PH EM 1serie Cad4 HUMANAS MP Geografia

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ENSINO Geografia

MÉDIO
a MANUAL DO
1 série PROFESSOR

4
Caderno
Manual do Professor

Geografia
Thiago de Almeida Kiefer
Cláudio Ribeiro Falcão
Luiz Antônio Duarte
Direção de inovação e conteúdo: Guilherme Luz
Direção executiva de integração: Claudio Falcão
Direção editorial: Luiz Tonolli e Renata Mascarenhas
Coordenação pedagógica e gestão de projeto: Fabrício Cortezi de
Abreu Moura
Gestão de projeto editorial: Camila Amaral Souza
Desenvolvimento pedagógico: Filipe Couto
Revisão pedagógica: Ribamar Monteiro
Gestão e coordenação de área: Alice Silvestre e Camila De Pieri
Fernandes (Linguagens), Wagner Nicaretta e Brunna Paulussi (Ciências Humanas)
Edição: Cíntia Leitão, Juliana Mendonça Biscardi e Vivian Marques Viccino
(Língua Portuguesa e Redação), Ana Vidotti e Carla Rafaela Monteiro (História),
Andressa Serena de Oliveira, Elena Judensnaider, Karine M. dos S. Costa e
Marina Nobre (Geografia)
Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga
Planejamento e controle de produção: Paula Godo, Fabiana Manna,
Adjane Queiroz e Daniela Carvalho
Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.),
Rosângela Muricy (coord.), Adriana Rinaldi, Ana Curci, Ana Paula C. Malfa,
Brenda T. de Medeiros Morais, Carlos Eduardo Sigrist, Célia Carvalho, Cesar
G. Sacramento, Claudia Virgilio, Danielle Modesto, Diego Carbone, Gabriela
M. de Andrade, Heloísa Schiavo, Larissa Vazquez, Lilian M. Kumai, Luciana
B. de Azevedo, Luís Maurício Boa Nova, Marília Lima, Marina Saraiva,
Maura Loria, Patricia Cordeiro, Patrícia Travanca, Paula T. de Jesus, Raquel
A. Taveira, Ricardo Miyake, Sueli Bossi, Tayra B. Alfonso, Vanessa de Paula
Santos, Vanessa Nunes S. Lucena
Edição de arte: Daniela Amaral (coord.), Catherine Saori Ishihara
Diagramação: Casa de Tipos, Karen Midori Fukunaga
Iconografia e licenciamento de texto: Sílvio Kligin (superv.), Cristina
Akisino (coord.), Denise Durand Kremer (coord.), Claudia Bertolazzi, Claudia
Cristina Balista, Daniel Cymbalista, Ellen Colombo Finta, Ellen Silvestre,
Fernanda Regina Sales Gomes, Fernando Cambetas, Iron Mantovanello,
Jad Silva, Karina Tengan, Roberta Freire Lacerda Santos, Roberto Silva e
Sara Plaça (pesquisa iconográfica), Liliane Rodrigues, Luciana Castilho, Paula Claro
e Thalita Corina da Silva (licenciamento de textos)
Tratamento de imagem: Cesar Wolf, Fernanda Crevin
Ilustrações: Casa de Tipos, Júlio Dian
Cartografia: Eric Fuzii, Alexandre Bueno Créditos das imagens de abertura: Ciências Humanas: Insights/UIG
Capa: Gláucia Correa Koller via Getty Images, Peter Cade/Peter Cade Photography, Paulo Fridman/
Foto de capa: Sanjatosi/Shutterstock SambaPhoto/Getty Images, Slawomir Kowalewski/Shutterstock, Damian Gil/
Shutterstock, L. Romano/De Agostin/Album/Fotoarena (História),
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Anton_Ivanov/Shutterstock (Geografia)
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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Sistema de ensino pH : ensino médio : caderno 1 a


4 : humanas, 1ª série : professor. -- 1. ed. --
São Paulo : SOMOS Sistemas de Ensino, 2017.

Conteúdo: Língua portuguesa I / Raphael Hormes --


Redação / Marcelo Caldas -- História / Igor
Vieira -- Geografia / Augusto Neto.

1. Geografia (Ensino médio) 2. História (Ensino


médio) 3. Livros-texto (Ensino médio) 4. Português
(Ensino médio) 5. Português - Redação (Ensino médio)
I. Hormes, Raphael. II. Caldas, Marcelo. III. Vieira,
Igor. IV. Augusto Neto.

16-01439 CDD-373.19

Índices para catálogo sistemático:


1. Ensino integrado: Livros-texto: Ensino médio 373.19

2017
ISBN 978 85 468 1064-2 (PR)
Código da obra 526157417
1ª edição
1ª impressão

Impressão e acabamento

Uma publicação
Sumário
geral

CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

19 Rússia 20 América 21 China e Índia


MÓDULO

MÓDULO

MÓDULO
5 Anglo-Saxônica 9 15
GEOGRAFIA

22 Oriente Médio: 23 África 24 América Latina


MÓDULO

MÓDULO

MÓDULO
principais conflitos 19 25 30
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
Competência de área 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 – Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 – Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
H4 – Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 – Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações
socioeconômicas e culturais de poder.
H6 – Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 – Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 – Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem
econômico-social.
H9 – Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
H10 – Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
histórico-geográfica.
Competência de área 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as
aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 –
Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 –
Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 –
Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
H14 –
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica
acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 – Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência de área 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no
desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
H16 – Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 – Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.
H19 – Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 – Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência de área 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da
democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 – Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 – Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 – Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 – Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência de área 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos
históricos e geográficos.
H26 –
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 –
Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.
H28 –
Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 –
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações
humanas.
H30 – Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
19 Módulo
Rœssia

OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES


• União Soviética: da potência global à fragmenta- • H7 - Identificar os significados histórico-geográficos
ção política e territorial das relações de poder entre as nações.
• Rússia: reestruturação econômica, social e polí- • Analisar o processo de reestruturação política e econô-
tica mica da Rússia após o fim da União Soviética.
• Espaços de influência geopolítica russa: países • Explicar a importância dos combustíveis fósseis para o
do Cáucaso, Ásia central e Europa oriental crescimento econômico do país.
• Características demográficas atuais da Rússia • Compreender as motivações da Rússia e dos grupos

GEOGRAFIA
separatistas minoritários no país.
• Analisar a atual situação demográfica na Rússia.

M—dulo 19
Os russos ocupam a terceira colocação na produção de
INTRODUÇÃO petróleo e a primeira na oferta de gás. Sua economia é
Dando continuidade aos estudos da geografia regio- fortemente dependente dos hidrocarbonetos.
nal do mundo, este módulo apresenta ao aluno um pouco Aborde com os alunos o gráfico do PIB per capita
mais sobre os aspectos físicos, econômicos, demográficos (que consta no Caderno do Aluno), de alguns países da
e territoriais da Rússia. A relevância do país não está ape- antiga União Soviética. Mostre a eles que, na década de
nas no fato de ser o mais extenso do planeta, abrangendo 1990, após o fim da União Soviética, a Rússia passou por
parte da Europa e da Ásia, mas também se fundamenta uma forte crise econômica, devido à falta de infraestrutu-
em seu papel histórico de protagonista nas disputas geo- ra financeira existente no novo país, recentemente inde-
políticas de diferentes ordens mundiais. pendente e agora capitalista. A corrupção e a evasão de
O estudo sobre esse país e as suas relações com os divisas marcaram esse período.
demais, sobretudo os países fronteiriços, Estados Unidos Na década de 2000, até 2008 – ano em que se inicia
e União Europeia, deve ajudar os alunos na elucidação uma crise econômica internacional –, os russos experi-
acerca das relações de poder atualmente verificadas entre mentaram um forte crescimento da sua economia.
os Estados nacionais. É importante destacar para a turma não apenas a de-
pendência da economia russa em relação ao petróleo.
Mostre que a especialização econômica já acontecia no
ESTRATÉGIAS DE AULA período de existência da União Soviética, entre suas repú-
blicas socialistas (Ex.: A Ucrânia se especializava na produ-
ção de cereais, como o trigo). A forte divisão territorial do
AULA 1 trabalho fez com que os países que compunham a União
Soviética, agora independentes na década de 1990, se or-
Na primeira aula, o professor pode abordar aspectos ganizassem na Comunidade dos Estados Independentes
mais gerais da Rússia. Deve-se enfatizar que o país é atual- (CEI), grupo que deveria coordenar as trocas comerciais
Rússia

mente uma das maiores potências energéticas do planeta. entre esses países extremamente interdependentes.

5
Das antigas repúblicas que faziam parte da União So- permanecer como parte da Ucrânia. Com a maioria da po-
viética, apenas Estônia, Letônia e Lituânia não ingressa- pulação sendo favorável à anexação, ainda no ano de 2014
ram no grupo. A Geórgia se retirou da CEI em 2008 após a Rússia anunciou a inclusão da Crimeia em seu território,
a Rússia apoiar a independência de uma das províncias iniciando uma guerra contra Kiev.
georgianas, a Ossétia do Sul. É fundamental destacar que para Moscou é importan-
Ao final da Aula 1, resolva junto com a turma a questão 1 te ter a Ucrânia em sua área de influência, muito por conta
da seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugeri- dos gasodutos russos que atravessam o país para levar gás
mos que o aluno trabalhe os exercícios da seção Desen- natural até a Europa.
volvendo habilidades, sobretudo as questões 3, 4 e 5. Atualmente, o continente consome cerca de 65% do
Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza- gás exportado pela Rússia. Além disso, com a anexação
ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento. da Crimeia, o presidente russo, Vladimir Putin, conseguiu,
por meio de um forte discurso nacionalista, aumentar sua
AULA 2 base política interna, que vinha sofrendo desgastes nos
últimos anos em função da crise econômica que afeta o
Na segunda aula, procure trabalhar com os alunos a país. Com a anexação, houve aumento das reservas de
recente anexação da Crimeia (ex-península ucraniana) petróleo da Rússia e foi assegurada a continuidade do
pela Rússia, em 2014. Esse episódio pode ser utilizado controle sobre a base naval de Sebastopol, localizada na
para que a turma compreenda melhor a geopolítica dos Ucrânia, mas que já era utilizada pelos russos como único
gasodutos que envolve Rússia e União Europeia. acesso ao mar Mediterrâneo.
Antes de mencionar as motivações que levaram Mos- Ao final da Aula 2, resolva junto com a turma a ques-
cou à anexação, o professor pode exibir, com a ajuda de um tão 2, da seção Praticando o aprendizado. Para casa, su-
projetor, mapas dos idiomas falados na Ucrânia. A maioria gerimos que o aluno trabalhe os exercícios da seção De-
dos ucranianos fala dois idiomas, sendo o ucraniano o idio- senvolvendo habilidades, sobretudo as questões 1 e 2.
ma oficial, enquanto o russo é a língua mais falada no leste
Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza-
e no sul da Ucrânia, incluindo a Crimeia.
ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento.
Explique aos alunos que a disposição geográfica entre
essas duas línguas se deve à proximidade da parte leste com
a Rússia, onde as políticas de homogeneização cultural me- SUGESTÃO DE QUADRO
lhor funcionaram na época da antiga União Soviética. Existia
uma nítida política de russificação entre todas as repúblicas
socialistas que faziam parte da União Soviética. Uma estraté- I. ASPECTOS GERAIS
gia utilizada para manter esse processo foi a intensa migra- ➜ Potência energética
ção de russos para essas áreas a partir de 1917. Na porção • Grande produtora de petróleo e gás natural
leste da Ucrânia as migrações de russos se mostraram mais
(Cáucaso)
intensas. A Crimeia, além de ter o russo como idioma mais
• Dependência econômica
falado, era a única província ucraniana com maioria étnica
➜ Comunidade dos Estados Independentes (CEI)
russa (a península pertenceu à Rússia até 1953).
➜ Antigas repúblicas soviéticas
Desde o final de 2013, movimentos populares na
Ucrânia pediam a deposição do presidente ucraniano ➜ Geórgia, Estônia, Letônia e Lituânia não participam

pró-Rússia Víktor Yanukovych. Os movimentos se mos- ➜ Potência militar


traram bastante violentos, com milhares de pessoas ocu- • Herança da corrida armamentista
pando as ruas nas principais cidades do país, sobretudo • Possui ogivas nucleares
em Kiev, capital ucraniana, localizada na porção ociden-
tal do país – onde a identificação cultural com os russos é II. CONFLITOS TERRITORIAIS
menor e o sentimento anti-Rússia é mais forte, ganhando ➜ Cáucaso: grande diversidade étnico-religiosa
inclusive uma conotação antissocialista e de anti-impe- • Glasnost (Mikhail Gorbachev: 1988-1991)
rialismo russo. Em 2014, Víktor Yanukovych foi deposto
• Abertura política
do cargo de presidente, sendo sucedido por Petro Po-
roshenko, que possui uma postura pró-União Europeia. • Crescimento dos movimentos separatistas na
União Soviética
Insatisfeita com a troca presidencial e tendo em vista
➜ Conflitos separatistas recentes:
a importância da Crimeia para o país, a Rússia apoiou um
referendo no mesmo ano que consultava a população da • Rússia 3 Geórgia
península sobre o desejo de ser anexada pelos russos ou de

6
razão da disputa pela península da Crimeia, territó-
• Ossétia do Sul e Abkházia rio transferido para a Ucrânia por Nikita Kruschev,
• Rússia 3 Ucrânia
líder da URSS na década de 1960; em razão de suas
reservas minerais (gás natural) e sua posição estra-
• Anexação da Crimeia (2014)
tégica, despertam grande interesse no atual gover-
• Chechênia
no russo de Putin.
2. b. Em 2014, em razão da possibilidade de aderir à
União Europeia, a Ucrânia enfrentou o separa-
tismo da Crimeia e da porção russa de seu país,
ATIVIDADES COMPLEMENTARES eventos incitados pela Rússia. Esse contexto re-
crudesceu mecanismos da Guerra Fria, opondo
Para que os alunos compreendam um pouco mais so- a Rússia e os Estados Unidos/Europa ocidental e,
bre o sentimento anti-Rússia existente na Ucrânia, muitas portanto, como mencionado corretamente na al-
vezes confundido com um sentimento anticomunismo, ternativa b, o fornecimento de gás natural foi usa-
proponha uma pesquisa sobre o “Holodomor”, termo do como forma de desconstruir o apoio europeu
que designa o que ficou conhecido como “Holocausto à Ucrânia. Estão incorretas as alternativas: a, por-
ucraniano”. Sugira aos alunos que, reunidos em grupos, que a região separada da Ucrânia foi a Crimeia;
gravem um pequeno vídeo com câmeras digitais ou ce-
c, porque o país situa-se às margens do mar de
lulares (duração sugerida: 10 min) para que exponham o
Azov e do mar Negro; d, porque o Brasil não rom-
resultado de suas pesquisas.
peu relações com a Rússia; e, porque o motivo

GEOGRAFIA
O nome é dado à grande onda de fome, de caráter ge- das manifestações foi o protesto contra a decisão
nocidário, provocada pela União Soviética sob o comando
do presidente ucraniano de recusar o acordo de
de Stalin, na Ucrânia. Estimativas apontam para mais de
adesão com a União Europeia.
10 milhões de ucranianos mortos entre 1932 e 1933, fazendo
do Holodomor um dos maiores genocídios da história. 3. e. A Rússia, que emergiu com o fim da URSS, cons-
Os alunos podem ser estimulados a utilizar softwares tituiu-se de modo inseguro e sujeita a fortes pres-
de edição de vídeo para inserir imagens ou trechos de sões internas, organizando-se em torno de grupos
de influência que dominavam determinados seto-

Módulo 19
documentários em suas produções. Os vídeos podem ser
exibidos para a turma ou publicados na internet no site da res de produção e induzindo a variados índices de
escola ou nas redes sociais. corrupção para a consecução de negócios. Esses
aspectos acabaram gerando instabilidade interna
e insegurança institucional, o que dificultou a ela-
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR boração e celebração de contratos internacionais
com a Rússia. Internamente, emergiram questões
étnicas há muito soterradas pelo stalinismo e que
LIVROS agora cobravam soluções, levando os governos rus-
BABEL, Isaac. O Exército de Cavalaria. São Paulo: Cosac sos pós-URSS a adotar medidas duras de controle
Naify, 2006. sobre territórios conflagrados com discurso de au-
MEDVEDEV, Zhores A.; MEDVEDEV, Roy A. Um Stálin des- tonomia nacionalista em regiões como o Cáucaso.
conhecido. São Paulo: Record, 2006. A alternativa a é falsa: do ponto de vista externo
a Rússia possui regime democrático. O que se
OLIC, Nelson Bacic. A desintegração do Leste: URSS, Iu-
questiona é a sua insegurança institucional e ju-
goslávia, Europa Oriental. 12. ed. São Paulo: Moderna,
rídica. A alternativa b é falsa: a volta ao mercado
1998.
capitalista é ainda instável, uma vez que vários
SEGRILLO, Angelo. Os russos. São Paulo: Contexto, 2012. desses grupos de controle acabam extorquindo
ou corrompendo para se manter. A alternativa c é
falsa: a economia da Rússia ainda tem muitas ati-
GABARITO COMENTADO vidades ligadas à agropecuária e ao extrativismo
e não existe o ingresso de capital sul-coreano na
Rússia em larga escala. A alternativa d é falsa: a
PRATICANDO O APRENDIZADO Rússia não se expressa como uma teocracia e não
há expansão do islamismo em seu território. Ao
1. c. Como mencionado corretamente na alternativa c, contrário, o governo de Moscou combate aberta-
Rússia

os confrontos entre Rússia e Ucrânia ocorreram em mente áreas islâmicas como a Chechênia.

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5. d. Na época em que existia a URSS, o governo cen- APROFUNDANDO O CONHECIMENTO
tralizado de Moscou comandava a União Soviética
de acordo com sua estratégia, sem levar em conta 3. d. A partir dos anos 1990, com o fim da URSS, os
as diversas nacionalidades e etnias presentes em países que compunham a antiga “Cortina de
seu vasto território. Com o fim da URSS, antigas Ferro”, sob influência soviética, e que adota-
repúblicas soviéticas tornaram-se independentes e vam a economia planificada, aos moldes da en-
o governo russo pareceu não suportar essa ideia, tão URSS, passaram gradativamente a adotar as
tentando influir de todas as maneiras em repúblicas práticas capitalistas de mercado e foram sendo
autônomas, como a Geórgia, ou em áreas separa- incorporados ao espaço das grandes corpora-
tistas, como a Chechênia. Quando esses territórios ções, transformando-se em novos consumido-
tentam cuidar de seus interesses e aspirações, a res de variados bens de produção e principal-
Rússia busca garantir seu antigo poderio. mente de consumo.
A alternativa a é falsa: a questão diz respeito aos A alternativa a é falsa, porque o fim da influência
oleodutos que a Rússia utiliza para exportar gás e soviética nos países da “Cortina de Ferro” deu-se
petróleo, principalmente para a Europa ocidental. na forma de fragmentação espacial e nem sempre
A alternativa b é falsa: o destino das exportações em processos violentos. A alternativa b é falsa, pois
é principalmente a Europa. A alternativa c é falsa: a crise mundial dos anos 1990 teve origem na Ásia,
Nagorno Karabach é uma república autônoma for- com a desvalorização do baht, a moeda tailandesa,
mada ao sul do Cáucaso, desmembrada do Azer- e com a Guerra do Golfo. A alternativa c é falsa, por-
baijão. A alternativa e é falsa: o território é favorável que os países do Leste Europeu não apresentavam
à exportação de petróleo. montantes de dívidas externas significativos.

ANOTA‚ÍES

8
20Módulo
América Anglo-Saxônica

OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES


• Formação territorial e quadro físico-ambiental • H7 - Identificar os significados histórico-geográficos
dos Estados Unidos e do Canadá das relações de poder entre as nações.
• Aspectos demográficos, sociais e culturais dos • Identificar as características físicas e ambientais dos Es-
Estados Unidos e do Canadá tados Unidos e do Canadá.
• Distribuição das atividades econômicas e das • Analisar as características demográficas e socioeconô-
redes de infraestrutura micas dos Estados Unidos e do Canadá.
• Problematizar a questão migratória na América Anglo-

GEOGRAFIA
-Saxônica.

M—dulo 20
América”. Enfim, um anti-imperialismo precoce distingue
INTRODUÇÃO as duas Américas.
Dando continuidade ao estudo das grandes regiões PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. De América Latina, de Abya Yala,
de América Mestiça, de América Criolla e de suas contradições. Comissão Pastoral
do planeta, neste módulo propõe-se uma investigação so- da Terra Nordeste II, 30 nov. 2009. Disponível em: <www.cptne2.org.br/index.php/
bre os mais diversos aspectos da América Anglo-Saxônica publicacoes/noticias/noticias/1411-america-latina>. Acesso em: 10 jan. 2017.

(Canadá e Estados Unidos).


Propomos que destaque aos alunos as especificida-
Com o estudo da América Latina, espera-se que os des da ocupação das treze colônias inglesas que vieram
alunos sejam capazes de compreender que a regionaliza- a se tornar os Estados Unidos da América e a expansão
ção que divide o continente americano não se restringe ao territorial do país no continente (sobretudo no século
critério linguístico. As duas Américas são contrastantes e XIX), bem como sua ideologia expansionista e um breve
antagônicas em seu desenvolvimento histórico, econômi- histórico dos governos no século XX e início do século
co e social. Nas palavras do geógrafo Carlos Walter Porto- XXI. Também faz parte da proposta das aulas o estudo
-Gonçalves: das características físicas dos Estados Unidos e do Cana-
dá e da integração econômica e socioespacial entre os
[...] o nome América foi enunciado pelas elites criollas
dois países.
para se afirmar com/contra as metrópoles europeias, a geo-
grafia aqui servindo para afirmar uma territorialidade pró-
pria que se distinguia das metrópoles europeias, e o nome
ESTRATÉGIAS DE AULA
América Latina afirmado por José Maria Torres Caicedo,
com seu poema Las Dos Américas, publicado em 1856,
AULA 1
América Anglo-Saxônica

para nominar o que Bolívar já havia denunciado em 1826


contra a Doutrina Monroe (1823), inscrevendo assim a A primeira aula pode ser utilizada para iniciar a apre-
distinção entre uma América Anglo-saxônica e uma Lati- sentação dos conteúdos propostos referentes à América
na que, mais tarde, levaria José Martí a falar de “nuestra Anglo-Saxônica. A utilização de um mapa como recurso

9
didático é imprescindível para que a turma acompanhe no Caderno do Aluno. Propomos dar maior ênfase aos
as modificações nas fronteiras dos Estados Unidos. É im- governos de presidentes estadunidenses a partir dos
portante destacar que os novos territórios incorporados anos 1980. A Era Reagan (1981-1988) e a George H. Bush
não eram inabitados: franceses e hispânicos sempre es- (1989-1992) mostraram-se extremamente conservadoras e
tiveram muito presentes, além dos indígenas – a marcha precursoras de medidas neoliberais que também dariam
para o oeste foi acompanhada do genocídio e do etno- a tônica da política econômica dos governos seguintes e
cídio indígena. mesmo de governos de outros países. Chame a atenção
Mostre também à turma uma listagem com diversos para o fato de os dois presidentes terem pertencido ao
nomes de estados e cidades estadunidenses de origem Partido Republicano – essa é uma informação relevante
hispânica, por terem pertencido à Espanha ou ao México para que os alunos aos poucos consigam estabelecer um
(Flórida, Los Angeles, Santa Bárbara, Santa Mônica e San perfil de governo do Partido Republicano e outro do Par-
Diego são alguns exemplos). Até a influência da religião tido Democrata. O forte militarismo (com destaque para
católica, muito presente nos territórios colonizados pela a participação dos Estados Unidos na Guerra do Golfo
Espanha, pode ser percebida em alguns desses nomes. entre 1990-1991, no Oriente Médio) e a crise econômica
No entanto, a influência da cultura hispânica está longe (a concorrência com a alta produtividade das empresas
de se restringir aos nomes de cidades e estados. Nos japonesas teve papel importante) também marcaram es-
dias atuais ela ainda pode ser facilmente percebida, em sas duas gestões.
seus diferentes aspectos, nos Estados Unidos, sobretudo Já o sucessor de George H. Bush, o democrata Bill
em territórios que pertenceram ao México. Por exem- Clinton, governou por dois mandatos exercendo uma po-
plo, é muito comum nos restaurantes de antigas cidades lítica externa mais branda, ao mesmo tempo que, no plano
mexicanas, hoje estadunidenses, encontrarmos pratos econômico, aprofundou a aplicação da cartilha neoliberal
e temperos típicos da culinária mexicana – pimenta, li- nos Estados Unidos. Mostre à turma a foto em que Clin-
mão, etc. Destaque também que a influência cultural se ton, mediador do Acordo de Oslo, um dos mais impor-
dá ainda pela intensa imigração. Projeções apontam que tantes acordos de paz entre árabes e israelenses, aparece
até meados deste século haverá nos Estados Unidos mais entre Yitzhak Rabin, então primeiro-ministro de Israel, e o
de um imigrante de origem hispânica para cada quatro líder árabe Yasser Arafat. Do ponto de vista das políticas
americanos. ambientais, Clinton também se mostrou mais flexível que
A notória presença de outros povos estrangeiros, seus antecessores republicanos. Vale lembrar a turma de
como irlandeses e chineses, também pôde ser percebi- que durante seu mandato assinou o Protocolo de Kyoto
da à medida que os novos territórios foram incorpora- (não ratificado posteriormente).
dos. Contribuiu como fator de atração para esse fluxo Em 2001, a volta de um republicano ao poder acon-
migratório o Homestead Act (1862) – lei que oferecia
teceria com um nome bastante conhecido: George W.
as terras do oeste estadunidense, em pequenos lotes,
Bush, filho do ex-presidente estadunidense, inicia o pri-
a um preço bastante baixo, estimulando a ocupação da
meiro de seus dois mandatos sob olhares desconfiados
região.
de uma população assustada com a polêmica envolven-
Quando notamos toda essa diversidade cultural nos do suspeitas de fraudes na sua eleição. No contexto dos
Estados Unidos, concluímos que a ideia do melting pot, atentados de 11 de setembro, Bush declara guerra ao
ou seja, da ocorrência de uma espécie de homogeneiza- terrorismo. A ideia de ataques preventivos com inter-
ção cultural dentro da matriz branca anglo-saxã protes- venções militares em países considerados inimigos – o
tante (WASP) nos Estados Unidos, mostrou-se ser apenas chamado “Eixo do Mal” – passa a compor sua política
um mito. externa. Durante a gestão de Bush, os Estados Unidos,
Ao final da Aula 1, resolva com a turma a questão 1 da mergulhados em uma crise econômica desde o início da
seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugerimos década de 2000, iniciaram a Guerra do Afeganistão (2001-
que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desenvol- -não terminada) e a do Iraque (2003-2011). Os gastos mi-
vendo habilidades, sobretudo as questões 2, 3 e 6. litares dispararam, trazendo lucros exorbitantes para em-
Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza- presas estadunidenses do setor da construção civil e para
ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento. as indústrias bélica e farmacêutica (tradicionais financia-
doras de campanha do Partido Republicano). Com o pas-
sar dos anos, essas duas guerras desgastaram a imagem
AULA 2 de George W. Bush, e, em 2009, um novo presidente re-
A segunda aula pode ser utilizada para trabalhar publicano não conseguiu se eleger.
com os alunos os governos recentes dos Estados Uni- Sucedendo Bush, Barack Obama, filho de um quenia-
dos, além do conteúdo referente ao Canadá proposto no, assumiu a Presidência dos Estados Unidos como uma

10
esperança para o fim das guerras no Oriente Médio e para Obama também não fechou a base militar dos Es-
os problemas sociais que afetavam o país: desemprego, tados Unidos em Guantánamo, acusada de realizar di-
crise econômica (crise do subprime), discriminação contra versas torturas e outras violações dos direitos humanos,
negros e imigrantes, entre outros. O governo de Obama promessa amplamente difundida durante sua primeira
pode ser considerado contraditório: acabou com a Guerra campanha eleitoral. Ao mesmo tempo que sinalizou por
do Iraque e reduziu o quantitativo de soldados estaduni- meio de decreto a pretensão de legalizar 5 milhões de
denses no Afeganistão, mas não colocou um ponto final imigrantes em situação irregular, foi o presidente esta-
nesta última guerra. Em seu segundo mandato, incursões dunidense que mais deportou em toda a história dos Es-
aéreas voltaram a acontecer no Iraque e na Síria, sob a jus- tados Unidos. Durante seu governo, o país apresentou
tificativa de combater o grupo terrorista Estado Islâmico. sinais de recuperação econômica e de elevação do nível
É importante destacar para os alunos que, cada vez mais, de emprego, mas nem de longe foi capaz de restabele-
as empresas financiadoras das campanhas do Partido Re- cer o sucesso econômico de outros tempos.
publicano também fazem doações para as campanhas do
Ao final da Aula 2, resolva com a turma a questão 2 da
Partido Democrata. Pode ser interessante discutir com os
alunos os limites da democracia representativa nos Esta- seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugerimos
dos Unidos e em outros países, até mesmo no Brasil. Uma que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desenvol-
vez no poder, políticos e partidos não acabam atendendo vendo habilidades, sobretudo as questões 7 e 9.
aos interesses dos grandes doadores, sobretudo os das Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utili-
empresas que financiaram suas campanhas, como ocorre zação das questões da seção Aprofundando o conheci-
no caso dos Estados Unidos? mento.

GEOGRAFIA
SUGESTÃO DE QUADRO

ESTADOS UNIDOS • Tratado de Paris (1783)


– Reconhecimento inglês
A) Formação territorial dos Estados Unidos

Módulo 20
➜ Expansão territorial
➜ Colonização inglesa
• Acordos, compras e guerra
• Povoamento no norte
• Principais compras:
– Pequenas e médias propriedades
– Louisiana (1803)
– Policulturas
França – Expansão napoleônica
– Mercado interno
– Flórida (1819)
– Trabalho livre
Espanha
– Bases liberais
– Oregon (1846)
• Exploração no sul
Reino Unido
– Latifúndio
– Alasca (1867)
– Monoculturas
Rússia
– Mercado externo
• Guerra contra o México
– Escravidão – Anexação do Texas
– Bases mercantilistas – Tratado de Guadalupe-Hidalgo (1848)
• Predomínio de protestantes
Concessão mexicana de Arizona, Novo Méxi-
– Navio Mayflower co, Nevada, Califórnia
– Peregrinos ➜ Ideologias da expansão territorial e econômica
– Conversão de escravizados • Doutrina Monroe (1823)
– Desenvolvimento da cultura gospel – América para os americanos
América Anglo-Saxônica

➜ Independência
Justifica o afastamento de europeus
• 1776 • Destino Manifesto (1844)
• Questão do Chá – Doutrina de naturalização das fronteiras
• Guerra de Independência – Do Atlântico ao Pacífico

11
– John O´Sullivan (questão do Texas) • Crise econômica
– “Predestinação divina” – Forte concorrência japonesa
– Crescimento populacional ➜ George H. Bush – “Pai” (1989-1992)
– Defesa das liberdades democráticas • Características de governo muito próximas daque-
• Ética protestante las da Era Reagan
– “O lucro como salvação” • Menor popularidade
• Big Stick • Guerra do Golfo (1990-1991)
– Política externa agressiva ➜ Era Clinton (1993-2000)
– Uso do poderio bélico estadunidense para inte- • Democrata
resses estratégicos • Política ambiental mais flexível

B) Expansão econômica dos Estados Unidos


• Política externa mais amigável
➜ Pós-Segunda Guerra Mundial – Acordo de Oslo (1993-1995)
• Fordismo 1 keynesianismo (Estado de Bem-Estar
• Recuperação econômica
➜ Era George W. Bush – “Filho” (2001-2009)
Social)
– “Anos dourados” (décadas de 1950/1960) • Doutrina Bush
– Forte crescimento econômico – Guerra ao terror (Afeganistão: 2001, Iraque:
• Pleno emprego 2003)
➜ Anos 1970
– Ataques preventivos
– “Eixo do Mal”
• Crise do fordismo
➜ Crise do subprime (2008)
– Produtos duráveis
➜ Era Obama (2009-2016)
– Crise do petróleo
– Mão de obra cara • Governo contraditório
– Fim da Guerra do Iraque 3 Manutenção da Guerra
C) Passado recente dos Estados Unidos do Afeganistão e ataques aéreos ao Estado Islâmico
➜ Era Reagan (1981-1988) no Iraque
• Republicano – Tentativa de legalizar 5 milhões de imigrantes 3
• Neoliberalismo Maior deportação de imigrantes da História
• Aumento dos gastos militares – Tímida recuperação econômica
– Projeto Guerra nas Estrelas – “Obamacare”

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (entre 2000 e 2016) subiu de 7% para 12% o número de


hispânicos que podem votar.
Como demografia e migrações se relacionam com a Outro dado que chama a atenção é que, em razão da
geografia das eleições presidenciais dos Estados Unidos? imigração latina e da asiática, espera-se que em 2055 o
Os alunos podem pesquisar e comparar mapas que trazem país não possua uma maioria étnica. Além disso, sabemos
os estados onde candidatos republicanos e democratas que existe uma forte tendência de dispersão de imigran-
venceram as eleições presidenciais ao longo da história tes pelo território estadunidense. Qual é o impacto disso
dos Estados Unidos. É interessante estimulá-los a refle- na nova geografia das eleições presidenciais dos Estados
tir sobre os motivos das transformações verificadas nos Unidos? Proponha esse exercício aos alunos. Aproveite
mapas, sobretudo a partir do século XX. Sabemos que, e questione-os sobre os limites dos tipos de distribuição
relativamente, ano após ano, a população branca do país – mostrados pelos mapas. Será que vencer em um maior
em grande parte eleitora dos candidatos republicanos – número de estados necessariamente significa ter a maio-
vem diminuindo, enquanto a porcentagem de negros, ria dos votos da população? Certamente, não. Lembre os
hispânicos e imigrantes – forte eleitorado democrata –, alunos de que os estados apresentam quantitativos dife-
em geral, aumenta. Segundo dados do instituto estadu- rentes de eleitores. Mapas com o resultado de algumas
nidense Pew Research Center, hoje a população dos Esta- eleições podem ser encontrados no site disponível na se-
dos Unidos é muito mais diversificada. Em dezesseis anos ção Material de apoio ao professor.

12
3. d. A maior concentração da indústria high-tech nos
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR Estados Unidos é o tecnopolo denominado Vale
do Silício, na costa oeste (alternativa d), embora
LIVROS tenha ocorrido uma expansão de investimentos
AZEVEDO, Cecília.  Em nome da América: os corpos de no arco do Sun Belt no golfo do México, como
paz no Brasil. São Paulo: Alameda, 2007. indicado na alternativa c. Estão incorretas as al-
DARDOT, Pierre et al. A nova razão do mundo: ensaio ternativas: a e b, porque a costa leste e a área
sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016. dos Grandes Lagos caracterizam-se pela indus-
trialização tradicional, com destaque para as in-
NYE JR., Joseph S. O paradoxo do poder americano. São dústrias típicas da Segunda Revolução Industrial,
Paulo: Unesp, 2002. a exemplo do aço, em Pittsburgh, e do automó-
TURNER, Frederick Jackson. O significado da fronteira na vel, em Detroit; e, porque o vale do Mississipi-
história americana. In: KNAUSS, Paulo (Org.). Oeste ameri- -Missouri se destaca pela produção agropecuária.
cano. Rio de Janeiro: Eduff, 2004. 4. d. Como mencionado corretamente na alternativa d,
Detroit detinha o título de maior capital do auto-
SITE móvel. Contudo, o redirecionamento dos investi-
Mapas sobre as eleições presidenciais dos Estados Unidos. mentos para a área high-tech e a “marcha para o
Disponível em: <www.vox.com/policy-and-politics/2016/11/ oeste” – deslocamento da dinâmica financeira e
8/13563106/election-map-historical-vote>. Acesso em: 20 industrial para a costa do Pacífico – fizeram decres-
fev. 2017. cer os investimentos na cidade, caracterizando o

GEOGRAFIA
declínio econômico da região. Estão incorretas as
FILMES demais alternativas porque as cidades identificadas
Capitalismo: uma história de amor. Direção: Michael Moore, não correspondem ao enunciado.
2009. 120 min. 5. e. Como mencionado corretamente na alternativa
Os últimos dias do Lehman Brothers. Direção: Michael e, o presidente Barack Obama, do partido Demo-
Samuels, 2009. 60 min. crata, traça uma crítica estrutural aos republicanos,
cuja característica é o desvio de investimentos da

M—dulo 20
área social para sustentar uma política externa mais
agressiva. Estão incorretas as alternativas: a, por-
GABARITO COMENTADO que os republicanos caracterizam-se por reduzir os
investimentos públicos; b, porque Bush defende
menor participação do Estado na economia; c, por-
PRATICANDO O APRENDIZADO que a questão não é elevar os impostos, mas saber
como direcioná-los; d, porque uma das plataformas
1. c. O compartimento do relevo indicado refere-se às de governo responsáveis pela vitória de Obama foi
montanhas Rochosas formadas a partir do processo um serviço de saúde estatizado.
de diastrofismo ou tectonismo. Estão incorretas as
alternativas: a e b, porque os Apalaches são escudos
cristalinos situados na porção oriental dos Estados DESENVOLVENDO HABILIDADES
Unidos; d, porque o escudo canadense ou Labrador
se situa na porção oriental do Canadá; e, porque as 1. e. Como mencionado corretamente na letra e, estão
planícies centrais são áreas de bacias sedimentares identificados pelo número: 1, a extensão de dobra-
situadas na porção central dos Estados Unidos. mentos modernos situados na costa oeste estadu-
2. a. Como mencionado corretamente na alternativa a, nidense, denominados montanhas Rochosas; 2, o
as maquiladoras são indústrias estadunidenses que, golfo do México, área de desembocadura da bacia
ao se instalarem no México, se desobrigam de cum- do rio Mississipi-Missouri e de produção petrolífera
prir a totalidade das legislações trabalhistas, apro- da Pemex; 3, a extensão de maciços antigos identi-
veitando farta mão de obra barata para montar ou ficada como montes Apalaches; 4 e 5, as penínsulas
da Califórnia e da Flórida, respectivamente.
América Anglo-Saxônica

embalar produtos já fabricados em outros países e


que, ao entrar nos Estados Unidos como sendo de 2. e. Desde o processo de expansão externa do terri-
origem mexicana, em razão dos acordos do Nafta, tório estadunidense iniciado no século XIX, após a
escapam das sobretaxas de importação. Estão in- implantação da Doutrina Monroe (“América para os
corretas as demais alternativas, porque não corres- Americanos”), do Corolário Polk e da Política do Big
pondem à definição do enunciado. Stick (Grande Porrete), o México e outros países do

13
continente americano, em virtude da proximidade no período da Guerra Fria; d, a 5a Frota, atuante no
territorial com os Estados Unidos, sofreram as conse- Oriente Médio, tem preocupações estratégicas em
quências das políticas imperialistas estadunidenses, razão da questão nuclear com o Irã, grupos extremis-
inclusive com perda de territórios. A situação mexica- tas, questão Palestina, produção de petróleo, entre
na foi sem dúvida a de maior impacto em termos de outros; e, porque as frotas não tendem a ser desa-
perdas territoriais. tivadas em razão da manutenção da segurança dos
Como dizia o escritor mexicano Carlos Fuentes: Estados Unidos (2a Frota) e da ação da Otan.
“Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Uni- 7. e. A crise econômica deflagrada nos Estados Unidos em
dos”. Do ponto de vista ideológico, a indústria ci- outubro de 2008 atingiu principalmente os países mais
nematográfica estadunidense sempre reproduziu desenvolvidos. Além dos Estados Unidos, a Europa
esse ideário de submissão e inferioridade do povo da zona do Euro, o Japão e o Canadá tiveram queda
mexicano, embora o sonho americano, american de produção e de investimentos e taxas elevadas de
way of life, ainda leve muitos mexicanos a tentar en- desemprego. A crise acabou se alastrando em maior
trar, de forma legal ou ilegal, no território dos Esta- ou menor grau pelo mundo todo, e nações como
dos Unidos em busca de emprego e oportunidades o México sofreram em virtude de sua proximidade
de uma vida melhor. Como forma de reação a esse geográfica e econômica com os Estados Unidos. A
movimento, o governo estadunidense tem ficado economia estadunidense é francamente consumista,
cada vez mais rigoroso no controle das fronteiras e e, na crise, houve retração de consumo, o que afetou
nas políticas anti-imigração adotadas. a produção industrial mexicana com suas indústrias
Essas questões elevam o sentimento de repúdio aos maquiladoras, muito voltadas ao mercado exportador
estadunidenses – por grande parte da população me- para os Estados Unidos. A alternativa a é falsa, pois a
xicana – e geram preocupações para o governo dos migração mexicana é para trabalhar basicamente nos
Estados Unidos em razão dos grandes investimentos Estados Unidos, não afetando a agropecuária mexi-
feitos por empresas estadunidenses no México e dos cana. A alternativa b é falsa, já que a produção pe-
eventuais riscos e problemas políticos e econômicos trolífera mexicana está aumentando. A alternativa c é
decorrentes dessa crescente revolta. falsa, porque a produção petrolífera venezuelana não
provoca crise econômica no México. A alternativa d
4. a. O mapa destaca a região nordeste e dos Grandes
é falsa, pois a atividade industrial mexicana é parcial-
Lagos nos Estados Unidos, o tradicional “cinturão
mente dependente de impulsos externos.
dos manufaturados”, visto que se trata de uma área
populosa, urbanizada e industrializada. A indus- 8. e. Na zona litorânea da Califórnia o clima é mediter-
trialização deslanchou a partir do século XIX e foi râneo, ameno e chuvoso no inverno, mas quen-
estimulada pelas jazidas de ferro e carvão mineral, te e bastante seco no verão. Assim, o calor e a
além da rede de transportes, mercado consumidor estiagem favorecem a ocorrência de grandes
e mão de obra. A região sofreu uma crise industrial incêndios, que causam danos em moradias e na
com o fechamento de empresas pouco competiti- infraestrutura no estado.
vas a partir da década de 1980, daí o termo “cintu-
rão da ferrugem”. A partir dos anos 2000, a região APROFUNDANDO O CONHECIMENTO
sofreu uma reestruturação com a implantação de
algumas empresas de tecnologia mais avançada. 5. a. A alternativa a descreve corretamente o tecnopolo
6. b. Como mencionado corretamente na alternativa b, a situado no sudoeste dos Estados Unidos, conheci-
área da 4a Frota corresponde ao espaço da América do como Vale do Silício, que agrega universidades
Latina, região de expansionismo estadunidense des- e centros de pesquisa cujas produções científicas
de o século XIX com a Doutrina Monroe. Na déca- sustentam as indústrias de ponta. São incorretas as
da de 2000, o predomínio de governos nacionalistas alternativas: b, porque a descrição corresponde à
como o de Hugo Chávez, na Venezuela; o de Evo produção agropecuária; c, por descrever uma paisa-
Morales, na Bolívia; e o de Rafael Correa, no Equador, gem típica de áreas mais setentrionais; d, por fazer
despertam cautela em razão de sua postura anti-im- uma referência ao Manufacturing ou Rust Belt, área
perialista. Estão incorretas as alternativas: a, porque de produção industrial mais antiga e tradicional dos
sua presença se faz em razão da beligerância da Co- Estados Unidos; e, pelo fato de a região não ser pro-
reia do Norte, que possui armas nucleares; c, porque dutora de metais, haja vista que o nome “Vale do
a área da 6a Frota corresponde ao cenário de oposi- Silício” é uma referência à principal matéria-prima
ção à ex-União Soviética e, portanto, de importância dos processadores fabricados pelas indústrias que
fundamental na história militar dos Estados Unidos se instalaram na região na década de 1950.

14
21Módulo
China e êndia

OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES


• China: histórico e características de uma potên- • H7 - Identificar os significados histórico-geográficos
cia mundial das relações de poder entre as nações.
• Um país e dois sistemas: os anacronismos políti- • H18 - Analisar diferentes processos de produção ou
cos, econômicos e sociais chineses circulação de riquezas e suas implicações socioespa-
• A abertura econômica e as Quatro Moderniza- ciais.
ções na China do século XXI • Identificar aspectos relevantes da história política e
• Índia: histórico e características de uma potência

GEOGRAFIA
econômica da China e da Índia.
regional • Analisar as dinâmicas demográficas da China e da Índia.
• Bases da emergência econômica indiana na vira- • Reconhecer avanços econômicos e sociais chineses e
da do século XXI indianos.

M—dulo 21
origem dos produtos que eles têm em casa (onde foram
INTRODUÇÃO fabricadas). Podem ser equipamentos eletrônicos, vestuá-
Neste módulo é esperado que os alunos compreen- rio, calçados, cosméticos, entre outros. Peça que anotem
dam a corrida econômica que Índia e China disputam nas as informações e as tragam para essa aula. O objetivo des-
últimas décadas. Desde 1991, quando reformas econômi- sa atividade é que os alunos percebam que os produtos
cas aconteceram na Índia, o país vem registrando elevadas podem ter diferentes origens. Caso a maioria deles tenha
taxas de crescimento do seu PIB, de maneira muito próxima sido produzida na Ásia, especificamente na China, mencio-
àquelas encontradas durante o milagre econômico chinês. ne a grande capacidade do país no setor industrial.
Sabe-se ainda que China e Índia apresentam as duas maio- Por meio da confrontação de dados como PIB e PNB,
res populações do planeta. O crescimento econômico dos informe que grande parte do capital industrial presente no
últimos anos permitiu a ascensão de uma numerosa classe território chinês é estrangeira. Relembre os alunos de que
média nesses países, que desperta a atenção de empre- no cálculo do PIB somam-se todos os bens e serviços pro-
sas do mundo todo. Segundo o banco Credit Suisse, em duzidos dentro do território de um país desconsiderando
2015, o contingente que compunha a classe média chinesa a nacionalidade e os lucros vindos do exterior. Já o PNB
se mostrou superior àquele que compõe a classe média es- é a soma de toda a riqueza produzida por empresas de
tadunidense. um país, independentemente de onde estejam instaladas,
mais o capital que entra e menos o capital que sai do país.
É ainda muito importante demonstrar que atualmen-
ESTRATÉGIAS DE AULA te a China também possui diversas empresas de capital
nacional que produzem bens extremamente diversifica-
dos, incluindo os de alto valor agregado. Nesse momen-
AULA 1 to, peça aos alunos que contribuam com exemplos de
China e Índia

marcas de produtos chineses que podem ser facilmente


Na primeira aula, trabalhe com os alunos os conteúdos encontradas no Brasil (Chery, Jac Motors, Huawei, entre
referentes à China. Solicite que façam um levantamento da outras).

15
Ao final da Aula 1 resolva com a turma a questão 2 da seus call centers, absorvendo como força de trabalho essa
seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugerimos população que fala inglês.
que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desenvol- A religião hindu, predominante, contribuiu para a for-
vendo habilidades, sobretudo as questões 1 e 2. mação de uma sociedade fortemente estratificada em
Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza- castas, embora desde a promulgação da Constituição do
ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento. país, na década de 1940, não exista mais nenhum disposi-
tivo legal que promova essa divisão.
A Índia atualmente possui a maior produção cinemato-
AULA 2 gráfica do mundo e uma forte indústria de informática (os
A segunda aula pode ser reservada para o estudo so- softwares livres ganham notoriedade no país) e farmacêu-
bre a Índia. É importante destacar aspectos demográficos tica. Muito do sucesso desses setores industriais se deve
e culturais do país, como a grande variedade étnico-cul- ao investimento feito pelo governo nas últimas décadas
em ciência e tecnologia.
tural. Isso pode ser notado, entre outros aspectos, pelas
22 línguas oficiais do país, reconhecidas pela Constituição Ao final da Aula 2 resolva com a turma a questão 1 da
indiana. Por influência da colonização do Reino Unido, o seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugerimos
inglês é considerado língua oficial de referência do país que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desen-
e é também a língua dos negócios, fundamental para a volvendo habilidades, sobretudo as questões 3, 4 e 5.
inserção no mercado de trabalho, responsável principal- Como aprofundamento facultativo, sugerimos a uti-
mente pela expansão no setor de serviços. Muitas marcas lização das questões da seção Aprofundando o conhe-
multinacionais têm escolhido a Índia para a instalação de cimento.

SUGESTÃO DE QUADRO

I. CHINA • Socialismo de mercado


➜ Potência econômica (segundo maior PIB do mundo) • 1 país / 2 sistemas
➜ “Indústria do mundo” ➜ 1984: As Quatro Modernizações
• Vantagens comparativas • Ciência e tecnologia
• Mão de obra barata • Defesa nacional
• Moeda desvalorizada • Abertura econômica para as indústrias transnacionais
• Leis ambientais frágeis Obs.: ZEEs
• Incentivos fiscais – Enclaves abertos aos investimentos estrangeiros
Obs.: Zonas econômicas especiais (ZEEs), cidades li- e dotados de legislação especial
torâneas com legislação especial • Dissolução das comunas populares e fortalecimen-
➜ Maior população do planeta (1,4 bilhão de habitantes) to da agricultura familiar
➜ Controle da natalidade desde 1979
II. ÍNDIA
Obs.: Fim da política do filho único em 2015 ➜ 1947: Independência da Índia Britânica (Índia +
➜ População majoritariamente urbana Paquistão + Bangladesh)
• Tendência espontânea de declínio da natalidade • Independência pacífica do Reino Unido
➜ 1949: Revolução Chinesa Obs.: Mahatma Gandhi
• 1945-1949: Guerra civil chinesa • Desobediência civil
• Mao Tsé-tung (PCC) ➜ Potência militar nuclear
➜ 1966-1976: Revolução Cultural Chinesa ➜ Economia:

➜ 1976: Morte de Mao Tsé-tung • Indústria de informática (hardware e software)


➜ 1978: Deng Xiaoping • Indústria cinematográfica Bollywood
• Serviços (call centers)

16
SUGESTÃO DE QUADRO COMPLEMENTAR (pH1)

III. SEPARATISMOS • Disponibilidade de minério


➜ China
➜ Xinjiang
• Tibete
• Uigures
• Dalai Lama
• Grande produção de petróleo e gás
• Questão hídrica

SUGESTÃO II
ATIVIDADES COMPLEMENTARES A seção pH1 deste módulo trabalha os territórios
chineses que apresentam tensões separatistas. Caso
SUGESTÃO I sua escola disponha de mais um tempo de aula, reco-
Em trabalho interdisciplinar com Matemática, os alu- menda-se a leitura do histórico de litígio que envolve as
nos podem ser organizados em grupos para que produ- regiões do Tibete e de Xinjiang, seguida de um debate
zam gráficos que mostrem as curvas de crescimento da com os alunos.

GEOGRAFIA
população dos países estudados neste módulo. Os alunos
podem até mesmo fazer gráficos com projeções futuras
da população da Índia e da China, com base em dados
fornecidos pela ONU. Outros gráficos podem ser produzi-
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR
dos, como o da distribuição da população por sexo. Ao fi-
nal, os grupos podem ser reunidos para que estabeleçam LIVROS
relações entre, por exemplo, o predomínio da população BRESLIN, Shaun. Entendendo a ascensão regional chine-
masculina nesses países e valores culturais, religiosos, sa. In: SPEKTOR, Matias; NEDAL, Dani (Org.). O que a

Módulo 21
que, no caso chinês, ainda podem ser somados ao longo China quer? Rio de Janeiro: FGV, 2010.
período de vigência da política do filho único. Para melhor
KISSINGER, Henry. Sobre a China. Rio de Janeiro: Objetiva,
desenvolvimento dessa atividade, recomenda-se que os
2012.
alunos assistam ao filme It’s a girl (2012), indicado na seção
Material de apoio ao professor. MOREIRA, Maurício M. Índia: oportunidades, lições e de-
Filmado na Índia e na China, It’s a girl pergunta por que safios para as economias do Brasil e da América Latina. Rio
tão pouco está sendo feito para salvar meninas e mulheres. de Janeiro: Elsevier, 2011.
O documentário conta histórias de meninas abandonadas OLIC, Nelson Balic; CANEPA, Beatriz. Geopolíticas asiá-
e traficadas, de mulheres que sofrem violência relacionada ticas: da Ásia Central ao Extremo Oriente. São Paulo:
ao dote, de mães que lutam para salvar a vida de suas filhas. Moderna, 2007.
Especialistas globais e ativistas colocam as histórias em
contexto e defendem caminhos diferentes para a mudança, FILMES
lamentando coletivamente a falta de qualquer ação de fato
It’s a girl. Direção: Evan Grae Davis. Estados Unidos, 2012.
eficaz contra essa injustiça.
64 min.
Na Índia e na China, existem casos de aborto quando
o feto é do sexo feminino, de meninas que são mortas e O último imperador. Direção: Bernardo Bertolucci. China/
abandonadas simplesmente porque são meninas. A ONU Itália/Reino Unido/França, 1987. 163 min.
estima que cerca de 200 milhões de meninas estejam de-
saparecidas no mundo. Aquelas que sobrevivem à infância
são, muitas vezes, sujeitas à negligência e enfrentam a vio- GABARITO COMENTADO
lência e até mesmo morrem nas mãos de seu marido ou
de outros membros da família.
A guerra contra o sexo feminino está enraizada numa PRATICANDO O APRENDIZADO
China e Índia

tradição secular e é sustentada por dinâmicas culturais pro-


fundamente arraigadas que, em combinação com as polí- 1. c. Os conflitos entre Índia e Paquistão referem-se à
ticas governamentais, aceleram a eliminação das meninas. Caxemira, território de maioria muçulmana. A Índia

17
reivindica a totalidade do território justificando que 5. a. As commodities são produtos primários negocia-
é parte integrante do país, ao passo que o Paquis- dos no cenário internacional. Para tal exemplo,
tão declara a maioria muçulmana como argumento podemos citar o minério de ferro brasileiro, que
para sua anexação. Estão incorretas as demais al- supervalorizou graças ao aumento dessa demanda
ternativas porque não correspondem ao processo por parte da China.
citado no enunciado.
2. d. A Índia, nação integrante do grupo Brics, destaca-
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO
-se em setores de alta tecnologia, como informáti-
ca, aeroespacial e medicamentos. O país é grande 1. c. Como mencionado corretamente na alternativa
exportador de softwares para computadores. Des- c, os crescentes investimentos militares da China
tacam-se os tecnopolos de Bangalore e Chennai, ameaçam a unipolaridade bélica pertencente aos
no sul. Estados Unidos. Estão incorretas as alternativas: a,
porque investimentos bélicos crescentes apontam
DESENVOLVENDO HABILIDADES para o acirramento de conflitos; b, porque a aná-
lise dos gráficos tem como tema os orçamentos
1. e. A China é um dos países com maior crescimento militares da China; d, porque o tema do gráfico
econômico do mundo nas últimas décadas. Po- não é a padronização das tecnologias militares.
rém, houve grande degradação do meio ambien- 5. b. A denominação terras-raras (ouro do século XXI)
te, tornou-se o maior emissor de gases de efeito refere-se a um grupo de dezessete elementos quí-
estufa do mundo, e a poluição atmosférica é um micos cuja aplicação está associada à produção de
grave problema nas cidades. Assim, a imagem re- componentes tecnológicos, essenciais ao desen-
flete a gravidade da questão ambiental na China. volvimento do setor high-tech e, portanto, como
Nos últimos anos, o país investiu em fontes reno- mencionado corretamente na alternativa b, o mo-
váveis (hidrelétricas, energia solar e energia eólica) nopólio chinês sobre as reservas de terras-raras sus-
para reduzir a poluição do ar. cita debates internacionais em razão de sua impor-
3. c. Os Estados Unidos e a China são as duas maio- tância para a indústria moderna. Estão incorretas as
res economias do mundo (têm os maiores PIBs). alternativas: a, porque a aplicação dos elementos
Os Estados Unidos são uma potência capitalista, que compõem as terras-raras são insumos para a
enquanto a China combina elementos socialistas indústria, e não para a agropecuária; c, porque o
e capitalistas (a partir da abertura econômica rea- Brasil participa da polêmica e possui uma das maio-
lizada no final da década de 1970). Do ponto de res reservas de terras-raras; d, porque a China lide-
vista político, os países são bem diferentes: os Es- ra o ranking de reservas, seguida pela CEI e pelos
tados Unidos são uma democracia pluripartidária, Estados Unidos; e, porque a OMC suscita debates
e a China, um regime autoritário de partido único. sobre o monopólio chinês das terras-raras.

ANOTA‚ÍES

18
22Módulo
Oriente Médio:
principais conflitos
OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES
• Oriente Médio: histórico de uma definição eu- • H7 - Identificar os significados histórico-geográficos
rocêntrica das relações de poder entre as nações.
• Tensões, conflitos e conciliações na região pa- • H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das
lestina organizações políticas e socioeconômicas em escala
• Geopolítica do petróleo local, regional ou mundial.
• Intervenções militares internacionais na região • H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais,

GEOGRAFIA
do golfo Pérsico políticos, econômicos ou ambientais ao longo da His-
tória.
• Identificar diferentes grupos étnicos, nacionais e reli-
giosos na região do Oriente Médio.
• Diferenciar os processos de desenvolvimento e as rea-
lidades sociais nos países do subcontinente.

M—dulo 22
os alunos consigam visualizar bem os países envolvidos
INTRODUÇÃO em cada conflito e os territórios disputados.
Os conflitos no Oriente Médio frequentemente to-
mam os noticiários da grande mídia, despertando tam-
bém interesse e curiosidade por parte dos alunos. Sem ESTRATÉGIAS DE AULA
dúvida, as grandes reservas de petróleo e outros recursos
na região (como a água), as intervenções imperialistas do
passado e o elemento religioso são ingredientes que AULA 1
contribuíram e ainda contribuem para as disputas terri-
toriais na área. Embora esse seja um tema que desperta Reserve a primeira aula para trabalhar com os alu-
a atenção dos alunos, é comum que tenham dificuldade nos os conflitos entre árabes e israelenses. Antes de en-
e façam confusão com a enorme quantidade de guerras, trar mais a fundo nas guerras e nos acordos de paz, faça
acordos e países mencionados durante as aulas. Assim, uma breve introdução para esclarecer a diferença entre
duas observações iniciais são importantes: didaticamen- o que seria a chamada Palestina Bíblica (área próxima
Oriente Médio: principais conflitos
te, a compreensão dos alunos pode se tornar melhor se do rio Jordão, que no passado já foi chamada de diver-
o módulo for dividido em duas partes. Inicialmente, pro- sos nomes, como Hebron, Terra Prometida, Terra San-
põe-se o estudo apenas dos conflitos que envolvem as ta, entre outros, e atualmente corresponde à área que
causas palestinas e israelenses. Em um segundo momen- abriga o Estado de Israel) e Palestina geopolítica (área
to, propõe-se o estudo de outros conflitos do Oriente onde a população palestina desfruta territórios com au-
Médio, que tiveram como campo de batalha a região do tonomia relativa).
golfo Pérsico. É muito importante, ainda, que as aulas Outros esclarecimentos podem ser feitos, diferencian-
sejam conduzidas com o auxílio de mapas, de modo que do Oriente Médio geográfico (parte da Ásia) de Oriente

19
Médio geopolítico (área mais abrangente que inclui não essa divisão em nada se relaciona com o fundamenta-
apenas o Oriente Médio geográfico, mas também os paí- lismo religioso. É comum a associação equivocada dos
ses do Norte da África, já que esses se assemelham em xiitas a grupos terroristas islâmicos e fundamentalistas.
características sociais, econômicas e culturais com a maio- A divisão entre xiitas e sunitas ocorreu após a morte do
ria daqueles encontrados no Oriente Médio geográfico) e profeta Maomé, no século XVII d.C. Na época a comu-
esclarecendo a diferença entre etnia, nacionalidade e re- nidade islâmica começou a se dividir: um grupo (xiitas)
ligião. É muito comum que os alunos confundam “árabe” entendia que apenas alguém com o mesmo sangue de
com “muçulmano” ou “judeu” com “israelense”. Mostre
Maomé deveria liderar a religião, enquanto o outro (su-
que pode existir perfeitamente, por exemplo, um árabe
nitas) afirmava que qualquer pessoa poderia ocupar tal
cristão ou que até mesmo os primeiros cristãos eram ju-
posição, desde que fosse uma pessoa idônea. Poste-
deus convertidos.
riormente, outras diferenças apareceram entre xiitas e
Durante as explicações sobre os acordos de Camp
sunitas. Os sunitas possuem, além do Corão, outro livro
David e de Oslo, procure demonstrar que o extremismo
sagrado, chamado Suna.
de ambas as partes pode ser considerado o principal vi-
lão contra avanços maiores na busca pela paz na região. Enfatize que, durante a Guerra Irã-Iraque, embora a
Afinal, contraditoriamente, no primeiro grande acordo de deflagração da guerra tivesse como questão central a dis-
paz entre árabes e israelenses, o presidente egípcio (e ára- puta pelo canal de Shatt Al-Arab, a principal motivação foi
be) Sadat foi assassinado justamente por árabes. Na déca- o temor de Saddam Hussein de que a expansão da Revo-
da de 1990, ocorreu uma nova contradição: Yitzhak Rabin, lução Xiita chegasse ao Iraque, país vizinho do Irã.
primeiro-ministro de Israel e protagonista nos Acordos de Com a Guerra do Golfo (1990-1991), o mundo pôde
Oslo, foi assassinado por um judeu extremista.
assistir ao início da nova ordem mundial que estaria por
Ao final da Aula 1, resolva com a turma a questão 1 vir. Essa guerra marca o fim da rivalidade entre Estados
da seção Praticando o aprendizado. Para casa, suge- Unidos e União Soviética, que perdurou durante toda a
rimos que os alunos trabalhem os exercícios da seção
Guerra Fria. Os dois países entraram do mesmo lado na
Desenvolvendo habilidades, sobretudo a questão 3.
guerra contra o Iraque, apoiando o Kuwait. A Otan tam-
Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza- bém participou da guerra, como um braço armado dos
ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento. Estados Unidos no Oriente Médio, fato que se repetiria
diversas vezes desde então.
AULA 2 Ao final da Aula 2, resolva com a turma a questão 2 da
seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugerimos
Na segunda aula, proponha um estudo sobre outros
que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desenvol-
conflitos do Oriente Médio. Comece pela Revolução
Xiita Iraniana de 1979. É provável que os alunos apre- vendo habilidades, sobretudo as questões 1, 5 e 9.
sentem dúvidas sobre a diferença entre xiitas e sunitas, Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza-
as duas correntes de seguidores do islã. Esclareça que ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento.

SUGESTÃO DE QUADRO

I. INTRODUÇÃO Obs.: Nacionalidade Þ etnia Þ religião


➜ Oriente Médio geográfico ➜ Exemplos:
• Sudoeste da Ásia • sírio – árabe – muçulmano
➜ Oriente Médio geopolítico • turco – turco – muçulmano
• Sudoeste da Ásia + Magreb (Norte da África) • iraniano – persa – muçulmano
➜ Palestina Bíblica • israelense − judeu – judeu
• Hoje: Israel • palestino – árabe – muçulmano
➜ Palestina Geopolítica
• Cidades da Cisjordânia 1 Faixa de Gaza

20
II. O CONFLITO ENTRE ÁRABES E ISRAELENSES ➜ Guerra dos Seis Dias (1967)
A) Histórico de ocupação da Palestina Bíblica • Ataque total árabe
➜ 1000 a.C. – Ocupação pelos judeus • Israel descobre e ataca primeiro
• Invasões diversas • Rápida vitória de Israel
➜ 70 d.C. – Diáspora judaica • Modificações territoriais
➜ 637 d.C. – Árabes - Israel ocupa: Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jerusa-
➜ 1517-1918
lém Oriental, colinas de Golã (Síria) e península
– Império Otomano
do Sinai (Egito)
B) Raízes do conflito no século XX ➜ Guerra do Yom Kippur (1973)
➜ Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
• Ataque árabe no feriado judaico
• Inglaterra/França 3 Império Turco Otomano/Ale- • Primeiro choque do petróleo
manha/Império Austro-Húngaro

D) Acordo de Camp David (1978)
Divisão do Oriente Médio entre Inglaterra e França
➜ Intermediação dos Estados Unidos
➜ Declaração de Balfour (1917)
➜ Egito reconhece Israel
• Apoio inglês ao movimento sionista
➜ Israel devolve a península do Sinai
➜ Segunda Guerra Mundial
➜ Sadat é assassinado
• Holocausto

GEOGRAFIA
➜ Egito é expulso da Liga Árabe
• Aumento do movimento sionista
• Aumento da instabilidade na Palestina Bíblica ➜ Acordos de Oslo
(árabes 3 judeus 3 ingleses) • Antecedente: Intifada (1987)
Obs.: Plano de Partilha da ONU (1947) - Revolta popular árabe
- Israel (56%) • Israel reconhece a OLP (ANP)
- Palestina (43%) • Israel promete desocupar gradativamente a Cisjor-
- Jerusalém (1%): território internacional dânia

Módulo 22
• Yitzhak Rabin é assassinado
C) Guerras e acordos
➜ Guerra de Formação de Israel (1948) Obs. 1: 2005 – Israel devolve a Faixa de Gaza
• 1948 – Declaração de Independência de Israel - Intensificação dos assentamentos de ju-
deus na Cisjordânia
• Israel 3 Iraque/Síria/Jordânia/Líbano/Egito (coalizão
árabe) Obs. 2: Palestina Geopolítica atual:
- Israel vence com o apoio dos Estados Unidos - Faixa de Gaza – Hamas (radical)
• Resultados: - Cidades da Cisjordânia – Fatah (moderado)
- Israel cresce 75%
III. OUTROS CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO
- Cisjordânia é ocupada pela Jordânia
- Jerusalém Oriental é ocupada pela Jordânia
Revolução Xiita Iraniana (1979)
➜ Xá Reza Pahlevi (derrotado) 3 Revolução Xiita (vito-
- Faixa de Gaza é ocupada pelo Egito
riosa)
- Diáspora palestina
➜ Guerra de Suez (1956) A) Guerra Irã 3 Iraque (1980-1988)

➜ Saddam Hussein (liderança sunita − Iraque) 3 Aiatolá
Gamal Abdel Nasser
Khomeini (liderança xiita − Irã)
- Nacionalista
➜ Disputa pelo canal Shatt Al-Arab
- Pan-arabismo
Oriente Médio: principais conflitos
• Nacionalização do canal de Suez B) Guerra do Golfo (1990-1991)
• Egito 3 Israel/Inglaterra ➜ Iraque 3 Kuwait/Estados Unidos/União Soviética/
• Guerra interrompida pela ONU Países Árabes
• Resultados: C) Guerra civil Síria (2011)
- Canal nacionalizado ➜ Bashar al-Assad (ditador) 3 rebeldes (árabes sunitas)
- Fortalecimento da liderança de Nasser no mundo ➜ Influência de potências estrangeiras (Estados Unidos 3
árabe 3 Rússia)

21
SUGESTÃO DE QUADRO COMPLEMENTAR (pH1)

IV. ÁRABES NO BRASIL ➜ Pós-1970: predomínio da entrada de árabes muçul-


manos
➜ Até 1940: predomínio da entrada de árabes cristãos
• Guerra Civil Libanesa (1975-1990)
➜ Décadas 1940/1950/1970: diminuição da chegada de
• Guerras árabes-israelenses
árabes
➜ Pós-1990: crescimento do número de brasileiros não
• Cotas de imigração
árabes convertidos ao islã
• Independência do Líbano e da Síria

SCALERCIO, Marcio. Oriente Médio: uma análise revela-


ATIVIDADES COMPLEMENTARES dora sobre dois povos condenados a conviver. 2. ed. Rio
de Janeiro: Campus, 2003.
SUGESTÃO I SCHEHADEH, Raja. Caminhos palestinos. Rio de Janeiro:
Record, 2009.
Os alunos podem promover uma exposição de painéis
na escola que contenham dados como número de mortos SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testa-
e feridos em vários conflitos recentes envolvendo árabes e mento. São Paulo: Semeadores da Palavra, 2008.
israelenses. Para isso, divida a turma em grupos e oriente- SENNET, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na ci-
-os em uma investigação sobre os prejuízos que a guerra vilização ocidental. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 2006.
causa para a população dos dois lados do conflito. Os pai-
néis também podem conter dados demográficos e econô- SHLAIM, Avi. A muralha de ferro: Israel e o mundo árabe.
micos sobre a Faixa de Gaza e as cidades da Cisjordânia São Paulo: Fissus, 2004.
controladas pelos palestinos. O objetivo desse trabalho é SMITH, Dan. Atlas do Oriente Médio: o mapeamento com-
sensibilizar a comunidade escolar sobre a necessidade de pleto de todos os conflitos. São Paulo: Publifolha, 2008.
acordos de paz mais eficazes na região.
FILMES
SUGESTÃO II (pH+) Argo. Direção: Ben Affleck. Estados Unidos, 2012. (119 min).

Caso a escola disponha de mais tempo de aula para Cinco câmeras quebradas. Direção: Emad Burnat, Guy Da-
Geografia, trabalhe com os alunos a seção pH+, que nes- vidi. Palestina/Israel/França, 2011. (94 min).
te módulo apresenta o histórico da imigração árabe para Etz Limon. Direção: Eran Riklis. França/Israel/Alemanha,
o Brasil. Para esta aula, separe fotografias que mostrem a 2009. (106 min).
identidade árabe (sírio-libanesa) em bairros do Brasil, como
Filmes ruins, árabes malvados: como Hollywood vilificou um
Centro de São Paulo (Rua 25 de Março), Paraíso, Vila Maria-
povo. Direção: Sut Jhally. Estado Unidos, 2007. (50 min).
na e Brás, também na cidade paulistana. Ao final da aula,
um lanche pode ser organizado com pratos típicos da culi- Ocupação 101: a voz da maioria silenciada. Direção:
nária sírio-libanesa, muito presentes no Brasil (quibe cru, Abdallah Omeish, Sufyan Omeish. Estados Unidos,
esfirra aberta de escarola, beirute de kafta, entre outras). 2006. (90 min).
Omar. Direção: Hany Abu-Assad. Palestina, 2013. (97 min).

MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR Paradise Now. Direção: Hany Abu-Assad. França/Palestina/


Alemanha/Holanda, 2005. (87 min).
LIVROS Persepolis. Direção: Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud.
CHEREM, Youssef Alvarenga. Os assentamentos israelenses Estados Unidos/França, 2008. (95 min).
nos territórios ocupados: raízes históricas e sua influência no Uma garrafa no mar de Gaza. Direção: Thierry Binisti. França/
processo de paz. Fronteira: Revista de Iniciação Científica Israel, 2013. (99 min).
em Relações Internacionais, v. 1, n. 2, maio 2002, p. 105-127.
Valsa com Bashir. Direção: Ari Folman. Israel/França/Ale-
SAHD, Fabio Bacila. Oriente Médio desmistificado: funda- manha/Estados Unidos/Finlândia/Suíça/Bélgica/Austrália,
mentalismo, terrorismo e barbárie. Curitiba: CRV, 2011. 2009. (87 min).

22
e iraquiano, Damasco continua sob domínio de As-
GABARITO COMENTADO sad; d, porque não existe consenso entre os países
da Europa sobre a recepção e o asilo aos imigrantes.
PRATICANDO O APRENDIZADO
DESENVOLVENDO HABILIDADES
1. b. Como mencionado corretamente na alternativa
b, o Oriente Médio é a região mais expressiva no 1. d. Desde 2011, a Síria encontra-se em uma guerra civil
tocante à origem dos refugiados, com destaque entre o governo do ditador Bashar al-Assad (mino-
para Síria, Afeganistão e Iraque, em razão dos con- ria alauita) e rebeldes sunitas, entre os quais, alguns
flitos que envolvem uma guerra civil e a ação do grupos que lutam por democracia. Porém, também
grupo extremista Estado Islâmico. Estão incorretas atua o Estado Islâmico, grupo fundamentalista islâ-
as alternativas seguintes porque não correspon- mico sunita e terrorista. A partir de então, milhares
dem ao indicado no texto. de refugiados deixaram o país rumo a países vizinhos
2. e. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, e à União Europeia, atravessando o Mediterrâneo.
os Estados Unidos, no governo George W. Bush, 2. c. Como mencionado corretamente na alternativa c,
iniciaram uma campanha antiterrorismo em escala a Síria foi palco do desdobramento da Primavera
mundial, chegando a desafiar o Conselho de Se- Árabe, cujas manifestações populares pressiona-
gurança na ONU, planejando e executando ações ram o presidente Bashar al-Assad para que hou-
por conta própria, mesmo sem a aprovação dos vesse maior democratização política. Contudo, a
demais países do Conselho. O primeiro país inva- forte oposição do governo aos opositores resultou

GEOGRAFIA
dido pelos Estados Unidos nessa campanha foi o em uma sangrenta guerra civil. Estão incorretas as
Afeganistão, com base em fortes indícios de que alternativas seguintes porque não correspondem
o mentor dos ataques às torres gêmeas em Nova ao contexto indicado pelo enunciado.
York, Osama bin Laden, chefe da Al-Qaeda na 3. e. A cidade de Jerusalém deveria ser neutra, conforme
época, era abrigado no país pelos talibãs. a partilha da Palestina, em 1947. Porém, em razão
3. e. Na instabilidade geopolítica do Oriente Médio, o Es- dos conflitos entre israelenses e árabes, foi anexa-
tado Islâmico, ou Daesh, é combatido tanto pelas da por Israel, que a considera sua “capital indivisí-

M—dulo 22
potências de coalizão quanto pelos governos sírio e vel”. Jerusalém é uma cidade com diversidade re-
iraniano. Estão incorretas as alternativas: a, porque ligiosa – há cristãos, judeus e muçulmanos. Assim,
o governo de Assad, da Síria, não tem o apoio da o funcionamento do setor terciário (comércio, ser-
Arábia Saudita; b, porque o Irã não apoia o governo viços e bancos) é influenciado pelas características
de Assad nem o Estado Islâmico; c, porque os Esta- culturais e religiosas das diversas comunidades.
dos Unidos não são aliados do governo de Assad; 4. e. Após a saída da maioria das tropas dos Estados Uni-
d, porque a Rússia é aliada do governo de Assad. dos em 2011, a situação do Iraque é de instabilidade
4. e. A maioria dos muçulmanos é moderada, entre os política. Os principais problemas são: conflitos en-
quais estão os que criticam atos como o atenta- tre maioria xiita e minoria sunita, separatismo curdo
do contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo (norte) e atuação do Estado Islâmico (grupo funda-
(2015). Os muçulmanos são divididos entre xiitas e mentalista sunita e terrorista que ocupa expressivo
sunitas (com subdivisões como os vaabitas na Ará- território no centro e no norte do país). Os adversá-
bia Saudita). Os grupos fundamentalistas, ou isla- rios do Estado Islâmico são: governos do Iraque e da
mitas, são minoritários. Aqueles que fazem parte Síria, curdos, yazidis, sunitas moderados, xiitas, cris-
de organizações terroristas também são agrupa- tãos, bem como os Estados Unidos e seus aliados.
mentos minoritários, a exemplo do Estado Islâmi- 5. e. Os curdos são um grupo étnico composto em sua
co (sunita), que ocupa parte da Síria e do Iraque. maioria de muçulmanos e se distribuem pelos ter-
5. e. Como mencionado corretamente na alternativa e, ritórios do Iraque, do Irã, da Síria, da Armênia e da
Oriente Médio: principais conflitos
os refugiados sírios respondem à situação de ins- Turquia. Essas áreas onde a maioria da população
tabilidade política, à ação de grupos extremistas e é curda integram o Curdistão. Os curdos aspiram a
à guerra civil, que se iniciou como desdobramento um Estado independente e apresentam importan-
da Primavera Árabe. Estão incorretas as alternativas: te tradição separatista.
a, porque os crimes de guerra são cometidos pelo 6. b. O Estado Islâmico é um grupo fundamentalista su-
governo de Assad e por grupos extremistas como nita e terrorista que ocupa amplos territórios no
o Estado Islâmico; b, porque os sírios estão sendo Iraque e na Síria. Seus adversários são: governos
expulsos pela guerra; c, porque, embora o Estado do Iraque e da Síria, curdos, yazidis, sunitas mo-
Islâmico tenha dominado parte dos territórios sírio derados, xiitas e os Estados Unidos e seus aliados

23
geopolíticos no Oriente Médio. Desde 2014, os sucessão de regimes seculares e ditatoriais; e, por-
Estados Unidos, seus aliados e o Irã realizam ope- que Israel não apoia a Síria nem o Irã.
rações militares de combate ao Estado Islâmico. 2. c. A charge refere-se ao quadro de tensão no Orien-
7. c. Como mencionado corretamente na alternativa c, te Médio, bastante comum na região nas últimas
a transformação do espaço em Dubai, área locali- décadas. O Oriente Médio é uma região estraté-
zada no Oriente Médio e, em razão disso, sujeita gica do ponto de vista econômico e geopolítico,
à forte aridez, resulta da utilização da tecnologia visto que apresenta grandes reservas de petróleo
para criar o espaço descrito. Estão incorretas as exportadas para países desenvolvidos e emergen-
alternativas seguintes porque não justificam o pro- tes. Também apresenta expressiva complexidade
cesso de transformação do espaço. em virtude das constantes intervenções de gran-
8. b. O Estado Islâmico é um grupo fundamentalista des potências (a exemplo das invasões dos Esta-
sunita e terrorista que ocupa parte dos territórios dos Unidos no Afeganistão em 2001 e no Iraque
em 2003), das mudanças políticas (Primavera Ára-
da Síria e do Iraque. Seu objetivo é a fundação de
be: Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen, Barein e Síria), do
Califado (Estado teocrático com base em leis reli-
crescimento do fundamentalismo islâmico e das
giosas). Os adversários do Estado Islâmico são: go-
tensões étnicas, religiosas e territoriais, a exemplo
vernos do Iraque e da Síria, curdos, xiitas, sunitas
do conflito entre palestinos e israelenses.
moderados, yazidis, Estados Unidos e seus aliados.
O grupo realizou atentados contra patrimônio his- 3. c. A alternativa a está incorreta porque, embora o es-
tórico e arquitetônico no Iraque (Mesopotâmia: as- treito de Tiran seja a principal ligação de Israel com
sírios) e na Síria (cidade de Palmira). o mar Vermelho, ele está situado entre a Arábia
Saudita e a península do Sinai (Egito). A alternati-
9. c. A Primavera Árabe foi um conjunto de manifesta-
va b está incorreta porque o estreito de Gibraltar
ções por democracia contra ditaduras corruptas
está situado entre o mar Mediterrâneo e o oceano
no norte da África e no Oriente Médio a partir de
Atlântico ou norte da África e sul da Europa. A alter-
2010. No Egito, houve a queda do ditador Hosni nativa c está correta porque a área identificada no
Mubarak e a eleição de Mohamed Morsi (Irmanda- mapa é o estreito de Ormuz, cuja ligação entre o
de Muçulmana). Porém, Morsi foi derrubado por golfo de Omã e o golfo Pérsico caracteriza o eleva-
um golpe militar, e o golpista ascendeu ao poder do tráfego de petroleiros da região. Está incorreta a
por meio de eleições questionáveis, sem a partici- alternativa d porque o estreito de Bering localiza-se
pação da Irmandade Muçulmana. entre o continente americano e o continente asiáti-
10. e. O Oriente Médio é uma região estratégica para os co. A alternativa e está incorreta porque o estreito
países desenvolvidos e muitos emergentes, uma de Bósforo liga o mar Negro ao mar de Mármara.
vez que apresenta as maiores reservas de petróleo 4. e. A criação do Estado de Israel em 1947 provocou
do mundo, a principal fonte de energia utilizada grandes impactos regionais e mundiais com a ex-
no planeta. O controle dos fluxos de petróleo para pulsão dos palestinos dos territórios judeus (refu-
o mundo desenvolvido explica em parte as fre- giados): a pressão dos países árabes vizinhos para
quentes intervenções geopolíticas e militares dos a retomada do território (Guerra dos Seis Dias e do
Estados Unidos no Oriente Médio, a exemplo da Yom Kippur, entre outros conflitos) e repercussões
invasão do Iraque em 2003. no comércio de petróleo (alterações nas cotas de
produção da Opep para forçar a elevação dos
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO preços). Apesar dos territórios conquistados por
Israel, a partir de 1967, a região sempre ficou sob
1. c. Como mencionado corretamente na alternativa c, a tensão, com inúmeros conflitos entre palestinos e
Ferrovia de Bagdá foi, no início do século XX, pro- israelenses, em que a água passou a ter papel es-
jetada para interligar Berlim a Bagdá, até então, tratégico como forma de dominação.
território do Império Otomano, que via na ferrovia 5. e. O Crescente Fértil corresponde historicamente à
uma forma de expansão sobre áreas controladas faixa entre as planícies dos rios Nilo, Tigre e Eu-
pelos ingleses. Estão incorretas as alternativas: a, frates (parte das atuais Turquia, Síria e Iraque),
porque, ao promover sua política expansionista, passando pela zona de clima mediterrâneo (par-
Napoleão contribuiu para a eliminação do Antigo te dos atuais Israel, territórios palestinos e Síria).
Regime e, contraditoriamente, fortaleceu os movi- O Crescente apresenta solos mais férteis, portanto
mentos liberais na Europa; b, porque a corrida co- mais apropriados para a agricultura graças aos fato-
lonial do século XIX ocorreu nos continentes afri- res hídricos e climáticos, contrastando com as áreas
cano e asiático; d, porque predomina no mundo desérticas próximas. Assim, desde a Antiguidade, a
árabe, desde o processo de descolonização, uma região é estratégica e tem maior povoamento.

24
23Módulo
çfrica

OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES


• Diversidade regional africana • H3 - Associar as manifestações culturais do presente
• Matrizes culturais africanas e identidades nacionais aos seus processos históricos.
• Histórico da exploração imperialista e da desco- • H7 - Identificar os significados histórico-geográficos
lonização africana das relações de poder entre as nações.
• Características econômicas, sociais e políticas da • Compreender a diversidade social e espacial africana.
África • Compreender a emergência da África do Sul como po-

GEOGRAFIA
tência regional.
• Analisar as consequências do colonialismo europeu
nos Estados africanos.

M—dulo 23
África fazem com que a região apresente grande varie-
INTRODUÇÃO dade de relevos, como os vales fluviais e os lagos tec-
Em consonância com a Lei no 10 639, de 2003, que inclui tônicos associados ao vale da Grande Fenda da porção
nas escolas o estudo da História da África e dos africanos, a leste do continente e as grandes cadeias montanhosas
luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o ne- do norte do continente.
gro na formação da sociedade nacional, este módulo bus- Vale também relacionar a diversidade climática do
ca mostrar a diversidade cultural encontrada no continente continente, que pode ser considerado o mais tropical
africano, seus principais problemas, desafios e conquistas de todos (cortado pelos trópicos de Câncer e de Capri-
nas últimas décadas, além de, principalmente, romper com córnio), com a grande variedade genética (fauna e flora)
os vários estigmas e preconceitos que ao longo de séculos da região. Os climas e as paisagens climatobotânicas se
foram direcionados aos povos e às culturas africanas. repetem da linha do equador para o norte e para o sul.
O módulo assume enorme importância para a constru- Destaque a ocorrência de desertos nos dois hemisférios
ção de uma sociedade mais justa, tolerante e capaz de per- do continente, mostrando aos alunos como eles se forma-
ceber a riqueza que a pluralidade cultural pode proporcionar. ram. Para isso, pode ser necessária uma breve revisão de
alguns conceitos da climatologia. Explique também a de-
sertificação do Sahel (que ocorre pela perda do potencial
produtivo do solo de zonas com escassez de água), dife-
ESTRATÉGIAS DE AULA renciando esse fenômeno do processo de desertificação
(expansão ou formação de desertos).
Ao final da Aula 1, resolva com a turma a questão 2 da
AULA 1 seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugerimos
A primeira aula pode ser utilizada para trabalhar com que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desenvol-
os alunos os diversos aspectos da geografia física do vendo habilidades, sobretudo as questões 1 e 7.
continente africano. Os diferentes movimentos das pla- Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza-
África

cas tectônicas que sustentam o arcabouço geológico da ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento.

25
AULA 2 conheçam um pouco mais as tecnologias criadas pelos po-
vos africanos do passado, notando sua contribuição para o
A segunda aula pode ser utilizada para trabalhar as- desenvolvimento da agricultura do período colonial.
pectos histórico-geográficos da África. Traçar uma linha
do tempo pode ajudar os alunos a compreender melhor Sem dúvida, o etnocentrismo europeu na África causou
as principais características de cada período. e ainda causa enorme desserviço à humanidade, como se
pode verificar nos diversos casos de discriminação e pre-
A África antes da chegada dos europeus era marcada
por uma diversidade etnocultural ainda maior que a verifi- conceito contra a população e a cultura afrodescendente
cada nos dias atuais. O imperialismo europeu, sob a chan- no Brasil e no mundo. Nesse contexto, para evidenciar o
cela de ideias como aquelas de darwinismo social, missão preconceito contra as religiões afrodescendentes, com-
civilizatória, entre outras, causou genocídio e etnocídio. partilhe com a turma casos e reportagens sobre depreda-
Nesse contexto, pode ser realizada uma discussão sobre ções a monumentos e agressões a pessoas praticantes de
o que seria ser “desenvolvido”, adjetivo tão atribuído ao religiões de matriz africana. Cite como exemplo o caso da
europeu por ele mesmo, no contexto do imperialismo menina Kailane Campos, de apenas 11 anos, que foi agre-
africano. dida em 2015 simplesmente por usar trajes do candomblé.
O importante é mostrar que a qualidade de “desen- A reportagem sobre esse caso é facilmente encontrada na
volvido” reflete uma visão etnocêntrica que enxerga na so- internet; e o texto pode ser lido para os alunos ou cópias
ciedade europeia uma suposta superioridade em relação dele podem ser distribuídas a eles.
às outras culturas. Um contraponto a essa visão está no re-
lativismo cultural, ideia que defende a inexistência de uma Ao final da aula e da discussão, os alunos podem de-
cultura considerada “certa” ou “superior”. Assim, também senvolver uma ilustração, como uma charge, para criticar
não existiriam culturas “erradas” ou “inferiores”, apenas situações verificadas em seu cotidiano, como discrimina-
padrões culturais distintos. Esse pensamento compreende ção, racismo, entre outros.
o desenvolvimento como um avanço técnico ou tecnoló- Ao final da Aula 2, resolva com a turma a questão 3 da
gico observado em um mesmo grupo cultural, de maneira
seção Praticando o aprendizado. Para casa, sugerimos
que traga benefícios para essa população. No relativismo
que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desenvol-
cultural não caberia, por exemplo, o julgamento europeu
vendo habilidades, sobretudo as questões 3 e 4.
de que os povos africanos que não dominavam a escrita
fossem menos desenvolvidos. A leitura conjunta do infográ- Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza-
fico da página 464 pode ser feita de modo que os alunos ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento.

SUGESTÃO DE QUADRO

I. QUADRO FÍSICO • Saara


– Alta pressão tropical
A. Relevo
➜ Predomínio de estruturas antigas – Continentalidade
– Barreira orográfica
• Relevo desgastado pelo processo erosivo
➜ Poucas
• Namíbia
grandes altitudes
– Alta pressão tropical
• Drakensberg (sul)
– Corrente marinha fria
• Atlas (norte)
Obs.: Desertificação, perda do potencial produtivo
• Monte Quilimanjaro (Tanzânia)
do solo, áreas com pouca umidade (exemplo: Sahel
Obs.: Vale da Grande Fenda ou Great Rift Valley (les-
africano)
te), montes vulcânicos, lagos tectônicos e vales fluviais
II. ASPECTOS HISTÓRICOS
B. Clima
➜ Continente cortado pela linha do equador A. “Áfricas” pré-europeus
• Climas “em espelho” ➜ Grande variedade cultural
➜ Desertos • Diferentes níveis de desenvolvimento

26
B. Colonialismo mercantil • Conferência de Berlim
➜ Século XV – Início da partilha da África
• Ocupação no litoral – Livre navegação nos rios Níger e Congo
• Território inóspito • Justificativas para o imperialismo
– Climas – Espaço vital
– Relevo – Darwinismo social
– Doenças tropicais – Missão civilizatória
– Tribos hostis • Demonização das religiões
• Comércio com as “Índias” C. Descolonização da África e Guerra Fria
➜ Séculos XVI–XVIII • Pós-Segunda Guerra Mundial
• “Periferia da periferia” – Guerras de descolonização
– Função: fornecer escravos • Guerra Fria
– Escravidão preexistente (intensificada pelo europeu) – Intensificação dos conflitos
Obs.: Escravizados no Brasil: bantos (vocabulário) e • Pós-Guerra Fria
sudaneses (religiões) – Continuidade dos conflitos
➜ Século XIX e imperialismo D. África e globalização

GEOGRAFIA
• Imperialismo • Participa sendo base da DIT
– Contexto: Segunda Revolução Industrial – Destaque: investimentos chineses recentes

ATIVIDADES COMPLEMENTARES GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla


consciência. Rio de Janeiro: Editora 34, 2001.
SUGESTÃO I

Módulo 23
HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à
Uma roda de discussão pode ser criada para debater história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2008.
a imagem do negro veiculada em novelas, filmes, comer-
ciais e programas de televisão no Brasil. O professor e os LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas
alunos podem trazer informações sobre a legislação que transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
pune o racismo e a discriminação. MARTINS, A. Lendas e Exu. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.
Além disso, o impacto e a real dimensão das cotas
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo:
para negros em concursos e outras ações afirmativas im-
plementadas no Brasil podem ser avaliadas por meio de Companhia das Letras, 2003.
um levantamento dos pontos positivos e das limitações. PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato Pinto. Ancestrais:
Veja, na seção Material de apoio ao professor, referên- uma introdução à história da África Atlântica. Rio de Janei-
cias que apresentam diversos mitos iorubas. ro: Campus, 2004.

SUGESTÃO II SERRANO, Carlos; WALDMAN, Maurício. Memória d’África:


Os alunos podem ser divididos em grupos e estimu- a temática em sala de aula. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
lados a montar pequenas peças de teatro sobre os mitos THORNTON, John. A África e os africanos na formação do
africanos. Pode ser interessante que alguns grupos propo- mundo Atlântico (1400-1800). 2. ed. Rio de Janeiro: Cam-
nham recontar os mitos africanos em um novo contexto, pus, 2004.
dentro da realidade brasileira.
FILMES
A massai branca. Direção: Hermine Huntgerburth. Alema-
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR nha, 2005. 132 min

LIVROS A sombra e a escuridão. Direção: Stephen Hopkins. Esta-


dos Unidos, 1996. 109 min
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O tratado dos viventes: for-
mação do Brasil no Atlântico Sul (séculos XVI e XVII). São Diamante de sangue. Direção: Edward Zwick. Estados Uni-
África

Paulo: Companhia das Letras, 2000. dos/Alemanha, 2006. 134 min

27
Hotel Ruanda. Direção: Terry George. Reino Unido/Itália/ plo da produção de uva e vinhos. Porém, o país
África do Sul/Estados Unidos, 2004. 121 min é socialmente desigual, entre outras razões, pelas
heranças do apartheid (segregação socioeconômi-
Invictus. Direção: Clint Eastwood. Estados Unidos, 2009.
ca e racial em vigor entre 1948 e 1990).
134 min
5. a. A África subsaariana corresponde a um dos maio-
O jardineiro fiel. Direção: Fernando Meirelles. Alemanha/ res bolsões de pobreza do planeta e, portanto,
Reino Unido, 2005. 129 min de forte carência tecnológica. Estão incorretas as
O último rei da Escócia. Direção: Kevin Macdonald. Esta- alternativas seguintes porque não representam
dos Unidos/Reino Unido, 2006. 122 min as áreas mais pobres do planeta.

Redenção. Direção: Marc Foster. Estados Unidos, 2011.


128 min DESENVOLVENDO HABILIDADES
Repórteres de guerra. Direção: Steven Silver. África do Sul/
1. c. A alternativa a está incorreta porque o estreita-
Canadá, 2010. 120 min
mento de laços comerciais entre os dois blocos
ocorre desde a década de 1990. A alternativa b
está incorreta porque, embora a parceria sino-bra-
GABARITO COMENTADO sileira tenha crescido, esta não representa o traça-
do geopolítico mencionado no enunciado. A alter-
nativa d está incorreta porque a vertente ocidental
PRATICANDO O APRENDIZADO americana é definida pelo eixo do Pacífico. Já a
alternativa e está incorreta porque, embora a Otan
1. c. A África do Sul é um país emergente e uma das tenha passado por um processo de revitalização
maiores economias do continente africano. Trata- desde a década de 1990, a organização represen-
-se de um país industrializado, grande exportador ta o desdobramento de um eixo militarizado no
de recursos minerais (ouro, diamante, ferro, urânio, Atlântico Norte desde a década de 1940.
etc.) e com pujante setor turístico. Porém, apresenta 2. a. A faixa do Sahel localiza-se ao sul do deserto do
profundas desigualdades sociais e étnicas, em parte Saara; trata-se de uma região de clima semiárido e
herdadas do regime do apartheid (1948-1990). vegetação xerófila (savana espinhenta). O desma-
2. e. O rio Nilo nasce na África centro-oriental (região tamento e o uso incorreto do solo para a agricul-
dos grandes lagos tectônicos e montanhas eleva- tura e a pecuária extensiva nômade provocaram
das, muitas das quais de origem vulcânica ou rela- o processo de desertificação. O fenômeno causa
cionadas a falhas geológicas). O rio nasce em uma perdas nas safras agrícolas e agrava a subnutri-
região dominantemente tropical (quente, verão ção periodicamente. Nos últimos anos, a situação
chuvoso e inverno seco), desce em direção ao nor- social agravou-se em alguns países por causa de
te, atravessando área semiárida (Sahel), entra em conflitos políticos, étnicos e religiosos. São exem-
zona árida (deserto do Saara) e deságua no mar plos: Darfur (Sudão), independência do Sudão do
Mediterrâneo com foz em delta. Trata-se de um rio Sul, golpe militar, bem como o fundamentalismo
importante para o abastecimento de água, a ativi- islâmico e o separatismo tuaregue no Mali.
dade pesqueira, a irrigação agrícola e o aproveita- 4. e. A guerra entre tútsis e hutus, cujas raízes remon-
mento hidrelétrico (hidrelétrica de Assuan, Egito). tam ao processo de colonização belga, resultou
3. a. A área 1 destaca os três países mais atingidos pela na disputa de poder envolvendo os territórios de
epidemia de ebola, doença altamente contagiosa Ruanda e Burundi.
provocada por vírus e com elevada mortalidade. 5. d. O discurso de conceder um país às diversas etnias
Os países são: Guiné (ex-colônia francesa com ex- regionais escondia a real situação de não se res-
portações de bauxita), Serra Leoa (ex-colônia bri- ponsabilizar socialmente por essas populações,
tânica com exportações de diamantes) e Libéria deixando-as em situação de miséria em territó-
(país fundado por ex-escravizados que retornaram rios isolados e proibidos ou com sua capacidade
dos Estados Unidos e exportador de ferro). de articulação dificultada, como forma de man-
4. a. A África do Sul é um país subdesenvolvido, emer- ter enormes contingentes de mão de obra a pre-
gente e industrializado. Apresenta o maior parque ço baixo. Um tipo de arranjo para exercer poder
industrial do continente africano, é grande expor- ideológico e territorial por meio de abstrações
tador de recursos minerais (carvão, ouro, diaman- da realidade. Essa era a sociedade da África do
te, etc.) e tem agronegócio desenvolvido, a exem- Sul naquele momento histórico.

