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Introdução

O presente ensaio, proposto no domínio da unidade curricular de Teoria I, tem como objeto a construção de uma
reflexão teórica relativa ao papel que o arquiteto desempenhou no panorama sociopolítico do moderno português
da primeira metade do século XX. Com isto em vista, num primeiro momento, o trabalho será desenvolvido
alicerçado nas aulas teóricas e nas leituras propostas, com o objetivo de apresentar os principais momentos que
marcaram o panorama internacional, as políticas que potencializaram esses acontecimentos e, principalmente, as
repercussões que tiveram na arquitetura. Num segundo momento, o estudo será direcionado para o caso
português, com o objetivo de enquadrar Portugal no panorama internacional. Com efeito, o estudo terá por base
artigos das revistas nacionais selecionadas, “Construção Moderna” e “Arquitetura Portuguesa”, e terá ainda por
objetivos a teorização das problemáticas dos arquitetos nas décadas que perfazem a primeira metade do século
XX, a identificação dos principais meios que utilizavam para se comunicarem entre si e o reconhecimento de
alguns autores específicos. Por fim, na terceira parte, proceder-se-á a uma crítica conclusiva que estabelecerá
uma análise comparativa entre o contexto internacional e o contexto nacional, referentes à influência da política
e da sociedade na comunidade de arquitetos. Em adicional, propõe-se ainda uma análise avaliativa quanto ao
cumprimento dos objetivos propostos.

Enquadramento internacional
O surgimento da Arquitetura é, geralmente, associado ao “Mito da Caverna”. Com efeito, o Homem primitivo
verificou a necessidade de dispor de um espaço de abrigo; por sua vez, a sociabilidade também é vinculada ao
“Mito da Caverna”, na medida em que a invenção do fogo e o culto à volta da fogueira conduziram à
humanização (“A arquitetura, não sendo uma ciência, é um saber fazer, isto é, uma capacidade de ordenar o
mundo e por essa ação humanizá-lo”) 1Deste modo, é impossível conceptualizar arquitetura sem considerar que a
mesma possui uma historicidade que se manifesta num conjunto de valores, regras e opiniões que revelam o
pensamento teórico de cada período temporal. 1 Em adicional, é pertinente conhecer as principais arquiteturas do
período antigo. Deste modo, destacam-se a arquitetura egípcia que além de resolver o problema do abrigo,
procedeu a uma abstração enorme, servindo-se da arquitetura como forma de eternizar a vida terrena; o arquiteto
trabalhava diretamente para o Faraó e, por isso, o seu estatuto social era elevado quase próximo de um semideus.
Já na Grécia Antiga, onde o ambiente era mais doméstico e propenso ao pensamento (/reflexão), surgiu um
sistema, no qual toda a teoria se baseava, nomeadamente, as técnicas que deviam ser tidas em conta para a
construção; deste modo, a arquitetura era entendia uma techné (habilidade) inferior face, por exemplo, à política
e o arquiteto (archi-tekton, em grego) era o chefe dos construtores que detinha o conhecimento das técnicas
envolvidas no processo construtivo. No período romano, o arquiteto possuía um papel central na resolução do
problema da expansão do império e, por isso, o seu trabalho era um trabalho para o todo. Foi neste contexto que
surgiu o primeiro tratado de arquitetura, designado por De Architectura, de Vitrúvio que definia que
conhecimentos os arquitetos deviam ter e que procedia à divisão da arquitetura em duas dimensões: uma
dimensão prática e uma dimensão teórica, mais abstrata e que provinha da história.

