Gratuito Lindb Decreto Lei N 4 657 42 Lei de Introduc A o A S Normas Do Direito Brasileiro Lindb

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 13

PAULA CAROLINA - 950.215.

151-87

1
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

DECRETO-LEI Nº 4.657/42: LEI DE INTRODUÇÃO ÀS


NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB).

INTRODUÇÃO
Antes denominada de Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), passou, em 2010, a ser chamada de
LINDB, por força da Lei 12.376/10. A mudança deu-se em razão de a LINDB não ser dirigida apenas
Direito Civil, mas a todos os ramos do Direito.
Segundo Flávio Tartuce1, a LINDB é uma norma de SOBREDIREITO, ou seja, uma norma jurídica que
visa a regulamentar outras normas (leis sobre leis ou lex legum).
As normas jurídicas são dirigidas a todos (GENERALIDADE), mas a LINDB é dirigida ao legislador e
ao aplicador do Direito (a exemplo do juiz). Isso fica claro pela redação dos Arts. 4º e 5º.
Tem caráter universal, sendo aplicada a todos os ramos do direito (é lei de introdução às normas do
Direito brasileiro), salvo naqueles pontos em que há regulamentação específica, a exemplo do Direito
material Penal, no qual não é possível a analogia in malam partem.
Dessa forma, percebe-se que, enquanto as demais normas têm como objeto o comportamento humano,
a LINDB tem como objeto a própria norma.

PONTOS IMPORTANTES

VIGÊNCIA DAS NORMAS (EFEITOS/EFICÁCIA)

Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45


dias (vacatio legis) depois de oficialmente publicada.
§ 1o Nos Estados estrangeiros a obrigatoriedade da lei brasileira, quando
admitida, se inicia 3 meses (não confundir com 90 dias) depois de oficialmente
publicada.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores
começará a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

OBSERVAÇÕES

É o instrumento que declara a existência da lei e ordena sua execução2.


PROMULGAÇÃO Ganha existência e validade. Revela o momento existencial da norma. Ato pelo
qual a norma é autenticada pelo Poder Executivo.

1
Tartuce, Flávio Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, pag. 29.
2
Fonte: Agência Senado

2
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

É com a publicação da lei que esta se torna obrigatória. Com a publicação,


os cidadãos são informados sobre a existência da nova norma jurídica e ninguém
PUBLICAÇÃO pode alegar desconhecimento da lei para não cumpri-la. A publicação é o
complemento da promulgação e, normalmente, a lei entra em vigor a partir da
data em que é publicada2.

Correspondendo ao período entre a data da publicação de uma lei e o início


de sua vigência. Existe para que haja prazo de assimilação do conteúdo de uma
nova lei e, durante tal vacância, continua vigorando a lei antiga. A vacatio legis
VACATIO LEGIS
vem expressa em artigo no final da lei da seguinte forma: "esta lei entra em vigor
após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial"2.
ATENÇÃO: Decretos e regulamentos executivos não possuem vacatio legis.

● Apenas normas de pequena repercussão social podem ter vigência imediata, na data de sua
publicação.

Art. 8o LC 95: A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a


contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis
de pequena repercussão.

● Entretanto, nada impede que a própria norma declare outro prazo de vacatio legis, como o
Código Civil, que autodeclarou o prazo de 1 ano.
● Atos administrativos não seguem essa regra, apenas as leis.
● Contagem do prazo da vacatio legis:

Art. 8o, § 1o,LC 95: A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que
estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da
publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente
à sua consumação integral.

Não confundir com a contagem dos prazos processuais.

Art. 224, CPC/15. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados


excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento.

