CASOS ELEITORAIS CÉLEBRES (Volume VI) - O CASO DOS CALENDÁRIOS
CASOS ELEITORAIS CÉLEBRES (Volume VI) - O CASO DOS CALENDÁRIOS
CASOS ELEITORAIS CÉLEBRES (Volume VI) - O CASO DOS CALENDÁRIOS
VOLUME VI
1
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ISBN: 978-85-7320-097-3
2
Ao meu pai, Francisco Carneiro Bastos,
DEDICO.
3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.............................................................…. 06
PREFÁCIO........................................................................... 11
CAPÍTULO I
ANTECEDENTES................................................................. 16
O PACIFICADOR................................................................. 20
UM CÓDIGO DE ÉTICA PARA O SENADO........................... 30
O CONTEXTO HISTÓRICO................................................... 34
CAPÍTULO II – A AÇÃO
A GRÁFICA DO SENADO.................................................... 38
FELIZ NATAL, PARAIBANOS!............................................... 41
O IMPLACÁVEL PESSOA LINS!............................................ 46
CALENDÁRIOS INOCENTES!............................................... 61
CONSULTA AO TSE............................................................. 70
“SUMMUS JUS, SUMA INJURIA”........................................ 76
“CASSARAM UM PARAÍBA!”.............................................. 130
EMBARGOS........................................................................ 185
“A PARAHYBA É QUEM DIZ”............................................... 187
TAL COMO PILATOS........................................................... 208
SOLIDARIEDADE CORPORATIVA........................................ 225
CAPÍTULO III – A REAÇÃO
O CONGRESSO PEGA FOGO!............................................. 257
4
MOTIM PARLAMENTAR..................................................... 270
CAPÍTULO IV: A ANISTIA
“O PROJETO LUCENA”........................................................ 291
JUSTIÇA TARDIA, JUSTIÇA FALHA!..................................... 323
O “SUBSTITUTIVO PRISCO VIANA”.................................... 335
“ESFORÇO CONCENTRADO”............................................. 337
“SESSÃO RELÂMPAGO”...................................................... 396
“VAQUINHA” PARA LUCENA.............................................. 398
A OPINIÃO DOS JURISTAS.................................................. 400
FINALMENTE, A SANÇÃO................................................... 437
CAPÍTULO V
A AÇÃO RESCISÓRIA ELEITORAL........................................ 479
INCONSTITUCIONAL?......................................................... 495
CAPÍTULO VI
OUTROS CASUÍSMOS......................................................... 506
CAPÍTULO VII
DECODIFICANDO SAULO RAMOS...................................... 517
CAPÍTULO VIII
SUPREMA ANISTIA........................................................... 528
EPÍLOGO
“MALDITA CASSAÇÃO”....................................................... 544
POSFÁCIO........................................................................... 558
CRONOLOGIA..................................................................... 561
REFERÊNCIAS..................................................................... 564
CHARGES........................................................................... 579
5
APRESENTAÇÃO
6
Este livro é sobre esse caso. É um resgate profundo de
toda a repercussão gerada a partir do confronto entre os mais
altos poderes do Estado brasileiro à época e sobre as maiores
autoridades do Judiciário, Legislativo, Executivo, MPF e opinião
pública nacional. Pela primeira vez, uma obra do historiador
Renato César Carneiro vem sacolejar as escrivaninhas dos
arquivos brasileiros, e não só da Paraíba, para resgatar o dito,
o escrito e o bem entendido, desse que foi o maior
enfrentamento interpoderes que o Brasil já havia presenciado
em sua história recente.
9
de eleição, geralmente. Como Nação, não aceitamos mais isso.
Mas aconteceu. Scripat manent.
10
PREFÁCIO
15
ANTECEDENTES
16
Enquanto a maioria negava a prática, um parlamentar
admitiu que cerca de doze deputados haviam autorizado a
impressão de propaganda eleitoral na gráfica oficial, “mas
sempre fornecendo papel e tinta”, afirmou.
2
Jornal O NORTE, capa da edição de setembro de 1988.
17
justificou em seu parecer que “permitir a licença seria negar
toda a história do Poder Legislativo”. Pedro invocou um
precedente em que o mesmo órgão legislativo havia rejeitado
pedido semelhante, feito pelo então governador, Tarcísio
Burity, contra o próprio parlamentar.3
3
Jornal A UNIÃO, edição de 19 de dezembro de 1990.
18
repetia uma prática já consolidada e incorporada aos nossos
costumes políticos: a utilização de gráficas oficiais pelos
parlamentares, nas diversas Casas legislativas do país.
* * *
19
O PACIFICADOR
Humberto era um conciliador nato.
Mais do que a fama, era uma
qualidade real, inerente ao seu
caráter.
5
Em 1981, Humberto Lucena integrou a Delegação Brasileira na XXXV Sessão da
Assembleia Geral da ONU, na condição de observador parlamentar do Senado
Federal.
21
A implantação do bipartidarismo pelo Ato Institucional
n. 2, de 1965, durante o Governo Militar, praticamente
obrigou-o a filiar-se ao Movimento Democrático
Brasileiro/MDB.
7
Dos 72 senadores presentes, 69 votaram em Lucena e três votaram em branco.
8
Outros senadores presidiram o Congresso Nacional, mais de uma vez, a saber:
Petrônio Portella Nunes, Antônio Carlos Magalhães, José Sarney e Renan
Calheiros.
24
Humberto tinha um sonho: queria governar a Parahyba. Seria
o coroamento de sua carreira política. Por quatro vezes, o
“cavalo lhe passara selado”.
11
Consciente do grande desafio da política nacional, construído a partir da Constituição
Federal de 1946, de consolidar os partidos nacionais, Humberto Lucena construiu uma frase
lapidar: “Criar partidos sempre foi uma tarefa fácil, até fácil demais, entre nós. O difícil,
mesmo, é mantê-los, ao longo do tempo.” (In TEMAS EM FOCO. Brasília: Senado Federal,
1991, p. 14).
12
LUCENA, Humberto. TEMAS EM FOCO. Brasília: Senado Federal, 1991, p. 37.
13
GUEDES, Nonato. Um conciliador nato. In ARAÚJO, Fátima. HUMBERTO LUCENA –
O verbo e a liderança. João Pessoa: Ed. texto&arte, 1999, p. 9.
27
Humberto. Essa virtude era testada com frequência, todas as
vezes que convocado pelos companheiros de agremiação. Não
raro, atuava sempre na condição de verdadeiro “bombeiro”,
arbitrando vaidades e interesses, às vezes nem sempre
republicanos...
* * *
28
Foto: Humberto Lucena, no gabinete da presidência do Senado, que
presidiu por duas vezes consecutivas. Fonte: Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO,
edição de 1994.
29
UM CÓDIGO DE ÉTICA PARA O SENADO
14
Tivesse sido processado no Conselho de Ética, Humberto fatalmente seria
inocentado, haja vista que outros parlamentares, assim como o presidente do
Senado, fizeram uso indevido da Gráfica oficial durante suas campanhas eleitorais.
15
Jornal O GLOBO, edição de 16.06.2016.
32
Mas não foi fácil para o Sarney enfrentar a
paulistada.”16
* * *
16
MORENO, Jorge Bastos. A História de Mora – A Saga de Ulysses Guimarães.
Editora Rocco, p. 32.
33
O CONTEXTO HISTÓRICO
18
A referência é geográfica, por se encontrar em solo paraibano o ponto mais oriental das
Américas, o Cabo Branco.
35
Com o tempo, o “caso Humberto Lucena” entraria no rol
dos mais célebres julgamentos da Justiça Eleitoral.
* * *
36
CAPÍTULO 2
A AÇÃO
37
A GRÁFICA DO SENADO
38
Então, visando acabar com esse problema, o Senado,
para resguardar a sua própria autonomia, resolveu
ter um centro gráfico, que se iniciou pequeno, foi
modernizando e, lamentavelmente, hoje é acusado de
ser um órgão que faz publicações políticas… 19
* * *
20
Jornal O GLOBO, edição de 03.03.1989, p. 2.
40
FELIZ NATAL, PARAIBANOS!
Paraibanos,
42
a Paraíba, no Ano Novo de 1994.21
21
LUCENA, Humberto. TEMAS EM FOCO, Vol. III. Brasília: Ed. Senado Federal, 1995,
p. 171.
43
Foto: O polêmico calendário, que motivou a cassação do registro do
candidato, pelo TSE. (Fonte: Autos da Representação Eleitoral)
44
Parte inferior do calendário enviado por Humberto Lucena. (Fonte: Autos
da Representação Eleitoral)
45
O IMPLACÁVEL PESSOA LINS!
Alguns eleitores desinformados e mais apaixonados, viam
Antônio Carlos Pessoa Lins como um algoz dos políticos paraibanos
pois, em curto espaço de tempo, entre 1990 e 1994, levou às barras
do Tribunal Regional Eleitoral, três grandes líderes da política local.
24
A penúltima “Lei do Ano”. A última “Lei do Ano” foi a de nº 9.100, de 29.09.1995, que
regulou as eleições de 03 de outubro de 1996.
25
“Art. 59. A propaganda eleitoral somente é permitida após a escolha do candidato pelo
partido ou coligação em convenção.
1º Ao postulante à candidatura para cargo eletivo é permitida a realização, na
semana anterior à escolha pelo partido, de propaganda visando à indicação de seu nome.
48
8.713, que punia a prática de propaganda eleitoral fora de época
(antecipada). Além da pena de multa, o procurador regional
eleitoral requereu a declaração de inelegibilidade de Humberto
Lucena. A petição inicial da representação eleitoral tem o seguinte
teor:
50
consta do material a identificação que comumente é vista nos
impressos feitos em empresas particulares.
51
À petição inicial, o procurador regional eleitoral anexou dois
exemplares dos aludidos calendários.
26
Doutor em Ciência Política pela USP, atualmente Solon Benevides leciona a disciplina Direito
Constitucional na Universidade Federal da Parahyba.
52
Federal nas infrações penas comuns, ou “quando no polo passivo de
determinadas ações judiciais”.
(…)
3. É profundamente lamentável, que se confunda
calendários de mensagem a todos os cidadãos do
país, com o denominado uso do poder econômico,
principalmente, quando tais mensagens não
constituem um brinde eleitoral, mas uma cota gráfica
que legalmente dispõe cada Parlamentar no Senado
Federal, para se dirigir a sociedade nos finais de ano,
expressando uma palavra renovada de esperança no
futuro da nação.
54
corporis27 do Legislativo e que, reafirme-se mais uma
vez, não se produz material destinado à propaganda
eleitoral, onde então está o abuso de poder
econômico ou de autoridade? E desde quando
calendário é uso indevido dos meios de comunicação
sócia, como alude a Representação? A verdade, é que
a distribuição de tais calendários constitui um fato
respaldado em norma legal, caracterizando uma
conduta atípica em relação ao que dispõe o caput do
art. 22.
“...Por outro lado, não vislumbro como tal distribuição de cadernos possa
configurar desrespeito ao dinheiro do contribuinte, já que, ao que se depreende da
Representação, a distribuição de cadernos seria feita nas escolas públicas, onde estuda a
parcela mais carente da população.
57
surpreendentemente confirmado esse uso pelo
Representado em sua defesa – pelo Presidente
daquela Casa Legislativa, para impressão de
infindável quantidade de calendários com finalidade
eleitoreira, como a ninguém será de esperar-se
desconhecer tal finalidade. Seja pela enorme
fotografia do conhecido Senador, perfeitamente
dispensável não fosse o claro objeto de propagação
da imagem do futuro candidato, seja pela inscrição
não apenas predominante no cartaz, mas a única
visível a partir de poucos metros de distância:
'SENADOR HUMBERTO LUCENA 1994'. Seja finalmente
pela mensagem vista ao centro do impresso, de
notório conteúdo demagógico, voltada como sempre
'...para os mais pobres...', a repisar vezes sem conta a
desmoralizada bandeira de palanques de campanha
'...contra a miséria e a fome nos lares de milhões e
milhões de pessoas carentes...' Ou, ainda, pelo
...tempo de servir e não de servir-se...', preceito esse,
diga-se de passagem, que o Representado de logo
recusou-se a cumprir, como é de ver-se.
58
* * *
59
Solon Benevides, Advogado do PMDB, atuou no TRE em defesa de
Humberto Lucena. Fonte: Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de 02.12.
1994, p. 03.
60
CALENDÁRIOS INOCENTES!...
Durante sua tramitação, no TRE, a representação eleitoral
contra Humberto Lucena esteve longe do assédio dos meios de
comunicação do Estado. Talvez porque não havia nenhuma polêmica
jurídica em torno do tema, não merecendo, portanto, uma maior
atenção por parte dos juristas da província. O “caso dos calendários”
servia apenas para aumentar a fria estatística da letárgica máquina
judiciária eleitoral.
RELATÓRIO
62
corresponde à indisfarçável aceno de propaganda
política ilícita, além da agravante de ter sido remetido
aos destinatários através da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos à custa de franquia postal a
cargo dos cofres da Nação, num pretenso abuso de
poder de autoridade ou o uso indevido de veículos ou
meios de comunicação social.
63
É O RELATÓRIO.
* * *
68
Foto: O relator do “caso Lucena”, juiz Leôncio Teixeira Câmara. Fonte:
Jornal O NORTE, edição de 1994.
69
CONSULTA AO TSE
No Brasil, as leis eleitorais são objeto de frequentes
questionamentos no Poder Judiciário. A Lei nº 8.713, de 30.09.1993
- a penúltima “Lei do Ano”28 antes da edição da Lei 9.504, de 1997 –
havia sido alvo de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade. 29
28
Assim eram chamadas as Leis eleitorais antes da edição da Lei das Eleições (9.504, de 1997),
que veio com o caráter de ser “permanente”.
29
A Lei n. 8.713/1993, não apenas inovou no tocante às normas acerca da administração
financeira das campanhas eleitorais, como também estabeleceu que apenas poderiam lançar
candidatos à presidência da República (para as eleições de 1994), os partidos políticos que
tivessem obtido um mínimo de 5% dos votos apurados na eleição para deputado federal em
1990, distribuídos ao menos em um terço dos Estados, ou que tenham representantes na
Câmara dos Deputados que somem um mínimo de 3% da composição da casa. O STF julgou
inconstitucional a restrição, sob a alegação de violação ao princípio constitucional em defesa
das minorias (Ações Diretas de Inconstitucionalidade nºs 958 e 966, julgadas em 11.05.1994).
30
Com o advento da Lei das Eleições, a de n. 9.504, de 1997, a conduta passou a ser permitida.
31
Eis o teor da Consulta: A terceira indagação – 'quanto à propaganda eleitoral, o senador ou
deputado candidato que, durante o exercício do seu mandato, sempre expediu 'Boletins
70
determina o Código Eleitoral -, tratava de matéria que tinha certa
semelhança com o processo de Humberto Lucena.
Informativos', por conta de seu gabinete parlamentar, levando à sociedade de modo geral o
conhecimento de sua atuação parlamentar, pode continuar a fazê-lo no período da campanha
eleitoral, sem que isto configure propaganda ilícita ou ilegal?
71
diretamente, doação em dinheiro ou estimável em
dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer
espécie, procedente de órgão da administração
pública direta, ressalvado o fundo partidário, indireta
ou fundação instituída em virtude de lei ou mantida
com recursos provenientes do Poder Público'. (Grifei)
Tem mais.
72
A proibição em apreço encontra apoio na
Constituição, precisamente no princípio da igualdade,
que é inerente ao regime democrático e republicano.
A Constituição, por isso mesmo, preocupa-se,
sobremaneira, com o princípio, tanto que dele cuida,
por exemplo, em diversos dispositivos: art. 3º, III, art.
5º, caput, art. 5º, I, art. 150, II, art. 151, II, art. 7º,
XXX, XXXI, XXXII, XXXIV; art. 44, art. 170, VII. É que,
conforme falamos, o princípio da igualdade é inerente
ao regime democrático e à forma de governo
republicana. Tanto o legislador quanto o juiz estão
condicionados pelo princípio isonômico: o legislador
não pode fazer leis atentatórias ao princípio e o juiz,
na interpretação de qualquer ato normativo, terá
presente o princípio isonômico.
Daí, por outro lado, não ter o juiz outra opção senão
aquela de emprestar interpretação estrita ao
dispositivo legal. É que, de outro modo, estaria
contribuindo para o desequilíbrio na pugna eleitoral: o
candidato parlamentar, conforme falamos, teria, em
relação a outro candidato não parlamentar, situação
de privilégio, em detrimento do princípio
constitucional da igualdade.
73
Concluindo, Sr. Presidente, meu voto é no sentido de
dar resposta negativa à terceira indagação. Quer
dizer, o parlamentar não pode, no período da
campanha eleitoral, continuar a expedir 'Boletins
Informativos' por conta do Erário, divulgando a sua
atuação parlamentar. É que a prática mencionada,
durante a campanha eleitoral, configura propaganda
ilegal, dado que constitui doação proveniente do
Poder Público. E o Poder Público não pode fazer, direta
ou indiretamente, doação em dinheiro ou estimável
em dinheiro, inclusive através de publicidade de
qualquer espécie, a candidato ou a partido político.
