Reprodução Assexuada 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 26

Reprodução assexuada

Reprodução

A reprodução é uma função básica dos seres vivos e constitui a capacidade de


originar descendência.

Apesar de não ser um processo necessário à sobrevivência, é a única garantia


da continuidade das espécies, já que a duração da vida de cada organismo, apesar de
muito variável, é limitada.

Existem dois tipos básicos de reprodução:

• Reprodução sexuada – os descendentes resultam da fecundação, isto é, da


união de duas células sexuais ou germinativas – gâmetas – produzidas pelos
progenitores;
• Reprodução assexuada – os descendentes são originados a partir de um único
progenitor e sem que ocorra fecundação (não há união de gâmetas).

Reprodução assexuada

Um indivíduo que se reproduz assexuadamente gera novos seres


geneticamente iguais a si próprio, exceto se ocorrerem mutações e se reproduzirem
por partenogénese.

Nos procariontes, como as bactérias, a divisão celular gera, a partir de um único


ser, dois indivíduos geneticamente iguais. Trata-se, portanto, de um processo de
reprodução assexuada.

Nos eucariontes, a formação de descendência geneticamente igual aos


progenitores é conseguida através de mitoses de algumas das suas células, seguida de
processos de diferenciação.

Assim, em ambos os casos, a reprodução assexuada gera clones1, que por


definição são seres geneticamente iguais entre si e ao progenitor.
1 Do grego klón = rebento de uma planta.

Tipos de reprodução assexuada

As estratégias de reprodução assexuada são variadas e dependem do tipo de


organismo. Podem ser o único processo de reprodução ou consistir uma alternativa
que apenas é utilizada em certas circunstâncias.

Nota: Pode ser uma técnica de adaptação ou própria de cada espécie.

Existem diversos tipos de reprodução assexuada, destacando-se os seguintes:

• Fissão binária ou bipartição;


• Fissão múltipla ou divisão múltipla;
• Fragmentação;
• Gemulação;
• Esporulação;
• Propagação vegetativa ou multiplicação vegetativa;
• Partenogénese e apomixia.

Fissão binária ou bipartição

A bipartição é um processo de reprodução em que um organismo se divide em


dois com dimensões idênticas, que posteriormente, crescerão até atingirem as
dimensões do progenitor.

A bipartição é típica dos seres unicelulares procariontes, como as bactérias e


de muitos eucariontes unicelulares, como as amibas e as paramécias (protozoários).
Pode ainda ocorrer em invertebrados, como é o caso das planárias, das anémonas e
das medusas.

Nos seres unicelulares, a célula progenitora replica o seu DNA e separa-se em


duas células filhas geneticamente iguais e de dimensões semelhantes, geralmente
inferiores às do progenitor.
(A)

(B)

Bipartição nos seres unicelulares: bactérias (procariontes) (A) e amibas (eucariontes) (B)

Nas anémonas do mar, ocorre um processo idêntico, mas em que o organismo


sofre uma divisão longitudinal.

Reprodução assexuada: Bipartição

A paramécia é um ser unicelular eucarionte, que se reproduz de forma


assexuada por bipartição.

Para observar este fenómeno, vamos recorrer a preparações definitivas.


Observa. Nesta preparação conseguimos observar uma paramécia a sofrer bipartição.
Repara que os dois novos seres têm tamanho semelhante. Os seres que se
formaram são geneticamente iguais ao progenitor, ou seja, são seus clones.

Como é que isto acontece?

Primeiro divide-se o núcleo e depois o citoplasma. Os seres formados têm


tamanhos idênticos e posteriormente crescem até atingirem o tamanho do progenitor.

Vimos assim, um exemplo do processo de reprodução assexuada mais comum


entre organismos unicelulares, a bipartição.

Fissão múltipla ou divisão múltipla

A divisão múltipla inicia-se com sucessivas mitoses do núcleo da célula,


produzindo vários núcleos-filhos sem que haja citocinese. Posteriormente, cada
núcleo-filho, rodeado de uma porção de citoplasma, é envolvido em membrana
plasmática e, quando a membrana da célula-mãe se rompe, liberta-se, constituindo
um novo indivíduo.

Nota: A célula original rebenta e liberta muitos indivíduos.

