José Lhomme - O Livro Do Médium Curador
José Lhomme - O Livro Do Médium Curador
José Lhomme - O Livro Do Médium Curador
JOSÉ LHOMME
O LIVRO DO MÉDIUM CURADOR
PREFÁCIO
HUBERT FORESTIER DIRETOR DA REVUE SPIRITE
É preciso que a nossa curiosidade tome um outro caminho que não o que
está trilhando atualmente. Ela deve dirigir-se do físico e do fisiológico
para o mental e o espiritual.
Dr. Aléxis Carrel
2
Conteúdo resumido
Sumário
Prefácio da edição francesa / 05
Prefácio da edição brasileira / 08
Introdução / 12
1 - A necessidade de uma instrução preliminar / 15
A Constituição do homem
2 - As causas das provações / 17
A lei da justiça imanente
A linha da conduta espírita
Os escolhos do principiante
3 - O médium curador / 21
Comportamento, regime alimentar, gênero de vida, marcha, respiração
O enfermo
Os remédios
4 - A gradação das faculdades curadoras / 26
A Aura Humana
O magnetismo
Que é magnetismo?
Princípio de base
O fluido vital
Ação do pensamento sobre o fluido humano
Ação do fluido magnético
3
Hipersensibilidade
Clarividência
7 - As doenças psíquicas / 59
Loucura ou possessão
Obsessão
Alguns casos de obsessão espírita
Assombramento psíquico
8 - As influências mentais / 69
Emoções que matam e emoções que fortalecem
Imaginação desordenada
Efeitos fisiológicos de elevação espiritual
9 - O que se deve responder aos enfermos / 75
Intelectuais, tende fé
Ao médium curador
5
Pense em Deus muitas vezes mais do que respiras, dizia Epicteto. Por aí
o célebre filósofo estóico mostrava aos seus discípulos a estrada real que
leva ao conhecimento, à escalada do Divino pela prece, porque todo o
pensamento de compaixão, todo o pensamento de bondade, todo o anelo
do ser para Deus, para o Incriado, é uma prece. E a prece é essencial à
ação duradoura, só ela determina a descida de forças puras em benefício
da desgraça e do sofrimento humanos. E verificou-se que entre os
curadores místicos, dignos deste qualificativo pela sua retidão e dignidade
de vida, a força espiritual que eles recebem do Alto e espalham ao redor
de si aumentada pela prece, é de essência superior e difere totalmente, em
natureza e qualidade, do fluido magnético ou humano.
Eis, de resto, resumido por Burnet, que foi, no começo deste século, um
curador suíço altamente compenetrado de sua missão, a modalidade de
ação dos tratamentos espirituais, tal como a praticou, modalidade que
achamos narrada pelo dr. Ed. Bertholet, laureado da Universidade de
Lausanne, em sua obra capital: "Uma Curadora Mística Moderna:
Eugénie Isaeff-Jolivet, na pág. 37:
"A medicina hermética (tratamentos espirituais) transporta a sua ação
para o plano astral, isto é, age sobre a fonte mesma da vida! Em lugar de
se ligar a tal parte do ser fisiológico, ela se liga ao corpo astral que
alimenta a vida, regula o jogo das funções inconscientes, repara os tecidos
e os transforma. As enfermidades são assim atingidas em suas próprias
fontes, porque os traços que delas vemos nos órgãos, tratados unicamente
pela Medicina Usual, só são manifestações das perturbações
correspondentes ao corpo astral.
"O adepto, sendo um centro de força espiritual e fluídica, age
diretamente sobre a alma do enfermo e, pelo seu corpo astral, penetra o
seu corpo físico. A parte enferma se modifica sob os movimentos
ondulatórios da força; as moléculas mais densas, submetidas à ação da
corrente espiritual, modificam progressivamente a velocidade das suas
vibrações; a harmonia então se estabelece. As vibrações luminosas e
reguladoras, que lhe são enviadas pelo curador, que as recebe do Alto,
restabelecem as vibrações irregulares das doenças. Uma condição
favorável é que, na vida privada, a consciência humana tenha vontade de
se abrir ao Princípio Divino, se mostre capaz de receber a vida posta ao
7
Introdução
Esta obra é um guia destinado às pessoas de coração que desejam
ardentemente colocar-se a serviço da humanidade para o que há de mais
nobre, de mais elevado e de mais belo: o alívio dos sofredores e a cura das
enfermidades.
Elas, na maior parte, já estão convencidas, por sua experiência, em
matéria psíquica ou espírita, da realidade de um fluido que age sobre os
sensitivos.
Muitas vezes assistiram à incorporação mediúnica no curso da qual uma
entidade fazia o médium experimentar as dores suportadas por ela nos
últimos momentos de sua existência, dores que desapareciam com a
descarga elétrica projetada pelo experimentador sobre o médium, às vezes
sem ele o saber.
Em outras oportunidades, as manifestações psíquicas da mediunidade
faziam-nas presenciar a utilização de uma força que emanava do médium
e agia à distância, sem qualquer espécie de contato com os assistentes,
com gestos que denunciavam a intervenção de uma inteligência dirigente.
Para essas pessoas um tanto iniciadas na prática do Espiritismo, há em
nós e em torno de nós um fluido semimaterial, imponderável, porém real,
todavia, que age de um ser a outro, em determinadas condições.
Sua existência é confirmada por uma imensidade de curas obtidas por
uma plêiade importante de médiuns curadores.
Para as que duvidam deita última afirmativa, nós lhes pedimos que
consultem o nosso opúsculo "O Espiritismo pode curar-nos? Como? Eis
as provas!". Elas ali encontrarão uma relação de casos de curas
pertencentes não apenas à categoria das neuroses, mas também à não
menos importante das afecções orgânicas, e verão igualmente, de um
medo sucinto, o emprego das forças de que dispõe a terapêutica psíquica.
Certas da realidade da exteriorização psíquica, as pessoas que aspiram a
ser úteis ao próximo, dando-lhes um pouco de sua vitalidade e de seu
devotamento, buscam as luzes dos mais velhos que, na maior parte do
tempo, lhes expõem o seu sistema pessoal, repelindo, de boa fé, as
sugestões ou declarações de seus colegas.
Em tais condições, o novato tem muito trabalho em equilibrar-se no
13
1
A necessidade de uma instrução preliminar
Para vencer na vida, não basta apenas ter a vontade de consegui-lo e
sim é preciso fornecer a essa vontade os elementos indispensáveis ao bom
êxito, isto é, boa saúde e conhecimentos úteis, em vista de obter uma
visão bem clara do fim a que se propõe atingir.
