não afete o estado dos materiais
antigos.
O princípio da Repetibilidade, Retratabilidade, Reaplicabilidade
baseia-se na capacidade de repetir a aplicação de um determinado
tratamento no tempo, sem que dessa repetição resultem danos,
incompatibilidades ou alterações substantivas nas propriedades
físicas, químicas e de aspeto nos materiais tratados. Um tratamento,
hoje não deve inviabilizar futuros tratamentos.[18]
O princípio da manutenção, como o próprio nome indica, compreende
as operações que visam minimizar os ritmos da deterioração na vida
do edifício, conservando-o.
O princípio de registo e documentação refere-se à informação sobre
o objeto em causa, desde desenhos, registos fotográficos e textos
que devem inventariar todas as alterações que irão ser efetuadas,
para que seja possível a distinção entre o preexistente e o novo. O
ato de conservar ou de restaurar não finaliza um processo, qualquer
intervenção deverá passar a fazer parte integrante da história de
qualquer edifício, pelo que, deve ser identificável e ficar claramente
registado. [19]
26
indispensáveis à compreensão dos hábitos, crenças, tradições, e
relações sociais que se foram desenvolvendo ao longo do tempo,
sendo por isso, representativos da identidade de uma população.
Mário Nunes [20] afirma que um centro histórico “(...) corresponde
ao centro de pequenos prédios, porque nem sempre as técnicas
de construções permitiam maiores edificações (...). É o espaço
de pequenas ruas, porque era reduzida a circulação de carroças
e carruagens; é o espaço sem grandes centros comerciais ou
industriais, porque a atividade era artesanal e o comércio a retalho
(...), mas também é um espaço socialmente rico, pois a (...) sua
fisionomia depende dos (...) que nele viveram construindo igrejas,
mosteiros, palácios, edifícios grandiosos, casas harmoniosas, logo
foi o lugar onde se desenvolveram os principais episódios da história
social.”
Ao longo dos tempos foram-se verificando diferentes fenómenos que
levaram à desertificação dos centros das cidades. O surgimento da
periferia, o uso do automóvel, o envelhecimento das estruturas e a
consequente degradação do espaço público levaram a população, a
procurar novos espaços de construção. As dimensões e a falta de
conservação das habitações conduziu à sua gradual desocupação,
tendo sido inevitável o aumento de edifícios devolutos e degradados.
As cidades foram crescendo em torno dos referidos centros
urbanos, criando novos espaços habitacionais, normalmente, mais
económicos. Na verdade, com a “evolução das economias urbanas,
marcadas pela expulsão das indústrias do setor secundário para
as margens das cidades; (…) a perda de vitalidade dos antigos
centros urbanos, deu lugar a “novos centros (...)”.[21] Assim, os
centros históricos foram perdendo vitalidade e, por isso, são hoje
na sua grande maioria, “habitados por população envelhecida e de
fracos recursos, de quem não se pode esperar também ação muito
vigorosa”. [22]
Não obstante, tem-se verificado nos últimos anos um despertar
e uma tomada de consciência do valor acrescentado que existe
no centro das cidades. As cidades são o resultado e o reflexo das
sociedades que as construíram fisicamente e são o suporte físico
das vivências, dos costumes das funções sociais, patrimoniais,
cívicas e económicas.
A Direção Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento
Urbano (DGOTDU) define que os núcleos históricos constituem-se
por: “conjuntos urbanos com interesse histórico cuja homogeneidade
permite considerá-los como representativos de valores culturais,
nomeadamente históricos, arquitetónicos, urbanísticos ou
simplesmente afetivos, cuja memória importa preservar.” [23]
Tondela possui, de facto, um núcleo histórico relativamente
modesto, mas é o seu, com uma identidade própria e aparência
[20] Cit. por Carvalho e Fernandes, 1988.
[21] Peixoto, 2009, p.42. particular, distinto dos demais, que importa valorizar. Neste sentido
[22] Salgueiro, 1999, p. 387.
[23] DGOTDU, 2005, p.129.
Pereira de Oliveira alerta também para o facto do conceito de centro
27
histórico ser “atemporal porque eminentemente cultural”, isto é,
são os valores atuais que definem o que tem relevância histórica e
cultural. Fazendo uma abordagem sociocultural, este autor admite
que os conjuntos históricos em questão só podem ser considerados
património quando a sociedade os reconhecer “como seus”.
A necessidade de reabilitação do edifício “Pensão Matos” assenta
na sua localização e posicionamento privilegiado de centralidade,
em pleno centro histórico de Tondela e justifica-se não só pelo
seu avançado estado de degradação , mas também, pelo valor
inestimável que possui para a sociedade onde está inserido. Um
pequeno prédio, que num qualquer outro centro histórico, com
outra pujança, seria mais um, votado ao abandono, mas que em
Tondela sobressai, precisamente, porque não há muitos edifícios
com identidade histórica, arquitetónica e cultural, merecedores de
intervenção.
28
B. O “Novo Turismo”: a tipologia de “hostel”
29
fundamentalmente dependente da sua integração num produto
turístico.[26]
Por outro lado, assume-me como um sector estruturante na
realização de investimentos turísticos e representa a parcela mais
significativa de gastos realizados por turistas no destino, sendo
por isso a componente da oferta turística que mais gera receitas
turísticas.
A instalação de estabelecimentos de alojamento turístico possibilita
a dinamização económica, na medida em que desencadeia efeitos
económicos multiplicadores noutros sectores do produto turístico,
como restaurantes, atividades culturais e desportivas, etc.
Desde a década de 60 que surgiram novos meios de alojamento
complementares à hotelaria, como parques de campismo e
caravanismo, aldeamentos, apartamentos turísticos, explorações
em regime de multipropriedade, aldeias de férias, entre outras. [27]
Nos últimos anos registou-se uma diversificação da oferta e
flexibilização das formas de alojamento traduzida num vasto leque
de serviços e preços.
Das formas de alojamento e com pertinência para o presente
trabalho destaca-se o alojamento local, que merecerá, por isso, um
desenvolvimento mais detalhado no ponto seguinte.
30
considerados empreendimentos turísticos.
Com efeito, também os empreendimentos turísticos são
estabelecimentos em que são prestados serviços de alojamento,
mediante remuneração, no entanto, para obterem a respetiva
classificação, devem dispor de um adequado conjunto de estruturas,
equipamentos e serviços complementares, que constam do regime
jurídico aplicável.[31]
Assim, para determinar se estamos perante um estabelecimento de
alojamento local importa, em primeiro lugar, afastar a verificação
dos requisitos que permitiriam classificá-lo como empreendimento
turístico, em especial as normas que dispõem sobre condições
gerais de instalação, requisitos de cada tipologia e requisitos
mínimos obrigatórios relacionados com as condições de instalação
de cada tipologia.
Os estabelecimentos de alojamento local integram-se numa das
seguintes modalidades:
a) Moradia: o estabelecimento de alojamento local cuja unidade
de alojamento é constituída por um edifício autónomo, de caráter
unifamiliar.
b) Apartamento: o estabelecimento de alojamento local cuja unidade
de alojamento é constituída por uma fração autónoma de edifício ou
parte de prédio urbano suscetível de utilização independente.
c) Estabelecimentos de hospedagem: o estabelecimento de
alojamento local cujas unidades de alojamento são constituídas por
quartos. Estes poderão utilizar a denominação de “hostel” quando
a unidade de alojamento predominante for um dormitório, ou seja,
um quarto constituído por um número mínimo de quatro camas ou
por camas em beliche, e se obedecerem aos restantes requisitos
previsto na lei para o efeito.
Dentro das modalidades de estabelecimento de alojamento local
a escolha programática do presente trabalho incidiu, como já foi
anteriormente referido, sobre a tipologia de “hostel”, analisada
especificadamente no ponto seguinte.
31
alojamento, o que parece relevante de salientar.
O “hostel” tem por base um sistema de partilha de dormitórios,
no qual a unidade de venda é a cama, permitindo que no mesmo
quarto pernoitem hóspedes com reservas independentes entre si,
de forma a maximizar a ocupação de camas, viabilizando a lógica
de minimização do preço final para o cliente. O preço da cama é
determinado, precisamente, pela capacidade do dormitório, sendo
menor quanto maior o número de camas. Os dormitórios de 8, 6
ou 4 camas são modalidades comuns, embora se possam observar
capacidades superiores. As unidades disponibilizam dormitórios
mistos ou femininos, com a opção de casa de banho privativa ou
partilhada entre os quartos, bem como uma grande variedade de
tipologias de quarto: quartos duplos e triplos privados, quartos
familiares (4 a 6 camas privados), dormitórios simples ou com casa
de banho privativa. O “hostel” dispõe, ainda, de espaços sociais e de
utilização comum, nomeadamente, a cozinha e salas.
Os “hostels” disponibilizam ainda outras valências, destacando-se a
possibilidade de prestação de informação turística, acesso à internet,
depósitos e cacifos de segurança (muito importantes devido à
utilização partilhada dos quartos), bar ou restaurante e dinamização
de atividades, entre outras.