Ocorre, apenas em seres unicelulares eucariontes (protistas), sendo comum


em algumas algas unicelulares e em protistas endoparasitas.

Um único organismo origina, numa geração, não dois, mas vários


descendentes.

Plasmodium sp., o parasita que provoca a malária, reproduz-se assexualmente por divisão múltipla
(neste caso pode designar-se esquizogonia) no interior dos eritrócitos, levando à rotura destas células
do sangue)
Divisão múltipla (Esquizogonia ou merogonia) – Estratégia de reprodução
assexuada típica de protozoários como o Plasmodium (causador da malária) . Neste
processo o núcleo do progenitor divide-se várias vezes, só ocorrendo mais tarde a
divisão do citoplasma por uma membrana celular em torno de cada núcleo e a
individualização de cada novo organismo. Quando a membrana celular do progenitor
se rompe os descendentes libertam-se.

Fragmentação

A fragmentação é um processo em que um organismo se parte em várias


porções, e cada uma delas regenera um novo organismo completo e idêntico ao inicial.

É possível verificar-se em seres multicelulares pouco diferenciados, como algas,


fungos, planárias e algumas estrelas-do-mar.

(A)

(B)

Processo de fragmentação e regeneração em planária (A) e em estrela-do-mar (B).

Fragmentação
Vamos observar o processo de fragmentação na planária. Uma parte do corpo
do progenitor fica separada, originando um fragmento, que se pode desenvolver num
indivíduo completo.

Fragmentação – Estratégia de reprodução assexuada utilizada por vários organismos


como a estrela do mar, a planaria, a minhoca e a espirogira. O indivíduo divide-se em
várias porções e cada uma delas origina um novo ser. Independentemente da sua
constituição interna cada uma das porções consegue regenerar todos os tecidos e
órgãos em falta.

Gemulação ou Gemiparidade

A gemulação consiste na formação, por mitoses, de protuberâncias na


superfície de um organismo – gomos ou gemas –, que crescem formando réplicas do
organismo inicial, mas geralmente de menor dimensão.

Os novos indivíduos podem permanecer ligados ao progenitor, formando


colónias, ou podem destacar-se, originando organismos independentes.

Nota: As plantas também formam gomos. Esses gomos têm a capacidade de dar
origem a uma planta inetira.
(A)

(B)

Gemulação em corais (A) onde é responsável pelo crescimento da colónia) e em leveduras (B).

Gemulação:

Esta estratégia de reprodução assexuada é característica de leveduras e de


alguns cnidários (como por exemplo, a hidra).

Nas leveduras dá-se uma divisão desigual do citoplasma, o processo tem início
com o desenvolvimento de um anel de quitina à volta da área onde se formará a
protuberância, e a nova célula que será expelida através da parede celular do
progenitor é de menores dimensões.

Nos cnidários forma-se uma protuberância – gema ou gomo – que cresce até se
tornar um adulto. O novo indivíduo pode permanecer unido ao progenitor formando
uma colónia ou individualizar-se formando um organismo autónomo.

Reprodução assexuada: Gemulação


As leveduras são fungos unicelulares, que se reproduzem de forma assexuada
por gemulação. Para observar este fenómeno vamos recorrer a leveduras, geralmente
utilizadas no fabrico do pão.

Repara que algumas leveduras têm uma dilatação à superfície. Esta dilatação à
superfície chama-se gomo ou gema. Ao separar-se do progenitor, o gomo forma um
novo indivíduo, geralmente, de menor tamanho que o progenitor.

Como é que isto acontece?

O gomo ou gema forma-se por mitoses na parte interna do organismo


progenitor, podendo depois, separar-se para formar um novo organismo.

A gemulação, para além de ocorrer em seres unicelulares, como os que


acabámos de ver, também pode ocorrer em seres pluricelulares, como a esponja, a
hidra ou ainda, em plantas superiores.

Esporulação
A esporulação corresponde à formação, por mitose, de células reprodutoras
especiais – esporos assexuados ou mitósporos – que se libertam do progenitor. Cada
esporo pode originar um novo indivíduo. O facto de se formarem e libertarem em
grande quantidade facilita a dispersão da respetiva espécie.

