Orientação+ed Infantil
Orientação+ed Infantil
Orientação+ed Infantil
Programa de orientação
fonoaudiológica para professores
da educação infantil
Fabiana C Carlino*
Fátima E Denari**
Maria da P R da Costa***
Resumo
Abstract
The aim of this study was to develop a program of Speech Therapy orientation for teachers of early
child hood education. Five teachers of a municipal kindergarten on the state of São Paulo participated in
the research. The study was conducted in three stages: Initial Evaluation - Application of a questionnaire
with essay questions and multiple choices of subjects in the area of Speech; Orientation Program - The
researcher lectured through slides and brochures on: Development of Speech and Language, Reading
and Writing, Voice, Stuttering, Hearing. And Final Assessment - Reuse of the questionnaire according
to the themes of the area of Speech. The data collected were subjected to comparative analysis of
performance before and after the program. The program succeeded in reinforcing the importance of
partnership between speech therapy and education, and also contributed for the teacher to base his
pratices on scientific knowledge.
*
Fonoaudióloga, Doutoranda em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Centro de Educação e
Ciências Humanas, Departamento de Psicologia. **Pedagoga, Professora Doutora Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
Centro de Educação e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia. ***Psicóloga, Professora Doutora Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), Centro de Educação e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia.
Resumen
A RTIG OS
orientar a comunidade escolar quanto às alterações e procedimentos que possam favorecer o equilíbrio
de audição, linguagem, motricidade oral e voz. entre essas funções; orientar e assessorar a realiza-
A equipe escolar é normalmente constituí- ção de trabalhos lúdicos para o desenvolvimento
da por: professores, orientadores pedagógicos, adequado da motricidade oral; incentivar a prática
orientadores educacionais e psicólogos. O fono- e atividades, em sala de aula, que favoreçam a
audiólogo vai atuar nesta equipe como assessor e comunicação; alertar para as consequências dos
consultor. Como assessor tem a função de trans- hábitos bucais inadequados, sugerindo soluções
mitir os conhecimentos específicos de sua área para prevenir e minimizar o problema; enfatizar a
aos demais profissionais através de: programas de importância da pré-escola no processo de alfabe-
treinamento, leituras, pequenos cursos ou palestras tização indicando alternativas como: ler estórias,
que podem abranger noções gerais do processo de estimular a escrita do nome, de rótulos e outros
aquisição de linguagem, visão geral dos problemas objetos que tenham significado na vida da criança,
de linguagem que podem ocorrer em crianças na valorizar mais a iniciativa e a busca do que a forma
fase pré-escolar e escolar, relacionar os distúr- (ortografia, letra).
bios da comunicação oral com as dificuldades de Hoje o Fonoaudiólogo é muito solicitado na
aprendizagem; ainda participa na elaboração dos área educacional mas há muito o que fazer e conhe-
planejamentos, trabalho este realizado juntamente cer, a escola é um espaço importante de atuação,
com o orientador pedagógico. O fonoaudiólogo pois atende grande parte da população2. Através da
atua dando aos professores sugestões técnicas que prevenção das doenças da comunicação, acredita-
ajudem a preparar as crianças para a alfabetização, -se que o ser humano possa expressar, interpretar,
prevenindo problemas futuros. falar melhor, contribuir e transformar o meio em
Na educação pré - escolar voltada a crianças até que vive.
6 anos é fundamental que o professor tenha orien- De acordo com estudos encontrados na área
tação quanto ao desenvolvimento de linguagem da pode-se observar que a atuação fonoaudiológica
criança e formas de propiciar seu melhor desenvol- em ambiente escolar ainda é bastante restrito.
vimento. Os professores devem ser orientados pelos Esse profissional, geralmente, não está inserido
fonoaudiólogos a realizar exercícios que propiciem na equipe escolar, fazendo parte apenas em al-
o desenvolvimento da audibilização, motricidade gumas reuniões, muitas vezes participando como
oral, fala e linguagem. Estas atividades devem ter voluntário. E o trabalho, basicamente, se resume a
um caráter lúdico e serem estimulantes para as triagens e encaminhamentos para tratamentos fora
crianças. É importante que o educador saiba sobre o do ambiente escolar ou orientações ao professores
desenvolvimento da fala, linguagem e audição para sobre determinadas alterações fonoaudiológicas,
que estabeleça uma relação entre estes aspectos e mas que ficam apenas como conhecimento.