28
A alternativa a é falsa, pois não havia precisão nem mou cerca de 800 mil pessoas, em 1994. O texto
realidade nesse tipo de arranjo. A alternativa b é de autoria de Marta Reis identifica as ações em
falsa, porque fotos aéreas servem para determi- curso, promovidas pelo governo atual, no sentido
nar posições geográficas reais para finalidades de reprimir as rivalidades étnicas em prol do valor
concretas. A alternativa c é falsa, porque as for- maior concedido à identidade nacional ruandense.
mas não reproduzem realidades, mas são imagens O texto de autoria de Marcio Gagliato critica tais
para atender às demandas políticas de um dado ações governamentais ao denunciar a vitimização
momento histórico. A alternativa e é falsa, pois as do genocídio e a ausência de uma reflexão mais
informações desse tipo de mapa servem para fins cuidadosa acerca dos motivos históricos associados
ideológicos do governo daquele período. aos conflitos étnicos. A comparação entre esses
posicionamentos apontaria para a atualidade de
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO tais conflitos em regiões africanas, constituídos e
agravados pelos processos de formação de Es-
1. d. Os textos apresentam alguns dos efeitos do epi- tados nacionais, nos quadros da descolonização
sódio conhecido como genocídio de Ruanda − ocorrida a partir da década de 1950 na África,
guerra civil entre as etnias tútsi e hutu, que viti- como é o caso de Ruanda.

ANOTA‚ÍES

GEOGRAFIA
M—dulo 23
África

29
24Módulo
AmŽrica Latina

OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES


• Eixos de integração da América do Sul • H7 - Identificar os significados histórico-geográficos
• Mercosul, Unasul, Alba, MCCA, Caricom e Pacto das relações de poder entre as nações.
Andino • H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das
• A América Latina e a geopolítica atual organizações políticas e socioeconômicas em escala
local, regional ou mundial.
• Compreender os diferentes interesses geopolíticos
que envolvem a região latino-americana.
• Analisar os principais blocos econômicos sul-america-
nos.
• Analisar os eixos de integração da América do Sul pro-
postos atualmente pela Iniciativa para a Integração da
Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA).

da Alca, projeto de bloco não concretizado, que deveria


INTRODUÇÃO incluir ainda países da América do Norte) podem ser abor-
O presente módulo pretende elucidar o panorama dados simultaneamente. Propomos que seja feita uma ta-
atual da América Latina, enfatizando os grandes projetos bela na lousa com algumas colunas, como “tipo de bloco”,
de infraestrutura na região, a organização dos países em “Estados-membros” e “ano de fundação”. Assim, a turma
blocos econômicos regionais e as características e polí- pode comparar a composição e os objetivos de cada gru-
ticas dos governos atuais. No Módulo 8, Industrializa- po. A formação dos blocos econômicos na América Lati-
ção tardia, destacamos a história econômica da região, na segue a tendência da nova ordem mundial, em que os
enfatizando seu papel na Nova Divisão Internacional do países buscam simultaneamente a ampliação do mercado
Trabalho para que se percebesse a inserção dependen- consumidor para as empresas da região e a proteção dos
te de seus países na economia mundial. Neste módulo, seus mercados em relação às empresas instaladas fora do
focamos em um período mais recente da América Latina, grupo. Além disso, deve-se destacar a forte cooperação
o pós-1990 e início do século XXI. política encontrada em alguns desses blocos, como é o
caso da Alba, na qual há o intercâmbio de médicos cuba-
nos em troca do fornecimento de petróleo venezuelano
para a ilha caribenha.
ESTRATÉGIAS DE AULA A Alca, proposta de integração entre todos os países da
América, com exceção de Cuba, não foi adiante. O bloco
AULA 1 deveria entrar em vigor em 2005, porém, com os atentados
de 11 de setembro de 2001 em Nova York, Estados Unidos,
Na primeira aula, trabalhe com os alunos os principais a atenção da política externa estadunidense se voltou muito
blocos econômicos existentes entre países da América La- mais para o Oriente Médio, fazendo com que a formação do
tina. Mercosul, Alba, Comunidade Andina e Unasul (além bloco deixasse de ser prioridade na gestão de George W.

30
Bush. Além disso, a partir de 1999, com a eleição de Hugo de consumo no país (como automóveis), e Cuba deixou
Chávez para presidente da Venezuela, a América Latina de absorver as novidades surgidas na arquitetura urbana
passaria por uma grande transformação política incompatí- dos países capitalistas desenvolvidos, que eram referência
vel com os anseios do bloco. Líderes latino-americanos da para as cidades capitalistas do mundo todo. Uma confusão
esquerda chegariam ao poder (fenômeno conhecido como comum entre os alunos é achar que a Revolução Cubana
“onda rosa” ou “maré rosa”) e rejeitariam a Alca. (1959) teve caráter socialista, o que não é verdade. Com a
Cada exercício da seção Praticando o aprendizado chegada de Fidel Castro ao poder, uma série de naciona-
trabalha uma habilidade proposta por este módulo. Ao fi- lizações ocorreu, contrariando os interesses das empresas
nal da Aula 1, resolva com a turma a questão 2. Para casa, estadunidenses. Como resposta a isso, os Estados Unidos
sugerimos que os alunos trabalhem os exercícios da seção impuseram um boicote ao açúcar comprado da ilha, que,
Desenvolvendo habilidades, sobretudo as questões 2 e 8. por sua vez, passou a se aproximar da União Soviética. Ou
seja, Cuba se tornaria socialista apenas posteriormente.
Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza-
Em razão disso, em 1962, os Estados Unidos implementa-
ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento.
ram um bloqueio econômico ao país, reforçado na década
de 1990 e que dura até os dias atuais. Durante a existência
da União Soviética, a economia de Cuba foi favorecida por
AULA 2
acordos comerciais vantajosos com a grande potência so-
A segunda aula pode ser utilizada para trabalhar os cialista. Com o fim da União Soviética, o país mergulhou
eixos de integração regional que estão sendo construídos em uma crise econômica, que o obrigou a realizar, de
na América do Sul e abordar um pouco das características maneira lenta e restrita, uma abertura ao capitalismo. To-

GEOGRAFIA
históricas de alguns países da América Latina. mando o Caderno do Aluno como referência, outros estu-
As transformações recentes ocorridas em Cuba po- dos de casos podem ser desenvolvidos, como Argentina,
dem ser discutidas por meio de fotografias atuais do país, Venezuela, Bolívia, México e Colômbia.
retomando o conceito de paisagem. É provável que os Cada exercício da seção Praticando o aprendizado tra-
alunos comentem a impressão de que Cuba “parou no balha uma habilidade proposta por este módulo. Ao final da
tempo”. A paisagem com carros antigos, prédios baixos Aula 2, resolva com a turma a questão 5. Para casa, sugeri-
e uma vida urbana pouco agitada é indicativa das trans- mos que os alunos trabalhem os exercícios da seção Desen-

Módulo 24
formações que aconteceram no país na década de 1960: o volvendo habilidades, sobretudo as questões 1 e 10.
bloqueio econômico e político que se seguiu à implemen- Como aprofundamento facultativo, sugerimos a utiliza-
tação do socialismo diminuiu a disponibilidade de bens ção das questões da seção Aprofundando o conhecimento.

SUGESTÃO DE QUADRO

AMÉRICA LATINA ➜ Eixos interoceânicos Central (Brasil, Paraguai, Bolívia,


Chile, Peru) e Capricórnio (Chile, Argentina, Para-
A) O que é?
➜ Critério
guai, Brasil)
linguístico vago
➜ Histórico comum de perdas
• Integração energética
• Incorporação de novas terras à agricultura de ex-
B) Blocos econômicos portação
➜ Mercosul
• Biocombustíveis
➜ Unasul
• Transportes
➜ Alca (não concretizado) • Exportação de gêneros agrícolas brasileiros e mi-
➜ Comunidade Andina das Nações nerais bolivianos pelo Pacífico
➜ Alba ➜ Eixo Venezuela, Brasil, Guiana, Suriname

C) Eixos de integração da América do Sul


• Transporte rodoviário
➜ Eixo Mercosul-Chile (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile) ➜ Eixo do Amazonas (Colômbia, Peru, Equador, Brasil)
América Latina

• Integração energética (gasodutos) • Transportes (Bacia Amazônica e o litoral do Pacífico)


• Hidrelétricas • Exportação

31
➜ Eixo Peru-Brasil-Bolívia • 2015: Retomada de relações diplomáticas entre Es-
• Transportes tados Unidos e Cuba
• Exportação para a Ásia – Permanência do bloqueio econômico
➜ Bolívia
D) Casos • Nacionalização dos hidrocarbonetos
➜ Venezuela
• Nova Constituição
• 1999: Hugo Chávez ➜ Colômbia
– Revolução Bolivariana (socialismo do século XXI)
– Repressão
– Reforma agrária
– Aumento da desigualdade social
– Aumento dos gastos sociais • 1964: formação das Farc
– Nacionalizações – Socialismo cubano
• 2002: Golpe • Final da década de 1990
– Articulação entre petrolíferas + RCTV + Estados – Envolvimento da guerrilha com o narcotráfico
Unidos • 2000: Plano Colômbia
– Governo Chávez pós-golpe de 2002 – Apoio financeiro dos Estados Unidos para o
– Oposição imediata aos Estados Unidos combate ao narcotráfico
– Maior controle sobre os meios de comunicação ➜ México
• 2013: Nicolás Maduro • Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN )
– Novos desafios – Chiapas
– Menor popularidade ➜ Chile

– Diminuição do preço do petróleo × Manutenção • 1973: ditadura de Augusto Pinochet


dos gastos sociais • Década de 1990: redemocratização
➜ Cuba ➜ Argentina
• 1959: Revolução Cubana • Néstor e Cristina Kirchner
– Caráter nacionalista – Ressurgimento do peronismo
• 1962: Bloqueio econômico dos Estados Unidos – Nacionalismo
– Endurecimento do embargo na década de 1990 – Protecionismo
• 2008: Raúl Castro – Fortalecimento das políticas trabalhistas
– Reformas econômicas – Maior intervenção estatal

ATIVIDADE COMPLEMENTAR MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR


Desde 2008, a abertura econômica de Cuba tem sido
reforçada pelo presidente Raúl Castro. No entanto, o LIVROS E ARTIGOS
acesso a determinados bens e serviços no país ainda é
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Dilemas atuais e perspecti-
bastante restrito. Por exemplo, são poucos os locais pú-
vas futuras do regionalismo sul-americano: convergências
blicos que dispõem de internet, e os cubanos não têm
e divergências. Temas e Matizes, v. 7, n. 14, 2008.
acesso a ela em casa. Os alunos podem pesquisar, indivi-
dualmente ou em grupo, o que mais é acessível à popula- AYERBE, Luis Fernando. O Ocidente e o “Resto”: A Amé-
ção cubana e o que não é. Solicite que busquem também rica Latina e o Caribe na cultura do Império. Buenos Aires:
a cotação de determinados produtos e compartilhem os Clacso, 2003.
resultados da investigação. A pesquisa dessas informa-
ções deve fazer parte do estudo sobre a abertura do país. BANDEIRA, Muniz. Geopolítica e política exterior: Estados
Outro tema de pesquisa pode ser o turismo em Cuba Unidos, Brasil e América do Sul. Brasília: Fundação Alexan-
e como ele funciona. dre Gusmão, 2009.

32
GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Tradu- não ocorreu redução das assimetrias, haja vista a
ção de Galeno de Freitas. 39. ed. Rio de Janeiro: Paz e diferença entre o peso econômico brasileiro se
Terra, 2000. comparado ao paraguaio; b, porque em 2002 foi
assinado o Tratado de Livre Trânsito e Residência,
JYERBE, Luis Fernando. Estados Unidos e América Lati-
que permite o trânsito de cidadãos dos membros
na: a construção da hegemonia. São Paulo: Ed. da Unesp,
do bloco; c, porque a Argentina impôs barreiras
2002.
ao Brasil no setor automobilístico e linha branca, e
MAUAD, Ana Maria. Três Américas de Carmen Miranda: não o contrário; d, porque a Venezuela apresenta
cultura política e cinema no contexto da política de Boa um dos maiores índices de inflação e, em razão de
Vizinhança. Transit Circle: Revista Brasileira de Estudos sua postura antiamericanista, não é porta-voz do
Americanos, v. 3. Rio de Janeiro: Contracapa, 2001. Nafta.
PAMPLONA, Marco; DOYLE, Don H. (Org.). Nacionalismo 4. c. Nos últimos anos, a Venezuela tem enfrentado
no Novo Mundo. A formação de Estados-nação no século graves conflitos entre o governo (extrema esquer-
XIX. Rio de Janeiro: Record, 2008. da com apoio dos militares e parte das classes
mais pobres) e a oposição (mídia e classes mé-
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A reinvenção dos
dia e alta). O país enfrenta grave crise econômica
territórios: a experiência latino-americana e caribenha. In:
causada pela queda dos preços do petróleo no
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso),
mercado internacional e má gestão governamen-
Los desafíos de las emancipaciones en un contexto milita-
tal. Entre os problemas, estão a alta inflação e o
rizado. Buenos Aires, 2006.
desabastecimento de produtos básicos. Também

GEOGRAFIA
PRAZERES, Tatiana Lacerda et al. O Brasil e a América do é o país com a taxa de homicídios mais alta da
Sul: desafios no século XXI. Brasília: Funag/Ipri, 2006. América do Sul.
SAFFORD, Frank. Política, ideologia e sociedade na Amé- 5. e. Como mencionado corretamente na alternativa e,
rica Espanhola do pós-independência. In: BETHELL, Leslie o espaço difuso da produção da droga favorece
(Org.). História da América Latina. São Paulo: Edusp, 1999. sua circulação para outros continentes. Estão in-
v. III. corretas as alternativas: a, porque o mapa indica a
internacionalização do comércio; b, c e d, porque

M—dulo 24
o mapa não mostra as iniciativas de contenção da
produção e as de legalização nem os acordos en-
GABARITO COMENTADO tre os fornecedores da droga.

PRATICANDO O APRENDIZADO DESENVOLVENDO HABILIDADES


1. a. A Colômbia atravessa um conflito interno entre 1. c. A América Latina passa a executar seu papel de
o governo e guerrilhas de esquerda, como as fornecedora de matérias-primas na Divisão Inter-
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia nacional do Trabalho para atender à demanda do
(Farc). O narcotráfico (produção e comercializa- capital das economias centrais da Europa Seten-
ção ilegal de cocaína) é importante para a eco- trional, recebendo setores de produção em bus-
nomia do país, apesar da retórica de combate ca de custos mais baixos, que parecem ilhas de
feita pelo governo, que é de direita e apoiado excelência de produção em áreas de economia
pelos Estados Unidos. A Venezuela apresenta um primária. A alternativa a é falsa, as áreas de desen-
governo de esquerda e crítico da influência dos Es- volvimento situam-se nas grandes cidades. A al-
tados Unidos na América Latina. Portanto, Colôm- ternativa b é falsa, houve reestruturação do pacto
bia e Venezuela, apesar de importantes parceiros colonial em 1880 com as novas metrópoles. A al-
comerciais, apresentam divergências geopolíticas ternativa d é falsa, a infraestrutura tinha o objetivo
relevantes e vários conflitos na zona de fronteira de atender ao capital externo apenas. A alterna-
nos últimos anos em razão da atuação da guerri- tiva e é falsa, as redes de transporte fortalecem o
lha, dos contrabandistas e dos imigrantes. capital externo.
3. e. Como mencionado corretamente na alternativa e, 2. b. Como mencionado corretamente na alternativa b,
o Mercosul fortaleceu a economia brasileira ao in- o ingresso da Venezuela como membro pleno no
América Latina

crementar o comércio com os signatários do blo- Mercosul se deu após a suspensão do bloco ao
co, freando a polarização estadunidense sobre a Paraguai, eliminando o único país que se opunha
região. Estão incorretas as alternativas: a, porque à entrada formal da Venezuela. Estão incorretas as

33
alternativas: a, porque o Paraguai se opunha ao Cuba não é um país exportador de bens e serviços
ingresso da Venezuela; c, porque a aprovação de ainda. A alternativa e é falsa, pois a OEA é que re-
um novo membro pleno tem de ser unânime; d, cusa a entrada de Cuba na organização sem antes
porque a discordância era do Paraguai; e, porque promover a abertura democrática política.
despertou críticas em razão da política de traço di- 7. c. A Revolução Cubana em 1959 promoveu grandes
tatorial da Venezuela. mudanças na sociedade do país. Investimentos
3. b. Como mencionado corretamente na alternativa b, em saúde e educação, resultantes do saldo comer-
a destituição de Fernando Lugo do cargo de pre- cial favorável para Cuba no comércio com a então
sidente foi entendida pelas organizações suprana- União Soviética, trouxeram resultados positivos, e
cionais do continente como um golpe de Estado, o governo utilizou por muito tempo sua qualidade
o que as levou a sancionar o país com sua suspen- social propagando as vantagens do modelo socia-
são até a realização de novas eleições presiden- lista como justificativa para o desempenho olímpi-
ciais. Estão incorretas as alternativas: a, porque a co de suas equipes. Os atletas recebiam condições
OEA não suspendeu o Paraguai; c, porque o Mer- especiais de treinamento e vida, resultando em
cosul suspendeu o Paraguai; d, porque o ingresso equipes de alto nível para a competição. A alterna-
da Venezuela no Mercosul não foi ratificado pelo tiva a é falsa, pois o modelo socialista se baseava
Paraguai em razão de sua suspensão das ativida- no princípio da produção para atender às deman-
des do bloco; e, porque o afastamento de Lugo das da sociedade sem visar ao lucro. A alternativa
iniciou a crise diplomática entre o Paraguai e os b é falsa porque, além de ajuda financeira, a União
signatários do Mercosul, incluindo o Brasil. Soviética comprava açúcar cubano a preços acima
4. e. Como mencionado corretamente na alternativa e, dos de mercado e vendia petróleo com valores
o processo de negociação do governo colombia- abaixo desses preços. O super‡vit favorável a Cuba
no com os integrantes das Farc, embora criticado, era empregado em programas sociais. A alternati-
conta com amplo apoio da população colombia- va d é falsa, pois Cuba era, e ainda é, um estado
na, que vê nesse contexto a possibilidade de aca- socialista com baixo nível de produção industrial
bar com a onda de violência que toma conta do de base. A alternativa e é falsa, já que, em razão de
país. Estão incorretas as alternativas: a, porque as sua economia de escala, o Estado cubano, apesar
Farc se originaram em 1964; b, porque a área de da alta qualidade de alguns de seus programas so-
ocupação das Farc são regiões e províncias flo- ciais governamentais, não tem um alto IDH.
restadas; c, porque as negociações iniciaram com 8. b. A imposição do embargo estadunidense nos anos
Juan Manuel Santos; d, porque o acordo inicial as- 1960 e o fim da União Soviética tornaram Cuba um
sociava as Farc ao narcotráfico. país isolado. Com a economia mundial cada vez mais
5. a. Cuba é o único país socialista nas Américas. No integrada, Cuba se ressente da falta de maior par-
período da Guerra Fria, a nação aliou-se à anti- ticipação no comércio internacional, por isso tenta
ga União Soviética, rival geopolítica dos Estados se aproximar de organizações multilaterais como
Unidos. Os estadunidenses decretaram um em- a OEA. A alternativa a é falsa. A prisão de Guan-
bargo econômico contra Cuba na tentativa de tánamo fica em território estadunidense dentro
deteriorar a economia da ilha e estimular a queda de Cuba. Na alternativa c, a Venezuela e a Bolí-
do governo socialista. Mesmo após o término da via estão entre os países sul-americanos que mais
ordem bipolar, o regime socialista permaneceu, apoiaram a volta de Cuba à Organização. Em d, o
assim como o embargo, cuja manutenção é cri- Brasil participou ativamente da campanha para o
ticada pela ONU e pela maioria dos países da retorno de Cuba à Organização. Em e, os Estados
América Latina. Unidos concordam, com restrições, com o retorno
6. b. Com o fim da União Soviética e a manutenção do de Cuba à Organização.
embargo econômico estadunidense que lhe foi 9. e. A Venezuela atravessa um momento crítico. Deten-
imposto na década de 1960, o país entrou em cri- tor de enormes reservas de petróleo, o país tem
se financeira, que tem sido enfrentada por meio um governo com forte viés autoritário. O presi-
de tímidas medidas de abertura econômica por dente Hugo Chávez promoveu nos últimos anos
parte do governo. A alternativa a é falsa, Cuba não inúmeras mudanças constitucionais que expres-
é um país exportador de gêneros alimentícios, e sam uma tendência de controle sobre a popula-
o governo Obama via com bons olhos a suspen- ção e suas instituições. Apesar da riqueza natural,
são do embargo imposto a Cuba. A alternativa c é o país enfrenta crises de produção agrícola, gera-
falsa, o governo Castro exige a devolução da área ção e distribuição de energia e falta de água. No
de Guantánamo para Cuba. A alternativa d é falsa, entanto, uma das metas do governo venezuelano

34
é aumentar sua influência regional. A criação da ideias no continente sul-americano. No plano in-
Alba é uma dessas expressões, propondo a unifi- terno, no entanto, o chavismo tem perseguido
cação política e econômica entre países sul-ame- oposicionistas e coibido a imprensa, sofrendo
ricanos e centro-americanos, também com a in- também com problemas de abastecimento e de
tenção de afrontar a política estadunidense para energia. A alternativa a é falsa, pois a Venezue-
essa região. A alternativa a é falsa, o Mercosul é la foi aceita no Mercosul. A alternativa b é falsa,
hoje um bloco com área de influência maior do uma vez que os Estados Unidos são favoráveis ao
que o cone sul, tendo a própria Venezuela como fim do comunismo na Polônia. A alternativa c é
membro. A alternativa b é falsa, o Nafta (North falsa, pois Chaves enfrentava dificuldades inter-
American Free Trade Agreement), bloco de livre- nas quanto a seu prestígio. A alternativa e é falsa
-comércio estadunidense, não se articula com a porque o presidente Evo Morales se diz socialista
América Central. A alternativa c é falsa, a Vene- afeito às ideias bolivarianistas.
zuela não se articula com países do bloco andino,
a não ser com os governados por líderes de dis-
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO
curso socialista, como Evo Morales, da Bolívia, e
Rafael Correa, do Equador, por interesses geopo- 2. d. Os principais líderes políticos dos países da Amé-
líticos. A alternativa d é falsa, a Unasul é um me- rica do Sul tentam promover melhorias nas con-
gabloco com a participação de todo o continen- dições de integração no subcontinente. São
te, não se caracterizando como área de influência processos que visam dinamizar sua participação
do governo venezuelano. internacional, bem como melhorar suas relações

GEOGRAFIA
10. d. A Venezuela chavista propaga o bolivarianismo, regionais a fim de resistir ao unilateralismo de
uma proposta socialista para solucionar os pro- nações mais desenvolvidas em questões globais
blemas do neoliberalismo, e pretende, por meio complexas, oferecendo propostas alternativas
de sua figura, centralizar a propagação de suas de comércio e relações sociais.

ANOTA‚ÍES

M—dulo 24
América Latina

35
ANOTAÇÕES

36
Geografia
19
Rœssia

Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• União Soviética: da potência global à fragmentação
política e territorial
• Rússia: reestruturação econômica, social e política
• Espaços de influência geopolítica russa: países do Cáucaso,
Ásia central e Europa oriental
• Características demográficas atuais da Rússia

HABILIDADES
• H7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder
entre as nações.
• Analisar o processo de reestruturação política e econômica da Rússia após o fim
da União Soviética.
• Explicar a importância dos combustíveis fósseis para o crescimento econômico do
país.
• Compreender as motivações da Rússia e dos grupos separatistas minoritários no país.
• Analisar a atual situação demográfica na Rússia.

330
PARA COME‚AR

A Rússia possui território em dois continentes: Europa e Ásia. É o país com maior extensão ter-
ritorial do mundo, com 17 075 400 km², fazendo fronteira terrestre com 11 países entre os dois
continentes.
Devido à extensão longitudinal,

ALESIA DMITRIENKO/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA


o país é dividido em 10 fusos
horários. Com isso, os pontos
do território localizados em lon-
gitudes mais a leste do meridia-
no de Greenwich recebem a luz
solar antes daqueles localizados
mais a oeste, gerando uma si-
tuação na qual, no mesmo terri-
tório, tem-se o Sol nascendo na
porção oriental e se pondo na

GEOGRAFIA
porção ocidental.
A dimensão territorial e os fu-
sos horários influenciam direta-
mente na logística econômica e
estrutural do país, apresentan-
do-se como um grande desafio
de integração, pelas distâncias,

M—dulo 19
O Kremlin, localizado às margens do rio Moskva, em Moscou, é um
pelo custo de implantação da complexo fortificado que inclui palácios e catedrais. Na foto, também se
observa a bandeira do país hasteada sobre um dos prédios. Foto de 2015.
infraestrutura, entre outros.

Rœssia: pol’tico
Uelen Es
tr. I. São Lourenço
de (EUA)
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ring
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OCEANO GLACIAL ÁRTICO


Po

Anadyr
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Murmansk La
i
Kaliningrado itr
Is. Nova Zembla m
Kandalaksa Di
(RUS)
ESTÔNIA tr.
OCEANO
Es

Belomorsk
LETÔNIA Vyborg Giziga
LITUÂNIA
IIIII
São Petersburgo IIIII
Severodvinsk Tiksi
PACÍFICO
Petrozavodsk
L. de Taimir Nordvik
Pskov
BE IIIII
Archangelsk Amderma
LA Novgorod
RUS Cerepovec R ÚS S IA Verkhoïansk Ust-Kamchatsk
Kalinin (parte europeia) Vorkuta
Vologda Kotlas
Bryansk Moscou Jaroslavl Salekhard Norilsk Magadan
Kaluga Ivanovo
UCRÂNIA Orel Vladimir
Syktyvkar Petropavlovski-
Tula Nizni Novgorod -Kamchatski
Ryazan
Okhotsk
Tambov Kirov Berezniki Turukhansk
Voronez Saransk Yakutsk
Kazan
Penza Perm Serov RÚ SSI A Suntar
Ulyanovsk Izevsk
Is. Kurilas

Kuzneck (parte asiática)


Rostov-Na-Donu Syzran Nizni Tagil
Saratov Lensk
Krasnodar Samara Ufa Ekaterinburg
Aldan
I. Sacalina
Volgogrado Tyumen
Celjabinsk
Ne
Ma o

Armavir Orenburg
Kurgan
gr

Maklakovo
r

Astrakhan Magnitogorsk
Orsk Komsomolsk
Omsk Tomsk Ust-Kut Skovorodino Yuzhno-Sacalinsk
GEÓRGIA Grozny Krasnoiarsk Bratsk Svobodny Sovetskaya
Korsakov
Mahackala Kemerovo Gavan
Novosibirsk Belovo Tayshet
Capital L. Baikal Blagovescensk
ARMÊNIA Barnaul Novokuzneck Khabarovsk
Ceremkhovo Cita
AZERBAIJÃO
Cidade muito importante Biysk Abakan JAPÃO
Angarsk Ulan-Ude
io

Cidade
Lago importante Irkutsk Mar
sp

Aral do
Outras cidades CHINA N

Ussuriysk Japão
CASAQUISTÃO
ar

Rodovia (Mar do Leste)


M

Vladivostok
Ferrovia MONGÓLIA 0 580
Limite entre Europa e Ásia CHINA km

FONTE: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2013. p. 83.
Rússia

331
A Copa do Mundo da Federação Internacional de Futebol (Fifa, na sigla em inglês) que será reali-
zada em 2018, na Rússia, teve de obedecer a uma logística de distâncias e de fusos horários para
que a realização dos jogos de futebol seguisse uma
ALEXANDER VILF/RIA NOVOSTI/SPUTNIK/AFP

viabilidade de programação dos torcedores, do des-


locamento das seleções e da transmissão dos jogos.
Outra característica do país é a diversidade climática,
com a ocorrência de desertos, predomínio dos climas
frio e temperado, polar em toda a faixa do extremo
norte, além do semiárido e desértico, resultando em
certa variedade de vegetação pelo território, como
as florestas Boreal e Temperada, além de Estepes e
Pradarias.
Parte da população, que é de aproximadamente
142 milhões de habitantes (dados de 2016), está con-
centrada, por razões naturais e históricas de ocupação,
a oeste e sudoeste dos Montes Urais, na parte euro-
Em evento da Fifa realizado em Moscou, foi
peia da Rússia. No restante do país, onde predominam
apresentado o logotipo da Copa do Mundo de o clima muito frio e as baixas temperaturas, existem
Futebol da Rússia. O desenho, cuja combinação
de cores remete à corrida espacial, foi projetado grandes “vazios demográficos”, como a região conhe-
sobre a fachada do Teatro Bolshoi e exibido do cida como Sibéria e a porção russa na Ásia central.
espaço por astronautas russos. Foto de 2014.

ALEXANDER DEMYANOV/SHUTTERSTOCK

A Floresta Boreal é formada por vegetação de coníferas, como os pinheiros. A vegetação é adaptada ao rigoroso
inverno, que, em algumas regiões, pode chegar a 250 oC. As árvores em forma de cone dificultam o acúmulo de neve
sobre as folhas. Foto de 2016.

Neste módulo, vamos analisar o histórico de formação do país, sua reestruturação econômica
após o fim da União Soviética, seus espaços de influência geopolítica e suas características de-
mográficas nos dias atuais.

332
PARA APRENDER

Do Império Russo à União Soviética: um breve histórico


Apresentaremos de forma geral a trajetória histórica da Federação Russa desde o século XIX, quando as
características políticas do país eram completamente diferentes das atuais.
Na época, o país possuía um regime monárquico centrado no poder do czar, título que foi utilizado pelos
monarcas russos pela primeira vez em 1546, com o imperador Ivan IV, o Terrível, até a deposição do regime pela
Revolução Russa, em 1917. Foram 25 czares após o reinado de Ivan IV. Czar significa “césar”, título que foi dado
anteriormente aos imperadores romanos e bizantinos.
Grande parte do povo russo pertence ao tronco étnico-linguístico eslavo, originário da porção centro-les-
te da Europa e das regiões das planícies russas, aos arredores da cidade de Moscou, capital do país. A partir
da segunda metade do século XV, os eslavos situados na região de Moscou e influenciados pelo cristianismo
ortodoxo começaram a expandir seus domínios territoriais para o sul e, principalmente, para o leste, em dire-
ção à Ásia, passando a controlar grandes extensões territoriais até o extremo oriente do continente asiático

GEOGRAFIA
e submetendo, durante a expansão, inúmeros povos não eslavos, como azeris, chechenos, georgianos, etc.
Alguns de cultura e religião diferentes dos eslavos, como Azerbaijão, Casaquistão, Usbequistão, Turcomenis-
tão, Tajiquistão e Quirguistão, de maioria muçulmana.
Essa expansão determinou a formação de um dos maiores territórios imperiais da história da humanida-
de. Nesse processo, foi fundamental o investimento russo em infraestrutura, principalmente no século XIX,
para integrar o vasto território conquistado. Foram construídas, por exemplo, as ferrovias transcaucasiana e

M—dulo 19
transiberiana, que estão em funcionamento até os dias de hoje e também desempenham a função de manter
a unidade do território russo (reveja o mapa “Rússia: político” no início do módulo).

VISÃO GEOGRÁFICA

Ferrovias da Rússia
As ferrovias têm uma importância estratégica para a Rússia. O transporte ferroviário é a ligação de
um único sistema econômico, que garante o funcionamento estável das empresas industriais e entre-
gas de mercadorias vitais para as regiões mais distantes do país. O transporte ferroviário é o transporte
mais acessível para milhões de cidadãos da Rússia.
Em 2010, as ferrovias na Rússia [...] [comemoraram] seus 173 anos.
A rede ferroviária da Rússia tem quase 86 mil km de caminhos de ferro, dos quais cerca de meta-
de são eletrificados. Pelo comprimento total das ferrovias, [a] Rússia ocupa 2o lugar, atrás apenas dos
Estados Unidos. Pelo comprimento das ferrovias eletrificadas (43 000 km), a Rússia ocupa o 1o lugar
no mundo. [...]
FERROVIAS da Rússia. História, especificações, transporte ferroviário.
Disponível em: <www.russobras.com.br/econ/ferrovias.php>. Acesso em: 18 jan. 2017.

O declínio do Império Russo em março de 1917, governado na época pelo czar Nicolau II e determinado
pelo regime socialista sob a liderança bolchevique de Vladimir Lenin, fez com que surgisse uma grande nação
unificada em torno de todos os territórios conquistados pelos czares durante os cinco séculos de vigência de
seus governos. Assim, surgiu a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), fundada em 1924, com um
Rússia

território que chegou a ter 22,5 milhões de km2 (veja o mapa político da União Soviética, a seguir).

333
Uni‹o SoviŽtica
OCEANO OCEANO GLACIAL ÁRTICO

rtico
ATLÂNTICO

olar Á
OCEANO

oP
PACÍFICO

c ul
Cír
LITUÂNIA Tallin
Riga ESTÔNIA
Vilnius LETÔNIA
Minsk
BELARUS Mar de
Okhotsk
Kiev Moscou

Chisinau
MOLDÁVIA UCRÂNIA RÚSSIA

Mar
Negro
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Mar
M

Tbilisi Cáspio
ed

GEÓRGIA CASAQUISTÃO
ite
rrâ

Ierevã Mar de
AZERBAIJÃO
ne

Aral
o

ARMÊNIA Baku
AZB USBEQUISTÃO
TURCOMENISTÃO Limite da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
N Bishkek
Ashgabat de 1923 a 1989, quando as primeiras repúblicas deram
Tashkent QUIRGUISTÃO início ao seu processo de independência
0 690
TAJIQUISTÃO Divisão política atual
km Duchambe

FONTE: VICENTINO, Cláudio. Atlas hist—rico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 166.

Apesar de toda essa expansão territorial para o Oriente, os eslavos sempre tiveram grande interesse em
manter influências políticas e culturais na porção leste da Europa. Tal fato ficou evidente durante todo o pe-
ríodo de existência do Império Russo e, principalmente, durante a vigência da União Soviética, uma vez que
vários países europeus foram anexados durante a Segunda Guerra Mundial e assim permaneceram durante
todo o período da Guerra Fria (1949-1991). Mesmo áreas não anexadas e pertencentes ao território soviético
eram submetidas à esfera política e social da União Soviética no contexto da bipolaridade. Países como Ale-
manha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, etc., eram considerados “satélites” da União Soviética
no contexto da “Cortina de Ferro” da Guerra Fria.
Após a vitória na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a União Soviética se consolidou no cenário po-
lítico-econômico e social mundial como o centro essencial do sistema socialista, rivalizando com o bloco
capitalista, liderado pelos Estados Unidos, na busca pela hegemonia mundial.
Isso determinou a construção, por parte das duas potências, de áreas de influência no mundo que con-
solidassem suas políticas e fortalecessem suas convicções ideológicas. Nesse contexto, a influência soviética
na Europa oriental foi determinante não só para os interesses políticos no contexto da Guerra Fria como
também para a consolidação da influência russo-eslava na Europa, algo que sempre fez parte dos seus ideais
desde o tempo dos czares.
No governo de Josef Stalin, por exemplo, uma política muito utilizada foi a de incentivo à migração de
russos para Lituânia, Estônia e Letônia, Belarus e Ucrânia, processo conhecido como “russificação” da Eu-
ropa oriental. Além da influência cultural eslava sobre essa porção europeia, podemos destacar toda uma
reorganização econômica pautada numa economia planificada, seguindo o modelo soviético, bem como a
estruturação política também alinhada ao governo do Kremlim, que influenciou diretamente as sociedades
da Europa oriental até o final dos anos 1980.
A influência soviética também determinou a manutenção dos limites territoriais dos países ao longo
da Guerra Fria como parte de uma política para evitar qualquer tipo de fragmentação que representasse
“fraqueza” para o lado inimigo. Logo, movimentos separatistas foram duramente reprimidos, como na
Iugoslávia, na Alemanha Oriental e na Polônia.

334
VISÃO GEOGRÁFICA

Churchill usa a expressão “Cortina de Ferro” para definir divisão da Europa

No dia 5 de março de 1946, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill proferiu um famoso


discurso em Fulton, no Missouri (Estados Unidos), em que usou a expressão “iron curtain”, ou “corti-
na de ferro”. O termo foi usado para definir a divisão da Europa em duas partes, oriental e ocidental.
Enquanto a primeira estava sob controle da União Soviética, a segunda era zona de influência dos
Estados Unidos. O período relacionado a esta divisão política e econômica é chamado de Guerra Fria.
Em seu discurso, em uma livre tradução para o português, Churchill disse: “De Estetino, no [mar]
Báltico, até Trieste, no [mar] Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o continente. Atrás dessa
linha, estão todas as capitais dos antigos estados da Europa central e oriental. Varsóvia, Berlim, Praga,
Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sofia; todas essas cidades famosas e suas populações estão
no que chamo de esfera soviética, e todas estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não somente à
influência soviética, mas também a um forte, e em certos casos crescente, controle de Moscou”. Esse
bloco de influência soviética se desfez definitivamente em 1991, com o fim da URSS.
CHURCHILL usa a expressão “Cortina de Ferro” para definir a divisão da Europa. Disponível em: <http://seuhistory.com/
hoje-na-historia/churchill-usa-expressao-cortina-de-ferro-para-definir-divisao-da-europa>. Acesso em: 21 dez. 2016.

GEOGRAFIA
O colapso da União Soviética e a
fragmentação política: tempos difíceis
O período entre o final da Segunda Guerra Mundial e os anos 1970 foi de muita prosperidade econômi-
ca e política para os soviéticos e, consequentemente, para os russos. Grandes avanços tecnológicos foram

M—dulo 19
alcançados, como o programa espacial soviético, o primeiro a colocar um ser humano em órbita, além dos
avanços tecnológicos nos setores energéticos e na engenharia mecânica; também houve conquistas sociais,
com o aumento da escolaridade da população russa e com o acesso a serviços básicos de qualidade como
saúde e habitação, além da plena alocação no mercado de trabalho.
Contudo, o modo de produção industrial, seus objetivos e sua estruturação macroeconômica não pro-
porcionavam um crescimento capaz de sustentar, em longo prazo, os altíssimos gastos com as forças armadas
e a intensa corrida armamentista contra os Estados Unidos, além de todo o financiamento para a manutenção
de regimes aliados a Moscou pelo mundo, desde o regime cubano de Fidel Castro até a fiscalização de áreas
de fronteira entre as influências capitalista e socialista, como a fronteira alemã.
Todo o modelo soviético apresentou suas limitações e começou a entrar em decadência logo no início
dos anos 1980, quando, além de uma questão de incompatibilidade de gastos e receitas existentes, o quadro
político interno do partido comunista soviético começou a apresentar problemas de comando e direciona-
mentos futuros.
Após a morte de Leonid Brejnev (1906-1982), líder do país desde 1964, a União Soviética teve, em três
anos, duas lideranças políticas eleitas para governar o Partido Comunista: Yuri Andropov (1982-1984) e Kons-
tantin Chernenko (1984-1985). Tal transição ocorreu de maneira forçada em razão do estado de saúde dos
envolvidos, que se encontravam em idade avançada quando chegaram ao poder. Isso deflagrou uma grande
instabilidade política em meio a claros sinais de estagnação econômica. As próprias disputas internas entre
as alas liberal e conservadora, no Partido Comunista, contribuíram para o cenário de incertezas.
Nesse contexto, Mikhail Gorbachev assumiu a presidência do partido. Com ideias mais progressistas, as-
sumiu o país com a grande missão de trazer estabilidade política e crescimento econômico. Suas ações para
atingir esses objetivos foram pautadas na perestroika e na glasnost (que em russo significam “reconstrução”,
Rússia

no âmbito econômico, e “transparência”, no âmbito político, respectivamente).

335
A perestroika foi um plano de reforma econômica com o objetivo de proporcionar entrada controlada de
capitais e produtos estrangeiros, diminuição da regulação da economia e da moeda, redução dos subsídios
do Estado à economia, negociação com os Estados Unidos para a redução dos gastos militares dentro do
contexto da corrida armamentista e redução dos gastos promovendo a desocupação de territórios como o
Afeganistão, país ocupado pelos soviéticos de 1979 a 1989, no final da Guerra Fria.
Com a glasnost, Gorbachev ten-
ALEXANDER ZEMLIANICHENKO/AP

tava promover mais transparência às


ações do governo e, na esteira des-
sas reformas políticas fundamentais,
poder iniciar um processo de maior
abertura à livre manifestação e à ex-
pressão da população soviética em
geral através, inclusive, dos meios
de comunicação existentes no país.
Toda essa onda de reformas pro-
posta por Gorbachev não deu certo.
O colapso econômico era pratica-
mente inevitável, já que as estruturas
produtivas do país não eram com-
petitivas a ponto de trazer o cres-
cimento e o lucro necessários para
a retomada do desenvolvimento.
A dependência demasiada da eco-
nomia em relação ao Estado e a sua
frágil iniciativa privada foram respon-
sáveis pelo grande colapso que aba-
Em virtude das medidas da perestroika, em 1990, foi inaugurada em Moscou, na Rússia, a primeira teu o país no final dos anos 1980 e
lanchonete de fast-food estadunidense. A cena de pessoas aglomeradas em longas filas de até oito
horas representa o anseio por consumir a então recém-inaugurada novidade do mundo capitalista. início dos anos 1990.
Para que soluções efetivas fossem alcançadas, toda a estrutura produtiva deveria ser reformulada, aban-
donando velhas práticas e ideologias passadas implantadas durante o socialismo soviético, como o baixo
investimento em indústrias de bens de consumo (duráveis e não duráveis) e tecnologia de ponta e em setores
da economia menos rentáveis, algo que não foi alterado com a perestroika.
Em relação à glasnost, o resultado também foi negativo quanto às perspectivas do governo de promover
uma ampla reforma que garantisse a manutenção do modelo socialista vigente. A transparência política pro-
posta determinou uma onda de protestos de grupos minoritários dentro da União Soviética, que eram subjuga-
dos desde o período imperial russo, e deflagrou a oportunidade inédita de os povos não russos imporem suas
demandas e necessidades, como liberdade de expressão e religiosa, criando, além de uma grande instabilida-
de interna, o descontentamento das alas mais tradicionais e conservadoras do partido comunista.
Em suma, o que foi idealizado por Mikhail Gorbachev como solução para o início do ressurgimento do
sistema soviético acabou acelerando o seu fim. Primeiramente, com a derrubada do muro de Berlim, maior
símbolo da divisão do mundo durante a Guerra Fria, e a consequente unificação da Alemanha, em 1989 e
1990, respectivamente, e, depois, com o fim da própria União Soviética em dezembro de 1991.
A partir daí, a desintegração territorial – que deu origem a 15 novos Estados – e a profunda crise econô-
mica a que foi submetida grande parcela da população russa trouxeram um período de grandes incertezas
ao país. Como forma de manter sua esfera de influência regional próxima, a Rússia, sob o governo de Boris
Yeltsin, sendo a nação mais importante a integrar a antiga União Soviética, criou uma organização internacio-
nal de cooperação política e econômica chamada Comunidade dos Estados Independentes (CEI), formada
pela maioria das nações que integravam a antiga União Soviética.

336
COMPREENDENDO MELHOR

Comunidade dos Estados Independentes (CEI)


A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é um grupo formalizado em 1991 entre 11 das 15 repú-
blicas da antiga União Soviética após o seu desmantelamento, ou seja: Armênia, Rússia, Belarus, Casaquistão,
Azerbaijão, Tajiquistão, Quirguistão, Usbequistão, Moldávia, Turcomenistão e Ucrânia.
O objetivo com a sua criação foi proporcionar uma cooperação entre essas nações nas áreas de produção
industrial, defesa territorial, livre-comércio e intercâmbio cultural, a fim de promover uma rápida e eficaz transi-
ção do sistema socialista, pautado na economia planificada, para o sistema capitalista, baseado na economia de
mercado. Contudo, o que mais se verificou ao longo de todo esse tempo desde a sua criação foi a tentativa de
manutenção da influência da Rússia sobre as nações, consideradas satélites no período soviético, e menos como
um efetivo instrumento de reconstrução e desenvolvimento econômico para os países envolvidos.
A CEI tem o propósito russo de manter a sua influência sobre os Estados fronteiriços que permaneceram in-
tegrados durante o período soviético, inclusive na produção industrial (várias indústrias produziam partes de um
mesmo produto em países diferentes dentro da União Soviética, criando uma interdependência interna) e na ques-
tão militar-estratégica, onde o arsenal soviético era dividido no território entre as diferentes nações que formavam
o país. O grupo vigora até os dias atuais, apresentando limitadas perspectivas de crescimento num futuro próximo.

GEOGRAFIA
Mesmo com a criação da CEI, a Rússia não conseguiu manter plenamente a influência em suas fronteiras
imediatas. Algumas delas, inclusive, optaram por não ingressar à CEI nem promover transições de influência,
como é o caso dos países bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia) que, logo após o fim da União Soviética, torna-
ram-se independentes e iniciaram um processo de aproximação política e econômica com a União Europeia,
afastando-se da influência russo-eslava e se aproximando da influência ocidental.

M—dulo 19
CEI e Uni‹o SoviŽtica

OCEANO OCEANO GLACIAL ÁRTICO


tico

ATLÂNTICO
lar Ár

OCEANO
o Po

PACÍFICO
cul
C ír

LETÔNIA ESTÔNIA
LITUÂNIA Tallin

Riga
Vilnius
Minsk
BELARUS Mar de
Okhotsk
Kiev Moscou

Chisinau UCRÂNIA
MOLDÁVIA RÚSSIA

Mar
Negro

Astana
Mar
M Tbilisi Cáspio
ed M GEÓRGIA CASAQUISTÃO
ite ar Mar de
rrâ Ierevã
neo AZERBAIJÃO Aral
ARMÊNIA Baku
USBEQUISTÃO
TURCOMENISTÃO Bishkek
N Ashgabat Países da antiga União Soviética
Tashkent QUIRGUISTÃO
0 630
Países-membros da CEI – Comunidade
TAJIQUISTÃO dos Estados Independentes
Rússia

km Duchambe

FONTES: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 21; VICENTINO, Cláudio. Atlas hist—rico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 166.

337
Observe o gráfico abaixo, que apresenta o Produto Interno Bruto (PIB) per capita em alguns países que
formavam a antiga União Soviética nos anos seguintes à desintegração do país. Note a queda dos valores
entre 1990 e 1995 e o aumento nos valores nos anos seguintes.

Evolução do Produto Interno Bruto (PIB) per capita (1990-2015)

20 000
Armênia

Belarus
PIB per capita (em d—lares)
15 000
Estônia

Geórgia
10 000
Letônia

Lituânia
5 000

Rússia

Ucrânia
0
1990 1995 2000 2005 2010 2015

FONTE: THE WORLD Bank. Disponível em: <http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP.CD?end=2015&name_


desc=false&start=2007&view=chart>. Acesso em: 23 jan. 2017.

No plano da segurança nacional, o cenário também se tornou muito instável. Diversos grupos étnicos
minoritários da região do Cáucaso, no sul do país, começaram a promover processos separatistas buscando
a independência da Rússia. Vários desses grupos vêm promovendo atos terroristas contra o governo desde
o colapso soviético e as retaliações militares da parte dos russos a esses atos são sempre muito violentas,
causando muitas mortes de ambos os lados.
Vale destacar os movimentos separatistas do Daguestão, da Inguchétia e da Chechênia, regiões de
maioria muçulmana, e da Ossétia do Sul, região que na época pertencia à Geórgia, onde a maioria da
população é de origem russa e, por
isso, reivindica a separação e a pos-
Cáucaso: povos e religiões
terior anexação ao território russo.
Grupos étnicos
Altaicos (turcos e mongóis) O movimento separatista da Ossé-
Indo-europeus (russos,

1
armênios, iranianos) tia do Sul teve o apoio de Moscou,
Caucasianos
Religiões o que mostrou uma grande contra-
Cristianismo
Islamismo dição de ações entre o que está e
9 Mar Cáspio Budismo
o que não está de acordo com os
Conflitos étnico-religiosos
RÚSSIA
Limite de país seus interesses.
Limite de repúblicas e
8
7 regiões autônomas
O grande desafio do governo
2 4 Localidade
3 5 Baku Capital de país russo foi conter esses movimentos
40° N
6
Repúblicas e regiões autônomas separatistas no Cáucaso para que
10 1 Calmúquia
GEÓRGIA
Tbilisi
AZERBAIJÃO
2 Adigueia uma possível fragmentação na re-
3 Karachajevo-Cherkesiya
4 Cabardino-Balcária gião não ocorra. Essa preocupação
12 11 5 Ossétia do Norte
ARMÊNIA reside no fato de que essa região
Mar Negro 6 Ossétia do Sul
7 Inguchétia
N Ierevã
8 Chechênia tem enorme importância estratégi-
AZERBAIJÃO 9 Daguestão
0 120 10 Abkházia ca para os russos em razão da gran-
11 Nagorno-Karabakh
km
TURQUIA IRÃ 12 Adjária
de disponibilidade de gás natural e
FONTE: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 127. petróleo aí existente.

338
A região do Cáucaso russo é considerada importante por possuir um dos principais ativos econômicos da
economia russa atualmente: imensas jazidas de gás natural e petróleo. Além da exploração, é através da região
do Cáucaso que a Rússia escoa toda a sua produção de hidrocarbonetos através de oleodutos e gasodutos que
se interligam e chegam a mercados distantes, como a Europa ocidental. Perder o controle sobre essa região, ou
mesmo partes dela, é sofrer diretamente com a perda estratégica do controle dessas commodities.
Em relação à economia, a Rússia passou por um período de grande recessão durante a década de 1990
e início dos anos 2000. O desemprego atingiu níveis elevadíssimos; o desmonte do estado soviético e de
suas estruturas causou uma queda brusca na qualidade dos serviços à população e consequentemente um
empobrecimento muito grande no país. A pobreza e a miséria absoluta atingiram níveis alarmantes.
A vulnerabilidade econômica causada pela transição da economia planificada para a economia de mer-
cado determinou uma crise fiscal que apresentou como saída ao governo decretar moratória (suspensão
do pagamento dos empréstimos concedidos ao país), em 1997, às instituições financeiras credoras do país,
como o FMI e bancos europeus e estadunidenses. No plano econômico, o país havia chegado ao máximo
de sua estagnação.
Outro ponto a ser destacado é a ascensão da máfia russa associada ao processo de desintegração econô-
mica do país. Muitos dos integrantes que já atuavam no país desde os anos 1980, ganharam força por ser um
dos poucos grupos dentro da Rússia com poder econômico capazes de investir e tirar proveito do momento
da economia do país. Como uma das práticas mais recorrentes, esses grupos compravam empresas do Es-

GEOGRAFIA
tado para facilitar processos de lavagem de dinheiro ilícito e com isso enriquecer ainda mais. Essas ações
atualmente não se restringem mais ao contexto interno russo, mas até mesmo em outros países do mundo,
inclusive na Europa, como forma de reprodução do capital com investimentos em diversos setores produti-
vos, do esporte e do entretenimento.
O cenário político externo não era diferente. Apesar de a Rússia ter “herdado” da União Soviética a vaga
de membro permanente do Conselho da ONU, posição que sugere alguma influência política no mundo,

M—dulo 19
o país perdeu gradativamente essa posição em várias partes do mundo, principalmente na antiga “Europa
oriental”, região onde, historicamente, os russos mantiveram uma importante influência política, econômica
e cultural desde os tempos dos czares.
Além do declínio da influência externa, o país teve de lidar com o avanço das políticas dos países eu-
ropeus ocidentais, sob a bandeira da União Europeia, como a dos Estados Unidos, sobre a porção leste da
Europa. Importantes países como a Polônia e a República Tcheca ingressaram no bloco econômico ocidental
e, ainda por cima, passaram a fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – aliança
militar criada pelos países capitalistas para combater o Pacto de Varsóvia, aliança militar do lado socialista,
durante a Guerra Fria.
Todo esse cenário demandou uma grande necessidade de mudança nos planos político, econômico e
militar a fim de promover uma retomada do protagonismo russo no mundo, algo que começou a acontecer
no início dos anos 2000 com a ascensão política de Vladimir Putin.

A retomada do crescimento econômico


e da visibilidade política nos anos 2000
Boris Yeltsin foi o primeiro presidente da Rússia após o fim da União Soviética, governando-a de 1991 a
1999, e sendo eleito diretamente pelo voto popular, algo pouco comum na história política do país. Seu go-
verno foi marcado por muita instabilidade econômica e social e grande expansão da corrupção.
Em dezembro de 1999, diante de uma baixíssima popularidade, Yeltsin renunciou ao cargo de presidente
do país, dando lugar a Vladimir Putin, antigo agente da KGB, o órgão de inteligência soviética nos tempos
da Guerra Fria. Putin, que exercia cargos administrativos durante o segundo mandato de Boris Yeltsin, assumiu
interinamente o país e concorreu, em maio de 2000, às eleições presidenciais. Venceu com mais da metade
Rússia

dos votos e se consolidou como nova liderança política no país desde então.

339
ES
AG
Y IM Em razão de sua enorme aprovação popular, foi reeleito em 2004 e, como a
E TT
/G
O
VE TS constituição russa impede um terceiro mandato consecutivo de um mesmo presiden-
te, Putin indicou seu sucessor, Dmitri Medvedev, então primeiro-ministro russo. O
RD
MO

candidato indicado venceu as eleições e governou o país de 2008 a 2012. Nesse


HA
S AS

período, Putin assumiu o posto de primeiro-ministro.


Nas eleições presidenciais de 2012, Putin candidatou-se novamente à pre-
sidência e venceu. Trocou, mais uma vez, de posto com Medvedev na lideran-
ça do Parlamento. Em 2008, o Parlamento russo aprovou emenda constitucio-
nal que amplia o mandato presidencial para seis anos; assim, o atual mandato
de Putin vai até 2018.

O presidente russo, Vladimir Putin, discursou antes do jogo de abertura de uma liga de
hóquei, em Sochi, na Rússia. O chefe de Estado comemorou no jogo o seu aniversário de
63 anos. Ações como essa fazem de Putin um ídolo nacional. Foto de 2015.

COMPREENDENDO MELHOR

Sistema político da Rússia

O sistema político da Rússia é definido pela Constituição de 12 de Dezembro de 1993. Na Constitui-


ção está definido o princípio de divisão de poderes em legislativo, judicial e executivo.
O poder executivo
O poder executivo é detido pelo Governo da Federação Russa. O Governo da Federação Russa é
composto do Presidente [...], Vice-Presidente [...] e ministros federais.
O Presidente [...] forma o Gabinete de Ministros e de acordo com a Duma (Parlamento) nomeia o
Primeiro-Ministro do Governo da Federação Russa. O Governo da Federação Russa responde perante o
Presidente da Federação Russa.
O poder legislativo
A Assembleia Federal – Parlamento da Federação Russa – é o órgão representativo e legislativo.
A Assembleia Federal é composta pelas duas câmaras – Conselho de Federação e Duma. Fazem parte
do Conselho dois representantes: um do poder representativo, outro do executivo. A Duma é composta
por 450 deputados que são eleitos por 4 anos.
A Assembleia Federal é um órgão de funcionamento permanente.
O poder judicial
A justiça na Rússia é feita pelos tribunais. O poder judicial é independente e funciona de uma forma
autônoma do poder legislativo ou executivo. O sistema judicial da Rússia é composto dos tribunais fede-
rais, constitucionais e julgados de paz. [...]
O sistema eleitoral
O sistema eleitoral da Rússia garante a todos os cidadãos o livre-arbítrio das eleições e do referendo,
assim como a proteção dos princípios democráticos e as normas da legislação eleitoral e do direito de
participação no referendo.
De acordo com a Constituição, na Federação Russa é reconhecido o pluralismo político e um sistema
multipartidário. Com base neste princípio constitucional, é garantida a igualdade dos partidos políticos
pelo Estado, perante a lei e independentemente da sua constituinte estabelecida, programas políticos,
ideologia, metas e objetivos.
O Estado garante o cumprimento de direitos e interesses legais dos partidos políticos.
SISTEMA político da Rússia. Disponível em: <http://pt.russia.edu.ru/russia/goverment>. Acesso em: 21 dez. 2016.

340
A popularidade do governo de Putin entre a população se mantém extraordinariamente alta (em 2016,
estava em torno de 80%). Em grande parte, a aprovação do governo se deve ao fato de o presidente ter
aproximado o discurso e suas práticas administrativas dos anseios da população, da ideia de uma Rússia
grande e forte que remete aos tempos da antiga União Soviética. A postura da política externa russa diante
dos governos europeus ocidentais e dos Estados Unidos encontra aceitação tanto na porção da população
russa mais adulta e saudosista dos tempos gloriosos da União Soviética quanto na parcela mais jovem da
sociedade, por suas ações desenvolvimentistas e midiáticas.
O longo período da influência de Putin no cenário político russo apresentou grandes transformações
para o país. No cenário econômico destacam-se:
• a estatização, após a privatização ocorrida nos anos 1990, de alguns setores econômicos estratégicos
como o gás natural e o petróleo, bens que o país possui em abundância (maior produtor de gás natural
e segundo maior produtor de petróleo do mundo);
• no plano fiscal, o aumento do fluxo de capitais para o país, criando estabilidade e oferecendo vanta-
gens para se investir no país;
• um elevado e constante aumento dos salários do país com grande geração de empregos;
• a retomada dos investimentos em setores tecnológicos, como nuclear, de alta tecnologia e de defesa,
reduzida nos anos 1990 durante o governo de Boris Yeltsin.

GEOGRAFIA
Essas ações fizeram com que o país retomasse fortemente o crescimento econômico e melhorasse a
satisfação da maior parte do povo russo, justificando sua popularidade. Mesmo após a crise de 2008/2009,
quando a Rússia sofreu com a redução drástica do valor do gás natural e do petróleo no mercado internacio-
nal, o país continuou consolidando sua recuperação e o presidente Vladimir Putin manteve a boa avaliação
entre a maior parte da população russa.
No cenário externo, a percepção do governo Putin tende a não ser igualmente positiva. Sua austeridade
ao lidar com problemas internos (a repressão aos movimentos separatistas do Cáucaso, por exemplo) lhe

M—dulo 19
rendeu muitas críticas de instituições internacionais, como a ONU, e de governos de vários países, como
Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e França. As acusações de influência em eleições, tanto para o parla-
mento do país quanto para cargos nas províncias do interior, colocam em dúvida a legitimidade do processo
eleitoral no país.
Não é possível desconsiderar a Rússia no contexto geopolítico mundial, como muitos analistas chegaram
a fazer nos anos 1990. Apesar das críticas, Vladimir Putin conduz a Rússia a um novo período de protagonismo
político, econômico e social no mundo.

VISÃO GEOGRÁFICA

Em setembro de 2004, um massacre de crianças causou revolta internacional e teve efeitos pro-
fundos para a política russa. Separatistas chechenos invadiram, em 1o de setembro, uma escola em
Beslan, na república autônoma russa da Ossétia do Norte, e mantiveram reféns por três dias cerca de
1100 alunos, professores e familiares que participavam da cerimônia de abertura do ano letivo.
O cerco terminou com a intervenção das forças de segurança russas, depois de os terroristas já
terem matado alguns reféns. Como resultado, ao menos 334 pessoas morreram, entre elas 186 crian-
ças. O ataque foi reivindicado pelo então comandante da guerrilha chechena, Shamil Basayev.
Na esteira do massacre, o Kremlin fortaleceu as leis antiterrorismo e reforçou sua autoridade,
num episódio que analistas apontam como decisivo para a consolidação do regime do presidente
Vladimir Putin.
SETEMBRO de 2004: massacre em escola em Beslan, na Rússia, deixou 334 mortos. O Globo. 2 set. 2013.
Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/setembro-de-2004-massacre-em-escola-em-
beslan-na-russia-deixou-334-mortos-9791550>. Acesso em: 21 dez. 2016.
Rússia

341
As atuais áreas de influência da Rússia e os principais conflitos
A retomada da influência política e econômica da Rússia nos países da antiga Europa oriental e da Ásia
central é realizada principalmente através do fornecimento de gás natural de que essas regiões necessitam e
que têm nos russos a única alternativa viável para ter acesso a esse recurso.
Podemos destacar os países bálticos, que, apesar de já terem consolidado uma integração à economia da
Europa ocidental, ainda dependem da Rússia em termos energéticos, destacando o fato de que esses países pos-
suem um inverno rigoroso e necessitam do gás natural para a calefação de residências e outros estabelecimentos.
A Ucrânia, além de depender do fornecimento de gás russo, é estratégica para as empresas russas es-
coarem o produto em gasodutos que cortam o território ucraniano em direção a países como Alemanha e
França. Para os russos, a Ucrânia é um país-chave para suas pretensões políticas e econômicas, por isso eles
se opõem a qualquer tipo de tentativa dos ucranianos de se aproximarem da União Europeia.
Além da questão econômica e geopolítica, a Ucrânia tem metade de seus habitantes de origem russa,
porção esta que vive na parte oriental do país junto à fronteira com a Rússia. Isso gera uma grande divisão
interna, o que dificulta uma ocidentalização maior por parte dos ucranianos.
O último e importante episódio entre os dois países ocorreu em março de 2014, quando o então presi-
dente ucraniano, Víktor Yanukovych, rejeitou o projeto parlamentar que poderia abrir as portas para o pro-
cesso de ingresso da Ucrânia na União Europeia. Essa decisão criou uma grande revolta popular, uma vez
que a maior parte da população do país, composta de ucranianos (77%), era favorável à aproximação com o
Ocidente. Yanukovych, notoriamente alinhado a Moscou, passou a lidar com violentos protestos da popula-
ção durante vários dias, até renunciar e fugir para a Rússia buscando abrigo no governo de Putin.
A renúncia do presidente esfriou os ânimos dos ucranianos, mas não dos russos que vivem no país, geran-
do uma reação militar, com apoio do governo russo, na porção leste do país, na região de Donetsk e Lugansk,
desencadeando uma guerra civil-militar, vigente ainda hoje, em que os russos pressionam pela independên-
cia da porção oriental do país.
A Ucrânia mergulhou numa grave crise que teve o envolvimento de vários países, inclusive dos Estados
Unidos e da Alemanha, pressionando o governo de Putin a parar de influenciar no processo separatista da
Ucrânia, sofrendo, como punição por parte dos países ocidentais, o bloqueio de bens e investimentos de
empresários russos nos Estados Unidos e nos países da União Europeia.
O ponto alto da disputa político-militar foi a anexação, à revelia da Ucrânia, do território da Crimeia, localizado
no mar Negro e pertencente aos ucra-
nianos desde o fim da União Soviética. Gasodutos existentes entre o mar Cáspio
e a Europa ocidental (2012)
Uma área majoritariamente de rus- Mar FINLÂNDIA
Principais gasodutos
sos e com uma importante base naval Em operação
Báltico
São Petersburgo
Previsto
da Rússia, Sebastopol, foi anexada União Europeia
ESTÔNIA RÚSSIA

pela Rússia e “legitimada” por um re- Países produtores de gás


Anexado pela Rússia LETÔNIA
Moscou
ºN
ferendo popular, sem a autorização do Mar do LITUÂNIA
50

Norte
governo ucraniano. A população da Minsk CASAQUISTÃO
PAÍSES
BELARUS
Crimeia, de maioria étnica russa, votou BAIXOS
Varsóvia
ALEMANHA Kiev
majoritariamente pela separação e ane- BÉLGICA POLÔNIA
Praga
Paris TCH
xação à Rússia. A ação gerou grande in- Viena ESLOVÁQUIA
UCRÂNIA Rostov do Don
FRANÇA Mar
MOLDÁVIA
dignação de vários países do mundo e SUÍÇA ÁUSTRIA Budapeste Cáspio

da ONU e fez do governo Putin alvo de ESV HUNGRIA ROMÊNIA Crimeia Dzhubga
Baku
Bucareste GEÓRGIA
CROÁCIA
pesadas críticas e sanções. SÉRVIA Mar Negro AZERBAIJÃO
ITÁLIA
Essas ações do governo de Putin N BULGÁRIA Burgas

demonstram que a estratégia é defen- 0 380


TURQUIA
der os antigos interesses russos na re- km GRÉCIA

FONTES: L’ATLAS 2010. Le Monde Diplomatique. Paris: Armand Colin, 2009. p. 115; LE CHANTIER du
gião com o objetivo de mostrar força gazoduc South Stream, qui doit relier la Russie à l’UE, est lance. Le Monde. 7 dez. 2012. Disponível em:
<www.lemonde.fr/economie/article/2012/12/07/la-chantier-du-gazoduc-south-stream-qui-doit-
política dentro da Nova Ordem Mundial. relier-la-russie-a-l-ue-est-lance_1801750_3234.html>. Acesso em: 3 jan. 2017 (Adaptado).

342
Um importante rearranjo político vem ocorrendo nas regiões do Cáucaso e no norte do Oriente Médio
com a aproximação dos Estados Unidos e da União Europeia do Azerbaijão e da Geórgia, a fim de construí-
rem gasodutos que ligam o mar Cáspio à Europa, passando pela Turquia (reveja o mapa na página anterior)
e limitando a dependência do gás vindo da Rússia, já que desde o início dos anos 2000 a Europa vive sob a
desconfiança de que os russos podem desestabilizar o continente através da redução do fornecimento de
gás natural. Isso desagrada enormemente o governo russo e aumenta a pressão deste sobre os países envol-
vidos, como Azerbaijão, Geórgia e Turquia.
A influência russa na Ásia central também persiste. Boa parte da produção de combustíveis do Casa-
quistão, do Usbequistão e do Turcomenistão é exportada para a Rússia, além de esses países terem a parti-
cipação direta de empresas russas em suas economias. O programa nuclear do Casaquistão tem influência
técnica e científica direta dos russos, mesmo após o fim da União Soviética, e seu território ainda abriga um
grande número de bases militares russas, tornando esse país uma região estratégica para a Rússia.
A porção central da Ásia vem acompanhando um processo de aproximação cada vez maior da Rússia
e da China em termos comerciais e infraestruturais. Acordos entre os dois países nos últimos dez anos têm
dinamizado a economia da região localizada entre os dois países, mostrando que a aproximação da Rússia
com a Europa ocidental, ocorrida de maneira desfavorável para os russos, definitivamente ficou no passado
e parece que não haverá chances de ocorrer tão cedo. Ao contrário, os desentendimentos do passado nos
tempos da Guerra Fria entre chineses e russos ficaram para trás, sinalizando uma nova perspectiva geopolíti-

GEOGRAFIA
ca para a Ásia nas próximas décadas.

COMPREENDENDO MELHOR

Rússia e China assinam acordos de aliança energética e econômica

[...] Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, realizaram neste domingo [9

M—dulo 19
nov. 2014] um encontro em Pequim para assinar vários acordos destinados a uma maior colaboração ener-
gética e comercial, o que comprova o bom momento nas relações entre os dois países. A reunião ocorreu
em paralelo ao Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico (Apec).
Xi e Putin presidiram a assinatura de 17 acordos, cujos detalhes não foram revelados. No entanto,
foi anunciado um memorando de entendimento para se negociar exportações de gás russo através de um
gasoduto pela chamada “rota ocidental”, que complementaria o histórico acordo alcançado por ambos os
países em 21 de maio.
Também relativo à exportação de gás mas através de um gasoduto pela “rota oriental”, o acordo foi
obtido por Putin durante uma viagem oficial à China em um dos momentos de maior isolamento inter-
nacional de Moscou devido à crise ucraniana, no seu MIKHAIL SVETLOV/GETTY IMAGES

auge na ocasião.
Segundo o acordo de maio, a companhia rus-
sa Gazprom se comprometeu a vender para a China
38 bilhões de metros cúbicos anuais de gás natural
nos próximos 30 anos, no valor de US$ 400 bilhões.
A “rota oriental” começou a ser construída em agosto
no leste da Sibéria. O caminho levará o gás russo até as
principais refinarias chinesas do nordeste do país, em-
bora Pequim também tenha interesse em um gasoduto
mais ocidental, para atender outras regiões do país. [...]
RÚSSIA e China assinam acordos de aliança energética e econômica. Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China,
9 nov. 2014. G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/ Xi Jinping, realizam encontro em Pequim, na China,
2014/11/russia-e-china-assinam-acordos-de-alianca-energetica-e- para assinar acordos energéticos e comerciais. Foto
economica.html>. Acesso em: 21 dez. 2016. de 2014.
Rússia

343
Rússia e suas questões demográficas
A população russa apresenta características da terceira fase da transição demográfica, ou seja, possui
taxas de natalidade e mortalidade baixas, determinando um crescimento vegetativo igualmente baixo. O
país apresentou um crescimento populacional considerável durante o período de vigência da União Sovié-
tica, porém a partir dos anos 1990 começou a apresentar queda drástica da natalidade, principalmente por
possuir altas taxas de urbanização. A exceção é a região do Cáucaso, que, por conter grande número de
muçulmanos, ainda possui taxas de natalidade relativamente altas em razão de suas características culturais
associadas à religião islâmica.
É importante ressaltar que a Rússia não possui um nível de qualidade de vida similar ao dos países mais
desenvolvidos da Europa, por exemplo, mas quanto às características do crescimento demográfico apresen-
ta dados semelhantes aos de países como Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia. Isso traz alguns problemas
para o país, haja vista que o seu desenvolvimento econômico ainda não é compatível aos gastos sociais com
previdência social e reposição de mão de obra que são apresentados, trazendo um deficit econômico a mais
para o país. Com uma média de idade da população ultrapassando a casa dos 37 anos, o cenário é alarmante
para as próximas décadas.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

A nova Guerra Fria de nações, não inspira nenhuma ideologia global”. O confron-
to que se instala também deixou de opor uma superpotência
A nova Guerra Fria será, no entanto, diferente da antiga. norte-americana que desenhava na sua fé religiosa a confiança
Em 1980, para resumir sua visão das relações entre os Es- imperial em um “destino manifesto” contra um “Império do
tados Unidos e a União Soviética, Ronald Reagan proferiu esta Mal”, que Reagan amaldiçoava também por causa de seu ateís-
fórmula: “Nós ganhamos; eles perdem”. Doze anos depois, seu mo. Putin corteja, ao contrário, não sem sucesso, os cruzados
sucessor imediato na Casa Branca, George Bush, felicitava-se do fundamentalismo cristão. E quando ele anexou a Crimeia,
pelo caminho percorrido: “Um mundo outrora dividido entre relembrou imediatamente que é o local “onde São Vladimir foi
dois campos armados reconhece que existe apenas uma super- batizado [...]; um batismo ortodoxo que determina as noções de
potência preeminente: os Estados Unidos da América”. Esse base da cultura, dos valores e da civilização dos povos russos,
foi o fim oficial da Guerra Fria. ucranianos e bielorrussos”.
Esse período acabou agora. Sua sentença de morte soou É o mesmo que dizer que Moscou não admitirá que a Ucrâ-
no dia em que a Rússia se cansou de “perder” e na medida em nia se torne a base de seus adversários. Aquecido por uma pro-
que seu rebaixamento programado nunca tocará o fundo, com paganda nacionalista que excede até mesmo a lavagem cerebral
cada um de seus vizinhos se vendo um de cada vez atraído – ocidental, o povo russo se oporia a isso. Ou seja, nos Estados
ou subornado – para uma aliança econômica e militar dirigida Unidos e na Europa, os partidários do grande rearmamento au-
contra ela. “Os aviões da Otan patrulham os céus acima do mentam suas apostas: proclamações marciais e avalanche de
Báltico, nós reforçamos nossa presença na Polônia e estamos sanções heteróclitas que só fazem aumentar a determinação do
prontos a fazer ainda mais”, relembrou Barack Obama em mar- campo adversário. “A nova Guerra Fria será talvez mais perigo-
ço em Bruxelas1. Diante do Parlamento russo, Vladimir Putin sa ainda que a precedente”, já advertiu um dos maiores espe-
denunciou a “política infame de confinamento” que, segundo cialistas norte-americanos sobre a Rússia, Stephen F. Cohen,
ele, as potências ocidentais impõem a seu país desde... o sé- “porque, contrariamente à anterior, ela não encontra nenhuma
culo XVIII2. oposição – nem na administração, nem no Congresso, nem nas
A nova Guerra Fria será, no entanto, diferente da antiga,
pois, como revelou o presidente dos Estados Unidos, “contra- 1
Discurso de Barack Obama em Bruxelas, 26 mar. 2014.
riamente à União Soviética, a Rússia não dirige nenhum bloco 2
Discurso de Putin diante do Parlamento russo, 18 mar. 2014.

344
mídias, nas universidades, nos think tanks [pessoas ou institui- da dissolução da União Soviética e da dura recuperação
ções capazes de produzir e difundir conhecimentos e estraté- econômica imposta a partir da transição do socialismo para
gias sobre assuntos importantes]”3. É a receita conhecida de a economia de mercado. Atualmente, o contexto também
todas as derrapagens... é diferente daquele vivido no período da Guerra Fria, pois
3
Pronunciamento na Conferência Anual Rússia-Estados Unidos, Washington, 16 jun. 2014. os dois países viviam uma relação tensa e que era sintetiza-
Retomado em The Nation, Nova York, 12 ago. 2014.
HALIMI, Serge. Le Monde Diplomatique Brasil. 4 set. 2014. Disponível em: da em um conflito de interesses ideológicos numa escala
<http://diplomatique.org.br/a-nova-guerra-fria>. Acesso em: 21 dez. 2016. global. No entanto, o que podemos esperar dessa nova re-
Com base na reportagem podemos entender que o atual lação político-econômica entre Estados Unidos e Rússia? É
momento geopolítico entre Estados Unidos e Rússia não é possível o surgimento de uma nova Guerra Fria como a que
o mesmo daquele vivido pelos dois países ao longo das dé- ocorreu no pós-guerra? É possível ocorrer uma nova corrida
cadas de 1990 e 2000. A projeção política e econômica do armamentista baseada no recente cenário geopolítico entre
gigante euro-asiático era menor, principalmente por causa esses dois países?

PARA CONCLUIR

GEOGRAFIA
Neste módulo, aprendemos sobre as características gerais da Rússia e sobre o desenrolar da sua
história, abordando os fatos mais relevantes desde o período imperial dos czares, passando pela
derrocada da monarquia e pela ascensão do socialismo bolchevique.
Estudamos as causas e as consequências da queda do socialismo, no final dos anos 1980 e início
dos anos 1990, e todas as consequências econômicas, políticas e sociais para o país.

M—dulo 19
Vimos também a retomada do crescimento e da visibilidade externa na esteira das políticas de
Vladimir Putin, o mais importante líder russo em décadas. Sua alta popularidade legitima suas
ações políticas internas e externas, muitas vezes cheias de controvérsias sob a ótica ocidental.
Abordamos os desafios da manutenção da influência russa em suas antigas áreas de poder
(Europa oriental, Cáucaso e Ásia central) e os conflitos causados diretamente pela tentativa de
manutenção de influência em algumas dessas áreas.
E, por fim, analisamos os desafios demográficos que o país enfrenta causados pelas baixas taxas
de natalidade e crescimento vegetativo.

PARA ASSISTIR
REPRODU‚ÌO/EVGENY AFINEEVSKY/NETFLIX

Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom. Direção de Evgeny Afineevsky.


Reino Unido, Ucrânia, Estados Unidos: Netflix, 2015. (102 min).
O documentário Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom é uma parceria entre
Ucrânia, Estados Unidos e Reino Unido, que aborda a onda de manifestações popula-
res na Ucrânia, entre 2013 e 2014, que pedia a queda do presidente pró-Rússia, Víktor
Yanukovych.
Rússia

345
PRATICANDO O APRENDIZADO
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

1. (PUC-RS) O geógrafo brasileiro José William Vesentini, [...] A queda do comunismo representou a fragmentação
referindo-se à dissolução da União Soviética, escreveu de alguns países da Cortina de Ferro. No final dos anos 80,
“Novos países, problemas antigos” (2010). Esse título com a economia em crise e os Estados satélites querendo
serve para explicar o início dos confrontos entre a Rússia abandonar o comunismo, as repúblicas que faziam parte da
e a Ucrânia, tendo como foco a disputa pela península: União Soviética começaram a caminhar para a separação.
a) de Kola. d) da Geórgia. O colapso da URSS deu origem à Rússia e mais 14 nações
b) de Yamal. e) de Kamtchatka. [...]
Jornal O Globo – edição no 27.856, ano LXXXV,
c) da Crimeia. de 12 nov. de 2009, seção O Mundo, p. 35.

Com a queda do socialismo real, o entusiasmo inicial,


2. (Unifor-CE) Em março último, a parte do território da Ucrâ-
em países da antiga Cortina de Ferro, no sentido de
nia foi anexada pela Rússia após a realização de referendo,
recuperar sua posição no cenário internacional, cedeu
no qual a população dessa região decidiu por sua sepa-
espaço às crises, aos problemas como criminalidade e
ração do país do qual anteriormente fazia parte, trazendo
desemprego e à desconfiança constante na Rússia. A
de volta para a Europa e para mundo a ameaça de conflito
inserção da Rússia no novo cenário geopolítico interna-
entre países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos e a
cional chama a atenção:
Rússia. Acerca dessa crise, é correto afirmar que:
a) pela manutenção do estado autoritário e repressor,
a) Denomina-se de Chechênia a região que, separada
apesar das transformações econômicas e sociais que
da Ucrânia, foi anexada pela Rússia.
incluíram a Rússia no Grupo dos Oito.
b) Como 30% do gás natural consumido nos países da
b) pela sua volta ao mercado capitalista que, após um
Europa Ocidental é fornecido por ela, a Rússia ameaça
processo de privatização de todas as empresas esta-
cortar esse fornecimento como forma de pressionar os
tais, concentrou nas mãos de grupos organizados im-
países europeus contrários aos interesses russos.
portantes conglomerados econômicos, estabilizando
c) A Ucrânia, país localizado às margens do mar Báltico,
o quadro político-econômico atual.
desde sua independência, no final da Segunda Guer-
ra Mundial, tem fortes ligações com os países euro- c) pela sua rápida modernização econômica para atrair
peus ocidentais. o novo mercado, tornando-se um país tecnopolo,
através da exportação de tecnologia de ponta e de
d) O Brasil assumiu uma posição clara em favor do res-
mão de obra especializada obtidas através do ingres-
peito da integridade da Ucrânia, congelando suas re-
so de capitais sul-coreanos.
lações diplomáticas com a Rússia.
d) pelo retorno aos padrões religiosos, com a abertura
e) A crise política na Ucrânia teve início a 21 de novem-
bro, com manifestações de milhares de pessoas para de templos ortodoxos e a expansão do islamismo, o
protestar contra a decisão do presidente de reforçar os que garantirá sua aproximação com a Opep.
laços econômicos e comerciais com a União Europeia. e) pelo recrudescimento de questões étnicas e territo-
riais que, sob a bandeira do nacionalismo, muitas ve-
3. (Cesgranrio-RJ) [...] Com o colapso da URSS, a experiência zes levaram a conflitos internos ou à guerra.
do socialismo realmente existente chegou ao fim [...] mes-
mo onde os regimes comunistas sobreviveram e tiveram êxito, 4. (Cesgranrio-RJ) Em primeiro lugar, é preciso reconhecer
abandonaram a ideia de uma economia única, centralmente que algo, de fato, ‘DEU ERRADO’ na União Soviética. Não
controlada e estatalmente planejada, baseada num Estado havia nenhuma semelhança entre o processo de emanci-
completamente coletivizado, ou uma economia de proprieda- pação socialista imaginado por Marx e aquilo que existiu
de coletiva praticamente operando sem mercado [...] naquele país.
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. ARBEX JR, José. Revolução em 3 tempos;
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 481. URSS, Alemanha, China. Ed. Moderna.

346
Assinale, dentre as opções a seguir, aquela que expres- em situações complexas e geradoras de guerras. Uma
sa um fator que tenha contribuído decisivamente para a dessas situações é o interesse estratégico da Rússia em
ex-URSS ter “dado errado”. relação ao território da Geórgia, que tem criado tensões
a) Descentralização das atividades de planejamento no Cáucaso com o objetivo de:
econômico. a) controlar um antigo Estado-membro da Comunidade
b) Controle do poder político por apenas dois partidos: de Estados Independentes (CEI), que possui grande
o Comunista e o Social-Democrata. potencial militar e nuclear.

c) Adesão tardia das autoridades soviéticas ao mercado b) facilitar o deslocamento de suas exportações em di-
comum dos países socialistas, o Comecon. reção ao Irã, que é um país aliado na produção de
tecnologia nuclear.
d) Predomínio de uma estrutura de economia paralela
de mercado sobre os setores estatais. c) obter o controle de Nagorno Karabach, região autô-
noma da Geórgia, que luta por sua independência.
e) Ênfase na produção industrial militar e aeroespacial
em prejuízo de setores civis. d) garantir o escoamento seguro de óleo e gás, que
atravessam o território georgiano por meio de oleo-
5. (UFG-GO) A geopolítica é uma disciplina que estuda os duto e gasoduto, até o mar Negro.
conflitos dos Estados-nações e procura compreender, e) manter sob domínio russo um território favorável à
no mundo contemporâneo, a diversidade que se reflete importação de petróleo pela via do mar Cáspio.

GEOGRAFIA
DESENVOLVENDO HABILIDADES

M—dulo 19
1. (PUC-PR) O começo do século XXI revelou uma nova for- 286 mil pessoas no primeiro quadrimestre deste ano. O
C2 ma de terrorismo: globalizado, sem fronteiras e sob os número de mortes no país é, em média, 70% superior ao
H9
holofotes da mídia. O mundo ficou estarrecido diante número de nascimentos. A diminuição vem ocorrendo
dos atentados de 11 de setembro de 2001 a importantes desde o desmantelamento da União Soviética, em 1991.
símbolos do poder político e econômico norte-america- Essa situação é decorrência:
no. Nos três primeiros dias de setembro de 2004, no sul a) dos fluxos migratórios em direção à Europa Ocidental.
da Rússia, a pequena cidade de Beslan foi assolada pelo
b) da rigorosa política de governo de controle da natali-
terrorismo. Uma escola local foi ocupada, em dia de fes-
dade.
ta, por terroristas que fizeram mais de 1000 reféns.
A principal motivação do grupo armado que ocupou a esco- c) do aumento da mortalidade na base e no corpo da
la de Beslan centrava-se na causa separatista, reivindicando: pirâmide etária.

a) Inclusão da Chechênia na Comunidade dos Estados d) do elevado número de idosos e da baixa taxa de fe-
Independentes, CEI. cundidade.

b) Ajuda militar russa às tropas chechenas na defesa de e) das mudanças ocorridas na economia do país a partir
suas fronteiras. da desestruturação da União Soviética.

c) Ajuda humanitária do governo de Moscou às popula- 3. (UFU-MG – Adaptada) Na nova ordem mundial, além
ções pobres das montanhas da Chechênia. C3 dos principais polos de poder representados pelos Es-
H11

d) Anexação dos territórios vizinhos, como o Azerbaijão tados Unidos, União Europeia e Japão, destaca-se tam-
e a Geórgia, à Chechênia. bém a Comunidade dos Estados Independentes – CEI.
e) Saída das forças militares russas da Chechênia. Sobre esta última, é correto afirmar que:
a) a CEI congrega países de diferentes níveis socioe-
2. (PUC-RJ) A taxa de crescimento populacional atual da conômicos e realidades étnico-religiosas igualmente
Rússia

C3
H11 Rússia é negativa: a população do país diminuiu em distintas.

347
b) a CEI é composta pelas ex-Repúblicas Socialistas, Re- b) a entrada da Iugoslávia na Otan, contrariando os inte-
públicas Bálticas e a Geórgia. resses militares do bloco socialista na Europa.
c) após sua entrada na economia de mercado, a CEI tor- c) a formalização da União Europeia, contrariando inte-
nou-se extremamente atrativa ao capital internacional. resses da Iugoslávia e da Sérvia.
d) a Ucrânia, o mais extenso país integrante da CEI, des- d) o fim da URSS, ampliando a autonomia das antigas
taca-se como a maior potência econômica regional. repúblicas soviéticas.
e) a Geórgia é a única ex-república soviética que decidiu e) a disputa por terra entre colonos judeus e separatistas
não participar do bloco. sérvios, em território iugoslavo.

4. (UFU-MG – Adaptada) Considere a figura a seguir: 6. (PUC-MG – Adaptada) Leia atentamente o texto abaixo.
C2
H6 C2
H7
Antes da desintegração da União Soviética havia uma repú-
Mar
Cáspio blica autônoma, a da Chechênia-Inguchétia, que reunia dois
povos que lhe davam nome. Quando a União Soviética não
mais existia, a Chechênia se recusou a assinar o Tratado de
adesão à Federação Russa e proclamou a independência, o que
CHECHÊNIA não foi reconhecido pelo governo de Moscou. Em dezembro
de 1994 iniciou-se a intervenção militar russa na Chechênia.
Grozni
DAGUESTÃO OLIC, Nelson Bacic. Conflitos no Mundo: questões e
Beslan INGUCHÉTIA visões geopolíticas. São Paulo, Moderna, 2000. Adaptado.
43° N
OSSÉTIA
DO NORTE Vladikavkaz Assinale a opção que melhor explica os interesses russos
N
pela região da Chechênia:
a) Áreas de produção e transporte de petróleo e gás das
GEÓRGIA 0 40

km importantes jazidas da região; posição geográfica es-


FONTE: BARELA, J. E. O massacre dos inocentes. Veja. São Paulo. tratégica entre o “mundo-russo” e o Oriente Médio;
Ed. 1837, n. 36, 8 set. 2004, p. 112. Adaptado.
implicações geopolíticas da religião islâmica.
A região ilustrada na figura apresentada trata-se b) Produção de haxixe e ópio para o mercado consumi-
a) dos Urais, onde ocorrem conflitos entre russos oci- dor da Rússia; atuação da máfia chechena na capital
dentais pelo retorno do sistema socialista à Rússia. Moscou; proteção à maioria russa na região.
b) da Sibéria, onde se localizam as principais áreas pro- c) Posição estratégica privilegiada (entre o mar Negro,
dutoras de minério de ferro e carvão que alimentam o o Cáspio e o Oriente Médio); importantes usinas nu-
complexo siderúrgico russo. cleares e bases militares na região.
c) da Mesopotâmia, onde as tropas estadunidenses en- d) Jazidas de petróleo e gás natural; atuação de grupos
frentam a resistência dos rebeldes iraquianos, desde terroristas chechenos que, tendo na religião ortodoxa
a deposição de Sadam Hussein. ponto de união, desafiam o poder de Moscou.
d) do Cáucaso, onde atualmente ocorrem conflitos rela- e) Presença de grandes lavouras de cereais, atuação de
cionados à oposição de grupos nacionalistas islâmi- grupos fundamentalistas católicos, maioria étnica curda.
cos ao domínio russo da região.
e) do mar Cáspio, onde se encontra atualmente a maior 7. (FEI-SP) A desagregação da União Soviética levou ao
reserva de petróleo do mundo. C2 ressurgimento de lutas nacionalistas dentro do território.
H8
A onda de atentados terroristas na Rússia no segundo
semestre de 1999 reacendeu um conflito entre o país e
5. (UFV-MG) A prisão do ex-presidente iugoslavo Slobodan
C2 Milosevic, em junho de 2001, foi mais um capítulo dos inten-
um pequeno território que luta pela sua independência.
H7
Esse território, que vem sendo atacado sistematicamen-
sos conflitos separatistas e étnicos que eclodiram na Europa
te pelo governo russo é o:
durante a década de 90 do século XX. Um dos elementos
que contribuíram para a emergência desses conflitos foi: a) da Bósnia d) de Kosovo
a) a intensificação do processo de repressão aos cultos b) da Chechênia e) do Azerbaijão
religiosos por parte do governo central de Moscou. c) da Sérvia

348
8. (FGV-SP) Com o fim da Guerra Fria, os países que inte- b) se reagrupar em torno da Rússia, que ainda mantém a
C2 gravam o bloco socialista europeu voltaram-se à econo- liderança econômica e geopolítica sobre a região.
H7
mia de mercado. Nessa transição econômica, a Federa- c) excluir a Rússia, uma vez que este país, mergulhado
ção Russa tem: em crises econômicas, deixou de exercer a tradicional
a) produzido o suficiente para atender às necessidades liderança.
da população, graças à elevação do nível dos preços, d) excluir a Rússia, pois com os atuais conflitos étnicos
antes determinados pelo Estado Soviético. enfrentados pelas antigas repúblicas não é mais pos-
b) controlado com eficiência a inflação dos preços dos gê- sível qualquer associação com aquele país.
neros de primeira necessidade, mantendo um dos ideais e) se isolar do restante da Europa, para preservar a
básicos do socialismo: o bem-estar de toda a sociedade. identidade étnica e impedir a penetração de capitais
c) passado por privações, considerando-se que as no- transnacionais nas economias ainda em crise.
vas regras de mercado significam a continuidade do
apoio político aos países que antes constituíam o blo- 10. (Udesc – Adaptada) O ano de 2014 foi marcado por for-
co, incluindo a ajuda financeira. C2 tes conflitos entre a Rússia e a Ucrânia. Sobre essa temá-
H7
d) ampliado os privilégios da classe burocrata que, em tica, sabe-se que:
troca, cuida da planificação necessária para o aten-
a) está politicamente dividida, com sua porção oriental
dimento satisfatório das necessidades alimentares do
desejosa de estreitar laços com a União Europeia e a
povo soviético.
porção ocidental com a Rússia.

GEOGRAFIA
e) enfrentado uma forte competição entre as próprias
b) pelo país passam importantes gasodutos que trans-
ex-repúblicas, uma vez que o fim da planificação ex-
portam o gás natural da região do mar Cáspio para
tinguiu mecanismos que integravam o conjunto da
a Europa, cujo controle interessa tanto à União Euro-
economia soviética.
peia quanto à Rússia.

9. (UEL-PR) Depois de um período inicialmente conturba- c) vem tentando se aproximar da Rússia desde 1991,
C2 do, as antigas repúblicas da ex-União Soviética forma- quando deixou a União Europeia.

M—dulo 19
H7
ram um bloco denominado Comunidade dos Estados d) possui grandes extensões de solos pouco férteis, sen-
Independentes. Esta nova composição do espaço estra- do pequena produtora agrícola.
tégico ex-soviético tende a: e) os efeitos da poluição radioativa, decorrente do aci-
a) dar início a outro período da Guerra Fria, opondo esta dente nuclear de Chernobyl, em 1986, atualmente já
Comunidade ao Bloco da União Europeia. são imperceptíveis.

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Mack-SP – Adaptada) Em relação à distribuição dos re- c) Nas extensas bacias sedimentares dos Montes Urais
cursos naturais da Federação Russa, sabe-se que: o país dispõe de grandes reservas minerais das quais
a) É considerado um país pobre em recursos minerais, são exploradas, principalmente, jazidas de ferro, bau-
já que mesmo possuindo imensa extensão territorial, xita, cobre, potássio e amianto.
possui estrutura geológica predominantemente se- d) A abundância em petróleo fez com que o país histori-
dimentar. camente não investisse em usinas hidrelétricas, mes-
b) É o maior exportador de gás natural do mundo. mo possuindo importantes rios na Bacia do Volga e
Atualmente atravessa uma crise geopolítica com os rios Ienissei e Angara, que cortam os planaltos da
sua vizinha Ucrânia, antiga república soviética, cul- Sibéria ocidental.
minando com a independência da península da e) Possui maioria étnica russa e como religião predomi-
Rússia

Crimeia. nante o islamismo sunita.

349
2. (Uerj) Leia o quadro e o texto. 3. (Uerj)

Russos nas ex-repúblicas soviéticas Evolução do Produto Nacional


Bruto – PNB por habitante
1991 Russos (em mil) % da popula•‹o 150
140
Azerbaijão 289 4,1 130
120
Geórgia
Armênia 37 1,1 110
100 Ucrânia

Base 100 em 1990


90 Letônia
Belarus 1 377 13,5
80 Armênia
70
Geórgia 318 5,9 Lituânia
60
Rússia
50
Casaquistão 6 244 37,3 40 Belarus
30 Estônia
Quirguistão 905 20,6 20
10
Moldávia 560 12,8 0
1990 1995 2005

Tajiquistão 349 6,5 El Atlas de Le Monde Diplomatique II. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2006. Adaptado.

Em finais do século XX, o processo de expansão do mer-


Turcomenistão 328 8,8 cado mundial incorporou novos territórios, em virtude de
diversos eventos políticos e econômicos. No caso dos paí-
Usbequistão 1 589 7,7
ses constantes do gráfico, o padrão de evolução do PNB
Ucrânia 11 481 22,2
per capita pode ser explicado por problemas associados a:
a) processo de unificação territorial violento.
VICENTINO, C. Rœssia antes e depois da URSS. São Paulo: Scipione, 1995.
b) crise mundial originada nos Estados Unidos.
Um elemento que contribui para a difusão do nacionalis- c) encarecimento dos serviços da dívida externa.
mo entre as minorias é o colapso das instituições do Estado. d) transição da economia socialista para a capitalista.
O fracasso em preencher necessidades básicas das pessoas e
a inexistência de estruturas alternativas satisfatórias são fato- 4. (PUC-RJ – Adaptada)
res-chave para a compreensão da inesperada proliferação de Na confusão do C‡ucaso
movimentos nacionalistas na antiga União Soviética, onde no- Tropas russas invadiram a Geórgia
vas estruturas de Estado estão em processo de estabelecimen- para proteger dois enclaves separatistas
to, mas ainda não podem prover a segurança e o bem-estar de

Veja, 11 ago. 2008.


seus componentes.
GUIBERNAU, M. Nacionalismos: o estado nacional e o nacionalismo
no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1997. Adaptado. RÚSSIA

RÚSSIA
Muitos dos problemas políticos vividos hoje nas ex-re- Mar
Cáspio
públicas soviéticas decorrem da política de expansão
44° N
das populações russas durante o período socialista. OSSÉTIA
DO NORTE
INGUCHÉTIA
Analisando-se o problema nacionalista nos países in-
CHECHÊNIA
dicados no quadro e a composição étnica de suas po- OSSÉTIA
DO SUL
pulações, a consequência política que pode ser iden- Mar Negro
GEÓRGIA Gori
tificada é:
Oleodutos Tbilisi
a) oposição ao regime socialista russo. N

b) separatismo frente ao regime de Moscou. 0 100

km TURQUIA ARMÊNIA AZERBAIJÃO


c) ressentimento contra as minorias russas.
Enclaves separatistas
d) conflito entre as etnias majoritárias soviéticas.

350
Os confrontos armados na região do Cáucaso são resulta- Com base nos mapas e nos conhecimentos sobre as re-
do de anos de disputas e desentendimentos, que ultrapas- lações entre Ucrânia e Rússia no pós-URSS, explique a
sam a própria Eurásia. Assinale a única alternativa que apre- geopolítica do conflito entre os dois países atualmente,
senta uma explicação correta sobre os conflitos na região. tendo como foco os aspectos étnicos, econômicos, po-
a) Durante o governo de Lenin o território da Ossétia líticos e militares.
do Sul foi transformado em Região Autônoma da Re- Questão étnica: Aproximadamente 50% da população ucraniana é de
pública Socialista Soviética da Geórgia. A medida co- origem russa e, especificamente na península da Crimeia, é de 58,5%
locou parte dos ossetas, grupo etnicamente ligado à
russos (os demais: 24,4% ucranianos; 12% tártaros). Esses dados
Rússia, dentro do domínio territorial georgiano.
são relevantes porque a presença de uma significativa população
b) Apesar de o território georgiano não possuir grandes
de origem russa em território ucraniano tem provocado uma
reservas de petróleo e gás natural, ele abriga impor-
desestabilização, visto que esta população reivindica um território
tantes dutos que abastecem as economias da Europa
Ocidental com hidrocarbonetos, fato que amplia a autônomo, o que leva a região a se constituir como um “barril de

ação russa contra as forças de emancipação. pólvora”, em uma instabilidade que poderá gerar uma possível guerra
c) A participação dos países da região do Cáucaso na civil. Esfera econômica: 30% do gás russo é exportado para a Europa
União Europeia contraria os interesses do governo pelos dutos localizados em território ucraniano, como pode ser
russo, que não mede esforços em convencer esses observado no primeiro mapa, o que justifica o interesse da Rússia no
países a fazerem parte da Organização Xangai de território ucraniano. Econômico e político: 70% do petróleo e 90%

GEOGRAFIA
Cooperação (SCO).
do gás natural consumidos na Ucrânia são fornecidos pela Rússia,
d) A intenção do governo georgiano em juntar-se à
que utiliza sua condição de credora como trunfo nas negociações
Otan, aliança militar do Ocidente, pode ser conside-
que envolvem outras disputas com o país. Política e militar: A Ucrânia
rada um desagravo aos Estados Unidos, o que leva os
vive em constante ameaça de corte de fornecimento de energia
russos a agirem mais diretamente na resolução dos
atuais conflitos na região. pela Rússia, por isso lança mão do único recurso que possui nesse

e) A posição estratégica do território georgiano – está âmbito: sua localização geográfica (o que pode ser visualizado nos

Módulo 19
na rota dos dutos projetados para conduzir gás e óleo dois mapas). A Rússia mantém uma base da sua frota no mar Negro,
do Turcomenistão e do Azerbaijão (países pró-Mos- na cidade mais importante da Crimeia (Sebastopol); por isso a posição
cou) até o litoral do mar Cáspio – torna a ação militar geográfica da Crimeia é estratégica (a saída para o mar Negro, onde
russa mais intensa e imediata na área. a Rússia tem sua frota) e lhe dá relevância política, econômica e militar.