Este processo de reprodução é comum em diferentes espécies de fungos e em


algumas espécies de algas. Para garantir a dispersão dos esporos existem várias
estratégias.

Nos fungos, os esporos desenvolvem uma camada protetora que lhes permite
resistir a condições adversas. O tamanho reduzido dos esporos torna fácil a sua
dispersão no ar.

Em algumas espécies de algas verdes formam-se esporos flagelados –


zoósporos – que se podem deslocar ativamente na água à procura de locais favoráveis
para o desenvolvimento de novos organismos. No entanto, a ausência de parede
torna-os sensíveis às condições ambientais.

A esporulação é uma estratégia de reprodução assexuada cuja eficácia se deve


ao facto de cada organismo poder reproduzir uma grande quantidade de esporos.

Esporulação: os esporos, formados em estruturas chamadas esporângios, dispersam-se pelo ar e podem


formar novos organismos quando encontram condições favoráveis.

Reprodução assexuada: esporulação


O bolor do pão é um fungo, que surge quando os esporos presentes no ar se
depositam sobre o pão e germinam. Para observar este fenómeno vamos pegar num
pedaço de pão e vamos humedece-lo para que se desenvolvam bolores. Depois de ter
ficado alguns dias num local escuro e quente conseguimos observar o bolor.

Com recurso à lupa conseguimos observar vários filamentos, são as hifas. O


conjunto das hifas que cobrem o pão chama-se micélio. Vemos, ainda, umas bolinhas
que são os esporângios, ou seja, as estruturas onde se formam e libertam os esporos.

Vamos agora observar ao microscópio.

Repara. Conseguimos ver ainda melhor as hifas e os esporângios. Se


pressionarmos a lamela contra a lâmina e ampliarmos, conseguimos observar os
esporos que saíram dos esporângios. Cada esporângio pode libertar cerca de 50 mil
esporos, alguns dos quais vão germinar, se encontrarem um substrato e condições
adequados de humidade.
A esporulação é comum em fungos e em algumas algas. Os esporos formados
por mitose nos esporângios têm uma camada protetora que os torna muito
resistentes. Desta forma, mesmo em ambientes desfavoráveis, os esporos sobrevivem,
conseguindo germinar mais tarde, quando as condições passam a ser favoráveis.

Nota: Os esporos só germinam em ambientes favoráveis, apesar de alguns


sobreviverem, mesmo em ambientes desfavoráveis.

Esporulação – Estratégia de reprodução assexuada. Em algumas espécies de fungos os


esporos são originados por mitose. A esporulação ocorre na extremidade de hifas
especializadas dando origem a exósporos ou no interior de estruturas especializadas,
os esporângios, formando-se os endósporos.

Propagação vegetativa ou micropropagação

A propagação vegetativa é a formação de novas plantas a partir de órgão não


envolvidos na reprodução sexuada – estruturas vegetativas – como caules, raízes ou
mesmo folhas.

Tem como base a existência de tecidos especiais - meristemas - constituídos


por células indiferenciadas que se podem dividir e, por diferenciação, originar outros
tecidos, permitindo a formação e o crescimento dos diversos órgãos da planta.

A multiplicação vegetativa permite a colonização do espaço envolvente à planta


inicial e pode ocorrer de diversas formas.
Várias plantas usam como estratégia para a sua propagação vegetativa a
diferenciação em caules subterrâneos a partir de meristemas caulinares que, ao se
desenvolverem, geram novos indivíduos:

• Rizomas – caules subterrâneos, ricos em reservas, que crescem na horizontal,


gerando, a espaços regulares, novos gomos que se diferenciam em novas
plantas que podem ter vida independente. O gengibre, o trevo, a cana-comum
têm esta estratégia de propagação.

• Tubérculos – caules subterrâneos volumosos, de forma geralmente


arredondada, que acumulam reservas e possuem gomos, a partir dos quais se
podem gerar novas plantas na estação favorável. A batata é um tubérculo; nos
seus gomos, vulgarmente designados «olhos», formam-se rebentos que podem
originar novas batateiras.
• Bolbos – caules subterrâneos em forma de disco, de onde partem as raízes e as
folhas modificadas para a acumulação de reservas. Na estação favorável, a
partir do caule, formam-se novos bolbos com folhas e flores. A cebola e o alho
podem multiplicar-se através dos seus bolbos.