Isto serve para o médium curador, cuja missão humanitária exige uma
condição suplementar: elevação moral.
Diz Allan Kardec:
"Deve-se observar que a maioria dos médiuns curadores inconscientes,
os que desconhecem a sua faculdade e se acham nas condições mais
humildes e no meio de pessoas privadas de qualquer instrução,
recomendam a prece e ajudam a si próprios orando. Apenas a sua
ignorância lhes faz crer na influência de tal ou qual fórmula, com a
mistura de práticas evidentemente supersticiosas, de que é preciso fazer o
caso que elas merecem".
É por isso que explanamos aqui, o mais sumariamente possível, as
noções elementares que darão mais peso e, por tanto, mais autoridade, à
ação dos médiuns curadores.
A constituição do homem
Bem pouco numerosos são os enfermos que conhecem alguns
rudimentos da doutrina espírita que lhes permitam compreender o
trabalho de cura e a associar-se a eles.
É, portanto, essencial que o médium curador, a propósito das
circunstâncias que se lhe apresentarão, tenha algumas palavras de
explicação.
É bom que saiba, entre outras coisas, que o homem se compõe:
- de um corpo físico, sede das funções orgânicas;
- de um corpo psíquico, que sobrevive ao corpo físico e compreende:
- o perispírito ou veste do espírito (chamado também corpo astral),
sede da sensibilidade;
- o Espírito, sede das faculdades intelectuais e morais.
Entre o corpo físico e o corpo psíquico, há o fluido vital que se
16
2
As causas das provações
Entre as leis que se aplicam a todos os seres durante as suas múltiplas
existências, há uma delas que rege as relações entre as inteligências e cria
as sociedades espirituais (esferas ou planos) e se denomina: lei da
afinidade psíquica.
Ela se afirma cada dia no curso de nossa vida e pode ser definida como
segue:
Um espírito é atraído, em razão de sua simpatia, pela natureza afetiva,
intelectual ou moral, de um outro espírito (encarnado ou desencarnado).
Nosso ambiente espiritual será então o reflexo de nossa própria
mentalidade. Ele se constituirá de espíritos sérios se em nós dominarem o
amor ao próximo e o desejo sincero de nos instruirmos e progredirmos.
Ao contrário, se formos frívolos, sensuais ou simplesmente ignorantes,
os espíritos inferiores gostarão de nossa companhia e nos cercarão com os
seus fluidos grosseiros que, com o tempo, alterarão a qualidade primitiva
de nossos fluidos pessoais.
A repercussão de tal estado psíquico não tardará a fazer sentir os seus
efeitos perniciosos sobre o organismo.
Muitas vezes, senão sempre, os pensamentos dessas entidades frívolas,
apaixonadas ou nefastas se imporão aos nossos, nos impelirão a cometer
excessos lastimáveis e às vezes nos dominarão bastante para nos
obsedarem realmente.
Vivendo em nosso meio, essas entidades nos vampirizam utilizando a
nossa força vital para chegar aos seus fins e, pouco a pouco, sentimos as
nossas forças se enfraquecerem consideravelmente. Faltando a vitalidade,
nosso corpo fica então incapaz de reagir contra os golpes do mal
(micróbios, desordem física, influência espiritual inferior), de combatê-los
e a enfermidade se instala em nós.
A lei da justiça imanente
Se quisermos conhecer as causas profundas dos nossos sofrimentos
atuais, é preciso evocar aqui a presença de uma lei de justiça imanente,
cujos fundamentos se enraizaram no decurso de nossas vidas anteriores.
18
Ela faz parte de nosso ser e regula o nosso destino, exerce-se pela via de
causa e efeito e seria fatal se não fosse temperada por uma outra lei de
natureza social: a ler do amor.
Para compreender isto, é necessário admitir que as imagens de todos os
nossos pensamentos, boas e más, ficam gravadas e fotografadas em nosso
subconsciente e dão ao perispírito uma aparência que se modifica sempre
no decurso de nessa evolução.
Essas imagens-pensamento são vibrações. Não são nunca idênticas,
porque há sempre móveis e circunstâncias que as diferenciam.
Resulta de tal fato que não se podem misturar, nem se destruir. As
recordações delas não se poderão apagar porque a alma, que as percebe,
não está isolada no Infinito. Fagulha da grande Alma Universal, a sua
memória tem prolongamento na memória cósmica ou divina, que é um
atributo da vida.
Quanto mais se esforça a alma por praticar atos bons, estar de acordo
com o amor universal, tanto mais as suas vibrações se tornam sutis e mais
o seu meio ambiente se purifica e lucifica.
É então, de nosso interesse, descartar-nos de nosso pesado egoísmo,
dando sempre mais importância aos nossos pensamentos elevados, que
aliviarão a nossa alma e lhe permitirão libertar-se da reencarnação em
mundos inferiores e subtrair-se aos sofrimentos que ela comporta.
Insensíveis aos apelos do Invisível que os aconselha a voltar os seus
olhos para o Alto e a escutar a voz que lhes diz: Amai-vos uns aos outros,
os refratários continuarão incansavelmente a sua ronda infernal.
Perseguidos pela aplicação inexorável da Justiça Divina, eles errarão,
como feras encurraladas, em busca de uma felicidade inacessível até que,
esgotados, martirizados, tombam no caminho pedregoso da vida material
para se acharem, enfim, em um outro mundo e ouvirem dizer: Fechastes
os olhos à luz e os ouvidos à minha voz.
Lá ainda terão que suportar as conseqüências das suas faltas e essa
queda seria eterna se, sustentados pelos pensamentos confortadores das
almas evoluídas, não voltassem atrás e penetrassem valentemente no
caminho do arrependimento e da reparação.
Podemos dizer, em suma, que:
- a lei das afinidades nos liga aos nossos semelhantes.
19
3
O médium curador
Comportamento - Regime Alimentar - Gênero de vida - Marcha -
Respiração
Comportamento
A primeira vista poder-se-ia crer que é supérfluo falar do
comportamento do médium curador.
Acontece, entretanto, que médiuns, que se arrogam a missão de aliviar e
curar, se esquecem deste ponto essencial sob o pretexto de que a
espiritualidade reclama dos crentes um desprendimento profundo do que é
material.
Todavia, a espiritualidade não implica o abandono do princípio de
ordem que rege o universo inteiro como indivíduo e é a base de toda ação
bem organizada. E a ordem não é também o asseio, o cuidado corporal, a
exclusão de todo exagero e toda fantasia deslocados?