É como voto.32
* * *
33
CTA - CONSULTA nº 14404/DF. Resolução nº 14.404 de 28/06/1994. Relator (a) Min. Carlos
Mário da Silva Velloso. Publicação: DJ - Diário de Justiça, Data 4/7/1994, Página 17845. RJTSE
- Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 6, Tomo 3, Página 349.
75
“SUMMUS JUS SUMA INJURIA”34
“Eu não era candidato ao Senado, mas candidato
ao governo da Paraíba” (Humberto Lucena)
78
de todos os parlamentares, no sentido da utilização
da cota gráfica que lhes é concedida por Resolução da
Mesa do Senado desde o ano de 1985, como está
provado nos autos.
82
apta a comprometer a normalidade das eleições, na
medida em que a liberdade de escolha do eleitor
possa a ser influenciada por veículo de propaganda
produzido de maneira ilícita.
35
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 10.06.1995, in “Senado veta candidato à
Procuradoria”.
84
exercido a função de relator do processo por mais de um mês), e o
ingresso do ex-ministro do TSE e do STF, Luiz Rafael Mayer, que veio
reforçar o bunker jurídico de Humberto Lucena.
85
menos de vinte dias antes de realização do pleito de 03 de outubro.
A assistência que lotava o plenário do TSE era bastante diversificada:
advogados, parlamentares e até servidores do gabinete do senador
paraibano.
36
LUCENA, Humberto. TEMAS EM FOCO. Brasília: 1991, p. 39/40.
86
O processo aberto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
contra o presidente do Senado, Humberto Lucena
(PMDB/PB), que usou a Gráfica do Senado em proveito
próprio, surpreendeu o senador. Segundo ele, a prática
de imprimir calendários e cadernos escolares com
propaganda pessoal de políticos sempre fez parte do
cotidiano da casa.
HUMBERTO LUCENA
Pródigo em favores e empregos
37
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 13.09.1994, p. A-5.
38
JORNAL DO BRASIL, edição de 13.09.1994, p. 8.
88
Às constantes críticas da Imprensa, Humberto Lucena
respondia resignado:
89
parente para o quadro permanente da Assembleia
Legislativa do seu Estado, da Câmara dos Deputados ou
do Senado.
90
Eminentes Magistrados, o relatório chama atenção
para um dado que o parecer não havia manifestado
importância. Trata-se da tempestividade ou não do
recurso. O parecer afirmou categoricamente e o fez
porque, às fls. 71 dos autos, consta a certidão de que a
decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia
28.07.94 e às fls. 72 há a certidão comprovando a
entrada do recurso em exame no dia 31.07.94 – 3 dias
após, portanto, tempestivamente.
91
inexistência de regra, mesmo da parte do Tribunal,
diante da inexistência de regra, mesmo que costumeira,
como tê-la por intimação. Trata-se, ao ver do Ministério
Público, de uma simples assinatura que o costume
tornou parte integrante dos acórdãos das Cortes
Regionais e da Corte Superior Eleitoral. Não vê o
Ministério Público razão para que tenha essa assinatura
como intimação. É que a intimação e o seu termo inicial
são de absoluta importância para a definição do prazo
recursal. Portanto, ela deve ter como referência um
acontecimento certo, preciso, incontroverso, e essa
assinatura não revela isso. No caso dos autos, não há
uma só certidão informando que, apesar de a decisão
ter sido tomada em 15 de junho de 1994, a assinatura
do respectivo acórdão somente se deu no dia 21.7; pelo
contrário, o acórdão está assinado também com a data
de 15 de junho de 1994. É certo, há informação do
Presidente do Tribunal, mas as intimações não se
compadecem com as informações. O que se exige são
certidões, documentação de que realmente o ato existiu
e foi praticado – não é o caso dos autos -, e a
informação naquela data, é a de que certamente se fez
com a mesma burocracia que se faz perante esta Corte:
o acórdão vem sobreposto aos autos, não encartado
nestes, e se lança a assinatura, como simples ato de
autenticação – assinatura como representante do
Ministério Público Eleitoral. Ora esse ato nunca foi,
nesta Corte nem nas Cortes Regionais, considerado ato
de intimação. Todos os recursos interpostos contra as
decisões dessa Corte tiveram como parâmetro a
publicação no Diário Oficial. Não obstante, o Ministério
Público, tanto pelo Código de Processo Civil, art. 236,
§2º, quanto a partir da Lei Complementar n. 75|93, que
regulamentou o Ministério Público da União, tem
direito a receber intimação pessoalmente nos autos, o
que quer dizer que a simples assinatura do acórdão não
92
corresponde a essa intimação, e também porque no
momento em que há uma intimação válida, seja a
parte, seja o Ministério Publico, há de poder dispor, de
examinar os autos sem restrições, e a assinatura que se
lança no acórdão não permite ao Ministério Público a
utilização dessa faculdade. Assinado, os autos são
remetidos ao setor Judiciário para providenciar a
publicação, quer dizer, os autos não estão à disposição
nem do Ministério Público e nem das partes. Mesmo
quando o prazo é comum e corre em cartório, o
processo está à disposição das partes para exame a
qualquer momento. Não é o que acontece quando se
lança a assinatura em acórdão do Tribunal Regional
Eleitoral ou dessa Corte. Daí por que o Ministério
Público questiona a Corte sobre a verdadeira função
dessa assinatura. Poderia ela ser interpretada como ato
de intimação? Há regra costumeira nesse sentido¿ Não.
A regra costumeira é no sentido de que se exige apenas
assinatura para se autenticar o acórdão; simples
autenticação como assina o Sr. Presidente e o Relator.
Não vale como intimação, tanto que reiteradamente os
recursos são interpostos a partir da publicação e
reiteradamente e examinados sem questionamentos.
Reitera que não há sequer regra costumeira que atribua
a essa cientificação a natureza de ato de intimação.
93
Por outro lado, lembrou o Ministério Público
precedentes desta Corte em que se admitiu calendários
menos sofisticados e de menor dimensão como
instrumento apto a realizar propaganda eleitoral. Não
se trata, portanto, de uma novidade que o Ministério
Público tenha trazido à Corte. Os precedentes
veiculados no parecer, são claros nesse sentido. Lembro
até que esta Corte considerou propaganda eleitoral
cartazes de eventos turísticos em que constava abaixo a
expressão: ‘Apoio Getúlio Boscadim’. Só essa menção foi
considerada por essa Corte elemento suficiente para
dar a natureza de propaganda eleitoral e ser admitida a
existência de abuso de poder econômico naquele caso.
Com relação à quantidade – 130.000 calendários – ao
ver do Ministério Público, calendários que se destinam a
ficar expostos e, portanto, com a aptidão de influir em
pessoas que o vejam, é um número absolutamente
razoável para produzir efeitos na propaganda eleitoral.
Lembro, também, que esta Corte tem exigido para o
reconhecimento, seja do abuso do poder econômico,
seja para a constatação de abuso de poder de
autoridade, um nexo de causalidade. Agora, esse nexo
de causalidade não pode ser visto como uma
comprovação matemática de que o desvio, seja no
poder econômico, seja no poder político, influi no
resultado eleitoral. Basta, ao ver do Ministério Público –
senão a Lei Complementar n. 64|90 não terá nenhuma
aplicação – que haja a potencialidade do instrumento
utilizado para influir no resultado eleitoral.
40
Não era comum o TSE apreciar um caso em que se discutia um conflito entre duas leis
especiais: de um lado, a Lei eleitoral; de outro, o Estatuto do Ministério Público da União – a
Lei Complementar n. 75, de 1993 -, que, num dos seus dispositivos, permitia que o membro
da instituição tivesse vistas do processo ‘nos próprios autos’.
99
O ministro Jesus Costa Lima proferiu um voto curto. Fez
questão de distinguir a matéria penal da eleitoral, cuja celeridade do
processo exige uma permanente fiscalização. E arrematou: “- No
momento em que o Procurador Eleitoral assina o acórdão, dele
toma ciência induvidosa”, concluiu Jesus.
100
crise entre os dois poderes da República certamente não teria
ocorrido. Quis o destino, todavia, que as coisas tomassem outro
rumo!
101
Congresso Nacional. Também ressai do conjunto
probatório, que a impressão teve início logo após,
ingressando no corrente ano, visto que a
representação foi formulada em 18.2.94.
102
de promoção de propaganda política – via calendários
– antes da época apropriada.
104
23. Desnecessário ressaltar que a aferição da
potencialidade dos calendários como veículo de
propaganda eleitoral há de ser feita objetivamente,
sem qualquer consideração a propósito do elemento
subjetivo que inspirou a sua confecção e posterior
distribuição. Por isso, é irrelevante, ao deslinde da
questão, a circunstância de que o recorrido
habitualmente solicitava a confecção de calendários
ao Centro Gráfico do Senado Federal. Nos períodos
não eleitorais a confecção e distribuição de tais
impressos, que se destinam a inequívoca promoção
pessoal, podem gerar responsabilidade que escapa à
competência dessa Corte.
105
declaração do Sr. Senador Júlio Campos, primeiro-
secretário do Senador Federal.' (fls. 68).
106
devendo qualquer material ser destinado à
propaganda eleitoral'.
107
Corte defrontou-se com caso assemelhado ao
presente no qual, apesar de ter sido julgada
improcedente a representação, o eminente Ministro
Sepúlveda Pertence fez observação que auxilia na
solução do recurso em causa:
108
pressupostos necessários ao entendimento sufragado
nessa Corte (Acórdão no recurso n. 5.106 – PR, in RE
328-644), a verificação do nexo de causalidade entre a
conduta abusiva e o comprometimento da lisura e da
normalidade das eleições.
112
Regional, relatando fatos, indicando provas, indícios
ou circunstâncias e pedir abertura de investigação
judicial para apurar o uso indevido, desvio ou abuso
do poder econômico ou do poder de autoridade ou
utilização indevida de veículos ou meios de
comunicação social em benefício de candidato ou de
partido político. A circunstância de a representação
poder desaguar na cassação do registro do candidato
(inciso XIV do citado artigo) revela que pouco importa
o resultado das eleições, ou seja, a influência que o
abuso haja exercido junto ao eleitorado.
114
que entender cabíveis. É como voto na espécie dos
autos.
41
O que queria o ministro? Que o senador paraibano enviasse calendários para pessoas dos
demais Estados da federação, sendo ele, no Senado, representante da Parahyba? O
argumento era razoável?
115
propaganda do candidato, colocando-o em posição
destacada e adornado, não apenas com os dizeres
comuns dos calendários, mas de expressões
apelativas e bem ao jeito da propaganda política.
Portanto, instrumento apto a fazer prosélitos, a incutir
na mente do homem simples a ideia de prestígio, de
importância e do destaque que desfruta o
parlamentar, que se apresenta pedindo votos para ser
reeleito.
42
A expressão inglesa significa precedente que, no Direito norte-americano, tem força para
obrigar casos futuros.
116
Admitir que a publicidade inerente à representação
derivada da eleição, custeada pelo dinheiro público,
seja utilizada para fins eleitorais, é admitir quebra de
um terceiro princípio constitucional, o da isonomia
legal dos candidatos, compreendido no 'todos são
iguais perante a lei', nos termos da Constituição (art.
5, caput).
117
É esta a responsabilidade que a normatividade impõe
ao Judiciário compartilhar, engajadamente, com os
outros poderes constituídos, e, também, e não menos
importante, com os poderes intermediários, na
terminologia de Montesquieu, na defesa da
democracia e de seu meio mais reconhecido de
legitimidade política e validade legal: a eleição pelo
voto direto e secreto em sufrágio universal revestido
de normalidade, legitimidade e lisura. A tanto há de
se entregar o Judiciário, menos por criação
constitucional, ou motivação ética, mas, agora, por
imposição normativa.
119
Nacional que, nessa condição, procurou desejar
indistintamente o povo brasileiro fé e esperança no
ano de 1994, na expectativa de uma saída para a
grave crise econômica e social que assola o nosso
país.
123
calendários após a escolha do Senador como
candidato à reeleição. O que houve, e aí há realmente
dados, foi a confecção em dezembro de 1993 e notícia
do início da distribuição ainda em dezembro. Procurei
ver nos autos, quanto ao próprio calendário, a
existência de algum sinal indicador da data em que
remetidos esses calendários e confesso a V. Exa. que a
respeito não encontrei sequer carimbo, uma notícia.
Somente se tem: 'franqueado, contrato, Senado
Federal...' e não temos outros dados. Segue-se a
etiqueta com o nome do destinatário do calendário.
Por isso é que não afirmei em meu voto que a
distribuição teria ocorrido após a escolha do Senador
como candidato à reeleição. Lamento apenas que o
caso envolva, justamente, o Presidente do Senado
Federal.
124
Concluiu Velloso:
125
RECURSO-PRAZO-ACÓRDÃO – ASSINATURA –
MINISTÉRIO PÚBLICO – EFEITO. Na dicção da ilustrada
maioria, em relação a qual guardo reservas, a
assinatura do acórdão pelo órgão do Ministério
Público não implica a respectiva intimação,
começando a correr o prazo recursal somente da
publicação no Diário da Justiça.
* * *
44
Jornal O GLOBO, edição de 16.09.1994, p. 3.
45
Idem.
128
Foto: Solidariedade a Humberto nas ruas da capital. Fonte: Jornal CORREIO
DA PARAÍBA, edição de 1994.
129
“CASSARAM UM PARAÍBA”
Saímos da ditadura militar e
caímos na ditadura do Judiciário.
(senador Antônio Mariz)
130
preside um Poder”.
133
Cartões de Natal e calendários são exatamente a
mesma coisa: uma saudação de final de ano,
desejando felicidade e prosperidade no Natal e no
Ano Novo. Esse Tribunal que nega a Humberto o
direito de ser candidato é o mesmo que até hoje não
julgou Collor, o mesmo que até hoje não julgou PC
Farias.
136
fazemos a razão de ser de nossa própria existência a
busca de uma democracia justa e humana, que tenha
por fundamento a justiça, a comunhão na
prosperidade e na riqueza, a dignidade de todos os
homens e de todas as mulheres, a liberdade como
expressão do exercício dos direitos de cidadania.
Esse é o manifesto.
47
Diário do Congresso Nacional, edição de 15.09.1994.
139
ANTÔNIO MARIZ - Todos sempre fizeram calendário e
cartão de Natal. Nunca foi errado. Por que só o
Lucena? Ou o Tribunal cassa todos ou então confessa
que errou. Cadê a dignidade do Sepúlveda e do
Galloti, que votou a favor do Collor?
140
do Legislativo. Quem julga senador é o Senado.
48
Jornal O GLOBO, edição de 15 de setembro de 1994, p. 3.
141
vez que a ação contra Mariz havia sido ajuizada no dia 06 de
setembro de 1994, no mesmo dia em que o jornal FOLHA DE SÃO
PAULO noticiava o parecer do vice-procurador eleitoral, Dr. Antônio
Fernando de Barros, favorável à cassação do registro de candidatura
de Humberto.
142
mandato até 1998 e não cogitava postular outro cargo eletivo.
49
Jornal O NORTE, edição de 10.11.1994, p. 5.
143
O homem público, o político, vive de seus feitos, da
sua boa fama, da sua atuação. Estar o ano todo,
silenciosamente, em 85 (oitenta e cinco) mil lares ou
ambientes, como neste caso, é antecipar seu nome,
sua atuação aos demais concorrentes, ferindo a
normalidade e legitimidade das eleições, bem
juridicamente tutelado na C.F., art. 14, §9º...
144
Foto: Os calendários de Mariz. Fonte: Autos da Ação de Investigação
Judicial Eleitoral nº 454/94, Classe VII.
145
Foto: Valor pago por Antônio Mariz para gozar dos benefícios da Lei de
anistia.
146
Os juízes do TRE, assim como fizeram no “caso Lucena”, também julgaram
improcedente a ação contra Antônio Mariz, também pelo uso da gráfica do
Senado. Foto: Da esquerda para a direita: des. Josias Pereira do
Nascimento; procurador Antônio Carlos Pessoa Lins; des. Rivando Bezerra
(presidente); Anésio da Cunha Moreno (funcionário da secretaria, de pé);
Corregedor ; juiz federal João Bosco Medeiros de Souza e o jurista Marcelo
Figueiredo Filho. Fonte: Jornal O NORTE, edição de 1994.
147
De volta ao processo de Humberto, o ministro Sepúlveda
Pertence, ainda no calor dos fatos, acusou o discurso de Mariz. Em
defesa do STF, fez publicar nota oficial na qual rebatia com
veemência as críticas assacadas na tribuna do Senado pelo
representante da Parahyba. Eis o teor do repto:
Corporativismo ignóbil
Mercado Financeiro
Rosa Cassa
Denúncia de Mariz baixa Bolsa. Dólar cai 0,23%
52
JORNAL DO BRASIL, edição de 16.09.1994, p. 10.
53
JORNAL DA PARAÍBA, edição de setembro de 1994.
154
caso dos calendários”,54 o JORNAL DO BRASIL fazia o relato do
processo contra Humberto, na Justiça Eleitoral:
Laços de Família
É injusto?