Nota: Rizomas, tubérculos e bolbos, como são órgãos subterrâneos ricos em reservas,
constituem formas de resistência das plantas à estação desfavorável. A parte aérea das
plantas pode morrer, mas na próxima estação favorável brotam novas plantas a partir
destas estruturas.

Outras estratégias envolvem caules aéreos, que contribuem para a propagação


de certas plantas, como o morangueiro. Neste caso, existem estolhos, caules que
crescem junto ao solo e cujos gomos podem originar novas plantas que ganham
autonomia. Quando tal sucede, os estolhos degeneram.

Estolhos de morangueiro desenvolvem novas plantas.

As raízes também podem originar novas plantas, como no caso dos choupos,
podendo uma única árvore originar um bosque constituído por alguns clones.

Mais raramente, até as folhas têm capacidade reprodutiva. Uma dessas


espécies é Kalanchoe daigremontiana. No bordo das suas folhas formam-se réplicas,
plântulas, «plantas em miniatura», inclusivamente com raízes, que se libertam da
planta-mãe, caem no solo e podem formar novas plantas.

Reprodução sexuada: propagação vegetativa

Muitas plantas têm estruturas multicelulares, que se fragmentam e separam da


planta-mãe, originando uma nova planta, sem que haja fecundação ou seja
reproduzem-se de forma assexuada.

Como se pode fazer a propagação vegetativa de uma planta?

O método que vamos usar é a estacaria, mas existem muitos outros. Para
começar colocámos uma mistura de areia e turfa num tabuleiro e regamos. Depois,
cortamos a folha de begónia e distribuímos pelo tabuleiro. Para evitar que apodreçam
pulverizamos com fungicida. Tapamos o tabuleiro e colocamos num lugar com luz, mas
sem luz direta e com uma temperatura de aproximadamente 20ºC.

Após 1 semana, alguns quadrados da folha estão a originar novas plântulas.


Regamos e voltamos a tapar.

Ao fim de aproximadamente 3 semanas, as plântulas já se desenvolveram e


temos então algumas plantas prontas para serem transferidas para vasos.
Como vimos, algumas plantas conseguem reproduzir-se assexuadamente a
partir de partes de um único indivíduo sem que haja produção de gâmetas ou ocorra
fecundação.

Partenogénese e apomixia

Em alguns animais e algumas plantas, as células germinativas femininas


(óvulos) podem não ser fecundadas e originar clones.

A partenogénese, termo mais utilizado para animais, define-se como o


desenvolvimento de um novo ser a partir de um óvulo não fecundado. Este processo
conduz à formação de indivíduos que não são verdadeiros clones da sua mãe, pois as
células germinativas de que resultam já não têm toda a informação genética das
restantes células do organismo materno.

No entanto, um tipo de partenogénese chamado apomixia, raro nos animais,


conduz à formação de indivíduos geneticamente idênticos à progenitora, pois as
células germinativas de que resultam ainda mantêm a mesma constituição genética de
qualquer outra célula do organismo materno.

A apomixia nas plantas é muito mais frequente e leva à formação de clones


através do desenvolvimento de embriões e da produção de sementes a partir de
óvulos que sofrem mitoses.

A vantagem desta estratégia é aumentar a área de dispersão dos clones, que


podem resistir a condições adversas no estado de dormência característico das
sementes.
Potencialidades e limitações da reprodução assexuada

A reprodução assexuada apresenta várias vantagens:

• Um indivíduo isolado pode dar origem a toda uma população;


• Não tem gastos energéticos para a produção de gâmetas nem para o encontro
com um potencial parceiro e acasalamento;
• Pode originar uma prole (descendência) numerosa em pouco tempo, levando a
uma rápida colonização do meio;
• Preserva as variantes génicas que, num ambiente estável, permitem uma boa
adaptação e capacidade de sobrevivência.

No entanto, num ambiente em mudança, as características favoráveis


inicialmente podem deixar de o ser. Numa população constituída por clones, se novas
situações ambientais forem prejudiciais para um indivíduo, afetarão também toda a
população, podendo colocar em causa a sua sobrevivência.