● NORMA CORRETIVA: Segundo Tartuce (2020, p. 34), é aquela que existe para afastar
equívocos importantes cometidos pelo texto legal, sendo certo que as correções do texto de lei
já em vigor devem ser consideradas como lei nova” - art. 1°, §3°.
● PRINCÍPIO DA VIGÊNCIA SINCRÔNICA: a obrigatoriedade da lei é simultânea, porque entra
em vigor a um só tempo em todo o país, ou seja, 45 dias após sua publicação, não havendo data
estipulada para sua entrada em vigor.3

3
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/165164/em-que-consiste-o-principio-da-vigencia-sincronica-denise-cristina-mantovani-cera

3
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue [PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU
PERMANÊNCIA]
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria
de que tratava a lei anterior.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, NÃO REVOGA NEM MODIFICA a lei anterior.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada NÃO SE RESTAURA por
ter a lei revogadora perdido a vigência. (REPRISTINAÇÃO)

OBSERVAÇÕES
● PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU PERMANÊNCIA: Segundo Tartuce (2020, p.34), a norma,
a partir da sua entrada em vigor, tem eficácia contínua, até que outra a modifique ou revogue.
● Meio para retirar a vigência da norma: REVOGAÇÃO.

“Ocorre quando se torna sem efeito uma


REVOGAÇÃO TOTAL OU
norma de forma integral, com a supressão total
AB-ROGAÇÃO
QUANTO À do seu texto por uma norma emergente”
EXTENSÃO4
REVOGAÇÃO PARCIAL “Uma lei nova torna sem efeito parte de uma lei
OU DERROGAÇÃO anterior.”

“Situação em que a lei nova taxativamente


declara revogada a lei anterior ou aponta os
REVOGAÇÃO dispositivos que pretende retirar.”
EXPRESSA Art. 9º, LC 95/98. A cláusula de
(OU POR VIA DIRETA) revogação deverá enumerar,
expressamente, as leis ou disposições
QUANTO AO MODO
legais revogadas.

“Situação em que a lei posterior é


REVOGAÇÃO TÁCITA
incompatível com a anterior, não havendo
(OU POR VIA OBLÍQUA
previsão expressa no texto a respeito da sua
OU INDIRETA)
revogação”

● Ordenamento brasileiro não admite o DESUETUDO (revogação pelos costumes).


● EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA NORMA :
a) NORMA TEMPORÁRIA: já nasce com data limite de vigência.
b) NORMA CIRCUNSTANCIAL: somente vige durante determinada circunstância.
● ULTRATIVIDADE OU PÓS-ATIVIDADE (PÓS-EFICÁCIA) NORMATIVA: lei produz seus efeitos
mesmo depois de revogada. Excepcionalmente a lei já revogada é aplicada.

4
Tartuce, Flávio Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, pag.
35/36.

4
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

● ADMITE-SE A REPRISTINAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO?

REPRISTINAÇÃO
É um fenômeno legislativo no qual há a entrada novamente em vigor de uma norma efetivamente
revogada, pela revogação da norma que a revogou.
A repristinação deve ser expressa dada a dicção do artigo 2º, § 3º da LICC
EFEITO REPRISTINATÓRIO / REPRISTINAÇÃO OBLÍQUA OU INDIRETA
É a reentrada em vigor de norma aparentemente revogada, ocorrendo quando uma norma que a
revogou é declarada inconstitucional.
STF: “A declaração de inconstitucionalidade em tese encerra um juízo de exclusão, que, fundado
numa competência de rejeição deferida ao STF, consiste em remover do ordenamento positivo a
manifestação estatal inválida e desconforme ao modelo plasmado na Carta Política, com todas as
consequências daí decorrentes, inclusive a plena restauração de eficácia das leis e das normas
afetadas pelo ato declarado inconstitucional.”
Segundo Tartuce (2020, p. 37), existem duas possíveis situações:
- Efeito repristinatório decorre da declaração de inconstitucionalidade da lei.
- Efeito repristinatório previsto pela própria norma jurídica.
*Informações retiradas do site www.dizerodireito.com.br