___________________
Gilberto Dimenstein
Com sua candidatura impugnada pelo Tribunal
Superior Eleitoral, o presidente do Senado, Humberto
Lucena, virou um bode expiatório? Resposta: virou. O
uso da máquina pública é generalizado dentro e fora
do Congresso: tão generalizado que se tornou um
costume aceito como ‘normal’. Mas ele deveria ou não
ser punido?
158
Escrevo ‘crime’ assim, entre aspas, porque o senador
não admite a falta. Pior aponta para colega que,
como ele, serviram-se da Gráfica do Senado.
159
A regra é muito bem aceita nos corredores do
Congresso. Note-se, a propósito, o que ocorreu no
julgamento dos integrantes da máfia do Orçamento.
160
O novo 'nego' da Paraíba
161
E é e não é. Pois, ao que consta, o primo do ex-
presidente tirou, da adega da Casa da Dinda, uma
garrafa de champagne para comemorar a suposta
cassação do senador que instituiu a CPI que o
escorraçou do poder. A primeira, ele já a havia
estourado quando foi cassado o mandato do
malogrado Ibsen Pinheiro. Mas esta também é outra
história.
ELEIÇÃO
Pecados impressos
O TSE cassa a candidatura de Lucena e investiga
senadores que fizeram campanha à custa do Erário
165
eleitoral e ordinária.
168
podem ser enquadrados como material eleitoral.
169
velho, corrigiu a declaração e nada mais surgiu contra
ele. Casado com a catarinense Ruth Maria Heusi,
Lucena tem quatro filhos. A mais conhecida é Lisle, ex-
namorada do presidente Itamar Franco. Lisle trabalha
na Câmara dos Deputados, no Gabinete do deputado
Ivandro Cunha Lima. Os outros três também
trabalham ou trabalharam no Congresso. Lucena
sempre gostou de empregar parentes no Congresso.
Além dos filhos, deu emprego a seis membros da
família em Brasília.56
56
Revista VEJA, edição n. 1.358, Ano 27, n. 38, de 21 de setembro de 1994, p. 35.
170
violência.
172
Lucena imputavam a cassação do senador paraibano também à
“visível campanha, eivada de preconceito e discriminação, movida
contra o paraibano presidente do Senado (por duas vezes em oito
anos), por parte de setores da imprensa do Sul.”
Paraibanos, obrigado
Senador Humberto Lucena*
173
E, mais, impõe-me um compromisso redobrado. O de
lutar com todas as minhas forças para que possa
continuar a servi-lo. E, assim, continuar servindo ao
Nordeste e ao Brasil.
174
nacional. Fundando o Movimento Democrático
Brasileiro e, junto com Pedroso Horta, o saudoso
Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros,
empatamos o crescimento do monstro repressivo.
Estivemos, cara a cara com os que queriam afundar
de vez o Congresso Nacional, transformado em
verdadeiro fantoche, para engodo da opinião pública
e justificar as colocações de que não se vivia sob o
jugo ditatorial.
CONFIO NA JUSTIÇA
177
o caso, por exemplo, da impugnação do registro de
minha candidatura pelo Subprocurador Eleitoral,
junto ao TRE-PB, em face da distribuição de
calendários de Ano-Novo, impressos na Gráfica do
Senado, que, rejeitada na Paraíba, foi acolhida pelo
Tribunal Superior Eleitoral, cuja decisão, porém, ainda
não transitou em julgado, por haver recorrido ao
próprio TSE e, depois, ao Supremo Tribunal Federal.
Tanto assim que permaneci candidato e fui reeleito
pelos paraibanos, por quase quinhentos mil votos.
178
calendários de 1994, não era sequer candidato à
reeleição ao Senado, pois fui lançado pelo PMDB da
Paraíba como eventual candidato ao Governo do
Estado.
* * *
58
LUCENA, Humberto. TEMAS EM FOCO. Vol. III. Brasília: Senado Federal, 1995, p. 261/262 e
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 15.11.1994, p. 1-3.
181
Foto: Matéria da Revista VEJA, sobre o caso dos calendários. Humberto
Lucena e sua filha, Irâe Lucena. Fonte: Revista VEJA, edição de 21.09.1994,
p. 35.
182
Foto: Humberto Lucena recebe solidariedade em sua residência. (Fonte:
Revista Veja, edição de setembro de 1994).
183
Na semana seguinte à cassação, a VEJA publicou o jocoso “Cordel da
Gráfica – Para ser impresso na gráfica do Senado”, do humorista Jô Soares.
(Fonte: Revista VEJA, edição n. 1.359, Ano 27, n. 39, de 28.09.1994) .
184
OS EMBARGOS
Antes do ministro Marco Aurélio formalizar o acórdão que
cassou o registro de candidatura de Humberto Lucena, os
advogados do senador protocolaram o recurso de Embargos de
Declaração. Queriam que os ministros do TSE enfocassem a
intimação pessoal de Antônio Carlos Pessoa Lins, a fim desta ser
considerada válida a partir do momento em que apôs a sua
assinatura no acórdão do TRE paraibano.
59
Reproduzo a Ementa dos Embargos de Declaração:
EMBARGOS DECLARATÓRIOS – APRECIAÇÃO - POSTURA DO MAGISTRADO. Na
apreciação dos embargos declaratórios o julgador deve atuar com grande espírito de
compreensão, atentando, assim, para a angústia dos jurisdicionados na defesa dos próprios
interesses. Exsurgindo qualquer dos vícios que os ensejam, cumpre o acolhimento da medida,
complementando-se a entrega da prestação jurisdicional.
OFÍCIO JUDICANTE - ATUAÇÃO DO PRESIDENTE DO COLEGIADO. A este compete
185
rejeitaram o recurso que tinha atingido a sua finalidade, que era
apenas manter o senador na disputa eleitoral e prequestionar a
matéria para ser levada ao STF.
* * *
Paraibanos, obrigado
Senador Humberto Lucena
_____________________________________________________
60
Antes de entrar em vigor a “Lei Ficha Limpa” (Lei Complementar n. 135/2010), o artigo 15 da
LC nº 64/90, a Lei de Inelegibilidades, tinha a seguinte redação: “Art. 15. Transitada em
julgado ou publicada a decisão proferida por órgão colegiado que declarar a inelegibilidade do
candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o
diploma, se já expedido”. Segundo a nova redação do referido dispositivo, após a Lei
Complementar n. 135/2010, basta a decisão de um órgão colegiado para considerar o
candidato inelegível.
187
Não imaginava que fosse tão calorosa e solidária a
reação do povo paraibano, com relação à injustiça
que contra mim foi feita pelo Tribunal Superior
Eleitoral. Dos amigos mais próximos, tanto da área
política, mesmo adversários, como daqueles com
quem privo de amizade mais direta, sabia que outro
não seria o comportamento, senão o de apoio. Mas,
confesso, a solidariedade generalizada do povo
paraibano me comoveu.
Vamos à vitória
Senador Humberto Lucena
______________________________
Amanha, o Brasil estará vivendo um dos mais
importantes momentos de sua história
contemporânea. As mais amplas eleições já havidas
no País, que só encontram paralelo nas que se
realizaram no ano de 1950, quando se concretizou a
volta de Getúlio Vargas ao cenário político da Nação,
como presidente eleito.
62
LUCENA, Humberto. TEMAS EM FOCO, Vol. III. Brasília: Senado Federal, 1995, p. 291/292.
193
Um dado chamou a atenção dos analistas políticos que
acompanham as eleições na Parahyba: o número de votos recebidos
pelos dois senadores eleitos pelo PMDB foi inferior ao de votos
nulos e brancos. O fenômeno é perfeitamente compreensível,
considerando as especificidades de cada um dos eleitos. Em 1993,
Ronaldo José da Cunha Lima havia atirado no seu desafeto político,
o ex-governador Tarcísio de Miranda Burity, enquanto que o uso da
Gráfica do Senado, reconhecido expressamente pela decisão do TSE,
repercutiu negativamente contra a candidatura de Humberto
Coutinho de Lucena. Somados, Ronaldo e Humberto tiveram
933.733 votos, enquanto que os votos brancos (905.051) e nulos
(405.058) totalizaram 1.310.109 votos.63
63
Fonte: Dados do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.
194
Novamente, obrigado*
Senador HUMBERTO LUCENA
*) Presidente do Senado. 64
64
LUCENA, Humberto. TEMAS EM FOCO, Vol. III. Brasília: Senado Federal, 1995, p. 293.
197
Foto: Propaganda eleitoral da eleição de 1994. (Fonte Internet)
198
Foto: Humberto Lucena, em pleno exercício do direito de sufrágio. Fonte:
Jornal O NORTE, edição de 1994.
199
Foto: Propaganda eleitoral (santinho) do candidato a senador pelo PFL,
Raimundo Lira, terceiro colocado no pleito de 1994. Fonte: Internet.
200
Raimundo Lira. (Fonte: Jornal CORREIO DA PARAÍBA – edição de 1994).
* * *
201
Humberto Lucena costumava lembrar que a sua maior
referência na política era José Américo de Almeida, que orientava
aos políticos mais jovens a não deixarem acusação sem resposta,
principalmente se o objetivo era desfigurar a imagem do homem
público.65 Inspirado em seu oráculo, Humberto fez publicar, na
edição do Jornal O GLOBO, de 29 de novembro de 1994, sua versão
sobre os fatos que levaram à cassação do seu registro, pelo TSE.
Disse:
Pela verdade
HUMBERTO LUCENA
65
LUCENA, Humberto. TEMAS EM FOCO, Vol. I. Brasília: Senado Federal, 1991, p. 39.
202
Mas, para evitar que a versão valha mais do que o
fato, a imprensa tem de recolher informações exatas,
visando a preservar a imagem das pessoas
porventuras envolvidas em um determinado
noticiário.
* * *
66
Jornal O GLOBO, edição de 29.11.1994, p. 6.
205
TAL COMO PILATOS...
Nada foi mais frustrante para os advogados de Humberto
Lucena que o parecer subscrito pelo vice-procurador eleitoral da
República. Antônio Fernando Barros Silva e Souza67 opinou pelo não
conhecimento do Recurso Extraordinário.
67
Anos depois, Antônio Fernando Barros Silva e Souza substituiria Aristides Junqueira na
Procuradoria-Geral da República e, nessa condição, ajuizaria a famosa ação penal n. 407,
popularizada como “O MENSALÃO”.
206
demonstrando o incômodo causado pelo protesto do senador
Antônio Mariz, na tribuna do Senado:
207
transferir ao Supremo Tribunal Federal a
responsabilidade da palavra derradeira, malgrado
cômodo, seria faltar ao dever primário da
equanimidade, à vista do vigor técnico com que tenho
procurado exercer, na presidência do TSE, o juízo
originário da admissibilidade dos recursos
extraordinários.
Indefiro o recurso.
208
Cuida-se de recurso extraordinário interposto por
Senador da República, cujo registro de candidatura ao
Senado Federal, nas eleições de 03.10.1994, foi
cassado pelo acórdão recorrido (fls. 212/272 e
300/318) do colendo Tribunal Superior Eleitoral, que
também o declarou inelegível 'para as eleições que
acontecerão nos três anos subsequentes à eleição do
corrente ano'.
210
Políticos e jornalistas da província haviam se deslocado à Brasília
para acompanhar o julgamento histórico, entre eles o vice-
governador eleito, José Targino Maranhão, o deputado estadual
recém-eleito, Inaldo Leitão, o advogado Irapuan Sobral Filho, o
deputado estadual Arthur Cunha Lima, o deputado federal José Luís
Clerot e o jornalista Nelson Coelho.68
213
ao seu eleitorado aos seus pares; sei do fato de que, a
exemplo de tantas figuras que ilustram a história da
política brasileira, temos aí um veterano que passou
pelas mais importantes funções públicas preservando-
se um homem de recursos modestos, cuja integridade
o impõe ao respeito coletivo. Assim, não por razões
pessoais, mas por aqueles sentimentos que creio que
o Senador Lucena inspira a um número incontável de
brasileiros, a decisão que se me impõe neste caso, ao
acompanhar o Ministro relator, é particularmente
difícil. Fico a indagar-me se terei enfrentado, na
contingência de cumprir meu dever de ofício, ao
tempo em que Procurador da República ou depois de
investido nesta cátedra, uma situação tão penosa.
Acredito que não, mas não tenho alternativa. O voto
do Ministro relator dá ao caso a única solução
possível, lembrando que não temos como, no recurso
extraordinário, desautorizar aquilo que, a respeito,
deliberou o TSE na trilha rigorosa das leis que o
Congresso editou sobre matéria eleitoral.
214
lhe foi dada a oportunidade de conhecer, pessoalmente, o inteiro
teor do acórdão. O autor do voto divergente citou ainda um
precedente do ministro Celso de Mello71, no qual admitia “a
alegação de afronta à coisa julgada, por ato jurisdicional, como
fundamento de Recurso Extraordinário por ofensa à Constituição”,
concluiu.
(…)
72
O mesmo que havia oferecido a denúncia contra o ex-presidente Fernando Collor de Melo,
em 1992.
218
do STF foi longo, 114 páginas. Não podia ser diferente. Em extenso
voto, as teses discutidas e os fundamentos jurídicos da polêmica
questão foram assim resumidos pelo relator:
219
eleitoral ilícita, que se realizou nas instâncias
ordinárias, à vista dos fatos, provas e da legislação
infraconstitucional. Inviabilidade de reapreciação da
matéria em recurso extraordinário. Constituição, art.
102, III, e Súmula 279. 4. Alegação de cerceamento de
defesa insuscetível de acolhimento. 5. Não se
caracteriza, na hipótese, a alegada interferência
indevida do Poder Judiciário em matéria 'interna
corporis' do Poder Legislativo. O acórdão não anula
sequer ato algum do Senado Federal referente à
organização e funcionamento da Gráfica, nem quanto
às denominadas quotas anuais utilizáveis pelos
parlamentares, de acordo com normas internas da
Casa Legislativa. No caso, o Tribunal Superior Eleitoral
julgou a ação do recorrente, ao distribuir ao
eleitorado calendários com fotografias, impressos na
Gráfica do Senado Federal, concluindo que ocorreu
abuso do poder de autoridade e propaganda vedada,
tendo como aplicável à hipótese o art. 22, XIV, da Lei
Complementar n. 64/90. A Justiça Eleitoral, no
exercício de sua competência, reconheceu, diante dos
fatos, que o recorrente descumpriu a lei específica.
Direitos políticos, legislação eleitoral. Normalidade e
legitimidade das eleições. Constituição, art. 14, §9º.
Não cabe, na espécie, a alegação de ofensa ao art. 2º,
da Constituição. 6. Recurso extraordinário não
conhecido.
220
OCTÁVIO GALLOTI – PRESIDENTE
NERI DA SILVEIRA – RELATOR
221
imaginava, naquele instante, olhando nos olhos de
alguns extraordinários peemedebistas, históricos e
autênticos, que trabalharam durante anos e anos pelo
engrandecimento do PMDB e, de uma hora para
outra, viram uma sentença judicial, vista por muitos
como duvidosa, postegar um direito surgido das urnas
de maneira tão insofismável. Avaliava a frustração
generalizada entre os adeptos de Humberto Lucena,
de Cabedelo a Cajazeiras.73
73
Idem. Registra ainda Nelson Coelho que, ao dirigir-se à residência de Humberto Lucena,
após o julgamento do STF, na companhia do advogado Irapuan Sobral Filho e o recém-eleito
deputado estadual, Inaldo Leitão, este, inconformado com a decisão, afirmou revoltado: Este
Supremo Tribunal Federal não aguenta cinco minutos de CPI. Ah, se eu fosse Deputado
Federal! Cinco anos depois, o Senado criaria a Comissão Parlamentar de Inquérito n. 118,
visando apurar denúncias de irregularidades praticadas por integrantes de tribunais
superiores, tribunais regionais (dentre estes, o Tribunal Regional do Trabalho da Paraíba, pela
acusação de “emprego irregular de recursos públicos, superfaturamento, nepotismo e outras
ilegalidades) e tribunais de justiça. O STF ficaria de fora da CPI.
74
Expressão latina frequentemente citada como argumento para o moderno dogma do Vatica-
no da infalibilidade do Papa. A origem da expressão advém de um dos Sermões de Santo
Agostinho e indica a autoridade final da Sé Apostólica. A paráfrase é aplicada ao STF, como úl-
tima instância do Poder Judiciário, indica que, após o seu pronunciamento, a causa dá-se por
encerrada.
222
* * *
223
SOLIDARIEDADE CORPORATIVA
Durante o julgamento no STF, a cada cinco minutos, Lucena
recebia telefonemas de assessores que acompanhavam a sessão. No
final da tarde, quando o placar já acusava dois votos desfavoráveis
ao senador, alguns paraibanos que estavam no plenário ficaram
desanimados com a votação e decidiram ir visitar Humberto.
Temiam que ele entrasse em depressão! Àquela altura dos
acontecimentos, Lucena já começava a receber em sua residência, a
visita dos amigos e companheiros de partido. O clima era de
surpresa e de decepção!!