5. (UEL-PR) Analise os mapas a seguir.


6. (Fuvest-SP)
Disponíveis em: <www.esquerda.net/artigo/mapas-e-gráficos-para-compreender-
crise-da-ucrânia/31800>; <www.aldeiaglobal.net.br/2014/02/russia-e-ucrania-
iniciam-conflito-pela.html>. Acesso em: 2 jun. 2014.

DO GÁS DA EUROPA
Pa’ses da antiga Uni‹o SoviŽtica
VEM DA RÚSSIA
0%
REINO RÚSSIA
UNIDO
40%
% de gás que ALEMANHA
é fornecido
UCRÂNIA
pela Rússia 18%
FRANÇA Círculo Polar Ártico
0
0-33 20%
33-66 ITÁLIA N
66-100 40¼ N
100 ESTÔNIA R Ú S S I A
0 765
Encanamentos LETÔNIA
de gás km
LITUÂNIA
BELARUS

UCRÂNIA
CASAQUISTÃO
MOLDÁVIA
RÚSSIA GEÓRGIA
UCRÂNIA
Kiev N
USBEQUISTÃO
ARMÊNIA QUIRGUISTÃO
UCRÂNIA Mar
TAJIQUISTÃO 0 1280
de Azov AZERBAIJÃO
Mar
Mediterrâneo TURCOMENISTÃO km
Crimeia Crimeia
N
Mar
Sebastopol
Simferopol
O conflito envolvendo Geórgia e Rússia, aprofundado em
Rússia

0 120 Negro
km República autônoma da Crimeia Balaklava 2008, foi marcado por ampla repercussão internacional.

351
Outros conflitos, envolvendo países da ex-União Soviéti- Em setembro de 2004, a tomada de uma escola na Os-
ca, também ocorreram. sétia do Norte, na cidade de Beslan, por terroristas che-
a) Explique a relação entre o fim da União Soviética e a chenos, e a violenta reação russa provocaram centenas
proliferação de movimentos separatistas na região. de mortes e feridos, além de uma grande indignação
O colapso político e econômico soviético favoreceu a emergência
mundial. Explique o conflito da Chechênia, contextuali-
zando geograficamente seu território (aspectos físicos e
de movimentos nacionais separatistas em repúblicas até então
socioeconômicos).
dominadas pela Rússia. Contribuiu também para esse fato a
A Chechênia localiza-se na região do Cáucaso, dentro do território
diversidade étnica, religiosa e cultural já existente associada
russo. O clima é temperado continental e o relevo é formado por
à política stalinista de russificação. O sucesso de muitos
cadeias montanhosas recentes. Trata-se de uma região separatista
desses movimentos incitou outros povos a também lutarem
em relação à Federação Russa, em razão das diferenças étnico-
por independência após a dissolução da URSS, o que tem sido
-religiosas. Grande parte da população pratica o islamismo. O governo
acompanhado por forte repressão russa, pois estes ameaçam a
de Moscou não aceita a separação porque para os russos é uma
soberania desses novos países.
região estratégica, pois é uma área de passagem de oleodutos
b) Explique como a Rússia reagiu ao movimento pela e gasodutos, além de ter grandes reservas petrolíferas. Sua ação
independência da Ossétia do Sul e aponte as razões é de forte repressão a qualquer tentativa separatista por parte dos
que motivaram essa reação.
chechenos.
A Rússia reconheceu a independência da Ossétia do Sul,
contrariando o governo da Geórgia. Deu apoio tático, bélico e a
concessão de cidadania a separatistas da Ossétia do Sul, tendo os
ataques da Geórgia como resposta a essas atitudes. A Rússia
atacou posições georgianas, alegando defesa humanitária da 8. (Unicamp-SP) O mapa a seguir representa diversas repúbli-
Ossétia do Sul diante da agressão georgiana. A Rússia reagiu cas ao norte do Cáucaso. A partir dele, faça o que se pede:
desse modo ao alinhamento da Geórgia aos interesses dos
Estados Unidos e da União Europeia numa região considerada
ADIGUEIA
estratégica (Cáucaso). Outro fator importante foi a resposta russa
INGUCHÉTIA
ao apoio ocidental na independência de Kosovo, contrário aos
OSSÉTIA Mar
CHECHÊNIA
interesses russos e de seus tradicionais aliados sérvios. DO NORTE Cáspio
ABKHÁZIA
43º N
c) Cite outro exemplo de movimento separatista recen-
te nessa região. Mar
OSSÉTIA DAGUESTÃO
DO SUL
Negro
Os movimentos separatistas na Chechênia, no Daguestão e na
GEÓRGIA N
Abkházia são outros exemplos de movimentos autonomistas na
TURQUIA 0 90
região do Cáucaso. ARMÊNIA AZERBAIJÃO km

Folha de S.Paulo. 4 set. 2004. p. A-15. Adaptado.


7. (Fuvest-SP)
a) Por que o Cáucaso é uma região que apresenta diver-
RÚSSIA sos tipos de conflito?
Mar
INGUCHÉTIA O Cáucaso, situado no sudoeste da Rússia, na fronteira da Europa
Cáspio

com o Oriente Médio (Ásia), localizado entre os mares Negro e


OSSÉTIA
DO NORTE
Grozni Cáspio, é caracterizado, principalmente, pelos conflitos étnicos e
Beslan CHECHÊNIA
43º N religiosos, pela busca de autonomia política e pobreza de grande
parte da população, gerando disputas territoriais. A Rússia, para
OSSÉTIA DAGUESTÃO
DO SUL manter o controle político sobre a região, não aceita a autonomia
GEÓRGIA N de muitas repúblicas, uma vez que possui uma grande bacia

0 100 petrolífera no mar Cáspio, cujos oleodutos atravessam a região


km caucasiana.

352
b) A Chechênia é uma república em guerra separatista b) Caracterize dois aspectos da crise russa neste mo-
contra a Rússia. Qual o principal interesse econômico mento de transição rumo ao capitalismo.
e político da Rússia na manutenção da submissão da Dois entre os seguintes aspectos: a ausência do antigo estado forte
Chechênia? e centralizador, com a sobrevivência de rivalidades entre
A Rússia procura evitar a independência de repúblicas separatistas etnias e nacionalidades da ex-União Soviética, provocando
como a Chechênia, para impedir o desmoronamento político do conflitos que agravam os problemas sociais; a instabilidade política
país, ou seja, a sua fragmentação, como ocorreu nos Bálcãs. que não favorece os investimentos de capital, atemorizando os
Os oleodutos que transportam petróleo do mar Cáspio para a investidores estrangeiros e levando à fuga de capitais; o fim das
Europa passam pela Chechênia, tornando-a vital para a Rússia. antigas garantias sociais e o crescimento da inflação, levando ao
desemprego e ao agravamento da pobreza; o crescimento da
9. (Uerj) contestação ao regime de Yeltsin, por parte de organizações de
trabalhadores que reclamam a volta de direitos sociais do período

REPRODUÇÃO/UERJ,1999.
socialista; a ausência de controle estatal, que leva ao aumento da
economia informal, a problemas de abastecimento e à proliferação
do crime organizado, aumentando a insegurança da população;
o controle precário do arsenal nuclear, constituindo uma ameaça
geopolítica.

GEOGRAFIA
10. (Unifesp) As últimas duas décadas foram marcadas pela
ocorrência de vários conflitos de caráter étnico, religio-
so e separatista. O atentado ao metrô de Moscou, em

Módulo 19
março de 2010, fez ressurgir o movimento separatista da
Chechênia.
Sobre essa temática, responda.
a) Qual a localização geográfica da Chechênia?
VERÍSSIMO, As Cobras. A Chechênia localiza-se na Federação Russa, na região do
Jornal do Brasil, 15 set. 1998.
Cáucaso, entre os mares Cáspio e Negro.
É evidente que a Rússia se aproxima de seu segundo co-
lapso, desta vez sob os auspícios da economia de mercado.
Sob as atuais circunstâncias, a fuga de capital monetário in-
b) Cite as principais causas desse conflito.
ternacional é irreversível. Assim, os ‘mercados emergentes’ se
A Chechênia fazia parte da URSS e, com o seu desmembramento,
transformam definitivamente em ‘mercados de emergência’,
em 1991, passou a fazer parte da Federação Russa. Desde
pois a declaração da insolvência russa se irradia sobre as de-
mais regiões em crise. Agora não se trata mais de casos regio- então, inúmeros conflitos separatistas ressurgiram em busca

nais, porém de um processo de escalada global. da autonomia do território. A declaração de independência


KURZ, Robert. Folha de S. Paulo. 6 set. 1998. Adaptado. da Chechênia não é aceita pela Rússia, que busca manter

a) Explique, tendo em vista o processo de globalização, sua hegemonia sobre a região. Outras causas podem ser:
a razão pela qual uma crise em determinado país a diversidade étnica, o islamismo seguido pela maioria da
pode afetar áreas relativamente distantes. população, o controle de oleodutos e gasodutos que atravessam o
As economias nacionais tornam-se interdependentes, e as fronteiras território da Chechênia.
são muito menos efetivas porque os fluxos já não são apenas de
mercadorias físicas, mas cada vez mais de capitais que se deslocam
pelas redes de comunicações. Assim, nenhum país deixa de ser
Rússia

afetado por crises em centros financeiros de grandes dimensões.

353
América

20
Módulo
Anglo-Saxônica

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Formação territorial e quadro físico-ambiental dos
Estados Unidos e do Canadá
• Aspectos demográficos, sociais e culturais dos Estados
Unidos e do Canadá
• Distribuição das atividades econômicas e das redes de infraes-
trutura

HABILIDADES
• H7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de
poder entre as nações.
• Identificar as características físicas e ambientais dos Estados Unidos e do Canadá.
• Analisar as características demográficas e socioeconômicas dos Estados Unidos
e do Canadá.
• Problematizar a questão migratória na América Anglo-Saxônica.

354
PARA COMEÇAR

Este módulo tem como objetivo apresentar, de modo sucinto, os critérios de regionalização
da América e algumas características da porção anglo-saxã do continente, como aspectos
físico-naturais do território, sua demografia, o desenvolvimento histórico-cultural dos Estados
Unidos e sua influência no restante do continente e os acordos comerciais, como o Acordo
de Livre-Comércio da América do Norte – o Nafta (sigla em inglês de North American Free
Trade Agreement).
A análise do tema deste módulo é necessária e fundamental para compreendermos a história
e a formação do continente americano, bem como a importância dos Estados Unidos e de suas
políticas, não só para a América, mas para o mundo, ao longo do século XX e início do século XXI.

PARA APRENDER

GEOGRAFIA
Regionalização americana
A regionalização do continente ameri-

M—dulo 20
cano em América Anglo-Saxônica e Amé- América Anglo-Saxônica: político
90º O
rica Latina obedece a critérios histórico, OCEANO GLACIAL
ÁRTICO
político e cultural que consideram como se

tico
Ár
formaram essas regiões. Um dos aspectos ALASCA (EUA) Mar de

lar
Beaufort

Po
Groenlândia
que marcou a formação da América Anglo-

o
Fairbanks (DIN)

ul
rc
Anchorage


Baía de
-Saxônica remonta à colonização e a seus di- Golfo
Whitehorse I. Vitória Baffin
do Alasca
ferentes modelos implementados ao longo
do continente. Juneau

OCEANO
Na porção norte da América predo- PACÍFICO
Ketchikan
CANADÁ
Príncipe
minou o modelo de colonização de po- Rupert Baía
de Hudson
OCEANO
ATLÂNTICO
voamento, com o estabelecimento de um Vancouver
Edmonton Thompson

núcleo colonial mais direcionado ao mer- Seattle Calgary


Saskatoon
cado interno, o que, entre outros fatores, Portland Regina Winnipeg
Terra St. John’s
Nova
Quebec
possibilitou maior desenvolvimento interno Duluth Trois Rivières
ESTADOS UNIDOS Grandes Montreal
Minneapolis Lagos
e mais autonomia econômica em relação São Francisco
Toronto
Ottawa
Halifax
Salt Lake City Milwaukee Buffalo Boston
à Europa. Já a porção centro-sul abrigou Denver Chicago
Detroit
Cleveland Nova York
Los Angeles Columbus Filadélfia
predominantemente um modelo de ex- Phoenix
Kansas City Cincinnati Baltimore
Washington
ploração mais voltado aos interesses das El Paso Dallas
Memphis
Charlotte
Tró HAVAÍ
p ic
elites políticas e econômicas europeias, Birmingham
América Anglo-Saxônica

od Atlanta
eC Austin Lihue 158º O OCEANO
ânc Houston
er PACÍFICO
definindo uma organização econômica, so- Nova
Orleans
Waipahu Kaneohe
Honolulu
cial e política interna bem diferente da dos MÉXICO Golfo do México
Wailuku
N N
20º N
“vizinhos do norte”. Na América Latina, o 0 165 Hilo
0 680
modelo de exploração foi notoriamente km km

predominante. FONTE: IBGE. Atlas geogr‡fico escolar. Rio de Janeiro, 2009. p. 37.

355
A América Anglo-Saxônica é constituída pelos Estados Unidos da América (ou apenas Estados Unidos)
e pelo Canadá. Esses países têm em comum o fato de possuírem territórios imensos, com recursos naturais
abundantes, população étnica e culturalmente diversificada (formada por povos indígenas nativos, descen-
dentes de negros africanos trazidos à força no período colonial, imigrantes e descendentes de imigrantes de
várias partes do mundo que chegaram em diferentes momentos) e enorme variedade paisagística, como se
verá adiante.

Aspectos físico-naturais
O quadro físico dos Estados Unidos e do Canadá tem aspectos comuns, como se pode observar no mapa
a seguir.

América Anglo-Saxônica: físico


100º O

OCEANO GLACIAL ÁRTICO


Mar de
Bering
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do México
I. Nihoa I. Oahu
I. Niihau I. Mauí
0 725 0 670
km I. Havaí
km

FONTE: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 56.

O clima da América Anglo-Saxônica é influenciado principalmente por fatores climáticos estáticos (relevo
e posição em relação a diferentes latitudes) e dinâmicos (massas de ar e correntes marinhas).
A América Anglo-Saxônica está nas faixas temperadas e polares do hemisfério norte. A porção central da
região apresenta clima temperado (oceânico e continental), com grandes variações de temperatura e preci-
pitação ao longo do ano. As maiores temperaturas são registradas no sul, na área subtropical, bem próxima
do trópico de Câncer.
O relevo acidentado no oeste (montanhas Rochosas), onde prevalece o clima frio de montanha, e no leste
(montes Apalaches) forma um “corredor” no centro do território que permite a alternância de ventos quen-
tes, vindos do sul no verão, e frios, vindos do norte no inverno. No litoral da costa oeste o clima é seco por
causa da passagem da corrente marinha da Califórnia, que é fria. No norte e no extremo norte do território
encontram-se os climas subpolares e polares, com temperaturas mais extremas.

356
As porções central e leste dos Estados Unidos são

BRIAN DAVIDSON/GETTY IMAGES


constantemente atingidas por tornados e furacões, respec-
tivamente. Esses fenômenos ocorrem na porção central,
em virtude da grande extensão territorial plana e da alter-
nância de temperaturas ao longo do ano, e na costa leste
do país, em razão da passagem da Corrente do Golfo, que
é quente, e das elevadas temperaturas registradas no ve-
rão no Atlântico Norte.

Tornado na região central dos Estados


Unidos, em Dodge City, no estado do
Kansas, em 2016. A altura que as nuvens
atingem impressiona, e a força dos ventos
desses fenômenos é capaz de causar grande
destruição por onde passam.

Aspectos econômicos e demográficos gerais


Estados Unidos e Canadá figuram entre as nações mais ricas e industrializadas do mundo, sendo o pri-

GEOGRAFIA
meiro detentor do maior produto interno bruto (PIB) e estando o segundo em torno da décima posição,
segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), nos anos de 2015 e 2016. Contudo, se, por um lado,
os Estados Unidos são o país com a maior e mais diversificada economia do mundo, por outro, o Canadá
apresenta menores discrepâncias sociais, resultantes de políticas de seguridade social.
A diferença demográfica dos dois países é grande: em 2016, havia 322 milhões de habitantes nos Estados
Unidos, enquanto no Canadá havia 36 milhões de habitantes. Apesar dessa diferença no tamanho da popu-
lação, ambos os países possuem IDH muito

M—dulo 20
alto (acima de 0,9), segundo o Relatório do América Anglo-Saxônica: distribuição da população (2010)
Desenvolvimento Humano 2015. OCEANO GLACIAL ÁRTICO 90º O
Círcu

O Canadá é o segundo maior país do


oP l
ola

mundo em área e apresenta condições na- Mar de


rÁr

Beaufort
ti c

turais bastante extremas na maior parte de


o

Groenlândia
Baía (DIN)
seu território, o que colabora para que haja Golfo de Baffin
do Alasca
grandes vazios demográficos – a população
relativa do país fica abaixo de 1 hab./km2.
A concentração populacional predomina
na fronteira com os Estados Unidos, no sul Baía
OCEANO
OCEANO de Hudson
de seu território, que, além de apresentar PACÍFICO Vancouver
Edmonton
ATLÂNTICO

climas mais amenos, está mais conectada Seattle


com a economia estadunidense, resultando Winnipeg

em um espaço contíguo entre os dois paí-


ses. Observe a distribuição populacional dos São Francisco
St. Paul
Minneapolis
Montreal
Toronto
Salt Lake City
dois países no mapa ao lado. Denver Chicago
Detroit Boston
Nova York

A seguir vamos nos aprofundar em algu- Los Angeles


Phoenix
St. Louis
Filadélfia
Baltimore
Washington
mas características desses dois países nos Tr
óp
Densidade
ico
de Dallas demográfica
América Anglo-Saxônica

aspectos político, econômico e social. Câ


nce
r Nova
(hab./km2)
Houston Orleans

1
MÉXICO Golfo do México
10
N Miami 25
50
0 680 100
km

FONTE: BRITANNICA Online. Disponível em: <http://kids.britannica.com/comptons/art-166536>. Acesso em: 20 fev. 2017.

357
Histórico de formação nacional
O Canadá foi colônia de povoamento da Inglaterra do século XVII até o início do século XX. Uma parte
de sua colonização foi promovida pela França até o século XVIII, fazendo com que o país tivesse influência
das duas culturas, francesa e britânica, o que se manifesta até os dias de hoje – o Canadá tem como línguas
oficiais o inglês e o francês.
A maior parte dos canadenses de origem inglesa e protestante ocupa a parte central e oeste do territó-
rio, ao passo que a maioria de origem francesa e católica reside na província de Quebec, a leste do território.
Por causa das especificidades da língua, da cultura e das instituições próprias de Quebec, da década de
1980 até metade da década de 1990, o país discutiu a proposta de emancipação da província, impulsionado
por iniciativa de grupos franceses. Foram realizadas consultas populares para verificar a aceitação da sepa-
ração, porém a maior parte dos próprios cidadãos de Quebec rejeitou a proposta. Entretanto, o processo
resultou em mais autonomia político-administrativa à província, que se mantém integrada ao restante do
Canadá.
Já nos Estados Unidos, é importante lembrar, o modelo de colonização de povoamento foi praticado na
porção norte das treze colônias, enquanto nos territórios do sul o modelo de colonização implementado foi
o de exploração.
A independência dos Estados Unidos no fim do século XVIII deu mais autonomia ao país, inspirando pro-
cessos de independência no continente americano (Doutrina Monroe, 1823). Já o Canadá permaneceu como
província do Reino Unido até 1931, apesar de ter obtido autonomia parcial em 1867.
A partir do século XIX, ambos os países iniciaram uma expansão territorial em direção ao oeste, ocupan-
do as planícies centrais com cultivos intensivos, explorando os recursos naturais disponíveis (petróleo no sul
dos Estados Unidos e madeira das coníferas no norte do Canadá) e desbravando caminhos entre as monta-
nhas em direção à costa do oceano Pacífico (sobre a expansão dos Estados Unidos, veja o mapa da página ao
lado). As estratégias de estímulo à imigração, a implantação de ferrovias, estradas e linhas de comunicação e
a apropriação violenta de terras dos indígenas nativos por parte dos produtores rurais são outros pontos em
comum na história da formação territorial dos dois países.

CHRISTIE'S IMAGES/BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


O progresso americano (1872),
de John Gast. Óleo sobre tela,
32 cm × 43 cm. Nesta obra, o
pintor faz uma representação do
chamado “progresso americano”
e da ideia do desenvolvimento
dos Estados Unidos, à direita,
e do “atraso” econômico e
tecnológico dos povos nativos
(indígenas), à esquerda. Além
disso, expõe a transformação
que essa intervenção produzia
por onde passava. O processo
de ocupação territorial gerou
enorme impacto negativo nas
comunidades indígenas nativas,
que foram reduzidas em número
e em expressão cultural.

358
Para chegar à atual formação dos Estados Unidos, entre os séculos XVIII e XX, houve negociação e com-
pra de territórios do Reino Unido, da Espanha, da França e da Rússia (de quem os Estados Unidos compraram
o Alasca) e anexação de territórios do México e do Japão (como o Havaí).

Estados Unidos: expans‹o territorial

CANADÁ

OREGON
(cedido
pela Inglaterra
em 1846)

LOUISIANA
(comprada
da França
em 1803)
Adquirido no
ARIZONA, NEVADA,
Tratado de AS ANTIGAS
CALIFÓRNIA E
Versalhes TREZE
NOVO MÉXICO
em 1783 COLÔNIAS
(cedidos
pelo México
em 1848)

GEOGRAFIA
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO TEXAS
(anexado
PACÍFICO
em 1845)
FLÓRIDA
Comprado (comprada
do México da Espanha
em 1853 em 1819)
Golfo do
Tróp México
ico d
e Cânce
r

M—dulo 20
ALASCA (comprado da Rússia em 1867) MÉXICO
150° O

HAVAÍ (anexado entre 1898-1959)


Lihue 158º O OCEANO
PACÍFICO
Waipahu Kaneohe
ALASCA
Honolulu
Wailuku
60°
N N N N
Juneau
20º N

0 745 0 165 Hilo 0 315

km km 100º O km

FONTE: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 132. Adaptado.
BETTMANN/GETTY IMAGES

No fim do século XIX e início do sé-


culo XX ocorreram intensos fluxos migra-
tórios partindo principalmente da Euro-
pa e da Ásia. Canadá, Brasil, Argentina
e Austrália foram alguns dos países que
mais receberam imigrantes no período.
Contudo, a maioria dos imigrantes di-
rigiu-se para os Estados Unidos atraída
pelas oportunidades de emprego e de
negócios, o que garantiu uma ocupação
América Anglo-Saxônica

territorial mais efetiva do país.

Família em frente ao vagão


coberto em que viviam e
viajavam diariamente durante
sua busca por uma propriedade.
Nebraska, Estados Unidos, 1886.

359
O fluxo de imigrantes garantiu mão de obra para os setores
Estados Unidos:
econômicos que se desenvolviam: agricultores para povoar o imigração (1820 -1860)
centro-oeste do país (atraídos pelo Homestead Act), operários
Milhares
para o setor industrial e mão de obra barata (e inventiva) para o 450
427 833
setor terciário. Entretanto, já no começo do século XX iniciaram-
400
-se as políticas de restrição à imigração nos Estados Unidos, em 371 603
350 369 980
grande parte por pressão dos sindicalistas das maiores cidades
do país, que não queriam que esses trabalhadores, vindos prin- 300

cipalmente da Europa, disseminassem ideais de organização 250 Total de imigrantes


registrados em cada ano
trabalhista que pudessem prejudicar o crescimento da indústria 200
200 877
estadunidense implantada na segunda metade do século XIX.
150
114 371 153 640
100
84 066
50
23 322
FONTE: U. S. Census Bureau. Historical Statistics of the 8 385
United States, Colonial Times to 1970. Disponível em:
<www.census.gov/library/publications/1975/compendia/ 1820 1830 1840 1850 1860
hist_stats_colonial-1970.html>. Acesso em: 15 fev. 2017.

COMPREENDENDO MELHOR

Homestead Act
Como vimos no Módulo 12, o Homestead Act, ou Ato de Propriedade Rural, em uma tradução livre, foi uma lei
criada pelo governo estadunidense em 1862 que determinava a transferência do título de propriedade de terras,
na ordem de aproximadamente 0,5 hectare de dimensão (pequena propriedade), sendo estas devolutas, para o
produtor rural (imigrante ou não), mediante a contrapartida de produzir durante cinco anos ininterruptos e contribuir
para a colonização nas regiões de expansão da fronteira para o oeste. Esse modelo, além de ter atraído milhares de
imigrantes para as regiões recém-anexadas, possibilitou a ocupação e o desenvolvimento do território.
RICK WILKING/REUTERS/LATINSTOCK

A composição da matriz demográfica dos


Estados Unidos também é marcada pelos mi-
lhões de afrodescendentes do país, a maioria
descendente de africanos escravizados, leva-
dos, no período colonial, para o sudeste do
território, onde prevalecia uma economia de
plantations. Ali, a economia colonial nos mol-
des espanhol e português trouxe importan-
tes consequências para a região, como maior
concentração de população negra e desigual-
dade social mais elevada.

Alagamento decorrente da passagem do furacão Katrina,


em Louisiana, nos Estados Unidos, em 2005.
Os estragos causados pelo furacão evidenciaram a ainda
grande desigualdade entre negros e brancos em New
Orleans. Após a tempestade, que deixou mais
de 1 800 mortos e quase 1 milhão de desabrigados, um
grupo de empresários elaborou um plano de reconstrução
para a cidade. Na época, somente quem arcasse com os
custos da reconstrução da casa poderia regressar aos locais
devastados, o que fez com que muitos negros acabassem
apartados da cidade, por não disporem desses recursos.

360
Com o fim da escravidão em 1863, muitos dos trabalhadores negros

GEORGE RINHART/CORBIS/GETTY IMAGES


libertos buscaram ocupação nos estados do norte, do centro e do oeste
dos Estados Unidos, onde a discriminação racial era menos evidente que
nos estados do sul. Nestes, mesmo após o fim da escravidão, foram ado-
tadas leis segregacionistas, determinando espaços separados para bran-
cos e para negros (o Tennessee foi o primeiro estado a promulgar uma
lei assim nos Estados Unidos) e propiciando o fortalecimento de grupos
extremistas e reacionários, como a seita Ku Klux Klan, que se manifestava
contra o direito de igualdade dos negros na sociedade.
A diversidade cultural e étnica dos Estados Unidos – e do Canadá –
se explica pelo fluxo populacional composto de europeus, africanos, la-
tino-americanos e asiáticos que para lá afluíram em momentos históricos
diferentes e por motivos distintos.
O melting pot [caldeirão cultural] foi a primeira metáfora usada para
designar a sociedade estadunidense, formada por elementos diferentes,
mas que, juntos, se transformaram em um conjunto do qual surgiu uma A Ku Klux Klan, criada no final da década de 1860, se
noção de identidade nacional comum. Atualmente, o termo multicultu- caracterizava por perseguir não apenas negros, mas
também católicos, judeus e imigrantes, em nome de uma
ralismo traduz uma sociedade com ideais e valores comuns, mas que “purificação” racial e cultural. Foi combatida no final do

GEOGRAFIA
valoriza e preserva heranças culturais distintas, promovendo uma coe- século XIX, mas ganhou grande notoriedade do início do
século XX até a década de 1960, quando foi novamente
xistência ao menos razoavelmente pacífica, mesmo com a presença de combatida e praticamente extinta, não só pela ascensão
dos ideais dos direitos humanos e dos direitos civis das
determinados conflitos e contradições. O multiculturalismo no Canadá é minorias nos Estados Unidos, mas também graças ao
um bom exemplo para ilustrar essa ideia. grande apelo à extinção de movimentos extremistas
radicais semelhantes ao nazifascismo europeu.

M—dulo 20
COMPREENDENDO MELHOR

O multiculturalismo canadense

A base de um Canadá multicultural remonta ao princípio da sua história. A sociedade aborígine era mul-
ticultural e multilingual. Os primeiros exploradores franceses e ingleses que chegaram ao Canadá nos séculos
XVI e XVII integraram-se com as Primeiras Nações a fim de construir uma herança canadense única.
Durante as últimas décadas do século XIX e no limiar do século XX, muitos povos do leste e do norte
europeu imigraram para o Canadá em busca de terra e liberdade. Nesse mesmo período, um grande nú-
mero de chineses e sul-asiáticos também chegaram ao Canadá para trabalhar em minas, ferrovias ou em
indústrias de serviços.
Povos do mundo todo estabeleceram-se no Canadá, tornando-o um país verdadeiramente multicultu-
ral. Em 1991, mais de 11 milhões de canadenses (inclusive os aborígines), ou 42% da população do país,
declararam ter pelo menos alguma outra origem étnica que não fosse a inglesa ou a francesa. Entre os
maiores grupos estão os alemães, os italianos, os ucranianos, os holandeses, os poloneses, os chineses, os
sul-asiáticos, os judeus, os caribenhos, os portugueses e os escandinavos. [...]
O sistema de ensino canadense teve de ser criativo no sentido de corresponder à diversidade cultural
do povo. Mais de 60 línguas são faladas por mais de 70 grupos étnicos espalhados pelo país. Muitas es-
colas têm alunos de mais de 20 etnias. Em Toronto e Vancouver, mais da metade dos alunos de escolas
América Anglo-Saxônica

públicas fala outra língua além do inglês ou francês.


Os programas de ensino multiculturais e antirracistas desafiam o sistema educacional em todos os
níveis a se adaptar à diversidade da população, assegurando igualdade e abrangência. Nas escolas, os
professores conduzem os alunos a um entendimento e apreciação de outras culturas.

361
A instrução da “língua-herança” é acessível em muitas comunidades e, em algumas províncias e co-
munidades, as escolas as ensinam. O governo federal financia projetos designados a promover abordagens
inovadoras ao ensino dessas “línguas-heranças” e também apoia o desenvolvimento dos recursos canaden-
ses, habilidade e materiais didáticos para as escolas de ensino de “língua-herança”.
ROBERTO MACHADO NOA/LIGHTROCKET/GETTY IMAGES
Além disso, o governo tem
programas destinados à promo-
ção da mudança institucional
do sistema de ensino, pesquisa
multicultural e de história das
etnias e outras fontes documen-
tárias, e também ao desenvol-
vimento de cursos e a criação
de disciplinas de estudo sobre
multiculturalismo nas universi-
dades canadenses. [...]
Embora a história do Cana-
dá relate exemplos de injustiças
em relação às minorias, os cida-
dãos canadenses, as instituições
e governos estão trabalhando
ativamente no sentido de elimi-
nar essas discriminações.
A fim de permitir que todos
os membros da sociedade ca-
nadense exerçam totalmente e
com igualdade os seus direitos
de cidadania, responsabilidades
A imigração internacional tem um papel importante na composição e no e privilégios, o Canadá desen-
crescimento demográfico do Canadá. Em 2015, o país recebeu 271 700
imigrantes, segundo dados da agência governamental Statistics Canada. volveu programas e leis concre-
tas e avançadas.
Em julho de 1988, o governo do Canadá reconheceu e prestou homenagem à face mutante do país
em uma legislação desbravadora, o Ato de Multiculturalismo do Canadá. O Ato declara que todo cidadão,
não importando a sua origem, tem chances iguais de participação em todos os aspectos da vida coletiva
do país. A legislação se destina a “encorajar” e assistir as instituições sociais, culturais, econômicas e
políticas do Canadá a serem tanto respeitosas como abrangentes em relação ao caráter multicultural do
Canadá. O Ato também deu ao governo a responsabilidade de promover o multiculturalismo através de
seus departamentos e agências. [...]
CANADÁ Internacional. O multiculturalismo canadense. Disponível em: <www.canadainternational.gc.ca
/brazil-bresil/about_a-propos/culture.aspx?lang=por>. Acesso em: 3 jan. 2017.

A identidade nacional dos Estados Unidos também é fortemente marcada pelos ideais relacionados ao
liberalismo econômico e ao individualismo. A democracia representativa bem consolidada e o federalis-
mo estadunidense são reflexos desses valores que se manifestam até os dias de hoje.
Com quase dois séculos e meio de tradição democrática, as forças políticas do país convergem basica-
mente para dois grandes partidos políticos, o Republicano e o Democrata.

362
Estados Unidos: espaço, economia e política
Uma conjunção de fatores influenciou a expansão econômica dos Estados Unidos ao longo de sua his-
tória. A disponibilidade de mão de obra imigrante, os ideais econômicos, o estímulo à iniciativa privada, a
abundância de recursos naturais e o senso de oportunidade criaram um cenário de crescimento e diversifica-
ção econômica nos Estados Unidos ao longo do século XIX.
A distância espacial em relação à Europa e as políticas protecionistas resguardaram o mercado interno esta-
dunidense para os empresários nacionais. A geopolítica agressiva do país nas Américas manteve diversos países
vizinhos subordinados e dependentes. As imensas jazidas de petróleo nos territórios conquistados do México (por
exemplo, o Texas) e da Rússia (Alasca) contribuíram para a ascensão econômica do país na virada do século XX.
Na década de 1920, com as economias abaladas pela Primeira Guerra Mundial, os países europeus mais
afetados tornaram-se grandes consumidores de produtos estadunidenses e credores de capital. A crise eco-
nômica provocada pela quebra da Bolsa de Nova York em 1929 (estudada no Módulo 7 do Caderno 2),
causada pela combinação de superprodução e subconsumo, determinou a grande depressão econômica do
período e exigiu medidas políticas drásticas, implementadas pelo presidente estadunidense Franklin Delano
Roosevelt e sintetizadas pela política keynesiana no New Deal. O keynesianismo garantiu uma forte recupe-
ração econômica pautada no modelo de produção fordista e no Estado de Bem-Estar Social, que garantiu
um grande avanço nas condições sociais do país.

GEOGRAFIA
Estados Unidos e o pós-Segunda Guerra Mundial
Com a expansão econômica e militar que antecedeu o conflito e que se manteve nos anos posteriores,
os Estados Unidos ampliaram seu domínio no pós-Guerra, tornando-se a mais poderosa nação do mundo.
Cabe lembrar que o território dos Estados Unidos não foi palco da guerra, ou seja, o país não passou pelos
problemas derivados do conflito, como a destruição de sua infraestrutura, por exemplo. A partir do final dos

Módulo 20
anos 1940 e em toda a década de 1950, a produção industrial estadunidense cresceu significativamente, con-
solidando ainda mais o setor no contexto da produção industrial mundial.
No plano político, os Estados Unidos marcavam sua liderança assumindo o papel de “protetor do mundo
capitalista”. O Plano Marshall (1947), reflexo da Doutrina Truman, que defendia a necessidade de deter o
avanço do socialismo, a criação da Otan (aliança militar entre os países capitalistas da Europa e os Estados
Unidos) em 1949, o investimento maciço na indústria bélica e o acordo de

GRAPHICAARTIS/GETTY IMAGES
Bretton Woods, que na prática colaborou para que o dólar fosse utilizado
como moeda universal para as trocas comerciais, ajudaram a consolidar a
liderança política e econômica estadunidense.
No plano cultural, o american way of life se difundia por meio da literatu-
ra, de jornais, de revistas, do cinema e dos seriados de televisão, que propa-
gavam uma imagem de prosperidade das famílias estadunidenses. Foram três
décadas em que se estabeleceram o modelo produtivo fordista e o conceito
do american way of life, segundo o qual a felicidade era alcançada por meio
da aquisição de bens materiais e pautada na ideia do “ter”, e não do “ser”. O
consumo de bens passou a ser o centro do nosso modelo de vida. A indústria
cultural, o cinema e a TV, com seus filmes e seriados, foram cruciais para a difu-
são e a consolidação desse modelo.
América Anglo-Saxônica

A propaganda, que trazia elementos como a felicidade e a


prosperidade em família em torno das conquistas pessoais e do
consumo (estimulando a compra de eletrodomésticos, por exemplo)
e que por vezes era associada à fartura de alimentos, muitos deles
industrializados, foi largamente utilizada como instrumento de
propagação dos ideais de consumo e das características culturais
estadunidenses. Esse modelo passou a servir de exemplo em todas as
partes do mundo e consolidou a influência dos Estados Unidos.

363
O modelo de Estado e de produção que se desenvolveu nos Estados Unidos nos anos 1930, o Estado
de Bem-Estar Social e o fordismo se propagaram pelo mundo capitalista, principalmente nos anos posterio-
res à Segunda Guerra Mundial. Dessa forma, o crescimento da produção, bem como a melhora de vida do
trabalhador, fruto desse modelo, espalhou-se pelo mundo capitalista. A Era de Ouro (anos 1950 e 1960) não
foi de crescimento exclusivamente dos Estados Unidos, mas da economia mundial como um todo. Durante
o ciclo de expansão econômica do segundo pós-Guerra (1947 a 1973), a poupança média por habitante do
país passou de 1,8 mil dólares para 7,4 mil dólares. No contexto global, iniciou-se uma nova fase no capita-
lismo, com a internacionalização da economia – por meio das multinacionais – e a segunda fase da divisão
internacional do trabalho.
O que aconteceu nos Estados Unidos a partir da lógica fordista – os capitalistas (empresários e industriais)
“aceitaram” conceder aumentos salariais que afastavam a classe operária dos ideais do comunismo, transfor-
mando-os em consumidores – ocorreu com as potências europeias e com o Japão. Os Estados Unidos, em
vez de inundar esses países com produtos estadunidenses, atuaram promovendo a restauração deles, finan-
ciando a recuperação da indústria e aceitando até certo nível de competição. O objetivo era criar mercados
prósperos e, principalmente, anticomunistas.
No plano social, os anos 1950 e 1960 foram fundamentais também para a construção e o fortalecimento
de movimentos sociais e pela luta dos direitos civis. A maior inserção no mercado de trabalho e o uso da
pílula anticoncepcional mudaram o papel da mulher na sociedade. Com o fortalecimento do movimento
feminista, houve redução da diferença salarial entre homens e mulheres e ampliação da participação política
feminina, com maior número de mulheres eleitas para os parlamentos em diferentes instâncias (federal, esta-
dual e municipal). Nesse mesmo período, o movimento negro, com Martin Luther King Jr., pastor protestante
e ativista político, e Malcom X, líder militante, entre outros, lutava pelo fim do segregacionismo nas escolas
e pela real igualdade na sociedade estadunidense, o que colaborou para o surgimento de ações afirmativas.
A questão racial ainda hoje é um tema importante a ser debatido nos Estados Unidos. Segundo dados
da própria polícia estadunidense, os negros têm três vezes mais chances de serem mortos por policiais do
que os brancos. Essa possibilidade é até cinco vezes maior em casos de morte em que a vítima não estava
armada. Ainda de acordo com a entidade, os negros representam 26% dos mortos por policiais, apesar de a
proporção deles na sociedade estadunidense ser de 12%. Isso deixa claro o grave problema que os negros
ainda enfrentam no país, o que gera conflitos e disputas, como os ocorridos em 2012 e 2013, após a absol-
vição de um segurança branco, autor dos disparos que mataram o adolescente negro de 17 anos Trayvon
Martin, na Flórida. O caso gerou grande comoção nos Estados Unidos e motivou uma série de conflitos entre
grupos ligados aos direitos dos negros e a polícia em várias partes do país.
DAVID FENTON/GETTY IMAGES

JOE KLAMAR/AFP

À esquerda, grupo de mulheres marcha nas ruas de New Haven em apoio aos Panteras Negras, um dos movimentos mais importantes na luta por
igualdade para os negros nos Estados Unidos, 1969. Na foto à direita, protesto em Los Angeles em 2012: a morte de Trayvon Martin marcou o início
de uma série de protestos nos anos seguintes contra assassinatos de negros em circunstâncias consideradas racistas. O caso inspirou a criação do
movimento Black Lives Matter (“A vida dos negros importa”, em tradução livre), que luta contra a violência policial e as condições econômicas, sociais
e políticas adversas enfrentadas por negros nos Estados Unidos.

364
O fim da “Era de Ouro”
Nos anos 1960, principalmente a partir da segunda metade da década, o modelo fordista começou a
apresentar problemas, que se agravaram nos anos 1970, marcando o esgotamento desse modelo. Entre os
problemas enfrentados estavam:
• a elevação contínua dos salários, fruto do fortalecimento das políticas keynesianas e dos movimentos
sindicais;
• a estagnação do consumo;
• a elevação do preço do petróleo – resultado das duas crises do petróleo vividas nos anos 1970;
• a redução do lucro;
• no caso estadunidense, ainda podem ser destacados o aumento da competição com os produtos japone-
ses e o contínuo e crescente gasto militar com conflitos decorrentes da Guerra Fria (por exemplo, a Guerra
do Vietnã).

Anos 1980: a Era Reagan


A década de 1980 foi marcada pelo discurso neoliberal. Os governos de Ronald Reagan (de 1981 a 1988),
nos Estados Unidos, e de Margaret Thatcher (de 1979 a 1990), no Reino Unido, atestam o avanço do pensa-

GEOGRAFIA
mento e das práticas neoliberais, apontados como a solução para a crise. Nas palavras do próprio Reagan,
“o Estado não é a solução, mas o problema”.
No plano econômico, os Estados Unidos assistiram ao avanço da economia japonesa, que conquistava
mercados e ameaçava a hegemonia estadunidense. A ascensão japonesa foi consequência,
em grande parte, do desenvolvimento tecnológico e do refreamento dos gastos militares.
O governo do republicano Reagan foi marcado pela adoção das políticas neoli-

Módulo 20
berais. Em um primeiro momento, impostos foram cortados; a regulamentação do
Estado sobre a economia foi reduzida; a carga tributária das grandes empresas foi di-

G E TTY I M A GE S
minuída; houve restrição de gastos sociais e, ao mesmo tempo, aumento dos gastos
bélicos; acordos de livre-comércio foram negociados em nível internacional. Reagan,
invocando a liberdade da decisão individual dos cidadãos em lugar da sujeição às

M P I/
imposições do Estado, criticou e impôs uma política de cortes aos programas sociais
e econômicos voltados para a saúde e o bem-estar social de trabalhadores e da po-
pulação mais pobre.
No plano cultural, o governo Reagan foi marcado pelo conservadorismo e pela
tentativa de resgatar os “verdadeiros” valores estadunidenses. A sociedade foi to- O slogan de campanha do presidente
Ronald Reagan em 1980 – “Vamos fazer
mada por um sentimento religioso radical, com base cristã, que combateu o feminis- a América grande de novo” – também
mo, o movimento homossexual, as clínicas de aborto, o divórcio e até o ensino da foi usado pelo candidato republicano
à Presidência dos Estados Unidos em
teoria da evolução nas escolas. 2016, Donald J. Trump. A ideia de que
os republicanos são os que conseguem
O governo seguinte, do também republicano George H. Bush (de 1989 a 1992), sintetizar o espírito estadunidense
representou a continuidade dessas políticas. de grandeza e de influência mundial
permanece até os dias atuais.

Anos 1990: a Era Clinton


O presidente democrata Bill Clinton, cujo mandato teve início em 1993, pôs fim a doze anos de domínio
América Anglo-Saxônica

republicano. Entretanto, seu governo deu continuidade a algumas políticas neoliberais implementadas por
seus antecessores, mantendo a redução de impostos e o aumento dos gastos bélicos. A famosa frase dita
por Clinton, em 1996, “a era do governo grande acabou”, dava claro sentido à ideia de um Estado mais
enxuto em seus gastos gerais, principalmente nos setores sociais, como educação e saúde. Apesar da queda
do desemprego no período, a desigualdade social no país cresceu.

365
MARK REINSTEIN/CORBIS/GETTY IMAGES

Seu governo, que se estendeu até 2000, foi marcado pela recuperação
econômica do país, tendo como principais fatores favoráveis:

• a crise de seu maior concorrente comercial até então, o Japão, que entrou
em um período de recessão que durou mais de uma década;
• a dissolução do maior rival político da história estadunidense, a União So-
viética. O bloco soviético se fragmentou ainda no governo de George H.
Bush, mas o governo Clinton foi o grande favorecido por esse processo;
• a aprovação do Nafta, acordo de livre-comércio entre Estados Unidos,
México e Canadá, firmado em 1993, que garantiu a expansão do mercado
e a consolidação da economia estadunidense no continente;
O então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton
(ao centro), com o primeiro-ministro de Israel, • o avanço na área da informática, principalmente no mercado virtual.
Yitzhak Rabin (à direita), e o rei Hussein da Jordânia
(à esquerda), durante a assinatura do acordo de paz As empresas estadunidenses foram as primeiras a investir maciçamen-
entre Israel e Jordânia, o qual encerrou oficialmente te na internet como um mercado;
46 anos de guerra declarada. Um legado importante
de Clinton foi seu papel ativo na promoção da paz • a adequação da economia estadunidense à evolução do capitalismo, da-
e da estabilidade em áreas de conflito pelo mundo.
Washington, Estados Unidos, 1994. das as grandes mudanças no regime de acumulação do capital (impostas
pela readequação da produção no pós-fordismo – menos rígida e sem
estoques), e o avanço da teleinformática e dos transportes. O predomínio
do capital financeiro, das bolsas e dos fundos de investimentos contribuiu
para a ampliação da internacionalização da economia.
Esses fatores foram preponderantes para que o PIB crescesse e o desemprego caísse durante a gestão
de Clinton, o que acabou sendo decisivo para sua reeleição em 1996.
No cenário internacional, o governo Clinton foi marcado por uma ética baseada na defesa dos direitos
humanos e da ecologia (seu governo assinou o Protocolo de Kyoto em 1997, porém vinte anos depois o
acordo ainda não havia sido ratificado) e no combate ao narcotráfico. As intervenções militares ocorreram na
Somália, na Bósnia, no Iraque, no Sudão e no Afeganistão e reafirmaram a posição hegemônica dos Estados
Unidos em termos bélicos no novo panorama mundial multipolar pós-Guerra Fria. O governo Clinton atuou
como intermediário no processo de paz no Oriente Médio (Acordos de Oslo) e na questão da Irlanda do
Norte, pressionando os atores envolvidos a assinar os acordos. Foi, ainda, responsável por certa aproximação
diplomática com os governos de Cuba e da Coreia do Norte.

A Era George W. Bush


A eleição de George W. Bush (filho de George H. Bush) foi uma das mais
complicadas da história dos Estados Unidos, uma vez que ele não recebeu
a maioria dos votos populares, mas venceu pelo voto dos colégios eleito-
JASON REED/REUTERS/LATINSTOCK

rais, de forma indireta. Surgiram diversas acusações de fraude no estado da


Flórida durante o pleito presidencial, o que colocou em xeque sua vitória.
Mesmo assim, em 2001, os republicanos voltaram ao poder.
Seu governo reeditou o velho conservadorismo dos republicanos e
foi além. Inaugurou uma nova doutrina, marcada pelo expansionismo,
pela visão unilateral, pela acentuação do militarismo, tudo isso envol-
Durante seu segundo mandato como presidente dos
Estados Unidos, George W. Bush recebeu pesadas to por um discurso neoliberal. Chamada de Doutrina Bush, ela foi im-
críticas por sua má administração na área econômica, plementada no contexto do pós-atentado de 11 de setembro de 2001,
por suas ineficazes ações para socorrer as vítimas
do furacão Katrina, em 2005, e pela controversa quando, em nome da segurança nacional, liberdades individuais dos es-
Guerra do Iraque. Na foto acima, de 2007, Bush faz
visita-relâmpago às tropas estadunidenses na base tadunidenses foram violadas, subordinadas à segurança nacional. Nesse
aérea de Al-Asad, Iraque, com ampla cobertura contexto, o Ato Patriota mostrou-se fundamental para a implementação
da imprensa dos Estados Unidos, na tentativa de
recuperar a popularidade do primeiro mandato. da Doutrina Bush.

366
COMPREENDENDO MELHOR

Ato Patriota

O Ato Patriota é uma lei dos Estados Unidos que foi aprovada após os ataques terroristas de 11 de
setembro de 2001. Seus objetivos são reforçar a segurança interna e aumentar os poderes das agências
de cumprimento da lei para identificar e parar os terroristas. A aprovação e a renovação do Ato Patriota
foram extremamente controversas. Os defensores afirmam que ele foi útil em uma série de investigações
e prisões de terroristas, enquanto os críticos dizem que o ato proporciona muito poder ao governo, ameaça
os direitos civis e prejudica a própria democracia que pretende proteger. Vamos dar uma olhada no que é
o Ato Patriota, nos apoios e críticas por trás dele e ver se o Ato está realmente funcionando.

Principais cláusulas do Ato Patriota


A medida geral do Ato Patriota é unir e fortalecer a América do Norte fornecendo as ferramentas apro-
priadas, necessárias para interceptar e obstruir atos terroristas, como o de 2001. O Ato Patriota é dividido
em 10 partes e abrange muitos assuntos. Eis um resumo.
Medida I – esta seção diz respeito à proteção dos direitos civis. Autoriza o uso de dinheiro federal
para cumprir as cláusulas do ato e permite que o Serviço Secreto crie uma força tarefa eletrônica nacio-
nal contra o crime. Esta seção também confere ao presidente a autoridade de confiscar a propriedade de

GEOGRAFIA
qualquer estrangeiro suspeito de ter ajudado em uma guerra ou ataque contra os Estados Unidos. Tais
apreensões podem ser enviadas secretamente para tribunais como evidências.
Medida II – esta seção aumenta o poder das agências de cumprimento da lei para fazer vigilância
em “agentes de poderes externos”. Isto autoriza a intercepção das comunicações se eles estiverem ligados
com atividades terroristas e permite que as agências de cumprimento da lei compartilhem informações
relacionadas às atividades terroristas com autoridades federais. Além disso, a Medida II autoriza a vigilância
móvel, ou seja, uma ordem judicial que permite a vigilância de uma determinada pessoa também autoriza

M—dulo 20
os oficiais a usar quaisquer meios disponíveis para interceptar a comunicação dessa pessoa, independente
de onde ela vá. Anteriormente, uma ordem judicial apenas permitiria uma escuta telefônica em uma linha
específica de um único lugar. Além disso, permite que o governo peça os arquivos para os fornecedores de
serviços de comunicação com os detalhes sobre o uso específico do serviço pelo cliente. Por exemplo, um
provedor de internet pode ser intimado a fornecer informações sobre endereços IP, horas em que foram
feitas as conexões e os sites visitados. A Medida II também permite a notificação atrasada de mandados de
busca, ou seja, a casa de um suspeito pode ser investigada enquanto ele não está presente, e o suspeito só
seria notificado da busca depois que ela já tivesse sido realizada. A abrangente Medida II possuía muitas
outras cláusulas relativamente menos importantes. A Medida II também possuía a cláusula de suspensão,
que faria com que muitas das disposições do ato expirassem em 2005 se não tivessem sido renovadas. [...]
GRABIANOWSKI, Ed. Como funciona o Ato Patriota. Como tudo funciona? Disponível em:
<http://pessoas.hsw.uol.com.br/patriot-act.htm>. Acesso em: 20 fev. 2017.

A política externa dos Estados Unidos durante o governo de George W. Bush adotou um tom austero
poucas vezes visto anteriormente na História. A todo instante, buscou-se focar apenas nos interesses estaduni-
denses. Por exemplo, no plano ambiental, o Protocolo de Kyoto, como já apontado, não foi ratificado, apesar
de ter sido assinado em 1997 por Bill Clinton, representando um grande retrocesso na questão do combate às
mudanças climáticas em curso no planeta. Aos poucos, todas as agendas internacionais de debate foram sendo
América Anglo-Saxônica

deixadas de lado e seguiu-se uma tendência imperialista em seus dois mandatos (de 2001 a 2009).
Como dito, essa tendência se acentuou após os atentados de 11 de setembro. O governo Bush iniciou uma
campanha militar contra o Afeganistão, acusado de abrigar Osama bin Laden, líder da organização Al-Qaeda
responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001, e o Iraque. Com base em informações que não foram
confirmadas até hoje, foi propagandeada a necessidade de combater as políticas iraquianas, que supostamen-
te apoiavam ações terroristas no mundo e teriam financiado os atentados de 11 de setembro de 2001.

367
Durante a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, atrocidades foram cometidas, e os gastos militares au-
mentaram exorbitantemente, assim como o número de soldados estadunidenses mortos em combate (mais
do que em toda a Guerra do Vietnã). Esses e outros fatores contribuíram para que o apoio inicial ao governo
Bush – mesmo após sua reeleição, impulsionada pelo temor da população de que novos ataques terroristas
ocorressem, e por se colocar como o melhor candidato para proteger o país – se transformasse em forte
rejeição, tanto internamente como no exterior.
No plano econômico, o governo Bush passou pelo início da crise econômica de 2008 e 2009, também
chamada de crise do subprime, que ocorreu em virtude da omissão do Estado diante da grande escalada
especulativa no setor imobiliário do país.

COMPREENDENDO MELHOR

A crise do subprime
A crise americana teve início com a inadimplência nas hipotecas de alto risco (subprime). Como os
juros americanos permaneceram baixos por muito tempo (em 2003, a taxa anual era de só 1%), clientes
sem boa avaliação de crédito passaram a ser atendidos pelos bancos, em busca de lucro maior. As hipo-
tecas subprime têm taxas pós-fixadas. Então, quando os juros nos EUA começaram a subir (chegaram a
5,25% ao ano em 2007, hoje estão em 2%), cresceu a inadimplência.
A partir daí, houve um efeito cascata: bancos que tinham comprado títulos lastreados na subprime
registraram fortes prejuízos, assim como as gigantes do setor de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac.
Estimam-se em mais de US$ 500 bilhões as perdas do mercado financeiro.

As empresas
Como começou a crise Fannie Mae e Freddie Mac
1 IMÓVEIS VALORIZADOS 2 TÍTULOS LASTREADOS são consideradas empresas “pa-
Com juros baixos e crédito farto, os preços dos Para captar dinheiro, os bancos criaram instrumentos
00 raestatais”. Ambas são privadas,
$5 0 imóveis nos EUA tiveram forte valorização, financeiros complexos chamados títulos lastreados em
US 1.00 encorajando mutuários a refinanciar suas
S $ hipotecas (uma espécie de nota promissória garantida pelas
U hipotecas. Os bancos davam aos mutuários uma hipotecas) e venderam para investidores que também com papéis negociados em bolsa,
diferença em dinheiro, utilizada pra consumir. emitiram seus próprios títulos lastreados nesses títulos e
passaram-nos para frente, espalhando-os por todo o sistema
bancário.
mas têm US$ 2,25 bilhões, cada,
=
em linhas de crédito subsidiadas
BA
NC
O pelo governo. Graças a esse apoio
governamental, cresceram muito
nos últimos anos. Fannie e Freddie
não emprestam dinheiro direta-
Títulos Outros investidores
mente aos consumidores, e sim
Mutuário Bancos Bancos
compram hipotecas de bancos.
3 JUROS ALTOS E QUEDA DOS PREÇOS 4 PERDA DOS BANCOS Juntas, detêm cerca de US$ 5
As taxas de juros começaram a subir para combater a
inflação enquanto os preços dos imóveis passaram a cair,
Além dos prejuízos com a inadimplência,
os bancos tiveram fortes perdas com
Crise de confiança
Instalou-se uma
trilhões em hipotecas, metade do
fazendo com que as mensalidades da casa própria os títulos. Os bancos com maiores
ficassem mais caras. A inadimplência disparou e, assim, problemas se viram à beira da falência
grave crise de
confiança e os
volume contratado nos EUA.
os títulos que eram garantidos por essas hipotecas e precisaram da ajuda do governo bancos não
perderam valor. americano. quiseram mais Entenda a crise hipotecária americana. O Globo,
7 set. 2008. Disponível em: <http://oglobo.
= 0 emprestar, com
medo de calotes. globo.com/economia/entenda-crise-hipotecaria-
americana-3832742>. Acesso em: 20 fev. 2017.
00
$5 0 Socorro!
BA
US 1.00
NC C
OO
$ Socorro!
US Socorr
o!

Governo
dos EUA Bancos
Outros investidores
Mutuário Bancos
FONTE: Entenda a evolução da crise que atinge a economia dos EUA. Folha de S.Paulo, 27 maio 2009.
Disponível em: <http://f.i.uol.com.br/folha/dinheiro/images/08274144.gif>. Acesso em: 8 dez. 2016.

368
A Era Barack Obama
A chegada de Barack Hussein Obama à Presidên-

KEN CEDENO/BLOOMBERG/GETTY IMAGES


cia dos Estados Unidos em 2009 foi um marco históri-
co. Em seu discurso de posse, ele definiu claramente
sua origem: “sou filho de um homem negro do Quênia
e de uma mulher branca do Kansas. Fui criado com
a ajuda de um avô negro que sobreviveu à Depres-
são e combateu durante a Segunda Guerra Mundial,
e de uma avó branca que trabalhou em uma linha de
montagem de bombardeiros, em Fort Leavenworth,
enquanto seu marido servia no exterior. [...] Tenho ir-
mãos, irmãs, sobrinhas, sobrinhos, primos e tios de
todas as raças e matizes, espalhados por três conti-
nentes e, por mais que eu viva, jamais me esquecerei
de que em nenhum outro país do planeta minha his- O então presidente Barack Obama (no centro da foto) discursa durante evento
da cerimônia de posse de seu primeiro mandato, em Washington, D.C., nos
tória seria possível”. Estados Unidos, em 2009. Uma multidão de 1,8 milhão de pessoas acompanhou
a cerimônia, número recorde de público entre as posses presidenciais dos
Sua história pessoal já é de extrema relevância em Estados Unidos.

GEOGRAFIA
uma sociedade historicamente controlada por brancos
anglo-saxões. Seu governo assumiu uma postura radicalmente oposta à de seu antecessor, buscando nego-
ciações, respeitando os fóruns internacionais de debate, tendo o meio ambiente como preocupação real e
recuperando a economia americana da crise de 2008-2009. Tendo sido reeleito em 2012, renovou expectati-
vas de como equacionaria a manutenção da hegemonia americana no cenário político-econômico mundial.
Apesar de ser considerado um grande marco na história dos Estados Unidos, o governo Obama teve con-
tradições. Uma das mais importantes promessas feitas nas duas campanhas à Presidência (eleição em 2009 e

Módulo 20
reeleição em 2012) não foi cumprida: o fechamento da prisão na base militar estadunidense de Guantánamo,
em Cuba. Seu fechamento simbolizaria o esforço diplomático no sentido de uma aproximação maior com o
país caribenho, além ser uma resposta às críticas internas e externas com relação aos relatos de violação aos
direitos humanos ocorridos dentro da prisão. Tal promessa foi intensamente combatida pela oposição repu-
blicana no Congresso Nacional e por segmentos da sociedade que se utilizaram sobretudo do argumento
antiterrorismo, já que a prisão é utilizada para a detenção de presos, suspeitos ou autores de atos terroristas
contra os Estados Unidos. Seu governo terminou em 2016, e tal promessa não se cumpriu.
Outra crítica contundente ao governo Obama foi quanto ao escândalo do vazamento de dados sigilosos da
Agência Nacional de Segurança (NSA, em inglês) por um dos seus integrantes, Edward Snowden, que expôs o
sistema de monitoramento e espionagem do governo estadunidense sobre empresas estrangeiras e até mesmo
sobre governos, como o do Brasil e o da Alemanha. A exposição de tais práticas bastante utilizadas após os aten-
tados de 11 de setembro de 2001 causou um grande impasse diplomático nos meses seguintes à crise.
Ainda no plano político, o governo Obama foi duramente criticado e acusado de omissão no combate
ao Estado Islâmico (EI) no território do Iraque e da Síria a partir de 2011. O avanço do grupo ocorreu con-
comitantemente à desocupação das Forças Armadas dos Estados Unidos no território iraquiano no final do
mesmo ano. Contudo, a relação direta entre os dois fatos não é claramente explicada. Deve-se considerar
que a desestruturação do Estado iraquiano, que se deu após a invasão anglo-americana em 2003 e a poste-
rior ocupação militar do país, foi o principal fator para a organização do Estado Islâmico. Porém, a oposição
a Obama considera seu governo o principal responsável pela ascensão do EI.
América Anglo-Saxônica

No plano econômico, seu governo conseguiu contornar a crise econômica herdada do governo de seu
antecessor, George W. Bush, e apresentar uma melhoria geral na retomada da produção industrial e dos
comércios interno e externo, refletindo na queda dos índices de desemprego (em torno de 4,6% de de-
sempregados em 2016, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), um dos menores índices
em dez anos).

369
O espaço industrial estadunidense
Pode-se dividir o espaço industrial estadunidense em duas grandes áreas. Simplificando: a velha área
industrial, atualmente decadente – o chamado Manufacturing Belt –, e as novas áreas industriais, conhecidas
como Sun Belt. Observe o mapa abaixo.

Estados Unidos: espaço industrial


110º O

CANADÁ
Seattle
OCEANO
Grandes
Portland ATLÂNTICO
Lagos
SILICON
FOREST ELECTRONIC
HIGHWAY
Boston N
40º
Detroit SILICON ALLEY
Chicago Nova York
São Salt Lake City
Francisco Filadélfia
Denver Pittsburgh
SOFTWARE Siderúrgica
Cincinnati Baltimore
VALLEY Automobilística
SILICON
VALLEY SILICON St. Louis Aeronáutica
MOUNTAIN Wichita Raleigh Têxtil
RESEARCH Centro industrial
Los Angeles TRIANGLE PARK
Phoenix Tecnopolos
San Diego
Atlanta Petroquímica
Tijuana El Paso
Mexicali Dallas Aeroespacial (Nasa)
SILICON Cabo
PRAIRIE Canaveral
Ciudad Manufacturing Belt dinamizado
OCEANO Juárez
Nova Orleans por indústrias de ponta
PACÍFICO Houston SILICON Dinamismo industrial recente
San Antonio BEACH
Golfo do do Sun Belt e do Oeste
México Indústria montadora
Miami
estadunidense
MÉXICO N
Trópico de Câncer Matamoros Mão de obra mexicana
0 345 Fluxo de investimentos dos
Estados Unidos
km

FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2013. p. 75.

Do Manufacturing Belt ao Rust Belt


O Manufacturing Belt, ou cinturão da manufatura, localiza-se na porção centro-norte da costa atlântica
dos Estados Unidos e foi onde primeiro a indústria se desenvolveu no país. A área tinha condições físicas
favoráveis: havia reservas de carvão mineral e de minério de ferro próximas aos montes Apalaches e nos
Grandes Lagos; os rios São Lourenço e Hudson e os Grandes Lagos favoreciam a integração do território;
além disso, os desníveis existentes entre os rios e lagos foram aproveitados para a construção de barragens
para a produção de energia elétrica. Essa produção energética foi essencial para a expansão industrial, ainda
na época da Segunda Revolução Industrial.
Por ter sido a primeira região a se industrializar, o nordeste foi durante muito tempo o local onde a in-
dústria ficou concentrada. As grandes siderúrgicas distribuíam-se ao redor de Pittsburgh, na Pensilvânia, em
razão da facilidade de recepção de minério vindo de Minnesota e da proximidade do mercado consumidor.
Já Detroit, por localizar-se na região central do país, era propícia para o recebimento de matérias-primas e o
envio dos produtos prontos ao consumidor.
A partir dos anos 1920, com o desenvolvimento do modelo fordista de produção, essa região passou a
ser o grande exemplo de economia de aglomeração, onde nasceram as megalópoles dos Estados Unidos:
Nova York, Chicago, Detroit, Buffalo, Pittsburgh, entre outras.

370
Após a Segunda Guerra Mundial, teve início

ANDREW BURTON/GETTY IMAGES


um conjunto de fatores que levou à estagnação
dessa região. Entre eles, pode-se destacar a mu-
dança do eixo econômico mundial do Atlântico
para o Pacífico, o elevado custo de produção nes-
sa região, o esgotamento de algumas reservas de
carvão e ferro e a própria crise do modelo fordista
de produção. O Manufacturing Belt se tornou en-
tão o Rust Belt, ou seja, o cinturão da ferrugem.
Essa região passou a sofrer um processo
de desconcentração industrial: antigas plantas
industriais foram abandonadas, fábricas foram
fechadas e empregos perdidos. Conforme o
novo padrão espacial, as indústrias começa-
ram a transferir suas atividades para o sul e o
oeste do território e para outros países, como
o México, a Índia e a China, entre outros. Essa
Vista de um bairro industrial de Detroit-Michigan, nos Estados Unidos, em 2013.
busca por novos locais para produção atende à A cidade, que já foi o berço da indústria automobilística do país, hoje sofre com a

GEOGRAFIA
demanda por custos menores de mão de obra decadência econômica iniciada nos anos 1980, chegando a decretar falência em 2013.
e de impostos, acesso maior à tecnologia em tecnopolos, universidades, centros de pesquisa, etc. Cidades
como Dallas, Houston, Phoenix, Atlanta, São Francisco, Los Angeles e Seattle, entre outras, passaram a atrair
um grande número de indústrias nesse novo padrão industrial imposto pela Terceira Revolução Industrial,
formando um cinturão produtivo chamado de Sun Belt.
As grandes cidades do Manufacturing Belt cada vez mais caminham para uma economia pós-industrial,

M—dulo 20
baseada no setor de serviços. Nova York é um bom exemplo dessa nova realidade, pois, apesar de perder
indústrias, se mantém no centro decisório político e econômico dos Estados Unidos.

O Sun Belt
Foi após a Segunda Guerra Mundial que o chamado Sun Belt (cinturão do sol), que engloba as áreas
emergentes do sul e do oeste estadunidense, começou a crescer, impulsionado inicialmente pela mudança
do eixo econômico do Atlântico para o Pacífico e pelo desenvolvimento da indústria bélica (provida pelos
conflitos na Ásia e, posteriormente, pela Guerra Fria), somado ao aumento da exploração de petróleo no
Texas e ao desenvolvimento da indústria aeroespacial na Flórida.
Enquanto nos anos 1960 e 1970 o nordeste apresentava fatores de expulsão de investimentos, o oeste
exercia forte atração, como o crescimento do comércio no Pacífico, a oferta de mão de obra migrante barata
e uma tradição sindical menos consolidada na região.
Essa nova região industrial também é conhecida como Crescente Periférico e pode ser dividida em três
sub-regiões, cujas características são:
• Fronteira mexicana: criação das maquiladoras na fronteira, atraídas pelo baixo custo da mão de obra no
México e pela quase inexistência de organizações sindicais;
• Porção sul e sudeste: desenvolvimento da indústria aeroespacial (Houston); da indústria petroquímica
(Texas e golfo do México); do Silicon Praire (novo tecnopolo em Austin, no estado do Texas);
América Anglo-Saxônica

• Costa oeste: implantação da indústria bélica, que começa a se concentrar na região nos anos 1940 e cuja
produção se intensifica com a Guerra Fria; onde está a megalópole San-San, que engloba Los Angeles e o
Vale do Silício, área mais moderna no setor de informática do mundo, formada em São Francisco e composta
de um conjunto de pequenas localidades onde estão situadas centenas de empresas ligadas ao setor de mi-
croinformática, microeletrônica, robótica, química fina e biotecnologia, associadas a inúmeras universidades.

371
Os Belts agrícolas
Na agricultura, os Estados Unidos seguem o Estados Unidos: principais
mesmo modelo dos Belts industriais: dividir a pro- cintur›es agr’colas
dução agrícola em cinturões de acordo com o po- 90º O
CANADÁ

MONTA
tencial de cada área rural do país considerando o Grandes
Lagos
tipo de clima, a qualidade do solo e do relevo e a

NHA
proximidade de grandes centros consumidores,
40º N

S R
buscando otimizar sua produção. Veja ao lado o

e s
OC
mapa da divisão dos Belts agrícolas nos Estados

c h
HO

l a
Unidos.

S
A

a
OCEANO

p
OCEANO ATLÂNTICO

A
PACÍFICO

Tró Golfo do México


pico
de C
â ncer
N MÉXICO

0 640

km

Cinturão do consumo diário Cinturão das frutas e


culturas subtropicais
Cinturão do trigo
Cinturão das culturas irrigadas
Cinturão do milho
Pecuária extensiva ou
Cinturão do algodão Ranching Belt
Policultura

FONTE: DORLING KINDERSLEY, Dorling Kindersley World Atlas, 2007.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

Estados Unidos: imigra•‹o e desigualdades sociais década de 1920, a maioria dos imigrantes era oriunda da região
do Mediterrâneo, italianos principalmente, e eslavos.
O fenômeno da imigração nos Estados Unidos constitui-se
As causas do expressivo contingente migratório neste perío-
num aspecto muito importante quando se analisa a evolução da
do estão ligadas, na área de origem, à transição demográfica que
população desse país. Só para se ter ideia do volume de pessoas
se verificava no continente europeu, que liberava excedentes de
envolvidas, de 1850 aos dias atuais, entraram nos EUA cerca de
população. Os EUA, por sua vez, atraíam os imigrantes por con-
70 milhões de imigrantes. O Brasil, no mesmo período, recebeu
ta principalmente da abundância de terras disponíveis (região das
uma quantidade de imigrantes cerca de 14 vezes menor.
planícies centrais), da corrida do ouro (Califórnia) e pelo expressivo
A imigração nos EUA durante os últimos 150 anos esteve
crescimento industrial (região nordeste e sul dos Grandes Lagos).
ligada à aplicação de um arsenal jurídico no qual se alterna-
ram fases de maiores facilidades de entradas de imigrantes A segunda fase da onda migratória para os EUA vai de
com outras nas quais os que desejavam se fixar em território 1930 a 1965 e é marcada por diminuição expressiva do nú-
norte-americano encontravam dificuldades quase intranspo- mero de imigrantes. Chegam a essa fase “apenas” 5,5 milhões
níveis para conseguir o seu intento. de imigrantes e, embora os europeus continuem majoritários
Nos últimos 150 anos podem ser identificadas três fases (mais ou menos 50%), canadenses e mexicanos juntos passa-
da imigração. Na primeira delas, entre 1850 e 1930, cerca de ram a representar cerca de 1/3 do total.
38 milhões de imigrantes (aproximadamente 90% deles de ori- As causas dessa queda expressiva do número de imigrantes
gem europeia) chegaram aos EUA. Nessa fase, podem ser estão ligadas à ocorrência das duas guerras mundiais, à crise de
distinguidos dois períodos. O primeiro deles, de 1850 a 1890, 1929 e à implementação das leis de cotas, que freou a entrada
é marcado pela presença maciça de imigrantes originários do de imigrantes, especialmente daqueles originários da porção sul
norte e noroeste da Europa. Desta última data até o final da e leste do continente europeu. Ao mesmo tempo, o número de

372
mexicanos para os EUA aumentou significativamente a partir de Eles se concentram nas regiões sul e oeste dos EUA, com a
1942 por conta do chamado Programa “bracero”, que estimulou preponderância de mexicanos na Califórnia e no Texas, de por-
a vinda de mão de obra agrícola temporária. Muitos desses “bra- to-riquenhos em Nova York, e de cubanos na Flórida. Por conta
ceros” seriam expulsos do país no início da década de 1950. de seu crescimento demográfico e do intenso fluxo migratório,
Na terceira fase, de 1965 até os dias atuais, o número de imi- os hispânicos, por volta de 2010, se tornarão a mais importante
grantes entrados no EUA ultrapassou o número de 25 milhões. minoria dos EUA.
Esta fase é caracterizada pela grande entrada de hispânicos (cer- Os asiáticos, que tiveram seu crescimento triplicado nos
ca de 48% do total) e de asiáticos (35%) e de pequena partici- últimos 25 anos, têm mais de 60% de seu contingente con-
pação de imigrantes de origem europeia (12%). Houve também centrado nas principais cidades dos estados americanos locali-
um grande crescimento da entrada de refugiados e de imigrantes zados juntos à costa do Pacífico. Há um certo consenso entre
clandestinos, mais da metade desses últimos oriundos do México. a maioria branca de que eles representam a imagem de uma
Todo esse grande fluxo de imigrantes foi e continua sendo minoria “modelo” do ponto de vista da integração.
explicado pela combinação de problemas político-econômicos Por fim, os “americanos nativos”, depois de passarem por
e da pressão demográfica nos países subdesenvolvidos e pelo um verdadeiro genocídio durante 5 séculos, estão, devido a sua
expressivo crescimento econômico dos EUA, especialmente alta natalidade, como que “renascendo” demograficamente.
na última década do século XX. Segundo estimativas, em 2010, São encontrados principalmente em reservas indígenas do oes-
cerca de 21% do contingente total da população dos Estados te e em algumas cidades do país.
Unidos será composta por hispânicos, os negros serão aproxi- Do ponto de vista social, essas minorias em seu conjun-

GEOGRAFIA
madamente 16% e, os asiáticos, mais ou menos 11%. Um dos to apresentam indicadores de pobreza bem mais elevados que
grandes desafios internos dos EUA será o de ter a capacidade aqueles registrados junto à maioria branca. Por exemplo, um
de elaborar um novo modelo de integração das diversas mino- branco não hispânico vive em média 7 anos a mais que um ne-
rias que compõem o tecido social do país. gro. Se os brancos que vivem abaixo da linha de pobreza repre-
sentam cerca de 10% do contingente de seu grupo, este índice
Minorias e desigualdades sociais é cerca de 3 vezes maior para negros e hispânicos. A taxa de de-

M—dulo 20
Atualmente nos EUA, os brancos de origem não hispâni- semprego entre os brancos é de cerca de 10%, enquanto entre
ca representam um pouco menos de ¾ da população do país. os hispânicos e negros ela atinge 15% e 20%, respectivamente.
As minorias, quase 30% do efetivo total, são representadas pe- A minoria negra é, no entanto, a mais afetada pelas desi-
los negros (13%), hispânicos (12%), asiáticos (4%) e cerca de gualdades sociais: são 32% dos desempregados do país, 43%
0,8% são “americanos nativos”, isto é, aqueles que habitavam o das pessoas que cumprem penas em presídios, 48% das vítimas
território norte-americano antes da chegada dos colonizadores. de homicídios, 40% dos condenados à morte e 30% dos casos
Todos esses grupos minoritários têm apresentado um crescimen- registrados de Aids. Esses dados mostram a falta de capacidade
to demográfico superior ao da maioria branca não hispânica. da sociedade do mais importante país do planeta em integrar
A minoria negra é essencialmente urbana e está concentrada suas minorias, que continuam a buscar sua parte naquilo que
principalmente nas regiões centro-leste e sul do país. Esta últi- se convencionou chamar de sonho americano.
OLIC, Nelson Bacic. Estados Unidos: imigração e desigualdades sociais. Revista Pangea,
ma região que, em 1910, concentrava cerca de 90% dessa mi- 3 ago. 2001. Disponível em: <www.clubemundo.com.br/pages/revistapangea/show_news.
noria hoje abriga apenas metade do contingente dessa minoria. asp?n=50&ed=4>. Acesso em: 9 jan. 2017.

Os negros são majoritários em algumas cidades do sul e do nor-


A partir da análise do texto, podemos entender brevemen-
deste, como é o caso da capital, Washington, onde formam dois
te o histórico da imigração para os Estados Unidos, do século
terços da população e, Nova York, a principal metrópole dos EUA, XIX até os dias atuais, e os desafios impostos aos imigrantes, ao
se constitui na cidade com o maior número de negros do país. governo e à população estadunidense em geral, com cada um
Já a minoria hispânica não forma um grupo homogêneo. desses personagens vivendo seus dramas e suas expectativas.
Ela não é identificada por critérios raciais, mas sobretudo por O mais importante é que, na produção de consenso, as
aspectos linguísticos e religiosos (a maioria tem como língua
América Anglo-Saxônica

questões humanitárias não se percam e que todos sejam


original o espanhol e professa o catolicismo). Os hispânicos, tratados com dignidade e importância, entendendo que a
que praticamente dobraram o seu contingente nos EUA nos própria definição de imigrante se relaciona diretamente à
últimos 20 anos, se constituem atualmente no principal ele- história e à cultura do país. O que seria dos Estados Unidos
mento tanto da imigração legal quanto da clandestina. sem os imigrantes?

373
PARA CONCLUIR

Neste módulo, foram apresentadas as diferenças entre alguns critérios utilizados para regionalizar
o continente americano e analisadas brevemente as principais características naturais da América
Anglo-Saxônica.
Trabalhamos a formação da sociedade dos Estados Unidos ao longo dos séculos XIX e XX e início
do XXI com a participação fundamental dos imigrantes no país.
Por último, aprofundamos o conhecimento sobre as características dos governos dos Estados Unidos
ao longo do século XX e início do XXI e abordamos a caracterização da divisão produtiva industrial es-
tadunidense (Manufacturing Belt e Sun Belt), bem como sua divisão produtiva agrícola (Belts agrícolas).

PRATICANDO O APRENDIZADO
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.

1. (UPE-SSA) b) Escudo Norte-americano.


c) Montanhas Rochosas.
REPRODUÇÃO/UPE 2016

d) Escudo Canadense.
e) Planície Central.

2. (Unesp-SP) Ao promover a livre circulação de mercado-


rias e serviços entre Estados Unidos, Canadá e México,
o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte ratifi-
cou as chamadas maquiladoras, caracterizadas como:
a) indústrias estadunidenses em território mexicano,
que realizam a montagem de produtos através da ex-
ploração de mão de obra.
b) parques tecnológicos estadunidenses em regiões de
fronteira mexicana, que priorizam o desenvolvimento
industrial regional via compartilhamento dos meios
de produção.
FONTE: Extraído de: <www.gettyimages.pt>. c) indústrias mexicanas em território estadunidense,
que produzem bens de consumo por meio de parce-
No mapa acima, uma seta aponta para um importante rias para o desenvolvimento produtivo.
compartimento regional de relevo existente no continen-
d) universidades técnicas mexicanas em território cana-
te destacado. Esse compartimento influenciou, conside-
dense, que investem na qualificação profissional via
ravelmente, as condições climáticas regionais, a formação
intercâmbio de trabalhadores.
e o uso dos solos e a distribuição dos biomas. A que com-
partimento de relevo estamos nos referindo? e) empresas canadenses em território estadunidense,
que objetivam a prestação solidária de serviços es-
a) Montanhas Apalachianas. senciais às cidades mexicanas.

374
3. (Udesc) A região onde se concentra a indústria de tecno- Obama diz que plano republicano
logia de ponta, nos Estados Unidos, é: para a educação é retrógrado
a) Costa Leste.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acusou,
b) Grandes Lagos. neste sábado, seus rivais republicanos de terem uma abor-
c) Golfo do México. dagem retrógrada para o financiamento da educação, o que
d) Costa Oeste. causaria demissões de professores.
Reuters, 18 ago. 2012. Disponível em: <http:// br.reuters.com/article/
e) Vale do Mississipi-Missouri. worldNews/idBRSPE87H00M20120818>. Acesso: 18 ago. 2012.

4. (ESPM-SP) No passado, conhecida como “capital mun- Sobre o assunto, é correto afirmar:
dial do automóvel”, atualmente: a) Com a crítica, Barack Obama visava atingir o candi-
a) San Francisco converteu-se em importante centro dato democrata Mitt Romney, tradicional defensor da
tecnológico junto ao Vale do Silício e é centro irradia- elevação de impostos para investimento público.
dor da informática mundial. b) A afirmação de Barack Obama confirma sua postura tipi-
b) Boston tornou-se importante centro financeiro sendo camente neoliberal, contrariando seu antecessor, Geor-
considerada a capital da megalópole de Was-Bos. ge Bush, defensor de maior participação do Estado.
c) Seattle consagra-se como o centro tecnológico e ae- c) A intenção de Obama com a declaração acima era ligar
ronáutico norte-americano. a imagem do candidato republicano à elevação de im-

GEOGRAFIA
postos, num país com uma carga tributária já excessiva.
d) Detroit é a melhor expressão do declínio industrial do
Rust Belt e foi apelidada de Ghost Town. d) A declaração de Barack Obama vai na contramão de
seu projeto de privatização da saúde, pedra angular
e) Los Angeles confirma a posição de centro tecnológi-
de sua plataforma eleitoral anterior e que obteve êxi-
co da Costa Oeste, além da biotecnologia, atividades
to em seu governo.
intrínsecas a essa região conhecida como Sun Belt.
e) Tratava-se de uma crítica aos republicanos, tradicio-
5. (ESPM-SP) O texto a seguir está relacionado às eleições nalmente mais propensos a cortes de gastos públicos

M—dulo 20
presidenciais norte-americanas. devido à essência mais conservadora do partido.

DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. (Mack-SP) A identificação correta, de 1 a 5, é, respectivamente:


C2
H6 a) 1 – Montanhas Rochosas; 2 – Golfo da Flórida; 3 –
Mapa físico dos Estados Unidos Montes Apalaches; 4 – Península de São Francisco;
5 – Península Atlântica.
b) 1 – Sierra Madre Oriental; 2 – Golfo do México; 3 –
Planalto Laurenciano; 4 – Península da Califórnia; 5 –
Península do Caribe.
c) 1 – Cadeia da Costa; 2 – Golfo do Caribe; 3 – Montes
Apalaches; 4 – Península de São Francisco; 5 – Penín-
sula do Atacama.
d) 1 – Grande Vale Central; 2 – Golfo do México; 3 – Pla-
América Anglo-Saxônica
REPRODU‚ÌO/MACKENZIE 2012

nalto Atlântico; 4 – Península da Califórnia; 5 – Penín-


sula da Flórida.
e) 1 – Montanhas Rochosas; 2 – Golfo do México; 3 –
Montes Apalaches; 4 – Península da Califórnia; 5 – Pe-
nínsula da Flórida.

375
2. (Udesc – Adaptada) O México e os Estados Unidos são a) nomadismo urbano.
C4 vizinhos com problemas. Sobre esta relação de vizinhan-
H18 b) densificação urbana.
ça é correto afirmar:
c) segregação espacial.
a) O México foi uma das primeiras vítimas do nascente
d) exploração demográfica.
imperialismo norte-americano do século XIX. Explo-
e) migração sazonal.
rando as instabilidades internas do México, os Estados
Unidos conquistaram 1 milhão de km² de territórios
4. (Mack-SP) C2
originalmente mexicanos. Esses territórios correspon- H6

dem aos atuais estados do Texas, Califórnia, Ohio,


90º O
Nova Iorque e Nova Jersey.
b) Os problemas existentes entre México e Estados Uni-
dos foram resolvidos recentemente com a eleição de
40º N
Barack Obama, que flexibilizou, por meio de leis, a
entrada dos mexicanos nos Estados Unidos.
c) A maioria dos norte-americanos tende a valorizar os
ressentimentos históricos mexicanos, sendo a eles so-
OCEANO OCEANO
lidários. A imagem passada pelo cinema norte-ameri- PACÍFICO ATLÂNTICO
cano a respeito dos mexicanos é geralmente positiva.
d) O México, por ter envolvimento com grupos terroris- N
cer
de Cân
tas, pode se tornar um problema geopolítico para os 0 510
Trópico

Estados Unidos, se as falhas políticas e econômicas km

do regime mexicano acirrarem os sentimentos anti-


estadunidenses. Considerando o mapa dos EUA, assinale a alternativa
e) Os mexicanos buscam postos de trabalho nos Esta- que corresponde à melhor descrição para a área desta-
dos Unidos, o que aumenta muito o fluxo migratório cada no mapa.
legal e ilegal para o país americano. a) Trata-se do Cinturão da Ferrugem americano, região
dos EUA de economia baseada na indústria pesada
3. (UFF-RJ) e de manufatura, cujo nome é uma ironia referente à
C4 degradação da área e ao grande número de galpões
H18
Em cinco anos, Nova Orleans renasce branca industriais abandonados.
A tragédia do furacão Katrina em Nova Orleans completa b) Refere-se à Cotton belt, especializada no cultivo do
cinco anos neste mês com um legado que vai muito além algodão, de ocorrência tradicional no sul, por ser uma
das casas ainda destruídas da cidade: o equilíbrio de poder região mais quente.
foi totalmente realinhado, a clivagem racial, aprofundada. c) Trata-se do Vale do Silício, que abrange várias cidades
A maioria negra, que sofreu retirada forçada durante a en- do estado da Califórnia e sul de São Francisco, esten-
chente ocorrida após o furacão, viu sua dominância sobre dendo-se até os subúrbios de San José.
a política das últimas décadas ir se esvaindo até que pra- d) A região é notória pelo cultivo da laranja, mas tam-
ticamente todos os órgãos eletivos locais “embranquece- bém se destaca no turismo. Apresenta clima subtro-
ram”. [...] Moradores e estudiosos afirmam que a virada é pical com temperaturas mais altas do que o padrão
resultado de um esforço deliberado. O primeiro plano de nacional. Possui uma sofisticada infraestrutura e um
reconstrução da cidade previa fazer parques nos bairros ne- grande número de parques de diversões temáticos
gros devastados. Pra onde os antigos moradores voltariam? que atraem visitantes de todo o país e de outros luga-
De preferência, para lugar nenhum. res do mundo.
Folha de S.Paulo, 8 ago. 2010. p. A24.
e) A indústria dessa região tem a peculiaridade de se
Para além dos efeitos imediatos do furacão Katrina, a re- destacar em setores de altíssima tecnologia, sobretu-
portagem focaliza a dinâmica de “embranquecimento” do, aerospacial e de computação. Está muito próxima
de Nova Orleans, diretamente associada a processos de: ao Canadá e tem, como destaque, a cidade de Seatle.

376
5. (PUC-RJ) Observe os gráficos a seguir sobre o movimen- e) as décadas de menor entrada de imigrantes nos Esta-
C2 to migratório para os Estados Unidos entre as décadas dos Unidos correspondem ao período de apogeu da
H6
de 1820 e 1860. expansão para o Oeste.

Emigração para os 6. (Mack-SP)


Estados Unidos (1820-1860) C2
H6

450 427 833


400 371 603 2a frota 6a frota
350
369 980 5a frota
300
Milhares

250 3a frota 7a frota


200 877 4a frota
200
N

150
114 371 153 640 0 3 770
100 84 066 km

50 23 322 FONTE: Poder Naval OnLine. Disponível em: <www.naval.com.br>. Acesso em: 20 fev. 2017.
8 385
1820 1830 1840 1850 1860 A marinha de Guerra dos EUA tem a distribuição de suas

GEOGRAFIA
frotas em diferentes lugares do mundo. A esse respeito,
FONTE: Secretaria do Censo Americano. Historical Statistics é correto afirmar que:
of the United States, Colonial Times to 1970.
Edição do Bicentenário, Washington, D.C., 1975.
a) a 7a Frota atende aos interesses estratégicos nas rela-
ções de comércio com a China e a sua presença não
Composição da considera nenhuma outra potência nuclear na região
imigração (1840-1860) do Pacífico.
Irlandeses

M—dulo 20
Alemães b) a 4a Frota demonstra a histórica preocupação do país
Ingleses em manter a sua hegemonia na América Latina. Re-
60
Porcentagem

50 centemente aumentou a sua importância tanto em ra-


40 zão da existência de governos mais críticos à lideran-
30 ça dos EUA quanto à presença de riquezas naturais
20 recém-descobertas no Atlântico Sul.
10
c) a 6a Frota tem importância secundária na história mili-
1840 1845 1850 1855 1860 tar dos EUA e nas suas relações com outras potências
FONTE: Secretaria do Censo Americano. mundiais.
Statistical Abstract the United States, 1982-83.
13a edição, Washington, D.C., 1982. d) a 5a Frota tem a sua ação restrita às operações mi-
litares de combate ao terrorismo e não dispõe de
É correto afirmar que:
maiores preocupações estratégicas na região em
a) durante as décadas de 1840 e 1850, o fluxo de imi-
que atua.
grantes cresceu substancialmente, sendo a maior par-
e) a 2a e a 6a Frotas tendem a ser desativadas, pois a Rús-
te deles originária da Inglaterra e Alemanha.
sia já não representa nenhum risco à segurança dos
b) após a guerra contra o México (1846-1848), houve
interesses dos EUA. A entrada dessa antiga potência
decréscimo da imigração, em função da limitação do
rival na Otan e a estabilidade de posições territoriais
acesso aos novos territórios anexados.
na região do Ártico tornam essa presença militar cada
c) o surto de industrialização, ocorrido nas décadas de vez menos importante.
América Anglo-Saxônica

1840 e 1850, aumentou a oferta de empregos na indús-


tria, atraindo uma multidão de emigrantes europeus. 7. (UFRGS-RS – Adaptada) A economia do México apresen-
d) os atrativos oferecidos aos imigrantes ingleses entre C4 tou no primeiro trimestre de 2009, ano em que ficou mais
H18
as décadas de 1840-1860 justificam a sua maior por- evidenciada a crise do subprime, a maior retração das
centagem na composição da imigração. últimas três décadas, registrando uma queda de 10,3%.

377
A causa desse baixo desempenho foi: b) são os conflitos de migrantes canadenses com autori-
a) o crescente êxodo rural das áreas de produção agro- dades de fronteira dos Estados Unidos, ao sul.
pecuária. c) são as tentativas de separatismo, por parte de uma
b) a crescente diminuição da produção de petróleo no país. das mais importantes regiões, a província de Quebec.
c) o aumento da produção de petróleo na Venezuela. d) é a diferença de idiomas e de etnias existentes no
país.
d) a crescente mobilidade da atividade industrial do país.
e) é a ocorrência de grandes depósitos de ferro e carvão
e) a redução das exportações para os Estados Unidos.
mineral, que despertaram a cobiça de grandes multi-
nacionais dos Estados Unidos e da Europa.
8. (Unesp-SP) Observe o mapa.
C2
H6
10. (Fatec-SP)
C2
H8
No caso da história americana, um dos eventos mais retra-
tados pela memória social é, sem dúvida, a chamada Marcha
para o Oeste. Mesmo antes do surgimento do cinema, esses
40º N
temas já faziam parte das imagens da história americana. A
fronteira foi um tema constante dos pintores do século XIX. A
imagem das caravanas de colonos e peregrinos, da corrida do
OCEANO
ouro, dos cowboys, das estradas de ferro cruzando os desertos,
ATLÂNTICO dos ataques dos índios marcam a arte, a fotografia e também
OCEANO
PACÍFICO a cinematografia americana.
N
CARVALHO, Mariza Soares de. Extraído de:
ncer
de Câ <www.historia.uff.br/primeirosescritos/files/pe02- 2.pdf>.
0 510 Trópico

km
90º O
Entre os fatores que motivaram e favoreceram a Marcha
para o Oeste está:
Utilizando seus conhecimentos geográficos, assinale a
a) a possibilidade de as famílias de colonos tornarem-
alternativa que indica o estado destacado no mapa e o
-se proprietárias, o que também atraiu imigrantes eu-
tipo de clima que favorece a grande ocorrência de in-
ropeus.
cêndios florestais em determinada época do ano.
b) o desejo de fugir da região litorânea afundada em
a) Flórida; clima subtropical, com verões quentes e se-
guerras com tribos indígenas fixadas ali, desde o pe-
cos e invernos amenos.
ríodo da colonização.
b) Texas; clima tropical, com invernos secos e verões
c) a beleza das paisagens americanas, o que atraiu mui-
quentes e chuvosos.
tos pintores e fotógrafos para aquela região.
c) Oregon; clima mediterrâneo, com invernos secos e
d) o avanço da indústria cinematográfica, que encontrou
verões chuvosos.
no Oeste o lugar perfeito para a realização de seus
d) Nevada; clima temperado, com invernos rigorosos e filmes.
verões extremamente secos e quentes.
e) a existência de terras férteis que incentivaram a ida,
e) Califórnia; clima mediterrâneo, com verões quentes e para o Oeste, de agricultores que buscavam ampliar
secos e invernos chuvosos. suas plantações de algodão.

9. (UFPE) O Canadá teve forjadas a Geografia e a História, ANOTA‚ÍES


C2 basicamente, ao longo dos 570 km do vale do rio São
H7
Lourenço, onde se situam algumas das mais importantes
cidades daquele país, como Quebec, Ottawa, Toronto e
Montreal. Com relação a este país da América do Norte,
é correto afirmar que seu principal problema geopolítico:
a) são os conflitos étnicos verificados na parte meridio-
nal do país.

378
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (ESPM-SP) O mapa, a seguir, relaciona-se aos Estados 3. (Ufscar-SP) Avaliando o ataque aéreo aos EUA, em 2001,
Unidos. o sociólogo Octávio Ianni afirmou:
Quando analisamos os acontecimentos de 11 de setembro,
Alemanha
precisamos resgatar o sentido de história. Quando vistos iso-
Rússia
Reino Unido
Polônia
ladamente, os atentados perdem vários significados e pare-
e Irlanda
Estados
Unidos Cuba, Portugal
França
China Coreias cem coisa de um “bando de fanáticos”... Mas, na realidade, os
Itália Popular Japão
Haiti, Rep.
México Dominicana
Taiwan
atentados foram apenas um fato em uma cadeia muito com-
Jamaica
Resto das Índia
OCEANO plexa de acontecimentos.
Caraíbas PACÍFICO
América
Central Filipinas Revista Ci•ncia Hoje, set. 2002.
Vietnã
Peru OCEANO OCEANO
OCEANO Assinale a alternativa que contém um fato que faz parte
ATLÂNTICO ÍNDICO
PACÍFICO
desta complexa cadeia.
N 7 000 000
4 000 000
0 3 900
2 000 000 a) Crescente interferência dos EUA na política interna de

GEOGRAFIA
500 000
km 50 000 outros países.
FONTE: Le Monde Diplomatic, 2003. b) Aumento dos conflitos geopolíticos entre os EUA e os
novos países industriais.
Ele está demonstrando:
c) Interesse dos EUA em explorar economicamente as
a) os principais fornecedores de petróleo. extensas terras do Afeganistão.
b) os parceiros membros da Apec. d) Competição entre os EUA e o Japão pelo domínio

M—dulo 20
c) os principais importadores de produtos norte-ameri- geopolítico sobre a Ásia.
canos. e) Interesse dos ex-países socialistas em dominar geo-
d) países que assinaram o Protocolo de Kyoto. politicamente o mundo.
e) a origem dos imigrantes nos Estados Unidos.
4. (Unesp-SP) É um estado norte-americano cujo relevo
2. (UFPE) Observe o mapa a seguir. A área hachurada cor- apresenta grandes altitudes e possui quase metade de
responde, grosso modo: sua área coberta por gelos eternos. No curto verão, mus-
gos e liquens reaparecem após o degelo, cobrindo exten-
sas áreas de pastagens. Exportação de madeira, extração
mineral de ouro, prata e chumbo, pesca de salmão e tru-
40º
N tas e exploração petrolífera são as principais atividades
econômicas deste espaço, cuja descrição corresponde ao
a) Oregon. c) Wyoming. e) Colorado.
OCEANO b) Ohio. d) Alasca.
OCEANO ATLÂNTICO
PACÍFICO

N 0 690 5. (IFCE) São as principais características do Vale do Silício,


km 90º O
nos Estados Unidos:
a) localizado no oeste dos Estados Unidos, próximo a
a) ao domínio morfoestrutural das Montanhas Rochosas.
importantes centros de pesquisa, forma um comple-
América Anglo-Saxônica

b) à área de climas glaciais. xo industrial com destaque para os ramos típicos da


c) à área das maiores reservas de alumínio e tungstênio Terceira Revolução Industrial.
do planeta. b) também conhecido por cinturão (belt), constitui-se na
d) à região industrial antiga. principal área produtora de cereais dos Estados Unidos,
e) à região de intensa pecuária extensiva. sobretudo de milho e trigo, além de pecuária intensiva.