No decurso dos tratamentos magnéticos muito especialmente, não é,
com efeito, desagradável a todo o mundo sentir o odor acre do fumo ou
ter a face roçada por uma mecha de cabelos teimosos, úmidos de suor?
Nas associações inglesas, não é raro verem-se médiuns curadores
vestidos, para os tratamentos, com jalecos de enfermeiros, cuja frescura
predispõe os enfermos à confiança.
Um outro costume excelente, que repousa sobre uma base empírica
séria, quer que certos médiuns "descarreguem" as mãos, lavando-as
sumariamente com água limpa, antes da cada operação magnética.
É preciso ver nisto uma preocupação em favor do médium e do
enfermo, porque é fato reconhecido que fluidos nocivos, atraídos pelas
mãos do médium curador, aí fiquem aderidos por certo tempo e podem
indispor um órgão delicado e serem transmitidos a outros enfermos.
Nas sociedades organizadas, tais recomendações são comumente
aplicadas e só podemos felicitar os médiuns curadores que não se
esquecem deste detalhe que tem, portanto, a sua importância.
22
Regime Alimentar
O regime alimentar do médium curador é o de qualquer homem sóbrio
e moderado. Tanto quanto possível, a menos que as suas ocupações
manuais não o permitam, fará bem em seguir um regime alimentar sem
excessos, mas principalmente na primavera e no outono.
Durante o ano inteiro, será proveitoso comer peixe, favorecendo a
emissão do fluido vital.
Sua alimentação terá por base: ovos, leite, frutas, legumes verdes,
evitando a couve, a cebola e a maior parte dos feculentos, bem como as
carnes fortes e os temperos.
Gênero de Vida
As fadigas excessivas e prolongadas, assim como os amores sexuais,
deixam o médium sem forças. Tanto quanto possível, o trabalho
intelectual deverá alternar-se com o trabalho corporal.
Enfim, o médium curador deverá manter-se com uma disposição de
espírito calma e benévola. Um homem colérico ou "ardoroso" jamais será
um bom curador.
Abster-se-á igualmente de todo excitante, como o álcool, o fumo ou os
estupefacientes: ópio, morfina e cloral.
Em caso de fadiga psíquica, o médium curador recorrerá a uma
caminhada a grandes passos, com o peito distendido, ao ar livre, de
preferência em um local repousante e arborizado, porque é preciso não se
esquecer de que o ar puro forneça o oxigênio, que é a fonte da vida e
regenera as células organismo vivo. É o elemento de combustão que
procura o calor necessário ao bom funcionamento dos órgãos.
A respiração desempenha, portanto, um papel importante na
recuperação das forças. É, por conseqüência, muito vantajoso «prender a
respirar, isto é, a encher o peito, fazendo manobrar todos os músculos dele
e do abdômen e depois expulsar completamente o ar viciado existente nos
pulmões.
A aspiração e a expiração se fazem em um ritmo lento de modo a deixar
ao oxigênio o tempo necessário para penetrar em todas as cavidades da
massa pulmonar e de aí cumprir a sua função.
Além disto, o movimento de vaivém dos músculos do tórax e do
23
4
A gradação das faculdades curadoras
1 - Magnetizador (vitalizador ou mumificador)
2 - Magnetizador automata
3 - Magnetizador sensitivo
4 - Magnetizador psicômetra
5 - Magnetizador dotado de clarividência áurica (visão da aura do
enfermo e diagnóstico)
6 - Clarividência espírita, empregada particularmente nos casos de
obsessão
7 - Clarividência médica (visão dos órgãos enfermos)
Um mesmo médium curador pode possuir diversas faculdades
psíquicas.
Na medida de seu adiantamento, ele abandonará cada vez mais o
magnetismo animal, submetido à sua vontade, para entregar-se ao de seu
guia espiritual, que lhe dirigirá as mãos e o inspirará.
Como sempre, as declarações do enfermo deverão, a todo o momento,
confirmar as suas indicações tanto do ponto de vista dos sofrimentos
suportados pelo doente quanto as da clarividência psíquica ou espírita.
Tal maneira de operar servirá, de qualquer forma, de bússola e o
impedirá de cair em erro.
A Aura Humana
De acordo com os clarividentes, o ser psíquico não está inteiramente
contido no organismo humano. Ele o ultrapassa em alguns centímetros e
às vezes mais.
A parte que se estende além do corpo físico chama-se aura, que é mais
importante entre os ascetas e os contemplativos do que entre as pessoas de
tendências materiais pronunciadas, em razão da reserva de energia que os
primeiros detêm por causa da concentração e elevação de seus
pensamentos, da economia vital produzida pelo seu gênero de vida e
muito provavelmente ainda pela sua alimentação vegetariana ou de pouca
quantidade de carne.
27
A Aura
A atividade orgânica dos glutões e gozadores reclama a quase
totalidade das forças psíquicas disponíveis, donde se origina a sua fraca
influência magnética.
A aura é percebida pelos sensitivos dedicados a este gênero de
observações, aproveitável a mais de um título. Ela lhes aparece com uma
espuma leitosa que é colorida segundo a qualidade das aspirações do
indivíduo.
Para certos observadores, a aura só é visível quando a pessoa está
colocada na mais completa obscuridade.
Para os videntes, as significações das cores são as seguintes:
branco — pureza
ouro — calma
verde — inteligência e saber
amarelo — poder cerebral
malva — benevolência
azul — busca da verdade
pardo — depressão mental
cinza — desespero
preto — animalidade
provocam e dirigem,
Por sua ação desinteressada e moral, ele se eleva pouco a pouco para o
plano espiritual e obtém, mesmo à sua revelia, a assistência de uma
entidade superior que adquiriu, pelo seu trabalho e a sua elevação, uma
certa competência na matéria.
O conhecimento do magnetismo humano é, pois, indispensável aos
principiantes, porque ele os impedirá de cometer erros lastimáveis e de
bater com os pés no chão.
O indivíduo que não puder entregar-se, por motivos diversos, à prática
da mediunidade de modo geral, poderá ajudar os seus familiares quando a
saúde deles estiver abalada. Assim, o pai da família cuidará da mãe; na
sua falta a mãe levará seus cuidados aos filhos e o mais capaz destes
aliviará, por sua vez, seus irmãos, suas irmãs e seus amigos.
Que é magnetismo?
Magnetismo é a ação recíproca que os corpos exercem ou podem
exercer uns sobre os outros. (H. Durville).
Magnetizar é dirigir o fluido vital, por um esforço de vontade, sobre um
objeto ou uma pessoa.