Hetch e Martin[34] (2006) salientam que os serviços disponíveis
são geralmente mais económicos dentro do “hostel”, atendendo
à sensibilidade ao preço do público-alvo. Em algumas situações,
os hóspedes chegam mesmo a poder executar tarefas de limpeza
beneficiando de uma redução do custo da estadia. Para os
“hostels”, estas opções permitem uma menor afetação de pessoal
e uma redução nos custos de mão-de-obra. A personalização e
informalidade no trato, enquanto política de receção do hostel,
também são características diferenciadoras face ao hotel.
O compromisso entre o preço do alojamento, a experiência social
incorporada, o ambiente informal e a conveniência da localização,
têm contribuído para que estas unidades reúnam condições de
atratividade para uma procura turística mais heterogénea.
Segundo Cadilhe, os “hostels” são “um lugar fantástico para conhecer
outros viajantes, trocar informações e fazer novos amigos, uma vez
que proporcionam um ambiente de descontração e informalidade,
no qual assenta o valor da experiência do hostel”.
A motivação para a escolha do “hostel” continua a ser o preço, a
informalidade e o seu ambiente íntimo, ainda que a atenção destes
turistas passe, igualmente, pela originalidade e decoração das
unidades, os serviços oferecidos, o pequeno-almoço incluído, a
dimensão das unidades e a disponibilidade de quartos privados.
Em suma, “O hostel já não é apenas uma unidade com cozinhas [34] Cit. por SARAIVA, A. - Hostels independentes: o
caso de Lisboa. Lisboa: tese apresentada à Escola
equipadas, lavandaria e dormitórios com preços de cama reduzidos”. Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, 2013.
[35] Cadilhe 2010 e Gilmore 2011, Cit. por SARAIVA,
[35] A. - Hostels independentes: o caso de Lisboa.
Lisboa: tese apresentada à Escola Superior de
Em Portugal a figura que mais se assemelhava a esta tipologia Hotelaria e Turismo do Estoril, 2013.
32
são as Pousadas da Juventude que tiveram uma grande projeção
e aderência por parte dos jovens. As Pousadas de Juventude são
um dos alojamentos turísticos implantados em Portugal, oferecendo
dormitórios e que beneficiam de um regime de instalação próprio,
previsto nos estatutos do Instituto Português do Desporto e
Juventude. [36]
Escasseava, no entanto, a oferta de um outro tipo de segmento mais
direcionado para a população jovem ou adulta com menos recursos.
A origem do “hostel” em Portugal terá surgido por volta de 2005,
onde este segmento começou a crescer até aos dias de hoje.
A necessidade de densificar o regime dos “hostels” [37] levou à
primeira alteração do Decreto-Lei n.º 128/2014, de 29 de agosto, pelo
Decreto-Lei n.º 63/2015, de 23 de abril, o qual veio, do mesmo passo,
clarificar determinados aspetos do regime jurídico da exploração
dos estabelecimentos de alojamento local.[38]
“Hostel” é, assim, segundo a legislação nacional a denominação
utilizada pelos estabelecimentos de hospedagem cuja unidade
de alojamento predominante é o dormitório. Considera-se que
o dormitório é predominante quando o número de utentes em
dormitório seja superior ao número de utentes em quarto. Os
dormitórios são constituídos por um número mínimo de quatro
camas, podendo o número de camas ser inferior a quatro se as
mesmas forem em beliche. Complementarmente devem obedecer a
outros requisitos do “hostel”, caracterizadores desta tipologia:
- Os dormitórios devem dispor de ventilação e iluminação direta com
o exterior através de janela.
- Nos dormitórios deve existir um compartimento individual por
utente com sistema de fecho e uma dimensão mínima interior de
55cm X 40cm X 20cm, ou seja, um compartimento onde o utente
possa guardar os seus pertences.
- O “hostel” deve dispor de espaços sociais comuns, cozinha e área
de refeições de utilização e livre acesso pelos hóspedes.
- As instalações sanitárias podem ser comuns a vários quartos ou
dormitórios e ser mistas ou separadas por sexos.
Estamos perante uma tipologia que, pelos seus elementos
caracterizadores, constitui uma solução que se julga adequada a
projetos de índole turística, que conjugados com a conservação e
reabilitação urbana permitem a valorização do património, ao mesmo
tempo que são elementos de atratividade ao território. De facto, os
requisitos mais “light”, da tipologia “hostel”, por contraponto com
os empreendimentos turísticos mais clássicos, coordenados com a
função a que se destinam conferem a esta tipologia uma excelente
[36] Portaria nº 11/2012, de 11 de janeiro.
[37] Preâmbulo, Decreto-Lei n.º 63/2015, de 23 de
solução, para a intervenção em edifícios devolutos e degradados,
abril. sobretudo nos centros históricos.
[38] Assim, o regime jurídico dos Estabelecimentos
de Alojamento Local consta, atualmente, do
Decreto-Lei n.º 128/2014, de 29 de agosto, alterado
pelo Decreto-Lei n.º 63/2015, de 23 de abril. Este
último diploma entrou em vigor no dia 22 de junho
de 2015.
33
C. Casos de Estudo
35
novo destino e a dar o seu contributo na revitalização da Alta de
Coimbra.
Todo o “hostel”, em particular as várias tipologias de quartos,
apresenta uma decoração temática, com referência aos elementos
académicos, letras da canção coimbrã nas paredes e ainda figuras
de alguns poetas e escritores portugueses. Desta forma, é possível
7 - Serenata “Hostel”, terraço
partilhar com os clientes do espaço a cultura portuguesa assim
como a nossa literatura. Uma estratégia de marketing mas também
uma forma de atrair mais clientes mediante a qualificação e
singularidade dos espaços.
As deficiências do edifício têm a ver com a questão da acessibilidade.
Para além de ser na zona da Sé Velha, fazendo parte da Alta da
cidade, algo que obriga o turista a subir desde a Baixa até à Sé Velha
8 - Serenata “Hostel”, sala de estar
(caso se desloque a pé), quando entra no “hostel” depara-se com
enormes lances de escada, em três pisos, não havendo elevador,
tendo apenas uma rampa exterior de acesso ao hostel para pessoas
com mobilidade condicionada ao nível do piso. Outro dos problemas
que pode afetar os turistas é o fato de alguns quartos serem voltados
para a zona noturna dos bares existentes. Contudo, os turistas dão
pontuação alta ao hostel, apreciando o esforço de reabilitação do
património em prol do turismo. 9 - Serenata “Hostel”, quarto
36
de rebocos tradicionais à base de cal em áreas bem definidas. Para
acabamento recorreu-se à caiação tradicional a branco sob o reboco.
Foram preservados, limpos e reparados todos os pétreos estruturais
e/ou ornamentais, sendo a forma de intervenção efetuada por ciclos
de escovagem com escovas de piaçaba, sisal ou de nylon.
Ao nível do guarnecimento dos vãos (portas e portadas) mantiveram-
se os existentes. As caixilharias, foram na sua maioria mantidas e as
novas obedeceram a características de forma, sistema e materiais
diferentes das existentes destacando-se assim o que seria o existente
e a nova intervenção.
A cobertura foi removida integralmente, mantendo-se no entanto
o tipo de revestimento. A estrutura da cobertura é constituída por
um misto de estrutura de madeira e perfis metálicos sendo que foi
introduzido isolamento térmico do tipo poliestireno extrudido de
12 - Casa da Escrita, sala de conferência
forma a permitir utilização do sótão.
Ao nível de arranjos exteriores (jardins e construções anexas) houve
a preocupação de respeitar o existente. Foi criada uma estufa
apoiada numa pré-existência para criação de animais, substituiu-se
o pavimento existente em betonilha por superfície contínua e rígida
em saibro e a antiga casa do caseiro foi recuperada e atribuída uma
nova função de oficina de encadernação.
37
Reabilitação do Edifício “Pensão Matos” para “Hostel”
38
D. Caracterização e contexto territorial
39
D.2. Evolução urbana
40
16 - Tondela, vista aérea
Com carácter de relevo do tecido urbano que contribui para o
enriquecimento do património arquitetónico do município, destacam-
se exemplos de arquitetura religiosa, tais como a Igreja Matriz de
Tondela e a Igreja da Nossa Senhora do Carmo, bem como edifícios
de arquitetura pública, como os Paços do Concelho, o Museu Terras
de Besteiros (antigo Solar Casa de Sant’ana) e o Palácio de Justiça.
Presentemente Tondela, perdendo a sua forma linear de evolução
urbana anteriormente referida, desenvolve-se mais com planta
radiocêntrica, à qual a construção da rede viária IP3 não foi alheia,
criando um semi‑anel a poente da cidade, área onde houve um
maior crescimento urbano, onde proliferam novos equipamentos
públicos, tais como o Centro Escolar, Biblioteca Municipal, Central
de Transportes Públicos, Piscinas Municipais, Parque Urbano,
Hospital Tondela-Viseu e Mercado Municipal.