379
c) formado por erosão glacial, constitui-se numa área de 7. (Uerj) Os dados presentes no gráfico abaixo podem ser
preservação permanente, onde se destacam as faias, as interpretados considerando-se o contexto geopolítico
sequoias e as bétulas, espécies típicas da floresta boreal. mundial.
d) localizado no nordeste dos Estados Unidos, constitui-
-se numa área de antiga concentração industrial, des- Gastos militares dos Estados
Unidos (em bilhões de dólares)
tacando-se as indústrias de bens de produção pela
abundância de matérias-primas, energia e mão de 480
obra e pela facilidade de transporte. 430
e) é uma das principais áreas de extração mineral, sobre- 380
tudo de silício, cobre e ferro, altamente prejudicada 330
pela degradação do meio ambiente.
280

230
6. (Uerj)

2000

2002
2003
2004
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999

2001
Grupos censitários majoritários
nos Estados Unidos (2000) FONTE: Extraído de: <http://resistir.info>. Acesso em: 20 fev. 2017. Adaptado.

Área A Área B Área C


Nesse contexto, aponte o fator que explica a variação
dos gastos norte-americanos com armas durante a pri-
N
40º
meira metade da década de 1990 e identifique o princi-
pal traço da política externa desse país a partir de 2001.
A queda do Muro de Berlim em 1989 decretou o fim da Guerra Fria
OCEANO
ATLÂNTICO
(bipolaridade), e o mundo passou por um rearranjo geopolítico com
N
reflexos nos gastos militares. Os Estados Unidos passaram a ser a
OCEANO 0 650
PACÍFICO única superpotência e estruturaram suas Forças Armadas de modo a
km 90º O

FONTE: MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o


possuir capacidade de ação global marcada por flexibilidade e poder
Ensino MŽdio. São Paulo: Atual, 2008. Adaptado.
de fogo para ações concentradas e de curto prazo. A destruição das
Os Estados Unidos se caracterizam pela presença de torres gêmeas em Nova York, em setembro de 2001, determinou
diferentes grupos étnicos em sua população. Alguns ações políticas, por parte do governo Bush, voltadas ao combate ao
desses grupos encontram-se concentrados em deter- terror.
minadas áreas do território.
Identifique o grupo étnico majoritário, respectivamente,
nas áreas B e C. Em seguida, justifique a maior concen-
8. (Unifesp) O mapa indica bases militares da principal po-
tração de cada um desses grupos nas respectivas áreas
tência militar do mundo e suas intervenções militares, a
do território estadunidense.
partir de 1990.
Área B – hispânicos. Área C – negros.
Hispânicos: maioria nas áreas próximas à fronteira com o México,
Bases militares e intervenções
porta de entrada ilegal de migrantes latinos. dos EUA (2005)
Negros: maioria nos estados do sul/sudeste, onde se localizavam as
antigas áreas de plantation escravistas.
A área C caracteriza-se pela presença majoritária dos negros, fato
oriundo do processo histórico do país, que criou na porção meridional
do território características da colonização de exploração, com a
OCEANO
OCEANO
presença de plantations de algodão e intensa utilização da mão PACÍFICO
ATLÂNTICO
OCEANO
ÍNDICO
de obra escravizada. A área B agrega maioria hispânica em razão da
N
proximidade geográfica com o México e países da América Central,
0 4 155
países de origem da maioria dos imigrantes da região, atraídos pelas Base militar Intervenção militar
km

atividades fruticultoras e agrárias. FONTE: Le Monde Diplomatique, 2006. Adaptado.

380
a) Explique a presença de bases militares dos Estados b) indique duas ações do governo norte-americano, em
Unidos na Europa. território estrangeiro, que visam impedir a ação dos
O Departamento de Estado dos Estados Unidos mantém bases agentes identificados como pertencentes ao “tabu-
militares estadunidenses em regiões de grande importância leiro inferior”.
econômica e geopolítica, com destaque para a Europa, onde estão Entre as ações, destacam-se: intervenções diretas no

alguns dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Afeganistão e no Iraque; instalação de bases militares dentro ou

Com o fim da Guerra Fria, o novo desenho da Otan aumentou próximo dos países considerados integrantes do “Eixo do Mal”

o número de países participantes, incluindo Estados do Leste (Irã, Coreia do Norte, Cuba, Sudão e Síria); ações em vários países

Europeu, ampliando a influência dos Estados Unidos. da América Latina voltadas ao combate ao tráfico de drogas (Plano
Colômbia, por exemplo); tentativas de intervenção dos Estados

b) Explique a intervenção dos Estados Unidos na Colômbia. Unidos nos processos político-eleitorais de diversos países e

A intervenção estadunidense aparece no Plano Colômbia, por regiões (Iraque, Venezuela, Autoridade Palestina, entre outros)

meio do qual o governo dos Estados Unidos auxilia a Colômbia no visando favorecer os representantes mais afinados com seus

combate às drogas e ao tráfico, fornecendo helicópteros para interesses político-econômicos; cadeias clandestinas em diversos

fumigar as plantações de coca com herbicidas e treinando e países.

equipando as forças militares e policiais colombianas.


10. (UFR-RJ) Leia o texto a seguir e responda:

GEOGRAFIA
Cai número de brancos
9. (PUC-RJ)
nas maiores cidades americanas
Nas relações internacionais de hoje parece haver um jogo
de xadrez global em três níveis. No tabuleiro superior está Eles são maioria só em 52 das 100 maiores cidades, enquanto
o poder militar, ocupado, sem competidores, pelos Estados em 1990 eram em 70.
SCHMITT, Eric. The New York Times, Washington.
Unidos; no tabuleiro intermediário fica o poder econômico,

Módulo 20
compartilhado pelos Estados Unidos, Europa, China [...] e Pela primeira vez, em quase metade das cem maiores cida-
Japão; no tabuleiro inferior estão as diversas outras relações des dos Estados Unidos há mais negros, hispânicos, asiáticos
internacionais (sociedade civil, grandes e médias empresas, e outras minorias do que brancos, segundo análise dos núme-
traficantes, pacifistas, terroristas etc.). A potência dominan- ros do último censo. Enquanto a população das cidades que
te tem de olhar os três tabuleiros com muita atenção, pois apresentaram o crescimento mais rápido do país, como Las
dos tabuleiros inferiores podem vir lances inesperados que Vegas e Phoenix, aumentou em todas as raças e etnias, a gran-
abalem o poder da potência imperial, como ocorreu com os de maioria das cidades americanas – 71 entre as 100 maiores
ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. – perdeu habitantes brancos. Como resultado, brancos não
PORTELA, Fernando; RUA, João. Estados hispânicos são agora minoria no total da população dos cem
Unidos. São Paulo: Ática, 2006.
maiores centros urbanos do país.
A partir do texto acima: Enquanto os brancos deixavam muitos núcleos urbanos
a) explique uma estratégia atual, no âmbito militar, do para ir morar nos bairros afastados ou além deles, as maiores
governo norte-americano para disputar o jogo no “ta- cidades americanas ganharam 3,8 milhões de habitantes his-
buleiro intermediário”; pânicos, o que representa um aumento de 43% em relação
Entre as estratégias, podem ser citadas: ações e intervenções a uma década atrás. A combinação de fuga dos brancos dos
militares, diretas e indiretas, em diversos países do mundo; centros urbanos e do influxo de hispânicos, em particular,
ampliação do número de instalações militares em diversas regiões
evidencia até que ponto a imigração e as altas taxas de na-
talidade entre os nascidos no exterior estão modificando o
consideradas geoestratégicas; ampliação do comércio de armas
caráter das cidades, fomentando um renascimento em al-
América Anglo-Saxônica

para países com governos aliados; investimento no aperfeiçoamento


guns centros urbanos e obrigando os líderes civis a tomar
da produção de armas; ampliação da Otan para o Leste Europeu;
decisões difíceis sobre como lidar com uma coletividade em
desbalanceamento de forças entre as tradicionais potências
rápido processo de mudança. “Isso mostra a volatilidade e a
europeias (Rússia, Alemanha...).
complexidade das mudanças nos Estados Unidos hoje em
dia”, disse Bruce Katz, diretor do Centro de Política Urbana

381
e Metropolitana da Brookings Institution daqui. “Quem fica Apresente duas razões para a grande participação de
e quem deixa as cidades têm enormes implicações econômi- imigrantes latino-americanos no mosaico étnico dos Es-
cas para a força fiscal, vitalidade econômica e influência po- tados Unidos.
lítica das cidades.” Muitas dessas descobertas estão contidas
Os Estados Unidos estão próximos da América Latina e exercem,
em uma análise preliminar elaborada pelo centro de política
urbana da Brookings, que oferece algumas das provas mais com seu estilo de vida, forte influência sobre as populações
detalhadas até agora da diversidade crescente nas cidades latino-americanas que lá buscam melhores condições de vida por
do país, com grandes implicações para as autoridades muni-
causa do grande dinamismo da economia americana.
cipais. Por exemplo, as bases tributárias das cidades podem
estar encolhendo.
O Estado de S. Paulo, 2 abr. 2001.

GOTAS DE SABER

O fim da Doutrina Monroe e suas consequ•ncias

O presidente James Monroe, nos idos de 1823, anunciou que os EUA iriam proteger os países sul-a-
mericanos de ameaças de colonização vindas de países europeus: “A América para os americanos”. Pos-
teriormente, em 1904, Theodore Roosevelt ampliou essa política para incluir a defesa de direitos de
empresas norte-americanas na América Latina. Tais ações ficaram conhecidas como a Doutrina Monroe
e seu corolário.
Em nome dessa doutrina se instalou um verdadeiro protetorado dos EUA sobre o hemisfério. E a partir
dessa política os EUA, na medida em que seu poder aumentava, assumiram o papel de polícia da região
e, depois, do mundo. Na América Latina houve mais de dez intervenções sob a justificativa de defesa dos
interesses das empresas norte-americanas e das ameaças aos valores defendidos por Washington.
Novos ventos soprando no mundo, no entanto, fizeram a sociedade norte-americana passar a rejeitar
a ação externa de polícia exercida até os nossos dias, e como ainda vemos no Iraque e no Afeganistão.
Ante o número de perdas de vida e dos gastos financeiros implicados, hoje 52% da população é contra
essa política e 80% pensa que os EUA deveriam concentrar-se mais nos seus problemas domésticos.
Como desdobramento desse sentimento isolacionista, em recente pronunciamento na sede da Or-
ganização dos Estados Americanos (OEA), John Kerry, atual secretário de Estado, afirmou que a era da
Doutrina Monroe havia chegado ao fim. Os representantes dos 34 países presentes reagiram com aplau-
sos discretos, o que levou Kerry a observar que as palmas eram poucas para um anúncio tão importante...
As transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas na América do Sul e Central, combina-
das com a ausência de uma política externa dos EUA para a região, explicam o fim da Doutrina Monroe.
O relativo desinteresse das empresas norte-americanas e do governo de Washington, focado em outras
áreas, como Oriente Médio e China, ajuda a entender a rationale do gesto simbólico. Por isso ninguém
notou o fato – nem nos EUA, nem no hemisfério – e seu desaparecimento em nada afeta a região.
Como única superpotência global, gostemos ou não, a posição dos EUA é importante pelos refle-
xos de suas ações sobre a economia e a política externa de todos os países. Ao contrário da percepção
de certos meios governamentais e acadêmicos brasileiros, os EUA não estão em declínio. Com o
aparecimento de novos polos de poder político e econômico-comercial, pode-se dizer que houve uma
perda de poder relativo, mas os EUA ainda definem a agenda global e têm o poder de bloquear deci-
sões, além de serem o mais importante centro de inovação tecnológica no mundo.
Mesmo sem ter relevância política – hoje nenhum país da América Central ou sul-americano
se preocupa com a possibilidade de intervenção armada dos EUA –, o anúncio deveria servir como

382
primeiro passo para uma revisão de fundo da política externa de Washington para a região. Pode-
riam ser mencionadas, entre outras atitudes passíveis de reavaliação, as relações com Cuba, com
o Brasil e o fim do conceito de Hemisfério Ocidental e de América Latina.
Desde os anos 1960 a política externa dos EUA está refém da minoria cubana, sobretudo na Fló-
rida, e por isso não consegue acabar com o embargo comercial contra Cuba, nem devolver-lhe a base
de Guantánamo. Nos últimos 20 anos, contra a opinião de todos os países da região, os presidentes
norte-americanos evitaram discutir esses dois temas. Mais recentemente, Cuba foi readmitida na
OEA – outrora percebida como um braço no Departamento de Estado – e os EUA começam a elimi-
nar algumas restrições de comércio e de movimentação de pessoas. Se os EUA iniciaram o processo
de revisão da política de sanções contra o Irã, não há mais razão para manter o embargo econômico,
apesar da declinante expressão política atual dos cubanos em Miami. Barack Obama, antes do tér-
mino de seu mandato, poderia finalmente eliminar o último resquício da guerra fria no continente.
Quanto ao Brasil, as relações nunca estiveram em nível político-diplomático tão baixo e desgasta-
do. A crise criada com as revelações de espionagem da presidente Dilma Rousseff e na Petrobras e a
perspectiva de retaliação contra os EUA em decorrência do descumprimento de decisão da OMC na
questão do subsídio ao algodão, entre outros, mostram que interesses econômico-comerciais concretos
dos dois lados começam a ficar afetados. No contexto dessa revisão de política, os EUA têm de fazer um

GEOGRAFIA
gesto em relação ao Brasil para superar essas dificuldades. Diferenciar o Brasil colocando-o no mesmo
nível de parceiros como a Turquia, a Índia e a Coreia do Sul poderia ser uma saída honrosa para todos.
Finalmente, no Departamento de Estado impõe-se uma mudança estrutural no tratamento dos
países do continente. Os conceitos de Hemisfério Ocidental e de América Latina não mais fazem
sentido, nem econômico nem político. O que existe é a América do Norte, a Central e a do Sul. O
processo de bilateralização começou com o Canadá e o México, seguido pelos acordos de livre-co-

M—dulo 20
mércio com os países da América Central e alguns sul-americanos (Chile, Colômbia e Peru). A nova
política de Washington hoje é, segundo Kerry, a de cooperação ampla com os países da região. A defi-
nição do que se entende por cooperação deve ser bilateral, dependendo da disposição e do interesse
da contraparte.
Os EUA, que há quase 200 anos decidiram unilateralmente estabelecer a Doutrina Monroe,
agora a eliminam, sempre conforme seus interesses. Cabe igualmente aos países latino-americanos
definir suas relações com a única superpotência global, de acordo com seus próprios interesses polí-
ticos e econômico-comerciais.
BARBOSA, Rubens. O fim da Doutrina Monroe e suas consequências. O Estado de S. Paulo, 18 jan. 2014. Disponível em:
<http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-fim-da-doutrina-monroe-e-suas-consequencias-imp-,1123714>. Acesso em: 10 jan. 2017.

GOTAS DE SABER

Estados Unidos: características de uma potência (também) demográfica

Na entrada do século XXI, assim como já vinha ocorrendo ao longo do século XX, os EUA se cons-
América Anglo-Saxônica

tituem na maior potência financeira, econômica, tecnológica, militar e cultural do planeta. Todavia, a
nação norte-americana é também uma potência demográfica. Com mais de 280 [320 em 2015] mi-
lhões de habitantes, os EUA são o terceiro país mais populoso do mundo, cujo efetivo só é superado
pelo da China (1,3 bilhão de habitantes) e da Índia (pouco mais de 1 bilhão de habitantes).

383
O crescimento populacional norte-americano foi muito rápido. Em 1790, quatorze anos após
sua independência, o país possuía cerca de 4 milhões de habitantes; um século depois, a população
tinha crescido mais de 15 vezes, chegando a 63 milhões. No século XX, entre 1945 e o ano 2000, sua
população simplesmente duplicou.
As causas desse expressivo aumento do contingente populacional estão ligadas ao contínuo ex-
cedente do número de nascimentos em relação às mortes e, também, pela expressiva entrada de
imigrantes. Entre 1850 e 1930, entraram nos EUA cerca de 38 milhões de imigrantes. Atualmente, o
número de estrangeiros residentes nos EUA corresponde a pouco menos de 10% da população total.
Do ponto de vista do crescimento vegetativo, pode-se dizer que os EUA estão concluindo sua
transição demográfica. O crescimento, que em 1900 era de 1,5% ao ano, foi reduzido pela meta-
de na década de 1930. Todavia, essa queda na trajetória demográfica foi interrompida na década
de 1950, quando houve uma retomada no ritmo de crescimento, fenômeno que ficou conhecido
como “baby boom”. Nessa época, o país voltou a ter um crescimento vegetativo similar ao regis-
trado no início do século XX. Em seguida, o crescimento voltou a diminuir, atingindo em 2000 a
cifra de 0,6%, resultado de uma taxa de natalidade de 15 por mil e uma taxa de mortalidade da
ordem de 9 por mil.
Todavia, essa dinâmica demográfica é bastante variável, especialmente no que se refere aos as-
pectos regionais e étnicos. Assim, desde a década de 1980, o aumento mais expressivo da população
tem ocorrido no chamado Sun Belt, ampla área do sul e do oeste do país, que se estende aproxima-
damente do estado da Flórida à Califórnia. Nos últimos 20 anos, a população da região sul dos EUA
aumentou 25%, ao passo que o contingente populacional do oeste teve um incremento de 43,5%.
Desde 1970, mais da metade do crescimento populacional do país tem ficado por conta de 5 estados:
Califórnia, Texas, Flórida, Arizona e Geórgia.
Por outro lado, se o comportamento demográfico da população branca apresenta característi-
cas similares ao que ocorre em grande parte dos países da Europa, isto é, crescimento vegetativo
próximo de zero, os grupos negro e hispânico apresentam índices de crescimento pouco inferiores
a 2% ao ano. A persistência dessa situação tem levado a uma queda da participação populacional
dos WASP, sigla que designa os brancos (white), anglo-saxões (anglo-saxons) e protestantes (protes-
tants), que muitos consideram os “verdadeiros” cidadãos norte-americanos. Previsões demográficas
chamam a atenção para o fato de que os hispânicos, “beneficiados” pela intensa migração legal e
também ilegal, ultrapassem o grupo negro até 2020. O reconhecimento dessa situação e suas con-
sequências a longo prazo têm ensejado o recrudescimento de movimentos racistas e xenófobos em
algumas partes do país.
Parece que essa diferenciada evolução etno-demográfica esteja levando ao fim do conceito do
“cadinho” de raças, Melting Pot, e à emergência de uma situação “tricultural”, em que se identificaria
uma cultura de massa WASP, uma cultura hispânica e uma cultura de exclusão exemplificada pelos
guetos negros urbanos.
OLIC, Nelson Bacic. Estados Unidos: características de uma potência (também) demográfica. Revista Pangea, 13 jul. 2001. Disponível em: <www.
clubemundo.com.br/pages/revistapangea/show_news.asp?n=46&ed=4>. Acesso em: 10 jan. 2017.

384
21
China e êndia

Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• China: histórico e características de uma potência mundial
• Um país e dois sistemas: os anacronismos políticos, eco-
nômicos e sociais chineses
• A abertura econômica e as Quatro Modernizações na China
do século XXI
• Índia: histórico e características de uma potência regional
• Bases da emergência econômica indiana na virada do século XXI

HABILIDADES
• H7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder
entre as nações.
• H18 - Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e
suas implicações socioespaciais.
• Identificar aspectos relevantes da história política e econômica da China e da Índia.
• Analisar as dinâmicas demográficas da China e da Índia.
• Reconhecer avanços econômicos e sociais chineses e indianos.

385
PARA COME‚AR

A Ásia é, de fato, o mais complexo continente a ser analisado. A grande diversidade de caracte-
rísticas naturais, econômicas, políticas, sociais e culturais faz com que seja necessária uma regio-
nalização do continente para melhor estudá-lo e entendê-lo. Como exemplo dessa diversidade
temos, de um lado, o Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo, e, de outro, o Japão,
uma referência no aspecto socioeconômico.

Ásia: regi›es
N
1 EMIRADOS ÁRABES UNIDOS OCEANO
2 CATAR GLACIAL ÁRTICO 0 880
3 BAHREIN

ic o
km
4 LÍBANO

Árt
5 TURCOMENISTÃO

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6 TAJIQUISTÃO

Po
7 QUIRGUISTÃO

lo
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8 CINGAPURA Cí
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(parte asiática)
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Beirute Pyongyang er
Telavive 4 USBEQUISTÃO MONGÓLIA nc
SÍRIA Seul Câ
Ma

ISRAEL Damasco Tashkent de


Ashgabat Pequim COREIA
Jerusalém 7 Bishkek i co
Amã IRAQUE 6 DO SUL óp
EGITO 5 Tr
Bagdá Teerã Duchambe
(parte JORDÂNIA
Mar Vermelho

asiática) Cabul CHINA


KUWAIT IRÃ Islamabad
Kuwait
3 Manama AFEGANISTAO
Riad Nova Taipé OCEANO
2 Doha
ARÁBIA PAQUISTÃO Délhi NEPAL
Thimphu TAIWAN PACÍFICO
SAUDITA 1
Katmandu BUTÃO
Abu Dhabi Mascate
BANGLADESH Hanói
Sana
OMÃ Dacca MIANMAR FILIPINAS
IÊMEN LAOS
ÍNDIA Naypyidaw Vientiane Manila
Rangum
ÁFRICA TAILÂNDIA VIETNÃ do
r
Bangcoc CAMBOJA ua
Eq

Phnom Penh
BRUNEI
SRI LANKA Bandar Seri
MALDIVAS MALÁSIA Begawan
Oriente Médio Colombo Kuala Lumpur
Male
Ásia Setentrional e Central Cingapura 8
Sul e Sudeste da Ásia INDONÉSIA Díli
OCEANO Jacarta TIMOR-LESTE
Extremo Oriente
ÍNDICO OCEANIA
FONTE: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geogr‡fico Saraiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 130. Adaptado.

No contexto político e econômico mundial é inegável a importância da Ásia atualmente: o


Oriente Médio é uma região extremamente importante e estratégica no que diz respeito a re-
cursos energéticos (petróleo); China e Rússia possuem assentos permanentes no Conselho de
Segurança da ONU; Rússia, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel possuem armas
nucleares; no mercado mundial, destacam-se os Tigres Asiáticos, o Japão e, cada vez mais, a
Índia e a China.

386
Podemos verificar essa importância com base na participação dos países asiáticos, sobretudo
China e Índia, no comércio exterior, na tabela apresentada abaixo.

Comércio internacional de mercadorias: principais exportadores e importadores (2015)


(em bilhões de dólares e %)
Variação Variação
Parcela Parcela
Exportadores Valor percentual Importadores Valor percentual
% %
anual anual
1 China 2 275 13,8 23 1 Estados Unidos 2 308 13,8 24
2 Estados Unidos 1 505 9,1 27 2 China 1 682 10,1 214
3 Alemanha 1 329 8,1 211 3 Alemanha 1 050 6,3 213
4 Japão 625 3,8 29 4 Japão 648 3,9 220
5 Países Baixos 567 3,2 216 5 Reino Unido 626 3,7 29
6 Coreia do Sul 527 3,2 28 6 França 573 3,4 215
7 Hong Kong 511 3,1 23 7 Hong Kong 559 3,3 27
8 França 506 3,1 213 8 Países Baixos 506 3,0 214
9 Reino Unido 460 2,8 29 9 Coreia do Sul 436 2,6 217

GEOGRAFIA
10 Itália 459 2,8 213 10 Canadá 436 2,6 29
25 Brasil 191 1,2 215 25 Brasil 179 1,1 225
Mundo 16 482 100,0 213 Mundo 16 725 100,0 212
FONTE: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. World Trade Statistical Review 2016, p. 95. Disponível em:
<www.wto.org/english/res_e/statis_e/wts2016_e/wts2016_e.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2016.

O Brasil tem se aproximado de outras economias emergentes do mundo, com a integração firma-
da entre os Brics e o fórum Ibas. Vamos, então, conhecer melhor as características de dois desses

M—dulo 21
emergentes que são também gigantes asiáticos na atualidade: China e Índia.

COMPREENDENDO MELHOR

Ibas
O Fórum de Diálogos Ibas – que reúne Índia, Brasil e África do Sul – foi formado em 2003 visan-
do uma integração maior entre esses países e tem como objetivo aprofundar a cooperação entre
nações em desenvolvimento econômico recente nos contextos cultural, comercial, científico, etc., a
fim de reduzir a distância desses países em relação aos mais desenvolvidos.

PARA APRENDER

China: o dragão asiático


Com um produto interno bruto (PIB) de cerca de 10,33 trilhões de dólares e crescimento de 6,9% em 2015,
China e Índia

a China é a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O setor de serviços é o
principal ramo de atividades e corresponde a 50,5% do PIB, seguido pelos setores industrial, com 40,5%, e
agrícola, com 9%, segundo dados do Banco Mundial.

387
Embora apresente uma economia dinâmica (veja alguns dados no infográfico abaixo) e melhora nos in-
dicadores sociais nos últimos anos, como aumento da expectativa de vida e queda nas taxas de mortalidade
infantil, a China ainda tem diversos desafios a superar: o IDH do país era o 90o no ranking mundial em 2014,
segundo o Human Development Report (2015).
Com 1,4 bilhão de habitantes (dados da ONU de 2015), no país ainda há milhões de pessoas que vivem
com baixíssima renda, as quais contam com consideráveis subsídios governamentais em setores como ali-
mentação, habitação, transportes, saúde e educação.

A economia chinesa em números

A China responde por: E muitos países ficaram cada vez mais dependentes dela.

Parcela das exportações que vão para a China:

19,2% 16,5% 14,3% 2007 2013


da população do PIB global do comércio Brasil 6,8% 19,0%
global (em PPP) global
Austrália 14,2% 36,1%
Arábia Saudita 7,6% 13,9%
E sua importância econômica aumentou consideravelmente nas últimas décadas.
África do Sul 6,6% 11,8%
FONTE: CALEIRO, João Pedro. Exame, 18 set. 2015. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/economia/

Parcela da China, dos Estados Unidos, da Zona do Euro e


Alemanha 3,1% 5,4%
do Japão no PIB global em paridade de poder de compra:
25
noticias/o-peso-da-china-para-a-economia-global-em-um-infografico>. Acesso em: 22 dez. 2016.

20 A China consome:

15
%
10 54% 48% 45% 40% 31% 30% 23% 17% 12%

5
Alumínio Cobre Aço Chumbo Algodão Arroz Ouro Trigo Petróleo
0
90 92 94 96 98 00 02 04 06 08 10 12 14 16
Ano do mundo
Estados Unidos China Zona do Euro Japão
Entre 2011 e 2013, a China usou mais cimento
Seu apetite por recursos é voraz.

6,6
Participação nas importações mundiais de commodities:
China
Estados Unidos
gigatoneladas
Japão
Alemanha do que os Estados Unidos em todo o século XX
Coreia do Sul

Índia
França
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14%
4,5
gigatoneladas

Grande parte do desempenho econômico chinês se deve às atividades industriais diversificadas voltadas à exportação. A enorme demanda da China
por commodities, como minério de ferro para a indústria e soja para seu mercado consumidor interno, faz do Brasil um importante fornecedor de
matérias-primas para o país.

A distribuição espacial da população e das principais atividades econômicas chinesas é desigual.


A porção mais próxima do litoral e as planícies aluviais centrais são as áreas de maior concentração demo-
gráfica. Essas áreas apresentam, respectivamente, maior concentração urbano-industrial e maiores níveis
de produtividade rural. A parte mais ocidental da China é a região com menor dinamismo econômico e
infraestrutura e também a menos ocupada, em razão de fatores naturais, como o deserto de Gobi, ao
norte, e elevadas montanhas a oeste (Himalaia), na região do Tibete, que reivindica autonomia política em
relação à China.

388
Aspectos históricos
China: físico
As políticas governamentais chinesas provocaram M

M
te
mudanças significativas no país nos últimos trinta anos.

on

s.
te
Mtes.

Pe
DE
Kongur

de
DE PR Khangai

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Al
(7 719 m) DZ ESSÃ

. Gran
Compreender a China atual requer conhecer sua trajetó-

ta

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Tien UN O

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Sha

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G AR
n IE hi

K
PLANALTO DA nga
n

es
K2

Kh
ria histórica recente. DESERTO DEPRESSÃO MONGÓLIA

Mt
(8 611 m) DE TAKLA DE PLANÍCIE DA Vulcão Asahi
MAKAN TURFAN DESERTO PLANALTO MANCHÚRIA (2 290 m)

Ao longo do século XIX, o Império Chinês sofreu Nganglog Kangri


ALTUN SHAN
(6 596 m) MONTES Mustaq
DE GOBI DA CHINA
SETENTRIONAL
(7 723 m) Na
intervenções das potências imperialistas ocidentais. As KUNLUN
PLANALTO
DESERTO
DE
nS
ha
n
DESERTO Pen. de
Mar do Japão
(Mar do Leste)

an
DE Liaodong
DO TIBET QAIDAM

Taihang Sh
derrotas militares resultaram em cessão de portos, pa-

H
Ba ORDOS Pen.
ya PLANÍCIE Pen. de

I
Mo nH
Xiq
i Shandong da Fujiyama
Sha ng

M
nt Nyenchen ar DA (3 776 m)
gamento de indenizações e perda do território de Hong es
aila (7 088 m)
Sh n Mar Coreia

A
L K an CHINA
A s Qilin Amarelo
g S h an
Everest I A
Kong para os ingleses. O território só foi devolvido aos Tró
pic
(8 848 m) Namcha
Barwa
Monte
Gongga BACIA Mar da Altitude (em m)
od (7 590 m) VERMELHA China
(7 755 m) 6 000
chineses em 1997. Ainda no século XIX, a China teria de eC
ânc
er
PLANALTO
DA CHINA
Oriental 4 000
3 000
MERIDIONAL 2 000
lidar com disputas territoriais com a França e o Japão, an
1 000

h
uyi S
Na
nL
ing 500
além de problemas internos. N 200

W
Yushan
(3 997 m)
0
-154
Com o declínio do sistema monárquico, em 1911 a 0 690 Mar da
China
OCEANO
PACÍFICO
Pico
Meridional Vulcão
China tornou-se uma república e, assim, surgiu o Partido km

FONTE: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geogr‡fico Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 139.
Nacional do Povo (Kuomintang), cuja liderança estava
nas mãos do comandante militar Chiang Kai-shek. O par-
tido era a favor da unificação do país e do fortalecimento

GEOGRAFIA
da república, mas contrário aos movimentos campone- China: densidade demográfica (2013)
ses representados pelo Partido Comunista Chinês (PCC).
Após dois anos de acordo com o PCC, Chiang Kai-
-shek passou a perseguir camponeses e defensores des- Harbin
DESERTO Urumqi
se partido, lançando grande ofensiva militar para elimi- DE TAKLA
Changchun
MAKAN
nar as bases comunistas. A retirada das tropas comu- Pequim
Shenyang
População
nistas foi liderada por Mao Tsé-tung. Cerca de 100 mil Baotou

Módulo 21
(milhões de habitantes)
TIBETE
Taiyuan Dallan
homens percorreram mais de 10 mil quilômetros no epi- Tianjin
De 1,0 a 5,0
Lanzhou
sódio que ficou conhecido como a Grande Marcha pela Xi’an
Qingdao
De 5,1 a 10,0

Chengdu
China, entre 1934 e 1935. Tró
pic
Wuhan Nanquim Xangai Mais de 10,0
o de Chongqing Hangzhou
Entre 1937 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, C ânc
e r Guryang Densidade demográfica
(habitantes por km2)
o PCC e o Kuomintang uniram-se na luta pela defesa do Kunming
Changsha
Guangzhou
Fuzhou
Menos de 1,0
Shenzhen
país, que teve como incentivo a invasão da China pelo Ja- N
Nanning
De 1,0 a 50,0
Shantou De 50,1 a 200,0
pão, em 1931. Com o fim da guerra, a rivalidade entre os 0 690 Hong Kong
OCEANO De 200,1 a 600,0
PACÍFICO Mais de 600,0
adversários políticos foi retomada. O PCC lutou contra o km

FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geogr‡fico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 104.
regime do Kuomintang e estabeleceu a guerra civil chinesa
até 1949, quando Mao Tsé-tung tomou o poder e implan-
tou a República Popular da China, ou China Socialista. Nes-

KYODO NEWS/GETTY IMAGES


se ano, os líderes do derrotado Kuomintang se transferiram
para a ilha de Formosa (Taiwan), onde estabeleceram a
República da China, ou China Nacionalista, alinhados com
uma orientação política e socioeconômica capitalista.
Nos anos em que determinou os rumos políticos,
econômicos e sociais do país, Mao Tsé-tung criou planos
governamentais buscando implantar o comunismo na
China. Os resultados desses planos são profundamente
polêmicos, o que explica em parte a controvérsia em tor-
no da figura do líder chinês. Veja na seção Visão geográ-
fica as principais políticas de Mao Tsé-tung promovidas
China e Índia

desde a vitória socialista em 1949 até a sua morte, em Mao Tsé-tung liderou a vitória do Partido Comunista Chinês na Guerra
1976. Civil contra o Kuomintang, tornando-se o primeiro presidente da China
socialista. Na foto, de 2017, seu retrato é exibido na praça Tiananmen,
em Pequim.

389
VISÃO GEOGRÁFICA

A implementação das ideias de Mao Tsé-tung dividida em períodos


Reconstrução (1949-1953) – Após a guerra civil, a China alinhou-se com a União Soviética (contexto de
Guerra Fria) adotando o modelo soviético de desenvolvimento com base na estatização dos meios de pro-
dução, na coletivização da terra e na prioridade para a indústria de base.
Primeiro Plano Quinquenal (1953-1958) – Sob influência soviética, a China continuou priorizando a indus-
trialização de base. No entanto, ainda tinha quase 90% de sua população vivendo no campo. A partir de
1956, o governo começou a direcionar esforços para a agricultura, instituindo uma reforma agrária com base
em cooperativas rurais.
Grande Salto para a Frente (1958-1960) – Buscando ampliar a produção agrícola e industrial, Mao lançou
o slogan “três anos de esforços e privações, mil anos de felicidade”. As cooperativas agrícolas foram con-
vertidas em comunas populares nas quais, além da produção de subsistência, foi criada a indústria rural em
torno de pequenas vilas. O incentivo prioritário à industrialização, somado às dificuldades de administração
das comunas, levou à queda geral da produtividade agrícola. Estima-se que mais de 20 milhões de pessoas
morreram de fome. As relações com a União Soviética pioravam, e os países romperam relações em 1960.
Ajustamento (1960-1966) – Uma série de reformas foi realizada a fim de reparar os problemas causados
pelo Grande Salto para a Frente. Deng Xiaoping foi um dos líderes desse processo e seria depois o homem
mais importante para a estruturação da China moderna.
Revolução Cultural Proletária e culto à personalidade de Mao Tsé-tung (1966-1976) – A situação de
Mao Tsé-tung no governo e no PCC tornava-se cada vez mais difícil, depois dos sucessivos fracassos de seus
planos. Dentro do PCC surgiu uma corrente de oposição, a favor das Quatro Modernizações (agricultura,
indústria, defesa nacional e ciência e tecnologia), que foram postas em prática apenas após a sua morte.
Mao reagiu aos opositores e deu início à Revolução Cultural Proletária, baseada na luta revolucionária contra
o modo de vida capitalista, conduzida por comitês que formavam a Guarda Vermelha. Seus membros (em
geral, muito jovens) enquadravam intelectuais e críticos do regime como “burgueses reacionários”. O Livro
Vermelho, elaborado com frases de Mao Tsé-tung, tornou-se leitura obrigatória dos chineses, em uma época
em que a literatura estrangeira era considerada subversiva e imperialista. Durante a Revolução Cultural Chi-
nesa, a propaganda governamental estimulou o culto à personalidade de Mao. A censura nas escolas e nos
locais de trabalho era fortíssima, limitando drasticamente qualquer possibilidade de crítica ou oposição ao
líder. Trabalhadores e estudantes eram enviados para campos de trabalho forçado, o que abalou o sistema
universitário e produtivo chinês. Opositores de Mao eram presos, torturados e mortos.
Mao Tsé-tung morreu em 1976, deixando

PICTURES FROM HISTORY/BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


marcas profundas na política, na economia
e na sociedade chinesa. Ainda hoje sua ima-
gem é venerada pelos chineses, como o líder
que construiu as bases para a China atual.
O corpo de Mao permanece embalsamado e
exposto à visitação pública na capital Beijing
(Pequim). Novos dirigentes chineses puseram
fim à Revolução Cultural e adotaram a política
das Quatro Modernizações.

O Livro Vermelho foi a referência


de milhões de jovens que
formaram a Guarda Vermelha
durante a Revolução Cultural,
nas décadas de 1960 e 1970.

390
O início do crescimento econômico chinês até os dias atuais
Deng Xiaoping assumiu o governo chinês em 1978, iniciando então um conjunto de reformas a fim de
promover o desenvolvimento econômico do país. Deng teve a habilidade de manter o culto ao líder Mao Tsé-
-tung, ao mesmo tempo que promovia medidas governamentais opostas às dele, a começar pela abertura de
mercado e pelo estímulo à iniciativa privada. Apesar da abertura econômica, a China manteve o regime político
fechado, situação descrita como a de um país com dois sistemas, ou ainda, como socialismo de mercado.
Deng Xiaoping reestruturou a economia chinesa com base na política das Quatro

DAVID HUME KENNERLY/TIME


Modernizações:
I. Na agricultura, as comunas populares foram extintas e substituídas pelo sistema de
corresponsabilidade familiar: a terra permanece um bem público, mas a produção
rural tornou-se privada (por concessão e parceria). Nesse sistema, o agricultor é re-
compensado segundo sua produtividade, mantendo para si o lucro com a produção.
Ainda hoje o sistema agrícola chinês é o de jardinagem (veja o quadro Compreen-
dendo melhor), e 35% da População Economicamente Ativa (PEA) chinesa ainda
vive da agricultura. O país é líder mundial na produção de arroz, ao lado da Índia.
Destaca-se também no cultivo de cereais, algodão e chá, na criação de suínos e na
oferta de pescado. Cabe ressaltar que a introdução de insumos e equipamentos
rurais tem provocado uma concentração rural nas mãos dos produtores mais eficien-

GEOGRAFIA
tes. Isso vem provocando uma desruralização, ou seja, um êxodo rural, pois milhões
de pessoas saem do campo em busca de emprego nas indústrias e nas cidades.
II. O setor industrial modernizou-se como consequência da abertura do país a capi-
tais, empresas e tecnologias estrangeiras, seguindo um modelo de sociedade entre
Deng Xiaoping (na capa da publicação)
as empresas e o Estado chinês, com produção voltada à exportação. Essa abertura foi escolhido no ano de 1985 pela revista
se deu lentamente a partir da criação de Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) ou Zo- estadunidense Time como o “homem do
ano”, graças às reformas econômicas que

Módulo 21
nas de Processamento de Exportações (ZPEs), áreas junto a regiões urbanizadas e vinha implementando na China desde 1978.
portuárias que atraíram empresas do mundo todo, interessadas nas vantagens ofe-
recidas pelo governo chinês (isenções, subsídios), além da grande disponibilidade
de trabalhadores no país e dos baixos salários que receberiam. Em 1979, foi criada

REPRODUÇÃO/B. KUANG
a primeira ZEE, em Shenzhen, hoje uma das maiores e mais importantes cidades da
China, localizada na província de Guangdong, próximo a Hong Kong. Ao longo das
décadas de 1980 e 1990, o número de ZEEs foi ampliado.
Deng Xiaoping traduzia a política de abertura econômica
da China com uma frase: “Pouco importa a cor do gato,
contanto que ele cace ratos”. O Partido Comunista
Chinês continua no poder até os dias de hoje.

COMPREENDENDO MELHOR JOHANNES EISELE/AFP

A agricultura de jardinagem, uma técnica muita antiga de produção


agrícola, é intensamente utilizada no Sudeste Asiático, sobretudo nas áreas
das monções. Baseada na subsistência e principalmente no cultivo do ar-
roz, chamado também de rizicultura irrigada, a agricultura de jardinagem
utiliza grande quantidade de mão de obra, basicamente familiar, e pouca
tecnologia moderna, como máquinas, fertilizantes químicos e agrotóxicos,
por exemplo. Apresenta elevada produtividade e, na maioria das vezes, é
implementada em áreas de encostas, por meio da técnica do terraceamen- Terraço de arroz perto da cidade de
China e Índia

to, ou seja, o cultivo em “degraus”, para, entre outros fatores, reduzir a ve- Tiantou, em Longsheng, na região
autônoma de Guangxi Zhuang, no sul
locidade do escoamento da água superficial e diminuir a erosão do solo. da China. Foto de 2016.

391
A transferência de tecnologia foi ocorrendo aos poucos, o que favoreceu o surgimento de empresas
chinesas que fabricavam produtos similares aos das marcas consagradas mundialmente. O sócio chinês,
respaldado pela ausência de leis que garantissem a propriedade intelectual, muitas vezes se apropriava
da tecnologia e da marca estrangeiras. Assim surgiram os produtos “piratas”.
Outras medidas, como estímulo à obtenção de lucro, diferenciação salarial com base no mérito dos ope-
rários, baixo custo da produção em razão de maior flexibilidade das leis ambientais do país, aumento de
exportações e incentivo da população interna para o consumo favoreceram a modernização da indústria
chinesa. Outro estímulo do governo é a histórica desvalorização da moeda chinesa, o yuan, para favo-
recer o comércio exterior, uma vez que, produzindo a desvalorização da moeda diante do dólar, que é
a principal moeda utilizada no comércio internacional, a produção em solo chinês fica mais barata, tor-
nando seus produtos mais competitivos no mercado. Tal política enfrenta muitas críticas dos países que
competem com os produtos chineses pelo mundo.
Atualmente, a China possui produção industrial diversificada, fabricando desde bens de baixa tecnologia
(como tecidos) até bens de alta tecnologia (como computadores e aviões) de competitividade mundial.
É o segundo maior importador do planeta, atrás apenas dos Estados Uni-
NITINUT380/SHUTTERSTOCK

dos, sem, contudo, possuir a maior parte da sua população como consu-
midora efetiva em razão da baixa remuneração do trabalhador em geral
e da não inserção da maioria da população no mercado consumidor. Essa
situação vem se invertendo rapidamente por causa do desenvolvimento
econômico do país e da entrada dos consumidores no contexto urbano-
-industrial, o que, consequentemente, vem formando uma nova classe mé-
dia chinesa, detentora de grande capacidade de consumo, comparável à de
outras classes médias do mundo: em número, já é maior que a classe média
estadunidense, segundo dados de 2015 do banco Credit Suisse.
Diante de todas essas circunstâncias, é inegável que a China vem mu-
Graças à transferência de tecnologia estrangeira, dando rapidamente sua condição de país rural para a de um país urbano-
hoje marcas chinesas apresentam produtos com -industrial, atingindo importantes níveis e indicadores de desenvolvimento
grande competitividade no mercado internacional.
Na foto, carro chinês circula na Tailândia em 2015. econômico perante os outros países do mundo.

China: Zonas Econ™micas Especiais (ZEEs) (2010)

OCEANO
PACÍFICO

Harbin
Metrópole regional
Changchun Cidade mundial
Centro: polos de
Urumqi Shenyang Fushun crescimento regionais
Baotou Pequim Periferia integrada ao
Dalian centro, densamente
Tianjin COREIA povoada e industrializada
DO SUL
Taiyuan Periferia associada ao
Jinan centro, densamente
Lanzhou JAPÃO povoada, atividade
Zengzhou Nanquim agrícola dominante
Xi’an
Xangai Periferia marginalizada,
Wuhan
pouco povoada, expansão
Chengdu Chongqing
Lhasa das frentes pioneiras
Changsha
A maioria das Movimento migratório
ZEEs foi instalada Tróp Fuzhou
ico d
e
Litoral aberto ao comércio
estrategicamente Cânce Xiamen
r Shantou TAIWAN exterior
em cidades
Guangzhou Fluxo de investimentos
próximas do N Hong Kong estrangeiros
litoral para
facilitar a 0 485 Baía de
AMÉRICA Grandes eixos de
DO NORTE comunicação
exportação de km
Bengala Hainan E EUROPA
mercadorias.
FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geogr‡fico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 105.

392
III. Na área de ciência e tecnologia, o sistema universitário foi reestruturado com estímulo à pesquisa e à
formação de mão de obra qualificada, interessada em ocupar as melhores vagas nos centros técnicos e
universitários e nos cargos mais altos das empresas (gestão, jurídico, Tecnologias da Informação e Co-
municação – TIC –, Ciência e Tecnologia – C&T –, etc.). Hoje a China desenvolve tecnologia de ponta e
é considerada grande exportadora de bens de elevado aporte tecnológico, consequência da ampliação
dos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
IV. No campo da defesa, a modernização atingiu os armamentos (submarinos e mísseis nucleares), a infantaria
(maior contingente armado do mundo) e a tecnologia espacial (foguetes) e de informações (satélites artificiais).
O fato de o Exército chinês ser um dos maiores e mais bem equipados do mundo causa “desconforto”
em alguns países vizinhos, especialmente tendo em vista as duras ações militares chinesas em situações
de controle e opressão política interna. Desde o início das reformas econômicas, na década de 1980, mui-
tos chineses, sobretudo estudantes e intelectuais, começaram a clamar por abertura política e medidas
democratizantes. Reclamavam também do desemprego e da inflação e acusavam o PCC de ser corrupto,
além de repressivo (veja o quadro Compreendendo melhor, sobre o funcionamento do governo chinês). O
protesto mais conhecido foi o realizado na praça da Paz Celestial, em 1989. Soldados e tanques reprimiram
a manifestação de maneira violenta, com centenas de mortes, prisões e pessoas obrigadas a fugir do país.

COMPREENDENDO MELHOR

GEOGRAFIA
Entenda como funciona o governo da China

Com 66 milhões de membros [2005] e o título de maior partido político do mundo, o Partido Comu-
nista Chinês (PCC) governa a China desde 1949, sem tolerar oposição e geralmente reagindo de maneira
polêmica em relação a dissidentes.
O partido exerce influência sobre vários aspectos da vida dos cidadãos chineses – do que aprendem na

M—dulo 21
escola ao que assistem na televisão, seus empregos, suas casas e até o número de filhos que podem ter. [Em
2015, o PCC acabou com a política do filho único, permitindo agora que cada casal tenha até dois filhos.]
Mas a China é governada de fato pelos nove homens que compõem o Comitê Permanente do órgão
político do PCC, o Politburo – este, por sua vez, um organismo com 24 membros eleitos pelo Comitê
Central do partido e que, além de assegurar a manutenção da linha do PCC, controla três outras impor-
tantes instituições – o Comitê Militar, o Congresso Nacional do Povo (o Parlamento) e o Conselho de
Estado (o braço administrativo do governo).
Como não há eleição para o Comitê Permanente, chegar a ele é mais uma questão de influência e
apadrinhamento político. O funcionamento desse comitê é confidencial, mas alguns analistas acreditam
que seus membros se reúnem com frequência e muitas vezes discordam entre si. É raro, no entanto, que
essas discussões “vazem”.
Os membros do Comitê Permanente também distribuem entre si os cargos de secretário-geral do
partido, primeiro-ministro, presidente do Congresso Nacional do Povo e diretor do Comitê Central de
Inspeção Disciplinária.
Os novos membros do Politburo são escolhidos após uma rigorosa triagem, em que são investigados o
passado, as opiniões e a experiência de cada candidato.

Congresso Nacional do Povo


Segundo a Constituição de 1982, o Congresso Nacional do Povo seria o mais poderoso órgão do Es-
tado, mas, na prática, ele funciona mais como um “aprovador” das decisões do PCC.
Formado por quase três mil delegados eleitos pelas províncias, regiões autônomas, municipalidades e
China e Índia

as Forças Armadas. Cerca de 70% deles também são membros do PCC.

393
Apesar de comparado com um parlamento nos moldes políticos ocidentais, o Congresso não é uma
entidade independente, sem poderes concretos de modificar a Constituição nem criar leis.
O Congresso também “elege” o presidente e o vice-presidente do país, além dos presidentes do Co-
mitê Militar e da Suprema Corte Popular. Mas, novamente, essas eleições são diferentes das que ocorrem
no Ocidente, muitas vezes com apenas um candidato.
O Congresso controla ainda os principais órgãos judiciários da China, como a Suprema Corte Popular
e a Suprema Procuradoria Popular, e suas representantes regionais. [...].
BBC Brasil. Entenda como funciona o governo da China, 7 mar. 2005. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/forum/story/2005/03/050303_
chinapolitica.shtml>. Acesso em: 2 jan. 2017.

Desdobramentos das Quatro Modernizações


Para dar conta da expansão econômica e continuar atraindo empresas e investidores, o governo chi-
nês ampliou no país a rede de produção e transmissão de energia, a de transportes, ferrovias, aeroportos
e portos e a de comunicação. No setor energético, a expansão do número de termelétricas (movidas a
carvão mineral) causou sério agravamento da poluição atmosférica, em razão da emissão de gases de
efeito estufa e partículas.
A construção de hidrelétricas no país tem
LIU JIAO/IMAGINECHINA/AFP

como destaque a Usina de Três Gargantas, cons-


truída ao longo do estreito e profundo vale do
rio Yang-tse, um dos maiores do país. A barra-
gem tem, ainda, grandes eclusas que viabilizam
o transporte fluvial. O deslocamento de cerca de
8 milhões de produtores rurais representou um
custo socioambiental difícil de mensurar. Em con-
trapartida, a região metropolitana de Xangai pode
agora incluir o item “energia barata e renovável”
entre as suas vantagens comparativas.
A quantidade maior de habitações de baixo
custo no espaço urbano tem atraído milhões de chi-
neses, o que acelera o processo de desruralização
do país. Muitos deixam o espaço rural em busca dos
salários melhores que as cidades oferecem. Embora
para o padrão mundial esses salários sejam baixos,
Barragem da Usina de Três Gargantas no rio Yang-tse (rio Azul). Foto de 2014. para o chinês são elevados.
O governo chinês se esforça para conter esse processo por meio do sistema Hukou, que constitui um
conjunto de benefícios sociais (como acesso à saúde e à educação pública) ao cidadão que estiver em sua
província de nascimento.
Sobre o controle de natalidade, em 1979, a China impôs a seus cidadãos uma política rigorosa: a po-
lítica do filho único. Segundo estimativas, a China conseguiu, assim, evitar que a população atual tivesse
350 milhões de indivíduos a mais. A baixa taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida promo-
veram um rápido crescimento do número de idosos na China, fazendo o Estado pensar na criação de uma
rede de seguridade social que ampare essas pessoas quando não estiverem mais trabalhando. Atualmente,
essa responsabilidade é atribuída às famílias, que têm a obrigação legal de manter e cuidar dos idosos. Para
contornar o envelhecimento da população e evitar problemas demográficos futuros, desde 2015 o governo
chinês reviu tal política, autorizando que as famílias tivessem até dois filhos.

394
VISÃO GEOGRÁFICA

Fim da política do filho único

O Partido Comunista da China anunciou nesta quinta-feira [29 out. 2015] o fim da política do
filho único, permitindo que agora cada casal tenha até dois filhos.
O anúncio foi feito na reunião anual do partido. Todos os casais do país poderão agora ter dois
filhos, uma reforma que põe fim a mais de 30 anos da política que limitava os nascimentos no país.
Desde o fim de 2013 a China já adota medidas de relaxamento do controle de natalidade. Apesar
das mudanças, pesquisas mostraram que o número de chineses que querem ter o segundo filho ficou
abaixo do esperado.
No início de 2015, o vice-diretor da comissão de planejamento familiar da província de Shanxi
afirmou que a China deveria abandonar a política do filho único. A declaração dele foi criticada pela
imprensa estatal.

Contra superpopulação
A política do filho único entrou em vigor entre o fim de 1979 e 1980. O objetivo era reduzir os
problemas de superpopulação da China. Segundo especialistas, as medidas serviram para evitar que a

GEOGRAFIA
população atual do país fosse de 1,7 bilhão de habitantes, contra os atuais 1,3 bilhão.
O governo chinês sempre defendeu que a restrição ao número de filhos, sobretudo em áreas ur-
banas, contribuiu para o desenvolvimento do país e para a saída da pobreza de mais de 400 milhões
nas últimas três décadas. No entanto, também admitiu que estava chegando a hora de essa política
ser encerrada.
O envelhecimento rápido da população está entre os efeitos secundários mais prejudiciais da polí-

M—dulo 21
tica do filho único para a China. Em 2012, pela primeira vez em décadas, a população em idade ativa
caiu. O índice de fecundação no país, de 1,5 filho por mulher, é muito inferior ao nível que garante a
renovação geracional.
“Apesar de ainda ser um país em desenvolvimento, a China enfrenta um problema que é de
países desenvolvidos, que é o envelhecimento da sociedade. E o custo disso é muito alto”, afirma
Alexandre Uehara, pesquisador do núcleo de relações internacionais da USP (Universidade de
São Paulo).
Segundo Uehara, a China não tem uma política nacional de previdência, apenas alguns programas
regionais esparsos de aposentadoria. “Não haverá fundos suficientes para arcar com isso. É uma preo-
cupação inclusive política, o governo pode sofrer pressões no futuro”, avalia.
Além disso, o país sofre com o descompasso entre o número de homens e mulheres. A preferência
tradicional por filhos homens levou a um alto índice de abandono de meninas em orfanatos, a abortos
seletivos de acordo com o sexo do feto e até a casos de infanticídio feminino. […]
CHINA acaba com a política do filho único e permitirá 2 crianças por casal. G1, 29 out. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/
noticia/2015/10/china-acaba-com-politica-do-filho-unico-e-permitira-dois-filhos-por-casal.html>. Acesso em: 23 dez. 2016.

Sobre a projeção político-econômica da China no mundo, podemos destacar sua influência cada vez
maior no continente asiático e na América Latina. Destacam-se também os grandes investimentos em infraes-
trutura na África, como construção de estradas, portos, aeroportos, e infraestrutura urbana em países como
Zimbábue, Gana, Zâmbia, Sudão, Etiópia, Angola e Moçambique, além de investimentos nas áreas de saúde
China e Índia

e educação, financiando projetos de desenvolvimento nessas áreas. Em contrapartida, o gigante asiático


firma acordos de extração mineral (petróleo, gás natural, minério de ferro e até a compra de áreas agrícolas)
para suprir suas demandas internas.

395
Na América Latina, a atuação do capital chinês, de acordo com os interesses estratégicos do governo
e do empresariado do país, atua de maneira muito parecida com o que tem feito no continente africano. A
aquisição de minas de cobre no Peru, o direito de concessão para exploração do petróleo na Venezuela e
no Brasil (bacia de Libra na área do Pré-Sal), além de investimentos na construção de infraestrutura, como
o canal interoceânico a ser construído na Nicarágua, em associação com o capital russo, que pretende ser
uma alternativa à ligação entre o Atlântico e o Pacífico feito pelo canal do Panamá, colocam a China em
outro patamar de desenvolvimento e influência mundial, determinando uma nova era geopolítica mundial
a ser consolidada nas próximas décadas.

Índia: uma grande potência emergente


Com a segunda maior população do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes (dados da ONU), atrás da
China, mas bem próximo de superar essa marca e se transformar no país mais populoso do mundo, PIB de
2,09 trilhões de dólares e crescimento de 7,5% (2015), a Índia está entre as dez maiores economias do mundo.
Apesar do recente crescimento econômico, ainda não superou alguns aspectos do subdesenvolvimen-
to, como desemprego, falta de saneamento básico, desnutrição, elevadas taxas de mortalidade infantil
(52,7%) e de analfabetismo (40%) – embora 10% tenha ensino superior de alto nível –, baixa expectativa de
vida (68 anos), etc. O IDH do país era o 130o no ranking mundial em 2014. Com base nessas informações,
pode-se afirmar que a riqueza cultural e econômica do país contrasta com desigualdades sociais e atraso.

Índia: político
AFEGANISTÃO
Srinagar Caxemira
IRÃ Jammu CHINA
Amritsar
Punjab
PAQUISTÃO Bathinda
Meerut
Délhi
Bikaner Nova Délhi NEPAL Dibrugarh
Jaipur Lucknow BUTÃO
Agra
Jodhpur Kanpur Patna
Gwalior Bhagalpur Guwahati
Trópico de Varanasi
Câncer Imphal
Ahmadabad Bhopal Murwara Dhanbad BANGLADESH
Indore Calcutá
Gujarat Ranchi
Jabalpur Jamshedpur
Porbandar Vadodara
Nagpur MIANMAR
Surat Amravati Baleshwar
Durg
Mar Mumbai ÍNDIA
Pune Brahmapur
Arábico
Gulbarga Vishakhapatnam
Hyderabad
Kurnool Baía de
Kolhapur
Gadag Vijayawada Bengala

Hubli-Dharwar Tadpatri
Coromandel
Udupi Vellore
Is.
Mangalore Chennai Andaman
Bangalore
Calicute (IND)
Coimbatore Mar de
Is. Madurai
Cochin Andaman
Lacadivas Quilon
(IND) Trivandrum
N
SRI LANKA
OCEANO
0 295
ÍNDICO
km Punjab Nome de região

FONTE: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 140.

A Índia apresenta dois idiomas oficiais de referência (híndi e inglês), mas há mais outros vinte idiomas
oficiais e cerca de 1 600 dialetos no país.

396
Cerca de 80% dos indianos são influenciados pelo hinduísmo, uma religião politeísta e também um
sistema social que define os indivíduos com base em sua hereditariedade, dividindo-os em castas e impe-
dindo a mobilidade social. Para muitos estudiosos, essa é a razão para tamanha desigualdade social ainda
existente na Índia.
O sistema de castas existe desde a Antiguidade. Ele divide os indivíduos em grupos relativamente
fechados, que evitam relacionamentos entre as castas. Na parte superior do sistema estão os Brâmanes.
Xátrias, Vaixás e Sudras são castas intermediárias. Em último lugar
estão os Dálits, ou Párias. Para as castas superiores, seus mem- Sociedade tradicional de castas na Índia
bros são considerados intocáveis. O sistema de castas foi abolido
por lei em 1947, mas se mantém no cotidiano da sociedade
indiana. Algumas políticas sociais foram planejadas pelos gover- Brâmanes
sacerdotes
nos indianos com o objetivo de permitir o acesso de pessoas de
castas mais baixas a empregos e universidades (semelhante ao Xátrias
sistema de cotas no Brasil). No entanto, essas propostas enfrentam guerreiros
grande resistência da sociedade.
No país existem, ainda, áreas de maior concentração de islâmi- Vaixás
comerciantes
cos e algumas minorias cristãs, budistas, etc.

GEOGRAFIA
Sudras
operários

Segundo a religião hindu, o deus


Brahma teria dado origem às castas que Párias
formavam a sociedade tradicional indiana.
FONTE: What is India’s caste system? BBC, 25 fev. 2016. Disponível em: <www.
bbc.com/news/world-asia-india-35650616>. Acesso em: 23 dez. 2016. (Adaptado.)
DHIRAJ SINGH/BLOOMBERG/GETTY IMAGES

SUBHENDU SARKAR/LIGHTROCKET/GETTY IMAGES

Módulo 21
À esquerda, homem santo hindu aguarda para banhar-se no rio Godavari durante o Kumbh Mela (ritual de purificação que ocorre 4 vezes a cada
12 anos), em 2015. À direita, Ganesha em meio a uma multidão, em 2015. Ele é um dos mais conhecidos e venerados deuses do hinduísmo. É o deus
do intelecto, da sabedoria e da fortuna.

Aspectos históricos
A Companhia Britânica das Índias Orientais, uma organização comercial criada em 1600, atuava na Índia
e na China. Era responsável por levar ao mercado inglês os tecidos de algodão indianos e o chá chinês,
China e Índia

produtos muito apreciados pelos britânicos. A partir do século XVIII, iniciou a colonização de partes da Índia
quando sentiu que suas possessões comerciais asiáticas estavam ameaçadas. Os estados da Índia foram,
pouco a pouco, sucumbindo ao poder britânico.

397
çsia: impŽrios e col™nias (sŽculo XIX)

rtico

la
Po
EUROPA

o
ul
rc

IMPÉRIO RUSSO

IMPÉRIO
OTOMANO
JAPÃO
PÉRSIA
IMPÉRIO CHINÊS r
AFEGANISTÃO ce
(Dinastia Ching) ân
deC
o
pic
Tró

ÍNDIA BRITÂNICA
MACAU HONG KONG

OCEANO
ÁFRICA INDOCHINA PACÍFICO
N SIÃO

0 860 or
CEILÃO uad
MALDIVAS Eq
km

Possessões coloniais ÍNDIAS HOLANDESAS


Britânica Japonesa
Espanhola Holandesa OCEANO TIMOR-LESTE
Francesa Portuguesa ÍNDICO
OCEANIA
FONTE: GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geogr‡fico do estudante. São Paulo: FTD, 2016. p. 145.

A Coroa inglesa tinha o objetivo de explorar o vasto mercado consumidor indiano para suas fábricas e a
diversidade de recursos do território ao sul do Himalaia e entre as bacias hidrográficas dos rios Indo, Ganges
e Bramaputra. O imperialismo britânico subjugou os sistemas produtivos locais, especialmente os setores
agrícola, mineral, metalúrgico e têxtil, que passaram a explorar os

HISTORY ARCHIVE/REX/SHUTTERSTOCK
trabalhadores e a orientar a produção para o mercado externo.
No século XIX teve início na Índia um movimento de indepen-
dência. Surgiu o Partido do Congresso Indiano (PCI), formado pela
elite hindu do país. No entanto, para alcançar a independência, o
país precisava contornar os conflitos com a parcela muçulmana, que
não se sentia representada pelo PCI.
Nesse contexto, outro movimento para libertar a região do do-
mínio britânico foi liderado por Mohandas Karamchand Gandhi, um
hindu que estudou Direito na Inglaterra, advogou na África do Sul
e defendeu a independência por meio da desobediência civil e da
resistência pacífica contra os colonizadores. Durante as décadas de
1920 e 1930, Gandhi defendia que ninguém deveria obedecer às
leis que considerasse injustas e que a violência deveria ser recusada.
Após anos de boicotes aos produtos ingleses, greves e não coo- Gandhi foi uma das principais lideranças
da independência da Índia em relação ao
peração em massa, o Reino Unido acabou por negociar a indepen- Reino Unido. Até hoje é lembrado pelos atos
pacíficos de resistência à colonização, como a
dência (concedida em 1947), mas não do modo desejado por Gandhi. realização de boicotes aos produtos ingleses.

398
Em 1947, o território foi dividido em dois países: a União Indiana (para os hindus) e o Paquistão (para os
muçulmanos), sendo este último dividido também nas porções Ocidental e Oriental. Em 1971, o Paquistão
Oriental tornou-se independente, formando o atual Estado de Bangladesh. Até hoje, indianos e paquista-
neses discordam dos limites traçados. Grupos hindus, muçulmanos, sikhs, tâmeis e outros ainda disputam
territórios e territorialidades (modos de agir que definem quem manda em um espaço).
SUNIL VERMA/NEWZULU/ALAMY LIVE NEWS/FOTOARENA

GEOGRAFIA
O Tiranga
Yatra é uma
manifestação
que evoca o
nacionalismo e
o patriotismo

M—dulo 21
indiano. Na
foto, celebração
popular em
Jodhpur, 2016.

VISÃO GEOGRÁFICA

A disputa entre Índia e Paquistão pela Caxemira


[...] O conflito teve início ainda em 1947, quando as centenas de principados semiautônomos espa-
lhados pelo subcontinente indiano tiveram de optar pela integração à Índia ou ao Paquistão, com a inde-
pendência da região do domínio britânico. A anexação da área que hoje corresponde ao estado indiano de
Jammu e Caxemira pela Índia contraria o Paquistão e dá início ao conflito, que resulta na divisão da área
em duas partes, em 1949, uma para a Índia (Jammu e Caxemira) e outra para o Paquistão (Azad Caxemira).
Vale ressaltar que, ao contrário de diversos outros focos de tensão, o fator econômico, no caso do
conflito em Jammu e Caxemira, é secundário. A região não possui abundantes recursos minerais ou re-
servas importantes de petróleo. A principal atividade econômica é a agricultura de subsistência – 80%
da população é camponesa. No que diz respeito à indústria, a Caxemira é muito incipiente – as in-
dústrias mais importantes são as de transformação (tecidos, alimentos, bebidas), em geral controladas
pelo Estado (Índia, Paquistão ou China) e voltadas para o mercado interno, de baixo nível de renda,
surgindo assim o motivo da pouca envergadura da indústria na região. A região, no entanto, por sua
posição geográfica peculiar e pelas características dos países que disputam seu controle, possui um
China e Índia

significado geopolítico inegável. Cercada pela barreira natural dos Himalaias, o futuro da Caxemira
depende, sem sombra de dúvida, do status das passagens das cordilheiras para o resto do território, à

399
medida que estas possibilitam o acesso privilegiado de seus dominadores às regiões fronteiriças de
países vizinhos. Ademais, 4 dos 5 rios do Paquistão têm origem no Vale de Caxemira – esse fato ali-
menta as reivindicações paquistanesas de forma constante.
Na década de 1980, com o crescimento do fundamentalismo muçulmano, fortaleceu-se o movimento
separatista na Caxemira indiana, que conta com o apoio do Paquistão. Seus integrantes querem a indepen-
dência do território ou sua anexação ao Paquistão. O argumento utilizado para justificar reivindicações é o de
que, sendo de maioria muçulmana, a Caxemira deve fazer parte do Paquistão, também muçulmano, como
mencionado anteriormente. A Índia, por sua vez, alega ser um país laico, que aceita as diferenças religiosas.
Os confrontos se intensificaram nos anos 1990 motivados pelo radicalismo crescente dos guerrilheiros pa-
quistaneses e, no lado indiano, pelo acirramento da repressão militar e do fundamentalismo hindu.
Em 1999, os dois países entraram em guerra, depois que militantes apoiados pelo Paquistão inva-
diram o território indiano, e depois em 2001, quando atacaram o parlamento da Índia. Em novembro
de 2003, ambos chegaram ao acordo para estabelecer um cessar-fogo formal, depois que a Índia in-
dicou intenções de agir na mesma direção. Sem dúvida estes foram movimentos importantes para se
alcançar a paz na Caxemira, mas resta saber se o engajamento é real e duradouro.
Outro ponto importante para que a paz seja efetivamente estabelecida na Caxemira diz respeito ao
controle de grupos insurgentes na região. Vários ataques têm sido perpetrados, e a ação contra-insurgên-
cia indiana também continua, de forma que diversas pessoas continuam sendo mortas e feridas. A ques-
tão, no entanto, é que o controle desses grupos não depende exclusivamente de acordos entre Estados.
Estes podem, sim, comprometer-se a não dar apoio aos insurgentes e a utilizar mecanismos coercitivos
para reprimir suas ações, mas isto não é suficiente para garantir que os ataques sejam eliminados.
LAMAS, Bárbara Gomes. Paz na Caxemira: será? 26 ago. 2004. Disponível em: <www.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CNO_ARQ_
NOTIC20050802164124.pdf?PHPSESSID=f0cd83d6b3afd3b61e9777b469545bdb>. Acesso em: 23 dez. 2016.

Região da Caxemira

CHINA
Caxemira
AFEGANISTÃO Islamabad

Territórios reivindicados
pela Índia
IRÃ PAQUISTÃO Délhi Ocupado pelo
Paquistão
NEPAL
Nova Délhi BUTÃO
Ocupado pela China
Karachi
Trópic
o de Câ Limite da região da
ncer BANGLADESH Caxemira
Mar ÍNDIA
MIANMAR Caxemira Nome de região
Arábico Calcutá

TAJIQUISTÃO Hotam
Baía
AFEGANISTÃO

Mumbai de CHINA
Bengala
Gilgit
Hyderabad Azad
OCEANO Caxemira
Chitral
ÍNDICO Aksai
H

M Chin
N
I

Srinagar A
L
PAQUISTÃO A
0 395 I A
Islamabad Jammu-caxemira
km Jammu
N
ÍNDIA
Violências étnicas 0 185
Amritsar
Atentados terroristas SRI LANKA km

FONTES: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 145;
SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2013. p. 98.

400
A Índia hoje
A Índia tem grande diversidade produtiva. No setor agrícola, o país passou por modernização depois da
independência, com a introdução do uso de agrotóxicos e fertilizantes, máquinas, sementes selecionadas e
técnicas de cultivo e irrigação em vastas áreas monocultoras. Apresenta hoje modernos complexos agroin-
dustriais que ampliaram o setor de beneficiamento de alimentos e exportações. Isso, no entanto, intensificou
a concentração fundiária, provocando imenso êxodo rural nas décadas de 1950 e 1960.
Algumas cidades indianas sofrem pelo descompasso entre crescimento demográfico e expansão de in-
fraestrutura urbana. O país tem três megacidades: Nova Délhi, Mumbai e Calcutá. As maiores concentra-
ções demográficas estão ao longo do rio Ganges, ao norte e ao leste do país. As enormes desigualdades
socioeconômicas e o grande deficit habitacional explicam imensas favelas não muito distantes de bairros de
construções de alto padrão.
A economia industrial indiana é diversificada, mas os setores mais notáveis são metalurgia, automotriz
(carros, caminhões, tratores e motos), farmacêutica, têxtil e processamento de alimentos.

Índia: economia Índia: popula•‹o

GEOGRAFIA
Petróleo
Carvão Jammu e
Caxemira
Ferro
CHINA
CHINA
Ludhiana
PAQUISTÃO
PAQUISTÃO Délhi
Délhi
Arunachal
H AR Pradesh
D ET NEPAL NEPAL
BUTÃO Jalpur Lucknow Sikkim BUTÃO
TO
R

Assam
SE

Kanpur
DE

Kanpur
BA
NG

Patna BANGLADESH

Módulo 21
ncer Varanasi
Trópico de Câ Trópico de Câ
ncer
LA

D Ahmadabad Bhopal
Ahmadabad ES
H
Jamshedpur Vadodara Jabalpur
Vadodara MIANMAR Indore
Calcutá Rajkot MIANMAR
Calcutá
Surat Surat
Nagpur
Baía de
Mumbai Criação extensiva Mumbai Pune
Pune Baía de Bengala
Hyderabad Bengala de gado
Vishakhapatnam
Vishakhapatnam Culturas variadas
Hyderabad
Arroz
OCEANO Trigo Goa
OCEANO
ÍNDICO Chá ÍNDICO
Algodão Bangalore Chennai Milh›es de habitantes
Chennai
Bangalore Juta De 1,0 a 5,0
Cana-de-açúcar Coimbatore
N Madurai N De 5,1 a 10,0
Centro industrial Madurai
Cochin importante Cochin
0 360 0 360 De 14,0 a 18,0
Alta tecnologia
km SRI LANKA km SRI LANKA

FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed.
São Paulo: Moderna, 2013. p. 101. São Paulo: Moderna, 2013. p. 101.

Os principais polos industriais indianos são Mumbai (ex-Bombaim), Madras, Délhi, Bangalore. Em
Hyderabad, instalou-se um centro de pesquisas farmacêuticas que tem desenvolvido novos medicamen-
tos, incluindo remédios genéricos. Esse setor tem grande interesse em formalizar parcerias com o Brasil e
a África do Sul, sendo uma das pautas principais do grupo Ibas, formado pelos três países.
O setor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vem impulsionando o crescimento do país
nos últimos anos. Destaca-se a cidade de Bangalore, conhecida como Vale do Silício indiano, que concentra
pesquisas de alta tecnologia associadas às indústrias aeroespacial e de satélites, de aviões, softwares, entre
outras. A formação científica e tecnológica de qualidade oferecida pelas universidades e pelos institutos de
China e Índia

pesquisa indianos atrai empresas estrangeiras interessadas em contratar profissionais locais: cerca de um
terço dos trabalhadores especializados da Microsoft é proveniente da Índia; a mesma coisa ocorre com cola-
boradores qualificados da Nasa. Por esse motivo, a Índia é conhecida por “exportar cérebros”.

401
A Índia também tem uma indús-

DINODIA PHOTOS/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA


tria siderúrgica importante, por causa
da presença de reservas de minério
de ferro e carvão mineral, que a colo-
ca entre os maiores produtores mun-
diais de aço.
O setor cinematográfico é tam-
bém muito expressivo, mobilizando
o circuito criativo indiano de geração
de emprego e renda. Os filmes de
Bollywood projetam a Índia interna-
cionalmente, bem como sua cultura,
seus produtos e seus valores. Mumbai
é o principal centro cinematográfico
indiano.
Bollywood é o nome dado à indústria cinematográfica indiana. Surgiu da junção
A Índia vem modernizando o de Bombaim (atual Mumbai) com Hollywood, nome da indústria de cinema
estadunidense. Atualmente nenhum país produz tantos filmes quanto a Índia,
setor terciário, tendo se tornado que ultrapassa a marca de mil títulos por ano.
um país de referência para a pres-
tação de serviços relacionados às

CHRISTIAN SCIENCE MONITOR/GETTY IMAGES


TIC. Muitas empresas internacionais
de teleatendimento estão na Índia.
O domínio da língua inglesa, asso-
ciado à oferta de mão de obra barata,
é fator atrativo.
Outro ponto importante é a con-
dição de potência nuclear que a Índia
detém. Com seu arsenal desenvolvido
nos anos 1970 (promoveu seus pri-
meiros testes com uma bomba atômi-
ca em 1974), o país entrou no seleto
grupo de países com armas atômicas
como forma de se impor política e
militarmente contra o Paquistão em
razão das disputas territoriais entre os
dois países pela Caxemira, como abor-
dado anteriormente. Cerca de 250 mil indianos atendem a ligações de todas as partes do mundo
(sobretudo da Austrália, da Nova Zelândia e dos Estados Unidos) em call centers
Essa condição militar da Índia instalados na Índia. Esse serviço terceirizado é contratado por grandes marcas
de cartões de crédito ou de telefonia móvel. Foto de 2011.
impõe uma importante configura-
ção geopolítica no continente asiático, onde a existência de nações com alto poderio bélico e uso de
tecnologia nuclear, como o Paquistão, a Rússia, a China, a Coreia do Norte, Israel e a própria Índia,
determina um cenário extremamente instável, uma vez que esses países possuem interesses políticos e
territoriais conflitantes entre si e uma guerra entre eles poderia levar a uma catástrofe sem precedentes
na História.
A Índia também tem buscado maior visibilidade política no mundo, pleiteando uma vaga no Conselho
de Segurança da ONU como membro permanente, mas tal proposta tem sido rechaçada principalmente
por seus vizinhos: a China e a Rússia temem dividir a influência política do Conselho de Segurança com o
país, e o Paquistão não aceita que a Índia tenha influência ainda maior e imponha ainda mais seus interes-
ses na região, sobretudo na Caxemira.

402
SITUAÇÃO-PROBLEMA

Índia inaugura a cúpula dos Brics contrapeso às potências do Ocidente na gestão dos assuntos
que discutirá crise econômica mundiais.
O grupo tem banco próprio, paralelo às instituições do
[...] O primeiro-ministro indiano Narendra Modi recebeu
Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial,
neste domingo [16 out. 2016] os líderes das potência emergen-
e celebra cúpulas que rivalizam com o fórum do G7 dos países
tes que integram o Brics para uma cúpula na qual esperam es-
mais industrializados.
treitar seus laços e tentar superar as dificuldades econômicas
Mas o único membro do Brics que pode se vangloriar de
sofridas pelo bloco.
seus resultados econômicos é a Índia, que, segundo projeções
Modi e os dirigentes do Brasil, Rússia, China e África do
do FMI, registrará para 2016/2017 uma expansão de 7,6%, ní-
Sul mostraram-se otimistas durante a foto oficial tirada em um
vel equivalente ao exercício anual anterior.
complexo hoteleiro do turístico Estado indiano de Goa (oeste),
O resto do grupo não pode dizer o mesmo. Rússia e Brasil
antes dar início às conversações.
caíram recentemente em recessão, uma situação que no mês
“Creio firmemente que o desenvolvimento simultâneo de
passado a África do Sul conseguiu evitar por pouco.

GEOGRAFIA
Brasil, Rússia, China, África do Sul e Índia supõe uma apos-
Enquanto isso, o crescimento na China, a locomotiva da
ta maior para conseguir o crescimento e o desenvolvimento
economia mundial, se viu seriamente desacelerado.
globais”, declarou Modi em Benaulim, a cidade de Goa onde
transcorre a cúpula anual. Por isso, vários analistas expressaram dúvida sobre a atual
relevância do bloco em função de seus problemas econômicos.
O nacionalista hindu Modi recebe em Benaulim os presi-
dentes brasileiro Michel Temer, chinês Xi Jinping, russo Vladi- No entanto, o site do Global Times, um importante jornal
mir Putin e sul-africano Jacob Zuma. da China, advertiu contra a tentação de minimizar a importân-

M—dulo 21
cia do grupo.
Xi Jinping, líder da segunda maior economia mundial, aler-
tou em seu discurso que a economia global permanece em um “Os países ocidentais sempre são céticos frente às tentativas
estado precário e que o Brics tem sido vítima de inimigos in- de cooperação entre países não ocidentais e suas opiniões sobre
ternos e internacionais. a cúpula de Goa vão nesse sentido”, afirma, em seu editorial.
“Por causa do impacto dos fatores internos e externos, os Os primeiros intercâmbios começam a dar resultado. Na
países do Brics sofreram uma desaceleração em seu cresci- véspera, Putin e Modi assinaram contratos milionários nos âm-
mento e enfrentam novos desafios de desenvolvimento”, afir- bitos de energia e defesa, em um contexto de estreitamento das
mou a seus colegas. relações bilaterais.
Já o presidente Temer, que substituiu a destituída Dilma Entre os cerca de vinte acordos firmados está a venda do
Rousseff, tentará nesta cúpula reforçar os intercâmbios comer- mais recente sistema de defesa antiaérea russo para a Índia. [...].
ÍNDIA inaugura a cúpula dos Brics que discutirá crise econômica. G1, 16 out. 2016.
ciais de seu país junto ao resto do grupo para tentar tirar o Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/10/india-inaugura-cupula-dos-
Brasil de sua pior recessão em meio século. brics-que-discutira-crise-economica.html>. Acesso em: 2 jan. 2017.

Além dos temas de cooperação econômica, o aquecimento Nesse novo contexto geopolítico e econômico de ascen-
global e a segurança regional estão na agenda da cúpula.
são das economias emergentes como Brasil, Índia e China,
A Rússia também deve abordar nos debates a questão da por exemplo, a integração político-econômica entre eles tem
Síria, cujo governo é apoiado por Moscou em seu combate se mostrado fundamental na busca de maior equilíbrio nas re-
contra os rebeldes e extremistas, apesar das críticas e denún-
lações geopolíticas internacionais. No contexto dos Brics, há
cias da comunidade internacional.
um claro e notório papel de protagonismo desempenhado por
Gigantes emergentes em crise China e Índia nesse processo. Quais são os desafios impostos
O Brics, cujos membros juntos somam 53% da população aos dois para que ascendam ao patamar de países plenamente
mundial e 16 trilhões de dólares de PIB, foi constituído em 2011 desenvolvidos? Como a integração em torno dos Brics pode
China e Índia

para utilizar sua influência econômica e política conjunta como ajudar os dois países a atingir esse nível nos próximos anos?

403
PARA CONCLUIR

Neste módulo, analisamos dois gigantes emergentes do continente que vêm ganhando mui-
to destaque no cenário político e econômico global atualmente: China e Índia. Analisamos o
desenvolvimento chinês desde a revolução maoísta de 1949, passando pelas ações de Deng
Xiaoping a partir de 1978 e pelo grande desenvolvimento atual do país e seu papel cada vez
mais fundamental no mundo.
Sobre a Índia, destacamos suas características gerais, seus desafios em conciliar crescimento eco-
nômico e inclusão e ascensão social para a maior parte de seus habitantes, bem como sua parti-
cipação cada vez maior na produção científica mundial.
Além disso, propusemos uma análise sobre o futuro do Brics com base nas projeções atuais feitas
sob a óptica da China e da Índia, que vêm se destacando cada vez mais nesse grupo de países.

PRATICANDO O APRENDIZADO
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

1. (Uece − Adaptada) A relação entre os processos políti- c) à eliminação da sociedade de castas que marcou a
cos e sua consequente espacialização determinam mui- milenar história do país e impedia as pessoas de cas-
tas vezes as relações internacionais e intranacionais. Os tas inferiores de ascender econômica e socialmente.
principais conflitos geopolíticos que ocorrem no mundo d) aos avanços alcançados pela sua indústria nos se-
expressam, quase sempre, as disputas por territórios, tores farmacêutico, de fibras ópticas, de satélites e
como é o caso das minorias etnorreligiosas que vivem informática.
no Paquistão e estão em conflitos constantes com:
e) à resolução do conflito com o Paquistão pela Caxe-
a) Bangladesh. mira, o qual obrigava a Índia a desviar imensos re-
b) Indonésia. cursos para a produção de armamentos, inclusive
c) Índia. nucleares.
d) Síria.
3. (UFF-RJ) Leia a notícia e observe a foto.
e) China.
Fim do mundo mais pr—ximo
2. (UEPB) O grande crescimento da Índia desde os anos
O ponteiro do “Relógio do Fim do Mundo” foi adiantado
de 1990 coloca este país como um dos quatro gigantes
ontem em cinco minutos. Essa mudança deveu-se às ex-
emergentes, ao lado da Rússia, China e Brasil. O prog-
plosões subterrâneas, nos últimos meses, de cinco bombas
nóstico econômico é de que a Índia atinja em meados
atômicas pela Índia e seis pelo Paquistão, em testes que ra-
deste século a terceira posição na economia mundial.
tificaram a entrada dos dois países para o clube de potências
Este fato se deve:
nucleares − até então limitado aos EUA, Rússia, Inglaterra,
a) ao extraordinário crescimento de sua indústria cine- França e China. [...]
matográfica, que hoje já ultrapassa a produção de “As consequências de um possível confronto nuclear en-
Hollywood, sua grande concorrente. tre Índia e Paquistão são imprevisíveis”, alerta o Boletim dos
b) ao crescimento de sua população que é hoje a segun- Cientistas Atômicos.
da do mundo, com alto poder de consumo. Jornal do Brasil, 12 jun. 1998. Adaptado.

404
REPRODU‚ÌO/UFF 2006
que justifica a preocupação mundial acerca desse con-
flito em questão.
a) Mahatma Gandhi deixou à posteridade hindu um sen-
timento de ódio e rivalidade contra os muçulmanos.
b) A Índia, pelo seu potencial econômico, ameaça a he-
gemonia econômica dos EUA, Europa e Japão.
c) O Paquistão quer expandir os seus ideais socialistas
na Caxemira.
d) O Paquistão pretende entregar a região aos talibãs
do Afeganistão.
e) A Índia e o Paquistão são duas potências nucleares
com intensa rivalidade e altamente armadas.

5. (UFRRJ) No mapa a seguir, encontra-se identificada uma


das principais áreas de tensão do planeta na atualidade.
Militares do Paquistão e da Índia, frente a frente, na fronteira entre os
dois países.

GEOGRAFIA
AFEGANISTÃO
Caxemira
Um fator responsável pelos enfrentamentos entre Índia Islamabad
CHINA

e Paquistão é o seguinte:
PAQUISTÃO
IRÃ
a) a disputa pela região da Caxemira, área geográfica Nova Délhi
NEPAL BUTÃO

fronteiriça de maioria demográfica muçulmana, sob Trópico


de Câncer
BANGLADESH
Mar
controle majoritariamente indiano. Arábico
MIANMAR
ÍNDIA
b) o avanço do terrorismo na região da Caxemira, com Baía
de

Módulo 21
Bengala
domínio paquistanês sobre uma população majorita-
riamente de origem hindu.
c) a aliança política formada entre muçulmanos do Pa- N

quistão e do Afeganistão, sob liderança talibã, contrá- OCEANO


0 580
ÍNDICO
SRI LANKA
ria ao hinduísmo nas fronteiras. km

FONTE: Folha de S.Paulo, 3 mai. 2003.


d) a pressão militar atômica chinesa sobre a Índia, com
a decorrente desestabilização da identidade religiosa Assinale a alternativa que apresenta uma das razões
que une indianos e paquistaneses. para o conflito entre Índia e Paquistão, pelo controle
e) o entrechoque de civilizações milenares, tornadas ri- dessa região.
vais a partir da corrida nuclear estabelecida naquela a) Disputa pelo controle das cidades consideradas sa-
parte da Ásia, nos últimos anos. gradas por ambos os povos.
b) Existência de reservas de urânio, cobiçadas pelos dois
4. (Ufla-MG) Após a independência da Índia (1947), a re-
países com capacidade nuclear.
gião passou a ser disputada por hindus e muçulmanos.
c) Conflitos religiosos, onde budistas e muçulmanos já tra-
A solução parecia ter sido encontrada com a formação
varam três guerras e adotaram práticas de terrorismo.
de dois países: Índia, de maioria hindu, e Paquistão, de
maioria muçulmana. Porém, a paz não veio; o conflito d) Aspirações nacionalistas dos povos da Caxemira,
ressurgiu com muito mais violência. O alvo passou a ser que reivindicam a sua separação e independência
então a Caxemira, região de maioria muçulmana sob do Paquistão.
domínio da Índia. e) Disputas territoriais decorrentes do processo de inde-
No pós-Guerra Fria, o conflito da Caxemira assume pendência desses dois países, com o fim do domínio
China e Índia

uma importância internacional. Assinale a alternativa britânico.

405
DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. (PUC-RJ) c) Em busca de prover a demanda de energia no mes-


C6 mo ritmo do crescimento econômico do país foi
REPRODUÇÃO/PUC-RJ 2015

H28
construída, no rio Yang-Tsé, a usina hidrelétrica de
Três Gargantas, que se encontra entre as maiores
centrais hidrelétricas do mundo.
d) A China caracteriza-se pela maior concentração po-
pulacional na sua extensa faixa litorânea, local de
maior dinamismo econômico no país e onde foram
criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEE), áreas
específicas para a entrada de capital internacional
que, por intermédio de joint ventures – associação
entre empresas estrangeiras e locais – produzem es-
Chineses veem o nascer do Sol por meio de telas de LED. sencialmente para o mercado interno.
ƒpoca Neg—cios Online. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/
Informacao/Dilemas/noticia/2014/01/>. Acesso em: 1o fev. 2014. e) No contexto da Nova Divisão Internacional do Traba-
lho, a China destaca-se por contar com uma mão de
A imagem selecionada indica a: obra abundante, altamente qualificada e bem remu-
a) força da economia chinesa frente aos desafios da glo- nerada o que favorece seu comércio interno.
balização.
b) potencialidade da tecnologia para eliminar os proble- 3. (ESPM-SP) Observe o texto que compara o atual mo-
C2 mento entre os países abaixo:
mas ambientais. H6

c) submissão das sociedades orientais à péssima quali- Uma nova Guerra Fria se desenha no horizonte, mas com ca-
dade de vida. racterísticas muito diferentes em relação ao antagonismo entre co-
d) capacidade das empresas de telas planas de criar rea- munismo e capitalismo que dominou boa parte do século passado.
Ceo Exame, jun. 2010.
lidades virtuais.
e) estratégia do Estado chinês para tentar amenizar a
realidade ambiental.

2. (Unioeste-PR – Adaptada) A China é o país mais populoso


C6 do planeta e uma potência militar que tem conseguido
H26 Mar
atrair investimentos estrangeiros em grande proporção, Amarelo

sustentando um crescimento econômico que lhe confere


um papel estratégico e de crescente projeção no cenário Tróp
ico de
C âncer
mundial. Sobre a China, sabe-se que: N
0 830
Mar da China
a) Em 1949 foi proclamada a República Popular da Chi- km Meridional

na, sob liderança de Deng Xiaoping. O socialismo im-


OCEANO
plantado rompeu a dominação colonial e imperialista PACÍFICO
que havia explorado a China por quase cinco séculos.
N
b) A partir do final da década de 1940 o governo toma
OCEANO
uma série de medidas econômicas liberalizantes que 0 990 ATLÂNTICO
km
propiciaram a abertura e a modernização da economia Tró
pico Golfo
de Cânce
por meio de uma política estatal elaborada e controla- r do México

da firmemente pelos líderes do Partido Comunista. FONTE: Atlas geogr‡fico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

406
a) os Estados Unidos são a grande potência militar do glo- 5. (FGV-SP) O espantoso crescimento econômico da China
bo, enquanto a China sequer possui ogivas nucleares. C4 no último decênio revela-se com nitidez no aumento da
H18

b) repetir-se-á o embate entre capitalismo e socialismo participação do país no comércio mundial. A esse res-
dos tempos da bipolaridade, pois as características peito, assinale a alternativa correta:
globais não mudaram o suficiente para superar as di- a) Os preços das commodities no mercado mundial vêm
ferenças ideológicas. sendo profundamente afetados pelas oscilações da
c) há uma oposição entre os dois países muito parecidos demanda chinesa.
na seara econômica, mas diametralmente opostos em b) A China não pertence à Organização Mundial do Co-
seus sistemas políticos. mércio (OMC), fato que limita seu intercâmbio comer-
d) Rússia e Estados Unidos, hoje, adotam os mesmos sis- cial com os Estados Unidos.
temas econômico e político. c) Os investimentos chineses nos países africanos con-
e) o sistema norte-americano é tipicamente de merca- centram-se no setor de serviços, especialmente trans-
do, enquanto a China adota uma ortodoxa economia porte e comunicações.
planificada. d) O aumento da penetração de produtos chineses na
América Latina não afeta de maneira significativa as
4. (Fuvest-SP) Os investimentos diretos da China no Brasil exportações brasileiras para a região.
C2 aumentaram vertiginosamente nos últimos anos, confor-
H6 e) O incremento do fluxo de comércio bilateral Brasil-

GEOGRAFIA
me pode ser observado no gráfico a seguir. -China não vem sendo acompanhado por investimen-
tos produtivos chineses.
Investimentos diretos da
China no Brasil (em dólares)
6. (PUC-RJ – Adaptada)
10 bilhões*
C2

REPRODUÇÃO/PUC-RJ 2008
H7

M—dulo 21
*estimado

82 milhões

38 milhões
24 milhões
8 milhões 7 milhões
2005 2006 2007 2008 2009 2010

FONTE: Revista Exame, 16 jun. 2010. Adaptado.

Sobre esses investimentos, é correto afirmar:


a) Destinam-se, principalmente, à produção de matéria-
-prima no Brasil, destacando-se minério de ferro e soja.
b) Originam-se, principalmente, da falta de qualificação Disponível em: <www.coxandforkum.com>.

da mão de obra no setor agrícola, na China, nos últi-


Em relação ao jogo geopolítico internacional no atual
mos anos.
século, o ex-presidente norte-americano George W.
c) Devem-se à necessidade de a China diversificar e ex- Bush encontrou dificuldades em manter o equilíbrio
pandir sua indústria pesqueira para além do Sudeste entre os interesses dos EUA e os das potências emer-
Asiático. gentes na Ásia, como acontecia no período da Guerra
d) Concentram-se na produção pecuária, visando aten- Fria. Na charge, vê-se o desequilíbrio devido ao(à):
der à crescente demanda de sua carteira de negócios a) crescimento geopolítico da China continental na Ásia,
no mercado norte-americano. impondo uma recomposição territorial com Taiwan
China e Índia

e) Relacionam-se à flexibilização da legislação trabalhis- (China insular), país formado pela ruptura ideológica
ta brasileira, que tem atraído investimentos chineses, ocorrida, no território chinês, após a revolução socia-
sobretudo para o setor de biotecnologia. lista de Mao Tsé-tung, em 1949.

407
b) crescimento militar de Taiwan na Ásia, o que afasta A análise da tabela permite afirmar que, entre as duas
o país chinês nacionalista da China Socialista con- datas:
tinental, país menos bélico e voltado para as ques- a) as exportações chinesas de produtos de alta tecno-
tões de organização supranacional da nova ordem logia para os países de nível tecnológico médio-alto
mundial. apresentaram as maiores diferenças percentuais.
c) redução da influência norte-americana na Ásia devido b) a China passou a exportar mais para países de alto ní-
ao crescimento econômico, financeiro e militar chi- vel tecnológico do que para aqueles com baixo nível
nês continental, o que culminará com a retomada de tecnológico.
Hong Kong (“o pé esquerdo de George W. Bush”, na c) as diferenças significativas nos percentuais de expor-
charge), nas próximas décadas. tações chinesas para os países de baixa tecnologia
d) perda da hegemonia norte-americana na Ásia, no deveram-se ao grande avanço tecnológico consegui-
atual século, frente ao fortalecimento dos NICs (New do internamente por tais países.
Industrialized Countries), o que afasta Taiwan da Chi- d) o aumento de 20,8% para 34,5% das exportações chi-
na continental, país que é o maior aliado norte-ameri- nesas para o bloco de países de alta tecnologia revela
cano no continente. o grande contingente de mão de obra não qualifica-
e) possível interferência militar norte-americana na Chi- da que eles possuem.
na continental, que vem ameaçando invadir Taiwan e) as exportações chinesas de produtos de alta tecnolo-
caso esse país chinês insular continue a se afastar dos gia para os países de nível tecnológico baixo-médio
objetivos de integração propostos pela APEC (Asia- apresentaram as maiores diferenças percentuais.
-Pacific Economic Cooperation), bloco econômico do
qual participam os EUA. 8. (Ufop-MG – Adaptada)
C4
H18
Chineses vão discutir como frear a economia
7. (Unesp-SP) Estatísticas recentes dão conta de que Folha de S.Paulo, 1o mar. 2007.
C2 as exportações brasileiras de produtos de alta tec-
H6
Impasses de uma economia em ebulição
nologia estão sendo prejudicadas pela expansão da
Jornal do Comércio, 9 abr. 2007.
participação chinesa no mercado mundial. Em 2006,
a China exportou 288 bilhões de dólares para os Es- China investiga se trabalhadores ganham abaixo do piso
tados Unidos e 148 bilhões de dólares para a União China Daily, 29 mar. 2007.

Europeia participando, respectivamente, com 34,9% e China ultrapassa EUA em exportações para o Japão
35,3% do total importado, contra 7,7% e 5,2% de par- BBC-Brasil, 12 fev. 2007.
ticipação do Brasil.
Banco Mundial destaca a redução das florestas e a dete-
rioração do solo e da qualidade da água como os principais
China: exportações de produtos de alta tecnologia problemas ambientais da China.
em várias partes do mundo conforme intensidade BBC-Brasil, 12 fev. 2007.
tecnológica, em 1999 e 2006 (em %)
Sobre a economia chinesa, sabe-se que:

Áreas/Nível tecnológico 1999 2006 a) O crescimento econômico da China veio acompanha-


do de justiça social.
1. Baixa tecnologia 43,4 28,3 b) A China tem diminuído suas exportações de produtos
manufaturados.
2. Baixa-média tecnologia 13,2 15,2 c) O modelo de crescimento chinês é compatível com o
que se chama de “desenvolvimento sustentável”.
3. Média-alta tecnologia 18,0 20,1 d) O modelo de economia planificada eliminou a pobre-
za do País.
4. Alta tecnologia 20,8 34,5
e) A abertura econômica do país não implicou na aber-
FONTE: Global Trade International Service (GTIS)/Fiesp. tura política.

408
9. (Ufpel-RS) Observe o gráfico a seguir. e) a inexistência de pontos de conflito no território chi-
C2
H6
nês e a sua homogeneidade étnica permitiram a pro-
A China acelera: evolução do
funda transformação no Estado e na sociedade, com
PIB (em bilhões de dólares)
o estabelecimento geral da propriedade privada.
1 800
1 600 1 526
1 400 10. (UFF-RJ − Adaptada) A matéria jornalística a seguir refe-
1 200 C2 re-se a um crescente problema diplomático.
H7
1 000

*Projeção
800 Projeto autoriza uso da força contra Taiwan
600
O governo chinês apresentou ontem ao Congresso Nacio-
400
nal do Povo projeto de lei que autoriza o uso da força contra
200
0
Taiwan se houver risco da tomada de medidas unilaterais por
parte dessa ilha. No projeto, o governo da China ressalta que
1976
1960
1964
1968
1972

1980
1984
1988
1992
1996
2000
2004*
uma ação militar será adotada, só na hipótese de esgotamento
FONTES: Banco Mundial e Global Invest.
do processo de negociação pacífica. Vale ressaltar que, sendo
O mundo está de olho na China. Com 20% da o maior aliado da ilha, os EUA estão obrigados por lei a defen-
população mundial dentro de seu território e uma dê-la na hipótese de agressão externa.