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece

OBSERVAÇÕES
● PRINCÍPIO DA OBRIGATORIDADE DA NORMA: Segundo Tartuce (2020, p. 38/39), ninguém
pode deixar de cumprir a lei alegando não a conhecer. Pontua o autor que “o princípio da
obrigatoriedade das leis não pode ser visto como um preceito absoluto, havendo claro
abrandamento no Código Civil de 2002. Isso porque o art. 139, inc. III, da codificação material
em vigor admite a existência de erro substancial quando a falsa noção estiver relacionada
com um erro de direito (error iuris), desde que este seja única causa para a celebração de um
negócio jurídico e que não haja desobediência à lei. Alerte-se, em complemento, que a Lei de
Contravenções Penais já previa o erro de direito como justificativa para o descumprimento da
norma (art. 8.º)”.
● PRESUNÇÃO RELATIVA DE CONHECIMENTO DAS NORMAS: admite-se a arguição de
desconhecimento da norma de forma excepcional. Exemplos:
- artigo 8 da Lei de Contravenções Penais: no caso de ignorância ou de errada compreensão da
lei, quando escusáveis, a pena deixa de ser aplicada;
- artigo 65, II, CP: atenuante de desconhecimento da lei;
- artigo 139, III, Código Civil: erro substancial.

CORRENTES DOUTRINÁRIAS QUE PROCURAM JUSTIFICAR O CONTEÚDO DA NORMA 5

5
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020

5
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

A obrigatoriedade foi instituída pelo ordenamento para


TEORIA DA FICÇÃO LEGAL
a segurança jurídica
Haveria uma dedução iure et de iure de que todos
TEORIA DA PRESUNÇÃO ABSOLUTA
conhecem as leis
Amparada, segundo Maria Helena Diniz, na premissa
“de que as normas devem ser conhecidas para que
TEORIA DA NECESSIDADE SOCIAL
melhor sejam observadas”, a gerar o princípio da
vigência sincrônica da lei

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

OBSERVAÇÕES
● O art. 4° traz FORMAS DE INTEGRAÇÃO (COLMATAÇÃO) DA NORMA JURÍDICA.

CLASSIFICAÇÃO DAS LACUNAS6

ausência total de norma prevista para um determinado caso


LACUNA NORMATIVA
concreto.
presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha
LACUNA ONTOLÓGICA
eficácia social.
presença de norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja
LACUNA AXIOLÓGICA
insatisfatória ou injusta.
LACUNA DE CONFLITO OU choque de duas ou mais normas válidas, pendente de solução no
ANTINOMIA caso concreto.

● A ordem prevista no art. 4° é de observância obrigatória?

Sim, a ordem prevista no art. 4° da LINDB é de observância


VISÃO CLÁSSICA
obrigatória (Silvio Rodrigues).
Segundo Tartuce (2020, p.41), “até pode-se afirmar que essa
continua sendo a regra (observância obrigatória da ordem), mas
VISÃO MODERNA nem sempre o respeito a essa ordem deverá ocorrer, diante da
força normativa e coercitiva dos princípios, notadamente
daqueles de índole constitucional”.

● ANALOGIA: “é a aplicação de uma norma próxima ou de um conjunto de normas próximas, não


havendo uma norma prevista para um determinado caso concreto.7”

6
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
41

7
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
43/44

6
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

CLASSIFICAÇÃO DA ANALOGIA 7

ANALOGIA LEGAL OU a aplicação de somente uma norma próxima, como ocorre nos
LEGIS exemplos citados.
ANALOGIA JURÍDICA OU é a aplicação de um conjunto de normas próximas, extraindo elementos
IURIS que possibilitem a analogia

NÃO CONFUNDA8

ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

rompe-se com os limites do que está previsto na apenas amplia-se o seu sentido, havendo
norma, havendo integração da norma jurídica. subsunção.

OBS: as normas de exceção ou normas excepcionais não admitem analogia ou interpretação


extensiva

● COSTUMES/CONSUETUDO: Segundo Tartuce (2020, p. 46), SÃO “práticas e usos reiterados


com conteúdo lícito e relevância jurídica”. Requisitos para aplicação (Limongi França):
continuidade; uniformidade; diuturnidade; moralidade; obrigatoriedade.