Tal como se encontra caracterizada no Plano Diretor Municipal
de Tondela (PDM), a cidade de Tondela, contemporaneamente, é
marcada por uma multiplicidade de acontecimentos urbanos de
grande diversidade:
- O Núcleo Histórico: centro nevrálgico desta cidade, que remonta a
tempos imemoriais.
- A ‘Cidade Nova’: corresponde à área da Cidade envolvente ao
Núcleo Histórico, marcada por novos padrões urbanos, acontecendo
espaçadamente no tempo, impulsionada pela passagem do caminho-
de-ferro e das EN nº2 e EN nº 230, pela localização de unidades
industriais, de equipamentos coletivos, e pela implantação de novas
construções com diferentes tipologias, que proporcionaram maior
vivência urbana.
- Perímetro Urbano Alargado da Cidade: compreende os
conglomerados urbanos constituídos por pequenos núcleos
primários anteriormente relativamente distantes e indiferentes à
Cidade, mas que se afirmam hoje como núcleos interrelacionais da
Cidade, com uma função de complementaridade direta, caracterizada
por localizações alternativas da função residencial, realçando os
41
fatores dinâmicos da ocupação do território.
Apesar de jovem cidade, Tondela tem um forte potencial de
crescimento, pela localização geográfica e proximidade dos eixos
viários IP3 (Viseu/Coimbra), A24 (Viseu/Vila Real) e A25 (Aveiro/
Vilarcaminho-‐de-‐ferro
Formoso),e
das
queEN
anº2
ligam
e
EN
nº
230,
pela
localização
de
unidades
industriais,
de
a grandes centros económicos e
equipamentos
coletivos,
e
pela
implantação
de
novas
construções
com
diferentes
tipologias,
que
populacionais, acentuado nas últimas duas décadas e que a partir
proporcionaram
maior
vivência
urbana.
do
⋅ núcleo central foi ganhando expressão, dimensão e urbanidade.
Perímetro
Urbano
Alargado
da
Cidade:
compreende
os
conglomerados
urbanos
constituídos
por
pequenos
núcleos
primários
anteriormente
relativamente
distantes
e
indiferentes
à
Cidade,
mas
D.3.
que
Breve caracterização
se
afirmam
demográfica,
hoje
como
núcleos
interrelacionais
da
Cidade,
com
uma
função
de
económica e cultural
complementaridade
direta,
caracterizada
por
localizações
alternativas
da
função
residencial,
realçando
os
fatores
dinâmicos
da
ocupação
do
território.
Do ponto
Apesar
decidade,
de
jovem
vista da evolução
Tondela
tem
um
forte
pdemográfica
otencial
de
crescimento,
e da análise
pela
localização
do quadro
geográfica
e
Variação
População
residente
Variação
01/11
População
ativa
01/11
Portugal -‐ 10 362 722 10 557 560 1,9 4 183 022 4 990 208 5 023 367 0,7
Centro -‐ 2 348 162 2 323 906 -‐1 934 553 1 067 864 1 056 225 -‐1,1
Dão-‐Lafões -‐ 285 890 276 675 -‐3,2 122 906 120 641 118 257 -‐2
Tondela 35 906 31 068 28 874 -‐7,1 15 840 13 342 12 020 -‐9,9
42
de subsistência, numa lógica de cultivo de pequenos terrenos, são
conhecidos projetos ligados a este setor com alguma dimensão,
nomeadamente, explorações agrícolas, envolvendo vertentes
turísticas e ambientais e de promoção de produtos endógenos
(laranja de besteiros, vinho do Dão, cabrito da Serra do Caramulo,
entre outros).
Muitos destes micro empreendimentos e projetos têm sido
apoiados pelo PRODER, nomeadamente através de candidaturas à
ADICES[44],ou outras entidades gestoras.
Importante é a localização na Sub-Região Demarcada do Dão, com
um reconhecido sector vinícola forte, onde um conjunto de marcas
lutam para se consolidar e ganhar escala. A criação da Rota do
Dão, em conjunto com Municípios limítrofes e outras entidades do
território, é uma prioridade, permitindo promover a região como
um todo e nas mais diversas vertentes associadas ao vinho, diga-se
gastronomia, produtos locais, hotelaria, restauração, turismo entre
outros.
A indústria no concelho de Tondela é, no entanto, o sector mais
determinante para a caracterização das atividades económicas,
detendo cerca de 50% dos postos de trabalho.
Tondela afirma-se como um dos municípios mais industrializados
da região, o que tem contribuído para a manutenção de médias
de desemprego muito abaixo do que se verifica em outras áreas
geográficas limítrofes conforme resulta da análise do gráfico (Fig.
18)
43
As diferentes zonas industriais - Adiça, Lajedo e Vilar de Besteiros -
associadas à boa malha rodoviária e uma localização geoestratégica
privilegiada, têm-se revelado locais aptos ao investimento.
No concelho de Tondela, os clusters[45] industriais são
indubitavelmente o motor da economia local, empregando uma
parte considerável da população ativa. O cluster automóvel é o
que mais emprego oferece. A HUF Portuguesa, Avon Automotive
e Brose garantem, no conjunto, mais de 870 postos de trabalho
altamente especializados. O cluster da saúde/biotecnologia é um
sector com tecnologia de ponta. Labesfal, S.A. (Grupo Fresenius
Kabi) e Controlvet empregam mais de 500 colaboradores, com uma
elevadíssima percentagem de licenciados.
Outro sector bastante competitivo e com uma forte tradição no
concelho é a avicultura, onde há diversas empresas nas mais variadas
fases do processo, desde aviários, produtores de ovos, empresas
ligadas à montagem de equipamentos e estruturas avícolas e ainda
agentes económicos que produzem energia tendo como fonte os
resíduos dos galináceos. Há ainda o cluster na área da reciclagem,
onde se enquadram diferentes empresas de tratamento de resíduos
e a própria Associação de Municípios do Planalto Beirão, que gere
a recolha de resíduos e o aterro sanitário localizado no concelho. A
Interecycling que labora no reaproveitamento de resíduos elétricos e
eletrónicos e que reutiliza detritos, empregando cerca de 80 pessoas.
O cluster de indústrias criativas, pretende potenciar as empresas,
nomeadamente, aquelas que fazem do design uma ferramenta
essencial para o desenvolvimento dos seus produtos, como por
exemplo a multinacional Bodum.
A atividade económica é ainda sustentada por pequenas e
microempresas, que funcionam dentro da esfera familiar. Acentue-
se a importância dos pequenos produtores na área agroalimentar e
agrícola que têm conseguido escoar e promover os produtos locais,
que diferenciam o território.[46]
O Mercado de Produtos Locais Ao Sabor, que se realiza ao quarto
sábado de cada mês junto aos Paços do Concelho, é um exemplo
do estabelecimento de laços estratégicos com vista à promoção e
comercialização dos produtos locais do concelho.[47]
Há também a pretensão de aprofundar o cooperativismo de modo
a que os produtores consigam ganhar escala, diminuir custos
de contexto e alargar os canais de comercialização para os seus
produtos, sendo de registar a recente criação da Cooperativa Terras
de Besteiros, CRL.
Na caracterização do território, a cultura merece uma referência
particular, com especial destaque para a ACERT (companhia de teatro [45] Um cluster, no mundo da indústria, é uma
profissional). Formada em 1979, a ACERT, assenta a sua vertente concentração de empresas que se comunicam
por possuírem características semelhantes e
criativa no núcleo que lhe deu origem - Trigo Limpo Teatro Acert. Esta coabitarem no mesmo local.
[46] CÂMARA MUNICIPAL DE TONDELA, Projeto
singularidade (um grupo de teatro na génese de uma associação) de [des]envolvimento para o concelho de Tondela.
Tondela, 2015.
caracteriza a dinâmica da ACERT, influenciando decisivamente a [47] Idem
44
sua evolução: crescimento de um projeto transversal, em termos da
promoção de espetáculos, formação e produção artísticas, de forma a
potenciar circuitos didáticos de conquista de públicos diferenciados.
Esta dinâmica reproduz-se, dentro e fora do concelho, com a partilha
de experiências artísticas, numa ampla rede de itinerância local,
regional e nacional e internacional, favorecedora de capitalização de
experiências e de contactos para implantação e potencialização dos
projetos. O intercâmbio de espetáculos, mais ou menos duradouros,
traz artistas, técnicos e outros profissionais e bem assim público à
cidade de Tondela.
Com ligação estreita à ACERT, a Oficina das Artes Criativas, agora
inaugurada, tendo como espaço de memória o antigo Cine-Tejá é,
para a ACERT, um sonho tornado realidade.