GEOGRAFIA
economia que cresceu cerca de 10% ao ano, em média,
desde 1980, o país tem ocupado um espaço cada vez Folha de S.Paulo, 9 mar. 2005, p. A13. Adaptado.
maior no cenário internacional.

Com base nas informações anteriores e em seus conhe- Assinale a alternativa contendo o fator que explica esse
cimentos sobre o atual modelo de desenvolvimento chi- possível conflito:
nês, é correto afirmar que: a) A vigência do capitalismo em Taiwan impede a anexa-
a) o pluripartidarismo e a liberdade sindical foram fun- ção dessa ilha por parte da China, assim como ocor-

Módulo 21
damentais para a introdução da economia de merca- reu no caso de Hong Kong.
do através da criação de Zonas Econômicas Especiais b) As enormes diferenças culturais existentes entre Chi-
voltadas para o comércio internacional. na e Taiwan se materializam, por vezes, em ações de
b) baixos salários, vasto mercado interno, incentivo à nítida conotação racista.
exportação e reformas políticas democráticas promo-
c) A evolução política interna de Taiwan vem reforçando
vidas pelo Partido Comunista são aspectos responsá-
o desejo de autonomia completa, assim como de seu
veis pela atual competitividade chinesa.
reconhecimento internacional.
c) as reformas econômicas e políticas implantadas, que
ocasionaram a abertura do país para o capital interna- d) A crescente capacidade exportadora de Taiwan tem
cional, foram viabilizadas pela liberdade de organiza- criado grande concorrência aos produtos chineses, o
ção política dos sindicatos e da imprensa chinesa. que representa o principal fator de rivalidade entre os
dois países.
d) a ampliação de produção de bens de consumo, a en-
trada de capital e tecnologias estrangeiras, a criação e) Desde a Revolução Chinesa Pequim não possui rela-
das Zonas Econômicas Especiais e outras medidas ções diplomáticas com o Kuomintang, partido capi-
econômicas não foram acompanhadas pela democra- talista reprimido pelo Partido Comunista Chinês por
tização política. servir como símbolo de resistência.

ANOTA‚ÍES
China e Índia

409
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Uerj) 2. (Uerj)
A fotógrafa Payal Parekh estaciona seu carro ao lado da fa-
Orçamento militar da vela de Cuff Parade, em Bombaim. Filha do dono de uma
China (US$ bilhões) grande confecção de tecidos de seda, Payal não sabe o que é
2000 14,6 ter medo de sua cidade. Com a máquina [fotográfica] pendu-
2001 17 rada no pescoço, uma câmera digital nas mãos, óculos escuros
2002 20 Chanel, a moça entra sorrindo pelas vielas. − Eu não tenho o
2003 22,4 menor medo de entrar nas favelas. O único cuidado que te-
2004 25 nho é pedir permissão para bater a foto antes de clicar, porque
2005 29,9
muita gente é tímida e não gosta − conta.
2006 35,3 O Globo, 18 fev. 2007. Adaptado.
2007 45
2008 57,2 O caso indiano revela a insuficiência do argumento que
2009 70,3 aponta a pobreza como causa primordial da violência.
2010 77,9 Esse exemplo permite refletir sobre a relevância de ou-
2011 91,5 tros fatores explicativos da violência, tais como:
2012 106,4
a) origem étnica. c) forma de governo.
FONTE: Disponível em: <http://militaryphotos.net>. Adaptado.
b) legislação penal. d) formação cultural.

Maiores gastos militares no 3. (UFRGS-RS) A China vem expandindo sua economia e


mundo em 2010 (US$ bilhões) ampliando suas relações para além de suas fronteiras.
Austrália 24 Há poucos anos, ela ingressou na Organização Mundial
Coreia do Sul 27,6 do Comércio (OMC), submetendo-se às regras do co-
Brasil 33,5 mércio internacional.
Itália 37 Assinale a alternativa correta em relação a essa temática:
Índia 41,3
a) A partir do processo de abertura econômica, a maio-
Alemanha 45,2
ria da população chinesa passou a viver em áreas ur-
Arábia Saudita 45,2
banas e a possuir renda per capita semelhante à de
Japão 54,5
vários países desenvolvidos.
Rússia 58,7
França 59,3 b) Entre os principais produtos brasileiros exportados à
Reino Unido 59,6 China, destacam-se aparelhos de ótica e precisão e
China 119 componentes eletrônicos.
Estados Unidos 698 c) A parceria sino-brasileira ampliou-se quando foi acer-
FONTE: Disponível em: <http://militaryphotos.net>. Adaptado. tado um dos mais importantes projetos na área técni-
O gasto militar é um dos indicadores do poder dos países no co-científica entre os dois países: o desenvolvimento
cenário internacional em determinado contexto histórico. de satélites de rastreamento de recursos naturais.

Com base na análise dos dois gráficos, pode-se projetar d) O crescimento econômico chinês obtido nos últimos
a seguinte alteração na atual ordem geopolítica mundial: anos coincidiu com a abertura política, já que aumen-
tou o número de partidos políticos e o país se tornou
a) eliminação de conflitos atômicos.
uma república democrática.
b) declínio da supremacia europeia.
e) Apesar de a China ser uma das dez maiores econo-
c) superação da unipolaridade bélica. mias do planeta, seu Produto Interno Bruto (PIB) de-
d) padronização de tecnologias de defesa. pende quase que exclusivamente do setor primário.

410
4. (Uerj) a) a China tem interesse em acumular reservas estraté-
gicas, podendo assim melhorar a qualidade dos solos
Crescimento econômico e desigualdade social na porção Noroeste do país, praticamente, inóspita
do ponto de vista produtivo.
A economia chinesa vai muito bem. As fortunas crescem
em vários setores e há muita gente com acesso a bens antes b) os debates internacionais sobre o acúmulo de “ter-
só possíveis em sonho. O socialismo à chinesa, porém, trouxe ras-raras” se intensificaram por sua importância em
os ônus do capitalismo: a elevação da miséria, o desemprego aplicações para o desenvolvimento de alta tecnologia
crônico e a desigualdade social. como: armas guiadas a laser, baterias de carros híbri-
Dados do próprio governo dão a perspectiva deste drama. dos, painéis solares e smartphones.
Até 2007, o número de chineses vivendo na miséria nos gran- c) o Brasil decidiu, desde 2010, manter a neutralidade
des centros urbanos deverá passar de 15 milhões para 37 mi- em relação à intrincada questão geopolítica, visto que
lhões − aumento de 150%. Tal tendência já é realidade em não possui reminiscências de terras-raras em seu ex-
Xangai, onde se veem, lado a lado, favelas de concreto e cen- tenso território.
tros comerciais luxuosos. d) a China lidera o ranking de países detentores de reser-
Jornal da Tarde, 10 nov. 2002. vas estratégicas seguida pela Malásia e a Austrália, que
ocupam o segundo e o terceiro lugar, respectivamente.
As desigualdades socioeconômicas chinesas se expres-
sam espacialmente nas diferenças evidenciadas entre: e) a OMC admite a supremacia chinesa em relação à acu-

GEOGRAFIA
mulação de terras-raras não impondo, portanto, restri-
a) norte industrial, urbanizado e moderno − sul, agrícola
ções ao possível monopólio dos recursos nas próximas
e arcaico.
décadas por tratar-se de um país emergente.
b) nordeste, área prioritária dos investimentos externos −
sudeste industrializado.
6. (Fac. Albert Einstein-SP) Observe o mapa:
c) oeste em acelerada expansão econômica − leste, à
margem do crescimento econômico.

Módulo 21
d) porção oriental enriquecida − porção ocidental pou-
A China no coração da globalização
co alcançada pela prosperidade econômica.
Inv RÚSSIA
es
EUROPA Me time
Merc
rca nto
AMÉRICA
5. (Mack-SP) do s d
ria ire s dir
eto s
DO NORTE
adori

JAPÃO
s to s COREIA im ento
Invest
as

ÁSIA DO SUL
Energi CENTRAL
a CHINA
China acumula reservas de ução de
infraestrutura
1
Mercadorias Mercadorias
Mercadorias

Constr ia
Ma

rg
Ene Energi
terras-raras e gera temores a
téria

PAÍSES Prod
DO RESTO utos VENEZUELA
as

ÁFRICA agríc
s-p
Co frae

o
im

GOLFO DA ÁSIA las •


Energ
pr

rim
nst str
in

ia
s-
ia

ruç utu

SUDESTE
as

A China está acumulando reservas estratégicas de metais


ér

Merc
at

ão ra

DA ÁSIA
M

ado
rias
de

BRASIL
de terras-raras, uma iniciativa que pode dar ao governo chinês 1. Oriente Próximo
AUSTRÁLIA
Institutos Confúcio*
AMÉRICA
DO SUL
(Israel e Líbano) NOVA
no mundo (número)
um maior poder de influenciar os preços e ofertas mundiais ZELÂNDIA

35 15 5
de um setor que ele já domina […]. A China não é a única a
Fornecedores Fornecedores Mercados
procurar estocar terras-raras. Os governos japonês e sul-co- de matérias-
-primas
de energia estratégicos

reano afirmam que acumularam algumas reservas, e analistas * O Instituto Confúcio, representado no mapa, é uma instituição sem fins lucrativos cujo objetivo é
promover o idioma e a cultura da China e dar apoio ao ensino do idioma chinês em todo o mundo.
americanos também reivindicaram uma iniciativa similar. Mas
FONTE: REKACEWICZ, Philippe. 09/2012. Disponível em: <www.monde-diplomatique.fr/
o país parece estar à frente dos outros países […]. Em seus cartes/chinemondialisation>. Acesso em: 2 mai. 2016. Adaptado.

poucos comentários sobre reservas estratégicas de terras-ra-


Notícias do início de 2016 indicam que Estados Unidos,
ras, autoridades chinesas citaram a necessidade de proteger
Japão, Nova Zelândia, Canadá, México e mais 7 países assi-
os recursos naturais, reduzir a poluição e poupar energia, os
naram o Acordo Transpacífico (TPP), criando a maior área de
mesmos fatores que usou para explicar as cotas de exportação.
livre-comércio da história, que representa cerca de 40% do
The Wall Street Journal, de Xangai, 7 fev. 2011.
PIB mundial.
China e Índia

O acúmulo estratégico de “terras-raras” é um tema que A China não faz parte do acordo e, segundo alguns ana-
vem dinamizando as discussões geopolíticas mundiais. listas, “o TPP seria um movimento estratégico dos Esta-
A respeito do tema “terras-raras”, é correto afirmar que: dos Unidos para conter o avanço chinês e isolá-lo em sua

411
própria região. O TPP ficou recentemente identificado com […] A urbanização é um motor potente para manter o cres-
um rebalanceamento da política externa dos Estados Uni- cimento econômico num ritmo sustentável e numa direção
dos no sentido de sustentar a presença dos Estados Unidos saudável […].
na Ásia”. Além disso, “ressalta-se o risco de que os acordos The Wall Street Journal, 18 mar. 2014. Disponível em: <http://br.wsj.com/news/articles/
SB10001424052702304017604579445870559911930?tesla=y>.
megarregionais (e o TPP é o maior deles) possam enfraque- Acesso em: 1o set. 2014.
cer o papel da Organização Mundial de Comércio (OMC), a) Considerando os indicadores quantitativos aponta-
enquanto fórum normativo.” dos no texto, qual é o processo intensificado por esta
CARNEIRO, Flávio Lyrio. Parceria Transpacífico:
um acordo megarregional na fronteira da dinâmica demográfica?
regulação do comércio internacional? – Ipea,
Nas últimas décadas, a China atravessa um processo de
Texto para discussão 2108, 2015.
urbanização por meio do êxodo rural. Atualmente a maioria dos
Proposta: a partir do mapa e do texto, caracterize o atual chineses mora nas cidades.
processo de transferência do principal polo econômico
para o oceano Pacífico, considerando o recente avan-
ço da economia chinesa, a anterior hegemonia norte-
-americana e a importância do Atlântico no comércio do
pós-Segunda Guerra Mundial.
b) Explique a seguinte afirmativa do governo chinês:
Com a ordem bipolar após a Segunda Guerra Mundial, os Estados
“A urbanização é um motor potente para manter o
Unidos, como líderes do bloco capitalista, definem seus satélites por
crescimento econômico num ritmo sustentável e
meio de investimentos (Cordão Sanitário), obstruindo a expansão
numa direção saudável”.
socialista. Dessa forma, o centro da economia mundial passa a se
Por causa da crise financeira mundial, a economia da China
instalar no eixo do Atlântico. Com a recuperação do Japão e a
desacelerou nos últimos anos em virtude da perda de dinamismo
ampliação de sua área de influência econômica no Pacífico por meio
das exportações. Assim, a urbanização poderá estimular
dos investimentos nos Dragões Asiáticos, o eixo do Pacífico começa
o crescimento econômico chinês, uma vez que estimula a
a se destacar. Contudo, a transferência do poder econômico global
atividade industrial, a construção de moradias, a implantação de
para esse eixo só será consolidada com a abertura econômica da
infraestruturas, a expansão do setor terciário (comércio, serviços e
China, que, por meio de uma política de exportações, absorve grande
bancos) e principalmente o consumo no mercado interno.
parte das relações comerciais.

8. (Unicamp-SP)
Graças ao tamanho continental e à imensa população do
país, as políticas implementadas pelo governo permitiram
à China combinar as vantagens da industrialização voltada
para a exportação, induzida em grande parte pelo investi-
7. (UFJF-Pism-MG) Leia o seguinte texto: mento estrangeiro, com as vantagens de uma economia
nacional centrada em si mesma e protegida informalmente
A China divulgou um plano para permitir que milhões de
pelo idioma, pelos costumes, pelas instituições e pelas re-
agricultores migrem para as cidades ao longo dos próximos
des, aos quais os estrangeiros só tinham acesso por interme-
anos, numa tentativa de impulsionar o crescimento econômi-
diários locais. Uma boa ilustração dessa combinação são as
co, que parece estar desacelerando.
imensas ZPEs que o governo da China ergueu do nada e que
[…]
hoje abrigam dois terços do total mundial de trabalhadores
O plano prevê que a China tenha cerca de 60% de seus
em zonas desse tipo.
mais de 1,3 bilhão de habitantes vivendo em áreas urbanas ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos
até 2020, comparado com 52,6% no fim de 2012. do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. p. 362. Adaptado.

412
a) Indique duas ações políticas do governo chinês que disseram que a China é a maior potência econômica mun-
produziram as condições internas para a ascensão dial, enquanto 40% acreditam que são os Estados Unidos. A
econômica do país. tendência a favor dessa imagem da China é especialmente
No final da década de 1970, com a liderança de Deng Xiaoping, a forte na Europa, onde 58% dos britânicos têm essa percepção.
Folha de S.Paulo, 14 jun. 2012. Disponível em: <www1.folha.uol.com>.
China socialista começou a introduzir elementos capitalistas em
Acesso em: 14 jun. 2012.
sua economia. O exemplo mais bem-sucedido foi a implantação
das ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação) ou ZEEs (Zonas Com elevadas taxas de crescimento em seu Produto
Econômicas Especiais), áreas abertas ao investimento estrangeiro Interno Bruto nos últimos anos, a China confirma sua
por meio de transnacionais e joint ventures (empresas formadas
posição de destaque nos cenários político e econômico
mundiais.
por chineses e estrangeiros). As ZEEs tornaram-se áreas de
Indique dois fatores que impulsionaram esse grande
concentração industrial cuja produção de bens de consumo é
avanço da economia chinesa.
voltada para a exportação e para o grande mercado interno chinês.
Alguns dos fatores que podem ser considerados determinantes
As vantagens para os investidores são a mão de obra barata, os
para o avanço da economia chinesa são: processo de abertura
incentivos fiscais e a infraestrutura moderna. O governo também
econômica iniciado na década de 1980 que implantou infraestrutura
investe maciçamente em educação, ciência e tecnologia com
de transportes e energia, criação de enclaves de produção para
o objetivo de capacitar os trabalhadores e competir com outros
exportação (ZEEs), incentivos fiscais, atração de investimentos
polos de poder, como os Estados Unidos, o Japão e a União

GEOGRAFIA
estrangeiros; oferta de mão de obra abundante e barata, e atualmente
Europeia.
qualificada; abundância de recursos naturais e energéticos; legislação
b) Aponte as estratégias geopolíticas utilizadas pela Chi- ambiental flexível; elevada poupança interna que, em conjunto com a
na para a obtenção de recursos naturais em distintas grande população absoluta, cria um numeroso mercado consumidor; a
partes do mundo, que possibilitam a manutenção do política neoliberal que amplia a abertura dos mercados e a integração
atual modelo de produção industrial em larga escala
financeira mundial.
no país.

M—dulo 21
A China é um dos países com maior crescimento econômico
do mundo e necessita de grande variedade e quantidade
10. (PUC-RJ) O crescimento da população mundial vem
de commodities (matérias-primas agropecuárias, minerais e
sendo, há muito tempo, objeto de preocupação de
energéticas) para garantir seu crescimento industrial. O país tem
especialistas.
feito acordos comerciais com países como a Rússia, nações da
Leia atentamente as reportagens e observe o gráfico a
Ásia Central, países da África e nações da América Latina. O Brasil
seguir.
é grande exportador de minério de ferro e de soja para a China.
Entre as demais estratégias, destacam-se a compra de terras em Reportagem 1:
outros países para assegurar a produção de alimentos para os
A primeira coisa que Shi Youxun, cinco anos, faz ao chegar
chineses, investimentos nos setores de mineração, petróleo e
em casa do jardim de infância é ligar o computador
infraestrutura (rodovias e ferrovias) em países africanos e latino-
[…] Ele escolhe entre dezenas de programas que o ensinam
-americanos, além da concessão de empréstimos para países
sobre ciência, testam seus conhecimentos de matemática […]
subdesenvolvidos.
“Nós queremos que ele aprenda duas ou três línguas e, no
futuro, iniciaremos o menino na música e na arte.”, revela
9. (Uerj)
seu avô […] com quem o menino fica para que os pais pos-
China é vista como a sam trabalhar. Com seus quatro avós e dois pais para cuidar
principal economia mundial dele […] Shi Youxun é o membro do que ficou conhecido
como família “uma boca, seis-bolsos”, um resultado da polí-
A China já é percebida em grande parte do mundo como tica do filho único iniciada 24 anos atrás. O primeiro grupo
a principal economia mundial, embora na realidade seja a de filhos únicos, especialmente os meninos, ficou conhe-
China e Índia

segunda, atrás dos Estados Unidos. Segundo pesquisa de cido como “pequenos imperadores” por causa da atenção e
opinião publicada pela imprensa chinesa, na qual foram ou- luxos despejados sobre ele.
vidas por telefone mais de 26 mil pessoas de 21 países, 41% China Daily, 5 nov. 2003.

413
Reportagem 2: Contando atualmente com cerca de 1,3 bilhão de habi-
tantes, a China se revela como um interessante exemplo
O governo de Xangai, China, está orientando casais forma-
das tendências demográficas mundiais.
dos por homens e mulheres que são filhos únicos a terem
a) Com referência à reportagem 1 e aos dados apresen-
dois filhos […]. É a primeira vez em décadas que autoridades
tados no gráfico, justifique a adoção da política do
estimulam o nascimento de bebês, desde que a política do
filho único, na China, no final da década de 1970.
filho único foi implantada, no fim dos anos 1970 […]. Dados
Em 1978, o governo chinês colocou em prática uma política
divulgados pela agência estatal […] indicam que as famílias
de controle de natalidade denominada política do filho único
com apenas um filho representam 97% do total da cidade de
19 milhões de habitantes […] com o objetivo principal de controlar a taxa de crescimento
Jornal do Brasil, 24 jul. 2009. populacional, como forma de diminuir gastos públicos com saúde,
educação, transportes e serviços básicos.

China: taxa média de b) Apresente duas preocupações econômicas do gover-


crescimento demográfico (%) no chinês para a mudança na política populacional
3 apresentada na reportagem 2.
2,5 A redução das taxas de crescimento vegetativo, apresentada no
2 gráfico, revela que a população chinesa está seguindo a tendência

1,5 mundial de países desenvolvidos, a transição demográfica em

1 que há a passagem de um país jovem para um país com processo


de envelhecimento da população. A retomada de dois filhos
0,5
por casal indica um planejamento estratégico para a manutenção
0
9 60 965 970 975 980 985 990 995 000 005 010 de estoques populacionais suficientes para atender às possíveis
5 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -2 -2 -2
5 60 965 970 975 980 985 990 995 000 005
19 19 1 1 1 1 1 1 1 2 2 demandas estratégicas do país como prováveis problemas de

FONTE: ONU. Disponível em: <http://esa.un.org/unup>. escassez de mão de obra.

pH
A questão tibetana
China: divisão regional
Etnia e história
CASAQUISTÃO RÚSSIA
[...] O Tibete é uma região que fica situada no sudoeste
QUIRGUISTÃO
da República Popular da China e ao norte da cordilheira do
Manchúria
MONGÓLIA
Himalaia. Ele se situa na região ao sul do planalto de Qinghai
Xinjiang
– Tibete, com cadeias montanhosas envolvendo os cerca de
FONTE: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico

ior
M o n g ó li a I n t e r um milhão e meio de quilômetros quadrados de área oficial
Saraiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 144.

COREIA
DO NORTE registrada pelo governo chinês. Suas atuais fronteiras com a
Qinghai
COREIA China são marcadas por este planalto e seus limites ao sul e
DO SUL
Tibete
N

PA oeste são demarcados pela cordilheira do Himalaia, que for-


E

L
ÍNDIA BUT Planícies Orientais
Tró
p
O Ã
OCEANO
ma uma fronteira natural dividindo o Tibete de países como
de ico

nce BANGLADESH
r
PACÍFICO Nepal e Índia.
Atualmente o Tibete é oficialmente considerado uma re-
OCEANO MIANMAR
ÍNDICO VIETNÃ TAIWAN N gião autônoma da China. Porém sua história remonta uma
Grande Muralha da China 0 610
memória de períodos de grande poderio militar com a forma-
Tibete Nome de região I. Hainan
km ção de um verdadeiro império asiático em séculos passados.

414
A região tem ocupações humanas milenares com etnia, língua e tradições próprias formadoras de toda
uma cultura distinta que em última instância tem uma parte importante de suas bases ligadas pela
religião budista tibetana liderada pelo chefe religioso Dalai Lama. [...]
No campo político esse território é alvo de uma séria disputa dentro da Ásia. O Tibete que já havia
sido um protetorado chinês durante um século passou por uma revolução em seu território no início
do século XX que possibilitou que

KRISTY SPAROW/GETTY IMAGES


a região fosse governada, até certo
ponto independentemente, duran-
te quase cinquenta anos pelos lí-
deres religiosos da religião budista
encabeçados pela figura do líder
político espiritual Dalai Lama.
Essa suposta independência, po-
rém não obteve reconhecimento
internacional diplomático e nem
foi aceita pela China. Em 1950,
depois de um período no qual os

GEOGRAFIA
exércitos chineses não estiveram
presentes no Tibete, o território
Exilado desde 1959, o líder budista tibetano Dalai Lama (na imagem) é
foi “reanexado” à China em meio a um dos principais reivindicadores de maior autonomia para a região do
uma ocupação bastante controver- Tibete.
sa com uso de forças militares e coação para a assinatura de um acordo favorável à China assinado por
representantes do décimo quarto Dalai Lama e o governo chinês. Assim, atualmente o Tibete é consi-

M—dulo 21
derado pela maioria dos organismos internacionais como uma região da República Popular da China,
porém existem fortes movimentos separatistas tibetanos que lutam pela independência da região.

Importância geopolítica
Essa ocupação chinesa na região tibetana tem diversas motivações que recaem sobre questões
geopolíticas que são consideradas vitais para o governo chinês. A região na qual se situa o Tibete é
conhecida atualmente como o terceiro polo de água do mundo por ser rodeado de importantes lagos
e rios asiáticos. Algumas das nascentes de grandes rios asiáticos estão no Tibete como as dos rios Yar
lung Tsang-po (Brahmaputra), Senge Khabab (Indus) e Dri-chu (Yang-tzé). Esses rios são considera-
dos estratégicos por serem importantes fontes de abastecimento de água não só para a China como
para grande parte da Ásia já que esses rios percorrem outros países como Índia, Nepal, Paquistão e
Tailândia.
Ainda sobre o potencial hídrico tibetano é importante ressaltar que, com o crescimento econô-
mico veloz nos últimos anos, a China se tornou a maior consumidora de água em garrafa do mundo e
uma das maiores produtoras do artigo. Sabendo que os rios e montanhas glaciais do Tibete têm uma
capacidade natural de se tornarem grandes abastecedores desse tipo de indústria, a região se tornou
um espaço de disputa estratégica que pode assegurar a manutenção do crescimento desse segmento
industrial chinês. [...] Mantendo o controle sobre o Tibete, a China automaticamente mantém con-
trole sobre esses rios e consequentemente os usa como parte de jogos de influência e estratégia dentro
da Ásia.
[...] o Tibete também é considerado estratégico quando se pensa na extração de minérios. Em
China e Índia

2007 foram descobertas no Tibete novas jazidas de cobre que formaram um total de 18 milhões de
toneladas do minério, o que constitui ainda hoje a maior reserva de cobre do país. Outra [mina] de

415
10 milhões de toneladas de cobre foi encontrada em uma região vizinha que é contestada pelos tibe-
tanos como parte do que é considerado o Tibete histórico (região milenar ocupada pelos tibetanos,
porém dividida pelo governo chinês em diferentes províncias).
As novas jazidas de cobre são apenas algumas das reservas naturais que se encontram na região
tibetana. Somadas a elas estão as importantes reservas de zinco, ferro, ouro e recentemente foram
descobertas bacias de combustíveis fósseis com destaque para a de Petróleo na qual a Corporação
Nacional Chinesa de Petróleo estima ter uma quantidade de combustível estimada em 10 bilhões de
toneladas. Para essa nova bacia o governo chinês já está coordenando uma perfuração de sete quilô-
metros para iniciar a exploração deste recém-descoberto recurso. Essas iniciativas de exploração são
um dos fatores que mais gera polêmica entre os tibetanos e o governo chinês. Os residentes da pro-
víncia alegam que a exploração está se dando sem as devidas precauções com o meio ambiente e por
isso estão piorando as condições de vida na região ao degradar os níveis de poluição do ar e aumentar
o degelo nas geleiras nas montanhas das cordilheiras tibetanas. Essas alegações são usadas pelos mo-
vimentos separatistas tibetanos para inflar a população contra o governo chinês que por sua vez alega
em sua defesa o total compromisso na exploração sustentável dos recursos da região.
Somado a todas essas questões geopolíticas com enfoque econômico que justificam a importân-
cia estratégica do Tibete para a China está o debate sobre as bases militares chinesas na região. Por
ser considerada uma região de planalto na qual suas fronteiras dão acesso a diversos países asiáticos
relevantes (com destaque para a Índia), a China instalou bases militares em regiões próximas às
fronteiras tibetanas. As fronteiras com a Índia são um grande foco de preocupação e interesse chinês
porque existem disputas territoriais que envolvem regiões do Tibete histórico que são atualmente
controladas pela Índia. Essas disputas e o interesse estratégico por conta da posição tibetana dentro
da Ásia fazem com que hoje existam cinco bases aéreas chinesas na área. Também existe um planeja-
mento já em curso para um aumento do efetivo do Exército de Libertação Popular em terras tibetanas.
Ainda falando sobre questões militares, o Tibete também conta com reservas nucleares da República
Popular da China. Organizações tibetanas já reportaram a condução de pesquisas com armas nuclea-
res na região, porém o governo chinês não divulga informações sobre seu programa nuclear.
Em suma, o Tibete é uma região de extrema relevância geopolítica para os chineses. Assim, as ale-
gações comuns para a instalação de bases militares e para uma presença do exército forte na ferrovia
Kien Liu, que liga Qinghai ao Tibete, são aquelas referentes aos projetos de melhoria das condições
de vida na região e a proteção das fronteiras. No entanto, movimentos separatistas alegam que parte
das motivações chinesas está ligada ao interesse no controle da população tibetana para impedir que
novas rebeliões contra o governo de Pequim aconteçam. [...]
PORTUGAL, Nathana Garcez; SILVA, Pedro Allemand Mancebo. A questão do Tibete e minorias étnicas, 4 jun. 2016. Disponível em:
<www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/130720165321_Tibeteminorias.pdf>. p. 7-10. Acesso em: 29 mar. 2017.

Os Uigures em Xinjiang: autodeterminação ou terrorismo?

Os anúncios oficiais de que o governo da República Popular da China (RPC) teria desmantelado
181 “grupos terroristas” em Xinjiang chamaram atenção para os conflitos existentes nesta Região
Autônoma. Por trás do foco dado ao alargamento do terrorismo internacional, encontram-se questões
mais complexas. O esforço do povo nativo de etnia uigur por autodeterminação tem sido contrastado
pelo esforço do governo chinês para manter seu princípio político de “Uma só China” e de uma “so-
ciedade harmoniosa”.
Essa disputa de longa data pela soberania na região foi ignorada por mídias e analistas durante décadas,
já que os conflitos paralelos no vizinho Tibete se tornaram cause célèbre na comunidade internacional.

416
A Região Autônoma Uigu-
re de Xinjiang […] xinjiang em China: regi‹o aut™noma de Xinjiang
tradução literal significa “nova RÚSSIA Lago
Baikal
CASAQUISTÃO
fronteira” ou “novo território”),
Heilongjiang
também chamada de Turques-
MONGÓLIA
tão Oriental, está localizada QUIRGUISTÃO
ior
Jilin
er
TAJIQUISTÃO I nt
na região noroeste da China e Xinjiang lia Liaoning COREIA
gó DO NORTE
on Pequim
M
COREIA
representa aproximadamente PAQUISTÃO
Hebei
Tianjin
Mar
DO
Amarelo SUL
Ningxia Shanxi Shandong
um sexto do território do país. Qinghai
Gansu
Henan Jiangsu
Suas cidades, particularmen- Tibete Shaanxi Mar da
Anhui Xangai China
NE
te Kashgar, foram importantes PA
L
Sichuan
Chongqing
Hubei
Zhejiang
Oriental

ÍNDIA BUTÃO
postos comerciais da Rota da Hunan
Jiangxi
Guizhou Fujian
de
rópico
Seda durante mais de dois mil Províncias BANGLADESH Yunnan Guangdong
TAIWAN T âncer
C
Guangxi N
Municipalidades
anos. Sua população de 21,8 Regiões autônomas VIETNÃ
Aomen Hong Kong
(Macau) 0 570
milhões inclui maiormente et- Região administrativa especial LAOS
TAILÂNDIA Hainan km

nias muçulmanas de idioma FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geogr‡fico: espaço mundial.

GEOGRAFIA
São Paulo: Moderna, 2013. p. 104.
turco, dentre as quais estão os
uigures, que compõem 45,84% da população (aproximadamente 10 milhões) e formam o principal
grupo étnico.
Historicamente, o Turquestão Oriental foi parte da Ásia Central, aderindo ao Islã em 934
d.C., ainda no Império Karahanid (séculos X e XI d.C.). A região manteve autonomia até sua
invasão e formal anexação à China pelo Império Qing (1644-1912) em 1884, momento em que

M—dulo 21
passou a ser chamada de Xinjiang. Após a queda do Império Qing pelos nacionalistas na China
em 1911, os uigures realizaram diversos levantes contra o sistema de regulamentos chinês, dois
dos quais foram bem-sucedidos. Entretanto, a República do Turquestão Oriental (RTO) teve
curta duração, apenas entre 1931 e 1934 (Primeira República) e entre 1944 e 1949 (Segunda
República), ano em que o Partido Comunista Chinês instituiu as diretrizes marxista-leninistas
na região.
Os conflitos na região são atribuídos, ao menos em parte, ao rápido afluxo de chineses da etnia
Han − maior grupo étnico da China, ao qual pertencem cerca de 90% da população − para Xinjiang,
visto pelo povo uigur como uma ameaça à sua forma de vida e a seus costumes. Entre 1949 e 2008,
a região sofreu ampla mudança demográfica: a proporção de chineses Han em Xinjiang cresceu de
6,7% para 40%. […] Durante as décadas de 1950 e 1960, essa migração teve direcionamento estatal.
O Partido Comunista passou a realocar chineses Han nas províncias fronteiriças – principalmente
Xinjiang, Mongólia interior e Heilongjiang – com o objetivo de consolidar as fronteiras na hipótese
de uma ameaça militar vinda dos soviéticos. Esses migrantes foram estrategicamente inseridos em
atividades ligadas ao desenvolvimento da infraestrutura local e às indústrias extrativas de recursos
naturais como petróleo, gás e algodão.
No final da década de 1990, 95% dos trabalhadores técnicos na exploração de petróleo da região
eram chineses Han, o que reforçou a caracterização, pelo povo uigur, dos integrantes da etnia Han
como aqueles que obtêm os melhores empregos da região, deixando os uigures com trabalhos margi-
nais. […] Embora hoje os chineses Han desempenhem função vital no desenvolvimento econômico
China e Índia

de Xinjiang, esta relação tem sido percebida por muitos uigures como de padrão colonial, monopoli-
zadora de recursos naturais locais pelos chineses, que acumulam riquezas mediante a exploração de

417
minorias populacionais. Até mesmo o nome designado para a região pelo governo chinês (Xinjiang,
“nova fronteira”) parece, aos olhos da população uigur, um insulto.
O fluxo populacional – de chineses Han e não Han – foi ainda intensificado pela flexibiliza-
ção do controle migratório e por mudanças no registro nacional de residência (Sistema Hukou),
no sentido de remover barreiras à migração temporária para os chineses que se deslocavam em
busca das oportunidades oferecidas pelos novos empregos impulsionados pelo governo como par-
te do programa de aceleração do desenvolvimento e de diminuição da desigualdade nas regiões
oeste da China (o “Desenvolvimento do Oeste” – xibu dakaifa), a partir do 10º Plano Quinquenal
(2001-2005).
Somado à intensificação dos fluxos migratórios, o aumento de tensões étnicas também tan-
gencia a consolidação da identidade muçulmana na região. Na década de 1990, enquanto a
China realizava sua reforma e abertura econômica, o governo e os líderes das províncias frontei-
riças tiveram de lidar com a emergência de novos Estados muçulmanos independentes na Ásia
Central após o colapso da União Soviética. As medidas empregadas pelo governo foram vistas,
da perspectiva uigur, como ocupação ilegal da região, acompanhada por forte repressão de seus
costumes, sobretudo religiosos. O ressentimento culminou em levantes uigures na cidade de
Yining (Ghulja) em 1995 e em 1997.
O governo e a polícia regional de Xinjiang lançaram então uma campanha de repressão políti-
ca, nomeada “Strike Hard”, que restringia a expressão e a prática da religião muçulmana uigur. [...]
Exemplos desse controle foram as proibições de que crianças menores de dezoito anos e membros do
Partido Comunista Chinês frequentassem mesquitas e de que empreendimentos dirigidos por muçul-
manos encerrassem as atividades durante o mês sagrado do Ramadã. Além disso, as crianças uigures
tinham de frequentar escolas chinesas, com aulas dadas em mandarim e não no idioma uigur – o que
reflete a característica integracionista, mas não assimilativa da política de idiomas aplicada pelo gover-
no chinês nas fronteiras do país.
KEVIN FRAYER/GETTY IMAGES

Com essas medidas a região,


antes multilinguística e de cul-
turas sobrepostas, tem sido
progressivamente direcionada a
um modelo monocultural e mo-
nolinguístico.
A política chinesa voltada às
minorias, aparentemente velada
e paradoxal, guarda suas raízes
na influência soviética. Durante
a década de 1990, o PCC ado-
tou a abordagem stalinista para
classificar seus grupos étnicos,
referidos como “nacionalida-
des”. O povo uigur – 99% do
qual vive em Xinjiang – está
entre as 56 minorias que foram
reconhecidas pela política chi-
nesa para as nacionalidades mi-
noritárias, que se baseia na ad-
Uigures: etnia chinesa minoritária que reivindica a independência da região
autônoma de Xinjiang. Foto de 2012. missão de que as minorias têm

418
certo grau de controle administrativo sobre suas regiões, têm representação garantida em algumas
posições governamentais, mas não podem colidir com a “unidade das nacionalidades” […].
Para tentar diminuir a desigualdade entre a maioria Han e as nacionalidades minoritárias, o go-
verno central lançou políticas preferenciais para minorias em esferas como planejamento familiar,
admissão em colégios e universidades e representação em corpos governamentais locais. Entretanto,
alguns analistas argumentam que, à medida que as reformas econômicas se aprofundaram e as forças
do mercado foram desempenhando papel cada vez mais relevante, tais políticas têm se tornado inefi-
cazes ou foram abandonadas por completo […].
A sobreposição se mostrou contraprodutiva. No intento de construir “uma só China” moderna
e desenvolver a região oeste, o governo acabou por reforçar o nacionalismo uigur e as atividades
de pequenos grupos separatistas, que acusam o PCC de empreender uma espécie de “genocídio
cultural”.
Com a “Strike Hard”, muitos uigures foram acusados de atividades separatistas e detidos. Alguns
grupos mais ativos de oposição ao governo direcionaram-se para as montanhas Pamir, Karakorum e
Kunlun, na fronteira entre China e Paquistão. [...] Um refugiado uigur na Turquia relatou ao jornal Al
Jazeera em julho deste ano: “Ao proibir as orações, o jejum, o hajj [peregrinação até Mecca], a educação

GEOGRAFIA
religiosa, o uso de lenços, de barba, a China está de fato deslocando os uigures para fora do contexto
islâmico. A China está radicalizando os uigures com suas próprias mãos”.
Com efeito, a partir da intensificação repressiva do governo chinês, o islamismo uigur, tradicio-
nalmente moderado, tem apresentado nos últimos anos traços de cunho mais fundamentalista, in-
troduzidos justamente pelos grupos ativos que mantiveram contato com madrassas (escolas religiosas
islâmicas, ou “escolas corânicas”) da Ásia Central e do Paquistão.
Em 2009, a capital regional de Xinjiang, Urumqi, foi campo de um violento ataque que vitimou

M—dulo 21
mais de 200 uigures e chineses Han. Em 2011, um grupo armado com facas e explosivos atacou um
posto policial em Khotan, fazendo reféns. [...] Na cidade de Kashgar, em julho do mesmo ano – e um
dia antes do início do Ramadã –, houve duas explosões em locais civis e atropelamentos de grupos de
pedestres por um carro sequestrado, numa rua movimentada onde chineses de etnia Han costuma-
vam montar barracas de comida. [...] Em 2014, explosivos destruíram um mercado movimentado em
Xinjiang. Outros ataques ainda ocorreram na estação de trem de Urumqi e de Kunming e na Praça
da Paz Celestial.
Nenhum grupo organizado reivindicou a autoria dos ataques, e não há comprovação de li-
gação direta entre eles. A grande questão é saber se os ataques são de fato feitos por militantes
jihadistas, como acusa o governo chinês, ou se são levantes civis particularizados. A resposta é
dificultada pela restrição ao acesso de veículos midiáticos estrangeiros na região. Muitos grupos
internacionais de direitos humanos criticam o Politburo chinês por exagerar na extensão do que
seria o terrorismo uigure, e alegam que muitos desses ataques rotulados como “terroristas” são,
na verdade, levantes civis espontâneos, e que a alegação feita pelo governo chinês de que eles
integram uma rede terrorista internacional é usada como argumento retórico para reprimir as
etnias minoritárias do país.
Em que pese o fato de certos ataques poderem ser considerados atos terroristas per se, relacio-
ná-los a uma rede internacional terrorista ou a um levante separatista regional tem amplitudes muito
distintas, sobretudo no potencial direcionamento político dos conflitos e no envolvimento da comu-
nidade internacional.
China e Índia

Esta complexidade de relação entre as políticas chinesas (na perspectiva de “políticas antiterro-
rismo”) e os conflitos de identidade etnorreligiosas (na perspectiva de “autodeterminação do povo

419
uigur”) aparece na linguagem oficial utilizada para se referir à minoria uigur. Depois dos ataques de
11 de setembro de 2001 a Nova York e Washington, a “guerra ao terror” declarada pelo então Presi-
dente George W. Bush providenciou um argumento conveniente para as autoridades chinesas. Os
discursos governamentais passaram a caracterizar os levantes nacionalistas uigures como terrorismo
e a relacioná-los aos militantes jihadistas islâmicos. Para os líderes do PCC, os conflitos na região
estariam “afetando a harmonia social”. A mídia chinesa, que antes descrevia os nacionalistas uigures
como “separatistas”, depois de 2001 passou a descrevê-los como “terroristas” [...].
As medidas repressivas chinesas aos muçulmanos de Xinjiang são um reflexo da pressão da própria
população chinesa por maior segurança e do tradicional rechaço do governo ao que é denominado
“crenças supersticiosas” (o governo chinês se declara oficialmente ateu, e não laico). O discurso oficial,
no entanto, vai ao encontro dos interesses em manter a política de “uma só China” (que também envol-
ve Tibete e Xangai) e em amenizar críticas da comunidade internacional quanto aos direitos humanos.
Busca privilegiar as finalidades econômicas e políticas internacionais chinesas: garantir suprimento de
recursos naturais para o contínuo desenvolvimento econômico e estabelecer uma zona gravitacional de
estabilidade internacional que possa sustentar esse crescimento.
Coerente com tais fins, as mais recentes diretrizes políticas e econômicas do governo preten-
dem integrar a região aos ganhos econômicos da China continental. Com o lançamento da chamada
“Nova Rota da Seda” ou “One Belt, One Road”, uma das pretensões do governo chinês é, através de
intensificação de fluxos comerciais e de investimentos com os países fronteiriços a oeste (Paquistão,
Casaquistão, Afeganistão), possibilitar a melhora do quadro econômico da província de Xinjiang e,
dessa maneira, apaziguar potenciais levantes uigures.
Para além de discursos retóricos e acusações, o fato é que Pequim pode estar prestes a perder
uma oportunidade política crucial na região. A postura cada vez mais dura do governo, que restringe
a cultura e até mesmo o idioma uigur, tem irritado muitos cidadãos uigures moderados, que antes
aceitavam as restrições políticas chinesas em prol do desenvolvimento econômico regional, mesmo
que a contragosto. Restam poucas chances ao Politburo chinês para recompor suas políticas com
relação a essa minoria étnica. Sem uma mudança em direção a uma concepção mais pluralista, o
sonho de construir uma “sociedade harmoniosa” ficará comprometido, e Xinjiang poderá se tornar
a Caxemira chinesa.
TEDESCHI, Aline. Os uigures em Xinjiang: autodeterminação ou terrorismo? Núcleo de Estudos e Análises Internacionais, 21 set. 2015.
Disponível em: <http://neai-unesp.org/os-uigures-em-xinjiang-autodeterminacao-ou-terrorismo/>. Acesso em: 26 dez. 2016.

ANOTAÇÕES

420
Oriente Médio:

22
Módulo
principais conflitos

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Oriente Médio: histórico de uma definição eurocêntrica
• Tensões, conflitos e conciliações na região palestina
• Geopolítica do petróleo
• Intervenções militares internacionais na região do golfo Pérsico

HABILIDADES
• H7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de
poder entre as nações.
• H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políti-
cas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
• H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou
ambientais ao longo da História.
• Identificar diferentes grupos étnicos, nacionais e religiosos na região do Oriente
Médio.
• Diferenciar os processos de desenvolvimento e as realidades sociais nos países do
subcontinente.

421
PARA COMEÇAR

O chamado Oriente Médio é uma sub-região da Ásia que liga o restante do continente à África
e à Europa. Essa posição geográfica atribui à região, que já serviu como área de passagem de
inúmeros povos e nações no passado, grande importância territorial. O território tem também
grande importância cultural e religiosa por ser o berço das três grandes religiões monoteístas do
mundo (judaísmo, cristianismo e islamismo) e de importantes civilizações, como a mesopotâmica
e a persa, por exemplo.
A aproximação cultural das diferentes tribos naturais da região em torno da língua árabe e do
islamismo iniciou-se com os califados islâmicos a partir do século VII d.C. O termo Oriente Médio
passou a ser utilizado após a Primeira Guerra Mundial, período em que as fronteiras dos países
começaram a ser demarcadas pelos países europeus hegemônicos, como Inglaterra e França.
Os acontecimentos geopolíticos posteriores a esse evento, como a criação do Estado de Israel, em
1948, e a intensificação da exploração de petróleo no entorno do golfo Pérsico, contribuíram para
que o Oriente Médio seja estudado como uma porção específica, um contexto particular da Ásia.
A geopolítica do Oriente Médio é conturbada e causa espanto pela reincidência de conflitos.
A questão que envolve a região conhecida como Palestina, entre a costa oriental do mar Medi-
terrâneo e o rio Jordão, é, sem dúvida, um dos maiores desafios para a consolidação de Estados
soberanos, democráticos, legítimos e representantes de uma nação no Oriente Médio.
Outros desafios de ordem geopolítica na atualidade são: a teocracia no Irã, a falta de um Estado
representativo para os curdos, a instabilidade no Iraque, o domínio do terror e do fundamen-
talismo religioso difundido pelo Estado Islâmico e as democracias frágeis ou as incontestáveis
ditaduras em outros países árabes.

Oriente Médio
45º L
Mar Negro Mar
TURQUIA
(parte GEÓRGIA Cáspio
europeia) USBEQUISTÃO
Ancara
ARMÊNIA AZERBAIJÃO TAJIQUISTÃO
TURQUIA TURCOMENISTÃO
AZB
(parte asiática)

Mar
Cabul
Mediterrâneo LÍBANO SÍRIA Teerã
Beirute Damasco AFEGANISTÃO
Bagdá
Telavive
Jerusalém Amã IRAQUE
IRÃ
ISRAEL
EGITO JORDÂNIA
(parte PAQUISTÃO
KUWAIT
asiática)
Al Kuwait
G
ol
fo
No estabelecimento
BAHREIN Pér
s das rotas comerciais
Tróp
ico de ARÁBIA Manama CATARico OMÃ
entre Oriente e
Câncer SAUDITA Doha Abu Dhabi Ocidente e durante as
Riad EMIRADOS Cruzadas, essa região
Ma

Mascate
ÁRABES UNIDOS Mar era considerada, pelos
r Ve

Arábico europeus, o ponto


rm

médio entre a Europa


çFRICA OMÃ
elh

ocidental e o Extremo
o

Oriente (China, Coreia


do Norte, Coreia do
IÊMEN Sul, Japão, Mongólia
Sana OCEANO e Taiwan). Assim,
N ÍNDICO entende-se que os
termos médio e
0 395 extremo resultam de
km
uma visão de mundo
eurocêntrica.
FONTE: IBGE. Atlas geogr‡fico escolar. Rio de Janeiro, 2012. p. 49. Adaptado.

422
Este módulo está concentrado
na problemática que envolve a Região da Palestina
disputa por terras na Palestina e
LÍBANO
que tem levado, por mais de um SÍRIA
Colinas
século, árabes e judeus ao con- Lago
de Gol‹
Haifa (território
fronto, com foco maior na tensão Tiberíades ocupado
por Israel)
criada a partir do século XX. Nazaré

Rio Jord ão
Mar Mediterrâneo
São abordados também alguns
Nabulus
dos principais conflitos que atin-
Telavive
giram e ainda atingem o Oriente (capital reconhecida)
Cisjordânia
Médio e que não se relacionam Amã
Jerusalém
tão diretamente com a proble- (capital não reconhecida)

mática palestina e israelense. Gaza Belém


Hebron Mar
Faixa de Gaza Morto

31º N

GEOGRAFIA
ISRAEL

JORDÂNIA

Historicamente, a Palestina, ou
Palestina Bíblica, é uma região
situada entre o mar Mediterrâneo, a
oeste, e o rio Jordão e o mar Morto,

M—dulo 22
a leste. Atualmente, os territórios N
palestinos localizam-se na Faixa de
Palestina
Gaza e na Cisjordânia, porém partes 0 40
de suas fronteiras e territórios estão Israel
km
sob controle de Israel.
FONTE: IBGE. Atlas geogr‡fico escolar. Rio de Janeiro, 2012. p. 49.

PARA APRENDER

Os antecedentes do conflito entre árabes e israelenses


A presença documentada de hebreus – povo semita da Antiguidade (segundo a tradição, o povo semita
descende de Sem, o filho mais velho de Noé) – e de árabes – também de origem semítica – na região da
Oriente Médio: principais conflitos
Palestina tem pelo menos 35 séculos. Os conflitos nessa área transpassam diversas ocupações e variadas or-
dens mundiais. Egípcios, filisteus, hebreus, assírios, babilônios, gregos, romanos, persas, cruzados europeus,
otomanos e britânicos já dominaram a Palestina na Antiguidade, nos primeiros séculos da Era Cristã, na Idade
Média, durante o colonialismo e nos anos do imperialismo.
Para analisar a situação geopolítica e do espaço geográfico palestino contemporâneo, deve-se atentar
ao período histórico que abrange o fim do século XIX e início do XX – as últimas décadas da Era dos Impé-
rios – aos dias atuais. É importante observar as constantes mudanças nos mapas nesse período para notar o
grande impacto geopolítico do conflito ainda hoje existente.

423
Do domínio turco otomano ao britânico
Entre os séculos XIII e XVI, o Império Turco Otomano estendeu seu domínio por uma enorme região que
ia do norte da África, na altura do estreito de Gibraltar, na entrada do Mediterrâneo, avançava pela Ásia, en-
globando parte do Oriente Médio, até o golfo Pérsico e parte do Leste Europeu.
O império começou a decair no século
XVII. As atividades econômicas, conduzidas Império Otomano (séculos XIII-XVI)
pelos povos conquistados, fizeram a econo- 0º

mia geral se desintegrar lentamente. Embora


tentasse uma modernização, as reformas do OCEANO
ATLÂNTICO
EUROPA CANATO DA CRIMEIA
sultão ocorreram em ritmo muito lento, e a ins- HUNGRIA
Mar
Cáspio
tabilidade política aumentava cada vez mais. BÓSNIA Bálcãs
Mar Negro
ARMÊNIA ÁSIA
Ancara
Nas primeiras décadas do século XX, os SÉRVIA Constantinopla
Cu
Anatólia rdi ºN
stã 30
interesses imperialistas das nações euro- Argel SÍRIA o

a
Rodes

ísi
Mar Chipre Bagdá Pérsia
Creta

n
Medite
peias avançavam por todo o Oriente Médio. ARGÉLIA rrâneo ol

Tu

G
Jerusalém Mesopotâmia fo Pé r s i c

o
Trípoli
França, Reino Unido, Rússia e, de maneira

nwich
Cairo

mais coadjuvante, Estados Unidos ditavam

e Gree
Medina
ÁFRICA

M
EGITO

ar
Ve
Meca
a ordem geopolítica do Ocidente para essa

iano d
N

r
m
el
ho
região. Enfrentaram e esfacelaram o pode-

Merid
0 795
Império Otomano Golfo
km
rio turco otomano, apoiaram revoltas árabes de Áden

FONTE: VICENTINO, Cláudio. Atlas hist—rico: geral e Brasil.


de caráter nacionalista, independências e São Paulo: Scipione, 2011. p. 76. Adaptado.

novos governos árabes que seriam valiosos


aliados. Surgia aos poucos no Oriente Médio uma nova ordem que trazia para a região algo inédito:
governos constitucionais, ainda que autoritários, Estados modernos, embora muitas vezes permeados
pelo nacionalismo islâmico. O velho Império Turco Otomano fragmentava-se e perdia força ao enfrentar
rebeliões internas no mundo árabe e as tropas europeias ao mesmo tempo.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), no fim de 1916, forças britânicas avançaram do Egito para
a Palestina turco otomana, enquanto outra força desembarcava no Iraque. No começo de 1917, os britânicos
haviam ocupado Bagdá, no Iraque, e
Gaza, na Palestina, e, em dezembro Oriente Médio e domínios (1920)
do mesmo ano, tomaram Jerusalém. 40º L

A Primeira Guerra Mundial foi a última TURQUIA

que o Império Turco Otomano travou


como grande potência, ao lado da
Alemanha. A derrota na guerra tumul- SÍRIA
(mandato francês)
tuou ainda mais o já enfraquecido im- LÍBANO 35º N
(mandato francês)
pério, que foi abolido pouco tempo IRAQUE
Mar Beirute
(mandato britânico)
depois, em 1923, quando foi procla- Mediterrâneo Damasco
IRÃ

mada a República da Turquia. PALESTINA


Bagdá
(mandato britânico)
Após os acordos de paz, Reino
Jerusalém Amã
Unido e França não liberaram todo
TRANSJORDÂNIA
o Oriente Médio como queriam os EGITO
(mandato britânico)
(parte
árabes nacionalistas, mas dividiram a asiática)
região que seria partilhada entre as
ARÁBIA
nações europeias e administrada por N SAUDITA
elas sob o mandato da Liga das Na-
0 165
ções, a fim de prepará-la para uma Países sob mandato internacional
km

futura independência de fato. FONTE: VICENTINO, Cláudio. Atlas hist—rico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 141.

424
O Iraque tornou-se uma monarquia sob mandato britânico; a França dividiu o antigo braço ocidental da
Mesopotâmia e criou as repúblicas da Síria e do Líbano; e, mais ao sul, o Reino Unido separou a Palestina da
Transjordânia (atual Jordânia). Esta foi transformada em um emirado árabe, governado pelo príncipe Abdal-
lah, enquanto a Palestina foi ocupada e administrada diretamente pelos britânicos, a partir de 1922.

Mandato britânico na Palestina (1922-1948)


Um pouco antes do controle formal dos britânicos sobre a Palestina, e ainda durante os últimos conflitos
com os turcos otomanos, um fator se destacou na situação geopolítica da região. Os judeus, que desde a
Antiguidade habitavam a Palestina – mas que durante o domínio romano, no primeiro e no segundo século,
deixaram de ser maioria –, estavam migrando de volta para a região. A maior parte deles era jovem, oriunda
principalmente da Europa oriental, e migrava por motivação política e religiosa, incentivada pelo sionismo
– ideologia de caráter nacionalista, baseada em preceitos religiosos e histórico-culturais, que propagava a
necessidade de criação de um Estado para os judeus espalhados, rejeitados e perseguidos na Europa.

COMPREENDENDO MELHOR

Sionismo é como ficou conhecido o nacionalismo judaico. O termo refere-se ao monte Sião, nos arredo-
res de Jerusalém. Nas escrituras hebraicas, o rei Davi usa o termo Sião para referir-se à cidade fortificada de

GEOGRAFIA
Jerusalém. Durante seu reinado, os israelitas eram chamados de filhos e filhas de Sião. Em 1896, o jornalista
austro-húngaro Theodor Herzl publicou o livro O Estado judeu, em que defendia a ideia de que a perseguição
aos judeus dispersos pelo mundo só teria fim quando o povo estivesse reunido em um Estado-nação soberano
e independente. O forte apelo religioso que sempre uniu os judeus fez da Palestina o destino almejado pelo
movimento sionista. Afinal, o judaísmo ainda chamava a Palestina de “Eretz Israel” (Terra de Israel, em hebraico),
a terra prometida por Deus ao patriarca Abraão.

Módulo 22
Em novembro de 1917, o governo britânico concedeu ao ideário sionista
um reconhecimento formal. O secretário britânico para Assuntos Estrangei-
Caro Lord Rothschild,
ros, Arthur James Balfour, enviou a um banqueiro judeu, membro do Parla-
mento, Lionel Walter Rothschild, uma carta de apoio ao projeto de criação Tenho o grande prazer de endereçar-lhe,
de um “Lar Nacional para o povo Judeu na Palestina”. A França e os Esta- em nome do governo de Sua Majestade, a se-
guinte declaração de simpatia para com as as-
dos Unidos reconheceram a promessa feita pelos britânicos. A Federação
pirações judaico-sionistas, a qual foi submetida,
Sionista foi informada, e o Reino Unido passou a contar com os judeus nas e aprovada, pelo Gabinete.
batalhas finais contra a ocupação turco otomana.
A carta, que ficou conhecida como Declara•‹o de Balfour, continha uma ‘O governo de Sua Majestade vê favora-
velmente o estabelecimento na Palestina de um
ressalva importante: o governo britânico não faria nada que pudesse “atentar Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará
contra os direitos civis e religiosos das coletividades não judaicas existentes os seus melhores esforços para facilitar a reali-
zação desse objetivo. Entendendo-se claramen-
na Palestina”. Ou seja, ainda que sem explicitar como, os britânicos acredita-
te que nada será feito que possa prejudicar os
vam que poderiam apoiar a causa judaica sem perturbar a autonomia civil e direitos civis e religiosos das comunidades não
religiosa de que gozava a então maioria árabe que habitava a Palestina. judaicas existentes na Palestina, ou os direitos
e o status político de que gozam os judeus em Oriente Médio: principais conflitos
A Declaração de Balfour não era uma abertura oficial dos portos da qualquer outro país.’
Palestina para a imigração deliberada dos judeus, mas funcionou enorme-
mente como estímulo ao sonho sionista. A promessa de apoio foi acolhida Eu seria grato se levasse esta declaração
pelos judeus e até incorporada ao mandato britânico da Liga das Nações. A ao conhecimento da Federação Sionista.

chegada de mais judeus – em uma época em que os árabes contavam cerca


Arthur James Balfour
de 1 milhão de habitantes na região, e os judeus, apenas 100 mil – deu uma
dimensão especial à luta árabe contra o mandato britânico e a crescente
presença judaica. Declaração de Balfour.

425
O Holocausto
Do início do mandato britânico até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Reino Unido teve difi-
culdade em conter os milhares de judeus clandestinos que tentavam entrar na Palestina (no período final da
guerra, grande parte era de refugiados dos campos de extermínio). A esperança britânica durante o conflito
era conquistar a boa vontade dos árabes mantendo as restrições à imigração judaica e evitar, assim, o ali-
nhamento do mundo árabe ao eixo nazifascista. Entretanto, numerosos árabes permaneceram favoráveis aos
alemães e contra a presença britânica no Oriente Médio.
Itália e Alemanha tentaram tirar proveito desse sentimento contra o Reino Unido e os judeus. Lançaram
maciças campanhas de propaganda nazista no mundo árabe, apregoando o antissemitismo. A perseguição
aos judeus aumentou na Palestina a níveis sem precedentes. O Reino Unido precisava investir forças para
conter uma guerra civil no território sob seu mandato no Oriente Médio. Enquanto isso, na Europa dominada
pelo Eixo, os judeus eram perseguidos. Ao serem presos, tinham os seus bens confiscados, eram expulsos
das cidades, assassinados ou enviados aos campos de concentração para, depois de trabalhos forçados e
experiências promovidas pelos nazistas, serem mortos.
Em janeiro de 1942, os nazistas decidiram extinguir os judeus da Europa. Na Conferência de Wannsee,
em Berlim, altos oficiais nazistas arquitetaram um plano de assassinato em massa de todos os judeus do con-
tinente: o Holocausto. As políticas antissemitas na Alemanha – reproduzidas nos países do Eixo – culminaram
no extermínio de 6 milhões de judeus.

COMPREENDENDO MELHOR

Antissemitismo é entendido como o ódio a um dos grupos semitas, os judeus. Trata-se de uma aversão à cultura e à religião
judaica, que se fundamenta até mesmo em argumentos tidos, à época, como científicos. O antissemitismo não foi inventado pelos
nazistas, mas tem suas raízes na tradição bizantina (império existente a partir do que era o Império Romano do Oriente). Difundido por
alguns “Pais da Igreja”, avançou pela Idade Média e teve seu auge no genocídio promovido pelos primeiros cruzados em 1096. Ju-
deus eram perseguidos socialmen-
BETTMANN/GETTY IMAGES

TIME LIFE PICTURES/US SIGNAL CORPS/


THE LIFE PICTURE COLLECTION/GETTY IMAGES te por suas atividades comerciais,
principalmente a agiotagem, e
temidos por seu crescimento de-
mográfico e motivos religiosos, já
que foram responsabilizados pelos
“Pais da Igreja”, com exceção de
Agostinho, pela morte de Jesus
Cristo. Muitas vezes os judeus fo-
ram também responsabilizados por
ALEXANDER VORONTSOV/GALERIE
BILDERWELT/GETTY IMAGES
HULTON-DEUTSCH COLLECTION/
CORBIS/GETTY IMAGES

epidemias, como a peste negra, ou


acusados de crimes associados às
suas práticas religiosas. Adolf Hitler
reproduziu o ódio aos judeus na
Alemanha e traçou um plano siste-
mático de extermínio desse povo.
Os argumentos da superioridade
racial, do problema socioeconômi-
co que os judeus representariam e
Em cima, trem lotado de judeus a caminho de campos de concentração alemães, em 1942, e
dormitório masculino coletivo no campo de concentração Buchenwald, na Alemanha; embaixo, até mesmo antigas questões reli-
grupo de judeus rendidos por soldados nazistas após revolta no gueto de Varsóvia, na Polônia, giosas foram usados pelos nazistas
em 1943, e grupo de crianças judias sobreviventes no campo de concentração
Auschwitz-Birkenau, na Polônia, em 1945. para justificar o Holocausto.

426
O que à primeira vista seria um desastre para os planos sionistas se tornou um estranho propulsor. O ra-
cismo nazista e a perseguição de judeus na Europa integraram uma força importante a favor da imigração ju-
daica para a Palestina e o consequente fortalecimento da comunidade de judeus naquela região. Diante dos
horrores do Holocausto, sem ter para onde voltar após o fim da guerra e com a manutenção do sentimento
antissemita em várias partes da Europa – mesmo com a derrota nazista –, milhares de judeus viram no sonho
de pisar em “Eretz Israel” a única esperança de recuperação para a nação destroçada.

O plano da ONU
Após 1945, a presença britânica na Palestina foi ainda mais reforçada, e o projeto de independência árabe na
região foi enfraquecido. Em contrapartida, judeus, antes aliados incondicionais, também se viram insatisfeitos com
a incapacidade britânica de apoiar de fato a causa sionista e protegê-los dos árabes. Foram organizados grupos
paramilitares judaicos (o Haganá, o Irgun e o Lehi) a fim de servirem como força de defesa contra os árabes – maio-
ria absoluta na região – e também para promoverem ataques contra alvos britânicos na Palestina.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, verificou-se que a administração da Palestina pelo Reino Uni-
do estava muito abalada. Árabes e judeus lutavam entre si e faziam dos postos da administração britânica
alvos de ataques terroristas. A escalada da violência na Palestina debilitou a presença britânica, expôs que
a convivência entre árabes e judeus na mesma terra não seria pacífica e lançou dúvidas sobre a melhor so-

GEOGRAFIA
lução para a região. O primeiro-ministro inglês Winston Churchill chegou a sugerir que a saída era entregar
a Palestina de volta aos turcos.
COMPREENDENDO MELHOR
Em contrapartida, os Estados Unidos – potência com
mais destaque geopolítico no pós-guerra – pressionavam Kibutz: palavra hebraica que significa
para que os ingleses cumprissem a promessa de apoiar “juntos” ou “reunidos”. No plural hebraico,
o sionismo. Judeus estadunidenses faziam passeatas em kibutzim. O kibutz era um modelo de fazenda

M—dulo 22
Nova York para lembrar a tragédia do Holocausto e rei- coletiva que recebia os judeus imigrantes da
vindicar a criação de um Estado judaico. Na Palestina, os Palestina. O sistema coletivista de trabalho
assentamentos de colonos imigrantes, antes escassos, agrícola teve clara inspiração no socialismo
não paravam de crescer. Os kibutzim, fazendas economi- crescente na primeira metade do século XX.
camente independentes, nas quais tanto a administração Muitos judeus russos e de outros países da
quanto o trabalho são coletivos, atraíam judeus de todo Europa oriental defendiam um sionismo traba-
o mundo e ajudavam na fixação de colônias que virariam lhista e utópico. O renascimento do hebraico
vilas e posteriormente cidades de maioria judaica. deve muito às escolas instaladas nas fazendas.
Em 1947, a Grã-Bretanha estava pressionada e, ao
não propor uma solução para o problema na região, en-
tregou o caso à Organização das Nações Unidas (ONU) – instituição recém-criada para substituir a Liga das
Nações. Agora que a questão seria resolvida na esfera internacional era hora de iniciar a propaganda pró ou
contra o projeto sionista. Os judeus buscaram antigos aliados e tiveram nos Estados Unidos o maior deles.
A comunidade judaica estadunidense enviava vultosas quantias para ajudar no estabelecimento de colônias
de judeus na Palestina. Os árabes da Palestina, por sua vez, buscaram apoio nos Estados árabes já indepen-
dentes, por meio da Liga Árabe – bloco político que na época reunia Líbano, Egito, Iraque, Síria, Emirado da
Transjordânia (atual Jordânia), Arábia Saudita, Iêmen e representantes dos árabes palestinos. Oriente Médio: principais conflitos

A ONU, que havia criado um Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina (Unscop), pretendia
resolver o conflito com a partilha da área entre árabes e judeus. Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia
Geral da ONU, em sessão presidida pelo diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, votou a Resolução 181, que
partilhava a Palestina, criando um Estado para os árabes e um para os judeus:
• 56% das terras iriam para o Estado judeu (Israel);
• 43% das terras iriam para o Estado árabe (Estado Palestino);
• a cidade de Jerusalém (1% das terras) seria administrada pela ONU.

427
Na votação, 33 países foram a favor do plano de partilha e 13 contra; além disso,
Palestina: plano de
partilha da ONU (1947) houve 10 abstenções e uma ausência. O Brasil votou a favor da Resolução 181.
A questão de Jerusalém estava relacionada ao fato de a cidade ser um sítio ar-
Estado judeu (Israel)
Estado árabe (Palestina) queológico importantíssimo, sendo, por isso, requerida como capital tanto do Estado
Zona internacional árabe como do judeu. Além disso, a cidade tem muitos pontos de peregrinação de
LÍBANO fiéis das três maiores religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o islamismo e o
cristianismo. A melhor solução encontrada pelo comitê da ONU foi a administração
de Jerusalém em regime especial, como “cidade internacional”. A antiga Jerusalém –
Lago
SÍRIA onde estão a Torre de Davi, o Muro das Lamentações, a mesquita do Domo da Rocha
Tiberíades
Mar e os marcos da via-crúcis – é considerada pela Unesco “patrimônio mundial”.
Mediterrâneo
o r d ão

FADI AL-BARGHOUTHY/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA


J
Rio

N Jerusalém
PALESTINA
0 60 Mar
km
Morto

ISRAEL

EGITO
(parte asiática) TRANSJORDÂNIA

30° N

Península
do Sinai
ba
Áca
de

ARÁBIA SAUDITA
Golfo

Jerusalém, cidade sagrada para as três maiores religiões monoteístas (islamismo, cristianismo
FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: e judaísmo). De acordo com o plano de partilha da ONU (1947), deveria ser um território
espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2013. p. 103. internacional. Foto de 2015.

Guerra de independência (1948-1949)

MICHAEL JACOBS/ALAMY
STOCK PHOTO/FOTOARENA
A decisão da Assembleia Geral da ONU foi recebida
com festa nos assentamentos judaicos na Palestina. Do
outro lado, os árabes rejeitaram o plano e consideraram
o projeto das Nações Unidas e a votação ilegítimos. Em
14 de maio de 1948, os últimos contingentes britânicos
deixaram a Palestina, e na tarde do mesmo dia o Conselho
Provisório – que a partir de 1949 viria a ser o Knesset, o
Parlamento de Israel – se reuniu para assinar a Declaração
de Independência do Estado de Israel e nomear David Bandeira de Israel.

Ben-Gurion para o cargo de primeiro-ministro. Depois de

ZOLTAN KLUGER/GPO/GETTY IMAGES


quase 2 mil anos de diáspora e dispersão, os judeus tinham
um Estado-nação independente.
Os árabes se recusavam a reconhecer Israel como um
Estado independente. No dia 15 de maio de 1948, um dia
após a saída dos britânicos e a criação de Israel, os Estados
árabes (Egito, Transjordânia, Líbano e Síria), unidos às forças
de árabes palestinos, invadiram o território. Os conflitos fo-
ram duradouros, e esperava-se uma vitória rápida dos ára-
bes contra o recém-criado Estado de Israel. Mas os Estados
Unidos fizeram empréstimos em dinheiro e venderam armas
David Ben-Gurion lê a Declaração de Independência de
para que Israel pudesse enfrentar a guerra. Israel em maio de 1948.

428
No primeiro semestre de 1949, Israel não só havia resistido à investida árabe, como
já avançava sobre territórios além dos definidos pelo plano da ONU. Em 20 de julho, o Israel (1949)
último armistício foi assinado com a Síria, e a guerra chegou ao fim. O resultado foi a
ampliação dos territórios ocupados pelos judeus e o permanente abandono do plano LÍBANO

da ONU por ambos os lados. Deu-se o seguinte:


SÍRIA
• Israel cresceu 75% em relação ao plano original de partilha; Mar
Lago
• a Transjordânia (atual Jordânia) passou a ocupar Jerusalém oriental e a região Mediterrâneo Tiberíades

J ordão
da Cisjordânia;

Rio
• o Egito ocupou a Faixa de Gaza, ao sul; Cisjordânia
• Jerusalém oriental, Cisjordânia e Faixa de Gaza, territórios não contíguos, foram Jerusalém
Mar
Faixa de Gaza
destinados à criação do Estado Palestino. Morto

Para os árabes palestinos a guerra foi um desastre lembrado até hoje. Cerca de ISRAEL

900 mil deles foram expulsos ou fugiram de suas terras e migraram para campos EGITO
(parte asiática)
de refugiados nos países árabes vizinhos. JORDÂNIA
30° N
ABBAS MOMANI/AFP

Península
do Sinai

ARÁBIA

GEOGRAFIA
SAUDITA

Israel declarou-se

M
Israel 1947

ar
independente em 1948.

Ve
Até hoje, entretanto, os Palestina ocupada por:

rm
palestinos reivindicam Israel

el
ho
a criação de um Estado Jordânia (Cisjordânia)
N
próprio para seu povo. Egito (Faixa de Gaza)
Na foto, palestino segura 0 80 Jerusalém dividida
bandeira nacional em entre Israel e Jordânia
km
meio à repressão das

M—dulo 22
forças de segurança FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico:
israelenses, em 2015. espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2013. p. 103.

Guerra de Suez (1956-1957)


A Guerra de Suez envolveu a nacionalização e a disputa do canal de Suez, construído artificialmente no
século XIX para ligar o mar Vermelho ao mar Mediterrâneo. Até 1956, as operações marítimas no canal eram
controladas pelo governo britânico, e Suez era tido como uma zona neutra sob proteção do Reino Unido,
apesar de cortar o território do Egito. Em 26 de julho de 1956, o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser,
anunciou a nacionalização do canal de Suez.

AP PHOTO/GLOW IMAGES
O ato fazia parte de um conjunto de medidas
do governo nacionalista de Nasser, que busca-
va uma liderança geopolítica no Oriente Médio.
Contudo, a nacionalização afetava os interesses
econômicos e militares britânicos.
O canal de Suez é uma importante rota de
navios que vão da Índia, da Austrália e dos paí- Oriente Médio: principais conflitos

ses do Oriente Médio para a Europa. Por isso, o


fechamento dele para embarcações de bandei-
ra britânica causou tensão na região.

Gamal Abdel Nasser era o principal articulador do


chamado pan-arabismo, ideia que defendia a união
de todos os países de maioria árabe-muçulmana
como estratégia para fortalecer os interesses dos
povos árabes e islâmicos perante o Ocidente.

429
O Reino Unido juntou-se à França e a
Canal de Suez
Israel em uma aliança militar para invadir
Mar Mediterrâneo o Egito e retomar o canal. Os três países
avançaram sobre a zona de Suez e sobre a

de
Ca Suez
península do Sinai, ao sul de Israel. O suces-

na
DEPRESSÃO

l
DE QATTARA so da aliança militar nos campos de batalha
Ca
de era, no entanto, um enorme fracasso políti-
Ri

ia
co no contexto da Guerra Fria. Os Estados
o
N

Ar
ilo

‡b
Altitudes Unidos passaram a temer as proporções da
ica

(em metros)
Ma guerra quando o presidente Nasser pediu
Trópico de Câncer 3 000
ajuda à União Soviética, que, por sua vez,
r V
Lago Nasser 2 500
2 000
erm

DESERTO 1 500 ameaçou apoiar o Egito e bombardear


elh

DA NÚBIA 1 000
Londres, Paris e Tel Aviv. A ONU, então, for-
o

600
400 çou um cessar-fogo, pressionando França,
N ilo 200
N
Ri
o 100 Reino Unido e Israel a desocupar o deserto
0 210 50
km
0 do Sinai. Em março de 1957, os israelenses
FONTE: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2012. p. 44. foram os últimos a deixar o local.

Guerra dos Seis Dias (1967)


Os anos que sucederam à Guerra de Suez foram tensos no que diz respeito ao conflito árabe-israelense.
Os árabes seguiam, desde 1947, sem reconhecer o Estado de Israel, que, por sua vez, aumentava o seu po-
derio militar na região com a ajuda das potências do Ocidente. Em 1966, Egito e Síria assinaram um acordo
de defesa mútua. As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) monitoravam constantemente inves-
tidas militares árabes nas suas fronteiras. Em abril de 1967, a tensão aumentou quando as IDF derrubaram
seis caças sírios de fabricação soviética e destruíram bases de artilharia
Israel e territórios
síria na fronteira com Israel. A essa altura o serviço secreto da União ocupados (1967)
Soviética trocava informações com o governo sírio e egípcio. LÍBANO
SÍRIA
O presidente do Egito tinha pretensões de atacar o Estado judeu Colinas
Lago de Gol‹
a partir de todas as direções, em aliança com os outros árabes; Síria, Tiberíades

J ordão
Mar
Jordânia e Iraque decidiram então que atacariam Israel simultanea-

Rio
Mediterrâneo

mente. No entanto, o serviço de inteligência de Israel – o Mossad – Jerusalém


Cisjordânia

conseguiu antecipar os planos árabes. As IDF decidiram, então, que Faixa de Gaza Mar
Morto

deveriam atacar os árabes que cercavam as fronteiras de Israel antes Canal ISRAEL
de Suez
de os países inimigos efetivamente lançarem o primeiro golpe. No dia EGITO
(parte asiática) JORDÂNIA
5 de junho de 1967, o ataque preventivo de Israel foi posto em prática. 30° N

Os caças israelenses destruíram a Força Aérea egípcia, síria e jorda- Península


do Sinai
niana que ainda estava no chão. Forças terrestres avançaram sobre Gaza
ARÁBIA
e a península do Sinai. O Exército conseguiu entrar na Síria, ao norte, e SAUDITA
M

N
ocupar as colinas de Golã. Em Jerusalém, a mais difícil batalha era tra-
ar
Ve
r

vada contra os jordanianos. No terceiro dia de batalha, as IDF já haviam 0 90


m

EGITO
el
ho

km
expulsado a Jordânia da Cisjordânia. Em 10 de junho, os árabes foram
Israel 1949-1967
derrotados e assinaram um armistício, após forte pressão internacional, Ocupação militar israelense
(Guerra dos Seis Dias, jun. 1967)
especialmente dos soviéticos. As consequências da guerra, contudo,
FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico:
perduram até hoje. espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2013. p. 103.

430
A Guerra dos Seis Dias resultou:
• em 18 mil mortes entre as tropas árabes e 766 mortos israelenses;
• em mais de 350 mil refugiados palestinos;
• na expansão de Israel sobre o Egito: controle da Faixa de Gaza e da península do Sinai.
• na expansão de Israel sobre a Jordânia: controle da Cisjordânia e da totalidade de Jerusalém;
• na expansão de Israel sobre a Síria: controle das colinas de Golã, onde se localizam as nascentes do rio
Jordão;
• na Resolução 242: a ONU ordenou que Israel desocupasse os territórios conquistados na Guerra dos
Seis Dias. O Estado judeu desobedeceu à resolução, alegando que não negociaria com países que não
reconhecessem Israel.

Guerra do Yom Kippur (1973)


O conflito de 1967 deixou marcas profundas na configuração das fronteiras do Oriente Médio, além de
ter enfraquecido os líderes árabes derrotados. O sentimento de revanchismo era grande, e as pretensões
árabes não foram esquecidas. Anwar Sadat, sucessor de Nasser, manteve o objetivo de restaurar a liderança
e retomar os territórios ocupados por Israel nos Seis Dias.
A estratégia árabe era parecida com a de 1967: Síria, Egito e Iraque atacariam Israel de surpresa e ao mesmo

GEOGRAFIA
tempo, em várias frentes de batalha. Dessa vez, os árabes escolheram o Dia do Yom Kippur – data do calendário
judaico em que o povo judeu jejua e dedica-se às orações.
Israel (depois da Guerra
O dia escolhido pelos árabes pode ter ajudado Israel a con- do Yom Kippur – 1973)
tra-atacar. No dia 6 de outubro de 1973, os vizinhos de Israel

FONTE: LE MONDE diplomatique. La guerre d’Octubre (1973). Disponível em: <www.monde-diplomatique.fr/cartes/procheorient1973>.


Acesso em: 24 jan. 2017. Adaptado.
deram início ao ataque. As estradas vazias e as comunicações Entrega de armas
soviéticas na Síria
livres por causa do Yom Kippur permitiram às IDF convocar Damasco

M—dulo 22
reservistas, mobilizar tropas e transportar recursos militares. Entrega de armas
estadunidenses em Israel
Na primeira semana, Israel conseguiu conter o avanço ini-
Entrega de armas
migo. As forças militares dos dois lados vinham, mais uma soviéticas no Egito SÍRIA

vez, sendo abastecidas pelas superpotências da Guerra Fria. Mar


Novamente a iminência de um conflito que tivesse a interfe- Mediterrâneo
Cisjordânia
rência direta de Estados Unidos e União Soviética fez a ONU Telavive

negociar um cessar-fogo. As operações militares na região Jerusalém


Faixa de Mar
foram interrompidas em 26 de outubro do mesmo ano. Canal Gaza
de Suez
Morto
O mapa da região após a Guerra do Yom Kippur não foi
muito alterado, o que não quer dizer que o conflito não tenha ISRAEL
trazido grandes consequências. Com o fim da guerra, Israel
JORDÂNIA
perdeu um estreito território na margem leste do Suez para o
EGITO
Egito, mas ganhou outro a oeste do canal e ampliara a ocu- Suez
30° N
N
pação em Golã. Península
do Sinai 0 65
Além dessa consequência para as fronteiras, a Guerra do km

Yom Kippur trouxe desdobramentos agudos para a econo-


aba

Territórios sob o controle das forças israelenses Oriente Médio: principais conflitos
mia mundial. Os árabes pertencentes à Organização dos Paí- em 6 de outubro de 1973
Aq

ses Exportadores de Petróleo (Opep) decidiram boicotar o Territórios em posse de Israel durante o cessar-fogo
o de

em 24 de outubro de 1973
fornecimento de petróleo como forma de protesto ao apoio
lf

Territórios em posse do Egito durante o cessar-fogo


Go

que o Ocidente vinha dando a Israel. A produção foi redu- em 24 de outubro de 1973
Avanço das tropas egípcias e sírias em
zida, e o preço do óleo aumentado em praticamente 300%. 24 de outubro de 1973
Avanço das tropas israelenses de 11 a 24
A Arábia Saudita chegou a interromper a venda de petróleo de outubro de 1973 Mar
para os Estados Unidos. Esses episódios ficaram conhecidos Linha Bar-Lev (cadeia de fortificações construída na
Vermelho
costa oriental do canal de Suez)
como a Crise do Petróleo.

431
Acordo de Camp David (1978-1979)
Após assumir o governo, em 1977, o democrata Jimmy Carter investiu na mudança da diplomacia dos
Estados Unidos no Oriente Médio. Com uma proposta multilateral de negociações, o presidente estaduni-
dense mediou uma nova política de paz para a região por meio do Acordo de Camp David (nome da casa de
campo utilizada pelo chefe de Estado estadunidense para descansar ou até mesmo para trabalhar). Ao longo
do mês de setembro de 1978, Carter reuniu-se secretamente com o então presidente do Egito, Anwar Sadat,
e com o primeiro-ministro israelense, Menachem Begin.
Dos encontros em Camp David resultou um acordo formal, posteriormente assinado pelos três chefes de
Estado na Casa Branca, em Washington, Estados Unidos, em 26 de março de 1979. Pelos princípios do acordo:
• o Egito passava a reconhecer a independência e a soberania do
YA'AKOV SA'AR/GPO/GETTY IMAGES

Estado de Israel (foi o primeiro país do mundo árabe a reconhecer


Israel, após mais de três décadas de existência do Estado judeu);
• Israel desocuparia a península do Sinai, devolvendo-a ao Egito;
• os boicotes econômicos seriam eliminados, e Israel se comprome-
teria a obter os direitos de passagem da população entre a Faixa
de Gaza e a península do Sinai (Egito).
Por causa do acordo com Israel, o Egito pagou um preço alto.
O país foi expulso da Liga Árabe e ficou isolado no Oriente Médio.
Em 6 de outubro de 1981, o presidente Sadat, que havia dividido o
Sadat, Carter e Begin na cerimônia de assinatura do acordo prêmio Nobel da Paz (1978) com Begin, foi assassinado no Cairo por
diplomático firmado entre Egito, Estados Unidos e Israel em
Washington, D.C., nos Estados Unidos, em 1979. extremistas islâmicos contrários às negociações com Israel.

A causa palestina
Após décadas de conflitos entre países árabes e Israel, quem mais sofreu e perdeu em termos sociais,
políticos e econômicos com as guerras desde 1948 foram os árabes palestinos: permanecem há anos como
refugiados nas piores áreas de assentamento em Israel, tornaram-se estrangeiros nos vizinhos árabes e con-
tinuam sem um Estado-nação independente.
Esse sentimento de prejuízo levou os palestinos a se organizar em maio de 1964. Insatisfeitos com a falta
de representatividade, 422 palestinos reconhecidos pela comunidade criaram a Organização para Liberta-
ção da Palestina (OLP). O objetivo do grupo, liderado pelo então jovem engenheiro egípcio Yasser Arafat,
era dar voz política aos palestinos e libertar a Palestina (da presença judaica) pela luta armada.
Sem uma estrutura militar organizada, a OLP tinha no terrorismo a sua
GEORGES MELET/PARIS MATCH/GETTY IMAGES

principal arma contra Israel. O mais famoso ataque aconteceu durante os


Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, em 1972. Um grupo islâmico
denominado “Setembro Negro”, ligado à organização, invadiu o prédio
da delegação israelense e assassinou 11 atletas.
A causa palestina na luta pela criação do seu Estado teve dois gran-
des apelos, muito explorados pela OLP: a Intifada e a Jihad.
• Intifada: é um termo árabe que pode ser traduzido como “revolta”,
“rebelião” ou “levante”. A primeira Intifada começou em novembro
de 1987 e foi uma rebelião da população civil palestina contra a pre-
sença israelense nos territórios destinados aos árabes. A resistência dos
palestinos foi veiculada pelos meios de comunicação do mundo todo
e deu visibilidade ao quase esquecido problema. A disparidade entre
as condições de vida de judeus e árabes na região ficou evidente, além
Arafat, de óculos escuros, junto a outras lideranças
palestinas, em 1970. da opressão mantida por Israel nos assentamentos na Cisjordânia.

432
• Jihad: o dever religioso de defender o islã por meio da luta (não necessariamente por meio de guerra)
é visto como uma batalha de fé e pela fé, e todo muçulmano é convidado a defender individualmente
sua crença. O vigor espiritual da Jihad tem, no entanto, sido explorado por grupos políticos e religiosos
fundamentalistas. É visto como oportunismo religioso e erro no ensino do islã pelos líderes muçulma-
nos mais moderados. O desvirtuamento do valor da Jihad e a crença de que a morte em batalha traz
honra ao mártir têm levado muitos muçulmanos ao terrorismo.

ESAIAS BAITEL/ARCHIVES/AFP

GEOGRAFIA
Palestinos atirando pedras e objetos durante a primeira Intifada.

Acordos de paz e novas dificuldades


Apesar de as tensões entre árabes e sionistas nunca terem cessado, a comunidade internacional tentou
patrocinar acordos de paz para resolver a questão. O sucesso do tratado em Camp David e a devolução do

M—dulo 22
Sinai abriram um precedente positivo para novas negociações.
• Acordos de Oslo (1993-1995): iniciada a Nova Ordem Mundial, os Estados Unidos desejavam arejar
novamente a diplomacia no Oriente Médio. Com o auxílio do governo norueguês, Yasser Arafat e o
primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, se encontraram em Oslo, na Noruega, e negociaram planos
para a paz na Palestina. Aos moldes do que fizera Jimmy Carter em 1978, o presidente Bill Clinton me-
diou os acordos com concessões feitas pelos dois lados.
Pelos termos dos acordos, a OLP passaria a se chamar

J. DAVID AKE/AFP
Autoridade Nacional Palestina (ANP), deixaria de ser
considerada um grupo terrorista e passaria à condição
de organização representativa dos palestinos, com
reconhecimento internacional e legitimidade para
negociar com Israel. Yasser Arafat garantiria então o
fim dos atentados terroristas que partiam da OLP. O
governo israelense aos poucos retiraria suas tropas da
Cisjordânia e da Faixa de Gaza e passaria o controle
administrativo das regiões à ANP. Os Acordos de Oslo Oriente Médio: principais conflitos
marcaram a política do governo de Yitzhak Rabin, que
oferecia terras em troca de paz. Israel concederia, ain-
da, autonomia crescente aos palestinos, e os atenta-
dos cessariam. No entanto, uma história que o mundo
já vira antes após o acordo de Camp David se repetiria.
O primeiro-ministro israelense foi assassinado em 4 de Yitzhak Rabin (à esquerda) cumprimenta Yasser Arafat (à direita) sob os
novembro de 1995 por um estudante ortodoxo judeu olhares do então presidente estadunidense Bill Clinton (ao centro), em
Washington, D.C., Estados Unidos, em 1993, durante a oficialização dos
que era contra as negociações com os palestinos. Acordos de Oslo.

433
• Tratado Israel-Jordânia (1994): a Jordânia normalizou suas relações diplomáticas com Israel, tornan-
do-se o segundo país árabe a reconhecer o Estado judeu.
• Wye Plantation (1998): o governo israelense entregou a cidade de Hebron, na Cisjordânia, para a
administração da ANP. Começaram, então, protestos de colonos judeus de Hebron, que não queriam
deixar a cidade, e de judeus ortodoxos, que discordavam da entrega de uma cidade tida como sagrada
para os árabes.
• Segunda Intifada (2000): o processo de paz entrou em retrocesso. No último ano do governo Clinton,
houve uma nova reunião em Camp David. Israel retirou do Líbano tropas que estavam lá desde a dé-
cada de 1980 e ofereceu um plano para a criação de um Estado palestino para a Faixa de Gaza e 91%
da Cisjordânia, excluindo os territórios árabes do vale do rio Jordão. Yasser Arafat recusou o acordo,
e novas rebeliões civis em assentamentos palestinos explodiram. A velha política de atentados contra
Israel retornou, e o desenvolvimento dos compromissos de Oslo foi interrompido.
• Governo Sharon (2001-2006): o governo israelense conservador do general Ariel Sharon adotou uma
postura ambígua para resolver a questão. Durante sua gestão ocorreu a segunda entrega de terras
ocupadas em 1967 e a retirada dos assentamentos de judeus da Faixa de Gaza, concluída em 2005.
A operação foi, entretanto, realizada de maneira unilateral pelo governo de Israel, que rompeu nego-
ciações com a ANP e começou também a construção de um muro para separar territórios judaicos e
árabes na Cisjordânia, ocupada desde 1967. A comunidade internacional condenou a obra.
REUTERS/LATINSTOCK

Israel: evolução
territorial (2014)

FONTE: Folha de S.Paulo, 31 jul. 2014. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/colunas/


guilhermeboulos/2014/07/1493573-a-palestina-apagada-do-mapa.shtml>. Acesso em: 6 jan. 2017.
LÍBANO

Mar SÍRIA
Mediterrâneo
Colinas
de Golã
(ocupadas)

Telavive Cisjordânia
Palestinos atirando pedras e objetos durante a Segunda Intifada. 32° N

Jerusalém Mar
SVEN NACKSTRAND/AFP

Faixa de Morto
Gaza
ISRAEL
JORDÂNIA

EGITO
N

Península 0 60
do Sinai
km

Controle civil palestino e controle militar israelense


Controle israelense
Controle palestino

Os muros da Cisjordânia segregam os territórios ocupados por Israel daqueles


controlados por palestinos.

434
• Hamas (Movimento de Resistência Islâmica): o grupo foi criado em 1987 para travar uma luta armada
contra Israel. Ganhou prestígio junto aos palestinos insatisfeitos com os anos de ineficiência da política e a
corrupção do Fatah (braço armado da antiga Organização para a Libertação da Palestina que fora elevado à
condição de partido político dentro da Autoridade Nacional Palestina). Ao longo dos anos, o próprio Arafat
vinha sendo acusado de ter enriquecido graças ao financiamento internacional dado para a causa palestina.
Um governo de coalizão foi criado, então, com membros do Fatah e do Hamas no comando da representa-
ção política dos palestinos. Israel se recusou a negociar com o novo governo. A nova composição da ANP
parecia não dar certo. Enquanto o Fatah é historicamente mais secular (ou seja, não se relaciona com a
religião) e ligado ao socialismo nacionalista do século XX, o Hamas é um grupo abertamente antissionista e
religioso, vinculado à Irmandade Muçulmana. Na Cisjordânia, membros do Hamas eram presos pelo Fatah,
enquanto na Faixa de Gaza o grupo islâmico reagia assassinando opositores e expulsando da região os dis-
sidentes. Em meio ao conflito interno da ANP, Egito e Israel impuseram à Gaza um duro embargo, deixando
a região ainda mais empobrecida e isolada. A partir de 2007, o Hamas passou a controlar a Faixa de Gaza,
enquanto o Fatah ficou à frente das cidades palestinas na Cisjordânia.
• Constantes conflitos em Gaza: sob a alegação de que os políticos do Hamas financiavam grupos
terroristas, ataques a Israel e o tráfico de armas, as IDF têm invadido a Faixa de Gaza diversas ve-
zes nos últimos anos. Quando mísseis de pequeno porte são lançados contra cidades e campos
israelenses próximos à fronteira, o governo israelense responde com força militar. O bloqueio feito

GEOGRAFIA
por Israel e Egito não impede que armas contrabandeadas e matéria-prima para mísseis entrem
em Gaza por longos túneis subterrâneos. O mercado ilegal de produtos para Gaza é presente em
praticamente todos os setores da economia local.
JANINE WIEDEL PHOTOLIBRARY/
ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA

FERRUCCIO/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA

M—dulo 22
Vinte mil manifestantes a favor da causa palestina marcharam em Manifestantes ocupam a Trafalgar Square (Londres, Reino Unido) para
Londres protestando contra a invasão israelense em Gaza em 2009. demonstrar apoio a Israel na ofensiva contra o Hamas em 2009.

Em 2010, um conjunto de barcos com cerca de 750 ativistas políticos palestinos, pacifistas estrangeiros
e líderes religiosos, levando ajuda humanitária para Gaza, buscou por dias romper o bloqueio feito no
Mediterrâneo pela Marinha israelense. Em 31 de maio de 2010, forças especiais israelenses invadiram
o navio turco Mavi Marmara sob a alegação de que ele aportaria em Gaza. Houve confronto, e nove
Oriente Médio: principais conflitos
passageiros turcos foram mortos. O caso teve repercussão internacional e resultou no rompimento das
relações diplomáticas entre Turquia e
JACK GUEZ/AFP

Israel, retomadas apenas em 2016.

Embarcação turca que fazia parte da flotilha que


tentou furar o bloqueio marítimo de Gaza, em
maio de 2010.

435
• Territórios ocupados: parte da tensão na região deve-se ao fato de Israel ainda manter territórios
ocupados desde 1967. Parte da Cisjordânia, Jerusalém oriental e as colinas de Golã permanecem sob
domínio israelense. Há cada vez mais resistência dos colonos judeus em deixar as regiões ocupadas.
A guerra civil na Síria, mencionada mais à frente neste módulo, dificulta muito qualquer negociação
sobre Golã por parte de Israel. Os palestinos acusam o governo de Israel de incentivar a imigração e os
assentamentos de judeus em territórios ocupados indevidamente. Israel, por sua vez, segue alegando
que não negociará com o Hamas antes de as autoridades palestinas garantirem o fim do terrorismo.
Israel também acusa o Irã, o Líbano e o Catar de apoiarem militar e financeiramente o Hamas.

Outros conflitos no Oriente Médio

Revolução Islâmica (1979)


A tomada do poder pelos aiatolás no Irã ficou conhecida como Revolução Islâmica, uma mudança sem
precedentes na política do país que influenciaria todo o mundo muçulmano. O conjunto de mudanças que
atingiu o país em 1979 pode ser mais bem compreendido se for dividido em duas partes:
• insurreição popular contra o xá e deposição da monarquia;
• ascensão dos líderes religiosos e instauração da teocracia xiita.

COMPREENDENDO MELHOR

Aiatol‡s, xiitas, sunitas e teocracia


Os aiatolás são os clérigos da mais alta posição na hierarquia do islamismo xiita, responsáveis pelo conheci-
mento das leis do islã. O xiismo é um ramo minoritário da religião muçulmana – cerca de 15% no mundo – que
defende que a sucessão religiosa e política no islã deve manter a linhagem do profeta Maomé. Os sunitas são
maioria no mundo islâmico e defendem que o líder da religião poderia ser qualquer pessoa idônea. Já a teo-
cracia é o sistema de governo fundamentado no poder religioso, em que os chefes de Estado são também os
líderes religiosos. Nesse sistema as leis civis estão obrigatoriamente baseadas em preceitos religiosos.

No início dos anos 1950, o Irã era governado pelo xá Reza Pahlevi e contava com o apoio dos Estados Uni-
dos. Seu objetivo era transformar o país em uma potência econômica e militar, por meio da venda do petróleo.
Já nos anos 1960, o crescimento econômico do país beneficiava apenas a pequena elite iraniana e a família do
xá, além de altos funcionários de empresas estrangeiras, deixando à margem o restante da população.
AFP

Nesse contexto, o chefe espiritual dos xiitas e líder da oposição,


o aiatolá Khomeini, havia sido obrigado a se exilar na França. Ele
acusava o xá de tirania e corrupção.
No início da década de 1970, a maioria da população xiita do
Irã estava descontente com o autoritarismo do xá. Ele, então, acei-
tou abrandar a repressão, libertar presos políticos, anistiar exilados,
reformular o sistema judicial e ensaiar uma reforma agrária. Con-
tudo, a crescente aproximação da monarquia iraniana do governo
de Jimmy Carter e dos valores ocidentais enfureceu os líderes reli-
giosos. Os protestos contra Reza Pahlevi tomaram as ruas em uma
guerra civil e religiosa. Defendia-se, ao mesmo tempo, o país e o
Manifestação a favor do aiatolá Khomeini (retratado no cartaz),
em 1979. islã da ocidentalização promovida pelo xá.

436
Em 16 de janeiro de 1979, o xá foi forçado a abandonar o país. Era a vitória da revolução dos aiatolás.
No dia 1o de fevereiro, o aiatolá Khomeini retornou ao Irã e assumiu o poder no país. Foi o primeiro passo
para a instauração da teocracia xiita.
O líder religioso tornou-se o governante político e passou a fazer da lei islâmica a lei civil do Irã. Logo a
teocracia se radicalizou, e os líderes moderados da revolução foram afastados. Entre outras medidas, Khomeini:
• proibiu costumes como ouvir músicas ou assistir filmes ocidentais, jogar, usar maquiagem e peças de
vestuário consideradas inadequadas;
• reintroduziu os castigos corporais para quem violasse a lei islâmica (sexo fora do casamento, consumo
de drogas, jogo, álcool, etc.);
• passou a prender marxistas, judeus, homossexuais e membros de outras religiões;
• isolou o Irã da diplomacia internacional;
• incentivou o culto aos líderes religiosos.
O país, no entanto, continuava fraco economicamente e muito dependente das exportações de petróleo.
Para se reorganizar internamente e apresentar ao mundo a sua nova ordem política, o Irã elevou, com auto-
rização da Opep, o preço do barril de petróleo, reduzindo sua cota do produto no mercado internacional, o
que culminou em uma nova crise mundial de energia em 1979.
Todo esse processo desencadeado no Irã teve forte impacto na região do Oriente Médio, em razão da

GEOGRAFIA
importância econômica (grande produção de petróleo e numerosa população consumidora), política, militar
(é considerada uma potência militar média) e cultural do país (a Universidade de Teerã é um dos principais
polos de pensadores do islamismo). Como foi uma revolução de cunho xiita, acabou por levantar a oposição
de outras vertentes islâmicas na região, como os sunitas, maioria no Oriente Médio, que passaram a comba-
ter intelectualmente e financiar ações militares para limitar a Revolução teocrática iraniana às fronteiras do Irã.
Nesse contexto, entrou em jogo o papel do Iraque na contenção dessa revolução, apoiado por vários países
árabes, como veremos a seguir.