Se para algumas espécies, a reprodução assexuada é uma alternativa, ou


acontece de forma cíclica e regular, é natural que recorram a este processo apenas
quando é vantajoso. Por exemplo, as dáfnias são crustáceos que se reproduzem por
partenogénese quando as condições do meio são estáveis.

Essa situação pode surgir em meios onde é difícil o encontro de parceiros ou


em que as condições ambientais são vantajosas apenas durante um breve período de
tempo.

Como para os procariontes a reprodução é assexuada, torna-se difícil entender


como é que as bactérias são um grupo tão bem-sucedido e disseminado por tantos
ambientes diferentes, tendo em conta que formam clones. Mas o ciclo de vida destes
organismos é extremamente rápido e, ao fim de poucas horas, formam-se muitas
gerações, o que aumenta a probabilidade de ocorrência de mutações, sendo estas que
contribuem com variabilidade genética e produzem novos indivíduos que deixam de
ser clones dos progenitores.

Em ambiente hospitalar, as bactérias podem ganhar resistência a antibióticos


devido a mutações.
As bactérias podem trocar genes entre si, um processo designado conjugação, o
que aumenta a sua variabilidade genética. Esse processo é frequentemente realizado
através de pequenas moléculas de DNA circulares, denominadas plasmídeos, que
contêm por vezes genes associados à adaptação a condições ambientais.

Reprodução assexuada

• Potencialidades
➢ Basta um progenitor;
➢ Menor gasto energético na reprodução;
➢ Processo mais rápido para originar descendência numerosa e para
colonizar novos ambientes.
➢ Preservação de variantes génicas favoráveis em ambientes estáveis.
• Limitações
➢ Reduzida variabilidade genética;
➢ Maior vulnerabilidade a novas situações ambientais.

Vantagens da reprodução assexuada para o ser humano

O facto de a reprodução assexuada gerar clones, apresenta muito interesse


para o ser humano, pois permite multiplicar indivíduos com características favoráveis.

As bactérias e os fungos geneticamente modificados podem produzir


vitaminas, proteínas específicas e medicamentos, tendo em consideração que o código
genético é universal e que o mecanismo da síntese proteica é igual para todos os seres
vivos. A sua reprodução assexuada é rápida e garante que continuam a expressar esses
genes de geração em geração, tornando viável a produção em massa dessas
substâncias, com grandes ganhos económicos.

Os cogumelos utilizados na alimentação da população humana são produzidos


em larga escala utilizando técnicas de clonagem, com base na fragmentação do
micélio2.

2
Parte vegetativa do fungo.

As plantas têm sido clonadas há milhares de anos pelo ser humano,


essencialmente para aumentar a produção e a qualidade de vários alimentos, um
processo que continua até hoje através de várias técnicas, umas mais tradicionais e
outras mais modernas.

Potencialidades e limitações biológicas da reprodução assexuada

Potencialidades:

A reprodução assexuada pode ser muito vantajosa, tanto para plantas como
para animais. Por exemplo, os animais cesseis, como as esponjas, permanecem no
mesmo local durante toda a sua vida, mesmo que sejam capazes de realizar
reprodução sexuada é difícil contactarem com outros indivíduos da mesma espécie,
pelo que a reprodução assexuada pode ser uma boa alternativa.

A reprodução assexuada é um método rápido de multiplicação. Permite obter


muitos descendentes a partir de um único progenitor, aumentando em pouco tempo o
número de indivíduos da espécie.

A reprodução assexuada é um processo simples que envolve mitose e não


envolve meiose.

Limitações:

Não havendo formação de gâmetas, não há meiose, pelo que não ocorrem
processos responsáveis por aumentar a variabilidade genética, tais como croossing-
over e separação aleatória dos cromossomas homólogos. Para além disso, não há
fecundação, que é o processo que também contribui para a existência de variabilidade
genética, devido à união ao acaso dos gâmetas com informação genética diferente.

Então, comos os descendentes são geneticamente iguais entre si e em relação


ao progenitor, são igualmente suscetíveis a doenças e outras condições desfavoráveis.
Nesses casos, uma só alteração do meio em que vivem pode ser suficiente para afetar
toda a população. Não há indivíduos mais aptos do que outros. Como resultado, pode
ocorrer a extinção de toda a espécie.