“Tondela tem um grande historial de construção de engenhos
cénicos (máquinas na Expo’98, Hannover 2000, Saragoça 2008,
Pinóquio e Elefante, entre muitas outras), através das iniciativas em
que a ACERT tem participado nacional e internacionalmente, sendo
também expressiva a grande diversidade de ofícios tradicionais com
técnicas e materiais únicos. Paralelamente, existe todo um conjunto
de empresas locais que têm partilhado sinergias e saberes com a
ACERT na construção de cenografias relevantes. (…) A ACERT valeu-
se, ao longo do seu percurso, de instalações cedidas por empresas,
colmatando a inexistência de um espaço que se coadunasse à
sua continuada atividade nesta área. A cooperante relação com a
autarquia na busca de soluções permitiu que o Município tivesse
elaborado uma candidatura, na qual a ACERT colaborou, no quadro
das Redes da Economia Criativa, situação que permitiu financiar
a construção deste equipamento de referência e dotar Tondela
de um espaço de criação e experimentação na área das artes
criativas. Este espaço pretende também ser de experimentação
para os artesãos locais e de demonstração do potencial que pode
ter o artesanato associado às industrias criativas, enriquecendo
o património que lhe está associado. (…) Este novo equipamento
cultural tem também a missão de responder a encomendas de bens
e serviços, concebidos especificamente para o mercado artístico-
cultural, disponibilizando-os aos grupos e organizações que, no
país, não dispõem de oferta nesta área, favorecendo a criação de
novos mercados para as empresas do território. Este equipamento
oferece ainda espaços onde se pretende instalar um Fab Lab na área
da cenografia, bem como espaços de formação, sendo uma porta
aberta a iniciativas inovadoras que permitam que o concelho de
Tondela figure no mapa da inovação através de o desenvolvimento de
um Cluster de Industrias Criativas. Estes projetos serão, no futuro,
as âncoras que permitirão a afirmação do projeto no território, pela
capacidade que têm de envolvimento de agentes públicos e privados,
empresas e escolas, artesãos e criativos, no desenvolvimento de
novas abordagens a materiais e formas de fazer e de investigação.
45
O antigo Cine-Tejá renasce como Oficina das Artes Criativas, um
novo espaço que reforçará a projeção artística de Tondela e do seu
território.” [48]
A análise do território de Tondela e respetiva caraterização,
demográfica, económica e cultural, permite concluir no sentido do
crescente papel que Tondela assume à escala regional, atravessando
um ciclo de desenvolvimento muito positivo em diversos domínios.
46
20 - ACERT: A Viagem do Elefante
D.4. O Turismo
47
- Museu Municipal Terra de Besteiros
- Turismo Gastronómico
- Turismo de Natureza
- Ecopista do Dão (“Linha do Dão”)
- Rios, praias fluviais e pesca desportiva
- Termas de Sangemil
- Eventos turísticos
- Queima do Judas – sábado antes da Páscoa (Tondela- cidade)
- Espirito do Caramulo - Rampa do Caramulo – maio (Caramulo-vila)
- Semana gastronómica do Cabrito e da Serra do Caramulo – junho
(Caramulo-vila)
- Marchas de Santo António – junho (Tondela-cidade)
- Tom de festa– julho (Tondela-cidade)
- Feira Industrial e Comercial de Tondela (FICTON) – setembro
(Tondela-cidade)
- Caramulo Motorfestival– setembro (Caramulo-vila)
- FINTA - novembro
Caracterizado o turismo no Concelho de Tondela, não menos
importante para o desenvolvimento do presente trabalho, é a análise
da oferta de alojamento turístico existente.
Tondela possui 9 empreendimentos turísticos, distribuídos pelas
seguintes tipologias: 3 hotéis, 1 estalagem, 2 residenciais, 1 hotel
rural, 1 apartamento turístico, 1 unidades de turismo em espaço
rural e 8 unidades de alojamento local (2 estabelecimentos de
hospedagem e 6 moradias).
Porém, Tondela-cidade possui apenas 1 unidade hoteleira (Hotel
Severino José) e nenhuma unidade de alojamento local, em nenhuma
das suas tipologias.
Considerando os produtos e eventos turísticos elencados e da análise
efetuada importa referir que, pelo menos, no período onde ocorrem os
eventos turísticos do Concelho, que embora de forma sazonal trazem
milhares de pessoas ao concelho e à cidade, em particular, verifica-
se uma oferta de alojamento turístico substancialmente menor à
procura, conforme trabalho de pesquisa efetuado, nomeadamente,
entrevista com o Vereador responsável da CMT, disponível no anexo
E.01.
Por isso não será despiciente a aposta no alojamento turístico, em
particular no alojamento local, na tipologia “hostel” que para além de
inexistente, não só na cidade, mas em todo o concelho, se julga capaz
de capitalizar outras dinâmicas associadas ao turismo. De facto,
o compromisso entre o preço do alojamento, a experiência social
incorporada, o ambiente informal e a conveniência da localização,
têm contribuído para que estas unidades reúnam condições de
atratividade para uma procura turística mais heterogénea, o que é
válido também para a cidade e concelho de Tondela.
48
CAPÍTULO II
O PROJETO
7
3 2
50
A. O existente
Capítulo II O Projeto
51
em alvenaria de granito e sistema de bomba manual. A ligação
entre estes dois patamares é feita por escada exterior em granito,
que simultaneamente dá acesso ao segundo piso da construção
principal.
Em termos de função, os pisos superiores do edifício principal
funcionaram até aos anos 60 como pensão, sendo as construções
anexas de apoio a tal atividade. Ao nível do rés-do-chão, na atual
área comercial, há indícios documentais[50] que evidenciam que esta
possa ter funcionado, até à mesma década, como secretaria notarial.
No processo construtivo do edifício principal foram utilizados
materiais e técnicas característicos da região, como paredes
exteriores em alvenaria de pedra de granito rebocado, paredes
interiores em taipa com acabamento a estuque (tal como os tetos),
pavimentos e cobertura inclinada de duas águas estruturados
em vigas de madeira, revestidos a soalho de madeira no caso dos
pavimentos e por telha cerâmica, no caso da cobertura. A fachada é
ainda caracterizada por trabalho rico em cantaria fina, em pedra de
granito, em particular nos vãos, no soco e na cornija.
No aspeto programático, o edifício encontra-se dividido em duas
unidades independentes de utilização: no piso 1 (piso térreo)
encontra-se em funcionamento um comércio de venda de produtos
de informática que ocupa cerca de metade da área de implantação
da construção principal, sendo a restante área ocupada pelo
átrio de entrada, acesso aos pisos superiores e adega com lagar
localizada a tardoz, com acesso pelo logradouro. Nos pisos 2 e 3
funcionou, como já foi referido, uma pensão, estando estes agora
devolutos. As águas furtadas encontram-se amplas, com um único
compartimento localizado na fachada lateral nascente. Os pisos onde
funcionou a pensão organizam-se segundo um corredor central de
circulação, que distribui os compartimentos voltados a norte e a sul.
A comunicação vertical entre o rés-do-chão e as águas furtadas é
conseguida por uma escada interior, localizada no topo sul/poente
do edifício, servida por um átrio de entrada principal, com acesso
pela Rua dos Combatentes da Grande Guerra, ao nível do piso 1.
52
Foram igualmente detetadas anomalias graves nos vãos exteriores,
com a identificação de caixilharias inoperativas e parcialmente sem
vidros e/ou com vidros quebrados. Ao nível das infraestruturas das
redes de abastecimento de águas, esgotos e elétrica, avaliaram-se
como anomalias muito graves pela inoperacionalidade das mesmas.
Em termos dos acessos, especialmente os verticais, as anomalias
presentes são graves por falta de guardas de proteção em parte da
sua extensão.
Deste modo, e concluído o estudo geral das anomalias do edifício,
o cálculo do índice de anomalias segundo o MAEC resultou numa
pontuação de 66,65, o que indica que o seu estado de conservação é
mau, com um índice de anomalias entre 2,50> 1,96 ≥ 1,50, com um
nível de conservação 2.
Pelos dados obtidos no MAEC efetuou-se ainda uma avaliação mais
detalhada, que incluísse uma análise e mapeamento das anomalias
por compartimento, que pudesse servir de base ao projeto de
conservação do edifício constante no anexo B (diagnóstico de
anomalias).
Em resultado do estado geral do edifício podemos concluir que
os elementos estruturais são passíveis de recuperação, havendo
necessidade de realizar intervenções pontuais de reforço e remoção
de alguns troços degradados nos apoios. No que diz respeito às
anomalias não estruturais destaca‑se, desde já, o estado atual
do revestimento da cobertura e caixilharia dos vãos, que, pelo seu
estado condicionam todo estado de conservação do edifício, havendo
necessidade de, em alguns casos, substituir integralmente o
elemento, como é o caso do revestimento da cobertura e caixilharia
dos vãos, do alçado posterior. Os restantes elementos funcionais
não estruturais, nos quais foram diagnosticadas anomalias, são
passíveis de recuperação.