Principio de Base
No começo de seu "Tratado Experimental de Magnetismo", o apóstolo
do magnetismo H. Durville diz:
"No indivíduo são e bem equilibrado, pode-se admitir que a tensão
magnética é normal. Em todos os casos, se essa tensão é aumentada,
produz-se um aumento da atividade orgânica; se, ao contrário, é
diminuída, a atividade orgânica diminui e, em ambos os casos, o
equilíbrio funcional se rompe. Não é sempre assim nos enfermos, porque
é fácil compreender que, aumentando a tensão onde ela está diminuída e a
diminuindo onde ela está muito considerável, levam-na pouco a pouco ao
seu estado normal e o conjunto das funções orgânicas retoma o equilíbrio
que constitui a saúde, com a condição, todavia, de que os órgãos
essenciais à vida não sejam muito profundamente alterados.
"Tal princípio constitui a base de toda a terapêutica do magnetismo".
Acrescentamos a isto que, se a quantidade e a qualidade dos fluidos
30
Polaridade humana
As experiências de Reichenbach, do coronel de Rochas e de Durville,
com videntes sensitivos, demonstram que o corpo humano, como o imã, é
polarizado.
O lado direito do corpo, a fronte e a linha média do peito e do ventre
são positivos.
O lado esquerdo, a nuca e a coluna vertebral são negativos.
Lei geral
Colocados em presença um do outro, os pólos do mesmo nome
(positivo com positivo, negativo com negativo) provocam excitação,
aquecimento, força, sono magnético.
Os pólos de nome contrário (positivo com negativo), acalmam,
descongestionam.
Algumas aplicações práticas:
1. A mão direita, colocada sobre a fronte ou o lado direito do enfermo,
dá uma sensação de calor, de lassidão, aumenta a atividade orgânica,
eleva a temperatura, levanta as forças, provoca o sono magnético.
2. A mão direita, colocada na nuca ou ao longo da coluna vertebral,
acalma, dá uma impressão de bem-estar, diminui os espasmos nervosos
dos órgãos que se acham na mesma altura e são comandadas pelos nervos
35
da medula espinhal.
3. A mão esquerda, no epigástrio (estômago), acalma os espasmos
estomacais. A mão direita pode ser ao mesmo tempo colocada em posição
oposta ao nível dos rins.
4. Colocado em face do enfermo, de que segura a mão, o curador
estabelece uma corrente calmante.
5. Colocando-se por detrás do doente, pode-se operar facilmente no
lado direito dele (em posição isônoma) por meio de passes longitudinais.
36
5
A ação magnética
Colocação em estado de relação
Antes de empreender toda ação magnética, é preciso por-se em relação,
isto é, estabelecer uma corrente de transmissão fluídica entre o médium
curador e o enfermo.
Depois de haver-se desembaraçado de toda preocupação material, o
médium curador deve por-se no estado de expansão radiante favorecida
pela flexibilidade muscular. Ele deve então querer de um modo contínuo,
sem sofreadas nem projeções violentas.
De seu lado, o doente buscará, na calma e no repouso, uma parada
física favorável à receptividade.
Relação por contato
O enfermo e o médium curador, estando sentados, repousa o primeiro
as mãos em cheio sobre as do médium.
No início do tratamento, essa tomada de contato dura alguns minutos.
Finalmente ela se estabelece desde o instante em que o médium curador
começa a operar. Ele pode então abandonar o contato, ora tornado inútil.
Para o médium curador, um grande calor nas mãos, um formigar nas
pontas dos dedos ou um pouco de suor nas palmas das mãos provam logo
que a ação está prestes a desenvolver-se.
De seu lado, o enfermo sente habitualmente comichões ou
formigamentos, ou ainda um peso na cabeça, com batidas das pálpebras e
bocejos freqüentes.
Acontece às vezes que certos médiuns curadores fazem o contato por
uma simples imposição das mãos sobre a fronte.
37
Relação à distância
Se o enfermo não estiver presente, a tomada de contato pode dar-se por
meio de um objeto que lhe pertença.
Na falta dele, o médium curador dirige o seu pensamento para o
enfermo, procurando fazê-lo presente por meio de uma fotografia, se
possível.
Esta espécie de trabalho não pode ser empreendida senão por elementos
treinados e um pouco clarividentes.
Processos
A ação do médium curador reduz-se a duas ações principais:
a) - dispersão de fluidos malévolos (descarrego)
b) - concentração e aplicação de fluidos benévolos (tratamento)
Para isto os processos são os seguintes: imposição das mãos - passes -
insuflações - jato fluídico.
Imposição das Mãos
A imposição das mãos consiste na aplicação destas sobre a fronte
(aplicação generalizada) ou sobre a parte enferma.
Em tal momento, o médium roga a Deus o poder de afastar os fluidos
malévolos e solicita para isso o auxílio de entidades espirituais que têm
essa missão.
Depois disso, o médium curador faz o gesto de sacudir as mãos para
trás como se quisesse desembaraçar-se de algo de impuro e continua a
38
Sopro quente
Ele é produzido, com a aproximação da boca do curador junto à parte
enferma, sobre um pano dobrado no lugar, encima da roupa ou por meio
de um grosso tubo de vidro.
De acordo com certos experimentadores, o sopro quente tem efeito de
condensação e não de congestão. O vapor d'água, que acompanha o sopro,
facilita a penetração da emanação fluídica.
As insuflações quentes produzem grande efeito sobre as articulações, o
alto da cabeça, os olhos, os ouvidos, o coração, a coluna vertebral, o
fígado e os rins.
Elas lutam eficazmente contra os ingurgitamentos, os males do
estômago e as afecções glandulares.
Sopro frio
Ele descarrega e fortalece. Produz-se o sopro frio soprando de uma
distância de cinqüenta centímetros ou mais.
Não se deve deixar de empregá-lo com os passes transversais quando o
paciente adormecer depois da magnetização, para evitar a congestão de
certos órgãos em seguida a um muito grande fluxo de forças vitais.
Jato Fluídico
O jato fluídico consiste na projeção do fluido vital com as mãos abertas,
lançadas bruscamente para a frente, projeção que se faz no início de um
passe longitudinal.
Certos médiuns curadores o empregam de preferência sobre os locais
que querem fortificar. Os jatos se sucedem então rapidamente durante
alguns minutos.
Alguns videntes perceberam, em tal momento, que a emissão se fazia
abundantemente sob a forma de gotículas fluídicas de um branco-
prateado.