Na Idade Medieval, o arquiteto é um mestre de obras, num ambiente muito simbólico, no qual a construção
material não é reconhecida e as que existem são, na sua maioria, obras de exceção, que se prolongam por várias
gerações de arquitetos. O arquiteto vive da relação com o patrono e é o responsável por todo o processo da obra
e, por isso, incorre na possibilidade de ser castigo caso a mesma possua problemas. Em adicional, surgiu pela
primeira vez, introduzida por Villard de Homecourt, a consciência da importância de viajar e de ver obras
arquitetónicas construídas. Este período é ainda marcado pelo Românico e pelo Gótico que se manifesta pela
materialização da luz e pela libertação do espaço pela verticalidade. 2 No Renascimento surgiu a necessidade de

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Leitura 1, RODRIGUES, Maria, Arquitetura, Lisboa: Quimera, 2000
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recuperar a tradição clássica, destacando-se o teórico Alberti, que salientou que o arquiteto realiza a experiência
mental de desenhar as linhas invisíveis do espaço de ligação entre os elementos da composição e da proporção.
Nota-se também uma cultura do humanismo (Brunelleschi introduz a perspetiva – vista do Homem) e, em
simultâneo, um aumento da carga social do arquiteto (de mestre de obras para artista dentro do mundo da
cultura). O arquiteto trabalha agora para mecenas e surgem as primeiras corporações (organizações nas quais os
arquitetos se inscreviam e que funcionavam como sindicatos). É neste contexto que surgem a ideia de projeto
como problema (Brunelleschi), isto é, não aplicar o conhecimento que já existe para resolver um problema, mas
sim resolvê-lo de uma forma que ainda não existe. Segue-se o Maneirismo (séc. XVI) que leva à subversão e a
uma arquitetura de capricho, destacando-se Miguel Angelo.

No século XV, o centro intelectual da teoria da arquitetura é transportado de Florença para França, onde nos 2
séculos que se seguem ocorre a revolução do pensamento (associada à revolução científica) e há uma tentativa de
controlo do mundo pela razão, do qual se destaca o racionalismo de Descartes. Em paralelo, e no contexto inglês,
surge o empirismo de Locke que defendia que as leis universais deviam provir diretamente de experiências
concretas. O pensamento teórico vai, então, debater-se por um lado com a dificuldade de privilegiar o acesso ao
mundo pela razão e, por outro, com a consciência da existência de experiências particulares que dificultam a
construção de pensamentos universais. Em termos arquitetónicos, esta dualidade espelha-se na teoria da arte
Barroca. Também o modo de expressar a teoria no projeto não era consensual, distinguindo-se dois autores: F.
Blondel que privilegia o conhecimento da composição do Antigo (mimese) e C. Perrault que procedia à
relativização das ordens clássicas. O século XVIII foi marcado por duas correntes, o Romantismo, que se
marcava pela apreensão do mundo pelas sensações, (J. Rousseau) e o neoclássico que se servia do mundo formal
clássico, influenciado por outros estilos, nomeadamente o gótico. A separação efetiva entre arquitetura e
engenharia ocorre também neste século e reflete-se na distinção de escolas politécnicas (ligadas à técnica) e das
escolas de belas artes. A transição do século XVIII para o século XIX é marcada por vários teóricos como
Eugéne Le Duc que introduz o ferro, Durand que estabelece a ideia de programa de disposição, Quincy que
introduz uma lógica espacial de disposição especifica (tipologia) ou Semper que pretende transformar espaço e
não apenas utilizar a arquitetura como uma técnica.3

No começo do século XX, ocorreu a revolução industrial e surge uma sociedade tecnocientífica, que conduziu a
um aumento demográfico nas cidades, ao que corresponderam novos problemas sociais, nomeadamente
problemas de habitação; consequentemente, vários arquitetos tentaram dar reposta ao novo problema, dos quais
se destacam Camilo Sitte, que propunha um planeamento da cidade de acordo com princípios arquitetónicos, por
meio do estudo de ruas, cheios-vazios, o carácter das praças, a sua dimensão arquitetónica, dos edifícios, a
estética, ou seja, pensar os princípios que dessem qualidade às cidades; E. Howard que procurou compreender
como é que a cidade que evolui para a metrópole pode se relacionar com uma visão saudável de vida urbana, ou
seja, uma cidade jardim, que crescia em anéis, com vazios de natureza, respeitando as ruas; e Tony Garnier, com
o seu modelo de setorização dos componentes de uma cidade (industria, residência, comércio). O movimento
moderno (anos 10-20) apresentou a resposta mais ideal, servindo-se da industrialização para a produção em série
e standart, com o uso do ferro, do betão e do vidro. Consequentemente, o debate relativo ao valor arquitetónico e
à função da arquitetura na sociedade, na política e na cidade ganhava relevância. 4