Capítulo II O Projeto
53
23 - Fotografias do existente
24 - Fotografias do existente
25 - Vista aérea da zona de intervenção
B. O Programa
Capítulo II O Projeto
57
urbana em curso, a implementação de um projeto deste tipo poderá
funcionar como um fator acrescido de atratividade para o território.
Passando para o edificado, é necessário ter em consideração o uso
anterior do edifício como “Pensão Matos” e dependências anexas
de apoio. De facto, no edifício principal, o programa a estabelecer
centrar-se-á na manutenção do estabelecimento comercial existente
e implementação de um “hostel”, com total respeito, pela já, existente
função de alojamento e mantendo-se, ao máximo, a estrutura atual,
pois esta já assume a divisão funcional para o fim que se pretende.
Ao nível programático, para além das zonas mais íntimas (zonas
de dormitório, quartos simples e um micro apartamento, com
capacidade total para 23 utentes), criar-se-ão zonas sociais, com
introdução de um serviço de cafetaria, essencialmente de apoio ao
“hostel” mas aberto ao público em geral, com o propósito de abrir o
edifício ao espaço envolvente.
No piso 1, para além da manutenção do estabelecimento comercial
existente, o remanescente da área edificada destina-se a acesso ao
“hostel” e à instalação de uma cafetaria.
O piso 2 será afeto a zonas sociais, como sala de estar com ponto de
Wi-Fi, sala de jantar, cozinha, instalações sanitárias e dois quartos
simples, destinados ao responsável do “hostel” e para pessoas com
mobilidade condicionada.
No piso 3 concentra-se a zona mais íntima, onde são instaladas
todas as zonas de dormitórios, quarto simples e também instalações
sanitárias.
O piso 4 (águas furtadas) será afeto às instalações técnicas do
“hostel”, onde se integram as zonas destinadas a tratamento
de roupa, instalações sanitárias, arrumos e um escritório para
funcionamento administrativo do “hostel”.
As comunicações nos pisos e entre pisos existentes são mantidas,
e por questões legais, irão ser criados dois novos acessos: um
elevador exterior, possibilitando o acesso a pessoas de mobilidade
condicionada a todos os pisos, incluindo o quarto piso, e uma segunda
comunicação vertical por escada exterior que também acede a todos
os pisos, de forma a cumprir os requisitos legais do regulamento da
segurança contra incêndios. Este conjunto, elevador e escada, serão
localizados no logradouro, funcionando como uma nova estrutura,
independente do edifício principal, assumindo-se ela própria como
uma estrutura escultórica, notoriamente contemporânea.
A dependência anexa, a nascente e a reabilitar, esta com uma
intervenção mais profunda, será adaptada a micro apartamento, a
estabelecer em dois pisos.
No conjunto pretende-se uma eficaz articulação dos três espaços
(edifício principal, dependência anexa e logradouro) mas que eles
próprios funcionem como uma rota ou percurso cultural, do que a
região tem para oferecer.
Em suma, a reabilitação do prédio denominado por “Pensão Matos”
58
do ponto de vista programático pretende estabelecer mais do que
um ponto de chegada, um ponto de partida para o conhecimento do
território, num conceito que se traduz numa ideia: um “hóspede” e
um visitante de Tondela.
Recepção
Cafetaria
Recepção Instalações sanitárias
Cafetaria Acessos verticais
Instalações sanitárias Zona social
Acessos verticais Quarto
Zona social Zona de circulação
Quarto Escritório
Zona de circulação
Escritório
26 - Axonometria da proposta
Capítulo II O Projeto
59
GSPublisherVersion 0.0.100.100
.0.100.100
C. Condicionantes legais
SUBSECÇÃO II
Média densidade
Artigo 57.º
Identificação e Caracterização
Artigo 58.º
Usos
[53] Alínea b) do artigo 14.º do Regulamento do Nesta área admitem -se edifícios habitacionais ou mistos.
Plano Diretor Municipal
[54] Imóvel de Interesse Municipal de acordo
com a iv) da alínea c) do artigo 14.º do mesmo
regulamento
Capítulo II O Projeto
61
Artigo 59.º
Regime de Edificabilidade
62
de sistemas fixos e móveis de extinção de incêndios. Para além
dos elementos, mencionados no artigo 2.º – conteúdo da memória
descritiva e justificativa de SCIE, do Anexo IV – Elementos do projeto
da especialidade de SCIE, exigido para os edifícios e recintos, a que
se refere o n.º 1 do artigo 17.º do presente decreto-lei.
O projeto de reabilitação do edifício orienta-se também pelo Decreto-
lei n.º 128/2014, 29 de Agosto – Regime Jurídico da Exploração
dos Estabelecimentos de Alojamento Local, com as alterações
introduzidas pelo Decreto‑lei 63/2015 de 23/04, nomeadamente,
pelos artigos 11.º, 12.º, 13.º, 14.º e 15.º, do capítulo III, que definem
as condições quer de capacidade, requisitos gerais e de segurança,
do alojamento local na tipologia de “hostel”.
Capítulo II O Projeto
63
27 - Vista aérea do prédio a intervir
64
D. O Projeto
Capítulo II O Projeto
65
Do edifício principal:
28 - “Pensão Matos”
66
Destacamos que do conjunto edificado, ao nível exterior, o elemento
mais notável é a fachada frontal, com toda a sua cantaria, guardas das
varandas em ferro trabalhado, e toda a métrica dos vãos. Por estas
razões, a fachada mereceu maior cuidado neste campo, optando-se
por uma intervenção mínima, resumindo-se ao nível das paredes, de
picagem e execução de rebocos tradicionais à base de cal, nas áreas
identificadas no mapeamento de patologias do anexo B, sendo que
neste caso o tipo de intervenção resume-se ao previsto nos pontos
2 e 3, do relatório das anomalias não estruturais. Os guarda corpos
existentes são recuperados por método de decapagem, tratamento
e reposição de pintura. Os vãos existentes possuem anomalias
de inchamento e empenos e serão recuperados com intervenção
prevista no ponto 8 a. do mesmo relatório. Na fachada frontal são
preservados, limpos e reparados todos os pétreos estruturais e/ou
ornamentais, sendo a forma de intervenção efetuada por ciclos de
escovagem com escovas de piaçaba, sisal ou de nylon.
Ainda no exterior e na fachada posterior as paredes sofrerão o
mesmo tipo de intervenção, prevista na fachada frontal, ao nível do
revestimento das paredes. As caixilharias existentes nesta fachada,
estão num avançado estado de deterioração e não são passíveis de
recuperação sendo portanto substituídas. Os gradeamentos das
aberturas ao nível do piso 1 são recuperados sofrendo intervenções
de decapagem, tratamento e reposição de pintura. As intervenções
a assinalar nas fachadas laterais são ao nível das caixilharias dos
vãos existentes, que possuem anomalias de inchamento e empenos.
Estes são recuperados com intervenção prevista no ponto 8 a. do
relatório de anomalias.
Na fachada a tardoz encontra-se adossado ao edifício principal,
um elemento totalmente em ruínas que terá funcionado como um
complemento da cozinha ao nível do piso 2. Pelo seu avançado
estado de ruína com total incapacidade de recuperação, opta-se pela
sua demolição por se tratar de um elemento que em nada contribui
para o valor histórico e arquitetónico do conjunto.
Na cobertura há dois tipos de intervenção. Ao nível do revestimento,
pelo seu estado de degradação irreversível, com ausência de material
em áreas localizadas e identificadas no mapeamento de patologias,
será necessário proceder à sua substituição. A estrutura de suporte
possui anomalias estruturais, nomeadamente, afundamento de
madres em madeira de suporte à cobertura, motivado nalgumas
áreas por secção resistente, insuficiente à flexão e/ou características
pouco homogéneas da madeira utilizada, com deformabilidade global
da cobertura. Neste caso os elementos estruturais serão mantidos,
mas com necessidades de intervenção que serão identificadas no
capítulo seguinte, projeto de reabilitação.
No interior e ao nível de anomalias nos elementos estruturais há
a assinalar dois tipos, fendilhação de paredes divisórias interiores,
por deformação da sua base de apoio e afundamento do pavimento
Capítulo II O Projeto
67
em madeira resultante de cedência parcial da sua estrutura de
apoio. No primeiro caso, as soluções de intervenção são o reforço
da base de apoio da parede interior, para estabilização do elemento.
Posteriormente, são executados os trabalhos de picagem do
revestimento das paredes afetadas, numa faixa de pelo menos 25
cm, para cada lado, das mesmas e reconstrução das paredes com
aplicação prévia de rede de fibra de vidro, para o primeiro caso.
No segundo caso as solução de intervenção passam pela análise
cuidada das áreas danificadas, envolvendo o restabelecimento da
posição inicial do pavimento, com possível substituição parcial dos
elementos afetados.