40 anos cassados
227
Decisão do Supremo não se discute. Se lamenta.79
Os calendários de Lucena
79
ALMEIDA, Agnaldo. 40 anos cassados. Jornal O NORTE, edição de 01.12.1994, p. 8.
228
parte de figuras públicas, costumeiramente
acabavam, no país, envoltas num manto de
impunidade.
229
para ficar.80
Os solidários
80
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 02.12.1994, in Os calendários de Lucena.
230
Mas os senadores excitados não se limitam à
deliberada confusão entre o senador Lucena e o
candidato Lucena. Escamoteiam que o candidato foi
julgado segundo a Lei Eleitoral que estes mesmos
senadores aprovaram em 93. Lei destinada à
aplicação pelo Judiciário, sem que isso represente
interferência de um poder no outro. O candidato
eleito Humberto Lucena foi julgado, portanto,
segundo as infrações e penas deliberadas pela
Câmara e pelo Senado. A improcedência da reação
dos senadores não equivale, no entanto, a considerar
correto o comportamento da Justiça Eleitoral.
Roseana Sarney, Alexandre Costa, Edson Lobão, Ney
Maranhão e outros beneficiaram-se,
comprovadamente, da mesma infração que condenou
Lucena. Continuam todos portadores dos futuros
mandatos obtidos nas últimas eleições. A anulação da
eleição de Lucena não torna mais apropriada a
palavra justiça no nome da Justiça Eleitoral.81
Um Caso Exemplar
NOTA À IMPRENSA
83
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 03.12.1994, in “PMDB e PFL já disputam vaga de
Lucena.
234
aspectos jurídicos da matéria, para continuarmos a
demanda judicial.
O respeito e a discordância
Senador Humberto Lucena (*)
239
hipóteses, será indireta.
242
Antes que a palpitaria cometa outro engano, causado
por informações erradas de meu amigo Josias de
Souza, devo deixar registrado que não fui advogado
de Lucena neste caso.
86
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 7 de dezembro de 1994, p. 1-3.
87
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 01.12.1994, p. 1-8.
243
O perigo da imprensa é exatamente o poder de
manipulação que ela tem sobre a opinião pública.
Mesmo assim, prefiro pensar que os leitores mais
conscientes não se deixam manipular tão facilmente.
245
Outro importante dado é que o senador Humberto
lucena não utilizou 30% de sua quota (a de impressos
e a de franquia pessoal) como também não fez
propaganda eleitoral.
O calendário
Josias de Souza
246
Humberto Lucena deve ser um bom chefe de família.
Aí estão a comprovar os depoimentos de sua filha,
Lisle, incansável defensora do pai.
88
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 01.12.1994, p. 1-2.
89
JORNAL DA PARAÍBA, edição de 15.09.1994, p. 1.
248
o empresário Raimundo Lira, terceiro colocado no pleito com
381.186 votos.
90
Indagado pelo jornalista Nelson Coelho, sobre as providências que o partido estaria
tomando em defesa do presidente do Senado, o presidente nacional do PMDB, teria afirmado:
Eu vou lutar para preservar o mandato de Lucena que pertence ao povo paraibano. Agora, eu
não posso, diante de tanta gente, colocar como prioritário para o PMDB este problema que é
muito mais de natureza jurídica que política, além do seu caráter regional. (in COELHO,
Nelson, Ob. Cit., p. 245).
249
permanente em defesa do interesse público e da
democracia, particularmente, quando muitos
silenciavam, constitui o maior atestado para que se
faça digno do respeito da sociedade brasileira.
91
Eis a parte da entrevista publicada no Jornal Folha de São Paulo, edição de 01.12.1994, p. 1-
8:
“Da Agência Folha, em João Pessoa-PB
O senador Raimundo Lira (PFL-PB), 50, disse ontem à noite à Agência Folha, de sua
casa em Brasília, que a decisão de manter a cassação de Lucena foi justa.
Raimundo Lira – Achei uma decisão justa, porque dez dias antes das eleições de
outubro eu estava 11 pontos na frente de Lucena, quando ele foi cassado pelo TSE e usou o
250
dada ao Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, atribuiu sua derrota nas
urnas, ao uso, por Humberto Lucena, dos famosos calendários
confeccionados na gráfica oficial que, segundo ele, serviram de peça
de marketing político-eleitoral suficiente para desequilibrar o pleito
em favor do presidente do Senado, dando-lhe a diferença de 31 mil
votos.
Lira – O Supremo tomou uma decisão correta porque a lei tem que ser igual para
todos. A lei prevê que o terceiro candidato mais votado assuma. Eu vou assumir.
Lira – Eu mandei fazer 300 mil cadernos em 1993 na gráfica do Senado. Quando
chegou ao Congresso o projeto da nova lei eleitoral, por precaução, mandei armazenar os
cadernos na própria gráfica. Não os usei em campanha. Não temo nada em relação à Justiça.
(Adelson Barbosa)
92
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 01.12.1994, p. 1-8.
251
Naquele fim de ano de 1994, os funcionários do Centro
Gráfico do Senado – CEGRAF – tiveram menos trabalho do que em
anos anteriores. O motivo? O efeito Lucena. A maioria dos
parlamentares preferiu encomendar cartões de Natal a empresas
particulares em vez de mandar imprimi-los no Cegraf: “Estamos nos
limitando a responder as mensagens recebidas”, informou um
assessor do senador José Sarney, enquanto o senador Jarbas
Passarinho mandou comprar 300 cartões para enviar aos amigos. O
senador Hugo Napoleão (PFL/Piauí), encomendou 500 cartões a
uma gráfica particular: “O momento recomenda prudência. O risco
de críticas é maior do que o benefício”, justificou um assessor. Os
parlamentares não dispensaram a franquia postal para enviar as
mensagens de fim de ano.
* * *
252
Foto: O Ministro Sepúlveda Pertence acompanha, circunspecto, o
voto do relator Néri da Silveira, que não conhece do Recurso
Extraordinário interposto pelos advogados do senador Humberto
Lucena. (Fonte: Jornal O NORTE, edição de 1994).
253
CAPÍTULO 3
A REAÇÃO
254
O CONGRESSO PEGA FOGO!
“ - Um castigo muito grande para um pecado
pequeno”
(Senador Alfredo Campos).
96
Jornal TRIBUNA DA IMPRENSA, edição de 1994.
97
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, Seção II, de 15.09.1994, p. 5206.
98
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 1994.
258
Lucena em 1º de fevereiro.99
260
deter-se na encruzilhada a que chegou, compreender
que os tempos mudaram e devolver o dinheiro
tomado do contribuinte para custear os seus
calendários de propaganda – algo em torno de R$ 18
mil apenas em material. Importa mais saber da
reposição do dinheiro dos calendários do que da
devolução das doações das empreiteiras ao PT. O dos
calendários é dinheiro público. O do PT é privado.
261
Cenas de fisiologia explícita
Clóvis Rossi
262
senadores, não dispõem de idêntica regalia.
263
Mais tarde, o Senado tentou em vão gerar clima de
tensão institucional, mas a insuficiência de número –
mal congênito desta representação que chega ao fim
consagrada como a pior da história brasileira –
reduziu o protesto a uma verbiagem que misturou
jactância de cangaço com tintura de Barbacena no
tempo do bangue-bangue. Conversa fiada não tem
força para gerar a crise entre Judiciário e Legislativo,
como se apressaram a vaticinar os repassadores de
recados e alguns políticos, entre os quais muitos que
não se reelegeram.
102
JORNAL DO BRASIL, edição de 03/12/1994, p. 10.
103
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 02.12.1994, p. 1-9.
266
mandato de Humberto Lucena. Era preciso encontrar um meio que
obrigasse o Supremo Tribunal Federal a se manifestar sobre o mérito
do caso.
* * *
104
Jornal O GLOBO, edição de 02.12.1994, p. 3.
267
MOTIM PARLAMENTAR
Nós não vamos votar enquanto a Câmara não
tratar do senador Lucena” Senador Alexandre
Costa)
programa de meia-noite, colocou uma tartaruga em cima de sua mesa, numa alusão à
operação deflagrada pelos senadores, em defesa do mandato do presidente do Senado.
106 Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de 1994.
269
Como todos sabem, tivemos a preocupação de tornar
público, assim que o Supremo Tribunal Federal decidiu
não julgar o mérito da questão, mantendo a decisão
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a nós desfavorável,
a posição de respeito à mais alta Corte de Justiça do
país, ao mesmo tempo em que anunciamos a nossa
completa discordância quanto à sua decisão.
273
O senador Mansueto de Lavor criticou a falta de definição
de regras claras acerca da conduta dos detentores de cargos
eletivos, durante o processo eleitoral. Para ele, urgia uma Lei
permanente, visando regular as eleições:
É proibido condenar
Josias de Souza
107
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 29.09.1994.
275
Sob o argumento de que Humberto Lucena não pode
ser cassado por ter mandato imprimir calendários na
Gráfica do Senado, o Congresso prepara-se para
perdoá-lo.
278
E concluiu seu emocionado discurso:
110
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 14.12.1994, p. 8973.
111
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 07.12.1994, p. 8116.
279
pronunciamento:
O respeito e a discordância
Senador Humberto Lucena*
115
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 08.12.1994, p. 8385.
285
sério e íntegro está despertando uma paixão em todos
nós. No entanto, acredito que em relação a esse
projeto de anistia existe um grupo muito grande que
quer se esconder atrás de um homem como o Senador
Humberto Lucena. E uma grande parte de nós está
aceitando que, tal como o Projeto do Senador
Eduardo Suplicy, o Senador Humberto Lucena seja um
boi de piranha nesse Projeto de anistia, que seja
apenas o estandarte do bloco, atrás do qual, tocando
a caixa e batendo o tambor, venha muita gente...
* * *
118
Um dos mitos gregos. Segundo a narrativa do poeta grego, Hesíodo, a chegada da primeira
mulher à Terra trouxe também a origem de todas as tragédias humanas. Pandora foi a
primeira mulher criada por Hefesto sob as ordens de Zeus. De acordo com Hesíodo, o titã
Prometeu presenteou os homens com o fogo para que dominassem a natureza. Zeus, o chefe
dos deuses do Olimpo, que havia proibido a entrega desse dom à humanidade, arquitetou sua
vingança criando Pandora, a primeira mulher. Antes de enviá-la à Terra, entregou-lhe uma
caixa, recomendando que ela jamais fosse aberta pois dentro dela os deuses haviam colocado
um arsenal de desgraças para o homem, como a discórdia, a guerra e todas as doenças do
corpo e da mente mais um único dom: a esperança. Vencida pela curiosidade, Pandora
acabou abrindo a caixa liberando todos os males no mundo, mas a fechou antes que a
esperança pudesse sair. Essa metáfora foi a maneira encontrada pelos gregos para
representar, num enredo de fácil compreensão, conceitos relacionados à natureza feminina,
como a beleza, a sensualidade e o poder de dissimulação e de destruição.
288
CAPÍTULO 4
A ANISTIA
289
O PROJETO LUCENA”
O Senado pode tudo. (senador Júlio
Campos).
290
Sete meses depois, era Humberto Lucena quem precisava
de uma Lei de anistia. Reeleito para um novo mandato no Senado,
seu registro estava cassado pelo TSE. Havia chegado o momento de
Sarney retribuir. O apoio do ex-presidente da República seria
fundamental para a aprovação da “Lei Humberto Lucena”. A
expressão, usada pelo senador baiano Jutahy Magalhães, era a que
melhor traduzia o conteúdo da Lei que livraria parlamentares que
fizeram uso da Gráfica do Senado, com fins eleitorais.
Marcelo Fontes
Um supermercado de ofertas
294
Para atingirmos este fim democrático, basta que os
deputados não mais confundam 'res publica' com
'cosa nosta'.122
122
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 07.12.1994.
295
Lei nº 8.713, de 30-9-93, relacionados à impressão de
publicações e sua distribuição, nos limites das cotas
estabelecidas em cada uma das Casas do Congresso
Nacional, arquivando-se os respectivos processos e
restabelecendo-se todos os direitos por eles
alcançados.
Justificação
299
Boletim Informativo: utilização. Propaganda Eleitoral:
caracterização.
302
Assim justificamos a apresentação deste projeto,
registrando que, no atual sistema constitucional, a lei
de anistia envolve a manifestação de dois Poderes,
posto que está sujeita à sanção do Presidente da
República. Aprovado o presente projeto e sancionado
pelo Executivo, o Pais voltará à normalidade da
harmonia entre os Poderes, ficando registrado, na
atenção de todos, que os erros do Judiciário não são
absolutos e irremediáveis. O Congresso Nacional
sempre tem meios para corrigi-los prontamente e, se
necessário, severamente.
123
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 07.12.1994, p. 8121/8122.
303
alcançados.’, não foram apresentadas emendas.
É o relatório.
III – Do Mérito
304
Senador HUMBERTO LUCENA, e o consequente risco
de tensões entre os Poderes Legislativo e Judiciário.
305
cometeram crimes previstos na atual legislação
eleitoral.
308
expiatórios! Devemos assumir! Deveríamos ter
corrigido muito antes essa situação esdrúxula,
insuperável até, criada por uma decisão, a nosso ver,
equivocada, do TSE. Tínhamos remédio a tempo para
prevenir a situação; agora temos que remediar. É
obrigação nossa! Temos que ter coragem perante a
Nação! Não devemos ficar aqui jogando para a
plateia, como alguns estão querendo jogar! Isso é
injusto! Devemos assumir!
309
Mas teremos durante a campanha, está certo. Eu sei
onde V. Exa. vai chegar, mas quero dizer que defendo
que isso é permitido, mesmo no período de campanha
eleitoral, a não ser que a Constituição ordenasse o
nosso afastamento do cargo. Mas V. Exa. me desculpe
por ter interrompido o seu aparte.
124
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 06.12.1994.
310
O Projeto de Lei foi aprovado sem dificuldades no Senado.
Nos jornais, Humberto Lucena emitiu a sua opinião:
NADA A COMEMORAR
311
reformou a decisão do Tribunal Regional Eleitoral, o
qual, mais próximo dos fatos e conhecedor da
realidade política da Paraíba, já me absolvera. Pois,
como se sabe, admitido o recurso ao Supremo
Tribunal Federal, esta alta Corte do País não pôde
reapreciar a matéria, em face das restrições impostas
pelas regras técnicas ao recurso extraordinário.
Situação que causou vivo constrangimento naquele
Augusto Tribunal, como o que foi expresso no voto do
Ministro Francisco Resek, que registrou o erro da
decisão do TSE, ao mesmo tempo em que lamentava a
impossibilidade de correção pelo STF.
314
Meses atrás, funcionários públicos perderam a causa
de uma greve porque o Judiciário lhe deferiu a pecha
de ilegal. E ilegal estava porque nosso parlamento
não teve tempo de regulamentar o texto
constitucional pertinente. Funcionários públicos, sem
direito de greve, têm meia cidadania, porque o
Congresso não tem tempo para isso.
Rápidos na cumplicidade
Senadores dão anistia para salvar Lucena
316
passado. A lei do Senado, que precisa ainda de
aprovação da Câmara dos Deputados e da sanção do
presidente Itamar Franco, passa por cima da sentença
do TSE e, com o maior descaramento, devolve o
mandato ao senador.
127
A expressão usada pelo senador Ney Suassuna se referia não apenas a adesivos,
mas a um artigo publicado no Jornal CORREIO DA PARAÍBA, intitulado “Cassaram o
meu direito de votar”, de autoria do professor da UFPB e advogado, José Baptista
de Mello Neto.
319
para que os líderes ouvissem seus liderados. O PT decidiu obstruir o
Projeto e se retirar para ameaçar o quorum. PDT e PL também
votariam contra. Os três partidos somavam 87 deputados. Para que
o Projeto de anistia fosse votado em regime de urgência o PMDB
precisava do apoio de 252 deputados, maioria absoluta. Com a
segunda maior bancada da Câmara, o PFL era o fiel da balança.
Desanimados com a possibilidade de não reunir pelo menos 300
deputados em plenário e considerando ainda as resistências no
próprio partido de Humberto Lucena, o PMDB, acerca do
Substitutivo Prisco Viana, a apreciação do Projeto foi adiada para o
início do ano de 1995: “Vamos ter a posse do presidente da
República e a eleição da mesa. Vai ser mais fácil”, avaliou o líder do
PMDB na Câmara, deputado Tarcísio Delgado.
* * *
320
Foto: Relação de senadores enrolados com a gráfica do Senado. Fonte:
Jornal O Estadão.
321
JUSTIÇA TARDIA, JUSTIÇA FALHA!
O Supremo Tribunal Federal levava dois a três meses para
publicar as suas decisões. A previsão era que o acórdão só seria
publicado cinco dias depois de Lucena ser empossado no novo
mandato, em 1º de fevereiro.
322
A sessão de diplomação ocorreu no dia 15 de dezembro de
1994, no salão do Tribunal do Juri, localizado no Forum da capital do
Estado, que estava lotado. A cerimônia – presidida pelo
desembargador Rivando Bezerra Cavalcanti -, contou com a
presença de quase todos os candidatos eleitos e seus familiares,
diversas autoridades civis e militares, e de correligionários e
simpatizantes em geral. Ausente, Humberto foi representado pelo
irmão, o engenheiro Haroldo Lucena, que apresentou uma
procuração e foi bastante aplaudido.