Técnicas de propagação vegetativa de plantas

Estacaria
Consiste na remoção de porções das plantas – estacas – que depois de
enterradas podem originar novas plantas. Na maioria dos casos são utilizadas estacas
caulinares, uma técnica eficaz na propagação de várias plantas (roseiras, videiras,
choupos, salgueiros, limoeiros, gerânios e crisântemos). As estacas foliares podem ser
utilizadas em plantas como begónias e violetas. As estacas de raízes são utilizadas na
multiplicação vegetativa de framboesas. Esta técnica milenar sofreu um aumento de
eficácia com a descobertas das fitohormonas3 e do seu modo de atuação.

3 Hormonas vegetais que controlam o crescimento e a diferenciação dos órgãos das plantas.

As fitohormonas transportam mensagens químicas, levando à formação de


raízes.

Resumo: Retira-se um ramo de uma determina espécie e coloca-se no solo. Vai


produzir folhas e raízes, assegurando a sobrevivência pela fotossíntese.

Estacaria – Na estacaria, uma parte vegetativa da planta é cortada e enraizada para se


tornar numa nova planta. Exemplos de plantas propagadas por estacas são: a cana-de-
açúcar, a roseira, a amora silvestre, o ananás, a batata e o hibisco.

Enxertia

Permite a união de partes de duas plantas da mesma espécie ou de espécies


diferentes. A planta que recebe o enxerto está enraizada e toma o nome de porta-
enxerto ou cavalo. Os enxertos geralmente são fragmentados do caule com gomos,
que após a ligação dos seus vasos condutores com os vasos condutores do porta-
enxerto, permitem o crescimento de novos ramos com características idênticas às das
plantas enxertada.

É um processo muito utilizado nas árvores de fruto. Permite que os frutos que
se desenvolvem a partir do enxerto tenham as mesmas características da árvore da
qual este foi retirado.

O porta-enxerto é frequentemente utilizado por ser mais resistente a


diferentes stresses ambientais ou por conferir características morfológicas adequadas
ao cultivo da espécie em questão.

Nota: Também se pode enxertar por encosto.

Enxertia – Na enxertia, um enxerto de uma planta com as características pretendidas é


inserido num porta-enxerto ou cavalo de outra planta enraizada. Assim, que os dois se
unem, o enxerto inserido cresce e desenvolve-se, alimentando-se da raiz do porta-
enxerto. Esta técnica permite reunir características de duas ou mais plantas. Macieira,
pessegueiro, nogueira, pereira ou abacateiro são exemplos de plantas que podem ser
propagadas por enxertia.

Mergulhia

Consiste em dobrar um ramo da planta-mãe até o enterrar no solo. A parte


enterrada ganha raízes e, quando está enraizada, pode separar-se da planta-mãe,
obtendo-se assim uma planta independente. Especificamente, a mergulhia consiste em
fazer um corte parcial em um ramo, dobrá-lo, prendê-lo ao solo com um grampo de
metal e cobri-lo de terra. O contato da região do corte com o solo estimula o
enraizamento. A planta continua a receber nutrientes minerais da planta-mãe, através
da parte intacta do caule. Quando este já é suficiente para manter a nova planta, o
ramo é cortado da planta-mãe.

Mergulhia – Na mergulhia, o ramo inferior de uma planta é dobrado para baixo e


coberto com solo húmido. Nesse ramo enterrado formam-se raízes de desenvolve-se
uma nova planta. Os morangueiros propagam-se naturalmente dessa forma através
dos seus estolhos ou caules rastejantes.

Micropropagação ou propagação vegetativa in vitro

Permite a propagação de milhares de clones recorrendo a pequenos


fragmentos de um a única planta, o que torna esta técnica laboratorial bastante
rentável.

É uma técnica que só se desenvolveu depois do conhecimento das


fitohormonas. Está na base do melhoramento vegetal recorrendo, por exemplo, a
manipulação genética.

As plantas formadas oferecem garantias fitossanitárias3, pois o cultivo in vitro


implica o estabelecimento de uma cultura em que apenas as plantas a serem
propagadas persistem, caso contrário os fungos e as bactérias utilizariam o meio de
cultura e as plantas in vitro para se alimentarem.
Muitas plantas passaram a poder ser clonadas pelo ser humano através deste
processo, inclusivamente plantas em via de extinção ou já extintas.

