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Resíduos, Sociedade e Meio Ambiente
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Revisão Técnica:
Prof.ª M.ª Josiane Travençolo Silva
Resíduos, Sociedade e Meio Ambiente
Objetivos
• Descrever a relação de resíduos no contexto da sociedade, meio ambiente e saúde;
• Proporcionar reflexão da relação de resíduos com aspectos populacionais e padrão de con-
sumo, bem como reconhecer os tipos de resíduos e sua classificação;
• Conceituar Resíduos de Serviços de Saúde (RSS);
• Definir os riscos ocupacionais e os relacionar com gerenciamento de risco.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
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Figura 1
Fonte: Getty Images
Uma sociedade sustentável é aquela que consegue suprir suas necessidades de pro-
dução, consumo e crescimento sem comprometer as bases para o desenvolvimento das
futuras gerações; deve, portanto, caminhar no sentido do desenvolvimento sustentável,
equilibrando o crescimento econômico com a preservação do meio ambiente e a quali-
dade de vida.
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Com uma população mundial de 7,2 bilhões de habitantes, com mais da metade
vivendo em cidades, com uma projeção de até 2050 alcançarmos uma população mun-
dial urbana de 8 bilhões e 900 mil pessoas (UNITED NATIONS POPULATION FUND,
2014), os aspectos populacionais devem fazer parte da discussão sobre gerenciamento
de resíduos, uma vez que não há como pensar num estilo de vida que não gere resíduos.
Por outro lado, a questão dos resíduos sólidos tem origem nos padrões de produção
e consumo e na forma de reprodução do capital. Como reflexo, os bens de produtos
são passíveis de um consumo exagerado, são rapidamente incorporados aos hábitos da
sociedade, programados com vida útil reduzida (COOPER, 2004) e apresentam compo-
sição cada vez mais problemática em termos ambientais.
O termo lixo é igual a resíduo? Será que a renda financeira da pessoa interfere no padrão
de geração de resíduos?
O conceito mais atual é de que lixo é aquilo que ninguém quer ou não tem valor
comercial, nesse caso, pouca coisa descartada pode ser chamada de lixo, que constitui o
resto das atividades humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou
descartáveis; apresentam-se sob estado sólido, semissólido ou líquido. Já o termo resíduo
sugere a ideia de algo que sobrou, mas que pode ser usado para outros fins (FARIAS;
FONTES, 2003). Com isso, entende-se que o termo resíduo seja mais adequado e traz
um conceito mais amplo, incluindo a possibilidade de reciclagem, recuperação e reuso.
Muito se tem discutido sobre as melhores formas de tratar e eliminar o “lixo” gerado
pelo estilo de vida da sociedade contemporânea. Existe uma tendência de se pensar que
o lixo é o espelho da sociedade, tão geradora de resíduos quanto mais consumistas e
qualquer tentativa de reduzir sua quantidade ou alterar sua composição pressupõe uma
mudança de comportamento social (TEIXEIRA; CARVALHO, 2006).
Ainda segundo a Abrelpe (2018), estimativas mostram que o Brasil gerará cerca de
100 milhões de toneladas de lixo anualmente por volta do ano de 2030.
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Os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo com a origem, tipo de resí-
duo e periculosidade, vejamos:
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• Resíduos de mineração: podem ser constituídos de solo removido, que conte-
nham metais pesados, restos e lascas de pedras e outros.
Antigamente, a denominação lixo hospitalar era usada para qualquer resto prove-
niente de hospitais e serviços de saúde, como a classificação está ligada à origem e os
hospitais são os maiores geradores, era o termo mais utilizado.
Essa classificação foi definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
na Norma Brasileira de Regulamentação (NBR) 10004:2004 da seguinte forma:
• Resíduos perigosos (classe I): são aqueles que por suas características podem
apresentar riscos para a sociedade ou para o meio ambiente. São considerados
perigosos também os que apresentem uma das seguintes características: inflamabi-
lidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou patogenicidade. Os resíduos que
recebem essa classificação requerem cuidados especiais de destinação;
• Resíduos não perigosos (classe II): não apresentam nenhuma das características
do item anterior, podendo ainda ser subclassificados em inertes ou não inertes.
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saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares; e como
Grupo E estão os materiais perfurocortantes ou escarificastes (BRASIL, 2004).
Um RSS pode ser classificado em mais de um grupo; como exemplo considere uma
agulha utilizada em quimioterapia, de modo que se analisada isoladamente deveria ser
descartada no grupo E – perfurocortante –, mas como está impregnada com restos de
substâncias quimioterápicas, classificadas como grupo B – químico –, deverá ser acondi-
cionada em coletor de resíduos químicos (caixas laranjas) e feita a destinação como resí-
duo químico, por ter maior risco – dada a legislação ser restritiva (NOGUEIRA, 2014).