CLASSIFICAÇÃO DOS COSTUMES8

Incidem quando há referência expressa aos costumes no texto


COSTUMES SEGUNDO A LEI legal.
(SECUNDUM LEGEM) Na aplicação dos costumes secundum legem, não há integração,
mas subsunção, eis que a própria norma jurídica é que é aplicada.
Aplicados quando a lei for omissa, sendo denominado costume
COSTUMES NA FALTA DA LEI
integrativo, eis que ocorre a utilização propriamente dita dessa
(PRAETER LEGEM)
ferramenta de correção do sistema.
Incidem quando a aplicação dos costumes contraria o que dispõe a
COSTUMES CONTRA A LEI lei.
(CONTRA LEGEM) Não há que se falar em integração

● COSTUME JUDICIÁRIO OU JURISPRUDENCIAL: segundo Tartuce (2020, p. 47), a


jurisprudência consolidada pode constituir elemento integrador do costume, a exemplo dos
entendimentos sumulados.

8
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
45

7
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

● PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO: para Nelson Nery Jr “são regras de conduta que norteiam o
juiz na interpretação da norma, do ato ou negócio jurídico. Os princípios gerais de direito não se
encontram positivados no sistema normativo. São regras estáticas que carecem de concreção”.9

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CC/029

valorização da ética e da boa-fé, principalmente daquela que existe no plano da


conduta de lealdade das partes (boa-fé objetiva).
FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA:
- INTERPRETATIVA: tem função de interpretação dos negócios jurídicos
PRINCÍPIO DA em geral (art. 113 do CC).
ETICIDADE - CONTROLE: serve ainda como controle das condutas humanas, eis
que a sua violação pode gerar o abuso de direito, nova modalidade de
ilícito (art. 187).
- INTEGRATIVA: tem a função de integrar todas as fases pelas quais
passa o contrato (art. 422 do CC).
Impõe prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, respeitando
PRINCÍPIO DA
os direitos fundamentais da pessoa humana. Ex: princípio da função social do
SOCIALIDADE
contrato, da propriedade.
Impõe soluções viáveis, operáveis e sem grandes dificuldades na
PRINCÍPIO DA aplicação do direito. A regra tem que ser aplicada de modo simples. Exemplo:
OPERABILIDADE princípio da concretude pelo qual deve-se pensar em solucionar o caso
concreto de maneira mais efetiva.

● EQUIDADE: “uso do bom senso, a justiça do caso particular, mediante a adaptação razoável da
lei ao caso concreto”.

Segundo Tartuce (2020, p. 54), “era tratada não como um meio de


VISÃO CLÁSSICA suprir a lacuna da lei, mas sim como um mero meio de auxiliar
nessa missão.”
A equidade deve ser considerada fonte informal ou indireta do
VISÃO MODERNA
direito.

CLASSIFICAÇÃO DA EQUIDADE 10

LEGAL Aquela cuja aplicação está prevista no próprio texto legal.


Presente quando a lei determina que o magistrado deve decidir por
equidade o caso concreto.
JUDICIAL
Art. 140, Parágrafo único, CPC/15. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos
em lei.

9
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
50
10
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020,pág. 55

8
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

“significaria desconsiderar as regras e normas jurídicas,


decidindo-se com outras regras. A título de exemplo, o julgador
JULGAR POR EQUIDADE10
decide com base em máximas econômicas, como a teoria dos
jogos”
“tem o sentido de decidir-se de acordo com a justiça do caso
JULGAR COM EQUIDADE
concreto.”

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ATO JURÍDICO PERFEITO o já consumado segundo a lei
vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se ADQUIRIDOS assim os direitos que o seu titular, ou
alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício
tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de
outrem.
§ 3º Chama-se COISA JULGADA ou caso julgado a decisão judicial de que já
não caiba recurso.