A primeira década do século XX, designada por Belle Epoque, é reconhecida por avanços científicos e
tecnológicos, que se acentuaram com o eclodir da I Guerra Mundial, bem como, pela deslocação dos mestres
modernos para os EUA, introduzindo o moderno nos EUA. Imediatamente, sucedeu-se o período designado por
Loucos Anos 20, que assinalou a conceção da utopia americana, encerrado pela crise da bolsa de Nova Iorque de
1929 que conduziu ao aumento do desemprego e ao agravamento do problema habitacional. 5 Em 1932 ocorre a
exposição no MoMa (catálogo) convoca os arquitetos da Europa, mas que não aborda o propósito de
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transformação social e político. O pós-guerra conduziu a um pensamento mais humano, espelhado numa
arquitetura que aplicava uma heterogeneidade nos equipamentos da cidade e pela opção por uma arquitetura
organicista, de inspiração nas formas irregulares da natureza. 6 Ocorreu a revisão dos CIAM (fundado por Le
Corbusier e Sigfried Giedon) que eram considerados estáticos e a discussão do papel da arquitetura na política,
com a formulação de várias teorias.7 Nota-se também a necessidade de reconstrução das cidades europeias,
destacando-se a resposta inglesa (cidade jardim) ou a resposta do Japão que expandiu as cidade para a água
(Kenzo Targe).8 Enquanto consequência da destruição da identidade europeia, ocorreu uma americanização da
cultura europeia e a procura de um novo diálogo, observado por Bruno Zevi, a ênfase ao individual, ao acaso e
ao irracional.9

As décadas que se seguiram perfazem um retrato de uma arquitetura dispersa em diferentes pontos de vista e das
dificuldades que o movimento Moderno enfrentou na reconstrução do design, da streamline e do styling. A
universalidade da materialidade arquitetónica (questão abordada pela Bauhaus) é conseguida através do
surgimento das escolas de arquitetura.10

Enquadramento nacional
Antes do início do século XX, os arquitetos organizavam-se na Real Associação de Arquitetos civis e
arqueológicos, de apenas 28 arquitetos inscritos em 1866 e possuíam um boletim. O início do século XX é
marcado pela formação da A Sociedade Portuguesa dos Arquitetos, cujo número de inscritos em 1903 era apenas
35 arquitetos fundada por Ventura Terra e Marques da Silva. Algumas obras deste período foram a estação de
São Bento (1904-1905), de Marques da Silva e o Teatro de São João (1909) de Xavier Esteves. As publicações
que saiam, nomeadamente, as revistas Ilustrações, davam a conhecer o que se passava nos EUA, com os
arranha-céus, mas também de concursos aqui em Portugal. No entanto, o arranque do século está ainda muito
preso ao debate entre a necessidade de acompanhar o desenvolvimento internacional e a procura pela identidade
nacional. Com efeito, Ventura Terra seguia uma prática de uma linha francesa (prática de palacetes), enquanto
Raul Lino dedicou a sua obra (A Casa Portuguesa, 1929) ao encontro de algo genuíno na habitação portuguesa,
numa linha germânica nacionalista. O debate entre os dois é materializado em concursos. As duas primeiras
décadas são marcadas pela sucessão de governos e instabilidade política e a prática da arquitetura está sedeada
no Porto e em Lisboa, muito ligada à Art Déco e Arte Nova. 11 As grandes questões da arquitetura moderna
chegaram tarde a Portugal, os problemas habitacionais estão mais relacionados com pequenos programas de
casas económicas e na cidade os problemas são infraestruturais.