323
os 81 senadores para votar o orçamento da União de 1995. Além do
salário extra, os parlamentares queriam aprovar o Projeto de Lei que
evitasse o constrangimento de Humberto Lucena ser desalojado do
seu gabinete e da presidência do Senado. O JORNAL DO BRASIL
acusou a manobra, através de dois artigos. Mas, no primeiro,
intitulado “A Última impressão”, sequer sabia o nome do Palácio do
Governo da Paraíba”:
A Última impressão
325
para a cola do que para a revisão de provas.128
O Ardil do Atraso
128
JORNAL DO BRASIL, edição de 20 de dezembro de 1994, p. 10.
326
O Brasil pode não ser um país ético. Mas é um país
muito apegado à formalidade legal. As péssimas
lições extraídas deste episódio, seu caráter
negativamente exemplar, são neutralizadas por
artifícios e engenharias jurídicas casuísticas que o
beatificam. O importante não é a petulante tentativa
de banalizar o abuso, de reafirmar o direito ao uso
pessoal da coisa pública e de inocentar por
antecipação a fraude. É a conformidade à lei. É fazer
com que o crime óbvio não seja enquadrável.
129
JORNAL DO BRASIL, edição de 12.12.1994, p. 10.
328
diplomação do senador Humberto Lucena, um outro
TRE, o de Pernambuco, suspende por três os direitos
políticos do senador Ney Maranhão, também acusado
de uso indevido da gráfica do Senado. Diante deste
vaivém, do sobe e desce sinistro dos políticos que se
apropriam do bem público e depois mudam as leis
para se enquadrar numa legalidade feita sob medida
para eles, a opinião pública se sente estarrecida com a
lama jogada no ventilador.
329
Congresso Nacional, artigo 48, seção II, item VIII, onde
está escrito: 'Concessão de anistia'. Sendo, portanto,
conceder anistia atribuição do Congresso, conceda-se
sem pestanejar, sem escrúpulo, anistia ao
personagem dos calendários. Nos tratados de direito
se lê que anistia é instrumento concedido para um
evidente fim político e social. Tomada em seu sentido
amplo, a finalidade da anistia não é propriamente
favorecer o indivíduo, é antes apaziguar a sociedade.
A Lei Lucena inverte tudo. Só favorece o indivíduo, não
tem finalidade política ou social, não contribuir para
apaziguar a sociedade, e, acima de tudo, no seu
propósito oportunístico, lança sobre a sociedade o
manto da falta de ética.
330
A falta de espírito público dos signatários da Lei
Lucena é prata da casa. A corrupção é congênita. E a
impunidade também. A opinião pública do país,
menos a da Paraíba, que lhe deu mais de três vezes
em votos o que mandou imprimir em calendários,
olha para a diplomação do senador Lucena com
espanto e horror. Sua permanência na berlinda é uma
demonstração de que, a continuar assim, os
problemas brasileiros não mudarão nunca, nem se
resolverão. O Brasil que tem a cara dos calendários
está condenado à mesmice, à eterna frustração das
expectativas.130
* * *
130
JORNAL DO BRASIL, edição de 16.12.1994, p. 10.
331
Diploma do senador Humberto Lucena. Fonte: Anais do Congresso
Nacional, sessão de 02.02.1995.
O mandato de Lucena
333
preservado da cassação imposta pelo TSE pelos
deputados que se reunirão, em esforço concentrado,
de terça a quinta-feira da próxima semana.
* * *
131
Jornal O GLOBO, edição de 13.01.1995, p. 4.
335
“ESFORÇO CONCENTRADO”
1994 foi considerado um “ano perdido” para o Congresso
Nacional. As atividades legislativas ordinárias da Casa foram
reduzidas aos debates sobre a revisão constitucional, às cassações
de deputados envolvidos na “CPI do Orçamento” e à campanha
eleitoral. Desde julho, as sessões da Câmara, do Senado e do
Congresso estavam suspensas para que não “atrapalhassem” os
parlamentares, que estavam à cata de votos para a reeleição.
Depois das decisões do TSE e do STF, a coisa mudou! Mais ainda
quando o Projeto de Lei de anistia começou a tramitar na Câmara
dos Deputados.
336
MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, reunido
nesta data, pela unanimidade dos seus membros,
CONSIDERANDO a necessidade de preservação da
soberania popular na qual repousam os mandatos
parlamentares como condição para que seja
respeitada a soberania entre os poderes da República;
RESOLVE:
337
Foto: Humberto é ovacionado pela cúpula do PMDB. Fonte: Jornal
CORREIO DA PARAÍBA, edição de 10.12.1994, p. 3.
338
A primeira batalha na Câmara dos Deputados foi para o
“Projeto Lucena” tramitar em regime de “urgência urgentíssima”. O
requerimento foi apreciado no dia 18 de dezembro de 1994, em
sessão conjunta com o Senado. Na pauta do Congresso Nacional,
constavam importantes matérias, três delas com pedidos de votação
preferencial: a anistia aos parlamentares, o novo valor do salário-
mínimo para o ano de 1995 e uma pensão para o ex-presidente
Itamar Franco. O Projeto de Anistia teria que enfrentar três
votações. A primeira - que precisava apenas de maioria simples -,
decidiria se ele passaria à frente dos demais. A segunda era mais
difícil, pois exigia maioria absoluta correspondente a 252 votos e
definiria se o Projeto tramitaria em regime de “urgência
urgentíssima”. A última votação dizia respeito à questão de mérito,
para qual bastaria uma maioria simples. 132 Estrategicamente, o
“Projeto Lucena” antecederia as demais matérias e se tornaria a
principal moeda de troca no Congresso Nacional!
132
JORNAL DO BRASIL, edição de 1995.
339
Presidente e Vice-Presidente da República, apesar de
ter sobre sua cabeça uma espada de Dâmocles, que
poderia acabar com sua brilhante carreira na política
nacional.
133
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, Seção I, edição de 19.01.1995, p. 956.
340
A deputada do PPR do Rio de Janeiro, Sandra Cavalcanti, que se
despedia do mandato, foi a primeira a defender o Projeto de Anistia:
341
perder o seu último atributo, a altivez e a
independência diante de ato de prepotência e de
injustiça.
134
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19 de janeiro de 1995, p.
1000/1001.
342
Estão querendo, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
criar um conflito entre o Poder Judiciário e o Poder
Legislativo. Não existia a candidatura Humberto
Lucena. Como tinha sido cassado o registro dessa
candidatura não poderia disputar S. Exa. as eleições.
O que houve é que o Senador, cumprindo o que existe
neste País, a indústria da liminar, conseguiu uma
liminar que lhe deu direito a concorrer e que depois foi
cassada. Essa é a verdade dos fatos, e é isso que deve
ser dito neste plenário.
135
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19 de janeiro de 1995, p. 1001.
344
comigo a respeito dessa matéria. Por que a cassação
do mandato do Senador Humberto Lucena é contrária
ao espírito constitucional, ao espírito legal, ao espírito
democrático de nossa Constituição?
136
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19 de janeiro de 1995, p. 1002.
346
social. Argumentou:
347
Ora, Sras. e Srs. Deputados, é lamentável estar aqui
elogiando o Judiciário em decisão que pode ter sido
abusiva, mas foi tomada com soberania por um Poder
independente.
348
nesta Casa permitia que os Parlamentares utilizassem
suas quotas para confecção de calendários,
informativos, etc., que isso se transformou em
jurisprudência e, como tal, criou uma ética a respeito
do tema.
350
companheiros que queiram postar-se como escravos
das crenças e das convicções, como Disraele no
Parlamento inglês, ao voto e á vitória, que não será de
Humberto Lucena, mas da Casa, a Classe política
brasileira.137
137
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19.01.1995.
351
Eis que agora a Justiça brasileira, através dos seus
diferentes níveis, resolve pinçar no Congresso
Nacional um culpado, um homem que fez imprimir um
calendário com sua fotografia – foram feitas 130 mil
cópias - - e conseguiu 500 mil votos do povo da
Paraíba. Decidem que a candidatura desse homem
deve ser cassada e a cassaram. Agora está sendo
posta para nós Parlamentares a votação de um
referendum. Vamos referendar a cassação de um
mandato ou não? O mais é filigrana jurídica.
352
opinião pública, quando ela está manipulada por uma
mídia que não prima pela neutralidade, por ser
verdadeira e positiva. Muitas vezes a mídia tem dado
grandes contribuições na evolução da situação
política e democrática do nosso País. Entretanto, não
poucas vezes tem deformado os fatos. Refiro-me à
mídia que nunca contou lá fora que o voto que agora
exige dos Parlamentares é consequente. Aqui não
existe a possibilidade de se cassar um mandato. O
voto é uma moeda de duas faces: Quem votar contra
a anistia a Humberto Lucena estará fazendo entrar
pela porta do Senado uma pessoa que cometeu o
mesmo delito, ou seja, imprimiu o mesmo calendário
na mesma Gráfica, na mesma eleição apenas com
duas diferenças. Primeira, a de que foi derrotado pelo
povo. Aqui estaremos substituindo o povo da Paraíba,
dizendo aos paraibanos que os 500 mil votos que deu
a Humberto Lucena foram errados e que nós os
rejeitamos, colocando no Congresso a pessoa
derrotada naquele Estado.
138
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19.01.1995, p. 1003.
355
Portanto, o fato de ter sido ou não eleito não pode ser
considerado como critério absoluto por esta Casa
quando vamos votar projetos dessa natureza. Na
verdade, a aprovação do projeto ora em discussão vai
significar que mais uma vez a impunidade neste País
continua solta. Ela já ocorreu no julgamento do ex-
Presidente Fernando Collor de Mello, quando o
Supremo Tribunal Federal acabou inocentando o réu.
É um atestado de inocência. Esperamos que isso não
se repita nos próximos processos. Vê-se a impunidade
em todo o País, onde sempre há um jeitinho para
quem tem dinheiro, para quem representa o poder
econômico fugir da aplicação das leis.
139
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19.01.1995, p. 1004.
357
a expressão 'Humberto Lucena para Senador, 1994'.
Isto está lá escrito?
358
Tribunal Regional Eleitoral, é a Justiça Eleitoral
carioca. Se houve compra de votos no Rio – e
precisamos ganhar duas vezes a eleição – é porque
políticos compravam e juízes vendiam.
140
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19.01.1995, p. 1004/1005.
361
assembleia nacional constituinte. Por isso, muitos dos
Srs. Parlamentares que hoje aqui estão votaram em
1988 a anistia para aqueles que haviam sido
condenados pelos tribunais de exceção da ditadura
militar.
141
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19.01.1995, p. 1005.
362
Considerado uma referência moral para os seus pares, o
deputado Gerson Peres, do PPR paraense se juntou aos que
defendiam o Projeto de Anistia:
363
Ante esses fatos, abrindo a Constituição Federal – o
nosso catecismo, a nossa fé e a nossa crença em
defesa dos direitos do cidadão – leio o parágrafo
único do art. 1º: 'Art.
1º........................................................Parágrafo único.
Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição'.
142
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 19.01.1995, p. 1005.
364
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a esta altura do
debate, gostaria de solicitar humildemente a atenção
dos companheiros da Casa, especialmente dos que até
agora têm-se manifestado contra esse projeto de
anistia, para ponderar alguns aspectos, com a
seriedade e a dignidade com que exercemos o
mandato parlamentar.
367
corretas, que firmam a sua convicção. Apenas quero
pedir àqueles que ainda estão contra o projeto que
pensem duas vezes e não votem contra a soberania
desta Casa, não votem contra o direito de alta
sabedoria política da concessão de anistia, o qual só a
nós compete, e a ninguém mais, em nenhuma
democracia civilizada. Não devemos, portanto, abrir
mão dele.
368
Por último, vou conclamar os companheiros – homens
progressistas e sérios, que dão tanto valor à soberania
popular – do PT, do PDT, do PPS e do PSB, esses
companheiros que valorizam a soberania popular, e
eu sei o quanto valorizam, a que agora não chutem o
balde da soberania popular e a abandonem nesta
hora tão difícil. Olhem bem, Srs. Deputados, e
imaginem que somos todos políticos disputando no
seu Estado uma eleição proporcional, muito mais
complicada do que a majoritária, acusado pelo
adversário de já ter sido condenado no Tribunal
Superior Eleitoral, e mesmo assim conseguir a
absolvição do seu povo, a aprovação da sua gente.
Vejam que, apesar da acusação de condenação no
Tribunal Superior Eleitoral, ainda assim houve a
absolvição pelo povo soberano da Paraíba, que
concedeu a anistia a Humberto Lucena.143
144
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, Seção I, edição de 19.01.1995, p. 958.
145
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, Seção I, edição de 19.01.1995, p. 1010.
371
I – Relatório
372
Centro Gráfico do Senado Federal e feito distribuir
impressos ou material de divulgação, em período
anterior às eleições, valendo-se de cota a que tinha
direito segundo normas internas da referida Casa.
373
A orientação firmada pelo E. TSE, no voto condutor
proferido pelo Relator Ministro Carlos Veloso, veda a
prática costumeira adotada para a comunicação
social de numerosos parlamentares 'durante a
campanha eleitoral' – fazendo supor que, fora do
período em tela, seria possível aos Gabinetes
Parlamentares continuarem promovendo essa forma
de interação com suas bases e comunidades
representadas.
II – Voto
379
graça e do indulto também porque a primeira só é
concedida por lei, de que participam os Poderes
Legislativo e Executivo, ao passo que os dois últimos
derivam de decreto do Presidente da República.
381
da isonomia erigida em princípio fundamental da
Constituição, porquanto coloca em desvantagem
terceiros, candidatos ou não à pugna eleitoral, porque
os recursos e meios gráficos utilizados no âmbito do
Congresso Nacional – se decorrem do exercício do
mandato, não expressam necessariamente uma forma
de contraprestação, com o mesmo caráter que têm as
cotas de franquia postal, de passagens aéreas, a
moradia funcional, o gabinete e seu secretariado.
382
comprovada da longa e iterativa prática, disseminada
entre os parlamentares, de uso gratuito dos serviços
daquela Casa; a constatação de que nem ditos atos
nem tal prática costumeira haviam sido até aqui
apreciados, em sede jurisdicional, quanto à sua
legalidade ou constitucionalidade, explicam os
lamentáveis desdobramentos havidos, que culminam
com a interferência do Poder Judiciário.
386
Assim, alguns aperfeiçoamentos de forma e de mérito
devem, por indispensáveis, ser oferecidos ao texto
oriundo do Senado Federal.
390
lisura do pleito, essenciais à democracia, justificou.
147
O voto em separado do deputado federal do PT de São Paulo, Hélio Bicudo, não
foi apreciado na Comissão de Justiça e Redação da Câmara dos Deputados, mas foi
juntado ao Projeto Substituto de autoria do deputado Prisco Viana, ao qual
também foi acompanhado do artigo denominado “Empate dos inocentes”, do
advogado e jurista, Saulo Ramos, publicado no Jornal FOLHA DE SÃO PAULO.
392
estratégia parlamentar. O PL liberou sua bancada. O PMDB, o PFL, o
PTB, o PP e o PPR votaram a favor em todas as votações. O PSDB
não usou o microfone em plenário, mas teve que votar porque o
PMDB ameaçou não aprovar o novo valor do salário-mínimo e
também não dar quorum à votação da Medida Provisória que
aumentava os tributos das empresas. O PMDB teria ainda
condicionado a anistia ao apoio à candidatura do deputado Luís
Eduardo à presidência da Câmara: “ - Se a anistia fosse rejeitada não
teríamos sequer esforço concentrado”, admitiu o líder do PMDB,
deputado Tarcísio Delgado, do PMDB de Minas Gerais.
* * *
394
SESSÃO RELÂMPAGO
No Congresso Nacional, geralmente a Ordem do Dia começa
no início da noite. Mas, em se tratando de matérias polêmicas, a
madrugada tem sido o momento preferido para deputados e
senadores deliberarem. Recentemente, durante a apreciação das
“10 Medidas Anticorrupção, propostas pelo Ministério Público, um
grupo de parlamentares tentou incluir, no referido Projeto de Lei,
uma emenda que anistiava aos que praticaram a conduta de “CAIXA
2” (recursos não-contabilizados), durante a campanha eleitoral de
2014. O “jabuti” jurídico visava beneficiar os parlamentares alvos da
“Operação Lava Jato”. Para evitar desgaste perante a opinião
pública, a votação seria simbólica, o que não permitiria ao povo
saber como cada deputado votaria.
150
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 20.01.1995, p. A3.
396
“VAQUINHA” PARA LUCENA
Na política, Humberto Lucena não conseguiu fazer fortuna,
mas tinha muitos amigos! Antes e durante a “sessão relâmpago” do
Senado, seus amigos mais próximos e endinheirados arrecadaram
R$ 15.200,00 (quinze mil e duzentos reais), o suficiente para ele
pagar as despesas pela impressão dos 130 mil calendários, na
gráfica do Senado. Até as 17h30, havia se cotizado em favor de
Lucena o senador eleito Ronaldo Cunha Lima, os deputados
federais – José Luiz Clerot e Ivandro Cunha Lima -, o primo de
Humberto, Cícero Lucena, e os deputados estaduais Domiciano
Cabral e Valter Brito. Entre os não-políticos, José William e José
Humberto Sobreira.151
* * *
152
Jornal O GLOBO, edição de 20.01.1995 e JORNAL DO BRASIL, edição de janeiro
de 1995.
