Administração Autárquica
Administração Autárquica
Administração Autárquica
3° Ano
Maxixe, 2022
Índice
1. Introdução ........................................................................................................................... 3
3. Conclusão ........................................................................................................................... 9
A lei acima referida atribui às autarquias locais poderes, entre outros, de elaborar, aprovar,
alterar e executar seus planos de atividades e orçamentos, de dispor de receitas próprias e de
gerir o seu património, visando a sua sustentabilidade financeira. Portanto, é na autonomia e
sustentabilidade financeira das autarquias locais onde reside o objeto deste estudo.
Torna-se crucial destacar que os dispositivos legais retro mencionados atribuem às autarquias
locais o poder legal de, autonomamente, sobreviverem às custas de receitas próprias
arrecadadas dentro do seu território e geridas pelos respetivos órgãos, apesar da Lei nº 1/2008
reconhecer a existência de transferências orçamentais feitas através de fundo de compensação
autárquica, do apoio ao desenvolvimento autárquico e investimento público e das transferências
extraordinárias admitidas por lei, consideradas exceções de carácter complementar ao
orçamento das autarquias.
No entanto, o que nos apoquenta é o facto de que já passaram sensivelmente 20 anos desde que
as primeiras autarquias locais entraram em funcionamento em Moçambique, e o município da
cidade de Nampula foi um dos primeiros a ser criado, mas mesmo assim torna- se difícil afirmar
que este é ou não sustentável. Não obstante, consideramos este espaço temporal como suficiente
para aprimorar muitas medidas atinentes a sustentabilidade das autarquias locais e de modo
particular, do município da cidade de Nampula.
Por isso, sendo movidos por estas e outras circunstâncias, surge-nos a seguinte questão
problemática: Será que o Conselho Municipal da Cidade de Nampula (CMCN) já goza, jurídica
e materialmente, da autonomia financeira constitucionalmente prevista?
1.1.Objectivos do trabalho
a) Objectivo Geral
b) Objectivos específicos:
A primeira lei sobre descentralização foi aprovada mesmo antes do início do mandato da
Assembleia multipartidária em 1994, a Lei n.o 3/94, no âmbito do Programa de Reforma dos
Órgãos Locais (PROL) em curso desde 1991, que criava o quadro legal e institucional de
reforma dos órgãos locais, e foi revogada pela Lei n.o 2/97, ainda em vigor. Esta lei criou
condições para emenda constitucional de 1996, que introduziu uma revisão pontual à lei
fundamental do país, consagrando as autarquias locais como pessoas coletivas públicas, dotadas
de órgãos representativos próprios.
A CRM integra os princípios sobre as autarquias locais no capítulo XIV que fala sobre o Poder
Local, ou seja, o nº 1 do art. 272 estabelece que “o Poder Local compreende a existência de
autarquias locais”, e no nº 2 do mesmo artigo define-as como sendo “pessoas coletivas
públicas, dotadas de órgãos representativos próprios, que visam a prossecução dos interesses
das populações respetivas, sem prejuízo dos interesses nacionais e da participação do Estado”.
O mesmo conceito foi adotado da Lei n.o 2/97, especificamente no n.o 2 do seu artigo 1.
Gilles Cistac retira deste conceito três elementos distintos: primeiro, as autarquias locais são
pessoas coletivas públicas; segundo, são dotadas de órgãos representativos próprios; terceiro e
último elemento, prosseguem os interesses das populações respetivas19.
Freitas do Amaral define as atribuições como sendo “...os fins ou interesses que a lei incumbe
as pessoas coletivas públicas de prosseguir”. Portanto, este autor entende ou defende que falar
de fins ou interesses é a mesma coisa que falar de atribuições.
Autores como Freitas do Amaral e Gilles Cistac defendem que a autonomia local é
verdadeiramente a expressão da descentralização administrativa, definindo-a como sendo o
direito e a capacidade efetiva das autarquias locais regulamentarem e gerirem, nos termos da
lei, sob sua responsabilidade e no interesse das respetivas populações, uma parte importante
dos assuntos públicos.