É neste período que surgem também revistas mais especializadas, como por exemplo a construção moderna
(1900-1919), muito relacionada com o mundo construtivo, a anuário que era a revista oficial da Sociedade dos
arquitetos portugueses, mais relacionada com os problemas dos arquitetos ou a Arquitetura Portuguesa. Em
1926 ocorre a criação do Estado Novo o que em termos arquitetónicos se espelhou numa defesa ideológica da
arquitetura tradicionalista portuguesa, incentiva por Raul Lino com o seu debate sobre a casa portuguesa. 12 No
final dois anos 20 há exceções que conheçam a mostrar uma estética moderna, sem a fundamentação social
própria deste movimento. Carlos Ramos, Pardal Monteiro em Lisboa e no Porto Rogério de Azevedo, com as
obras a Garagem do Comércio, no Porto e o mercado frigorifico de Januário Godinho. No entanto, a formação
destes arquitetos não era no moderno, pelo que só um número reduzido é que contactava com a arquitetura
estrangeira, por meio das suas viagens, destacando-se apenas Carlos Ramos, Pardal Monteiro e Agostinho da
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Silva. Do ponto de vista teórico, destacam-se a crítica de Jorge Segurado que trata do debate da casa portuguesa,
mas promove-o de uma forma moderna, como Carlos Ramos sintetizava nas suas obras, ou “A casa Portuguesa”
e “Casas Portuguesas” de Raul Lino. Nos anos 30, o regime é absolutamente ditatorial, e apesar de continuar a
ser um período de estagnação, há uma arquitetura mais ousada que é utilizada não apenas como linguagem
espacial, mas também de retórica, um pouco na linha do fascismo italiano (designado em Portugal por Português
Suave). Este trabalho é muito sintetizado na obra de Cristino da Silva (Praça do Areeiro, 1938-1943). Segue-se
um período que reflete um aumento do número de arquitetos (em 1933, estavam inscritos 49, em 1948 eram 124
e depois juntaram-se mais 500), bem como do seu estatuto na sociedade. Por conseguinte, ocorre a formação do
sindicato com o propósito de debater a instituição da profissão, os honorários, a relação com clientes e a secção
jurídica. Em paralelo, surge uma revista, muito utilizada na propaganda do Estado, dirigida por Cottinelu Telmo,
que continua a dar primazia ao debate da casa portuguesa, mas que antecipa o Português Suave e em 1940 ocorre
a “Exposição do Mundo Português”, com o propósito de evidenciar a grandiosidade do império português o que,
na verdade, não é conseguido devido à guerra e, por isso, é mais um momento de propaganda. Com o avançar da
guerra ocorre uma suspensão do moderno, derivado a alguns problemas construtivos no Liceu de Beja ou na
Igreja Nossa Senhora de Fátima.13

Nos anos 50, realiza-se uma exposição sobre a arquitetura portuguesa até este tempo e a ditadura salazarista
ainda tinha lugar, apesar do fascismo já não fosse tão presente na Europa. Portugal acompanha um processo de
passagem do rural para o não rural, com um consequente aumento demográfico nas cidades. Nesta década ocorre
ainda a reforma do ensino, com a direção de Carlos Ramos na ESBAP. Os principais protagonistas deste período
são Carlos Ramos, Viana de Lima, Nuno Teotónio Pereira e Fernando Távora. 14