Ao nível interior, existem anomalias no revestimento do soalho,
nas áreas definidas no mapeamento de anomalias do anexo B. Tais
anomalias resultam da deterioração do material de revestimento,
com áreas afetadas por humidade proveniente da inoperância da
cobertura e vãos, com presença de áreas apodrecidas. A intervenção
passa pela substituição do soalho das áreas afetadas com colocação
de nova madeira. A finalização do processo passa por, em todo
compartimento da área intervencionada, raspagem e lixamento
da madeira para remoção de sujidades e vernizes. Finalizado este
processo procede-se à aplicação de preservantes e envernizamento
do pavimento.
No tocante aos tetos, todos em estuque, sem qualquer ornamentação
à exceção do teto da sala do piso 2 que se encontra ornamentado,
a intervenção passa pelo restauro das áreas danificadas que se
encontram identificadas no mapeamento de anomalias no anexo B.
Nos tetos foram detetadas dois tipos de anomalias, uma diz respeito
a deterioração do material por humidade proveniente da cobertura
e vãos e a outra por destacamento e degradação de materiais, com
causa provável de uso de materiais pobres e de fraca aderência
à base. O tipo de intervenção no primeiro tipo de anomalias será,
após reparação da cobertura e vãos, remoção parcial do material
destacado na área afetada e reposição do revestimento com materiais
compatíveis com os existentes. As manchas de bolor e humidade
serão limpas com uma solução a 10% de lixívia e após secagem,
será aplicado um produto fungicida que deverá atuar durante três
dias e depois removido, repondo e aplicando o acabamento. No
segundo tipo de anomalias as intervenções constam da remoção do
material da área afetada, aplicação de materiais de melhor qualidade
e adequados, com apenas uma camada e respeitando tempos de
secagem.
As anomalias detetadas nos revestimentos das paredes interiores
são genericamente de três tipos:
68
Estas anomalias encontram-se identificadas no mapeamento de
anomalias no anexo B, e o tipo de intervenção será efetuado da
seguinte forma:
Capítulo II O Projeto
69
Das dependências:
Considerando as características, qualidade construtiva, estado
de conservação e o interesse que as mesmas revelam, as duas
dependências existentes, a saber, uma localizada a nascente do
prédio e contígua à Rua Abel Lacerda e outra no limite da extrema
sul do prédio, têm soluções opostas.
A primeira, em estado de ruína, onde restam apenas as paredes
exteriores em alvenaria de granito, que teria 3 pisos, conforme resulta
do documento constante no anexo Ex, que teria, alegadamente,
sido afeta a habitação (por inquérito do autor a particulares), será
mantida com obras de intervenção profunda. A segunda dependência
localizada no limite da extrema sul, traduz-se na existência de uma
parede frontal, parcialmente derrocada e parede lateral direita. Esta
dependência, pelo seu estado de ruína total e por se tratar de um
elemento diminuto que, em nada, contribui para o valor arquitetónico
e histórico do conjunto edificado, será demolida.
A preocupação inerente à intervenção pautou-se pelo respeito pelo
existente, onde se conciliaram soluções que se julgam equilibradas
para cada contexto, de forma a garantir a integridade física, estética
e simbólica do edifício.
D. 2. O Projeto de reabilitação.
O logradouro
Para além do edifício propriamente dito, a existência do logradouro,
torna o conjunto singular, pelas potencialidades que este lhe confere.
De facto, numa lógica assumida de “quarteirão”, este edifício tem
como característica muito peculiar, o logradouro a tardoz, que
nas condições atuais é relegado para segundo plano, quando tem
um potencial único, uma vez que se trata do único prédio com um
espaço desta natureza. Desde logo, pela possibilidade de contacto
com o exterior, em ambiente privado mas que se pretende, no
entanto, abrir ao público, através da entrada pré-existente, com as
ruas adjacentes, criando um local de bem-estar e lazer alargado à
comunidade. Pretende-se, por isso, que o logradouro funcione como
elemento de interação entre interior e exterior do quarteirão mas
também organizador do conjunto edificado a reabilitar.
O logradouro possui dois socalcos, o primeiro com cota de arranque
semelhante à cota da Rua Doutor Abel Lacerda e o segundo mais
elevado, delimitado por muros de contenção periférica, encontra-se
a 1,38 m, acima da cota de soleira do Beco do Olheiro, espaço público
confinante a sul, este por sua vez com um diferencial de 1,98 mts
em relação à Rua Doutor Abel Lacerda. O gesto de regularização
das cotas do socalco superior com o Beco do Olheiro, e a anulação
dos muros periféricos de limite da propriedade, permite interligar
o logradouro ao espaço público envolvente, abrindo deste modo o
interior do quarteirão, criando um percurso de atravessamento, 29 - Planta de implantação sem escala
70
com introdução de uma pequena escada e rampa para pessoas com
mobilidade condicionada, conferindo ao próprio espaço uma nova
vivência e à zona circundante, qualidade urbana.
Nas pré-existências desta área, a intervenção visa, para além da
referida alteração da cota de soleira, a remoção dos escombros da
Existente
dependência a sul que se encontra em total estado de ruínas.Prevê-
se ainda a anulação das escadas exteriores entre os dois socalcos
que, pela alteração da cota e reorganização do espaço, perde a
sua função e pela mesma ordem de razões o tanque também será
Demolir demolido. Os muros de contenção periférica do socalco elevado
serão parcialmente demolidos em altura, acompanhando a descida
Estratégia da cota. Quanto à ruína adossada a sul, do edifício principal, que pelo
seu estado é inviável a sua recuperação, opta-se pela remoção dos
Novo
Percurso
Exterior escombros, revertendo a sua área para a criação de uma esplanada
de apoio à cafetaria, a instalar no piso 1 do edifício, permitindo,
assim, a criação de um espaço de estar e convívio aberto á utilização
do público exterior ao “hostel”.
Novos
Acessos
Privados
Proposta
Edifício com 2
frentes
GSPublisherVersion 0.0.100.100
Capítulo II O Projeto
71
Toda esta intervenção é, no entanto, articulada de forma a preservar
e evidenciar um elemento singular que jaz neste momento no
logradouro – o poço e respetiva bomba manual. A descida de cota
permite a visualização do poço, anteriormente oculto, construído
em alvenaria de pedra de granito, e respetivo sistema de extração
de água. Todo este elemento será circundado por um espelho de
água que reforçará a sua presença, como elemento de destaque
na envolvente. A intervenção consiste no reforço das paredes que
delimitam o poço, colocação de uma estrutura em aço, com perfis
metálicos do tipo HEB, revestidos por chapa de aço, formando uma
plataforma acessível. Esta plataforma serve de segurança e apoio da
bomba manual existente. O acesso a esta plataforma é conseguido
com a colocação de degraus em blocos de granito, de forma a vencer
a diferença de quota de 60 cm.
72
34 - Imagem da proposta: novos acessos verticais
Capítulo II O Projeto
73
35 - Proposta: Escala 1/200
74
37 - Vermelhos e amarelos: Escala 1/200
Capítulo II O Projeto
75
O edificado
GSPublisherVersion 0.50.100.100
39 - Planta proposta sem escala
76
41 - Imagem da proposta: cafetaria
Capítulo II O Projeto
77
43 - Planta proposta sem escala
78
45 - Imagem da proposta: sala de estar
Nesta ala existe ainda uma zona de circulação que separa a zona da
cozinha com as baterias sanitárias e que, por sua vez, liga às novas
comunicações verticais.
A cozinha é um espaço conseguido pela unificação da cozinha
existente com o compartimento contíguo, outrora destinado a
dispensa, por forma de a dotar de áreas mais francas. Possui móveis
e áreas de bancada de trabalho, encostadas à parede, e uma ilha.
Para além da área de trabalho que possui, funciona também como
fator de partilha na execução das tarefas e simultaneamente de
convívio.
É nestas duas áreas, cozinha e instalações sanitárias, que existe
maior intervenção, nomeadamente, no reforço dos pavimentos
existentes com a introdução de perfis metálicos a estruturá-los,
conferindo-lhes robustez e segurança, para a instalação dos novos
equipamentos.
Nos pavimentos e nas paredes das instalações sanitárias, por
serem zonas predominantemente húmidas, será introduzido
um revestimento a linóleo, conferindo-lhes impermeabilização
necessária às novas funções.