398
A OPINIÃO DOS JURISTAS
Para o jornalista paraibano Nonato Guedes, Humberto foi
vítima de uma injusta campanha da chamada “Grande Imprensa”,
comandada pelo Jornal do Brasil, que nunca o perdoou por ter
derrotado Nelson Carneiro na eleição para a presidência do
Senado.153 Com a aprovação da anistia, pelo Congresso Nacional,
essa campanha foi intensificada e Lucena passou a ser o principal
alvo das críticas dos diversos meios de comunicação.
400
Ramos nesta Folha, ou um 'sem teto', conforme
definiu a si mesmo quando investigado pela CPI do
Orçamento, entre outubro de 93 e janeiro de 94.
401
por amigos.154
Salvo-conduto
154
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 01.02.1995.
402
plena campanha, como uma exceção da impunidade
que é a armadura do Congresso. Pelo menos a
oportunidade era exemplar. Depois de tentar todos os
artifícios sem qualquer resultado. Lucena passou a
trabalhar o corporativismo que reveste as paredes e
os assentos do Congresso. Já que não era possível
contornar a lei, a solução foi apelar para a anistia.
Tendo em vista que ficaria gritante uma anistia
pessoal, a criatividade parlamentar, sem qualquer
escrúpulo moral, tratou de arranjar sócios para
empreitada. Da noite para o dia multiplicou-se como
milagre econômico o número de transgressores da lei
eleitoral. Houve abertura de voluntariado.
403
Nem só de criatividade vivem os eleitos.
Parlamentares competem nas eleições mas são
solidários na hora do aperto. A moralidade pública
não chega perto da Câmara e do Senado sem ser
enxotada como intrusa e indesejável. Assim que ficou
claro o coleguismo, por efeito do sentimento de culpa
coletiva, o instinto rural vibrou a alma pecuária numa
representação cuja maior bancada é a de fazer
fazendeiros. A ideia providencial de 'fazer uma
vaquinha' dispôs de viçoso pasto e farta aguada
parlamentar. Cada um daria um dízimo dos seus
ganhos antigos para ajudar Lucena a reembolsar o
Tesouro pelas despesas com os 130 mil calendários.
404
Nenhum eleitor se reconhece nessa representação. 155
155
JORNAL DO BRASIL, edição de 23.01.1995, p. 10.
405
Há 30 anos, usa-se a Gráfica do Senado para imprimir
cartão de Natal e muito deles em forma de
calendário. A imprensa diz que se imprimiu toda a
propaganda política na Gráfica do Senado. Tenho
tranquilidade para contestar mas nem por isso tenho
que condenar. Disseram-me que eu estava perdendo a
grande chance de bater nesse negócio e, assim,
ganhar manchete. Eu disse: ‘Manchete assim eu não
quero’.
...
Não tenho medo algum de dizer que moro em
apartamento do Senado – é verdade! – porque, se
assim não fosse, eu não teria como viver em Brasília,
porque eu não tenho dinheiro para pagar aluguel. Eu
viajo de Brasília para Porto Alegre com passagem que
o Senado me dá - é verdade! -, porque, se não me
desse, eu não teria dinheiro para viajar. Talvez, então,
eu tivesse que morar, como a Dra. Zélia Cardoso de
Mello, na Academia de Tênis, com alguém pagando
para mim.
406
Isso tem que ser dito, perdoem-me a sinceridade.
…
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, por que ocorreu
o problema da Gráfica¿ Porque votamos uma lei sem
nos darmos conta do que tínhamos votado. E se, na
verdade, formos olhar para a lei que votamos, não é
só a gráfica, não, mas o uso do Senado como um todo
é irregular: o uso do telefone é irregular, o uso do fax
é irregular e até aparecermos no horário da Voz do
Brasil é irregular, porque esta é a lei que votamos.
Além da anistia
409
Todos estão carecas de saber, enfim, que estes
míseros calendários não respondem pela brilhante
votação obtida nas urnas pelo senado e nenhuma
influência pode ter tido sobre o andamento geral do
pleito. Nada obstante, alguns lavam as mãos ou
voltamos rosto ante a contrafação iminente da
vontade do povo e a crucificação de um homem de
bem contra aquele pano de fundo de disparates
iniquidades. Argumenta-se que a anistia poderia
representar um confronto com o Judiciário. Ora,
vamos procurar sem bem objetivos. O ponto forte da
anistia está exatamente em contornar ou esvaziar o
conflito entre os Poderes, poupando ao Supremo o
dissabor de ter que examinar dezenas de casos
semelhantes e desencadear uma sucessão
interminável de cassações, a golpes de calendário,
numa situação no mínimo patética, para não dizer
ridícula ou trágica, como um pastiche terceiro-
mundista, da ética e da moral.
ANISTIA A LUCENA
Desvio de Poder Legislativo
CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO
158
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 19.01.1995, p. 2.
412
O vício de desvio de poder é causa de nulidade do ato
praticado, sendo considerado um dos mais graves em
que uma autoridade pode incorrer. Através dele, sob o
capuz da legalidade, embaçado nela, pratica-se uma
traição à lei ou à Constituição, conforme o caso.
159
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 20.01.1995, p. 3.
416
No primeiro semestre daquele ano, todos os dias as
manchetes acusavam escândalos e mais escândalos
de responsabilidade do então ministro da Saúde. E o
mais doloroso veio com o ridículo das mochilas,
bicicletas, mata-mosquito. A culpa do ministro
transitou em julgado e ele foi jogado na vala comum
dos corruptos, sob a pá de cal do famoso
apresentador de televisão 'É uma vergonha'.
Claro está que não concordo (mas quem sou eu?) com
as regalias dos parlamentares em usar gráficas das
casas legislativas para publicidade pessoal. No caso
do presidente do Congresso, a transgressão seria a
prevista no parágrafo 1º, do art. 37, da Constituição e
jamais ilícito eleitoral, tipificado apenas para as
épocas de campanhas em benefício dos que sejam
candidatos, registrados de acordo com a lei.
420
(Governo Sarney).160
Folhinhas do Crime
426
uma anistia in extremis. Na verdade, o estado mais
grave, terminal mesmo, é só o de Lucena, que
autorizou o abuso em causa própria.
161
JORNAL DO BRASIL, edição de 17 de janeiro de 1995, p. 8.
162
BATOCHIO, José Roberto. Anistia em causa própria. In Jornal FOLHA DE SÃO
PAULO, edição de 26.01.1995, p.3.
428
Ao anistiarem quem fez uso da coisa pública para
propaganda pessoal, feriram a moral e tentaram
institucionalizar a anistia do crime desde que
indenizado.163
I – VÍCIO FORMAL
163
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 10.02.1995.
429
3. A convenção que o indicou candidato ocorreu em
31-5-94 (maio)
II – OS ERROS MATERIAIS
431
essa interpretação, seria legítimo o entendimento de
que o parlamentar, uma vez candidato à reeleição,
deveria se afastar do exercício do mandato, pois a
utilização do gabinete parlamentar e sua estrutura
material e humana, o acesso à Voz do Brasil, entre
outras prerrogativas, configuraria uso indevido dessas
prerrogativas. Ocorre que, como é sabido, nem a
Constituição Federal, nem a legislação
infraconstitucional, exigem do parlamentar o
afastamento do exercício do seu mandato, quando
candidato à reeleição ou a outro cargo eletivo.
432
Também o caput do art. 45 da Lei n. 8.713/93: ‘Art.
45…
433
distribuição dos calendários em questão, se possa,
com base na chamada tese da probabilidade (?) de
abuso de autoridade, impugnar a candidatura de
quem quer que seja.
* * *
164
MARIZ, Antônio. Por que anistiar o Senador Humberto Lucena, in Anistia não é
perdão. Senador Humberto Lucena, discurso pronunciado na Sessão de 12.05.1995.
165
JORNAL DO BRASIL, edição de 24.01.1995, p. 4.
435
FINALMENTE, A SANÇÃO!
“...se eu vetasse o projeto, corria o risco de
criar um conflito grave entre poderes – o da
Justiça, que impediu um senador de concorrer,
e o do Congresso, que achou esse castigo
exagerado para a gravidade do delito”.
(Fernando Henrique Cardoso)
166
Revista VEJA, edição de 21.09.1994.
167
Aliás, esse foi um dos artigos e autoria do jornalista Jânio de Freitas, do jornal
FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 20.01.1995, p. 1-5. Na mesma edição, Frei Betto
437
“ - Governo é como remédio. A bula sempre realça mais as
virtudes do que os efeitos colaterais”, afirmou certa vez o jornalista
Josias de Sousa. No caso, o presidente Fernando Henrique Cardoso
estava numa verdadeira “sinuca de bico”. FHC ouvia pessoas,
conselheiros, lideranças... Chegou a torcer pela rejeição do Projeto,
na Câmara, assim não arcaria com o desgaste perante a sociedade,
que era algo certo. Por outro lado, temia ceder ao histórico
fisiologismo dos congressistas...Sem saber que rumo tomar, decidiu
não emitir qualquer opinião sobre a votação do Projeto de Lei de
anistia, mas, caso o Poder Legislativo o aprovasse, o sancionaria. O
discurso já estava pronto: não iria interferir na “soberania do
Congresso”.
escreveu artigo em que criticava a Lei que anistiou Lucena e outros parlamentares.
438
rebelados reuniam-se na sala do cafezinho do Senado e se
recusavam a entrar em plenário, em claro boicote à indicação do
economista. O primeiro sinal havia sido dado: caso vetasse a Lei,
corria o grande risco de perder o apoio do PMDB - partido ao qual
pertencia Lucena -, e do PFL – também solidário a Humberto.
173
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 01.02.1995.
174
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 02 de fevereiro de 1995, p. A4.
175
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 04.02.1995.
443
PFL de Roraima, com o aval do novo presidente da Casa, proibiu a
publicação, pelo Centro Gráfico do Senado/Cegraf, de qualquer
material estranho à atividade legislativa. Disse Soares: “ - A partir de
agora, a gráfica só publica documentação relativa à atividade
parlamentar, como separatas, discursos e resenhas”, sentenciou. 176
176
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 11.02.1995.
177
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 26.03.1995.
178
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 26.03.1995.
444
trabalhadores para substituir os grevistas. O Congresso Nacional
propôs uma Lei, visando anistiar as pesadas multas aplicadas aos
sindicados, pelo Tribunal Superior do Trabalho. FHC vetou a Lei, ao
argumento de que a anistia representaria uma ingerência indevida
do Legislativo e do Executivo sobre o Judiciário. O presidente não
conseguia esconder a incoerência em relação à “Lei Humberto
Lucena”.
179
FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 23.01.1995, p. 1-2.
180
FREITAS, Jânio de. In Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 20.01.1995, p. 1-5.
445
Judiciário, tem a chance de atravessá-la pelo
Legislativo ou, em último caso, pela sanção do
Executivo.
181
Jornal A UNIÃO, 04 de fevereiro de 1995.
451
prática de ilícitos eleitorais previstos na legislação
em vigor, que tenham relação com a utilização dos
serviços gráficos do Senado Federal, na
conformidade de regulamentação interna,
arquivando-se os respectivos processos e
restabelecendo-se os direitos por eles alcançados.
* * *
454
poderem atribuir efeitos de direito material ou
processual.
182
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 11.04.1995.
457
durante a luta que travei, pela manutenção do meu
mandato de Senador reeleito pela Paraíba, em 1994,
mantive contato permanente com a Nação, através
dos meios de comunicação de massa e, bem assim,
com os senadores e deputados que, então,
compunham o Congresso Nacional.
458
-, para investigar as denúncias de Pedro Collor contra
o esquema PC Farias, cujo relatório final fundamentou
o pedido de impeachment do ex-Presidente Fernando
Collor. Foi assim, também, em 1993, ao se instalar, no
Congresso Nacional, a Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito – CPMI, destinada a apurar as denúncias
contra a chamada 'máfia' do Orçamento, a qual
redundou na perda do mandato de vários deputados.
Mas, pra evitar que a versão valha mais do que o fato,
a imprensa tem de recolher informações exatas,
visando a preservar a imagem das pessoas
porventura envolvidas em um determinado noticiário.
461
e, agora, vitoriosa nas urnas.183
183
Jornal O GLOBO, edição de 29.11.1994, p. 6.
462
convém lembrar que, salvo no caso de ofensas à
Constituição, as decisões do TSE são irrecorríveis, o
que põe, gravemente, em risco, os direitos das partes,
sobretudo quando se trata, como era a hipótese, de
impugnação de registro de diploma de candidato ou
de mandato eletivo, com consequente inelegibilidade
por três anos.
464
Numa homenagem a esse extraordinário jornalista,
transcrevo seu artigo:
‘Procura-se um Coronel’
465
Ainda não estava totalmente convencido. Parti, então,
ao encontro do Presidente do Congresso, condenado
pela impressão de calendários eleitorais. Estava
enfurnado nos municípios mais distantes da capital,
quase na fronteira com Pernambuco e Ceará. Atitude
suspeita. Decidi ir lá para ver como ele faz campanha.
Encontrei o velho político de 65 anos, 40 deles como
parlamentar, filho de um telegrafista e neto de
político, subindo em improvisados palanques para
repetir aos eleitores que tinha sofrido uma injustiça e
que sempre se dedicou à Paraíba. Em Desterro,
Imaculada, Água Branca, Juru e Princesa Isabel,
cidades paupérrimas do sudoeste paraibano – onde a
professora para a aula quando chove, para mostrar
aos alunos o que é – contou que o que mais se
orgulhava em sua carreira era ter ocupado a liderança
da oposição durante vários anos no regime militar.
184
Discurso publicado no DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, Sessão II, de 13 de
maio de 1995.
185
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 18.05.1995, p. 7-3.
469
Depois de anistiar Humberto Lucena, deputados e
senadores buscaram se redimir perante a opinião pública:
propuseram um perdão para eleitores que não votaram nas últimas
eleições. Foram dois Projetos de Lei - o de nº 68, proposto pelo
senador Júlio Campos; o segundo, de número 534, de autoria do
deputado federal paraibano, José Luiz Clerot.186 Ambos anistiavam o
débito de eleitores que não tinham votado nas eleições 15 de
186
O referido Projeto de Lei, continha as seguintes justificativas:
A quase totalidade dos eleitores em falta com a Justiça fazem parte das
camadas menos favorecidas da sociedade, notadamente do meio rural, não pode
arcar com o pagamento das multas impostas pela legislação em vigor.
471
procurava amenizar, na opinião pública, o casuísmo da “Lei
Humberto Lucena”, tentando convencer a população de que, no
Brasil, a igualdade de todos perante a Lei, era uma realidade!
* * *
Parágrafo único. A anistia a que se refere este artigo aplica-se aos fatos
definidos como crime no art. 344 da Lei n° 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código
Eleitoral.
472
Foto: Chapas oficiais para as eleições de 1994. O apoio de Mariz a FHC
exigiu do candidato a presidente a sanção à “Lei Humberto Lucena”. Fonte:
Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de 1994.
473
Foto: O candidato a presidente, FHC, recomenda voto a Mariz. Fonte:
Jornal CORREIO DA PARAÍBA, capa da edição de setembro de 1994.
474
Foto: A “dobradinha”, FHC-Mariz, garantiu a sanção à Lei de anistia. Fonte:
Jornal O NORTE, edição de 1994.
475
Foto: Humberto e Ronaldo, no Senado. O senador Ney Suassuna e o
presidente do PMDB, Luiz Henrique, observam. Fonte: Jornal A UNIÃO,
edição de 02.02.1995, p. 6.
476
CAPÍTULO 5
477
A AÇÃO RESCISÓRIA ELEITORAL
“Fruto de uma 'lei de ocasião', para referendar
um casuísmo”; “uma maquinação jurídica para
retalhar a unidade do sistema eleitoral”; uma
“invencionice particular, recoberta com
roupagem bizarra” (Fávila Ribeiro)
187
Jornal O GLOBO, edição de 07.12.1994, p. 4.
478
O autor do Projeto - o senador Ney Maranhão, filiado ao
Partido da Reconstrução Nacional/PRN de Pernambuco -, estava tão
“enrolado” com a Justiça Eleitoral do seu Estado quanto Lucena com
os calendários. O Movimento pela Ética na Política, liderado pelo
advogado Fernando Matos, e O Centro de Cultura Luiz Freire, uma
organização não governamental, haviam pedido ao TSE e à
procuradoria-geral da República a cassação do registro da
candidatura de Ney Maranhão. A acusação era de que o senador
pernambucano mandara imprimir 1,5 milhão de cadernos escolares,
na Gráfica do Senado, com os dizeres: “Senador de fé – Ney
Maranhão 94”.
Justificação
480
Maranhão.188
188
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL, edição de 08.12.1994, p. 8383.