Artigos das revistas – Portugal


A criação da Associação de classe dos arquitetos portugueses, com aprovação em assembleia geral, no princípio
do século XX, foi um dos momentos cruciais para a posterior formação do arquiteto moderno português. “De há
muito que a prestimosa classe dos architectos portuguezes, onde há homens de reconhecida competência e
valor, devia ter levado a cabo tão sympathico fim, pois muitos e variados são os assumptos em que terá de se
ocupar para o engradecimento da architectura em Portugal.” 15 Até este período, Portugal detinha um sistema
deficiente no que toca uma proteção corporativo, o que já era evidente nos restantes países europeus. Na
verdade, os avanços estrangeiros eram ainda pouco conhecidos no país e só um grupo restrito de arquitetos é que
contactava com as influências internacionais, nas viagens que realizavam a construções de grande importância.
Deste modo, as revistas, nomeadamente A construção moderna, no arrancar do século, funcionavam como
ligação com essas influências, destacando-se por exemplo a carta de uma viagem a Madrid e Toledo, sobre o VI
congresso dos arquitetos, na qual é exposto um relato descritivo do ambiente em volta da construção de um
“monumento erigido á memoria de Afonso XII”, bem como o comparecimento numa “conferencia que o
architecto, sr. Weber, allemão, annunciara realizar no Atheneu, sob o thema: - Conservação e restauração dos
Castellos de S. A. Real o Archiduqye d´Austria” ou a excursão artística organizada pela Comissão Executiva do
Congresso a Toledo.16 Não obstante, há já o uso de matérias modernos, como o betão, o ferro, o aço e o vidro na
obra de algumas infraestruturas. 17 No entanto, o debate relativo à casa portuguesa ainda está muito presente, a
título de exemplo Ventura Terra quando inquirido sobre a casa portuguesa afirma que “em architectura deve-se
procurar o mais adaptável e o mais logico, porque, o que não o fôr, não é arte”, deste modo, deve haver uma
adequabilidade das construções ao local onde serão implantadas. 18 Os principais problemas habitacionais e da

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Aula 15/11
15
S.a (dezembro de 1901) “Associação de classe de architectos portugueses”, in Construção Moderna, pp. 8
16
Portal, (junho de 1904) “VI congresso internacional dos architectos”, in Construção Moderna, pp. 3-5
17
S.a (junho de 1904) “Problema Hydraulico”, in Construção Moderna, pp. 117-118
18
Eng. Henrique das Neves (março de 1905), “Casa Portuguesa”, in Construção Moderna, pp. 26-27
cidade em Portugal são ainda questões como a salubridade e a higiene pública que pecam pela falta de um
entendimento que se baseie apenas no controlo do uso de pesticidas e na escolha da orientação das casas, em
detrimento de um estudo rigoroso acerca da eliminação dos dejetos e águas do esgoto urbano. 19 No que concerne
à classe social de arquitetos, na América “para a construção particular importante, faz se um concurso restricto
entre alguns architectos distinctos e pouco numerosos. Todos recebem honorários. (…) O architecto (…)
dedica-se inteiramente ao seu projecto, e, em resultado da continuidade do trabalho, pode ter permanentemente
no seu escriptorio, um pessoal de desenhadores e alunos; em França, os honorários correspondem a pelo menos
600000 francos para um palácio, mas as despesas da equipa são também elevadas 20. Por sua vez, em Portugal os
honorários não só dos arquitetos, mas da população em geral são baixos, que também começam a ser
comparados com a máquina.2122

Em 1933, a secção jurídica da revista Arquitetura Portuguesa dá a conhecer os critérios para o exercício de
arquitetura no país, destacando a obrigatoriedade de os arquitetos serem diplomados de nacionalidade
portuguesa.23 Na edição de 1935, Júlio Marins, sintetiza “a base moral e legal dos princípios corporativos”
enquanto “expressão da solidariedade humana e destaca o número crescente de Sindicatos Nacionais por todo o
país; em oposição aos Grémios que “esboçam ferozes interesses individuais”; deste modo, Júlio Martins defende
que os grémios deviam ser abertos a todos que exercem legalmente (de acordo com a lei exposta no artigo
anterior) a sua atividade.24

No final da década de 40, ocorre a reforma do ensino das Belas Artes, no entanto, foi um processo moroso.
Quando o arquiteto já diplomado ingressava num atelier de arquitetura para prosseguir o seu aprofundamento do
conhecimento, a realidade que encontrava estava mais associada à vertente monetária do atelier. Em adicional,
existia uma discrepância entre estes novos arquitetos e os arquitetos mais experientes, evidenciada no tratamento
desigual entre eles, bem como o trabalho que realizavam, uma vez que as escolas não os preparavam para o
trabalho em atelier.25 Não obstante, é um período dinâmico em que as dificuldades na realização de uma obra
moderna (programa adequado, executado por um arquiteto com conhecimentos que possui o tempo suficiente
para a realização da proposta adequada) são acentuadas 26, pelo que a revista Arquitetura Moderna dirige apelos
ao professores das escolas de Belas Artes para promovam o uso dos conhecimentos do passado para resolver os
problemas arquitetónicos da época. 27 Mais tarde, é também feita a crítica à falta de uma “crítica construtiva”,
introduzida aquando o arquiteto ainda se encontra a estudar, justificada pelo incompetência dos professores em
fazê-las nas suas aulas.28