O piso 3 é composto totalmente pela parte mais reservada do
“hostel” – a zona de dormitórios. Do ponto de vista da distribuição,
segue o mesmo ritmo do piso 2, com um corredor central que o
divide em duas alas, a norte e a sul. A ala norte, composta por cinco
compartimentos, é destinada à maioria dos quartos tendo como
base o aproveitamento da distribuição já existente. Os três primeiros
compartimentos, a contar do patamar de chegada da escada,
serão quartos duplos, com 1 beliche em cada um para 2 pessoas,
e os restantes dois com 2 beliches cada, para 4 pessoas. A ala sul,
composta por quatro compartimentos destinados a quartos e uma
pequena instalação sanitária, sofrerá obras de reajustamentos para
Capítulo II O Projeto
79
46 - Proposta: Escala 1/200
80
48 - Proposta: Escala 1/200
Capítulo II O Projeto
81
instalação das novas funções. Os dois primeiros compartimentos,
a contar do patamar de chegada da escada, sofrerão obras de
adaptação para instalação das baterias sanitárias separadas por
sexo, compostas, cada uma delas, por um compartimento para
sanita, dois espaços individualizados para banhos, dois lavatórios
e dois urinóis, estes últimos nas instalações sanitárias afetas ao
sexo masculino. O terceiro compartimento e a pequena instalação
sanitária contígua, serão anulados, revertendo parte desta área para
a criação do corredor de circulação de comunicação, com a nova
estrutura de acessos verticais, sendo a restante área integrada no
quarto e último compartimento. Por fim, o último compartimento
será destinado ao maior dormitório, com capacidade para 3 beliches,
para 6 pessoas.
Todos os quartos possuem características comuns, nomeadamente,
armários individualizados com chave para cada utente e camas em
beliche no caso dos quartos do piso 3. Os dois quartos simples do
piso 2 serão compostos também por armários com chave mas com
camas individuais.
82
administrativo do “hostel”. Este piso é composto por uma área
ampla de circulação, delimitada a norte por armários de apoio
ao funcionamento do “hostel”, onde serão armazenadas todo tipo
de artigos de utilização e consumo do mesmo. É também nesta
bateria de armários que serão acondicionados todos os produtos
de higienização do equipamento devidamente individualizados dos
restantes artigos. Esta área é delimitada a sul por duas instalações
sanitárias afetas aos funcionários e compartimento de lavandaria
equipada com 2 máquinas de lavar roupa e 1 máquina de secar. Esta
área, para além de deter todas as funções supra descritas, serve de
corredor de circulação para acesso às escadas interiores existentes
e também à nova estrutura de acessos verticais, localizada a sul. O
acesso à referida estrutura de comunicações verticais a construir é
conseguido pela introdução de uma mansarda, a executar em estrutura
leve revestida a chapa de zinco, removendo parte do revestimento da
cobertura, e estrutura complementar de suporte à telha cerâmica.
No topo nascente deste piso econtra-se o compartimento afeto a
escritório de gestão administrativa do “hostel”, localizado no topo
norte/nascente, e a zona de tratamento de roupa localizada no topo
sul/nascente do edifício. Esta última é delimitada a norte por parede
divisória construída com estrutura metálica leve, revestida por placas
de gesso cartonado, complementada por baterias de armários e, a
sul, por baterias de armários desde da parede exterior a nascente
até à posição da mansarda a construir.
As áreas intervencionadas em todo o edifício obedecem a
características comuns no processo construtivo, nomeadamente,
as paredes divisórias a construir serão executadas em estrutura
metálica leve revestida de ambos os lados com placas de gesso
cartonado, com introdução de isolamento acústico, do tipo lã de
rocha no seu interior. Nos vãos interiores a fechar, manter-se-á toda
a carpintaria existente de modo a marcar essa intervenção, e nos
novos vãos a abrir, em número de dois, utilizar-se‑á guarnição em
metal para identificação dessa mesma intervenção.
Capítulo II O Projeto
83
A intervenção a levar a efeito na dependência localizada a nascente
será uma intervenção profunda considerando o estado atual da pré-
existência. Trata-se de um edifício com dois pisos, implantado a
nascente do logradouro e confinante com a Rua Doutor Abel Lacerda,
sendo por esta o único acesso ao edifício.
Da pré‑existência os únicos elementos que se preservam são as
paredes exteriores e vãos. As caixilharias ainda existentes não são
passíveis de recuperação, assim como todo o interior que se encontra
totalmente degrado e em estado de ruína. A proposta de intervenção
visa a limpeza dos escombros existentes no interior, remoção dos
restos de carpintarias ainda presentes nos vãos e remoção da
alvenaria de tijolo cerâmico que encerra o vão ao nível do piso térreo.
A proposta visa a reabilitação do edifício destinando-o a alojamento
local e integrado também no “hostel”, criando um micro apartamento
que se desenvolve nos dois pisos da edificação existente.
Exteriormente, a intervenção consta na elevação da cércea
aproximando-a da cota do beirado da construção contígua a norte.
Esta alteração é efetivada com a introdução de um elemento
estrutural interior, guarnecido pelo exterior com réguas de madeira
aplicadas horizontalmente e com espaçamento entre elas de 6
centímetros. A caixilharia a aplicar nos vãos existentes é em alumínio
de perfil simples na cor cinza.
Interiormente, em termos funcionais, atendendo à reduzida área
que compõe o edifício, a gestão do espaço foi o maior desafio para a
organização espacial das funções.
No piso 1 optou-se por criar um pequeno volume que para além de
comportar uma pequena instalação sanitária equipada com sanita
e lavatório, estrutura a escada interior de comunicação vertical
com piso superior, comportará a função de elemento organizador
dos ambientes a criar. Na frente, e junto da entrada de acesso
do exterior, teremos o ambiente de sala, com zona de estar à
esquerda e com estante de apoio à direita no sentido da entrada.
Parte da estante incorpora um tampo que nas alturas de refeição
será armado de forma a criar uma mesa. A cozinha encontra-se ao
fundo do compartimento contíguo ao da instalação sanitária e com
frente para a entrada do acesso exterior. A escada interior de acesso
vertical, constituída em madeira e desenvolve-se em forma de U,
para rentabilizar o espaço disponível, sendo que o último troço já se
encontra por cima da instalação sanitária. No piso 2 é onde se situa
a zona mais íntima do micro-apartamento, composta por quarto
duplo com cama de casal e instalação sanitária privada equipada
com cabine de duche, sanita, bidé e lavatório.
84
51 - Proposta: Escala 1/100 52 - Proposta: Escala 1/100
85
55 - Imagem da proposta: micro-apartamento
86
Em termos de eficiência energética, houve uma estratégia de
implementação de soluções técnicas, com o objetivo de melhorar
o comportamento térmico dos dois edifícios. Atendendo à diferente
abordagem de intervenção nos edifícios a reabilitar, as soluções
serão parcialmente diferentes nas soluções técnicas a preconizar.
De acordo com o Guia Técnico de Reabilitação Habitacional, do Instituto
Nacional da Habitação e Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o
reforço de proteção térmica nos edifícios concretiza-se segundo três
vias. Reforço do isolamento térmico da envolvente exterior, reforço
térmico dos vãos envidraçados e controlo dos ganhos solares devido
aos vãos envidraçados.
Nesse seguimento as soluções técnicas adotadas no edifício
principal foram as seguintes:
Envolvente exterior: A estratégia passou pela introdução de
isolamento na pendente da cobertura e pavimento térreo. Nas
paredes exteriores não se preconizou qualquer tipo de isolamento,
porque colocaria em causa o valor arquitetónico e histórico do
edifício.
Vãos envidraçados: Nos vãos reabilitados a estratégia passou por
colocação de dupla caixilharia interior com corte térmico e vidro
duplo. As caixilharias novas serão igualmente executadas com corte
térmico e vidro duplo.
Proteções dos vãos envidraçados: Mantem-se as soluções existente
de portadas.
A estratégia adotada no edifício a reabilitar para o micro-apartamento,
passa pela introdução de isolamento térmico na envolvente exterior,
nomeadamente, paredes pendente da cobertura e pavimento
térreo. Nos vãos serão introduzidas caixilharias corte térmico com
vidro duplo. A proteção dos vãos envidraçados é conseguida com a
instalação de cortina opaca em rolo.
Todas as soluções aqui descritas encontram-se referenciadas nos
pormenores construtivos do anexo D.
Por fim referir que foram considerados fatores económicos, de
custo/benefício nas decisões adotadas, no tocante às opções
funcionais e construtivas, bem como nas escolhas de materiais,
por forma a melhorar a eficiência energética e, ao mesmo tempo, a
viabilizar economicamente um programa funcional direcionado para
o alojamento, a custos acessíveis também para o utilizador.
Capítulo II O Projeto
87
58 - Imagem da proposta: fachada frontal
88
Conclusão
Capítulo II O Projeto
89
Bibliografia
Capítulo II O Projeto
91
Fontes eletrónicas
Legislação
92
ANEXOS
B - Mapeamento de Anomalias
INTRODUÇÃO
Notas:
O relatório das anomalias tem em geral a identificação das áreas a intervir.
No caso de anomalias não identificadas nos elementos gráficos, as
mesmas serão intervencionadas segundo a tipificação de Motivo - Solução
de intervenção previstas no presente diagnóstico e/ou nas boas práticas de
intervenção em reabilitação.
RELATÓRIO DE ANOMALIAS
ANOMALIAS ESTRUTURAIS
ANEXO B
PAREDES INTERIORES
Motivo
a. Fissuras verticais por desligamento das paredes divisórias interiores das paredes
exteriores em alvenaria de granito.