Para lhe ajudar a relacionar as etapas de manejo dos RSS com a realidade de seu
local de trabalho, estudo ou experiências que teve em estágios ao longo da Graduação,
foi elaborado por Guassú (2008) um checklist baseado na legislação com todas as etapas
da RDC n.º 306/2004, vejamos:
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Neste checklist a resposta ideal seria “sim” em todos os itens; se você não atua diretamente
na gestão de RSS, alguns itens provavelmente estarão assinalados como “não sei” – por-
que realmente são questões bem específicas.
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O gerenciamento de resíduos de serviço de saúde compreende ações
planejadas e implementadas, pautadas nas legislações vigentes, com o
compromisso de minimizar a produção de resíduos gerados e oferecer
aos mesmos um encaminhamento e tratamento seguros, visando à pro-
teção dos trabalhadores e a preservação da saúde e do meio ambiente.
Os RSS vêm assumindo grande importância nos últimos anos, não necessariamente
pela quantidade gerada, que é cerca de 1 a 3% do total dos resíduos sólidos urbanos,
mas pelo potencial de risco que representam à saúde e ao meio ambiente (AGAPITO,
2007), pois, quando esse pequeno montante não é manipulado corretamente torna os
demais resíduos infectantes (CHAERUL; TANAKA; SHEKDAR, 2008). Isso tem susci-
tado a criação de políticas públicas e legislações, que têm como eixos de orientação a
sustentabilidade do meio ambiente e a preservação da saúde.
Vários podem ser os danos decorrentes do mau gerenciamento dos RSS; dentre eles
destaca-se a contaminação do meio ambiente, a ocorrência de acidentes de trabalho envol-
vendo profissionais da saúde, o comprometimento da higiene hospitalar, problemas na
limpeza pública e agravos à saúde dos catadores de lixo; a propagação de doenças para a
população em geral, por contato direto ou indireto através de vetores, além de uma série
de contaminantes químicos presentes, dentre os quais se destacam os metais pesados
(TAKAYANAGUI, 1993, 2000; BIDONE, 2001; MALHEIROS; PHILIPPI JR., 2005).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma série de princípios básicos que
descrevem a gestão segura e sustentável dos RSS como uma exigência de saúde públi-
ca, convocando todas as entidades relacionadas a apoiá-la e financiá-la adequadamente
(Organização Mundial da Saúde, 2007).
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O restante, que pode variar de 10 a 25% dos RSS, de fato são considerados como
perigosos e podem representar uma série de riscos ambientais e de saúde (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2013).
Segundo Morel e Bertusi Filho (1997), os primeiros estudos realizados com intuito
de caracterizar as unidades geradoras de RSS, em termos qualitativos e quantitativos,
ocorreram em 1978. “Naquela oportunidade foi identificada uma série de microrganis-
mos presentes na massa de resíduos, razão pela qual recomendaram cuidados especiais
no gerenciamento, como acondicionamento e coleta”. Nesses estudos foram identifi-
cados os seguintes microrganismos: Salmonela typhi, Shigella sp., Pseudomonas sp.,
Streptococus, Staphylococus aureus e Cândida albicans. A possibilidade de sobrevivên-
cia de vírus na massa de resíduos sólidos foi comprovada para pólio de tipo I, hepatites
A e B, influenza, vaccínia e vírus entéricos.
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Ainda nesse estudo, verificaram o tempo de sobrevivência em dias de alguns agentes
etiológicos na massa de resíduos sólidos: Entamoeba histolylica de 8 a 12, Leptospira
interrogans de 15 a 43, polivírus de 20 a 170, larvas de vermes de 25 a 40, Salmonella
typhi de 29 a 70, Mycobacterium tuberculosis de 150 a 180, Ascaris lumbricoides
(ovos) de 2.000 a 2.500 dias (MOREL; BERTUSI FILHO, 1997).
Apesar das evidências do estudo de Morel e Bertusi Filho (1997), ainda há divergên-
cias de posicionamento quanto às características microbiológicas dos RSS entre pesqui-
sadores, políticos e administradores hospitalares, gerando conflitos quanto ao rigor de
todo um sistema de gerenciamento dos RSS diferenciado dos resíduos urbanos.
A análise realizada por Andrade (1997) sobre o fluxo e características físicas, químicas
e microbiológicas dos RSS em 92 estabelecimentos de saúde no Município de São Carlos,
SP, detectou 25 culturas positivas para bactéria, sendo isoladas Escheria coli, Klebsiella sp.,
Enterobacter aerogenes e Staphylococus aureus. Segundo esse autor, todos os micror-
ganismos detectados em sua investigação podem causar infecção hospitalar, entretanto,
por pertencerem à microbiota normal humana, essas infecções não são resultadas de
transmissão através de RSS, mas de complicação do paciente que perdeu a capacidade de
conviver normal e harmoniosamente com a microbiota que habita seu corpo.