Análise Comparativa e Crítica


Num terceiro momento do ensaio, procede-se a uma análise comparativa entre as aulas teóricas de Teoria I
(enquadramento internacional e nacional) e artigos das revistas nacionais com uma crítica pessoal.

De acordo com as aulas teóricas, o surgimento do movimento moderno adveio das consequências que a
Revolução Industrial, no século XX, tiveram para a sociedade. Deste modo, e tal como referido aquando do

19
Antonio Rodrigues da Silva Junior (fevereiro de 1905), “Hygiene Publica”, in Construção Moderna, pp. 7
20
Artigo traduzido do 'Bulletin Mensuel da Sociétè des Architectes diplomés par le Gouverment" O Saint Regis Trowbridge, Samuel Breck
Parkman (1862-1925))
21
S.a. (julho de 1908), “A sociedade internacional de Science Social e as verdadeiras leis de economia social já conhecidas pela aplicação
a Portugal”, in Construção Moderna, pp. 278-280
22
S.a (agosto de 1906), “O preço da força humana”, in Construção Moderna, pp. 12
23
Lei nº1.991, de 19 de março de 1933, in Arquitetura Portugesa, pp.21
24
Júlio Martins (agosto de 1935), in Arquitetura Portuguesa, pp. 1 e 11
25
Keil Amaral, (1948), “O arquiteto e o atelier”, in Arquitetura Portuguesa
26
Keil Amaral, (1948), “1º congresso de arquitetura” in Arquitetura Portuguesa
27
S.a. (1948), “A arquitetura num mundo em transformação”, in Arquitetura Portuguesa
28
José Rafael Botelho (1952), “A crítica e o melindre”, in Arquitetura Portuguesa
“Mito da Caverna”, “O ser não é independente do habitar”, pelo que é desde logo evidente uma relação
simbiótica entre a arquitetura e o panorama social.

No entanto, o moderno só se materializou em Portugal, num período posterior face aos restantes países europeus.
Isto aconteceu devido à instabilidade política que se sentiu nas duas primeiras décadas do século e, já numa
segunda fase, a um sistema político ditatorial que conduziu o país a um contexto conservador e atrasado face o
panorama internacional. Em adicional, Portugal não possuía as grandes metrópoles que, por exemplo, os EUA
possuíam, pelo que os problemas habitacionais e urbanos eram a uma escala menor. Por conseguinte, a primeira
fase do moderno em Portugal foi marcada por um moderno estético, muito forçado, trazido por um grupo muito
restrito de arquitetos que nas viagens contactava com as influências estrangeiras. No panorama geral, este
período corresponde ao pós-guerra, o qual é marcado pela necessidade da reconstrução de cidades, o que
evidencia mais os problemas habitacionais e urbanos e, consequentemente, afasta mais Portugal do moderno
praticado internacionalmente. Em adicional, surge o debate sobre o papel da arquitetura e do arquiteto na política
o que em Portugal é substituído pelo papel e força que o Estado Novo desempenhava na arquitetura nacional.
Esta questão é bastante notória no arquiteto Raul Lino que interpretava o ideal salazarista e executava uma
arquitetura que procurava evidenciar uma identidade portuguesa setorizada e universal. Deste modo, Portugal é
Num primeiro momento, procura-se dar a conhecer os movimentos culturais e estilos
artísticos que integram a primeira metade do século XX, bem como identificar o contexto
social e político que lhes corresponde. Pretende-se ainda neste ponto, introduzir a noção de
arquiteto dentro da sociedade moderna, com especial ênfase ao plano geral internacional,
tendo por base as aulas teóricas;

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