Módulo 22
Guerra Irã-Iraque (1980-1988)
O Iraque faz fronteira com o Irã, a Turquia, a Síria, a Jordânia, a Arábia Saudita e o Kuwait. Sua saída para
o mar é pelo canal de Shatt al-Arab, que é binacional, dividido com o Irã. A vitória da Revolução Iraniana
representou uma possível perda de controle regional dos Estados hegemônicos no mundo bipolar (Estados
Unidos e União Soviética) e uma ameaça à ordem mundial no mundo islâmico, já que o aiatolá Khomeini e o
conselho religioso do Irã deram início a um processo de exportação dos valores da revolução. Os interesses
do então presidente sunita do Iraque, Saddam Hussein, também passaram a correr riscos a partir de 1979.
JACQUES PAVLOVSKY/SYGMA/GETTY IMAGES

Canal de Shatt al-Arab

IRÃ

Oriente Médio: principais conflitos

30° N Canal de Shatt al-Arab

IRAQUE
N
Golfo
KUWAIT Pérsico
0 80

km

Saddam Hussein discursa para suas tropas na guerra Irã-Iraque, em FONTE: Atlante Geografico Metodico De Agostini.
1987. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 2013. p. 107.

437
Em suma, as razões do conflito Irã-Iraque podem ser apresentadas como um confronto entre dois líderes
carismáticos – Khomeini e Hussein; em termos étnicos, entre persas iranianos e árabes iraquianos; em termos
ideológicos, entre a teocracia islâmica do Irã e o Estado laico do Iraque; em termos religiosos, uma disputa
entre xiitas e sunitas; em termos econômicos, uma disputa por petróleo na região; e, em termos geopolíticos,
uma briga por territórios e pela hegemonia no Oriente Médio.
As fronteiras entre os dois países foram estabelecidas pelo Reino Unido em 1937 e vinham sendo ques-
tionadas pelo Iraque. Com o início dos conflitos, os iranianos pareciam levar vantagem. Entretanto, depois
de deterem a ofensiva iraquiana inicial, conseguiram montar um poderoso contra-ataque e penetraram no
território inimigo. Os iraquianos, com o apoio dos serviços de espionagem e logística estadunidenses e aju-
da financeira dos Estados árabes mais ricos, conseguiram deter o ataque e fazer perdurar a guerra. O apoio
dado ao governo de Saddam Hussein se justificava pelo fato de não interessar ao Ocidente nem às monar-
quias árabes o avanço da teocracia islâmica no Oriente Médio.
A guerra Irã-Iraque teve momentos críticos quando o Iraque determinou que qualquer navio que abaste-
cesse nos terminais petrolíferos do Irã seria atacado. Em contrapartida, o Irã determinou que qualquer navio
no golfo Pérsico seria bombardeado. Esse confronto ficou conhecido como Guerra dos Petroleiros. Sem
grande pressão internacional, os dois países conseguiram dar prosseguimento, durante oito anos, a uma
guerra mutuamente destrutiva.
Após uma quase vitória de Saddam Hussein, o Irã foi obrigado a concordar com um acordo de paz me-
diado pela ONU. Em posição militar ligeiramente melhor, o Iraque logo iniciou uma nova guerra. Invadiu,
ocupou e anexou o Kuwait em agosto de 1990.
WORLD HISTORY ARCHIVE/ALAMY
STOCK PHOTO/FOTOARENA

Guerra do Golfo (1990-1991)


O Kuwait é um pequeno país do Oriente Médio com uma grande bacia pe-
trolífera em seu subsolo. O país faz fronteira com a Arábia Saudita e com o Iraque.
O Iraque havia se armado militarmente ao longo da guerra com o Irã com
a ajuda de seus vizinhos árabes, que temiam a expansão da teocracia iraniana.
Terminada a guerra com o Irã, era hora de começar o pagamento da dívida
adquirida com ela. A economia iraquiana, entretanto, depois de quase uma
década de guerra, estava à beira do colapso. Acreditando em seu poderio bé-
lico, o Iraque invadiu o Kuwait sob a justificativa de que o território no passado
Caças americanos sobrevoam o Kuwait, na fazia parte de suas fronteiras, tendo sido partilhado na Conferência de Berlim,
operação Desert Storm, em 1991.
segundo interesses europeus. O país também acusava o Kuwait de roubo de
petróleo em alguns poços binacionais.
DOD PHOTO/ALAMY STOCK
PHOTO/FOTOARENA

Ao iniciar a invasão do Kuwait, em agosto de 1990, dez anos depois de


ter invadido o Irã, Saddam Hussein acertou ao premeditar que a invasão e a
anexação do Kuwait seriam fáceis e rápidas, mas supôs – erroneamente – que
teria apoio político do mundo árabe e que as potências estrangeiras nada
fariam além de protestar a distância.
Contudo, o governo iraquiano foi incapaz de enxergar a diferente confi-
guração da Nova Ordem Mundial. Em 1990, a União Soviética já entrava em
colapso e o fim da Guerra Fria era iminente. Hussein já não podia mais invocar
o patrocínio estadunidense para suas investidas na região. Pelo contrário, ca-
bia agora aos Estados Unidos – única superpotência – um papel de proteção
às nações violadas por anseios expansionistas.
A derrota de Saddam Hussein foi rápida e fácil. Veio pela coalizão de forças
Em atitude desesperada, Saddam Hussein, regionais e internacionais, lideradas pelos Estados Unidos. Após autorização
prevendo ser derrotado na guerra, ordena que as do Conselho de Segurança da ONU, teve início a operação militar que ficaria
tropas iraquianas incendeiem poços de petróleo do
Kuwait, em 1991. conhecida como Desert Storm (Tempestade no Deserto).

438
A ONU implementou um sufocante embargo econômico que
estrangulou o Iraque, determinando, ainda, a criação de zonas de Iraque: zona de exclusão
exclusão dos extremos norte e sul do território iraquiano, nos quais
TURQUIA Mar
o governo de Saddam Hussein não teria mais a soberania militar. Cáspio
Aviões estadunidenses e britânicos passaram a patrulhar diaria-
36º N
mente essas zonas com o objetivo de proteger as minorias curda,
SÍRIA
no norte, e xiita, no sul, de ataques iraquianos. Bagdá IRÃ
33º N
Em 2003, os Estados Unidos iniciaram uma nova guerra contra
IRAQUE
o Iraque, a qual levou à queda de Saddam Hussein. Com um novo
governo no Iraque, o ditador foi capturado, julgado e condenado
à pena de morte pelo assassinato de 148 pessoas, em sua maioria ARÁBIA

G rsic

ol o
xiitas. SAUDITA

fo
N

0 295
Zona de exclusão aérea
km

FONTE: Saiba mais sobre o Iraque. Folha Online, 19 set.


2002. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/
mundo/ult94u45488.shtml>. Acesso em: 3 jan. 2017.

COMPREENDENDO MELHOR

GEOGRAFIA
A questão curda
Os curdos correspondem a uma etnia minoritária no Irã, no Iraque, na Síria e na Turquia. Esse povo viveu
em um território chamado Curdistão, que ia do sudeste da Turquia ao norte do Iraque, ocupando ainda o cen-
tro-oeste iraniano. Pela constituição da sua população, o Iraque é o único país considerado binacional − curdo
e árabe. Entretanto, sua minoria curda não foi respeitada na ditadura Hussein.

M—dulo 22
Essa minoria étnica é uma presença desestabilizadora no Oriente Médio, uma vez que corresponde, como
os palestinos, a uma nação sem Estado que resiste à discriminação tentando se integrar ao Estado iraquiano e
lutando para preservar suas tradições culturais. A política do Estado com os curdos é conceder-lhes autonomia
em alguns períodos e em outros reprimi-los de maneira violenta. No conflito entre Irã e Iraque, os curdos chega-
ram a ser usados pelo Irã para desenvolver movimentos armados, com o objetivo de obter autonomia em solo
iraquiano.
Após a derrota do Iraque, a minoria curda do
país, que representava aproximadamente 17,5% Onde estão os curdos? (2014)
da população de 19 milhões, revoltou-se contra o
Mar Negro
governo de Saddam Hussein. As forças governa-
mentais reprimiram a rebelião em três semanas, TURQUIA
Mar
precipitando o êxodo em massa de quase toda a Cáspio
Mar
população curda do norte do Iraque para o Irã e a Mediterrâneo SÍRIA
Turquia. Incapaz de lidar com a onda de refugia-
IRAQUE
dos, a Turquia fechou suas fronteiras depois que IRÃ

mais de 400 mil curdos fugiram para as províncias 18 milhões 2 milhões


Oriente Médio: principais conflitos
de Hakkari e Mardin. Os soldados turcos impe-
G

lf o
o


Ma

Tróp 5 milhões r sic o


diram que mais de 500 mil refugiados curdos do ico de
r Ve

Câncer
8 milhões
rm

lado iraquiano cruzassem a Turquia, forçando-os a


elh

permanecer nos campos provisórios; 1 milhão de N


o

= 1 milhão de curdos
curdos fugiram para o Irã. Assim, a principal con- 0 485
Resto do mundo = 2 milhões
km
sequência da Guerra do Golfo para a Turquia foi a
FONTE: Where are the kurds? The Kurdish Project. Disponível em:
internacionalização da questão curda. <http://thekurdishproject.org/kurdistan-map>. Acesso em: 3 jan. 2017.

439
Guerra civil da Síria (2011-)
A guerra civil na Síria começou em 2011 como desdobramento da chamada Primavera Árabe, um amplo
levante iniciado no norte da África, mais especificamente na Tunísia, como reivindicação popular para a pro-
moção de reformas políticas em meio ao contexto histórico da falta de regimes democráticos e da pobreza
na qual a maior parte da população vivia. Saiba mais lendo a seção Gotas de Saber, no final do módulo.
O movimento foi propagado posteriormente para países como Líbia, Egito, Iêmen e Bahrein, encorajando
uma parcela significativa da população síria que contestava o regime de Bashar al-Assad, acusado de práticas dita-
toriais e antidemocráticas. Veja a seção Compreendendo melhor para entender as causas da guerra civil da Síria.

COMPREENDENDO MELHOR

A guerra civil na Síria


A ONU considera que a guerra civil na Síria é a maior crise humanitária do século XXI. Hoje [2016], estima-
-se que o conflito vitimou ao menos 250 mil pessoas, que mais de 4,5 milhões tenham saído do país como refugia-
das e que outros 6,5 milhões foram obrigadas a se deslocar dentro da Síria. Com a economia em frangalhos, quase
70% dos sírios que permaneceram agora vivem abaixo da linha de pobreza. Como começou tudo isso?
Março de 2011 na Síria. Um grupo de crianças em Daraa, no sul da Síria, pichou frases com críticas
ao governo e foi preso. Inconformadas, centenas de pessoas saem às ruas da cidade para protestar contra
as restrições à liberdade promovidas pelo governo do ditador Bashar al-Assad. Num primeiro momento,
simpatizantes dos que se rebelaram contra o governo começaram a pegar em armas – primeiro para se
defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões. Esse levante de pessoas nas ruas,
lutando por democracia, faz parte de um movimento chamado Primavera Árabe e podemos dizer que esse
processo culminou no início da guerra civil na Síria. [...]
Como a guerra civil na Síria se intensificou?
Após a represália do governo de Assad contra os jovens que estavam se rebelando contra o regime,
alguns grupos foram formados a fim de combater, de fato, as forças governamentais e tomar o controle de
cidades e vilas. A batalha chegou à capital, Damasco, e depois a Aleppo em 2012. Mas desde que come-
çou, a guerra civil na Síria mudou muito.
O Estado Islâmico aproveitou o vácuo de representação por parte do governo, a revolta da sociedade civil
e a guerra brutal que acontece na Síria para fazer seu espaço. Foi conquistando territórios tão abrangentes,
tanto na Síria como no Iraque, que proclamou seu “califado” em 2014. Para isso, tiveram de lutar contra
todos: rebeldes, governistas, outros grupos terroristas – como se tivessem feito uma guerra dentro da guerra.
Há evidências de que todas as partes cometeram crimes de guerra – como assassinato, tortura, estu-
pro e desaparecimentos forçados. Também foram acusadas de causar sofrimento civil, em bloqueios que
impedem fluxo de alimentos e serviços de saúde, como tática de confronto. [...]
Governo sírio e aliados
O governo sírio é liderado pelo ditador Bashar al-Assad. Ele é sucessor de uma família que está no
poder desde 1970. O regime no país era brutal com a população, de partido único e laico – apesar de a fa-
mília Assad ser xiita. Apesar de não apoiarem o ditador, cristãos, xiitas e até parte da elite sunita preferem
ver Assad no poder diante da possibilidade de ter um país tomado pelos extremistas.
Quanto às alianças externas, Assad conta com o apoio do Irã e do grupo libanês Hezbollah. Juntos
eles formam um “eixo xiita” – ou seja, seguem essa interpretação da religião islâmica – no Oriente Médio.
O grupo se opõe a Israel e disputa a hegemonia no Oriente Médio com as monarquias sunitas, lideradas
pela Arábia Saudita. O principal aliado de fora é a Rússia, que mantém uma antiga parceria com a Síria.
Tanto o apoio do Hezbollah e das milícias iranianas quanto os bombardeios mais recentes realizados pelas
forças russas têm sido fundamentais para a sobrevivência do regime de Assad. [...].
MERELES, Carla. A guerra civil na Síria. Politize, 21 out. 2016. Disponível
em: <www.politize.com.br/guerra-civil-na-siria>. Acesso em: 20 fev. 2017.

440
As consequências do conflito sírio determinaram importantes mudanças no Oriente Médio com influên-
cia para a geopolítica da região, como podemos destacar:
• A destruição quase total da infraestrutura do país, que já era um dos mais desenvolvidos econômica e
socialmente da região;
• O vácuo de poder deixado pelo governo de Bashar al-Assad durante o período inicial do conflito per-
mitiu o avanço territorial do Estado Islâmico (saiba mais sobre o grupo terrorista lendo a seção Gotas
de Saber, no final do módulo) e seu consequente fortalecimento na região;
• A crise humanitária gerada pelo conflito, que deflagrou uma onda de refugiados em direção aos países
fronteiriços da Síria, como o Líbano, a Jordânia, a Turquia, o Iraque, além da Europa, utilizando-se de
rotas clandestinas no mar Mediterrâneo pelo norte da África. Esse fato tem levado a Europa e outros
países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a reverem suas políticas migratórias, intensificando a
restrição de vistos e das cotas de refugiados;
• As alianças formadas entre as potências bélicas mundiais em razão do conflito. Os países europeus,
como França e Alemanha, e os Estados Unidos se articularam contra o governo de Bashar al-Assad,
enquanto a Rússia apoiava o regime sírio, incluindo o fornecimento de armas e recursos financeiros,
em troca da garantia de maior influência russa no Oriente Médio.

GEOGRAFIA
Síria: confrontos no território (2016)
TURQUIA

Kobane

Aleppo Hassakeh
Idlib

M—dulo 22
Latakia Raqqa

35º N

Hula Hama IRAQUE


Mar
Deir ez-Zor
Mediterrâneo Homs

LÍBANO Palmyra
SÍRIA
Forças do regime de Bashar al-Assad
Damasco
Forças de oposição
Curdos
Daraa Refugiados sírios nos países vizinhos
Ataques aéreos russos*
N Ataques da aliança liderada
JORDÂNIA pelos Estados Unidos
0 90 *Localização aproximada das áreas-alvo da Rússia.
km Número de ataques é desconhecido.

FONTES: Entenda os conflitos na Síria. Terra. Disponível em: <https://noticias.terra.com.br/mundo/guerra-civil-da-siria>; Syria: the story of the
conflict. BBC, 11 mar. 2016. Disponível em: <www.bbc.com/news/world-middle-east-26116868>. Acesso em: 20 fev. 2017. Adaptado.

Até 2017, o panorama de desfecho do conflito ainda era muito sombrio. Os interesses externos na Síria,
principalmente de Estados Unidos e Rússia, e, de uma maneira mais ampla, na região do Oriente Médio im- Oriente Médio: principais conflitos

plicam grande dificuldade para uma solução rápida do conflito.


Por mais que as razões dessa guerra estejam limitadas ao contexto interno do país, as forças externas,
interessadas em manter suas influências políticas e econômicas na região, fomentam os lados opostos no
conflito, abastecendo-os de armas, logística, combustível e dinheiro, e com isso não apenas inibem o pro-
cesso de paz como se beneficiam da demora do fim do conflito, vendendo mais armas e mantendo cada vez
mais a sua influência na região. Desse modo, a chance de uma solução definitiva para essa situação tem se
mostrado cada vez mais remota.

441
SITUAÇÃO-PROBLEMA

Palestinos conquistam reconhecimento Hillary em um discurso em Washington sobre as tendências de


implícito da ONU de Estado soberano política externa.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, esteve à frente
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
da campanha para angariar apoio para a resolução, e vários
reconheceu implicitamente nesta quinta-feira [29 nov. 2012]
governos europeus lhe ofereceram seu apoio depois de um
um Estado soberano dos palestinos, apesar das ameaças de
conflito de oito dias neste mês entre Israel e islâmicos na
Estados Unidos e Israel de castigar a Autoridade Palestina me-
Faixa de Gaza.
diante a retenção de fundos muito necessários.
Conceder aos palestinos o título de “Estado observador
Uma resolução palestina mudou o status de observador da
não membro” não implica uma adesão plena à ONU, algo que
Autoridade Palestina de “entidade” para “Estado não membro”,
os palestinos não conseguiram no ano passado. Mas isso per-
como o Vaticano. A resolução recebeu 138 votos a favor, 9 con-
mitirá que eles tenham acesso ao Tribunal Penal Internacional
tra e teve 41 abstenções. A Assembleia Geral é formada por
e a outros organismos internacionais.
193 países.
As conversações de paz estão paralisadas há dois anos,
O Brasil votou a favor da resolução. Em nota divulgada
principalmente pela questão dos assentamentos israelenses na
pelo Itamaraty, o governo brasileiro felicitou o resultado da
Cisjordânia, que aumentaram apesar de serem considerados
votação e reiterou o seu apoio à retomada imediata de ne-
ilegais pela maior parte do mundo.
gociações entre israelenses e palestinos “que conduzam ao
Em seu projeto de resolução, os palestinos se compro-
estabelecimento de uma paz sustentável e duradoura baseada
meteram a relançar o processo de paz imediatamente de-
na solução de dois Estados”.
pois da votação na ONU. Abbas esteve tentando acumular
Israel, Estados Unidos e vários outros membros votaram
o maior número de votos europeus possível a favor da re-
contra o que veem como um movimento em grande parte sim-
solução.
bólico e contraproducente por parte dos palestinos. CHARBONNEAU, Louis. Palestinos conquistam reconhecimento
Os Estados Unidos instaram israelenses e palestinos a re- implícito da ONU de Estado soberano. O Globo, 29 nov. 2012. Disponível
em: <http://oglobo.globo.com/mundo/palestinos-conquistam-reconhecimento-
tomarem as conversações de paz “sem pré-condições”, disse a implicito-da-onu-de-estado-soberano-6877409>. Acesso em: 3 jan. 2017.

embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice.


Embora os palestinos tenham conquistado o status sim-
“Os Estados Unidos continuarão pedindo a todas as partes
bólico de Estado na ONU, ainda falta muito para a existên-
para evitar quaisquer ações provocativas na região, em Nova
cia de um verdadeiro Estado Palestino, principalmente com
York ou em qualquer lugar”, disse ela, após votar contra a re-
o reconhecimento de Israel e dos Estados Unidos.
solução.
Vimos neste módulo que o extremismo, tanto do lado
No entanto, a secretária de Estado norte-americana,
árabe como do lado judeu, pode ser considerado um im-
Hillary Clinton, lamentou e considerou a votação como “in- portante fator que dificulta a paz na região. No entanto,
feliz e contraproducente” pois coloca mais obstáculos no alguns questionamentos ainda se mostram bastante per-
caminho para a paz. tinentes. Por que o apoio histórico dos Estados Unidos a
“Temos claro que, apenas por meio de negociações diretas Israel? Por que o governo estadunidense se opôs ao re-
entre as partes, palestinos e israelenses podem alcançar a paz conhecimento da Palestina como um Estado observador
que ambos merecem: dois Estados para dois povos com uma não membro da ONU, com a então secretária de Estado,
Palestina soberana viável e independente, vivendo lado a lado Hillary Clinton, classificando esse posicionamento de “infe-
em paz e segurança com um Israel judeu e democrático”, disse liz e contraproducente”?

442
PARA ASSISTIR

REPRODUÇÃO/WARNER BROS.
Argo. Direção de Ben Affleck. Estados Unidos: Warner Bros, 2012. (119 min).
A história do filme, baseada em acontecimentos reais, se passa em 1979, no Irã,
quando o embaixador do Canadá, Ken Taylor, e a Agência Central de Inteligência
(CIA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos planejam a fuga de diplomatas esta-
dunidenses do país.
REPRODUÇÃO/COPACABANA FILMES E PRODUÇÕES

Budrus. Direção de Julia Bacha. Estados Unidos, Israel, Palestina: Copacabana


Filmes, 2010. (82 min).
O documentário com ambientação na Cisjordânia, em território ocupado por Israel,
mostra a iniciativa do ativista Ayed Morrar na mobilização de palestinos contra o
traçado do muro construído por Israel.

GEOGRAFIA
REPRODUÇÃO/VINCENT PARONNAUD/
MARJANE SATRAPI/EUROPA FILMES
Persepolis. Direção de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud. Estados Unidos e
França: Diaphana Films, 2008. (95 min).
A animação conta a história de Marjane, uma garota iraniana de 8 anos que acom-
panha os acontecimentos políticos de seu país: a queda de um regime autoritário,
a Revolução Iraniana e a ascensão de um regime religioso ditatorial, que, entre
outras medidas, passou a suprimir direitos civis.

PARA CONCLUIR

A questão palestina, estudada neste módulo, certamente é o conflito no Oriente Médio que mais
atraiu atenção internacional até hoje. Parte do problema que envolve árabes e israelenses tem
explicações razoavelmente simples e claras: Israel se estabeleceu em um território já ocupado, Oriente Médio: principais conflitos
e, sendo assim, sua localização e a administração das fronteiras árabes além do Estado judaico
tornaram-se as razões do conflito. Esses são os pontos que definem a questão.
Ao longo do século XX outras tensões apareceram na região: Irã, Iraque e Kuwait foram protago-
nistas de outros conflitos do Oriente Médio; dessa vez as características pessoais dos líderes das
nações envolvidas, a disputa por petróleo e o choque religioso se mostraram determinantes para
a boa compreensão dos confrontos.

443
PRATICANDO O APRENDIZADO
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

1. (Uerj – Adaptada) 3. (Ifal)


Os refugiados são pessoas que escaparam de conflitos ar­ Desde o início da guerra civil na Síria, em março de 2011, o
mados ou perseguições. Com frequência, sua situação é tão conflito escalou a ponto de se transformar em uma complexa
perigosa e intolerável que devem cruzar fronteiras internacio­ situação em que todos parecem lutar entre si. Forças leais ao
nais para buscar segurança nos países mais próximos e então presidente Bashar Al­Assad, rebeldes, extremistas muçulma­
se tornar um “refugiado” reconhecido internacionalmente, nos e potências estrangeiras são peças de um intrincado jogo
com acesso à assistência dos Estados, da Acnur (Agência da que ficou ainda mais complicado com o início dos bombar­
ONU para Refugiados) e de outras organizações. deios por aviões russos.
EDWARDS, Adrian. Acnur. Disponível em: <www.acnur.org>. BBC. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/noticias/
Acesso em: out. 2015. Adaptado. 2015/10/151002_siria_xadrez_fd>. Acesso em: 6 nov. 2015

O conceito de refugiado, apresentado no texto, está di- Sobre o conflito acima, assinale a alternativa verdadeira:
retamente associado aos problemas políticos e econô- a) Arábia Saudita apoia Assad e combate os rebeldes
micos que afetam diversos países na atualidade. sunitas.
Nos últimos anos, a região de origem que tem contri- b) O Irã combate Assad e apoia o grupo radical “Estado
buído com o maior número de refugiados em direção a Islâmico”.
países da União Europeia é: c) Os Estados Unidos são aliados de Assad e ajudam a
a) Leste Europeu. combater os grupos rebeldes moderados.
b) Oriente Médio. d) A Rússia opõe-se a Assad e apoia os grupos rebeldes
c) Extremo Oriente. moderados.
d) Península Balcânica. e) O grupo radical “Estado Islâmico” é combatido tanto
e) África subsaariana. pelo governo Assad como pelos Estados Unidos, Irã e
Rússia.
2. (UFTM-MG)
4. (Vunesp)
Em 2009, o presidente Barack Obama anunciou um reforço
Há grande diversidade entre aqueles que procuram inspira­
de 30 mil homens. O objetivo era tentar estabilizar o conflito;
ção em sua fé no Islã. A monarquia vaabita da Arábia Saudita
enfraquecer o Talibã; derrotar seu aliado, a Al­Qaeda; e come­
e os líderes religiosos xiitas do Irã têm profundas discordâncias
çar a retirada das tropas em julho de 2011. Com o aumento do
políticas e divergem igualmente em questões socioeconômicas.
contingente militar, os EUA passaram a ter cerca de 100 mil
soldados lutando nessa guerra, que já dura nove anos. Em meio Em termos mais amplos, ocorre nos movimentos islamitas um
a um aumento de civis mortos, os EUA, que lideram a coalizão debate sobre se a meta correta é mesmo chegar ao poder estatal,
internacional nessa guerra, tentam uma ofensiva. Tropas ame­ assim como sobre a democracia, a diversidade social, o papel
ricanas e da Otan cercam a cidade de Kandahar, reduto dos das mulheres e da educação e sobre a maneira de interpretar
insurgentes, e esperam expulsá­los da região até dezembro de o Corão. E, embora a maioria dos islamitas aceite a realidade
2010, através da operação “Golpe do Dragão”. da existência dos atuais Estados e suas fronteiras, uma minoria
O Estado de S. Paulo, 27 set. 2010. Adaptado. mais radical procura destruir todo o sistema e estabelecer um
califado que abarque a região inteira [do Oriente Médio].
O texto refere-se: SMITH, Dan. O atlas do Oriente MŽdio, 2008.
a) à Guerra do Iraque.
O argumento principal do texto pode ser ilustrado por
b) ao conflito entre Israel e palestinos. meio da comparação entre:
c) à tensão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.
a) o respeito a todas as orientações sexuais nos países
d) à crise entre a Rússia e a Ucrânia. que vivem sob regime islâmico e a perseguição a ho-
e) à Guerra do Afeganistão. mossexuais no Paquistão e na Índia.

444
b) o apoio unânime dos grupos islâmicos ao atentado para entrar no país, mas recolheu milhares de testemunhos de
ao World Trade Center, em Nova York, e a invasão mi- vítimas, documentos e fotos usados em seu relatório.
litar norte-americana no Iraque. G1, 3 set. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/
noticia/2015/09/comissao-da-onu-pede-que-refugiados-
c) a situação e os direitos das mulheres nos países do sirios-nao-sejam-expulsos.html>. Acesso em: 22 set. 2015.

Ocidente e nas áreas em que prevalecem regimes po-


Sobre a crise internacional observada na atualidade, po-
líticos islâmicos.
demos afirmar que:
d) a invasão norte-americana no Afeganistão e o apoio
a) segundo a ONU, crimes de guerra vêm sendo come-
soviético ao regime liderado pelo Talibã naquele país.
tidos no território sírio, entretanto as evidências apon-
e) os islâmicos que protestaram contra o atentado à re- tam apenas para as ações cometidas pelo governo.
dação do jornal Charlie Hebdo, em Paris, e a ação mi-
b) os sírios estão sendo expulsos do seu território de-
litar do Estado Islâmico.
vido à ditadura implantada pelo então presidente
Bashar al-Assad.
5. (IFPE) Observe atentamente o texto a seguir.
c) o grupo autointitulado Estado Islâmico tomou o go-
Comissão da ONU pede que refugiados verno de Damasco e está expulsando todo o grupo
sírios não sejam expulsos Sunita residente na Síria.
Uma comissão da ONU denunciou, nesta quinta-feira (3), d) todos os países da Europa se encontram preocupa-

GEOGRAFIA
o fracasso da comunidade internacional em proteger os refu- dos com a situação dos refugiados sírios e estão dis-
giados sírios e pediu aos países que não os expulsem nesse mo- postos a abrigá-los em seus territórios.
mento em que estão afluindo em grande número para a Europa. e) os sírios estão fugindo da guerra civil que se instalou
A comissão de investigação da ONU sobre as violações dos no seu país desde 2011, a qual começou com protestos
direitos humanos na Síria não obteve a autorização de Damasco populares e progrediu para uma violenta luta armada.

DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. (UFJF/Pism-MG) a) Na Síria, os deslocados internos marcham em direção


C3 aos territórios dominados por paquistaneses.
H15 O ano de 2014 testemunhou o dramático aumento do des-
locamento forçado em todo o mundo causado por guerras e b) Na Somália, a facção do Estado Islâmico controla
grande parte do país, expulsando os milicianos.
conflitos, registrando níveis sem precedentes na história re-
cente. […] em 2013, o Alto Comissariado das Nações Unidas c) No Afeganistão, os deslocados internos migram para
para os Refugiados (Acnur) anunciou que os deslocamentos o norte em busca de emprego na mineração.
forçados afetavam 51,2 milhões de pessoas, o número mais d) Os refugiados da Síria fugiram, principalmente, em
alto desde a Segunda Guerra Mundial. Doze meses depois, a função da guerra civil que tenta derrubar Assad.
cifra chegou a impressionantes 59,5 milhões de pessoas, um e) Os refugiados deixaram o Afeganistão devido à inten-
aumento de 8,3 milhões de pessoas forçadas a fugir. sificação do recrutamento para o serviço militar.
Oriente Médio: principais conflitos
[…] A Síria é o país que gerou o maior número tanto de des-
2. (Uece – Adaptada) Atente à seguinte descrição: a luta
locados internos (7,6 milhões de pessoas) quanto de refugiados C3 contra o regime ditatorial deste governo que está no po-
H15
(3,8 milhões). Em seguida estão Afeganistão (2,59 milhões de der há quase 50 anos comandado pelo mesmo partido, o
refugiados) e Somália (1,1 milhão de refugiados). Baath, teve início em março de 2011. Seu governante an-
ACNUR. Estatísticas. Disponível em: <www.acnur.org/t3/
terior proibiu a criação de partidos de oposição. Contu-
portugues/recursos/estatisticas>. Acesso em: 22 out. 2015.
do, em fevereiro de 2012, foi anunciada a criação de uma
Qual a causa dos deslocamentos internos e forçados nos nova constituição que entraria em vigor após as eleições
países em destaque? presidenciais de 2014, e que previa o pluripartidarismo.

445
O país árabe que passou por essa questão política, que d) Istambul, dominada por uma grande população mu-
influenciou os conflitos armados posteriores é o(a): çulmana.
a) Tunísia. e) Jerusalém, onde o espaço terciário é diferenciado
b) Egito. pela cultura.

c) Síria. 4. (ESPM-SP)
d) Turquia. C2
H7 O Oriente Médio atravessou o século XX como o mais im-
e) Iraque. portante e instável conjunto geopolítico do globo e adentrou o
XXI na mesma condição. Ora de forma mais intensa, ora mais
3. (UFJF/Pism-MG) Leia a história em quadrinhos abaixo. branda, a verdade é que a região não sai do noticiário.
C1
H1 Carta Escola, ago. 2014.
REPRODUÇÃO/UFJF, 2012-2014.

Sobre o Oriente Médio e sua conturbada geopolítica no


ano de 2014, podemos afirmar corretamente que:
a) Israel reagiu violentamente ao Hamas ocupando e
atacando a Cisjordânia no primeiro semestre de 2014.
b) A queda do presidente sírio Bashar al-Assad trouxe
mais instabilidade ao país e a maioria xiita deve assu-
mir o poder.
c) Os extremistas da facção palestina al Fatah lutam por
um Estado teocrático na Palestina e não reconhecem
o direito da existência de Israel.
d) O retorno ao poder do presidente Hosni Barak no Egito
lança novas dúvidas sobre o sucesso da Primavera Árabe.
e) O Iraque corre o risco de fragmentar-se territorial-
mente, especialmente após o surgimento e cresci-
mento do grupo Estado Islâmico.

5. (PUC-RJ)
C2
H6

Alguns tra•ados nacionais no Oriente MŽdio


Mar Negro 40º L

ARMÊNIA AZERBAIJÃO
40º N
Mar
Cáspio

TURQUIA
Curdist‹o
MSF – Médicos sem Fronteiras. Disponível em:
<http://migre.me/ly9ej>. Acesso em: 7 set. 2014.

Esses quadrinhos, criados por Guy Delisle, retratam ce- SÍRIA


nas do cotidiano de: IRÃ
LÍBANO
a) Bagdá, onde o MSF presta socorro às vítimas da guer- Mar
Mediterrâneo N
ra civil.
IRAQUE 0 225
JORDÂNIA
b) Cabul, que apresenta arquitetura típica de cidades km

europeias. FONTE: SIMIELLI, 2000. Adaptado.

c) Damasco, dominada por grupos fundamentalistas A região sombreada na representação é uma das várias
xintoístas. existentes pelo planeta formadas de grupos de nacionali-

446
dades sem Estado. Essa região não contemplada com um Pérsico ganha milionárias ilhas artificiais, o centro finan-
território reconhecido internacionalmente é chamada de: ceiro anuncia para breve a torre mais alta do mundo (a
a) Uzbequistão. d) Chechênia. Burj Dubai) e tem ainda o projeto de um campo de golfe
coberto! Coberto e refrigerado, para usar com sol e chuva,
b) Tajiquistão. e) Curdistão.
inverno e verão.
c) Palestina. UOL. Disponível em: <http://viagem.uol.com.br>.
Acesso em: 30 jul. 2012. Adaptado.

6. (FGV-RJ)
No texto, são descritas algumas características da paisa-
C2
H7 O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assegurou gem de uma cidade do Oriente Médio. Essas caracterís-
neste sábado [9/08/2014] que os ataques aéreos americanos ticas descritas são resultado do(a):
contra os jihadistas que estão tomando o Curdistão iraquiano,
a) criação de territórios políticos estratégicos.
no norte do país, continuarão enquanto for necessário.
UOL, 9 ago. 2014. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ b) preocupação ambiental pautada em decisões gover-
ultimas-noticias/efe/2014/08/09/obama-assegura-que-seguira-bombardeando- namentais.
jihadistas-enquanto-for-necessario.htm>. Acesso em: set. 2014.
c) utilização de tecnologia para transformação do espaço.
Sobre essa intervenção estadunidense no Iraque, é cor-
d) demanda advinda da extração local de combustíveis
reto afirmar:
fósseis.
a) Os ataques aéreos tiveram início imediatamente após

GEOGRAFIA
e) emprego de recursos públicos na redução de desi-
a derrubada do ditador Sadam Hussein, em 2003, e de-
gualdades sociais.
vem prosseguir enquanto a insurreição sunita ameaçar
instalações e pessoas estadunidenses.
8. ENEM
b) Os ataques aéreos visam combater o crescimento do
C1
autodenominado Estado Islâmico (EI), assim como a H5 A Unesco condenou a destruição da antiga capital assíria
ameaça que ele representa para diversas minorias re- de Nimrod, no Iraque, pelo Estado Islâmico, com a agência
ligiosas e para cidadãos estadunidenses. da ONU considerando o ato como um crime de guerra.
c) O governo iraquiano condenou duramente os ata- O grupo iniciou um processo de demolição em vários sítios
ques aéreos, alegando que eles beneficiam o sepa- arqueológicos em uma área reconhecida como um dos berços
ratismo curdo e representam o prolongamento da da civilização.
Unesco e especialistas condenam destruição de cidade assíria pelo Estado Islâmico.
ocupação militar do país. Disponível em: <http://oglobo.globo.com>. Acesso em: 30 mar. 2015. Adaptado.
d) Os ataques aéreos têm como objetivo proteger os
O tipo de atentado descrito no texto tem como conse-
soldados estadunidenses, cuja presença em solo
americano vem aumentando progressivamente quência para as populações de países como o Iraque a
desde a ocupação decidida por George W. Bush, desestruturação do(a):
em 2003. a) homogeneidade cultural.
e) Com os ataques aéreos, os Estados Unidos preten- b) patrimônio histórico.
dem impedir a fundação de um lar nacional para c) controle ocidental.
os islamitas no califado do norte do Iraque, projeto
d) unidade étnica.
que agrega todas as comunidades muçulmanas do
e) religião oficial.
mundo.
Oriente Médio: principais conflitos

7. ENEM 9. (Fatec-SP)
C2
C6 H10 Os recentes distúrbios no Egito formam um capítulo do
H26 Dubai é uma cidade-estado planejada para estarrecer os
processo deflagrado ainda em dezembro de 2010, quando o
visitantes. São tamanhos e formatos grandiosos, em hotéis e
mundo árabe foi varrido por uma série de manifestações po-
centros comerciais reluzentes, numa colagem de estilos
pulares, derrubando governos e reconfigurando a geopolítica
e atrações que parece testar diariamente os limites da ar-
do Oriente Médio e Norte da África.
quitetura voltada para o lazer. O maior shopping do tórrido
SILVA, Edilson Adão C. Futuro incerto. Carta na Escola,
Oriente Médio abriga uma pista de esqui, a orla do Golfo agosto de 2013.

447
Sobre as manifestações que reconfiguraram a geopolítica a) nos dias atuais os conflitos tornaram-se mais cruéis
do Oriente Médio e Mundo Árabe e que ficaram conheci- devido ao uso de armas químicas, fato ocorrido re-
das como Primavera Árabe, está correto afirmar que: centemente na Síria, um dos países onde ocorrem os
a) a Tunísia foi pioneira no processo ao derrubar um conflitos mais violentos e de caráter exclusivamente
regime fundamentalista e posteriormente eleger um re- religioso.
gime laico. b) os conflitos que ocorrem nesta região quase sempre
b) a queda de Bashar al-Assad na Síria foi produto de um têm intervenção das grandes potências mundiais,
conflito religioso entre a maioria alauita e a minoria como ocorre atualmente com o Conflito Sírio, onde a
sunita. rápida intervenção da Rússia, aliada aos Estados Uni-
c) a pressão popular levou à queda da ditadura de Mubarak dos, eliminou os ataques aos rebeldes sírios.
e à eleição do primeiro presidente eleito da história do c) o uso de armamentos sofisticados faz com que os
Egito, presidente este igualmente derrubado. conflitos atuais tenham rápidos desfechos, como
d) Muammar Kadafi, mesmo com o apoio ocidental, não aconteceu com a chamada Primavera Árabe, onda re-
resistiu à insatisfação popular e foi executado na Lí- volucionária de manifestações e protestos, de caráter
bia, o que levou a uma nova crise do petróleo. principalmente étnico, ocorrido no Egito.

e) tiveram como ápice a traumática derrubada de Saddam d) os conflitos que ocorrem na região são causados ex-
Hussein, no Iraque, após décadas de tirania, e que pôs clusivamente por questões de fronteiras e domínios
fim à hegemonia dos xiitas no país. de territórios estratégicos no contexto mundial. Na
região há predomínio significativo de povos e cultura
10. (Uepa) O mundo muda tecnologicamente a passos lar- de origem judaica.
C2 gos. As comunicações são cada vez mais velozes e efi-
H7
e) neste cenário, os EUA têm um papel muito importan-
cientes e essas mudanças se fazem presentes também te, tanto pelo seu poder econômico e tecnológico em
nos armamentos bélicos e químicos usados nos vários nível mundial quanto pelo interesse na região devido
conflitos de nossos tempos, principalmente no Oriente ao intenso poderio energético. O Oriente Médio é
Médio, palco de muitos desses conflitos. Do assunto em descrito pelos EUA como sendo “a região mais estra-
questão, é correto afirmar que: tégica do mundo”.

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Uneb-BA) estrangeiro, intervenções militares externas e multiplicou


áreas de conflitos.
Desde o início de 2011, revoluções jovens, modernas e
A Primavera..., 2013. p. 72.
seculares depuseram os ditadores da Tunísia e do Egito,
causando uma onda de revoltas que avançou além de suas Os conflitos e tensões no mundo árabe tornaram-se moti-
fronteiras. vo de grande preocupação mundial, neste início do século
Esses movimentos de protesto ganharam o nome de Prima- XXI, porém não são os únicos na história das sociedades.
vera Árabe. […] Em relação aos conflitos internacionais, pode-se afirmar:
No entanto, a Primavera Árabe, que, num primeiro mo- a) O Império Napoleônico, ao tentar impedir o estabe-
mento, encheu de esperança a população árabe, tomou ru- lecimento de regimes liberais e a abolição do Antigo
mos complexos, com os choques de interesses entre grupos Regime, na Europa, o que iria ameaçar a supremacia
políticos e forças econômicas e militares. A repressão aos industrial francesa no continente europeu, deflagrou
protestos provocou levantes armados de grupos com apoio um conflito de dimensões continentais.

448
b) A corrida imperialista do século XIX, tendo como foco c) os países, literalmente referidos na figura, localizam-
principal a África, relegou o Oriente Médio ao segun- -se no Oriente Médio e possuem grande importância
do plano, o que permitiu que essa região se desen- econômica e geoestratégica. Essa região é de grande
volvesse de forma autônoma e independente em re- interesse de potências mundiais, além de apresentar,
lação aos interesses capitalistas europeus. de forma geral, conflitos religiosos, sociais e territoriais.
c) A disputa pelas áreas produtoras de petróleo, no d) Israel, Arábia Saudita, Síria, Jordânia e Turquia con-
Oriente Médio, opôs os interesses alemães e in- centram parte das reservas mundiais de petróleo e
gleses, no contexto da Primeira Guerra Mundial, também de gás natural, razões pelas quais esses paí-
ses de tradição islamita se unem politicamente contra
fato agravado pela construção da Estrada de Ferro
os Estados Unidos.
Berlim-Bagdá.
e) a Jordânia é o único país do Oriente Médio onde a
d) A imposição de regimes democráticos no Oriente
água é foco de disputas e, até, de conflitos militares.
Médio e no norte da África, pelos Estados Unidos,
Com o crescimento econômico e a expansão da agri-
durante a Guerra Fria, funcionou como um mecanis-
cultura, esse país vem recebendo apoio incondicional
mo de contenção à imposição de regimes autoritários dos Estados Unidos.
apoiados pela União Soviética.
e) Os grupos terroristas Al Qaeda e Hamas, interessados 3. (UFG-GO) Analise o mapa a seguir.
Mar Negr 45º L
na instabilidade política do Oriente Médio, têm for- o
Ancara

GEOGRAFIA
Mar
necido armas e munições aos movimentos rebeldes, TURQUIA Cáspio TURCOMENISTÃO

enquanto Israel, temeroso da instalação de regimes Mar


Mediterrâneo SÍRIA Cabul
fundamentalistas islâmicos na região, apoia os gover- LÍBANO
Beirute Damasco
Bagdá
Teerã
AFEGANISTÃO
Telavive
nos autoritários sírio e iraniano. ISRAEL
Amã IRAQUE IRÃ
JORDÂNIA PAQUISTÃO
KUWAIT

2. (UPE) Sobre o contexto geopolítico, apresentado na fi-

Go
o

lf
P
Tróp BAHREIN ér s
ic ARÁBIA ic o
gura a seguir, é correto afirmar que: o de C
âncer SAUDITA
Manama
CATAR Golfo de Omã
Riad EMIRADOS

Ma
ÁRABES Mascate
REPRODUÇÃO/UPE, 2013.

r Ve UNIDOS
çFRICA rm
OMÃ
elh
o

N
REPÚBLICA
IÊMEN* DEMOCRÁTICA
OCEANO
Sana POPULAR 0 535
DO IÊMEN
ÍNDICO
Áden km

* Em maio de 1980, os governos da República Árabe do Iêmen (norte) e da


República Popular do Iêmen (sul) assinaram um tratado de unificação dos dois países,
formando a República do Iêmen, com capital política em Sana e capital econômica em Áden.
FONTE: SIMIELLI, M.E. Geoatlas. 4a ed. São Paulo: Ática, 1990. p. 49. Adaptado.

As tensões no Oriente Médio se dão em larga medida


devido às disputas pelo controle de uma pequena área
de extrema importância estratégica, a qual é rota de
passagem entre o Golfo de Omã e o Oceano Índico e
abrange águas territoriais do Irã, de Omã e dos Emira-
CartoonArtes International. Extraído de: <www.nytsyn.com/cartoons>. dos Árabes Unidos. Essa área, circulada no mapa, é o
a) os Estados Unidos da América pretendem reforçar o a) Estreito de Tiran, principal ligação de Israel com o
regime absolutista da Turquia, país que está situado Mar Vermelho.
Oriente Médio: principais conflitos
no limite entre a Europa e a Ásia e vem enfrentando b) Estreito de Gibraltar, cujo fluxo de embarcações é
uma série de críticas do Mercosul sobre a falta de res- elevado.
peito às liberdades públicas. c) Estreito de Ormuz, por onde passa boa parte da pro-
b) Israel, Arábia Saudita, Síria, Jordânia e Turquia são dução de petróleo do mundo.
países aliados militares dos Estados Unidos e promo- d) Estreito de Bering, importante ponto de ligação entre
vem, em conjunto, uma geopolítica de enfrentamento a Ásia e a América.
ao território Curdo que briga pelo uso das águas dos e) Estreito de Bósforo, que facilita o comércio entre a
rios Tigre e Eufrates. Ásia e a África.

449
4. (Vunesp) escritos de suas atividades, há milhares de anos. Esse
nome foi atribuído à região, por estudiosos da História e
Emissário Nacional LÍBANO da Arqueologia, somente muitos séculos depois.
de Água de Israel
Aquífero de Gaza

Rio Jordão
Aquífero Litorâneo

Superior
Aquífero das montanhas Crescente Fértil
Aquífero do Norte
Aquífero do Oeste Mar da
Mar
Aquífero do Leste Galileia
Rio T
Cáspio
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Mar
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de Faix

Aquífero Morto N
ISRAEL FONTE: <http://tinyurl.com/qa8ag29>. Acesso em: 24 out. 2015. Original colorido.
de Gaza
0 25

km

Assinale a alternativa que explica corretamente por que


No Oriente Médio, a água é um recurso precioso e uma esse nome foi atribuído à região demarcada:
fonte de conflito. A escassez de recursos hídricos está aumen- a) A fertilidade do solo da região demarcada cresceu e
tando as tensões políticas entre países e dentro deles, e entre atingiu outras regiões, favorecendo a amizade nas re-
as comunidades e os interesses comerciais. A Guerra dos Seis lações entre as populações.
Dias, em 1967, foi, em parte, a resposta de Israel à proposta b) Símbolo do Islã, a lua crescente representa a impor-
da Jordânia de desviar o Rio Jordão para seu próprio uso. A tância dessa religião na formação das civilizações as-
terra tomada na guerra deu-lhe acesso não apenas às águas síria, persa, egípcia e mesopotâmica.
das cabeceiras do Jordão, como também o controle do aquí-
c) Abrangendo partes dos continentes europeu e afri-
fero que há por baixo da Cisjordânia, aumentando assim os
cano, a região recebeu esse nome em razão das altas
recursos hídricos em quase 50%.
taxas de fertilidade das populações locais.
CLARKE, Robin; KING, Jannet. O Atlas da çgua, 2005. Adaptado.
d) A lua crescente faz referência ao culto monoteísta des-
A partir da leitura do mapa e do texto, pode-se afirmar que se astro, religião predominante entre os povos daquela
a água é uma questão importante nas negociações entre: região na Antiguidade, com exceção dos hebreus.
a) o Iraque e os turcos. e) O solo da região era bastante fértil por causa dos
b) os palestinos e a Síria. grandes rios, o que favoreceu o desenvolvimento da
c) o Líbano e a Síria. agricultura, importante para as sociedades humanas.

d) os iranianos e o Iraque.
6. (Unicamp-SP)
e) Israel e os palestinos.
A Região Autônoma da Rojava é um dos poucos pontos bri-
5. (UEPG-PR) A região representada no mapa, com o de- lhantes a emergir da tragédia dos conflitos que ocorrem no
senho que se assemelha a uma lua crescente, é conhe- Oriente Médio. Depois de expulsar os agentes do regime de
cida como crescente fértil. Nessa área, formaram-se as Bashar Al-Assad, em 2011, e apesar da hostilidade de quase
primeiras sociedades humanas que deixaram registros todos os seus vizinhos, Rojava não só manteve a sua indepen-

450
dência como constitui uma experiência democrática notável. Texto 2
Todavia, mais uma vez os curdos estão cercados: os jihadistas
Se você digita mulher muçulmana no Google o que mais vê
do Estado Islâmico e a maior potência da OTAN na região,
são imagens estereotipadas de mulheres de burca, em um ce-
a Turquia, querem afogar em sangue a semente da liberdade
nário de guerra ou machucadas, com hematomas, vítimas
dos curdos e provar que não pode haver na região um povo
de violência doméstica, […]. O que não é mostrado são aque-
livre em que as mulheres e os homens sejam iguais. A defesa
las de terno, mesmo que com a cabeça coberta por escolha
da cidade de Kobani é, atualmente, expressão cabal da histó-
própria, ou as antenadas nas últimas tendências da moda, com
rica luta de toda a nação curda para fazer valer seu direito à
maquiagem imaculada, mulheres admirando uma obra de arte,
autodeterminação.
dando aulas, promovendo arte de rua ou fechando negócios.
ALMEIDA, Nuno Ramos de. Os curdos numa armadilha histórica.
Outras Palavras, 14 out. 2014. Disponível em: <http://outraspalavras.net/posts/ RIDOLFI, Aline. Galileu, 9 abr. 2014. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/
os-curdos-numa-armadilha-da-historia>. Acesso em: 28 set. 2015. Adaptado. Revista/noticia/2014/04/internet-por-tras-do-veu.html>. Acesso em: 1o dez. 2014.

a) O povo curdo totaliza hoje aproximadamente 30 mi- a) Com base nos textos, responda: Por que a internet
lhões de pessoas. Em quais países estão majoritaria- está se tornando mais importante que a televisão no
mente distribuídos? Qual a principal reivindicação po- desenvolvimento de identidades culturais globais?
lítica dos curdos? A internet e suas redes sociais tornaram-se mais importantes

O povo curdo encontra-se distribuído entre a Turquia, o Iraque, a que a televisão na divulgação de informações, mobilizações

Síria e o Irã, sendo majoritários na Turquia e no Iraque. Sua sociais e difusão cultural graças à rapidez e à disseminação

GEOGRAFIA
principal reivindicação é a legitimação de um Estado Nacional para do acesso a computadores e celulares. A internet é menos

a nação curda. suscetível ao controle da informação realizado pelas empresas

b) Dê duas características da organização denominada de televisão, que têm interesses políticos e econômicos.

Estado Islâmico e aponte os países em que ela con- A televisão também é mais vulnerável ao controle e à censura por

trola territórios e recursos. parte dos governos, principalmente os autoritários.

Entre as características do Estado Islâmico, pode-se apontar:


terrorismo como prática política; território definido e proclamado
ao contrário dos grupos extremistas que atuam sem base b) Com base nos textos, explique a proposição de Manuel
territorial; forte capacidade de recrutamento, principalmente Castells:
entre estrangeiros; leitura radical do islamismo; uso de violência A rede não garante a liberdade, mas torna mais difícil a
generalizada; uso de mídias para difundir sua causa; financiamento opressão. A censura permite identificar e punir o mensa-
com o comércio de petróleo. O Estado Islâmico controla porções geiro, mas não pode deter a mensagem.
da Síria e do Iraque. MOREIRA, Carlos A. Zero Hora, 9 jun. 2013. Disponível em: <http://zh.clicrbs.
com.br/rs/entretenimento/noticia/2013/06/a-rede-torna-mais-dificil-a-
opressao-diz-manuel-castells-4164803.html>. Acesso em: 2 dez. 2014.
7. (UFJF-MG) Leia os textos a seguir. Na internet, a informação se propaga em rede, de maneira
acelerada, simultânea, sendo importante instrumento para
Texto 1
denunciar as práticas de violação dos direitos humanos. Em vários
Com apenas 11 anos, Nada al-Ahdal, do Iêmen, parecia países do Oriente Médio e em nações como a China, a internet é
condenada ao destino de milhões de jovens mulheres em paí- censurada; mesmo assim, muita informação foge ao controle dos
ses muçulmanos: o casamento arranjado. Mas, contrária à de- Estados.
cisão dos pais, ela decidiu fugir de casa para evitar o enlace.
Gravou um vídeo denunciando a situação que em apenas dois Oriente Médio: principais conflitos
dias foi visto por mais de 5,6 milhões de pessoas no YouTube. 8. (FGV-SP)
Mesmo que pouco tempo depois tenha passado a ser ques-
Mais de uma década atrás, sob o governo de George W.
tionado, com denúncias de que a família da menina já teria
Bush e o pretexto da “guerra ao terror”, os Estados Unidos
recusado a proposta de casamento antes mesmo de ela virar
ocuparam o Iraque. Há pouco, em Mossul, no norte de um
uma celebridade, o episódio iniciou um debate sobre a liber-
país ensanguentado, os terroristas do Isis fincaram a bandeira
dade das mulheres no mundo islâmico.
RIDOLFI, Aline. Galileu, 9 abr. 2014. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/ de um califado jihadista.
Revista/noticia/2014/04/internet-por-tras-do-veu.html>. Acesso em: 1o dez. 2014. Boletim Mundo: Geografia e Política Internacional, agosto de 2014.

451
a) Em que contexto foi desencadeada a “guerra ao ter- 10. (Ufes) Observe o mapa a seguir.
ror” mencionada no texto?
A “guerra ao terror” foi uma das determinações criadas pela LÍBANO

Doutrina Bush, ou Doutrina de Segurança Nacional, em 2001, em


SÍRIA
resposta ao ataque da Al-Qaeda aos Estados Unidos. Consistia em
Mar
um conjunto de ações que visavam reprimir o terrorismo global por Mediterrâneo
meio, entre outros, de ataques preventivos e que levaram à criação
do grupo denominado “Eixo do Mal”, países com posturas claramente
3
antiamericanistas e suspeitos de produção de armas de destruição
em massa, como o Irã, o Iraque e a Coreia do Norte.

b) Apresente pelo menos um fator responsável pela atual 1


situação de instabilidade política no Iraque e que o te-
nha transformado em “um país ensanguentado”.
A invasão do Iraque promovida pelos Estados Unidos em 2003
JORDÂNIA
depôs o governo sunita de Saddam Hussein e fortaleceu EGITO

lideranças políticas xiitas, criando instabilidade ao configurar a Península


2
do Sinai
disputa do poder por diferentes grupos que, em meio ao caos da
invasão, se militarizam, constituindo um conflito bélico. N

c) Quais regiões são atualmente dominadas pelo califa- 0 50

km
do jihadista? Em que países se localizam?
Norte do Iraque, nordeste da Síria e sul da Turquia. FONTE: MAGNOLI, Demétrio; ARAÚJO, Regina. Projeto de ensino de Geografia:
Geografia Geral. 2a ed. São Paulo: Moderna, 2004. p. 286. Modificado.

Em agosto de 2005, Ariel Sharon colocou em prática


9. (UFRJ) uma ação política que pode representar um passo em
Uma região quente direção à paz na região retratada no mapa. Identifique
O Oriente Médio é uma região à qual a imprensa sempre as áreas representadas, no mapa, pelos números 1, 2 e
se refere como uma área conturbada, espécie de barril de pól- 3, respectivamente, e explique a ação política desenvol-
vora com o estopim aceso, prestes a explodir. Essa imagem vida, indicando o território onde ela foi implantada e a
explica-se em função de ser essa região do mundo o lugar reação provocada na população judaica.
onde talvez ocorram os conflitos mais intensos. 1 – Faixa de Gaza; 2 – Israel; 3 – Cisjordânia.
OLIC, Nelson B. Oriente MŽdio. São Paulo: Moderna. 1991. Adaptado.
Retirada dos assentamentos judaicos da Faixa de Gaza como a
Apresente três fatores que originam os conflitos entre ação política desenvolvida por Ariel Sharon, em agosto de 2005,
países do Oriente Médio. provocando a resistência de grande parte dos judeus e grande tensão
Entre os principais fatores de geração de conflitos no Oriente política.
Médio, estão o petróleo, as questões territoriais e os conflitos
religiosos.

GOTAS DE SABER

Primavera Árabe
O despertar do mundo árabe tem raízes profundas. Uma região que há décadas é controlada por
regimes ditatoriais que reprimem a ferro e fogo toda manifestação em defesa de direitos, toda ma-
nifestação que venha a desestabilizar relações de poder amplamente favoráveis às suas elites e aos
interesses estadunidenses e das antigas metrópoles coloniais ainda muito presentes na região. O que
está em jogo é o controle do petróleo.

452
Mas nem toda opressão leva a uma revol-

PETER MACDIARMID/GETTY IMAGES


ta. É preciso que algo aconteça para detonar
um levante popular. No caso da Tunísia, tudo
começou quando um jovem vendedor ambu-
lante ateou fogo a si próprio em protesto con-
tra o confisco pela polícia das frutas e vegetais
que ele vendia. Sua autoimolação gerou uma
série de crescentes mobilizações que levaram
o presidente Ben Ali a renunciar, depois de
23 anos de governo.
O povo egípcio, animado com o exemplo da
Tunísia e rompendo a barreira do medo que se
impunha já há uma geração, tomou as ruas de-
mandando liberdade política, o fim da corrup-
ção, melhor qualidade de vida para a população
empobrecida. Em uma semana o movimento
tomou conta de todo país, a Praça Tahrir, no

GEOGRAFIA
centro do Cairo, tornou-se o núcleo de cres- Manifestantes na praça Tahrir, no Cairo, Egito. Foto de 2011.
centes mobilizações e protestos que, em três
semanas, levaram à queda de Hosni Mubarak.
DYLAN MARTINEZ/REUTERS/LATINSTOCK

Três dias depois da renúncia do presiden-


te e do fim de sua longa ditadura no Egito, o
povo do Bahrein, pequeno Estado do Golfo,

M—dulo 22
se lançou massivamente às ruas de Manama,
capital do país, e se reuniu na Praça Perla, sua
versão da praça egípcia de Tahrir. A repressão
foi implacável. O Bahrein vem sendo governa-
do pela mesma família, a dinastia de Khalifa,
desde a década de 1780, há mais de 220 anos.
Com as manifestações, a população do país
não pedia o fim da monarquia, mas sim uma
maior representação em seu governo.
A Primavera Árabe, como é conhecido esse
amplo movimento que já se estende pela Tuní-
sia, Egito, Líbia, Bahrein, Síria, Iêmen, Argélia,
Jordânia, ao que parece, tem mais fôlego. Em A presença de um notebook em meio às comemorações
pela renúncia do presidente Mubarak, na praça Tahrir, em
alguns países levou à guerra civil, em outros a 2011, evidencia a importância que a internet teve como
reformas nos gabinetes e na legislação para evi- articuladora social.

tar a revolução, em outros o impasse continua, sem sabermos seu desenlace. Há quem estabeleça rela-
ções entre as revoltas populares no mundo árabe e as recentes mobilizações na Espanha e na Grécia. Os Oriente Médio: principais conflitos
movimentos sociais também teriam se globalizado.
De uma maneira geral estamos vivendo um momento em que novos e vigorosos movimentos sociais
estão querendo mudanças. O mundo como ele é, com as instituições e partidos que o governam, não sa-
tisfaz mais às maiorias que se puseram em movimento em distintos países. A Primavera Árabe precisa ser
mais bem compreendida, ela traz os germens do novo.
BAVA, Silvio Caccia. Primavera Árabe. Le Monde Diplomatique Brasil, set. 2011. Disponível em: <http://diplomatique.org.br/
primavera-arabe/>. Acesso em: 3 jan. 2017.

453
Como o “Estado Islâmico” avançou de militância sunita a califado transnacional
MEDYAN DAIRIEH/ZUMA WIRE/ZUMAPRESS.COM/
ALAMY LIVE NEWS/FOTOARENA

A trajetória do EI começou em 2003, com a derrubada do


ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. Passando por di-
versas denominações e lideranças, hoje a organização reivindica
território entre o Iraque e a Síria.
O extremista “Estado Islâmico” (EI, anteriormente Estado
Islâmico no Iraque e no Levante – EIIL) é formado por militan-
tes sunitas remanescentes do grupo Al Qaeda no Iraque (AQI).
Em 2003, depois de derrubar o ditador secular do Iraque,
Saddam Hussein, os Estados Unidos declararam ilegal seu
partido, o nacionalista árabe Baath, e dissolveram as forças
militares do país. Sentindo-se marginalizados pela ascensão
ao poder da maioria xiita, em meados do mesmo ano os corre-
Membros do Estado Islâmico na fronteira ligionários sunitas de Hussein lançaram uma sangrenta insur-
da Síria com o Iraque, em 2014.
reição contra a coalizão liderada pelos Estados Unidos.
De início formada predominantemente por ex-soldados e elementos leais a Saddam Hussein, a insur-
reição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano
Abu Musab al Zarqawi infiltraram suas alas.
Originalmente um pequeno delinquente, Zarqawi radicalizou-se num presídio da Jordânia e lutou
no Afeganistão, de 1989 a 1992, contra o governo comunista em Cabul, que fora abandonado pela
União Soviética.
Em 1994, o fundamentalista voltou a ser preso pela Jordânia, acusado de conspirar contra a mo-
narquia do país. Porém, foi libertado cinco anos mais tarde, no contexto da anistia geral concedida
após a morte do rei Hussein.
De volta ao Afeganistão, Zarqawi foi forçado a fugir para o norte do Iraque, depois que a invasão
liderada pelos Estados Unidos fez cair o domínio talibã em 2001. Em solo iraquiano, encabeçou a
facção árabe do grupo militante curdo Ansar al Islam, antes de fundar a Al Qaeda no Iraque (AQI).

Guerra civil no Iraque e Despertar Sunita


Em 2006, a AQI bombardeou a mesquita Al Askari, na cidade de Samarra, danificando seriamente
um dos sítios mais sagrados do islã xiita. O atentado desencadeou uma guerra civil brutal entre sunitas
e xiitas, que se estendeu até 2008.
Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis e indiscriminados em seus ataques que tribos
sunitas da província de Anbar, no Iraque ocidental, se voltaram contra eles e se aliaram às forças ame-
ricanas, no que ficou conhecido como “Despertar Sunita”.
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos Estados Unidos mataram Zarqawi numa ofensiva aé-
rea. Ele foi sucedido por Abu Ayyub al Masri e Abu Omar al Bagdadi, e a AQI mudou de nome para
Estado Islâmico do Iraque (EII).

EIIL e ruptura com Al Qaeda


Em 2007, Washington mobilizou mais de 20 mil novos militares para o Iraque, na operação que fi-
cou conhecida como surge (onda, em inglês). Forças americanas e iraquianas mataram Masri e Bagdadi
durante uma investida conjunta em 2010. A violência no Iraque diminuiu consideravelmente durante
esse período de presença militar americana intensificada, e o EII parecia estar basicamente derrotado.
Contudo, após a retirada das tropas dos Estados Unidos do país, efetuada entre junho de 2009 a
dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al Bagdadi,

454
o qual, segundo consta, convivera e atuara com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante
sunita como “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” (EIIL), a fim de refletir suas metas mais amplas.
Quando, em 2011, a Síria mergulhou na guerra civil [Primavera Árabe síria], o EIIL atravessou a
fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar Al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir
com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso causou uma ruptura entre
o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois Ayman al Zawahiri – líder desta desde a morte de
Osama bin Laden pelas forças especiais americanas, em 2011– rejeitou a manobra.

Ascensão do “Estado Islâmico”


Apesar do aparente racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, comba-
tendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no
nordeste do país, o EIIL lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade,
Mossul, em 10 de junho de 2014.
O EIIL avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de
segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um “Estado Islâmico” que
atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al Bagdadi como califa.
Este impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, forçando as mulheres a

GEOGRAFIA
trajarem véus, sob pena de morte. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a
região do califado após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto
ou serem executados. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Atualmente o “Estado Islâmico” está mais forte do que nunca. Durante sua ofensiva armada, o
grupo saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no
Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação america-

M—dulo 22
na das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.
KIMBALL, Spencer. Como o “Estado Islâmico” avançou de militância sunita a califado transnacional. DW,
10 ago. 2014. Disponível em: <www.dw.com/pt/como-estado-isl%C3%A2mico-avan%C3%A7ou-
de-milit%C3%A2ncia-sunita-a-califado-transnacional/a-17844549>. Acesso em: 3 jan. 2017.

O avan•o do Estado Isl‰mico


FONTE: State of terror.The Economist, 16 jun. 2014. Disponível em: <www.economist.
TURQUIA com/blogs/graphicdetail/2014/06/daily-chart-9>. Acesso em: 10 jan. 2017.

Minbej Hassakeh
RAQQA Mossul
Aleppo HASAKA Tal Afar Erbil
Raqqa
ALEPPO
Thawrah NÍNIVE
KIRKUK
Deir ez-Zor Kirkuk
DETR EZ-ZOR Baiji
LÍBANO SÍRIA
Abu Kamal Tikrit
SALAHEDDIN IRÃ
Samarra DIYALA
Damasco
Ramadi Bagdá
Falluja 33¼ N
ANBAR
Rio Tigre
IRAQUE BABIL

Oriente Médio: principais conflitos


R io
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JORDÂNIA
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Presença
Cidade controlada 0 120
ou contestada KUWAIT
km

455
pH
A imigra•‹o de ‡rabes para o Brasil

Pensar que todo árabe é muçulmano é um equívoco recorrente ainda hoje. Os povos árabes do
Oriente Médio ostentam uma enorme diversidade de tradições e crenças cristãs, muçulmanas e ju-
daicas. Os milhares de imigrantes sírios, libaneses e palestinos que desembarcaram no país entre o
fim do século XIX e as primeiras décadas do XX contribuíram para ampliar a pluralidade religiosa na
sociedade brasileira.
Até meados do século XX, a imigração proveniente do Oriente Médio foi predominantemente
cristã. Maronitas, melquitas, ortodoxos do rito antioquino, siríacos, católicos romanos e protestantes.
A maioria dos libaneses era maronita, enquanto os sírios costumavam ser ortodoxos. Entre 1908 e
1941, 65% dos sírio-libaneses que entraram pelo porto de Santos eram maronitas, melquitas e ca-
tólicos romanos, 20% eram cristãos ortodoxos e 15%, muçulmanos. Estes podiam ser sunitas, xiitas,
alauitas ou druzos. Havia ainda imigrantes judeus de fala e cultura árabe.
A preservação da identidade religiosa era importante para aqueles que permaneciam ligados à comu-
nidade sírio-libanesa ou mantinham laços com o território de origem. Já no início do século XX, diferen-
tes instituições religiosas começaram a ser criadas pelos árabes no Brasil. No início eram sociedades be-
neficentes, sociedades de senhoras e “centros de juventude”, para só depois inaugurarem seus locais de
culto. A intenção era promover formas de solidariedade entre os membros e compartilhar suas tradições
com as novas gerações. Os ritos e dogmas das igrejas orientais, no entanto, causavam estranhamento na
sociedade brasileira, que pressionava os imigrantes árabes a adotarem as práticas do catolicismo romano.
A comunidade ortodoxa foi uma das primeiras a criar instituições próprias no Brasil. Cristã, mas
não católica, ela contava com recursos transnacionais da Igreja Ortodoxa Antioquina, cuja origem re-
mete aos primórdios do cristianismo. Liderada pelo Patriarca de Antióquia, foi controlada por monges
gregos até o século XIX, quando o surgimento dos ideais de nacionalismo entre os árabes levou à elei-
ção de um patriarca dessa origem. Na mesma época, a Igreja Antioquina também estabeleceu relações
com a Rússia, o que levou a um processo de renovação religiosa em língua árabe. Foi a casa real da
dinastia russa dos Romanov que financiou, em 1917, a construção do primeiro templo ortodoxo do
Brasil: a Igreja de São Nicolau, no Rio de Janeiro. Mas desde 1897 essa comunidade já possuía uma
sociedade própria, em São Paulo. Hoje os ortodoxos se organizam em torno de dois arquimandritas
(representantes patriarcais) – um no Rio e outro em São Paulo – com jurisdição sobre paróquias lide-
radas por padres em outros estados: Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A liturgia era
inicialmente feita em árabe com trechos em grego, mas desde 1938 é celebrada em português, embo-
ra tenham sido mantidos trechos em árabe e grego e os cantos que a caracterizam. A adoção do portu-
guês mostra a crescente importância da segunda e da terceira geração de descendentes de imigrantes.
A primeira Sociedade Maronita de Beneficência também surgiu em 1897, em São Paulo, e o tem-
plo foi erguido seis anos depois. A liturgia maronita se parece bastante com a dos católicos romanos,
mas é conduzida com ritual próprio em português, com trechos em aramaico. Essa Igreja deriva da
pregação de São Marun, que viveu no século IV na Síria. Como os cristãos ortodoxos perseguiam os
maronitas como heréticos, eles se refugiaram no Monte Líbano e criaram sua Igreja a partir do século
VII. Durante as Cruzadas, os maronitas entraram em contato com o catolicismo romano, e no século
XV aceitaram a autoridade papal, preservando, porém, sua autonomia eclesiástica.
Os melquitas, também católicos, tiveram presença importante entre os imigrantes árabes desde o
século XIX, mas demoraram a afirmar sua autonomia dentro do catolicismo brasileiro – sua primeira

456
igreja, a de São Basílio, no Rio de Janeiro, seria erguida apenas em 1941. Desde então, surgiram tem-
plos também em São Paulo, Minas Gerais e Ceará. A palavra melquita vem do árabe maliki, que quer
dizer “aquele [fiel] ao rei/imperador”. Este era o nome original dos ortodoxos, cristãos fiéis ao imperador
bizantino. Após um cisma na Igreja Ortodoxa, no século XVIII parte do clero e seus fiéis aceitaram a
autoridade papal, mantendo suas diferenças litúrgicas. Formou-se assim a Igreja Melquita, com sede
em Damasco. As cerimônias melquitas são celebradas em português, com algumas passagens em árabe.
Outras comunidades religiosas menos numerosas também se organizaram na primeira metade do
século XX, como os judeus sírios no Rio de Janeiro, os árabes protestantes em São Paulo e os cristãos
siríacos (sirian) em São Paulo e Belo Horizonte.
Os árabes muçulmanos criaram suas instituições religiosas mais tardiamente que os cristãos. A Socie-
dade Beneficente Muçulmana de São Paulo foi criada em 1929. Embora fosse marcadamente sunita, ela
também era referência para os xiitas, que não contavam com uma instituição própria. Essas duas correntes
sectárias do Islã surgiram após a morte de Maomé, no século VII. Os sunitas foram os que aceitaram a
sucessão do profeta por Abu Bakr, que durante o exílio de Maomé havia sido encarregado por ele de dirigir

GEOGRAFIA
as orações comunitárias em seu lugar. O termo sunita provém de sunna al-nabi e significa “tradição do
profeta”. Os sunitas correspondem a cerca de 85% dos muçulmanos de todo o mundo. Os xiitas – “partido
de Ali” – defendiam que a liderança da religião deveria ser exercida por descendentes de Maomé. Ali era
primo e genro do profeta. Em São Paulo, os rituais islâmicos, como as orações diárias e a festa do fim do
Ramadan (mês do jejum), eram celebrados no salão da Sociedade Beneficente até 1950, quando passaram
a ocupar a Mesquita Brasil, a primeira do país, cuja construção se estendeu de 1942 a 1960.
Como não se identificam com a interpretação do Islã praticada pelos sunitas, os muçulmanos

M—dulo 22
druzos e alauitas também criaram suas próprias instituições. Os alauitas são uma seita xiita que segue
os ensinamentos de Muhammad Ibn Nusayr, um discípulo do 11º Imã (descendente de Maomé). A
Sociedade Beneficente Alauita foi fundada em 1931 no Rio de Janeiro. Os druzos, que se autodeno-
minam “unitaristas”, surgiram no século X e têm uma interpretação esotérica do Islã. Possuem dou-
trinas que lhes são específicas, como a crença na reencarnação. Como a principal área de imigração
dos druzos foi Minas Gerais, lá se concentraram suas instituições. Em 1929, foi fundada a Sociedade
Beneficente Druziense em Oliveira (MG), transferida para Belo Horizonte em 1956. Em 1969, foi
criado o Lar Druzo Brasileiro em São Paulo, e mais recentemente, um Lar Druzo em Foz do Iguaçu.
A vinda de árabes para o Brasil entrou em declínio após 1940, devido a medidas restritivas do
governo brasileiro, que impôs cotas à imigração, e à independência da Síria e do Líbano. Porém, com
a guerra civil libanesa (1975-1990), as guerras árabe-israelenses, a ocupação israelense dos territórios
palestinos e do sul do Líbano (1982-2000) e a crise econômica, novas levas migratórias chegaram ao
Brasil a partir dos anos 1970. Desta vez, eram muçulmanos em sua maioria. Nas últimas duas déca-
das, foram erguidas mesquitas sunitas no Paraná, em São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.
A do Rio de Janeiro só passou a abrigar as orações em 2007, estando ainda em construção. Mesquitas
xiitas também foram construídas em São Paulo e Foz do Iguaçu. Algumas comunidades muçulmanas,
como a de Curitiba, tornaram-se mistas sunita/xiita. Oriente Médio: principais conflitos

Desde a década de 1990, cresce também o número de brasileiros não árabes convertidos ao Islã e, em
menor escala, às igrejas Ortodoxa e Maronita. O português passou a ser adotado no sermão das sextas-feiras
em comunidades muçulmanas com grande número de convertidos, como a do Rio de Janeiro, e é crescente
a oferta de cursos de língua árabe. A entrada de brasileiros não árabes nas comunidades religiosas criadas
pelos imigrantes árabes mostra como elas já fazem parte da paisagem religiosa da sociedade brasileira.
PINTO, Paulo Gabriel Hilu da Rocha. Toda forma de fé. Instituto da Cultura Árabe, 15 dez. 2009. Disponível em:
<www.icarabe.org/artigos/toda-forma-de-fe>. Acesso em: 20 mar. 2017.

457
23
çfrica

Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Diversidade regional africana
• Matrizes culturais africanas e identidades nacionais
• Histórico da exploração imperialista e da descolonização
africana
• Características econômicas, sociais e políticas da África

HABILIDADES
• H3 - Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos
históricos.
• H7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder
entre as nações.
• Compreender a diversidade social e espacial africana.
• Compreender a emergência da África do Sul como potência regional.
• Analisar as consequências do colonialismo europeu nos Estados africanos.

458
PARA COME‚AR

Um retrato sem moldura

Aconteceu num debate, num país europeu. Da assistência, alguém me lançou a seguinte pergunta:
— Para si, o que é ser africano?
Falava-se, inevitavelmente, de identidade versus globalização. Respondi com uma pergunta:
— E para si, o que é ser europeu?
O homem gaguejou. Ele não sabia responder. Mas o interessante é que, para ele, a questão da
definição de uma identidade se colocava naturalmente para os africanos. Nunca para os europeus. Ele
nunca tinha colocado a questão para o espelho.
Recordo o episódio porque ele toca uma questão central: quando se fala de África de que
África estamos falando? Terá o continente africano uma essência facilmente capturável? Haverá
uma substância exótica que os caçadores de identidades possam recolher como sendo a alma
africana? [...]
E onde se enxergam essências devemos aprender a ver processos históricos, dinâmicas sociais e

GEOGRAFIA
culturas em movimento.
A África vive uma tripla condição restritiva: prisioneira de um passado inventado por outros,
amarrada a um presente imposto pelo exterior e, ainda, refém de metas que lhe foram construídas por
instituições internacionais que comandam a economia.
A esses mal-entendidos se somou uma outra armadilha: a assimilação da identidade por razões
da raça. Alguns africanos morderam esta isca. A afirmação afrocentrista sofre, afinal, do mesmo erro

M—dulo 23
básico do racismo branco: acreditar que os africanos são uma coisa simples, uma categoria uniforme,
capaz de ser reduzida a uma cor de pele.
Ambos os racismos partilham o mesmo equívoco básico. Ambos se entreajudam numa ação
redutora e simplificadora da enorme diversidade e complexidade do continente. Ambos sugerem
que o “ser” africano não deriva da história, mas da genética. E no lugar da cultura tomou posse
a biologia.
COUTO, Mia. Um retrato sem moldura. In: HERNANDEZ, Leila.
A çfrica na sala de aula. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 11.

Assim como no caso da América Latina, a questão da identidade africana também é mais
complexa do que se apresenta na maior parte das vezes. O imaginário sobre a identidade
africana, disseminado em livros, noticiários e filmes, tem mais relação com o olhar dos que
a observam do que com um sentimento de coesão interna dos africanos. Esse imaginário foi
construído pela aglutinação, do ponto de vista ocidental, de experiências históricas consi-
deradas semelhantes, oriundas principalmente do período e dos modelos da colonização
europeia na África.
Uma enorme diversidade de paisagens, línguas, religiões e etnias marca o continente, e por isso
muitos estudiosos utilizam o termo “Áfricas”, no plural, em vez de “África”, no singular, para
tentar se referir a essa característica. O objetivo é ressaltar a pluralidade e evitar simplificações
acerca do continente e de seus povos. Ao longo deste módulo nos aprofundaremos nas várias
“Áfricas” do continente africano.
África

459
PARA APRENDER

As paisagens naturais

O relevo africano
O continente africano corresponde a pouco mais de 20% das terras emersas do planeta e é cortado pelos
trópicos de Câncer e de Capricórnio, localizando-se, portanto, na Zona intertropical do globo. É limitado
pelos oceanos Atlântico (a oeste) e Índico (a leste) e pelos mares Mediterrâneo (ao norte) e Vermelho (a
nordeste). A África impressiona pela diversidade de seu quadro natural.
O relevo do continente africano é predominantemente antigo. Sua estrutura geológica, formada sobre-
tudo por escudos cristalinos do Pré-Cambriano, confirma a antiguidade dos planaltos cristalinos já bastante
desgastados e rebaixados pelos agentes erosivos. Ao mesmo tempo, as principais elevações estão relaciona-
das a movimentações tectônicas, como ocorre no extremo norte do continente, onde se localiza a cadeia do
Atlas (que abrange áreas do Marrocos, da Argélia e da Tunísia), e, no sul, onde está a cadeia do Drakensberg
(que abrange áreas de Lesoto e da África do Sul).
Ao leste do continente, um sistema de falhamentos no re-
África: relevo levo deu origem ao vale da Grande Fenda (ou Great Rift Valley,
em inglês), um complexo de falhas tectônicas formadas há cerca
de 35 milhões de anos por causa da separação das placas afri-
EUROPA
cana e arábica, originando uma fossa tectônica. Essa estrutura
estende-se no sentido norte-sul por cerca de 5 mil quilômetros,
desde o norte da Síria (Oriente Médio) até o centro de Moçam-
DO ÁSIA
I. da Madeira EIA
CAD LAS
Mar Mediterrâneo
bique, com largura que varia de 30 a 100 quilômetros e pro-
AT
Toubkal
Is. Canárias (4 166 m)
PLANALTO
fundidade que varia de algumas centenas a milhares de metros.
DE TADEMAIT DESERTO
DA LÍBIA Acredita-se que todas as pessoas do planeta descendam de um
Ma

Trópico de Câncer L. Nasser


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DESERTO
pequeno grupo originário dessa porção oriental da África.
erm

DESERTO DA
DO SAARA Emi Koussi NÚBIA
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(3 415 m)
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PLANALTO
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L. Chade
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Is. Cabo r I. Socotra


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Verde
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PLANALTO n c (4 620 m)
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DE BAUCHI o
PLANALTO DA
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ETIÓPIA
Divergência continental
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lo Azul

Ruwenzori
Equador
I. Fernando Pó
I. Príncipe
BACIA
(5 109 m)
Quênia
e o vale da Grande Fenda
o DO CONGO (5 199 m)
Rift Valley
I. São Tomé
g
C on

Quilimanjaro
Ri (5 892 m)
o

PLANALTO DOS OCEANO


OCEANO GRANDES LAGOS
ÍNDICO
ATLÂNTICO
A – Horst
PLANALTO DE
BIE
DEPRESSÃO I. de Madagascar B – Graben
DE NGAMI
Ankaratra C – Crosta
DESERTO (2 644 m)
I. Maurício
Falha normal
Trópico de Capricórnio DE KALAHARI Rio
Limpopo
continental
Altitudes
(em metros) R i o Orang
e

Champagne Castle
g (3 650 m)
1800
Dr a k e
ns b
er
D – Astenosfera
1200
600
300 N
150
0 0 1080
Picos km

FONTE: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico O esquema mostra a formação de uma fossa tectônica a partir
Saraiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 150. do sistema de afundamento – Horst (A) e Graben (B).

460
O vale da Grande Fenda é responsável pela formação dos grandes lagos
africanos – Vitória (Tanzânia), Tanganica (entre Congo, Tanzânia e Burundi), Kivu África: vale da Grande Fenda
(Ruanda e Congo), Eduardo e Alberto (uma das nascentes do rio Nilo) –, bem Placa
Iraniana
como pelas maiores elevações associadas aos picos das montanhas vulcânicas:
monte Quênia, com 5 199 metros, e monte Quilimanjaro, com 5 892 metros. Trópico de Câncer

Ma
ilo
Placa

Ri o N

rV
Arábica

e rm
Clima e vegetação

e lh
Placa

o
Africana Áden
e
fo d Placa Indo-
Gol
As paisagens naturais formadas pelo clima e pela vegetação no continente -Australiana

africano ocorrem a partir da linha do equador, tanto para o norte quanto para Placa
Africana
o sul. A posição geográfica do continente lhe confere essa simetria aproximada Equador
Lago Alberto

entre as paisagens do norte e as do sul. Por esse motivo costuma-se dizer que Lago Eduardo Lago
OCEANO
Lago Kivu Vitória
a África apresenta climas e vegetações “refletidos”, em uma clara analogia ao Lago ÍNDICO
Tanganica
que ocorre em um espelho. N
Limite de placa
Lago
O continente africano pode ser considerado o mais tropical de todos, pois uma 0 950 Niassa Vale da
Grande Fenda
km
enorme parte de seu território está na faixa latitudinal intertropical, o que explica o
FONTES: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva.
predomínio de climas quentes, como o tropical e o equatorial. Além desses, outros 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 168 e 169; Volcano Discovery.
Disponível em: <www.volcanodiscovery.com/africa.html>.
também são encontrados, como o desértico, o temperado e o mediterrâneo. Acesso em: 18 jan. 2017. Adaptado.

GEOGRAFIA
África: clima África: vegetação
EUROPA EUROPA

Mar Mediterrâneo
Mar Mediterrâneo

ÁSIA

Módulo 23
ÁSIA
S A A R A
Ma

Ma
Trópico de Câncer
Trópico de Câncer
rV

rV
erm

erm
elh

elh
o

o
S A H E L

Equador
Equador

OCEANO OCEANO OCEANO


OCEANO ÍNDICO ATLÂNTICO ÍNDICO
ATLÂNTICO
Floresta Tropical
e Equatorial
Floresta de
coníferas (Taiga)
Trópico de Capricórnio Savana
Trópico de Capricórnio
Estepe
Equatorial
Pradaria
Tropical
Vegetação
Temperado mediterrânea
N N
Mediterrâneo Vegetação
Desértico de altitude
0 1080 0 1080
Semiárido Deserto
km km

FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Moderno atlas FONTE: FERREIRA, Graça M. L. Moderno atlas
geográfico. 6. ed. São Paulo: Moderna, 2016. geográfico. 6. ed. São Paulo: Moderna, 2016.

A Floresta Equatorial, localizada na área de clima equatorial, apresenta os maiores índices pluviométri-
cos e as maiores médias térmicas. Essa formação vegetal é encontrada na bacia do rio Congo e em alguns
poucos trechos da Nigéria, de Gana, da Costa do Marfim e do golfo da Guiné. Contudo, nas últimas décadas,
esse tipo de vegetação vem passando por transformações decorrentes do desmatamento e da exploração
África

predatória.

461
O desmatamento dessas florestas deve-se à abertura de novas áreas para cultivo em grande escala ou para pas-
to, além da exploração de madeira para uso como lenha. Entre a população agricultora mais pobre é muito comum
a utilização de métodos tradicionais de produção agrícola associados a técnicas rudimentares, como a queimada.
As Savanas ocorrem em áreas de clima tropical, tanto ao norte
HEMIS/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA

quanto ao sul da Floresta Equatorial. Predomina nessas formações


a vegetação herbácea, com árvores isoladas, formando o habitat
de animais de grande porte, como girafas, elefantes e zebras.
Em associação à vegetação mediterrânea, ocorre o clima
mediterrâneo, geralmente próximo a desertos. É encontrada
na África do Sul e no extremo norte do continente, na região
conhecida como Magreb (que abrange áreas do Marrocos, da
Argélia e da Tunísia), onde predominam as culturas de oliveiras,
videiras e frutas.
Parque Masai-Mara, na Savana africana, no Quênia. Nas partes altas dos planaltos da Etiópia e dos Grandes
Lagos e na cadeia do Atlas, com as montanhas mais elevadas
da região, ocorre a vegetação de altitude.
África: desertos do Saara e do Sahel
A vegetação desértica é observada em áreas onde pre-
Ma
MARROCOS TUNÍSIA
r Med
iterrâneo domina o clima desértico. É o caso dos desertos do Saara, do
ÁSIA
Kalahari e da Namíbia. Ela aparece na forma de pequenos tu-
SAARA ARGÉLIA
LÍBIA
OCIDENTAL
EGITO
fos. Nos oásis, porém, por haver maior concentração de umida-
M

Trópico de Câncer
ar

de, a formação vegetal é mais desenvolvida, com a incidência


V

S A A R A
er

MAURITÂNIA
m

de plantas como a tamareira, uma espécie de palmeira.


elh

MALI
SENEGAL NÍGER
o

SUDÃO ERITREIA
BURKINA CHADE
FASSO
DJIBUTI
A Estepe é uma formação vegetal que ocorre nas áreas de
S A H E L
N
NIGÉRIA
REP.
SUDÃO
ETIÓPIA clima semiárido, portanto com baixo índice pluviométrico, na
IA

CENTRO-
DO SUL
ÁL

CAMARÕES -AFRICANA
transição entre as formações de Savana e Deserto. A vegetação
M
SO

0 950

km
OCEANO QUÊNIA Equador
de gramíneas, predominante nessas regiões, é aproveitada para
ATLÂNTICO
FONTE: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geogr‡fico Saraiva.
a prática da pecuária extensiva, principal atividade econômica da
4. ed. Saraiva: São Paulo, 2013. p. 175. Adaptado. região, apesar de inadequada em virtude da fragilidade dos so-
los. Na borda sul do deserto do Saara, há uma faixa de clima semiárido com ocorrência de Estepe que se estende
do oceano Atlântico ao mar Vermelho e é conhecida como Sahel. Nessa região, há alto risco de desertificação,
responsável por impactos ambientais e sociais, por exemplo.

COMPREENDENDO MELHOR

Desertificação
Desertificação é um processo de perda do potencial produtivo do solo que ocorre em áreas cujos climas
apresentam baixos índices pluviométricos.
As causas mais frequentes da desertificação são:
• obras de irrigação inapropriadas;
• desmatamento ou queimada generalizada da vegetação;
• atividade mineradora;
• pisoteamento do solo em razão da atividade pastoril;
• demanda de energia (extração de lenha ou carvão vegetal);
• cultivos agrícolas excessivos;
• desenvolvimento de agriculturas de exportação não adaptadas ao clima e ao solo da região.
Geralmente, a desertificação causa impactos socioambientais como:
• erosão do solo; • perda da biodiversidade;
• pobreza e emigração; • surgimento de plantas invasoras.
• diminuição dos lençóis freáticos;

462
O clima desértico desenvolve-se no continente pela ocorrência de zonas de alta pressão atmosférica
(os ventos secos e descendentes – contra-alísios – chegam até a região, nas proximidades dos trópicos de
Câncer e de Capricórnio). Existem ainda outros fatores que contribuem para a formação desses ambientes:
a) Continentalidade – caso do deserto do Saara (que abrange Argélia, Burkina Fasso, Chade, Egito, Líbia,
Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia, Mali, Níger, Senegal, Sudão e Tunísia). A enorme extensão lon-
gitudinal dessa porção da África (norte) faz com que as massas de ar inicialmente úmidas, vindas dos
oceanos, se tornem secas à medida que avançam para o interior do continente.
b) Corrente marítima fria – caso do deserto da Namíbia, formado pelo desenvolvimento da convecção da
massa tropical úmida, que, em contato com a corrente marítima de Benguela (fria), provoca chuvas no
oceano Atlântico. Assim, quando chega ao continente, essa massa está bastante seca.

Cinturão subtropical
Deserto
de alta pressão
(30º N)

60º N

30º N
Convergência intertropical
As células

GEOGRAFIA
de Hadley
0º Equador Deserto Equador
de
circulação (Latitude 0º)
Floresta Equatorial
de ar O Sol aquece o ar
30º S Deserto no equador

60º S

Deserto

Módulo 23
(30º S) Cinturão subtropical
de alta pressão

Os centros de alta pressão tropical, localizados nas proximidades das latitudes 30º N e 30º S, funcionam como
áreas receptoras de ventos secos, conhecidos como contra-alísios. Na África há centros de alta pressão tropical
nas porções norte e sul do continente, o que contribui para a formação de desertos nos dois hemisférios.

Contexto histórico e econômico


Vamos analisar algumas características do processo histórico do continente africano, desde o período ante-
rior ao contato efetivo com os colonizadores até o processo de globalização econômica, para, assim, entender
o papel da África na economia mundial e as repercussões sobre a sua diversidade regional.

As ”Áfricas” antes da chegada dos europeus


As sociedades africanas antigas apresentavam distintos modos de organização. Apesar disso, muitos es-
tudiosos, baseando-se em classificações cujo critério era o nível de desenvolvimento, utilizavam a escassez de
fontes escritas de períodos históricos antigos como justificativa para caracterizar os povos do continente como
primitivos e atrasados, sob uma perspectiva eurocêntrica. Hoje, sabe-se que essa concepção é equivocada.
Alguns povos criaram sistemas de escrita, como a civilização egípcia com os hieróglifos (que não são alfabéti-
cos, mas pictóricos), e, em áreas diversas do continente, também foram desenvolvidos alfabetos. Houve, por
exemplo, ampla utilização do árabe em várias partes da África, dada a expansão do islamismo pelo continente
a partir dos anos 600 d.C. – daí ser comum a existência de documentos escritos em árabe. Além disso, é im-
prescindível compreender o papel da linguagem oral como meio de propagação e perpetuação de saberes.
Muitos povos africanos transmitiam – e até hoje transmitem – o conhecimento acumulado e os valores morais e
África

culturais de geração em geração, por meio de narrativas orais de fatos cotidianos e históricos, cantigas e mitos.

463
Algumas civilizações africanas mantinham cidades muradas, sistema de coleta de impostos, sistema jurí-
dico, arte feita de madeira, marfim e bronze, tecidos diversos, entre outros. Veja o infográfico a seguir.

FONTE: Associação Nova Escola. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/2393/africa-de-todos-nos>. Acesso em: 22 maio 2017. Adaptado.

464
Colonialismo mercantil
Século XV
No período em que os interesses europeus estavam voltados para o comércio de especiarias na Ásia, a
África estava no “caminho para as Índias”. Portugal lançou-se ao mar no século XV com três objetivos funda-
mentais: comercializar ouro (o que durou somente até o século XVI), encontrar um caminho alternativo para
as Índias e expandir a fé cristã.
A África era um obstáculo a ser transposto. Contornar a costa africana para chegar às Índias e conquistar
o controle do comércio de especiarias eram grandes desafios. Não existia naquele momento a preocupação
de estabelecer grandes áreas coloniais na África. A estratégia portuguesa era firmar acordos e alianças com
líderes locais para estabelecer entrepostos comerciais e feitorias no litoral do continente.
A estrutura social e política africana não foi fundamentalmen-

THE STAPLETON COLLECTION/BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


te alterada nesse momento, uma vez que a presença e a influên-
cia europeias restringiam-se ao litoral. Um dos fatores que contri-
buíam para a permanência dos europeus na costa era a geografia
desfavorável do continente. O quadro natural africano não era
convidativo ao avanço em direção ao interior: ao norte, o deserto

GEOGRAFIA
do Saara era uma barreira (além da hostilidade de alguns povos
da região); no litoral Atlântico, a existência de maciços litorâneos
exercia o mesmo papel; poucas bacias hidrográficas permitiam
a interiorização (as bacias do Congo, do Nilo e do Níger eram
as exceções); e, somadas a esses fatores, havia ainda as doenças
tropicais que acometiam os europeus que se arriscavam a des-
bravar o continente (reveja o mapa África: relevo; nele é possível

Módulo 23
observar a pequena quantidade de rios no continente africano, o Gravura de John Cassel, feita em 1865, que retrata expedição europeia
no continente africano.
que representou um entrave para a ocupação do interior).

Séculos XVI-XVIII
Na primeira metade do século XV, os portugueses contornaram a costa africana, tornando-se os pioneiros
entre os europeus no estabelecimento do contato com os povos da África ocidental e central. Já no século
XVI, o interesse de outros países pelo continente se intensificou. Ingleses e holandeses entraram na disputa
organizando companhias de comércio. Eles procuravam desenvolver suas colônias nas Américas, abaste-
cendo-as com mão de obra escravizada, e, assim como os portugueses, passaram a estabelecer feitorias no
litoral e a firmar acordos com lideranças locais.

WWW.BRIDGEMANIMAGES.COM
Nesse período, o interesse europeu pelo continente africa-
no estava relacionado à necessidade de viabilizar o sistema de
plantation nas Américas. A África, aos olhos dos europeus, era
“a periferia da periferia”. O uso da força de trabalho de africa-
nos escravizados esteve na base de construção da maior parte
dos esforços comerciais nas Américas. O açúcar, o tabaco, o
diamante, o ouro e o café, no Brasil, bem como o algodão e o
tabaco, nas colônias inglesas na América do Norte, foram pro-
duzidos pelo trabalho dessas pessoas.
África

Troca de africanos escravizados em gravura de


autoria desconhecida, século XX.

465
O africano escravizado tornou-se a principal mercadoria do comércio Atlântico, “produto” disputado por
portugueses, ingleses e franceses. Quanto à escravidão, deve-se ressaltar que ela não foi uma invenção eu-
ropeia, uma vez que já existia na África. A expansão territorial de reinos e a disputa pelo controle de rios,
estradas ou rotas importantes podiam implicar guerra e dominação de um povo africano sobre outro. Nesses
conflitos era bastante comum que os vitoriosos escravizassem alguns membros do grupo vencido. Assim, o
europeu, em geral, permanecia no litoral, deixando que a captura e o aprisionamento de pessoas fossem rea-
lizados pelos próprios grupos africanos que mantinham relações comerciais com eles.