O princípio de autonomia local explicitamente patente no artigo 7 da Lei n.o 2/97, assim como
no artigo 3 da Lei n.o 1/2008, pode ser aplicado e se realizar em três perspetivas fundamentais,
a saber, a) perspetiva administrativa, b) perspetiva patrimonial e c) perspetiva financeira.
2.3.1. Autonomia Administrativa
De acordo com o nº 2 do artigo 7 da Lei n.o 2/97, a autonomia administrativa das autarquias
locais compreende dois poderes: poder normativo, que consiste na prática de atos definitivos
(poder regulamentar) e executórios (segundo os princípios de legalidade e especialidade) na
área da sua circunscrição territorial e, poder organizacional, pois as autarquias locais podem
criar, organizar e fiscalizar serviços destinados a assegurar a prossecução das suas atribuições.
A autonomia patrimonial é o poder de ter o património próprio suposto e/ou tomar decisões
relativas ao património público no âmbito da lei. É nisto que a legislação autárquica espelha,
quando estabelece, no nº 4 do artigo 7 da Lei nº 2/97, e nº 3 do artigo 3 da Lei nº 1/2008, que
“a autonomia patrimonial consiste em ter património próprio para a prossecução das atribuições
das autarquias locais”.
De acordo com Gilles Cistac citando François Labie, a autonomia financeira das autarquias
locais reveste uma dupla dimensão:
“Uma dimensão jurídica em primeiro lugar, que consiste no conhecimento de livre poder de
decisão das autoridades locais tanto em matéria de receitas como em despesas, poder que não
deve ser travado pelos controlos muito estritos da parte do Estado [...]; em seguida uma dimensão
material, que consiste na possibilidade para as autarquias locais de assegurar a cobertura das suas
próprias despesas por recursos próprios sem ser obrigado recorrer para equilibrar os seus
orçamentos aos subsídios do Estado. Por outras palavras, sobre um plano material, a autonomia
financeira define-se não mais em termos de capacidade jurídica mas em termos de independência
material em relação ao Estado”.
Nos termos do nº 1 do artigo 276 da CRM, as autarquias locais têm finanças próprias. E o nº 3
do artigo 7 da Lei nº 2/97 dispõe claramente que:
Portanto, o modelo ideal de descentralização territorial que foi imaginada no fim dos anos 90
em Moçambique foi introduzido numa realidade “agressiva”: insuficiências de meios materiais
e financeiros, exiguidade dos recursos humanos, nomeadamente, do pessoal bem formado nas
novas técnicas da descentralização, infra-estruturas, a maior parte do tempo, degradadas e/ou
em mau estado de funcionamento e dos eleitores na expectativa de uma mudança radical na
gestão dos recursos locais.
Contudo, as autarquias locais souberam fazer face a essas dificuldades com mais ou menos
sucesso e a imensa maioria dos cidadãos moçambicanos reconhece a sua utilidade. A
descentralização é, por natureza, um processo e, como qualquer processo social, o elemento
temporal desenvolve um papel importante na estruturação progressiva da sua dinâmica. O
processo de descentralização é ainda jovem em Moçambique e terá ainda necessidade do apoio
do Estado. O Estado deve medir os efeitos da descentralização - processo que ele próprio
empreendeu - e estar consciente do grande potencial criativo que este processo pode gerar.
4. Referências bibliográficas
AMARAL, DIOGO FREITAS DO, Curso de Direito Administrativo, 2a Ed., Vol. I, Almedina,
Coimbra, 1998.
CAETANO, MARCELLO, Manual de Direito Administrativo, Vol. I, 10a Ed., Ver. e atualiz.,
10a reimp., Almedina, Coimbra, 2010.
Legislação consultada