189
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 22.12.1995, in Projeto impede cassação
de mandato pela Justiça.
481
Ronaldo estava convencido da inconstitucionalidade parcial do
Projeto de Lei. Em sua opinião, a expressão suprimida prejudicava a
coisa julgada, prevista no art. 5º, XXVI da Constituição Federal, dai a
sua retirada do texto.
I – RELATÓRIO
É o relatório.
II – VOTO
485
Ora, como bem ensina JOSÉ AFONSO DA SILVA, na
lição supratranscrita, o legislador não pode atuar
diretamente sobre a coisa julgada, a lei não pode
atacá-la diretamente e, conforme entendemos, a
expressão final do art. 1º da proposição traz em si
esse vício na medida em que implica a suspensão da
execução da sentença mediante a sImples propositura
da ação.
Emenda - CCJ
Suprima-se a expressão final do art. 1º do projeto
'...possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até
o seu trânsito em julgado.'
488
e a comprovação de que o juiz foi, por alguma
maneira, parcial em seu julgamento. Não há o
estabelecimento de condições para que se possa
requerer a ação rescisória.
490
Nove dos doze deputados federais paraibanos estavam
presentes à sessão. Todos eles votaram a favor do Projeto: Adauto
Pereira (PFL); Armando Abílio, Cássio Cunha Lima, Gilvan Freire,
Ivandro Cunha Lima, José Luiz Clerot e Roberto Paulino, do PMDB;
Enivaldo Ribeiro, do PPB e, Wilson Leite Braga, do PDT.
492
A restrição da Ação Rescisória Eleitoral aos casos de
declaração de inelegibilidade e a previsão de aplicação retroativa a
casos transitados em julgado “até cento e vinte dias anteriores à sua
vigência” evidenciavam o caráter casuístico da proposta.
* * *
493
INCONSTITUCIONAL?
Repetindo a “Lei Humberto Lucena”,192 a Lei Complementar
nº 86 foi alvo de críticas. E elas partiram principalmente dos
estudiosos da Ciência do Direito Eleitoral: Pedro Henrique Távora
Niess, Carlos Mário Velloso, Torquato Jardim, Tito Costa, Fávila
Ribeiro…
192
NIESS, Pedro Henrique Távora. Ação Rescisória Eleitoral. Belo Horizonte: Ed. Del
Rey, 1997, p. 13/51.
494
E deu sua impressão sobre o instituto da Ação
Rescisória Eleitoral:
'Art. 22).................................................…
502
referendar os casuísmos. 193
* * *
193
RIBEIRO, Fávila. O ABUSO DE PODER NAS ELEIÇÕES. Rio de Janeiro: Ed. Forense,
2001.
194
Jornal O GLOBO, edição de 18.05.1996, p. 5.
195
Na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1459-5, julgada em 17.03.1999.
503
CAPÍTULO 6
504
OUTROS CASUÍSMOS
“O Brasil tem tradição em casuísmos.”
(Senador Chagas Rodrigues)
'Art. 27. Não incorrem nas vedações e sanções previstas nesta Lei as
providências e despesas de ordem administrativa destinadas à impressão,
expedição e distribuição de material gráfico para a divulgação de atividades
propostas ou mensagens:
Justificação
O Poder Legislativo busca a sua razão de ser nos sufrágios eleitorais que
visam constatar os escolhidos pelo povo e compor cada uma de suas Casas.
507
“a impressão, expedição ou divulgação do material de que trata
este artigo, de acordo com a lei, ou com as normas internas de
cada Poder.”
508
pode exercer suas funções”, justificaram.197
* * *
510
para quem a cassação do senador, pelo TSE, teria sido
inconstitucional, sob duas vertentes: o fato do recurso do
procurador regional eleitoral ter sido interposto fora do prazo, em
ofensa à garantia constitucional da coisa julgada e também em razão
de ter atingido a prerrogativa de Humberto Lucena de fazer uso da
Gráfica do Senado, ao decidir que a impressão dos calendários era
ilegal.
Justificação
País.
É urgente aprovação desta matéria para que se possa, através desse novo
canal, buscar no Supremo Tribunal Federal o conhecimento e as decisões em favor
dos direitos fundamentais ao cidadão brasileiro.
199
Os quatro projetos, que tramitaram em regime de “urgência urgentíssima”,
apenas o terceiro não foi aprovado. O primeiro, de n. 88/94, foi aprovado em
tempo recorde. Leitura em plenário, na sessão do dia 06.12.1994; inclusão na
Ordem do Dia da sessão do dia 07.12.1994, quando foi dado parecer oral favorável
pela Comissão de Constituição e Justiça e votado no mesmo dia - inclusive com o
oferecimento de redação final -, e remetido na mesma data para a outra Casa
Revisora. Na Câmara dos Deputados, foi lido e aprovado em sessão do dia
18.01.1995, o Projeto Substitutivo do Deputado Prisco Viana, que recebeu parecer
favorável da Comissão de Constituição e Justiça. No dia seguinte, 19 de dezembro,
foi enviado à Presidência da República, para sanção, o que ocorreu em 01 de
fevereiro de 1995.
513
pode o STF se afastar do julgamento da substância de
uma questão política que diz respeito ao
relacionamento dos Poderes. Esse caso não pode
passar desapercebido pela mais alta Corte brasileira,
porque isso é uma desconsideração com os
representantes do povo brasileiro.
CAPÍTULO 7
515
DECODIFICANDO SAULO RAMOS
517
autos do Mandado de Segurança impetrado pelo ex-presidente,
contra a pena de inabilitação aplicada pelos senadores.
204
RAMOS, Saulo. Ob. Cit., p. 320.
518
Só existe no Brasil. Em entrevista à revista VEJA,
gabou-se: “Fui advogado de Ronaldo Cunha Lima
quando começou o processo. Consegui que ele fosse
solto com um pedido de habeas corpus – o primeiro
no Brasil feito por fax. Depois, ele prosseguiu o
processo com outros advogados. A renúncia ao
mandato teria de sustar o processo contra ele no
Supremo, porque ele deixava de ter foro privilegiado.
O ministro Joaquim Barbosa, sem a necessária
serenidade de magistrado, entendeu tratar-se de um
desaforo. É isso mesmo: desaforamento da ação
penal. É um legítimo direito de defesa do réu. Não
acredito que o Supremo prosseguirá no julgamento de
um cidadão comum, não mais deputado.”205
205
RAMOS, Saulo. “Migalhas”, visitado em 19 de novembro de 2015.
519
DE SÃO PAULO, alguns anos depois.206 Por esse motivo, recorreu a
um velho amigo, o advogado Luiz Carlos Bettiol, que, junto com o
paraibano e ex-presidente do STF, Raphael Mayer, assinou a petição
do Recurso Extraordinário.207
206
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 20.08.2007.
207
Em resposta ao artigo de José Carlos Dias, Saulo Ramos fez as seguintes
observações:
“Injustiças
520
jurista.
* * *
209
RAMOS, Saulo. CÓDIGO DA VIDA – FANTÁSTICO LITÍGIO JUDICIAL DE UMA
FAMÍLIA: DRAMA, SUSPENSE, SURPRESAS E MISTÉRIO. São Paulo: Ed. Planeta do
Brasil, 2007, p. 401/403.
524
Foto: o autor intelectual da Lei de anistia, jurista Saulo Ramos, o anistiado
Humberto Lucena, e o terceiro colocado, Raimundo Lira. Fonte: JORNAL
DO BRASIL, edição de 1994.
525
CAPÍTULO 8
526
SUPREMA ANISTIA
“Anistia não é perdão” (Humberto Lucena)
“- Se a Lei 6.683 foi aceita pelo STF, por que não seria
acolhida uma nova lei de anistia de crimes eleitorais?”,
prejulgou em off um dos ministros do STF.213
210
Saulo Ramos (Consultor-Geral da República e ministro da Justiça do Governo
Sarney), José Roberto Batochio (presidente da OAB), Celso Antônio Bandeira de
Melo, Celso Ribeiro Bastos, Luiz Flávio Gomes e José Carlos Dias.
211
Edições de 21, 26, 28 e 30 de janeiro de 1995.
212
Jornal O GLOBO, edição de 21.01.1995, p. 3.
213
JORNAL DO BRASIL, edição de 1995.
527
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. José Roberto
Batochio ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade n.
1231/DF.214 Alguns anos depois, Batochio explicou as razões porque
era contra a anistia aos parlamentares que fizeram uso da Gráfica do
Senado. Justificou:
214
Feitas às pressas, para atender os interesses dos parlamentares,
respectivamente, as três Leis - “Lei Humberto Lucena”, Lei Complementar n. 86 que
criou a Ação Rescisória Eleitoral e a Lei n. 9.274, de 07.05.1996, que anistiou os
débitos dos eleitores que deixaram de votar nas eleições de 03.10.1992 e de
15.11.1994 foram contestadas no STF mediante o ajuizamento de três Ações Diretas
de Inconstitucionalidade: ADI nº 1231-2, ADI nº 1.460-9 e ADI nº , respectivamente.
528
depois de haver deixado a OAB?', pergunta-se
Batochio. Ademais é dever legal da OAB zelar pela
constitucionalidade das leis inferiores”, diz Batochio
identificado no livro como “advogado do ex-ministro
Antonio Palocci”.215
215
BATOCHIO, José Roberto, in Consultor Jurídico. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/> Acesso em: 19 Nov 2015.
529
…
De fato, a alegação de que a lei em questão foi
editada com abuso de poder não merece acolhida, vez
que o Congresso Nacional detém competência
constitucional para conceder anistia, inclusive aos
seus membros, pois a Constituição da República não
impôs restrição alguma quanto aos destinatários
dessa espécie de 'graça'. Destarte, se a Constituição
não restringe a possibilidade de concessão desse
privilégio, descabe ao intérprete restringi-la.
530
Trata-se de norma de caráter concreto e individual.
Concreto, porque, na verdade, se refere a uma
situação histórica determinada e absolutamente
irrepetível, isto é, não há outro caso que possa ser de
candidatos daquela data; é situação que se exauriu na
história, não pode ser repetida, não é, enfim, nenhum
tipo ao qual possa outra ação histórica vir a
corresponder: é a situação daquele ano, naquela
data. E de caráter individual, porque se refere
especificamente a um grupo determinado de pessoas,
e, portanto, nenhuma outra pessoa é capaz de se
inserir na órbita de incidência dessa norma. É regra
tipificamente concreta e de caráter individual, que
não é susceptível de ser objeto de ação declaratória
de inconstitucionalidade.
Não conheço do pedido.
531
segurança jurídica dos pronunciamentos judiciais,
como também no tocante à sinalização, sob o ângulo
da busca de preservação de princípios, para eleições
futuras.
216
Em ação anterior – ADIN n. 2306-3 -, Marco Aurélio manteve a coerência em
relação à crítica que fazia ao instituto da anistia, no Direito Eleitoral, da seguinte
forma: “...Fiz ver, portanto, que também levava em conta tratar-se de um diploma
que ganha contornos de ação rescisória legislativa, afastando, até mesmo, do
cenário jurídico o primado do Judiciário, cassando, como que, decisões proferidas
pela Justiça Eleitoral, mormente quando se avizinham eleições, época em que a
postura a ser adotada deve ser de rigor no tocante aos parâmetros estabelecidos e
ao respeito à ordem constituída.” Diferente da “Lei Humberto Lucena” (Lei
8,985/1994), a Lei de Anistia n. 9.996/2000, foi vetada pela presidência da
República, por ser contrária ao interesse público, conforme consta das razões de
veto constantes na Mensagem do Poder Executivo:
534
para anular atos do Poder Legislativo.217 E concluiu:
Sr. Presidente.
Reporto-me ao voto que proferi na liminar e
acrescento que a lei ofende, a meu ver, o devido
processo legal substantivo, na medida em que
inviabiliza a administração do processo eleitoral pela
Justiça Eleitoral, com relação à disciplina da
propaganda eleitoral e das regras da campanha
eleitoral. Votada a anistia pelos próprios eleitos, acaba
por tornar-se inócua toda a administração eleitoral,
entregue, no nosso sistema, à Justiça Eleitoral.
Peço venia para julgar procedente a ação.
536
estende-se a crimes comuns, certo que, para estes, há
o indulto e a graça, institutos distintos da anistia (CF,
art. 84, XII). Pode abranger, também, qualquer sanção
imposta por lei.
ACÓRDÃO
537
CARLOS VELOSO – RELATOR
219
RAMOS, Saulo. CÓDIGO DA VIDA – FANTÁSTICO LITÍGIO JUDICIAL DE UMA
FAMÍLIA: DRAMA, SUSPENSE, SURPRESAS E MISTÉRIO. São Paulo: Ed. Planeta do
Brasil, 2001, p. 404.
539
entre os candidatos.
540
Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não,
as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de
oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
(…)
* * *
541
EPÍLOGO
542
“MALDITA CASSAÇÃO”
Desde que chegou à presidência da República, em janeiro de
1993, Fernando Collor de Melo nunca teve uma convivência
harmônica com o Poder Legislativo. Eleito por um partido “nanico”,
sem nenhuma expressão no cenário político, o Partido da
Reconstrução Nacional serviu-lhe apenas de legenda de aluguel para
conquistar seu objetivo. O “Caçador de Marajás” não passava de um
blefe. O exercício do poder e o tempo ajudariam a confirmar.
545
o empresário Paulo César Farias, respondia a um “rosário de
crimes”: falsidade ideológica, supressão de documentos, corrupção
de testemunhas, coação no curso do processo e corrupção passiva.
O Supremo e a coincidência
Arimatéa Souza
548
forma questionável sob o aspecto legal, justamente
para demonstrar com sua exceção a regra
consuetudinária somente pobre vai para a cadeia
neste país tropical.
223
MOURA, Helder. A suprema contradição. Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de
11.12.1994, p. 2.
550
Nacional. A absolvição de Collor de Mello no STF foi o combustível
que aumentou a sanha de retaliação ao Poder Judiciário. Mas não
apenas isso: estava criado o caldo de cultura favorável à aprovação
do Projeto de Lei para salvar os parlamentares envolvidos com o uso
da gráfica do Senado. O caldeirão ia ferver! A resposta mais eficaz e
contundente? A anistia, que tornaria sem efeito a cassação de
Lucena.
551
na Câmara:
224
Jornal A TRIBUNAL DA IMPRENSA, edição de 1994.
552
Casa da Dinda, ainda residência oficial do senador Fernando Collor
de Mello, encontrou algo parecido com um “despacho de
macumba”, endereçado ao procurador-geral, Rodrigo Janot, e ao
seu braço direito no Conselho Nacional do Ministério Público, o
paraibano Fábio George, conforme registrou o jornal O GLOBO:
226
PEREIRA, Joacil de Brito. PARAÍBA – Nomes do Século. HUMBERTO LUCENA. A
UNIÃO EDITORA, p. 39.
554
diretamente se envolveram com o processo de Collor, no Senado,
também teriam sido vítimas da “maldição de Collor”: Antônio
Mariz, relator do processo na Comissão Especial do Senado, morreu
de câncer em pleno exercício do mandato de governador e,
Humberto Lucena - o primeiro a subscrever o pedido de
Impeachment no Senado -, teve o seu registro de candidatura
cassado pelo uso da gráfica do Senado, pelo TSE.
227
Depoimento do senador Efraim Morais, em discurso pronunciado no Senado
Federal em 22 de abril de 2008.
228
PEREIRA, Joacil de Brito. Ob. Cit., p. 40.
555
imposta a um “pequeno delito”.
556
POSFÁCIO
558
Calheiros, só nos faz recordar histórica frase do Presidente da
França, De Gaulle, ao declarar que “o Brasil é um país que não deve
ser levado a sério”.
559
CRONOLOGIA
18.02.1994 – O então Procurador Regional Eleitoral, Antônio Carlos
Pessoa Lins, ajuizou a Representação Eleitoral contra o Senador
Humberto Coutinho de Lucena, no Tribunal Regional Eleitoral da
Parahyba.
560
14.09.1994 – O Senador paraibano, Antônio Marques da Silva
Mariz, fez veemente discurso no plenário do Senado, em defesa de
Humberto Coutinho de Lucena.
561
19.12.1994 – Data da diplomação, pelo TRE/PB, dos eleitos.
Humberto não compareceu à sessão.
562
REFERÊNCIAS
I - Livros:
ARAÚJO, Fátima. Humberto Lucena – O verbo e a liderança. João
Pessoa: Ed. A UNIÃO & textoarte, 1999.
BRONZEADO, Luiz. Justiça a Humberto. Jornal CORREIO DA PARAÍBA,
edição de 1994.
HUMBERTO LUCENA - Grandes Vultos que Honraram o Senado.
Brasília: Senado, 2006.
LUCENA, Humberto. A REELEIÇÃO PARA O SENADO. Brasília/DF,
1988.
_ATUAÇÃO PARLAMENTAR. Brasília/DF, 1991.
_SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS DO SR. FERNANDO AFFONSO
COLLOR DE MELLO. Brasília/DF, 1993.’
_ANISTIA NÃO É PERDÃO. Brasília/DF: 1995.