Magnetóforos
As experiências de psicometria, que permitem a um sensitivo recordar a
história de um objeto, descrevendo as características físicas, intelectuais e
morais da pessoa, que foi ou é dona dele, bem como os acontecimentos
42
Ações à distância
44
- Dores de cabeça
Descarregar pelas pernas por meio de passes a partir do estômago.
Descarregar de dois em dois minutos.
Beber água magnetizada.
- Constipação do cérebro.
Descarregar pelas narinas.
- Cãibras do estômago
Imposição da mão direita sobre o estômago.
Descarrego pelas pernas.
Goles de água magnetizada entre as magnetizações.
- Reumatismo
Magnetizar o coração.
Lançar fluidos sobre as partes reumáticas (idem para a ciática, a gota,
os entorses).
- Dores de dentes
Magnetizar o alto da cabeça, descendo ao longo dos maxilares, e
descarregar pelo queixo.
Ação esterilizante das radiações humanas
Em seu livro "O Segredo das Ondas Humanas", Maurice Phanec,
criador da "ritmoterapia", que não é outra coisa que uma massagem
especial da coluna vertebral, apóia o seu método sobre a emissão do
eflúvio eletromagnético e assim se exprime:
"A ação magnética humana, como nos pode demonstrar a ritmoterapia,
é excitante e sedativa (calmante), como se quiser. Pode ser também
abortiva (que faz abortar) e esterilizante. Uma chaga, um abcesso ou um
furúnculo ficam curados com uma rapidez espantosa, quando são
submetidos à influência radiante de nossas mãos.
Todavia, seria temerário querer tratar uma chaga ou um abcesso
unicamente pela imposição das mãos. Certos operadores já conseguiram,
é verdade, obter resultados surpreendentes, porém é mais prudente para os
principiantes se contentarem em tratar apenas dos casos que não
apresentarem nenhuma gravidade aparente. Por exemplo, certos
46
preservados da putrefação".
Vários investigadores já refizeram a mesma experiência, conservando,
em suas mãos, tecidos vegetais e animais. Esse sistema de operar deixa,
naturalmente, a porta aberta a críticas, fáceis de serem eliminadas agindo
à distância.
Alguns Conselhos
1. Para produzir efeitos sérios, é preciso estar profundamente
convencido de que se possui força magnética. A vontade faz o resto.
2. Se um enfermo cai em estado sonambúlico, isto é, quando padece
ligeiros espasmos, tem sonolência, fecha os olhos, ele chegará ao sono
magnético se se continuar à magnetização.
O médium curador pode aproveitar-se desse estado para pedir ao
enfermo adormecido que lhe revele a natureza e a causa de sua moléstia,
bem como os remédios a lhe aplicar. Ele obterá os melhores resultados se
persuadir o paciente, ao mesmo tempo, de uma melhora notável de sua
saúde.
3. Tanto quanto possível, a magnetização deve preceder as crises
nervosas.
4. A rigidez dos membros convulsos cessa quando se fazem passes
longitudinais sobre as partes convulsas.
5. Um sensitivo, ultranervoso, só deve receber uma dose bem pequena
de fluidos no momento de cada operação magnética.
6. Com um moribundo, convém operar com prudência e geralmente,
começando por passes bem leves.
Para continuação da vitalidade, deve-se aumentar ao mesmo tempo a
duração da magnetização. Quando a fadiga se fizer sentir, parar durante
uma dezena de minutos.
7. No caso de doença crônica, renovar, se possível, a magnetização de
dez em dez horas.
8. No caso de enfraquecimento funcional que ocasione o resfriamento
dos órgãos ou do corpo inteiro, magnetizar abundantemente e por muitas
vezes. A imposição das mãos é às vezes necessária.
O tratamento pode durar meses para ser eficaz.
9. Em todas as doenças inflamatórias, fazer numerosos passes de
48
mal em um indivíduo, mas não curará o mesmo mal, outra vez, na mesma
pessoa ou em outra e, finalmente, outro terá hoje uma faculdade que não
possuirá mais tarde conforme as afinidades ou as condições fluídicas em
que ele se encontrará".
Nos casos urgentes, o médium curador poderá pedir o auxílio de um
pessoa presente, que colocará a mão sobre o ombro dele, a fim de deixar
livres os seus movimentos.
Fazendo assim a cadeia com um ou vários colaboradores, a sua ação
será poderosamente fortalecida.
Este método é freqüentemente empregado na Inglaterra.
Os insucessos dos magnetizadores
1. Se o magnetizador estiver fatigado, indisposto ou esgotado para um
trabalho duradouro ou violento, ele não produzirá nada ou produzirá bem
pouco, embora a sua vontade permaneça inteira.
A falta de resultado é ainda mais patente quando ele estiver distraído e
operar de forma maquinal, com moleza, sem vontade expressa.
2. Acontece também que o magnetizador verifica, após as primeiras
magnetizações feitas em excelentes condições, uma recrudescência dos
sintomas da doença.
Essa crise, longe de o desencorajar, o impelirá a perseverar, pois que é
ela um sinal de regeneração do organismo, mas o previne para ser
prudente e dosar convenientemente a emissão dos seus fluidos.
3. A um enfermo bem enfraquecido ou ultra-sensível, deverá ser
projetado um fluido leve e suave. Em tal caso, a magnetização por uma
mulher é sempre indicada.
4. Em geral, o desaparecimento dos sintomas da moléstia não significa
a supressão radical dos tratamentos mediúnicos e o fim da doença. É
preciso, em nossa opinião, perseverar ainda algum tempo até que o
próprio enfermo se declare curado.
A intuição e a inspiração desempenham igualmente aqui um papel
importante.
5. Uma outra causa de insucesso pode provir de uma bem grande
resistência dos vasos capilares da pele e da falta de condutibilidade dela
para a força nervosa.
50
6
O médium curador
Papel do guia do médium
Nossa posição experimental nos permite afirmar a realidade do mundo
espiritual que circunda também a Terra, portanto os seres, que o habitam
em torno de nós, agem e reagem sobre nós. Eles têm, por sua situação,
uma vontade mais esclarecida e, de fato, mais forte que a média do gênero
humano, vontade que pode ficar paralisada pela nossa inércia e a nossa
falta de aspiração espiritual.
Todo o homem que deseja fazer o bem é assistido por um espírito da
mesma tendência. Neste caso, é um verdadeiro médium, pois que age sob
a influência, às vezes oculta, de um espírito.
Pouco a pouco ele se compenetra de uma assistência superior que
conduz a sua mão quando faz os tratamentos e que inspira e dirige, de
alguma sorte, toda a sua ação humanitária.