Solução
- Reforço da base de apoio da parede interior; picagem do revestimento interior das
paredes afetadas numa faixa de pelo menos 25 cm para cada lado das mesmas e
reconstrução das paredes com aplicação prévia de rede de fibra de vidro.
Motivo
b. Fissuras obliquas devidas a assentamento da parede interior por deformação do
pavimento em madeira que a suporta.
Solução
- Reforço da base de apoio da parede interior; substituição do revestimento na área
danificada, com intervenção, se necessário, na estrutura de madeira da parede em
ripado pregado.
PAVIMENTOS E TETOS
Motivo
Afundamento do pavimento em madeira resultante de cedência parcial da sua
estrutura de apoio, também de madeira.
Solução
– Situação a ser cuidadosamente analisada, envolvendo o restabelecimento da
posição inicial do pavimento, com possível introdução de peças estruturais
suplementar verticais de apoio e eventual substituição parcial ou total dos
elementos afetados.
COBERTURA
ANEXO B
Motivo
Afundamento de madres em madeira de suporte à cobertura, motivado nalgumas
áreas por secção resistente insuficiente à flexão e/ou características pouco
homogéneas da madeira utilizada com deformabilidade global da cobertura;
Solução
– Reforço das peças danificadas com adição de elementos metálicos (ver
pormenores construtivos dos elementos gráficos, desenho 11), por forma a
aumentar a sua capacidade resistente, evitando o abaulamento das varas de
suporte à telha cerâmica.
PAREDES
Solução
– Reparação da parede com materiais de composição semelhante ao dos pré
existentes em termos do tipo de cal e sua natureza, preferencialmente
argamassas com base em cal aérea, aditivadas ou não com pozolanas ou em
mistura com teores reduzidos de cimento.
Motivo
Empolamento e destacamento do reboco com formação de convexidades em
áreas localizadas do paramento, seguido de fendilhação e queda do revestimento
devido ao uso de diferentes materiais.
ANEXO B
Solução
– Torna-se necessário recorrer a um conjunto de operações para aplicar um novo
revestimento (estuque) pré-doseado com base de gesso, e que passa por:
o Extração integral do reboco antigo e da espessura do suporte que se
encontre significativamente degradada;
o Efetuar uma escovagem geral do paramento para eliminação de
impurezas, poeiras e material friável;
o Aplicação de uma camada de base para regularização, proteção e
aderência;
o Aplicação de camada de acabamento final;
3. Manchas de humidade
Motivo
a. Humidade proveniente da condensação e falta de ventilação.
Solução
– Neste caso e após desumidificação do compartimento, poderá proceder-se à
seguinte sequência de operações:
Motivo
b. Humidade proveniente do uso de materiais inadequados ou deteriorados,
deficiente aplicação ou insuficiente sistema de escoamento das águas pluviais.
Solução
– Poderá utilizar-se a sequência de operações referida para a alínea anterior.
Motivo
a. Humidade proveniente de problemas na cobertura
Solução
– Depois de resolvido a infiltração pela cobertura, será necessário proceder à
remoção do revestimento afetado e substituição do mesmo.
ANEXO B
Motivo
b. Humidade proveniente do mau estado dos vãos.
Solução
– Depois de recuperado o vão, será necessário proceder-se à remoção e
substituição parcial do revestimento danificado.
COBERTURA
5. Danos no revestimento
Motivo
b. Falta de revestimento de telha da cobertura e degradação do material por
agentes naturais.
Solução
– Neste caso é proposto a substituição integral do elemento de revestimento e
respetivas ripa de suporte.
PAVIMENTOS E TETOS
6. Apodrecimento do teto
Motivo
a. Apodrecimento de parte do teto por infiltrações de água e humidades
provenientes da cobertura.
Solução
– Depois de resolvido os problemas na cobertura, será necessário substituir as
tábuas de madeira afetadas e eventualmente o suporte das mesmas.
Motivo
a. Humidade proveniente da cobertura e vãos.
Solução
– Será necessário resolver o problema das infiltrações, e posteriormente substituir
as tábuas apodrecidas do pavimento.
Motivo
b. Degradação dos materiais.
ANEXO B
Solução
– Nos pavimentos com esta anomalia, será necessário proceder-se à seguinte
sequência de operações:
o Remoção do pavimento existente;
o Reconstrução do pavimento.
VÃOS
Motivo
Solução
– Neste caso, e uma vez que alguns dos vãos se encontram em razoável estado
de conservação, deverá proceder-se à seguinte sequência de operações:
o Raspar e decapar a madeira;
o Eliminar poeiras, gorduras e outras impurezas;
o Remendar com massa de madeira e, nos casos mais severos, com
pedaços de madeira idêntica;
o Nos vãos envidraçados, substituir os vidros danificados
o Aplicar os tratamentos necessários, incluindo envernizamento e pintura;
Motivo
b. Caixilharia e portadas interiores em madeira sem recuperação.
Solução
– Nestes casos e porque os elementos se encontram muito degradados, não é
possível a sua recuperação. Assim preconiza-se a substituição integral dos
mesmos, com introdução da nova aparência e material que constitui a caixilharia
demarcando-os assim dos originais que se mantêm.
Motivo
c. Corrosão do material ferroso por agentes naturais.
Solução
– Decapagem, tratamento e pintura à cor original.
ANEXO B
RODAPÉS
Motivo
Desligamento do rodapé da parede correspondente.
Solução
– Desmontagem e tratamento dos rodapés, com posterior fixação na sua posição
original.
GUARDA-CORPOS
Motivo
a. Corrosão do material ferroso por agentes naturais em guarda corpos
exteriores.
Solução
– Decapagem, tratamento e reposição da pintura original.
Motivo
b. Guarda de escadas interiores em madeira.
Solução
– Desmontagem do mesmo, tratamento e reposição das peças na posição
original.
Motivo
c. Grades das aberturas no piso 1, a tardoz.
Solução
– Desmontagem, tratamento e execução da pintura original das mesmas.
ANEXO B
ANEXOS
E.01
Conversa com o Vereador da Câmara Municipal de Tondela Pedro Adão
E.02
5
5
7
5 FEOGA
caminho certo
para a esquerda
2 5
para a direita 7
5 FEOGA
A25
A25
A25
Caramulinho
PR
4
TND
A25
7
5 FEOGA
A25
A25
1000
950
Cota (m)
900 Caramulinho
850
800
Altimetria PR
4
0
TND
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8200
Distância à Origem (m)
caminho certo
para a esquerda
2
5
para a direita 7
5 FEOGA
A25
PERCURSOS PEDESTRES
nduta
os trilhos sinalizados; A25
DA SERRA DO CARAMULO
A25
gado. Embora manso, não gosta
estranhos às suas crias;
titudes que perturbem a paz do
distância, preferencialmente
culos;
PR
ra; 1
TND
ixo, levando-o até um local onde
olha;
portelos;
edade privada;
as ou rochas;
habitantes locais e, se necessário,
o à actividade em curso e às
o. A25
7
FEOGA
A25
Tipo de percurso: De pequena rota, utilizando caminhos rurais, Ter cuidado com o gado. Embora manso, não gosta
tradicionais e de montanha. da aproximação de estranhos às suas crias;
Qta. da Cruz
Distância a percorrer: 7,5 km em circuito. Evitar barulhos e atitudes que perturbem a paz do
600
Costa
500
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
7535
Época aconselhada: Todo o ano. Distância à Origem (m) Não danificar a flora; 1
TND
Não abandonar o lixo, levando-o até um local onde
haja serviço de recolha;
Contactos locais
Fechar cancelas e portelos;
Município de Tondela 232 811 123
Respeitar a propriedade privada;
Posto de Turismo de Tondela 232 811 121 caminho certo
Não fazer lume;
Junta de Freguesia de Castelões 232 851 206
Não recolher plantas ou rochas;
Táxis Castelões 912 397 351
Ser afável com os habitantes locais e, se necessário,
Táxis Tondela 232 822 067 caminho errado
esclarece-los quanto à actividade em curso e às
Táxis Campo de Besteiros 232 851 530 marcas do percurso.
reconhecimento dos caminhos Engª. Catarina Chaves, Eng. Santos Silva,
Emergências Mudança de direcção
Junta Freguesia de Castelões
Legenda textos Engª. Catarina Chaves, Eng. Santos Silva
S. O. S. 112 design gráfico | fotos Esferagráfica
Protecção da Floresta 117 1 Laranjais 5 Sino Capela de promotor Câmara Municipal de Tondela
Nossa Sra. da Conceição www.cmtondela.pt
2
Bombeiros Vol. Vale de Besteiros 232 857 000 para a esquerda
Ribeira de Castelões
6 Arquitectura Tradicional
3
GNR – Tondela 232 819 370 Flôr de Laranjeira
7 Sobreiro
4
Restauração na freguesia
Pormenor Santuário
Coração de Maria
Restaurante Varanda do Criz 232 822 760 para a direita 7
FEOGA
(Para mais informações consulte o Posto de Turismo)
ANEXOS
E.03