_TEMAS EM FOCO. Volume III. Brasília/DF: 1995.
MARIZ, Antônio Marques. O Impeachment do Presidente do Brasil –
Relatório do Senador Antonio Mariz, texto-chave para se
compreender um dos períodos mais dramáticos da nossa história
contemporânea. Brasília: 1994, Centro Gráfico do Senado Federal.
PEREIRA, Joacil de Brito. PARAÍBA – Nomes do Século: HUMBERTO
LUCENA. A UNIÃO EDITORA,
563
RAMOS, Saulo. CÓDIGO DA VIDA – FANTÁSTICO LITÍGIO JUDICIAL DE
UMA FAMÍLIA: DRAMA, SUSPENSE, SURPRESAS E MISTÉRIO. São
Paulo: Ed. Planeta do Brasil, 2007, p. 401/403.
II – Jornais
A Folha de São Paulo, A UNIÃO, A Tribuna da Imprensa, CORREIO DA
PARAÍBA, Jornal do Brasil, Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, Jornal O
GLOBO, O NORTE.
III - Artigos
ALMEIDA, Agassiz. Defendam-se. Jornal CORREIO DA PARAÍBA,
edição de 28.01.1995, p. 2.
_A Justiça e a Ópera Bufa. Jornal A UNIÃO, edição de 1994.
ALMEIDA, Agnaldo. Humberto cassado. Jornal O NORTE, edição de
15.09.1994, p. 2.
_Grito de Alerta. Jornal O NORTE, edição de 15.09.1994, p. 4.
_E se Lucena voltar? Jornal O NORTE, edição de 17.09.1994, p. 2.
_Sem retaliações. Jornal O NORTE, edição de 18.09.1994, p. 2.
_É caso antigo. Jornal O NORTE, edição de 20.09.1994, p. 2.
_Mandato legítimo. Jornal O NORTE, edição de 29.11.1994, p. 2.
_O Congresso tem culpa. Jornal O NORTE, edição de 03.12.1994, p.
2.
_Vem aí a anistia. Jornal O NORTE, edição de 04.12.1994, p. 2.
_Tá tudo errado. Jornal O NORTE, edição de 11.12.1994, p. 2.
564
ANDRADE, Djacy. Cássio protesta contra a cassação. Jornal A
UNIÃO, edição de 17.09.1994, p.2.
Humberto é candidato. Jornal A UNIÃO, edição de 20.09.1994, p.2.
_Mesquinharias. Jornal A UNIÃO, edição de 21.09.1994, p. 2.
_Decisão acertada. Jornal A UNIÃO, edição de 24.09.1994, p. 2.
_ A anistia é a solução. Jornal A UNIÃO, edição de 06.12.1994, p. 2.
_Remédio extremo. Jornal A UNIÃO, edição de 13.12.1994, p. 2.
_Dois pesos e duas medidas. Jornal A UNIÃO, edição de 14.12.1994,
p. 2.
_Fim do drama. Jornal A UNIÃO, edição de 17.01.1995, p. 2.
_Humberto anistiado. Jornal A UNIÃO, edição de 30.01.1995, p. 2.
ALVES, Márcio Moreira. Alegrias e tristezas. Jornal O GLOBO, edição
de 10.12.1994, p. 4.
_As leis e a Justiça. Jornal O GLOBO, edição de 13.12.1994, p. 4.
_O mandato de Lucena. Jornal O GLOBO, edição de 13.01.1995, p. 4.
_Fim do drama. Jornal O NORTE, edição de 17.01.1995, p. 2.
AQUINO, Carlos Pessoa de. Humberto – a Paraíba segue em frente.
Jornal O NORTE, edição de 08.02.1995, p. 5.
BATOCHIO, José Roberto. Anistia em causa própria. Jornal FOLHA DE
SÃO PAULO, edição de 26.01.1995.
BELTRÃO, Geraldo. O Caso do Senador Humberto Lucena. JORNAL O
NORTE, edição de 18.01.1995.
565
BETTO, Frei. O Triângulo das Bermudas. Jornal FOLHA DE SÃO
PAULO, edição de 20.01.1995.
BEZERRA, Arnaldo Moura. A Paraíba de Humberto. Jornal CORREIO
DA PARAÍBA, edição de setembro de 1994.
CARVALHO, João Manoel de. Mariz e a Gráfica. Jornal O NORTE,
edição de
_A anistia intranquiliza. Jornal O NORTE, edição de
_Mudanças do quadro. Jornal O NORTE, edição de 15.09.1994, p. 4.
_Desfazendo boatos. Jornal O NORTE, edição de 17.09.1994, p. 4.
_Passando a limpo. Jornal O NORTE, edição de 16.09.1994, p. 4.
_A missão do TSE. Jornal O NORTE, edição de 18.09.1994, p. 4.
_Decidindo a sorte. Jornal O NORTE, edição de 19.09.1994, p. 4.
_Mariz; a hora crítica. Jornal O NORTE, edição de 03.12.1994, p. 2.
_Congresso: causa própria. Jornal O NORTE, edição de 04.12.1994,
p. 4.
_Anistia descartada. Jornal O NORTE, edição de 06.12.1994, p. 4
_Anistia e desafio. Jornal O NORTE, edição de 09.12.1994, p. 4.
_Mariz e a gráfica. Jornal O NORTE, edição de 11.12.1994, p. 4.
_A polêmica anistia. Jornal O NORTE, edição de 13.12.1994, p. 4.
CHAGAS, Carlos. A cassação de Lucena não faz o menor sentido.
Jornal TRIBUNA da Imprensa, Edição de 1994.
COELHO, Nelson. Política com grandeza. Jornal A UNIÃO, edição de
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20.09.1994, p.3.
_Um valoroso soldado. Jornal A UNIÃO, edição de 08.10.1994, p. 2.
_A injustiça será revertida. Jornal A UNIÃO, edição de 06.12.1994,
p.3.
_Haverá uma saída honrosa. Jornal A UNIÃO, edição de 07.12.1994,
p.3.
_Representante do povo ou da Autolatina? Jornal A UNIÃO, edição
de 13.12.1994, p.3.
_Respondendo a uma agressão. Jornal A UNIÃO, edição de
14.12.1994, p. 3.
_As elites soberbas. Jornal A UNIÃO, edição de 29.12.1994, p.2.
_Censores sem moral. Jornal A UNIÃO, edição de 1994.
_A anistia será aprovada. Jornal A UNIÃO, edição de 15.01.1995, p.
3.
_Enfim, justiça! Jornal AUNIÃO, edição de 20.01.1995, p. 3.
COSTA, Manoel Silveira da. O Julgamento de Humberto. Jornal
CORREIO DA PARAÍBA, edição de 1994.
CRUVINEL, Tereza. Collor salvará Lucena. Jornal O GLOBO, edição de
13.12.1994, p. 2.
_Os senhores do Senado. Jornal O GLOBO, edição de 28.01.1995, p.
2.
_A casa da mãe. Jornal O GLOBO, edição de 14.09.1994, p. 2.
567
DIAS, José Carlos. Contestação a Saulo e Lucena. Jornal FOLHA DE
SÃO PAULO, edição de 30.01.1995, p. 1-3.
DIMENSTEIN, Gilberto. É injusto? Jornal FOLHA DE SÃO PAULO,
edição de 16.09.1994, p. 1-2.
FARIAS, Emílio. Decisão inconsenquente. Jornal O NORTE, edição de
13.12.1994, p. 6.
FERNANDES, Hélio. TSE, ganhará tranquilamente no STF. Jornal A
TRIBUNA DA IMPRENSA, edição de 15.09. 1994.
_Humberto Lucena, injustiçado pelo TSE. Jornal CORREIO DA
PARAÍBA, edição de 1994.
FILHO, Mário Araújo. Humberto e a pequenez do Supremo. JORNAL
DA PARAÍBA, edição de 1994.
GARCIA, Alexandre. Passando a limpo.
GADELHA, Marcondes. Além da anistia. Jornal CORREIO DA
PARAÍBA, edição de 1994.
GOMES, Luiz Flávio. Inconstitucionalidade da 'lei' Lucena.
JUREMA, Abelardo. Justiça injusta. Jornal O NORTE, edição de
18.09.1994, p. 6.
_Sempre senador. Jornal O NORTE, edição 04.12.1994, p. 6.
LEITE, Marcelo. Em defesa do Congresso. Edição de 29.01.1995.
LIMA, Ivandro Cunha. Humberto, o injustiçado. Jornal CORREIO DA
PARAÍBA, edição de 14.12.1994.
568
LIMA, Rômulo de Araújo. Injustiça, até quando? JORNAL DA
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LUCENA, Humberto. Paraibanos, obrigado. Jornal O NORTE.
_Pela verdade. Jornal O GLOBO, edição de 29.11.1994, p. 6.
_Anistia não é perdão. Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de
11.04.1995.
_O respeito e a discordância. Jornal O NORTE.
_Vamos à vitória. Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de outubro
de 1994.
_Continuo candidato. Jornal O NORTE.
_Novamente, obrigado. JORNAL O NORTE.
_Confio na Justiça. Edição de 15.11.1994.
_Um erro não justifica o outro. Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição
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Fundação Getúlio Vargas. Visitado em 13 de dezembro de 2016.
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MATOS, Eilzo. Em defesa de Humberto Lucena. Jornal CORREIO DA
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_O tempo esquentou. Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de
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_A maldição de Collor. Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de
07.12.1994, p. 2.
_Por conta da cassação. Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de
1994.
_A decisão do Supremo. Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de
01.12.1994, p. 2.
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_A Paraíba também é Brasil. Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de
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_'Res publica' ou 'cosa nostra'? Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição
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_Mais faz-de-conta. Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de
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_O calendário. Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 01.12.1994,
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_Parlamentares tramam anistia para Lucena. Edição de 05.12.1994.
_FHC se rende à 'barganha' com partidos. Edição de 09.02.1995.
TORRES, Carol. Juízes em Brasília. Jornal O NORTE, edição de
16.12.1994.
_Pouca vergonha. Jornal O NORTE, edição de 08.12.1994, p. 2.
TRINDADE, João. CASO HUMBERTO LUCENA – PERVERSAO DO
PROCESSO LEGISLATIVO? Trecho de Monografia intitulada O
PROCESSO LEGISLATIVO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988, apresentada
como trabalho de conclusão de Pós-Graduação na Escola Superior
572
da Magistratura/ESMA. João Pessoa: 1995.
ULHOA, Raquel. Senado proíbe uso particular de sua gráfica. Edição
de 11.02.1995.
_Projeto de anistia a Lucena sofre restrições. Edição de 06.12.1994.
_TSE deide hoje se cassa ou não. Edição de 13.09.1994.
_Senado aprova projeto que concede anistia a Lucena. Edição de
08.12.1994.
VAZ, Lúcio. Lucena usou servidores em campanha. Edição de
01.11.1994.
XAVIER, Olivan. Era só o que fartava. Jornal A UNIÃO, edição de
04.02.1995, p. 4.
_A propósito, quem é Humberto Lucena. Jornal A UNIÃO, edição de
11.12.1994, p. 2.
IV - Documentos
Autos do Processo da Representação Eleitoral n. 134/94.
V - Editoriais:
1. A UNIÃO
_JUSTIÇA E ANISTIA. Edição de 11.12.1994, p.4.
2. FOLHA DE SÃO PAULO
_Extorsão política. Edição de 07.01.1995.
_Parlamentáveis. Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de
16.01.1995.
573
_Folhinhas do Crime. Jornal do Brasil, edição de 17.01.1995, p. 8.
_O desencanto dos cidadãos. Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO,
edição de 1995.
_Senado quer trocar Arida por Lucena. Edição de 05.01.1995.
_Palhaçada. Edição de 09.12.1994.
_Os calendários de Lucena. Edição de 02.12.1994.
3. JORNAL CORREIO DA PARAÍBA
_Nós, entre Collor e Humberto. Edição de 13.12.1994, p. 6.
_Os poderes da fraca República. Edição de 13.12.1994, p. 2.
_Legislativo e Judiciário sofrem. Edição de 16.12.1994, p. 4.
_Humberto pagou sua conta sem dever. Jornal CORREIO DA
PARAÍBA, edição de 15.09.1994, p. 2.
4. JORNAL DO BRASIL
_Um Caso Exemplar. Edição de 02.12.1994, p. 10.
_Nova distinção entre brasileiros. JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO,
edição de 03.12.1994, p. A-3.
_Salvo-conduto. Edição de 23.01.1995, p. 10.
_Lucena propõe anistia para servidor grevista punido. Edição de
15.01.1988.
_Epitácio de uma Crise. Edição de 03.12.1994, p. 10.
_Rasgando a fantasia. Edição de 20.01.1995, p. 8.
-Laços de família. Edição de 14.09.1994, p. 10.
574
_Os Dois Brasis. Edição de 06.01.1995.
_Um Caso Exemplar. Edição de 02.12.1994, p. 10.
_A última impressão. Edição de 1995.
_Ardil do Atraso.
_Prata da Casa.
5. O ESTADO DE SÃO PAULO
_Recomeçando a luta. Edição de 02.12.1994, p. A3.
_O desencanto dos cidadãos. Edição de 20.01.1995, p. A3.
_Nova distinção entre brasileiros. Edição de 03.12.1994, p. A3.
_A confusão que pode vir dia 1º.
_PMDB e PFL já disputam vaga de Lucena. Edição de 03.12.1994.
_Lucena agora propõe mudar uso da gráfica. Edição de 01.02.1995.
_A maldição do impeachment. Edição de 24.06.1996.
_Projeto de anistia a Lucena sofre restrições. Edição de 06.12.1994.
_Senador elogia decisão de Fernando Henrique Cardoso. Edição de
04.02.1995.
_Lucena agora propõe mudar uso da gráfica. Edição de 01.02.1995.
_Eleitores paulistas protestam contra anistia e salários de
parlamentares. Edição de 26.01.1995.
_Militares criticam congressistas. Edição de 10.02.1995.
-Incoerência. Edição de 11.02.1995.
_OS 9O DIAS DE FHC À FRENTE DO GOVERNO. Edição de 02.04.1995.
575
_Lucena vai presidir comissão. Edição de 08.09.1995.
_Para deputado, mídia faz campanha contra Congresso. Edição de
03.07.1995.
_ANIMAL POLÍTICO. Edição de 03.04.1996.
_Corrupção impune é o que mais frustra a sociedade. Edição de
20.08.2007.
_Humberto Lucena morre aos 69 em SP. Edição de 14.04.1998.
TREVISAN, Cláudia. Para advogados, anistia é inconstitucional.
Edição de 21.01.1995.
_FHC se contradiz, diz advogado. Edição de 04.04.1996.
Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba. Processo n. 132/2004.
Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Ordinário n.
Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n.
VI - LEGISLAÇÃO
1. BRASIL. Presidência da República. Constituição da República
Federativa do Brasil. 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/> Acesso em: 15 abr 2017.
2. BRASIL. Presidência da República. Lei Complementar nº 64, de 18
de maio de 1990. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/>
Acesso em: 15 abr 2017.
3. BRASIL. Presidência da República. Lei n. 8.985, de 07 de fevereiro
de.1995. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/> Acesso
576
em: 15 abr 2017.
VII - REVISTAS
A CARTA
VEJA: Pecados impressos – O TSE cassa a candidatura de Lucena e
investiga senadores que fizeram campanha à custa do Erário. Edição
de 21.09.1994.
_Cordel da Gráfica (Para ser impresso na gráfica do Senado).
SOARES, Jô.
VIII - DISCURSOS
Discurso de posse de Fernando Henrique Cardoso na presidência da
República. Proferido 01.01.1995. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/> Acesso em: 15 abr 2017.
577
CHARGES
578
Fonte: Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 15 de setembro de
1994.
579
Fonte: Jornal O GLOBO, edição de 15 de setembro de 1994.
580
Fonte: Jornal O GLOBO, edição de 16 de setembro de 1994.
581
Fonte: Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 06 de janeiro de
1995.
582
Fonte: Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de 08.01.1995, p. 2.
583
Fonte: Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 09 de janeiro de
1995.
584
Fonte: Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 09 de janeiro de
1995.
585
Fonte: JORNAL DO BRASIL, edição de 10 de janeiro de 1995.
586
Fonte: Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 11 de janeiro de
1995.
587
Fonte: JORNAL DO BRASIL, edição de 19 de janeiro de 1995.
588
Fonte: Jornal CORREIO DA PARAÍBA, edição de 19 de janeiro de 1995,
p. 2.
589
Fonte: Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, edição de 20 de janeiro de
1995.
590
Fonte: Jornal O GLOBO, edição de 20 de janeiro de 1995.
591
Fonte: Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, edição de 20 de janeiro de 1995.
592
Fonte: Jornal O GLOBO, edição de 21 de janeiro de 1995.
593
Fonte: Jornal O GLOBO, edição de 28 de janeiro de 1995.
594
Fonte: A CARTA
595
Fonte: Jornal O NORTE, Edição de 18.02.1994
596
Fonte: Jornal do Brasil, edição de 1995.
597
Fonte: Jornal Correio da Paraíba, edição 19955.
598
Fonte: Jornal O Globo, edição 1995.
599
Fonte: Jornal Correio da Paraíba, edição 1995.
600