Considerando tudo o que acaba de ser dito, o médium curador deve, no
momento em que faz as suas aplicações de passes, não pensar mais nos
conhecimentos adquiridos para deixar mais liberdade à inspiração ou ao
automatismo espírita.
Papel da prece e do médium curador
Pelas suas aspirações sensuais ou materiais, o homem cria para si
mesmo uma couraça de fluidos pesados e tece de alguma forma, à sua
revelia, uma casca psíquica cujas vibrações não concordam com as das
forças superiores e não são influenciadas por elas.
Não é senão quando o indivíduo transforma ou destrói essa capa
grosseira pela elevação de seus pensamentos para os mundos superiores
que a intervenção desejada é possível.
Mas acontece às vezes que esse anelo é fraco e, por conseqüência, o
resultado é pouco encorajador. É então que a ação do médium curador,
duplicada como doutrinador, se faz necessária. Pela sua ação, desagrega
os fluidos pesados, restitui as forças ao doente e dirige os seus
pensamentos para aspirações mais elevadas.
52
Pensa naqueles que amaste, que sempre foram bons e verás que eles
correrão ao teu encontro para te ajudar a levantar o véu que te oculta
ainda os esplendores da vida do Além.
Afasta-te de quem persegues, a fim de que, não tendo mais adiante de
teus olhos a lembrança de teus erros, não vejas mais a causa de tua queda.
Ora a Deus com sinceridade para que Ele te dê um amigo certo, um
guia esclarecido, que te estenderá a mão para te conduzir ao caminho da
felicidade.
Esperamos, amigo, que estes pensamentos, que te foram dirigidos com
todo o nosso coração, não tenham sido formulados em vão e que um dia,
regenerado, voltes a nós para nos contar a tua alegria por nos ter escutado.
Que a Luz Divina desça sobre ti!
Preces por um enfermo antes do tratamento:
Meu Deus, em Vossa grande sabedoria, deixastes que eu fosse atingido
pela enfermidade.
Permiti agora que os espíritos superiores me cerquem com os seus
fluidos reparadores, me apontem o caminho que eu devo seguir e me
dêem a força de esquecer as queixas que o próximo possa ter contra mim.
Dai-me a graça de seguir, de aplicar as leis espirituais que se resumem
nestas palavras: desapego material, indulgência, amor, porque é assim que
eu encontrarei, desde já, a paz, o conforto e a cura.
Depois:
Eu Vos agradeço, meu Deus, por terdes permitido aos bons espíritos
lançar sobre mim fluidos reparadores.
Que o seu auxílio espiritual continue a me dar a coragem e a paciência
de que tenho necessidade para suportar a minha provação.
O Fluido Espiritual
O médium curador, ao utilizar o seu fluido pessoal e humano, adiciona-
lhe o fluido espiritual composto das substâncias etéricas trazidas por um
espírito elevado.
Diz Allan Kardec em La Revue Spirite do ano de 1865:
O fluido humano, sendo menos ativo, exige uma magnetização
55
7
As doenças psíquicas
Loucura ou possessão
A loucura da perseguição (paranóia)
Com exceção de um desarranjo fisiológico do cérebro, o que a Ciência
oficial chama impropriamente de loucura, não acontece muitas vezes que
um caso psíquico especial vá até a possessão completa de um indivíduo
por uma entidade malfazeja.
Ela começa pela fascinação, transformando-se pouco a pouco em
subjugação, primeiramente do ponto de vista mental e em seguida do
ponto de vista corporal.
Diz Allan Kardec:
"O espírito dirige aquele que chegou a dominar, como se fosse um
cego, e pode obrigá-lo a aceitar as doutrinas mais bizarras e as teorias
mais falsas corno sendo a única expressão da verdade".
Ele paralisa-lhe o juízo e o enfermo age, realmente, como em um sonho
acordado. Para se considerar o que se passa, é bastante lembrar as
experiências dos magnetizadores de cabarés que levam os seus dóceis
pacientes a aceitar as mais ridículas sugestões.
O que acontece no Psiquismo dá-se igualmente no domínio espírita.
Diz ainda Allan Kardec o seguinte:
"Seria laborar em erro se se acreditasse que tal espécie de obsessão só
atinge as pessoas simples, ignorantes e desprovidas de juízo, porém os
homens mais espirituais, mais instruídos e mais inteligentes sob outros
respeitos não se acham isentos dela, o que prova que essa aberração é o
efeito de uma causa estranha da qual suportam a influência".
Aqui, e principalmente quando se trata de pessoas moralistas e
religiosas, o medo de praticar uma ação má, má segundo eles, assombra-
os, obseda-os. É o escrúpulo mórbido.
O despertar das tendências naturais é para eles a causa de uma
exaltação intolerável, porque aceitam, habitualmente, uma falsa moral e
contra a natureza.
Para tratar de tal espécie de doentes, compreende-se que será preciso
60
dias entre os frades Celitas. Ele não se lembrava, absolutamente, dos seus
acessos de furor.
Seu filho achou-se no dever de lhe contar que um espírito de nome.... se
comunicara no grupo e lhe suplicara que orasse por ele. Depois de haver
longamente refletido, o pai disse: Creio recordar-me de que, em minha
mocidade, há bem uns cinqüenta anos, fiz condenar à prisão, por roubo,
um indivíduo com este nome. Está bem. Orarei todos os dias por ele".
E ainda se nega a existência dos espíritos e a sua intervenção em nossas
coisas.
Segundo caso:
O Dr. Emile Magnin, de Genebra, Suíça, comenta assim um caso de
cura muito notável, obtido em sua clínica hipnótico-magnética:
"Nestes últimos anos, dentre os numerosos enfermos atingidos por
formas variadas de neuroses e que eminentes neurologistas e alienistas
confiaram aos meus cuidados, tive alguns casos que parecem abrir novos
horizontes à ciência da terapêutica.
"Eis um caso desta natureza:
"A sra. G., de 28 anos, atingida por uma dor de cabeça de origem
neurastênica, à qual, depois de vários anos, uma obsessão de suicídio se
juntara, veio consultar-me.
Um exame atento me assegurou tratar-se de um organismo sem
qualquer tara física. O lado psíquico, ao contrário, deixava muito a
desejar: emotiva, fantasiosa, facilmente sugestionável. A enferma insistia
em uma angústia atordoante na nuca, dizia ela, com uma sensação de
peso, às vezes intolerável, sobre os ombros. Nesses momentos era
possuída por uma vontade quase irresistível de se matar.