ainda com a alimentação e respiração; devem ser As estratégias utilizadas no trabalho educativo
alertados para as conseqüências dos hábitos bucais com os professores devem permitir não só a cons-
inadequados. É nesta etapa que as intervenções trução de novos conhecimentos, mas também a
no desenvolvimento da comunicação podem ter sensibilização desses profissionais para os assuntos
resultados mais produtivos 1, 7. que serão abordados. A utilização de técnicas par-
Segundo Jorge7, é no nível pré-escolar que as ticipativas facilita essa sensibilização, permitindo
intervenções no desenvolvimento da comunicação um aprendizado útil e consciente e não apenas a re-
podem ter resultados mais produtivos. Neste nível tenção momentânea das informações transmitidas.
de escolaridade a participação do fonoaudiólogo é O trabalho de orientação aos professores também
de fundamental importância, em função das rápidas encontra respaldo na literatura, demonstrando a
e significativas transformações que ocorrem em importância da orientação aos professores quanto
vários aspectos do desenvolvimento da criança. ao material usado em sala de aula e ao método de
Muitos trabalhos podem ser abordados nes- trabalho, o qual irá variar de escola para escola8, 3.
te nível como: promover a discussão sobre o Dessa forma, o objetivo do presente estudo
desenvolvimento da fala, linguagem, e audição, foi elaborar e avaliar um Programa de Orientação
exemplificando-se as noções teóricas com situações Fonoaudiológica para Professores da Educação
concretas de cada local; estabelecer as relações en- Infantil, analisando comparativamente os conhe-
tre fala, alimentação e respiração e orientar atitudes cimentos sobre os aspectos fonoaudiológicos dos
participantes em dois momentos: previamente ao sem consulta, evitando assim, a possível interfe-
desenvolvimento do programa de orientação fono- rência de outros em suas respostas. O tempo médio
audiológica e imediatamente após, além de analisar para o preenchimento do questionário foi de 15
a percepção dos participantes sobre o programa, minutos, estando a pesquisadora presente durante
no que se refere aos seguintes aspectos: dúvidas, esse período.
expectativas, carga horária, linguagem utilizada Em seguida, ocorreu o Programa de Orientação7;
durante as palestras, materiais gráficos e sugestões. a pesquisadora ministrou palestras sobre os seguin-
tes temas: Fonoaudiologia (Conhecendo a profis-
Método são); Desenvolvimento da Fala e Linguagem; Voz
(O que fazer para preservá-la); Gagueira (Como
O projeto deste estudo foi aprovado pelo lidar com a gagueira em sala de aula); Audição
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (Como lidar com o deficiente auditivo). Cada pa-
da Faculdade de Odontologia de Bauru da lestra teve duração de 20 minutos por dia, sendo
Universidade de São Paulo. que cada tema foi abordado durante cinco dias (de
A pesquisa foi desenvolvida em uma creche segunda a sexta), ou seja, cada tema foi abordado
municipal do interior do estado de São Paulo e em uma hora e quarenta minutos, totalizando oito
contou com a participação de 5 professores do sexo horas e vinte minutos de curso. A conclusão do
feminino, na faixa etária entre 27 e 36 anos, todas Programa ocorreu em 5 semanas (25 dias). Por fim,
com formação em Magistério. Foram incluídos as professoras responderam novamente o questio-
neste estudo, os professores de educação infantil nário de perguntas sobre a área de Fonoaudiologia
em exercício na rede municipal de ensino, que acei- e um questionário de Avaliação do Programa.
taram participar da pesquisa mediante a assinatura Os resultados da pesquisa foram analisa-
do termo de Consentimento Livre e Esclarecido e dos descritivamente, comparando as respostas
autorização da direção escolar. dadas antes e após o Programa de Orientação
Após o consentimento em participar do estudo, Fonoaudiológica.