UM OUTRO OLHAR

A invenção da escravidão

Desde os tempos mais antigos alguns homens escravizaram outros homens, que não eram vistos
como seus semelhantes, mas sim como inimigos ou inferiores. A maior fonte de escravos sempre foi
as guerras, com os prisioneiros sendo postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um
homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como condenação por
transgressões e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dívidas, ou mesmo de sobreviver inde-
pendentemente pela falta de recursos. Pelo menos assim era na África, onde acontecia de pessoas se
entregarem como escravos a quem pudesse salvar a si e a sua família da morte por falta de alimento,
caso a seca ou gafanhotos tivessem arruinado toda a colheita.
Se considerarmos a escravidão como uma situação na qual a pessoa não pode transitar livremente
nem pode escolher o que vai fazer, tendo, pelo contrário, de fazer o que manda seu senhor; situação
na qual a pessoa pode ser castigada fisicamente e vendida caso seu senhor assim ache necessário;
situação na qual o escravo não é visto como membro completo da sociedade, mas como um ser infe-
rior e sem direitos, então a escravidão existiu em muitas sociedades africanas bem antes do europeu
começar a traficar escravos pelo oceano Atlântico.
SOUZA, Marina de Melo e. África e Brasil africano. In: CAMARGO, Rosiane de;
MOCELLIN, Renato. Hist—ria em debate. São Paulo: Editora do Brasil, 2010. v. 2. p. 174.

Embora a escravidão não tenha sido criada pelos europeus, ela foi ampliada por eles. À medida que a
demanda por escravizados aumentava nas Américas, o número de guerras e atos violentos contra os povos
africanos se intensificava. O que antes era fruto de uma anomalia política ou social passou a ser a regra co-
mercial, mudando a estrutura das sociedades africanas.
Os grupos litorâneos que mantinham relações de troca com os europeus acabavam se fortalecendo. O
acesso às armas e aos produtos trazidos pelos representantes da Europa dava-lhes poder e prestígio. Para a
elite de alguns reinos africanos, a escravidão foi vista
Rota de escravizados da
como um projeto de desenvolvimento e inserção de çfrica para a AmŽrica do Sul
seus negócios na economia mundial. EUROPA

Em relação ao Brasil, duas regiões da África foram

Atlas hist—ria do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 9.


AMÉRICA

FONTE: CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam.


DO NORTE Mar
Mediterrâneo ÁSIA
as grandes fornecedoras da maior parte dos escraviza- OCEANO
Trópico de Câncer ATLÂNTICO
dos. A primeira foi São Jorge da Mina, e a segunda, a Havana
ÁFRICA
Antilhas Cabo Verde sud
costa de Angola. No caso de São Jorge da Mina, o flu- São Jorge da Mina
anes
es

Equador Costa dos Escravos


xo foi tão intenso que a região chegou a ser conhecida São Luís nt
os
ba Mombaça
AMÉRICA Olinda Luanda OCEANO
como “Costa dos Escravos”. Essa região corresponde OCEANO
PACÍFICO
DO SUL
Salvador
Benguela
Moçambique
ÍNDICO

atualmente ao golfo do Benin e a partes da Nigéria, Trópico de


Capricórnio
Rio de Janeiro

do Togo e do próprio Benin (antigo Reino do Daomé). Cabo da


Boa Esperança
Buenos Aires
N
Já a costa de Angola corresponde ao norte de An-
gola, onde existia o Reino do Congo, que forneceu 0 2 400 Tráfico de escravizados
para as Américas
km
grande quantidade de escravizados aos portugueses.

466
COMPREENDENDO MELHOR

A escravidão no Brasil

No Brasil, costumava-se classificar os escravos de acordo com a localização dos portos onde embar-
cavam na África e, como nestes se reuniam negros de várias procedências, capturados no litoral ou no
interior do continente, ainda hoje prevalece muita confusão acerca de sua origem.
Até onde se sabe, entre as principais etnias (grupo de origem e cultura comuns) africanas que de-
sembarcaram nas costas brasileiras, sobrevivendo às precárias condições de viagem nos porões dos navios
negreiros, destacaram-se dois grupos: os sudaneses e os bantos.
Os sudaneses englobam os grupos originários da África Ocidental e que viviam em territórios hoje
denominados de Nigéria, Benin (ex-Daomé) e Togo. São, entre outros, os iorubás ou nagôs [...], os jejes
[...] e os fanti-achanti. Entre os sudaneses também vieram algumas nações islamizadas como os haussás,
tapas, peuls, fulas e mandingas. Essas populações se concentraram mais na região açucareira da Bahia
e de Pernambuco, e sua entrada no Brasil ocorreu, sobretudo, em meados do século XVII até metade do
século XIX.
Os bantos englobam as populações oriundas das regiões localizadas no atual Congo, Angola e Mo-
çambique. São os angolas, caçanjes e benguelas, entre outros. Desse grupo, calcula-se que tenha vindo o

GEOGRAFIA
maior número de escravos. Foi também o que maior influência exerceu sobre a cultura brasileira, tendo
deixado marcas na música, na língua, na culinária, etc. Os bantos se espalharam por quase todo o litoral
e pelo interior, principalmente Minas Gerais e Goiás. Sua vinda teve início em fins do século XVI e não
cessou até o século XIX.
SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2009. p. 26-28.

Módulo 23
Século XIX e o imperialismo
Com o imperialismo no século XIX, a África
deixou de ser a “periferia da periferia” e passou
a ser considerada passível de exploração. A par-
tir de 1880 o imperialismo europeu começou a se

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UIG/BRIDGEMAN IMAGES/EASYPIX BRASIL


interessar mais intensamente pelos recursos natu-
rais da África, substituindo a ocupação litorânea
que ocorria até então por uma sistemática ocupa-
ção do interior.
O desenvolvimento da Segunda Revolução
Industrial, a busca por mercados e matérias-pri-
mas, o deslocamento do excedente populacional
europeu, além de outros interesses geopolíticos,
foram os propulsores do imperialismo europeu
na África.

“The Rhodes Colossus”, charge de 1892,


de Edward Linley Sambourne.
A ilustração faz referência ao sonho
África

imperialista inglês de estender suas


posses pelo continente africano.

467
África: colonização
Potências europeias passaram, en-
EUROPA tão, a disputar terras africanas: a França,
MARROCOS
Mar
M
pelo norte; a Inglaterra, no Suez, no gol-
I. Madeira ESPANHOL ed
iterrâneo ÁSIA
MARROCOS
IFNI
TUNÍSIA
Canal
fo da Guiné e pelo Nilo; a Bélgica, pela
Is. Canárias de Suez

ARGÉLIA LÍBIA
bacia do Congo; além de portugueses
RIO DE OURO EGITO

M
Trópico de Câncer
e alemães, entre outros. A Conferência

ar
Ve
Is. Cabo Verde

rm
de Berlim (1884-1885) foi o primeiro de

IAL FRANCESA
(POR) MAURITÂNIA SUDÃO

elh
FRANCÊS NÍGER SOMÁLIA
FRANCESA

o
SENEGAL
GÂMBIA
ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA SUDÃO
ANGLO-EGÍPCIO
ERITREIA uma série de acordos que iniciou o pro-
ALTO VOLTA SOMÁLIA
GUINÉ
GUINÉ
cesso de Partilha da África, por meio
DAOMÉ
BRITÂNICA
PORTUGUESA COSTA
TOGO
OCEANO NIGÉRIA

TOR
ABISSÍNIA
SERRA DO
(ETIÓPIA)
ATLÂNTICO LEOA LIBÉRIAMARFIM
CHADE
da demarcação de fronteiras artificiais,

QUA
CAMARÕES SOMÁLIA
COSTA DO ITALIANA

AE
Equador OURO RIO MUNI UGANDA ÁFRICA
ORIENTAL que continuou até depois da Primeira

R IC
I. Príncipe (POR) GABÃO BRITÂNICA
Guerra Mundial.
ÁF
CONGO
Territórios sob controle de I. São Tomé (POR) BELGA OCEANO
ÁFRICA
países europeus antes de 1914 ÍNDICO
ORIENTAL
Is. Seychelles
Alemanha (ING) ALEMÃ Durante a Partilha, a Geografia foi
Is. Comores
Bélgica ANGOLA
RODÉSIA NIASSALÂNDIA
(FRA) fundamental ao imperialismo por utili-
Espanha DO NORTE E
IQ
U
zar as técnicas de mapeamento, descre-

B
RODÉSIA MADAGASCAR
França ÁFRICA DO

AM
DO SUL Maurício
SUDOESTE ALEMÃ
ver o continente e elaborar teorias que
MOÇ
Inglaterra Trópico de Capricórnio BECHUANALÂNDIA
(ING)

Itália TRANSVAAL N
justificavam as intenções imperialistas.
SUAZILÂNDIA
Portugal UNIÃO DA
ÁFRICA BASUTOLÂNDIA 0 990 Como exemplo dessas teorias pode-se
Países independentes DO SUL
km
citar o determinismo geográfico (já
FONTE: WORLD History Atlas: Mapping the Human Journey. London: Dorling Kindersley, 2005.
mencionado no Módulo 1), ou seja, a
HERGƒ/MOULINSART

crença nas condições naturais do meio


como determinantes para o desenvol-
vimento das sociedades. Um discurso
determinista bastante difundido na Eu-
ropa no final do século XIX era o que
justificava o suposto avanço na busca
civilizatória da comunidade europeia
pela necessidade de desenvolver técni-
cas para a caça em razão das condições
climáticas regionais, enquanto os povos
africanos estariam atrasados porque
teriam se acomodado diante da dispo-
nibilidade de frutos para alimentação.
Essa argumentação, assim como outras
com abordagem determinista, contri-
buiu para a ideia de que a colonização
europeia, ao promover uma ação civili-
zadora na África, seria benéfica para os
próprios africanos.
A teoria do espaço vital também
contribuiu para as pretensões impe-
rialistas europeias. Segundo ela, um
Estado que almejasse ser uma grande
potência deveria ter um território em ex-
No quadrinho, publicado originalmente na década de 1930, o jovem personagem Tintim, um pansão, que lhe oferecesse os recursos
repórter belga, faz uma viagem ao Congo, na época uma colônia do seu país. Na ilustração, é
possível notar os efeitos das ações civilizatórias do ponto de vista europeu. necessários para seu desenvolvimento.

468
Essa teoria foi amplamente utilizada para defender as pretensões expansionistas da Alemanha nazista no
início do século XX, até mesmo sobre a própria Europa.

UM OUTRO OLHAR

Darwinismo social: a seleção natural também a serviço do imperialismo


A obra de Darwin, A origem das espécies por meio da seleção natural, ou a conservação das raças
favorecidas na luta pela vida, publicada em inglês em novembro de 1859, parecia fornecer caução
científica aos partidários da supremacia da raça branca, tema que, depois do século XII, jamais deixou
de estar presente, sob diversas formas, na tradição literária europeia. Os pós-darwinianos ficaram, por-
tanto, encantados em justificar a conquista do que eles chamavam de “raças sujeitas”, ou “raças não
evoluídas”, pela “raça superior”, invocando o processo inelutável da “seleção natural”, em que o forte
domina o fraco na luta pela existência. Pregando que “a força prima sobre o direito”, eles achavam que
a partilha da África punha em relevo esse processo natural e inevitável. [...]
BOAHEN, Albert Adu (Ed.). Hist—ria geral da África, VII: África sob
dominação colonial, 1880-1935. 2. ed. rev. Brasília: Unesco, 2010. p. 24-25.

GEOGRAFIA
As consequências da partilha foram profundas e continuam marcando a estrutura política e social africa-
na. Dentre elas, destaca-se o acirramento das contradições internas (rivalidades étnicas), já que o processo
de partilha deu origem a uma divisão política artificial que não respeitou as diferenças étnicas nem culturais
e desestruturou as práticas agrícolas.

M—dulo 23
África: fronteiras Žtnicas e pol’ticas
EUROPA
Estreito de
Gibraltar
Mar Mediterrâneo TUNÍSIA Mar Mediterrâneo
MARROCOS ÁSIA

III
III
ARGÉLIA
SAARA LÍBIA
OCIDENTAL EGITO
M

M
Trópico de Câncer Trópico de Câncer
ar

ar
CABO
Ve

Ve
VERDE MAURITÂNIA
r

r
m

m
MALI
elh

elh
SENEGAL NÍGER
o

o
GÂMBIA CHADE SUDÃO ERITREIA
BURKINA
GUINÉ- FASSO
NIN

GUINÉ DJIBUTI
-BISSAU
TOGO

COSTA
GANA

BE

NIGÉRIA
ES

DO ETIÓPIA
SERRA REP. SUDÃO

MARFIM IA
LEOA LIBÉRIA CENTRO-AFRICANA DO SUL ÁL
MA

GUINÉ M
SO
CA

EQUATORIAL REP. UGANDA


Equador Equador DEMOCRÁTICA QUÊNIA
GABÃO DO CONGO
O
NG

SÃO TOMÉ RUANDA OCEANO


CO

E PRÍNCIPE BURUNDI
OCEANO ÍNDICO
OCEANO OCEANO TANZÂNIA
ÍNDICO CABINDA
(ANGOLA) SEYCHELLES
ATLÂNTICO ATLÂNTICO
MALAU

COMORES
ANGOLA
ZÂMBIA
Í

UE
Q
BI

ZIMBÁBUE MADAGASCAR
M

NAMÍBIA
ÇA

BOTSUANA
MO

Trópico de Capricórnio córnio MAURÍCIO


Trópico de Capri

SUAZILÂNDIA
N N ÁFRICA LESOTO
DO SUL
0 865 0 865

km km
África

FONTES: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. Adaptado; GLASSNER, Martin Ira. Political Geography. London: John Wiley & Sons, 2004. Adaptado.

469
VISÃO GEOGRÁFICA

Plantation na çfrica
A produção agrícola africana foi intensamente transformada a partir do século XIX. Os cultivos de alimen-
tos voltados para a subsistência e para o mercado interno foram substituídos por matérias-primas direciona-
das à exportação. A África deixou de produzir para si e passou a alimentar a Europa.
As melhores terras, as áreas mais úmidas e propícias à atividade agrícola, ficavam sob o controle do
colonizador europeu. O cultivo destinado à subsistência e ao mercado interno perdeu espaço e foi relegado
a áreas mais secas e com pior aproveitamento. O resultado dessa mudança foi o comprometimento da pro-
dução local e, por consequência, o aumento da fome em todo o continente.

PARA ASSISTIR

Hotel Ruanda. Direção de Terry George. Reino Unido/Itália/África do Sul/

REPRODU‚ÌO/TERRY GEORGE/IMAGEM FILMES


Estados Unidos, 2004. (121 min).
No ano de 1962, Ruanda se tornou independente da Bélgica. No entanto, os conflitos
étnicos internos estariam longe de acabar. O filme se passa em 1994, ano em que
Ruanda foi cenário de um dos maiores genocídios da história mundial, resultado do au-
mento das tensões entre a maioria hutu e a minoria tútsi, duas etnias que se tornaram
rivais em razão da Partilha da África.

A descolonização africana e a Guerra Fria


África: independência (após Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu o desman-
a Segunda Guerra Mundial) telamento do império colonial europeu tanto na África
EUROPA

TUNÍSIA
como na Ásia. Com a guerra e a crise econômica sub-
Mar Mediterrâneo
ÁSIA sequente, os países europeus que antes dominavam
FONTE: DUBY, Georges. Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006. Adaptado.

MARROCOS

LÍBIA
imensos impérios territoriais já não tinham mais poder
ARGÉLIA EGITO
SAARA
Ma

OCIDENTAL* Trópico de Câncer econômico nem político suficiente para manter suas
r V

áreas coloniais. O movimento anticolonial ganhou vigor


erm

MAURITÂNIA
elh

CABO VERDE
MALI
NÍGER na África, e as potências europeias não conseguiram
o

SENEGAL CHADE ERITREIA


GÂMBIA
GUINÉ-BISSAU
BURKINA
FASSO
SUDÃO**
DJIBUTI deter o processo de emancipação dos povos africanos.
BENIN

GUINÉ
TOGO
GANA

COSTA NIGÉRIA
SERRA LEOA DO REP. CENTRO- ETIÓPIA O mapa ao lado mostra a cronologia das independên-
IA

LIBÉRIA MARFIM CAMARÕES -AFRICANA


ÁL

cias dos países do continente.


M
SO

GUINÉ EQUATORIAL
UGANDA
Equador
O

QUÊNIA
O enfraquecimento europeu foi fundamental para os
NG

SÃO TOMÉ GABÃO


RUANDA
CO

E PRÍNCIPE REP. DEM. BURUNDI


OCEANO
OCEANO CABINDA
DO CONGO
TANZÂNIA ÍNDICO
movimentos de independência das colônias. Alguns des-
ATLÂNTICO (ANG)
ses movimentos se deram por meio de conflitos armados,
ANGOLA MALAUÍ
Período da independência ZÂMBIA outros por acordos nos quais as metrópoles transferiam o
E

Estados independentes
IQU

Até 1959 ZIMBÁBUE comando político a um grupo local que continuaria a ser-
MB

MADAGASCAR
NAMÍBIA
ÇA

Em 1960 BOTSUANA Trópico de Capricórnio vir aos interesses econômicos imperiais. Mantinha-se, as-
MO

De 1961 a 1969
N
A partir de 1970 SUAZILÂNDIA sim, o papel de fornecimento de produtos primários para
* Sob ocupação marroquina REPÚBLICA
DA ÁFRICA LESOTO 0 1020 as ex-metrópoles. Em resumo, a independência política
** O Sudão do Sul foi criado em 2011 DO SUL
km
pouco alterou a estrutura econômica dos países africanos.

470
Soma-se a esse processo o endividamento externo dos recém-criados países africanos, o que contribuiu para
a manutenção da relação de dependência externa.
Com a divisão do mundo em bloco socialista e bloco capitalista durante a segunda metade do século
XX, o continente africano ganhou destaque. Viu-se nesse período a expansão do socialismo, bem como
a intervenção estadunidense, que buscava evitar a consolidação de regimes marxistas na África. No boxe
Compreendendo melhor a seguir, conheça os casos emblemáticos de Angola e Moçambique, que exempli-
ficam bem a questão.

COMPREENDENDO MELHOR

Angola
Após quatro séculos de dominação, em janeiro de 1975, Portugal aceitou assinar o Acordo de Alvor,
que garantiria a Angola a conquista de sua independência, depois de muitos anos de luta. Em 11 de
novembro daquele ano, o país africano se tornaria livre, pois representantes dos três grupos nacionalis-
tas que participaram do encontro – o Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), a Frente
Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União pela Libertação Total de Angola (Unita) – haviam
aceitado formar um governo de transição. Em 21 de fevereiro de 1976, Portugal reconhecia oficialmente
a República Popular de Angola.
No entanto, o conflito entre as três correntes foi se tornando mais violento até que, em julho, o

GEOGRAFIA
MPLA, apoiado pelo governo português, expulsou de Angola a FNLA, liderada por Holden Roberto, e a
dissidência desta, Unita, formada em 1965 por Jonas Savimbi. No dia 10 de novembro, com uma guerra
civil cada vez mais próxima, [noticiava-se]: “Em várias capitais africanas e ocidentais, ontem, febris ma-
nobras diplomáticas tentavam promover uma coalizão provisória o mais cedo possível, porém pareciam
estar tendo pouco êxito. Em Luanda, a capital, restavam poucas dúvidas de que o MPLA conseguiria o
controle local” [...].

M—dulo 23
De fato, na data combinada, Agostinho Neto, poeta e líder do MPLA, organização marxista empe-
nhada desde 1956 na luta anticolonialista, assumiu o poder. Mas, no mesmo dia, as duas outras forças
revolucionárias proclamaram a República Popular Democrática de Angola e a guerrilha continuou.
Com bases no vizinho Zaire, tropas chefiadas por Holden Roberto, apoiadas pelos Estados Unidos e
por forças mercenárias, atacavam o norte de Angola, enquanto o sul era invadido pela Unita, patrocinada
por África do Sul e China. Duas semanas após a independência, eram contabilizados 40 mil mortos e um
milhão de desabrigados. A maioria dos brancos – cerca de 400 mil – deixara o país. [...]
O Globo. Angola, independência e guerra civil após quatro séculos de domínio português.
23 set. 2013. Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/angola-independencia-guerra-
civil-apos-quatro-seculos-de-dominio-portugues-10110726#ixzz4aNQ1xl00>. Acesso em: 15 mar. 2017.

Moçambique
[...] Moçambique tornou-se independente em 1975, depois de uma luta armada de libertação nacio-
nal. A Frelimo – Frente de Libertação de Moçambique (apoiada pela União Soviética e China), que havia
conduzido a luta durante 10 anos, formou o primeiro governo, com um programa de trabalho orientado
para a construção de uma sociedade socialista.
Em 1976 surgiram os primeiros indícios de desestabilização em Moçambique, cujo desenvolvimen-
to atinge a forma de uma guerra civil alargada a todo o país, sobretudo na década de [19]80, opondo o
governo e a Renamo – Resistência Nacional de Moçambique [na época apoiada pela Agência Central
de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA]. A desestabilização provocada por estes conflitos internos é
agravada por agressões militares que a Rodésia faz a Moçambique, mais tarde transferidas para o regime
de apartheid da África do Sul. Apenas em 1992, com a assinatura do Acordo Geral de Paz entre a Frelimo
e a Renamo, cessam as hostilidades e inicia-se um processo de paz e reconciliação. [...]
SILVA, Teresa Maria da Cruz e. Moçambique: um perfil. Centro de Estudos Sociais – Universidade de
Coimbra. Disponível em: <www.ces.uc.pt/emancipa/gen/mozambique.html>. Acesso em: 15 mar. 2017.
África

471
Os conflitos africanos, além da disputa por áreas de influência e das riquezas naturais africanas, serviam
como um grande mercado de armas durante a Guerra Fria. Os conflitos étnicos revestidos de conteúdo ideo-
lógico, a formação de guerrilhas, as ditaduras personalistas e os governos autoritários marcaram a África do
pós-Guerra.

África e globalização
Com o fim da Guerra Fria, o continente africano perdeu parte de sua importância estratégica. Os conflitos
na região não mais atraíam a atenção das potências geopolíticas, e a disputa por áreas de influência cedeu
espaço à disputa por mercados. Como os mercados consumidores africanos eram, em geral, restritos, o de-
sinteresse ficou evidente com o estabelecimento da Nova Ordem Mundial. Conflitos como os de Ruanda, do
Níger, da Somália e do Sudão pouco mobilizaram a ação internacional, e somente após a exposição de nú-
meros assombrosos de mortos e desalojados e de casos de genocídio, a opinião pública mundial pressionou
as forças internacionais a agir. Os refugiados políticos e de guerra são hoje uma triste realidade no continente
africano e um problema de difícil resolução.
Se, por um lado, as potências ocidentais abandonaram a África, por outro, condicionaram a ajuda econô-
mica a mudanças políticas e estruturais. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) passaram
a vincular a ajuda econômica à democratização e à abertura econômica, por exemplo.
A questão que surge, então, é: a África participa do processo de globalização? Sim, o continente africano
participa da globalização. Na Divisão Internacional do Trabalho (DIT), atua como sempre no fluxo comercial
internacional: como fornecedor de produtos primários e mercado consumidor, ainda que restrito. Olhares
mais otimistas para os países da África veem a tendência de o continente ocupar também uma função di-
ferente na DIT, ainda que coadjuvante, como produtor de manufaturados de baixo valor agregado. Alguns
países da África com significativos parques industriais, como África do Sul, Egito e Nigéria, já desempenham
esse papel.
De modo geral, grande parte da população africana não é contemplada pelos supostos benefícios trazidos
pelo processo de globalização. Por exemplo, por causa de fatores econômicos, políticos e até religiosos, a maior
parte do continente está excluída da rede mundial de informação, a internet. A instabilidade política e econômi-
ca, somada à severa deficiência de infraestrutura,
acabou afugentando por muitos anos os inves-
timentos produtivos (indústrias, comércios, ser-
África: crescimento econômico
viços, agropecuária e extrativismo) – que são os África permanece uma das regiões de
que mais contribuem para a empregabilidade da crescimento mais rápido do mundo

população – e até mesmo os investimentos es-


peculativos (aplicações financeiras). No entanto, 12

esse quadro vem sendo gradativamente rever- 8


tido. Algumas regiões africanas passam por um 4
processo intenso de urbanização, industrializa-
0
ção e desenvolvimento agropecuário moderno.
Apesar dos diversos problemas socioeconômi- 24

cos – há ainda elevadas taxas de analfabetismo, 28


mortalidade infantil, baixa expectativa de vida, 2005 2009 2014

entre outros –, a África apresenta perspectivas


Ásia em desenvolvimento Estados independentes
animadoras: é uma das regiões que mais têm
crescido economicamente nos últimos anos, e os África Subsaariana Oriente Médio e norte da África

indicadores de saúde e escolaridade têm apre- Europa central e do leste Zona do Euro
sentado uma evolução bastante positiva (veja os
FONTE: Disponível em: <www.africaprogresspanel.org/infograficos-do-relatorio-
gráficos a seguir). do-progresso-em-africa-2014-2>. Acesso em: 9 maio 2017.

472
África: evolução dos níveis de saúde
1. As taxas de mortalidade infantil e materna
estão diminuindo – mas ambas precisam
reduzir ainda mais.

820
de 5 anos por 1 000 nascimentos 173
Taxa de mortalidade de menores

Taxa de mortalidade materna


por 1 000 nascimentos
590
118
480
103 430
95 400
90

52 57 250
40 48 50 200 210
32 140
16 100 63
12 15 44 20
49
0 0
1990 2000 2012 1990 2000 2012

África Sudeste asiático Mediterrâneo oriental Pacífico ocidental

Europa Global Américas

GEOGRAFIA
2. A esperança de vida está aumentando.

58 58

55

M—dulo 23
48
46
0
2003 2011
Mulheres Homens

FONTE: Africa Progress Panel. Disponível em: <www.africaprogresspanel.org/infograficos-do-


relatorio-do-progresso-em-africa-2014-2>. Acesso em: 10 maio 2017.

África: acesso à educação África: redução da pobreza


Mais crianças têm acesso à educação do que antes, Perspectivas para a redução da pobreza: três cenários
ainda que a qualidade permaneça um problema de crescimento e distribuição para 2030

77 70
70 60
66
58 Baixo crescimento e maior
pessoas (%)

50
Número de

49 desigualdade
40 36%
Projeções de base
30
29
Maior crescimento e menor
20
20% desigualdade
10
8% 10 milhões de pessoas
0
1981 1988 1995 2002 2009 2016 2023 2030
1999 2011 1999 2011 1999 2011
Taxa de matrícula Taxa de matrícula Taxa de alfabetização
líquida no bruta no dos jovens Baixo crescimento e maior Projeções de base 20% Maior crescimento e menor
primeiro ciclo segundo ciclo (%) desigualdade 36% desigualdade 8%
do ensino básico do ensino básico
(%) (%)
FONTE: Africa Progress Panel. Disponível em:
<www.africaprogresspanel.org/infograficos-do-relatorio-
do-progresso-em-africa-2014-2>. Acesso em: 10 maio 2017.
5 486 milhões de pessoas 5 266 milhões de pessoas 5 103 milhões de pessoas
África

FONTE: Africa Progress Panel. Disponível em: <www.africaprogresspanel.org/


infograficos-do-relatorio-do-progresso-em-africa-2014-2>. Acesso em: 20 mar. 2017.

473
REPRODUÇÃO/KONZA TECHNOPOLIS DEVELOPMENT AUTHORITY/SHOP ARCHITECTS

REPRODUÇÃO/KONZA TECHNOPOLIS
DEVELOPMENT AUTHORITY
O governo do Quênia aprovou
em 2008 o Konza Technology City,
parte de um ambicioso projeto
para tornar o país referência
internacional em tecnologia e
inovação até 2030. A expectativa
é de que Konza, cidade fundada
em 2009, gere mais de 20 mil
empregos diretos e indiretos com
a construção do projeto. Na foto,
concepção artística do Konza
Technology City.
ADEKUNLE AJAYI/NURPHOTO/GETTY IMAGES

SIPHIWE SIBEKO/REUTERS/LATINSTOCK
Com cerca de 8 milhões de habitantes, a cidade de Lagos, na Nigéria,
é a maior aglomeração urbana da África. Foto de 2016.

Localizada em Sandton, em Johannesburgo,


na África do Sul, a JSE Limited é a maior
Bolsa de Valores da África. Hoje, mais de quatrocentas
empresas negociam ações diariamente. Foto de 2014.

África do Sul: uma potência regional


A África do Sul destaca-se no continente africano, podendo ser considerada uma potência regional. A
atividade industrial no país é bastante diversificada, abrangendo indústrias de bens de consumo (têxtil, ali-
mentícia, de vestuário), de bens de produção (máquinas, equipamentos, eletricidade, metalurgia, química, si-
derúrgica), naval e automobilística. Veja o infográfico da página seguinte, que apresenta dados que reforçam
a condição da África do Sul como potência regional ou, ainda, como país mais desenvolvido do continente
africano, embora recentemente dispute essa posição com a Nigéria e o Egito.

474
GEOGRAFIA
M—dulo 23
África

FONTE: Disponível em: <http://saopaulotimes.com.br/sp/a-africa-do-sul-continua-sendo-um-


destino-de-investimento-confiavel-e-esta-aberta-para-negocios>. Acesso em: 20 jan. 2017.

475
A atividade mineradora sul-africana, embora bastante dependente do capital estrangeiro, é grande gera-
dora de riquezas para o país. Isso também ocorre com a agricultura e principalmente com os setores bancário
e industrial, demonstrando o elevado grau de internacionalização da economia sul-africana.
Atualmente, a China é o principal parceiro comercial da África do Sul, sendo o país que mais recebe as
exportações sul-africanas e, ao mesmo tempo, a principal origem das importações.

Direção das exportações da África do Sul (US$ bilhões)

País 2015 Participação no total (%)

China 5,80 8,3

Estados Unidos 5,25 7,5

Alemanha 4,24 6,1

Namíbia 3,85 5,5

Botsuana 3,79 5,4

Japão 3,64 5,2

Índia 3,15 4,5

Reino Unido 3,06 4,4

Bélgica 2,29 3,3

Zâmbia 2,19 3,1

Brasil (29a posição) 0,50 0,7

Subtotal 37,75 54,2

Outros países 31,88 45,8

Total 69,63 100,0


FONTE: Elaborado pelo MRE/DPR/DIC – Divisão de Inteligência Comercial, com base em dados da UM/UNCTAD/ITC/TradeMap. Nov. 2016.

As 10 principais origens das importações

China 18,3%

Alemanha 11,8%

Estados Unidos 6,7%

Nigéria 5,8%

Índia 5,0%

Japão 3,8%

Reino Unido 3,1%

Arábia Saudita 2,8%

Itália 2,5%

Tailândia 2,3%

FONTE: Invest & Export Brasil – Guia de Comércio Exterior e Investimento. Disponível em:
<https://investexportbrasil.dpr.gov.br/arquivos/IndicadoresEconomicos/web/pdf/INDAfricaDoSul.pdf>.
Acesso em: 20 mar. 2017.

476
O turismo ecológico
Nas últimas décadas, tem havido um aumento do fluxo de turistas na África do Sul. Com o objetivo de
aumentar a capacidade de geração de renda das propriedades agropecuárias, o governo tem incentivado
o turismo ecológico – atividade em expansão em todo o mundo –, promovendo as belezas naturais do país
associadas à modernização do uso comercial da terra.
Vultosos investimentos foram feitos em vários pontos do país, dotando-os de infraestrutura, como rede
de transportes e hotelaria, para atender aos visitantes que buscam as atrações locais. Um dos lugares mais
visitados é o parque Kruger, o maior parque nacional da África.

O apartheid e a democratização da África do Sul


O apartheid foi uma política oficial de segregação racial que entrou em vigor na África do Sul em 1948
e perdurou por décadas, proibindo o casamento inter-racial e o voto dos negros e separando os serviços
públicos para brancos e negros, entre outras medidas.
Diante da imposição dessas restrições, os dois principais partidos

GIL.K/SHUTTERSTOCK
representantes dos negros, o Congresso Nacional Africano (CNA), sur-
gido em 1913 como resposta ao Ato Segregacionista Inglês, e o Inkhata

GEOGRAFIA
(o partido dos zulus) iniciaram uma política de oposição sistemática ao
governo. O CNA foi considerado ilegal em 1960, e, dois anos mais tar-
de, seu líder – Nelson Mandela – foi preso.
Gradativamente, empresas transnacionais reduziram suas atividades
em sinal de protesto contra o apartheid. O FMI passou a condicionar a
negociação de dívidas à realização de modificações que abrandassem o
regime de segregação. Por isso, várias leis segregacionistas foram revo-

M—dulo 23
gadas. Em 1989, o presidente eleito, Frederic de Klerk, tirou o CNA da
ilegalidade e libertou Nelson Mandela. Era o início de novos tempos.
Em 1994, foram realizadas eleições multirraciais, e o líder negro Museu do Apartheid em Johannesburgo, na África do Sul.
Nelson Mandela foi eleito presidente. A partir dessa data, a África do A entrada do museu recria uma situação muito comum na
época do regime: o estabelecimento de uma entrada para
Sul acabou definitivamente com a política de segregação do apartheid. negros e outra para brancos.
JOHN TLUMACKI/THE BOSTON GLOBE/GETTY IMAGES

Nelson Mandela
foi de líder na
luta contra o
apartheid a
presidente da
África do Sul
(1994-1999).
Em 1993,
ganhou o
prêmio Nobel
da Paz. Na
imagem ao
lado, painel
pintado em
uma parede
em Boston,
nos Estados
Unidos, com
representação
do rosto do
ex-presidente
sul-africano,
que morreu
em 2013.
África

477
SITUAÇÃO-PROBLEMA

China e os novos investimentos na África: “Na lista de importações também estão o algodão bruto do
neocolonialismo ou mudanças oeste do continente, além de cobalto, cobre, minério de ferro
na arquitetura global? e platina. Além disso, há casos de arrendamentos de terras no
leste para a produção de alimentos”, acrescenta Broom.
Ao se observar um mapa comum do continente africa-
no, observam-se linhas de fronteiras extremamente retas, em Efeitos colaterais
uma categoria claramente matemática. O motivo óbvio para A grande diferença dos investimentos chineses, apontam
tal disposição é justamente a divisão imposta pela Europa, os especialistas, está justamente em certas particularidades
no século XVIII e XIX, ao estabelecer suas colônias e áreas ainda difíceis de serem calculadas. Em primeiro lugar, Pe-
de influência. quim não atrela nenhuma prerrogativa para efetuar tais ações.
Atualmente, as penetrações no Continente Negro são Enquanto países ocidentais – e até mesmo órgãos multinacio-
menos claras e as demarcações menos fáceis de serem calcu- nais, como o FMI e o Banco Mundial – exigem que as nações
ladas. Contudo, é notável a crescente participação da China cumpram pré-requisitos em pontos como direitos humanos
nos países da região, que vem causando receio em especia- e participação privada, Pequim, por outro lado, não cita tais
listas na área. questões.
A China tem uma história bastante vasta de envolvimento “Isso provoca receios em certas regiões. Pode ser consi-
com a África, que remonta aos primórdios dos movimentos de derado um sinal para que ditadores continuem suas ações,
independência na década de 1960. Nesse período, Pequim se porque sempre haverá investimento de algum lugar”, afirma
limitou a influenciar através da diplomacia – com poucos in- Elisabeth Montmerry, especialista em Direitos Humanos da
vestimentos diretos. Universidade de Gotland, na Suécia.
Contudo, o investimento decolou na década de 1990, atre- Outro ponto interessante é a venda e compra de grandes
lado ao crescimento vertiginoso da China e sua crescente de- somas de terras. No sul da Etiópia, por exemplo, há casos
manda por commodities, principalmente petróleo. em que Pequim arrendou grandes áreas e as cercou. Por se
“O interesse maior na África está nas fontes de energia, tratar de países instáveis e com governos ainda não consolida-
devido à dificuldade de acesso ao petróleo do Oriente Mé- dos, teme-se que tais zonas tornem-se literalmente protetora-
dio, destinado prioritariamente ao Ocidente”, afirma Gustav dos. “Não há aparelhos jurídicos para se esclarecer realmen-
Broom, especialista em Segurança Energética. te quais são as intenções e direitos nesses pontos”, conclui
No campo do “ouro negro”, Pequim mantém estreitas Montmerry.
ligações com inúmeros países africanos, muitos com siste- Com o crescimento apontado nos últimos anos pela
máticos problemas relacionados [...] aos direitos humanos. China e os indicadores de que vai demandar cada vez mais
O Sudão, por exemplo, foi financiado na década de 1990 para commodities, é de se esperar que os investimentos em ter-
expandir sua indústria petroleira, atualmente com uma recei- ritório africano cresçam substancialmente. “Podemos estar
ta de quase US$ 2 bilhões por ano – metade para a China. presenciando o surgimento de novas relações comerciais
Na Nigéria, a potência asiática colocou US$ 2,7 bilhões na com- estratégicas que excluem totalmente o Ocidente”, aponta
pra dos direitos de exploração. Por sua vez, Angola, que é atual- Broom.
BRANCOLI, F. China e os novos investimentos na África: neocolonialismo ou
mente a maior fornecedora de petróleo para a China, recebeu mudanças na arquitetura global? Opinião & Notícia, 27 abr. 2010. Disponível em:
investimentos que passam os US$ 2 bilhões nos últimos 5 anos. <http://opiniaoenoticia.com.br/economia/negocios/china-e-os-novos-investimentos-na-
africa-neocolonialismo-ou-mudancas-na-arquitetura-global>. Acesso em: 30 jan. 2017.
Recentemente, a revista Economist publicou uma lista
que demonstra que quatro dos dez maiores exportadores de O pujante crescimento econômico da China nos últi-
óleo bruto para a China se encontram na África – o conti- mos trinta anos implicou forte aumento da demanda por
nente já corresponde a 30% de todo o petróleo importado produtos primários, de maneira que o país, segundo maior
por Pequim. PIB do mundo, conseguisse suprir suas necessidades.

478
Nesse contexto, a África vem se destacando como fornecedora de produtos básicos para a potência asiática, que
continua em acelerado processo de industrialização. Veja o gráfico abaixo.

África: relações de importação e exportação com a China


Importação da África subsaariana proveniente da China Exportação da África subsaariana para a China

2009 2009
2008 2008
2007 2007
2006 2006
2005 2005
2004 2004
2003 2003
2002 2002

40 000 30 000 20 000 10 000 0 10 000 20 000 30 000 40 000 (em milhões
de dólares)

Matéria-prima, exceto combustíveis Bens industrializados

GEOGRAFIA
Combustíveis e lubrificantes Maquinaria e equipamentos de transporte
Produtos químicos Diversos

FONTE: Disponível em: <www.revista.vestibular.uerj.br/questao/questao-objetiva.php?seq_questao=1105>. Acesso em: 20 mar. 2017.

Além disso, com base na leitura da reportagem, percebemos a maciça presença do capital chinês, aplicado até na aqui-
sição de vastas terras no continente africano. No entanto, será que esses volumosos investimentos seriam capazes de trans-
formar alguns países africanos em protetorados? O termo protetorado remete à circunstância em que determinado espaço

M—dulo 23
é colocado sob a autoridade de algum Estado. Independentemente da resposta que possa ser dada a esse questionamento,
o mais importante é ter em mente que a África é hoje uma das principais fronteiras econômicas do mundo, com disponibi-
lidade de recursos fundamentais para dar continuidade à expansão capitalista, como mão de obra barata, baixos custos de
produção – por exemplo, terrenos baratos –, disponibilidade de matéria-prima, mercado consumidor em crescimento, entre
outros.

PARA CONCLUIR

Neste módulo vimos que a África possui uma paisagem natural complexa, formada por um relevo
predominantemente desgastado, mas com grandes altitudes, além de uma série de vegetações
e climas que também aparecem ao norte e ao sul da porção central do continente. Observamos a
enorme diversidade étnica encontrada na região, que, embora tenha sofrido perdas imensuráveis
com o neocolonialismo europeu, guarda infinitas riquezas culturais.
Conhecemos também os principais grupos de africanos que vieram para o Brasil como escraviza-
dos, assim como sua contribuição para a formação da matriz cultural brasileira.
Por fim, fizemos um retrospecto do papel assumido pela África na Guerra Fria – palco de conflitos
que alimentavam a disputa ideológica e econômica das potências da época – e nos aprofunda-
mos nos desafios que o continente enfrenta em tempos de globalização.
África

479
PRATICANDO O APRENDIZADO
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

1. (IFRS – Adaptada) Observe o mapa abaixo: e) nasce no interior do continente africano e corre na di-
reção norte, desaguando no mar Mediterrâneo.

3. (FGV-SP) A África tem sido palco de inúmeros problemas


Trópico de Câncer sociais e econômicos nos últimos anos. Observe o mapa
a seguir.

Trópico de Câncer 4

Equador

OCEANO
OCEANO ÍNDICO 1 2
ATLÂNTICO

Equador
3
1 3 OCEANO
4 2 OCEANO ÍNDICO
Trópico de Capricórnio
ATLÂNTICO
N

0 930
5
km
Trópico de Capricórnio
N
FONTE: GARCIA, H. C.; CARAVELO, T. M. Geografia geral. Scipione.

0 1060 5
O país que está indicado pelo número 5 é: km

a) a Botsuana.
A respeito das áreas assinaladas no mapa, é correto afir-
b) o Marrocos.
mar que:
c) a África do Sul.
a) a área 1 indica os países Guiné, Serra Leoa e Libé-
d) o Moçambique. ria, onde o surto do ebola continua a se proliferar de
e) o Quênia. maneira alarmante, colocando, segundo a OMS, um
sério risco para a segurança sanitária global.
2. (Ceeteps-SP) O filme Montanhas da Lua é muito especial b) a área 2 assinala a Nigéria, o país mais populoso da
para os geógrafos, pois retrata o surgimento da ciência África, onde encontra-se a maior população muçul-
geográfica, a serviço do Império Britânico. Essa obra narra mana em guerra, lutando pelo separatismo entre su-
a saga de Sir Richard Burton e John Speke na busca pela nitas e xiitas.
nascente do rio Nilo, na África, em meados do século XIX.
c) a área 3 indica o país República Democrática do Con-
Sobre esse rio, é correto afirmar que ele:
go, onde, durante a guerra, teve origem a doença
a) corta o continente africano de leste a oeste e tem sua ebola, a partir de morcegos frugíveros encontrados
nascente no monte Kilimanjaro. nas cavernas do deserto do Calaari.
b) nasce no coração da África Tropical e corre na direção d) a área 4 assinala o Egito, onde a queda do governo do
leste, desaguando no oceano Índico. Hamas provocou a expansão rápida do califado Isis.
c) corta o deserto do Saara no norte africano e corre na e) a área 5 indica a África do Sul, que apresenta IDH
direção sul, desaguando no oceano Pacífico. muito elevado, destacando-se pela crescente urba-
d) nasce no centro da África Equatorial e corre na dire- nização e pelo parque industrial, que permitiram sua
ção oeste, desaguando no oceano Atlântico. entrada no bloco da Aliança do Pacífico.

480
4. (IFCE – Adaptada) b) embora haja índices de extrema pobreza na África,
em virtude dos altos investimentos em industrialização,

REPRODU‚ÌO/IFCE 2014
a África tem recebido elevados índices de imigrantes
que originaram no continente africano diversas cida-
des globais.
c) na tentativa de superar os índices de extrema pobreza
e favorecer a distribuição mais equitativa de alimen-
tos, blocos econômicos africanos aparecem como
tentativas políticas que eliminaram os entraves que
impediam o desenvolvimento da industrialização.
d) o desenvolvimento industrial da África iniciou-se ain-
da quando o continente estava organizado em colô-
nias, por volta da década de 1930.
e) os chamados diamantes de sangue são estratégias
A charge acima traz uma reflexão acerca de várias ques- que buscam eliminar a pobreza e a miséria da África a
tões, como a inclusão e a exclusão social, o consumismo partir da exploração dos recursos minerais.
e a democracia, e nos permite relacioná-la à realidade
do continente africano. 5. (IFSP) Em setembro de 2013, o Painel Intergoverna-

GEOGRAFIA
O continente africano foi integrado no sistema internacio- mental de Mudança Climática (IPCC, na sigla em in-
nal de comércio e colonização desde o século XV. Foi uma in- glês) lançou um novo relatório sobre o aquecimento
tegração dolorosa, imposta pela força e com sangue: o sangue global. O relatório apresenta projeções sobre o futuro
da terra, que produzia tantas especiarias e riquezas cobiçadas; do planeta e destaca que é “extremamente provável”
o sangue de homens e mulheres, cujos corpos se dissolveram que o aquecimento observado desde a metade do sé-
como fermento nos processos produtivos, fazendo crescer a culo XX seja resultado da influência humana no clima.

Módulo 23
civilização capitalista. É consenso entre os especialistas que as áreas mais po-
MARTINEZ, Paulo. África e Brasil: uma ponte sobre o Atlântico. bres do planeta serão mais atingidas pelas mudanças
climáticas em função das carências tecnológicas. Uma
Sobre o processo de desenvolvimento do continente das áreas costumeiramente apontadas é:
africano, é correto afirmar-se que:
a) a África Subsaariana.
a) a África do Sul é a exceção à extrema pobreza e misé-
b) o nordeste da Ásia.
ria em toda a África Subsaariana, uma vez que atingiu
c) o oeste da América Latina.
certo grau de desenvolvimento industrial e moderni-
zação devido à grande quantidade de ferro, ouro e d) a Ásia oriental.
pedras preciosas que seu território possui. e) o sul da América do Sul.

DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. (ESPM-SP) Observe o texto. A “transformação” mencionada pelo autor refere-se:


C3
H11 Uma nova expressão começa a ganhar curso nos círculos a) ao estreitamento dos laços comerciais entre o Mer-
de estudos internacionais – o novo Atlântico. Trata-se do re- cosul e a União Europeia, uma vez que o potencial
econômico sul-americano sempre foi negligenciado
conhecimento, ainda por vezes incipiente, de que o Atlântico
pelos europeus.
Sul passa por notável transformação.
África

ABDENUR, Roberto. Folha de S.Paulo, 21 mar. 2012.

481
b) à ascensão econômica da China, país este pertencen- pela implantação de sistemas de irrigação facilitados
te, tal qual o Brasil, ao grupo dos Brics e principal par- pelo afloramento de nascentes subterrâneas.
ceiro comercial brasileiro. e) ao território dos bantustões, onde a fome atinge níveis
c) ao processo de integração sul-americana e aos novos alarmantes, ocasionada por secas periódicas. Essa re-
laços comerciais verificados com a África. gião se notabiliza também por várias situações de ins-
d) ao aumento do comércio interno na vertente ociden- tabilidade política e problemas causados pela migração
tal americana. de milhares de refugiados, vindos da África Oriental.
e) à revitalização da Otan, formada por Estados Unidos,
3. (Unioeste-SC – Adaptada) Sobre a África Subsaariana,
Canadá e países europeus.
C4 sabe-se que:
H18

2. (UPE) Observe o mapa a seguir. a) Entre as origens das suas estruturas econômicas en-
C2 contra-se a divisão internacional do trabalho, configu-
H6
rada no século XIX, que se destinava a atender às ne-
cessidades de matérias-primas e gêneros tropicais dos
Trópico de Câncer
mercados consumidores dos países industrializados.
b) Distingue-se pela importância das exportações de mi-
nerais metálicos, com destaque para o Egito.
c) O petróleo sustenta diversas destas economias ex-
Equador
portadoras, sendo a Argélia, no Golfo da Guiné, o
OCEANO
OCEANO ÍNDICO maior produtor do continente.
ATLÂNTICO
d) No Sahel, é possível a prática da agricultura sem o
auxílio de irrigação, pois as chuvas propiciam o de-
N Trópico de Capricórnio
senvolvimento de uma vegetação arbustiva.
0 1 240

km
e) As lutas étnicas, constantes no passado, deixaram de
FONTE: Extra’do de: <www.eatig2008.wordpress.com>. Adaptado. preocupar organismos internacionais por terem sido
apaziguadas recentemente.
A faixa destacada, apontada pela seta, corresponde cor-
retamente: 4. (UPE) Populações inteiras são, às vezes, expulsas de seus
C2 territórios. Esses povos sem território ficam acuados e
a) ao território conhecido como Sahel, que possui bai- H7
privados de seus direitos de cidadania e passam a viver
xos índices pluviométricos anuais, com incidência de
em condições extremamente precárias. Exemplifica esse
secas e causas estruturais de crise alimentar, desnu-
fato a guerra entre as etnias hutu e tútsi, que provocou
trição de centenas de milhares de crianças, além de
aproximadamente meio milhão de refugiados. Essa des-
diversos conflitos religiosos e étnicos.
territorialização aconteceu na (no, em):
b) ao polo mais desenvolvido da economia da África.
a) Croácia.
Está caracterizado atualmente como uma “zona em
crise” e passou a ser chamado de Frost Belt pelo fato b) Eritreia.
de uma parte de sua agroindústria não ter acompa- c) Azerbaijão.
nhado o desenvolvimento tecnológico. d) Afeganistão.
c) ao deserto do Kalahari, caracterizado pelo baixo grau e) Ruanda.
de ocupação humana e pelos aspectos culturais bas-
tante heterogêneos, com dialetos e costumes oriun- 5. (PUC-RJ) A partir de uma nova Constituição, promulga-
dos das diversas nações africanas e intensos conflitos C2 da em 1997, a África do Sul vem passando por profun-
H6
armados entre grupos inter-raciais e religiosos. das mudanças. O país viveu décadas sob o regime do
d) à região do Saara Ocidental que possui médias plu- Apartheid, o qual pode ser revelado no mapa a seguir
viométricas bastante baixas e está localizada nas lati- pela presença dos bantustões destinados, segundo essa
tudes próximas ao Equador. Essa área se caracteriza ideologia, a conceder um país a cada etnia.

482
ZIM a) uma longa desestruturação social e econômica, resul-
Trópico de Capricórnio
BOTSUANA MOÇ
tante da colonização europeia nos séculos XV ao XIX,
NAMÍBIA
que marcou o continente com guerras civis e conflitos
TRANSVAAL étnicos e religiosos.
SUA
b) a existência de fronteiras artificiais impostas pelos
ESTADO LIVRE
DE ORANGE
NATAL
países colonizadores europeus (Conferência de Ber-
LESOTO
lim 1884-1885), que não levaram em conta os territó-
30º S
PROVÍNCIA DO CABO
rios das tribos e das etnias nativas.
N c) um processo de descolonização na segunda metade
0 300 do século XX que não alterou o papel da África na
km divisão internacional do trabalho: seus países conti-
A representação cartográfica apresentada indica que os nuaram como fornecedores de produtos primários.
mapas são: d) uma das mais elevadas taxas de crescimento apre-
a) cópias fiéis da realidade, informando sobre processos sentadas pela África, entre as regiões que compõem
o mapa do Banco Mundial, na primeira metade da
e fenômenos com precisão.
década de 2000. Embora seja um crescimento ainda
b) transcrições de fotografias aéreas, reproduzindo o es- desigual, é indicador de gradativa entrada do conti-
paço revelado nas imagens. nente no mapa do capitalismo organizado.

GEOGRAFIA
c) reproduções da realidade, apresentando isenção de e) a entrada do continente no mapa do capitalismo
influências ideológicas ou políticas. globalizado, tirando-o da exclusão, que se deve em
d) abstrações da realidade, podendo revelar as ideolo- grande parte ao crescente interesse da China. Esse
gias de um grupo ou de uma época. país, em troca de financiamentos e acordos comer-
e) documentos oficiais, fornecendo informações deta- ciais, não impõe nenhuma contrapartida para a reali-
zação de seus investimentos.
lhadas sobre o governo.

Módulo 23
6. (Ufpel-RS) Observe o quadro apresentado a seguir. 7. (UFPE) O continente africano possui inúmeras caracterís-
C2 ticas semelhantes às observadas no Brasil, sobretudo no
C2 H6
H6
Taxa de crescimento do PIB na África Subsaariana que se refere às características naturais. Por exemplo, a
(média anual em %) área escura no mapa a seguir apresenta um tipo climático
Países selecionados 1980-1990 1990-2000 2000-2005 encontrado numa das regiões brasileiras e denominado:
Angola 3,5 1,6 9,1
Moçambique 20,1 6,4 8,6
Sudão 2,3 5,4 6,1 Trópico de Câncer

Nigéria 1,6 2,5 5,9


Ruanda 2,2 20,3 4,9
* República
1,6 24,9 4,4
Democrática do Congo Equador
África do Sul 1,0 2,1 3,7 OCEANO
República OCEANO ÍNDICO
1,4 2,0 21,4 ATLÂNTICO
Centro-Africana
Zimbábue 3,6 2,1 26,1
Trópico de Capricórnio
*Em 1997, após a morte de Mobutu Sese Seko [ex-presidente do Zaire], o Zaire passou a se
0 1 240 N
chamar República Democrática do Congo.
FONTE: World Bank. World Development indicators 2005 e 2006; World Development report 2007. km

Para crescer no processo de globalização, é necessá-


rio que o país “candidato” preencha certos requisitos a) clima subtropical.
obrigatórios: são necessários recursos técnicos, econô- b) clima subtropical de altitude.
micos, sociais, políticos e culturais. Assim, há países que
c) clima temperado.
ficam fora desse processo de crescimento.
É correto afirmar que são características do continente d) clima equatorial.
África

africano, no contexto histórico da globalização, exceto: e) clima semiárido.

483
8. (ESPM-SP) Observe a imagem e o mapa. a) o fortalecimento da ajuda financeira e militar dos Es-
C2 tados Unidos aos seus antigos aliados no continente.

REPRODUÇÃO/ESPM 2007
H7

b) o término dos conflitos de origem tribal no continen-


te, pois as grandes potências deixam de interferir no
processo.
c) o fortalecimento da ajuda financeira e militar da Rús-
sia aos seus antigos aliados no continente.
d) o agravamento dos conflitos de origem tribal e terri-
torial no continente.
I. da Madeira (POR)

Is. Canárias (ESP)


MARROCOS TUNÍSIA Mar Mediterrâneo e) o fortalecimento da economia dos países do continen-
te, em função do aumento da ajuda financeira externa.

Go
ARGÉLIA o

lf
SAARA LÍBIA EGITO Pé
rsic o

M
OCIDENTAL
Trópico de Câncer
ar
Ve
MAURITÂNIA

mr
NÍGER elh
SENEGAL
GÂMBIA
MALI
CHADE
SUDÃO
ERITREIA o
den
10. (PUC-SP) Observe o mapa a seguir:
BURKINA eÁ
GUINÉ od
DJIBUTI Golf
BENIN

GUINÉ- COSTA
C2
GANA
TOGO

-BISSAU DO NIGÉRIA
REP. ETIÓPIA
SERRA MARFIM CENTRO-AFRICANA
H6
LEOA LIBÉRIA CAMARÕES
GUINÉ EQUATORIAL SOMÁLIA

Equador Golfo da Guiné

SÃO TOMÉ E
GABÃO
R.P.
UGANDA

QUÊNIA
A frágil democracia da África
RUANDA
PRÍNCIPE CONGO REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA BURUNDI
I. Ascensão (RUN) DO CONGO OCEANO
CABINDA
TANZÂNIA
ÍNDICO
OCEANO Trópico
COMORES
de Câncer
ANGOLA
ATLÂNTICO MALAUÍ
ZÂMBIA
ue
E

biq
QU

I. Santa Helena (RUN)


am
BI

ZIMBÁBUE
AM

NAMÍBIA MADAGASCAR
eM

BOTSUANA
M

ld

rnio
Trópico de Capricó Processo democrático
na
Ca

N
insuficientemente
SUAZILÂNDIA
ÁFRICA respeitado
DO SUL LESOTO
0 1280
Democracia de fachada
Cabo da
Boa Esperança ou regime semi- Equador
km -autoritário
Processo democrático
OCEANO
interrompido por um OCEANO ÍNDICO
Sobre a atual conjuntura africana, indique a alternativa golpe de Estado ATLÂNTICO
Processo democrático N
mais pertinente: impossível (conflito
territorial, guerra civil, Trópico de Capricórnio

a) A razão pelo quadro generalizado de fome deve-se Estados decadentes que 0 1460
controlam apenas uma
ao hostil quadro natural do continente. parte do território) km

FONTE: REKACEWIOZ, Phillippe. Le Monde, maio 2000.


b) O traçado das fronteiras, herdado do período colo-
nial, é um dos fatores responsáveis pelos conflitos Como se observa, há uma situação geral, no continente
que abatem o continente e agravam a miséria.
africano, de instabilidade democrática. Sobre esse qua-
c) O retorno dos escravos liberianos da América provo- dro, é correto afirmar que:
cou o atual cenário beligerante e socialmente degra-
a) uma das causas dessa situação é a ineficácia do regime
dante na África.
democrático para organizar a vida em países pobres.
d) A inserção da África na globalização nos anos 1990
agravou o quadro social e econômico do continente, b) a democracia não se organiza no continente africa-
uma vez que, até então, o continente estava isento no, mesmo com a substancial ajuda financeira e apoio
dos violentos conflitos vigentes nos dias atuais. tecnológico dos ex-países colonizadores.
e) O pleno esgotamento das riquezas minerais africanas, c) uma das causas dessa situação é a herança colonial
verificado nos dias atuais, fez com que as potências que legou à África fronteiras políticas que dividiram
se desinteressassem do continente, motivo que agra- diferentes nações e grupos étnicos africanos.
vou o quadro socioeconômico nos países da África d) a resistência das sociedades africanas em se incorpo-
Subsaariana. rar ao processo de globalização é a grande responsá-
9. (Cefet-CE) O fim da Guerra Fria – clima de tensão políti- vel pela fragilidade democrática.
C2 ca e militar entre as duas superpotências no pós-guerra e) a descolonização tardia não é um fator da crise de-
H7
– provocou transformações geopolíticas na África, entre mocrática, pois a longa permanência do colonizador
as quais se pode destacar: ampliou o tempo de contato com a democracia.

484
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Uerj) 50 bilhões de dólares a ajuda humanitária para o continen-


te africano. Sobre essa ajuda, leia o depoimento a seguir:
Quinze anos depois do genocídio que vitimou mais de
800 mil pessoas, visitar Ruanda ainda é uma espécie de jogo Se os países ricos e a ONU continuarem a agir como
de adivinhação – a cada rosto que passa tenta-se descobrir babás, os africanos se tornarão uns inúteis que não sabem
quem foi vítima e quem foi algoz na tragédia de 1994. O go- fazer nada.
verno do país recorre à união do povo. O censo e as cartei- SHIKWATI, James – economista queniano.
Veja. edição 1917, ano 38, n. 32, 10 ago. 2005.
ras de identidade étnicas não existem mais, todos agora são
apenas considerados ruandeses. O esforço do presidente Paul Essas informações e os conhecimentos sobre a África
Kagame em evitar um novo conflito é tão grande que chamar permitem afirmar que:
alguém de “tútsi” ou “hutu” de maneira ofensiva é crime, com a) o depoimento do economista queniano reflete os
pena que pode chegar a 14 anos. problemas do norte da África, mas, para a porção
REIS, Marta. subsaariana, a ajuda humanitária poderá ter reflexos

GEOGRAFIA
sociais imediatos.
A presença do trauma do genocídio é o principal proble-
b) os problemas socioeconômicos da África devem ser
ma social de Ruanda, maior inclusive que a pobreza. Tratar
resolvidos a partir de políticas nacionais que promo-
esse trauma coletivo devia ser prioridade número um, e não
vam o crescimento econômico e a distribuição da ri-
transformá-lo num tabu. A política do governo é a do esque-
queza interna.
cimento por lei, por obrigação. Errada é a vitimização do
genocídio, pois existe uma história de conflitos anterior e c) a decisão do G7 é coerente com as necessidades de

M—dulo 23
retomar o crescimento econômico africano; o depoi-
posterior ao massacre.
GAGLIATO, Marcio.
mento do queniano revela-se contrário ao processo
de globalização.
A polêmica sobre os efeitos do genocídio de Ruanda, d) a decisão atual repete a história, pois ao final dos
ocorrido em 1994, aponta para contradições dos pro- anos de 1960, a Aliança para o Progresso, desenvolvi-
cessos de constituição de Estados nacionais na África da pelos Estados Unidos, tinha os mesmos objetivos
contemporânea. humanitários, só que destinados à América Latina.
Com base na análise dos textos, a resolução dessas con- e) o depoimento do queniano ignora o fato de que, se a
tradições estaria relacionada à adoção das seguintes decisão do G7 estivesse relacionada a investimentos
medidas: financeiros, estes atenderiam grande parte da popu-
a) conciliação político-religiosa – afirmação das identi- lação, o que reduziria a desigualdade existente.
dades locais
b) punição das diferenças culturais – unificação da me- 3. (PUC-PR) Segundo reportagem do jornal Folha de
mória nacional S.Paulo (9 de outubro de 2005), a Copa do Mundo de
Futebol de 2006, que será sediada na Alemanha, ainda
c) denúncia da dominação colonial – integração ao
não tem todas as suas seleções nacionais classificadas.
mundo globalizado
Contudo, já é a competição com o maior número de es-
d) reforço do pertencimento nacional – revisão das he- treantes, desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
ranças da descolonização Entre esses países que debutam na Copa do Mundo de
Futebol, estão alguns países africanos, como a Angola,
2. (FGV-SP) No mês de julho de 2005, o grupo dos 7 paí- Costa do Marfim, Togo e Gana. Os três últimos estão
ses mais ricos do mundo concordou em aumentar para destacados no mapa a seguir:
África

485
5. (FGV-SP) Sobretudo a partir da década de 60, o conti-
nente africano tem passado por um processo de desco-
lonização, isto é, de independência política formal, que:
Trópico de Câncer
a) tem permitido às jovens nações superar o atraso econô-
mico motivado pela exploração das antigas metrópoles.
b) desacompanhado da respectiva independência eco-
nômica e financeira, não conseguiu alterar de forma
Equador
efetiva as precárias condições de vida da população.
OCEANO
OCEANO ÍNDICO
c) reestruturou economicamente as novas nações, uma
ATLÂNTICO
vez que elas deixaram de produzir para os mercados
externos e voltaram-se para as necessidades da po-
Trópico de Capricórnio
pulação local.
N
d) alterou sensivelmente o papel das antigas colônias na
0 1 260
divisão internacional do trabalho, uma vez que estas
km
passaram a ter autonomia econômica.
FONTE: Extraído de: <www.bibliosoft.pt>. Adaptado.
e) possibilitou a superação das relações de subordina-
Os países destacados estão situados numa região do
ção econômica das antigas colônias através do de-
continente denominada:
senvolvimento de atividades industriais modernas.
a) Grande Vale da África Oriental.
b) Golfo da Guiné. 6. (UFG-GO – Adaptada) Analise o mapa apresentado a
c) Chifre da África. seguir.
d) Desertos e semidesertos da África Meridional.
e) Países do Magreb.

4. (UFG-GO) O surgimento do capitalismo global, nas dé- Trópico de Câncer

cadas de 1970, 1980 e 1990, coincidiu com o colapso das


economias africanas paralelamente à dissolução da maio-
ria de suas comunidades. A dinâmica socioeconômica, na
África subsaariana, originou a exclusão de uma parcela
Equador
significativa da população. Esta dinâmica foi resultado: OCEANO
OCEANO ÍNDICO
a) de investimentos na produção de commodities, como
ATLÂNTICO
a soja, a partir da década de 1970, em detrimento da
produção de produtos básicos para a população.
Trópico de Capricórnio
b) da estagnação da renda familiar da classe média, nas
décadas de 1970 e 1980, diminuindo o consumo e os
N
rendimentos reais dos trabalhadores.
0 1 260
c) da instalação de ditaduras nacionalistas com projetos
km
de industrialização à custa de endividamento externo,
FONTE: Disponível em: <www.luventicus.org/mapaspt.html>.
gerando crise nos anos de 1980. Acesso em: 10 out. 2011. Adaptado.

d) da disseminação da aids nas minorias, provocando Nos últimos anos, o continente africano tem convivido
perda de profissionais qualificados e obrigando os com situações extremas: guerras civis e pobreza na par-
governos a investirem recursos no sistema de saúde te Norte, e um relativo desenvolvimento no Sul. Na re-
pública. gião denominada Sahel, contudo, suas características fí-
e) da desintegração do Estado, provocando a desorga- sicas impõem dificuldades à produção agrícola, além de
nização da produção e o depauperamento das condi- situá-la em condições de extrema pobreza e com graves
ções de vida da população. conflitos étnicos.

486
Tendo em vista o exposto: 8. (Uerj)
a) cite duas características fisiográficas da região.
A região do Sahel corresponde à borda do deserto do Saara, na Distribuição espacial da população africana
África. Apresenta clima semiárido com vegetação de savana
espinhenta, composta de plantas xerófilas, adaptadas à estação
Cairo
seca prolongada. O relevo é marcado por depressões e baixos B
Trópico de Câncer
planaltos. O solo é pouco desenvolvido. A região é atingida pelo
processo de desertificação causado pelo desmatamento e pelo
Cartum
uso incorreto do solo para a pecuária extensiva e a agricultura.

Lagos

Equador
A
b) indique três países que estão incluídos na região do
Kinshasa OCEANO
Sahel. ÍNDICO
OCEANO
São exemplos de países que estão na faixa do Sahel: Somália, ATLÂNTICO

Etiópia e Sudão. Outras opções: Mauritânia, Senegal, Burkina


Fasso, Níger, Nigéria, Chade e Djibuti. Cada ponto representa
500 000 habitantes
Trópico de Capricórni
o

GEOGRAFIA
Aglomeração de mais de N
5 milhões de habitantes Johannesburgo
7. (UFRJ) Grande foco de 0 980
povoamento
km
As três faces marítimas da África
FONTE: ADOUMIÉ, Vincent (Org.). Historie-Géographie 5e. Paris: Hachette Éducation, 2006.

O continente africano se abre a leste para o oceano Ín-


dico, a oeste para o oceano Atlântico e ao norte para Identifique e caracterize as principais atividades econô-
o mar Mediterrâneo, o que possibilitou no passado – e micas que ajudam a explicar as densidades demográfi-
cas das áreas A e B do mapa.

M—dulo 23
continua a permitir no presente – a formação das mais
diversas redes de relações culturais, econômicas e mi- O mapa representa a distribuição espacial da população no continente
gratórias com diferentes partes do mundo. No passado, africano. Dois grandes focos de povoamento estão indicados no
pelo oceano Índico, indianos exploravam rotas comer- mapa: a área A, localizada na costa oeste do continente africano e
ciais anos antes dos europeus; pelo Atlântico, o oeste banhada pelo oceano Atlântico, cuja maior densidade demográfica
africano foi fonte importante para o tráfico negreiro. Mas encontra-se na cidade de Lagos, tem como principal atividade
foi por meio do mar Mediterrâneo que as redes de rela- econômica as plantations ou agricultura tropical: em razão da baixa
ções sempre foram mais intensas e conflituosas.
produtividade, essa atividade, introduzida pelos europeus, demanda

Descreva dois tipos atuais de relações entre a África e a grande quantidade de mão de obra assalariada, resultando em

Europa, um de natureza conflituosa, outro de natureza grandes concentrações populacionais; a área B, localizada no norte da
não conflituosa. África, ao longo do rio Nilo, cuja maior densidade demográfica
As relações de natureza conflituosa entre Europa e África resultam, encontra-se na cidade do Cairo, tem como atividade econômica
principalmente, do crescimento lento das economias europeias e da predominante a agricultura de várzea: o regime de cheias do rio Nilo e
redução dos postos de trabalho, que estão levando ao aumento das a fertilização sazonal dos solos de várzea atraem grande quantidade
restrições para o ingresso de população de origem africana na de trabalhadores envolvidos com uma agricultura tradicional, de
Europa, o que favorece a eclosão de conflitos étnicos e religiosos e origem milenar, que demanda muita mão de obra.
o recrudescimento da intolerância com relação aos imigrantes e a
seus descendentes. Quanto às relações de natureza não conflituosa
encontram-se: o comércio complementar de alimentos e bens
industriais; o amplo espectro de trocas culturais; a modernização
tecnológica da agricultura norte-africana por europeus; o investimento
europeu na indústria turística africana.
África

487
9. (Unicamp-SP) Considerando a tabela a seguir, responda b) Compare os casos de mortes decorrentes da aids em
às questões. relação à população infectada na África subsaariana e
na Europa ocidental/central. Aponte pelo menos uma
Infectados com aids por região geográfica do mundo razão da diferença encontrada.
(2005)
A Europa ocidental/central possui maior desenvolvimento
Novas Mortes de socioeconômico, médico-hospitalar e cultural que a África
infecções adultos e
Crianças e subsaariana. Além disso, na Europa ocidental/central há um
Região de aids em crianças
adultos com
geográfica adultos e decorrentes investimento em campanhas educativas preventivas, que, aliadas
aids
crianças da aids aos demais fatores, contribuem para explicar a diferença de casos
(ano) (ano)
entre essas duas regiões do planeta.
África subsaariana 24 700 000 2 800 000 2 100 000

África do norte e
460 000 68 000 36 000
Oriente Médio
Ásia meridional e
7 800 000 860 000 590 000
de sudeste

Ásia oriental 750 000 100 000 43 000 10. (UFMG) Leia estes dois trechos de reportagem e o co-
mentário que se segue a cada um deles:
Oceania 81 000 7 100 4 000
Trecho 1
América Latina 1 700 000 140 000 65 000
Número de refugiados é o maior em cinco anos. Segundo
Caribe 250 000 27 000 19 000 relatório de órgão da ONU, são 9,9 milhões, 14% a mais do
Europa oriental e que em 2005.
1 700 000 270 000 84 000 Folha de S.Paulo, 19 jun. 2007. p. A14. Adaptado.
Ásia central
Europa ocidental
740 000 22 000 12 000 Entre os primeiros países quanto à cifra de refugiados
e central
internacionais (*), encontra-se o Sudão, com 686 mil.
América do Norte 1 400 000 43 000 18 000
Acrescente-se a esse dado 1,3 milhão de indivíduos que
Total 39 500 000 4 300 000 2 900 000 se deslocaram internamente no país. Aos sudaneses,
seguem-se, imediatamente, em ordem decrescente, os
FONTE: Disponível em: <www.unaids.org>. Acesso em: 21 set. 2007. Adaptado.
somalis e os congoleses. Em Uganda, já há 1,6 milhão de
a) A África subsaariana apresenta os piores indicadores refugiados internos.
quanto a infectados e novos casos de aids. Quais as
(*) Não estão incluídos, nesse caso, os 4,3 milhões de
razões desses indicadores?
palestinos refugiados na região.
Entre os fatores que contribuem para esses indicadores,
podemos citar os socioeconômicos, uma vez que grande parte da Trecho 2
população sobrevive abaixo da linha de pobreza; os de ordem Alterações climáticas contribuíram para conflitos em
cultural, visto que grande parte da população vive em tribos em Darfur, diz estudo. Segundo a ONU, a raiz da guerra está na
que a poligamia é comum, os sistemas de saúde são pouco seca que varreu o país nos anos [19]80. [...] o aquecimento
eficientes, com precária rede médico-hospitalar, e a baixa global causará novas guerras em todo o mundo, disse Achim
escolaridade reduz a conscientização sobre as formas de Steiner, diretor-executivo do Pnuma, o Programa das Nações
contaminação e prevenção da doença desde a infância. Unidas para Meio Ambiente.
BLOOMFIELD, S. Folha de S.Paulo, 21 jun. 2007. p. A16. Adaptado.

Sabe-se que Darfur, região do Sudão/África, é palco


de uma das maiores tragédias humanas deste início de
século e que esse não é um caso isolado – vale lem-
brar, a propósito, os filmes Hotel Ruanda e Diamante
de sangue.

488
Considerando essas informações e outros conhecimen- b) explique por que o aquecimento global pode ser in-
tos sobre o assunto: cluído nas causas de focos de tensão e de migrações,
a) identifique duas causas de natureza socioeconômica tanto atuais quanto futuras, na África.
e/ou política responsáveis por esses conflitos e migra- A expansão de áreas desérticas no limite do Saara com a Savana,
ções forçadas que vêm ocorrendo na África. região do Sahel, em virtude da redução da pluviosidade, provoca o
Os conflitos tribais e a herança colonial causam forte instabilidade deslocamento de grupos populacionais de áreas degradadas para
política, o que acaba afastando os investimentos externos e outras ainda agricultáveis, provocando conflitos entre os
favorecendo o subdesenvolvimento. imigrantes e a população local.

GOTAS DE SABER

Religiões afro-brasileiras, uma questão filosófica

O juiz Eugenio Rosa de Araújo, da 17a Vara Federal do Rio de Janeiro, rejeitou a retirada da internet
de 15 vídeos contra o candomblé e a umbanda, alegando que os cultos afro-brasileiros “não constituem
religião”, pois não se baseiam em apenas um livro nem têm apenas um deus. Os vídeos foram postados por

GEOGRAFIA
representantes de igrejas evangélicas. No artigo abaixo, o escritor Nei Lopes explica os fundamentos dos
cultos de origem africana e seu caráter religioso.
Em junho de 1993, a Suprema Corte dos Es-

JOSÉ MEDEIROS/ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES


tados Unidos garantiu aos praticantes de cultos de
origem africana o direito de sacrificar animais em
suas cerimônias religiosas. Esse relevante fato his-

Módulo 23
tórico deveu-se, certamente, à articulação das casas
de culto de origem cubana estabelecidas no país a
partir da década de 1950, as quais na década de
1970 já tinham, entre si, a Church of The Lukumi
Babalu Ayé, a qual se propunha, quando de sua
fundação, a ter sede, escola, centro cultural e mu-
seu, para sua comunidade e público em geral. Na
contramão de conquistas como essa, no Brasil atual
chega-se a negar aos cultos afro-originados até mes-
mo a condição de religiões.
Filosofia. Em 1949 era publicado em Paris o li-
vro La philosophie bantoue, obra em que o padre Ritual de iniciação de uma filha de santo.
Placide Tempels dava a conhecer o resultado de Bahia, Brasil, 1951. Fotografia de José Medeiros.
suas pesquisas de campo realizadas no então Congo Belga. Contrariando toda uma concepção pre-
conceituosamente negativa a respeito do pensamento dos povos africanos, o livro revelava a exis-
tência, entre os pesquisados, de uma filosofia baseada na hierarquia das forças vitais do Universo, a
partir de uma Força Superior. Assim, quanto aos seres humanos, aprendia o missionário, entre outros
postulados, que todo ser humano constitui um elo vivo na cadeia das forças vitais: um elo ativo e pas-
sivo, ligado em cima aos elos de sua linhagem ascendente e sustentando, abaixo de si, a linhagem de
sua descendência. Consoante a esses princípios, todos os seres, vivos ou mortos, se inter-relacionam
e influenciam. E a influência da ação de forças tendentes a diminuir a energia vital se neutraliza atra-
vés de práticas que façam interagir harmonicamente todas as forças criadas e postas à disposição do
homem pela Força Suprema.
África

489
Meio século depois, outro missionário, o padre espanhol Raúl Ruiz Altuna, pesquisando a partir
de Angola, conseguia estabelecer outra hierarquia, traduzida nos seguintes ensinamentos:
A Força Suprema reconhecida pelo pensamento africano corresponde ao Ser Supremo das reli-
giões monoteístas. Criador do universo e fonte da vida, esse Ser infunde respeito e temor. Mas é tão
infinitamente superior e distante que não é cultuado, ou seja: não pode nem precisa ser agradado com
preces nem oferendas. Abaixo desse Ser situam-se, no sistema, seres imateriais livres e dotados de
inteligência, os quais podem ser gênios ou espíritos.
Os gênios são seres sem forma humana, protetores e guardiões de indivíduos, comunidades e
lugares, podendo temporariamente habitar nos lugares e comunidades que guardam, e também no
corpo das pessoas que protegem. Já os espíritos são almas de pessoas que tiveram vida terrena e, por
isso, são imaginados com forma humana. Podem ser almas de antigos chefes e heróis, ancestrais ilus-
tres e remotos da comunidade, ou antepassados próximos de uma família.
Ao contrário do Ser supremo, gênios e espíritos precisam ser cultuados, para que, felizes e satis-
feitos, garantam aos vivos saúde, paz, estabilidade e desenvolvimento. Pois é deles, também, a incum-
bência de levar até o Deus supremo as grandes questões dos seres humanos. Assim, já que contribuem
também para a ordem do Universo, eles devem sempre ser lembrados, acarinhados e satisfeitos, atra-
vés de práticas especiais. Essas práticas, que representam um culto em si, podem, quando simples,
ser realizadas pelo próprio interessado. Mas, quando complexas, devem ser orientadas e dirigidas por
um chefe de culto, um sacerdote.
Dentro dessas linhas gerais, segundo entendemos, foi que se desenvolveu a religiosidade africana
no Brasil e nas Américas.
Relevância. Os estudos dos padres Tempels e Altuna desenvolveram-se entre povos do grupo Banto,
do centro-sudoeste africano. Mas outros estudos, inclusive de sábios e cientistas nativos, nos deram
conta de que, embora as religiões negro-africanas tenham suas peculiaridades, todas elas comungam de
uma ideia central, a da inter-relação entre as forças vitais, sendo vivenciadas segundo princípios comuns.
Por conta dessas formulações, em 1950, no texto “Philosophie et religion des noirs” (revista
Présence Africaine, no especial 8-9), o antropólogo francês Marcel Griaule primeiro indagava se seria
possível aplicar as denominações “filosofia” e “religião” à vida interior, ao sistema de mundo, às rela-
ções com o invisível e ao comportamento dos negros. Perguntava-se, ainda, sobre a existência de uma
filosofia negra distinta da religião e de uma religião independente, de uma metafísica, enfim.
Ao final de sua indagação, o cientista afirmava a existência de uma verdadeira ontologia (parte da
filosofia que estuda a existência) negro-africana, concluindo pela antiguidade do pensamento nativo,
nivelando algumas de suas vertentes a concepções filosóficas asiáticas e da Antiguidade greco-roma-
na; e ressaltando a necessidade e a importância do estudo desse pensamento. Quatro décadas depois,
o já citado Altuna, fazendo eco a Griaule, afirmava: “Basta debruçarmo-nos sobre esse conjunto de
crenças e cultos para encontrar uma estrutura religiosa firme e digna”.
Definição. O termo “religião”, segundo N. Birbaum, referido no Dicionário de Ciências Sociais
publicado pela Fundação Getúlio Vargas, em 1986, define um conjunto de crenças, práticas e organi-
zação sistematizadas, compreendendo uma ideia que se manifesta no comportamento dos seguidores.
Daí aferimos que toda religião se define, em princípio, por um culto prestado a uma ou mais divinda-
des; pela crença no poder desses seres ou forças cultuados; e em uma liturgia, expressa no comporta-
mento ritual; e finalmente pela existência de uma hierarquia sacerdotal.
Pelo menos desde meados do século XIX, as religiões chegadas da África ao Brasil, apesar de todas
as condições adversas, conseguiram recriar, no novo ambiente, as crenças e as práticas rituais de sua
tradição ancestral, dentro dos princípios científicos que definem o que seja religião.

490
Na própria África já se distinguia, por exemplo, o feiticeiro (ndoki, entre os bantos), agente de
malefícios, do ritualista (mbanda ou nganga), manipulador das forças vitais em benefício da saúde, do
bem-estar e do equilíbrio social de sua comunidade. E no Brasil, como em outros países das Américas,
as diversas vertentes de culto chegaram a tal nível de organização que constituíram, de modo geral,
categorias sacerdotais altamente especializadas. Por exemplo, no candomblé: um babalorixá (“pai da-
quele que tem orixá”, e não “pai de santo”, como se traduziu derrogatoriamente) não tem a mesma
função de um “babalaô” (“pai do segredo”), responsável por interpretar as determinações do oráculo
Ifá. Uma equede (sacerdotisa que atende os orixás quando incorporados) não tem as mesmas funções
de uma iá-tebexê (a responsável pelos cânticos rituais). Da mesma forma que um axogum (sacrificador
ritual) não tem as mesmas funções de um alabê (músico litúrgico), por exemplo.
As religiões de matriz africana no Brasil, em suas várias vertentes, praticam uma liturgia com-
plexa, que compreendem rituais privados e públicos. Nas práticas privadas, todo ritual se inicia pela
invocação nominal dos ancestrais, remotos e próximos, dos fundadores do templo, em listas tão mais
longas quanto mais antigo for o “fundamento” da casa. Nas festas públicas, notadamente no chamado
candomblé jeje-nagô, oriundo da região africana do Golfo do Benin, as divindades (orixás ou voduns)
se manifestam numa ordem rigorosamente obedecida, da primeira à última a entrar na roda das dan-
ças. E por aí vamos.

GEOGRAFIA
Constitucionalidade. Não é o monoteísmo que caracteriza uma religião. Se assim fosse, as reli-
giões orientais como o hinduísmo, o taoísmo etc. não seriam como tal consideradas. Muito menos o
é a circunstância de as práticas religiosas serem ou não baseadas em textos escritos. A propósito, o
historiador nigeriano I.A. Akinjogbin, em artigo na coletânea Le concept de pouvoir em Afrique (Paris,
Unesco, 1981), assim se manifestou: “O conhecimento livresco tem um valor formal e importado,
enquanto o saber informal é adquirido pela experiência direta ou indireta. Os conhecimentos livrescos

M—dulo 23
não conferem sabedoria (…) O ensinamento tradicional deve estar unido à experiência e integrado à
vida, até porque há coisas que não podem ser explicadas, apenas experimentadas e vividas”.
Vejamos, em conclusão, que toda a tradição africana de culto aos orixás, da qual no Brasil se origi-
naram principalmente o candomblé da Bahia (nagô e jeje), o xangô pernambucano, o batuque gaúcho
e a umbanda fluminense, tem uma base filosófica. Esse fundamento é, em essência, o vasto conheci-
mento que emana da tradição iorubana de Ifá, o oráculo que tudo determina, em todos os momentos
da vida de uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma nação etc. Da tradição de Ifá é que
vêm, por exemplo, a origem dos orixás, sua mitologia, suas predileções, suas cores etc. O popular jogo
de búzios é uma forma simplificada de consulta ao oráculo.
Esse corpo de doutrina, compreendendo muitos milhares de parábolas, foi transmitido de geração
a geração entre os antigos babalaôs, na África e nas Américas. E nos tempos atuais, embora não unifi-
cado, já começa a ter circulação inclusive na internet.
Pois essa tradição remonta a muitos séculos; e sua história se conta a partir do momento em que
Oduduá, o grande ancestral dos iorubás, cuja presença histórica, no século XII d.C., é atestada cientifica-
mente (cf. A. F. Ryder, História Geral da África, Unesco/MEC/Ufscar, vol. IV, 2010, p. 389), após fundar a
antiga cidade de Ifé, enviou seus diversos filhos em várias direções, para fundar cada um o seu reino.
Mas esta é apenas uma parte da alentada e sábia tradição religiosa que os antigos africanos le-
garam ao Brasil. A qual, como um todo, goza da proteção constitucional do artigo 5o da Constituição
Federal, bem como daquela assim enunciada: “O Estado protegerá as manifestações das culturas
populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional” (art. 215, parágrafo 1o).
LOPES, Nei. Religiões afro-brasileiras, uma questão filosófica. Disponível em: <http://blogdoims.com.br/
religioes-afro-brasileiras-uma-questao-filosofica-por-nei-lopes>. Acesso em: 20 mar. 2017.
África

491
24
AmŽrica Latina

Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Eixos de integração da América do Sul
• Mercosul, Unasul, Alba, MCCA, Caricom e Pacto Andino
• A América Latina e a geopolítica atual

HABILIDADES
• H7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de
poder entre as nações.
• H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das organizações
políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
• Compreender os diferentes interesses geopolíticos que envolvem a região
latino-americana.
• Analisar os principais blocos econômicos sul-americanos.
• Analisar os eixos de integração da América do Sul propostos atualmente pela
Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA).

492
PARA COMEÇAR

O mundo não é simplesmente um conjunto de regiões atrasadas (pelo relógio de quem?) à espera
que chegue a modernização, como se o polo moderno (Europa) fosse o lado ativo e o resto do mundo
o lado passivo do devir histórico.
A Europa não se constituiria como polo hegemônico do mundo sem a América, insistimos. Nos
séculos XVI e XVII, por exemplo, não existia na Europa nenhuma manufatura que se comparasse às
existentes no Brasil (os engenhos de açúcar, por exemplo) e, assim, o desenvolvimento da manufatura
deveria ser buscado aqui mesmo na América e não na Europa como etnocentricamente se faz. Se
essas manufaturas não foram capazes de gerar sociedades mais justas e autossustentáveis não foi por
não ter um elevado nível de desenvolvimento tecnológico, mas sim pelo caráter colonial inerente à
modernidade que aqui se implantava.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A geograficidade do social: uma contribuição para o debate metodológico sobre estudos
de conflito e movimentos sociais na América Latina. In: SEOANE, José. Movimientos sociales y conflictos en América Latina.
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso), Buenos Aires, Argentina. Programa OSAL, 2003. p. 288.

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No texto acima, o professor e geógrafo Carlos Walter Porto- RD
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GEOGRAFIA
-Gonçalves chama a atenção para a necessidade de A/
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rompermos com o olhar eurocêntrico colonialista AR
E

N
que historicamente foi imposto ao mundo, incluin-

A
do os próprios povos latinos, que passaram a
enxergar sua região como atrasada e distante
dos grandes centros hegemônicos – primei-
ro Europa e, mais tarde, Estados Unidos. No

M—dulo 24
entanto, não existia nada de mais moderno
no século XVI que um engenho de açúcar,
como aqueles aqui encontrados.
Antes da chegada dos europeus, a Amé-
rica Latina já abrigava uma série de sa-
beres dos povos tradicionais da região,
quase todos desprezados (ainda hoje) em
nome do “desenvolvimento”. Não se pode
ignorar o passado de extermínio populacional
e cultural da região. A América Latina é moder-
na há mais de 500 anos, mas esses cinco séculos de
“desenvolvimento” foram duramente acompanhados
de injustiças sociais. Monumento localizado no Memorial da
América Latina, em São Paulo (SP).
Neste módulo, o último da 1a série do Ensino Médio, es- Projetado por Oscar Niemeyer, o complexo
tudaremos a América Latina. O principal objetivo é apre- arquitetônico foi inaugurado em 18 de março
de 1989. Para Niemeyer, a obra representa
sentar suas características atuais, refletindo sobre o que “suor, sangue e pobreza”, características que
marcam a história da América Latina.
os governos recentes têm feito para romper com o olhar
colonialista e com as injustiças sociais que são tradicionais na região. Também é de interesse desta
abordagem analisar os projetos de integração econômica, comercial e estrutural que envolvem os
países desse continente, além do histórico de formação da região, as principais características e os
desafios dos blocos econômicos regionais existentes. Nesse sentido, estudaremos as transforma-
América Latina

ções mais recentes da região, sem, entretanto, retomar as questões históricas do desenvolvimento
industrial da América Latina, já exploradas no Módulo 8.

493
PARA APRENDER

Esse negócio de “latino-americano” não é comigo não... Quando me chamam de latino-americano saco os
meus revólveres. A nossa importância está na nossa diferença, como os americanos latinos de Quebec são dife-
rentes. Latino-americano não é uma categoria linguística e cultural, mas um gueto geopolítico.
SOUZA, Marcio. Quando me chamam de latino-americano saco
os meus revólveres. Revista Status, São Paulo, n. 139, fev. 1986, p. 6-7.

Eu não gosto do termo “literatura latino-americana”, é colonialista e imperialista. Livros escritos no Brasil e
Argentina, ou Colômbia e Bolívia, nada têm em comum. A única unidade que encontramos é nas experiências
negativas – doenças, opressão, pobreza, ditaduras militares... Alguma vez já ouvimos alguém falando a respeito de
uma única “literatura europeia”?
AMADO, Jorge. They put us in a ghetto. Newsweek,
New York, 15 jun. 1992. Tradução dos autores.

Como foi abordado nos módulos anteriores, a América é usualmente regionalizada em Anglo-Saxônica e
Latina. Essa divisão não segue um critério linguístico, mas atende à diferenciação com base em suas caracterís-
ticas socioeconômicas, políticas e culturais – ligadas ao processo de colonização implementado em cada uma
dessas regiões – que, por si só, são vagas, muito abrangentes e incompletas. Daí surgem muitas problematiza-
ções, como as feitas por Marcio Souza e Jorge Amado, a respeito da chamada “identidade latino-americana”.

América Latina: desenvolvimento e processo histórico


Caracterizar a identidade latino-americana é reconhecer as dificulda-
REPRODU‚ÌO/ARQUIVO DA EDITORA

des históricas e os desafios comuns a serem vencidos. Com base em fatos


significativos no desenvolvimento da América Latina, podemos dividir o
processo histórico da região em quatro momentos, explorados a seguir.

• Economia mercantil (século XVI ao século XIX)


No final do século XV assistimos ao conflito entre a burguesia mer-
cantil europeia, sustentada pela cultura cristã ocidental, e as já “der-
rotadas” civilizações ameríndias (pré-colombianas). Os modelos de
organização política, econômica e social dessas sociedades vão sendo
gradativamente rejeitados, e o modelo imposto pelo europeu, consoli-
dado. Assim, temos a negação de uma geografia nativa/ameríndia e a
afirmação de outra, europeia e “estrangeira”.
A ocupação na América Latina se deu predominantemente no lito-
ral; a fundação das cidades esteve orientada para três lógicas: defesa,
mercado e controle burocrático por parte da metrópole. No plano eco-
nômico, na porção latino-americana que foi controlada pela Espanha
até meados do século XIX, a chamada América hispânica, temos a ex-
ploração de metais preciosos, com uso de mão de obra ameríndia em
regime de escravidão. Já na porção latino-americana controlada pelos
Padre Antônio Vieira convertendo os índios do Brasil.
Século XVIII. Ao chegarem à América, os europeus passaram portugueses, a chamada América portuguesa, o modelo baseou-se em
a impor seus costumes às populações nativas. uma apropriação de economias de plantation com trabalho de africanos
A catequese e a doutrinação católica são exemplos
dessa prática. escravizados, que perdurou até a segunda metade do século XIX.

494
O modelo de colonização que predominou na América Latina foi o de exploração, no qual as me-
trópoles monopolizavam a atividade comercial. O estabelecimento de grandes propriedades marcou o
processo de ocupação: o proprietário do território era um representante da autoridade real, sendo o
latifúndio não somente a base de produção do sistema de plantation, mas também um instrumento de
poder político.

• Início do desenvolvimento industrial (século XIX até 1945)


Esse processo histórico marcado pela dominação, exploração, subdesenvolvimento e concentração de
renda e terras pela elite, já abordado no Módulo 8, determinou, em grande parte, as adversidades econô-
micas, políticas e sociais que a região viveu durante os séculos XIX e XX, incluindo a dificuldade para indus-
trializar-se, com ônus administrados até hoje pelos países e seus respectivos governos, que tiveram de se
responsabilizar pelo desenvolvimento e pela modernização econômica da industrialização, principalmente
após a Segunda Guerra Mundial. A inserção da América Latina na Divisão Internacional do Trabalho (DIT)
como fornecedora de matéria-prima para a Europa e, posteriormente, para os Estados Unidos e uma burgue-
sia totalmente atrelada aos interesses externos dificultaram o desenvolvimento de um processo autônomo
de modernização econômica, fazendo com que os modelos desenvolvidos atendessem aos interesses do
capitalismo internacional.

GEOGRAFIA
• Pós-1945 até os anos 1980
O grande avanço urbano-industrial na América Latina, ocorrido durante o período pós-Segunda Guerra
Mundial até os anos 1980, como resultado direto dos esforços dos governos latino-americanos associados
ao capital externo, atingiu o apogeu na década de 1980. Isso aconteceu em razão das crises econômicas
causadas pelos choques do petróleo na década de 1970, que encareceram a produção industrial e aumen-
taram os custos dos governos com o pagamento das dívidas externas contraídas para implementar esse

M—dulo 24
modelo econômico no pós-Segunda Guerra Mundial. Essa crise fez com que a década de 1980 ficasse
conhecida na América Latina como “a década perdida”.

• Anos 1990 e início do século XXI


Os anos 1990 e 2000 foram de significativa relevância para os países latino-americanos, sobretudo os
da América do Sul, já que, em reação à implementação das políticas neoliberais propostas no Consenso
de Washington em 1989 e aos avanços do processo de globalização econômica no mundo, países como
Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai oficializaram a formação do bloco econômico do Mercado Comum
do Sul, o Mercosul; outros países, como os andinos (localizados na região da Cordilheira dos Andes, na
América do Sul), oficializaram a Comunidade Andina de Nações (CAN), ou Pacto Andino. Chile, México e
Panamá estabeleceram relações comerciais e diplomáticas mais próximas com os Estados Unidos e com
países asiáticos em acordos de cooperação como a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) e
a Transpacífica (TPP), mais recentemente.
No âmbito político, presenciamos uma importante ascensão de partidos de esquerda na região, sin-
tetizada pelo chavismo na Venezuela, que representou a rejeição de uma parte significativa da população
latino-americana aos governos neoliberais da década de 1990. Contudo, a partir da metade dos anos 2010,
a maioria desses governos de esquerda começou a sucumbir diante de uma nova onda de insatisfação
popular com o grande endividamento estatal, que impactou a qualidade de vida da população em geral;
da retomada da inflação e do desemprego; das acusações de ações antidemocráticas; dos escândalos de
corrupção, etc. Teve início um ciclo de governos mais conservadores ou neoliberais em um panorama se-
América Latina

melhante ao do começo dos anos 1990.


Vamos abordar a partir de agora as integrações econômicas dos países latinos, com ênfase no Mercosul,
e analisar casos específicos de países da região durante os anos 1990.

495
A integração regional: blocos econômicos da América Latina

América Latina: blocos econômicos

Círculo Polar Ártico

OCEANO OCEANO
PACÍFICO ATLÂNTICO
Trópico de Câncer

Equador

Trópico de
MCCA Mercado Comum Capricórnio
Centro-Americano
CAN Comunidade Andina
de Nações
N
Caricom Mercado Comum e
Comunidade do Caribe
0 2 200
Mercosul Mercado Comum do Sul
km

FONTE: INSTITUTE for Future Insights. Disponível em: <www.fredericdemeyer.


com/2011/06/europes-future-from-lisbon-to.html>. Acesso em: 12 fev. 2016.

Comunidade Andina de Na•›es (Pacto Andino)


A Comunidade Andina de Nações (CAN), ou Pacto Andino, é uma união aduaneira formada pelos países
da região andina da América do Sul: Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Além de estreitar o comércio entre si,
o grupo visa a uma maior integração política e social entre os países-membros. Sua criação ocorreu em 1969,
com o Acordo de Cartagena, e sua sede fica na cidade de Lima, no Peru. O Chile integrava o grupo desde a
sua formação, porém abandonou o projeto em 1977 durante o regime de Augusto Pinochet. A Venezuela era
membro pleno desde 1973, mas deixou o bloco em 2006 por entender que a aproximação ocorrida entre o
bloco e os Estados Unidos prejudicou os interesses máximos dos países-membros.
A CAN possui algumas instituições que balizam as ações do bloco, como uma Secretaria-Geral, um Tribu-
nal de Justiça e um Parlamento, que julgam a legalidade das ações comerciais, das ações políticas de cada
governo e de suas instituições, exigindo atitudes inspiradas em ideias democráticas e multilaterais.
Apesar de o bloco ter proporcionado avanços importantes nos planos comercial, social, cultural e polí-
tico, como o significativo aumento das trocas comerciais entre os países envolvidos e o compromisso dos
governos com processos democráticos e com a garantia da liberdade de expressão da população, há uma
persistente limitação para seu maior crescimento e sua expansão no contexto global graças às características
econômicas de seus membros, ainda muito dependentes da exportação de produtos primários (agrícolas,
minerais, etc.), ou seja, em razão de sua posição desfavorável dentro da Divisão Internacional do Trabalho,
a DIT. A iniciativa de associar a CAN ao Mercosul em um projeto de integração sul-americana mais amplo,
como a Unasul (abordada mais à frente), parece ser um processo mais viável visando a um real avanço para
os governos e os povos na região andina da América do Sul.