No decurso de longa conversa, contou-me que, antes de seu casamento,
fora cortejada por um oficial que ela amara, mas que razões de família a
impediram de desposá-lo. Ele morrera pouco depois e, certo tempo após,
essa obsessão de acabar com a vida se apossara de sua pessoa.
Aí residia, sem dúvida, a origem de seu pensamento obsedante e um
tratamento psicológico impunha-se. Várias sessões no estado de vigília
não obtiveram êxito. Procedi, em seguida, a ensaios de reeducação
magnéticos e não consegui nenhuma melhora. Depois sugestões
imperativas no sono magnético não deram resultados apreciáveis.
65
não lhe revelei uma única palavra da experiência que ela devia sempre
ignorar. Ao deixar-me, falou-me assim: "Sinto-me hoje muito aliviada".
Na manhã do dia seguinte, veio procurar-me: estava transformada. Sua
expressão, sua atitude, suas vestes, tudo demonstrava uma reviravolta em
seu pensamento. Seu natural, sua alegria, seu gosto pelas artes tinham
voltado de um dia para o outro e seu marido não a reconheceu mais, uma
vez que a sua mudança fora brusca.
Depois daquela experiência tão fecunda em resultados, a moça não
experimentou mais nem a aflição na nuca, nem a sensação física de frio
nos ombros, nem a obsessão psíquica de suicídio. Sua saúde tornou-se
perfeita desde então e um ano após teve dois gêmeos de muito boa saúde".
O Dr. Picone-Chiodo conta que certa vez os espíritos-guias explicaram
ao Dr. Carl A. Wickland, médico e autor da obra "Trinta Anos Entre os
Mortos", por meio de sua esposa e médium, que multidões de espíritos
baixos e degradados erram em torno dos vivos e que eles se acham em um
estado de perturbação igual ao do sono, de forma tal que não se
apercebem do meio em que estão e se julgam ainda vivos, não notam a
situação absurda e insustentável na qual os colocam as suas convicções
religiosas, do mesmo modo que um vivo, que sonha, não chega a
compreender a situação, também absurda e insustentável, na qual se acha
ao sonhar, embora a aceite como real.
Segue-se daí que esses espíritos errantes, sem um fim, são facilmente
atraídos pela "aura magnética dos vivos sensitivos" que têm afinidade
com eles do ponto de vista de hábitos viciosos, excessos de todas as
espécies ou tendência para o mal. Eles ficam presos, sem poderem sair,
sem se aperceberem de sua situação, porém exercendo a sua baixa
influência sobre a mente dos vivos.
Acha-se aí, ao que afirmam esses guias, a causa principal dos
fenômenos de obsessão e possessão nas quais o espírito obsessor não está
sempre consciente do mal que causa à sua vítima.
Em dado momento, o Dr. Wickland observa:
"Um dia, as inteligências espirituais nos disseram que podíamos
controlar a verdade de sua afirmativa e examinar as diferentes condições
nas quais se acham os espíritos obsessores, graças a um sistema de
"transferência" que consistia em fazer com que o obsessor abandonasse a
67
8
As influências mentais
Emoções que matam e emoções que fortalecem
A fim de bem fazer compreender a importância do moral sobre o físico,
permitimo-nos transcrever, neste livro, a narração de uma das belas
experiências dos srs. Féri, Grabichensky, Massary e Bordet.
Para não alongar a narrativa, escolhemos a que demonstra, de modo
definitivo, que o sofrimento moral e a tristeza diminuem a resistência do
corpo à enfermidade, em proporções extraordinárias.
Passamos a palavra ao Dr. Pierre Vachet, que escreve o seguinte em sua
obra intitulada "O Pensamento que Cura":
"Para conseguirem uma precisão maior, os sábios procederam às
seguintes experiências:
Debaixo da pele de coelhos, introduziram pequenos tubos de vidro fino,
cheio de culturas microbianas. Depois submeteram a metade desses
coelhos a emoções de violento terror, deixando a outra metade deles em
repouso.
Depois disso, retiraram os tubos e os examinaram. Os que provinham
dos animais não espantados apresentavam traços de uma substância
esbranquiçada e mesmo uma espécie de rolha obstruía a abertura deles.
Ao contrário, o líquido contido nos tubos provenientes dos animais
espantados tinha ficado transparente. No microscópio, verificou-se que os
traços eram formados por glóbulos brancos que lutavam contra os
micróbios e os digeriam. Os tubos, onde se mostravam esses traços
esbranquiçados, quase não continham mais micróbios, mas, nos tubos dos
coelhos atormentados, encontravam-se bem poucos glóbulos brancos e
muitos micróbios.
Essas experiências estabelecem, de modo indiscutível, que as emoções
deprimentes são os mais terríveis auxiliares dos micróbios que vivem em
todos os organismos sem lhes causar o menor dano, mas que exercem os
maiores prejuízos desde que diminua a resistência do corpo à ação deles".
Compreender-se-á, pelo que precede, que o consolo, a calma, a
confiança no futuro, a elevação do espírito, produzidos pelos
70
pelos outros.
Essa espécie de prece exige como condição preliminar a renúncia de si
mesmo. É uma forma muito elevada da prece do asceta.
Os simples, os ignorantes, os pobres são mais capazes desse
desprendimento do que os ricos e os intelectuais. A alma deles, menos
analítica, menos egoísta, não rompe o anelo do coração.
Assim compreendida, a prece produz às vezes um fenômeno estranho: o
milagre".
Uma comunicação tão perfeita com o plano espiritual é coisa
extremamente rara e essa raridade explica a das manifestações mais
extraordinárias que decorrem de nossas relações com o Além.
Se a nossa vontade, conduzida pela fé, tem um tão grande poder sobre
os fluidos anímicos e ambientes, que pensar da vontade das elevadas
entidades espirituais que fulguram na imensidão sideral e dirigem as
humanidades?
Para elas se volve a inteligência humana liberta do materialismo
pseudocientífico e esclarecida pela doutrina contida no estudo dos fatos
psíquicos.
A substância perispiritual, que envolve o espírito humano, ganha em
leveza, em sensibilidade. Seu poder de irradiação e de captação aumenta e
lhe permite operar prodígios quer em torno de si, quer no interior do
corpo humano.
75
9
O que se deve responder aos enfermos
Como se diz com justa razão "uma desgraça nunca vem só". A pessoa,
que procura o médium curador, é atormentada por múltiplas
contrariedades que dependem habitualmente de seu estado físico, de seu
meio, de seu gênero de vida, de seu caráter, de sua mentalidade.