3
Sem doenças, nem pragas.

Micropropagação vegetativa – é uma técnica biotecnológica de cultura in vitro de


células isoladas de plantas ou de pequenos pedaços de tecidos sob condições
controladas, num meio de crescimento estéril. O objetivo é obter clones de uma
planta. Nesta técnica, uma parte vegetativa do corpo da planta é excisada e depois
cultivada num meio de cultura adequado, até se obter micro rebentos que darão
origem a plântulas, as quais, por sua vez, se desenvolveram em novas plântulas. A
micropropagação tem sido bem sucedida na rapidez do repovoamento de florestas,
jardins ou pomares, na obtenção de plantas com saúde robusta, livres de vírus e na
obtenção de plantas híbridas, como o bamate (um híbrido de batata e tomate).

Clonagem animal

Em animais, a clonagem reprodutiva pode ser conseguida através de diversas técnicas,


destacando-se duas:

• Separação de blastómeros – as células de um embrião resultantes das


primeiras divisões do ovo ou zigoto – blastómeros – podem ser separadas e
cada uma delas originar um novo indivíduo. Está limitada à produção de apenas
alguns indivíduos idênticos. De certa forma, recria artificialmente o processo
que conduz à formação de gémeos monozigóticos4.

4
Originados a partir do mesmo óvulo fecundado (zigoto)

• Transferência de núcleos de células somáticas (SCNT5) – consiste em extrair o


núcleo de uma célula somática dadora e implantá-lo num oócito do qual foi
previamente extraído o seu núcleo. O novo indivíduo tem, no núcleo das suas
células, os genes da célula dadora do núcleo e o seu aspeto será idêntico ao do
animal do qual se extraiu essa célula.

5
Do inglês, somatic cell nuclear transfer (SCNT).
6
Célula não-germinativa.

Nota: Dolly foi o primeiro mamífero a ser clonado. Era semelhante à ovelha dadora do
núcleo, pois é no núcleo que está o material genético. Recebeu, também material
genético da ovelha dadora do oócito. Como foi removido extraído o núcleo do oócito,
o material genético encontrava-se nas mitocôndrias do citoplasma. O material
genético das mitocôndrias não contribui para as características. A outra «mãe» é
aquela na qual foi introduzido o embrião. Assim, Dolly teve três «mães», recebeu
genomas de duas, mas apenas se parecia com uma.

A técnica de SCNT permite gerar um número maior de indivíduos idênticos e


recuperar o património genético de indivíduos de interesse económico ou outro.

No entanto, como ainda apresenta uma baixa taxa de sucesso e um elevado


custo, não é, por enquanto, uma ferramenta sustentável para a produção pecuária el
larga escala. Como a clonagem produz animais férteis, é utilizada para clonar
reprodutores valiosos por terem características excecionais.

A clonagem de SCNT está agora a ser usada para tentar clonar animais em vias
de extinção ou animais extintos dos quais foi possível recuperar alguns núcleos.

É difícil contabilizar a vantagem económica deste processo, pois não se pode


atribuir um preço a uma espécie.

Reprodução assexuada:

• Vantagens
Permite a clonagem de organismos que apresentam características de
interesse:
➢ Para a produção de vitaminas, proteínas específicas e medicamentos;
➢ Para a produção de alimentos;
➢ Para o repovoamento vegetal;
➢ Como plantas ornamentais selecionadas;
➢ Para a preservação ou recuperação das espécies;
➢ Como animais reprodutores com características excecionais;
• Clonagem de plantas
➢ Técnicas utilizadas (exemplos): estacaria, enxertia e micropropagação;
➢ Suporte de técnicas utilizadas: capacidade de as plantas se
reproduzirem a partir de tecidos vegetativos; conhecimento dos
processos de controlo hormonal; cultura com controlo de variáveis
ambientais, de forma a garantir a qualidade fitossanitária das plantas.
• Clonagem de animais
➢ Técnicas utilizadas:
❖ Separação de blastómeros;
❖ SCNT – transferência de núcleos de células somáticas para
oócitos aos quais é retirado previamente o núcleo.

Você também pode gostar