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O risco de causar doenças pela exposição aos RSS para o público em geral é muito
mais baixo do que o risco dos indivíduos ocupacionalmente expostos. Esse risco é maior
durante a geração, no local de trabalho, e declina a partir desse ponto, sendo maior o
risco ocupacional do que o ambiental (CUSSIOL, 2000).
Risco Biológico
Considera-se risco biológico a probabilidade da ocorrência de um evento adverso em
virtude da presença de um agente biológico. Os pré-requisitos necessários para o desen-
volvimento de uma doença infecciosa são a presença do agente infeccioso; número sufi-
ciente do agente; hospedeiro suscetível; porta de entrada do agente no hospedeiro – que
deve estar presente ou ser criada.
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• Ter atenção durante a higiene do local, pois é comum agulhas e lacres de medica-
ção no chão, principalmente no posto de enfermagem e expurgo;
• Ter atenção durante aspiração e outros procedimentos com exposição a mate-
riais iológicos;
• Fornecer equipamentos de proteção individual ao pessoal da higienização e cole-
ta dos resíduos, de acordo com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA) do estabelecimento.
Risco Físico
O risco físico está relacionado à exposição dos profissionais a agentes físicos, tais
como temperaturas extremas durante o abastecimento manual das unidades de trata-
mento térmico; e à radiação ionizante, quando os rejeitos radioativos são mal acondi-
cionados ou armazenados para decaimento. Outros agentes físicos são: ruído, vibração,
radiação não ionizante, iluminação deficiente ou excessiva e umidade. Para minimizar a
exposição radiológica, devem-se seguir as orientações contidas no Programa de Geren-
ciamento de Rejeitos Radioativos (PGRR), aprovado pela Comissão Nacional de Energia
Nuclear (Cnen) para a instalação. A capacitação continuada, o correto atendimento às
normas e o gerenciamento dos resíduos minimizam a exposição a esse tipo de risco.
Risco Químico
O risco químico no gerenciamento de RSS tem como principais causadores os
quimioterápicos (citostáticos, antineoplásicos etc.), amalgamadores, saniantes e desinfe-
tantes químicos (álcool, glutaraldeído, hipoclorito de sódio, ácido peracético, clorexidina
etc.) e os gases medicinais (óxido nitroso e outros) e ainda pilhas e baterias, reveladores
de raios X e outros tantos.
A RDC n.º 306/2004 faz referência a oito grupos de resíduos químicos e todos da
Portaria n.º 344/98 fazem referência específica à medicação controlada, psicotrópicos
e agentes anestésicos.
Alguns desses RSS são gerenciados por meio de logística reversa com o fornecedor
do produto, não impactando nem volume ou custo dos mesmos.
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Risco Ergonômico
Causado por agentes ergonômicos, tais como postura incorreta, levantamento e
transporte manual de cargas; e ritmo de trabalho e carga excessivos, que podem resul-
tar em transtornos músculo-articulares diversos. Para minimizar o risco ergonômico, são
recomendadas as seguintes ações:
• Manutenção dos equipamentos de coleta e transporte dos RSS;
• Planejar a frequência da coleta interna dos resíduos;
• Planejamento de rota com menos declive e menor manipulação;
• Promover capacitações permanentes da equipe de limpeza quanto à postura duran-
te levantamento de carga de RSS e outras relacionadas.
Risco de Acidente
Exposição da equipe de saúde a agentes mecânicos ou que propiciem acidentes é o
que caracteriza este risco. Escalpes, agulhas, lacres de medicação e bisturis são, cons-
tantemente, encontrados junto aos lençóis e roupas de centro cirúrgico nas lavanderias.
Outros riscos são: abrigo de resíduos com espaço físico subdimensionado ou arranjo físi-
co inadequado, acesso inadequado ao abrigo de resíduos pelo pessoal da coleta externa,
contêineres sem condições de uso, perigo de incêndio ou explosão de equipamentos de
tratamento de resíduos, ausência de EPI, agulhas no chão e improvisações diversas.
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Gerenciamento de Risco
Segundo Cussiol (2008) no Manual da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam),
o gerenciamento de risco é o controle de forma mais eficiente dos riscos aos quais os
trabalhadores estão expostos durante o desempenho das tarefas, a fim de assegurar a
saúde, prevenir acidentes, bem como minimizar impactos ambientais. De forma geral,
os riscos podem ser minimizados e, até mesmo, eliminados, por meio da seleção e
aplicação das possíveis medidas apropriadas de controle; implantação de programas
de alertas, inclusive com distribuição de material informativo; capacitação dos recursos
humanos sobre como reconhecer os riscos envolvidos em suas tarefas; e sensibilização
para a importância da utilização e higienização dos equipamentos de proteção individual
para evitar danos à saúde.
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Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS
ESPECIAIS. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2018/2019. São Paulo, 2018.
Disponível em: <https://abrelpe.org.br/download-panorama-2018-2019>. Acesso em:
08/12/2020.
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