OBSERVAÇÕES
● APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO OU DIREITO INTERTEMPORAL: A lei, em regra, é
irretroativa. Para retroagir, tem que ter previsão legal, mas esta retroação não pode alcançar o
fato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
● A PROTEÇÃO DO DIREITO ADQUIRIDO, DO ATO JURÍDICO PERFEITO E DA COISA
JULGADA É ABSOLUTA? Não, diante da forte tendência de relativizar princípios e regras em
sede de Direito (Tartuce, 2020, p. 58). Ex: relativização da coisa julgada nas ações de
investigação de paternidade julgadas improcedentes por ausência de provas em momento em
que não existia o exame de DNA.

Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de


paternidade em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de
vínculo genético a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de
DNA, meio de prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à
existência de tal vínculo. STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 02/06/2011 (repercussão geral)11

Segundo Tartuce (2020, p. 60), “quanto à relativização de proteção do direito adquirido e do ato
jurídico perfeito, o Código Civil em vigor, contrariando a regra de proteção apontada, traz, nas
suas disposições finais transitórias, dispositivo polêmico, pelo qual os preceitos relacionados
com a função social dos contratos e da propriedade podem ser aplicados às convenções e

11
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, é possível a relativização da coisa julgada formada em ação de investigação de paternidade
julgada sem DNA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f1ababf130ee6a25f12da7478af8f1ac>.

9
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

negócios celebrados na vigência do Código Civil anterior, mas cujos efeitos têm incidência na
vigência da nova codificação material.”

Art. 2.035, CC. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar os preceitos de


ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a
função social da propriedade e dos contratos.

“O dispositivo consagra o PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE MOTIVADA OU JUSTIFICADA,


pelo qual as normas de ordem pública relativas à função social da propriedade e dos contratos
podem retroagir” (2020, p. 60).

ANTINOMIAS OU LACUNAS DE CONFLITO, segundo Tartuce (2020, p. 78), “a antinomia é a


presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que
se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto (lacunas de colisão)”.

ANTINOMIA APARENTE situação que pode ser resolvida de acordo com os metacritérios.

situação que não pode ser resolvida de acordo com os


ANTINOMIA REAL
metacritérios.

METACRITÉRIOS CLÁSSICOS DE BOBBIO12

CRITÉRIO CRONOLÓGICO norma posterior prevalece sobre norma anterior;

CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE norma especial prevalece sobre norma geral;

CRITÉRIO HIERÁRQUICO norma superior prevalece sobre norma inferior.

CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS QUANTO AOS METACRITÉRIOS ENVOLVIDOS 12

Conflito de normas que envolve apenas um dos critérios


anteriormente expostos.
- Norma posterior x norma anterior: norma posterior
prevalece (critério cronológico);
ANTINOMIA DE 1.º GRAU
- Norma especial x norma geral: prevalece a especial
(critério da especialidade);
- Norma superior x norma inferior: prevalece a norma
superior (critério hierárquico).

Choque de normas válidas que envolve dois dos critérios


ANTINOMIA DE 2.º GRAU analisados.
- Norma especial anterior x norma geral posterior:

12
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020,pág. 78

10
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

prevalece o critério da especialidade;


- Norma superior anterior x norma inferior posterior:
prevalece o critério hierárquico;
- Norma geral superior x norma especial e inferior:
antinomia real. Segundo Maria Helena Diniz, não será
possível estabelecer uma metarregra geral, não
existindo prevalência entre os critérios. Soluções
possíveis:
- Solução do Poder Legislativo: edição de uma
terceira norma, prevendo qual das normas em
conflito deverá ser aplicada;
- Solução do Poder Judiciário: adoção do princípio
máximo de justiça, cabendo ao magistrado, com
amparo no art. 4°e 5° da LINDB c/c art. 8° do
CPC/15, adotar uma das normas, para solucionar
o problema em questão.

Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer
remissão por ela feita a outra lei.