os professores responderam um questionário adap-
tado de Jorge7. Esse questionário era composto por Resultados
seis questões de múltipla escolha, porém nas ques-
tões de número três, cinco e seis, havia um espaço A Tabela 1 apresenta as respostas das questões
para respostas dissertativas, pois apresentavam de múltipla escolha, relacionadas à Fonoaudiologia
questões do tipo: Sabe como lidar com a criança de- e suas áreas de atuação antes e após o programa de
ficiente auditiva? Em caso afirmativo, como? Dessa orientação. As questões que não foram reaplicadas
forma, o professor deveria dissertar sobre suas na pós-orientação apresentaram o símbolo “-“
estratégias. As questões procuraram averiguar que como resposta.
informações os professores possuíam em relação Os resultados apresentados na Tabela 1 per-
à Fonoaudiologia Educacional e a temas ligados mitem concluir que os profissionais aumentaram
à área que podem interferir no processo ensino- significativamente o conhecimento sobre a área
-aprendizagem dos educandos. Por exemplo: Teve de Fonoaudiologia, no que diz respeito às áreas de
contato anterior com a Fonoaudiologia?; Conhece atuação, bem como, a posição frente às alterações
as áreas de atuação da Fonoaudiologia? Conhece fonoaudiológicas encontradas em sala de aula.
as etapas da aquisição e desenvolvimento normal Ao final do Programa de Orientação, os profis-
da linguagem?; Sabe o que é e como lidar com a sionais sentiram-se aptos a lidar com as alterações
gagueira?; Já teve contato, na escola, com crianças de fala e linguagem, gagueira, deficiência auditiva
deficientes auditivas? Caso afirmativo, sabe como e voz, percebendo a importância dos hábitos de
lidar? De que forma? Como considera a atuação higiene vocal para eles, professores.
do fonoaudiólogo junto aos professores/escola? As questões dissertativas foram mensuradas de
O questionário foi aplicado na instituição de acordo com a categorização das respostas: conhe-
ensino dos participantes, em horário cedido pela cimento BOM; quando mencionado pelo menos 3
direção da escola. Após a explicação desse, pela itens do esperado (exemplo: áreas de atuação da
pesquisadora, foi solicitado que os professores Fonoaudiologia), conhecimento PARCIAL; quan-
respondessem o questionário individualmente e do mencionaram pelo menos 2 itens do esperado,
A RTIG OS
Tabela 1 – Respostas do Questionário de Avaliação Pré e Pós Programa de Orientação
Fonoaudiológica
4
Gráfico 1. Quantidade de itens mencionados no Pré e Pós Programa de Orientação,
A RTIG OS
0
P1 P2 P3 P4 P5
Participantes
Gráfico 2. Estratégias utilizadas pelos professores com Gagueira e Deficiência
Auditiva no Pré e Pós Programa de Orientação
Gráfico 2 – Estratégias utilizadas pelos professores com Gagueira e Deficiência Auditiva no
Pré e Pós Programa de Orientação
A RTIG OS
Linguagem Cuidados com a Voz no Pré e Pós Programa de Orientação
Gráfico 3 – Conhecimento relacionados a Aquisição e Desenvolvimento Normal da Fala e
Linguagem Cuidados com a Voz no Pré e Pós Programa de Orientação
4
Aq. e Des. normal
3
da Fala e
Linguagem e 2
Cuidados com a
1
Voz
0
Pré ‐ Voz
P1 P2 P3 P4 P5
Pré ‐ Alt. Fala e Linguagem
Participantes
Pós ‐ Voz
Pós ‐ Alt. Fala e Linguagem
A RTIG OS
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especial no processo de inclusão. Rev. bras. educ. espec. [onli- Fabiana Cristina Carlino
ne]. 2008, vol.14, n.2, pp. 235-250. Rua Marcolino Lopes Barreto, 2886
13. Silva DRC, Santos LM, Lemos SMA, Carvalho SAS, Perin Vila Costa do Sol – São Carlos – SP
RM. Conhecimentos e práticas de professores de educação CEP: 13566-210
infantil sobre crianças com alterações auditivas. Rev. soc. bras.
fonoaudiol.São Paulo, 2010, vol.15 no.2, p. 197-205. E-mail: [email protected]