É uma cadeia sem fim. Dir-se-ia que basta que certa malhazinha se solte
na trama das provações para que as seguintes se ponham a mover e a
entrar em ação.
É natural, desde então, que o doente procure livrar-se dessa aparente
fatalidade, e faça uma experiência. Com uma extrema facilidade, ele
desvenda a barafunda de sua vida cotidiana, fala de seus amores, de suas
animosidades, de suas dificuldades financeiras, da casa que deve
abandonar sob a pressão de um dono implacável, de um caso comercial
difícil, de um roubo de que foi vítima, de uma viagem que não ousa
empreender etc.
Quando a doença se instala em seu lar, eis a miséria, as discussões, as
dificuldades materiais que surgem de todas as partes. Dir-se-ia que o
enfermo arrasta atrás de si um círculo de desgraças.
Com a melhor boa-fé do mundo, ele garante a pureza de suas intenções.
É muitas vezes sincero consigo mesmo, mas quase sempre não se
apercebe de que ele é a sua própria vítima e se debate no turbilhão de seus
próprios pensamentos. Sua animosidade contra a má sorte lhe dá um
caráter difícil e corrompe as forças mais puras de seu ser, o que provoca
uma degenerescência de seu estado físico. Emagrece, sofre, lastima-se,
blasfema às vezes contra Deus que o tornou, julga ele, tão vulnerável à
dor. E, no entanto, ele viola, cada dia, as leis espirituais e se espanta de
ser vítima das sanções que dela decorrem.
O médium curador é um curador do corpo e da alma, reagindo um sobre
outro e vice-versa. É o bom samaritano descendo de sua montaria para dar
de beber à pobre vítima da sorte.
Seria então de mau tom encolher-se detrás de um non possumus
intangível sob o pretexto de que se não deve rebaixar e se enfileirar na
categoria das pitonisas de feira, das cartomantes ou de astrólogos em
76
Intelectuais, tende fé
Dissemos antes que o pensamento do curador age sobre os fluidos
psíquicos e lhes comunica, assim como às coisas magnetizadas (líquidos e
sólidos), as propriedades que ele lhes transmite.
Ao contrário o do enfermo, no momento do tratamento ou depois dele,
pode aniquilar o bom efeito que lhe é destinado pelo mesmo jogo das
forças das almas.
Se dizeis a um intelectual para ter fé, ele lhe responderá quase
invariavelmente, se for um pouco iniciado: "Mas eu tenho fé, pois creio
na realidade e na eficácia do magnetismo espiritual". Entretanto, a fé
comporta uma coisa essencial: a aceitação pura e simples de uma idéia,
sem discussão possível, sem exame preliminar.
Pela força de sua educação, o intelectual age no sentido contrário: ele
perquire, sonda, desmonta um brinquedo, um relógio, decompõe a
matéria, disseca o corpo humano para descobrir o Deux ex machina que
os anima e mantém-lhes as partes constituintes. Em uma palavra, ele
analisa e, se as suas capacidades lhe permitem, o reconstitui.
Mas o espírito de análise, que é um modo de atividade da inteligência, é
uma força de demolição, de desagregação, uma força dissolvente,
sobretudo quando ela se aplica aos fluidos psíquicos, à vida.
Quando o curador se encontra diante de um intelectual, este o interroga,
pede que lhe explique o imponderável, examina os efeitos da cura sobre o
seu próprio corpo, estuda as reações e, se uma melhora não for imediata,
ele duvida e se perde quase sempre nas mais absurdas conjecturas.
Mau grado seu, por hábito, ele analisa; em uma palavra: ele não tem fé.
Sem que duvide disso, o seu pensamento é um fermento esterilizante.
Mata a vida no que ela tem de mais sutil.
Na realidade, os fluidos que emite e os seus movimentos criam um
meio hostil aos do curador e a cura, tão esperada, não vem.
Que fazer diante de um doente tão pouco dócil, tão contrariante?
A resposta está no que vamos dizer: o intelectual deve, antes de tudo,
não querer compreender a todo o preço o que se passa. Sua incompetência
nesse terreno deveria aconselhá-lo a deixar a outros, cuja saúde é
equilibrada, o cuidado de buscar e às vezes de achar. Que ele rejeite a
78
priori as mil sugestões das pessoas ditas bem informadas, que guarde o
seu pensamento na calma e faça de sua melhora um quadro repousante.
Ele terá tudo a ganhar se entrar na residência do médium curador
pensando: o homem tem virtudes, potencialidades ainda desconhecidas da
Ciência. As últimas descobertas, a radioatividade dos corpos, abriram a
porta para um oceano de forças invisíveis e formidáveis. As forças
psíquicas fazem partes destas.
Dilema...
Então, depois de tudo, meu amigo, que pensais de meu estado?
- Penso, responde o médium curador, que, com um pouco de
paciência, vosso estado irá melhorando de dia para dia.
- Entretanto, replica o interlocutor, desejo saber se podeis realmente
curar-me. Se...
- Que quereis que vos responda? Se vos digo que o vosso estado
depende, em grande parte, de vós mesmo, isto vos dará uma sugestão
perniciosa, uma dúvida lastimável, um temor que agirá à revelia sobre o
vosso sistema nervoso e provocará um acréscimo de perturbação em
vosso organismo. Eu entravo, de certa forma, a cura que buscais e
trabalho contra vós mesmo.
Viestes, dizeis vós, para que eu vos tratasse... Então afastai de vosso
pensamento todo raciocínio que enfraqueça a vossa confiança, arejai o
vosso espírito, libertai-o dos termos médicos que mantêm a idéia de
doença. Lançai por cima da borda os gemidos inúteis, as imagens de
inquietação e de sofrimento. Renunciai uma vez por todas ao que vos
intranqüiliza, ao fanatismo, às paixões sensuais. Pensai bem, com beleza,
com bondade. Distrai-vos dedicando-vos em favor dos mais infelizes.
Mudai o quadro de vossas ocupações familiares e, sobretudo, esquecei-
vos de vós mesmo na ação altruística.
E agora elevai o vosso pensamento a Deus, Inteligência Infinita, grande
dispensador da vida. Ponde toda a vossa confiança na Providência,
dizendo a vós mesmo que a vossa saúde é, como o vosso caráter, a
resultante de vosso passado, de vossa imaginação, de vossa vontade, que
o vosso organismo, fortalecido pelos fluidos, pode estar em posição de
ultrapassar os obstáculos acumulados por um mau comportamento
durante os anos escoados.
79