● TEORIA DO REENVIO/ DO RETORNO/ DA DEVOLUÇÃO13: é uma forma de interpretação de


normas do Direito Internacional Privado, de forma que haja substituição da lei nacional
pela lei estrangeira, de modo pelo qual seja desprezado o elemento de conexão da ordenação
nacional, dando preferência ao apontado pelo ordenamento jurídico alienígena.
Esse instituto é utilizado sempre que ocorrer problemas nas interpretações de ordem
internacional, servindo como meio importante de resolução de conflitos, e sempre que for
necessário que o juiz aplique direito estrangeiro.
O reenvio é uma interpretação que desconsidera a norma material da regra de conexão e aplica
o direito internacional privado estrangeiro para chegar à nova norma material, geralmente de
âmbito nacional.
O reenvio pode ser dividido em 3 graus:
1° grau: consiste em dois países, onde o primeiro remete uma legislação ao segundo país, que
por sua vez reenvia ao primeiro;
2° grau: compõe-se por três países, onde o primeiro envia sua legislação ao segundo que a
reenvia ao terceiro;
3° grau: formado por quatro países, no qual o primeiro remete a legislação ao segundo, que por
sua vez encaminha ao terceiro e finalmente reenvia ao quarto.
Nesse sentido, o artigo 16 da LINDB proíbe o juiz nacional de aplicar o reenvio, cabendo
apenas a aplicação do Direito Internacional Privado brasileiro para determinar o direito material
cabível, ficando a cargo de estrangeiro, se houver, a aplicação do reenvio.

13
http://sabendoodireito.blogspot.com/2013/12/reenvio-artigo-16.html?m=1

11
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

LEI 13655/18 - REPERCUSSÕES PARA O DIREITO PÚBLICO


As novas alterações operadas na LINDB foram feitas com a preocupação de mitigar alguns efeitos
decorrentes da nova forma de enxergar a aplicação dos princípios (NORMATIVIDADE DOS
PRINCÍPIOS). Uma das decorrências do Neoconstitucionalismo foi a aplicação desenfreada dos
princípios em oposição às regras. Parcela da doutrina constitucionalista confronta veementemente essa
postura dos aplicadores do Direito, sustentando que não podem os princípios serem aplicados
afastando as regras vigentes quando estas são de clara aplicação ao caso concreto.
Assim, as novas alterações na LINDB vieram para amenizar estes efeitos no âmbito do poder público
trazendo como pilares da mudança a NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO E MOTIVAÇÃO e o
CONSEQUENCIALISMO JURÍDICO.

● BUSCA DA SEGURANÇA HERMENÊUTICA: “consagra o dever de motivação concreta e a


responsabilidade decisória dos gestores dos interesses públicos ao julgarem sobre questões que
lhe são levadas a análise”14.
● CONSEQUENCIALISMO: “O consequencialismo foi introduzido no ordenamento brasileiro com
a edição da Lei nº 13.655/18, que alterou a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(LINDB) para trazer ‘segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito
público’”15. Dever de observar as consequências prática da decisão.
● PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE DA REGULARIZAÇÃO: A decisão não poderá impor
aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos (art. 21, parágrafo único).

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá


com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da
medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências
jurídicas e administrativas.

14
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020,pág. 83.
15

https://www.conjur.com.br/2020-ago-05/rocha-lima-consequencialismo-artigo-20-lindb#:~:text=O%20consequencialismo%20foi%20introduzido
%20no,na%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20p%C3%BAblico%22.

12
PAULA CAROLINA - 950.215.151-87

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá,


quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de
modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não
se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função
das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

● INVALIDADE REFERENCIAL: Segundo Tartuce (2020, p. 86), “expressão referencial é utilizada


pela necessidade de verificar as normas vigentes à época do reconhecimento da
invalidade, na contramão do que está previsto no art. 2.035, caput, do Código Civil de 2002: ‘a
validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste
Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos,
produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver
sido prevista pelas partes determinada forma de execução’.”

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à


validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja
produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais
da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e
especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência
judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

● INFRAÇÃO HERMENÊUTICA: responsabilização do agente público por infração às normas de


interpretação.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou


opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.

13

Você também pode gostar