496
Mercosul
O núcleo político e econômico do Mercosul é a aliança entre Brasil e Argentina, resultado de uma grande
aproximação ocorrida nos anos 1980 na esteira do processo de redemocratização dos dois países. Essa rela-
ção sofreu oscilações ao longo do século XX, desde declarações de apoio até tensões com pouca gravidade.
O projeto de integrar as duas economias surgiu em vir-

VICTOR BUGGE/ACERVO PRESIDæNCIA DA REPòBLICA ARGENTINA


tude do quadro de profunda crise econômica vivida na região
no final dos anos 1970 e ao longo dos anos 1980, resultado
da saturação do modelo de substituição de importações e do
aumento colossal das dívidas externas dos países.
O objetivo da formação do bloco era criar o dinamismo
econômico necessário para que o Brasil e a Argentina se forta-
lecessem perante o elevado grau de concorrência comercial e
econômica que se apresentava no mundo com a intensificação
da globalização econômica. Com esse objetivo, e para man-
ter a influência econômica e política dos dois países na região
Platina, foi proposta a inclusão do Paraguai e do Uruguai no
grupo. O Tratado de Assunção, assinado em março de 1991,

GEOGRAFIA
formalizou a participação dos quatro países.
Apesar do nome, o bloco não possui características de
um mercado comum: nele não há livre circulação de merca-
dorias, de bens, de serviços nem de pessoas. O estágio de
integração do Mercosul é o de união aduaneira, como vimos
Foto tirada durante a assinatura da Declaração do Iguaçu, em 1986.
no Módulo 17. À esquerda, José Sarney e, à direita, Raúl Alfonsín, na época
presidentes, respectivamente, do Brasil e da Argentina. A declaração

Módulo 24
O bloco teve o seu momento de maior expansão e con- aproximou política e economicamente os dois países e serviu de ensaio
solidação de acordos na segunda metade da década de para a criação do Mercosul, que ocorreria cinco anos depois.
1990, em grande parte graças à recuperação econômica do Brasil e da Argentina a partir de 1994 e 1995.
Contudo, na virada da década de 1990 para 2000, o Mercosul sofreu um duro golpe: uma grave crise eco-
nômica afetou o Brasil e a Argentina e colocou em xeque a viabilidade do bloco. Com a desvalorização da
moeda brasileira, o real, os produtos brasileiros ficaram muito mais baratos que os argentinos, afetando
diretamente as empresas argentinas. Isso gerou a sobretaxação dos produtos brasileiros, por imposição da
Argentina, a fim de proteger seus produtos, o que comprometeu as relações comerciais do Mercosul, já
que feriu o regime do livre-comércio – condição essencial para integrar economias em um bloco.
O Brasil, porém, tem se submetido a essa taxação em nome da integração econômica da região e, princi-
palmente, da integração política sob a liderança dos dois países, com o objetivo principal de se projetar politi-
camente na Organização das Nações Unidas (ONU) – mantendo boas relações políticas com seus vizinhos – e
em outros organismos internacionais.
Em 2012, o bloco passou por outra crise quando o Paraguai foi suspenso por decisão unânime de seus
integrantes, por causa da contestação dos membros em relação ao processo de impeachment do presidente
paraguaio na época, Fernando Lugo. A suspensão do país abriu caminho para a entrada da Venezuela no
Mercosul, que havia feito seu pedido oficialmente em 2007 e aguardava o trâmite para a sua entrada, cuja
autorização dependia do Legislativo paraguaio. Com a Venezuela passando a integrar formalmente o bloco
e o retorno do Paraguai após a realização de novas eleições presidenciais no país, o embaraço diplomático
entre os membros do grupo foi inevitável.
América Latina

497
Reunião da
A condição do Mercosul para

RODRIGO BUENDIA/AGæNCIA FRANCE-PRESSE


Unasul realizada
em Quito, o futuro é incerta. Existe um pla-
no Equador,
em 2015. Na no de integração do bloco com
ocasião, os
representantes
a CAN, formando e endossando
dos países a já existente União das Nações
integrantes
discutiam Sul-Americanas, a Unasul, firma-
as sanções da entre todos os países da Amé-
dos Estados
Unidos contra a rica do Sul (exceto a Guiana Fran-
Venezuela. cesa, território francês). Criada
em 2004, essa integração propõe a formação de uma grande área de livre-comércio, a partir das características de
um mercado comum, com a possibilidade de uma unificação monetária nos moldes da União Europeia. Algumas
ações da Unasul já foram postas em prática, como a não exigência de passaporte nem de visto de permanência
turística aos cidadãos dos países-membros que se desloquem entre eles – exceto a Guiana Francesa.

VISÃO GEOGRÁFICA

Unasul
Os processos de integração presentes na história dos países da América do Sul sempre encontra-
ram barreiras nas grandes diversidades apresentadas pelos países da região. Mesmo assim, diversas
tentativas foram realizadas, gerando uma grande quantidade de acordos bilaterais e uma sobreposição
de propostas e instituições com pouca efetividade.
A Unasul surge como uma proposta de integração gradual que envolveria as instituições já existentes
e ainda buscaria integração nas áreas sociais, energéticas e de infraestrutura, na tentativa de estabilizar
a região, tornando-a mais competitiva perante as outras nações. Apesar da atuação em áreas sociais, um
dos objetivos da Unasul é a integração total da região, a partir da instauração de uma moeda única. [...]
Apesar do grande avanço apresentado nos países, os mesmos ainda não possuem condições para
ingressar em uma união monetária. As assimetrias apresentadas nas tomadas de decisões econômicas
de alguns e nas divergências apresentadas nas análises dos agregados macroeconômicos, fruto princi-
palmente da grande disparidade que os países do bloco apresentam, os levam a concluir que atualmen-
te a Unasul não encontra condições para a adoção de uma moeda única na região.
NUNES, Gabriel Görgen. Integra•‹o econ™mica na Unasul: é possível adotar uma moeda única? Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2011. Disponível em: <www.lume.ufrgs.br/handle/10183/34838>. Acesso em: 6 abr. 2017.

MCCA e Caricom
O Mercado Comum Centro-Americano (MCCA) foi criado em 1960 com o objetivo de possibilitar a inte-
gração econômica de países da América Central (Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador),
contribuindo para sua estabilidade política – abalada pelos vários conflitos que assolaram a região ao longo
do século XX, como movimentos guerrilheiros de esquerda que se insurgiam contra os governos autoritários
de direita instituídos.
As propostas para a integração eram implementar a integração econômica plena entre os países do blo-
co; estimular o comércio entre os membros isentando seus produtos de impostos; criar acordos comerciais
entre o MCCA e outros países ou blocos econômicos; e promover a integração monetária com a adoção de
uma moeda única.
Ao longo dos anos de atuação do MCCA poucos avanços ocorreram em relação aos seus objetivos.
Os fatores que limitam a integração são as diferenças político-ideológicas entre os países-membros; a fragi-
lidade econômica de cada um deles, limitando o desenvolvimento do comércio entre eles; e as dificuldades
de estabelecimento de acordos que abolissem as políticas protecionistas no bloco. O principal parceiro co-
mercial do MCCA são os Estados Unidos.

498
Já o Mercado Comum e Comunidade do Caribe (Caricom) é um bloco criado em 1973 com a finalidade
de estimular o comércio entre os países do Caribe e proporcionar cooperação econômica pelo livre-comércio na
região. Mesmo com a proposta de estímulo ao comércio, vários dos países-membros mantêm suas tarifas alfande-
gárias extremamente elevadas, em torno de 15%, o que limita as trocas comerciais e dificulta a expansão do bloco.
Atualmente os países-membros são: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada,
Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname
e Trinidad e Tobago. Em 1998, Cuba foi aceita no grupo como país observador.
Após a compreensão do papel dos blocos econômicos no contexto da expansão da globalização econômica
em curso, vamos abordar agora, de modo sintético, características de alguns países da região, de acordo, prin-
cipalmente, com o seu protagonismo político e econômico nas últimas décadas no contexto da América Latina.

Estudo de casos

Venezuela

AEREA ESTUDIO
Após os Estados Unidos apoiarem uma tentativa de golpe de Esta-
do que visava derrubar o então presidente venezuelano, Hugo Chávez,
em 2002, a Venezuela, que é o quarto produtor internacional de petró-

GEOGRAFIA
leo, tornou-se a principal oposição às políticas estadunidenses para a
América Latina, juntamente com Cuba. Durante o governo de George
W. Bush (2001-2009), a Venezuela buscou uma aproximação geopolítica
com os países do chamado “eixo do mal” (Irã, Líbia, Iraque e Coreia do
Norte) e chegou a comprar armamento da Rússia.
Valendo-se da elevação do preço do petróleo, nos anos 2000 Chá-

M—dulo 24
vez realizou reformas sociais importantes e implementou seu projeto de
governo conhecido como Revolução Bolivariana (em uma clara referên-
cia às ideias emancipadoras e anti-imperialistas de Simón Bolívar – líder
histórico no processo de independência da América espanhola) ou “so-
cialismo do século XXI”.
Na política externa, além da maior aproximação com Cuba e países
da América Latina, Chávez iniciou o renascimento da Opep, promoven-
do maior entendimento entre os integrantes do cartel, principalmente Vista aérea do bairro Vivienda Cerro Grande, em Caracas,
entre Irã e Arábia Saudita, os principais produtores de petróleo do gru- capital da Venezuela, em 2015. É muito comum nas grandes
cidades do país o contraste social de bairros de alto padrão
po, os quais mantinham intensa disputa pela liderança da organização. próximos a áreas pobres sem a mínima infraestrutura.

COMPREENDENDO MELHOR

A Revolu•‹o Bolivariana: o socialismo do sŽculo XXI

[...] Ao longo do governo chavista, os sucessivos obstáculos radicalizaram Chávez, que se mostrou de-
terminado a transformar o país em nome do “socialismo do século XXI”. Tratava-se aqui de uma ideologia
embrionária que visava promover uma democracia “proativa e participativa”, que aproximaria a tomada de
decisão do povo através de comitês localizados e, num objetivo mais ambicioso ainda, que substituiria em
devido tempo a economia de mercado, orientada para o lucro, por um sistema de troca de bens e serviços
através de “equivalências” calculadas segundo valores de uso acordados. Depois das tentativas fracassadas
para o derrubarem, Chávez institucionalizou o apoio popular no Partido Socialista Unido da Venezuela
América Latina

(PSUV) e chamou conselheiros cubanos para o ajudarem a conceber um sistema de “missões” para o
povo num vasto “setor informal”. Cooperativas de trabalhadores, supermercados subsidiados, programas

499
de literatura e educação chegaram aos bairros de lata e às zonas rurais pobres. A Misión Barrio Adentro,
por exemplo, estabeleceu centros de saúde gratuitos onde trabalhavam médicos, dentistas e outros profis-
sionais de saúde cubanos, enviados por Fidel Castro em troca de petróleo a bom preço. Na frente inter-
nacional, Chávez levaria por diante a sua ambição de concretizar a ideia de Simón Bolívar de uma união
continental de Estados hispano-americanos, designando oficialmente o país de “República Bolivariana
da Venezuela”, e usando as receitas do petróleo para encorajar uma aliança pró-Cuba com a Bolívia, o
Equador, as Honduras, o Paraguai e a Argentina, embora com diferentes graus de sucesso. E apesar de os
Estados Unidos da América continuarem a ser o principal mercado para o petróleo venezuelano, Chávez
parecia determinado a irritar a administração de George W. Bush (2001-2009) das mais variadas formas,
que incluíram uma visita ao Iraque de Saddam Hussein e outra ao Irã [...].
PEREIRA, Wagner Pinheiro. A Revolução bolivariana e a Venezuela de Hugo Chávez: história e
interpretações (1999-2013). Revista Eletrônica Tempo Presente, 17 jun. 2014. Disponível em: <www.ie.ufrj.br/ri/
intranet/arquivos/001514_a_revolucao_bolivariana_e_a_venezuela_de_hugo_chavez.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.

Chávez, além de dar apoio econômico ao governo cubano, ampliou sua influência na Bolívia de Evo
Morales e no Equador de Rafael Correa. Na perspectiva de integração latina, a Venezuela aderiu ao Mer-
cosul em 2006, sendo plenamente admitida em 2012 – apesar da resistência paraguaia em aceitar o novo
membro. Além disso, criou, em 2004, uma zona de livre-comércio chamada Alternativa Bolivariana para as
Américas (Alba).
A plataforma da Alba tem como objetivo promover a integração comercial entre países latino-ameri-
canos liderados por Venezuela, Cuba e Bolívia, em contraposição à iniciativa da criação de uma área de
livre-comércio liderada pelos Estados Unidos no início dos anos 1990, que ficou conhecida como Área
de Livre-Comércio das Américas (Alca).

UM OUTRO OLHAR

Área de Livre-Comércio das Américas: uma proposta de bloco não concretizada

[...] A Alca foi uma proposta feita pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, durante a
Cúpula das Américas, em Miami, no dia 9 de dezembro de 1994, com o objetivo de eliminar as bar-
reiras alfandegárias entre os 34 países americanos, exceto Cuba, formando assim uma área de livre-
-comércio, cuja data limite seria o final de 2005. Na reunião de Miami foram assinados a Declaração
de Princípios e o Plano de Ação.
A estratégia era de gradualmente suprimir as barreiras ao comércio entre os estados-membros,
prevendo-se a isenção de tarifas alfandegárias para quase todos os itens de comércio entre os países as-
sociados. Uma vez implementada, a Alca se tornaria o maior bloco econômico do mundo – englobando
também as áreas do Nafta (América do Norte) e do Mercosul (América do Sul). [...]
Uma das principais dificuldades para a formação do bloco é a enorme disparidade entre a econo-
mia dos Estados Unidos, a maior da América, e a dos demais países americanos. Ademais, na maioria
desses países, seria necessário realizar vultosos investimentos em infraestrutura, para que a área de
livre-comércio funcionasse efetivamente.
O projeto da Alca está parado desde novembro de 2005, quando foi realizada a 4a Cúpula das
Américas, em Mar del Plata. A proposta foi praticamente “engavetada” nessa reunião [...].
PARLAMENTO Consultoria e Assessoria. Aliança do Pacífico e blocos comerciais que afetam o Brasil. Disponível em:
<www.parlamentoconsultoria.com.br/site/wp-content/uploads/2012/06/ALIAN%C3%87A-DO-PAC%C3%8DFICO-
E-BLOCOS-QUE-AFETAM-O-BRASIL.pdf>. Acesso em: 8 jan. 2016. p. 8.

500
ADALBERTO ROQUE/AGæNCIA FRANCE-PRESSE
Encontro de líderes da Alba em Havana (Cuba) na 13a Cúpula do bloco, em dezembro de 2014. Foi a décima reunião entre os
membros do grupo desde a sua fundação; entre os 43 pontos expostos na declaração final assinada pelos países estavam a
condenação da política externa estadunidense para a América Latina e a reivindicação da participação de Cuba na reunião da
Cúpula das Américas nos anos seguintes, sem contrapartida dos Estados Unidos.

A Alba pretende estimular o desenvolvimento dos países-membros com base na cooperação econômica
e no comércio exterior, tendo sido debatida até mesmo a proposta de criação de uma moeda única, o sucre,
para facilitar as trocas comerciais entre eles.
Esse projeto mostrou-se pouco eficaz no cumprimento de seus objetivos, principalmente pela limitação

GEOGRAFIA
econômica dos países envolvidos, que são dependentes da exportação de commodities, com posições mui-
to desfavoráveis no comércio internacional, e da influência político-ideológica que o projeto exerce, sendo,
na prática, muito mais de imposição política do que uma tentativa de desenvolvimento econômico e social
para os países envolvidos.
Atualmente, a Alba é alvo de muitas incertezas. O projeto bolivariano pautado nas lideranças chavista,
boliviana e cubana enfrenta sérias contestações internas e externas, o que oferece um cenário muito pessi-
mista para o futuro. Seria necessária uma reformulação da estrutura e dos objetivos do bloco, algo que, pelo

M—dulo 24
menos por ora, não se apresenta como possibilidade.
A Venezuela depende totalmente da venda do petróleo, que responde por 90% de suas exportações.
Foi somente com a Revolução Bolivariana que ocorreu certa distribuição dos lucros obtidos com petróleo,
por meio de políticas assistencialistas. Apesar dos avanços sociais e econômicos, a economia se manteve
dependente do petróleo. As oscilações no preço desse produto ameaçam as propostas chavistas. Chávez foi
reeleito em 2012, mas morreu no início de 2013. Nicolás Maduro, o vice-presidente, foi eleito para a Presi-
dência do país com o projeto de dar continuidade às políticas chavistas – que, apesar de suscitar críticas, são
apoiadas por uma significativa parcela dos venezuelanos.

Cuba
Após a Revolução Cubana, em 1954, liderada

KATE HOCKENHULL/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA


por Ernesto Che Guevara e Fidel Castro, a ilha ca-
ribenha sofreu o embargo econômico estaduniden-
se, o que acabou determinando uma aproximação
de Cuba com a União Soviética, que na época era a
única opção geopolítica para o governo cubano no
contexto da Guerra Fria.
A relação entre Cuba e União Soviética, ape-
sar de favorável a Cuba, gerou uma forte depen-
dência econômica da ilha caribenha em relação
à potência socialista. O país de Fidel vendia açú-
América Latina

car a preços altos e comprava petróleo a preços


baixos, além de obter empréstimos vantajosos e
cooperação técnico-científica. Praça da Revolução em Havana, capital de Cuba, 2016.

501
Com a crise política e econômica do Leste Europeu ao longo dos anos 1980, seguida do fim da própria União
Soviética, entre 1989 e 1991, Cuba se viu sem parceiros comerciais. Nesse momento, a economia cubana enco-
lheu, e a população teve de conviver com a falta de produtos.
Em 1991, o governo Castro iniciou uma série de reformas que visavam garantir as conquistas sociais da revo-
lução e reabrir a economia ao capital internacional (veja o boxe Compreendendo melhor). Entre as medidas, de-
vemos destacar o investimento no setor turístico, o desenvolvimento da biotecnologia e a diversificação agrícola.

COMPREENDENDO MELHOR

Principais medidas da abertura econ™mica cubana (1991)


• Associação entre o capital estatal e o internacional.
• Permissão para as estatais importarem e exportarem diretamente.
• Descentralização do sistema bancário.
• Permissão para o recebimento de dinheiro vindo do exterior. (Recebimento de dólares das famílias que estão
fora de Cuba.)
• Aumento das viagens para visitas de familiares no exterior.
• Incentivos ao turismo e à diversificação agrícola.

Em 2006, as condições de saúde do líder cubano Fidel Castro o afastaram da vida pública, após 49 anos
no poder. Raúl Castro, irmão de Fidel, assumiu, então, a Presidência. Os esforços do atual governo de Raúl
Castro ocorrem no sentido de consolidar a abertura econômica e atrair investimentos para Cuba.
A eleição de Barack Obama para a Presidência dos Esta-
JOE RAEDLE/GETTY IMAGES

dos Unidos em 2008 gerou uma série de expectativas relacio-


nadas ao fim do embargo econômico. Seu governo tratou de
aproximar diplomaticamente os dois países, distantes desde
1961 por causa do embargo estadunidense imposto como
retaliação à aproximação do regime de Fidel da União So-
viética. Em oito anos de governo Obama muito foi feito para
promover essa reconciliação, até mesmo com influência da
Igreja católica na figura do papa Francisco, que promoveu
encontros entre as duas partes para alinhavar uma aproxi-
mação diplomática concreta, o que foi realizado em 2014. A
partir de então, uma série de ações nesse sentido foi desen-
cadeada, como a reabertura da embaixada estadunidense
em Havana e da cubana em Washington, a retomada de voos
comerciais diretos entre os dois países, o fim das restrições
Funcionários de uma empresa aérea assistem a decolagem de avião
no primeiro voo comercial dos Estados Unidos para Cuba desde 1961.
com relação a viagens de negócios e as transações econômi-
Flórida, 2016. cas entre os dois países.
Apesar da expectativa internacional de que houvesse grandes alterações na política externa estaduni-
dense, não há nenhuma certeza sobre o destino das barreiras comerciais que os Estados Unidos vêm impon-
do desde o sucesso da revolução de Fidel em 1959 (veja o boxe Um outro olhar, a seguir). O governo Obama
enfrentou forte resistência do Congresso para aplicar a redução e a suspensão do embargo, que não foram
implementadas até o fim de seu mandato, em janeiro de 2017. Outra promessa de campanha de Obama em
seu primeiro mandato (2009-2013) era o fechamento da base naval estadunidense de Guantánamo, localiza-
da no litoral leste da ilha cubana, de frente para o litoral do Haiti. Guantánamo é controlada pelos Estados
Unidos desde 1903, quando os dois países assinaram um acordo em que os cubanos cediam o uso do espaço
para os estadunidenses em troca de seu apoio na guerra de independência cubana contra a Espanha, ini-
ciada em 1898. A devolução imediata do território é uma das principais exigências cubanas no processo de
reaproximação diplomática entre os dois países e seguiu sem resolução durante o governo Obama.

502
Em novembro de 2016, uma página se fechou na história entre Estados Unidos e Cuba. A morte do líder
da revolução cubana Fidel Castro, aos 90 anos de idade, pode ser interpretada como um ponto-final na his-
tória da revolução que Fidel conduziu no auge da Guerra Fria, quando se opôs ao principal agente capitalista
e influenciador político e econômico da América Latina. A figura de Fidel ainda exerce uma influência muito
significativa no cenário político e social de Cuba, mesmo sem sua atuação direta na administração do país
desde 2006. A incerteza acerca de se Raúl conduzirá as reformas políticas, econômicas e sociais necessárias
ao país sem o apoio do grande líder revolucionário gera grande expectativa para a população do país.

UM OUTRO OLHAR

Um ano após anúncio de reaproximação, relação entre EUA e Cuba tem desafios

Após mais de 50 anos de rompimento de relações diplomáticas, os Estados Unidos e Cuba anun-
ciaram há um ano que iriam começar uma reaproximação. O anúncio histórico foi feito pelos presi-
dentes Barack Obama e Raúl Castro.
Separados por apenas 150 quilômetros pelo Estreito da Flórida, os países não tinham relações di-
plomáticas desde 1961. O embargo econômico, comercial e financeiro contra Cuba foi imposto pelos
Estados Unidos em 1962.

GEOGRAFIA
No dia 20 de julho [de 2015], os Estados Unidos e Cuba reabriram suas embai-
SE
xadas em Havana e Washington, reatando oficialmente as relações diplomáticas. E-PRES
C
N
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, foi a Cuba no

A
FR
A
dia 14 de agosto [de 2015], tornando-se o primeiro chefe da diplomacia

CI
ÊN
AG
norte-americana a visitar a ilha caribenha em 70 anos, desde 1945. Em
M/
Havana, Kerry presidiu a cerimônia de hasteamento da bandeira ame- KA M
LAS

M—dulo 24
ricana na Embaixada dos Estados Unidos após 54 anos.
NIC HO

Em comunicado do Departamento de Estado, o encarregado de ne-


gócios da embaixada norte-americana em Havana, embaixador Jeffrey
DeLaurentis, disse que, ao longo deste ano, os países fizeram progressos
e se engajaram em um diálogo histórico, em ampla gama de assuntos,
entre eles aviação civil, serviço de correio direto e meio ambiente.
Segundo ele, um dos objetivos de Washington com a reaproximação
foi aumentar o número de viagens autorizadas, o comércio e o fluxo de
informação para o povo cubano.
O embaixador ressaltou, entretanto, que ainda há áreas de desacor-
do entre as nações, como direitos humanos. “Vale a pena lembrar que o
Os presidentes de Cuba, Raúl
secretário Kerry disse, durante a cerimônia de hasteamento da bandeira, Castro (à direita na foto), e
que a normalização [das relações] não vai acontecer de um dia para ou- dos Estados Unidos, Barack
Obama (à esquerda), durante
tro”, afirmou, em nota divulgada [...]. o anúncio do início de um
processo de reaproximação,
Avanços diplomáticos em Havana, Cuba, 2016.

O professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Alcides


Costa Vaz avalia que os maiores avanços ocorreram nos campos diplomático e político e destaca a reti-
rada de Cuba, pelos Estados Unidos, da lista dos países que contribuem com o terrorismo. “O grande
benefício desse primeiro ano foi ter revertido o clima geral, de dois países que se viam como inimigos,
um resquício da Guerra Fria”.
“Do ponto de vista dos negócios, o passo mais importante dado nesse período pelos EUA foi o de
América Latina

colocar em campo uma série de regulações e dispositivos legais que estão flexibilizando as restrições
para a realização de negócios entre os dois países”, disse Vaz.

503
A principal demanda cubana – a suspensão do embargo – é uma questão pendente e deve demo-
rar a ser resolvida. “A perspectiva é de que o embargo seja suspenso, mas a dificuldade é o Congresso
[americano]. Por ser um ano eleitoral e um Congresso com maioria republicana, o atual governo
resolveu não pisar fundo nessa questão. O governo [de Obama] foi flexibilizando o que estava na sua
alçada. Os republicanos não vão querer dar esse trunfo eleitoral aos democratas, com a corrida eleito-
ral nos seus primeiros momentos”, afirmou Vaz.
CAMPOS, Ana Cristina. EBC Agência Brasil, 17 dez. 2015. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/
noticia/2015-12/um-ano-apos-anuncio-de-reaproximacao-relacao-entre-eua-e-cuba-tem>. Acesso em: 8 jan. 2016.

Bolívia
Em dezembro de 2005, Evo Morales, líder sindical dos
AIZAR RALDES/AGÊNCIA FRANCE-PRESSE

cocaleiros (produtores da folha de coca), foi eleito presi-


dente da Bolívia, tornando-se o primeiro indígena eleito
no país. Sua plataforma política aproxima-se da praticada
por Hugo Chávez na Venezuela: logo no início de seu go-
verno, Morales pôs em prática a política de nacionalização
da exploração do gás e do petróleo no país. A VPFB, es-
tatal boliviana, passou a controlar as reservas. Vale lem-
brar que essas medidas levaram ao choque com o Brasil
e determinaram o súbito aumento do preço do gás natu-
ral vendido pela Bolívia, além da estatização de algumas
refinarias de petróleo controladas pela Petrobras, o que
trouxe prejuízos diretos à estatal brasileira.
Em janeiro de 2009, a população da Bolívia votou em
referendo favoravelmente à reforma constitucional pla-
nejada por Evo Morales (veja o boxe Visão geográfica).
Comércio de folhas de coca nas ruas de La Paz, capital da Bolívia, em 2014. A Apesar da vitória expressiva nas urnas, os setores conser-
comercialização e o uso da folha da coca são práticas milenares no país. Entre
suas inúmeras finalidades, está minimizar os efeitos da altitude. vadores, ou seja, as elites econômicas, prometem resistir.

VISÃO GEOGRÁFICA

Morales promulga nova Constituição da Bolívia

Presidente boliviano define promulgação como “refundação do país”.


Texto constitucional teve aprovação popular em referendo.
O presidente Evo Morales promulgou neste sábado [7/2/2009]  a nova Constituição da Bolívia
que, segundo disse, permitirá voltar a fundar o país a partir da unidade, da igualdade e da dignidade,
e caminhar em direção à reconciliação nacional.
“Missão cumprida. Para voltar a fundar uma Bolívia unida”, proclamou Morales, ao declarar pro-
mulgada uma Carta Magna que, pela primeira vez na história do país, foi aprovada com o voto popular
no referendo realizado em 25 de janeiro [de 2009].
Em um grande ato realizado na cidade de El Alto, o presidente indígena, funcionários de seu
governo, as Forças Armadas e os milhares de bolivianos reunidos no local formularam um juramento
coletivo para “respeitar e fazer respeitar” a nova Constituição.

504
De acordo com Morales, a Carta Magna foi inspirada na “permanente luta pela libertação” que
desde os tempos da colônia espanhola empreenderam os povos indígenas, os movimentos sociais e os
patriotas bolivianos em defesa “da vida, da justiça e da soberania”.
“É impressionante o que estamos fazendo: da rebelião de nossos antepassados à revolução de-
mocrática e cultural. Há uma nova Bolívia, com a reconciliação entre milenares e contemporâneos”,
destacou o presidente.
Multinacional e unit‡rio
Com a promulgação da Carta Magna, Morales pôs [...] em vigor um modelo de Estado multina-
cional e unitário, de economia social e que, destacou, “protege por igual todos os bolivianos”.
No entanto, lembrou que, “após tantas adversidades e humilhações”, o texto consagra ainda “as aspi-
rações mais profundas dos setores mais abandonados” no país, como o caso de indígenas e trabalhadores.
Após um discurso carregado de referências históricas com o qual quis prestar homenagem aos
heróis da luta indígena e social da Bolívia, Morales pediu a união de todos os setores do país para
implementar a nova Constituição.
No dia 25 de janeiro [de 2009], 61,4% dos bolivianos apoiaram em referendo esta Carta Magna
que constitui o eixo do processo de mudança impulsionado por Morales desde que chegou à Presi-

GEOGRAFIA
dência do país, há três anos.
A rejeição ao texto se concentrou majoritariamente nas regiões autonomistas de Santa Cruz, Beni
e Tarija, todas governadas por opositores, assim como em Pando, regida por um governador regional
militar após a prisão do governante anterior por sua suposta responsabilidade por um massacre ocor-
rido em setembro [de 2008].
Depois da promulgação, uma das primeiras medidas de Morales para a implantação da nova Carta
Magna será a reestruturação de seu governo para adequá-lo ao texto já vigente.

Módulo 24
MORALES promulga nova Constituição da Bolívia. G1, 7 fev. 2009. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/
0,,MUL991583-5602,00-MORALES+PROMULGA+NOVA+CONSTITUICAO+DA+BOLIVIA.html>. Acesso em: 9 jan. 2016.

Colômbia
WE
ST
EN
D6
A Colômbia se enquadra no conjunto de países localizados na região da cordi- 1G
M
BH
lheira dos Andes chamada de América Andina. Com litorais tropicais voltados /

AL
AM
para os oceanos Atlântico e Pacífico, possui parte de seu território ocupada

Y
ST
OC
pela Floresta Equatorial Amazônica e a maior parte dele localizada na cor-

KP
HO
dilheira.

TO/
FO TO
Com tradição de concentração fundiária, como pode ser comprovado

AR ENA
pela existência histórica no país de plantations de café e banana, e histó-
rico industrial semelhante ao dos demais países latino-americanos – com
adoção do nacionalismo no desenvolvimento econômico, industrialização
iniciada a partir da substituição de importações e papel fundamental das
transnacionais no processo de modernização econômica e inserção na Di-
visão Internacional do Trabalho –, o país também apresenta quadro social
agravado pela forte concentração fundiária e de renda.
Desde a década de 1960, a forte repressão militar aos integrantes de movi-
América Latina

mentos sociais que lutavam por reforma agrária e política levou o país a conflitos
armados duradouros. A entrada de traficantes de cocaína e a produção de coca Vista aérea de Bogotá, capital da Colômbia,
em 2016. A cidade tem apresentado grandes
no país aumentaram especialmente na década de 1980. melhorias em sua infraestrutura nos últimos anos.

505
LUIS ACOSTA/AGæNCIA FRANCE-PRESSE

Cartéis de traficantes de cocaína infiltrados entre os


rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias Colombia-
nas (Farc) tornaram ainda mais violentos os confrontos
com os antiguerrilheiros das Autodefesas Unidas Colom-
bianas (AUC), mantidas pelos latifundiários colombianos
e acusadas de envolvimento com traficantes de drogas,
na década de 1990. A incapacidade do governo colom-
biano de debelar essa situação desencadeou sérios pro-
blemas econômicos e sociais ao país.
A intervenção dos Estados Unidos no conflito a par-
tir de 2000 ficou conhecida como Plano Colômbia. Sua
ação incluiu um vasto programa militar voltado a eliminar
a produção e o tráfico de entorpecentes. A operação foi
Guerrilheiros das Farc próximos de outdoor com propaganda contra o Plano criticada por ter sido utilizada como justificativa para que
Colômbia, em San Vicente, na Colômbia, 2001. os Estados Unidos instalassem bases militares na região.
Apesar das críticas ao governo colombiano, que aceitou o apoio dos Estados Unidos (contra a opinião
geral dos países fronteiriços), a violência diminuiu muito. A repressão ao tráfico foi acompanhada de uma onda
de retomada do crescimento econômico no país, que voltou a atrair investidores e empresas estrangeiras. Os
investimentos em infraestrutura vêm estimulando a construção civil e o turismo, mas a Colômbia ainda tem um
grande trabalho a fazer para integrar os quase 50% de sua população que vive muito perto do limiar da miséria.
Avanços recentes foram obtidos em acordos de paz entre o governo colombiano e as Farc. O grupo se com-
prometeu em 2012 a fazer uma transição para um movimento político legalizado. As negociações caminharam
para um entendimento efetivo e um novo acordo foi firmado, o qual passou a vigorar em dezembro de 2016.

COMPREENDENDO MELHOR

Acordo de paz entre governo colombiano e as Farc entra em vigor hoje [1o dez. 2016]

O acordo de paz, que acaba com meio século de enfrentamentos entre o governo colombiano e a maior
guerrilha do país, começa a ser implementado nessa quinta-feira (1o).  Os rebeldes das Forças Armadas Re-
volucionárias da Colômbia (Farc) têm 150 dias para entregar todas as suas armas às Nações Unidas.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, comemorou a ratificação do pacto, na quarta-feira
(30) à noite, depois de dois dias de intensos debates. Segundo ele, 1o de dezembro é o Dia D – o início do
fim de 52 anos de violência, que resultaram na morte de mais de 200 mil colombianos e no deslocamento
de mais 6 milhões.
Santos ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para negociar o desarmamento do grupo
guerrilheiro mais antigo da América Latina. Foi um processo que durou quatro anos e quase termina em
fracasso. O primeiro pacto, assinado por Santos e pelo líder das Farc, Rodrigo Londono (conhecido como
Timochenko), foi rejeitado em um plebiscito em outubro. Novas negociações resultaram numa segunda
versão, menos tolerante com os rebeldes – como pediam os que votaram contra na consulta popular.
O segundo acordo manteve a promessa feita aos guerrilheiros, de que poderiam formar um partido
político, disputar eleições e ocupar cargos públicos. A oposição, liderada pelo ex-presidente e atual se-
nador Álvaro Uribe, queria que o documento fosse submetido a um novo plebiscito. Mas Santos decidiu
submetê-lo à aprovação do Congresso, onde o governo tem maioria.
Tanto Santos quanto Londono argumentaram que o acordo de paz foi o resultado de amplo debate
e que era mais importante implementar a paz o quanto antes do que colocar em risco a trégua entre o
governo e a guerrilha e recomeçar do zero. A discussão mobilizou também os colombianos no exterior –
como o barítono Alfredo Martinez, 30 anos, que canta em óperas em Buenos Aires.

506
“Uma guerra tão longa deixa profundas feridas. Muitos achavam que não deviam perdoar os res-
ponsáveis pela violência tão facilmente, da noite para a manhã, e que eles deveriam responder por seus
crimes”, disse à Agência Brasil. “Mas no fundo, todos os colombianos querem a paz. E o bom é que esse
acordo abriu as portas para o debate e todos se informaram a respeito, para apoiar ou rejeitar o pacto. Não
importa. O importante é que o debate se deu.”
Além do desarmamento das Farc, o acordo prevê a erradicação dos cultivos de drogas ilegais (que
financiavam as atividades guerrilheiras, depois da queda do comunismo no Leste Europeu) e programas
sociais para integrar mais de 6 mil rebeldes à sociedade civil. Opositores ao acordo argumentavam que a
Colômbia iria gastar uma fortuna em um momento de desaquecimento da economia. O tema fará parte
dos debates nas eleições do próximo ano.
O acordo de paz colombiano foi mediado pelo governo cubano, que continua de luto pela morte do
líder revolucionário Fidel Castro. [...]
YANAKIEW, Monica. Ag•ncia Brasil. 1o dez. 2016. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/
2016-12/acordo-de-paz-entre-governo-colombiano-e-farc-entra-em-vigor-hoje>. Acesso em: 16 mar. 2017.

GEOGRAFIA
México

ARCO IMAGES GMBH/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA


Localizado na América do Norte e mem-
bro do Acordo de Livre-Comércio Norte
-Americano (Nafta), o México é um dos

Módulo 24
países com maior nível de industrialização
e diversidade de atividades econômicas
da América Latina. Seu patrimônio cultural
e histórico combina a influência dos povos
indígenas pré-colombianos, os movimentos
artísticos do começo do século XX e a cultu-
ra pop televisiva com projeção internacional.
A história do México inclui períodos di-
fíceis, como a conquista e a colonização es-
panhola e as perdas territoriais para os Esta-
dos Unidos (como as áreas da Califórnia, do
Arizona, do Novo México e do Texas). Entre
as décadas de 1910 e 1940, porém, diversas
medidas revolucionárias foram implemen- Vista aérea parcial do balneário de Cancún, na costa atlântica do México, em 2015.
tadas, incluindo a reforma agrária, a nacio- O país tem um grande potencial turístico que atrai pessoas de várias partes do mundo,
principalmente dos Estados Unidos.
nalização da petrolífera mexicana (Pemex) e
reformas econômicas e sociais. O México, com Brasil, Argentina e Chile, é um dos principais exemplos de
industrialização substitutiva de importações, estimulada durante esse período.
Entre as décadas de 1950 e 1970, o país viveu a ampliação de investimentos estrangeiros e um enorme
crescimento do PIB, período que ficou conhecido como milagre econômico mexicano. A concentração ur-
bana e industrial se intensificou em torno da Cidade do México, de San Luís de Potosí, de Guadalajara e de
América Latina

Puebla. O Partido Revolucionário Institucional (PRI), no controle do país desde a década de 1930, tornou-se
cada vez mais centralizador e repressivo, afastando-se dos ideais revolucionários. A década de 1980 caracte-
rizou-se pela conjuntura recessiva, e a de 1990, pelas reformas neoliberais.

507
A euforia provocada pela abertura econômica e pelo afluxo de empresas dos Estados Unidos para o
norte do país – decorrentes da entrada em vigor do Nafta em janeiro de 1994 – foi sucedida pela crise
econômica em dezembro do mesmo ano. A ajuda econômica dada ao México pelos Estados Unidos e pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI) foi concedida com rapidez, já que o modelo neoliberal adotado pelo
país não deveria ser contestado e eventualmente prejudicaria o processo de transição econômica e a prá-
tica de reformas econômicas. Os contrastes socioeconômicos acentuaram-se no México desde então. As
desigualdades nos parâmetros do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são enormes, tanto de acordo
com as classes socioeconômicas como entre os meios urbano e rural. O aumento dos índices de violência,
a expansão do narcotráfico e os baixos indicadores sociais explicam o fato de milhares de mexicanos ten-
tarem migrar clandestinamente para os Estados Unidos.
O território mexicano é marcado também por contrastes físicos e sociais. O sul do país é predominan-
temente tropical úmido e florestado. Nessa área, há intensa concentração de povos indígenas que, desde a
década de 1990, organizam a resistência política e denunciam os males provocados pela adoção do modelo
neoliberal que resultou na crise de 1994.
A liderança do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) – grupo de mobilização de indígenas e
camponeses – é atribuída a um anônimo, conhecido mundialmente como subcomandante Marcos. O teor e
a projeção de seus discursos são de crítica ao modelo político que garantiu a perpetuação das desigualda-
des sociais no pais, entre outros problemas. Os zapatistas concentram-se na região de Chiapas, localizada na
fronteira sul do país (veja o mapa a seguir). Há na região diversas áreas autogovernadas, onde sistemas de
produção agrícola, serviços de saúde, educação e divulgação de notícias são geridos de modo independen-
te, apesar das perseguições governamentais e paramilitares que sofrem há mais de vinte anos.
A península do Yucatán, na parte sudeste do território mexicano, destaca-se pelas atividades econômicas
ligadas ao turismo, a partir de Cancún. O litoral, voltado para o golfo, se sobressai pela produção de petró-
leo. Acapulco, no litoral do Pacífico, é famosa pelo setor de produção televisiva e cinematográfica.
As cordilheiras de montanhas e de vulcões margeiam o país de norte a sul, dificultando o acesso ter-
restre no interior e nos litorais. Os desertos no centro e no norte do país apresentam uma paisagem árida e
sem muitas variedades de espécies e de paisagens, bem diferentes do restante do país, onde se observam
regiões florestadas com mais biodiversidade. É nessa área que se situa a fronteira com os Estados Unidos e
estão diversas indústrias maquiladoras, de capital estrangeiro (principalmente estadunidense), que produ-
zem bens industriais para exportação (em especial para o Nafta). As vantagens produtivas encontradas em
Tijuana, Nogales e Ciudad Juarez, entre outras, incluem isenções fiscais e mão de obra barata.

México: Chiapas
1 - AGUAS CALIENTES
2 - GUANAJUATO
BAIXA ESTADOS UNIDOS 3 - QUERETARO
CALIFÓRNIA
4 - HIDALGO
SONORA
5 - TLAXCALA
6 - MORELOS
CHIHUAHUA
7 - MÉXICO
BAIXA COAHUILA 8 - PUEBLA
CALIFÓRNIA
DO SUL
NOVA
DURANGO LEÓN Golfo do México
r
SINALOA
e Cânce
ZACATECAS TAMAULIPAS Trópico d

SAN LUIS
OCEANO NAYARIT 1 POTOSÍ VERACRUZ
PACÍFICO 2 3 4
YUCATÁN
JALISCO CIDADE
DO MÉXICO
MICHOACÁN QUINTANA
COLIMA 7 5 CAMPECHE ROO
6 8
N TABASCO Localização do
GUERRERO BELIZE estado de Chiapas no
0 385 OAXACA CHIAPAS território mexicano.
Capital federal HONDURAS
HONDURA S
km
Essa região é uma das
GUATEMALA
GU TEMALA NICARÁ A
NICARÁGUA
mais pobres do país.
FONTE: INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA Y GEOGRAFÍA (INEGI).
Disponível em: <www.inegi.org.mx>. Acesso em: 25 jun. 2015.

508
Chile

GIULIO ERCOLANI/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA


O território chileno alonga-se por cerca de 4 300 km de norte a sul,
com uma média de 170 km de largura. Localizado em uma estreita faixa
de terra entre a cordilheira dos Andes e o oceano Atlântico, situa-se na
borda da placa sul-americana, o que justifica a atividade sísmica no país.
Com geleiras ao sul, climas temperados ao centro e desertos ao norte, o
Chile apresenta enorme diversidade paisagística, também em razão da
grande amplitude altimétrica.
Grande produtor de cobre e de vinhos, o país se destaca por setores
industriais e de serviços diversificados. O recente histórico político chileno
apresenta temas polêmicos. A ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-
-1990), por exemplo, considerada uma das mais violentas do continente, foi
marcada por expansão econômica, aumento das exportações, modernização Laguna Miscanti, no deserto de Atacama, Chile, com
logística e crescimento da dependência externa, das desigualdades econô- a cordilheira dos Andes ao fundo, 2015. O país é um
dos que possuem maior atividade sísmica (terremotos)
micas e da retração dos benefícios sociais que se acentuaram nos anos 1980. e vulcânica do mundo. A posição do norte do país em
relação ao litoral, por onde passa a corrente marinha de
A redemocratização do país na década de 1990 foi inicialmente acompa- Humboldt (fria), determina a formação do deserto de
Atacama. Exatamente por essas paisagens exóticas e
nhada da retomada econômica de orientação neoliberal. Entre 2000 e 2010, exuberantes, o país atrai milhares de turistas de várias

GEOGRAFIA
dois representantes do Partido Socialista do Chile (o mesmo de Salvador partes do mundo todos os anos.

Allende, derrubado em 1973) foram eleitos presidentes: Ricardo Lagos e Michelle Bachelet. Sem contrapor a polí-
tica econômica liberal, passaram a priorizar ações regulamentadoras por parte do Estado e investimentos sociais.
A eleição de Sebastian Piñeda (considerado de centro-direita), em 2010, a tranquila transferência de
governo e o retorno de Michelle Bachelet ao poder em 2015 demonstram que a democracia chilena parece
consolidada, ainda que projetos de governo e plataformas políticas não sejam os mesmos.

Módulo 24
Argentina
MARCOS BRINDICCI/REUTERS/LATINSTOCK

Situada na faixa subtropical/temperada da América do Sul, com os An-


des a oeste e o Atlântico a leste, o quadro físico da Argentina caracteriza-
-se pelas planícies do Chaco, pela “Mesopotâmia” entre os rios Paraguai
e Uruguai e pela região dos Pampas, áreas que têm como característica a
produção rural intensiva. Ao sul, o deserto frio da Patagônia constitui um
vazio demográfico. Próximo ao litoral sul, localizam-se as ilhas Malvinas
(Falkland Islands), possessão inglesa sobre a qual os argentinos reclamam
soberania e que motivou uma guerra, na década de 1980, com altíssimo
custo humano para o país.
A riqueza mineral do país, como petróleo, carvão e prata, contribuiu
para a consolidação do setor industrial argentino. Por ter uma economia
diversificada e competitiva, com um grande parque industrial, um setor
de serviços bem qualificado e um setor agrícola bem desenvolvido e pro- Vista da área dos Pampas argentinos, na porção centro-
dutivo, a Argentina impõe condições comerciais que criam dificuldades -sul do território do país, em 2016. A região tem grande
vocação para a criação de animais e a produção de cereais,
junto ao Mercosul, uma vez que há setores produtivos argentinos que se que impulsionam a economia da Argentina, tornando-a
ressentem da competição com os produtos brasileiros. uma das principais áreas agrícolas do mundo.

A grande concentração urbana na Região Metropolitana de Buenos Aires denota a dificuldade em pro-
mover a dispersão produtiva e demográfica no país. Essa região possui, aproximadamente, 15 milhões de
habitantes, em um país com pouco mais de 45 milhões, ou seja, há um desequilíbrio na ocupação territorial
América Latina

como consequência da forma como ocorreu a ocupação histórica do território, da relação com a colonização
e a exploração das áreas mais próximas ao rio da Prata e do desenvolvimento econômico urbano-industrial
pontual no entorno de Buenos Aires, diferentemente do que ocorreu em outras regiões do país.

509
Esse desequilíbrio determina a condição de macrocefalia urbana, ou seja, uma porção do território de
uma região concentra a maior parte da população, das atividades econômicas e da prestação de serviços.
Com trajetória política e econômica marcada pelos traços comuns da história da América Latina, os ar-
gentinos continuam tendo dificuldades para debelar a crise econômica e social iniciada na década de 1980 e
agravada pela sucessão de governos neoliberais nos anos 1990.
Desde 2003, a sucessão de governos de Néstor e Cristina Kirchner fez ressurgir o peronismo, marcado
pelo fortalecimento de políticas trabalhistas, maior intervenção estatal na economia, nacionalismo e prote-
cionismo. O resultado dessas políticas divide os argentinos, como acontece em outros países com cenários
semelhantes de ascensão de partidos de esquerda na América Latina – por exemplo, a Venezuela, a Bolívia
e o Brasil.

Eixos de integração da América do Sul a partir da Iniciativa


de Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA)
A questão da integração econômica pela conexão de estradas, portos e aeroportos entre os países da
América do Sul sempre foi um desafio à região. Por razões históricas ligadas ao desenvolvimento econômico
e político e ao isolamento interno imposto pela colonização e por questões geográficas (o relevo da cordi-
lheira dos Andes é um fator impeditivo), a integração sempre foi precária e limitada. Existem poucos eixos
de conexão eficazes entre os países sul-americanos
América do Sul: eixos de (como rodovias, ferrovias e hidrovias), o que implica
integração e desenvolvimento um fator de dificuldade para o crescimento econô-
Santa Marta mico integrado.
Caracas
Ao longo do século XX, poucos e isolados pro-
VENEZUELA Georgetown
Medellín Paramaribo jetos foram desenvolvidos a fim de integrar a re-
Bogotá GUIANA Caiena
SURINAME
Guiana Francesa (FRA) gião. Merecem destaque a integração da Bolívia,
COLÔMBIA 4
Macapá Equador do Paraguai (países sem conexão com o mar) e do
Quito 4
EQUADOR 5 5
Santarém Belém São Luís Brasil, que permite o escoamento dos produtos
Manaus Fortaleza
5 bolivianos e paraguaios por estradas (por exemplo,
Natal
João a BR-277) e ferrovias (como a estrada de ferro No-
Porto Pessoa
PERU Velho Recife roeste, que liga Santa Cruz de La Sierra às ferrovias
BRASIL Maceió
Lima 6 Aracaju paulistas em direção ao porto de Santos), e o eixo
Callao Salvador
BOLÍVIA Cuiabá Brasília interoceânico projetado para integrar toda a costa
La Paz Goiânia
Cochabamba
Matarani Belo pacífica da América do Sul.
Sta. Cruz
FONTE: BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID); Iniciativa

Horizonte
Arica Sucre de la Sierra
2 Vitória Nas últimas duas décadas ficou mais evidente
3 São Paulo Rio de Janeiro a necessidade de um crescimento integrado para
para Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), 2007.

io CHILE 1 Santos
de Capricórn PARAGUAI
Trópico Antofagasta
Salta Assunção Curitiba Paranaguá a região. Em 2000, os presidentes dos países da
Florianópolis
Tucumán
Porto Alegre
América do Sul aprovaram a chamada Iniciativa de
OCEANO Integração da Infraestrutura Regional Sul-Ameri-
Rio Grande
URUGUAI ATLÂNTICO
1
Valparaíso Santiago cana (IIRSA), elaborando doze projetos prioritários
Buenos Montevidéu
OCEANO ARGENTINA Aires para a integração viária da região (veja, no mapa ao
PACÍFICO
Baía Blanca 1 Eixo Mercosul-Chile lado, seis desses doze projetos). Quando todos os
Puerto Montt 2 Eixo Interoceânico
3 Eixo Interoceânico
projetos estiverem efetivamente concluídos, espe-
4 Eixo Venezuela-Brasil-Guiana-Suriname ra-se que haja uma drástica redução no custo do
5 Eixo do Amazonas
6 Eixo do Peru-Brasil-Bolívia
transporte de mercadorias na região e, com isso,
Rodovia pavimentada aumente a competitividade dos produtos tanto no
N Eixo priorizado
Punta Arenas
Ferrovia existente mercado interno sul-americano como no merca-
0 540
Ferrovia em projeto do externo à região, como podemos observar no
km Porto
mapa ao lado.

510
Todos os eixos propostos pela Iirsa utilizam variados modais de transporte, como rodovias, ferrovias e
hidrovias, que são implementados de acordo com as características naturais e os potenciais socioeconômi-
cos de cada mesorregião. São alguns deles:
• Eixo 1: Mercosul-Chile: integrar a economia do Centro-Sul do Brasil, que engloba as principais me-
trópoles brasileiras, com o Uruguai e a Argentina, até a porção sul do território chileno, no porto da
cidade de Valparaíso. Além de integrar a economia interna do Mercosul, esse eixo pretende conectar a
economia sul-americana aos países asiáticos e da Oceania através do território chileno.
• Eixos 2 e 3: os dois eixos interoceânicos formam ligações entre os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR)
ao porto de Arica, no norte do Chile, por meio da modernização da estrada de ferro Brasil-Bolívia (Bauru-
-Cochabamba), para integrar os mercados brasileiro, paraguaio e boliviano, com escoamento tanto
para o litoral atlântico quanto para o litoral pacífico.
• Eixo 4: Venezuela-Brasil-Guiana-Suriname: tem por objetivo integrar os mercados venezuelano e das
Guianas com o norte do Brasil, principalmente Manaus, a fim de impulsionar a produção da Zona
Franca de Manaus por meio do acesso a esses mercados nos países fronteiriços com o Brasil na região
Norte. Essa integração tem como base o eixo rodoviário que liga Manaus a Caracas, na Venezuela, pas-
sando pelo estado brasileiro de Roraima. Além do eixo rodoviário, a integração pressupõe uma linha de
transmissão de energia, ligando as usinas hidrelétricas venezuelanas ao território brasileiro, e uma linha
de transmissão de dados por cabos de fibra óptica.

GEOGRAFIA
• Eixo 5: integração fluvial pelo rio Amazonas e seus afluentes entre o Brasil, o Peru, o Equador e a
Colômbia. Essa integração tende a ser um pouco mais complexa por causa dos desníveis de alguns
dos afluentes à montante do rio Amazonas, criando a necessidade de construir eclusas (estruturas que
transponham as cachoeiras dos rios e possibilitem às embarcações continuar navegando mesmo em
rios com desníveis) e, por isso, encarecendo e dificultando a integração.
• Eixo 6: integração entre Brasil-Peru-Bolívia pelos estados de Rondônia e Acre, no Brasil, até Lima, no
Peru. Esse eixo pressupõe a finalização da construção de uma rodovia ligando a região Centro-Oeste

M—dulo 24
do Brasil e a capital peruana, cortando a cordilheira dos Andes. Uma parte da integração depende tam-
bém de hidrovias nos rios Madeira e Mamoré, no território brasileiro, facilitando o acesso ao oceano
Pacífico. Esse corredor será extremamente importante para o escoamento da produção agrícola, como
a soja, o algodão e o milho, proveniente do Centro-Oeste brasileiro em direção aos mercados asiáticos.
Como podemos observar no mapa da página anterior, os projetos integram os territórios dos países que
concentram ou possuem potencial para desenvolver importantes redes comerciais, visando formar cadeias
produtivas e assim estimular o desenvolvimento econômico, além de facilitar o escoamento de mercadorias
tanto pelo litoral atlântico quanto para o litoral pacífico da América do Sul, conectando a região a mercados
em outras partes do mundo, como Europa, América do Norte, Ásia e Oceania.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

América Latina vive o fim da era nova, com gerações exigentes que demandam mais e melhor
dourada da esquerda no poder democracia e não toleram a corrupção nem o poder absoluto,
estão derrubando um a um quase todos os Governos da região.
[...] A  derrota de Evo Morales no referendo boliviano, a A Argentina viveu o início do eixo bolivariano, com a reunião
quem muitos viam como o último moicano da esquerda bo- de Mar del Plata de 2005, que marcou uma década de afastamen-
livariana, marca uma mudança de ciclo evidente na  Améri- to dos  EUA  e de políticas contrárias à ortodoxia econômica. O
América Latina

ca Latina, que começou com a vitória de Mauricio Macri na país austral também marcou o final, com a derrota do kirchneris-
Argentina. Depois de anos de grande crescimento e inclusão mo em novembro passado, depois de 12 anos no poder. Só três se-
social, a  crise econômica e uma sociedade latino-americana manas depois foi a vez das eleições na Venezuela, que representa-

511
ram o princípio do fim do chavismo no poder com a conquista de latino-americanas cresceram, entre 2003 e 2012, acima de 4%,
dois terços do Parlamento pela oposição. Agora a Bolívia também segundo dados da CEPAL. Desde os anos sessenta, a região
diz não à continuidade de Morales depois de 2019. O presidente não registrou um período tão intenso. No entanto, as previsões
equatoriano, Rafael Correa, também com problemas, anunciou do Fundo Monetário Internacional destacam que a economia
que não tentará a reeleição em 2017. E em poucas semanas, em latino-americana acabará 2016 com uma recessão do 0,3%.
abril, o Peru deve concluir o ciclo com a saída de cena de Ollanta A queda das matérias-primas é a principal causa. Entre
Humala e o provável regresso de um Fujimori ao poder. [...] 2011 e 2015, a queda dos preços dos metais e da energia (pe-
Algo parece evidente: na América Latina há correntes de tróleo, gás e carvão) foi de quase 50%, segundo a CEPAL. Só
fundo. Nos anos noventa triunfou o  liberalismo. O início do em 2015, os produtos energéticos caíram 24%.
século XXI chegou com um forte grito antineoliberal. Agora há Estes anos de bonança e Governos de esquerda mudaram
uma guinada à direita? Ninguém parece corroborar com essa muitas coisas no continente. Durante a década de ouro, entre
tese. Os dados indicam, na verdade, que os cidadãos latino- 2002 e 2012, os níveis de pobreza caíram de 44% para 29%,
-americanos, sobretudo as novas gerações, depois de conseguir enquanto que os de pobreza extrema diminuíram de 19,5%
uma maior inclusão social e um aumento da classe média, que- para 11,5%, com um aumento considerável das classes mé-
rem mais, e se tornaram muito críticos com o poder. Reconhe- dias. Também houve um aumento notável do gasto público. E
cem as conquistas de seus Governos mas não se conformam. isso implicou em inclusão social. Uma amostra: entre 1999 e
Morales, por exemplo, tem boa avaliação, poderia ganhar as 2011, segundo a Unesco, o nível de escolarização inicial pas-
eleições, mas quando esta semana perguntou-se se a população lhe sou de 55% a 75%. No entanto, os cidadãos não se conformam.
permitiria mais uma reeleição, a ideia foi rechaçada com 51,3%. Querem mais e melhor. E tudo indica que quase nenhum Go-
Querem mudança. Na Argentina, aconteceu algo parecido. Cristi- verno ficará em pé diante desta onda.
CUÉ, Carlos E.; LAFUENTE, Javier. El País. Disponível em:
na Fernández de Kirchner tinha uma alta avaliação, mas, quando <http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/27/internacional/
quis mudar a Constituição para poder continuar, perdeu em 2013 1456608633_490106.html>. Acesso em: 9 jan. 2017.

as eleições intermediárias, propostas quase como um plebiscito. A partir da década de 2010 tem-se observado uma clara
mudança política na América Latina com a interrupção de re-
Contra a corrupção
gimes de governo mais alinhados à esquerda, ou seja, de polí-
Em todos os países há uma linha comum: os protestos exi-
ticas com viés social e com maior apelo popular, simbolizados
gem maior transparência, luta contra a corrupção e uma troca
pelos governos de Hugo Chávez, na Venezuela, e de Cristina
geracional. A Bolívia foi o país com maior crescimento econô-
mico do eixo bolivariano. No entanto, como aconteceu a seus Kirchner, na Argentina.
correligionários, diante do enfrentamento da economia e do O grande desafio imposto a partir de agora é: quais são
surgimento de casos de corrupção, optou por defender-se re- os novos rumos que a América Latina deve tomar para pro-
correndo a um discurso do qual os cidadãos parecem já cansa- mover desenvolvimento econômico associado ao desenvol-
dos: uma conspiração orquestrada pelos EUA. vimento social nas próximas décadas? Como promover uma
O fim da década dourada das matérias-primas também retomada do crescimento econômico sem comprometer os
tem muito a ver com esta mudança de ciclo. As economias avanços sociais alcançados nas últimas décadas?

PARA CONCLUIR

Neste módulo, estudamos as características de regionalização de uma parte da América: a América


Latina. Analisamos a questão da identidade latino-americana e, brevemente, a história de formação
da região, sobretudo a partir do século XIX, já no processo de independência dos países. Trabalha-
mos as atuais formas de integração político-econômica da região sob a forma de blocos econômi-
cos e acordos de cooperação e, por fim, examinamos as características dos mais relevantes países
latinos (do ponto de vista econômico e geopolítico).

512
PRATICANDO O APRENDIZADO
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.

1. (UEMG – Adaptada) 2. (IFSP – Adaptada) Considere o texto e imagem a seguir.

REPRODUÇÃO/IFSP 2016
EUA alegam combater terrorismo para justificar
presença militar na América do Sul

EUA alegam combater


no quintal das Farc
OCEANO
ATLÂNTICO Malambo

Mar do
Caribe

PANAMÁ

Palanquero

OCEANO
PACÍFICO
Aplay

GEOGRAFIA
N
Equador BRASIL
0 360 Fonte: Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/07/o-que-ainda-
PERU km impede-a-aproximacao-entre-eua-e-cuba.html>. Acesso em: 28 out. 2015.

Territórios das Farc Bases militares


No dia 17 de dezembro de 2014, os presidentes Raúl
Extraído de: <http://br.images.search.yahoo.com/23/10/2015>.
Castro, de Cuba, e Barack Obama, dos Estados Unidos,
Desde seus processos de independência, duas nações alter- discursaram em seus respectivos países e anunciaram
nam momentos de conflito e de cooperação bilateral. A partir novas medidas que seriam adotadas em sua política in-

M—dulo 24
da década de 1980, com o aumento do tráfico de drogas e ternacional. Sendo assim, é correto o que se afirma em:
combustíveis, os problemas voltaram a ser frequentes. Atual- a) A retomada das relações diplomáticas de ambos os
mente, esses países estão em conflito territorial por domínio países contou com a abertura de embaixadas em
da região na fronteira. Havana e Washington.
Extraído de: <www.jb.com.br/internacional/noticias/2015/09/02/
venezuela-amplia-estado-de-excecao-na-fronteira-com-colombia>. b) Com a retomada das relações entre ambos, Cuba e
EUA ingressarão em um bloco econômico.
Com base nas informações obtidas acima, sabe-se que
os países citados no conflito são: c) Ambos anunciaram que estenderão suas rivalidades e
travaram uma nova modalidade de Guerra Fria.
a) Venezuela e Colômbia – a atual crise culminou com o
fechamento da fronteira entre esses países, e o aces- d) Ambos os países contaram com o apoio e esforços
so terrestre ficou fechado por tempo indeterminado. do papa Francisco e Nicolás Maduro, presidente da
Venezuela.
b) Argentina e Uruguai – o elemento-chave é a rejei-
ção de um grupo vizinho argentino a uma fábrica de e) Cuba e Estados Unidos não mantinham relações di-
celulose no Uruguai, expressa pelo bloqueio de uma plomáticas desde 1961; trata-se do fim de um blo-
das pontes internacionais que unem os dois países. queio econômico alcançado graças à habilidade do
papa Francisco nas negociações.
c) Brasil e Paraguai – os embates contra os agricultores
brasileiros residentes no Paraguai são denunciados 3. (Colégio Naval-RJ) O Mercosul – Mercado Comum do
pelos impactos nas comunidades locais ou pelo mau Sul – é um bloco econômico criado pelo Tratado de As-
uso de agrotóxicos. sunção, em 1991, tendo como países-membros o Brasil, a
d) Colômbia e Peru – a controvérsia foi originada no ataque Argentina, o Uruguai, o Paraguai e, mais recentemente, a
colombiano a um acampamento das Farc (Forças Arma- Venezuela. Posteriormente, há promessas de adesão de
América Latina

das Revolucionárias Colombianas) em solo peruano. outros países sul-americanos como Colômbia, Peru, Bolí-
e) Panamá e Nicarágua – rivalizam por causa da constru- via, Equador e Chile. Com relação aos objetivos e aos di-
ção de um novo canal no último. lemas desse bloco econômico, assinale a opção correta.

513
a) A redução das assimetrias econômicas entre seus c) Entre as principais motivações dos manifestantes que
membros possibilitou a unificação dos mercados na participaram dos protestos, figuram a insegurança so-
década de 1990 e a expansão da economia regional. cial, as altas taxas de inflação e a escassez de produ-
Esse cenário elevou o intercâmbio de trocas intrarre- tos básicos.
gional e a participação da América do Sul na Organi- d) Apesar dos protestos, o presidente Maduro recusou
zação Mundial do Comércio (OMC). a oferta da União de Nações Sul-Americanas (Unasul)
b) Os acordos estabelecidos entre os países-membros no sentido de mediar o diálogo com diferentes seto-
permitiram a livre circulação de bens e serviços, além res da sociedade nacional.
do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum
e) Desde o início dos protestos, o governo do presiden-
(TEC); no entanto, as liberalizações não foram esten-
te Maduro proibiu a circulação de todos os jornais
didas às pessoas, que são impedidas de circularem e
impressos controlados pela oposição, numa clara vio-
trabalharem em qualquer outro país do Mercosul.
lação à Carta Democrática Interamericana.
c) O Mercosul vem enfrentando dificuldades nas rela-
ções comerciais entre as economias maiores. A Ar- 5. (Cefet-MG) A questão refere-se à imagem abaixo.
gentina viu diminuir suas exportações porque o Brasil
implementou barreiras sobre o setor automobilístico
ESTADOS UNIDOS
e o de linha branca (geladeiras, micro-ondas, fogões),
provenientes do mercado argentino.
Miami
d) A entrada da Venezuela no Mercosul contribuiu para BAHAMAS
Para a
Para
MÉXICO
a superação das dificuldades de integração regional, os EUA
OCEANO
EUROPA
BELIZE
já que o país, além de apresentar os maiores índices GUATEMALA
HONDURAS ATLÂNTICO
NICARÁGUA
Para a
de crescimento sul-americano, também funciona como COSTA RICA VENEZUELA Georgetown EUROPA
PANAMÁ Paramaribo
porta-voz de interação com outros blocos econômicos, GUIANA
SURINAME
COLÔMBIA
como o Nafta (Acordo de Livre-Comércio da América Equador
Quito
EQUADOR
do Norte) e a CAN (Comunidade Andina de Nações).
PERU BRASIL
e) O Mercosul representou para o Brasil a oportunidade Brasília
Lima BOLÍVIA
de diversificar seu comércio exterior, adotar estraté- La Paz Rio de
gias de enfrentamento à concorrência externa, ser Para a
Janeiro
PARAGUAI
instrumento de atração de investimentos internacio- ÁSIA OCEANO Assunção São Paulo
PACÍFICO CHILE
nais e funcionar como contraponto à dependência da Santiago
região à influência norte-americana. Buenos Aires
Montevideo Para a
EUROPA
ARGENTINA URUGUAI

4. (FGV-SP)
Produção e tráfico de drogas OCEANO
ATLÂNTICO N
A Venezuela tem enfrentado momentos de tensão desde o Países zonas de cultivo
Lavagem de dinheiro
início de fevereiro, com protestos de estudantes e opositores Grandes fluxos do tráfico
0 1 400

km
contra o governo. A situação se agravou em 12 de fevereiro,
quando uma manifestação contra o presidente Nicolás Maduro FONTE: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geogr‡fico:
espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2010. (Adaptado).
terminou com três mortos e mais de 20 feridos.
Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/02/
entenda-os-protestos-na-venezuela.html>. Acesso em: 24 mar. 2014. A produção descentralizada de drogas e a dinâmica dos
fluxos estabelecidos têm como consequência a (o):
Sobre a tensão na Venezuela, é correto afirmar:
a) incremento da demanda do comércio local.
a) O presidente Maduro não foi eleito pelo voto po-
b) ampliação do alcance das forças legais de contenção.
pular, tendo assumido interinamente o poder após
a morte de Hugo Chávez e se mantido no cargo de c) pressão dos governos da região pela legalização dos
forma autoritária. entorpecentes.
b) A crise venezuelana, fonte das tensões mencionadas, d) ratificação de acordos cooperativos entre os princi-
tem sua origem no esgotamento das reservas de pe- pais fornecedores.
tróleo que sustentaram a economia venezuelana du- e) intensificação do comércio ilegal do produto para ou-
rante décadas. tros continentes.

514
DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. ENEM (Cancelado) c) foi aprovado apesar da discordância do Paraguai, pois


C2
o ingresso de novo país-membro no Mercosul podia
H7
Por volta de 1880, com o progresso de uma economia pri- ocorrer por maioria simples.
mária e de exportação, consolidou-se em quase toda a América d) foi aprovado apesar da discordância do Uruguai, bene-
Latina um novo pacto colonial que substituiu aquele imposto ficiado pela suspensão do Paraguai, em consequência
por Espanha e Portugal. No mesmo momento em que se afir- do golpe branco que derrubou seu presidente.
mou o novo pacto colonial começou a se modificar em sentido
e) contou com o apoio geral da imprensa brasileira, bem
favorável à metrópole. A crescente complexidade das ativida-
como da situação e da oposição política no Brasil, con-
des ligadas aos transportes e às trocas comerciais multiplicou
vencidos de que o governo venezuelano satisfaz a cláu-
a presença dessas economias metropolitanas em toda a área da
sula democrática, requisito necessário para o ingresso.
América Latina: as ferrovias, as instalações frigoríficas, os silos
e as usinas, em proporções diversas conforme a região, torna-
ram-se ilhas econômicas estrangeiras em zonas periféricas. 3. (FGV-RJ) Em 22 de junho de 2012, o presidente Fernan-

GEOGRAFIA
a C2 do Lugo foi acusado de fraco desempenho de suas fun-
DONGHI, T. H. História da América Latina. 2 ed. H9
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. Adaptado. ções e destituído pelo Senado paraguaio.
Sobre as repercussões desse fato na agenda externa do
De acordo com o texto, o pacto colonial imposto por
país, é correto afirmar:
Espanha e Portugal a quase toda a América Latina foi
substituído em função: a) A Organização dos Estados Americanos (OEA) con-
denou enfaticamente a destituição, e suspendeu o
a) das ilhas de desenvolvimento instaladas nas periferias
Paraguai de seus quadros por tempo indeterminado.

M—dulo 24
das grandes cidades.
b) A União das Nações Sul-Americanas (Unasul) optou
b) da restauração, por volta de 1880, do pacto colonial
pela suspensão temporária do Paraguai até abril de
entre a América Latina e as antigas metrópoles.
2013, data das próximas eleições gerais.
c) do domínio, em novos termos, do capital estrangeiro
c) O Mercosul posicionou-se de forma neutra à desti-
sobre a economia periférica, a América Latina.
tuição, considerando que não houve desrespeito à
d) das ferrovias, frigoríficos, silos e usinas instaladas em Constituição paraguaia.
benefício do desenvolvimento integrado e homogê-
d) Após a deposição e a posse no novo presidente, Frederi-
neo da América Latina.
co Franco, o Senado paraguaio finalmente ratificou a en-
e) do comércio e da implantação de redes de transpor- trada da Venezuela como membro pleno do Mercosul.
te, que são instrumentos de fortalecimento do capital
e) O afastamento de Fernando Lugo, que se posiciona-
nacional frente ao estrangeiro.
va contra a presença de latifundiários brasileiros em
seu país, encerrou um período de crise diplomática
2. (ESPM-SP) A entrada da Venezuela como membro pleno entre o Brasil e o Paraguai.
C2 do Mercosul permite que o bloco reformule a sua com-
H9
posição e ganhe novo impulso graças à incorporação da
4. (FGV-SP)
terceira economia da América do Sul.
C2
Quanto ao ingresso da Venezuela no Mercosul é correto H9 O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, anunciou
assinalar: nesta terça-feira [4/9/13] a assinatura de um acordo inicial
a) foi aprovado de comum acordo pelos quatro membros com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
plenos do bloco: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. para o fim do conflito interno no país. A próxima etapa nas
América Latina

negociações acontecerá na primeira quinzena de outubro, em


b) foi aprovado por Argentina, Brasil e Uruguai, sem o
Oslo (Noruega).
voto do Paraguai, suspenso do bloco em consequên-
Extraído de: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/24116/colombia+
cia do golpe de Estado naquele país. anuncia+acordo+inicial+com+as+farc+para+fim+do+conflito+interno.shtml>.

515
Sobre esse tema, é correto afirmar: 6. (Cesgranrio-RJ)
C4
a) As Farc surgiram em meados da década de 1980 H18 As tímidas reformas iniciadas pelo Presidente Raúl Castro não
como um grupo de oposição ao regime totalitário im- têm dado os resultados esperados. Um informe oficial do governo
posto pelo governo da Frente Nacional. cubano revelou que, dos mais de 1 milhão de hectares de terras
b) Desde o seu surgimento, as Farc atuam essencialmen- estatais entregues em usufruto a novos produtores em 2008, para
te nas grandes cidades, pois o povoamento disperso aumentar a oferta de alimentos, 54% continuam improdutivas.
limita sua ação no restante do território colombiano. Cuba, fortemente atingida pela crise econômica global e vários
furacões em 2008, muito tem investido anualmente na importa-
c) O diálogo entre o governo colombiano e as Farc teve
ção de alimentos, e precisa urgentemente produzir mais...
início ainda durante o governo de Álvaro Uribe (2002-
Cuba dá um passo à frente, outro atrás. O Globo.
-2010), quando este reconheceu os guerrilheiros Caderno Opinião, 1o caderno, 22 ago. 2010, p. 6.
como partes legítimas do conflito colombiano. Com base no contexto acima, a respeito dos resultados
d) No texto do acordo inicial mencionado no texto, o das recentes transformações econômicas realizadas em
governo colombiano exime as Farc de qualquer en- Cuba, é correto afirmar que a(o):
volvimento com o narcotráfico internacional. a) reestruturação cubana se baseia principalmente em
e) Apesar de duramente criticada por setores da oposi- uma reforma agrária concentrada em produtos de
ção, a iniciativa de paz conta com o apoio de mais de exportação, tais como: fumo, cana-de-açúcar e gê-
70% dos colombianos. neros alimentícios, em resposta à posição do gover-
no Barack Obama de reforçar o embargo econômico
5. (Mack-SP) decretado há mais de 40 anos pelos Estados Unidos.
C2
H7
b) escassez de alimentos sempre foi uma das maiores
dificuldades do governo cubano e, aliada a imposi-
ções econômicas e aos poucos incentivos dados aos
agricultores, contribuiu ainda mais para a queda da
produção agrícola.
REPRODU‚ÌO/MACKENZIE 2012

c) presidente Castro permitiu a ampliação da base mili-


tar de Guantánamo, em troca de empréstimos norte-
-americanos para a recuperação econômica de Cuba.
d) governo cubano vem investindo nas atividades liga-
das à exportação de bens e serviços, com a finalidade
de combater o problema mais imediato no país, que
é a escassez de divisas.
e) governo cubano tem se aproximado do Grupo dos
Oito (G8), como forma de atrair investimentos estran-
geiros, mas as negociações são dificultadas pela re-
cusa renitente de Cuba a reingressar na Organização
A charge acima faz referência: dos Estados Americanos (OEA).
a) à manutenção do embargo econômico imposto pelos
EUA a Cuba desde 1961. 7. (CPS-PR) Na história das Olimpíadas, Cuba é uma das na-
C4 ções latino-americanas que mais se destacam, com um to-
b) ao controle militar que os EUA exercem sobre todo o H18

território cubano desde 1961. tal de 194 medalhas, sendo 67 de ouro. Só para comparar,
o Brasil tem um total de 91 medalhas, sendo 20 de ouro.
c) ao fracasso das mudanças em Cuba, que resultaram
Cuba começou bem nos Jogos Olímpicos, ganhando
na ampla abertura econômica e na volta da democra-
2 medalhas em Paris, em 1900, e mais 9 em Saint Louis,
cia, com a eleição direta de Raúl Castro.
em 1904. Porém, mais de 90% das medalhas cubanas
d) à aliança entre os EUA e Cuba, agora sob o comando foram ganhas a partir de 1959, sobretudo no atletismo,
de Raúl Castro, para o combate à pobreza na ilha. boxe, beisebol, vôlei e judô.
e) ao isolamento que a Organização dos Estados Ameri- Assinale a alternativa que apresenta fatores sociais que
canos, OEA, impôs a Cuba, recentemente, para pres- ajudam a explicar essa grande evolução de Cuba, nos
sionar a volta da democracia. Jogos Olímpicos, a partir de 1959.

516
a) Altos investimentos em educação e saúde, a partir c) o Pacto Andino, que surge do chamado Acordo de
dos lucros obtidos com a exportação de açúcar, ferti- Cartagena, com objetivo de integração econômica.
lizantes e máquinas agrícolas. d) a Unasul, que objetiva criar mecanismos de proteção
b) A formação de atletas com o auxílio financeiro da an- aos países da América do Sul.
tiga União Soviética, que importava de Cuba produ- e) a Alba, que propõe a unificação política e econômica
tos como minérios, tecidos e petróleo.
entre os países da América do Sul e da América Central.
c) A implantação de políticas socialistas de reforma
agrária, saúde e educação, com diminuição significa- 10. (Cesgranrio-RJ)
tiva das taxas de analfabetismo. C2
O antigo presidente da Polônia e Prêmio Nobel da Paz Lech
H7
d) O grande incentivo do Estado capitalista aos espor- Walesa deu o primeiro empurrão no dominó gigante que sim-
tes, como parte da propaganda desse sistema, sus- boliza a queda do Muro de Berlim, cujo 20o aniversário se
tentado pelo turismo e pela indústria de base. assinala hoje.
e) A revolução socialista e as políticas públicas que leva- O Globo, 9 nov. 2009.

ram o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do

REPRODU‚ÌO/CESGRANRIO 2010
país a um dos mais altos da América e do mundo.

8. (Fuvest-SP) A Organização dos Estados Americanos


C2 (OEA) revogou, por meio da Resolução de 03/06/2009, a

GEOGRAFIA
H9
decisão, tomada em 1962, que excluía Cuba dessa orga-
nização. Em relação a esse tema, é correto afirmar que:
a) os países-membros impuseram, como condição para
a volta de Cuba à OEA, o cumprimento do acordo de
fechamento da prisão de Guantánamo.
b) o retorno de Cuba à OEA deve resultar de um pro-

Módulo 24
cesso de diálogo a pedido do próprio governo
cubano.
c) a atual decisão da OEA foi criticada por países da O Globo, 10 nov. 2009.

América do Sul que não fazem parte dessa organiza-


A caricatura publicada no dia seguinte às comemorações
ção como, por exemplo, Venezuela e Bolívia.
pelos 20 anos da queda do Muro de Berlim faz alusão à:
d) o Brasil não participou da decisão da OEA, em junho
a) radicalização dos governos latino-americanos que
de 2009, mantendo-se alheio ao processo de diálogo
compõem o Mercosul frente ao possível ingresso da
e de negociação com Cuba.
Venezuela na organização econômica.
e) os EUA retiraram-se do processo de discussão da re-
ferida Resolução por discordarem da readmissão de b) reação do presidente venezuelano Hugo Chávez ao re-
Cuba à OEA. chaçar a influência norte-americana na ação de Walesa
contra a permanência do comunismo na Polônia.
9. (UFG-GO) A geopolítica no continente americano sofreu c) tentativa de manutenção dos princípios da Revolução
C2 mudanças consideráveis na década atual, modificando Bolivariana no governo de Hugo Chávez, com a fina-
H9
projetos institucionais que visavam maior influência eco- lidade de conquistar o apoio popular para a concreti-
nômica dos Estados Unidos. Como contraponto a essas zação das reformas venezuelanas.
iniciativas, o governo da Venezuela propôs a criação de d) postura centralizadora do presidente venezuelano
um novo bloco. Hugo Chávez ao tentar conter a onda liberal que ca-
Esse bloco, que conta atualmente com a adesão de vá- racterizou a derrubada do muro, símbolo do socialis-
rios países, é: mo autoritário do leste europeu no pós-guerra.
a) o Mercosul, que visa estreitar as relações com os paí- e) postura liberal-democrática do presidente boliviano
América Latina

ses do Cone Sul. Evo Morales ao tentar barrar a expansão do socialis-


b) o Nafta, que busca aproximar os países da América mo, que foi o grande impulso ideológico na trajetória
do Norte e Central. de Lech Walesa durante a Guerra Fria.

517
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Uerj – Adaptada) A partir da década de 1990, a resistên- 3. (PUC-SP) A Bolívia já nacionalizou seus recursos fósseis
cia à hegemonia dos Estados Unidos na América Latina (hidrocarbonetos) três vezes: em 1937, quando a “Stan-
se fortaleceu com o surgimento de lideranças nacionais dard Oil” americana detinha a totalidade dos poços no
que constituem a chamada “nova esquerda latino-ameri- país; em 1969, foi a vez da “Gulf Oil” e a atual naciona-
cana”. O ano de 2008 colocou um ponto de interrogação lização envolve várias empresas como a “Petrobras” do
nesse processo, pois se esperava uma nova conjuntura Brasil e a “Repsol” da Espanha, por exemplo.
relacionada a possíveis alterações em: Sobre essa nacionalização atual na Bolívia é correto afir-
a) sistema econômico cubano com a renúncia de Fidel mar que:
Castro. a) é um ato que nacionaliza apenas a exploração de gás
b) política externa boliviana com a vitória eleitoral de natural e quer chegar até a incorporação do gasoduto
Evo Morales. Brasil-Bolívia como patrimônio exclusivo da Bolívia.
c) regime tarifário brasileiro com a retomada do diálogo b) é uma nacionalização das jazidas de hidrocarbonetos,
entre os países do Mercosul. mas que permite e quer negociar novos contratos de
d) estrutura agrícola paraguaia com a ação das forças de exploração dos recursos pelas empresas estrangeiras.
direita do governo de Fernando Lugo. c) a nacionalização desaloja empresas estrangeiras e
garante o monopólio da exploração, refinamento e
2. (PUC-SP) Leia com atenção: comercialização apenas para empresas bolivianas.

A União das Nações Sul-Americanas (Unasul) é uma ins- d) é um ato que gerou revoltas na Bolívia, desestabili-
tância fundamental para efetivar os avanços já alcançados por zando gravemente o governo atual, visto que as em-
outros organismos de integração regional, como o Mercosul presas estrangeiras são a única fonte de emprego no
[por exemplo]. país.
Uma vitória da América do Sul, Jornal da USP. 2 a 8 jun. 2008, p. 3. e) as ameaças militares do Brasil à Bolívia em razão da
expropriação da Petrobras levaram o país vizinho a
Sobre o Tratado assinado pelos representantes dos 12
realizar um recuo estratégico nessa ação.
países da América do Sul, podemos afirmar que:
a) a Unasul não conta com a participação da Venezuela e
uma das razões de sua existência é para que os outros 4. (FGV-SP) Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia,
países sul-americanos se protejam daquele país. em dezembro de 2005, após uma intensa crise política
em que dois presidentes renunciaram. O início do man-
b) a perspectiva dessa União é apenas comercial, não
dato de Morales foi assistido com certa preocupação
visando qualquer outro tipo de associação e coopera-
pelo governo brasileiro, pois, ao cumprir o discurso de
ção, se assemelhando, portanto, à União Europeia.
campanha, o presidente boliviano:
c) a União contraria interesses dos membros do Mercosul,
a) nacionalizou empresas estrangeiras de exploração de
já que inclui países pobres, com os quais os países do
gás e petróleo, como a brasileira Petrobras.
cone sul não pretendem formar acordos de cooperação.
b) reivindicou a autonomia do Acre e posterior anexação
d) a Unasul será uma organização mais ampla que o Mer-
ao território boliviano.
cosul e a Comunidade Andina de Nações, pois visa
promover a integração em outras dimensões, além da c) aprovou a lei que dá soberania aos departamentos bo-
econômica. livianos, envolvendo os limites do território brasileiro.

e) o Brasil não participou das reuniões da Unasul, pois d) apropriou-se de empresas siderúrgicas brasileiras
esta contraria os nossos interesses, já que temos nos para depois revendê-las ao governo venezuelano.
esforçado muito mais para unirmo-nos com a América e) aprovou uma nova Constituinte que rechaça a influên-
do Norte. cia política e econômica do Brasil na América do Sul.

518
5. (UEG-GO) Uma das faces da globalização é a criação de
mercados comuns entre grupos de nações chamados Círculo Polar Ártico

de megablocos ou blocos regionais; é uma forma de


regionalização dentro do espaço mundial e, ao mesmo OCEANO
Trópico ATLÂNTICO
tempo, uma forma de aumentar as relações em escala de Câncer OCEANO
PACÍFICO
global, pois os países participantes de um bloco têm aces- Equador
OCEANO
so a vários mercados consumidores, dentro e fora de seu PACÍFICO
OCEANO
ÍNDICO
bloco. Sobre alguns dos blocos da América, responda: Trópico de Capricórnio

a) Cite os países que compõem o Nafta e explique quais


N
são os reflexos dessa organização para o país repre-
0 3 720
sentante da América Latina. km
Países da Aliança do Pacífico

O Tratado de Livre-Comércio Norte-Americano (Nafta) é formado FONTE: Extraído de: <http://democraciapolitica.blogspot.com.br>.

por Estados Unidos, Canadá e México. A economia mexicana é a


Apresente dois argumentos favoráveis à decisão dos
que mais tem problemas com o acordo: formação de empresas
países integrantes da Aliança do Pacífico de formarem
“maquiladoras”; grande dependência em relação à economia um bloco regional de comércio.
estadunidense, deixando vulnerável a posição mexicana; ações Em seguida, justifique a situação vantajosa resultante da
repressivas nas áreas de fronteira, que favorecem a queda da posição geográfica do litoral desses países para a me-

GEOGRAFIA
economia mexicana; aumento do endividamento do país; lhoria do seu desempenho no comércio internacional.
dependência na importação de alimentos e exploração de Argumentos possíveis:
mão de obra. • ampliação do mercado consumidor;

b) A criação da Alca sofreu várias críticas em função dos • ampliação dos fluxos de turistas entre os participantes;
prejuízos que pode representar para o Mercosul. Ex- • aumento dos fluxos de capital entre os países-membros;
plique. • crescimento do intercâmbio de serviços dentro do bloco;

M—dulo 24
A formação da Alca sempre ficou à sombra do gigante • perspectiva de aumento dos investimentos diretos externos;
econômico, os Estados Unidos, fazendo com que os demais • possibilidade de geração de emprego e renda pela ampliação do
países, principalmente os latino-americanos, receassem a comércio externo.
desestruturação de suas economias pela influência estadunidense. Vantagens da posição geográfica do litoral:
É questionado o poder de competição dos produtos • Como todos os países têm litoral no oceano Pacífico, isso facilita
estadunidenses, em relação a quantidade e preço. Além o intercâmbio com os países asiáticos, com os quais eles já possuem
disso, não se pode esquecer do receio de a abertura econômica acordos comerciais.
ser naturalmente controlada pelos Estados Unidos, dificultando a • O litoral no oceano Pacífico favorece o comércio com a costa
circulação de produtos, pessoas e tecnologia de modo equilibrado. oeste dos Estados Unidos.
• Alguns países possuem litoral no Pacífico e no Atlântico, o que
6. (Uerj) facilita o comércio com um número muito grande de territórios na

Chile, Colômbia, Peru e México Ásia, na Oceania, na América do Norte e na Europa Ocidental.

assinam a Aliança do Pacífico

Os presidentes do Chile, Colômbia, México e Peru subs-


creveram uma aliança para acelerar a integração entre os paí-
ses de maior abertura comercial da América Latina. O bloco,
que pretende avançar para uma livre circulação de bens, ser-
viços, capitais e pessoas, espera que a Costa Rica se una a eles
em curto prazo.
Os membros da Aliança do Pacífico, com exceção da
América Latina

Colômbia, fazem parte do Foro de Cooperação Econômica


Ásia-Pacífico, que reúne 21 países, entre eles a gigante China.
Disponível em: <http://elguialatino.com.br>. Acesso em: 18 jun. 2012. Adaptado.

519
7. (UFRJ) O bolero, o mambo, o calipso, a salsa, o reggae Observe o mapa e, com base no texto, explique um
e o rap mostram a diversidade rítmica que caracteriza o efeito econômico-regional diante dessa decisão do pre-
mundo caribenho. sidente venezuelano.
EUA
Capital
A ocupação de portos estratégicos objetivou reduzir a influência de
Golfo Nassau
EUA - Estados Unidos
do México FRA - França grupos opositores e aumentou o controle do Estado (poder central)
Trópico de Cân PBS - Países Baixos
c er BAHAMAS
RUN - Reino Unido
Havana
VEN - Venezuela sobre a economia, típico de governos nacionalistas de esquerda.
Is. Caicos (RUN)
CUBA
Is. Turks (RUN) OCEANO ATLÂNTICO
I. de Pinos Alguns portos são importantes, a exemplo de Maracaibo, porta de
Is. Virgens
REP. (RUN)
Is. Cayman (RUN)
MÉXICO HAITI
Porto Príncipe
DOMINICANA Porto saída da região produtora de petróleo, o principal produto de
JAMAICA Rico ANTÍGUA E
Santo
Belmopán Kingston (EUA) BARBUDA
Domingo
BELIZE SÃO CRISTÓVÃO I. Guadalupe exportação da Venezuela.
E NÉVIS (FRA)
GUATEMALA
Guatemala HONDURAS DOMINICA
I. Martinica (FRA)
Tegucigualpa Mar das Antilhas
San Salvador SANTA LÚCIA
(Mar do Caribe) SÃO VICENTE
EL SALVADOR I. Curaçao
NICARÁGUA I. Aruba (PBS) E GRANADINAS BARBADOS
(PBS)
GRANADA
Manágua TRINIDAD
N Caracas E
COSTA RICA TOBAGO
San José Panamá
0 420 PANAMÁ VENEZUELA
COLÔMBIA
OCEANO
km PACÍFICO GUIANA

Apresente dois fatores que explicam a diversidade mu-


sical do Caribe.
9. (Fuvest-SP) Em setembro de 2007, aconteceram passea-
Desde o período colonial, a região do Caribe passou por crescente
tas em diversas cidades do país, como forma de protes-
e intenso processo de circulação marítima em razão do comércio
to contra a privatização da Vale (Companhia Vale do Rio
praticado pelas potências coloniais, como Espanha, Inglaterra e
Doce, antiga CVRD).
Holanda. Além dos brancos europeus, latinos e anglo-saxônicos, os
a) Caracterize o contexto político-econômico mundial e
negros africanos trazidos para o trabalho escravo e as populações
nacional em que se deu a privatização da Vale.
indígenas nativas ajudaram a transformar o Caribe em um mosaico
A associação entre democracia e neoliberalismo foi marcante
cultural. A riqueza e a multiplicidade de manifestações artísticas
no mundo pós-Guerra Fria. Aspectos como a consolidação da
resultantes podem ser compreendidas com base nessa realidade.
democracia e a estabilidade econômica foram destacados no
período. Nesse contexto, o governo brasileiro privatizou várias

8. (Vunesp – Adaptada) O presidente Hugo Chávez ordenou, empresas estatais, como a Companhia Vale do Rio Doce, ao longo

no mês de março de 2009, que os militares tomassem o da década de 1990.

controle dos três principais portos da Venezuela, que se


encontravam sob controle dos opositores políticos.

Venezuela: principais portos


Porto de
Maracaibo Mar do Caribe

Porto Porto de
Cabello Porlamar b) Outros movimentos pró-reestatização de empre-
sas públicas que foram privatizadas têm ocorrido na
América Latina. Identifique um país em que isto acon-
teceu recentemente e explique o fato.
A Bolívia reestatizou a exploração e o refino do petróleo e do gás
natural em maio de 2006, por decreto-lei, revertendo privatizações

5¡ N
COLÔMBIA da década de 1990.

BRASIL N

0 220

km

<www.a-venezuela.com/mapas>. Adaptado.

520
10. (PUC-RJ – Adaptada) plique de que maneira a sua ação política vem colocando
em xeque a globalização em seu país.
O país é a Bolívia. Em dezembro de 2005, o líder cocalero Evo
Morales venceu, com maioria absoluta e apoio político e financeiro
do venezuelano Hugo Chávez, as eleições presidenciais bolivianas,
tornando-se o primeiro presidente de origem indígena do país. Ao

REPRODUÇÃO/PUC-RIO 2007
assumir o poder em 22 de janeiro de 2006, a plataforma política
do partido que o representa (MAS – Movimento ao Socialismo)
passou a ser discutida nacionalmente e no exterior, colocando
em tensão países e investidores diversos em relação ao “risco-
-país” que a Bolívia passaria a representar na economia global.
Como forte opositor à erradicação do cultivo da coca defendida
pelos Estados Unidos, Evo Morales diverge, frontalmente, do

“A democracia na América Latina”, de Best of sistema socioeconômico capitalista, que é a força motriz da
Latin America, Cagle Cartoons, El Universal, globalização econômica. Dentre os pontos mais polêmicos da
Cidade do México. 1o de setembro de 2005.
Fonte: www.politicalcartoons.com plataforma política desenvolvida por Morales, destacam-se: a
nacionalização de indústrias estratégicas e dos recursos naturais

GEOGRAFIA
A América Latina vem passando, desde a década de 1980,
(hidrocarbonetos); o controle estatal total das propriedades onde
por processos de redemocratização que reativaram pro-
estão os recursos energéticos; a redução dos preços de produtos
jetos socioeconômicos há muito desejados pelos povos
para o consumo de massa; a saúde e a educação gratuitas para
da região. Porém, existem disparidades entre os desejos
toda a população; o aumento dos impostos para as classes média
por justiça social dos povos latinos e as possibilidades po-
alta e alta; as resistências à consolidação da Alca; o suporte
lítico-econômicas de se chegar, mais rapidamente, à justa
político e administrativo ao cultivo da folha de coca, reforçando o
equidade socioespacial.

M—dulo 24
PIB “subterrâneo”; a redistribuição de terra.
Em relação a esse momento singular na região, iden-
tifique o país da América Andina onde os movimentos
sociais históricos levaram ao Poder Executivo do Estado
Nacional um descendente de ameríndios, em 2006, e ex-

GOTAS DE SABER

O que vai acontecer com Cuba após a morte de Fidel Castro

Setenta por cento dos cubanos jamais conheceram outro líder


além de Fidel Castro, mas a situação política tende a se abrir
O que vai acontecer em Cuba com a morte de Fidel Castro? “Um grande funeral”, ironizam os
cubanos ante a pergunta, tentando minimizar o impacto que teria na ilha o desaparecimento do pai
da revolução cubana.
“Os cubanos já enterraram Fidel faz tempo”, afirmou um diplomata ocidental que viveu vários
anos em Cuba.
“Eles estão com a cabeça no futuro, para muitos deles Fidel não é mais que um passado glorioso”,
acrescentou.
Deixando o poder em 2006 para seu irmão mais novo Raúl, Fidel Castro conservou um peso
América Latina

moral exercido principalmente através de seus artigos publicados de forma regular na imprensa
oficial.

521
ENRIQUE DE LA OSA/REUTERS/LATINSTOCK
“Com a morte de Fidel, a si-
tuação política e econômica prova-
velmente se abrirá. Tirará um peso
sobre Raúl. Ele não terá mais que se
preocupar com as contradições com
seu irmão mais velho, uma persona-
lidade avassaladora”, afirmou à AFP
Michael Shifter, presidente do Inter-
-American Dialogue, um centro de
estudos americanos.
Desde sua grave doença em
2006, sua imagem se modificou e
ele trocou seu uniforme verde-oliva
pelos trajes esportivos.
A figura paternal do “comandan-
te em chefe”, tão respeitada quanto Cuba: “Os cubanos já enterraram Fidel Castro faz tempo”, afirmou
temida, permaneceu onipresente, ape- diplomata.
sar de toda sua vida Fidel Castro cuidadosamente evitar o culto à personalidade ao estilo estalinista.
Em Cuba não há estátuas suas nem grandes retratos nas ruas, mas os muros estão cobertos por
frases suas e a imprensa oficial cita cotidianamente suas frases grandiloquentes.

O chefe
Setenta por cento dos cubanos jamais conheceram outro líder a não ser aquele que chamam
simplesmente Fidel, “o comandante” ou “o chefe”. Nas conversas, os mais prudentes simplesmente
aludiam a ele fazendo um gesto de acariciar a barba, e falando baixo…
“A imensa maioria dos cubanos conserva um vínculo pessoal com Fidel. Tanto quem o apoiava,
totalmente ou com discrepâncias, como aqueles que viam nele a causa de todos os males de Cuba”,
afirma o analista político Rafael Hernández, diretor da revista Temas.
“Eu não sou comunista, sou fidelista”, professavam os cubanos que se aventuravam a falar de
política com estrangeiros.
“A expectativa de mudança vai crescer entre a maioria dos cubanos. A morte de Fidel muito cer-
tamente abrirá a porta para conflitos maiores e confrontos entre as pessoas que exercem o poder. Se
terá ido o árbitro supremo de todos os conflitos em Cuba. Raúl terá mais, muito mais espaço, mas
também o terão seus adversários políticos”, estimou Michael Shifter.
Arturo López Levy, especialista em assuntos cubanos do Centro de Estudos Globais da Universi-
dade de Nova York, foi mais prudente.
“Depois da morte de Fidel, ganharão ímpeto a reforma orientada para o mercado e a erradicação
das políticas comunistas mais impraticáveis. Sem o carisma de Fidel, as disposições do Partido Co-
munista descansarão nos resultados econômicos”, afirmou.
“Mas o impacto sobre o ritmo e a natureza das reformas de Raúl será limitado. Raúl já tem a
última palavra na aplicação de sua agenda de reformas. Ele não necessita provar sua legitimidade”,
acrescentou López Levy.
“A era pós-Fidel começou em 2006, o que conta de agora em diante é a o pós-Raúl”, afirmou o
diplomata ocidental.
AFP. Revista Exame. 26 nov. 2016. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/
o-que-vai-acontecer-com-cuba-apos-a-morte-de-fidel-castro>. Acesso em: 13 mar. 2017.

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